Amazônia Central - PDBFF - Projeto Dinâmica Biológica de
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Amazônia Central - PDBFF - Projeto Dinâmica Biológica de
Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais - PDBFF Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA Eduardo Venticinque Jansen Zuanon Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 1 Amanda Mortati Amanda Torres Branca Christiane Dana Fabiana Favy Flávio Fresnel Janael Jivanildo Juliana Souza Juliana Stropp Miúdo Márcio Mariana 2 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 Maura Patrícia Sandro Lene Jansen Dadão Ricardo Rita Angela Ocírio Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 3 Índice Comportamento de abano em Cnemidophorus lemniscatus (Squamata: Teiidae): termorregulação ou sinalização? Invertebrados associados a troncos de árvores durante a cheia em uma área de várzea da Amazônia Central 6 Existe efeito de borda na danificação de arvores no sub-bosque 43 A disponibilidade de luz e a altura da coluna de água durante a de uma floresta de terra firme na Amazônia Central? 8 fase de inundação podem influenciar a quantidade ... 46 Influência de uma borda florestal sobre a riqueza e densidade de plântulas Forrageo de aves granívoras (Emberezidae e Icteridae) en una varzéa del Río Solimões (AM) 10 Riqueza, composição e diversidade de palmeiras (Arecaceae) 48 Efeito do hábitat na predação de insetos de deriva por peixes relacionadas à variação topográfica em floresta de ... 13 na várzea do rio Solimões 49 O modelo de Janzen-Connell se aplica a Dinizia excelsa (Leguminosae)? Síndrome de dispersão de espécies vegetais de uma várzea no rio Solimões 16 Influência do manejo florestal madeireiro nos padrões de 51 Dispersión de macroinvertebrados asociados a islas de tamanho e arquitetura de plântulas e jovens de uma árvore de dossel macrófitas a la deriva en el rio Solimões, Amazonas-Brasil 53 18 Efeitos da queda de árvores em indivíduos arbóreos: danos e Ictiofauna associada a ilhas de macrófitas flutuantes no lago Camaleão e no rio Solimões - Amazônia Central luminosidade 21 55 Morfometria e uso do ambiente em peixes em uma área de Uso de fotografias digitais na avaliação de influências do corte seletivo de madeira sobre a estrutura da paisagem várzea da Amazônia Central 58 25 Influência da extração madeireira seletiva sobre a mortalidade Variações morfométricas de Salvinia auriculata Aubiet (Salvinaceae) em um lago de várzea da Amazônia Central de árvores grandes em uma área de floresta de ... 27 60 Relação da distribuição temporal de forrageamento de cupins Comparação das assembléias de formigas de solo entre área preservada e área de corte seletivo de madeira na . (Isoptera: Termitidae) com o tempo de inundação em... 62 29 Efeito do manejo florestal madeireiro sobre a comunidade Fatores que determinam a ocorrência de plantas dependentes de suporte em copas isoladas em lagos de Anavilhanas aranea em uma área de terra firme na Amazônia Central 32 64 Efeitos da complexidade estrutural de áreas com presença e A influência do manejo florestal sobre indivíduos da família Melastomataceae ausência de Astrocaryum jauari sobre a avifauna ... 66 34 Presença de folhas novas em Macrolobium acacaefolium (Leg. Mortalidade de árvores por efeito da cheia de 1953 no Arquipélago de Anavilhanas - Amazonas Caesalpinioideae): mecanismos endógenos ou ambientais? 36 68 Tamanho de teias e de machos seriam estratégias para seleçao Relações tróficas entre peixes em uma área de várzea no Rio Solimões, Amazônia Central sexual em Mesabolivar auriantiacus (Araneae: Pholcidae)? 70 38 Segregação de hábitat e comportamento agonístico entre Attila Impacto de trilhas sobre invertebrados de serapilheira 72 bolivianus e A. spadiceus (Passeriformes, Tyrannidae) 39 Abundância e atividade de lagartos heliófilos em floresta de terra firme na Amazônia Central, Manaus, AM Ictiofauna associada a duas espécies de macrófitas em uma área de várzea do Rio Solimões, Amazonas 74 Defesa biótica induzida em Maieta poeppigii Cogn. 41 (Melastomataceae), uma mimercófita da Amazônia Central 76 4 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 Padrões de formação de galhas de insetos em Vismia cayennensis (Clusiaceae) na reserva do Km 41, Amazônia Efeito de borda de estrada na predação de ninhos e sementes artificiais numa área de mata de terra firme da Amazônia Central 78 Central. 128 Riqueza y abundancia de pioneras en clareras de floresta de tierra firme en Amazonia Central Existe gradiente de tamanho, massa corpórea e fecundidade de Pyrrhulina brevis (Characiformes, Lebiasinidae) 81 A utilização de óleo essencial de frutos maduros de Piper 133 Dieta de Pyrrhulina brevis (Characiforme: Lebiasinidae) en hispidum Swartz (Piperaceae) para atração e ... 83 igarapés de la Amazonía Central: Selectiva o Generalista? 136 Actividad y uso de microhabitas en Ameiva ameiva (Sauria: Teiidae) en claro de bosque de la Amazonía central Interação formiga-planta: a importância dos exudatos de nectários extraflorais vs. excretas açucaradas de ... 86 Utilização de micro-hábitats por Heterophrynus longicornis 140 Efeito de clareiras na estrutura populacional de Attalea (Arachnida: Amblypygi) em uma mata de terra ... 89 attaleoides (Arecaceae) na Amazônia Central 144 Qual o significado ecológico da coloração conspícua das folhas jovens das espécies de plantas de sub-bosque na ... 91 Estrutura da vegetação e topografia: uma análise da paisagem na Amazônia central 93 Estrutura de hábitat e distribuição espacial de peixes em igarapés de terra-firme da bacia do rio Urubu, Amazônia Central. 97 Ictiofauna associada a bancos de folhiço submerso: uma questão de complexidade estrutural em igarapés de terra firme 100 Comparação da eficiência de dois métodos de coleta de peixes em igarapés de terra firme da Amazônia Central 104 Macrovisitantes florais de Parkia pendula (Willd.) Walp. (Leguminosae: Mimosoideae) 108 Assimetria Flutuante como ferramenta para avaliar o efeito de borda em Heliconia acuminata na Amazônia Central 112 Ocorrência de clareiras naturais em uma área de floresta de terra firme na Amazônia Central 115 Efeito da dispersão de sementes por Alouatta seniculus (Alloautinae, Cebidae) na dinâmica de estabelecimento de ... 118 Efeito da topografia sobre ecounidades em uma floresta contínua na Amazônia Central 120 Efeitos diretos e indiretos de Hemigrammus cf. pretoensis (Characidae) sobre náiades de Aeshnidae (Odonata) e ... 124 Efeito do adensamento populacional na competição por espaço em larvas de formiga-leão (Neuroptera: Myrmeleontidae) 126 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 5 Comportamento de abano em Cnemidophorus lemniscatus (Squamata: Teiidae): termorregulação ou sinalização? Jivanildo Miranda, Patricia Rodin, Juliana Stropp Carneiro, Faviany Lino, Sandro von Matter, Mariana Faria-Corrêa Introdução Métodos Comportamentos de ritualização são freqüentes em várias espécies de lagartos (Vitt et al. 2001; Pough et al., 1999). Na região Neotropical, lagartos arborícolas do gênero Anolis são conhecidos por realizar exibições envolvendo expansão e retração de um apêndice gular colorido (Pough et al., 1999). Lagartos terrestres do gênero Tropidurus também possuem um comportamento semelhante, onde os animais realizam pulsos de movimentação vertical da cabeça (“head bobbing”; Pough et al., 1999). Comportamentos ritualizados podem evitar interações agonísticas que envolveriam maiores custos metabólicos e poderiam resultar em danos físicos para os participantes. Lagartos, como animais ectotérmicos, dependem de fontes externas de calor para regulação da sua temperatura corpórea (Vitt et al., 2001). Várias estratégias e comportamentos podem ser adotados para obtenção de temperaturas corpóreas adequadas às atividades do animal. Dentre essas estratégias estão a alternância de movimentação entre locais de sombra ou sol, variação na atividade em determinados horários do dia, aumento e diminuição do contato do corpo com o substrato. Cnemidophorus lemniscatus é um lagarto terrestre da família Teiidae, freqüentemente encontrado em áreas abertas e em ambientes antropizados da região amazônica (ÁvilaPires, 1995). Esse animal apresenta um comportamento peculiar que consiste da realização de sequências rápidas de quatro ou cinco movimentos verticais curtos com os membros, o qual denominamos comportamento de abano. As sequências de abanos são apresentadas principalmente durante a movimentação dos animais para forrageamento, e podem ser realizados alternadamente com as patas dianteiras direita e esquerda, entretanto, mecanismos que desencadeiam esse tipo de comportamento ainda não são conhecidos. Realizamos este estudo para avaliar se o comportamento de abano estaria relacionado à sinalização entre co-específicos ou a atividades de termorregulação, como um modo de variar o contato do corpo com o substrato e o concomitante fluxo de calor por convecção. Os objetivos deste estudo são, portanto, avaliar se: a) a temperatura é um fator determinante na frequência do comportamento de abano; b) a presença de co-específico é um fator determinante na ocorrência do comportamento de abano e c) se há sincronia no comportamento de abano entre pares de indivíduos próximos. Desenvolvemos este estudo em uma área de floresta de terra firme na Amazônia Central, localizada na Fazenda Dimona (2º20’S-60º06’W) do “Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais” (INPA/Smiththsonian), 90 km ao norte de Manaus (AM). As observações foram feitas entre 7:15 e 12:00 horas de 09 julho de 2003, no entorno dos alojamentos, em uma área aberta coberta por gramíneas entremeadas por áreas de chão de areia. Para determinarmos a variação da temperatura ambiental, instalamos dois termômetros à altura do solo, revisados a cada 15 minutos. Obtivemos a frequência de atividades de abano a partir do método de animal-focal. Para tanto, localizávamos um animal e o acompanhamos por períodos de um minuto, anotando a frequência do comportamento de abano. Avaliamos a relação entre a frequência dos abanos e a temperatura do ambiente por meio de análise de regressão linear simples. Em função da área limitada utilizada nas sessões de observação, bem como da movimentação intensa dos indivíduos, não foi possível determinar se os registros de comportamento obtidos referem-se a indivíduos diferentes. Assim, optamos por registrar o maior número possível de sessões de observação, alternando entre locais e tratando-as como registros independentes de comportamento. Durante a observação focal anotamos a presença de coespecíficos a uma distância de até cinco metros do animal focal; posteriormente comparamos as freqüências de ocorrência (sim/não) do comportamento de abano na presença ou ausência de um co-específico. Para avaliar a sincronia do comportamento de abano entre pares de indivíduos de Cnemidophorus lemniscatus realizamos observações focais simultâneas por um período de até 239 segundos. A frequência de abano foi registrada para ambos animais utilizando um cronômetro. Para avaliar a correlação entre comportamentos de abano executados pelos indivíduos de cada par foram construídos diagramas de correlação cruzada. Todas as análises foram realizadas com o software Systat 8.0. 6 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 Resultados Observamos 70 seqüências individuais de comportamento de Cnemidophorus lemniscatus, com frequência variando de 0 a 27 movimentos por minuto (média: 6 ± 5,7 movimentos/minuto). Não houve relação entre a temperatura Coeficiente de Correlação do ambiente e frequência do comportamento de abano (r2 = 0,05 ; F = 0,375; P = 0.542; Figura 1). O comportamento de abano aparentemente também não esteve não vinculado à presença de co-específicos, uma vez que 93,3% (n=61) dos registros focais que apresentaram o comportamento de abano ocorreram mesmo na ausência de co-específicos. Pares de lagartos foram observados por um total de 16 minutos (média = 79 ± 60 segundos). A execução do comportamento de abano não apresentou sincronia de movimentos entre os indivíduos dos pares observados (Figura 2). Intervalo da série Figura 2 – Diagrama de correlação cruzada do movimento abano de um dos pares de indivíduos de Cnemidophorus lemniscatus. As linhas representam o intervalo de confiança. O intervalo da série (eixo das abcissas) é uma representação do atraso da resposta de um indivíduo em relação ao outro do par. Figura 1- Relação entre a frequência de movimentos (número de abanos por minuto) por Cnemidophorus lemniscatus e a temperatura do ar (r2 = 0,05 ; F = 0,375; P = 0.542). Discussão A ausência de relação entre a frequência do comportamento de abano e a variação da temperatura do ambiente, indica não se tratar de um efeito direto de termorregulação. Além disso, o comportamento de abano por Cnemidophorus lemniscatus ocorreu mesmo na ausência de co-específicos, o que indica que o comportamento não representa necessariamente uma sinalização intraespecífica. A ausência de sincronia dos eventos de abano entre um par de indivíduos fortalece essa idéia. Desse modo, o comportamento de C. lemniscatus não pôde ser explicado por qualquer das duas hipóteses inicialmente levantadas. Uma hipótese alternativa para explicar o movimento de abano em C. lemniscatus seria que esse comportamento representa uma resposta à presença de um predador potencial (no caso, os observadores). Adotando esse comportamento os lagartos estariam indicando ao potencial predador que ele já foi percebido, o que poderia levá-lo a desistir do ataque por não poder mais contar com o fator surpresa. Até onde sabemos, o movimento de abano não é um comportamento registrado para outras espécies de Cnemidophorus (J. P. Miranda, obs. pess. 2003). Assim, um fator importante de se considerar quando analisando o significado e a evolução do comportamento de abano em C. lemniscatus é o fato dessa espécie ser parte de um complexo de espécies que apresentam reprodução através de partenogênese. Essa estratégia reprodutiva pode afetar a dinâmica de fixacão e manutencão de certas características da espécie em questão devido a diminuição da recombinação genética e concomitante reducão da variabilidade na população. Referências bibliográficas Avila-Pires, T. C. S. 1995. Lizards of Brazilian Amazonia (Reptilia: Squamata). Zool. Verh. 299: 1-706. Pough, F. H., J. B. Heiser, e W. N. McFarland. 1999. A Vida dos Vertebrados. 2ª ed. Atheneu, São Paulo. Vitt, L. J., G. Zug e J. Caldwell. 2001. Herpetology: An Introduction to Amphibians and Reptiles. Allen Press. New York. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 7 Existe efeito de borda na danificação de arvores no sub-bosque de uma floresta de terra firme na Amazônia Central? Branca Medina, Amanda Mortati, Christiane Correa, Flavio Quental e Marcio Araújo Introdução Os danos mecânicos são distúrbios importantes para as comunidades vegetais, pois exercem influência na dinâmica de regeneração natural das espécies que as compõem, fazendo com que o período de crescimento de uma árvore desde o chão até o dossel fique mais longo (Clark e Clark, 2001). Diversos estudos têm demonstrado que os danos físicos têm um grande impacto no crescimento e sobrevivência de árvores pequenas (Clark e Clark, 1989, 1991; Portela, 2002). Em florestas tropicais chuvosas, o regime de perturbações, dominado por queda de árvores, desempenha papel central na manutenção da diversidade de espécies arbóreas (Levin e Praine, 1974; Foster e Brokaw, 1982; Rose, 2000). As plantas que sofrem mais danos são as de menor porte, devido a sua menor resistência em função da pequena quantidade de tecido lenhoso (Clark e Clark 1991). Além disso, uma maior quantidade de galhos acima destas plantas aumentaria sua probabilidade de danificação (Vicentini et al., 1995). As plantas muito pequenas (menos de 1 cm de diâmetro), na maioria dos casos, não resistem a esses danos e apresentam elevada mortalidade (Clark e Clark 1991; Portela, 2002). De fato, Clark e Clark (1991) observaram uma tendência de aumento do número de danos visíveis nas menores classes de tamanho, com exceção da classe de diâmetro < 1 cm, o que pode se dever à maior probabilidade da morte dos indivíduos desta última após o evento de quebra. Nesse mesmo estudo, os indivíduos de 1-4 cm apresentaram as maiores freqüências de danos visíveis. Os objetivos do presente projeto foram (1) analisar se há variação na freqüência de indivíduos arbóreos danificados e se ela está correlacionada com o gradiente da borda até 100 m de distância em direção ao interior de um fragmento de floresta na Amazônia Central e (2) determinar se o gradiente de danificação desses indivíduos está sendo determinado pelo número de troncos e/ou galhos caídos. Métodos Realizamos o estudo em um fragmento de 100ha isolado em 1990, na Fazenda Dimona, localizada a aproximadamente 80km ao norte de Manaus, AM (2o25' S, 59o50' O) com pluviosidade e temperatura médias anuais de 2000mm e 26,7oC, respectivamente, (Benitez-Malvido, 1995). Estabelecemos dois transectos paralelos (linhas 1 e 8 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 2), distantes 25m entre si, a partir da borda em direção ao interior. Em cada transecto, estabelecemos sete parcelas de 3 x 8m nas seguintes distâncias em relação à borda: 0m, 3m, 6m, 9m, 20m, 50m e 100m. Dentro de cada uma das 14 parcelas amostradas, contamos os indivíduos arbóreos com diâmetro à altura do colo (DAC) > 1 e d” 4cm e os troncos e/ou galhos caídos no chão com diâmetro e” 3cm. Consideramos os indivíduos amostrados como danificados quando apresentaram evidência de quebra do caule e/ou quando estavam tombados, em posição horizontal. Após um evento de quebra, o caule rebrota com diâmetro menor do que aquele abaixo da quebra (D. A. Clark, com. pess.). Consideramos indivíduos danificados aqueles em que essa redução de diâmetro foi de no mínimo 25% em relação ao diâmetro do ramo original (seguindo o critério de Clark e Clark, 1991). Determinamos também a presença ou ausência de troncos e/ou galhos no chão dentro de um raio de dois metros em relação aos indivíduos amostrados, mesmo que os troncos e/ou galhos se encontrassem fora dos limites da parcela. Realisamos analises de correlação (r de Spearman) entre a distância da borda do fragmento e as seguintes variáveis: (1) proporção de indivíduos com danos na parcela; (2) proporção de indivíduos com troncos ou galhos caídos em sua vizinhança; (3) número total de troncos e galhos na parcela e (4) número total de indivíduos. Além disso, fizemos um teste de probabilidade exata de Fisher para comparar a presença de troncos e galhos caídos entre indivíduos com e sem danos (Zar 1984). Resultados Troncos e/ou galhos caídos foram observados com maior freqüência na vizinhança dos indivíduos com danos do que naquela dos indivíduos sem danos (teste de Fisher : p = 0,03; N = 177). Na linha 2 de amostragem, a abundância de árvores de 14cm de diâmetro e a proporção de árvores com dano aumentaram significativamente com a distância da borda (correlação de Spearman – abundância: r = 0,67, p < 0,05, N = 6; indivíduos com dano: r = 0,812; p < 0,05; N = 6). Não foi observada, entretanto, nenhuma correlação significativa considerando-se os dados conjuntos de ambas as linhas (Figuras 1 e 2), dada a ausência de tais padrões na linha de amostragem 1. Número total de indivíduos por parcela 40 35 30 25 20 15 10 5 0 0a3 3a6 6a9 20 a 23 50 a 51 100 a 103 Classes de distância da borda (m) Figura 1 – Abundância de árvores pequenas (DAC > 1 e d” 4 cm) em relação à distância da borda, em um fragmento de 100 ha de uma floresta de terra firme da região de Manaus (Fazenda Dimona, Projeto PDBFF; Laurance et al. 2000). Proporção de plantas danificadas por parcela 30 25 20 15 10 5 0 0a3 100 a 103 2o a 23 3a6 50 a 51 6a9 Classes de distância da borda (m) Figura 2 – Proporção de árvores pequenas (DAC > 1 e d” 4 cm) com dano em relação à distância da borda, em um fragmento de 100 ha de uma floresta de terra firme da região de Manaus (Fazenda Dimona, Projeto PDBFF; Laurance et al. 2000). sua genética. Deste modo, cada uma poderá ter um padrão de resposta distinto. Como não identificamos as espécies amostradas em nosso estudo, quaisquer inferências nesse sentido seriam meramente especulativas. Existe a possibilidade de dois ou mais fatores estarem influenciando a freqüência de danos, o que não nos permite concluir a respeito da existência de relações diretas