Zeca Afonso
Transcrição
Zeca Afonso
Zeca Afonso Arquivo de letras de música 25 de Março de 2002 1 Conteúdo Achégate a mim, Maruxa . . . . . . . . . . . . . A formiga no carreiro . . . . . . . . . . . . . . . Alegria da Criação . . . . . . . . . . . . . . . . A mulher da erva . . . . . . . . . . . . . . . . . As sete mulheres do Minho . . . . . . . . . . . . Avenida de Angola . . . . . . . . . . . . . . . . Bailia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Balada do Outono . . . . . . . . . . . . . . . . . Canção de embalar . . . . . . . . . . . . . . . . Cantiga do monte . . . . . . . . . . . . . . . . . Cantigas do Maio (eu fui ver a minha amada) . . Canto moço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Chamaram-me cigano . . . . . . . . . . . . . . . Contos Velhinhos . . . . . . . . . . . . . . . . . Coro dos Caídos . . . . . . . . . . . . . . . . . . Endechas a Bárbara escrava (aquela cativa) . . . Entrudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Epígrafe para a arte de Furtar (roubam-me Deus) Eu vou ser como a toupeira . . . . . . . . . . . . Grândola Vila Morena . . . . . . . . . . . . . . . Já o tempo se habitua . . . . . . . . . . . . . . . Maria Faia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Menina dos olhos tristes . . . . . . . . . . . . . Menino de oiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . Menino d’oiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Milho verde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Natal dos simples . . . . . . . . . . . . . . . . . No lago do Breu . . . . . . . . . . . . . . . . . . No vale de Fuenteovejuna . . . . . . . . . . . . . Oh Coimbra do Mondego . . . . . . . . . . . . . O homem da gaita . . . . . . . . . . . . . . . . . Por Aquele Caminho . . . . . . . . . . . . . . . Por trás daquela janela . . . . . . . . . . . . . . Qualquer Dia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Quatro quadras soltas . . . . . . . . . . . . . . . Que amor não me engana . . . . . . . . . . . . . Rainha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resineiro engraçado . . . . . . . . . . . . . . . . Senhor poeta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Só ouve o brado da terra . . . . . . . . . . . . . Teresa Torga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Traz outro amigo também . . . . . . . . . . . . . Tu gitana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Utopia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Vampiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Vejam bem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Verdes são os campos . . . . . . . . . . . . . . . 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 4 5 6 7 8 10 11 12 13 15 16 17 18 19 20 22 23 24 25 26 28 29 30 31 32 33 34 36 37 38 39 41 43 44 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 Verdes são os campos Achégate a mim, Maruxa Música: Zeca Afonso Letra: Camões In: Traz outro amigo também Música: Zeca Afonso Letra: popular: galego Intérprete: Zeca Afonso In: ’fura fura’, 1979 (cantar galego) Versos de Segunda (jeito de jj) Verdes são os campos, De cor de limão: Assim são os olhos Do meu coração. jj = 80 Campo, que te estendes Com verdura bela; Ovelhas, que nela Vosso pasto tendes, De ervas vos mantendes Que traz o Verão, E eu das lembranças Do meu coração. 2 4 A − ché − ga − te a mim, Ma − ru − xa qué − ro − me ca − sar con − ti − go ña ña ché − ga − te ben, mo se − rás mi − ña mu − re − ni − ña − lle − ri − ña = 120 Gados que pasceis Com contentamento, Vosso mantimento Não no entendereis; Isso que comeis Não são ervas, não: São graças dos olhos Do meu coração. Achégate a mim, Maruxa chégate ben, moreniña quérome casar contigo serás miña mulleriña Luís de Camões Adeus, estrela brilante compañeiriña da lua moitas caras teño visto mais como a tua ningunha Adeus lubeiriña triste de espaldas te vou mirando non sei que me queda dentro que me despido chorando 58 3 ché − ga − te ben, mo se − rás mi − ña mu − re − ni − − lle − ri − A formiga no carreiro Vejam bem Letra e música: Zeca Afonso In: Venham mais cinco/gravado em 73 Letra e música: Zeca Afonso In: Cantares do Andarilho José João ([email protected]) (não juro que esteja tudo certo...) jj(Dez-95) A formiga no carreiro vinha em sentido contrário Caiu ao Tejo ao pé de um septuagenário (v1 v2 v1 v2 v3 v3 v4 v3 v3 v4) Vejam bem que não há só gaivotas em terra quando um homem se põe a pensar quando um homem se põe a pensar Lerpou trepou às tábuas (bis) que flutuavam nas águas (bis) e do cimo de uma delas virou-se para o formigueiro mudem de rumo (bis) já lá vem outro carreiro Quem lá vem dorme à noite ao relento na areia dorme à noite ao relento no mar dorme à noite ao relento no mar E se houver uma praça de gente madura e uma estátua e uma estátua de de febre a arder A formiga no carreiro vinha em sentido diferente caiu à rua no meio de toda a gente Anda alguém pela noite de breu à procura e não há quem lhe queira valer e não há quem lhe queira valer buliu abriu as gâmbeas para trepar às varandas e do cimo de uma delas ... Vejam bem daquele homem a fraca figura desbravando os caminhos do pão desbravando os caminhos do pão A formiga no carreiro andava à roda da vida caiu em cima de uma espinhela caída E se houver uma praça de gente madura ninguém vai ninguém vai levantá-lo do chão furou furou à brava numa cova que ali estava e do cimo de uma delas ... 