n.ºs 7 e 8 do Jornal Ponto Final

Transcrição

n.ºs 7 e 8 do Jornal Ponto Final
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EDITORIAL
As crescentes dificuldades que o nosso País enfrenta
não deixam ninguém indiferente. A Escola sente particularmente os problemas sociais, os dramas humanos
e a incerteza perante o futuro. Os nossos alunos representam esse futuro com um presente interrogado. Para
além da sua função primordial, a Escola continua a desenvolver laços de solidariedade, a partilhar o optimismo e a auto-estima e a construir pontes para os novos
valores, valores de sempre.
Folheie o leitor estas páginas e encontrará uma pálida
imagem do que fazemos e do que valemos. Modéstia?
Talvez.
O CÉU ESTÁ LILÁS
Assim o vejo,
Assim o sinto.
Por entre as nuvens ardentes,
E o puro vento… Lilás!
Vida vaga,
Subtil e delicada, que admiro mas não tenho.
Por mais horas que o dia tenha,
Melancólicas ou alegres,
antecedem agora o cinzento das nuvens
e o silêncio da solidão.
Para o bem e o mal,
Talvez o claro e o escuro,
Ou até mesmo o irreverente e o reverente.
Observa o Lilás…
Suave, delicado… Belo céu Lilás!
Sara Helena Costa, 11ºC
VISITA DA MINISTRA
DA EDUCAÇÃO
Sua Excelência a Ministra da Educação, Drª. Isabel Vilar, visitou a Escola Secundária de Paredes, no dia 8,
domingo, para se inteirar das obras de requalificação em
curso.
FICHA TÉCNICA
Jornal Ponto Final
Publicação Mensal
Nº 7/8, Abril/Maio 2011
Coordenação-Geral
Professor António Aresta
Direcção Gráfica
Professor Moisés Duarte
Professor Rui Espírito Santo
Colaboram neste número
11º B e C
Arlindo Sousa
Antónia Bessa
André Garcês
Beatriz Malheiro
Catarina Babo
Cristina Oliveira
Cândida Queiroz
César Silva
Eduardo Pinto
Fátima Cardoso
Fátima Machado
Fernanda Pereira Leite
Francisco Queirós
Grupo de Artes
Grupo de História
Helena Oliveira
João Correia
João Dias
Juliana Ribeiro
Luís Manuel Garcia
Margarida Andrade
Mariana Martins
Mário Cruz
Marta Sousa
Pedro Miguel Pereira
Sandra Moreira
Sara Helena Costa
Sara Nunes
Vânia Leal
Impressão
Reprografia da ESP
Distribuição
Associação de Estudantes ESP
Propriedade
Escola Secundária de Paredes
Rua António Araújo, s/n
4580-045 Paredes
Portugal
e-mail : [email protected]
Os textos assinados reflectem
a opinião dos seus autores.
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LE TOUR DE FRANCE
minho do inferno, a caminho do mítico Tourmalet. Nas
cinco vezes em que o desafiei no Inverno, escapou-me
Procurava sintonizar as ondas curtas fazendo rolar um sempre, uma a uma. Route fermée, monsieur, disseram,
pequeno círculo num dedilhado urgente, para poupar as ano após ano. Só no Verão.
pilhas. O velho aparelho de rádio, um transístor, a sul,
na janela do primeiro andar, apanhava a Radio France Regressei no Verão. Os primeiros sete quilómetros são
Internationale. Apanhar é um modo de dizer. O balou- suaves. A estrada eleva-se para o céu a partir daí. Para os
çar da antena encontrava algumas palavras dispersas e a ciclistas, a ascensão ao Tourmalet è a razão de ser dos
coluna interior devolvia-as cheias de um zumbido per- Pirenéus. Em algumas curvas, nos dias limpos, azuis,
manente. “Pollentier ... chute ... le portugais ...seule”. dizem que avistam o país espanhol. Quando os dias são
Meias palavras e aparentemente enigmáticas. Não para limpos e azuis. Como naquele dia.
mim, que, contendo um sorriso emocionado, murmuraJoaquim Agostinho era uma força da natureza quando
va que finalmente Agostinho estava por sua conta.
se levantava do selim. Conseguiu duas rectas pequenas
Peyresourde, Aspin e Tourmalet. Os três gigantes. Há de avanço e subitamente estava ao lado de Thevenet. O
um ponto na A-64, perto de Lanemmezan, em que os francês ameaçava quebrar, os gestos mecânicos, a falha
descobri pela primeira vez. Logo depois de uma área provável no momento de abastecer. Agostinho ergueu-se
de serviço dedicada ao Tour. Pressinto a estrada, alu- de novo. A rádio-tour grita três quilómetros para o fim.
cinante, íngreme, em curva e contra-curva e, depois, as O português está só na frente. O que lhe vai na alma? A
memória de Merckx e Poulidor, o medo de os sentir atrás
descidas, longas, precipitadas, loucas...
de si, a aproximarem-se. Um último olhar, relanceado, e
Ataca-se a primeira contagem do prémio da montanha. é Saronni já muito perto. As mãos cravam-se na bicicleta.
Um dia fresco, um dia típico de Verão na alta montanha. O tronco curvado. Os olhos pregados na estrada. MoviAproximam-se. Lucien Van Impe, com a camisola às mentos sonâmbulos. O corpo a não obedecer.
bolas vermelhas, a observar o delfim de Eddye Merckx,
um jovem chamado Freddye Marteens. No grupo da O italiano ia mais fresco. Ganhou! Vai fazer 40 anos a
frente estão também os holandeses Zoetmelk e Kuiper, memória das caricas.
Francisco Queirós
os franceses Hinault e Thevenet e, claro, o português.
A estrada municipal que liga o Peyresourde ao Col
d’Aspin atravessa o vale de Louron. Atravessa a lenda
e a memória: “si tu ne viens pas à Lagardère, Lagardère ira à toi”. Depois, o bote fatal e a mão de Aurora de Nevers. Entretanto, outra povoação essencial a
aproximar-se: Arreau. A flecha dupla na estrada indica,
finalmente, Aspin e, logo em maiúsculas verdes, OUVERT. Sucedem-se os cotovelos na estrada, as bermas
a desaparecerem, esfareladas, as curvas quase circunferências, a vertigem dos precipícios sem protecção. Doze
quilómetros terríveis e a imaginação a não alcançar o
que será o Tourmalet.
O rosto a trair o esforço imenso. A camisola amarela
também pedala, dizem. E Thevenet a lançar-se na última descida. Quinze segundos dão-lhe vantagem sobre
o pequeno grupo de perseguidores: Zoetmelk, Hinault,
Van Impe, Agostinho e ... os italianos. Em baixo de
forma, publicara o L’Équipe, na véspera, referindo-se a
Francesco Moser e a Giuseppe Saronni!
PELO PRAZER
DE SABER
De vez em quando, os animais falam. O Homem dá-lhes essa liberdade, quando ele próprio a perde.
Uma prova muito antiga deste facto vem da Índia, pela
mão dos árabes: O livro de Kalila e Dimna que inspirou,
durante o seu percurso, as gentes de outras civilizações.
Os orientais imaginam um Ocidente.
Os ocidentais imaginam um Oriente.
A procura da sensatez parece tornar-se insensata.
Franz Toussaint, orientalista francês, traduziu do chinês
«A flauta de jade» que nos diz do Insensato: «Com grandes gestos, ele afastou-se na noite. Parecia que estava a
O desvio à esquerda é quase imperceptível. Por ele fu- colher estrelas».
gimos das terras de Bigorre e de Lourdes. Vamos a caLuís Manuel Garcia
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DEPOIS
DO ESPECTÁCULO…
A VIAGEM A PARIS
Nos dias 15, 16 e 17 de Abril de 2011, um grupo de
alunos e professores desfrutaram de uma viagem inesquecível à capital de França, Paris -a cidade luz.
Várias situações foram vividas intensamente como por
exemplo, andar de avião, de metro e de Bateau Mouche
pelo rio Seine.
Esta viagem a Paris ficará para sempre na memória dos
alunos, que tiraram centenas de fotografias.
Não posso deixar de agradecer a disponibilidade dos
professores que acompanharam este grupo de alunos
e a cooperação das docentes que leccionam a disciplina
Nos meses que anteciparam a viagem, os alunos mos- de Francês da escola.
traram-se bastante entusiasmados e motivados para a
A professora responsável pela organização da viagem,
realização deste sonho.
Cristina Oliveira
Os discentes foram o elemento chave para o êxito da
viagem, pois adoptaram um comportamento irrepreensível; foram extremamente cumpridores, revelando um
grande sentido de responsabilidade. Tiveram a oportunidade de conhecer, in loco, não só alguns aspectos da
civilização e cultura francesas, como também de praticar a língua aprendida na escola.