entre as variáveis analisadas. É possível que o efeito de borda produza um gradiente de perturbação em que haja uma diminuição na freqüência de queda de troncos em direção ao interior e, conseqüentemente, o número de indivíduos danificados (Laurance et al., 2000). Em contrapartida, é possível que o tempo de isolamento do fragmento também seja um fator determinante da freqüência de danos em árvores. Se o fragmento é antigo, é possível que os indivíduos danificados nos momentos seguintes à fragmentação já tenham morrido, e as árvores de grande porte, então presentes na borda e responsáveis por grande número de danos em florestas, já tenham caído. Nesse caso, espera-se que a freqüência de danos seja maior no interior da floresta. É sabido que as árvores pequenas (de diâmetro < 1cm) são as mais susceptíveis a danos. Clark e Clark (1991), por exemplo, observaram que o tamanho até 10cm de diâmetro representa uma fase de alto risco para árvores de florestas da Costa Rica. A maior disponibilidade de luz na borda da mata poderia promover uma maior taxa de crescimento dos jovens, o que resultaria em uma permanência menor nessa faixa de risco. Como resultado, seria esperado que na borda de fragmentos antigos a freqüência de danos visíveis em árvores destes tamanhos fosse menor. Adicionalmente, a presença de árvores de maior porte dentro da floresta seria um fator adicional de risco para árvores jovens sob suas copas. Agradecimentos Discussão A freqüência de troncos caídos próximos aos indivíduos com danos foi maior do que aquela observada nos indivíduos sem danos, ao contrário do observado por Portela (2002) em alguns fragmentos de mata atlântica com cerca de 80 anos de idade. Contudo, não existiu relação entre o número total de troncos caídos por parcela e a distância da borda, como observado por Portela (2002). Por meio da análise de cada transecto, distantes entre si apenas 25m, percebemos que somente para a linha 2 houve relações significativas, onde a proporção de indivíduos com danos e o número total de indivíduos aumentou da borda para o interior. Não podemos, entretanto, fazer inferências confiáveis com base em apenas uma linha de amostragem, já que o padrão observado nessa linha pode ter sido simplesmente gerado ao acaso. É possível que não haja realmente relação entre a freqüência de danos e a distância da borda, como encontrado por Portela (2002). Além disso, a ocorrência de danos deve estar relacionada à identidade da espécie afetada, já que a estrutura e arquitetura da planta é em parte determinada por Agradecemos a disposição, incentivo e inspiração de Deborah Clark durante todo o trabalho. Referências Bibliográficas Benitez-Malvido, J. 1995. The ecology of seedlings in Central Amazonian forest fragments. Tese de doutorado. Universidade de Cambridge. Clark, D. B. e Clark, D. A. 1989. The role of physical damage in the seedling mortality regime of a neotropical rain forest. Oikos 55:225-230. Clark, D. B. e Clark, D. A. 1991. The impact of physical damage on canopy tree regeneration in tropical rain forest. Journal of Ecology 79:447-457. Clark, D. B. e Clark, D. A. 2001. Getting to the canopy: tree height growth in a neotropical rain forest. Ecology 82: 1460-1472. Foster, R. B. e Brokaw, V. L. 1982. Structure and history of the vegetation of Barro Colorado island. The Ecology of tropical forests – seazonal rythims and long term changes. Smithsonian Institute, Washington DC, Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 9 USA. Laurance, W. F.; Delamônica, P.; Laurance, S.; Vasconcelos, H. L. & Lovejoy, T. E. 2000. Rainforest fragmentation kills big trees. Nature 404: 836. Levin, S. A. e Praine, R. T. 1974. Disturbance, patch formation and community structure. Proc. Nat. Acad. 71: 2744-2747. Portela, R. C. Q. 2002. Estabelecimento de plântulas e jovens de espécies arbóreas em fragmentos florestais de diferentes tamanhos. Tese de mestrado, UNICAMP. Rose, S. A. 2000. Seeds, seedlings and gaps – size matters: a study in the tropical rain forest of Guyana. Tropenbos, Guyana. Vicentini, A. Schimdt, B., Garduño, C. S., Vieitas, C. S. e Silvano, R. 1995. Análise da frequencia de danos físicos em plantas lenhosasn de floresta de platô na reserva florestal Ducke (Manaus, Brasil) e comparações com 2 florestas da América Central. Relatório do curso “Ecologia da Floresta Amazônica”1995. Zar, J. H. 1984. Biostatistical Analysis. Prentice Hall, New Jersey, USA. Orientadora: Deborah Clark Influência de uma borda florestal sobre a riqueza e densidade de plântulas Fabiana Rocha-Mendes, Fresnel Gustavo Diaz Araujo, Maura Maria Pezzato, Odirlene Marinho Ribeiro, Ricardo Idelfonso de Campos & Rita de Cássia Quitete Portela Introdução A diversidade das florestas tropicais é uma das maiores do planeta, em cada hectare de mata estima-se a existência de 300 espécies de árvores (Ribeiro et al., 1999). Essa floresta vem, entretanto, sofrendo efeitos de fragmentação que levam a um aumento da mortalidade de plantas e a chegada de novas espécies vegetais (Sizer, 1992; BenitesMalvido, 1995, 1998). Estudos sobre as conseqüências da fragmentação florestal sobre a conservação da biodiversidade tem aumentado significativamente nos últimos anos (Lovejoy et al., 1986; Laurance e Bierregard, 1997). A justificativa para este crescente interesse é a constatação de que a maior parte da biodiversidade se encontra hoje localizada em pequenos fragmentos florestais, pouco estudados e historicamente marginalizados pelas iniciativas conservacionistas. Se atendidas as previsões mais otimistas, os parques e reservas poderão responder pela manutenção de apenas 10% da cobertura natural dos ecossistemas tropicais. Para habitats fragmentados, o efeito de borda pode ser considerado como um dos principais fatores que afetam populações vegetais e animais (Laurance e Bierregaard, 1997). Três principais tipos de efeitos de borda podem ser reconhecidos: 1 - Os abióticos, que estão relacionados como alterações em fatores microclimáticos tais como aumento de ventos, variação de temperatura, penetração vertical da luz e umidade; 2 – os biológicos diretos que envolvem mudanças na distribuição e abundância das espécies; 3 – Os biológicos indiretos relacionados à alterações nas interações 10 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 entre espécies como herbivoria, predação, parasitismo, dispersão e polinização (Bierregaard et al. , 1995). Vários estudos que analisaram os efeitos da fragmentação sobre comunidades vegetais evidenciaram uma importante influência de bordas sobre a mortalidade de plântulas e indivíduos jovens em fragmentos florestais. (Wilson & Crome, 1989; Willians-Linera, 1990a, 1990b; Bothers & Spingarn, 1992; Sizer, 1992; Matlack, 1994). No caso de espécies arbóreas, o efeito de borda pode alterar de forma significativa as taxas de recrutamento de plântulas (BenitezMalvido, 1995). Este estudo visa determinar se existe uma alteração na riqueza e na densidade de plântulas da borda para o interior de um fragmento florestal na Amazônia Central. Métodos O estudo foi realizado na Fazenda Dimona em uma reserva de 100 ha do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (INPA/Smithsonian), localizada a aproximadamente 75 km ao norte de Manaus – AM. A temperatura média em Manaus é de 26,7 ºC e médias mensais flutuam na faixa de 2 ºC (Gentry, 1990). Os meses mais chuvosos são março e abril (~300 mm cada). A estação seca se distribui entre os meses de julho a setembro, sendo que cada um recebe menos de 100 mm de precipitação. As árvores desta região apresentam um dossel de 30 a 37 m, com árvores emergentes de 45 a 50 m, podendo atingir 55 m. O dossel é composto principalmente por espécies das famílias Sapotaceae, Lecythidaceae, Burseraceae e Leguminosae, sendo que as espécies predominantes na borda do fragmento são Cecropia sciadophylla e C. purpurascens (Benitez-Malvido, 1995). O estudo foi realizado em uma faixa central de 210 m da borda norte do fragmento, nas seguintes distâncias da borda: 5 m, 50 m, 100 m e 400 m (controle). Aleatoriamente, em cada distância foram distribuídas 5 parcelas de 1 x 2 m. O número de indivíduos (abundância) e o número de morfoespécies de plântulas (riqueza) foram registradas em cada parcela. Consideramos plântula qualquer indivíduo de zero a um metro de altura enraizado na parcela. Para comparação entre a riqueza e a abundância de plântulas, utilizamos o teste de Kruscal-Wallis, pois os dados não apresentaram homocedasticidade. Para testar a relação entre a densidade e riqueza foram feitas duas ANCOVAS, com e sem o ponto discrepante. Resultados Foram amostrados um total de 497 indivíduos em 20 parcelas, numa densidade mediana de 20,5 (mínimo de 3 e máximo de 87) e riqueza mediana de 11,5 (mínimo de 3 e máximo de 30). Foi encontrado um aumento significativo na riqueza de espécies e na densidade de plântulas da borda para o interior do fragmento estudado (Tab. 1, Fig. 1). Para verificar se o padrão encontrado de aumento da riqueza de plântulas da borda para o interior da floresta estava relacionado com a densidade de indivíduos, foi realizada uma ANCOVA, com a presença ou ausência de um ponto discrepante. Nos dois casos, foi encontrado, que a riqueza passa a não ser explicada pelo tratamento distância, depois que a densidade foi incluída como covariante na análise (Tab. 2; Fig. 2). Tab. 1: Resultado do teste de Kruskal-Wallis para riqueza e densidade em função da distância da borda do fragmento de 100 ha na fazenda Dimona. Gl Kuskal-Wallis p Riqueza 3 11,851 0,008 Densidade 3 8,498 0,037 Fig. 1: Mediana, quartis e valores extremos da riqueza e densidade de plântulas em função da distância da borda do fragmento de 100 ha de floresta na fazenda Dimona. Tab. 1: Resultado da ANCOVA para distância, densidade como covariante e riqueza como variável dependente no fragmento de 100 ha na fazenda Dimona. ANCOVA 1 utilizou os datos totais, ANCOVA 2 retirou-se o ponto discrepante. ANCOVA 1 ANCOVA 2 Distância Gl: 3; F= 2,36; p=0,11 Gl, 3; F= 2,89; p=0,07 Densidade Gl: 1; F= 30,46; p=0,00 Gl: 1; F= 2,13; p=0,16 Fig. 2: Relação entre densidade e riqueza de plântula em diferentes distâncias da borda de um fragmento florestal de 100 ha na fazenda Dimona. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 11 Discussão O aumento na densidade de plântulas encontrado da borda para o interior do fragmento pode estar relacionado à mudanças bióticas e abióticas decorrentes do efeito de borda. Em um trabalho nesse mesmo fragmento, um resultado semelhante foi encontrado por Benitez-Malvido (1995) até 100m da borda. Adicionalmente, a proximidade de bordas florestais pode afetar negativamente o número de plântulas e sementes de espécies arbóreas em fragmentos florestais na Amazônia, como o encontrado por Benitez-Malvido (2001). Os principais fatores que podem ter causado o padrão encontrado, devem estar relacionados a predação de sementes. Segundo Burkey (1993) existe uma menor predação de sementes nos habitats de entorno florestais devido ao fato da maioria dos predadores terem um comportamento de aversão à borda. Isso poderá claramente ocasionar uma forte mudança na composição, densidade e riqueza da comunidade de plantas da área (Burkey 1993). Ganade (2001) demonstrou indiretamente que a dispersão também pode ter sido um fator crucial para a diminuição da densidade de plântulas no interior do fragmento estudado. Esse trabalho demonstrou que quando introduzidas artificialmente, sementes de plantas de interior de mata, podem germinar sem nenhum problema em habitats de capoeira, que são muito parecidos em termos de composição de espécies com a borda desse fragmento. Sendo assim, parece que existe uma dificuldade no transporte de sementes do interior para a borda do fragmento que pode estar sendo causada por uma falha na dispersão e que pode ocasionar uma redução na chuva de sementes (Benitez-Malvido, 2001, Ganade, 2001). Como um ponto adicional responsável pelo padrão encontrado podemos apontar os fatores relacionados ao ambiente físico. Nas bordas, as causas da mortalidade de plântulas podem estar relacionadas com o aumento da queda de folhas, o que poderá ocasionar a morte das plântulas por dano mecânico (Clark e Clark, 1989; Benitez-Malvido, 1995). Mudanças na umidade e temperatura do solo nas bordas da floresta podem reduzir a germinação, especialmente das sementes que não são tolerantes à desidratação (Laurance e Bierregaard, 1997). Além disso, as plântulas tolerantes à sombra ao longo da borda podem também sofrer um decréscimo em sua abundância devido a forte competição com as espécies pioneiras, que possuem altas taxas de crescimento (Benitez-Malvito, 2001). O fogo, o vento forte e seco e atividade pecuária também podem aumentar a mortalidade de plântulas em um fragmento (Kapos et al., 1993). Conclusão Existe influência negativa da borda florestal na densidade e consequentemente na riqueza de plântulas, o que pode acarretar em mudanças na estrutura e composição de comunidade de plantas adultas bem como na dinâmica deste 12 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 fragmento a longo prazo. Agradecimento Agradecemos a Gislene Ganade pela orientação e apoio no campo e discussão, ao Sr. Ocírio (Juruna) pelo auxílio em campo, ao Eduardo Venticinque (Dadão) pelas sugestões e críticas e a Dona Eduarda e Sr. Jorge pela alimentação sempre bem vinda. Sem esquecer de todos os colegas dos outros grupos pelo incentivo, aconchego e distrações durante a confecção deste trabalho. Referências Bibliográficas Benitez-Malvido, J. 1995. The ecology of seedlings in central Amazonia forest fragments. Tese de Doutorado, University of Cambridge, England. Benitez-Malvido, J.1998. Impact of forest fragmentation on seedling abundance in a tropical rain forest Conserv. Biol. 12: 380-389. Benitez-Malvido, J. 2001. Regeneration in tropical rainforest fragments. In: Lessons from Amazonia – The ecology and conservation of a fragmented forest. Bierregaard Jr. R. O., C. Gascon, L\T. E. Lovejoy, and C. G. Mesquita. Yale University Press, New Haven & London. Bierregaard, R.O., Lovejoy, T.E., Kapos, V., Santos, A.A., & Hutchings, W. 1992. The biological dynamics of tropical rainforest fragments. BioScience 42: 859-866. Bothers,T. S. & A. Spingarn, 1992. Forest fragmentation and alien plant invasion of Central Indiana old-growth foorest. Conservation Biology 6: 91- 100. Burkey, T. V. 1993. Edge effects in seed and egg predation at two neotropical rainforest sites. Biological Conservation 66: 139-143. Clark, D. B., and Clark, D. A. 1989. The role of physical damage on canopy tree regeneration in Tropical Rain Forest. Oikos 55: 225 – 230. Ganade, G. 2001. Forest Restoration in abandoned pastures of central Amazonia.In: Lessons from Amazonia – The ecology and conservation of a fragmented forest. Bierregaard Jr. R. O., C. Gascon, L\T. E. Lovejoy, and C. G. Mesquita. Yale University Press, New Haven & London. Gentry, A. H. 1990. Four Neotropical Rainforests. Yale University Press, New Haven e Lonfdres. 627 p. Kapos, V.; Ganade, G.; Matsui, E. and Victoria, R. 1993. ¶13C as na indicator of edge effects in tropical rainforest reserves. Journal of Ecology 81: 425 – 432. Laurance, W. F. Bierregaard, R. O. 1997. Tropical Forest Remmants: ecology, management and conservation of fragments communities, The University of Chicago Press, Chicago. 616 p. Matlack, G.R.1994. Vegetation dynamics of forest edgetrends in space and successional time Journal of Ecology 82: 113 – 123. Ribeiro, J. E. L. S., Hopkins, M. J. G., Vicentini A., Sothers, C. A., Costa, M. A. S., Brito, J. M., Souza, M. A. D., Martins, L. H. P., Lohmann, L. G., Assunção, P. A. C. L., Pereira, E. C., Silva, C. F., Mesquita, M. R., Procópio, L. C., 1999, Flora da Reserva Ducke. Guia de identificação de plantas vasculares de uma floresta de terra-firme na Amazônia Central. Inpa-DFID. Manaus, Brasil. 816 p. Sizer, N. 1992. The impact of edge formation on regeneration and litterfall in a tropical rain forest fragment in Amazonia. Tese de Doutorado, University of Cambridge, England. Scoss, L. M. 2001. Efeito de borda sobre a intensidade de predação de sementes artificiais em uma floresta de terra firme na Amazônia Central. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica, 130-133. Willians-Linera, 1990a. Origin and early development of forest edge vegetation in Panama Biotropica 22: 235 – 241. Willians-Linera, 1990b. Vegetation structure and environmental conditions of forest edges in Panama. Journal of Ecology 78: 356 – 573. Wilson, M.F and F. Crome, 1989. Patterns of seed rain at the edge of a tropical Queensland rain forest. Journal of Tropical Ecology 5: 301 – 308. Orientador do projeto: Gislene Ganade Riqueza, composição e diversidade de palmeiras (Arecaceae) relacionadas à variação topográfica em floresta de terra-firme na região de Manaus, AM Amanda De La Torre, Dana Moiana Vianna, Janael Ricetti, Juliana Silva de Souza, Luciano Fogaça de Assis Montag Introdução As variações de diversidade e riqueza de espécies em função de características do solo, drenagem e biogeografia não são bem conhecidas para a floresta de terra-firme na Amazônia. Estudos vêm relacionando os padrões de riqueza de espécies com a variação na qualidade nutricional do solo, porém as relações causais ainda não são bem estabelecidas (Tuomisto et al., 2002). A textura do solo é uma característica física que tem grande influência nas demais características físicas e químicas do solo (Ross, 1989). Existem diferentes tipos de florestas de terra-firme (florestas que não são sazonalmente inundadas pelas cheias dos rios), os quais são definidos principalmente pelo tipo de solo e relevo: floresta de platô, de vertente, e floresta de baixio (Ribeiro, 1999). Em todos esses tipos de florestas, as palmeiras constituem um elemento dominante da vegetação. Arecaceae é uma das maiores famílias de plantas no mundo e a mais característica da flora tropical (Henderson et al. 1995). Segundo estes autores, os gêneros mais abundantes na Amazônia são Bactris, Geonoma e Astrocaryum, que incluem 95 espécies e variedades, sendo especialmente abundantes no sub-bosque. Apesar de sua ampla distribuição em áreas de floresta tropical, alguns estudos vêm demonstrando que o padrão de distribuição de certas espécies é influenciado por condições ambientais (solo, topografia, hidrologia) (Tuomisto et al. 2002, Souza et al. 1999, Ribeiro et al., 1999), tanto em macro como em meso-escala (Kahn, 1987, Basnet, 1992, Poulson 1996 apud Clark et al., 1998) Este estudo teve como objetivos: (1) comparar a riqueza, composição, diversidade e densidade de espécies de palmeiras em áreas de baixio, vertente e platô; (2) identificar potenciais espécies indicadoras desses ambientes; e (3) quantificar o conteúdo de areia no solo nos diferentes ambientes de floresta. Métodos A pesquisa foi conduzida na Amazônia central, numa região situada aproximadamente 70-90 km ao norte de Manaus – AM (2o 20,307’S e 60o 60,156’ O), nas áreas de convênio INPA/WWF/STRI, uma região que foi parcialmente desmatada para implantação de pastagens na década de 70 (Morato, 1993). Em meio a estas pastagens, foram preservados fragmentos de um, dez e 100 ha. A vegetação local é típica de floresta tropical úmida de terra-firme, com dossel atingindo em média 30-37 m de altura e sub-bosque aberto. Os solos são geralmente latossolos, pobres em nutrientes, sendo o relevo baixo e ondulado, entrecortado por inúmeros igarapés (Morato, 1993). A temperatura média anual é de 26.7 oC. A pluviosidade média anual varia entre 1900mm e 2400mm, com a estação chuvosa ocorrendo entre março e maio (aproximadamente 300 mm de chuva por mês), e os meses mais secos indo de julho a outubro, geralmente com pluviosidade mensal média inferior a 100 mm (RADAM BRASIL, 1978). Este estudo foi realizado num fragmento quadrangular de 100 ha de floresta amazônica, localizado na região da Fazenda Dimona. Para minimizar o efeito de borda das nossas análises, todas as medidas foram feitas na região central do fragmento. Estabelecemos três parcelas de 50 X 2 m em cada um dos tipos de floresta de terra - firme (platô, vertente e baixio). Estas parcelas foram dispostas Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 13 COMPOSIÇÃO DE ESPÉCIES Identificamos 28 espécies de palmeiras (Aracaceae) com uma abundância total de 245 indivíduos. Destas, Oenocarpus bataua, Astrocaryum sciophilum, Bactris acanthocarpa, Syagrus inajai e Geonoma aspidiifolia foram as espécies mais abundantes, representando mais de 70% dos indivíduos (Tabela 1). Tabela 1 – Lista de espécies e abundância de palmeiras identificadas nos diferentes tipos de floresta de terra-firme (Baixio, Vertente e Platô) em um fragmento florestal da Fazenda Dimona (n = 245). Espécie Oenocarpus bataua Mart. Astrocaryum sciophilum (Miq.) Pulle Bactris acanthocarpa Mart. Syagrus inajai (Spruce) Bece Geonoma aspidiifolia Spruce Astrocaryum gynacanthum Mart. Oenocarpus minor Mart. Attalea attaleoides (Barb. Rodr.) Wess. Boer Bactris constanciae Barb. Rodr. Bactris hirta Mart. Bactris syagroides Barb. Rodr. & Trial Socratea exorrhiza (Mart) H. Wendl. Bactris albletiana Bactris gastoniana Barb. Rodr. Iriartella setigera (Mart.) H. Wendl.) Oenocarpus bacaba Mart. Bactris maraja Mart. Geonoma maxima maxima (Poit) var. Máxima Kunth Attalea maripa (Aubl.) Mart. Bactris acanthocarpoides Barb. Rodr. Bactris simplicifrons Mart. Bactris tomentosa Mart. Desmoncus polyacanthos Mart. Euterpe precatoria Mart. Geonoma deversa (Poith) Kunth Geonoma sp. Hyospathe elegans (Mart) Total 14 Baixio 34 1 1 5 0 3 0 0 1 0 1 2 0 0 0 0 2 1 0 0 0 0 0 1 0 0 1 53 Vertente 42 23 7 7 3 3 3 3 1 3 3 0 3 1 3 1 0 1 1 1 1 1 0 0 0 0 0 112 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 Platô % do total 5 33,06 30 22,04 8 6,53 3 6,12 7 4,08 2 3,27 5 3,27 4 2,86 4 2,45 2 2,04 0 1,63 2 1,63 0 1,22 2 1,22 0 1,22 2 1,22 0 <1 0 <1 0 <1 0 <1 0 <1 0 <1 1 <1 0 <1 1 <1 1 <1 0 <1 80 100 Diversidade ShannonWiener (H') A 2.5 2. 