Texto integral do livro

Transcrição

Texto integral do livro
1
cantigas de escárnio e maldizer
As Cantigas de Escárnio e Maldizer são válvulas de
escape e reflexão sobre as mazelas do Brasil. As
“Cantigas” tiveram início em Portugal, na Idade Média,
continuaram no Brasil Colonial (com Gregório de
Mattos, entre outros), continuam com os modernistas
de 22 (Mário de Andrade), e chega aos nossos dias.
Pelo andar da carruagem, devem continuar. Os
interessados em publicar textos na série, devem entrar
em contato pelos endereços abaixo:
© by Silas Corrêa Leite – E-mail: [email protected]
www.itarare.com.br/silas.htm
Conselho Editorial
Antonio Miranda
Elmira Simeão
ã7KHVDXUXV(GLWRUD
$UWHLPSUHVVmRHDFDEDPHQWR
7KHVDXUXV(GLWRUDGH%UDVtOLD
2VGLUHLWRVDXWRUDLVGDSUHVHQWHREUDHVWmROLEHUDGRVSDUDVXDGLIXVmRGHVGHTXHVHPILQVFRPHU
FLDLVHVHFLWDGDDIRQWH
7 + ( 6 $ 8 5 8 6 ( ' , 72 5 $' ( % 5 $ 6 Ã / , $ /7 ' $
6,* 4XDGUD /RWH &(3
%UDVtOLD ')
)RQH
)D[
(QG(OHWU{QLFRHGLWRU#WKHVDXUXVFRPEU
3iJLQDQD,QWHUQHWZZZWKHVDXUXVFRPEU
&RPSRVWRHLPSUHVVRQR%UDVLO3ULQWHG
LQ
%UD]LO
2
OS PICARETAS DO BRASIL REAL
“Pátria amada/Pátria minha/
Pátria nada(...)/Patriazinha.”
(Vinicius de Morais)
I
É preciso matar Fernandinho Beira-Mar
Antes que ele faça escola
Mas como ele pode querer se enturmar
Se é aprediz da curriola?
Os picaretas do Cassino Brazil
Como cantou Lula Lá
São donos de um curral, redil
Onde canta o carcará
II
E de Fernando em Fernando
O Brasil vai se ferrando
Como diz um amigo poeta criando
Um Fernando congelou a poupança
Dito caçador de marajá
3
Mas depois de tremenda roubança
Pelo povo foi tirado de lá
Então entrou um outro Fernando
Ex-sociólogo, ex-marxista, ex-intelectual
Que logo que se aliou a um bando
Virou até ateu esquisito, e um neoliberal
Transformou o Brazil num enorme puteiro
(Como bem cantou aquele jovem roqueiro)
Pra mesma caterva ganhar muito dinheiro
(De lambuja um rol de agiota estrangeiro)
III
Com esse nosso capitalhordismo americanalhado
Sofre o carente zé povinho - feito gado marcado
Apesar desse horror histórico que nos consome
Vejo pichado no muro “Trombadinha é a fome”
Nessa terra em se plantando, tudo dá
Mas já não canta mais a histórica sabiá
Pois nem motivo ufanista para se cantar há
Apenas essa cantiga de escárnio canto eu cá
IV
4
É preciso prender o Fernandinho Beira-Mar
Antes que ele se torne muito bom e popular
Ou venha a mídia querendo nos enganar
Nos dopando com outro Fernando pra votar
E esse Fernando com sorriso boçal
Janota inventa um novo falso Plano Real
Para depois não valer nada o cruzeiro
Sendo apenas um outro embuste eleitoreiro
(E de Fernando em Fernando
O povo vai se ferrando)
V
Mas, por que prender o Fernandinho Beira-Mar
Se tem tanto corrupto e ladrão bem instituído
Um diz que rouba mas faz, impune, assistido
Por ex-juízes, desembargadores, seus iguais
Outro bobo prega que é dando que se recebe
E enquanto com dialética mente muito, e bebe
Outro diz para esquecer tudo o que escreveu
Pois agora é pior do que traste que o antecedeu
E tudo isso chega a fazer o Fernandinho Beira-Mar
Ser só mais um querendo ser novo rico e assim faturar
Pois ninguém fica muito rico impunemente
A não ser nesse Brazyl que não vai pra frente
5
Riquezas injustas, lucros impunes, muito ouro e pouco pão
Propriedades-roubos, e a impaga dívida social saindo pelo ladrão
VI
Então não seria melhor elegermos o Fernandinho
Muito menos ladrão quanto um bando inteirinho
Que esteve logrando o pobre povo sofrido no poder
Falindo o estado para o privado muito bem prover
Com um banditismo generalizado
E até uma impunidade por atacado
Pois a nossa bisonha justiça labiríntica incompetente e suspeita,
tarda e falha
E o bando de terno, gravata, farda e túnica uma enorme fortuna
logo amealha
E desde Primeiro de Abril de 1964 fica impune a caterva da
militar canalha...
