De carros velhos fazia carros novos

Transcrição

De carros velhos fazia carros novos
VIDA COM VIDA
Ernesto Pagliarino
De carros velhos
fazia carros novos
texto Manuel Carreira ilustração www.anacarvalho.com
Asti é uma região italiana famosa
pelos seus vinhos e também pelos
seus missionários. Foi ali que nasceu
Ernesto Pagliarino, irmão missionário da Consolata de quem nos vamos
ocupar nestas linhas.
Nasceu em 1905 numa família de pequenos agricultores. Parecia ser este também
o destino do pequeno Ernesto. Mas não.
Andava ele pelos 19 anos quando ouviu
falar nos missionários da Consolata
e pensou em tornar-se também um
deles. Meteu-se ao caminho e foi, de
pessoa, a Turim pedir que o admitissem
no instituto da Consolata como irmão
missionário. Levava boas referências.
Por isso não houve problemas. Apenas
lhe perguntaram: Instrução? – A quarta
classe. Profissão? – Agricultor. Vontade
de ser missionário? – Muita. Licença dos
pais? – São bons cristãos; não se opõem.
Está tudo dito. Vai a casa, mete a tua
roupa numa saca e apresenta-te.
Ernesto Pagliarino foi, deu uma volta
pelos campos como que a dizer adeus,
apertou pela última vez o cabo da enxada, limpou uma lagrimazita de saudade
e lançou-se para um novo destino.
Entrou oficialmente no Instituto da
Consolata em Novembro de 1925. Fez
o noviciado e a profissão religiosa e,
no dia 5 de Maio de 1927, já partia
para a missão da Somália; depois,
para o Quénia. Foi aqui, na missão de
Mathari, que ele se agarrou bem ao
terreno dedicando-se ao trabalho de
mecânica-auto. Tornou-se, depressa,
um perito em motores e carros, uma
verdadeira mina para os missionários
que viviam no “mato" com carros
velhos e não tinham outro recurso que
não fosse a oficina do irmão Ernesto.
Este apalpava o carro, como quem
toma o pulso a um doente e, detectado
o mal, logo lhe punha remédio: uma
peça nova ou adaptada, por vezes até
fabricada ali na sua forja. Era tudo
obra de pouco tempo, porque os missionários andavam sempre com pressa. Eles adoravam o irmão Ernesto,
FÁTIMA MISSIONÁRIA
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Edição LIII | Novembro de 2007
admiravam a sua competência e a
disponibilidade com que os atendia.
A sua oficina tornou-se uma escola prática onde centenas de jovens
se formaram para a vida. Tornou-se
também uma sala de catequese onde o
irmão fazia passar a mensagem cristã
através do exemplo, da bondade e da
oração. Poucas palavras, muitas obras.
Os seus rapazes interpretavam o seu
silêncio como se fosse uma pregação e
ficavam a meditar lá por dentro.
E assim, se passaram 49 anos. Centenas
de carros avariados lhe passaram pelas
mãos e saíram da sua oficina prontos
para enfrentarem de novo as longas
picadas do terreno agreste da missão.
Aos 75 anos de idade o irmão Ernesto
caiu de cama. Veio o médico, deu
uma injecção e foi-se; veio o padre,
deu a santa unção e foi-se; veio de
Roma uma bênção papal e nada resultou. Veio por fim a morte, em 31 de
Agosto de 1976, fechou-lhe os olhos e
levou-o consigo para o céu.

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