1.5 1. Baixio Vertente Platô Tipo de floresta B 21 Riqueza (S) Resultados DIVERSIDADE E RIQUEZA DE ESPÉCIES Em relação à diversidade alfa, abundância e riqueza de espécies, estas não se apresentaram uniformes para os tipos de florestas (Figura 1A ). O maior valor de diversidade foi obtido para o platô (H’ = 2,26), já a maior riqueza e abundância foram registradas na vertente, com 21 espécies e 112 indivíduos (Figura 1B e 1C). 16 11 6 1 Baixio Vertente Platô Tipo de floresta 120 D 100 Abundância (n) paralelamente ao igarapé, a 50m umas das outras. Cada medição consistiu na contagem e identificação de todos os indivíduos de palmeiras com altura superior a 50cm. Os indivíduos abaixo desta altura não foram considerados devido à dificuldade de identificação. As análises dos dados foram realizadas com uso do índice de diversidade de Shannon-Wiener, com logaritmo natural e riqueza de espécies. Posteriormente foi utilizado o método de agrupamento de média de grupos não ponderada (UPGMA) e índice de similaridade de Jaccard para os dados de ocorrência e a similaridade de Morisita para os dados de abundância e incidência. Tais análises foram realizadas com o auxílio do programa computacional MVSP(http:// www.kovcomp.co.uk/). Para medir a granulometria do solo foi realizada uma análise do conteúdo relativo de areia, em profundidade de 0 – 15 cm, amostrados nos mesmos plotes, utilizando um trado tipo sonda. As amostras foram secas, destorroadas e passadas por peneira de malha de 2,00 mm. Então, pesou-se 10 g de cada amostra e passou-se em peneira de 0,96 mm de malha, e o material retido foi considerado como areia. 80 60 40 20 0 Baixio Vertente Platô Tipo de florestas Figura 1 – Valores de (A) índice de diversidade (H’); (B) riqueza de espécies e (C) abundância absoluta (n) para diferentes tipos de florestas de terra-firme (baixio, vertente e platô) na Amazônia Central. Por meio das análises de agrupamento hierárquico obtivemos resultados bem diferentes em relação à incidência e à abundância de espécies. As informações sobre incidência de espécies resultaram em uma baixa similaridade entre as unidades amostrais para os três tipos de florestas (Figura 2). Porém, quando acrescentamos as informações sobre a abundância das espécies verificamos um agrupamento com similaridades superiores a 60% na formação dos grupos platô (P1, P2 e P3), vertente (V1, V2 e V3) e baixio (B1, B2 e B3) (Figura 3). Figura 2 – Dendrograma da análise de agrupamento para incidência de espécies de palmeiras em diferentes topografias (índice de Jaccard; UPGMA). B = Baixio; V = Vertente e P = Platô. % d e a r eia A quantidade de areia nos diferentes ambientes de florestas apresentou uma variação em ordem de grandeza de, aproximadamente, 10 vezes entre baixio e platô (Figura 5). 60 Repetição 1 50 Repetição 2 40 Repetição 3 30 20 10 0 baixio vertente platô Tipos de floresta Figura 5 – Porcentagem de areia nos três ambientes de terrafirme (baixio, vertente e platô). Discussão Figura 3 – Dendrograma da análise de agrupamento para incidência de espécies de palmeiras em diferentes topografias (índice de Morisita; UPGMA). B = Baixio; V = Vertente e P = Platô. ESPÉCIES INDICADORAS DE TIPOS DE FLORESTAS Quando analisamos a densidade das oito espécies mais abundantes na amostragem total, verificamos uma diferenciação das abundâncias de espécies de palmeiras para os diferentes tipos de florestas (Figura 4). No baixio a espécie O. bataua apresentou-se como dominante, porém para o platô a dominância foi marcada pela espécie A. sciophilum. 45 Baixio 40 Vertente Platô Abundância (n) 35 30 25 20 15 10 5 B. co ns ta nc ia e A. at ta le oi de s O .m in or G .a sp id ifo lia S. in aj ai B. ac an th oc ar pa A. sc io ph ilu m O .b at au a 0 Espécies Figura 4 – Distribuição das abundâncias absolutas das oito espécies mais abundantes em florestas do baixio, vertente e platô, em uma área de terra-firme na Amazônia Central. DIVERSIDADE E RIQUEZA DE ESPÉCIES Observamos uma diferenciação nos valores de diversidade, riqueza e abundância de espécies de palmeiras para os diferentes tipos de florestas de terra - firme. A maior diversidade de espécies foi observada para o platô, provavelmente pela maior disponibilidade de nutrientes, em função da textura do solo que contém menor proporção de areia (Ross, 1989). Tuomisto et al. (2002) observaram que tanto para Melastomataceae como para pteridófítas houve uma tendência de aumento da riqueza com o aumento do conteúdo de bases (Ca, Mg, K e Na) do solo. Além disso, destacaram que estudos em grandes escala apresentariam um padrão unimodal, mas que em menor escala poderia-se captar apenas uma parte do padrão. Entretanto, apesar da pequena escala de nosso estudo, encontramos os maiores valores de riqueza na vertente, o que pode ser explicado pelo ambiente de transição entre duas regiões com características distintas (platô/baixio), com maiores oportunidades de nicho. INDICADORES DE TIPOS DE FLORESTAS Encontramos maior proporção de Astrocaryum sciophilum em platô, o que difere do encontrado por Souza et al. (1999) em estudo realizado na Reserva Ducke, onde observaram que o número de indivíduos no platô e vertente era muito similar. A espécie Oenocarpus bataua foi encontrada em maior proporção na vertente, o que difere do encontrado por Souza et al. (1999), os quais consideraram esta espécie como uma indicadora de baixio. Entretanto, é importante ressaltar que não distinguimos os indivíduos jovens dos adultos durante a realização deste estudo. Segundo Ocírio Pereira (comunicação pessoal) os indivíduos jovens de O. bataua não se estabelecem como adultos na vertente. Uma vez que O. bataua foi a espécie mais abundante e observamos na Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 15 vertente apenas indivíduos jovens, isto explicaria a similaridade observada entre vertente e baixio. Assim, algumas espécies de palmeiras estariam atuando como indicadoras de variações topográficas, estando de acordo com os resultados de Clark et al. (1998) em um estudo no qual foram analisadas as relações de cinco espécies de dossel alto e médio com fatores edáficos. Agradecimentos Agradecemos ao Grande Juruna (Sr. Ocírio Pereira) pela valiosa contribuição nas identificações de campo das palmeiras e a Angelita pelo apoio na coleta de dados. Referências Bibliograficas Clark, D. B., D. A. Clark, e J. M. Read. 1998 Edaphic variation and the mesoscale distribution of the tree species in a neotropical rain forest. Journal of Ecology 86:101-102. Henderson, A.; Galeano G.; Bernal, R. 1995. Field Guide to the Palms of the a Americas. Princeton University Press, Princeton, New Jersey. 352 p. Morato, E. F.,1993. Efeitos da Fragmentação florestal sobre vespas e abelhas solitárias em uma área da Amazônia Central, pág.20-21. RADAM BRASIL 1978. Folha SA20 Manaus, pág. 261. Rio de Janeiro, Ministério das Minas e Energia, Departamento Nacional de Produção Mineral. Ribeiro, J. E. L. S.; Hopkins, M. J. G.; Vicentini, A.; Sothers, C. A.; Costa, M. A. S.; Brito, J. M.; Souza, M. A. D.; Martins, L. H. P.; Lohmann, L. G.; Assunção, P. A. C. L.; Pereira, E. C.; Silva, C. F.; Mesquita, M. R.; Procópio, L. C. 1999. Flora da Reserva Ducke: Guia de identificação das plantas vasculares de uma floresta de terra-firme na Amazônia Central. 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Estas, em parte, determinam a distribuição espacial das populações e conseqüentemente a estrutura da comunidade vegetal. O modelo de Janzen-Connell (Janzen, 1970; Connell, 1971), que se baseia na hipótese de escape da intensa predação sob a planta-mãe, é uma das várias propostas que foram desenvolvidas para explicar o padrão de distribuição espacial de populações em florestas tropicais (Fernner, 1988). O modelo prevê que a probabilidade de ocorrência de sementes no solo diminui monotonicamente com a distância da planta-mãe, enquanto a probabilidade de sobrevivência da plântula aumenta. Isto supostamente ocorre devido à atividade de predadores, que respondem à densidade de sementes. O objetivo deste estudo foi examinar se a ocorrência de diásporos e de plântulas de Angelim, Dinizia excelsa (Leguminosae: Mimosoideae), uma árvore emergente de dispersão anemocórica, segue o modelo de Janzen-Connell, 16 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 através da resposta às seguintes perguntas: a) A densidade de diásporos diminui em função da distância da planta-mãe?; b)a densidade de plântulas aumenta em função da distância da planta-mãe?; c) a predação de diásporos aumenta em função da densidade de diásporos? Métodos Realizamos este estudo no dia 11 de julho, numa área de preservação absoluta da Empresa Mil Madeireira, localizada a sudeste de Manaus (2º 52' 65'’S e 58º 44' 17'’O) Estudamos dois indivíduos de Dinizia excelsa distantes 2 km entre si e localizados a uma distância mínima de 100m da borda da floresta. Definimos a partir da planta-mãe, quatro intervalos de distância: 0-10m, 20-30m, 40-50m e 60-70m. Em cada intervalo, amostramos seis parcelas de 2m2, dispostas de forma radial no entorno da planta-mãe. A localização das parcelas foi determinada por meio de sorteio do ângulo e da distância de planta-mãe dentro de cada intervalo. Em cada parcela contamos o número de plântulas e diásporos encontrados, e classificamos os diásporos quanto à presença ou ausência de danos indicativos de predação. Para avaliar se a distribuição das plântulas e dos diásporos seguiam o padrão previsto pelo modelo de Janzen-Connell, realizamos uma análise de regressão linear entre a distância da planta mãe e densidade de plântulas e entre a distância da planta-mãe e densidade de diásporos. Para avaliar se a predação dos diásporos era dependente da densidade, realizamos uma análise de regressão linear entre a densidade de diásporos predados e a densidade por parcela. Posteriormente, comparamos o coeficiente angular da reta ajustada em relação ao coeficiente angular teórico igual a 1, por meio do teste t. Resultados Os dois indivíduos de Dinizia excelsa, porém estes indivíduos estavam em fase ontogenética distinta, sendo que o menor deles apresentou uma baixa densidade de diásporos e ausência de plântulas, o que impossibilitou a inclusão deste indivíduo na análise. Deste modo, os resultados apresentados referem-se a apenas um indivíduo de D. excelsa. Encontramos 281 indivíduos de D. excelsa em 24 parcelas amostradas a diferentes distâncias da planta-mãe (11,7 ± 2,9; 0-14). A densidade de diásporos encontrada diminuiu significativamente com a distância da planta-mãe (r2 = 0,55; p < 0,001– Figura 1). Figura 2: Relação entre a densidade de plântulas por parcela e a distância da planta-mãe Dinizia excelsa na área da Madereira Mil, Itacoatiara, Amazonas. Figura 3: Relação entre densidade total de diásporos e a densidade de diásporos predados (y = -0,276 + 0,816x) em Dinizia excelsa na área da Madereira Mil, Itacoatiara, Amazonas. A reta tracejada representa uma função teórica onde a constante é zero e a inclinação é igual a um. Figura 1: Relação entre a densidade de diásporos e a distância da planta mãe em Dinizia excelsa na área da Madeireira Mil, Itacoatiara, Amazonas. Discussão Encontramos um total de 35 plântulas de D. excelsa nas 24 parcelas amostradas a diferentes distâncias da plantamãe (1,45± 0,68; 0-10). A densidade de plântulas não apresentou relação com a distância da planta-mãe (r2 = 0,045; p = 0,32; Figura 2). Houve uma relação significativamente positiva entre a densidade de diásporos e a densidade de diásporos predados (r2 = 0,98; p = 0,001; Figura 3). O coeficiente angular da reta representativa desta relação não diferiu de 1 (t = 8,36; p > 0,05), indicando que o incremento na densidade de sementes está associado a um incremento proporcional na intensidade de predação. A densidade de diásporos de Dinizia excelsa diminuiu em função da distância da planta-mãe, o que está de acordo com o previsto pelo modelo de Janzen-Connell. No entanto, a predação não aumentou em função da densidade de diásporos, contrário ao previsto por este mesmo modelo (Janzen, 1970; Connell, 1971). Com base nestes resultados, esperávamos encontrar um maior recrutamento próximo a planta-mãe, o que se refletiria numa maior densidade de plântulas nessa área. No entanto, a densidade de plântulas encontrada foi muito baixa e não apresentou relação com a distância da planta-mãe. Uma possível explicação é que outros fatores, como a competição intraespecífica, também podem exercer influência sobre o estabelecimento das Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 17 plântulas, alterando a distribuição de densidade de plântulas esperada em função das curvas encontradas da chuva de sementes e predação independente de densidade. De modo semelhante a diversas outras espécies de floresta tropical (Augspurger 1984; Houle, 1995), a espécie estudada, Dinizia excelsa, não seguiu o modelo de Janzen-Connell. No entanto, o resultado sobre o recrutamento de plântulas indica que o padrão de recrutamento em D. excelsa é semelhante ao previsto pelo modelo, apesar da espécie não seguir as predições em relação à predação de diásporos. Portanto, a adequação da distribuição espacial das sementes e plântulas em função da distância da planta-mãe precisa ser melhor examinada para que as generalizações do modelo sejam aferidas. Agradecimentos Agradecemos ao Beto pela orientação e por ter incorporado o papel de coletor de sementes, e ao Juruna pela grande ajuda no campo, sobrando, assim, tempo para tomar banho no igarapé. Referências bibliográficas Augspurger, C. K. 1984. Seedling survival of tropical tree species: interactions of dispersal distance, light-gaps, and pathogens. Ecology 65 (6): 1705-1712. Connell, J. H., 1971. On the role of natural enemies in preventing competitive exclusion in some marine animals and in rain forest trees. In: P. J. den Boer & G. R. Gradwell (eds.). Dynamics of Population. Center for Agricultural Publication and Documentation, Wageningen. Fernner, M. 1988. Seed ecology. Cambridge University press. Cambridge. Houle, G. 1995. Seed dispersal and seedling recruitment: The missing link (s). Ecoscience 2 (3): 238-244. Janzen, D. H. 1970. Herbivores and the number of tree species in tropical forests. American Naturalist, 104: 501-528. Influência do manejo florestal madeireiro nos padrões de tamanho e arquitetura de plântulas e jovens de uma árvore de dossel Christiane E. Corrêa, Amanda Mortati, Branca Medina, Flávio Quental, Márcio S. Araújo Introdução A sucessão ecológica pode ser definida como o padrão não-sazonal, direcional e contínuo de colonização e extinção de populações em uma área (Begon et al., 1990). Muitas espécies arbóreas de estágios avançados de sucessão caracterizam-se, entre outras coisas, pela capacidade de germinar no interior da floresta, sob baixas condições de luminosidade, e de permanecer como plântulas por longos períodos (Gomes-Pompa e R. Del Amo, 1985). Tais espécies, diferentemente das pioneiras, estão envolvidas no fenômeno de regeneração avançada (Uhl et al., 1988; Rose et al., 2000). Estas formam um banco de plântulas (Benitez-Malvido, 1995; Ganade, 1995) que permanecem no sub-bosque até que alguma perturbação, como a abertura de clareiras, mude as condições do ambiente. O aumento na penetração de luz por intermédio de perturbações naturais, como a queda de árvores devido a ventos, raios ou doenças, faz com que indivíduos jovens de espécies tolerantes à sombra presentes no sub-bosque tenham um aumento nas suas taxas de crescimento (Uhl, 1982; Benitez-Malvido, 1995; Rose et al., 2000). Desse modo, a sucessão nessas clareiras é dominada pelos maiores indivíduos pertencentes ao banco de plântulas (Brown e Jennings, 1998). 18 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 As mudanças microclimáticas que ocorrem durante o processo de sucessão exercem influência em aspectos alométricos de plantas. Em algumas espécies arbóreas, por exemplo, os indivíduos jovens alocam recursos predominantemente em crescimento vertical como forma de escapar da zona próxima ao solo, onde a luminosidade é muito baixa (Portela, 2002), ou ampliando a superficie de contato como aumento da área da copa para melhor captação de luz. Peturbações antrópicas, como o manejo florestal madeireiro, também provocam um aumento na intensidade de radiação solar no interior da floresta. Por isso, podem ter efeito nas taxas de crescimento e na alometria desses regenerantes, por terem influência na intensidade luminosa do interior da floresta. Com base nessas inormações, tivemos como objetivo (1) investigar se o manejo madeireiro de áreas florestais influencia o crescimento de plântulas e jovens de uma espécie arbórea amazônica e (2) investigar se esse manejo influencia os padrões de arquitetura dos indivíduos dessa espécie. Métodos A espécie estudada, Zygia racemosa (Ducke) (Leguminosae: Mimosoidae), conhecida como angelim- Resultados Foram amostrados 60 indivíduos distribuíduos igualmente para as duas áreas. Na área manejada, os indivíduos apresentaram uma altura média de 71,3cm (± 71,5; mín 7,8máx 287,0cm), diâmetro da copa de 58,7cm (± 65,4; 6,2 – 296,0cm), tamanho do folíolo de 9,2cm (±3,3; 2 - 14,5cm) e diâmetro a altura do colo de 1,1cm (±0,86; 0,11 - 3,13cm). Na área preservada, os indivíduos apresentaram altura média de 42,4cm (± 41,8; 5,9 – 197cm), diâmetro da copa de 28,4cm (±25,8; 5,7 - 118,2cm), tamanho do folíolo de 7,3cm (±3,1; 2,1 - 14,8cm) e diâmetro à altura do colo de 0,54cm (±0,42; 0,2 - 1,80cm). Na área manejada, as plantas apresentaram maior diâmetro da copa (t = 2.359, gl = 58, p = 0,022), diâmetro à altura do colo (t = 3.308, gl = 58 , p = 0.002), tamanho do foliolo (t = 2.259; df = 58; p = 0.028) e altura marginalmente maior (t = 1.912, gl = 58, p = 0.061), comparadas às da área preservada. A distribuição das classes de alturas foi diferente entre as duas áreas amostradas (p= 0.108), enquanto que para os valores de DAC não houve diferença (p =0.001, Figura 1). O log do diâmetro à altura do colo, diâmetro da copa e tamanho do folíolo relacionaram-se com a altura, mostrando que plantas maiores apresentam maiores medidas. Entretanto, essas não estão sendo influenciadas pelo grau de preservação da área (Tabelas 1,2,3; Figuras 2,3,4). Freqüência de alturas 10 HABITAT manejada preservada 5 0 0 100 200 Altura (cm) 300 15.0 Freqüência de DAC rajado, é uma espécie arbórea comum nos platôs da floresta de terra firme da Amazônia. Distingue-se por apresentar folhas bipinadas, folíolos com base assimétrica, glândulas na raquis e pinas evidentes. É polinizada principalmente por mariposas noturnas e as sementes são dispersas principalmente pelo vento. Trata-se de uma árvore de dossel, de madeira dura e de interesse econômico (Ribeiro et al., 1999). Realizamos o estudo em duas áreas, uma preservada e outra manejada em 1998, pertencentes à MIL Madeireira, localizada a aproximadamente 40km de Itacoatiara, AM. Em