JOGO DE BOLICHE: NARRATIVAS DE CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO
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JOGO DE BOLICHE: NARRATIVAS DE CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO
II SEMINÁRIO DE ESCRITAS E LEITURAS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA (II SELEM) JOGO DE BOLICHE: NARRATIVAS DE CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL Selma Nascimento Vilas Boas EMEB Professora Maria Lucia Massarente Klinke- Jundiaí/SP [email protected] Resumo: O presente relato apresenta um trabalho realizado em uma escola pública do município de Jundiaí, com crianças da faixa etária de cinco anos. Trata-se de uma sequência de atividades realizadas na área de matemática com o jogo de boliche. O objetivo dessa comunicação é apresentar o trabalho com jogo de boliche em matemática com ênfase às narrativas dos alunos. Na Educação Infantil a aprendizagem de matemática é motivadora para os alunos quando ela acontece por meio de jogos e brincadeiras. O jogo do boliche possibilita aos alunos a construção de novos conhecimentos por meio de interações com novos desafios e da escuta atenta as falas dos colegas sobre o que eles estão construindo em relação ao desafio proposto. Palavras-chave: jogo; narrativas dos alunos; aprendizagem matemática. Introdução Trabalho em uma escola pública do município de Jundiaí, interior do estado de São Paulo. Como consta no planejamento dos professores do grupo cinco, que reúne crianças com cinco anos de idade, eu, professora da classe teria que trabalhar o jogo de boliche com alunos. Sei que o trabalho realizado com o jogo de boliche tem como objetivo trabalhar a contagem, relação número-quantidade, as diferentes formas de registrar quantidades, construir ideias sobre a adição, além de ter a possibilidade da construção do brinquedo pelos alunos. Mas eu procurava algo mais para auxiliar os alunos na construção do conhecimento matemático. Assim, após iniciar a disciplina “Narrativas, história oral e 1 Anais do II Seminário de Escrita e Leitura em Educação Matemática. São Paulo, 2013 II SEMINÁRIO DE ESCRITAS E LEITURAS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA (II SELEM) Educação Matemática”, como aluna especial, em um curso de Mestrado, na linha de pesquisa: Matemática, Cultura e Práticas Pedagógicas, na Universidade São Francisco, comecei a me interessar pelo estudo das narrativas. A narrativa possibilita a valorização do qualitativo da ação educativa e um trabalho docente que seja significativo para os alunos e para o professor. A partir da análise das falas dos participantes, investigam-se opiniões, crenças, valores, representações (sociais, coletivas, individuais) expressas ou tácitas sobre a questão investigativa, com a finalidade de produção do conhecimento. (PASSEGGI, 2011, p. 150). A partir da escuta atenta às falas das crianças, o professor consegue verificar o que elas estão pensando sobre o que estão realizando, como estão construindo o conhecimento, quais estratégias utilizadas estão interessando-as, o que as mobiliza a participarem das atividades e dicas de como planejar as próximas ações de forma a garantir a aprendizagem de todos os alunos. Para cada atividade realizada os alunos têm uma interpretação e o professor consegue ter acesso a estas interpretações observando como eles estão fazendo e ouvindo suas narrativas. Para realizar este trabalho o professor necessita, como afirma Larrosa (2002), parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, escutar mais devagar, pensar mais devagar, demorar-se nos detalhes,suspender o automotismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, falar sobre o que nos acontece e cultivar a arte do encontro. Quando existe a possibilidade dos alunos falarem no decorrer das aulas é possível o professor verificar que há um conhecimento, um compartilhar e uma transformação tanto por parte dos alunos, como também, por parte do professor. Neste momento constata-se como cada aluno está compreendendo os conhecimentos que estão presentes na aula e esta constatação deve servir para qualificar o trabalho, honrando as diferenças que ocorrem dentro do grupo. Quando o encontro com o diferente vem assossiado ao desejo de honrar essa diferença, explorá-la e dar-lhe cabimento, e não expulsála, nem eliminá-la como aberração, ou depreciá-la como costumam 2 Anais do II Seminário de Escrita e Leitura em Educação Matemática. São Paulo, 2013 II SEMINÁRIO DE ESCRITAS E