Foram visitados vários locais de interesse turístico-cultural tais como a Tour Eiffel, O Musée du Louvre, O
Arc de Triomphe, O Quartier Latin e o Sacré Coeur.
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SOLIDARIEDADE
A campanha de solidariedade “Recolha de Alimentos
para Famílias Carenciadas” culminou, na derradeira semana de aulas do 2ºperíodo, com a composição de seis
cabazes de Páscoa. A elaboração destes cabazes contou
com a presença e auxílio de elementos do corpo de encarregados de educação dos alunos da Escola Secundária de Paredes que, com uma disponibilidade incomensurável, não deixaram de contribuir amplamente para o
sucesso desta campanha.
EDUCAÇÃO FÍSICA/
DESPORTO ESCOLAR
Finalmente, as instalações desportivas da nossa Escola
ficaram prontas a ser utilizadas. No início do terceiro
períodos, os nossos alunos começaram a ter aulas de
Educação Física.
As novas instalações vão permitir aos alunos uma aprendizagem e desenvolvimento dos desportos “tradicionais” bem como novos desportos. Para além do novo
Este sucesso não seria possível sem o empenho e dedi- pavilhão desportivo, surge, também, duas salas que percação da turma do 8ºD. Ao repto lançado nas aulas de mitem leccionar modalidades como ginástica, danças,
E.M.R.C., procuraram garantir que a constituição de ca- ténis de mesa, badmington, entre outras. No exterior, o
bazes fosse possível e que, além disso, pudessem suprir, antigo espaço foi dividido em 4 espaços, 2 para andebol
mesmo que momentaneamente, as necessidades mais e futsal, outro para basquetebol e outro para ténis de
prementes das famílias de alguns colegas da escola. Os 8 campo, No exterior ainda comporta uma caixa de saltos:
D`Ajuda angariaram fundos através da realização de uma salto em comprimento e triplo-salto.
feira, remetendo para a campanha a totalidade do montante adquirido. Sem a acção voluntária desta turma, dos A nível de Desporto Escolar, a Escola já fez o projecto
professores e demais elementos da comunidade escolar de adesão para o ano lectivo de 2011-2012.
que participaram com a contribuição de produtos e bens,
o sucesso da actividade ficaria totalmente comprometido.
Salienta-se ainda a disponibilidade, empenho e dedicação ao projecto por parte do Exmo. Sr. Padre Vitorino,
pároco de Castelões de Cepeda, assim como dos membros da Conferências Vicentinas.
A todos um profundo agradecimento.
Os professores:
Antónia Bessa; Cândida Queiróz;
Fátima Cardoso; Pedro Pereira
PROVÉRBIOS
A água de Abril é água de cuco, molha quem está enxuto.
Abril, águas mil.
Abril chuvoso, Maio ventoso e Junho amoroso, fazem
um ano formoso.
Em Maio queima-se a cereja ao borralho.
Maio frio e Junho quente : bom pão, vinho valente.
As favas Maio as dá, Maio as leva.
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A MATEMÁTICA
NA LENDA
E NA HISTÓRIA
Números amigos
Outros números amigos foram descobertos com o
passar do tempo. Pierre Fermat anunciou em 1636 um
novo par de números amigos formado por 17296 e
18416, mas na verdade tratou-se de uma redescoberta
pois o árabe di Ibn al-Banna (1256 - 1321) já tinha encontrado este par de números no fim do século XIII.
Algumas propriedades dos números têm, muitas vezes,
nomes curiosos, o que, frequentemente, surpreende os
leitores.
Leonardo Euler, matemático suíço, estudou sistematicamente os números amigos e descobriu em 1747 uma
lista de trinta pares, que foi ampliando para mais de sessenta pares. Todos os números amigos inferiores a mil
Citemos, como exemplo, o caso dos chamados núme- milhões já foram encontrados.
ros amigos.
Um facto interessante foi a descoberta, em 1866, por
Como descobrir entre os números aqueles que estão Nicolò Paganini, um jovem italiano de 16 anos, do par
presos pelos laços dessa amizade matemática?
1184 e 1210, que, curiosamente, passou despercebido a
todos aqueles matemáticos famosos.
Consideremos, por exemplo, os números 220 e 284. O
número 220 é divisível exactamente pelos seguintes nú- Vejamos agora o que se passa com o número 6. É divisímeros:
vel pelos números 1, 2 e 3, mas a soma desses números
1, 2, 4, 5, 10, 11, 20, 22, 44, 55 e 110
(1+2+3) é igual a 6. Concluímos, portanto, que o núme-
ro 6 é amigo de si próprio.
São estes os divisores próprios de 220, isto é os divisores positivos de 220 com excepção do próprio número. Já houve quem quisesse concluir deste facto que o número 6 é um número egoísta, mas isso já é outra históO número 284 é, por sua vez, divisível exactamente pe- ria…
los números:
1, 2, 4, 71 e 142
Fernanda Pereira Leite
De igual forma estes são os divisores próprios de 284.
Pois bem. Há entre estes números uma coincidência realmente notável. Se somarmos os divisores próprios de
220 atrás indicados vamos obter uma soma igual a 284;
se somarmos os divisores próprios de 284, obteremos
um resultado igual a 220. Dizem por isso os matemáticos que esses dois números são amigos.
ENTREVISTA COM O
PROFESSOR
RUI MOUTINHO
Jornal Ponto Final (JPF) : Começando pelo princípio
Há uma infinidade de números amigos, mas estes dois : porquê fazer da educação física uma profissão de toda
números, 220 e 284, formam o par de números ami- a vida ?
gos mais pequenos que se conhece. A sua descoberta é
atribuída a Pitágoras (filósofo e matemático grego, 570 Professor Rui Moutinho (PRM) : Tive a sorte de ter
a.C. – 496 a.C.).
tido um excelente professor de educação física, o que
fez com que eu dirigisse todo o meu querer para esta
Para os Pitagóricos os números amigos simbolizavam a profissão, além de que fui sempre um bom praticante.
harmonia mútua, a amizade perfeita e o amor. Os números amigos aparecem várias vezes na literatura árabe, JPF : O desporto escolar e a educação física na ESP :
pois para os árabes tinham um papel especial na magia que perspectivas de futuro ?
e na astrologia, na construção de horóscopos, na bruxaria, na preparação de poções mágicas e na construção PRM : A educação física em geral e neste momento,
de talismãs.
já que foram inauguradas as novas instalações, fizeram
7
CONFERÊNCIA
“A MATEMÁTICA NO
DESPORTO E NAS
REDES SOCIAIS”
Realizou-se no passado dia 27 de Abril, pelas 14h 30min,
no pequeno auditório da nossa escola, uma conferência intitulada “A matemática no desporto e nas redes sociais: uma
aventura com a Lili Caneças, o Mourinho e o Facebook”.
com que a disciplina ficasse com excelentes condições
para a prática/teórica. Quanto ao desporto escolar e
nos moldes actuais, infelizmente não nos é possível participar com mais assiduidade.
JPF: Há alguma história, ou histórias, da vida desportiva escolar que queira partilhar com os leitores ?
Esta palestra, proferida pelo Dr. Samuel Lopes, Professor
Auxiliar no Departamento de Matemática Pura da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, desenvolveu-se em 2 partes distintas: na 1ª parte alunos e professores
embrenharam-se, de forma empenhada, na resolução do
seguinte problema de probabilidades: “Por uma destas
circunstâncias inesperadas que a vida por vezes nos reserva, estás envolvido num combate mortal de arco e flecha com a Lili Caneças e o Mourinho, e só um dos três
pode ganhar. Para piorar as coisas, não tens muito jeito
para o arco, e a tua probabilidade de acertar é inferior
à do Mourinho e à da Lili. Mas não desanimes! Serás o
primeiro a atirar e terás a ajuda da matemática para encontrar a melhor estratégia para os vencer.”
PRM : Há uma que não vou esquecer nunca. Tem a
ver com um encontro entre escolas em Santo Tirso. O
convívio no segundo dia foi excelente, fruto da sã cordialidade entre alunos e professores, na sua globalidade,
já que no primeiro dia a rivalidade era doentia.
JPF : Qual é a sua modalidade de eleição ?
PRM : Pesca submarina. Tem a ver com a minha vida à
beira mar, bem como o encanto que as profundezas do
mar proporcionam.
Na 2ª parte, um pouco mais teórica, foi feita uma breve
JPF : Como é que um africano, angolano, saudoso das suas abordagem à Teoria dos Grafos, nomeadamente às apliraízes olha para o desenvolvimento desportivo de Angola ? cações da matemática ao estudo das redes sociais, como
o facebook, e tentou perceber-se melhor o que são os
PRM : Olho para o desporto em Angola com alguma famosos seis graus de separação.
preocupação. Sei de antemão que a prioridade após a
guerra é o apoio ás populações, sobretudo a nível social. Actividades como esta, que promovem o contacto dos
Por isso as escolas, casas, hospitais e estradas estão neste alunos com professores de outras instituições, são promomento na linha da frente. Logo que estejam estabele- piciadoras de uma aprendizagem que contribui para
cidas, então sim, o desporto dará um grande salto. Não uma formação matemática mais ampla e diversificada.
esqueço que mesmo assim somos campeões de África
Fernanda Pereira Leite
em basquetebol masculino e em andebol feminino.