cada área traçamos uma parcela de 20 x 50m, onde foram aleatorizados 30 pontos. Foram amostramos os indivíduos mais próximos de cada ponto sorteado e, de cada um, foram tomadas as seguintes medidas: (1) altura, medida do solo até a gema apical; (2) diâmetro à altura do colo (DAC); (3) maior diâmetro da copa e (4) tamanho do maior folíolo da folha madura mais apical. As distribuições de altura e de DAC das duas áreas foram comparadas pelo teste de Kolmogorov-Smirnov. As diferenças entre as médias de DAC, altura, diâmetro da copa e tamanho do folíolo das duas áreas foram analisadas por teste t. Para comparar a arquitetura dos indivíduos das duas áreas, analisamos se o DAC, o diâmetro da copa e o tamanho da folha covariam com a altura utilizando ANCOVA. HABITAT manejada preservada 7.5 0.0 0 1 2 DAC (cm) 3 4 Figura 1 – Distribuição das classes de altura (A) e diâmetro à altura do colo (B) dos indivíduos de Zygia racemosa em área de preservação e manejada na região de Itacoatiara, AM. Tabela 1 – Análise de variância relacionando o log do diâmetro a altura do colo com a altura e áreas manejada e de proteção absoluta, em mata de terra firme da região de Itacoatiara, AM. Fator LOG Altura Habitat Habitat*LOG Altura Resíduo gl 1 1 1 56 F calculado 53.399 0.276 1.268 P 0.000 0.601 0.265 Tabela 2 – Análise de variância relacionando o log do diâmetro da copa com a altura e as áreas manejada e de proteção absoluta, em mata de terra firme da região de Itacoatiara, AM. Fator LOG Altura Habitat Habitat*LOG Altura Resíduo gl 1 1 1 56 F calculado P 170.982 0.091 0.017 0.000 0.764 0.897 Tabela 3 – Análise de variância relacionando o log do tamanho do folíolo com a altura e as áreas manejada e de proteção absoluta, em mata de terra firme da região de Itacoatiara, AM. Fator LOG Altura Habitat Habitat*LOG Folha Resíduo gl 1 1 1 56 F calculado 35.198 0.161 0.031 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 P 0.000 0.690 0.860 19 Log diâmetro à altura do colo HABITAT manejada Discussão preservada 0.5 0.0 -0.5 -1.0 0 1 2 Log altura 3 Figura 2 – relação entre log do diâmetro à altura do colo com o log da altura em plantas de mata de terra firme da região de Itacoatiara, AM. HABITAT manejada preservada Log diâmetro da copa 3 2 1 0 0 1 2 Log Altura 3 As espécies de estágio sucessional avançado possuem banco de plântulas, que crescem em direção ao dossel quando uma perturbação permite maior entrada de luz no interior da floresta (Gomez-Pompa e R. Del Amo, 1985, Ganade, 1996). Este processo se deve ao fato de que a taxa de crescimento das plantas aumenta com a maior incidência de luz (Uhl et al., 1988; Benitez-Malvido, 1995; Rose et al., 2000). Portanto, é provável que o aumento da luminosidade, em função da abertura de clareiras provocadas pelo manejo, explique o maior tamanho das plantas nesta área. Esta dinâmica é especialmente importante para a regeneração avançada, onde as espécies apresentam um padrão de crescimento mais lento e formação de banco de plântulas, como Zygia racemosa. Os indivíduos pertencentes à área de manejo apresentaram tamanho de folha, diâmetro à altura do colo e diâmetro da copa maiores quando comparados ao indivíduos da área preservada. Apenas em relação à altura mostraram-se marginalmente maiores na área manejada. Essas relações podem ser justificadas pela maior intensidade luminosa na área de manejo. A extração de árvores de grande porte incrementa a entrada de luz por meio da formação de clareiras, ambientes muito importantes para o ciclo de vida de muitas plantas (Meer e Bongers, 1996). Apesar da alocação de recursos entre os indivíduos das diferentes áreas ter sido semelhante, os indivíduos da área manejada estão investindo mais em biomassa quando comparados aos da área preservada. Desse modo podemos concluir que o manejo tem efeito na dinâmica do sistema, alterando a estrutura da população de Zygia racemosa. Agradecimentos Agradecemos à Gislene Ganade pela orientação, a Figura 3 – relação entre log do diâmetro da copa com o log estrutura fornecida pela MIL Madereira e ao apoio logistico da altura em plantas de mata de terra firme da região de oferecido pelo curso. Itacoatiara, AM. Referências Bibliográficas HABITAT manejada preservada Log do tamanho do folíolo 1.5 1.0 0.5 0.0 0 1 2 Log altura 3 Figura 4 – relação entre log o tamanho do folíolo com o log da altura em plantas de mata de terra firme da região de Itacoatiara, AM. 20 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 Begon, M.; Harper, J. L.e Townsend, C. R 1990. Ecology: individuals, populations and communities. 2ªed. Blackwell, Scientific publications. 945pp. Brown, N. D. & S. Jennings. 1998. Gap-size niche differentiation by tropical rainforest trees: a testable hypothesis or a broken-brown bandwagon? In: Newbery, D. M., H. H. T. Prins & N. Brown (eds.). Pp 79-94. Dynamics of tropical communities. Blackwell Scientific Publishers, Cambridge, UK. Ganade, G. 1996. Seedling establishment in Amazon rainforest and old fields. PhD thesis. University of London. Gomes-Pompa, A. & R. S. Del Amo. 1985. Investigaciones sobre la regeneracion de selvas altas en Veracruz, Mexico. Volumen II. Instituto Nacional de Investigaciones Sobre Recursos Bioticos. Xalapa, Veracruz, Mexico. Meer, P. J. V. D. & Bongers, F. 1996 Patterns of tree-fall and branch-fall in a tropical rain forest in French Guiana. Journal of Ecology, 84, 19-29. Portela, R. C. Q. 2002. Estabelecimento de plântulas e jovens de espécies arbóreas em fragmentos florestais de diferentes tamanhos. Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual de Campinas, SP. Ribeiro, J. E. L.; Hopkins, M. J. G.; Vicentini, A.; Sothers, C. A.ç Costa, M. A. S.; Brito, J. M.; Souza, M. A. D.; Martins, L. H. P.; Lohmann, L. G.; Assuncao, P. A. C. L.; Pereira, E. C.; Silva, C. F.; Mesquita, M. R. e Procopioet, L. C. 1999. Flora da Reserva Ducke: Guia de identificacao das plantas vasculares de uma floresta de terra firme na Amazonia Central. INPA, DFID. 790pp. Rose, S. A. 2000. Seeds, seedlings and gaps – size matters: a study in the tropical rain forest of Guyana. Tropenbos-Guyana Programme, Georgetown, Guyana. Uhl, C. 1982. Recovery following disturbances of different intensities in the Amazon rain forest of Venezuela. Interciencia, 7(1): 19-24. Orientadora do projeto: Gislene Ganade Efeitos da queda de árvores em indivíduos arbóreos: danos e luminosidade Fabiana Rocha-Mendes, Fresnel Gustavo Diaz Araujo, Maura Maria Pezzato, Odirlene Marinho Ribeiro, Ricardo Idelfonso de Campos & Rita de Cássia Quitete Portela Introdução O corte seletivo é uma importante e difundida forma de exploração florestal principalmente nos trópicos (Unesco, 1978). Ela consiste na retirada por corte de apenas indivíduos arbóreos de alto valor comercial sendo a floresta posteriormente abandonada para a regeneração, tendo como proposta uma exploração sustentável de madeira visando minimizar os danos ambientais gerados (Johns 1985). No início da década de 90, o governo brasileiro diminuiu o incentivo financeiro para a exploração madeireira, no entanto nos últimos anos esse processo tem aumentado em larga escala, principalmente na região Amazônica (Higushi, 2001). Potencialmente, o desmatamento seletivo pode causar diversos impactos na estrutura física da floresta, tais como maior abertura de dossel, compactação do solo e danos em árvores remanescentes (Guilherme 1999). Após um impacto, o sucesso da regeneração de espécies tropicais é influenciado por um série de fatores, tais como o nível de luminosidade, tamanho de clareira (Dalling et al. 1999), dispersão de sementes (Forget 1994), predação e parasitismo dos estádios ontogenéticos iniciais (Candesso e Pickett 2000) e o dano físico causado pela serapilheira, por vertebrados e invertebrados, sendo que este pode alterar a dinâmica da composição e estrutura de uma comunidade (Clark & Clark 1991). Em todos os estádios de desenvolvimento de uma planta, os indivíduos podem ser mortos por agentes biológicos ou físicos, porém, os indivíduos tornam-se progressivamente menos vulneráveis com o tempo, sendo os processos que causam mortalidade nos estádios iniciais de desenvolvimento, determinantes da abundância e distribuição dos adultos (Clark & Clark 1991). Hoje em dia, pouco se sabe sobre o real efeito da atividade de exploração de madeira sobre as comunidades naturais (Vasconcelos, 2002), principalmente sobre a comunidade de árvores jovens, estas que junto com o banco de sementes e plântulas constituem agentes para a recuperção destas áreas. Portanto, estudar estes impactos é de fundamental importância para o entendimento da recuperação destas áreas exploradas. Os objetivos do nosso trabalho foram: 1-avaliar se existe um aumento na quantidade de danos visíveis nos indivíduos arbóreos do subosque, à medida em que aumenta a distância perpendicular a árvore caída. 2- avaliar se existe um aumento na luminosidade para os indivíduos pequenos no subosque afetado pela extração de uma árvore. Métodos Em Julho de 2003, realizamos o presente trabalho na área da empresa Mil Madereira Ltda, localizada no município de Itacoatiara, Amazonas, entre as coordenadas 02º43’03º04’S e 58º31 – 58º57 W. A temperatura média anual do sítio é de 26ºC com precipitação média anual de 2206 mm (Mil, 1994). Conduzimos o estudo em área de terra firme que sofreu corte seletivo de madeira no ano de 1999. Utilizamos parcelas de 4 x 20 m, localizadas perpendicularmente à direção de queda de uma árvore já retirada. As parcelas foram colocadas em três porções distintas de duas árvores: base (a qual caracteriza-se pelo “toco”); meio (porção mediana entre a copa e a base da árvore) e copa (indicada por galhos da árvore ainda presentes no local) (Fig.1). Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 21 2m Base 20m 2m 2m Meio 20m 2m 2m Copa 20m 2m Figura 1. Esquema do desenho experimental do estudo sobre danos mecânicos arvores jovens em uma área de corte seletivo na Mil Madeireira. 1.5-2.5 4 Todas as plantas arbóreas com diâmetro entre 1 a 4 cm (medido com o paquímetro), a uma altura de 15 cm do solo foram amostradas em relação a sua distância do tronco (copa, meio e base), número de danos visíveis no caule (quebra de galho e quebra de gema apical) e índice de luminosidade da sua copa (segundo Clark & Clark 1992) (Fig 2). Os dados de diâmetro e números de danos foram analisados por regressão linear e os de intensidade luminosa com uso de analise de correlação de Spearman. As análises foram feitas individualmente para os dados das áreas da copa, meio e base da árvore cortada. Resultados Dos 251 indivíduos amostrados 73,7% apresentaram evidências de dano. Houve uma correlação negativa entre o índice de luminosidade e a distância do tronco, sendo esta mais forte na área da copa (Tab1. e Fig3.), ou seja, quanto menor a distância do tronco caído, maior o índice de luminosidade. Não houve relação entre a distância da árvore extraída e a quantidade de danos mecânicos visíveis nos caules das árvores amostradas (Tab2. e Fig4.). 3 5 Figura 2. Índice de luminosidade da copa (adaptado de Dawkins & Field, 1978 por Clark e Clark, 1992): 1.5-2.5 - luz lateral: sem exposição à luz direta vertical, se divide em alto (índice = 1.5), mediano (índice = 2.0) e baixo (índice 1.5). 3 - luz vertical parcial: com 10-90% da projeção vertical da copa exposta à luz direta. 4 - luz vertical completa: com mais de 90% da projeção vertical exposta à luz direta, mas com vizinhos bloqueando o acesso da luz direta aos lados de cada. 5 - copa completamente exposta à luz direta. 22 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 Tabela 1. Resultados das correlações de Spearman (unicaudal) entre o indice de luminosidade e distância da árvore cortadas (perpendicular ao tronco). Tabela 2. Resultado das regressões lineares entre o número de dano por indivíduo e a distância da árvore cortada (perpendicular ao tronco), nas três porcões da árvore. Porcao rs P Porção r P Base -0,447 0.0005 Base 0,009 0.45 Meio -0,452 0.0005 Meio 0.030 0.051 Copa -0,729 0,0005 Copa 0.015 0,36 2 Número de danos Base 3.5 Base Indice de luz 3.0 2.5 2.0 1.5 1.0 0.5 0 5 10 15 20 7 6 5 4 3 2 1 0 0 25 Distância da árvore (m) 10 15 20 25 Meio 3.5 Meio 3.0 Número de danos Indice de luz 5 Distância da árvore (m) 2.5 2.0 1.5 1.0 0.5 0 5 10 15 20 25 Distância da árvore (m) 7 6 5 4 3 2 1 0 0 5 10 15 20 25 Distância da árvore (m) 3.0 Copa Copa Número de danos Indice de luz 3.5 2.5 2.0 1.5 1.0 0.5 0 5 10 15 20 25 Distância da árvore 7 6 5 4 3 2 1 0 0 5 10 15 20 25 Distância da árvore (m) Figura 3. Variação do índice de luz em relação à distância da árvore cortada para as 3 porções da árvore cortada (perpendicular ao tronco) em uma área de corte seletivo na Mil Madereira. A linha em cada gráfico indica a tendência geral dos dados. Figura 4. Variação do número de danos por indivíduo em relação à distância perpendicular ao tronco para as três porções da árvore cortada (base, meio e copa). Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 23 Discussão A homogeneidade de danos encontrada a todas distâncias da árvore cortada pode ser explicada por dois fatores: 1Nessa área de dossel aberto, a queda de serapilheira seria menor depois do corte, por apresentar um dossel menos estruturado, dessa forma o dano físico por quedas de galhos seria menor, o que configuraria o padrão; 2- As árvores atingidas pela queda da árvore já não exibiriam mais evidência de dano, mascaradas pelo crescimento natural das mesmas. Quanto à luminosidade, nossa hipótese foi corroborada, pois encontramos uma maior intensidade de luz nas proximidades da árvore cortada. Esse padrão foi mais evidente na porção referente à copa, devido provavelmente à maior área afetada por ela, comparada com a área afetada pelo tronco. Segundo Benitez-Malvido (2002) essa maior disponibilidade de luz pode acarretar implicações negativas para plântulas, tais como, problemas fisiológicos. A porcentagem de árvores de 1-4cm de diâmetro encontrado com dano neste estudo (73,7%) foi maior que o encontrado por Clark & Clark (2001) em um estudo realizado em La Selva (Costa Rica), que incluiu nove espécies arbóreas (27,3%) e por Chacoff et al.(não publicada) no Peru, que avaliaram a porcentagem de dano sobre uma comunidade de árvores de 1-4cm (42%). Provavelmente os altos valores de porcentagem de dano que encontramos sejam resultantes da diferença entre os métodos utilizados nos três trabalhos. Outra possível explicação para isso pode ter sido a amostragem direta a partir da clareira aberta pela copa. De uma maneira geral, embora a quantidade de danos nas árvores vizinhas não seja perceptível , a intensidade luminosa aumenta nas mediações da área do corte o que pode alterar substancialmente a estrutura microclimática (por ex. temperatura e umidade relativa) do ambiente, o que acabará por mudar a estrutura da comunidade de plantas desse local (Uhl et al. 1996). Embora exista a possibilidade de explorar madeira de maneira sustentável através do manejo florestal, barreiras bastante grandes precisam ser superadas para tornar estes sistemas sustentáveis (Fearnside 1993). As práticas de corte seletivo possuem efeitos ainda pouco estudados, sendo que o número de árvores extraídas e o tempo em que se retorna à mesma área para uma segunda extração parecem ser os pontos principais que podem determinar a intensidade das perturbações ambientais produzidas. Conclusão O número de indivíduos de árvores de 1-4cm de diâmetro que encontramos com dano é maior do que se encontrou nos outros trabalhos em florestas tropicais. Em florestas onde ocorre uma alta exploração madeireira, os indivíduos arbóreos que estão regenerando podem encontrar maiores dificuldades ambientais e conseqüente aumento nos danos físicos e deficiência fisiológicos. Porém, esse resultado pode ter sido influenciado pela diferença no método utilizado para 24 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 amostragem. Luminosidade pode ser um parâmetro a ser utilizado para analisar alterações em áreas de exploração madeireira. Agradecimentos Agradecemos a Deborah Clark pelas idéias, apoio e principalmente por sua ajuda imprescindível em campo e na análise dos dados e ao Dadão (Eduardo Venticinque) pela ajuda nas análises estatísticas. Agradecemos também ao Miúdo (Luciano) pelas fotos para nossa apresentação e a Mil Madeireira pelas instalações e pela oportunidade de conhecer um pouco do trabalho que realizam. Referências Bibliográficas Benitez-Malvido, J. 2002. Regeneration in tropical rain forest fragments. In: Lessons from Amazônia. Yale University University Press. 478pp. Candesso, M.L.& Pickett, S.T.A. 2000. Linking forest edge structure to edge function: mediation of herbivore damage. Journal of Ecology 88:31-44. Chacoff, N.; Catenazzi, A.; Galindo, A.; Hamlin, C.; Clark, D. & Farji-Brener, A. El tortuoso caminho hacia el docel. Relatório do Curso de Campo da OTS, Peru. Clark, D. B. & Clark, D. A. 1991. The impact of physical damage on canopy tree regeneration in Tropical Rain Forest. Journal of Ecology 79: 447-457. Clark, D. A., & Clark, D. B. 1992. Life history diversity of canopy and emergent tree in a neotropical rainforest. Ecological Monographs 62: 315-344. 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Orientadora do projeto: Deborah Clark Uso de fotografias digitais na avaliação de influências do corte seletivo de madeira sobre a estrutura da paisagem florestal na Amazônia Central Amanda De La Torre, Dana Moiana Vianna, Janael Ricetti, Juliana Silva de Souza, Luciano Fogaça de Assis Montag Introdução Atividades extrativistas podem ser definidas como retirada e uso de recursos naturais, sem que haja ações deliberadas para a reposição dos estoques no ambiente. Contudo, muitos esforços vêm sendo feitos no sentido de tornar a extração de recursos naturais uma atividade sustentável. Uma das práticas que vêm sendo adotadas é a criação de certificações florestais, chamadas “selos verdes”, as quais têm o objetivo de agregar valor ao produto comercializado. Embora esta situação não tenha o caráter de preservação ambiental, muitas vezes têm estimulado práticas que reduzem os danos aos estoques naturais. A Madeireira Itacoatiara Ltda (MIL) realiza corte seletivo de madeiras e o impacto gerado pelo seu método de extração de árvores é supostamente menor que aqueles gerados pelas técnicas tradicionais, enquadrando-se nos requisitos da certificação “selo verde”. Apesar do corte ser efetuado de forma seletiva, a estrutura e composição da floresta será modificada, uma vez que ocorrerá a regeneração da clareira formada pela retirada dos indivíduos selecionados. Essa modificação de estrutura e composição cria um padrão visualmente perceptível, o que pode ter implicação na utilização do espaço (deslocamento, nidificação, forrageamento) pela fauna. Muitas das modificações produzidas pelo corte seletivo de árvores podem ser percebidas visualmente, embora nem sempre seja possível obter dados adequados para uma análise minuciosa e quantificação desses efeitos. Fatores como disponibilidade de verba, contratação de corpo científico, e mesmo tempo hábil desestimulam monitoramentos refinados como forma de evitar o esgotamento dos recursos naturais. Assim, faz-se necessária a produção de uma maior quantidade de estudos, sobre sustentabilidade ecológica de biotas em processo de manejo sustentado. Uma proposta é o desenvolvimento de métodos que permitam a avaliação rápida da situação de conservação de um ambiente, e de preferência que possam ser usados por pessoas com treinamento simples. Neste estudo, procuramos avaliar a situação de conservação de um ambiente que sofreu extração seletiva da madeira, estabelecendo um monitoramento piloto com o uso de fotografias e contagem de elementos conspícuos da estrutura física da vegetação. O objetivo foi identificar diferenças do padrão de distribuição espacial de elementos da paisagem florestal entre áreas de corte seletivo e de preservação absoluta. Métodos A área de estudo localiza-se na Empresa Mil Madeireira (Itacoatiara, AM), que segue um plano de manejo com extração seletiva de madeira em parcelas fixas para toda a área da empresa, de modo que cada parcela seja explorada apenas uma vez a cada 25 anos. Além disto, é utilizado um trator tipo skider para remoção de toras do interior da mata, que reduz o impacto através da redução da percentagem de área derrubada. Estabelecemos 13 unidades amostrais (cinco em áreas de retirada seletiva