LEITURAS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA (II SELEM) fazer os teóricos da “normatização”, então nosso olhar se abre para um mundo de complexidade e sutileza. (NAJMANOVICH, 2001, p. 55). Apresento a seguir as atividades desenvolvidas com os alunos e as falas das crianças enquanto realizam as atividades. No final, teço minhas considerações finais. Jogando boliche As atividades foram realizadas nos meses de março, abril e maio deste ano. Um das etapas das atividades com o boliche era a construção do jogo. Primeiramente, foi solicitado aos pais que enviassem garrafas pet (600 ml) para serem utilizadas na confecção do jogo de boliche. Com todas as garrafas na sala, realizei uma roda de conversa sobre o jogo, questionando os alunos sobre o que eles sabiam a respeito do jogo de boliche. As crianças relataram: que já tinham jogado boliche da Barbie, do Homem Aranha; que o jogo tinha garrafas e bola; para ganhar o jogo tem que derrubar muitas garrafas. Apesar de demonstrarem conhecimento do jogo, percebi que eles não brincavam com o boliche. Durante a roda de conversa, nenhum aluno levantou a possibilidade de confeccionar o jogo, ninguém levantou a hipótese de emprestarmos o jogo, visto que é um jogo pouco utilizado pelo grupo e os relatos foram apenas de comprar o jogo. Indiquei então que construíssemos as peças do jogo. Iniciamos a confecção: distribui as garrafas, papeis coloridos e sugeri que enfeitassem as garrafas com papel colorido. Foi uma tarefa que despertou interesse de participação em todos os alunos. Confeccionamos, também, duas bolas de meia utilizando fita crepe, meia e jornal. Para brincar com o jogo, seguimos as diferentes etapas: 1- Brincar livremente com o jogo de boliche; 2- Roda de conversas sobre como jogar o jogo de boliche. Marcar onde deve ficar as garrafas; marcar o local onde cada um ficará para jogar a bola; combinar a forma de arrumar as garrafas. 3 Anais do II Seminário de Escrita e Leitura em Educação Matemática. São Paulo, 2013 II SEMINÁRIO DE ESCRITAS E LEITURAS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA (II SELEM) 3- Jogar o boliche e registrar o número de pontos (cada criança escolheu como iria registrar os pontos: desenhos, números, bolinhas, tracinhos). 4- Organizando as cenas do jogo: os alunos receberam fichas com crianças jogando boliche para organizá-las. Ao conversarmos sobre essas etapas, fui anotando o que os alunos falavam, reconstruo a seguir o diálogo. Identifiquei os alunos com letras para preservar a identidade deles. Professora: Onde vamos colocar as garrafas e de que forma? Aluna A: Tem que ser perto da lousa pra ter espaço daqui de trás para jogar a bola preta. Professora: Vamos organizar as bolas. É uma do lado da outra? Aluno B: Não, tem que ser igual a do desenho, um montinho para poder derrubar com a bola. Professora: Os ajudantes do dia podem organizar as garrafas. Professora: De onde vamos jogar? Aluno C: Faz uma linha aqui (neste momento levantou e mostrou um lugar para fazer a linha). Professora: - Muito bem, vou fazer a linha. Professora: - Tudo pronto. Quantas vezes cada criança vai jogar a bola? Aluna D: - Só uma vez. Aluno E: - E, se errar e não derrubar nenhuma bola? Aluno F: - Então, pode jogar a bola duas vezes. Vai ter duas chances. Professora: - Então, ficou combinado: quando a criança jogar a bola e não derrubar nenhuma garrafa vai ter mais uma chance. Aluno B: - Ai, só uma chance é muito pouco. Vamos deixar duas chances. E, depois se errar de novo fica com zero, porque zero também é ponto. 4 Anais do II Seminário de Escrita e Leitura em Educação Matemática. São Paulo, 2013 II SEMINÁRIO DE ESCRITAS E LEITURAS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA (II SELEM) Ao participar da criação das regras do jogo, os alunos vão problematizando situações e resolvendo-as. Quando no planejamento da aula preveni alguns questionamentos e a participação dos alunos, criei um espaço para os registros. Por anotar e ler as falas dos alunos compreendi o que eles estavam pensando sobre aquele momento da aula. O trabalho com resolução de problemas é iniciado a partir de uma situação de criação de regras para o jogo. Os alunos puderam pensar sobre a solução, ouvir a solução dos colegas e inferir sobre elas. É uma oportunidade de lidarem com regras. A questão do valor do número zero apareceu no relato. O aluno considera que não tem nenhum problema se um aluno lançar a bola três vezes e não acertar nenhuma garrafa, porque o zero também