n.ºs 7 e 8 do Jornal Ponto Final
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n.ºs 7 e 8 do Jornal Ponto Final
2 EDITORIAL As crescentes dificuldades que o nosso País enfrenta não deixam ninguém indiferente. A Escola sente particularmente os problemas sociais, os dramas humanos e a incerteza perante o futuro. Os nossos alunos representam esse futuro com um presente interrogado. Para além da sua função primordial, a Escola continua a desenvolver laços de solidariedade, a partilhar o optimismo e a auto-estima e a construir pontes para os novos valores, valores de sempre. Folheie o leitor estas páginas e encontrará uma pálida imagem do que fazemos e do que valemos. Modéstia? Talvez. O CÉU ESTÁ LILÁS Assim o vejo, Assim o sinto. Por entre as nuvens ardentes, E o puro vento… Lilás! Vida vaga, Subtil e delicada, que admiro mas não tenho. Por mais horas que o dia tenha, Melancólicas ou alegres, antecedem agora o cinzento das nuvens e o silêncio da solidão. Para o bem e o mal, Talvez o claro e o escuro, Ou até mesmo o irreverente e o reverente. Observa o Lilás… Suave, delicado… Belo céu Lilás! Sara Helena Costa, 11ºC VISITA DA MINISTRA DA EDUCAÇÃO Sua Excelência a Ministra da Educação, Drª. Isabel Vilar, visitou a Escola Secundária de Paredes, no dia 8, domingo, para se inteirar das obras de requalificação em curso. FICHA TÉCNICA Jornal Ponto Final Publicação Mensal Nº 7/8, Abril/Maio 2011 Coordenação-Geral Professor António Aresta Direcção Gráfica Professor Moisés Duarte Professor Rui Espírito Santo Colaboram neste número 11º B e C Arlindo Sousa Antónia Bessa André Garcês Beatriz Malheiro Catarina Babo Cristina Oliveira Cândida Queiroz César Silva Eduardo Pinto Fátima Cardoso Fátima Machado Fernanda Pereira Leite Francisco Queirós Grupo de Artes Grupo de História Helena Oliveira João Correia João Dias Juliana Ribeiro Luís Manuel Garcia Margarida Andrade Mariana Martins Mário Cruz Marta Sousa Pedro Miguel Pereira Sandra Moreira Sara Helena Costa Sara Nunes Vânia Leal Impressão Reprografia da ESP Distribuição Associação de Estudantes ESP Propriedade Escola Secundária de Paredes Rua António Araújo, s/n 4580-045 Paredes Portugal e-mail : [email protected] Os textos assinados reflectem a opinião dos seus autores. 3 LE TOUR DE FRANCE minho do inferno, a caminho do mítico Tourmalet. Nas cinco vezes em que o desafiei no Inverno, escapou-me Procurava sintonizar as ondas curtas fazendo rolar um sempre, uma a uma. Route fermée, monsieur, disseram, pequeno círculo num dedilhado urgente, para poupar as ano após ano. Só no Verão. pilhas. O velho aparelho de rádio, um transístor, a sul, na janela do primeiro andar, apanhava a Radio France Regressei no Verão. Os primeiros sete quilómetros são Internationale. Apanhar é um modo de dizer. O balou- suaves. A estrada eleva-se para o céu a partir daí. Para os çar da antena encontrava algumas palavras dispersas e a ciclistas, a ascensão ao Tourmalet è a razão de ser dos coluna interior devolvia-as cheias de um zumbido per- Pirenéus. Em algumas curvas, nos dias limpos, azuis, manente. “Pollentier ... chute ... le portugais ...seule”. dizem que avistam o país espanhol. Quando os dias são Meias palavras e aparentemente enigmáticas. Não para limpos e azuis. Como naquele dia. mim, que, contendo um sorriso emocionado, murmuraJoaquim Agostinho era uma força da natureza quando va que finalmente Agostinho estava por sua conta. se levantava do selim. Conseguiu duas rectas pequenas Peyresourde, Aspin e Tourmalet. Os três gigantes. Há de avanço e subitamente estava ao lado de Thevenet. O um ponto na A-64, perto de Lanemmezan, em que os francês ameaçava quebrar, os gestos mecânicos, a falha descobri pela primeira vez. Logo depois de uma área provável no momento de abastecer. Agostinho ergueu-se de serviço dedicada ao Tour. Pressinto a estrada, alu- de novo. A rádio-tour grita três quilómetros para o fim. cinante, íngreme, em curva e contra-curva e, depois, as O português está só na frente. O que lhe vai na alma? A memória de Merckx e Poulidor, o medo de os sentir atrás descidas, longas, precipitadas, loucas... de si, a aproximarem-se. Um último olhar, relanceado, e Ataca-se a primeira contagem do prémio da montanha. é Saronni já muito perto. As mãos cravam-se na bicicleta. Um dia fresco, um dia típico de Verão na alta montanha. O tronco curvado. Os olhos pregados na estrada. MoviAproximam-se. Lucien Van Impe, com a camisola às mentos sonâmbulos. O corpo a não obedecer. bolas vermelhas, a observar o delfim de Eddye Merckx, um jovem chamado Freddye Marteens. No grupo da O italiano ia mais fresco. Ganhou! Vai fazer 40 anos a frente estão também os holandeses Zoetmelk e Kuiper, memória das caricas. Francisco Queirós os franceses Hinault e Thevenet e, claro, o português. A estrada municipal que liga o Peyresourde ao Col d’Aspin atravessa o vale de Louron. Atravessa a lenda e a memória: “si tu ne viens pas à Lagardère, Lagardère ira à toi”. Depois, o bote fatal e a mão de Aurora de Nevers. Entretanto, outra povoação essencial a aproximar-se: Arreau. A flecha dupla na estrada indica, finalmente, Aspin e, logo em maiúsculas verdes, OUVERT. Sucedem-se os cotovelos na estrada, as bermas a desaparecerem, esfareladas, as curvas quase circunferências, a vertigem dos precipícios sem protecção. Doze quilómetros terríveis e a imaginação a não alcançar o que será o Tourmalet. O rosto a trair o esforço imenso. A camisola amarela também pedala, dizem. E Thevenet a lançar-se na última descida. Quinze segundos dão-lhe vantagem sobre o pequeno grupo de perseguidores: Zoetmelk, Hinault, Van Impe, Agostinho e ... os italianos. Em baixo de forma, publicara o L’Équipe, na véspera, referindo-se a Francesco Moser e a Giuseppe Saronni! PELO PRAZER DE SABER De vez em quando, os animais falam. O Homem dá-lhes essa liberdade, quando ele próprio a perde. Uma prova muito antiga deste facto vem da Índia, pela mão dos árabes: O livro de Kalila e Dimna que inspirou, durante o seu percurso, as gentes de outras civilizações. Os orientais imaginam um Ocidente. Os ocidentais imaginam um Oriente. A procura da sensatez parece tornar-se insensata. Franz Toussaint, orientalista francês, traduziu do chinês «A flauta de jade» que nos diz do Insensato: «Com grandes gestos, ele afastou-se na noite. Parecia que estava a O desvio à esquerda é quase imperceptível. Por ele fu- colher estrelas». gimos das terras de Bigorre e de Lourdes. Vamos a caLuís Manuel Garcia 4 DEPOIS DO ESPECTÁCULO… A VIAGEM A PARIS Nos dias 15, 16 e 17 de Abril de 2011, um grupo de alunos e professores desfrutaram de uma viagem inesquecível à capital de França, Paris -a cidade luz. Várias situações foram vividas intensamente como por exemplo, andar de avião, de metro e de Bateau Mouche pelo rio Seine. Esta viagem a Paris ficará para sempre na memória dos alunos, que tiraram centenas de fotografias. Não posso deixar de agradecer a disponibilidade dos professores que acompanharam este grupo de alunos e a cooperação das docentes que leccionam a disciplina Nos meses que anteciparam a viagem, os alunos mos- de Francês da escola. traram-se bastante entusiasmados e motivados para a A professora responsável pela organização da viagem, realização deste sonho. Cristina Oliveira Os discentes foram o elemento chave para o êxito da viagem, pois adoptaram um comportamento irrepreensível; foram extremamente cumpridores, revelando um grande sentido de responsabilidade. Tiveram a oportunidade de conhecer, in loco, não só alguns aspectos da civilização e cultura francesas, como também de praticar a língua aprendida na escola. Foram visitados vários locais de interesse turístico-cultural tais como a Tour Eiffel, O Musée du Louvre, O Arc de Triomphe, O Quartier Latin e o Sacré Coeur. 