VII
Minha terra tem Corinthians onde canta o Rei Roberto
Mas em vez de expert tem é muito empresário esperto
Ladrão roubando ladrão com certo estilo singular
Que se gritar pega ladrão não fica um pra capar
Luis Carlos Prestes vai voltar?
VIII
6
Cada pais tem o governo que merece
Pois nós temos os históricos picaretas
Futebol, pinga, idolatria com boba prece
E vários antros de escorpiões e mutretas
Salve! Salve! lindo pendão da nossa triste esperança
Marionetes no open-doping mas o povo é quem dança
IX
Um Fernando gritou “Não me deixem, só...cios”
Uma quadrilha com néscios bancava os negócios
Outro Fernando alegou um bobo medo do Lula
Mas aumentou o miserê com sua política chula
Fernandinho Beira-Mar também quis entrar no sistema
Da Paulista Sampa falida até bala perdida em Ipanema
X
Eu canto essa cantiga de maldizer a saciedade
Escárnio contra o bando liberal da insanidade
Falidas políticas públicas, roubos em privatizações
Todos lucram, mas perderam as sociais instituições
Vendemos o Brazyl inteiro a preço de banana
E agora chamamos o novo agiota de “bwana”
7
Esse brasilíndio sempre será uma republiqueta servil
Tungaram as conquistas sociais e históricas do Brasil
Enquanto trabalhadores com lágrimas, suor e sangue tiveram
conquistas
O sórdido neoliberalismo fomenta revezes contra elos éticos,
humanistas
Nunca mais Fernandos fazendo as sujeiras palaciais
O corvo anarquista clama “nunca mais”, “nunca mais”
Um resto de país como este, meu filho nunca mais verás
São núcleos corporativistas de picaretas, corruptos e marajás
XI
É preciso perdoar Fernandinho Beira-Mar
Pior foram outros Fernandos no poder
Você muito bem dopado ajudou eleger
Outro babaquara decrépito sonha voltar
XII
Deitado em berço esplêndido, com tanto Fernando
incompetente assim
O Brazyl com certeza vai ser sempre um curral rastaquara,
chinfrim
8
Colonizados de alguma forma todos nós ainda somos
Carnaval, mulher pelada e nunca sabemos os donos
Se o país é movido por uma funesta quadrilha terrível
Vamos então exportar esse hediondo combustível
Os estrangeiros querem nosso urânio e a Amazônia
O midiático nos tasca um consumismo de babilônia
Para que sejamos essa coitada tropical Sodoma
Mesmo que o pobre nunca estude e nem coma
Mas o importante nessa Gomorra de estatísticas
É o cartão de crédito, a navalha dos consumistas
XIII
Enquanto o novo e ganancioso corrupto aprendiz
Discute com o arcaico e sórdido corrupto matriz
O emboaba corrupto neoliberal tira ouro do país
O Brasil não merece o Brazyl, já cantava Elis
XIV
Os invasores portugueses não nos descobriam
Invadiram
Mataram nossos índios, exploraram as riquezas
Tristezas
Fundaram o Brasil de contrabando e escravatura
Tortura
Depois trouxeram os pobres imigrantes fugitivos
9
Cativos
E exploram agora os migrantes dos brasis gerais
Capitais
XV
O nativo tinha que rezar pra Tupã e também em latim
Ou morria, ou fugia, para a sua mata enorme e sem fim
Negro ritualizava seu candomblé e se fingia convertido
Ou morria no tronco, a inquisição do invasor bandido
O imigrante novo cristão em segredo fazia seus rituais
Mas se dizia convertido para não ter que fugir mais
Esse é o Brasil que se fez, de primeiros filhos bastardos
Nem negro, índio ou branco, mas só cafuzos ou pardos
Daí nasceu o chamado jeitinho brasileiro que até hoje existe
O empresário bandido, o militar incompetente e o povo triste
XVI
Um Brasil explorado em detrimento do povo sofrido
Apesar da constituição dizer que ele deve ser provido
Um estado privado, suspeita falência de vezo social
Ladrão que rouba ladrão - funda um novo capital?