4 57 Vampiros Alegria da Criação Letra e música: Zeca Afonso Letra e música: Zeca Afonso Intérprete: Janita Salomé In: ’galinhas do mato’, 1985 Arménia Rua, Fernando Faria (Alternativamente Em/D/B7) Am No céu cinzento Sob o astro mudo jj Am G Batendo as asas Pela noite calada E7 Am Vêm em bandos Com pés veludo E7 Am E7 Am Chupar o sangue Fresco da manada E7 Plantei a semente da palavra Antes da cheia matar o meu gado Ensinei ao meu filho a lavra e a colheita num terreno ao lado Am Se alguém se engana Com seu ar sisudo Eles comem tudo E não deixam nada [Bis] A palavra rompeu Cresceu como a baleia No silêncio da noite à lua cheia Vi mudar estações soprar a ventania Brilhar de novo o sol sobre a baía A toda a parte Chegam os vampiros Poisam nos prédios Poisam nas calçadas Trazem no ventre Despojos antigos Mas nada os prende Às vidas acabadas Fui um bom engenheiro um bom castor Amei a minha amada com amor De nada me arrependo só a vida Me ensinou a cantar esta cantiga São os mordomos Do universo todo Senhores à força Mandadores sem lei Enchem as tulhas Bebem vinho novo Dançam a ronda No pinhal do rei Feiticeira Mãe de todos nós Flor da espiga Maldita para tiranos Amorosa te louvamos tens mais de um milhão de anos Rapariga G Am E lhes franqueia As portas à chegada G Am Eles comem tudo Eles comem tudo E7 Am Eles comem tudo Eles comem tudo Eles comem tudo E não deixam nada No chão do medo Tombam os vencidos Ouvem-se os gritos Na noite abafada Jazem nos fossos Vítimas dum credo E não se esgota O sangue da manada Se alguém se engana Com seu ar sisudo E lhe franqueia As portas à chegada Eles comem tudo Eles comem tudo Eles comem tudo E não deixam nada Eles comem tudo Eles comem tudo Eles comem tudo E não deixam nada Quando o lume nos aquece No grande frio de Inverno Vem até nós uma prece Que assim de longe parece Uma cantiga Magistrada Nossa natural Vitoriosa Curandeira dos aflitos Amante de mil maridos Há mais de um milhão de idos tormentosa Quando a fera encarcerada Que dentro de nós suplanta Quebra a gaiola sozinha Voa voa endiabrada Uma andorinha 56 5 A mulher da erva Utopia Letra e música: Zeca Afonso In: ’Cantigas do maio’, 1971 Letra e música: Zeca Afonso In: ’Como se fora seu filho’, 1983 Arménia Rua Victor Almeida Velha da terra morena Pensa que e já lua cheia Vela que a onda condena Feita em pedaços na areia Cidade Sem muros nem ameias Gente igual por dentro Gente igual por fora Onde a folha da palma afaga a cantaria Cidade do homem Não do lobo, mas irmão Capital da alegria Saia rota subindo a estrada Inda a noite rompendo vem A mulher pega na braçada De erva fresca supremo bem Canta a rola numa ramada Pela estrada vai a mulher Meu senhor nesta caminhada Nem m’alembra do amanhecer Há quem viva sem dar por nada Há quem morra sem tal saber Velha ardida velha queimada Vende a fruta se queres comer A noitinha a mulher alcança Quem lhe compra do seu manjar Para dar à cabrinha mansa Erva fresca da cor do mar Na calçada uma mancha negra Cobriu tudo e ali ficou Anda, velha da saia preta Flor que ao vento no chão tombou Braço que dormes nos braços do rio Toma o fruto da terra É teu a ti o deves lança o teu desafio Homem que olhas nos olhos que não negas o sorriso, a palavra forte e justa Homem para quem o nada disto custa Será que existe lá para os lados do oriente Este rio, este rumo, esta gaivota Que outro fumo deverei seguir na minha rota? No Inverno terás fartura Da erva fora supremo bem Canta rola tua amargura Manhã moça ... nunca mais vem 6 55 Tu gitana As sete mulheres do Minho Música: Zeca Afonso Letra: Cancioneiro de Vila Viçosa Intérprete: Helena Vieira In: ’galinhas do mato’, 1985 Letra e música: Zeca Afonso jj As sete mulheres do Minho mulheres de grande valor Armadas de fuso e roca correram com o regedor Tu gitana que adivinhas Me lo digas, poes no lo sê Se saldre dessa aventura Ô si nela moriré Ô si nela perco la vida Ô si nela triumfare Tu gitana que adivinhas Me lo digas, poes no lo sê jj(Fev-96) Essa mulher lá do Minho que da foice fez espada há-de ter na lusa história uma página doirada Viva a Maria da Fonte com as pistolas na mão para matar os Cabrais