8
O “TORNAR-SE
HUMANO”
O “tornar-se humano” não é uma questão meramente
genética, mas epigenética.
A criança necessita de um meio social propício ao seu
desenvolvimento, uma vez que as competências que
recebeu não lhes foram dadas de forma acabada. “Tiraram-nos do forno evolutivo muito cedo, estamos a
meio da cozedura…”, referia Fernando Savater na tentativa de explicar que o ser humano é, portanto, um ser
imaturo. É o convívio com os outros que vai permitir-lhe actualizar as características que herdou, ou seja,
desenvolver as suas competências cognitivas, afectivas,
relacionais e culturais.
Os episódios que vão sendo vividos pelo indivíduo ficam “guardados” e essas experiências ser-lhe-ão úteis,
mais tarde, na construção da sua história pessoal. Cada
ser humano é capaz de auto-organizar-se, ou seja, é capaz de pegar no emaranhado das suas vivências e de
as ordenar em função dos objectivos que escolheu e
das normas de conduta que lhe permitem alcançá-los.
Trata-se de elaborar uma síntese de tudo o que de marcante capta, entende e sente, realizada à maneira de cada
ser humano. Esta construção da narrativa vem então
reforçar a individualidade de cada um. É por isso que
as experiências não são boas nem más, dependem antes
de quem as vivenciou, porque cada pessoa é um ser único que experimenta o mundo de maneira exclusiva. O
modo como cada um interpreta cada situação depende
não apenas da própria pessoa, que é dotada de características singulares, mas também de factores externos.
Neste sentido, cada indivíduo cria a sua narrativa pessoal mediante certas condutas, ideias, costumes, sentimentos, atitudes e tradições que lhe são proporcionadas
pelos traços da cultura da sociedade em que vive e esse
modifica pelos significados que lhe atribui.
O desenvolvimento das potencialidades hereditárias ficou atrofiado devido à ausência de estimulação social
e humana, durante os primeiros anos de vida. Quando lhes foi apresentada, era já demasiado tarde para se
desenvolverem essas competências e se processarem as
aprendizagens adequadas. O período de maturação das
estruturas biológicas herdadas tinha sido ultrapassado.
Estas “crianças selvagens” nunca chegaram a dominar a
linguagem e, mesmo depois de aprenderem a deslocar-se de pé, retomavam facilmente os hábitos de locomoção do seu estado selvagem. Na verdade, elas nunca
conseguiram comportar-se como seres humanos, dado
que, em vez de conviverem com outras pessoas, imitando-as, contactaram sempre com modos de comportamento animal. Se desde o nascimento estas crianças se
tivessem integrado em grupos sociais, ter-se-iam desenvolvido normalmente e o rumo das suas vidas teria sido
outro, completamente afastado dos modos de conduta
que desenvolveram.
É com extrema facilidade que então nos apercebemos
da influência que o mundo exterior exerce sobre nós e
da importância do meio social no “tornar-se humano”.
“Será preciso admitir que os homens fora do ambiente
social, visto que aquilo que consideramos ser próprio
deles, como o riso ou o sorriso, jamais ilumina o rosto
das crianças isoladas.” (Lucien Malson)
Vânia Leal, 12ºC
PONTO FINAL
Terminou um ciclo, terminou uma vida. A vida de uma
pessoa tem muitos “pontos” em que muda.
Quer mudemos a nossa personalidade devido ao crescimento, quer seja devido ao final de um ciclo ao longo
de uma vida ocorrem uma série de acontecimentos que
nos levam a mudar o curso desta de vez em quando. No
Definitivamente, o contexto social é indispensável entanto há uma altura em que temos poder. Uma altura
à construção do ser humano e os casos descritos de em que podemos escolher que curso dar à vida que que“crianças selvagens” (criadas por animais, em clausura remos levar. Esse momento chegou.
ou que sobreviveram sozinhas), são o melhor exemplo
disso.
Estou no 12º (décimo segundo) ano e chegou aquela
altura em que as escolhas difíceis vêm ao de cima. No
Se existe uma predisposição para os seres humanos se entanto, ao deparar-me com indecisões e depois de resocializarem, desenvolvendo competências linguísticas flectir bastante no assunto, decidi que o que é preciso é
e relacionais, que terá sido feito dessas competências marcar esta fase com um ponto final, fazer paragrafo e
genéticas para a sociabilidade?
deixar uma ou duas linhas de intervalo e começar uma
nova frase, com novas ideias e novos pensamentos.
9
A vida, ensina muito. E ultimamente o que eu tenho
aprendido é que a única maneira de actualmente ser
aceite numa sociedade como a nossa (sim, esta sociedade violenta, e onde a aparência conta mais que o carácter – daí o nome geração rasca) é precisamente a imagem. Apesar de todos estarmos conscientes que isto se
passa e que a culpa é toda nossa, iniciámos lamentações
inerentes às más escolhas feitas com base na imagem
que uma pessoa tem, escolhas essas que foram feitas
sem ter em conta o carácter do escolhido como é o caso
da escolha de um governo ou então da empresa que nos
vai construir a escola. No entanto, eu acho e sou completamente a favor da destruição deste regime (vida) de
escola de falsidade em que vivemos. Não sei o que mais
fazer para o quebrar nas pessoas que à minha volta vivem. Já fiz tanto que actualmente nem sequer aprecio
o que me tornei. Com tanta mudança nem sequer sei o
porquê de ser como sou.
história, contou com a participação entusiástica e empenhada dos alunos do 3.º ciclo, que formaram equipas
para representarem as respectivas turmas e anos. Das
42 equipas em concurso, apuraram-se como vencedoras
na respetiva modalidade:
Eu sei que sou nada no que toca à parte física, mas sei
também que a singularidade de uma pessoa vale muito
e altera em muito o rumo da história (tal como Isaac
Newton ou então Albert Einstein) e é por isso que escrevo como escrevo como escrevo o que escrevo sendo
a base para a minha escrita o pensamento que visa a
criação de uma sociedade (não utópica – pois reconheço que não é algo que seja possível construir de um
momento para o outro) melhor que a que temos, pois
apesar de cientificamente estarmos num auge, socialmente estamos abaixo da média.
O grupo de História
João Carlos da Cruz Dias, 12ºE
OLIMPÍADAS
DE HISTÓRIA
No passado dia 4 de maio realizou-se, na Escola Secundária de Paredes, a 4.ª edição das Olimpíadas de História
para os alunos do 3.º Ciclo do Ensino Básico. À semelhança dos anos anteriores, esta iniciativa do grupo de
- os “Darmestádtios” - Duarte Graça; Pedro Filipe Ferreira e Ricardo Pinto, do 8.º ano, turma F;
- “ The Black Market” - Mário Coelho; Mário Pinho e
Miguel Miguel, do 9.º ano, turma H.
Parabéns aos vencedores! A todos os participantes, deixamos o convite para a competição do próximo ano
letivo.
ADIVINHAS
O que é, o que é….por muito que se corte fica sempre
do mesmo tamanho?
Qual é o vegetal cujo nome lido ao contrário é o nome
dum animal?
O que é pequeno em Lisboa e grande no Brasil?
INQUÉRITO
O Ministério da Saúde, através do Instituto da Droga e
da Toxicodependência promove de 4 em 4 anos estudos para avaliar as políticas de prevenção desenvolvidas
na área do consumo de substâncias psicoactivas e em
outras áreas relacionadas com a saúde dos jovens. Em
conformidade com esse objectivo, algumas turmas responderam a um questionário elaborado pelo Instituto
da Droga e da Toxicodependência, no dia 10 de Maio.
SOLUÇÕES
(baralho)
(arroz)
(letra b)
Penso que é a hora (como dizia Pessoa). Há que usar
aquela marca gramatical que existe por todo o planeta e
que tem um significado nada tão básico como a sua aparência porque apesar de ser apenas um ponto, significa
a viragem, a mudança e ainda a capacidade que cada um
de nós sozinho ou então todos os seres do planeta em
conjunto tem de mudar o que quer que esteja de mal na
sociedade que constituímos.
- “ Os Historiadores” - Gabriela Vidinha; Inês Viana e
João Duarte Barroca, do 7.ºano, turma G;
10
PAREDES
SOB INVESTIGAÇÃO
das ciências forenses surgiu porque alguns elementos
do grupo estavam interessados em explorar este tema.