5 SOLIDARIEDADE A campanha de solidariedade “Recolha de Alimentos para Famílias Carenciadas” culminou, na derradeira semana de aulas do 2ºperíodo, com a composição de seis cabazes de Páscoa. A elaboração destes cabazes contou com a presença e auxílio de elementos do corpo de encarregados de educação dos alunos da Escola Secundária de Paredes que, com uma disponibilidade incomensurável, não deixaram de contribuir amplamente para o sucesso desta campanha. EDUCAÇÃO FÍSICA/ DESPORTO ESCOLAR Finalmente, as instalações desportivas da nossa Escola ficaram prontas a ser utilizadas. No início do terceiro períodos, os nossos alunos começaram a ter aulas de Educação Física. As novas instalações vão permitir aos alunos uma aprendizagem e desenvolvimento dos desportos “tradicionais” bem como novos desportos. Para além do novo Este sucesso não seria possível sem o empenho e dedi- pavilhão desportivo, surge, também, duas salas que percação da turma do 8ºD. Ao repto lançado nas aulas de mitem leccionar modalidades como ginástica, danças, E.M.R.C., procuraram garantir que a constituição de ca- ténis de mesa, badmington, entre outras. No exterior, o bazes fosse possível e que, além disso, pudessem suprir, antigo espaço foi dividido em 4 espaços, 2 para andebol mesmo que momentaneamente, as necessidades mais e futsal, outro para basquetebol e outro para ténis de prementes das famílias de alguns colegas da escola. Os 8 campo, No exterior ainda comporta uma caixa de saltos: D`Ajuda angariaram fundos através da realização de uma salto em comprimento e triplo-salto. feira, remetendo para a campanha a totalidade do montante adquirido. Sem a acção voluntária desta turma, dos A nível de Desporto Escolar, a Escola já fez o projecto professores e demais elementos da comunidade escolar de adesão para o ano lectivo de 2011-2012. que participaram com a contribuição de produtos e bens, o sucesso da actividade ficaria totalmente comprometido. Salienta-se ainda a disponibilidade, empenho e dedicação ao projecto por parte do Exmo. Sr. Padre Vitorino, pároco de Castelões de Cepeda, assim como dos membros da Conferências Vicentinas. A todos um profundo agradecimento. Os professores: Antónia Bessa; Cândida Queiróz; Fátima Cardoso; Pedro Pereira PROVÉRBIOS A água de Abril é água de cuco, molha quem está enxuto. Abril, águas mil. Abril chuvoso, Maio ventoso e Junho amoroso, fazem um ano formoso. Em Maio queima-se a cereja ao borralho. Maio frio e Junho quente : bom pão, vinho valente. As favas Maio as dá, Maio as leva. 6 A MATEMÁTICA NA LENDA E NA HISTÓRIA Números amigos Outros números amigos foram descobertos com o passar do tempo. Pierre Fermat anunciou em 1636 um novo par de números amigos formado por 17296 e 18416, mas na verdade tratou-se de uma redescoberta pois o árabe di Ibn al-Banna (1256 - 1321) já tinha encontrado este par de números no fim do século XIII. Algumas propriedades dos números têm, muitas vezes, nomes curiosos, o que, frequentemente, surpreende os leitores. Leonardo Euler, matemático suíço, estudou sistematicamente os números amigos e descobriu em 1747 uma lista de trinta pares, que foi ampliando para mais de sessenta pares. Todos os números amigos inferiores a mil Citemos, como exemplo, o caso dos chamados núme- milhões já foram encontrados. ros amigos. Um facto interessante foi a descoberta, em 1866, por Como descobrir entre os números aqueles que estão Nicolò Paganini, um jovem italiano de 16 anos, do par presos pelos laços dessa amizade matemática? 1184 e 1210, que, curiosamente, passou despercebido a todos aqueles matemáticos famosos. Consideremos, por exemplo, os números 220 e 284. O número 220 é divisível exactamente pelos seguintes nú- Vejamos agora o que se passa com o número 6. É divisímeros: vel pelos números 1, 2 e 3, mas a soma desses números 1, 2, 4, 5, 10, 11, 20, 22, 44, 55 e 110 (1+2+3) é igual a 6. Concluímos, portanto, que o núme- ro 6 é amigo de si próprio. São estes os divisores próprios de 220, isto é os divisores positivos de 220 com excepção do próprio número. Já houve quem quisesse concluir deste facto que o número 6 é um número egoísta, mas isso já é outra históO número 284 é, por sua vez, divisível exactamente pe- ria… los números: 1, 2, 4, 71 e 142 Fernanda Pereira Leite De igual forma estes são os divisores próprios de 284. Pois bem. Há entre estes números uma coincidência realmente notável. Se somarmos os divisores próprios de 220 atrás indicados vamos obter uma soma igual a 284; se somarmos os divisores próprios de 284, obteremos um resultado igual a 220. Dizem por isso os matemáticos que esses dois números são amigos. ENTREVISTA COM O PROFESSOR RUI MOUTINHO Jornal Ponto Final (JPF) : Começando pelo princípio Há uma infinidade de números amigos, mas estes dois : porquê fazer da educação física uma profissão de toda números, 220 e 284, formam o par de números ami- a vida ? gos mais pequenos que se conhece. A sua descoberta é atribuída a Pitágoras (filósofo e matemático grego, 570 Professor Rui Moutinho (PRM) : Tive a sorte de ter a.C. – 496 a.C.). tido um excelente professor de educação física, o que fez com que eu dirigisse todo o meu querer para esta Para os Pitagóricos os números amigos simbolizavam a profissão, além de que fui sempre um bom praticante. harmonia mútua, a amizade perfeita e o amor. Os números amigos aparecem várias vezes na literatura árabe, JPF : O desporto escolar e a educação física na ESP : pois para os árabes tinham um papel especial na magia que perspectivas de futuro ? e na astrologia, na construção de horóscopos, na bruxaria, na preparação de poções mágicas e na construção PRM : A educação física em geral e neste momento, de talismãs. já que foram inauguradas as novas instalações, fizeram 7 CONFERÊNCIA “A MATEMÁTICA NO DESPORTO E NAS REDES SOCIAIS” Realizou-se no passado dia 27 de Abril, pelas 14h 30min, no pequeno auditório da nossa escola, uma conferência intitulada “A matemática no desporto e nas redes sociais: uma aventura com a Lili Caneças, o Mourinho e o Facebook”. com que a disciplina ficasse com excelentes condições para a prática/teórica. Quanto ao desporto escolar e nos moldes actuais, infelizmente não nos é possível participar com mais assiduidade. JPF: Há alguma história, ou histórias, da vida desportiva escolar que queira partilhar com os leitores ? Esta palestra, proferida pelo Dr. Samuel Lopes, Professor Auxiliar no Departamento de Matemática Pura da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, desenvolveu-se em 2 partes distintas: na 1ª parte alunos e professores embrenharam-se, de forma empenhada, na resolução do seguinte problema de probabilidades: “Por uma destas circunstâncias inesperadas que a vida por vezes nos reserva, estás envolvido num combate mortal de arco e flecha com a Lili Caneças e o Mourinho, e só um dos três pode ganhar. Para piorar as coisas, não tens muito jeito para o arco, e a tua probabilidade de acertar é inferior à do Mourinho e à da Lili. Mas não desanimes! Serás o primeiro a atirar e terás a ajuda da matemática para encontrar a melhor estratégia para os vencer.” PRM : Há uma que não vou esquecer nunca. Tem a ver com um encontro entre escolas em Santo Tirso. O convívio no segundo dia foi excelente, fruto da sã cordialidade entre alunos e professores, na sua globalidade, já que no primeiro dia a rivalidade era doentia. JPF : Qual é a sua modalidade de eleição ? PRM : Pesca submarina. Tem a ver com a minha vida à beira mar, bem como o encanto que as profundezas do mar proporcionam. Na 2ª parte, um pouco mais teórica, foi feita uma breve JPF : Como é que um africano, angolano, saudoso das suas abordagem à Teoria dos Grafos, nomeadamente às apliraízes olha para o desenvolvimento desportivo de Angola ? cações da matemática ao estudo das redes sociais, como o facebook, e tentou perceber-se melhor o que são os PRM : Olho para o desporto em Angola com alguma famosos seis graus de separação. preocupação. Sei de antemão que a prioridade após a guerra é o apoio ás populações, sobretudo a nível social. Actividades como esta, que promovem o contacto dos Por isso as escolas, casas, hospitais e estradas estão neste alunos com professores de outras instituições, são promomento na linha da frente. Logo que estejam estabele- piciadoras de uma aprendizagem que contribui para cidas, então sim, o desporto dará um grande salto. Não uma formação matemática mais ampla e diversificada. esqueço que mesmo assim somos campeões de África Fernanda Pereira Leite em basquetebol masculino e em andebol feminino. 