que são falsos à nação 54 7 Avenida de Angola Traz outro amigo também Letra e música: Zeca Afonso In: ’Traz outro amigo também’, 1970 Letra e música: Zeca Afonso In: ’Traz outro amigo também’, 1970 Arménia Rua,jj versos de segunda/Luís Ferreira (jeito de jj) C A Dum botão de branco punho Amigo F D Dum braço de fora preto Maior que o pensamento F C C A Vou pedir contas ao mundo Por essa estrada amigo vem G7 G C Além naquele coreto A A D C F Não percas tempo que o vento C Lá vai uma lá vão duas C G7 É meu amigo também D Três pombas a descansar C F A7 Por essa estrada amigo vem A A7 A D Não percas tempo que o vento C Uma é minha outra é tua G7 E E C A É meu amigo também C Outra é de quem n’a agarrar A Na sala há cinco meninas E um botão de sardinheira Feitas de fruta madura Nos braços duma rameira D A Em terras Em todas as fronteiras Seja benvindo quem vier por bem Se alguém houver que não queira Trá-lo contigo também Lá vai uma lá vão duas... O Sol é quem faz a cura Com alfinete de dama Na sala há cinco meninas Feitas duma capulana Aqueles Aqueles que ficaram (Em toda a parte todo o mundo tem) Em sonhos me visitaram Traz outro amigo também Lá vai uma lá vão duas... Quando a noite se avizinha Do outro lado da rua Vem Ana, vem Serafina Vem Mariana, a mais pura nota: Alternativamente substituir: A=D D=G C=F A7=D7 E=A7 G=C Lá vai uma lá vão duas... Há sempre um botão de punho Num braço de fora preto Vou pedir contas ao mundo Além naquele coreto Lá vai uma lá vão duas... Ó noite das columbas Leva-as na tua algibeira Na sala há cinco meninas Feitas da mesma maneira Lá vai uma lá vão duas... 8 53 Teresa Torga Letra e música: Zeca Afonso In: ’Com as minhas tamanquinhas’ Arménia Rua No centro a da Avenida No cruzamento da rua Às quatro em ponto perdida Dançava uma mulher nua A gente que via a cena Correu para junto dela No intuito de vesti-la Mas surge António Capela Que aproveitando a barbuda Só pensa em fotografá-la Mulher na democracia Não é biombo de sala Dizem que se chama Teresa Seu nome e Teresa Torga Muda o pick-up em Benfica Atura a malta da borga Aluga quartos de casa Mas já foi primeira estrela Agora é modelo à força Que a diga António Capela T’resa Torga T’resa Torga Vencida numa fornalha Não há bandeira sem luta Não há luta sem batalha 52 9 Bailia Só ouve o brado da terra Música: Zeca Afonso Letra: Airas Nunes In: ’Contos Velhos Rumos Novos’ Letra e música: Zeca Afonso In: ’coro dos tribunais’, 1975 Arménia Rua Ximnasio de Academo Bailemos nós já todas tres, ai amigas, so aquestas avelaneiras frolidas e quen fôr velida, como nós, velidas, se amig’ amar, so aquestas avelaneiras frolidas verrá bailar. Bailemos nós já todas tres, ai irmañas, so aqueste ramo d’ estas avelañas e quen fôr louçaña, como nós, louçañas se amig’ amar, so aqueste ramo d’ estas avelañas verrá bailar. Por Deus, ai amigas, mentr’ al non fazemos, so aqueste ramo frolido bailemos e quen ben parecer, como nós parecemos, se amig’ amar, so aqueste ramo so l[o] que nós bailemos verrá bailar. Só ouve o brado da terra Quem dentro dela Veio a nascer Agora é que pinta o bago Agora é qu’isto vai aquecer rem dó rem Cala-te ó clarim da morte dó rem Que a tua sorte dó rem Não hei-de eu querer Mal haja a noite assassina E quem domina Sem nos vencer Cobrem-se os campos de gelo Já não se ouve O galo cantor Andam os lobos à solta Pega no teu Cajado, pastor Homem de costas vergadas De unhas cravadas Na pele a arder É minha a tua canseira Mas há quem queira Ver-te sofrer Anda ver o Deus banqueiro Que engana à hora e que rouba ao mês Há milhões no mundo inteiro O galinheiro é de dois ou três 10 51 Senhor poeta Balada do Outono Música: Zeca Afonso (?) Letra: António Barahona; Manuel Alegre Intérprete: Zeca Afonso (fado de Coimbra) Letra e música: Zeca Afonso (fado de Coimbra) Fernando Carvalho (Gravação no mosteiro de Santa Clara (?)) Águas Arménia Rua, jj mim ré Meu amor é marinheiro, E mora no alto mar, Seus braços são como o vento, Ninguém o pode amarrar. mim E pedras do rio ré mim Meu sono vazio ré mim Não vão Acordar mim Águas Senhor poeta, Vamos dançar, Caem cometas, No alto mar. ré mim Das fontes calai ré mim Ó ribeiras chorai sib7 ré mim Que eu não volto A cantar Cavalgam Zebras, Voam duendes, Atiram pedras, Arrancam dentes. Rios que vão dar ao mar Deixem meus olhos secar Águas Das fontes calai Ó ribeiras chorai Que eu não volto A cantar Senhor poeta... Soltam as velas, Vamos largar, Caem cometas, No alto mar. Águas Do rio correndo Poentes morrendo P’ras bandas do mar Águas Das fontes calai Ó ribeiras chorai Que eu não volto A cantar Rios que vão dar ao mar Deixem meus olhos secar Águas Das fontes calai Ó ribeiras chorai Que eu não volto A cantar 50 11 Canção de embalar Resineiro engraçado Letra e música: Zeca Afonso In: ’Cantares