A realização deste projecto foi muito positiva. Não só
adquirimos novos conhecimentos sobre ciências forenNo dia 8 de Abril, pelas 9 horas da manhã, no âmbito
ses e biologia como também tivemos oportunidade de
da disciplina de Área de Projecto, um grupo de “investrabalhar em equipa. Ao longo deste ano lectivo, desentigadores” da turma D do 12º ano, pôs em marcha uma
volvemos muitas actividades, e para a sua realização foi
série de actividades laboratoriais. Escolheram a Escola
necessário diálogo, harmonia e muito respeito uns pelos
Secundária de Paredes para realizar estas actividades deoutros. Fomos confrontados imensas vezes com obstávido às boas condições de equipamento laboratorial que
culos que, no fundo, nos fizeram crescer não só como
esta apresenta.
grupo, mas também como pessoas.
Quem teve a oportunidade de participar na apresentação do nosso produto final pode reparar que actividades
distintas foram realizadas, mas que todas elas tinham
um objectivo comum, divulgar a utilidade da biologia
ao serviço das ciências forenses. A determinação do
grupo sanguíneo de alguns participantes foi uma das
actividades desenvolvidas. Muitas pessoas mostraram
curiosidade relativamente a esta actividade, principalmente quando a responsável pela sua realização falou
sobre alguns problemas relacionados com determinados grupos sanguíneos. Uma outra actividade realizada
foi a extracção do DNA, que se revelou muito interessante para a realização do objectivo pretendido, dado
que o futuro da investigação criminal está no exame de
DNA. A actividade central foi a Electroforese. Esta técnica permite a separação de moléculas de acordo com o
seu tamanho, pois as de menor massa irão migrar mais
rapidamente do que as de maior massa. A partir desta
técnica é formado uma espécie de código de barras que
constitui a identificação de cada indivíduo. Outras actividades, como jogos interactivos e jogos manuais sobre
Biologia, serviram de estratégia para atrair os mais novos.
André Garcês; César Silva; Eduardo Pinto;
Helena Oliveira; Fátima Machado;
Marta Sousa; Sandra Moreira.
SAUDADES
A cidade de Díli, capital de Timor Leste, amanheceu
ameaçadora. As montanhas que circundam a cidade do
lado de Luiquiçá e Maubara pareciam querer despejar o
seu mau humor sobre nós. Entretanto, as nuvens que
até aqui não passavam de ameaças sobre as nossas cabeças, abrem-se de par em par e a chuva torrencial desaba
sobre os nossos frágeis chinelos e nossas cabeças desocupadas. Não era de facto a despedida que eu esperava,
depois de uma semana maravilhosa a conhecer Timor.
Este pequeno país situado no Oceano Índico, para lá
do equador, restaurou a independência a 20 de Maio
de 2002, depois de uma luta heróica contra a opressão
dos Indonésios. Todos nos recordamos da tragédia que
aconteceu no cemitério de Santa Cruz em de Novembro de 1991 e que foi o princípio do fim da presença
da Indonésia em Tim Tim. Tim Tim era o diminutivo
de Timor Timor , a tradução em Bahasa indonésio de
Timor Leste. Este massacre no cemitério de Santa Cruz
foi dado a conhecer ao mundo através do jornalista Inglês Max Stahal, que, apesar de permanentemente vigiado pela polícia política Indonésia e, ultrapassando todos
os obstáculos, vencendo os sérios riscos pessoais que se
deparavam nas suas pesquisas, deu a conhecer a todo o
mundo a crueldade dos Indonésios naquele fatídico dia
12 de Novembro.
Foram precisos 11 anos de muitas lutas, mais alguns
Optamos pela realização deste projecto devido à nossa massacres e a intervenção da comunidade internacional,
“paixão” por biologia. O gosto, a dedicação e a admi- com Portugal à cabeça, para que a independência fosse
ração por tudo o que diz respeito à biologia une-nos. A uma realidade. Quem não se lembra da comoção nacioideia de divulgarmos a utilidade da biologia ao serviço nal depois de a RTP mostrar as imagens do massacre do
11
cemitério de Santa Cruz. Milhares de pessoas saíram à
rua e o país inteiro juntou-se no repúdio pelo genocídio
praticado de forma sistemático pelas forças invasoras
da Indonésia. Foi também crucial para o feliz epílogo
de todo este processo, o papel dos Estados Unidos
depois de alguma forma pressionados pelo primeiro-ministro da altura, engenheiro António Guterres e do
então Presidente da República Dr. Jorge Sampaio.Com
o referendo de 30 de Agosto que deu um resultado de
78,5 % a favor da independência de Timor, contra os
21.5 % a favor da integração do território na Indonésia
e com uma participação maciça, (votaram 98,6% dos
eleitores recenseados) números que fazem corar de vergonha muitas das democracias Ocidentais, abriu-se, enfim, caminho para que nascesse um novo pais no seio
da comunidade internacional.
O primeiro contacto com Díli foi um tremendo choque:
casa abarracadas, uma inépcia total dos funcionários
alfandegários, que presos por minudências, fazem-nos
desesperar em filas enormes. Crianças subnutridas, táxis
a desfazerem-se nas estradas esburacadas, eis o que se
nos é dado observar logo à saída do aeroporto.
Este primeiro contacto foi-se alterando com o passar
dos dias, seja pela simpatia das pessoas, seja pela constatação das condições históricas, económicas e culturais
que enformam este novel país. Conhecemos o Bispo de
Díli, D. Alberto Ricardo, a quem fomos apresentar os
cumprimentos da Escola Secundária de Paredes e entregar-lhe a Revista Papel de Parede(s) assim como livro
sobre Timor, no qual o coordenador do Departamento
de Ciências Sociais e Humanas, Dr. Aresta, colaborou.
Recebeu-nos com muita cordialidade e simpatia mostrando um genuíno prazer pelo facto de poder conversar com pessoas de Portugal e saber novidades sobre
o nosso país. Mais tarde, visitamos também a Escola
Portuguesa de Timor, situada em frente ao cemitério
de Santa Cruz onde fomos recebidos pela Dra. Cândi-
da Valente, coordenadora do primeiro ciclo, pois o Dr.
João, director da escola, estava ausente de Díli e entregamos-lhe os livros que levávamos, também oferecidos
pela nossa Escola. Tivemos uma longa conversa sobre
as dificuldades da escola. Desde logo pelo facto de, não
havendo cultura de trabalho em Timor, ser muito difícil
motivar os alunos para fazer os trabalhos de casa. Lá
como cá. Ainda nesse dia visitamos uma missão dos
padres Capuchinhos em Tibar, a 20 km de Díli. Está lá
uma das razões que fazem do nosso país uma nação que
deu e continua a dar novos mundos ao mundo. O padre
António, director do Seminário, está a fazer um trabalho extraordinário no sentido de levar àqueles jovens
um pouco mais de cultura e de conhecimento, pois em
Timor está tudo por fazer. O verdadeiro investimento
está na educação. Entre outras coisas é esse o grande
trabalho que o padre António está a fazer em Timor.
Bem-haja.
Oportunamente darei mais pormenores desta viagem
que ficará sempre associada a um conjunto de emoções
bipolares: uma excitação imensa por estar num país
novo, de paisagens belíssimas, onde o mar, insaciável,
beija os recortes desenhados na orla costeira por milénios de ondas vagarosas que bordejam as margens, e,
por outro lado, a miséria que se consubstancia na lassidão de muita da população que por falta de motivação não tem atitudes pró-activas. Parece-me um povo
muito conformado, o que poderá trazer a inevitável dependência (económica, social, intelectual e psicológica
e portanto política) que acompanha a falta de espírito
crítico.
Estou de partida depois de uma semana a visitar/saborear Timor e, o céu, qual criança mimada após um
dilúvio de lágrimas, rapidamente desfaz as nuvens tenebrosas e abraçando-me com um sol que tudo ilumina,
parece sussurrar-me: boa viagem, a tua filha fica bem. E
a separação tornou-se menos penosa…
Mário Cruz
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ARTESEMPAREDES
Como vem sendo tradição na nossa escola no final de
cada ano lectivo, foi inaugurada no passado sábado 4 de
Junho às 22 horas, a exposição de arte Artesemparedes.
Patente até dia 26 de Junho na Casa da Cultura de Paredes, esta exposição é uma mostra dos trabalhos escolares dos alunos das turmas do 10º ano H e I e do 12º ano
I, do Curso Científico Humanístico de Artes Visuais da
nossa escola.
Aqui ficam algumas fotos da inauguração.
Grupo de Artes
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UM COLÓQUIO
COM VIDA…
como a presença de professores e alunos da escola. O
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Paredes
tomou a palavra para agradecer o convite que lhe foi
dirigido para estar presente no Colóquio e deixou uma
Cerca de duzentas pessoas participaram no Colóquio palavra de elogio e reconhecimento pela obra deixada
de homenagem ao escritor-médico paredense Dr. An- pelo insigne escritor paredense, anunciando a vontade
tónio Mendes Moreira, que decorreu no dia 4 de Maio da Câmara Municipal de Paredes vir a atribuir a medade 2011, no Grande Auditório da Escola Secundária de lha de honra da cidade pelo contributo e legado que o
Paredes, tendo como escopo a (re)visitação da obra li- Dr. Mendes Moreira deixa à cidade.
terária do escritor.