representa uma quantidade. Incentivar os alunos a verbalizarem na solução de um problema é uma via importante para garantir a construção do conhecimento em geral e, neste caso, o conhecimento matemático. Uma das atividades prevista era para os alunos: Jogarem boliche, fazerem a contagem e retirarem o número de palitos do pote correspondente ao número de garrafas derrubadas. Nesta etapa, alguns alunos tiveram dificuldades de fazer a correspondência um a um. Solicitei para os alunos contarem as garrafas derrubadas em voz alta a fim de que eu pudesse ouvir a sequência numérica utilizada, avaliando o procedimento de correspondência um a um. No momento de registrar o número, uma das alunas disse: “Na rotina tem os números é só olhar na lousa, não é professora?”. E, foi exatamente isso que os alunos fizeram: consultaram a escrita da rotina. É incrível as observações que os alunos fazem durante as atividades e o quanto os demais alunos se atentam para elas. Os alunos também aprendem com seus pares. Nesta fala, percebi o quanto o registro dos números da rotina tinha significado para eles. Enquanto planejava a atividade não havia pensado na possibilidade dos números da rotina servirem de apoio. Uma semana depois, retomei o jogo com a seguinte proposta: “Hoje, vamos jogar em grupo. Cada grupo vai registrar os pontos de todos e, no final, vamos somar 5 Anais do II Seminário de Escrita e Leitura em Educação Matemática. São Paulo, 2013 II SEMINÁRIO DE ESCRITAS E LEITURAS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA (II SELEM) para verificar quantos pontos cada grupo fez e como cada grupo registrou seus pontos”. Seguem algumas falas que os alunos tiveram no decorrer da atividade: Professora: - Quantas vezes cada aluno vai jogar a bola? Muitos alunos: - Uma vez. Professora: - E, se o aluno jogar a bola e não derrubar nenhuma garrafa, vai ter outra chance? Muitos alunos: - Não.... Professora: - Vamos começar. Aluno B jogou a bola e não derrubou nenhuma garrafa. Professora: - Como o grupo vai registrar o que aconteceu com o Aluno B. Aluna G: - É só ele escrever o zero, que é uma bolinha. Aluno H joga a bola e depois conta uma a uma as garrafas: - Um, dois, três,.... treze. Professora: - Como você vai registrar seus pontos. Aluno H: - É só fazer o um e o três. Professora: - Aluno I, você fez treze pontos. Como você vai registrar. Aluno I: - Vou desenhar as garrafas. Professora: Aluno J, você fez seis pontos. Como você vai registrar? Aluno J: - Vou desenhar seis bolinhas. Professora: Aluna I, você fez quinze pontos. Como você vai registrar? Aluna I: - Eu vou fazer um monte de risco até dar quinze. Após todos jogarem a professora colocou os registros na lousa, chamou atenção dos alunos para observarem as anotações. Professora: - Como foram realizados os registros de quantidades? Aluno G: - Teve grupo que marcou tudo só com números. Aluno B: - Teve grupo que marcou com desenhos e números. Aluna A: - Dá para marcar com números ou com desenhos. Professora: O que vocês aprenderam hoje jogando boliche? 6 Anais do II Seminário de Escrita e Leitura em Educação Matemática. São Paulo, 2013 II SEMINÁRIO DE ESCRITAS E LEITURAS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA (II SELEM) Vários alunos juntos: - Aprendi a contar. Professora: o que mais? Aluno B: - Eu aprendi a fazer no papel o número que eu não sabia. Aluno I: - A jogar melhor o boliche. Aluno B: - Arremessar melhor a bola para derrubar mais garrafas. Aluna A: - Que sempre tem que arrumar as garrafas em pé. Aluno J: - Aprendemos os números que “nois não sabi”. Aluno L: - Antes de fazer o número tinha que contar certo as garrafas. Aluno B: - A gente pode colocar a quantidade fazendo desenho ou fazendo números. Aluno M: - A gente pode fazer a garrafa, a bolinha e depois contar. Aluno N: - Um aluno pode ajudar o outro do grupo quando ele não consegue fazer. A partir da análise deste registro é possível observar algumas aprendizagens de matemática. Contar é uma estratégia para estabelecer um valor a um conjunto de garrafas derrubadas. Neste caso, a contagem tinha um significado e aproximava os alunos do sistema numérico. O registro de uma quantidade pode ser feito de várias formas: com desenho de bolinhas, de tracinhos, de garrafas e, com números. A parceria entre os alunos do grupo facilitou o registro. Inclusive, uma das alunas relatou que ela aprendeu que um aluno pode ajudar o outro. Muitas vezes, me deparo afirmando que é difícil realizar algumas atividades