de andarilho’ Letra e música: popular: Beira-Alta Fernando Faria (Mortágua; recolha de Zeca Afonso) Arménia Rua A D D A A Resineiro engraçado, engraçado no falar, Dorme meu menino a estrela d’alva Já a procurei e não a vi Se ela não vier de madrugada Outra que eu souber será p’ra ti Ó i ó ai, se ele me lá quiser levar. [Bis] Outra que eu souber na noite escura Sobre o teu sorriso de encantar Ouvirás cantando nas alturas Trovas e cantigas de embalar Já tenho papel e tinta, caneta e mata-borrão, Já tenho papel e tinta, caneta e mata-borrão, Ó i ó ai, pr’a escrever ao resineiro, Ó i ó ai, que trago no coração. Trovas e cantigas muito belas Afina a garganta meu cantor Quando a luz se apaga nas janelas Perde a estrela d’alva o seu fulgor Resineiro é casado, é casado e tem mulher, Resineiro é casado, é casado e tem mulher, Ó i ó ai, vou escrever ao resineiro, Ó i ó ai, quantas vezes eu quiser. Perde a estrela d’alva pequenina Se outra não vier para a render Dorme qu’inda a noite é uma menina Deixa-a vir também adormecer Nota: Resineiro engraçado, engraçado no falar, D E7 Ó i ó ai, eu hei-de ir à terra dele, A a primeira mulher do Zeca Afonso, com que casou em Coimbra, era de Mortágua. Acorde de viola: Alternativamente C/F/G7, G/C/D7 12 49 Rainha Cantiga do monte Letra e música: Zeca Afonso In: Letra e música: Zeca Afonso In: ’Traz outro amigo também’, 1970 versos de segunda() (jeito de jj) Arménia Rua Quem diz que é pela rainha Nem precisa de mais nada Embora seja ladrão Pode roubar à vontade Todos lhe apertam a mão É homem de sociedade Fragância morena Portal de marfim Ondina açucena Chamando por mim Acima da pobre gente Subiu quem tem bons padrinhos De colarinhos gomados Perfumando os ministérios É dono dos homens sérios Ninguém lhe vai aos costados Cantiga do monte Clareira do ar Dançando na nuvem Mudando em mar Na flor da montanha Na espuma a cair Nos frutos de Agosto Na boca a sorrir Na crista da vaga Tormento alonguei No vento e na fraga Só luto encontrei Abriram-se as velas Mal rompe a manhã Na luz e nas trevas Foi-se a louçã Ai húmida prata Meu sonho sem ver Ai noite de Lua Meu lume de arder Ó finas areias Ó clara manhã Ó rubras papoilas Da cor da romã Ó rosto da terra E abismos do mar Ouvide o seu canto De longe a arfar Abriram-se as velas Mal rompe a manhã Na luz e nas trevas Lá vai a louçã Da morte zombando 48 13 Que amor não me engana Na aurora lunar Num jardim suspenso Do seu folgar Letra e música: Zeca Afonso In: Venham mais cinco/gravado em 73 Versos de segunda() (jeito de jj) rem dó rem Que amor não me engana rem dó rem dó Com a sua brandura dó lam rem Se de antiga chama mi Mal vive a amargura Duma mancha negra Duma pedra fria Que amor não se entrega Na noite vazia rem dó sol rem E as vozes embarcam rem dó sol rem Num silêncio aflito rem dó rem Quanto mais se apartam dó lam rem Mais se ouve o seu grito Muito à flor das águas Noite marinheira Vem devagarinho Para a minha beira Em novas coutadas Junto de uma hera Nascem flores vermelhas Pela Primavera Assim tu souberas Irmã cotovia Dizer-me se esperas O nascer do dia 14 47 Nota: Em 1979 Sérgio Godinho gravava um disco chamado ’Campolide’ e numa das canções cantavam, Adriano Correia de Oliveira, Zeca Afonso e Fausto. Essa canção chama-se ’Quatro quadras soltas’ e nas quadras, cada um dos convidados canta conforme o mencionado. Cantigas do Maio (eu fui ver a minha amada) Letra e música: Zeca Afonso In: Cantigas do Maio jj(Nov-95) Em G Eu fui ver a minha amada h7 Em lá prós lados dum jardim h7 G dei-lhe uma rosa encarnada Em para se lembrar de mim Eu fui ver o meu benzinho lá prós lados dum paçal dei-lhe o meu lenço de linho que é do mais fino bragal Minha mãe quando eu morrer ai chore por quem muito amargou para então dizer ao mundo ai Deus mo deu ai Deus mo levou Eu fui ver uma donzela numa barquinha a dormir dei-lhe uma colcha de seda para nela se cobrir Eu fui ver uma solteira numa salinha a fiar dei-lhe uma rosa vermelha para de mim se encantar Minha mãe quando eu morrer ... Eu fui ver a minha amada lä nos campos eu fui ver dei-lhe uma rosa encarnada para de mim se prender Verdes prados verdes campos onde está minha paixão as andorinhas não param umas voltam outras não Minha mãe quando eu morrer... 