fungos micorrízicos arbusculares no cultivo da soja em sucessão a

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fungos micorrízicos arbusculares no cultivo da soja em sucessão a
XX Congreso Latinoamericano y XVI Congreso
Peruano de la Ciencia del Suelo
“EDUCAR para PRESERVAR el suelo y conservar la vida en La Tierra”
Cusco – Perú, del 9 al 15 de Noviembre del 2014
Centro de Convenciones de la Municipalidad del Cusco
FUNGOS MICORRÍZICOS ARBUSCULARES NO CULTIVO DA
SOJA EM SUCESSÃO A PLANTAS DE COBERTURA DE
INVERNO
Moreira, M. 1*; Carlini-Garcia, L. A1.; Hippler, F.W.R.2; Cimonetti, D.3
1Agência
Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA)/ Pólo Regional Centro Sul
Instituto Agronômico, Centro de Citricultura Sylvio Moreira, 13490-970, Cordeirópolis SP, Brasil
3 Cooperativa Agropecuária de Pedrinhas Paulista, 19865-000, Pedrinhas Paulista, SP, Brasil
2
*Autor de contacto: Email: [email protected], Caixa Postal 28, 13412-050, Piracicaba, SP, Brasil
RESUMO
Os fungos micorrízicos arbusculares (FMA) têm ocorrência generalizada na
maioria dos ecossistemas, tanto natural como cultivados. Sua importância está
relacionada à maior disponibilização de nutrientes e água para as plantas. O
objetivo desse estudo foi avaliar o efeito das plantas de cobertura de inverno na
produção de massa de matéria seca, colonização micorrízica e densidade de
esporos de FMA em plantas de soja. O experimento foi instalado no município
de Pedrinhas Paulista, SP, Brasil, em Latossolo Vermelho distroférrico argiloso,
durante dois anos consecutivos. Foi utilizado delineamento experimental em
blocos casualizados, com cinco tratamentos e três repetições. Os tratamentos
constituíram: 1) milho safrinha (solteiro); 2) milho safrinha + Braquiária; 3) aveia
80 kg ha-1; 4) coquetel 55 kg ha-1 (aveia 50 kg, nabo 3 kg e girassol 2 kg) e 5)
nabo 6 kg ha-1. Foram feitas às seguintes determinações: acúmulo de massa
da matéria seca da parte aérea (MSPA) e radicular (MSR), número de nódulos
por planta (Nod), massa seca de nódulos (MSN), colonização micorrízica (CR)
e número de esporos (NE) de FMA em 50 g de solo. Não houve diferença
significativa entre tratamentos para acúmulo de MSPA, MSR, Nod, MSN e NE.
O maior valor de CR foi verificado no coquetel e menor no milho solteiro.
PALAVRAS CHAVE
FMA; soja; rotação de culturas
INTRODUÇÃO
A soja (Glycine max) é muito importante para o agronegócio brasileiro,
atendendo tanto ao mercado interno quanto externo. É utilizada na alimentação
humana, animal, na produção de biocombustível, entre outros. O Brasil é o
segundo maior produtor mundial com área de 30.105 mil hectares e uma
produção de 86.052 mil toneladas (CONAB 2014).
A produtividade da cultura depende de fatores genéticos e ambientais, sendo
que a microbiota é de fundamental importancia uma vez que se trata de cultura
micotrófica, dependente de fungos micorrízicos arbusculares (FMA). As hifas
dos FMA exploram os nutrientes do solo de forma mais eficaz do que as raizes
e são capazes de transferí-los eficientemente para seu hospedeiro.
Estudos com soja em solos de cerrado demonstraram que diferentes
populações de FMA apresentaram diferenças na taxa de colonização, absorção
de P, produção de matéria seca da parte aérea e produção de grãos da soja
(Paula et al., 1990). Na soja, além dos benefícios diretos, existem efeitos
positivos na interação fungo micorrízico-rizóbio, que resultam da melhor
nutrição de P, necessária para a nodulação e a fixação biológica de N (Miranda
et al., 2001).
O objetivo foi avaliar o efeito das plantas de cobertura de inverno na produção
de massa de matéria seca, colonização micorrízica e densidade de esporos de
FMA em plantas de soja.
MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram realizados no município de Pedrinhas Paulista, SP,
Brasil (22°48’409’’S, 50°49’W), em Latossolo Vermelho distroférrico argiloso
(EMBRAPA, 2006) no período de abril de 2007 a março de 2009.
O delineamento experimental utilizado foi de blocos casualizados com cinco
tratamentos e três repetições, com parcelas de 7 m x 100 m. Os tratamentos
foram: 1) milho safrinha (solteiro) (Zea mays); 2) milho safrinha + braquiária
(Brachiaria ruziziensis); 3) aveia (Triticum aestivum) 80 kg ha-1; 4) coquetel 55
kg ha-1 [aveia 50 kg, nabo forrageiro (Raphanus sativus) 3 kg e girassol
(Helianthus annuus) 2 kg] e 5) nabo forrageiro 6 kg ha-1.
As plantas de cobertura foram semeadas após colheita (soja) e dessecação,
em abril de 2007 e 2008 e a soja (cultivar BRS 245RR) foi semeada no início
de novembro em 2007 e 2008, em sucessão no sistema de semeadura direta
(SSD).
No florescimento da soja, foram realizadas as amostragens de dez plantas por
parcela e do solo da região radicular, nas profundidades de 0-20 cm, nos dois
anos de condução dos experimentos.