10
Começa com contrabando, que é a economia informal
Narcotráfico sustentando a corja de mote neoliberal
Todos roubando o fisco, fins de semana em Cancun
Mas se gritar “Pega Ladrão!” no Galeão não fica um
XVII
A educação pública falida de maneira estranha, proposital
Bandido foge da cadeia com ampla logística de ótimo apoio
local
A sucateada saúde trazendo doenças como tuberculose e
malária
A esquerda não saca espúrias infiltrações na reforma agrária
Os meios de comunicação promovendo bizarrices no sexismo
Que a paranóia do sonho nos faz repensar na utopia do
anarquismo
Se Deus é brasileiro carimbou passaporte diplomático, e vai
voar
Para repensar o paraíso tropical para a Colômbia vai viajar
XVIII
Professor ganhando muito menos do que guardinha do Metrõ,
policial ou delegado
Família no consumismo e o filhote jegue júnior ao crime extralar
já bem vinculado
Cultura não tendo vez como se fosse câncer quando é a alma
além do óbvio pensando
11
E o janota e boçal ladrão com propaganda enganosa velhaco e
sacana se achando
Músicas idiotas, axé-bunda, o caipira virando ridículo sertanojo
de dupla de motel
E os palácios logrando o povo como se a política fosse uma
excelência de bordel
Pior ainda o pagodeiro, a maria-chuteira, como se o tal crime
bem organizado
Financiasse os podres poderes e levasse no bico o povinho gado
marcado
XIX
Não há muita diferença em assaltar um banco ou abrir uma
agência bancária
Já dizia Bernard Shaw, pois nosso sistema financeiro é uma
sujeira contrária
Ao que deveria fazer para construir um país que não somos e
não seremos
Pois com zona de prostituição, de escambo ainda prémercantilista perecemos
E quando um político honesto fala em pagar uma histórica
dívida social
Parte de uma caterva da mídia joga sujo, joga feio mesmo sendo
amoral
XX
12
É preciso portanto matar Fernandinho Beira-Mar
Ou reeducá-lo para ele pelo menos possa mudar
E lançá-lo candidato pra outro Fernando enfrentar
Pode ser que pensando no povo ele possa sacar
Que é melhor ser honesto e na favela então vá
Prover o abandonado povinho da Periferia S/A
XX
O materialismo consumista, não sacia a sede do homem, diz o
poeta
Mas o eleitor brasileiro quer curral com grife, feito um
pernóstico, um pateta
A juventude é como uma geladeira pifando que funciona com
barulho, calor, violência e cabeça vazia
Pois é próprio do tipo dopado ser esse refil para o sistema
cumprir sua finalidade; sempre se manter fria
Nas lojas, nos supermercados
São todos na fronte tatuados
Como se consumidores em potencial
Afetos ao contrabando informal
À boca-de-fumo que sazonal
Ainda nutrem idiotas engomados
13
XXI
Ordem e Progresso? Ordem pra quem
Se o rico vive sempre muito bem?
O rico cada vez mais rico e além
Progresso pra quem? – Se o rico tudo tem
E o pobre historicamente vive sem?
O pobre na rua da amargura
Sem lar, sem pão, sem cura
Enquanto rico com sua usura
Põe cão, câmara e procura
A segurança sem pensar em ninguém
XXII
É preciso perdoar Fernandinho Beira-Mar
Se um outro Fernando foi julgado inocente
E um fundou um Instituto que, certamente
Vai ensinar político a furtar impunemente
XXIII
Um país se faz com homens e livros
Disse Monteiro Lobato ele mesmo humanista
Hoje se faz com a fomes e gringos
No americanalhado capitalhordismo fascista
14
XXIV
Estrangeiros em nosso próprio país
Os brasileirinhos sobrevivem por um triz
De Fernando em Fernando, o infeliz
Vê o agiota emboaba tirando ouro do país
XXV
“Fiquemos alerta em duplo
sentido. Desde Auschwitz
não sabemos do que o ser
humano é capaz(...)Desde
Hiroshima que não sabemos o que está em jogo..”