8 O “TORNAR-SE HUMANO” O “tornar-se humano” não é uma questão meramente genética, mas epigenética. A criança necessita de um meio social propício ao seu desenvolvimento, uma vez que as competências que recebeu não lhes foram dadas de forma acabada. “Tiraram-nos do forno evolutivo muito cedo, estamos a meio da cozedura…”, referia Fernando Savater na tentativa de explicar que o ser humano é, portanto, um ser imaturo. É o convívio com os outros que vai permitir-lhe actualizar as características que herdou, ou seja, desenvolver as suas competências cognitivas, afectivas, relacionais e culturais. Os episódios que vão sendo vividos pelo indivíduo ficam “guardados” e essas experiências ser-lhe-ão úteis, mais tarde, na construção da sua história pessoal. Cada ser humano é capaz de auto-organizar-se, ou seja, é capaz de pegar no emaranhado das suas vivências e de as ordenar em função dos objectivos que escolheu e das normas de conduta que lhe permitem alcançá-los. Trata-se de elaborar uma síntese de tudo o que de marcante capta, entende e sente, realizada à maneira de cada ser humano. Esta construção da narrativa vem então reforçar a individualidade de cada um. É por isso que as experiências não são boas nem más, dependem antes de quem as vivenciou, porque cada pessoa é um ser único que experimenta o mundo de maneira exclusiva. O modo como cada um interpreta cada situação depende não apenas da própria pessoa, que é dotada de características singulares, mas também de factores externos. Neste sentido, cada indivíduo cria a sua narrativa pessoal mediante certas condutas, ideias, costumes, sentimentos, atitudes e tradições que lhe são proporcionadas pelos traços da cultura da sociedade em que vive e esse modifica pelos significados que lhe atribui. O desenvolvimento das potencialidades hereditárias ficou atrofiado devido à ausência de estimulação social e humana, durante os primeiros anos de vida. Quando lhes foi apresentada, era já demasiado tarde para se desenvolverem essas competências e se processarem as aprendizagens adequadas. O período de maturação das estruturas biológicas herdadas tinha sido ultrapassado. Estas “crianças selvagens” nunca chegaram a dominar a linguagem e, mesmo depois de aprenderem a deslocar-se de pé, retomavam facilmente os hábitos de locomoção do seu estado selvagem. Na verdade, elas nunca conseguiram comportar-se como seres humanos, dado que, em vez de conviverem com outras pessoas, imitando-as, contactaram sempre com modos de comportamento animal. Se desde o nascimento estas crianças se tivessem integrado em grupos sociais, ter-se-iam desenvolvido normalmente e o rumo das suas vidas teria sido outro, completamente afastado dos modos de conduta que desenvolveram. É com extrema facilidade que então nos apercebemos da influência que o mundo exterior exerce sobre nós e da importância do meio social no “tornar-se humano”. “Será preciso admitir que os homens fora do ambiente social, visto que aquilo que consideramos ser próprio deles, como o riso ou o sorriso, jamais ilumina o rosto das crianças isoladas.” (Lucien Malson) Vânia Leal, 12ºC PONTO FINAL Terminou um ciclo, terminou uma vida. A vida de uma pessoa tem muitos “pontos” em que muda. Quer mudemos a nossa personalidade devido ao crescimento, quer seja devido ao final de um ciclo ao longo de uma vida ocorrem uma série de acontecimentos que nos levam a mudar o curso desta de vez em quando. No Definitivamente, o contexto social é indispensável entanto há uma altura em que temos poder. Uma altura à construção do ser humano e os casos descritos de em que podemos escolher que curso dar à vida que que“crianças selvagens” (criadas por animais, em clausura remos levar. Esse momento chegou. ou que sobreviveram sozinhas), são o melhor exemplo disso. Estou no 12º (décimo segundo) ano e chegou aquela altura em que as escolhas difíceis vêm ao de cima. No Se existe uma predisposição para os seres humanos se entanto, ao deparar-me com indecisões e depois de resocializarem, desenvolvendo competências linguísticas flectir bastante no assunto, decidi que o que é preciso é e relacionais, que terá sido feito dessas competências marcar esta fase com um ponto final, fazer paragrafo e genéticas para a sociabilidade? deixar uma ou duas linhas de intervalo e começar uma nova frase, com novas ideias e novos pensamentos. 9 A vida, ensina muito. E ultimamente o que eu tenho aprendido é que a única maneira de actualmente ser aceite numa sociedade como a nossa (sim, esta sociedade violenta, e onde a aparência conta mais que o carácter – daí o nome geração rasca) é precisamente a imagem. Apesar de todos estarmos conscientes que isto se passa e que a culpa é toda nossa, iniciámos lamentações inerentes às más escolhas feitas com base na imagem que uma pessoa tem, escolhas essas que foram feitas sem ter em conta o carácter do escolhido como é o caso da escolha de um governo ou então da empresa que nos vai construir a escola. No entanto, eu acho e sou completamente a favor da destruição deste regime (vida) de escola de falsidade em que vivemos. Não sei o que mais fazer para o quebrar nas pessoas que à minha volta vivem. Já fiz tanto que actualmente nem sequer aprecio o que me tornei. Com tanta mudança nem sequer sei o porquê de ser como sou. história, contou com a participação entusiástica e empenhada dos alunos do 3.º ciclo, que formaram equipas para representarem as respectivas turmas e anos. Das 42 equipas em concurso, apuraram-se como vencedoras na respetiva modalidade: Eu sei que sou nada no que toca à parte física, mas sei também que a singularidade de uma pessoa vale muito e altera em muito o rumo da história (tal como Isaac Newton ou então Albert Einstein) e é por isso que escrevo como escrevo como escrevo o que escrevo sendo a base para a minha escrita o pensamento que visa a criação de uma sociedade (não utópica – pois reconheço que não é algo que seja possível construir de um momento para o outro) melhor que a que temos, pois apesar de cientificamente estarmos num auge, socialmente estamos abaixo da média. O grupo de História João Carlos da Cruz Dias, 12ºE OLIMPÍADAS DE HISTÓRIA No passado dia 4 de maio realizou-se, na Escola Secundária de Paredes, a 4.ª edição das Olimpíadas de História para os alunos do 3.º Ciclo do Ensino Básico. À semelhança dos anos anteriores, esta iniciativa do grupo de - os “Darmestádtios” - Duarte Graça; Pedro Filipe Ferreira e Ricardo Pinto, do 8.º ano, turma F; - “ The Black Market” - Mário Coelho; Mário Pinho e Miguel Miguel, do 9.º ano, turma H. Parabéns aos vencedores! A todos os participantes, deixamos o convite para a competição do próximo ano letivo. ADIVINHAS O que é, o que é….por muito que se corte fica sempre do mesmo tamanho? Qual é o vegetal cujo nome lido ao contrário é o nome dum animal? O que é pequeno em Lisboa e grande no Brasil? INQUÉRITO O Ministério da Saúde, através do Instituto da Droga e da Toxicodependência promove de 4 em 4 anos estudos para avaliar as políticas de prevenção desenvolvidas na área do consumo de substâncias psicoactivas e em outras áreas relacionadas com a saúde dos jovens. Em conformidade com esse objectivo, algumas turmas responderam a um questionário elaborado pelo Instituto da Droga e da Toxicodependência, no dia 10 de Maio. SOLUÇÕES (baralho) (arroz) (letra b) Penso que é a hora (como dizia Pessoa). Há que usar aquela marca gramatical que existe por todo o planeta e que tem um significado nada tão básico como a sua aparência porque apesar de ser apenas um ponto, significa a viragem, a mudança e ainda a capacidade que cada um de nós sozinho ou então todos os seres do planeta em conjunto tem de mudar o que quer que esteja de mal na sociedade que constituímos. - “ Os Historiadores” - Gabriela Vidinha; Inês Viana e João Duarte Barroca, do 7.