MAT – apanagio de Ronneburg

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MAT – apanagio de Ronneburg
Austeridade, luta e grandeza, o apanágio de Ronneburg
6, NOVEMBRO, 2011Deixar um comentárioIr para os comentários
Gregorio Vivanco Lopes
Castelo de Ronneburg
A
lgum tempo atrás, dirigia-me da Baviera para Viena, com alguns
amigos, quando um deles manifestou o desejo de fazermos um
desvio a fim de conhecer o castelo Ronneburg, não longe da fronteira
com a Áustria.
Foi aí que pude dar-me conta do que é um autêntico castelo
medieval. Diferentemente dos castelos renascentistas —
Fontainebleau, Chenonceau, mesmo Versailles e tantos outros — que
à primeira vista nos encantam pela beleza, arte e bom gosto, o
impacto produzido na sensibilidade por Ronneburg é de austeridade,
luta, grandeza trágica e sublimidade.
Já a acolhida foi impactante. Por detrás das altivas muralhas, um
homem que varria o extenso pátio foi logo dizendo, em tom um tanto
ríspido, que não era dia de visita — o castelo recebe turistas em dias
aprazados, quando então se fazem apresentações no estilo medieval.
Porém, quando lhe dissemos que éramos brasileiros, e que não
teríamos outra oportunidade de conhecer o castelo, ele se distendeu
e acabou por nos mostrar todas as dependências com muita
cordialidade.
O fato de não haver turistas foi uma circunstância altamente
favorável para podermos sentir mais autenticamente a alma do
castelo. Sim, Ronneburg tem alma, porque a alma da Idade Média
ainda se faz presente ali.
***
Em Ronneburg percebem-se as características potentes do apogeu
medieval (séc. XIII) como que latejando de vitalidade. Os aspectos
estuantes de energia, fortaleza e vida que se vislumbram nesse
castelo, a seu modo um símbolo da Cristandade de outrora,
produzem um frêmito de alegria e entusiasmo.
"As muralhas do castelo com as suas seteiras..."
Ronneburg é uma portentosa amostra da luta contra os fatores
adversos, que a civilização cristã teve que vencer e superar para
realizar-se. O castelo ainda evoca os combates contra as incursões
inimigas, pobreza dos meios, dificuldade das construções e da
sobrevivência numa natureza árdua; também a sublimidade das
almas penetradas por uma fé que move as montanhas, com a
inocência de uma criança e a determinação de um guerreiro. As
muralhas do castelo com suas seteiras dão testemunho da vigilância
e da prontidão de espírito que era preciso ter para viver naquela
época, a um tempo terrível e sublime.
A construção do castelo deu-se antes do ano 1231,
numa colina escarpada, durante o reinado de Gerlach II, da dinastia
dos Staufen. É dessa época a “grande adega de vinhos”. A base da
portentosa torre de pedra, com o calabouço data da metade do
século XIII.
Os habitantes das regiões circunvizinhas — Budingen, Selbold e
Eckartshausen — tinham a seu cargo, cada uma, manter partes do
castelo, mas possuíam também o direito de nele se refugiar em caso
de perigo.
Ao longo dos séculos Ronneburg passou por todo tipo de vicissitudes
e transformações: foi sede de governo comunal, sofreu incêndios,
teve partes demolidas e outras construídas, serviu como praça forte,
como refúgio dos camponeses das redondezas durante ataques
inimigos, e até como prisão de bandidos, guardando entretanto as
marcas indeléveis de sua origem.
Um dos problemas que os construtores tiveram de
enfrentar foi o de abastecer de água o castelo. Para isso foi perfurado
um poço, que até hoje lá se encontra, com cerca de 100 metros de
profundidade, três vezes maior que a altura da torre. O nível da água
encontra-se a 12 metros no fundo do poço. Fizemos a experiência: da
borda do poço, jogamos uma pedrinha e demorou um bom tempo
para ouvirmos seu choque com a água. Lá está todo o aparelhamento
de cordas, sarilho e balde adequados para retirar a água.
As dependências reservadas à família do castelão são naturalmente
mais cuidadas, e já indicam sintomas da civilização requintada que
então nascia.
As dependências reservadas à família do castelão são naturalmente
mais cuidadas, e já indicam sintomas da civilização requintada que
então nascia. Mas a cozinha originária, com sua rusticidade e seu
enorme pitoresco, ainda permanece.
As janelas gradeadas põem em evidência a preocupação com a
defesa do castelo, tão necessária naqueles tempos de perigos e de
lutas, de fé e de heroísmo.
As janelas gradeadas põem em evidência a preocupação com a
defesa do castelo, tão necessária naqueles tempos de perigos e de
lutas, de fé e de heroísmo.
A beleza que sobressai em Ronneburg não é a da arte, mas sim a das
almas fortes e piedosas que produziram o apogeu da Idade Média,
época que mereceu do Papa Leão XIII o magnífico elogio: “Tempo
houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados, [...] a
influência da sabedoria cristã e sua virtude divina penetravam as leis,
as instituições, os costumes dos povos, todas a categorias e todas as
relações da sociedade”.
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