1 O desenvolvimento da Comunicação e de suas diversas formas
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1 O desenvolvimento da Comunicação e de suas diversas formas
http://www.photoshowcase.com.br/infotec/ComPhoto1.pdf Na sua tradição de servir e informar você sobre as questões pertinentes à fotografia utilizada para a Comunicação Social, The Photographic Show Case oferece um apanhado geral do desenvolvimento dos estudos da comunicação humana, para que melhor possamos entender o momento histórico no qual atuamos, como coadjuvantes desse processo, atualmente. 1 O desenvolvimento da Comunicação e de suas diversas formas, na sociedade humana. “ O interacionismo social baseia-se, em última análise, em três premissas. A primeira estabelece que os seres humanos agem em relação ao mundo fundamentando-se nos significados que ele lhes oferece. A segunda presmissa consiste no fato de que os significados de tais elementos mundanos são provenientes da ou provocados pela interação social que se mantám com as outras pessoas. A terceira premissa reza que tais significados são mnipulados por um processo interpretativo (e por este modificados) utilizado pela pessoa ao se relacionar com os elementos com que entra em contato.” Blumer apud Rüdiger, 1995, p.33. Qualquer sociedade apenas existe como tal, em transcendência a um simples aglomerado de pessoas, quando essas pessoas estão em interação, visando à construção de um modo de vida que muito tem de comum. Tornar informações e comportamentos comuns é questão da comunicação. Sendo assim, é fácil compreender que a sociedade apenas se constitui através da comunicação. É ela que liga os indivíduos, possibilitando a sua interação. É da interação dos indivíduos que resulta o seu desenvolvimento, assim como o da sociedade em si. O Século XIX iniciou um novo desenvolvimento de canais físicos de comunicação, com as invenções do telégrafo, do telefone e do rádio. Também viu nascer a compreensão da Comunicação como um fator de integração das sociedades humanas e de gestão das multidões. Bronckart (2003) denomina de interacionismo social uma posição epistemológica geral, na qual se encontram correntes da filosofia e das ciências humanas, que admitem que as propriedades da conduta humana sejam resultado de um processo histórico de socialização possibilitado pelo desenvolvimento das habilidades e dos instrumentos de comunicação. Nesse contexto, os processos de socialização e de individuação são vertentes complementares e indissociáveis do ser humano. 1 http://www.photoshowcase.com.br/infotec/ComPhoto1.pdf 1.1 Algumas visões transdisciplinares A comunicação humana apresenta vários níveis de análise, desde o nível material, onde a variável analisada é a simples troca de dados físicos através de equipamentos mais ou menos adequados para isso, até o nível da ética e da sabedoria das trocas sutis que se realizam entre indivíduos humanos em evolução. Para abordar a comunicação humana de forma útil, como estudo que orienta a ação de um profissional de marketing, torna-se necessária a abordagem do maior número possível de dimensões de análise, uma vez que elas todas atuam concomitantemente nas iniciativas de comunicação que realizamos, procurando algum efeito sobre o mercado. Essa constatação nos leva a privilegiar a abordagem transdisciplinar do estudo da comunicação, onde vamos encontrar contribuições de praticamente todas as disciplinas para constituir o arcabouço teórico que nos permitirá um melhor entendimento dessa questão. 1.1.1 Visões pedagógicas do desenvolvimento humano e da socialização. Lev Vygotsky e Jean Piaget, dois construtivistas 1 do início do Século XX, trouxeram uma visão ainda muito atual sobre a influência da comunicação na educação e no desenvolvimento dos indivíduos, tendo em vista seu processo de socialização. Piaget aborda o desenvolvimento humano através do que denominou de Estruturalismo Genético, interessando-se pelos processos cognitivos nas interações discursivas dos sujeitos, fornecendo excelente material para uma análise sócio-cognitiva do discurso e das regulações sociais através da negociação e de contratos entre interlocutores. Seus estudos podem ser complementados por outros autores, em outras disciplinas, como, por exemplo, o antropólogo Patrick Charaudeau, que examina o fenômeno da socialização pela análise de discursos, ritmos e rituais humanos, todos os eventos comunicativos. Piaget coloca ênfase nos aspectos estruturais e nas leis de caráter universal, de origem biológica, do desenvolvimento, enquanto Vygotsky estudou a evolução humana com foco no papel do contexto histórico e cultural sobre a aprendizagem e o conhecimento, tratando essa evolução como o resultado de um processo sócio-histórico. Nesse processo, encontramos enfatizado o papel da comunicação e da linguagem, que permitem a aquisição de conhecimentos através da interação do sujeito com o meio. Os conceitos e as mentalidades que vão caracterizar os vários estágios de desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade são compreendidos através do processo de construção de significados pelos indivíduos (processo central da comunicação), através do processo de internalização (diálogo interno que constrói o significado do mundo, para o indivíduo) e através da compreensão do papel dos vários transmissores de conhecimento que complementam os processos de aprendizagem espontânea da vida cotidiana. Uma idéia central em Vygotsky é a 1 Construtivista – concebe a inteligência como construída a partir as relações recíprocas do homem com o meio. 2 http://www.photoshowcase.com.br/infotec/ComPhoto1.pdf mediação. Para conhecer, os indivíduos não têm acesso direto aos objetos do mundo, mas sim acesso mediado pelas restrições do seu sistema perceptivo, pelos sistemas simbólicos dos quais dispõem para transformar a leitura do ambiente em informação mentalmente manipulável e pelas várias relações com outros sujeitos, o outro social. Os sistemas simbólicos de representação do real fornecidos pela cultura determinarão as formas de organização do real e serão mediadores entre o sujeito e os objetos do conhecimento. Os indivíduos em interação farão dessa cultura, por sua vez, objeto de constante processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significações. Vários autores defenderam que a forma de raciocínio e de pensamento não é simplesmente uma questão psicológica, mas também uma questão cultural, intimamente ligada à língua. Segundo a hipótese whorfiana (WORF, 1956), nossa língua natal, aquela através da qual fomos criados e educados, estrutura a nossa visão do mundo, nosso comportamento social. Ela predispõe nossa maneira de apreender os problemas e nosso comportamento face à ação. O lingüista SAPIR (1929) foi o primeiro a relatar observações de como a língua interfere na criação de formas específicas de organização mental e de categorização dos objetos percebidos. Conforme esse autor, ela interfere sobre nossa maneira de olhar o mundo, de descrevê-lo, de interagir com ele e, finalmente, de construir a nossa realidade. Muito estudada foi também a maneira como as diferentes formas de organização mental influenciam a criação das línguas, como instrumentos de representação da realidade. Existem mais de dez palavras para designar a neve entre os esquimós, quando para um brasileiro apenas uma palavra basta. A conjuntura climática do esquimó, entretanto, submetido constantemente à presença da neve, faz com que diferenças sutis entre os tipos de nevasca sejam percebidas mais vivazmente. Para um brasileiro, que tem contato com ela apenas pela presença de manchas brancas nas gravuras de terras longínquas, uma palavra serve. De outra parte, um brasileiro típico apresenta uma certa dificuldade em compreender que tipo de pessoa e de estrutura mental se escondem misteriosamente atrás de uma língua que não possui a palavra saudade nem a palavra namorar. E que tipo de pessoa ama a sopa que prova com o mesmo vocábulo que ama seu cônjuge 2 ? Sendo assim, em Vygotsky, a interação social e o instrumento lingüístico (a comunicação) são decisivos para o desenvolvimento e para a formação da consciência. 