O Colóquio versou temas atinentes ao estudo da obra
literária do escritor, desde a literatura infantil, comunicação proferida pelo Dr. Francisco Queirós, passando
pelas questões éticas plasmadas na obra do escritor,
pelo Dr. António Aresta, até ao enfoque dado à escrita literária, pela Dr.a Olinda Loureiro. A comunicação
«António Mendes Moreira ou o percurso de um eu outrado», da autoria do Prof. Doutor Salvato Trigo, encerrou as comunicações.
Após a visita à exposição bibliográfica e documental
presente no hall da escola, a cerimónia terminou com o
descerramento de um memorial em granito, em honra
do escritor, no claustro do Pavilhão A da Escola Secundária de Paredes, com a seguinte inscrição: «De tão
agarrado a este chão de Paredes, não terão os meus pés
raízes invisíveis?».
Após as boas-vindas proferidas pelo Director da Escola
Secundária de Paredes, seguiu-se a exibição de um filme
sobre a vida e obra de Mendes Moreira: «A alma nua de
um escritor», realizado por alunos da Escola Secundária
de Paredes.
A mesa, presidida pela Dr.a Margarida Andrade, foi
constituída pelo Senhor Director da Escola Secundária
de Paredes, Dr. Francisco Queirós; pelo Senhor Presidente da Câmara de Paredes, Dr. Celso Ferreira; pelo
Coordenador do Departamento de Ciências Sociais e
Humanas, Dr. António Aresta; pela Coordenadora do
Departamento de Línguas, Dr.a Olinda Loureiro; e pela
Representante do Magnífico Reitor da Universidade
Fernando Pessoa, Prof. Doutor Salvato Trigo, Senhora
D. Manuela Trigo.
O Colóquio contou com a presença de várias personalidades locais, familiares e amigos do escritor, bem
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Durante o percurso foi possível observar a singularidade da paisagem repleta de formações rochosas de
natureza granítica e xistosa. Estas rochas estão espalhadas por todo o percurso e formam um espectáculo
imponente, devido ao tamanho de alguns blocos e da
grande variedade de formas que apresentam. Pela sua
imponência é de referir o Penedo do Equilíbrio que se
Foi uma honra e uma alegria para todos aqueles que
destaca pela sua forma, desafiando as leis da gravidade.
amam a literatura a ocorrência de um momento de parNa aldeia de Jueus, tipicamente serrana, foi possível obtilha como este e que perdurará, certamente, nas nossas
servar casas e espigueiros em granito. Do adro da camemórias. Ao Dr. António Mendes Moreira e à sua fapela desfrutámos de uma vista espectacular do Vale de
mília um agradecimento muito especial.
Besteiros.
Importa deixar aqui um agradecimento a todos os que
estiveram presentes e também um agradecimento às
empresas M. Sousa, Mármores e Granitos de Vila Cova,
Rádio NFM e Foto Paredense pelo apoio e ajuda que
prestaram a este Colóquio.
Margarida Andrade
31ª MARCHA JUVENIL
DE MONTANHA
Serra do Caramulo
À semelhança do que aconteceu nos últimos oito anos,
a Escola Secundária de Paredes participou, no dia 4 de
Junho, na 31ª Marcha Juvenil de Montanha, organizada
pelo Clube de Ar Livre da Escola Básica e Secundária
de Canelas.
Participaram na marcha 29 Escolas. A nossa escola fez-se representar por 38 alunos do ensino básico e secun- Depois de sair da aldeia de Jueus, entrámos nos camidário e por 12 professores.
nhos que acompanham o trajecto dos antigos “caleiros”
que garantiam o transporte e o abastecimento de água
A marcha decorreu num dos percursos pedestres mar- às populações serranas.
cado na Serra do Caramulo que fica situada no concelho de Tondela, distrito de Viseu. O percurso efectuado Existem ainda no percurso vários caminhos romanos,
designa-se de “Rota dos Caleiros”.
com sulcos profundos nas pedras devido às carroças
que aí passaram durante séculos.
A marcha teve início no Caramulinho, o ponto mais alto
da serra, a 1070 metros de altitude, de onde se avistou A flora da serra, nesta zona, é dominada por uma vea Serra da Estrela e, em dias sem nebulosidade, dizem getação rasteira onde predomina a carqueja, urze, tojo e
ver o mar.
giesta, que, nesta altura do ano, ainda se encontra com
uma riqueza extraordinária de cores.
A caminhada acabou junto a uma das torres eólicas, das
muitas que emprestam uma nova marca à paisagem e
fazem o aproveitamento do ar, um recurso em que a
serra é rica.
É sempre de salientar o entusiasmo do grupo participante em relação a esta actividade realizada ao ar livre
que permite um convívio entre professores e alunos de
várias escolas, com partilha de experiências vividas, ficando encontro marcado para o próximo ano.
Arlindo Sousa
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ENTREVISTA AOS CLÃ
Banda de Pop Rock
Jornal Ponto Final: Por que decidiram lançar um álbum dirigido ao público infanto-juvenil?
no Brasil, o que nos levou a preparar alguns concertos
em São Paulo em Dezembro de 2009, um concerto em
Austin (EUA) no festival “South by Southwest” e outro
na capital da Hungria, Budapeste.
Em 2009 também fizemos dois concertos muito especiais: actuamos no Baile dos Vampiros do “FantasporClã: Várias razões nos levaram a criar o Disco Voador.
to’09” e na abertura da nova temporada de espectáculos
Por um lado, sempre tivemos vontade de desenvolver
do TNSJ (Teatro Nacional de São João), um espectácuum projecto desse género e, por outro, sendo pais, prolo designado “Barbie Suzie Dolly Polly Pocket”. Assim,
curámos músicas para os nossos filhos o que nos fez
no início de 2010 decidimos tirar umas férias, que foram
deparar com dois problemas: as boas músicas infantis
de curta duração (até Maio de 2010).
ou são demasiado antigas ou a oferta mais recente tem
pouca qualidade.
Deste modo, em 4 anos os clã só tiveram 5 meses de
férias. Na realidade, há bastante trabalho que não é tão
Em Maio de 2010, fomos desafiados pelos responsáveis
mediático, mas fundamental a qualquer banda.
do Projecto Estaleiro, uma equipa de curtas-metragens
que iria realizar um festival, a apresentar um espectácuJPF: Todos os álbuns são bastante distintos. Haverá
lo dirigido a crianças. Assim, aceitamos a proposta. O
algo que os relacione?
compromisso inicial seria criar apenas algumas músicas
originais. Contudo, o trabalho de composição entre o
C: Apesar de serem bastante diferentes uns dos outros,
Hélder Gonçalves, compositor, guitarrista e baixista do
há razões relacionadas com a história da banda que legrupo, e a Regina Guimarães, a principal autora das levam a essas diferenças.
tras, foi bastante produtivo e, tendo o produto final sido
muito satisfatório e de grande qualidade, decidimos graEntre o lançamento do primeiro álbum, “LusoQualvar as músicas, editar o álbum e preparar a digressão do
querCoisa” (1996), e o segundo, “Kazoo”(1997), as dinovo disco.
ferenças residem no facto de o primeiro já ser muito
antigo, uma vez que algumas das músicas desse mesJPF: Porque razão houve uma interrupção tão longa
mo álbum foram estreadas em palco em 1994. Após
(cerca de quatro anos) entre o lançamento do penúltimo
o lançamento dos primeiro álbum, quase não tivemos
álbum, “Cintura” (2007), e o “Disco Voador” (2011) ?
concertos, pelo que críamos novas versões das antigas
músicas, experimentamos novos sons, e aí descobrimos
Clã: De facto, os nossos fãs frequentemente se espana essência da banda: cada músico descobriu o que quetam com o tempo que demora entre o lançamento de
ria do seu instrumento, o que poderia desenvolver em
dois discos dos Clã. Contudo, não tivemos muito temtermos de personalidade sonora e, a partir daí, críamos
po para descanso. A digressão do álbum “Cintura” só
o segundo álbum.
terminou em meados de 2009, o que corresponde ao
tempo normal de digressão da banda (cerca de um ano
De facto, aprendemos bastante com a experiência ene meio). Sucedeu-se também uma edição do nosso álquanto banda: tivemos várias experiências paralelas,
bum em Espanha, bem como alguns concertos em cicomo por exemplo a colaboração em bandas sonoras
dades espanholas, a edição de uma colectânea do grupo
para filmes mudos, que trouxe coisas novas em termos
de descoberta de som e composição. Tudo isso contribuiu para o processo evolutivo do grupo.