46 15 Canto moço Letra e música: Zeca Afonso In: ’Traz outro amigo também’, 1970 Victor Almeida, Fernando Farinha E A Somos filhos da madrugada A Pelas praias do mar nos vamos E Respondeu-me: com efeito nós temos aqui retida uma quadra sem papeis que encontramos na má vida Diz que é uma quadra oral sem identificação que uma quadra popular não precisa de cartão À procura de quem nos traga A Verde oliva de flor no ramo A D Das restantes quadras soltas não tinha sequer noticia dirigi-me a uma esquadra e descrevi-as a um policia Navegamos de vaga em vaga A D Não soubemos de dor nem mágoa E Pelas praias do mar nos vamos A À procura de manhã clara Lá do cimo de uma montanha Acendemos uma fogueira Para não se apagar a chama Que dá vida na noite inteira Mensageira pomba chamada Mensageira da madrugada Quando a noite vier que venha Lá do cimo de uma montanha Onde o vento cortou amarras Largaremos p’la noite fora Onde há sempre uma boa estrela Noite e dia ao romper da aurora Vira a proa minha galera Que a vitória já não espera Fresca, brisa, moira encantada Vira a proa da minha barca. Se diz que pertence ao povo o povo que venha cá que eu quero ver a licença o registo e o alvará [Fausto:] O i o, Quando se embebeda o pobre o i o ai, dizem olha o borracho o i o ai, quando se emborracha o rico acham graça ao figurão Fui com a quadra popular À procura da restante quando o policia de longe disse: venha aqui um instante Temos aqui uma outra não sei se você conhece desrespeita a autoridade e diz o que lhe apetece Tem uma rima forçada e palavras estrangeiras e semeia a confusão entre as outras prisioneiras Se for sua leve-a já que é pior que erva daninha olhe bem pra ela é sua? Olhei bem pra ela: é minha O i o ai, nós queremos é justiça o i o ai, e dinheiro para o bife o i o ai e não esta coboiada em que é tudo do sherife 16 45 Quatro quadras soltas Chamaram-me cigano Letra e música: Sérgio Godinho In: ’Campolide’, 79 Letra e música: Zeca Afonso In: Cantares de Andarilho Victor Almeida Arménia Rua Eu vi quatro quadras soltas À solta lá numa herdade amarrei-as com uma corda e carreguei-as p’rá cidade Chamaram-me um dia Cigano e maltês Menino, não és boa rés Abri uma cova Na terra mais funda Fiz dela a minha sepultura Entrei numa gruta Matei um tritão Mas tive o diabo na mão Cheguei com elas a um largo e logo ao largo se puseram foram ter com a família e com os amigos que ainda o eram Viram fados, viram viras viram canções de revolta e encontraram bons amigos em mais que uma quadra solta Uma viu um livro chamado ’Este livro que vos deixo’ e reviu velhas amizades eram quadras do Aleixo [Adriano:] O i o ai, há já menos quem se encolha o i o ai, muita gente fala e canta o i o ai, já se vai soltando a rolha que nos tapava a garganta Ora bem tinha marcado encontro com as quadras soltas pois sim, fiquei pendurado como um tolo ali às voltas Chegou uma e disse: Andei a cumprimentar parentes e eu aqui a enxotar moscas vocês são mesmo indecentes Respondeu-me: ó patrãozinho desculpe lá esta seca estive a beber um copinho com uma quadra do Zeca Havia um comboio Já pronto a largar E vi O diabo a tentar Pedi-lhe um cruzado Fiquei logo ali Num leito de penas dormi Puseram-me a ferros Soltaram o cão Mas tive o diabo na mão Voltei da charola de cilha e arnês Amigo, vem cá outra vez Subi uma escada Ganhei dinheirama Senhor D. Fulano Marquês Perdi na roleta Ganhei ao gamão Mas tive o diabo na mão Ao dar uma volta Caí no lancil E veio o diabo a ganir Nadavam piranhas Na lagoa escura Tamanhas que nunca tal vi Limpei a viseira Peguei no arpão Mas tive o diabo na mão [e é o próprio sôr Zeca Afonso que vai cantar aqui] O i o ai, disse-me um dia um careca o i o ai, quando uma cobra tem sede o i o ai, corta-lhe logo a cabeça encosta-a bem à parede 44 17 Contos Velhinhos Qualquer Dia Letra e música: Ângelo Araújo Intérprete: Zeca Afonso (fado de Coimbra) Música: Zeca Afonso Letra: F. Miguel Bernardes Intérprete: Zeca Afonso In: ’Contos Velhos Rumos Novos’ Fernando Pais jj(Dez-95) Contos velhinhos de amor numa noite branca e fria tantos trago para contar são pétalas duma flor desfolhadas ao luar contos velhinhos de amor numa noite branca e fria tantos trago para contar Em No Inverno bato o queixo G h7 Sem mantas na manhã fria Em No Inverno bato o queixo G Qualquer dia h7 Qualquer dia No Inverno aperto o cinto Enquanto o vento assobia ... Contos velhinhos os meus são contos iguais a tantos que tantos já nos contaram são saudades de um adeus de sonhos que já passaram contos velhinhos os meus são contos iguais a tantos que tantos já nos contaram No Inverno vou por lume Lenha verde não ardia ... No Inverno penso muito Oh que coisas eu já via ... No Inverno ganhei ódio E juro que o não queria ... 