ºano, turma G; 10 PAREDES SOB INVESTIGAÇÃO das ciências forenses surgiu porque alguns elementos do grupo estavam interessados em explorar este tema. A realização deste projecto foi muito positiva. Não só adquirimos novos conhecimentos sobre ciências forenNo dia 8 de Abril, pelas 9 horas da manhã, no âmbito ses e biologia como também tivemos oportunidade de da disciplina de Área de Projecto, um grupo de “investrabalhar em equipa. Ao longo deste ano lectivo, desentigadores” da turma D do 12º ano, pôs em marcha uma volvemos muitas actividades, e para a sua realização foi série de actividades laboratoriais. Escolheram a Escola necessário diálogo, harmonia e muito respeito uns pelos Secundária de Paredes para realizar estas actividades deoutros. Fomos confrontados imensas vezes com obstávido às boas condições de equipamento laboratorial que culos que, no fundo, nos fizeram crescer não só como esta apresenta. grupo, mas também como pessoas. Quem teve a oportunidade de participar na apresentação do nosso produto final pode reparar que actividades distintas foram realizadas, mas que todas elas tinham um objectivo comum, divulgar a utilidade da biologia ao serviço das ciências forenses. A determinação do grupo sanguíneo de alguns participantes foi uma das actividades desenvolvidas. Muitas pessoas mostraram curiosidade relativamente a esta actividade, principalmente quando a responsável pela sua realização falou sobre alguns problemas relacionados com determinados grupos sanguíneos. Uma outra actividade realizada foi a extracção do DNA, que se revelou muito interessante para a realização do objectivo pretendido, dado que o futuro da investigação criminal está no exame de DNA. A actividade central foi a Electroforese. Esta técnica permite a separação de moléculas de acordo com o seu tamanho, pois as de menor massa irão migrar mais rapidamente do que as de maior massa. A partir desta técnica é formado uma espécie de código de barras que constitui a identificação de cada indivíduo. Outras actividades, como jogos interactivos e jogos manuais sobre Biologia, serviram de estratégia para atrair os mais novos. André Garcês; César Silva; Eduardo Pinto; Helena Oliveira; Fátima Machado; Marta Sousa; Sandra Moreira. SAUDADES A cidade de Díli, capital de Timor Leste, amanheceu ameaçadora. As montanhas que circundam a cidade do lado de Luiquiçá e Maubara pareciam querer despejar o seu mau humor sobre nós. Entretanto, as nuvens que até aqui não passavam de ameaças sobre as nossas cabeças, abrem-se de par em par e a chuva torrencial desaba sobre os nossos frágeis chinelos e nossas cabeças desocupadas. Não era de facto a despedida que eu esperava, depois de uma semana maravilhosa a conhecer Timor. Este pequeno país situado no Oceano Índico, para lá do equador, restaurou a independência a 20 de Maio de 2002, depois de uma luta heróica contra a opressão dos Indonésios. Todos nos recordamos da tragédia que aconteceu no cemitério de Santa Cruz em de Novembro de 1991 e que foi o princípio do fim da presença da Indonésia em Tim Tim. Tim Tim era o diminutivo de Timor Timor , a tradução em Bahasa indonésio de Timor Leste. Este massacre no cemitério de Santa Cruz foi dado a conhecer ao mundo através do jornalista Inglês Max Stahal, que, apesar de permanentemente vigiado pela polícia política Indonésia e, ultrapassando todos os obstáculos, vencendo os sérios riscos pessoais que se deparavam nas suas pesquisas, deu a conhecer a todo o mundo a crueldade dos Indonésios naquele fatídico dia 12 de Novembro. Foram precisos 11 anos de muitas lutas, mais alguns Optamos pela realização deste projecto devido à nossa massacres e a intervenção da comunidade internacional, “paixão” por biologia. O gosto, a dedicação e a admi- com Portugal à cabeça, para que a independência fosse ração por tudo o que diz respeito à biologia une-nos. A uma realidade. Quem não se lembra da comoção nacioideia de divulgarmos a utilidade da biologia ao serviço nal depois de a RTP mostrar as imagens do massacre do 11 cemitério de Santa Cruz. Milhares de pessoas saíram à rua e o país inteiro juntou-se no repúdio pelo genocídio praticado de forma sistemático pelas forças invasoras da Indonésia. Foi também crucial para o feliz epílogo de todo este processo, o papel dos Estados Unidos depois de alguma forma pressionados pelo primeiro-ministro da altura, engenheiro António Guterres e do então Presidente da República Dr. Jorge Sampaio.Com o referendo de 30 de Agosto que deu um resultado de 78,5 % a favor da independência de Timor, contra os 21.5 % a favor da integração do território na Indonésia e com uma participação maciça, (votaram 98,6% dos eleitores recenseados) números que fazem corar de vergonha muitas das democracias Ocidentais, abriu-se, enfim, caminho para que nascesse um novo pais no seio da comunidade internacional. O primeiro contacto com Díli foi um tremendo choque: casa abarracadas, uma inépcia total dos funcionários alfandegários, que presos por minudências, fazem-nos desesperar em filas enormes. Crianças subnutridas, táxis a desfazerem-se nas estradas esburacadas, eis o que se nos é dado observar logo à saída do aeroporto. Este primeiro contacto foi-se alterando com o passar dos dias, seja pela simpatia das pessoas, seja pela constatação das condições históricas, económicas e culturais que enformam este novel país. Conhecemos o Bispo de Díli, D. Alberto Ricardo, a quem fomos apresentar os cumprimentos da Escola Secundária de Paredes e entregar-lhe a Revista Papel de Parede(s) assim como livro sobre Timor, no qual o coordenador do Departamento de Ciências Sociais e Humanas, Dr. Aresta, colaborou. Recebeu-nos com muita cordialidade e simpatia mostrando um genuíno prazer pelo facto de poder conversar com pessoas de Portugal e saber novidades sobre o nosso país. Mais tarde, visitamos também a Escola Portuguesa de Timor, situada em frente ao cemitério de Santa Cruz onde fomos recebidos pela Dra. Cândi- da Valente, coordenadora do primeiro ciclo, pois o Dr. João, director da escola, estava ausente de Díli e entregamos-lhe os livros que levávamos, também oferecidos pela nossa Escola. Tivemos uma longa conversa sobre as dificuldades da escola. Desde logo pelo facto de, não havendo cultura de trabalho em Timor, ser muito difícil motivar os alunos para fazer os trabalhos de casa. Lá como cá. Ainda nesse dia visitamos uma missão dos padres Capuchinhos em Tibar, a 20 km de Díli. Está lá uma das razões que fazem do nosso país uma nação que deu e continua a dar novos mundos ao mundo. O padre António, director do Seminário, está a fazer um trabalho extraordinário no sentido de levar àqueles jovens um pouco mais de cultura e de conhecimento, pois em Timor está tudo por fazer. O verdadeiro investimento está na educação. Entre outras coisas é esse o grande trabalho que o padre António está a fazer em Timor. Bem-haja. Oportunamente darei mais pormenores desta viagem que ficará sempre associada a um conjunto de emoções bipolares: uma excitação imensa por estar num país novo, de paisagens belíssimas, onde o mar, insaciável, beija os recortes desenhados na orla costeira por milénios de ondas vagarosas que bordejam as margens, e, por outro lado, a miséria que se consubstancia na lassidão de muita da população que por falta de motivação não tem atitudes pró-activas. Parece-me um povo muito conformado, o que poderá trazer a inevitável dependência (económica, social, intelectual e psicológica e portanto política) que acompanha a falta de espírito crítico. Estou de partida depois de uma semana a visitar/saborear Timor e, o céu, qual criança mimada após um dilúvio de lágrimas, rapidamente desfaz as nuvens tenebrosas e abraçando-me com um sol que tudo ilumina, parece sussurrar-me: boa viagem, a tua filha fica bem. E a separação tornou-se menos penosa… Mário Cruz 12 ARTESEMPAREDES Como vem sendo tradição na nossa escola no final de cada ano lectivo, foi inaugurada no passado sábado 4 de Junho às 22 horas, a exposição de arte Artesemparedes. Patente até dia 26 de Junho na Casa da Cultura de Paredes, esta exposição é uma mostra dos trabalhos escolares dos alunos das turmas do 10º ano H e I e do 12º ano I, do Curso Científico Humanístico de Artes Visuais da nossa escola. Aqui ficam algumas fotos da inauguração. Grupo de Artes 13 14 UM COLÓQUIO COM VIDA… como a presença de professores e alunos da escola. O Senhor Presidente da Câmara Municipal de Paredes tomou a palavra para agradecer o convite que lhe foi dirigido para estar presente no Colóquio e deixou uma Cerca de duzentas pessoas participaram no Colóquio palavra de elogio e reconhecimento pela obra deixada de homenagem ao escritor-médico paredense Dr. An- pelo insigne escritor paredense, anunciando a vontade tónio Mendes Moreira, que decorreu