(Viktor E. Frankl)
Mas, caros amigos
Nem tudo está perdido
Vejam o lado bom das coisas
O povo é ungido nas carências
Pelos narcotraficantes e as novas igrejas
Caros Amigos
Nem tudo está errado
Vejam o lado bom da situação
Ninguém paga ninguém agora
E um inocente sempre foge da policia
15
Caros Amigos
Nem tudo está podre
Vejam com algum otimismo
Um operário na presidência
E agiotas estrangeiros odeiam isso
Caros Amigos
Se vocês acham que está mal
Tudo isso pode piorar ainda muito mais
Não adianta dar descarga
O esgoto brasilis está cheio de neoliberais
XXVI
Os comunistas estão chegando
Vamos barrar os comunistas?
Mas vão chegar como e quando
Se eles nunca deram na vista?
Os socialistas estão tramando
Mas o que tramam os socialistas?
Virão em séqüitos ou, puristas
Novas utopias vêm semeando?
Os liberais nos estão assaltando
Mas que tipos são tais fascistas
16
Chegam e já vão aprontando
Nos guetos dos inconformistas
Sociais democratas vão chegando
Com oligarquias e estatísticas
Talvez o que esteja nos faltando
Seja um bando de anarquistas
Os capitalistas estão afundando
Um banco com roubos e logísticas
Mas mesmo assim vamos falando
Que os culpados são os comunistas
Se eles são sórdidos capitalistas
E o nosso é bem sujo, infame e vil
Que benditos sejam os niilista
Que sonham um outro novo Brasil
Os humanistas estão chegando
Ou continuarão os parasitas?
Nesse mercantilismo de insanos
Que venham logo os alquimistas
XXVII
É preciso prender e condenar Fernandinho Beira-Mar
17
Porque viveu no crime informal e cresceu a traficar
É preciso condenar o Fernandinho Colorido de Alagoas
Porque o tipo contando papo e impune vive numa boa
Mas o Fernando mesmo que precisa ser preso, afinal
É o que inventou o falso milagre do insano Plano Real
Que gerou milhões de falidos, e os desempregados
E pensa em voltar para engabelar os enganados
Com a sua privatarias de Judas dos descamisados
XXVIII
Que país é esse, cantaria aquele neomaldito roqueiro
Ou do outro que falava desse outro Brasil bem puteiro
Com todos os severinos, os jéfersons, os picaretas
E o nosso capitalismo de escambo bancando mutretas
IXX
O desembargador vende sentenças no tribunal superior
O juiz bate na amante se julga impune, impera o terror
O promotor mata a esposa grávida e foge em santa paz
O delegado banca a contravenção e faz pose de capaz
Num país que a labiríntica justiça tarda e falha
Não é ética humanista e só o pobre trabalha
18
O povo é quem carrega do país a triste cruz
E tem político que merecia um algoz e capuz
XXX
Ex-presidentes corruptos e ladrões soltos
Ex-governadores corruptos e ladrões soltos
Ex-prefeitos corruptos e ladrões soltos
Perdoem a falta de rima para tantos ímprobos envoltos
Na impunidade que só prende preto, pobre ou mestiço
E o burguês é sustentado por um sistema falho, omisso
XXXI
Eu canto essa dor dos podres poderes
E maldigo com escárnio a corja liberal
Brasileirinhos cumprindo seus deveres
E tanto ladrão roubando ladrão
Acaba eleito presidente da nação
XXXII
Ou colocamos uma grade nesse Brasil continental
E o transformamos na maior prisão de clima tropical
Ou colocamos uma lona da cor da bandeira nacional
E somos todos palhaços a votar num janota e boçal
E quem quiser que cante outra, trovador de caráter que assim
seja
19
Meu maldizer é verdade, contra a insensibilidade burguesa
XXXIII
Primeiro de Abril de 1964
ainda não acabou
O ano que pariu as trevas
De uma canalha incompetente
Corrupta e violenta
Instituiu o terror federal
E ao país nunca foi o mesmo
Nossa democracia com seqüelas vaga a esmo
XXXIV
Primeiro de abriu não acabou
Depois de 1968 fomos todos castrados
Não tínhamos direito a vida
Como até hoje não temos
E esperança nunca haverá
Plano Real, privatizações-roubos
E os Filhos da Pátria se tornaram
Filhos do Miserê S/A
XXXV
A Anistia perdoou mas não julgou, nem devolveu
Os torturadores estatais se aposentaram
Alguns ex-comunistas se prostituíram
20
E acabamos esse ordinário Brazyl Sociedade Anônima
De picaretas de terno, gravata, túnica, toga e farda
Mais o contrabando informal
Bancando o antro de escorpiões neoliberal
XXXVI
Estrangeiros em nosso próprio país
Presos em nossas próprias casas com nossas famílias
Mais o open doping da mídia que elege cacarecos
E. em nome do dólar, da grife e dos ímprobos
Faz-se o Brasil contemporâneo de máfias e quadrilhas
XXXVII
(Lê-com-lé, cré-com-cré
Vou voltar pra Itararé...)