18 43 Por trás daquela janela Faz anos o meu amigo E irmão Coro dos Caídos Não pôs cravos na lapela Por trás daquela janela Nem se ouve nenhuma estrela Por trás daquele portão Fernando Pais Letra e música: Zeca Afonso Canta bichos da treva e da aparência Na absolvição por incontinência Cantai cantai no pino do inferno Em Janeiro ou em maio é sempre cedo Cantai cardumes da guerra e da agonia Neste areal onde não nasce o dia Cantai cantai melancolias serenas Como o trigo da moda nas verbenas Cantai cantai guizos doidos dos sinos Os vossos salmos de embalar meninos Cantai bichos da treva e da opulência A vossa vil e vã magnificência Cantai os vossos tronos e impérios Sobre os degredos sobre os cemitérios Cantai cantai ó torpes madrugadas As clavas os clarins e as espadas Cantai nos matadouros nas trincheiras As armas os pendões e as bandeiras Cantai cantai que o ódio já não cansa Com palavras de amor e de bonança Dançai ó parcas vossa negra festa Sobre a planície em redor que o ar empesta Cantai ó corvos pela noite fora Neste areal onde não nasce a aurora Nota: Comentário do autor, sobre esta música, in ’Cantares’: ’Um antigo poema incompleto serviu de base á música. O conjunto constitui como que um complemento dos vampiros entretidos, após a batalha, na recolha dos mais valiosos despojos.’ 42 19 Endechas a Bárbara escrava (aquela cativa) Por trás daquela janela Letra e música: Zeca Afonso In: ’Eu vou ser como a toupeira’ 72 Música: Zeca Afonso Letra: Camões In: Arménia Rua (dedicada a Alfredo Matos que se encontrava preso) Por trás daquela janela Por trás daquela janela Faz anos o meu amigo E irmão Versos de Segunda() (jeito de jj) mim Aquela cativa Que me tem cativo, Porque nela vivo Já não quer que viva. Eu nunca vi rosa Em suaves molhos, Que pera meus olhos Fosse mais fermosa. Não pôs cravos na lapela Por trás daquela janela Nem se ouve nenhuma estrela Por trás daquele portão Se aquela parede andasse Se aquela parede andasse Eu não sei o que faria Não sei Nem no campo flores, Nem no céu estrelas Me parecem belas Como os meus amores. Rosto singular, Olhos sossegados, Pretos e cansados, Mas não de matar. Se a minha faca cortasse Se aquela parede andasse E grito enorme se ouvisse Duma criança ao nascer Talvez o tempo corresse Talvez o tempo corresse E a tua voz me ajudasse A cantar Uma graça viva, Que neles lhe mora, Pera ser senhora De quem é cativa. Pretos os cabelos, Onde o povo vão Perde opinião Que os louros são belos. Mais dura a pedra moleira E a fé, tua companheira Mais pode a flecha certeira E os rios que vão pró mar Por trás daquela janela Por trás daquela janela Faz anos o meu amigo E irmão Pretidão de Amor, Tão doce a figura, Que a neve lhe jura Que trocara a cor. Leda mansidão, Que o siso acompanha; Bem parece estranha, Mas bárbara não. Na noite que segue o dia Na noite que segue o dia O meu amigo lá dorme De pé E o seu perfil anuncia Naquela parede fria Uma canção de alegria No vai e vem da maré Presença serena Que a tormenta amansa; Nela, enfim, descansa Toda a minha pena. Esta é a cativa Que me tem cativo; Por trás daquela janela 20 41 Nota: Comentário do autor in ’Cantares’ E pois nela vivo, É força que viva. Lourenço Marques 1956. Versos destinados à página literária de ’Voz de Moçambique’. A música peca por manifesta ausência de identificação com os espírito dos ritmos e temas africanos. 40 21 Entrudo Por Aquele Caminho Letra e música: popular: Beira-Baixa Intérprete: Zeca Afonso In: 1970 Letra e música: Zeca Afonso Intérprete: Adriano Correia de Oliveira Fernando Pais Joaquim Leal, Fernando Faria F#m Ó entrudo Ó entrudo E F#m Ó entrudo chocalheiro E Que não deixas assentar F#m as mocinhas ao solheiro Eu quero ir para o monte Eu quero ir para o monte Que no monte é qu’eu estou bem Que no monte é qu’eu estou bem Eu quero ir para o monte Eu quero ir para o monte Onde não veja ninguém Que no monte é qu’eu estou bem Estas casa são caiadas Estas casa são caiadas Quem seria a caiadeira Quem seria a caiadeira Por aquele caminho De alegria escrava Vai um caminheiro Com sol nas espáduas Ganha o seu sustento De plantar o milho Aquece-o a chama De um poder antigo Leva o solitário Sob os pés marcado Um rasto de sangue De sangue lavado Levanta-se o vento Levanta-se a mágoa Soltam-se as esporas De uma antiga chaga Mas tudo no rosto De negro nascido Indica que o negro É um espectro vivo Foi o noivo mais a noiva Foi o noivo mais a noiva Com um ramo de laranjeira Quem seria a caiadeira Quem lhe dá guarida Mostra-lhe a pintura Duma cor que valha Para a sepultura Não de mão beijada Para que não viva Nele toda a raiva Dessa dor antiga Falta ao caminheiro Dentro da algibeira Um grão de semente De outra sementeira O sol vem primeiro Grande como um sino Pensa o caminheiro Que já foi menino 22 39 O homem da gaita Epígrafe para a arte de Furtar (roubamme Deus) Letra e música: Zeca Afonso Arménia Rua Música: Zeca Afonso Letra: Jorge de Sena In: Traz outro amigo também Havia na terra Um homem que tinha Uma gaita bem de pasmar Se alguém a ouvia Fosse gente ou bicho Entrava na roda a dançar jj(Nov-95) Roubam-me Deus Outros o diabo Quem cantarei Um dia passava Um sujeito e ao lado Um burro com louça a trotar O dono e o burro Ouvindo a tocata Puseram-se logo a bailar Roubam-me a Pátria e a humanidade outros ma roubam Quem cantarei Sempre há quem roube Quem eu deseje E de mim mesmo