no dia 4 de Maio da Câmara Municipal de Paredes vir a atribuir a medade 2011, no Grande Auditório da Escola Secundária de lha de honra da cidade pelo contributo e legado que o Paredes, tendo como escopo a (re)visitação da obra li- Dr. Mendes Moreira deixa à cidade. terária do escritor. O Colóquio versou temas atinentes ao estudo da obra literária do escritor, desde a literatura infantil, comunicação proferida pelo Dr. Francisco Queirós, passando pelas questões éticas plasmadas na obra do escritor, pelo Dr. António Aresta, até ao enfoque dado à escrita literária, pela Dr.a Olinda Loureiro. A comunicação «António Mendes Moreira ou o percurso de um eu outrado», da autoria do Prof. Doutor Salvato Trigo, encerrou as comunicações. Após a visita à exposição bibliográfica e documental presente no hall da escola, a cerimónia terminou com o descerramento de um memorial em granito, em honra do escritor, no claustro do Pavilhão A da Escola Secundária de Paredes, com a seguinte inscrição: «De tão agarrado a este chão de Paredes, não terão os meus pés raízes invisíveis?». Após as boas-vindas proferidas pelo Director da Escola Secundária de Paredes, seguiu-se a exibição de um filme sobre a vida e obra de Mendes Moreira: «A alma nua de um escritor», realizado por alunos da Escola Secundária de Paredes. A mesa, presidida pela Dr.a Margarida Andrade, foi constituída pelo Senhor Director da Escola Secundária de Paredes, Dr. Francisco Queirós; pelo Senhor Presidente da Câmara de Paredes, Dr. Celso Ferreira; pelo Coordenador do Departamento de Ciências Sociais e Humanas, Dr. António Aresta; pela Coordenadora do Departamento de Línguas, Dr.a Olinda Loureiro; e pela Representante do Magnífico Reitor da Universidade Fernando Pessoa, Prof. Doutor Salvato Trigo, Senhora D. Manuela Trigo. O Colóquio contou com a presença de várias personalidades locais, familiares e amigos do escritor, bem 15 Durante o percurso foi possível observar a singularidade da paisagem repleta de formações rochosas de natureza granítica e xistosa. Estas rochas estão espalhadas por todo o percurso e formam um espectáculo imponente, devido ao tamanho de alguns blocos e da grande variedade de formas que apresentam. Pela sua imponência é de referir o Penedo do Equilíbrio que se Foi uma honra e uma alegria para todos aqueles que destaca pela sua forma, desafiando as leis da gravidade. amam a literatura a ocorrência de um momento de parNa aldeia de Jueus, tipicamente serrana, foi possível obtilha como este e que perdurará, certamente, nas nossas servar casas e espigueiros em granito. Do adro da camemórias. Ao Dr. António Mendes Moreira e à sua fapela desfrutámos de uma vista espectacular do Vale de mília um agradecimento muito especial. Besteiros. Importa deixar aqui um agradecimento a todos os que estiveram presentes e também um agradecimento às empresas M. Sousa, Mármores e Granitos de Vila Cova, Rádio NFM e Foto Paredense pelo apoio e ajuda que prestaram a este Colóquio. Margarida Andrade 31ª MARCHA JUVENIL DE MONTANHA Serra do Caramulo À semelhança do que aconteceu nos últimos oito anos, a Escola Secundária de Paredes participou, no dia 4 de Junho, na 31ª Marcha Juvenil de Montanha, organizada pelo Clube de Ar Livre da Escola Básica e Secundária de Canelas. Participaram na marcha 29 Escolas. A nossa escola fez-se representar por 38 alunos do ensino básico e secun- Depois de sair da aldeia de Jueus, entrámos nos camidário e por 12 professores. nhos que acompanham o trajecto dos antigos “caleiros” que garantiam o transporte e o abastecimento de água A marcha decorreu num dos percursos pedestres mar- às populações serranas. cado na Serra do Caramulo que fica situada no concelho de Tondela, distrito de Viseu. O percurso efectuado Existem ainda no percurso vários caminhos romanos, designa-se de “Rota dos Caleiros”. com sulcos profundos nas pedras devido às carroças que aí passaram durante séculos. A marcha teve início no Caramulinho, o ponto mais alto da serra, a 1070 metros de altitude, de onde se avistou A flora da serra, nesta zona, é dominada por uma vea Serra da Estrela e, em dias sem nebulosidade, dizem getação rasteira onde predomina a carqueja, urze, tojo e ver o mar. giesta, que, nesta altura do ano, ainda se encontra com uma riqueza extraordinária de cores. A caminhada acabou junto a uma das torres eólicas, das muitas que emprestam uma nova marca à paisagem e fazem o aproveitamento do ar, um recurso em que a serra é rica. É sempre de salientar o entusiasmo do grupo participante em relação a esta actividade realizada ao ar livre que permite um convívio entre professores e alunos de várias escolas, com partilha de experiências vividas, ficando encontro marcado para o próximo ano. Arlindo Sousa 16 ENTREVISTA AOS CLÃ Banda de Pop Rock Jornal Ponto Final: Por que decidiram lançar um álbum dirigido ao público infanto-juvenil? no Brasil, o que nos levou a preparar alguns concertos em São Paulo em Dezembro de 2009, um concerto em Austin (EUA) no festival “South by Southwest” e outro na capital da Hungria, Budapeste. Em 2009 também fizemos dois concertos muito especiais: actuamos no Baile dos Vampiros do “FantasporClã: Várias razões nos levaram a criar o Disco Voador. to’09” e na abertura da nova temporada de espectáculos Por um lado, sempre tivemos vontade de desenvolver do TNSJ (Teatro Nacional de São João), um espectácuum projecto desse género e, por outro, sendo pais, prolo designado “Barbie Suzie Dolly Polly Pocket”. Assim, curámos músicas para os nossos filhos o que nos fez no início de 2010 decidimos tirar umas férias, que foram deparar com dois problemas: as boas músicas infantis de curta duração (até Maio de 2010). ou são demasiado antigas ou a oferta mais recente tem pouca qualidade. Deste modo, em 4 anos os clã só tiveram 5 meses de férias. Na realidade, há bastante trabalho que não é tão Em Maio de 2010, fomos desafiados pelos responsáveis mediático, mas fundamental a qualquer banda. do Projecto Estaleiro, uma equipa de curtas-metragens que iria realizar um festival, a apresentar um espectácuJPF: Todos os álbuns são bastante distintos. Haverá lo dirigido a crianças. Assim, aceitamos a proposta. O algo que os relacione? compromisso inicial seria criar apenas algumas músicas originais. Contudo, o trabalho de composição entre o C: Apesar de serem bastante diferentes uns dos outros, Hélder Gonçalves, compositor, guitarrista e baixista do há razões relacionadas com a história da banda que legrupo, e a Regina Guimarães, a principal autora das levam a essas diferenças. tras, foi bastante produtivo e, tendo o produto final sido muito satisfatório e de grande qualidade, decidimos graEntre o lançamento do primeiro álbum, “LusoQualvar as músicas, editar o álbum e preparar a digressão do querCoisa” (1996), e o segundo, “Kazoo”(1997), as dinovo disco. ferenças residem no facto de o primeiro já ser muito antigo, uma vez que algumas das músicas desse mesJPF: Porque razão houve uma interrupção tão longa mo álbum foram estreadas em palco em 1994. Após (cerca de quatro anos) entre o lançamento do penúltimo o lançamento dos primeiro álbum, quase não tivemos álbum, “Cintura” (2007), e o “Disco Voador” (2011) ? concertos, pelo que críamos novas versões das antigas músicas, experimentamos novos sons, e aí descobrimos Clã: De facto, os nossos fãs frequentemente se espana essência da banda: cada músico descobriu o que quetam com o tempo que demora entre o lançamento de ria do seu instrumento, o que poderia desenvolver em dois discos dos Clã. Contudo, não tivemos muito temtermos de personalidade sonora e, a partir daí, críamos po para descanso. A digressão do álbum “Cintura” só o segundo álbum. terminou em meados de 2009, o que corresponde ao tempo normal de digressão da banda (cerca de um ano De facto, aprendemos bastante com a experiência ene meio). Sucedeu-se também uma edição do nosso álquanto banda: tivemos várias experiências paralelas, bum em Espanha, bem como alguns concertos em cicomo por exemplo a colaboração em bandas sonoras dades espanholas, a edição de uma colectânea do grupo para filmes mudos, que trouxe coisas novas em termos de descoberta de som e composição. Tudo isso contribuiu para o processo evolutivo do