Milho + Brachiaria: investimento mínimo, máximo retorno

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Milho + Brachiaria: investimento mínimo, máximo retorno
culturas consorciadas
Milho +
brachiaria:
investimento mínimo,
máximo retorno
Aildson Pereira Duarte e Isabella Clerici de Maria
Pesquisadores do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas,
da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado
de São Paulo, dos Programas Milho e SPDireto.
A Lavoura - Nº 697/2013
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culturas consorciadas
Na nova tecnologia, o milho
safrinha e a Brachiaria ruziziensis
são semeados simultaneamente
na mesma operação. Este manejo
pode elevar a produtividade
da soja cultivada em sucessão
e cultivo do milho safrinha em
até 20%. Além disso, melhora a
qualidade do solo e também vira
forragem para os animais
na entressafra
etc.). Na maioria das vezes, o que permitiu esse avanço foi a
adoção de procedimentos para a mecanização da implantação e para o retardamento da emergência e/ou desenvolvimento dos capins, evitando-se a matocompetição.
Já o consórcio com o milho safrinha é mais recente e tem
suas próprias especificidades. O milho safrinha é cultivado
em um ambiente peculiar, com menor disponibilidade de
água e calor, em comparação ao milho verão. Isto desfavorece o crescimento do capim de origem tropical. Assim, o
maior desafio não é suprimir o crescimento inicial do capim,
mas proporcionar boas condições para o seu estabelecimento e desenvolvimento.
Outra diferença importante é que o objetivo não é formar pasto, embora a forrageira possa ser pastejada em curto espaço de tempo (dois meses, em média), e sim utilizar
a planta forrageira como planta de cobertura. Para tanto,
a gramínea não pode produzir sementes antes do manejo,
precisa cobrir a área uniformemente, ser de fácil dessecação
e proporcionar bom desempenho da máquina semeadora
de soja. A Brachiaria ruziziensis é a espécie que atende a todos estes requisitos.
A
implantação de capins em consórcio com o milho
é uma prática comum desde os tempos de nossos
avós, visando ao estabelecimento ou à renovação de pastagens. Com a introdução de novas tecnologias, no final do século passado, essa técnica foi inovada e passou a ser utilizada
nas modernas lavouras de milho verão, com características e
denominações diversas (Sistema Santa Fé, Sistema Barreirão
Bons resultados
O consórcio vem dando bons resultados nas regiões
onde se cultiva o milho safrinha, nas quais predomina o sistema plantio direto e a sucessão com a soja, sem rotação de
culturas. O solo fica sem uso no período entre a colheita do
milho safrinha e a semeadura da soja, favorecendo a decomposição da palha e o desenvolvimento de plantas invasoras.
No milho safrinha, o solo
fica sem uso entre a colheita e a semeadura da soja
Devido às poucas opções rentáveis para rotação e ao
desestímulo do uso de plantas de cobertura, pela falta
de retorno econômico imediato, o consórcio de milho safrinha e plantas forrageiras permite diversificar o cultivo
sem alterar a sucessão com a soja. Com um investimento
mínimo, é possível aumentar a cobertura do solo com palha, melhorar a produtividade da soja em sucessão e, ainda, ter uma opção de produção de forragens para animais
na entressafra.
Principais métodos de implantação
do consórcio
Nilton Pires de Araújo
Os métodos de implantação da braquiária que se adequam à maioria dos ambientes de milho safrinha são os simultâneos ou com uma mínima defasagem de tempo em
relação à semeadura do milho, seja com distribuição das sementes a lanço ou no sulco de semeadura.
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A distribuição a lanço é utilizada em lavouras com espaçamento reduzido e deve ser feita antes da semeadura
do milho, para permitir que os mecanismos das linhas da
máquina semeadora-adubadora incorporem parte das sementes do capim. As desvantagens deste método são o
maior gasto de sementes (pelo menos o dobro em relação
No Mato Grosso, por exemplo, a
semeadura ocorre mais cedo e, nessa
época, as chuvas são mais frequentes e o solo se mantém com umidade
adequada para germinação do capim,
mesmo semeado a lanço. Já no sudoeste do Estado de São Paulo e no
norte do Paraná a semeadura é mais
tardia, as chuvas mais irregulares e a
umidade do solo menos uniforme no
momento da implantação do consórcio. Se o capim for semeado a lanço,
a emergência fica desuniforme e em
reboleiras, comprometendo o estabelecimento da forrageira.
Distribuição simultânea
Gessi Ceccon
ao consórcio intercalar) e a emergência em reboleiras, conforme as condições climáticas na época da semeadura do milho safrinha.
A distribuição simultânea pode ser
feita na própria linha de semeadura,
utilizando semeadora de milho com
caixa para sementes de capins ou fazer
a adaptação da terceira caixa em oficina regional.