1.1.2 As contribuições de Mead para a Psicologia Social. George Herbert Mead, um interacionista 3 do Século XX, participante juntamente com Cooley, Sapir, Park e Blumer da Escola de Chicago, partiu do pressuposto de que as interações sociais favorecem tanto o desenvolvimento de valores éticos quanto a degradação social e moral nos indivíduos. Introduz o conceito de self como uma instância cognitiva e social que modula o controle imposto pela ordem social com a capacidade 2 É o caso da língua francesa, que não faz distinção entre gostar, apreciar e amar. "J'aime" pode ser associado a uma atividade aprazível, a uma delícia gastronômica, assim como à grande paixão de nossas vidas. Algumas vezes a expressão é um pouco amenizada pela forma "J'aime bien", para fazer, por exemplo, a distinção entre os sentimentos relacionados a um amigo e a um namorado, se bem que tanto para um, como para outro, a expressão "ami" é utilizada. 3 Interacionista – considera o que é problemático no processo interativo: as tensões no interior das instituições sociais. 3 http://www.photoshowcase.com.br/infotec/ComPhoto1.pdf de tomar decisões autônomas nos campos pessoal e político. Um autor ainda atual, Mead aborda o processo comunicativo realizado através de instituições com finalidades educativas questionando sobre o peso das relações sociais no processo de construção do psiquismo, manifestas na constituição da inteligência, do pensamento, da criticidade, da ética e dos valores, questões essas que continuam, ainda, sem resposta definitiva. Para ele, também, as competências comunicativas e a linguagem são aspectos indissociáveis desse processo. O progressivo processo de formação do self aparece intimamente ligado à ampliação das competências comunicativas da criança, razão pela qual o processo de aquisição da linguagem é um aspecto dele indissociável. Para Odair Sass (1992) a linguagem é uma condição imprescindível para o indivíduo controlar a sua ação no mundo, constituindo uma componente fundamental da individuação. Mead (1934/1967) defende que a comunicação com o outro social funciona como mediadora da formação do pensamento e da consciência, tornando o indivíduo um reflexo do meio social, assim como permite a esse modificar as instituições sociais na sua interação com elas. Mead ainda defende o caráter multidimensional do desenvolvimento do indivíduo e da sociedade, quando dispõe o processo de aprendizagem como um evento intelectual, físico, emocional, social, afetivo, ético e ideológico. Giroux e McLaren (1993) complementam essa percepção quando colocam que o processo de significação dos objetos da experiência física e social, processo central da comunicação, não ocorre fora de quadros ideológicos, valorativos, políticos e éticos presentes na sociedade mais ampla. É na relação entre a linguagem e a experiência que as significações da realidade são construídas. Sendo assim, a forma das relações sociais existentes num grupo (relações sociais assimétricas, hierárquicas, de dominação, de exploração, de exclusão ou democráticas) também modula a forma de representação e de construção do discurso no seio desse grupo. Uma mudança social, no sentido evolutivo, passa necessariamente pela luta por atribuição de novas significações à realidade social, compondo novos discursos, não somente verbais, mas em todos os níveis de linguagem praticados na sociedade (gestos, atitudes). A experiência pode se ajustar às significações já formadas ou pode transformar a linguagem para que esta renomeie e resignifique aquela. O sujeito, em confronto com a experiência concreta, pode acolher uma nova forma de conceber a realidade que foge das significações instituídas, afirmando, assim, a possibilidade instituinte do real. A sociedade se confunde estruturalmente com a cultura, na medida em que representa um fenômeno gerado simbolicamente pela comunicação. As pessoas não agem em função das coisas, mas do significado que as coisas tomam no processo da comunicação. O self não é um dado imediato, com o qual se nasce, mas uma construção simbólica, que surge no processo de interação do ser com os seus semelhantes, dentro de determinada comunidade. Ao mesmo tempo, a comunicação (persuasão) é o meio pelo qual tentamos, consciente ou inconscientemente, conservar ou modificar a estrutura simbólica vigente na sociedade (DUNCAN, 1962: 132). Sendo assim, ela é o principal instrumento de exercício de poder. A comunicação cria e sustenta 4 http://www.photoshowcase.com.br/infotec/ComPhoto1.pdf determinadas hierarquias simbólicas, em que se mantém um sistema de poder. Os símbolos são portadores de valores, valorizam ou desvalorizam os seres e as coisas, conforme a interpretação que se sedimentou neles durante a história. 1.1.3 As comunidades Atualmente se discute muito as inovações tecnológicas que proporcionaram o processo de interação social mediado pelas tecnologias, o que se chamou de Comunicação Mediada por Computador (CMC), e que foi infinitamente potencializada pela Inernet. Nesse contexto, o processo de socialização se vê redicalmente ampliado com o aparecimento das comunidades virtuais, uma modalidade de agregação on-line de sujeitos dispersos geograficamente em torno de interesses comuns, às vezes louváveis, às vezes supérfulos e passageiros (MOURA, 2005). Bauman (2003) refere-se às comunidades como círculos aconchegantes para as vítimas de frialdade na sociedade real. Novas características surgem nas interações sociais desses grupos com alto nível de espscialização, possibilidade de anonimato e uma forma dispersiva de agregação, que tendem a reduzir o nível de colaboração, a motivação e o envolvimento, em comparação às comunidades presenciais. Altamente democráticas, essas comunidades potencializam a difusão das culturas dos povos dispersos geograficamente, contribuindo para o surgimento de uma nova forma de inclusão social, ao alcance das minorias étnicas que conseguem escapar da exclusão digital. Surge então um novo foco de estudos para a comunicação como expressão das diferenças num terrritório concebido como um “não lugar” – o ciberespaço. Como se processa a agregação social no contexto digital e suas implicações nas relações presenciais? Nesse processo de mundialização econômica e tecnológica se faz presente a mundialização dos espíritos, nos aspectos político, cultural e social (QUÉAU, 2001). O self, que tanto preocupou pedagogos, psicólogos e antropólogos do século passado, passa a ser apresentado socialmente nas comunidades virtuais através de textos, de imagens produzidas, de forma atópica e, muitas vezes, protegidos pelo anonimato. A possibilidade de criação de avatares que transitam pelo ciberespaço permite facilmente que se assuma vários selves, distintas personalidades que multiplicas a possibilidade criativa de ser. A pertinência a várias comunidades faz aparecer a noção de “portfolios de sociabilidade”, que torna possível navegar em vários grupos sociais, muito mais do que antes. Nessa modalidade de interação, a supressão do canal visual, onde se manifestavam a expressão corporal, vestimentas, e os comportamentos psicológicos enfraquecem a comunicação realizada, ao mesmo tempo que reduzem a importância da etnia e do gênero na modulação das interações. Caslells (2003) salienta a importância do aparecimento das redes, recontextualizando a sociedade contemporânea. O espaço público requisitado por Habermas tem sua forma e concepção modificadas, através do surgimento do ciberespaço. As novas possibilidades de interlocução e de negociação dos membros da comunidade alterou drasticamente o design das interações sociais. 