grupo. Por outro lado, também não tememos a mudança, uma vez que estamos habituados a ouvir estilos de música muito diferentes e a própria orgânica da banda á muito rica, o que faz com que os rumos tomados na construção das canções sejam infinitos. Neste último álbum, fizemo-lo de um modo muito mais consciente: estamos a tentar ser mais simples, no sentido de ter menos elementos e que as canções se tornem mais claras e as 17 C: De momento, estamos muito ocupados com o novo álbum e com o início da digressão: durante o período lectivo, vamos actuar em teatro e auditórios, com a possibilidade de, a propósito desses concertos, realizar oficinas em escolas ou sessões do espectáculo Disco Voador sópara público escolar. Nas férias do Verão vamos realizar actuações ao ar livre, com canções dos outros álbuns adicionadas ao repertório. ideias sejam mais fortes, o que se torna um trabalho bastante complicado. Depois, voltando as aulas, iremos novamente actuar em teatros e auditórios, sempre que possível mantendo a ligação às escolas. Acabando a digressão, tiramos umas férias e, algum tempo depois, iniciaremos a criação de um novo disco. É de acrescentar que a maior parte das músicas dos “Clã” não têm o formato clássico, com o refrão a repe- JPF: Preocupam-se muito com a imagem dos cenários tir duas ou três vezes. No entanto, as letras e a própria dos espectáculos e dos próprios membros do grupo? essência das canções fazem com que as pessoas se liguem emocionalmente à nossa música. C: Sempre nos preocupámos em transmitir a nossa personalidade artística, o que influencia bastante os nossos JPF: Qual foi o álbum de cuja criação mais prazer tira- ouvintes. ram? Temos uma equipa de trabalho de estrada, uma equipa C: Gostamos de todos os álbuns, havendo, porém, sem- de palco (que trabalha com jogos de luzes e a cenograpre problemas em todos. Gravar é estar de uma forma fia), o que é muito importante na comunicação com o muito clara e muito crua com aquilo que é produzido espectador, bem como uma equipa de cabeleireiros e musicalmente, o que muitas vezes leva a frustrações figurinos. quando o resultado esperado não é obtido. Todavia, é maravilhoso quando aquilo que pretendemos é alcan- JPF: Por que razão a banda se chama “Clã”? çado. C: Queríamos transmitir a mensagem de que éramos Um disco de que gostamos particularmente, não tanto uma banda, um todo, e não partes disjuntas. Na época pelo que foi gravá-lo mas pela liberdade artística que ele em que aparecemos, estava muito na moda os artistas representa, é o “Rosa Carne” (2004). É um disco cujo actuarem com várias bandas diferentes, não sendo isso conceito está muito bem definido e é muito intenso, ten- o que pretendíamos. Assim, decidimos dar um nome do representado um salto, em termos de escrita literária, que sugerisse que éramos um grupo aberto, com raíextraordinário. Foi um grande passo e um exercício de zes muito fortes, semelhante a uma tribo. E, dessa ideia, muita liberdade, pois é muito, muito complexo e pouco surgiu o nome “Clã”. comercial, o que foi arriscado uma vez que se sucedeu ao “Lustro” (2000), o álbum que teve mais sucesso comercialmente. Foi, de facto, um momento marcante e muito importante para a orgânica da banda. JPF: Quais são as influências musicais dos “Clã”? C: Todos os elementos têm gostos musicais bastante distintos. Quando vamos em viagem, em época de digressão, ouvimos desde Elvis Presley a Deolinda, e, esporadicamente, heavy metal! JPF: Quais são as vossas perspectivas para o futuro? 18 ENTREVISTA A MANEL CRUZ Músico, ilustrador e artista plástico. Jornal Ponto Final: Em termos de satisfação pessoal, qual dos teus projectos musicais preferiste? Manel Cruz: Numa certa perspectiva o Bandido deu-me mais pica porque há mais margem de erro, ou seja, é um projecto que tem uma componente quase plástica, é tipo o “vai-se pintando e vai-se fazendo” na própria realização do disco. Os Ornatos eram uma coisa mais de composição, de em casa fazer a música para a guitarra, depois eles punham arranjos, depois havia uma narrativa maior e uma preocupação de coerência dentro de cada música... Depois havia essa parte de composição da banda toda, que dava à música um lado um bocadinho mais comprometido, ou seja, isto sem uma conotação positiva ou negativa, estávamos mais preocupados em fazer a coisa perfeitinha... Era uma composição... JPF: Também aí o plural intervém muito não é? O facto de ser Ornatos e de repente aqui o Bandido seres especificamente tu? MC: Ser eu, exactamente, sou eu a mandar e a fazer as coisas. O pessoal ia para minha casa, passava lá a noite e ia curtindo, nem ia a pensar que ia gravar ou não porque eu sou amigo da maior parte das pessoas com quem trabalho, e pronto... acontecia. Porque eles iam para lá gravar e eu depois ficava sozinho, eles iam-se embora e eu ficava a montar aquilo como bem me apetecia. E se pensasse numa coisa estúpida pensava, e ao fim de três vezes se me apetecia arrepender arrependia-me e já não punha... Ou seja, havia uma liberdade total... JPF: Quase como quando desenhas? vida e tinha aquela coisa que eu gostava e eu optava... Numa banda há sempre alguém que curte o take da bateria e depois o outro que não sei quê e outro que não sei que mais... E eu ali, pronto... Curiosamente acho que, destas pessoas, nunca ninguém me disse que não curtiu um take que fez porque eu tinha muitos takes, aproveitava as coisas que podia montar, cortava, colava, cortava, colava... Depois o pessoal tem aquelas coisas na música, que na pintura não acontece. Na pintura tu fazes uma colagem, metes a pincelada, juntas uma fotocópia... não estás preocupado se a fotocópia é um sampler ou se o take não está todo feito com a mesma técnica... ninguém quer saber. Na música há muito essa coisa do tipo “eh pá eu curtia gravar um take do início ao fim” mas tu, hoje em dia, com os programas de computador, e mesmo antes fazia-se isso ao cortar a fita e pôr a fita cola e tudo, só que era muito mais moroso... Ou seja, havia coisas que tu dizias “Não. Que se lixe, dá menos trabalho gravar outra vez do que estar aqui com coisinhas!...” e aqui não. Por exemplo, o disco dos SuperNada, que era um disco que estava mesmo difícil de sair, porque o pessoal chegava à sala de ensaios a arranjar músicas que já tínhamos tocado há montes de tempo e já estávamos fartos... Também já não conseguíamos mudá-las em conjunto porque era um processo... difícil... E eu comecei a entrar naquela de pedir para relaxarmos e curtirmos um bocado, punha a gravar e desligava o monitor, ninguém sabia que estava a gravar e seguiam-se vinte minutos de uma série que já parecia composta, a soar imenso. Comecei a cantar em cima daquilo... se havia uma parte que não estava bem eu ia buscar um take de outro ano, tal e tal... depois cozia-se acolá, tal e tal, chegava ao fim e era uma cena natural. Com uma pintura ao fim de um determinado processo chegas a um final e isso com uma banda é mais difícil... A única maneira de acabarmos o disco foi essa, a fazer um bocado como fiz no Bandido. JPF: A tua formação académica e o contacto com a arte MC: Exactamente! Como quando desenhas precisa- plástica influenciam-te na música? mente. E às vezes o próprio esboço era a música e não havia esse problema de não se conseguir o take com MC: Acho que sim. Acho que a minha atitude na múo melhor som, ou às vezes havia um take que tinha a sica não é de músico, porque eu não sou músico que 19 tenha investido num instrumento em particular, academicamente ou em domínio, sinto-me sempre... como é que hei-de dizer... tentei repartir muitas coisas e nunca explorei demasiado uma mesma coisa... JPF: Quase como o trabalho do Amon Tobin... MC: Sim, bricolage. Eu sinto-me muito mais assim na música, embora só recentemente tenha posto isso mais em prática. JPF: Demorou muito tempo o Foge Foge Bandido? nenhum sacrifício. Quanto à edição de autor em si, não sei se vendi menos por causa da pirataria, mas sei que ganhei mais do que quando estava nas multinacionais. Porque a diferença do contrato que eu consegui, em que o investimento foi meu, é que ganhei 90% dos lucros, e na Universal ganhávamos 9%. Há algumas vantagens em ganhos embora tenha vendido muito menos, pois a