com um número grande de crianças. Mas, não posso me esquecer que na sala de aula tem uma professora e mais 25 alunos e, em muitas situações, eles podem ajudar auxiliando a professora, auxiliando algum outro aluno, ou até mesmo, quando questionados de alguma situação, apresentarem as soluções. Eu, como professora, sinto a necessidade de retomar o jogo para que os alunos possam vivenciar o arremesso da bola, a contagem e o registro dos pontos. Muitos apresentam dificuldade para acertar a bola nas garrafas. Em relação à contagem alguns 7 Anais do II Seminário de Escrita e Leitura em Educação Matemática. São Paulo, 2013 II SEMINÁRIO DE ESCRITAS E LEITURAS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA (II SELEM) alunos colocam o dedinho na garrafa derrubada e vai realizando a contagem, mas muitos precisam colocar as garrafas contadas longe de si senão não conseguem fazer a correspondência um a um. Posso dizer que nessa fase as crianças estão no processo de aquisição da contagem e do conceito de número. Assim, elas precisam estabelecer a correspondência não apenas entre o objeto e o número que o representa, mas também o toque com as mãos faz parte desse processo. Por isso que atividades como o jogo que colocam as crianças no movimento de contar é que poderão contribuir para a elaboração do conceito de número. Numa perspectiva histórico-cultural acredito que a aprendizagem possibilita avanços no desenvolvimento. Quanto mais incentivada fora a criança para resolver situações-problema, mais rapidamente ela avança no conhecimento matemático. Quanto ao registro é um conteúdo significativo que pode estar presentes em diferentes situações do trabalho educativo. O registro tem alguns benefícios: para o aluno representa a possibilita de registrar e comunicar como pensou. Para tal ele necessita utilizar algum tipo de linguagem, seja a pictórica, seja em língua materna. Para o professor, o registro indica o momento do desenvolvimento que o aluno se encontra e quais estratégias precisam ser planejadas para possibilitar o avanço da turma. O trabalho de matemática por meio de jogo motiva a criança pequena e propicia um contexto excelente para aprendizagem. Neste momento o professor pode realizar perguntas, fazer observações, propor situações de contagem, de registro, discussão de regras, discussão de estratégias para ter bom desempenho nas jogadas. Existem outros tipos de jogos que podem enriquecer as aulas de matemática: jogos numéricos, jogos com pistas, jogos de cartas. Estes jogos possibilitam as crianças se familiarizarem com os números, com a contagem, com a idéia de adição e de comparação, fazer correspondência, contar de um em um ou de dois em dois, a distribuição, reunião de coleção, elaborar registro de quantidades. Durante estes momentos, o professor observa, compreende o que as crianças fazem e os significados atribuídos por elas aos elementos vivenciados. 8 Anais do II Seminário de Escrita e Leitura em Educação Matemática. São Paulo, 2013 II SEMINÁRIO DE ESCRITAS E LEITURAS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA (II SELEM) O trabalho com jogo promove também a interação entre os alunos, propiciando diferentes situações de conversas onde as crianças podem demonstrar seu modo de agir, de pensar e de sentir, em um ambiente acolhedor que propicie a confiança e a autoestima. Ambiente acolhedor, não significa sem conflitos e sem divergências. Neste caso, cabe ao professor intermediar os conflitos, ouvindo a todos e fornecendo elementos para que as crianças aprendam a conviver, buscando as melhores soluções para todos. Há também, a possibilidade de trabalhar com cantigas de roda que incluem diferentes formas de contagem, como por exemplo, “a galinha do vizinho bota ovo amarelinho; bota um, bota dois, bota três, bota quatro, bota cinco, bota seis, bota sete, bota oito, bota nove e bota dez”; “um, dois feijão com arroz; três, quatro, feijão no prato; cinco, seis, feijão inglês; sete, oito comer biscoito; nove, dez comer pasteis”. Estas propostas permitem um trabalho com os conteúdos de matemática de forma prazerosa. Brincando as crianças aprendem e, nesta faixa etária, a brincadeira é essencial para o desenvolvimento integral da criança. Lembrando sempre que a observação e intervenção do professor são muito importantes, como descreve Oliveira (1999, p. 62): O único bom ensino, afirma Vygotsky, é aquele que se adianta ao desenvolvimento. Os procedimentos regulares que ocorrem na escola – demonstração, assistência, fornecimento de pistas, instruções – são fundamentais na promoção de um bom ensino. Isto é, a criança não tem condições de percorrer, sozinha, o caminho do aprendizado. A intervenção de outras pessoas – que, no caso específico da escola, são o professor e as demais crianças – é fundamental para a promoção do desenvolvimento do indivíduo. Considerações finais A análise do trabalho realizado até o momento com o jogo de boliche dando ênfase nas narrativas dos alunos possibilitou algumas reflexões. Uma delas se refere à importância do trabalho com jogo na área de matemática. Os alunos aprendem brincando. O fato de o jogo ter sido confeccionado pelos alunos 9 Anais do II Seminário de Escrita e Leitura em Educação Matemática. São Paulo, 2013 II SEMINÁRIO DE ESCRITAS E LEITURAS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA (II SELEM) com materiais que eles trouxeram de casa deu um significado importante para o trabalho. Ressalto que o momento do jogo deve ser planejado com uma intencionalidade educativa. Não se pode esquecer que toda ação pedagógica precisa ter intencionalidade e objetivo. O que se pretende com o jogo? Quais conceitos serão trabalhados? Porém, passar pelas atividades do jogo de boliche sem dar atenção às narrativas dos alunos teria sido apenas o cumprimento de uma atividade do currículo. Ao ouvir os alunos pude verificar o quanto é importante eles participarem da criação das regras do jogo. Eles sentem-se importantes e motivados para participarem do jogo e constroem estratégias de solução de problemas em grupo. Diante de uma dificuldade no cumprimento das tarefas, os alunos auxiliam os outros com dicas que eu, professora, não havia planejando e nem pensado. Como foi a situação onde uma das alunas informou o grupo o local onde poderiam olhar para fazer os números. No questionamento das aprendizagens com o jogo, fiquei surpresa quando o aluno colocou a questão do arremessar a bola. Nesta aula, não havia pensado nesta questão, somente na contagem e no registro. Dar destaque às narrativas dos alunos enriquece a ação educativa. Ao retomar, após a aula o registro das narrativas, é possível avaliar o que os alunos aprenderam, onde ainda há dúvida, o que é necessário retomar de outra forma. É um planejar com base no que acontece com o grupo, não um planejar de atividades apenas, mas, também nos questionamentos necessários para garantir a reflexão e aprendizagem dos alunos. Uma das reflexões mais marcante foi que durante toda a análise do registro das narrativas senti a necessidade de buscar e me aprofundar num estudo teórico para analisar melhor os registros e para planejar melhor os próximos passos ação educativa. O professor em nenhum momento da sua carreira pode abandonar os estudos, as leituras, as pesquisas realizadas na área educacional. A teoria enriquece a ação educativa e mobiliza o professor para novos desafios, novas aprendizagens e novas vivências. Neste relato também está presente a minha narrativa, o registro de uma prática que me possibilitou reflexões. Nela dou a conhecer uma experiência que me marcou, me 10 Anais do II Seminário de Escrita e Leitura em Educação Matemática. São Paulo, 2013 II SEMINÁRIO DE ESCRITAS E LEITURAS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA (II SELEM) tocou, no sentido dado por Larrosa (2002), pois me mobilizou a querer compartilhá-la com outros. O professor, ao relatar sua prática e torná-la pública ele vai se tornando um pesquisador da sua prática e vai possibilitando a ruptura da crença de que não é possível fazer pesquisa em sala de aula, ainda num viés da pesquisa positivista. Trata-se de recuperar a noção do sujeito encarnado, como defende Najmanovich (2001). Referências Bibliográficas BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Ministério. Brasília: MEC/SEF, 1998. Volume 3: Conhecimento de mundo. LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação. nº 19. Jan/Fev/Mar/Abr, 2002,p.20-28 NAJMANOVICH, Denise. O sujeito encarnado: questões para pesquisa no/do cotidiano. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. OLIVEIRA, Marta Kohl. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento. Um processo sócio-histório. São Paulo: Scipione,1999. PASSEGGI, Maria da Conceição. A experiência em formação. Educação, Porto Alegre, v.34,n.2, p. 147-156, maio/agosto. 2011. 11 Anais do II Seminário de Escrita e Leitura em Educação Matemática. São Paulo, 2013
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