5 http://www.photoshowcase.com.br/infotec/ComPhoto1.pdf Sempre há, tanto no entendimento da formação das sociedades, quanto nas das comunidades, a tensão entre a liberdade individual (processo de individuação) e a constrição da forma original do indivíduo aos padrões exigidos pelo grupo. É preciso um acordo tácito entre os membros, em nome da segurança do corpo comum, em que os indivíduos renunciam a aspectos de sua manifestação espontânea individual para poderem se enquadrar no grupo e poder dele desfrutar as benesses. Há também diferentes padrões de pertencimento às comunidades, que as faz diferir substancialmente da sociedade. Cada indivíduo pode pertencer a comunidades de forma passageira ou mais permanente, de forma menos ou mais compromissada. O termo cultura digital ou cibercultura tenta dimensionar as transformações em ritmo frenético envolvendo sujeito, informação, cultura e mediação tecnológica da comunicação (LEMOS, 2000) que reinventa o cotidiano e instaura, por intermédio das recentes formas de agregação eletrônica, novas formas de sociabilidade. As comunidades virtuais permitiram o aparecimento de uma nova forma de comunicação de marketing. O ebook, quase sempre uma forma emocional de comunicação na rede, é uma ferramenta para gerar a indicação espontânea de conteúdos, por encantamento do receptor, e este conceito "de boca-em-boca online" chama-se marketing viral. De forma simplificada, marketing viral é qualquer estratégia que encoraja indivíduos a passar adiante sua mensagem de marketing (seu argumento de venda) criando uma oportunidade de crescimento exponencial da exposição e influência desta mensagem. Como um vírus, esta estratégia usa o rápido crescimento para uma explosão de milhares ou milhões de leitores. 1.1.4 A comunicação como impulso da evolução humana. Da observação, desde o passado até nossos dias, da importância que tem a comunicação no direcionamento e na aceleração da evolução humana, podemos compreender a importância de tratarmos seu ensino, na formação de profissionais de todos os tipos, com extrema responsabilidade. Vimos acontecer, desde o final do Século XIX até nossos dias, um desenvolvimento fantástico dos suportes físicos e materiais para a comunicação. Vimos também a intensa modificação que isso causou nos processos da humanidade, acelerando a evolução de forma nunca antes conhecida, desde a invenção da imprensa. Os meios físicos de comunicação disponíveis, e em rápida evolução, no início do Século XXI já permitiram a transcendência as sociedade industrial para a sociedade da informação, com todos os reflexos na economia, nas formas de interação social, nas possibilidades de associações e de quebra de fronteiras que antes pareciam limites. Essa facilitação do contato entre pessoas interferiu em todas as demais dimensões de nossa consciência. Tornou-nos mais maduros emocionalmente, uma vez que através da popularização de todas as formas de expressão artística e cultural conseguiu-se experimentar as mais variadas emoções, sentimentos, humores. Onde se conseguiu criar um sentido de identidade que não ficou mais confinado a um pequeno grupo de pessoas que nos impunha seu pequeno modo de ver uns aos outros. As identidades étnicas, de gênero, 6 http://www.photoshowcase.com.br/infotec/ComPhoto1.pdf de crença, de modos de vida foram abrtas, apreciadas e discutidas em massa, possibilitando o alargamento do olhar de cada um, sobre a sua identidade e as dos demais. Isso gerou, através do alargamento das possibilidades de comunicação social, uma maior possibilidade de autoestima, para cada um, além do respeito à diferença do outro. O desenvolvimento e a discussão permanentes das possibilidades de comunicação social trouxe ainda inteligência, sociabilidade, e conhecimento, que geraram uma sociedade altamente organizada, concebendo técnicas de reprodução em massa de informação, coisas e mentalidades, que caracterizou o Século XX. Esse século conheceu um desenvolvimento sem precedentes, de vertiginosa rapidez. Do desgaste gerado pelos excessos cometidos na aprendizagem da sociedade industrial, começou a surgir, então, a consciência de que outras dimensões humanas necessitam entrar nas agendas do novo século. As preocupações com a degradação ambiental, com a recessão econômica e com a reconversão tecnológica sugerem que temos a aprender uma nova forma de convivência planetária, mesmo que essa perspectiva pareça por demais assustadora para as mentalidades conservadoras. Hoje, vou passear no mundo sutil da Second Life com meu amigo Drew, irlandês, e minha amiga Candice, francesa, com os quais troco idéias e informações como antes fazia com meus coleguinhas da rua. Temos um mundo em comum, e uma cultura que começa a criar outra segmentação brutal entre pessoas, que não é mais de classe, de raça, de língua ou de qualquer outra coisa além do acesso às novas possibilidades de comunicação. A nova geração de jovens, na circunstância planetária em que estão se formando, apresentam uma tendência muito maior do que a nossa, os mais velhos, para a comunicação verdadeira, ética, em sua coragem de ser simples e direta, aberta e clara. Tenho certeza de que estamos nos conduzindo para uma humanidade mais honesta, mais verdadeira, quando percebo também isso ser gestado no seio das grandes organizações. As corporações que tanto se desgastaram em seus abusos de poder e de mau uso da comunicação persuasiva instrumental perceberam enfim o valor da credibilidade, da confiabilidade uma vez que são muito apreciadas pelo seus mercados e, consequentemente, procuradas pelos planejadores de negócios e de imagem organizacional. Felizmente a natureza tem sua própria forma de justiça evolutiva. Para ser confiável, não tem outra alternativa de longo prazo a não ser a de ser, realmente, digno de confiança. Isso conduziu algumas das grandes corporações, na sua busca de manter a reputação corporativa favorável aos negócios, a buscar esse comportamento confiável, honrando cada vez mais a palavra proferida, o compromisso assumido, o respeito pelas pessoas e pelo planeta onde todos cohabitamos, os valores das sociedades pelas quais transitamos. O que se acreditava no início do século passado, sobre a onipotência das mídias de massa sobre uma população ingênua e indefesa, permeável a todo e qualquer abuso manipulativo, tornou-se, nesse momento histórico, uma hipótese empiricamente refutada. O que vemos é o movimento de acomodação e de reestruturação ideológica e atitudinal que as grandes corporações estão sendo conduzidas, rapidamente, a adotarem, premidas pelos efeitos da opinião pública sobre o consumo de suas marcas, sobre 7 http://www.photoshowcase.com.br/infotec/ComPhoto1.pdf sua lucratividade e sobre a capacidade que terão de sobreviver a momentos de crise, onde a competição se acirra e se complexifica. Isso tudo aconteceu, acontece e acontecerá graças à comunicação, à capacidade de contato, de torça de informações e de idéias entre as pessoas, com a compactação do planeta, antes tão grande, ao acesso que tenho, desde meu computador, à sociedade de rede, onde não há mais fronteiras. 1.2 Bibliografia BAUMAN, Z. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro, Zohar. 2003. CARROLL, J.B. Language Thought and Reality, Selected Writings of Benjamin Lee Whorf. Cambridge, The Mit Press. 