Um Mundo Abundante em Homens-Máquinas
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Um Mundo Abundante em Homens-Máquinas
UM MUNDO ABUNDANTE EM HOMENS-MÁQUINAS Homens-máquinas por Mariana Lorenzo. 2011. Ao longo da história da humanidade acumulou-se de certa forma padrões e culturas que são seguidos nos dias atuais fielmente pela sociedade. O modo de vida humano está encaixado no sistema capitalista que nos rodeia e nos prende a este sufoco aparentemente eterno. As pessoas são escravas do trabalho, com o estresse e a tristeza caminhando juntos, e tudo isto para ter uma vida confortável e repleta de bens materiais. O homem busca o luxo e o luxo o destrói. Os humanos tornaram-se cegos pelo padrão imposto a eles desde que nasceram, não tendo forças para fugir dele ao longo da vida. O homem na verdade não está em busca da felicidade e sim do conforto. Se quisessem a felicidade, bastava largar essa vida capitalista e viver como Buda ou Jesus. Eles sim sabiam da chave para encontrar a felicidade e não cansaram de nos dizer. E nos sabemos de suas palavras, porém não a seguimos. O ser humano torna-se cada vez mais individualista e egoísta, buscando maneiras, até das mais absurdas e destruidoras, para atingir uma satisfação, que normalmente é momentânea. Thoreau. Nas palavras de Thoreau encontradas em Walden (1854): “A maioria dos homens, mesmo neste país relativamente livre, por mera ignorância ou erro, vivem tão ocupados com as falsas preocupações e as lides desnecessariamente pesadas da vida que não conseguem colher seus frutos mais delicados. Os dedos, pelo excesso de trabalho, ficam demasiado trôpegos, trêmulos demais para isso. Na verdade, quem trabalha não tem tempo livre para uma autêntica integridade dia a dia; não pode se permitir manter as relações mais viris com os homens; seu trabalho seria depreciado no mercado. Não tem tempo de ser nada além de uma máquina. Como lembrará sua ignorância – o que é indispensável para crescer – quem precisa usar seu conhecimento com tanto freqüência? Antes de julgá-lo, deveríamos de vez em quando lhe dar roupa e comida de graça e revigorá-lo com nossos tônicos. As mais finas quantidades de nossa natureza, como a pele aveludada dos frutos, só podem ser preservadas com o mais delicado manuseio. E, no entanto não usamos desses cuidados, nem conosco, nem com os outros.” Dulle Griet (Mad Meg) por Bruegel Pieter. 1562 A maioria das pessoas trabalha a maior parte do tempo para conseguir pagar tudo que é necessário para viver dentro do mundo capitalista e consumista: energias, combustíveis, comidas, bens materiais e água. A pessoa vive para pagar tudo isso e para ter um pequeno descanso depois do trabalho, o seu divino tempo livre. Entretanto, após o trabalho ela está tão cansada que mal tem forças para realizar coisas frutíferas e/ou para adquirir conhecimentos e experiências ricas. Tudo o que ela deseja é descansar. Seja assistindo TV, absorvendo coisas supérfluas, seja descansando o psíquico em uma bebida. Os humanos tornaram-se seres desesperados. Desesperados por dinheiro, que compra o conforto. Todo esse processo compra o tempo valioso do homem, que é único para cada ser, e que poderia ser utilizado em coisas relevantes e necessárias para vida. Como aponta Thoreau: “A grande maioria dos homens leva uma vida de calados desespero. O que se chama resignação é desespero confirmado. Da cidade desesperada você vai para o campo desesperado e tem de se consolar com a coragem das martas e dos ratos almiscarados. Um desespero estereotipado, mas inconsciente, se esconde mesmo sob os chamados jogos e prazeres da humanidade. Não há diversão neles, pois esta vem depois da obrigação. Mas uma característica da sabedoria é não fazer coisas desesperadas.” The Son of Man por René Magritte. 1964. A maior parte do dia do ser humano é constituída de tarefas que tem de ser realizadas por mera obrigação. Portanto, a grande maioria da humanidade, é infeliz ao cumprir essas obrigações, que tem de ser cumpridas para que ao final do dia tenha um pouco de sossego. Pode-se concluir que o homem é infeliz na maioria de seu dia para tentar ser um pouco feliz em seu tempo livre. Vale dizer que há como o homem seguir um caminho alternativo em que seria feliz em tempo integral. O caminho da auto-subsistência. Thoreau observa: “Quando consideramos qual é, para usar as palavras do catecismo, a principal finalidade do homem, e quais são as verdadeiras necessidades e meios de vida, parece evidente que os homens escolheram deliberadamente o modo usual de viver porque o preferiram a qualquer outro. No entanto eles acreditam honestamente que não tinham outra escolha. Mas as naturezas alertas e saudáveis lembram que o sol nasceu claro. Nunca é tarde demais para abandonar nossos preconceitos. Não se pode confiar às cegas em nenhuma maneira de pensar ou agir, por mais antiga que seja.” Aos portões da eternidade por Vincent van Gogh. 1890. O homem vive sufocado no sistema que ele mesmo criou, achando que não há outros caminhos. Ele simplesmente aceita o padrão de vida já modulado e o segue. A preguiça é maior que a coragem, resultando em um não avanço da humanidade para um sistema mais adequado. Os humanos criaram um modelo para obter felicidade que não corresponde ao mais simples ou verdadeiro. Ele está sempre em busca da posse de bens materiais considerando que ao obtê-los, conseguirá a felicidade. Porém deve-se quebrar essa ótica e passar a enxergar que uma vida tranqüila e feliz é obtida quando o homem torna-se livre dos bens materiais e do sistema, acumulando riquezas interiores e não exteriores. “Não só a maioria dos luxos e muitos dos ditos confortos da vida não são indispensáveis, como são francos obstáculos à elevação da humanidade. Quanto a luxos e confortos, os mais sábios sempre levaram uma vida mais simples e frugal do que os pobres. Os filósofos antigos, chineses, hindus, persas e gregos, formavam uma classe jamais igualada em sua ausência de riquezas exteriores e abundância de riquezas interiores”, diz Thoreau. Mariana Lorenzo Janeiro de 2011 Referência bibliográfica: THOREAU, Henry David. Walden. 1854. Coleção L&PM Pocket. Rio de Janeiro. 2010.