O desafio no consórcio do milho safrinha é proporcionar
boas condições para desenvolvilmento do capim
Consócio com linha intercalar
O consócio com linha intercalar é o melhor método quando o milho safrinha
é cultivado com espaçamento entrelinhas de 80cm ou 90cm. Desenvolvido inicialmente para as condições de Mato Grosso do Sul, o consórcio foi adaptado às
características do Médio Paranapanema, em São Paulo, e também a outras importantes regiões produtoras de milho safrinha.
No caso do milho safrinha, não se
deve utilizar a técnica da mistura das
sementes com o adubo de semeadura,
pois o posicionamento profundo do
adubo pode retardar a emergência do
capim. Também a mistura da semente
com o fertilizante nitrogenado de cobertura não é adequada, pois o adubo
é distribuído algum tempo depois da
emergência do milho.
Nesta região paulista e em parte do Paraná e Mato Grosso do Sul, predominam
pequenas e médias propriedades que adotam, em sua maioria, espaçamentos
convencionais, viabilizando a adoção do consórcio intercalar.
A máquina que semeia a soja é a mesma que será utilizada no milho safrinha,
com o mesmo espaçamento entre carrinhos. Normalmente, o produtor tira uma
linha sim outra não após a semeadura da soja, deixando a máquina preparada
para o espaçamento de 80cm a 90cm do milho safrinha.
No caso da utilização do consórcio, o produtor deve manter as linhas a 45cm e
utilizar discos diferentes para o capim: em semeadoras convencionais é utilizado
o disco universal de sorgo de 5mm com 50 furos e nas semeadoras pneumáticas,
o disco de canola de 1,2 a 1,5mm com 120 furos. Apenas a linha do milho deve ser
adubada e, para tanto, deve-se tapar a saída da caixa de adubo na linha onde será
semeada a planta forrageira.
Arquivo IAC
Benefícios do consórcio
Ensaios evidenciam condições mais
favoráveis à soja implantada sobre a palha
do capim
A eficiência do consórcio depende de peculiares de cada ambiente, como o clima, a fertilidade do solo e a época de semeadura. Na região do Médio Paranapanema, os resultados obtidos nos diversos ensaios conduzidos pelo IAC/APTA, indicam
uma introdução de 1,5 a 2,5 t/ha de massa seca, promovendo melhoria na cobertura do solo.
Como as forrageiras em consórcio com milho safrinha apresentam desenvolvimento inicial lento, o maior acúmulo de massa ocorre após a maturidade do
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milho safrinha, até o momento da dessecação para semeadura da soja.
Os ensaios evidenciaram, também, uma condição mais
favorável à cultura da soja implantada em sistema plantio
direto sobre a palha do capim, comparada ao o sistema com
milho solteiro (testemunha).
Em um ano com período prolongado de seca, na época
da implantação da soja, não ocorreram problemas de germinação e desenvolvimento posterior das plantas de soja em
áreas com o consórcio milho safrinha e plantas forrageiras.
Na verdade, foi verificado o contrário nas áreas-testemunhas
sem o consórcio. Com relação à produtividade da soja, foram
observados aumentos de até 23% nas áreas de consórcio,
em relação às áreas de milho safrinha solteiro, em decorrência, entre outros fatores, da ciclagem de nutrientes.
O consórcio de milho safrinha e plantas forrageiras permite, além de diversificação das espécies cultivadas, a maximização da ciclagem de nutrientes. São acumulados cerca
de 25 kg de potássio (K20) por tonelada de massa seca da
parte aérea da B. ruziziensis que, após a dessecação com glifosato, são rapidamente mineralizados e contribuem para a
nutrição da soja cultivada em sucessão.
Arquivo IAC
Outro aspecto importante do sistema é a melhoria esperada na qualidade do solo. As plantas forrageiras, principalmente as dos gêneros Brachiaria e Panicum, apresentam um
sistema radicular bastante longo e vigoroso, com capacidade
de promover a reestruturação do solo. Esse efeito se dá em
longo prazo e está sendo avaliado nos ensaios mantidos por
maior duração. O que se espera é que, com o consórcio, além
de maior proteção da superfície do solo contra impacto de
gotas de chuva e das altas temperaturas, sejam melhoradas
as propriedades físicas do solo, favorecendo a infiltração e a
retenção de água e o arejamento das raízes das culturas.
A produtividade da soja aumentou até 25%
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Gessi Ceccon
Produtividade
A produção chega a 2,5t./ha de massa seca
Cuidados a
serem tomados
1. Qualidade das sementes: O correto estabelecimento do consórcio depende da boa qualidade das
sementes do capim. A maioria das sementes de forrageiras visa atender ao mercado pecuarista que, pela
necessidade de maior volume para distribuição a lanço
e pouco impacto da presença de terra e plantas daninhas na formação das pastagens, adota padrões oficiais
relativamente baixos na comercialização das sementes.