1956. CASTELLS, M. A galáxia da Internet: Reflexões sobre a Internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro, Zohar, 2003. DUNCAN. H. Communication and social order. New York, Oxford. 1962. LEMOS, A. Cibercultura: técnica, sociabilidade e civilização do virtual. In PRETTO, N. (org.) Globalização e Educação. Ijuí, Unijuí, 2000. RÜDIGER,F. Comunicação e Teoria Social Moderna. Porto Alegre. Fênix. 1995 SAPIR, E. The Status of Linguistics as a Science, Language, 5, 1929, 207-214. WHORF B.L. Language, thought and reality. New York, Wiley. 1956. 2 As contribuições norte-americanas ao estudo da comunicação Situada na encruzilhada de várias disciplinas, a Comunicação Social, enquanto campo teórico tem a história de seu desenvolvimento difícil de traçar. Ela foi construída através de contribuições dos estudiosos da Filosofia, da História, da Geografia, da Psicologia, da Sociologia, além dos esforços de compreensão nos campos da Etonologia, da Economia, das Ciências Políticas, da Biologia, da Cibernética e das Ciências Cognitivas. Sempre que, de alguma forma estudamos o Ser Humano, temos que, forçosamente, passar por suas atividades comunicativas, pois elas constituem uma parte grande e importante do seu entendimento. O desenvolvimento do campo teórico da Comunicação acompanha o sentido do desenvolvimento da consciência humana, que passa por fases diferenciadas de foco da atenção que, de forma seqüencial, vai privilegiando temas de ordem física e material (primeiro nível), de ordem emocional e psicológica (segundo nível), de ordem mental e social (terceiro nível), seguidas, após pela preocupações afetivas (quarto nível), éticas (quinto nível), criativas (sexto nível) e ecológicas (sétimo nível) (SCHULER, 2005). As chamadas Escolas Americanas desenvolveram estudos principalmente nos três primeiros níveis, enquanto as escolas de origem européia preocuparam-se mais com os níveis social, ético e ecológico. 8 http://www.photoshowcase.com.br/infotec/ComPhoto1.pdf 2.1 As Escolas Americanas. O Século XX se inicia com novos instrumentos para comunicar. Foi o coroamento de uma primeira fase de desenvolvimento dos meios físicos e materiais, que daria início ao fenomenal desenvolvimento tecnológico que resultou, um século depois, no grande conforto de que dispomos hoje, com a profusão de meios físicos de transmissão de informação. Um dos primeiros Modelos de Comunicação foi desenvolvido por SHANNON e WEAVER. Eles desenvolveram esse modelo preocupados com as telecomunicações e com os equipamentos para possibilitá-las (microfones, auriculares, alto-falantes, cabos, etc). Por suas qualidades de clareza e simplicidade, esse modelo foi largamente utilizado, como ponto de partida para explicar tecnicamente o processo comunicativo. É um modelo físico, mecanicista, e não humano. No entanto, certas disposições se tornaram úteis, perpetuando suas presenças nos modelos subseqüentes. A existência de elementos como a Fonte e o Receptor, como o canal Transmissor uma Mensagem e Ruídos perturbadores dessa transmissão, foi sempre lembrada, de várias maneiras, pelos modelos de comunicação posteriores. O modelo traz o ato de codificar e decodificar a mensagem. A Fonte transforma a informação num sinal transmissível fisicamente (usa um código, codifica), e o Receptor transforma esse sinal em informação novamente (decifra o código, decodifica). Este modelo, entretanto, nunca pretendeu explicar a comunicação humana, e sim a transferência de sinais entre equipamentos utilizados pelos humanos. Para que a comunicação entre pessoas fosse devidamente modelada, fez-se necessária a introdução de outras preocupações, de origem psicológica, sociológica e contextual. Por volta da década de 1910, o foco dos estudiosos norte-americanos da Comunicação é o projeto de construção de uma ciência social com bases empíricas. A Escola de Chicago sedia esse movimento, com um enfoque microssociológico dos modos de comunicação das comunidades e no papel que a comunicação pode assumir na resolução dos desequilíbrios sociais. É o momento de aprender como utilizar a comunicação de massa, que os novos canais permitem, para a interferência nas interações sociais. Durante os anos 40, a pesquisa sobre as comunicações de massa (Mass Communication Research) abre uma nova escola preocupada com a geração de instrumentos quantitativos de análise, respondendo a exigências dos administradores da mídia. É o momento de aprender a traçar perfil de audiência e entender melhor como se processam os efeitos das mensagens veiculadas pelos canais de massa. 2.1.1 A Escola de Chicago Os estudiosos da Escola de Chicago definem a cidade como um laboratório social que produz signos capazes de revelar a desorganização, a marginalidade, a aculturação, a assimilação e a mobilidade. Estudam a imigração e a integração dos imigrantes na sociedade americana, tentando localizar a influência dos meios de comunicação de massa (jornalismo, publicidade e propaganda) nesse processo. Lançaram os fundamentos do 9 http://www.photoshowcase.com.br/infotec/ComPhoto1.pdf que se chamou de interacionismo simbólico. Desenvolveram a tese de que a sociedade não pode ser estudada separadamente dos processos de interação entre as pessoas, sendo ela constituída simbolicamente pela comunicação. As pessoas se relacionam através do uso de signos e os signos estruturam o processo de comunicação. A realidade social em que as pessoas vivem é constituída simbolicamente, os seres e as coisas só se tornam fonte de motivação quando ganham sentido, estabelecido no processo de comunicação. O sentido e o significado das coisas deve ser visto portanto como um produto da interação social, mas ao mesmo tempo como uma condição de possibilidade da comunicação. Alguns nomes importantes dessa Escola são relacionados abaixo. Trade e Simmmmel contrapõem-se à sociologia especulativa da Europa para instrumentalizar a análise de situações concretas, através de atitudes e comportamentos. Robert Park (1864 – 19440) era um repórter investigativo, defensor da causa negra, que desenvolveu pesquisas sociológicas nas periferias. Park e Burgess (1922) retomaram o conceito de ecologia humana, inventado pelo biólogo Ernest Haekee em 1859. Charles Horton Cooley (1864 – 1929) estudou o impacto organizacional dos transportes nas comunidades e a etnografia das interações simbólicas dos indivíduos. Baseados na biologia, alguns desses autores abordam o estudo das comunidades humanas como sendo (1) populações organizadas; (2) num território; (3) com distintos níveis de enraizamento nesse território; (4) cujos membros vivem uma relação de interdependência de caráter simbólico. Surge, então, a noção de uma economia biológica, de uma luta pelo espaço, que regeria as relações interpessoais. Essa cooperação competitiva é um princípio da organização social, juntamente com o conflito, a adaptação e a assimilação. A comunicação surge, nesse contexto, como um instrumento de direção e controle, cuja função é regular a competição, permitindo aos indivíduos vincular-se à sociedade. A cultura, dessa forma, é vista como um corpo de costumes e crenças, além de um corpo de artefatos e utensílios ou dispositivos tecnológicos. A Escola de Chicago estuda, então, o papel da Comunicação para criar, manter, intalar e desinstalar o equilíbrio social, no perpétuo suceder de transições entre uma ordem social e outra, no processo da evolução. Outros nomes se fizeram importantes nessa escola. JohnDewewy (1859 – 1952), pedagogo, e George Herbert Mead (1863 – 1931), psicossociólogo. A orientação metodológica para a pesquisa, nessa escola, foi a etnografia (monografias de bairros, observação participante, análise de histórias de vida), gerando uma microsociologia que parte das observações subjetivas do autor. A Escola de Chicago reforça as tendências de individuação e de socialização como coexistentes e concomitantes. O indivíduo é, ao mesmo tempo, capaz de uma experiência singular, única, que traduz sua história de vida enquanto é submetido às forças sociais de nivelamento e homogeneização do comportamento. Esse pressuposto traz a concepção da mídia simultaneamente como fator de emancipação, de aprofundamento da experiência individual e precipitador da superficialidade das relações sociais e dos contatos sociais, da desintegração. Para Dewey, a 10 http://www.photoshowcase.com.br/infotec/ComPhoto1.pdf comunicação é ao mesmo tempo causa e remédio para a perda da comunidade social e da democracia política (Dewey, 1927). 