própria tiragem é mais baixa, em edições de mil por exemplo, enquanto que com os Ornatos chegamos a vender quinze mil! JPF: E na projecção na comunicação social como é que funciona? MC: Ele demorou nove anos, só que não foram nove anos intensivos porque era sempre um trabalho para se- MC: Na multinacional, na prática, tu pagas toda essa gundo plano, ia fazendo outras coisas mesmo na músi- máquina, pagas o investimento da gravação, pagas o ca, nas artes plásticas, nas bandas... produtor, o marketing, os contactos nas rádios... Isso pode não ser necessariamente bom, porque tu entras JPF: Se calhar é isso que se nota, o ter sido um pro- num esquema que pode não ser o esquema de como jecto feito por gosto e não pelo prazo que a editora te vender a tua música... A questão é que eu não vou ganhar o meu público em quem vai assistir a um programa coloca... qualquer e até é quase obrigado a comprar um single ou algo do género, mesmo que depois não goste do resto MC: Sim, exactamente. do disco! Não é bem isso que pretendo. Pretendo atinJPF: Foi edição de autor? gir as pessoas que gostam mesmo. JPF: Não achas, nos dias de hoje, mais rentável a promoção feita por exemplo no Facebook e assim? MC: Claro, completamente. Tenho um amigo meu que facebooka para o Bandido. Há mais igualdade de oportunidades para quem queira fazer uma coisa ou tenha uma ideia fixe, às vezes até com pouco dinheiro e muitos amigos. JPF: A pirataria veio então prejudicar mais as multinacionais ou os músicos? MC: Foi edição de autor sim. JPF: E em que posição é que isso te coloca em relação à pirataria? MC: Não creio que a pirataria seja, mesmo na edição de autor, um maior prejuízo de vendas. Gasta-se menos dinheiro em divulgação, a pirataria é altamente por isso, porque se tu gostas muito de uma coisa e essa coisa até tem um objecto que justifica a compra tu até vais comprar. Com o Bandido essa foi uma maneira de tornar o objecto mais rico e ao mesmo tempo ter um pretexto para fazer um livro, essas coisas estão ligadas. Não foi MC: As multinacionais. Sem dúvida. JPF: Com a pirataria começou também a haver mais concertos, e é nos concertos que se garante mais lucro não é? MC: Exacto. Eu pessoalmente não sou contra a pirataria, mas isso não é ser a favor da pirataria. JPF: Mas o tu produzires algo e depois alguém pegar nisso e ir vender... MC: Essa é a diferença, mas isso já não tem relação com a pirataria, alguém está a ganhar dinheiro à custa 20 de outro... Tu até podes fotocopiar uma gravura de um livro, se quiseres o original tens que pagar. Eu gostava mais de viver dos discos do que viver dos concertos por exemplo, gosto mais da parte do laboratório do que ao vivo, embora também goste ao vivo... Mas é o que é. JPF: O colocar todo o disco em palco é difícil? MC: Há pessoas em certas músicas, por exemplo, que nunca se conheceram, nunca se cruzaram na vida. Então isso é uma coisa muito difícil, tens quarenta convidados, diferentes formas de tocar, tens milhentas coisas a formar aquilo que é um momento de música e tens de perceber quais é que são as essenciais ao vivo. Um cavaquinho, uma viola, um banjo que entra no segundo compasso e o barulho de uma torneira que entra não sei onde... O que é que vamos pôr ao vivo? Primeiro, para dar a ilusão de que essas coisas continuam a existir, ao mesmo tempo a eleger as coisas principais... um gajo que está na guitarra e não pode fazer o xilofone, saca o xilofone para a guitarra e faz a função... tudo isto demora muitos ensaios e muitos concertos. Sinto que só agora, depois de quatro anos a tocar, é que nós temos um concerto a soar fixe, não soando como o disco, soa tão consistente como o disco. Estamos mais confortáveis, já conseguimos divertirmo-nos ali no meio sem estar só a pensar no “e agora?”... e já podemos beber um copo antes do concerto sem o medo de esquecer as coisas... E só agora é que sinto isso, é mesmo fazer um novo disco. mal. Ouvi um velhote aqui há uns dias que tropeçou e começou toda a gente a rir-se, ele vira-se e diz “Só se riem do mal!”... JPF: Esta coisa do sampler... sempre existiu a reprodução através de outros meios, mas faz-te confusão que qualquer dia ouças uma banda qualquer e tenha algo sacado do Bandido? MC: A única coisa que podia ser chato mas é impossível é alguém mudar alguma coisa que tu fizeste. Chegarem a um quadro teu numa galeria e alterá-lo. Chegarem a um quadro teu numa galeria e alterá-lo. Agora se pegarem numa cópia e alterarem vão criar algo novo. Tens inevitavelmente, nessa situação, uma nova obra e até uma chamada de atenção sobre aquilo em que pegaram. Tudo ganha. Os White Stripes deixaram um disco ser apropriado e houve um gajo que gravou um baixo. Continuas a ter os White Stripes e agora tens estes, pode haver alguém que goste mais com o baixo que nunca gostaria de White Stripes e agora até ouve. É o problema da propriedade intelectual, que chega a ser um bocado arrogante achar-se que se inventou alguma coisa. Como dizes, ganhar dinheiro com algo que foi exactamente o que tu fizeste é uma coisa, mas achares que inventaste umas notas é exagero. No Bandido há o exemplo do discurso do bispo que é um excerto manipulado por mim, eu próprio o mexi e encarno agora nos concertos. JPF: Das experiências que fazes na música, há muitas JPF: Um grande músico que teve um grande sucesso que deites fora ou descartes e não queiras mais ouvir? mas de repente até começa a “meter água”, deve ser culpado por isso? MC: Sim. No Bandido há três músicas que eu deixei de parte e que depois nunca mais peguei. MC: Acho que basta haver uma pessoa que goste para tu já não poderes culpar ninguém. Aquela pessoa é que JPF: Alguma das tuas formas de expressão - escrita, tem razão, e aquela pessoa é que conseguiu extrair bele- música, pintura - é tua preferida? za de uma coisa. Claro que é sempre fixe um gajo dizer MC: Em momentos diferentes. Por exemplo, há momentos em que estou mais saturado, a música é capaz de me saturar mais porque estou sempre com muita gente, tem lados óptimos mas às vezes, aqui no estúdio, há muita gente por todo o lado e embora hajam momentos curtidos, mesmo esses são muito intensos e podem ciclicamente saturar-me. Aí o desenho entra que nem ginjas, o silêncio e estar só a riscar... É óbvio que esses sentimentos estão em jogo quando é lazer, se falarmos de trabalho e eu tiver de fazer um cartaz ou qualquer coisa, tenho de fazer e tem de ser. JPF: Usaste a palavra laboratório, para ti a música é então esse trabalho de laboratório no computador? 21 MC: Sim e os métodos podem ser muitos. A música pode sair de uns acordes de guitarra, como pode sair uma letra e fazer uma voz, como pode haver alguém que esteja aí a tocar e eu gravo e ponho algo por cima... qualquer coisa vale. Para mim vale tudo. Porque é uma mentira até criares a verdade, às vezes olho para algumas pessoas e sinto “este gajo escreve e sabe, é um iluminado, caiu-lhe a coisa em cima!”, quando é comigo sinto de forma diferente. É andar no meio de trapos até conseguir fazer com que aquilo pareça um vestido. Mas também gosto muito desse processo, mais plástico. single. O que resultou disso é que gostei de cerca de três videoclipes... Os Radiohead são o exemplo de uma banda com excelentes videoclipes, os Ornatos se calhar não investiram tanto. Já com os Pluto, a Maria e o Rui Lima fizeram um vídeo que eu gosto muito, muito simples. No Bandido, dei as músicas a amigos meus, avisei logo que não ia pagar e disse para fazerem o que quisessem que eu não riscava nada, no fim poria os vídeos no site. Cheguei assim a ter vídeos de gajos que não conheço! Agradou-me essa abordagem também experimentalista nos próprios vídeos. JPF: Precisas de um feedback positivo das pessoas, ao JPF: Nessa fase de “pós-produção”, o bricolage em si, longo do processo criativo? gostas mais de trabalhar sozinho? MC: Inevitavelmente sabe-me bem ouvir que “está alMC: Eu por acaso gosto de trabalhar sozinho, mas gos- tamente” mas dou muita importância a quem é que está to também de trabalhar com alguém que esteja colado a fazer esses comentários. Por exemplo, a Trindade, que no mesmo que eu. Tem é de estar hiper concentrado também está no disco, que é uma empregada que eu tive também. Alguém que me vê a já nem ouvir bem e me em casa da minha mãe, é uma pessoa super interessada desliga e diz para irmos beber um copo, de repente em tudo e sabe montes de coisas. Eu tinha um quadro quando se volta... que nem tinha sido acabado e ela virou-se para mim e disse “Ó menino, este quadro é tão feio, tão feio, tão feio, que até é bonito!” E eu pensei “Perfeito!” JPF: Achas que estamos numa fase artística e musical bastante revivalista? MC: Acho que foi sempre, só que agora há menos preconceito das pessoas em pegar no passado, acho que já nem sei bem o que é que é revivalismo e o que é que não é. As coisas já estão muito misturadas. Já se juntam outras cenas a esse passado. É um zero confortável, temos de começar por algum lado e nunca há nada que nos diga que aquele lado serve, mas ter uma referência é óptimo. JPF: Isso é o processo que deves utilizar em desenho, afastando-te do desenho para veres melhor... JPF: Ouves aquilo que criaste, já no fim de tudo com o disco feito, e essa música toca-te? MC: Exactamente, é a metáfora perfeita disso, o afasta- MC: Sim. É uma masturbação, a sensação do “yey está res-te do quadro. altamente, consegui!”