Habemus cervas
XXXVIII
Os risos que correm em meus olhos
São pitangas de maldizer
O escárnio
XXXIX
Camarada, tudo já foi pago
Pode entrar e se servir
21
Temos crédito, fomos roubados
É só pegar sem pedir
Tudo está pago
Muito antes de você existir
Pode ir ao banco ou supermercado
Fazer seu resgate, seu saque e sair
Eles roubam nas tarifas, nos preços
Estão roubando desde a colonização
Assaltam com leis e com terços
Mas tudo é nosso meu irmão
Roubam os banqueiros
Roubam os empresários da nação
Até quando só seremos brasileiros
Na hora de pagar a conta mas na hora de colher os lucros não?
Tudo isso é nosso
A terra, a casa, o pão
Quem é o sócio do desonesto negócio
Que sempre ferra o povão?
Camarada, tudo está pago
Mas nunca prestam contas não
Não deixe que esse grave estrago
Tire-te a terra, o leite, o mel, o pão
Eles sempre roubam nos lucros
22
Como roubaram na falsa revolução
São bandidos amorais e xucros
E prostituíram nosso chão
Roubam jagunços, grileiros
E liberais nos puteiros da nação
Mas nós pobres brasileiros
Queremos nos servir de graça e vamos bancar a invasão...
Eu estou sendo processado
Por dizer que um corrupto e ladrão é corrupto e ladrão
E o ladrão pode ganhar a causa
Eu estou sendo processado
Mas ele pode ser ladrão de quadrilhas e máfias liberais
Mas alguém dizer que ele é não
Eu estou sendo processado
Por dizer explicitamente o que jamais poderia ser dito
A justiça viça essa aberração
Eu estou sendo processado
Devia acreditar que ser ladrão pode e dizer que é não
Mas eis a triste interpretação
O poeta inocente condenado
O ladrão confiando no “status de sítio” da justiça
23
E ainda com sentença de impunidade transitado em julgado
Índio não qué trabaiá
Mas que nativo vagabundo
A gente o obriga caçá
E plantá
Ele foge pra mata, garra o mundo
Escravo não qué trabaiá
Fica com banzo feito carcará
A gente o manda cuidá
Do cafezá
Ele foge e a gente tem que caçá
Imigrante não qué se escravizá
Só sabe sê anarquista
A gente o obriga a trabaiá
Não turista
Em terra que se plantando tudo dá
Operário pra exploração há
Mas faz greve – qué direito de gente
Se não for escravo como antigamente
De repente
Ainda vão querê elegê presidente!
24
Eu canto a dor de ser brasileirinho
Eu canto o escárnio, mas sou brasileiríssimo
Deixo de protesto o meu poeminho
Com luz de alma cidadã em gume afiadíssimo
Feito trovador à beira mar da praia grande
Que meu lirial de sangue cênico desande:
-Ò verde Mar, Ò verde Mar
Quanto de teu tanto e sânscrito sal é
Lágrimas de saudade do luar
Da minha Estância Boêmia de Itararé
Eu canto essa tristice minha
De uma dor bem brasileirinha
Porque testemunho meu tempo de horror e perdição
Um país rico só pros ricos, mas para os miseráveis não
Mas verás Brasil, que um poeta filho teu não foge à luta
Apesar do crime palacial ter um ególatra filho-da-puta!
(Fim)
25
26
27

Documentos relacionados