2.1.2 A Escola da Pesquisa de Comunicação de Massa. São considerados os pais dessa escola Harold Lasswell (1902 – 1978), Kurt Lewin e Carl Hovland. Lasswell aborda o surgimento dos meios de difusão como instrumentos para a gestão governamental das opiniões (no quadre da Primeira Guerra Mundial), desde o telégrafo e o telefone, até o cinema e o rádio. Considera a propaganda como um meio democrático para suscitar a adesão das massas, mais eficiente e econômico do que a violência e a corrupção. Lança a visão da comunicação como um instrumento amoral, que pode ser utilizado tanto para o bem quanto para o mal, dependendo das intenções de quem o utiliza. A audiência é vista como receptor quase sem capacidade de resistir à mídia. Essa visão foi embalada pelas linhas de pesquisa da psicilogia de massa da época (Le Bon), alimentada pelo russo Ian Pavlov e sua teoria do condicionamento, pelo behaviorismo de John B. Watson e pelos estudos de William McDougal, um dos pioneiros da psicologia social. Tratando-se de aplicar todo esse novo conhecimento adquirido na eleição de Roosevelt, em 1932, inaugura-se todo um conjunto de técnicas de formação de opinião pública. Nascem as sondagens de opinião, como ferramenta da administração pública cotidiana e as sondagens préeleitorais de Gallup, Roger e Crossley conseguem prever a reeleição de Roosevelt em 1936. Manifestam-se, na sociedade, na época, repercussões da mentalidade que cercava a comunicação, nesse momento. As estratégias bombásticas de propaganda nas potências do Eixo e da União Soviética são oportunidades que convidam ao estudo sistemático do conteúdo da mídia que molda o ambiente simbólico mundial. Lasswell alimenta, então, a sociologia funcionalista da mídia de um quadro conceitual e de uma metodologia própria, representada pelas técnicas de análise de controle, análise de conteúdo, análise das mídias e dos suportes, análise da audiência e análise dos efeitos. Seu objetivo era conseguir uma descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto das comunicações enquanto se realizava uma constante avaliação, com finalidade prática, das transformações que esse conteúdo opera nos conhecimentos contemporâneos, atitudes, emoções e opiniões dos receptores. O que se aprendeu desa abordagem foi empregado para melhorar a qualidade do planejamento das comunicações governamentais e de organizações, no que se refere aos resultados esperados – seus efeitos sobre os públicos. Esse foco no efeito determinístico da mídia sobre as pessoas, suas atitudes e comportamentos, caracterizou uma linha clássica de pesquisas norte-americana de toda uma época. Mas Payne Fund, já em 1933, apresenta um relatório de pesquisas, em 12 volumes, no qual cientistas eminentes, de várias áreas dos estudos humanos (psicólogos, sociólogos e educadores), colocam em questão a visão behaviorista do efeito direto das mensagens sobre os receptores, abrindo uma nova área de estudos, os estudos sobre a recepção, concedendo aos receptores um caráter criativo e próprio no tratamento, interpretação e utilização das mensagens, de acordo com suas características próprias. 11 http://www.photoshowcase.com.br/infotec/ComPhoto1.pdf Para Lasswell (1948), a comunicação cumpre três funções principais na sociedade: (a) a vigilância do meio, revelando tudo o que possa ameaçar ou afetar o sistema de valores instalado; (b) o estabelecimento de relações entre os componentes da sociedade para produzir uma resposta ao meio; (c) a transmissão da herança social (cultura). Lazarfeldt e Merton acrescentaram a essas funções a de (d) entretenimento, trazendo também a noção de disfunções da comunicação social, assim como a diferenciação entre funções latentes e manifestas. As funções da comunicação, para esses autores, são as suas contribuições para a adaptação ou o ajuste de um sistema. As funções manifestas são as conscientes, ou seja, são compreendidas, desejadas e utilizadas conscientemente pelos participantes do sistema, enquanto as funções latentes são inconscientes, ou seja, atuam, mas não são nem compreendidas nem buscadas pelos participantes. As disfunções, em contrapartida, são os efeitos da comunicação que impedem, atrasam ou dificultam o equilíbrio e a estabilidade do sistema social. Mais tarde (1970), Norbert Elias discute a dificuldade de abordar o conceito de função e disfunção dessa forma, por ele implicar na necessidade de um juízo de valor sobre o que seria “bom” para a manutenção da integridade de um sistema social existente. Dando continuidade ao trabalho dos pesquisadores da Escola de Chicago, no desenvolvimento de métodos e instrumentos de pesquisa de comunicação de massa, Lazarsfeldt, da Universidade de Columbia, psicólogo austríaco próximo do Círculo de Viena, inaugura uma linha de estudos quantitativos sobre as audiências. Em colaboração com Frank Stanton, psicólogo e diretor de pesquisas da rede radiofônica CBS, aperfeiçoou o “analisador de programas”, ou “máquina de perfis”, ou ainda “analisador Lazarsfeldt-Stanton”, encarregado de registrar as reações do ouvinte em tremos de aprovação, aversão ou indiferença, quando submetido a mensagens pela rádio. Logo aproveitado para analisar as reações dos públicos de cinema, esse dispositivo constituiu-se como um instrumento útil e operativo para os controladores de mídia. Não havia, na base de pressupostos de Lazarsfeldt, manifestamente, nenhuma preocupação de ordem crítica das comunicações realizadas e nenhuma discussão da ordem social vigente. Também contestando a supremacia da Escola de Chicago, Talcott Parsons (1937), sociólogo de Harvard, desenvolveu a primeira tentativa de criação de uma ciência social unificada, com base no funcionalismo. A idéia de uma ciência social “neutra”, não-partidária e não engajada na corrente do Estado-providência estava presente na busca de Parsons por uma ciência objetiva, democrática e multidisciplinar. Nas décadas de 40 e 50 é descoberta e muito tratada, teórica e empiricamente, a importância dos formadores de opinião, ao lado da mídia, no processo de comunicação de massa. Nasce a Teoria do Two-Step Flow, amplamente utilizada para apoiar processos de comunicação persuasiva, tanto na área política e social quanto na comunicação comercial. O desenvolvimento dessa noção de passo e de atores, no processo persuasivo, convergiam com os propostos pelos especialistas do 12 http://www.photoshowcase.com.br/infotec/ComPhoto1.pdf marketing,como o modelo AINDA (captar atenção, suscitar estimular desejo, agir). interesse, Outro personagem importante nesse cenário de desenvolvimento é Kurt Lewin, da Universidade do Iowa, também vienense, que traz, nos anos 40, uma visão ecológica da comunicação, inserindo o indivíduo num determinado nicho cultural, dentro do qual ele se relaciona, dando bastante ênfase à topologia dess nicho como influenciadora de como a comunicação se processa e do que ela produz. Os conceitos de “vetores” ou “forças” que atuam sobre os indivíduos