O valor mínimo do valor cultural (VC) para comercialização é 50. O VC é o produto entre a pureza (%) e a germinação (%, em tetrazólio) das sementes. No caso do
consórcio, deve-se utilizar sementes com VC acima de
70 que, por apresentarem altos índices de germinação
e pureza, são apropriadas para distribuição nas pequenas quantidades requeridas no cultivo consorciado, e
reduzem a chance de contaminar a área com nematoides e plantas daninhas. O gasto de sementes VC 70 no
cultivo intercalar é de aproximadamente 3 kg/ha.
2. Acompanhamento do desenvolvimento do capim e supressão com herbicidas: Geralmente, não há
diferença significativa na produtividade de grãos de
milho comparando-se o milho no consórcio e o milho
solteiro, não sendo necessária a aplicação de herbicidas para a supressão parcial do crescimento do capim.
Da mesma maneira, não há necessidade de aumentar a
adubação nitrogenada de cobertura do milho safrinha
para compensar possível absorção pelo capim. Porém,
quando se utiliza população elevada da forrageira, híbridos de milho de folhas mais eretas e/ou quando a
época de semeadura do milho é antecipada (período
mais quente) a produção de massa do capim pode ser
favorecida, atingindo 3,0 t/ha ou mais, afetando o de-
Primeira
cultivar de milho
biofortificado
chega ao mercado
D
senvolvimento e a produtividade do milho. Embora esses casos sejam poucos, deve-se acompanhar
o desenvolvimento inicial do capim para verificar
a necessidade de supressão com uma subdose de
nicussulfuron (até 100 mL/ha do produto comercial
para a Brachiaria ruziziensis).
3. Controle de pragas: Atualmente, com o emprego do milho transgênico Bt pode ser necessária
a aplicação de inseticidas para controle de lagartas,
especificamente no capim. No caso do milho convencional, em algumas lavouras, a aplicação de inseticidas é indicada antes de atingir o nível de dano
econômico no milho, pois as braquiárias são preferidas pela maioria das lagartas.
4. Dessecação e semeadora da soja: Para assegurar os benefícios do consórcio na produtividade
de soja é necessária uma dessecação apropriada
do capim (aproximadamente duas semanas antes)
e ajustes na plantadeira da soja (aumento do tamanho e afiação do disco de corte, por exemplo) para a
distribuição uniforme e contato direto das sementes
com o solo (sem bolsas de ar).
5. Rotação do consórcio: Deve-se evitar o cultivo
contínuo do consórcio milho safrinha-braquiária na
mesma área. Assim, o sistema deve ser alternado nos
diferentes talhões da propriedade para maximizar
os benefícios da quebra da monocultura. Questiona-se, por exemplo, o risco da B. ruziziensis aumentar a população de Pratylenchus brachyurus, embora
sua população seja elevada apenas em áreas e regiões específicas. Geralmente, quando a braquiária
é cultivada por apenas um ciclo, o aumento da matéria orgânica e da porosidade do solo suplantam
a possível multiplicação de pragas e nematoides, o
que pode se tornar um problema se o capim continuar sendo utilizado na mesma área.
ez anos de pesquisas e um trabalho iniciado na Etiópia,
um dos países africanos com mais problemas de desnutrição, culminaram no lançamento da cultivar de milho
BRS 4104, com quantidade de pró-vitamina A (carotenoides)
cerca de quatro vezes superior à encontrada em cultivares
comuns do cereal.
Segundo o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo responsável pelo desenvolvimento da cultivar, o melhorista
Paulo Evaristo de Oliveira Guimarães, uma das grandes dificuldades encontradas durante o processo de melhoramento
foi a identificação dos carotenoides precursores da pró-vitamina A. “Ao contrário de outras culturas, como a batatadoce, é mais difícil identificar esses carotenoides no milho.
Portanto, a cor amarelada intensa dos grãos não a distingue
de outras cultivares simplesmente por possuir mais quantidade de pró-vitamina A”, explica o pesquisador.
Produtividade
Paulo Evaristo contabiliza bons resultados de produtividade da cultivar: pouco mais de 5.600 kg/ha nas últimas
duas safras, mesma média das variedades já lançadas pela
Embrapa. Por ser uma variedade, a cultivar tem menor potencial produtivo que os híbridos. Mas, em contrapartida,
suas sementes podem ser plantadas novamente nas safras
seguintes. “De 2006 até hoje, identificamos seis linhagens
com maiores teores de pró-vitamina A e chegamos ao BRS
4104. A variedade vem sendo melhorada continuamente”,
revela Evaristo.
Nova cultivar tem quatro
vezes mais carotenoides
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