Por outro lado, também não tememos a mudança, uma
vez que estamos habituados a ouvir estilos de música
muito diferentes e a própria orgânica da banda á muito
rica, o que faz com que os rumos tomados na construção das canções sejam infinitos. Neste último álbum,
fizemo-lo de um modo muito mais consciente: estamos a tentar ser mais simples, no sentido de ter menos
elementos e que as canções se tornem mais claras e as
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C: De momento, estamos muito ocupados com o novo
álbum e com o início da digressão: durante o período
lectivo, vamos actuar em teatro e auditórios, com a possibilidade de, a propósito desses concertos, realizar oficinas em escolas ou sessões do espectáculo Disco Voador sópara público escolar. Nas férias do Verão vamos
realizar actuações ao ar livre, com canções dos outros
álbuns adicionadas ao repertório.
ideias sejam mais fortes, o que se torna um trabalho
bastante complicado.
Depois, voltando as aulas, iremos novamente actuar em
teatros e auditórios, sempre que possível mantendo a
ligação às escolas.
Acabando a digressão, tiramos umas férias e, algum
tempo depois, iniciaremos a criação de um novo disco.
É de acrescentar que a maior parte das músicas dos
“Clã” não têm o formato clássico, com o refrão a repe- JPF: Preocupam-se muito com a imagem dos cenários
tir duas ou três vezes. No entanto, as letras e a própria dos espectáculos e dos próprios membros do grupo?
essência das canções fazem com que as pessoas se liguem emocionalmente à nossa música.
C: Sempre nos preocupámos em transmitir a nossa personalidade artística, o que influencia bastante os nossos
JPF: Qual foi o álbum de cuja criação mais prazer tira- ouvintes.
ram?
Temos uma equipa de trabalho de estrada, uma equipa
C: Gostamos de todos os álbuns, havendo, porém, sem- de palco (que trabalha com jogos de luzes e a cenograpre problemas em todos. Gravar é estar de uma forma fia), o que é muito importante na comunicação com o
muito clara e muito crua com aquilo que é produzido espectador, bem como uma equipa de cabeleireiros e
musicalmente, o que muitas vezes leva a frustrações figurinos.
quando o resultado esperado não é obtido. Todavia, é
maravilhoso quando aquilo que pretendemos é alcan- JPF: Por que razão a banda se chama “Clã”?
çado.
C: Queríamos transmitir a mensagem de que éramos
Um disco de que gostamos particularmente, não tanto uma banda, um todo, e não partes disjuntas. Na época
pelo que foi gravá-lo mas pela liberdade artística que ele em que aparecemos, estava muito na moda os artistas
representa, é o “Rosa Carne” (2004). É um disco cujo actuarem com várias bandas diferentes, não sendo isso
conceito está muito bem definido e é muito intenso, ten- o que pretendíamos. Assim, decidimos dar um nome
do representado um salto, em termos de escrita literária, que sugerisse que éramos um grupo aberto, com raíextraordinário. Foi um grande passo e um exercício de zes muito fortes, semelhante a uma tribo. E, dessa ideia,
muita liberdade, pois é muito, muito complexo e pouco surgiu o nome “Clã”.
comercial, o que foi arriscado uma vez que se sucedeu
ao “Lustro” (2000), o álbum que teve mais sucesso comercialmente. Foi, de facto, um momento marcante e
muito importante para a orgânica da banda.
JPF: Quais são as influências musicais dos “Clã”?
C: Todos os elementos têm gostos musicais bastante
distintos. Quando vamos em viagem, em época de digressão, ouvimos desde Elvis Presley a Deolinda, e, esporadicamente, heavy metal!
JPF: Quais são as vossas perspectivas para o futuro?
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ENTREVISTA A
MANEL CRUZ
Músico, ilustrador e artista plástico.
Jornal Ponto Final: Em termos de satisfação pessoal,
qual dos teus projectos musicais preferiste?
Manel Cruz: Numa certa perspectiva o Bandido deu-me mais pica porque há mais margem de erro, ou seja,
é um projecto que tem uma componente quase plástica,
é tipo o “vai-se pintando e vai-se fazendo” na própria
realização do disco. Os Ornatos eram uma coisa mais
de composição, de em casa fazer a música para a guitarra, depois eles punham arranjos, depois havia uma narrativa maior e uma preocupação de coerência dentro de
cada música... Depois havia essa parte de composição
da banda toda, que dava à música um lado um bocadinho mais comprometido, ou seja, isto sem uma conotação positiva ou negativa, estávamos mais preocupados
em fazer a coisa perfeitinha... Era uma composição...
JPF: Também aí o plural intervém muito não é? O facto de ser Ornatos e de repente aqui o Bandido seres
especificamente tu?
MC: Ser eu, exactamente, sou eu a mandar e a fazer as
coisas. O pessoal ia para minha casa, passava lá a noite e
ia curtindo, nem ia a pensar que ia gravar ou não porque
eu sou amigo da maior parte das pessoas com quem
trabalho, e pronto... acontecia. Porque eles iam para lá
gravar e eu depois ficava sozinho, eles iam-se embora e
eu ficava a montar aquilo como bem me apetecia. E se
pensasse numa coisa estúpida pensava, e ao fim de três
vezes se me apetecia arrepender arrependia-me e já não
punha... Ou seja, havia uma liberdade total...
JPF: Quase como quando desenhas?
vida e tinha aquela coisa que eu gostava e eu optava...
Numa banda há sempre alguém que curte o take da
bateria e depois o outro que não sei quê e outro que
não sei que mais... E eu ali, pronto... Curiosamente acho
que, destas pessoas, nunca ninguém me disse que não
curtiu um take que fez porque eu tinha muitos takes,
aproveitava as coisas que podia montar, cortava, colava,
cortava, colava... Depois o pessoal tem aquelas coisas
na música, que na pintura não acontece. Na pintura
tu fazes uma colagem, metes a pincelada, juntas uma
fotocópia... não estás preocupado se a fotocópia é um
sampler ou se o take não está todo feito com a mesma
técnica... ninguém quer saber. Na música há muito essa
coisa do tipo “eh pá eu curtia gravar um take do início
ao fim” mas tu, hoje em dia, com os programas de computador, e mesmo antes fazia-se isso ao cortar a fita e
pôr a fita cola e tudo, só que era muito mais moroso...
Ou seja, havia coisas que tu dizias “Não. Que se lixe,
dá menos trabalho gravar outra vez do que estar aqui
com coisinhas!...” e aqui não. Por exemplo, o disco dos
SuperNada, que era um disco que estava mesmo difícil
de sair, porque o pessoal chegava à sala de ensaios a
arranjar músicas que já tínhamos tocado há montes de
tempo e já estávamos fartos... Também já não conseguíamos mudá-las em conjunto porque era um processo...
difícil... E eu comecei a entrar naquela de pedir para
relaxarmos e curtirmos um bocado, punha a gravar e
desligava o monitor, ninguém sabia que estava a gravar
e seguiam-se vinte minutos de uma série que já parecia
composta, a soar imenso. Comecei a cantar em cima
daquilo... se havia uma parte que não estava bem eu ia
buscar um take de outro ano, tal e tal... depois cozia-se
acolá, tal e tal, chegava ao fim e era uma cena natural.
Com uma pintura ao fim de um determinado processo
chegas a um final e isso com uma banda é mais difícil...
A única maneira de acabarmos o disco foi essa, a fazer
um bocado como fiz no Bandido.
JPF: A tua formação académica e o contacto com a arte
MC: Exactamente! Como quando desenhas precisa- plástica influenciam-te na música?
mente. E às vezes o próprio esboço era a música e não
havia esse problema de não se conseguir o take com MC: Acho que sim. Acho que a minha atitude na múo melhor som, ou às vezes havia um take que tinha a sica não é de músico, porque eu não sou músico que
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tenha investido num instrumento em particular, academicamente ou em domínio, sinto-me sempre... como é
que hei-de dizer... tentei repartir muitas coisas e nunca
explorei demasiado uma mesma coisa...
JPF: Quase como o trabalho do Amon Tobin...
MC: Sim, bricolage. Eu sinto-me muito mais assim na
música, embora só recentemente tenha posto isso mais
em prática.
JPF: Demorou muito tempo o Foge Foge Bandido?
nenhum sacrifício. Quanto à edição de autor em si, não
sei se vendi menos por causa da pirataria, mas sei que
ganhei mais do que quando estava nas multinacionais.
Porque a diferença do contrato que eu consegui, em que
o investimento foi meu, é que ganhei 90% dos lucros,
e na Universal ganhávamos 9%. Há algumas vantagens
em ganhos embora tenha vendido muito menos, pois
a própria tiragem é mais baixa, em edições de mil por
exemplo, enquanto que com os Ornatos chegamos a
vender quinze mil!