em relação, tratando de resolver as tensões criadas por suas necessidades. Lewin destaca a multidimensionalidade humana, reconhecendo, através de seu conceito de vetores, as dimensões física, emocional e mental do ser humano, agindo de modo concomitante para determinar seu modo de relacionamento social. O psicólogo da aprendizagem Carl Hovland, o quarto fundador da análise funcional das comunicações de massa, atuou na Universidade de Yale realizando, sob um enfoque behaviorista, estodos experimentais sobre persuasão, junto a soldados americanos no front, durante a segunda grande guerra. Depois da guerra, desenvolveu estudos de laboratório visando melhorar a eficácia da persuasão de massa, variando a imagem do emissor, a natureza do conteúdo da mensagem e a contextualização da audiência. Seu objetivo era gerar diretivas para otimizar a alteração planejada do funcionamento psicológico dos indivíduos, induzindo-os a agir conforme o esperado pelo emissor das mensagens. A Escola da Pesquisa de Comunicação de Massa, com suas bases behavioristas e pavlovianas, trabalhou sobre o pressuposto da onipotência da mídia que, nos anos 50, foi combatido, primeiro solitariamente por Wright Mills, da Universidade de Columbia. Suas posições anunciam as grandes transformações sociais dos anos 60, abindo um período de renovada atenção para as várias texturas culturais americanas. Aberto às contribuições de um marxismo crítico, suas análises estabelecem a conexão entre a problemática da cultura e a do poder, entre a subordinação e a ideologia, relacionanado as experiências pessoais vividas na realidade cotidiana às questões coletivas cristalizadas nas estruturas sociais. Dá especial atenção ao lazer, antes tratado como a função de entretenimento da comunicação de massa, reinvindicando o direito ao lazer autêntico, que deveria permitir um distanciamento das múltiplas formas de cutura comercial, formas de pressão manipulativas que passaram a exercer pressão coercitiva de adaptação das massas ao comando do “triângulo do poder” exercido pelos monopólios, pelas Forças Armadas e pelo Estado. De uma forma geral. As teorias norte-americanas desta época produziram a sociologia funcionalista, que concebia a comunicação de massa e suas mídia como mecanismos decisivos de regulação da sociedade. Nesse contexto, a comunicação de massa estava fadada, pela própria vocação nela percebida, a somente reproduzir os valores do sistema social e do estado de coisas vigente. Essa vocação era percebida, na época, como uma nova ferramenta da democracia moderna. É o surgimento da escola do pensamento crítico que vai contestar a 13 http://www.photoshowcase.com.br/infotec/ComPhoto1.pdf possibilidade da democracia se fortalecer através dessa atuação circumbilical da comunicação. 2.2 Bibliografia SCHULER, Maria. Excelência humana nas comunicações organizacionais. Estudos de Jornalismo e Relações Públicas. Ano 3, No. 5, Junho de 2005. 17-30. DEWEY, J. The Public and its Problems. Holt, New York. 1927. LASSWELL, H. The structure and function of cmmunications in siciety, in BRYSON, L. (org.) The communication of ideas. Harper, New York, 1948. ELIAS, N. Qu’est-ce que la sociologie? De l’Aube, La Tour d’Aigues. 1991. PARSONS, T. The structure of social action. McGraw-Hill, New York. 1937. 3 Teoria Crítica A Teoria Crítica é gestada principalmente entre filósofos alemães, e parte de uma rejeição à Teoria da Identidade, à qual Hegel deu sua forma acabada. A filosofia idealista alemã, de Kant a Hegel, discutiu a consciência de que, em última análise, todos e tudo fazemos parte de um mesmo sistema, de um mesmo ser universal, que resume todas as diferenças e resolve todas as contradições e dicotomias da existência. Nesse plano de consciência, sujeito e objeto são o mesmo, e há grande serenidade na concepção de que simplesmente ser basta. Obviamente essa forma de apresentar as coisas, sem a compreensão da multidimensionalidade dos planos humanos, trouxe sérios problemas para uma ciência em desenvolvimento, que tentava se afastar dos abusos dogmáticos de uma fé imposta, que servira numa certa época como dominação, dos indivíduos pouco esclarecidos, pelas religiões mancomunadas com os poderes de Estado. A fé, como forma de fundamentação de crenças, estava sendo banida do cenário intelectual alemão, substituída por uma objetividade e uma isenção que exatamente quebrava essa identidade entre sujeito e objeto. A base essencial da Teoria Crítica é a negação dessa teoriia da identidade. Os estudos da sociologia funcionalista norte-americana desenvolveram novos meios de produção e transmissão cultural, através da comunicação de massa e de sua mídia, descritos e aceitos como mecanismos de ajuste social. Inspirados no marxismo, no desejo de romper com a ortodoxia, os filósofos de Escola de Frankfurt viram essa perspectiva funcionalista da produção cultural como meios de poder e de dominação. Durante os anos 20 do século passado, alguns intelectuais, entre eles o filósofo Max Horkheimer e o economista Fredrich Pollock fundam o Instituto de Pesquisa Social, afiliado à Universidade de Frankfurt. Era interesse desses intelectuais, durante os anos 30, trazer novas perspectivas de análise do humano e do social à visão marxista da época, demasiado centrada no aspecto econômico. Estudos psicológicos como os de Freud e Reich foram trazidos para o campo de análise para melhor compreender-se os mecanismos da administração simbólica em regime 14 http://www.photoshowcase.com.br/infotec/ComPhoto1.pdf autoritário. Entrando em confronto tanto com a rigidez do Partido Comunista alemão, quanto com o regime autoritário de Hitler, o instituto somente pode continuar suas atividades através do suporte da comunidade judaica, mesmo assim em exílio pulverizado pela Europa e Estados Unidos, aí mais precisamente na Universidade de Columbia, que lhes cede um de seus prédios. Nesta nova fase, Horkheimer se faz acompanhar de Leo Löwenthal e de Theodor Adorno, vindo para os EUA a convite de Lazarfeldt para, juntos, tentarem uma convergência entre a teoria crítica européia e o empirismo americano. Profunda diferenças de pontos de vista, agravada pó intolerância de ambas as partes virão a frustrar essa tentativa. Nem a escola americana se dispõe a transcender seu olhar técnico para realizar uma análise do sistema, em si, que a tecnologia de comunicação tratava de defender, manter e asseguar, nem a escola crítica aceita se conformar aos anseios de mensuração cultural que apaixonava a escola norte-americana (ADORNO, 1969; HORKHEIMER, 1972). 