... JPF: E em relação aos videoclipes, preferes pegar no conceito e encontrar alguém que consiga transpô-lo ou preferes experimentar tu próprio? JPF: Tens muitas pessoas que te peçam opinião sobre trabalhos pessoais? MC: Tenho muita vontade de fazer videoclipes, só que claro que o tempo nunca dá para tudo e acabei por fazer brincadeiras com amigos que, ou não davam em nada, ou tínhamos aquela coisa que acontece nas multinacionais com as bandas, em que tens de ter um vídeo para o MC: Pedem-me e eu tento sempre dissecar, hiper analisar, vou sempre buscar aquilo que gosto mais. Às vezes custa dissecar algo muito emotivo, mas um gajo tem de sofrer, é inevitável, se poupares as pessoas ao sofrimento elas não evoluem. Sendo o criar uma comunicação contigo, uma elevação ou estado pleno de satisfação, 22 é preciso angústia, claro que se pode criar sem essas angústias, mas é uma questão de ambição saudável. É uma questão de ambição saudável. É fazer-se bem uma coisa, ter brio. JPF: Como é que fazes a gestão da tua imagem com os teus fãs? Preservas-te e preferes o anonimato ou não te incomoda a atenção? MC: O ideal era que fosses conhecido quando querias e não fosses conhecido quando não querias. Não se pode ter tudo. Sempre tive vaidade, mas sempre curti não me conhecerem para não ficar em posições desiguais com as pessoas. JPF: Neste momento, qual é a tua música preferida no álbum? MC: “A canção mudou”. JPF: Os teus filhos gostam da tua música? MC: Nunca os pus a ouvir e houve uma única vez em que liguei o rádio e já estava lá um cd meu, uma maquete dos SuperNada. Aproveitei para ouvir como é que estava a soar e o Agostinho virou-se “Não quero esse! Quero o Mike Patton!”, ele tinha dois anos na altura! Faço mesmo questão de não ser eu a mostrar-lhes, prefiro o reflexo real do interesse deles. E eles nunca vão precisar, vão sempre ter de ouvir o pai e vão. JPF: Quando páras de desenhar e recomeças, sentes que estás menos “oleado”? MC: Acho que é muito como num relacionamento. Entre duas pessoas há dias em que estás mais “lá”, ou há dias em que estás mais no teu trabalho ou o contrário, às vezes é a outra pessoa... e nunca recebes tanto... tem sempre a ver com aquilo que tu dás também... não dá muito bem para explicar. Acho que com o desenho e as artes é muito a mesma coisa. Se bem que também há outras coisas, há a questão da autoconfiança... por exemplo, neste último concerto, nós estamos fartos de tocar o Bandido de trás para a frente - fartos quer dizer que já tocamos muitas vezes, temos aquilo mais que sabido - e decidimos não ir ensaiar numa das vezes. E eu tenho a certeza que não era preciso. Só que o facto de nós sabermos que não tínhamos ensaiado influenciou, só por aquele sentimento de brio... de respeito... correste o risco e o teu trabalho, se calhar, não gostou muito! Agora isto não será verdade para todas as pessoas, há pessoas mais simples... Mas eu acredito que existe uma resposta motora no teu cérebro que é trabalhada e afinada e os teus dedos, se deixas de tocar guitarra uns tempos, ficam sem calo, é tão simples quanto isso, e volta a doer. O contacto com as coisas cria essa parceria com as ferramentas. Tens de criar uma ligação com as coisas de existência! Diária. Tu existes todos os dias, se tu és artista a arte existe todos os dias. Eu escolhi isto e não tenho um emprego das nove às cinco. Todo o pessoal que trabalha em artes tem essa dualidade, não é uma profissão por um lado, por outro lado é... por outro lado é a tua vida... mas há que assumir as coisas como são. JPF: Consideras importante, para ti, o ter uma certa “bagagem” musical? Quais são as tuas referências? MC: Não ouço muita música. Mas também ouço muito a que faço e ouço muito som, tanto que chego a casa e não tenho vontade de ouvir nada, o silêncio está altamente para mim... Embora haja alturas em que me apetece mesmo ouvir um disco e vou ouvi-lo, não é aquela coisa de pessoal que não está ligado à música e precisa de ouvir música a trabalhar, eu, como passo muito tempo aqui fechado às vezes a ouvir sempre o mesmo compasso, o silêncio sabe-me altamente. Curiosamente agora ouço mais quando chego a casa, ponho Feelies e os miúdos adoram dançar aquilo. E tenho, claro, referências. Quando era puto ouvia muita música, antes até de começar a tocar, estava sempre a ouvir música. E ouvia os discos dos meus irmãos e dos meus pais que ia desde o Jacques Brel aos Beatles, ao Bruce Springsteen, ao Simon and Garfunkel, ao Beethoven, Sérgio Godinho, Rui Veloso, Tracy Chapman, pá... tudo o que houvesse lá era para ouvir! Sétima Legião... a minha irmã começou a ouvir The Cure eu também ouvia The Cure... enfim... JPF: E com livros isso também acontece? MC: Não leio. Nada. Poesia ainda leio... e já comecei alguns livros. Não tenho o prazer da leitura como tenho 23 por exemplo o do cinema, não quer dizer que não haja uma coisa que me provoque esse prazer. Só que eu sinto que tenho que me esforçar para a leitura me agarrar, enquanto que o cinema não me causa isso. Não preciso de criar as imagens no cinema, num livro como sou eu que tenho de fazer isso de repente já não estou ali, as imagens levam-me para longe. JPF: E então, no cinema, tens referências? MC: Tem de novo muito a ver com o momento em que tu estás e a pertinência. Tive a ver filmes do Hitchcock... O Indiana Jones era o meu filme de infância, sonhava com aquilo e tudo. Depois tenho filmes que adorei como o “Despertar da Mente”, ou o “Quem quer ser John Malkovich” e é um filme que eu nem estava à espera de nada especial. Outro que também não percebi porque é que adorei é “A Testemunha”, não sei mesmo porquê. Depois há aqueles que toda a gente gosta como os “Cães Danados” que também gostei muito, mas que são consensuais... Mas adoro cinema! JPF: E teatro, já agora?... MC: Teatro não gosto. Não sou um apreciador do molde... o que não quer dizer que eu não possa ver uma peça que adore. JPF: E como é que aconteceu então a tua participação no “A Cidade dos que partem”? MC: As músicas entravam muito na peça e pediram-me para fazer uma das músicas, tão simples como isso. Vi o que era a peça e fiz uma música para uma letra. Fui ver um ensaio e isso ajudou-me. Não considero que dê por mal empregue o meu tempo se vir teatro, mas eu não vou daqui ali para comer massa... mas uma vez estando lá posso até curtir ter ido e vi há uns tempos o “Pillowman” que gostei muito, do Tiago Guedes. Lá está, tinha uns cenários muito bonitos, os actores eram bons, a história fixe, naquele momento conseguiu puxar-me. Acho que é fixe um gajo enriquecer-se mas não directamente, não é o “olha vou estudar este gajo para conseguir perceber”... Um gajo estuda a vida... SPOOF ADS We are constantly being confronted with advertisements. They are EVERYWHERE! Ads are designed to convey very specific messages to consumers and they don’t necessarily tell us the whole truth about a product. When you spoof or parody an ad, you take the elements of the ad that give it power, and make them absurd. Here are some spoof ads made by the students. 11ºB; 11ºC.