JPF: E na projecção na comunicação social como é que
funciona?
MC: Ele demorou nove anos, só que não foram nove
anos intensivos porque era sempre um trabalho para se- MC: Na multinacional, na prática, tu pagas toda essa
gundo plano, ia fazendo outras coisas mesmo na músi- máquina, pagas o investimento da gravação, pagas o
ca, nas artes plásticas, nas bandas...
produtor, o marketing, os contactos nas rádios... Isso
pode não ser necessariamente bom, porque tu entras
JPF: Se calhar é isso que se nota, o ter sido um pro- num esquema que pode não ser o esquema de como
jecto feito por gosto e não pelo prazo que a editora te vender a tua música... A questão é que eu não vou ganhar o meu público em quem vai assistir a um programa
coloca...
qualquer e até é quase obrigado a comprar um single ou
algo do género, mesmo que depois não goste do resto
MC: Sim, exactamente.
do disco! Não é bem isso que pretendo. Pretendo atinJPF: Foi edição de autor?
gir as pessoas que gostam mesmo.
JPF: Não achas, nos dias de hoje, mais rentável a promoção feita por exemplo no Facebook e assim?
MC: Claro, completamente. Tenho um amigo meu que
facebooka para o Bandido. Há mais igualdade de oportunidades para quem queira fazer uma coisa ou tenha
uma ideia fixe, às vezes até com pouco dinheiro e muitos amigos.
JPF: A pirataria veio então prejudicar mais as multinacionais ou os músicos?
MC: Foi edição de autor sim.
JPF: E em que posição é que isso te coloca em relação
à pirataria?
MC: Não creio que a pirataria seja, mesmo na edição
de autor, um maior prejuízo de vendas. Gasta-se menos
dinheiro em divulgação, a pirataria é altamente por isso,
porque se tu gostas muito de uma coisa e essa coisa até
tem um objecto que justifica a compra tu até vais comprar. Com o Bandido essa foi uma maneira de tornar o
objecto mais rico e ao mesmo tempo ter um pretexto
para fazer um livro, essas coisas estão ligadas. Não foi
MC: As multinacionais. Sem dúvida.
JPF: Com a pirataria começou também a haver mais
concertos, e é nos concertos que se garante mais lucro
não é?
MC: Exacto. Eu pessoalmente não sou contra a pirataria, mas isso não é ser a favor da pirataria.
JPF: Mas o tu produzires algo e depois alguém pegar
nisso e ir vender...
MC: Essa é a diferença, mas isso já não tem relação
com a pirataria, alguém está a ganhar dinheiro à custa
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de outro... Tu até podes fotocopiar uma gravura de um
livro, se quiseres o original tens que pagar. Eu gostava
mais de viver dos discos do que viver dos concertos por
exemplo, gosto mais da parte do laboratório do que ao
vivo, embora também goste ao vivo... Mas é o que é.
JPF: O colocar todo o disco em palco é difícil?
MC: Há pessoas em certas músicas, por exemplo, que
nunca se conheceram, nunca se cruzaram na vida. Então isso é uma coisa muito difícil, tens quarenta convidados, diferentes formas de tocar, tens milhentas coisas
a formar aquilo que é um momento de música e tens
de perceber quais é que são as essenciais ao vivo. Um
cavaquinho, uma viola, um banjo que entra no segundo
compasso e o barulho de uma torneira que entra não sei
onde... O que é que vamos pôr ao vivo? Primeiro, para
dar a ilusão de que essas coisas continuam a existir, ao
mesmo tempo a eleger as coisas principais... um gajo
que está na guitarra e não pode fazer o xilofone, saca o
xilofone para a guitarra e faz a função... tudo isto demora muitos ensaios e muitos concertos. Sinto que só agora, depois de quatro anos a tocar, é que nós temos um
concerto a soar fixe, não soando como o disco, soa tão
consistente como o disco. Estamos mais confortáveis,
já conseguimos divertirmo-nos ali no meio sem estar só
a pensar no “e agora?”... e já podemos beber um copo
antes do concerto sem o medo de esquecer as coisas... E
só agora é que sinto isso, é mesmo fazer um novo disco.
mal. Ouvi um velhote aqui há uns dias que tropeçou e
começou toda a gente a rir-se, ele vira-se e diz “Só se
riem do mal!”...
JPF: Esta coisa do sampler... sempre existiu a reprodução através de outros meios, mas faz-te confusão que
qualquer dia ouças uma banda qualquer e tenha algo
sacado do Bandido?
MC: A única coisa que podia ser chato mas é impossível
é alguém mudar alguma coisa que tu fizeste. Chegarem
a um quadro teu numa galeria e alterá-lo. Chegarem a
um quadro teu numa galeria e alterá-lo. Agora se pegarem numa cópia e alterarem vão criar algo novo. Tens
inevitavelmente, nessa situação, uma nova obra e até
uma chamada de atenção sobre aquilo em que pegaram.
Tudo ganha. Os White Stripes deixaram um disco ser
apropriado e houve um gajo que gravou um baixo. Continuas a ter os White Stripes e agora tens estes, pode haver alguém que goste mais com o baixo que nunca gostaria de White Stripes e agora até ouve. É o problema
da propriedade intelectual, que chega a ser um bocado
arrogante achar-se que se inventou alguma coisa. Como
dizes, ganhar dinheiro com algo que foi exactamente o
que tu fizeste é uma coisa, mas achares que inventaste
umas notas é exagero. No Bandido há o exemplo do
discurso do bispo que é um excerto manipulado por
mim, eu próprio o mexi e encarno agora nos concertos.
JPF: Das experiências que fazes na música, há muitas
JPF: Um grande músico que teve um grande sucesso que deites fora ou descartes e não queiras mais ouvir?
mas de repente até começa a “meter água”, deve ser
culpado por isso?
MC: Sim. No Bandido há três músicas que eu deixei de
parte e que depois nunca mais peguei.
MC: Acho que basta haver uma pessoa que goste para
tu já não poderes culpar ninguém. Aquela pessoa é que JPF: Alguma das tuas formas de expressão - escrita,
tem razão, e aquela pessoa é que conseguiu extrair bele- música, pintura - é tua preferida?
za de uma coisa. Claro que é sempre fixe um gajo dizer
MC: Em momentos diferentes. Por exemplo, há momentos em que estou mais saturado, a música é capaz
de me saturar mais porque estou sempre com muita
gente, tem lados óptimos mas às vezes, aqui no estúdio, há muita gente por todo o lado e embora hajam
momentos curtidos, mesmo esses são muito intensos
e podem ciclicamente saturar-me. Aí o desenho entra
que nem ginjas, o silêncio e estar só a riscar... É óbvio
que esses sentimentos estão em jogo quando é lazer, se
falarmos de trabalho e eu tiver de fazer um cartaz ou
qualquer coisa, tenho de fazer e tem de ser.
JPF: Usaste a palavra laboratório, para ti a música é então esse trabalho de laboratório no computador?
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MC: Sim e os métodos podem ser muitos. A música
pode sair de uns acordes de guitarra, como pode sair
uma letra e fazer uma voz, como pode haver alguém
que esteja aí a tocar e eu gravo e ponho algo por cima...
qualquer coisa vale. Para mim vale tudo. Porque é uma
mentira até criares a verdade, às vezes olho para algumas pessoas e sinto “este gajo escreve e sabe, é um iluminado, caiu-lhe a coisa em cima!”, quando é comigo
sinto de forma diferente. É andar no meio de trapos até
conseguir fazer com que aquilo pareça um vestido. Mas
também gosto muito desse processo, mais plástico.
single. O que resultou disso é que gostei de cerca de três
videoclipes... Os Radiohead são o exemplo de uma banda com excelentes videoclipes, os Ornatos se calhar não
investiram tanto. Já com os Pluto, a Maria e o Rui Lima
fizeram um vídeo que eu gosto muito, muito simples.
No Bandido, dei as músicas a amigos meus, avisei logo
que não ia pagar e disse para fazerem o que quisessem
que eu não riscava nada, no fim poria os vídeos no site.
Cheguei assim a ter vídeos de gajos que não conheço!
Agradou-me essa abordagem também experimentalista
nos próprios vídeos.
JPF: Precisas de um feedback positivo das pessoas, ao
JPF: Nessa fase de “pós-produção”, o bricolage em si, longo do processo criativo?
gostas mais de trabalhar sozinho?
MC: Inevitavelmente sabe-me bem ouvir que “está alMC: Eu por acaso gosto de trabalhar sozinho, mas gos- tamente” mas dou muita importância a quem é que está
to também de trabalhar com alguém que esteja colado a fazer esses comentários. Por exemplo, a Trindade, que
no mesmo que eu. Tem é de estar hiper concentrado também está no disco, que é uma empregada que eu tive
também. Alguém que me vê a já nem ouvir bem e me em casa da minha mãe, é uma pessoa super interessada
desliga e diz para irmos beber um copo, de repente em tudo e sabe montes de coisas. Eu tinha um quadro
quando se volta...
que nem tinha sido acabado e ela virou-se para mim e
disse “Ó menino, este quadro é tão feio, tão feio, tão
feio, que até é bonito!” E eu pensei “Perfeito!”