3.1 A denúncia da indústria cultural A questão central dos estudiosos da escola de Frankfurt foi a transformação da produção cultural, como por exemplo das manifestações artísticas (música, cinema etc.) num instrumento de acomodação dos indivíduos ao sistema instalado e ao status quo vigente, descaracterizando essas manifestações como expressões espontâneas de uma humanidade que se desenvolve e que cria seus caminhos de evolução. Um exemplo brutal e emblemático dessa prática pode ser encontrado na revolução cultural da China, orquestrada por Madame Mao, constrangendo toda a produção artística nacional àquilo que formataria a mentalidade das massa à admiração e obediência ao que fosse decidido por Mao e por sua cúpula vigente, em cada momento. Adorno chamou de cultura afirmativa essa que se destina à integração manipulada, pela elite dominante, dos indivíduos ao status quo. Adorno e Horkheimer denominaram indústria cultural a produção industrial de bens culturais como mercadoria embebida dessa manipulação acomodativa, que usurparia das massas o incentivo à geração espontânea de objetos culturais, além do direito ao livre lazer, aquele desprovido de qualquer intenção doutrinária. A racionalidade técnica da indústria de filmes, revistas, programas de rádio foi amplamente analisada, configurando a produção de bens culturais em semelhança à produção de coisas, mercadorias com finalidade de venda em massa, em sortimento e em segmentação. Os objetivos de padronização de mentalidades e comportamentos foram amplamente denunciados, assim como seus objetivos de possibilitar maior controle e dominação econômica das massas através da serialização-padronizaçãodivisão do trabalho. Ao mesmo tempo essa ordem de coisas é considerada como alienante, uma vez que afasta o indivíduo de si mesmo, absorvendo sua atenção em distrações vazias de significado autêntico para ele, impedindo-o de exrecer sua diferença e sua maior contribuição para a diversidade da manifestação humana. A cultura perderia, assim, seu papel filosófico existencial. Walter Benjamin, porém, via aspectos muito positivos na possibilidade de reprodução em massa dos bens culturais, não sem entender os riscos de que a cultura seja usada para as finalidades 15 http://www.photoshowcase.com.br/infotec/ComPhoto1.pdf denunciadas por Adorno e Horkheimer. Pelo contrário, ele percebia a introdução da cultura na era tecnológica como uma possibilidade de dessacralização, de saída do domínio exclusivo das elites para a possibilidade de consumo e apreciação por todos. Leo Löwental notabilizou-se pela análise da cultura de massa, como por exemplo das biografias nas revistas populares e da Voz da América no período da Guerra Fria. O filósofo Herbert Marcuse notabilizou-se durante os anos 60, criticando a civilização burguesa tanto quando a formação histórica das classes operárias. Denuncia constantemente os rumos do desenvolvimento e da tecnologia como sendo sempre em direção da subjugação dos indivíduos e não de sua libertação. Coloca a comunicação social e suas mídia no centro desse sistema de dominação, com sua “linguagem unidimensional” que configuram um homem e uma sociedade unidimensional, meio sem saída e sem alternativas. O filósofo Jürgen Habermas, nesse contexto, desenvolve inúmeros estudos sobre o efeito da comunicação, do espaço público de mediação entre o Estado e a Sociedade, e da ética no desenvolvimento das sociedades, lançando uma visão importante sobre a possibilidade de abertura de uma nova era de convivência mais respeitosa entre as pessoas. Discute a possibilidade da formação da opinião pública através da troca de argumentos entre os indivíduos, no espaço público, ao invés do processo de “fabricação de opinião” com o qual estavam envolvidos os principais estudiosos da comunicação das escolas americanas. O que Habermas defende é, de fato, uma elevação da consciência dos atos comunicativos, na sociedade. Para ele, o que se fazia naquele momento era a manipulação da opinião, a padronização, a massificação e a atomização do público, tornando o cidadão um consumidor de comportamento emocional e de atitudes esteriotipadas. O que ele sugeriu foi o fornecimento de informações, através da comunicação de massa, necessárias para que as pessoas, consideradas como tendo direito e sendo capazes de reflexão própria, pudessem construir suas própria opiniões, através da discussão destas no espaço público. 3.2 Bibliografia ADORNO, T. Scientific Experiences of a European Scholar in América, in FLEMING D. e BAYLIN B. (orgs.) The intelectual migration: Europe and América 1930-1960. Harvard, Cambridge, 1969. HORKHEIMER, M. Critical Theory: selected essays, Seabury, New York. 1972. MATTELART, A e M. História das Teorias da Comunicação. São Paulo, Loyola. 2005. 4 Estudos Culturais ...”através da análise da cultura de uma sociedade – as formas textuais e as práticas documentais de uma cultura – é possível reconstituir o comportamento padronizado e as constelações de idéias compartilhadas pelos homens e mulheres que produzem e consomem os textos e as práticas culturais daquela sociedade. É uma perspectiva que enfatiza a “atividade humana”, a produção ativa da cultura, ao invés de seu consumo passivo. 16 http://www.photoshowcase.com.br/infotec/ComPhoto1.pdf STOREY,J. An Introduction to Cultural Theory and Popular Culture. Londres, Prentice Hall. 1997. p.46. Os Estudos Culturais são um campo acadêmico de pesquisa sobre comunicação e cultura, geralmente relacionando-as sob uma perspectiva político-econômica de orientação inicialmente marxista e de origem entre intelectuais britânicos. Fazem parte desse vasto campo as teorizações pósestruturalistas, sobretudo os estudos desenvolvidos por Michel Foucault e Jacques Derrida. Tanto o estudo dos meios de comunicação de massa, quanto das manifestações da cultura popular podem conduzir à compreensão da cultura como uma forma estruturada de relações de poder e de diferenças sociais. Os Estudos Culturais se desenvolveram nos anos 60 e 70, criados pelos pesquisadores anglófonos Richard Hoggart, Raymond Williams, Edward P. Thompson, mas ganharam consolidação basicamente a partir do trabalho do anglo-jamaicano Stuart Hall, diretor do Centro de Estudos Culturais Contemporâneos (CCCS) da Universidade de Birmingham entre 1969 e 1979. Esse centro foi criado na tentativa de compreender melhor as alterações dos valores tradicionais da classe operária na Ingleterra do pósguerra. Como se relacionam a cultura contemporânea com a sociedade em transformação, como a sociedade se define através de suas instituições, formas e práticas culturais, será o foco de observação do CCCS. Na década de 70, a atenção central do CCCS foi a ação da mídia. Seus antecedentes foram o movimento no campo dos estudos literários e debate gerado pela Escola de Frankfurt, tendo como motivo gerador as alterações dos valores tradicionais da classe trabalhadora na Inglaterra do pós-guerra. Os pressupostos fundamentais dos Estudos Culturais são a análise da ação da mídia, atentando sobre as estruturas sociais e o contexto histórico como fatores essenciais para a compreensão da ação desses meios. Ocorre o deslocamento do sentido de cultura da sua tradição elitista para as práticas cotidianas. A cultura não é tanto um conjunto de obras, mas um conjunto de práticas. A cultura tem relação com produção e intercâmbio de sentidos, isto é, o dar e receber significados entre os membros de uma sociedade ou grupo. Assim, a cultura deixa de ser considerada algo passivo e incorpora um sujeito que pode criar e agir sobre as coisas. No campo da comunicação, o interesse nas tecnologias é despertado. Por que é importante a ênfase no entendimento de práticas culturais? Um conceito de cultura associado à idéia de prática aponta para o sentido de ação, de agência humana, isto é, a cultura não significa simplesmente sabedoria recebida ou experiência passiva, mas um grande número de intervenções que podem tanto mudar a história quanto transmitir o passado. A cultura é uma região de disputas e de conflitos acerca do sentido; cultura diz respeito aos enfrentamentos entre modos de vida diferentes devido à existência de relações de poder. Como a comunicação é entendida dentro desse contexto? A comunicação é vista como um processo simbólico através do qual a realidade é produzida, reproduzida e transformada. Adquire um sentido especial o processo de recepção: esta é tratada como um processo social complexo que envolve atividade contínua de apropriações, usos e reelaborações de conteúdos por parte de 17 http://www.photoshowcase.com.br/infotec/ComPhoto1.pdf indíviduos, estruturados em grupos sociais particulares. Desenham-se enlaces entre TEXTO - CONTEXTO - RECEPTORES. Para os Estudos Culturais não existe divisão entre cultura e condições de produção. 