e oito em áreas de preservação absoluta), constituídas por plotes de 50 x 2 m. Estes plotes foram dispostos distanciados 50 m entre si e alinhados paralelamente a 100 m da borda, para evitar seu efeito. Fotografamos o sub-bosque (0o) e o estrato médio (45o) na direção norte – sul, e o dossel (90o), com uso de uma câmera digital SONY 3,2 megapixels, com objetiva de 24 mm. O ângulo de inclinação da fotografia foi medido com um declinômetro adaptado à câmera. As fotografias foram tomadas em preto e branco no trecho médio dos plotes (25 m) (Figura 1). As fotos do sub-bosque foram classificadas por meio de uma estimativa visual da densidade da vegetação, numa escala crescente de um a cinco. Fotos do estrato médio foram utilizadas para contagem de troncos, sem limitação de diâmetro. As fotos do dossel foram utilizadas para a medição da sua abertura, com uso do programa Photoshop 7.0, no qual as imagens foram Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 25 trabalhadas para a contagem de pixels claros e escuros, expressos como uma porcentagem de abertura do dossel. Para comparar a complexidade da paisagem entre as duas áreas (manejada x proteção absoluta) medimos a quantidade de algumas estruturas que foram consideradas como sendo facilmente distinguidas e visualizadas ao longo do plote: cipós lenhosos, troncos caídos e palmeiras acaule (com e sem espinhos, acima de um metro de altura). Os pares de imagens tomadas nas direções norte e sul foram comparados com uso do teste t pareado para a densidade de sub-bosque (0o) e número de troncos do estrato médio (45o). Testamos a diferença entre áreas através de uma Manova para as variáveis densidade do sub-bosque e número de troncos. Com o mesmo objetivo, outra Manova foi realizada para as variáveis porcentagem de abertura do dossel, número de troncos caídos e número de cipós lenhosos, número de palmeiras com e sem espinho. Resultados As imagens tomadas a 0 o e 45 o não apresentaram diferenças na densidade sub-bosque (t = 0,0; GL = 5; p = 1,00) e estrato médio (t = 1,31; GL = 12; p = 0,21); desta forma, foi possível utilizar as médias do número de troncos e da densidade de sub-bosque. Não foram detectadas diferenças significativas na densidade de sub-bosque, estrato médio e abertura de dossel nas duas áreas MANOVA (F = 1,06; GL = 3,8; p = 0,418). Porém, observamos uma tendência de diferença para abertura de dossel, em relação à áreas de manejo seletivo e de proteção absoluta (F = 3,37; GL = 1,10; p = 0,09). Em relação à complexidade estrutural, observamos que também não houve diferença significativa entre as áreas em relação ao conjunto destes parâmetros (troncos caídos, palmeira acaule com e sem espinho e cipós) (F = 2,58; GL = 4,8; p = 0,11). Por outro lado, observamos diferença significativa para o número de troncos caídos (F = 6,5; GL = 1,11; p = 0,027) e o número de palmeiras com espinhos (F = 7.6; GL = 1,11; p = 0.019) nas áreas de manejo seletivo e de proteção absoluta. Por meio de uma análise exploratória, podemos observar uma relação entre abertura do dossel com o número de palmeiras com espinho (Figura 2) e troncos caídos (Figura 3). PALMEIRAS COM ESPINHOS (N) 12 PROTEÇÃO ABSOLUTA ÁREA MANEJADA 8 4 0 0 10 20 30 ABERTURA DO DOSSEL (%) Figura 1 – Imagens digitais em tons de cinza: (A) - subbosque 0o; (B) estrato médio 45o e (C) dossel 90o. 26 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 Figura 2 – Relação entre o número de palmeiras a abertura do dossel em uma área de corte seletivo de madeira e área de proteção absoluta na Madeireira Itacoatiara Ltda (MIL), AM. Proteção absoluta Área manejada Linear (Proteção absoluta) Linear (Área manejada) TRONCOS CAIDOS (N) 6 4 2 0 0 10 20 30 ABERTURA DO DOSSEL (%) Figura 3 – Relação entre o número de troncos caídos e a abertura do dossel em uma área de corte seletivo de madeira e área de proteção absoluta na Madeireira Itacoatiara Ltda (MIL), AM. protegida e outra área manejada. A maior parte dos parâmetros visuais medidos após quatro anos do corte seletivo de madeira na área pode ter sofrido o efeito de atenuação nas diferenças visuais em decorrência de regeneração florestal, visto que não foram diferentes entre as áreas. Os aspectos visuais que foram diferentes (troncos caídos e palmeiras com espinho) puderam ser diferenciados visualmente entre as duas áreas, indicando que poderiam ser utilizados como indicadores de perturbação na estrutura da floresta. O método utilizado apresenta limitações que podem estar mascarando as alterações produzidas pelo manejo florestal. Isso não significa, todavia, que o método deva ser abandonado, mas simplesmente que ele deve ser aperfeiçoado e usado de diferentes formas. Agradecimentos A Eduardo Venticinque e Jansen Zuanon pelo acompanhamento a campo e ajuda na análise dos dados, a “Angelita” pelo acompanhamento a campo e ajuda logística. Discussão Referências Bibliográficas A avaliação do adensamento de sub-bosque através de uma imagem digital pode informar de maneira errônea sobre os aspectos da paisagem florestal, uma vez que na fotografia a percepção de distâncias é dificultada e restringe a sensação dimensional, resultando em sensações visuais diferentes no campo e na foto. Este problema também pode ter ocorrido na comparação do número de troncos nas fotografias do estrato médio. Já em relação à abertura do dossel, a tomada de fotografia logo acima do ponto de fixação da câmera pode ter captado a imagem de outras estruturas que não fazem parte do dossel, mas que interferem na análise de pixels claros e escuros. Isto fez com que o dossel fotografado parecesse ser mais fechado, ao contrário do encontrado por Menezes et al. (2002), que utilizaram um densiômetro esférico para comparar a abertura do dossel em uma área Clark, D. B., D. A. Clark, e J. M. Read. 1998 Edaphic variation and the mesoscale distribution of the tree species in a neotropical rain forest. Journal of Ecology 86:101-102. Anderson, 1990. Alternatives to deforestastion, Columbia University Press, New York. Menezes, S.; Pimentel, F.; Mokross, K.; Romero, Q.G.; Gonsales, E. M. L. 2002. Influência do corte seletivo de madeira na abundância de folhiço aéreo e artrópodes associados. In: E. Venticinque e J. Zuanon, orgs. Ecologia da Floresta Amazônica – Relatório de curso de campo. Pp. 21-22. Orientadores do Projeto: Eduardo Ventincinque e Jansen Zuanon Influência da extração madeireira seletiva sobre a mortalidade de árvores grandes em uma área de floresta de terra firme na Amazônia Central Rita C. Q. Portela, Branca M. O. Medina, Jivanildo P. Miranda, Márcio S. Araújo e Patricia Rodin. Introdução As árvores desempenham papéis fundamentais para o ecossistema florestal, como produção primária, armazenamento de biomassa e suporte. A morte de um indivíduo envolve a remoção de parte destas funções, assim como adição de recursos ao ecossistema, como luz, nutrientes, água e energia (Franklin et al., 1987). As causas da mortalidade de árvores incluem múltiplos fatores, como patógenos, herbívoros, fogo e vento e a forma como uma árvore morre influencia no futuro do ambiente do seu entorno. Por exemplo, uma morte instantânea por Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 27 Número de árvoes mortas raio deve resultar em resposta rápida do sub-bosque, enquanto um declínio lento permite ajustes graduais (Franklin et al., 1987). O corte seletivo é uma importante e difundida forma de exploração florestal, principalmente nos trópicos (Unesco, 1978). Ela consiste no corte apenas de indivíduos arbóreos de alto valor comercial, sendo a floresta posteriormente abandonada para a regeneração. A proposta é explorar de forma sustentável a madeira, visando minimizar os danos ambientais gerados (Johns, 1985). No início da década de 90, o governo brasileiro diminuiu o incentivo financeiro para a exploração madeireira; no entanto, nos últimos anos esse processo tem aumentado em larga escala, principalmente na região amazônica (Higuchi, 2001). Potencialmente, o desmatamento seletivo pode causar diversos impactos na estrutura física da floresta, tais como maior abertura de dossel, compactação do solo e danos em árvores remanescentes (Guilherme, 1999). O objetivo deste estudo foi analisar a influência da extração madeirera seletiva na mortalidade de árvores em uma área preservada e outra explorada pela Madereira MIL na região da Amazônia Central. Resultados O número de árvores mortas foi maior na área explorada do que na não explorada (Fig. 1), ainda que esta diferença tenha sido apenas marginalmente significativa (U de MannWhitney = 21,5, p= 0,056, n= 107). As distribuições de diâmetro das árvores mortas foram semelhantes entre as duas áreas (Kolmogorov-Smirnov, p=0,85, n= 107, Fig.2). 28 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 10 5 0 e n Área de estudo Figura1: Número de árvores mortas em parcelas em duas áreas de floresta de terra-firme na região Amazônica. e: área explorada para extração de madeira; n: área nãoexplorada. 60 Métodos 50 Diâmetro Realizamos o presente trabalho na área da empresa MIL Madeireira Ltda, localizada no município de Itacoatiara, Amazonas, entre as coordenadas 02º43’- 03º04’S e 58º31 – 58º57 W, em julho de 2003. A temperatura média anual é de 26ºC e precipitação de 2206 mm (Mil, 1994). Conduzimos o estudo em uma área de terra firme que sofreu corte seletivo de madeira no ano de 1999 e em uma área de preservação permanente. Em cada área, foi estabelecida uma linha de 300 metros ao longo da estrada principal. Nessa linha, foram sorteados 5 pontos e neles foram estabelecidas parcelas de 4 x 50 metros, com o maior eixo perpendicular à linha. Para evitar efeito da borda, as parcelas foram estabelecidas a partir de uma margem de 20m em direção ao interior da mata. Em cada uma dessas parcelas, foram medidos os diâmetros máximos de todos os indivíduos mortos, em pé ou caídos, que tivessem mais de 10 cm de diâmetro. Para a comparação do número de indivíduos mortos em pé e caídos entre as áreas foi aplicado um teste de MannWhitney. As distribuições dos diâmetros das árvores mortas nas duas áreas foram comparadas pelo teste de KolmogorovSmirnov. 15 40 30 20 10 0 e n Área de estudo Figura 2: Distribuição dos diâmetros (cm) de árvores mortas em parcelas em duas áreas de floresta de terra-firme na região Amazônica. e: área explorada para extração de madeira; n: área não-explorada. Discussão Parte das árvores mortas amostradas na área manejada podem constituir um resquício dos danos provocados pela extração da madeira em 1999. Nesse caso, a maior abundância de árvores mortas na área explorada seria um reflexo direto desse evento de extração (danos e quedas provocadas pelo indivíduo derrubado e retirado). É possível, entretanto, que essa diferença entre as áreas seja conseqüência das alterações ambientais provocadas pela abertura de clareiras decorrentes do corte de árvores, que alteram as condições microclimáticas da floresta (Bianchini et al., 2001). Tanto a entrada de vento, como o estresse hídrico podem estar provocando a morte de árvores na área manejada, em decorrência das alterações bruscas causadas pela retirada de árvores. O aumento na mortalidade de árvores pode alterar a complexidade estrutural da floresta e até mesmo sua composição (Laurance, 2000). Essas alterações, por sua vez, podem afetar as populações animais que utilizam essas espécies arbóreas de variadas formas (Laurance, 2000). Com relação à distribuição dos diâmetros, nossos dados indicam que árvores do mesmo diâmetro estão morrendo em iguais proporções nas duas áreas. A fragmentação de florestas provoca aumento na mortalidade de árvores grandes na borda dos fragmentos devido à maior entrada de vento (Laurance, 2000). Se a penetração de vento nas clareiras formadas pela derrubada de árvores fosse da mesma magnitude daquela observada na borda, seria de se esperar que na área manejada houvesse uma mortalidade preferencial de árvores grandes. Em conseqüência, a distribuição de diâmetro das árvores mortas na área manejada apresentaria um maior número de indivíduos nas maiores classes de tamanho, em relação à área preservada. A ausência dessa observação neste estudo indica que o efeito do vento nas clareiras é menos intenso do que aquele observado na borda. Entretanto, para utilizarmos a mortalidade de árvores como um indicador mais exato da influência antropogênica, deveríamos entender seus padrões nas condições naturais atuais e históricas, definindo o contexto espacial e temporal, e tendo em mente as contribuições dos eventos estocásticos e processos ecológicos, os quais são regidos por mecanismos múltiplos que mudam ao longo do tempo (Franklin, 1987). Agradecimentos Agradecemos a Deborah Clark e Gislene Ganade pela ajuda em organizar as idéias e a Mil Madeireira pelas instalações e pela oportunidade de conhecer um pouco do trabalho que realizam. Referências Bibliográficas Bianchini, E., Pimenta, J.A. & Santos, F.A.M. 2001. Spatial and temporal variation in the canopy cover in a tropical semi-deciduous forest. Brazilian Archives of Biology and Technology 44: 269-276. Guilerme, A. G. 1999. Efeitos da cobertura de dossel da densidade e estatura de gramíneas e da regeneração natural de plantas lenhosas em mata de galeria, Brasília, Brasil. Trabalho realizado durante o “VIII Curso de métodos de campo em ecologia – UNB”. Higuchi, N. 2001. Selective logging in the Brazilian Amazon. Its relationship to deforestation and the international tropical hardwood markket. In: Lessons from Amazônia: the ecology and conservation of fragmented forest. University of Yale Press. London. Johns, A.D. 1985. Selective logging and wildlife conservation in tropical rain forest: problems and recommendations. Biological Conservation 37: 355375. Mil Madereira Itacoatiara Ltda. 1994. Plano de manejo florestal para uso sustentável de florestas da Mil madeireira Itacotiara Ltda. Itacoatiara, Brasil. Laurance, W.F., Delamônica, P., Laurance, S.G., Vaconselos, H,L. & Lovejoy, T.E. 2000. Rain forest fragmentation kills big trees. Nature 404: 836. UNESCO. 1978 Tropical Forest Ecosystems. UNESCO/ UNEP/FAO, Paris, France. Comparação das assembléias de formigas de solo entre área preservada e área de corte seletivo de madeira na região Itacotiara, AM. Dana M. Vianna, Fabiana Rocha-Mendes, Janael Ricetti, Juliana S. de Souza, Luciano F. de A. Monta, Ricardo I. de Campos e Sandro M. von Matter de Moraes Introdução Formigas são insetos dominantes em quase todos os ambientes terrestres do planeta. Apesar de não serem o grupo de insetos com maior diversidade de espécies, representam 10% ou mais da biomassa animal total de florestas tropicais, pradarias e outros habitats de grande importância (Wilson, 2000). Formicidae é um taxon extremamente generalista e possui uma grande variedade de dietas e sítios de nidificação, se associando com diferentes espécies de plantas e animais. Em relação ao comportamento e hábito alimentar, podem ser predadoras, herbívoras, dispersoras de semente, comensalistas, polinizadoras e geradoras de novos habitats (Diel-Fleg, 1995). São insetos eussociais, possuindo castas reprodutivas, sendo algumas delas completamente estéreis (operárias e soldados). Essa é considerada a principal característica que permitiu a ampla distribuição e abundância das assembléias de formigas (Wilson, 1971). Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 29 A perda de diversidade biológica é uma crise ecológica de profundo impacto universal (Wilson 2000). Atualmente, em regiões tropicais, a fragmentação de habitats tem aumentado em grande escala devido principalmente a queimadas e atividades agrícolas e de pastoreio. Como uma alternativa para não gerar fragmentos totalmente isolados, surgiu o corte seletivo de madeira. Essa técnica de exploração consiste na retirada por corte de apenas indivíduos arbóreos de alto valor comercial, sendo a floresta posteriormente abandonada para a regeneração, tendo como proposta a exploração sustentável de madeira, com o mínimo de danos ambientais gerados. Por outro lado, pouco ainda se sabe sobre o real efeito dessa atividade sobre as comunidades naturais, principalmente sobre a fauna (Vasconcelos et al, 2000). Os invertebrados têm sido utilizados, ainda que em baixa escala, com a finalidade de medir o efeito de atividades de baixo impacto na degradação da diversidade biológica (Vasconcelos, 1999). As formigas em especial, têm sido muito utilizadas para avaliar respostas bióticas em diferentes mudanças nos ecossistemas (Majer, 1993; Bestelmeyer e Weins, 1996; Andersen, 1997). Elas possuem numerosos atributos que as tornam ideais para estudos de biodiversidade e conservação. Nesses atributos se incluem a grande diversidade de hábitos alimentares, um bom conhecimento taxonômico do grupo, facilidade de coleta e ninhos estacionários que permitem serem monitorados ao longo do tempo. Além disso, são sensíveis a mudanças ambientais e desempenham importantes funções no ecossistema, incluindo interações com outros organismos de qualquer nível trófico (Andersen, 1991; Alonso e Agosti, 2000). Especialmente na Amazônia, a biomassa da fauna de formiga é tão considerável que representa quatro vezes mais que todos os vertebrados juntos (Vasconcelos, 1999). O presente estudo teve como objetivo comparar as assembléias de formigas de solo entre área preservada e área de corte seletivo de madeira, a fim de verificar a existência ou não de alguma alteração causada por esta interferência. Métodos Realizamos o estudo em julho de 2003, em uma região de floresta de terra firme, em uma área pertencente à Mil Madeireira Ltda, localizada no município de Itacoatiara, AM. Para verificar se há interferência do corte seletivo sobre a comunidade de formigas, estabelecemos dois locais de amostragem: um de extração seletiva de madeira e outro de preservação absoluta, separadas por uma estrada de acesso. Em cada uma das áreas, perpendicularmente a estrada, instalamos seis transectos paralelos distando cinco metros um do outro. Em cada transecto de 100m foram estabelecidos seis pontos de amostragem a cada 20 metros, totalizando 36 pontos em cada tratamento. Para a coleta de formigas utilizamos uma armadilha atrativa com isca de Cichla spp. (tucunaré) cozido misturado 30 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 com farinha e óleo, sendo esta colocada no centro de uma folha de papel sulfite medindo 11 x 14 cm (um quarto de papel tipo carta). Colocamos uma armadilha em cada ponto e, com ajuda de pinças, após um intervalo de 30 minutos, todos as formigas presentes em cima e embaixo do papel foram coletadas durante, um minuto. Em laboratório, triamos os exemplares em morfoespécies e os identificamos até o nível de gênero, com auxílio de uma lupa estereoscópica. Para análise dos dados de riqueza utilizamos o teste tstudent (pareado). Para os dados de composição utilizamos o índice de similaridade de Jaccard. Resultados Observamos 25 espécies de formigas de solo atraídas por isca de peixe. A espécie mais freqüente foi Crematogaster sp. com 27,7% da amostragem total. Para a área manejada as maiores freqüências foram observadas para Crematogaster sp., seguida por Pheidole sp. 6 e Ectatomma sp.1 com 16%, 14% e 11%, respectivamente. Para a área preservada as maiores freqüências foram de Crematogaster sp., Pheidole sp. 5 e Ectatomma sp. 1 com 36%, 26% e 23% (Tabela 1). Tabela 1 – Frequência de ocorrência de espécies de formiga de solo em área preservada e área manejada na Mil Madeireira Ltda, Itacoatiara - AM. Freqüência Preservada Manejada Atta sp. 1 0.00 3.33 Brachymyrmex sp.1 3.33 0.00 Brachymyrmex sp. 2 0.00 3.33 Crematogaster sp. 20.00 16.67 Ectatomma sp. 1 10.00 13.33 Ectatomma tuberculatum 0.00 3.33 Leptorax sp. 3.33 0.00 Mycocepurus sp. 6.67 3.33 Myrmica sp. 0.00 3.33 Pachycondila sp. 1 0.00 3.33 Pheidole sp. 1 3.33 3.33 Pheidole sp. 2 3.33 0.00 Pheidole sp. 3 10.00 3.33 Pheidole sp. 4 3.33 10.00 Pheidole sp. 5 20.00 6.67 Pheidole sp. 6 3.33 10.00 Pheidole sp. 7 3.33 10.00 Pheidole sp. 8 0.00 10.00 Pheidole sp. 9 0.00 3.33 Pseudomyrmex sp. 3.33 0.00 Solenopsis sp. 1 3.33 3.33 Solenopsis sp. 2 0.00 3.33 Solenopsis sp. 3 0.00 3.33 Wasmania sp. 10.00 13.33 Espécie Não observamos diferenças entre as riquezas de espécies formigas entre área preservada e a área de corte seletivo (t = -0,240, GL = 5, p = 0,819). Devido ao problemas de amostragem relacionados à biologia dos insetos sociais, não utilizamos dados referentes à abundância das espécies; desta