Todos me roubam Partiu-se a faiança Em cacos c’o a dança E o pobre pedia a gritar Ao homem da gaita Que acabasse a fita Mas nada ficou por quebrar Quem cantarei Quem cantarei Roubam-me Deus Outros o diabo Quem cantarei O Juiz de fora Chamado na hora ’Só tenho que te condenar Mas quero uma prova Se é crime ou se é trova Faz lá essa gaita tocar’ Roubam-me a Pátria e a humanidade outros ma roubam Quem cantarei O homem da louça Sentado na sala Levanta-se e põe-se a saltar Enquanto a rabeca Não se incomodava A sua cadeira era o par Roubam-me a voz quando me calo ou o silêncio mesmo se falo Aqui d’El Rei. Pulava o jurista De quico na crista Ninguém se atrevia A parar E a mãe entrevada Que estava deitada Levanta-se E põe-se a bailar Vá de folia vá de folia Que há sete anos me não mexia 38 23 Eu vou ser como a toupeira Oh Coimbra do Mondego Letra e música: Zeca Afonso In: ’Eu vou ser como a toupeira’, 72 Letra e música: Zeca Afonso (?) (fado de Coimbra) A. Guimarães Eu vou ser como a toupeira Que esburaca Penitência, diz a hidra Quando há seca Eu vou ser como a gibóia Que atormenta Não há luz que não se veja Da charneca Oh Coimbra do Mondego e dos amores que eu lá tive [bis] quem te não viu anda cego quem te não ama não vive [bis] Do Choupal até à Lapa foi Coimbra meus amores [bis] e sombra da minha capa deu no chão abriu em flores [bis] E não me digas agora Estás à espera Penitência diz a hidra Quando há seca E se te enfias na toca És como ela Quero-me à minha vontade Não na tua Ó hidra, diz-me a verdade Nua e crua Mais vale dar numa sargeja Que na mão De quem nos inveja a vida E tira o pão 24 37 No vale de Fuenteovejuna Grândola Vila Morena Música: Zeca Afonso Letra: Lope de Vega; (versão de) Natália Correia In: ’Contos velhos rumos novos’, Letra e música: Zeca Afonso In: ’Cantigas do maio’, 1971 Arménia Rua J.João (letra incompleta: não consegui entender uma parte do refrão) Grândola, vila morena Terra da fraternidade O povo é quem mais ordena Dentro de ti, ó cidade No vale de Fuenteovejuna cabelos aos vento estava seguida pelo cavaleiro o da cruz de Calatrava entre a ramada se esconde de vergonhosa e turbada Dentro de ti, ó cidade O povo é quem mais ordena Terra da fraternidade Grândola, vila morena -Para que te escondes moça formosa desejos ??? paredes removem Em cada esquina um amigo Em cada rosto igualdade Grândola, vila morena Terra da fraternidade Acercou-se o cavaleiro e ela confusa e turbada gelosias quis fazer das ramas emaranhadas Terra da fraternidade Grândola, vila morena Em cada rosto igualdade O povo é quem mais ordena mas como tem amores as montanhas e os mares atravessa facilmente disse-lhe estas palavras À sombra duma azinheira Que já não sabia a idade Jurei ter por companheira Grândola a tua vontade -Para que te escondes moça formosa desejos ??? paredes removem Nota: No vale de Fuenteovejuna cabelos aos vento estava seguida pelo cavaleiro o da cruz de Calatrava entre a ramada se esconde de vergonhosa e turbada Hoje houvi na rádio a seguinte história: Algumas destas quadras forma proibidas pela censura! No entanto, num concerto (Coliseu?) quando chegou a altura dessas quadras, Zeca Afonso cantou ’la la la’ e o público em coro cantou a letra que faltava! Claro que nem a PIDE o podia impedir! -Para que te escondes moça formosa desejos ??? paredes removem 36 25 Já o tempo se habitua Letra e música: Zeca Afonso In: ’Contos velhos rumos novos’ Arménia Rua Já o tempo Se habitua A estar alerta Não há luz Que não resista À noite cega Já a rosa Perde o cheiro E a cor vermelha Cai a flor Da laranjeira À cova incerta Nota: Balada de inspiração Brassens, define simultaneamente um estado de espírito e uma autobiografia, uma crise de consciência (destruição do sentimento de remorso) e uma meio social (os prostíbulos do ’Terreiro da Erva’ ou os seus sucedâneos mais ou menos bem iluminados. Zeca Afonso, ’Cantares’ Água mole Água bendita Fresca serra Lava a língua Lava a lama Lava a guerra Já o tempo Se acostuma À cova funda Já tem cama E sepultura Toda a terra Nem o voo Do milhano Ao vento leste Nem a rota Da gaivota Ao vento norte Nem toda A força do pano Todo o ano Quebra a proa Do mais forte Nem a morte Já o mundo Se não lembra De cantigas Tanta areia Suja tanta Erva daninha A nenhuma Porta aberta Chega a lua Cai a flor Da laranjeira À cova incerta Nem o voo Do milhano ... Entre as vilas E as muralhas Da moirama Sobre a espiga E sobre a palha Que derrama Sobre as ondas Sobre a praia Já o tempo Perde a fala E perde o riso 26 35 No lago do Breu Perde o amor Letra e música: Zeca Afonso (fado de Coimbra) Fernando Carvalho, Fernando Pais Ré No lago do Breu, Sem luzes no céu nem bom Deus Lá Que venha abrasar os ateus, Ré No lago do Breu. No lago do Breu, A noite não vem sem sinais Que fazem tremer os