4.1 Os principais autores. Richard Hoggart, professor de literatura inglesa moderna, preocupouse em estudar os hábitos de vida da classe operária, dando especial enfoque para a sua relação com a literatura e ao enaltecimento de sua então capacidade de resistência ao assédio da cultura comercial. Foi o primeiro diretor do CCCS e inaugura essa fase de estudos com o texto The Uses of Literacy (1957), um relato de parte da história da cultura no meio do século XX. Hoggart analisou materiais culturais da população mais simples e a produção dos meios de comunicação de massa, através de metodos qualitativos. Hoggart resgata das audiências dos mass media a resistência, ao lado da submissão, reconhecendo no receptor de comunicação a capacidade criativa de gerar uma interpretação própria, que possa mesmo contrariar os efeitos desejados por emissores com tendências autoritãrias ou manipulativas. Raymond Williams torna-se um crítico da dissociação entre cultura e sociedade, trazendo a visão antropológica de que que a cultura é o processo global por meio do qual as significações são social e historicamente construídas. Rompe também com a visão reducionista do marxismo que reduz a cultura à determinação social e econômica, combatendo, ainda, o detrminismo tecnológico. Analisa, em seu trabalho, a atuação das mídia, como a televisão, a imprensa e a publicidade. Sua primeira obra a impulsionar esse movimento foi Culture and Society (1958), que constrói um histórico do conceito de cultura, concluindo com a afirmativa de que cultura é um modo de vida, ao lado da produção artística. Fala da conexão sempre existente entre a análise literária e a investigação social. Aborda com pessimismo o impacto cultural dos meios massivos sobre a cultura popular. Edward P. Thompson, como historiador, aborda a cultura como manifestação da pluralidade humana e como o centro de lutas, tensões e conflitos em torno de modos de vida das diferentes classes. Seu trabalho inicial, nessa escola, foi The Making of the English Working Class (1963), que relata uma parte da história da sociedade inglesa desde o ponto de vista dos menos favorecidos. Defien cultura como uma rede viva de práticas e relações que constituem a vida cotidiana. Stuart Hall analisa as formas populares de produção artística e cultural, complementando o quadro dessa escola. Analisa o papel ideológico da mídia, divergindo da análise funcionalista americana. Analisando a comunicação televisiva, distinguiu três tipos de recepção, por parte da audiência: dominante, oposicional e negociada. No modo de decodificação dominante, os significados são percebidos e retidos conforme a mentalidade hegemônica, que se sugerem de forma quase natural como legítimos e inevitáveis, derivados de um senso comum e de uma ordem social fabricada. 18 http://www.photoshowcase.com.br/infotec/ComPhoto1.pdf No modo oposicional a decodificação se daria de forma antagônica à mentalidade hegemônica, a partir de outros quadros de referência, onde há uma leitura de entrelinhas que desvenda, ou pensa desvendar, as intenções manipulativas dos emissores. No modo negociado elementos de adaptação e de oposição se mesclam, buscando uma posição mais madura da audiência, nem constrangida a aceitar, nem constrangida a refutar o significado que lhe é dirigido. Mais do que tudo, Hall se notabilizou pelo seu papel de catalisador e aglutinador dos estudos culturais, quanto substituiu Hoggart na direção do CCCS, quando incentivou o desenvolvimento da investigação de práticas de resistência de subculturas e de análises dos meios de comunicação de massa, identificando a importância de seu papel na direção da sociedade. Mas foi com Roland Barthes que nasceu a metodologia que se apóia na teoria lingüística para realizar leituras ideológicas nos hábitos culturais dos cidadãos. Apoiado na idéia de hegemonia do italiano Antonio Gramsci, Barthes realiza vários estudos para detectar signos dessa dominação cultural nas sociedades. Gramsci havia esclarecido sobre a capacidade de um grupo social de assumir a direção intelectual e moral sobre a sociedade, de modo mais sutil do que através da autoridade e da dominação econômica, através da utilização dos meios de produção cultural, considerando negociações, compromissos e negociações. Foram Charlotte Brusdom e David Morley que abriram a fase de investigação sobre os gêneros populares na televisão, tais como as comédias, os esportes, as variedades, os românticos e as séries policiais. Esses estudos visam entender como essam manifestações tratam as contradições da vida comum das várias camadas sociais, participando da construção de um senso comum popular. Seu foco de estudo foi principalmente as representações de gênero (feminino e masculino), de classe social e de gruos étnicos. David Morley focou sua análise no conteúdo da TV, tentando compreender o significado que portam e que denota os processos multifacetados de consumo e designificação através do consumo nos quais as audièncias estariam envolvidas. Esse foco logo se espalhou para os filmes de grande bilheteria e as literatura popular. 4.2 Conclusão Os Estudos Culturais conseguiram reunir pesquisadores em torno de diferentes áreas de pesquisa (etnografia, estudos de mídia, teorias da linguagem e subjetividade, literatura e sociedade etc.), que vincularam suas análises às manifestações dos movimento sociais, como por exemplo o feminismo. Através do trabalho de seus pesquisadores, o conceito de cultura se alargou e ganhou outra fluidez. A cultura deixou de ser consideada como algo estável, monolítico e homogêneo, para ser compreendida como extremamente dinâmica, construída e expressa de forma ativa, diferenciada em grupos e nichos culturais distintos, além de 19 http://www.photoshowcase.com.br/infotec/ComPhoto1.pdf multidimensional, manifestando-se em várias esferas da vida humana em sociedade. Seu conceito passou a incluir os rituais da vida cotidiana, instituições e práticas e suas implicações na divisão entre níveis culturais, ao lado das artes. Em seus estudos, a comunicação foi contemplada ao ter reconhecido o papel central que exercem todas as suas formas na produção, distribuição e recepção culturais, relacionadas ainda às práticas econômicas. Integrando alguns pontos de vista de escolas anteriores, então em confronto, a escola dos Estudos Culturais analisa as práticas culturais simultaneamente como formas materiais e formas simbólicas. No seu conceito de cultura cabem tanto os significados e os valores que surgem e se difundem nas classes e nos grupos sociais, quanto as prática efetivamente realizadas, por meio das quais valores e significados são expressos e nas quais estão contidos. Suas análises, no que se refere à comunicação de massa, buscava desvendar a estrutura ideológica na informação veiculada, principalmente da cobertura jornalística, assim como as possibilidades de leitura, por parte dos receptores. O surgimento do movimento feminista, nos anos 70, deu ao Estudos Culturais um foco que permaneceu por muito tempo, ou seja, a análise de como a imagem de a idéia de ser mulher era revelada nos conteúdos das mídia de massa. A figura da mulher foi analizada em justaposição com várias outras idéias, como o trabalho, o poder, a violência etc. Várias outras questões entraram na agenda, tais como a sexualidade, a inclusão social das minorias étnicas, a incorporação de novas tecnologias e, mais recentemente, o papel dos meios de comunicação na constituição de identidades. 4.3 Bibliografia WILLIAMS, R. Cultura e Sociedade: 1780-1950. São Paulo, Nacional. 1969 [1958]. THOMPSON, E.P. A formação da classe operária inglesa. Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1987 [1963]. HOGGART,R. The uses of literacy. Essential, Fair Lawn. 1993. 20