JPF: Achas que estamos numa fase artística e musical
bastante revivalista?
MC: Acho que foi sempre, só que agora há menos preconceito das pessoas em pegar no passado, acho que já
nem sei bem o que é que é revivalismo e o que é que
não é. As coisas já estão muito misturadas. Já se juntam
outras cenas a esse passado. É um zero confortável, temos de começar por algum lado e nunca há nada que
nos diga que aquele lado serve, mas ter uma referência
é óptimo.
JPF: Isso é o processo que deves utilizar em desenho,
afastando-te do desenho para veres melhor...
JPF: Ouves aquilo que criaste, já no fim de tudo com o
disco feito, e essa música toca-te?
MC: Exactamente, é a metáfora perfeita disso, o afasta- MC: Sim. É uma masturbação, a sensação do “yey está
res-te do quadro.
altamente, consegui!”...
JPF: E em relação aos videoclipes, preferes pegar no
conceito e encontrar alguém que consiga transpô-lo ou
preferes experimentar tu próprio?
JPF: Tens muitas pessoas que te peçam opinião sobre
trabalhos pessoais?
MC: Tenho muita vontade de fazer videoclipes, só que
claro que o tempo nunca dá para tudo e acabei por fazer
brincadeiras com amigos que, ou não davam em nada,
ou tínhamos aquela coisa que acontece nas multinacionais com as bandas, em que tens de ter um vídeo para o
MC: Pedem-me e eu tento sempre dissecar, hiper analisar, vou sempre buscar aquilo que gosto mais. Às vezes
custa dissecar algo muito emotivo, mas um gajo tem de
sofrer, é inevitável, se poupares as pessoas ao sofrimento elas não evoluem. Sendo o criar uma comunicação
contigo, uma elevação ou estado pleno de satisfação,
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é preciso angústia, claro que se pode criar sem essas
angústias, mas é uma questão de ambição saudável. É
uma questão de ambição saudável. É fazer-se bem uma
coisa, ter brio.
JPF: Como é que fazes a gestão da tua imagem com os
teus fãs? Preservas-te e preferes o anonimato ou não te
incomoda a atenção?
MC: O ideal era que fosses conhecido quando querias e
não fosses conhecido quando não querias. Não se pode
ter tudo. Sempre tive vaidade, mas sempre curti não me
conhecerem para não ficar em posições desiguais com
as pessoas.
JPF: Neste momento, qual é a tua música preferida no
álbum?
MC: “A canção mudou”.
JPF: Os teus filhos gostam da tua música?
MC: Nunca os pus a ouvir e houve uma única vez em
que liguei o rádio e já estava lá um cd meu, uma maquete dos SuperNada. Aproveitei para ouvir como é que
estava a soar e o Agostinho virou-se “Não quero esse!
Quero o Mike Patton!”, ele tinha dois anos na altura!
Faço mesmo questão de não ser eu a mostrar-lhes, prefiro o reflexo real do interesse deles. E eles nunca vão
precisar, vão sempre ter de ouvir o pai e vão.
JPF: Quando páras de desenhar e recomeças, sentes
que estás menos “oleado”?
MC: Acho que é muito como num relacionamento. Entre duas pessoas há dias em que estás mais “lá”, ou há
dias em que estás mais no teu trabalho ou o contrário,
às vezes é a outra pessoa... e nunca recebes tanto... tem
sempre a ver com aquilo que tu dás também... não dá
muito bem para explicar. Acho que com o desenho e
as artes é muito a mesma coisa. Se bem que também há
outras coisas, há a questão da autoconfiança... por exemplo, neste último concerto, nós estamos fartos de tocar
o Bandido de trás para a frente - fartos quer dizer que já
tocamos muitas vezes, temos aquilo mais que sabido - e
decidimos não ir ensaiar numa das vezes. E eu tenho a
certeza que não era preciso. Só que o facto de nós sabermos que não tínhamos ensaiado influenciou, só por
aquele sentimento de brio... de respeito... correste o risco
e o teu trabalho, se calhar, não gostou muito! Agora isto
não será verdade para todas as pessoas, há pessoas mais
simples... Mas eu acredito que existe uma resposta motora no teu cérebro que é trabalhada e afinada e os teus
dedos, se deixas de tocar guitarra uns tempos, ficam sem
calo, é tão simples quanto isso, e volta a doer. O contacto
com as coisas cria essa parceria com as ferramentas. Tens
de criar uma ligação com as coisas de existência! Diária.
Tu existes todos os dias, se tu és artista a arte existe todos os dias. Eu escolhi isto e não tenho um emprego das
nove às cinco. Todo o pessoal que trabalha em artes tem
essa dualidade, não é uma profissão por um lado, por
outro lado é... por outro lado é a tua vida... mas há que
assumir as coisas como são.
JPF: Consideras importante, para ti, o ter uma certa
“bagagem” musical? Quais são as tuas referências?
MC: Não ouço muita música. Mas também ouço muito
a que faço e ouço muito som, tanto que chego a casa e
não tenho vontade de ouvir nada, o silêncio está altamente para mim... Embora haja alturas em que me apetece
mesmo ouvir um disco e vou ouvi-lo, não é aquela coisa
de pessoal que não está ligado à música e precisa de ouvir música a trabalhar, eu, como passo muito tempo aqui
fechado às vezes a ouvir sempre o mesmo compasso, o
silêncio sabe-me altamente. Curiosamente agora ouço
mais quando chego a casa, ponho Feelies e os miúdos
adoram dançar aquilo. E tenho, claro, referências. Quando era puto ouvia muita música, antes até de começar a
tocar, estava sempre a ouvir música. E ouvia os discos
dos meus irmãos e dos meus pais que ia desde o Jacques
Brel aos Beatles, ao Bruce Springsteen, ao Simon and
Garfunkel, ao Beethoven, Sérgio Godinho, Rui Veloso,
Tracy Chapman, pá... tudo o que houvesse lá era para ouvir! Sétima Legião... a minha irmã começou a ouvir The
Cure eu também ouvia The Cure... enfim...
JPF: E com livros isso também acontece?
MC: Não leio. Nada. Poesia ainda leio... e já comecei
alguns livros. Não tenho o prazer da leitura como tenho
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por exemplo o do cinema, não quer dizer que não haja
uma coisa que me provoque esse prazer. Só que eu sinto que tenho que me esforçar para a leitura me agarrar,
enquanto que o cinema não me causa isso. Não preciso
de criar as imagens no cinema, num livro como sou eu
que tenho de fazer isso de repente já não estou ali, as
imagens levam-me para longe.
JPF: E então, no cinema, tens referências?
MC: Tem de novo muito a ver com o momento em que
tu estás e a pertinência. Tive a ver filmes do Hitchcock...
O Indiana Jones era o meu filme de infância, sonhava com aquilo e tudo. Depois tenho filmes que adorei
como o “Despertar da Mente”, ou o “Quem quer ser
John Malkovich” e é um filme que eu nem estava à espera de nada especial. Outro que também não percebi
porque é que adorei é “A Testemunha”, não sei mesmo
porquê. Depois há aqueles que toda a gente gosta como
os “Cães Danados” que também gostei muito, mas que
são consensuais... Mas adoro cinema!
JPF: E teatro, já agora?...
MC: Teatro não gosto. Não sou um apreciador do molde... o que não quer dizer que eu não possa ver uma
peça que adore.
JPF: E como é que aconteceu então a tua participação
no “A Cidade dos que partem”?
MC: As músicas entravam muito na peça e pediram-me
para fazer uma das músicas, tão simples como isso. Vi o
que era a peça e fiz uma música para uma letra. Fui ver
um ensaio e isso ajudou-me. Não considero que dê por
mal empregue o meu tempo se vir teatro, mas eu não
vou daqui ali para comer massa... mas uma vez estando
lá posso até curtir ter ido e vi há uns tempos o “Pillowman” que gostei muito, do Tiago Guedes. Lá está, tinha
uns cenários muito bonitos, os actores eram bons, a história fixe, naquele momento conseguiu puxar-me. Acho
que é fixe um gajo enriquecer-se mas não directamente,
não é o “olha vou estudar este gajo para conseguir perceber”... Um gajo estuda a vida...
SPOOF ADS
We are constantly being confronted with advertisements. They are EVERYWHERE!
Ads are designed to convey very specific messages to
consumers and they don’t necessarily tell us the whole
truth about a product. When you spoof or parody an
ad, you take the elements of the ad that give it power,
and make them absurd. Here are some spoof ads made
by the students.
11ºB; 11ºC.

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