forma utilizamos para a análise de agrupamento, somente dados de incidência de espécies. Podemos observar um agrupamento não ordenado referente aos pontos de amostragens na área de corte seletivo e na área de preservação absoluta (Figura 1), o pode ser interpretado como uma não alteração nas assembléia de formigas na área de extração madeireira, ou ainda, que pode ter havido uma alteração, mas não pode ser percebida após os quatro anos de recuperação da área. Por meio da análise de similaridade de Jaccard entre as áreas de corte seletivo e de preservação absoluta, observamos uma similaridade de 75%, o que representa 18 espécies em comum das 25 coletadas. considerado é na escala a qual o trabalho foi executado (seis transectos de 100m), que é infinitamente menor que as áreas utilizadas pelas madeireiras que executam o corte seletivo (podem ser maiores que 1000ha). Em termos de composição de espécies, é possível que a grande similaridade observada seja resultado indireto da das áreas (aproximadamente 300m). Além disso, o fato de não termos coletado os dados de abundância relativa das espécies, nos impossibilita a comparação entre o número de indivíduos recrutados por cada espécie entre as áreas manejada e preservada. Vasconcelos et al. (2000) encontraram uma composição diferenciada nas áreas diretamente impactadas (estradas de acesso e clareiras) e inferiram que quanto menor o uso de maquinaria pesada, menor em o impacto gerado pelo corte seletivo. Estudos sobre os impactos negativos na biodiversidade podem ter diferentes escalas de abrangência, visando o conhecimento, monitoramento e conservação das espécies. Assim, estudos comparativos são fundamentais para gerar conhecimento científico, mas também para medir o “status” de conservação das espécies, a fim de subsidiar a tomada de decisões de políticas sobre conservação e avaliar o potencial das espécies como indicadoras em projetos de biomonitoramento de áreas degradadas. Agradecimento Figura 1 – Dendrograma de similaridade entre as amostras na área de corte seletivo e na área de preservação absoluta (UPGMA; Coeficiente de Jaccard). (M = área de corte seletivo e P = área de preservação absoluta; Distância 0, 20, 40, 60, 80 e 100 metros). Discussão O corte seletivo aparentemente não afetou significativamente a riqueza, frequência e similaridade de formigas na área estudada. Esse resultado difere dos padrões encontrados em trabalhos que lidaram com grandes níveis de distúrbio, como por exemplo formação de pastagens e agrossistemas; nesses, a riqueza pode diminuir em até 50% (Mackey et al, 1991; Vasconcelos, 1999). Em um estudo similar na Amazônia, Vasconcelos et al. (2000) também não encontraram diferenças significativas entre duas áreas que sofreram corte seletivo e uma área intacta. Eles sugerem, que devido ao baixo nível de mudança estrutural do hábitat, não haja perda de espécies. Porém, ao considerar a abundância relativa de espécies, Vasconcelos et al. (2002) perceberam que o recrutamento das espécies era diferenciado entre as duas áreas, ou seja, as espécies recrutaram um número diferente de indivíduos dependendo das suas capacidades adaptativas às diferenças geradas pelo corte seletivo. Um outro fator muito importante que pode ser Agradecemos ao Eduardo Venticinque (Dadão) pelas discussões e ajuda na determinação do método a ser utilizado e nas análises, ao Júnior pelo auxílio em campo e ao Leandro Ferreira, Jansen e Ângela (Angelita) pelas sugestões e correções. Referências Bibliográficas Andersen, A. N. 1991. Parallels between ants and plants: implications for community ecology. in C. R. Huxley e D. F. Cutler, eds . Ant plant interections, Oxford University Prees, Oxford, USA. Andersen, A. N. 1997. Functional groups and patterns of organisation in North American ant communities: a comparison with Australia. Journal of Biogeograph 24:433-60. Alonso, L. E. e D. Agosti 2000. Biodiversity Studies, Monitoring, and Ants: An Overview. in D. Agost, J. D. Majer, L. E. Alonso e Schultz, eds. Ants Standard Methods for Measuring and Monitoring Biodiversity, Smithsonian Instution. Press, Washington and London. Bestelmeyer, B. T. e J. A. Weins 2001. Ant biodiversity in semiarid landscape mosaics: The consequences of grazing vs. natural heterogeneity. Ecology Applied 11:1123-1140. Diel-Fleig, E. 1995. Interação formiga, planta e herbívoro. in A. B. Rambo, eds. Formigas: Organização social e ecologia comportamental. Unisinos, São Leopoldo. Majer, J. D. 1993. Comparison of the arboreal ant mosaic in Ghana, Brazil, Papua New Guinea, and Australia – Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 31 Its structure and influence on arthropod diversity in J. Lasalle e I. Gould, eds. Hymenoptera and Biodiversity, CAB International, Wallingford. Mackay, W.P., A. Rebeles, H.C. Arredondo, A.D. Rodriguez, D.A. Gonzales e S.B. Vinson 1991. Impact of the slashing and burning of tropical rain forest on thenative ant fauna (Hymenoptera: Formicidae). Sociobiology 18:257-268. Vasconcelos, H.L. 1999 Efects of forest disturbance on the structure of ground foraging ant communities in central Amazonia. Biodiversity and Conservation 8:409-420. Vasconcelos, H.L., J.M.S. Vilhena e G.J.A. Caliri 2000. Responses of Ants to Selective Logging of a Central. Journal of Applied Ecology 37:508-514. Wilson, E.O. 1971 The insect societies. Harvard University Press, Massachusetts. Wilson, E. O. 2000. Foreword. in D. Agost, J. D. Majer e L. E. Alonso, eds. Ants Standard Methods for Measuring and Monitoring Biodiversity, Smithsonian Inst. Press, Washington and London. Efeito do manejo florestal madeireiro sobre a comunidade aranea em uma área de terra firme na Amazônia Central Mariana Faria-Corrêa, Faviany Lino, Flávio Quental, Odirlene M. Ribeiro e Fresnel Gustavo Introdução Métodos As florestas tropicais são ambientes extremamente ricos em espécies. Entretanto, estão entre os ecossistemas mais ameaçados por atividades antrópicas, como agricultura, pecuária, extração madeireira e habitação humana (Harcourt, 1992). Para compreender melhor a magnitude dos impactos causados pelas atividades humanas, muitos estudos têm sido realizados utilizando-se espécies animais consideradas boas indicadoras ambientais. Dentro desse contexto, as aranhas por serem animais de pequeno porte, de fácil coleta, com altíssima abundância e diversidade (constituem o sétimo grupo mais diverso do planeta) e por ocuparem a mesma guilda alimentar como predadores de outros invertebrados constituem bons indicadores de ambientes em processo de regeneração (New, 1999). As aranhas são um dos grupos com maior capacidade de dispersão e estabelecimento, podendo ser encontrados qualquer tipo de ambiente (Foelix, 1982), existindo, atualmente, cerca de 34 mil espécies (Platinick, 2003). A composição das comunidades podem estar influenciadas pela estrutura do ambiente e os requerimentos microclimáticos específicos que determinam sua distribuição. Caro e Laurence (1996) afirmam que mesmo mudanças sutis, como mudanças na estrutura da vegetação podem influenciar a composição da araneofauna. Por esses motivos, a comunidade aranea possui grande potencial para indicar ambientes que sofreram impactos decorrentes de alterações ambientais. O objetivo desse estudo foi avaliar se há diferenças na riqueza, densidade, diversidade e composição de morfoespécies de aranhas em duas áreas adjacentes de terra firme na Amazônia Central, uma com retirada seletiva de espécies lenhosas de grande porte e outra de preservação absoluta. Realizamos esse estudo em áreas de floresta tropical de terra firme da empresa Mil Madeireira Itacoatiara Ltda (02°43‘- 03°04‘S e 58°31‘ - 58°57‘W). O trabalho foi desenvolvido em uma área preservada e outra com manejo florestal seletivo em 1999. Foram marcadas uma transecção de 300 metros na área preservada e outra na área manejada. Para evitar o efeito de borda, as transeções foram marcadas paralelamente a estrada a uma distância de 150 metros da borda. Em cada transecção seis coletores se posicionaram a 50 metros um dos outros, em pontos amostrais. A partir de cada ponto amostral, duas sub-transecções de 20 metros de comprimento por dois de largura (uma para a direita e uma para a esquerda) e dois de altura (área = 80m3) foram utilizadas para amostrar a araneofauna, por 30 minutos por sub-transeção. Cada amostrador percorreu quatro sub-transecções e o material coletado foi identificado com o nome do coletor. As coletas foram realizadas com o auxílio de um batedor (0,8 cm x 0,8 cm) por amostrador (Santos, 1999). Todo material coletado foi conservado em álcool 70%. O esforço de campo total foi de 12 amostras (6 por área), sendo que as amostras de cada coletor dentro da mesma área foram agrupadas e consideradas como uma amostra. Para separação em morfoespécies triamos o material e separamos os jovens e adultos. Essa separação baseou-se na observação do aparelho genital dos exemplares. Animais jovens foram descartados da amostra. Definimos as morfoespécies com auxílio de especialistas e chave de classificação (Brescovit et al., 2001). A riqueza foi calculada a partir da contagem do número de morfoespécies em cada unidade amostral. Calculamos para cada amostra o número de indivíduos por m3, gerando a densidade de aranhas por m3 em cada unidade amostral. Utilizamos a média de aranhas e o número de espécies por 32 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 m3 na área manejada e na preservada para comparar a diferença entre as áreas através de um teste t. Para estimar a riqueza de cada área, aplicamos a estimativa de Jackknife (Krebs, 1998). Para cálculo da diversidade, utilizamos o índice de Shannon-Winner e consideramos os totais de indivíduos de cada área (manejada e preservada). A similaridade entre a composição de morfoespécies das duas áreas foi avaliada com o índice de similaridade de Jaccard (Krebs, 1998). Para comparar o resultados obtidos por cada coletor, realizamos o teste t pareado. Resultados Foram coletados 181 indivíduos (todos menores de 10mm), sendo que apenas oito foram jovens (excluídos da amostra). Esse pequeno número de jovens, entretanto, é certamente uma sub-estimativa visto que há grande dificuldade na triagem de aranhas, principalmente animais de tamanho pequeno. Identificamos 28 morfotipos de aranhas, sendo que tanto na área manejada quanto na preservada foram registradas 25 morfespécies (não necessariamente as mesmas em cada área). A densidade média (no de indivíduos/ m3) da área manejada foi de 0,07 (+/- 0,03) ind/m3, enquanto que a preservada apresentou densidade média de 0,11 (+/- 0,05) ind/m3. Apesar do aparente aumento na densidade de aranhas na área preservada, essa diferença não foi significativa (t = -1.27; p = 0,233; gl = 10 ). A área manejada apresentou riqueza média de 10,16 ind (+/- 4,07) e a preservada de 12,33 ind (+/- 5,09), e assim como a densidade, os valores de riqueza não diferiram ente as áreas (t = 0,815; p = 0,434; gl = 10). A estimativa de Jackknife estimou uma riqueza de 29,2 indivíduos (intervalo de 24 – 34,3) na área preservada com 05 morfoespécies raras (com apenas 1 ocorrência), enquanto a manejada apresentou riqueza de 30,8 indivíduos (intervalo 24,7 – 37), com 07 morfoespécies raras (a = 95%). Quanto à diversidade, o cálculo do índice de Shannon-Winner resultou em uma diversidade para a área preservada de 1.273 e manejada de 1.329, indicando grande similaridade entre as áreas. A composição de morfoespécies entre as áreas também foram bastante similares (Jaccard = 0,875). Esses resultados, entretanto, não foram determinados por diferenças entre os coletores (t = -1.446 ; p = 0.208 ; gl = 5) (Fig. 1). Discussão Existem poucos estudos apontando correlações positivas entre a riqueza de espécies de aranhas, complexidade estrutural e degradação do ambiente (Hofer et al,. 1994 e New, 1999) e os processos que geram esse padrão nem sempre são claramente apresentados (Santos, 1999). A composição dos morfotipos, a riqueza média e a densidade da araneofauna entre as áreas amostradas não foram diferentes, isso poderia indicar que o impacto causado pela extração seletiva de madeira, cinco anos depois, não produziu grandes alterações na estrutura da comunidade. Figura 1 – teste t pareado – avaliação das diferenças de densidade coletada por amostrador na área manejada (M) e preservada (P). Essa semelhança entre as áreas pode estar também relacionada a estrutura do ambiente amostrado (até 2 metros de altura), que poderiam apresentar condições semelhantes de sub-bosque para a manutenção ou mesmo recuperação da araneofauna após o impacto. Entretanto, os dados desses estudo basearam-se em uma amostragem muito pequena, que resultou em apenas 28 morfotipos de aranhas, enquanto que a riqueza potencial da área é de mais de 500 espécies (Vintecinque, com. pess.). O pouco tempo de amostragem e a impossibilidade de identificação em níveis taxonômicos mais específicos certamente influenciaram os resultados desse trabalho. Da mesma maneira, a estimativa de riqueza de Jackknife apresentou pequena diferença entre a área manejada e a área preservada e estimou valores muito próximos aos valores encontrados. Isso demonstra claramente que, devido ao pequeno esforço amostral, houve uma sub-estimativa da riqueza de espécies. Com relação aos resultados de riqueza média e densidade, verificamos que ambos tiveram resultados semelhantes. Tal fato pareceu-nos interessante, visto que a estimativa de densidade é muito mais prática e de mais fácil análise do que a triagem de morfotipos para o cálculo da riqueza. Dessa forma, o cálculo de densidade de aranhas por unidade de área parece-nos interessante para trabalhos com menor disponibilidade de tempo ou esforço amostral e cujo objetivo seja avaliar parte do fluxo energético no sistema. Porém, questões como biomassa devem ser levadas em conta quando o enfoque do estudo for comparativo. É bom ressaltar que o cálculo de densidade mascara possíveis diferenças na composição de espécies, principalmente das espécies raras, importantes para comparações de diversidade como a que propusemos nesse trabalho e, portanto, o método de estudo da comunidade aranea deve variar de acordo com os objetivos propostos por cada estudo. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 33 Conclusões gerais Não encontramos diferenças entre a composição, diversidade, densidade e riqueza da araneofauna entre a área manejada e preservada. Isso evidencia que o impacto da extração seletiva de maneira não foi significativo para os organismos amostrados. Entretanto, essa conclusão preliminar apenas poderá ser confirmada ou refutada com maiores esforços de amostragem e melhor identificação dos exemplares capturados. Além disso, outros estudos com aranhas de folhiço e dossel deverão ser desenvolvidos para que se possa concluir sobre o grupo como um todo, que não foi contemplado nesse estudo. Agradecimentos Agradecemos à Ângela, pela ajuda na coleta de dados, confecção de material de coleta e identificação das morfoespécies, ao Janael pelo empréstimo de bibliografia e ajuda na identificação das morfoespécies e ao Dadão, Jansen, Juruna e Gislene pelo auxílio na confecção do material de campo. Referências bibliográficas Brescovit, A. D.; Bonaldo, A. B.; Bertani, R.; Rheims, C. A. 2001. Aranae p. 1-41. Em: Adis, J. Amazonian Arachnida and Myriapoda. Caro, K. A. e S. Laurence. 1996. Efecto de diferentes habitats en la construccion de telas por arañas de la familia Pholcidae. Livro do curso de campo Ecologia da Floresta Amazônica, INPA, Smithsonian Institution, UNICAMP,OTS, Manaus. Foelix, F. Rainer. 1982. Biology of Spiders. Harvard University Press. Cambridge, Massachusetts. Harcourt, C. 1992. Tropical moist forest. Em Groombridge, B. (ed) Global Biodiversity – Status of earth’s living resources. Chapman & Hall, Londres, pp. 256 – 279. Hofer, H.; Brescovit, A. D.; Adis, J.; Paarmann, W. 1994. The spider fauna of neotropical tree canopies in central amazonia – first results. Stud. Neotrop. Fauna Environment, 29(1):23-32. Krebs, C. J. 1998. Ecological methodology, Ed. Benjamin Cummings. New, T. R. 1999. Untangling the web spiders and the challenges of invertebrate conservation. Journal of insect conservation 3. Platinick, Internet, 2003. Santos, A. J. 1999. Diversidade e composição em espécies de aranhas da reserva florestal da Companhia Vale do Rio Doce (Linhares – ES). UNICAMP, Campinas. A influência do manejo florestal sobre indivíduos da família Melastomataceae Amanda F. Mortati, Amanda De La Torre , Christiane E. Correa, Juliana Stropp. Carneiro, Maura M. Pezzato Introdução As florestas tropicais estão sendo desmatadas a taxas alarmantes, com aproximadamente 2 milhões de hectares ao ano (INPE, 2000). Na Amazônia Central, o desflorestamento se dá principalmente pela ocupação humana, agropecuária e exploração madeireira (Uhl et al., 1998; Anderson, 1990). Atualmente, mais da metade da madeira em toras consumida pelo Brasil vem da Amazônia e a previsão é que a demanda interna cresça ainda mais (Verissimo, 1992 apud Uhl et al., 1998). O consumo externo de madeira amazônica, apesar de ainda ser pequeno, também deverá crescer à medida que os estoques de madeira da Ásia entrem em declínio (Uhl et al., 1998). A grande maioria das madeireiras utilizam um tipo de extração conhecido como corte raso, que causa danos significativos na floresta (Anderson, 1990). Poucas empresas investem em um manejo para extração madeireira. Mesmo causando menores alterações na paisagem a exploração de madeira de forma manejada pode influenciar a dinâmica das 34 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 florestas tropicais. Além das alterações imediatas que este tipo de atividade provoca, pode haver um efeito posterior na distribuição e abundância de muitas espécies. No entanto, ainda não é conhecida magnitude que estas alterações podem causar ao ambiente (Vasconcelos et al, 2000). Em áreas manejadas a abertura do dossel e a densidade de vegetação do sub-bosque são maiores que em áreas preservadas (Rittl, 1998). Uma vez que a disponibilidade de luz e nutrientes no solo são cruciais para o estabelecimento e sobrevivência das plantas (BenitezMalvido 2002; Ganade, 1996). Um aumento no número de clareiras provoca um aumento da luminosidade na floresta e expõe plantas a condições diferentes das encontradas em áreas de não clareira (Gomez-Pompa et al., 1985; Ganade, 1996). As plantas pioneiras se beneficiam com essas novas condições. Elas se caracterizam pela germinação, reprodução e crescimento em pleno sol e estruturalmente por troncos finos e com madeira de baixa densidade (Clark e Clark, 1992). Para sobreviverem nessas áreas abertas, podem Objetivos 12 Número de indivíduos utilizar mecanismos que excluam seus competidores, como o sombreamento da copa (Bellucia, Miconia Melastomataceae), crescimento clonal (Vismia - Clusiaceae), alelopatia (Duroia - Rubiaceae) e mirmecofilia (Tococa Melastomataceae e Duroia) (Wiliamson et al., 1998). Estas espécies tem, portanto, investimento preferencial em crescimento rápido, baixa biomassa, rápida reprodução e formação de um banco de sementes que ficam aguardando condições de alta luminosidade (Gomez-Pompa et al., 1985; Ganade, 1996). Muitas espécies da família Melastomataceae apresentam as características descritas acima. Esta família compreende cerca de 4000 espécies e ocorre principalmente nas regiões tropicais com representantes herbáceos e arbóreos (Joly, 1987; Ribeiro et al., 1999). 