Foram feitas as seguintes determinações, obtendo-se as médias por parcela: a)
percentagem de colonização micorrízica: as raízes foram clarificadas em KOH
10% e H2O2 10% e foram coradas com tinta de caneta e ácido acético
(Vierheilig et al., 1998). Verificou-se a presença de estruturas fúngicas dentro
das raízes, na região do córtex, pelo método de segmentos em lâminas e
observação ao microscópio (400X) (Giovanetti & Mosse, 1980). b)
determinação do número de esporos de FMA: a extração dos esporos foi feita
por peneiramento por via úmida (Gerdemann & Nicolson, 1963), a partir de
uma alíquota de 50 g de solo seco, seguindo-se centrifugação em sacarose
(Jenkins, 1964). A quantificação dos esporos foi feita sob microscópio
estereoscópio com aumento de 40X, em placas com canaletas concêntricas.
A parte aérea das plantas foi separada das raízes, lavada, seca em estufa a
65ºC e depois feita a pesagem para determinação da massa da matéria seca
de raiz e parte aérea. Foi realizada também a contagem dos nódulos (Nod) e
pesagem dos mesmos (MSN).
O mesmo experimento foi realizado em dois anos consecutivos, configurandose num caso de dados longitudinais (medidas repetidas no tempo). Sendo
assim, utilizou-se a abordagem de modelos mistos.
O modelo estatístico adotado foi: ‫ݕ‬௜௝௞ = ݉ + ܽ௞ + ܾ௝௞ + ‫ݐ‬௜ + ‫ܽݐ‬௜௞ + ߝ௜௝௞ , em que
‫ݕ‬௜௝௞ é a observação referente ao ݅-ésimo tratamento (com ݅ = 1, … , ‫)ܫ‬, no ݆ésimo bloco (com ݆ = 1, … , ‫)ܬ‬, no ݇-ésimo ano (colheita, com ݇ = 1, … , ‫ ݉ ;)ܭ‬é
a média geral; ܽ௞ é o efeito fixo de anos (colheita); ܾ௝௞ é o efeito aleatório de
blocos dentro de anos, ‫ݐ‬௜ é o efeito fixo de tratamentos; ‫ܽݐ‬௜௞ é o efeito fixo da
interação entre tratamentos e anos; ߝ௜௝௞ é o resíduo normalmente distribuído,
homogêneo e independente.
Os efeitos fixos foram testados por meio de teste ‫ ܨ‬e as médias ajustadas
foram comparadas por meio de teste Tukey, com ߙ = 0,05. As análises foram
realizadas utilizando a proc mixed do programa SAS.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As diferentes plantas de cobertura de inverno utilizadas em pré-cultivo com a
soja não influenciaram no acúmulo de MSR, MSPA, Nod, MSN (Tabela 1). O
número médio de esporos (NE) extraídos da rizosfera da soja (Tabela 1) não
variou com a espécie de planta de cobertura utilizada, mesmo nas parcelas
onde a soja foi cultivada em sucessão ao nabo forrageiro (planta não
micotrófica).
Tabela 1. Médias ajustadas de massa da matéria seca de raiz (MSR) e da parte aérea
(MSPA), número de nódulos (Nod), peso seco de nódulos (MSN), número de esporos
(NE) em 50 g de solo e colonização radicular em plantas de soja em sucessão em
plantas de cobertura de inverno.
Tratamentos
MSR (g)
MSPA (g)
Nod
MSN
NE
CR*
(g)
(%)
Coquetel
1.81
9.88
42
0.24
216
60.7 a
Nabo forrageiro
2.28
11.22
34
0.22
207
59.3 ab
Milho + braquiária
2.00
10.45
29
0.19
250
53.5 ab
Aveia
2.08
12.14
35
0.19
169
53.3 ab
Milho
2.11
12.21
35
0.20
287
52.2 b
*Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey (ߙ = 0,05).
A contagem de esporos não foi elevada, o que é comum em solos de cultivo
(Miranda et al., 2001), cuja população pode aumentar gradativamente com o
cultivo de plantas que dependam e, ou multipliquem os FMA. Em geral, as
culturas anuais, adubos verdes e algumas forrageiras apresentam elevado grau
de dependência micorrízica (Miranda, 2008).
O nabo forrageiro, planta não micotrófica, segundo a literatura tende a interferir
negativamente na esporulação e micorrização da cultura subsequente (Miranda
et al., 2001). No entanto, no presente estudo, tal comportamento não foi
verificado (Tabela 1). Cordeiro et al. (2005), comparando diferentes sequências
de cultivo, observaram densidade de esporos relativamente alta na sequência
soja-nabo forrageiro-milho. Essa densidade foi maior, do que na sequência
soja-milho-sorgo, constituída exclusivamente de plantas micotróficas.
Quanto à colonização radicular (CR), verificaram-se diferenças entre os
tratamentos, sendo o maior valor obtido no coquetel e o menor na rotação com
milho safrinha (Tabela 1). Cordeiro et al. (2005), observaram que o cultivo do
nabo forrageiro como cultura antecessora ao milho não reduziu a colonização
micorrízica da cultura.
Houve diferença significativa entre anos para as variáveis MSR, Col e NE,
sendo que MSR e Col aumentaram, enquanto NE diminuiu. Não houve
interação significativa entre tratamentos e anos.
CONCLUSÕES
Para as condições do presente estudo, as diferentes plantas de cobertura de
inverno em pré-cultivo à soja não influenciaram no desenvolvimento das
plantas, no número e massa de nódulos e na esporulação dos fungos
micorrízicos. Entretanto, as plantas que sucederam o coquetel apresentaram
maior colonização micorrízica e o menor valor foi encontrado após o milho
safrinha.
REFERENCIAS
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