mortais, No lago do Breu. Lá Mas quem não for mau, não vá Ré Que o céu não se comprará Lá Não vejo a razão p’ro ser Ré Quem teme e não quer viver Sol- Ré Sem luzes no céu só mesmo como eu Lá Ré No lago do Breu. No lago do Breu, Os dedos da noite vão juntos Para amortalhar os defuntos, No lago do Breu. No lago do Breu, A lua nasceu mas ninguém Pergunta quem vai ou quem vem No lago do Breu. Mas quem não for mau, não vá Que o céu não se comprará Não vejo a razão p’ro ser Quem teme e não quer viver Sem luzes no céu só mesmo como eu, No lago do Breu. No lago do Breu, Meninas perdidas eu sei, Mas só nestas vidas me achei, No lago do Breu. 34 27 Maria Faia Natal dos simples Letra e música: popular: Beira-Baixa Intérprete: Zeca Afonso In: traz outro amigo também Letra e música: Zeca Afonso In: Cantares de Andarilho (reis, janeiras, canção de natal) jj; Creissac(Jan-96) (Malpica :moda da azeitona) Arménia Rua Am E Eu não sei como te chamas Am oh Maria Faia G C nem que nome te hei-de eu pôr E Vamos cantar as janeiras Vamos cantar as janeiras Por esses quintais adentro vamos Às raparigas solteiras Am oh Maria Faia oh Faia Maria cravo não que tu és rosa oh Maria Faia Rosa não que tu és flor oh Maria Faia oh Faia Maria Vamos cantar orvalhadas Vamos cantar orvalhadas Por esses quintais adentro vamos Às raparigas casadas Vira o vento e muda a sorte Vira o vento e muda a sorte Por aqueles olivais perdidos Foi-se embora o vento norte Não te quero chamar cravo Que te estou a engrandecer Chamo-te antes espelho Onde espero de me ver Muita neve cai na serra Muita neve cai na serra Só se lembra dos caminhos velhos Quem tem saudades da terra O meu abalou Deu-me uma linda despedida Abarcou-me a mão direita Adeus oh prenda querida Quem tem a candeia acesa Quem tem a candeia acesa Rabanadas pão e vinho novo Matava a fome à pobreza Nota: Se fôr muito baixo tentar: Dm A Dm C F A Dm 28 Já nos cansa esta lonjura Já nos cansa esta lonjura Só se lembra dos caminhos velhos Quem anda à noite à ventura 33 Milho verde Menina dos olhos tristes Letra e música: popular: Beira-Baixa Intérprete: Zeca Afonso Música: Zeca Afonso Letra: Reinaldo Ferreira Intérprete: Adriano Correia de Oliveira; Zeca Afonso Jorge Pinto jj(fev.96) Milho verde, milho verde Milho verde maçaroca À sombra do milho verde Namorei uma cachopa Em Menina dos olhos tristes Am Em o que tanto a faz chorar G Am o soldadinho não volta Milho verde, milho verde Milho verde miudinho À sombra do milho verde Namorei um rapazinho h7 Em do outro lado do mar Em h7 Em Vamos senhor pensativo olhe o cachimbo a apagar o soldadinho não volta do outro lado do mar Milho verde, milho verde Milho verde folha larga À sombra do milho verde Namorei uma casada Senhora de olhos cansados porque a fatiga o tear o soldadinho não volta do outro lado do mar Mondadeiras do meu milho Mondai o meu milho bem Não olhais para o caminho Que a merenda já lá vem Anda bem triste um amigo uma carta o fez chorar o soldadinho não volta do outro lado do mar A lua que é viajante é que nos pode informar o soldadinho já volta está mesmo quase a chegar Vem numa caixa de pinho do outro lado do mar desta vez o soldadinho nunca mais se faz ao mar Nota: Zeca Afonso: ’Menina dos Olhos Tristes’ Single Orfeu STAT803 1969 Zeca Afonso: ’De Capa e Batina’ CD Movieplay JA-8000 1996 32 29 Menino de oiro Menino d’oiro Letra e música: Zeca Afonso In: ’As primeiras canções’ (fado de Coimbra) Letra e música: Zeca Afonso In: ’As primeiras canções’ (canção de Coimbra) Fernando Carvalho Aménia Rua O meu menino é d’oiro É d’oiro fino Não façam caso que é pequenino O meu menino é d’oiro D’oiro fagueiro Hei-de levá-lo no meu veleiro. O meu menino é d’oiro É d’oiro fino Não façam caso Que é, pequenino Não façam caso Que é pequenino Venham aves do céu Pousar de mansinho Por sobre os ombros do meu menino Do meu menino, do meu menino Venha comigo venham Que eu não vou só Levo o menino no meu trenó. O meu menino é d’oiro D’oiro fagueiro Hei-de levá-lo No meu veleiro Hei-de levá-lo No meu veleiro Quantos sonhos ligeiros p’ra teu sossego Menino avaro não tenhas medo Onde fores no teu sonho Quero ir contigo Menino de oiro sou teu amigo Venham altas montanhas Ventos do mar Que o meu menino Nasceu p’r’amar Venha comigo venham Que eu não vou só Levo o menino no meu trenó. Venham aves do céu Pousar de mansinho Por sobre os ombros Do meu menino Do meu menino Do meu menino Venham comigo venham Que eu não vou só Levo o menino No meu ternó Levo o menino No meu ternó O meu menino é d’oiro É d’oiro é de oiro fino Não façam caso que é pequenino O meu menino é d’oiro D’oiro fagueiro Hei-de levá-lo no meu veleiro. Venham altas montanhas Ventos do mar Que o meu menino Nasceu p’r’amar Venha comigo venham Que eu não vou só Levo o menino no meu trenó. 30 31