10 8 6 4 2 0 MANEJADA PRESERVADA Figura 1. Número de indivíduos da família Melastomataceae encontrados nas áreas de manejo florestal (manejada) e na área de preservação absoluta. Determinar se existe diferença na abundância de indivíduos de espécies da família Melastomataceae em áreas de preservação absoluta e manejo florestal. Determinar se há relação entre a abundância dos indivíduos e a presença de clareiras na área manejada. Métodos O estudo foi realizado na MIL Madeireira Itacoatiara Ltda., esta empresa utiliza o sistema CELOS de manejo e possui certificação florestal desde 1994. Amostramos duas áreas da empresa, uma submetida ao corte seletivo e outra dedicada a preservação absoluta. Amostramos cinco parcelas de 6 X 20 m dispostas aleatoriamente em cada área, em um total de dez parcelas amostrando todos os indivíduos que foram encontrados. Para cada parcela foi registrada a presença de clareira e os indivíduos da família Melastomataceae foram quantificados. Os indivíduos foram identificados até o nível de gênero e separados por morfoespécies. Analisamos a relação entre abundância dos indivíduos e presença de clareira na área manejada pelo teste Mann-Whitney. Resultados Encontramos 27 indivíduos da família Melastomataceae. Apenas um indivíduo pertencente ao gênero Tococa ocorreu na área preservada. Sendo que para a área manejada encontramos dois indivíduos do gênero Tococa, três do gênero Bellucia, 18 do gênero Miconia e três indivíduos indeterminados. Das cinco parcelas amostradas na área manejada, três parcelas ocorreram em ambientes de clareira (Figura 2). Não foi encontrada nenhuma relação entre a abundância de indivíduos desta família e a presença de clareira (U=6; p=0,076; n=5). No entanto, em um total de 26 indivíduos amostrados nesta área, 21 estavam em clareiras e apenas cinco em ambiente de não clareira. Figura 2. Número de ind ivíduos encontrados em ambientes de clareira e não clareira na área manejada. Discussão A abertura de clareiras causada pela exploração madeireira pode ter influência sobre a abundância dos indivíduos da família Melastomataceae, visto que muitas espécies desta família são pioneiras e respondem de maneira rápida as perturbações (naturais ou antrópicas) sofridas pelo ambiente. Isto pode ser inferido pelo menor número de indivíduos encontrado na área de preservação quando comparado à área manejada, sugerindo que estas espécies podem ser consideradas indicadoras de alterações ambientais. Analisando as informações referentes à área manejada observamos que a maior abundância de indivíduos ocorre em ambiente de clareira, provavelmente isto se relaciona com a grande necessidade de luz que estas espécies necessitam para sobreviver. Assim, possivelmente a alteração Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 35 da paisagem das áreas manejadas, como por exemplo o maior número de clareiras, podem interferir na abundância desses indivíduos. Portanto, a família Melastomataceae devido ao grande número de espécies pioneiras que a compõe, pode ser indicadora perturbações que aumentem a disponibilidade de luz no ambiente, como formações de clareiras. Agradecimentos Agradecemos ao Alberto Vicentini pelo grande auxílio com as atividades de campo e identificação das plantas. Bibliografia Anderson, A.B.1990. Alternatives to the deforestation: steps toward sustanaible use of the Amazon Rain Forest. Columbia University Press. 281 pp. Benitez-Malvido, J. 2002. Regeneration in tropical rain forest fragments. In: Lessons from Amazônia. Yale University University Press. 478pp. Clark, D. A., & Clark, D. B. 1992. Life history diversity of canopy and emergent tree in a neotropical rainforest. Ecological Monographs 62: 315-344. Ganade, G. 1996. Seedling establishment in Amazon rainforest and old fields. PhD thesis. University of London. Gomes-Pompa, A. & R. S. Del Amo. 1985. Investigaciones sobre la regeneracion de selvas altas en Veracruz, Mexico. Volumen II. Instituto Nacional de Investigaciones Sobre Recursos Bioticos. Xalapa, Veracruz, Mexico. INPE. (2000) Deforestation estimates in the Brazilian Amazon, 1998-1999. Unpublished report, National Institute for Space Research (INPE), São José dos Campos, Brasil. Joly, A. B. 1987. Botânica: Introdução à taxonomia vegetal. Ed. Nacional: São Paulo. 777 pp. Ribeiro, J. E. L.; Hopkins, M. J. G.; Vicentini, A.; Sothers, C. A.ç Costa, M. A. S.; Brito, J. M.; Souza, M. A. D.; Martins, L. H. P.; Lohmann, L. G.; Assunção, P. A. C. L.; Pereira, E. C.; Silva, C. F.; Mesquita, M. R. e Procopioet, L. C. 1999. Flora da Reserva Ducke: Guia de identificação das plantas vasculares de uma floresta de terra firme na Amazônia Central. INPA, DFID. 790pp. Uhl, C.; Barreto, P.; Veríssimo, A.; Barros, A. C.; Amaral, P.; Vidal, E. & Souza Jr., C., 1998. Uma abordagem integrada de pesquisa sobre o manejo dos recursos florestais na Amazônia brasileira. In: Gascon, C. & Moutinho, P. (Eds.). Floresta Amazônica: Dinâmica, Regeneração e Manejo. Manaus, 373p. Capitulo 20 (p 313-337) Vasconcelos, H. L.; Vilhena, J. M. S. e Caliri, G. J. A. 2000. Response of ants to selective logging of a Central Amazon. Journal of Applied Ecology 37:508514pp. Williamson, G. B.; Mesquita, R. C.G.; Ickes, K. e Ganade, G. 1998. Estratégias de colonização de arvores pioneiras nos Neotropicos. In: Gascon, C. & Moutinho, P. (Eds.). Floresta Amazônica: Dinâmica, Regeneração e Manejo. Manaus, 373p. Capitulo 8 (131- 144) Presença de folhas novas em Macrolobium acacaefolium (Leg. Caesalpinioideae): mecanismos endógenos ou ambientais? Odirlene Marinho Ribeiro, Jivanildo P. Miranda, Flávio Quental, Amanda De La Torre & Rita de Cássia Quitete Portela Introdução Os rios da Amazônia central apresentam uma flutuação cíclica do nível de suas águas que pode atingir até 14 metros, com períodos de inundação variando de 50 a 270 dias por ano (Ferreira & Stohlgren, 2002). Isso resulta na sincronização da maioria dos processos ecológicos de plantas, animais e das populações humanas, tais como reprodução das plantas, migração de animais e atividade de pesca, pecuária e agricultura (Ferreira & Stohlgren, 2002). Para sobreviver nas florestas alagáveis, as plantas necessitam de adaptações ecológicas, fisiológicas e morfológicas que permitam suportar os períodos sob inundação, nos quais o suprimento de oxigênio é precário (Ferreira & Stohlgren, 2002). Algumas espécies tem suas 36 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 folhas perdidas totalmente em semanas ou meses, essa estratégia, para a maioria das espécies, está associada à maior capacidade fotossintética das folhas novas, com conseqüente ganhos no processo de frutificação. Uma das espécies com essa adaptação fisiológica é Macrolobium acacaefolium, que apresenta alta tolerância à inundação, ficando submersa de abril a agosto (Parolin et al., 2002). A floração desta espécie vai de novembro a dezembro e a frutificação de dezembro a fevereiro, com um pico entre janeiro e fevereiro (Parolin et al., 2002). Esta espécie ocorre tanto em águas pobres em nutrientes como ricas e, em ambos ambientes ela perde as folhas no período de inundação. O objetivo deste estudo foi examinar se a presença de folhas novas poderia estar associada a fatores ambientais: profundidade da coluna da água (estimativa do tempo de inundação) no local e características morfologicas da espécie (diâmetro e tamanho da copa). Métodos Este estudo foi realizado na Ilha da Marchantaria, município de Iranduba, localizada no Rio Solimões a 03° 15´ S e 60° 00´ O, próximo à cidade de Manaus, AM. Essa área é sazonalmente inundada pela cheia do Rio Solimões. No dia 16 de julho de 2003, início da vazante, foram localizados 23 indivíduos da espécie Macrolobium acacaefolium (Leguminosae: Caesalpinioideae) na margem do Lago Camaleão. Para localização dos indivíduos, percorremos a borda e o interior da margem do lago. Cada indivíduo teve seu diâmetro à altura da água medido, tamanho da copa (registro categórico como pequena, média e grande), bem como o grau de exposição da copa (registro categórico como exposta ou encoberta) e profundidade na qual a planta estava submersa, para examinar a relação destas variáveis com a produção de novas folhas. As relações entre essas variáveis e a produção de folhas novas foram avaliadas por meio de análise de covariância (ANCOVA) utilizado-se como covariantes o tamanho e exposição da copa e variáveis contínuas: profundidade e diâmetro. Resultados Encontramos 17 indivíduos com folhas novas e seis com folhas velhas, sendo que a profundidade de submersão desses indivíduos variou de 3,4 a 5,6m. Não encontramos relação significativa entre a presença de folhas novas e o diâmetro das árvores e exposição da copa; diâmetro das árvores e tamanho de copa; profundidade e exposição da copa; e profundidade covariável e tamanho de copa (Tabela1). Discussão A maioria dos indivíduos estudados de M. Acacaefolium estão com folhas novas nessa época do ano, corroborando as observações de Parolin et al. (2002), indicando assim uma sincronia dessa fase fenológica dos indivíduos amostrados com o ciclo hidrológico da região. A existência de alguns indivíduos com folhas velhas pode ser devido à variação genética intraespecífica. Na área onde a população foi amostrada, houve pouca variação na profundidade de submersão das plantas, portanto, este fator parece não ser o mais importante para explicar o fenômeno analisado. Essa sincronia provavelmente está relacionada com a estratégia de dispersão das sementes, pois esta é uma espécie hidrocória e alelopática, que precisa produzir seus frutos antes do período da seca para que estes se dispersem para longe dos adultos (Ziburski, 1990 apud Parolin et al., 2002). Referências Bibliográficas Ferreira, L.V., Stohlgren, T.J. 1999. Effects of river level flutuation on plant species richness, diversity, and distribution in a floodplain forest in Central Amazonia. Oecologia 120: 582-587. Parolin, P., Armbruester, N., Wittmann, F., Ferreira, F., Piedade, M.T.F., Junk, W.J. A review of tree fenology in Central Amazonian floodplains. Pesquisas Botânica 52: 195-222. Orientador do projeto: Leandro Ferreira Tabela1: Resultados da ANCOVA para as relações entre a presença de folhas novas e os fatores diâmetro do tronco, profundidade, exposição da copa e tamanho da copa de M. acacaefolium. Fator F P Diâmetro 0,07 0,75 Profundidade 0,02 0,88 Exposição da copa 0,02 0,37 Tamanho da copa 0,75 0,48 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 37 Relações tróficas entre peixes em uma área de várzea no Rio Solimões, Amazônia Central Odirlene Marinho Ribeiro, Jivanildo P. Miranda, Flávio Quental, Amanda De La Torre & Rita de Cássia Quitete Portela Os peixes ocupam a maioria dos níveis tróficos, desde herbívoros que se alimentam de algas unicelulares até carnívoros secundários, que podem consumir outros peixes, anfíbios, aves e mamíferos (Keenleyside, 1979 apud Wootton, 1990). Dentre os grupos tróficos, os peixes podem ser generalistas, que são aqueles que não têm especificidade em relação ao alimento; ou especialistas, que são peixes que se alimentam de um número restrito de tipos de alimento. No entanto, a presença de um alimento específico na dieta de peixes topicais depende principalmente da sua disponibilidade sazonal no ambiente (Araújo-Lima e Goulding, 1997). O estudo de cadeias tróficas gera informações sobre a dinâmica de uma comunidade, estabelecendo as relações que podem influenciar sua estrutura e interações ecológicas, como predação e competição. O objetivo deste estudo foi caracterizar a comunidade de peixes quanto a distribuição de grupos tróficos que habitam uma área de várzea na Amazônia Central. Métodos O estudo foi realizado na Ilha da Marchantaria, no município de Iranduba, em uma área de várzea do Lago do Camaleão, no Rio Solimões. Foram armadas 11 redes de espera de diferentes malhas (40 a 120mm entre nós opostos), às 6 horas da manhã, horário em que os peixes estão se movimentando entre a floresta de várzea e o lago. As redes foram revisadas duas vezes, às 9 e 11 horas da manhã. Todos os indivíduos capturados foram triados, contados, pesados (g) e identificados em nível de espécie. O conteúdo estomacal foi analisado e as espécies foram classificadas nas seguintes categorias tróficas: onívoros (consumidores de material vegetal e animal), onívoros com tendência a carnivoria (consumidores de material vegetal e animal, com predominância de material animal), piscívoros, carnívoros (carnívoros generalistas) e herbívoros (consumidores estritos de material vegetal). Resultados Foram coletados 45 indivíduos de nove espécies de peixes. As seguintes espécies foram coletadas, com as respectivas abundâncias relativas: Triportheus elongatus (4%), Triportheus flavus (7%), Triportheus albus (70%), Acestrorhynchus falcirostris (2%), Rhytiodus microlepis 38 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 (2%), Ageneiosus ucayalensis (2%), Serrasalmus rhombeus (4%), Pygocentrus nattereri (7%) e Crenicichla saxatilis (2%). A espécie mais abundante foi Triportheus albus (n= 31). A cateregoria trófica mais abundante em número de indivíduos foi a de onívoros (n=36) que correspondeu a quatro espécies (Figura 1). 40 35 espécies indivíduos 30 25 20 N Introdução 15 10 5 0 onívoros onívoros (carnivoria) piscívoros carnívoros (piscívoros e insetívoros) herbívoros Figura 1: Número de espécies de peixes e de indivíduos em cada categoria trófica amostrada em uma área de várzea na Amazônia Central. Os indivíduos das cinco categories tróficas encontradas foram representados esquematicamente segundo as relações de predação (Figura 2). Entre os consumidores primarios houve predominância de peixes da familia Anostomidae; para os consumidores secundários a predominância foi de sardinhas (Triportheus spp., Characidae); consumidores “de topo” de cadeia foram representadas por peixes de três ordens, A. ucayalencis (Ageneiosidae, Siluriformes), C. saxatilis (Cichlidae, Perciformes) e A. falcirostris (Acestrorhinchidae, Characiformes). Discussão Nossos resultados mostraram uma estratificação bem marcada em termos de biomassa dos peixes coletados. A espécie R. microlepis, incluída no nível trófico mais basal, apresentou a maior biomassa (300g), conforme o esperado,pois os indivíduos obtém um maior aporte de energia devido ao consumo dos produtores diretamente. Os onívoros incluíram espécies com biomassa em torno de 60g e as espécies de predadores piscívoros apresentaram biomassa em torno de 120g. O maior tamanho dos piscívoros também está de acordo com o esperado para predadores “de topo” de cadeia, que sofrem seleção para maiores tamanhos (Figura 2). Encontramos uma predominância de espécies onívoras ≅70g ≅140g D A. ucayalensis 1 ≅60g C ???? ≅60g ≅40g Opiliões T. albus 31 Larvas insetos ≅300g B A R. microlepis 1 A. falcirostris 1 ≅60g S. rhombeus 2 T. elongatus 2 ≅130g C. saxatilis. 1 P. nattereri 3 ≅60g T. flavus 3 Insetos Outros artrópodes Schizodon fasciatus Material Vegetal (partes vegetativas, sementes, frutos, flores) Figura 2: Esquema das relações tróficas dos peixes de uma área de várzea na Ilha da Marchantaria, Rio Solimões, Amazônia Central. O número à direita dos nomes científicos representa a quantidade de indivíduos amostrados e o número acima representa a biomassa aproximada da espécie. As setas indicam as relações de predação. Linhas pontilhadas representam a separação dos níveis tróficos, sendo (A) produtores, (B) consumidores primários, (C) consumidores secundários onívoros e (D) consumidores “de topo” de cadeia. A elipse no nível B representa um compartimento de presas invertebradas. As interrogações indicam que a relação de predação não foi observada no estudo, mas obtida na literatura entre os peixes amostrados. Esses consumidores podem aceitar itens alimentares de baixo valor nutricional simplesmente por tê-los em abundância, sendo mais vantajoso consumi-los do que ignorá-los e continuar o forrageamento (Begon et al., 1990). Espécies onívoras também são favorecidas porque dietas mais diversificadas contribuem para evitar que a concentração de substâncias tóxicas eventualmente presentes nos itens alimentares alcancem valores inaceitáveis (Begon et al., 1990). Por outro lado, em teoria de redes tróficas espera-se que a onivoria seja rara porque sua presença é desestabilizadora (estabilidade sensu Begon et al., 1990), já que os onívoros experimentam maior competição dentro de seu nível trófico, além de sofrerem predação das espécies de níveis tróficos mais altos (Pimm, 1982, 1991). No entanto, neste estudo houve predominância de peixes onívoros, o que poderia ser explicado pelo fato do sistema de várzea ser um ambiente sazonal e, portanto, a utilização dos recursos pelos indivíduos ser oportunista. Além disso, a dieta onívora dos peixes de várzea pode estar sendo favorecida pela alta produtividade primária e disponibilidade elevada de frutos devido à sincronização das espécies de plantas com o pulso de inundação. Agradecimentos Agradecemos ao Juruna pelo apoio no trabalho de campo e ao professor Jansen pelas sugestões nas discussões. Bibliografia Araújo-Lima, C., Goulding, M.1997. So fruitful a Fish. Ecology, Conservation and Aquaculture of the Amazon’s Tambaqui. Columbia University Press.191 pp. Begon, M., J. L. Harper e C. R. Townsend. 1990. Ecology: individual, populations and communities. Blackwell. London. Pimm, S. L. 1982. Food webs. Chapmann & Hall, London. Pimm, S. L. 1991. The balance of nature? Ecological issues and conservation of species and communities. Chicago University Press. Wotton, R. 1990. Ecology of Teleost Fishes.Ed.Chapman & Hall. Orientador do projeto: Rosseval Leite Segregação de hábitat e comportamento agonístico entre Attila bolivianus e A. spadiceus (Passeriformes, Tyrannidae) Fabiana Rocha-Mendes, Fresnel Gustavo Diaz Araujo, Janael Ricetti, Juliana Stropp, Márcio S. Araujo e Patrícia Rodin. Introdução Na Amazônia, a alta amplitude (8-15m) da flutuação sazonal nos níveis de água dos rios cria um gradiente de hábitats da várzea para a terra firme. Uma substancial proporção (15%) da avifauna não aquática da Bacia Amazônica é restrita a estes hábitats (Remsen e Parker, 1983). Ao longo deste gradiente várzea-terra firme, há substituição de alguns pares de espécies cogenéricas (Robinson e Terborgh, 1995), como Crypturellus undulatus na várzea e C. variegatus na terra firme (Borges e Carvalhes, 2000). Historicamente, a seleção de hábitats tem sido apontada como o principal fator determinante da distribuição espacial das espécies (Robinson e Terborgh, 1995). Recentemente, foi sugerido que interações agonísticas também seriam um fator importante na segregação de hábitats em espécies cogenéricas de aves (Robinson e Terborgh, 1995). De acordo com essa hipótese, uma espécie estaria sendo impedida pela Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 39 sua cogenérica de ocupar determinado ambiente, e sua distribuição seria, na verdade, um reflexo dessas interações agonísticas e não o resultado da seleção ativa por determinado tipo de hábitat. O objetivo do presente estudo foi testar a hipótese de que interações agonísticas entre espécies cogenéricas de aves podem ser um fator importante na determinação de suas distribuições. Métodos O estudo foi realizado em uma área de várzea, localizada na ilha da Marchantaria (02º55’ S – 59º59’ W) no rio Solimões, a 15 km da confluência com o rio Negro, Amazonas, Brasil. Escolhemos como modelo de estudo duas espécies do gênero Attila (Passeriformes, Tyrannidae), uma restrita a áreas de terra firme e outra restrita à várzea. Ambas espécies, apesar de ocuparem ambientes diferentes, podem, eventualmente, entrar em contato nas áreas de transição entre terra firme e várzea. Foram estudados cinco indivíduos da espécie A. bolivianus, para os quais “playbacks” de seu próprio canto e de A. spadiceus foram reproduzidos. A identificação dos indivíduos foi baseada no guia de aves da Colômbia (Hilty e Brown, 1986). Para avaliar a reação de A. bolivianus à vocalização de A. spadiceus, utilizamos a seguinte ordenação na emissão dos “playbacks”: três reproduções de A. spadiceus, seguida de três reproduções de A. bolivianus, para cada indivíduo de A. bolivianus estudado. As respostas foram categorizadas em: sem reação; aproximação (o animal se deslocava aproximando-se da fonte sonora); vocalização (iniciava ou alterava a vocalização); e movimentação (caracterizado pelo eriçamento das penas, movimentação da cauda, cabeça ou corpo). Resultados Nenhum dos indivíduos de Attilla bolivianus estudados reagiu ao canto de A. spadiceus, mas todos reagiram ao canto de sua própria espécie (Tabela 1). Com exceção de um único indivíduo, todos apresentaram o mesmo padrão de resposta (Tabela 1). Tabela 1: Resposta de Attila bolivianus ao “playback” do canto de A. spadiceus (terra-firme) e A. bolivianus (várzea). A: aproximação; C: canto; M: movimento do corpo; -:sem reação. Estímulo A. spadiceus 1 2 3 4 5 A C M A C M A C M A C M A C M A C M - - - - - - - - - - X X X X X X X X X X X X - X - 4 5 4 - - - - - - - - Total (terra-firme) A. bolivianus (várzea) Discussão O potencial de interações agonísticas é maior entre espécies filogenéticamente próximas do que entre aquelas 40 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 menos aparentadas, e atinge seu máximo entre os indivíduos da mesma espécie, principalmente aquelas territorialistas (Begon et al., 1990). Todos os indivíduos de A. bolivianus (várzea) apresentaram reação agonística à vocalização de coespecíficos e não a apresentaram em resposta à vocalização do cogenérico, A. spadiceus (terra firme). Desta forma, a segregação de hábitats destas duas espécies não poderia ser explicada pela presença destas interações. Este resultado pode ter sido encontrado em função da área estudada, uma ilha permanente, que não entra em contato com a terra firme durante a vazante. Assim, os indivíduos de A. bolivianus podem não tem contato com indivíduos de A. spadiceus na natureza, não reconhecendo a vocalização desta espécie. Por outro lado, a vocalização possui um componente genético muito forte, o que possibilita a uma espécie reconhecer o canto de uma cogenérica, mesmo sem nunca a ter encontrado (Sick, 1988). A ausência da interação agonística entre as espécies cogenéricas estudades indica que, caso haja encontro destas espécies na natureza, elas, provavelmente, não se repelem, o que permitiria a repartição de hábitat. Portanto, a segregação de hábitat encontrada em A. bolivianus e A. spadiceus não pode ser explicada por interações agonísticas e provavelmente decorre da seleção ativa de hábitat pelas espécies. Agradecimento Agradecemos ao Sérgio Borges (Sérginho) pela imprescindível ajuda em campo e na discussão deste trabalho, e à Angela (Angelita) por nos acompanhar em campo. Referências bibliográficas Begon, M., L. Harper & C. R. Townsend. 1990. Ecology – individuals, populations and communities. Blackwell Scientific Publications. London. 945 p. Borges, S.H. & A. Carvalhaes. 2000. Bird species of black water inundation forest in the Jaú National Park (Amazonas state, Brazil): their contribution to regional species richness. Biodiversity and Conservation 9: 201214. Hilty, S. L. & W. L. Brown. 1986. A guide to the Birds of Colombia. Princeton University Press. 837 p. Remsen, J.V. & T. A. Parker. 1983. Contribution of rivercreated habitats to bird species richness in Amazonia. Biotropica 15: 223 – 231. Robinson S.K & J. Terborgh. 1995. Interspecific aggression and habitat selection by Amazonian birds. Journal of Animal Ecology 64: 1 – 11. Sick, H. 1988. Ornitolologia Brasileira (Vol n 1 ). Linha Grafica Editora. pp. 481. Orientador: Sérgio Henrique Borges Ictiofauna associada a duas espécies de macrófitas em uma área de várzea do Rio Solimões, Amazonas Márcio S. Araújo, Patricia Rodin, Juliana Carneiro, Fresnel A. Diaz, Janael Ricetti, Fabiana Rocha-Mendes A bacia Amazônica tem 20% de sua área representada por áreas alagadas. Essa classificação engloba uma grande variedade de habitats adequados ao desenvolvimento de macrófitas, sendo que sua maior diversidade é encontrada nas áreas alagadas por rios de água branca, ricos em nutrientes e com pH relativamente neutro (Junk & Piedade, 1997). Nas bordas dos lagos de água branca, na zona de sedimentação, elas cobrem extensas áreas da superfície da água. As macrófitas desempenham importante função nos ecossistemas alagados, já que constituem abrigo e fonte de alimento para grande variedade de grupos animais, como insetos terrestres e aquáticos, aves e peixes (Junk & HowardWilliams, 1984). No caso dos peixes, esse microambiente é utilizado por várias espécies como berçário, refúgio e sítio de forrageamento (Machado-Allison, 1987). Em linhas gerais, as macrófitas da várzea Amazônica podem ser classificadas como flutuantes e emergentes (Sioli, 1975). A principal diferença entre elas refere-se ao sistema radicular. No caso das flutuantes, as raízes não estão fixadas ao substrato e formam uma estrutura compacta logo abaixo da superfície da água. Já as emergentes possuem um sistema radicular preso ao substrato e as plantas crescem em direção à superfície, formando uma massa de talos e raízes bastante desenvolvida e ramificada. Em função dessas características, as macrófitas emergentes constituem um ambiente de maior heterogeneidade estrutural e área, se comparadas às flutuantes. Além disso, a concentração de oxigênio dissolvido é maior sob as macrófitas flutuantes do que sob as emergentes (Sánchez-Botero et al., 2001). É de se esperar que a composição da ictiofauna varie entre esses dois tipos de ambiente em função de suas diferenças estruturais e físico-químicas. Além disso, a riqueza e a abundância de espécies encontrada em um ambiente é determinada, em parte, pelo tamanho de sua área e pela sua heterogeneidade (Begon et al., 1990). Assim, espera-se que em ambientes com maior disponibilidade de espaço e mais heterogêneos haja um maior número e maior abundância de espécies do que naqueles mais homogêneos. O objetivo deste projeto foi investigar diferenças de composição, riqueza e abundância da ictiofauna em bancos de macrófitas flutuantes e emergentes em uma área de várzea da Amazônia Central. é de 26,7ºC e a pluviosidade varia em torno de 2.186 mm por ano. O Lago do Camaleão recebe influência direta do rio Solimões e, por isso, seu entorno apresenta características dos ambientes de várzea da região Amazônica (Conserva, 2001). Amostramos com rede de cerco (6X3, malha de 3mm) três ilhas com dominância de Paspalum repens (capim membeca, macrófita emergente) e três com dominância de Eichhornia crassipes (mureru, macrófita flutuante). Dispusemos a rede no entorno de cada ilha com o intuito de capturar os indivíduos localizados nas raízes da vegetação. As amostras de peixes foram fixadas em formol e identificadas até o nível específico. O oxigênio dissolvido na água foi medido com uso de oxímetro portátil e a temperatura com uso de termômetro digital. Foram estimadas média e desvio padrão (DP) dessas variáveis para os dois tipos de macrófitas amostrados. A similaridade da composição de espécies entre os dois tipos de macrófita foi estimada pelo índice de Jaccard (Magurran, 1987). Resultados A média da concentração de oxigênio dissolvido foi muito semelhante entre os bancos dominados por E. crassipes (2,32mg/l ± 0,5; 1,8 – 2,8) e os dominados por P. repens (2,19mg/l ± 0,4; 1,84 – 2,6). A temperatura também foi semelhante entre os dois tipos de macrófitas amostrados (E. crassipes, 28,9oC ± 1,08; 27,7 – 29,7; P. repens, 28,1oC ± 0,36; 27,8 – 28,5). Foram coletados um total de 85 indivíduos nos bancos de E. crassipes e 182 nos bancos de P. repens (Figura 1). A riqueza da ictiofauna encontrada em E. crassipes foi de 27 espécies, e em P. repens de 23 (Figura 2; Tabela 1). 200 180 160 Número de indivíduos Introdução 140 120 100 80 60 40 20 0 Métodos Realizamos o estudo em julho de 2003 no Lago do Camaleão na Ilha da Marchantaria, localizada a 15 Km de Manaus (31 º S; 57o O). A temperatura média anual da região Flutuante Emergente Tipo de vegetação Figura 1 - Abundância de peixes em macrófitas flutuantes (Eichornia crassipes) e emergentes (Paspalum repens) no Lago do Camaleão, Ilha da Marchantaria, Amazonas. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 41 100 30 Número de indivíduos 90 25 70 60 50 40 30 20 10 15 Serrassalmidae Rivulidae Rhamphictidae Lebiasinidae Hypopomidae Eritrinidae Doradidae Famílias 5 0 Flutuante Emergente Tipo de vegetação Figura 2 - Riqueza da ictiofauna encontrada em macrófitas flutuantes (Eichornia crassipes) e emergentes (Paspalum repens) no Lago do Camaleão, Ilha da Marchantaria, Amazonas. Tabela 1: Lista de espécies e número total de indivíduos coletados em bancos de Eichornia crassipes e Paspalum repens no Lago do Camaleão, Ilha da Marchantaria, Amazonas. Família Anostomidae Espécie E. crassipes P. repen s Leporinus friderici 0 1 Leporinus trifaciatus 1 0 Schizodon fasciatus 2 0 Characidae Aphyocharax aff. erythrurus 1 1 Ctenobrycon hauxwellianus 8 17 Cyphocarax sp. 0 2 Hemigrammus levis 3 8 Hemigrammus ocellifer 7 47 Hyphessobrycon eques 8 2 Moenkhausia collettii 1 8 Moenkhausia intermedia 1 1 Odontostilble aff. fugitiva 0 1 Serrapinus sp. 1 8 Cichlidae Apistogramma aff. Eunotus 2 0 Apistogramma agassizi 0 3 Astronotus crassipinnis 7 0 Astronotus ocellatus 0 1 Chaetobranchopsis 0 1 orbicularis Cichlasoma amazonarum 6 28 Crenicichla cf. cincta 0 2 Mesonauta insignis 0 35 Doradidae Anadoras sp. 2 0 Hoplias malabaricus Eritrinidae 4 3 Hypopomidae Brachyhypopomus 4 0 pinnicaudatus Brachyhypopomus sp.1 6 0 Brachyhypopomus 1 0 brevirostris Brachyhypopomus sp.2 1 0 Eigenmannia sp. 2 0 Gymnocorymbus thayeri 1 2 Sternopygus macrurus 0 1 Synbranchus sp1 (malhado) 1 0 Synbranchus sp2 (faixa) 5 0 Lebiasinidae Nannostomus eques 0 2 Rhamphictidae Apteronotus hasemani 1 0 Rivulidae Rivulus sp. 1 0 Serrassalmidae Mylossoma duriventre 7 6 Serrasalmus sp. 1 2 Os dois ambientes estudados compartilham 35% das espécies. As diferenças mais marcantes ocorrem entre as espécies das famílias Characidae, Cichlidae e Hypopomidae (Figura 3). 42 Cichlidae 10 Characidae 0 Anostomidae Riqueza 20 80 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 Figura 3 – Abundância de 10 famílias de peixes em macrófitas flutuantes (Eichornia crassipes) e emergentes (Paspalum repens) no Lago do Camaleão, Ilha da Marchantaria, Amazonas. Discussão A expectativa de que as macrófitas emergentes apresentariam maior riqueza do que as flutuantes não se confirmou neste estudo, já que, ainda que por uma diferença de apenas quatro espécies, a maior riqueza de peixes foi encontrada nas macrófitas flutuantes. Este resultado contraria a idéia de que ambientes mais heterogêneos, por apresentarem maior quantidade de diferentes microhabitats, são mais ricos do que aqueles mais homogêneos. Apesar de mais homogêneo, o ambiente fornecido por E. crassipes abriga uma ictiofauna rica. É importante ressaltar que este resultado pode ter sido influenciado pelo pequeno número de amostras tomados nesses dois ambientes. Já os dados de abundância, parecem refletir a maior disponibilidade de espaço para ocupação pelas diferentes espécies de peixes. Os dados conjuntos de riqueza e abundância indicam que a heterogeneidade estrutural das raízes de macrófitas amazônicas não parece ser um fator importante na determinação da riqueza de peixes associados, mas a disponibilidade de espaço é um bom preditor de abundância nesse sistema. A similaridade da composição de espécies entre os ambientes foi relativamente baixa, o que reforça a idéia de que os dois tipos de macrófitas estudadas de fato apresentam características distintas. As características físico-químicas da água foram muito semelhantes entre os dois ambientes e não parecem ser um fator limitante para a ocorrência das espécies encontradas. Por exemplo, os valores observados de concentração de oxigênio foram muito superiores àqueles que configuram uma situação de hipoxia para peixes (0,5mg/ L; ver Sánchez-Botero, 2001). Levando-se em conta a semelhança das características físico-químicas da água nos dois tipos de ambiente, é razoável supor que as diferenças de composição sejam determinadas pelas características estruturais desses ambientes. Por exemplo, das oito espécies com formato anguiliforme amostradas, pertencentes a quatro gêneros (Brachyhypopomus, Eigenmannia, Sternopygus e Synbranchus), apenas um indivíduo juvenil de Sternopygus macrurus ocorreu na macrófita emergente, o que parece indicar uma associação entre forma do corpo e uso do ambiente. Inversamente, observamos uma forte associação entre algumas espécies das famílias Characidae e Cichlidae e as macrófitas emergentes (Figura 2). Muitas espécies de caracídeos formam cardumes (Machado-Alisson, 1987), e é possível que sua baixa ocorrência nas macrófitas flutuantes esteja relacionada à falta de espaço para deslocamento e abrigo entre as raízes das plantas. Os ciclídeos, por sua vez, são espécies sabidamente territoriais, que necessitam de substratos complexos para o estabelecimento de seus territórios. Essas características da história natural dessas espécies estariam determinando, portanto, sua distribuição preferencial nas macrófitas de estrutura mais complexa e resultando nas diferenças de composição ictiofaunística observadas. Agradecimentos Agradecemos ao Prof. Rosseval pela orientação e grande auxílio em campo, ao Prof. Jansen Zuanon pela identificação das espécies e ao Jean pela ajuda na coleta e transporte. Referências bibliográficas Begon, M., J. L. Harper & C. R. Townsend. 1990. Ecology - Individuals, Populations and Communities. Blackwell Scientific Publications. Conserva, A. C., Piedade, M. T. F. 2001. Ciclo de vida e ecologia de Paspalum fasciculatum Willd. ex. fluege (Poaceae) na várzea da Amazônia central. Acta Amazonica 31 (2): 205 – 220. Junk, W. J. & C. Howard-Williams, 1984. Ecology of aquatic macrophytes in Amazonia. In: H. Sioli (ed.). Pp. 269-294. The Amazon, Limnnology and landscape ecology of a mighty tropical river and its basin. Dr. W. Junk Publishers. Junk, W. J. & M. T. F. Piedade. 1997. Plant life in the floodplain with special reference to herbaceous plants. In: Junk, W. J (ed.). Pp. 147-185. The Central Amazon Floodplain. Ecological Studies. Springer-Verlag, Berlin. Machado-Allison , A. 1987. Los peces de los llanos de Venezuela, un ensayo de su historia natural. Universidad Central de Venezuela. Magurran, A. Ecologial diversity and its measurement. New York: Chapman and Hall, 1987. Sánchez-Botero, J. I., D. S.Garcez, J. Lobón-Cerviá. 2001. Oxigênio dissolvido e temperatura em lagos da região de Ati-Paraná-Solimões, Amazônia Central, Brasil. Acta Limnológica Brasileira13 (2):45-51. Sioli, H. 1975. Tropical rives as expressions of their terrrestrial environments. In: Golley, F. B. & E. Medina (eds.). Pp. 275-288. Tropical ecological systems. Trends in terrestrial and aquatic research. Spriger, Berlin. Orientador: Rossevaldo Invertebrados associados a troncos de árvores durante a cheia em uma área de várzea da Amazônia Central Mariana Faria-Corrêa, Amanda Mortati, Dana Moiana, Maura M. Pezzato e Sandro Von Matter Introdução As planícies alagáveis amazônicas são áreas inundadas periodicamente pelo aumento do fluxo e expansão lateral de rios e lagos, resultantes da precipitação direta ou do degelo sazonal na região Andina, oscilando entre as fases aquáticas e terrestres (Junk et al, 1989; Junk, 1997). O pulso de inundação é proposto por Junk et al. (1989) como sendo a principal força controlando a biota nas planícies alagáveis, disponibilizando habitats e respondendo pela existência, produtividade e interações com as espécies. Este pulso é produzido por condições hidrológicas e geomorfológicas, e varia de previsível a imprevisível, de curta a longa duração (Junk et al, 1989). Os pulsos previsíveis e de longa duração desencadeiam estratégias adaptativas nas espécies, fazendo com que estas sejam capazes de utilizar efetivamente a zona de transição aquática-terreste (ATTZ) (Junk 1987). Os artrópodes terrestres de florestas de planícies alagáveis na Amazônia Central mostram um período de reprodução bem definido (Adis et al, 1987; Irmler, 1986 apud Junk et al, 1989). Estes invertebrados utilizam como estratégia de sobrevivência a migração, que pode ser horizontal, vertical ou pelo vôo (Junk, 1987). No caso da vertical, os artrópodes se deslocam do solo para os troncos das árvores em direção à copa na época da cheia e fazem o caminho inverso no período de vazante. Deste modo, apresentam um ciclo reprodutivo e estágios de vida sincronizados ao pulso de inundação local. Para os invertebrados que migram verticalmente, a escolha de árvores pode ser um reflexo direto da disponibilidade no ambiente. Por outro lado, características do tronco (e.g. rugosidade e diâmetro) podem constituir fatores importantes na escolha dos locais de migração vertical, determinando a abundância e riqueza de espécies de invertebrados nas árvores. O presente estudo teve como objetivo responder às Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 43 seguintes perguntas: 1. A densidade e a riqueza de invertebrados variam em função das características do tronco das árvores, como rugosidade e diâmetro? 2. A densidade e a riqueza de invertebrados variam em função do nível de inundação (profundidade) em que a árvore se encontra? 3. A densidade e a riqueza de invertebrados em cada tronco variam em relação à distância da superfície da água? Métodos Realizamos o estudo no Lago do Camaleão da Ilha da Machantaria, que recebe influência direta do rio Solimões e por isso apresenta características de várzea. A ilha está localizada a 15 Km de Manaus (02o 55’S; 59o 59’W), com temperatura média anual de 26,7ºC e pluviosidade em torno de 2186 mm por ano (Conserva, 2001). Para realização deste estudo, amostramos aleatoriamente 30 árvores em área de várzea com vegetação densa. De cada árvore medimos o diâmetro imediatamente acima do nível d’água, a profundidade da água e a rugosidade do tronco. Estimamos a rugosidade utilizando folha de papel (10,79 x 13,97) e giz de cera. Uma folha foi colocada sobre o tronco e a impressão da rugosidade foi obtida por meio de movimentos verticais do giz de cera sobre o papel. Para quantificar a rugosidade do tronco, uma linha diagonal foi traçada na folha e contadas as interseções sobre as marcas impressas da rugosidade.Assumimos que apenas as fissuras maiores (e portanto, em menor número) representariam microhabitats para os invertebrados estudados. Neste sentido, saliências pequenas e muito numerosas (muitos pontos) resultariam em espaços muito pequenos, e os troncos com essas características foram consideradas mais lisos. Poucos pontos maiores representariam cascas mais rugosas. Cada árvore foi amostrada em duas diferentes faixas de distância da superfície da água (0-1 e 1-2 m). Em cada faixa, identificamos os grupos de invertebrados presentes e contamos o número de indivíduos de cada grupo. Como estudo de caso, utilizamos indivíduos da ordem Diplopoda, conhecidos vulgarmente como gongolos, bastante freqüentes nas amostras. A densidade de diplópodos foi estimada dividindo-se o número de gongolos totais (nas duas faixas de distância da superfície da água) pelo diâmetro de cada tronco. Para avaliar a interação entre riqueza e profundidade, diâmetro e rugosidade do tronco realizamos regressões lineares simples. A mesma análise foi realizada para avaliar a relação entre a densidade de diplópodos com esses mesmos fatores, além do diâmetro do tronco. Para avaliar se havia diferença significativa entre a riqueza de invertebrados a um e dois metros da superfície, bem como a densidade de diplópodos nessas mesmas faixas, realizamos um teste t pareado. A análise da relação de riqueza de invertebrados e densidade de diplópodos com as características do tronco, como rugosidade, diâmetro e 44 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 profundidade, foi realizada com uso de regressão múltipla. Todas as análises foram realizadas com auxílio do pacote estatístico Systat 8.0. Resultados A tabela 1 reúne os valores de número de indivíduos observados, distribuídos por taxon, em cada tronco de árvore amostrada, nas diferentes faixas de distância da superfície da água. Tabela 1 – Número de indivíduos quantificados em cada tronco de árvore amostrado, distribuídos por taxon, em cada faixa de distância da superfície da água (1 e 2m). Taxon Nome popular 1m 2m Total Coleoptera Besouro 3 1 4 Hymenoptera Formiga 20 20 40 Isoptera Cupim 9 9 18 Lepidoptera Borboleta/mariposa 1 1 2 Psocoptera -- 4 4 8 Dermaptera -- 1 1 2 Blatodea Barata 2 0 2 Gastropoda Caracol/lesma 2 2 4 Geofilomorpha Lacraia 2 2 4 Diplopoda Gongolo/centopéia 17 10 27 Pseudoscorpiones Pseudoescorpião 0 1 1 Orthoptera Grilo/gafanhoto 0 1 1 Araneae Aranha 23 10 33 Diptera/Chironomidae Mosquito 1 0 1 85 62 147 Total Registramos a ocorrência de 14 grupos de invertebrados nos troncos de árvore. Formigas, aranhas e gongolos foram os invertebrados com maior densidade, tanto a 1m quanto a 2m da superfície da água, representando juntos 70% dos animais observados nos troncos. A densidade média de diplópodos a 1m foi de 2,60 + 3,86 dp indivíduos/m2 e a 2m foi de 0,88 + 1,66 dp indivíduos/m2. A análise de regressão múltipla entre riqueza, profundidade, diâmetro e rugosidade não apontou nenhuma relação significativa (r2 = 0,318; p = 0,418). Também não houve relação entre a densidade de diplópodos e as variáveis ambientais registradas (r2 = 0,471; p = 0,084); Por outro lado verificamos uma relação positiva entre a densidade de diplópodos e diâmetro do tronco (r 2 =0,427; F = 6,228; p = 0,019; n=30) (Fig. 1). Tabela 2: Riqueza de invertebrados e densidade de diplópodos nas duas faixas de distância da superfície da água (n=30). Grupo Faixa Riqueza Invertebrados 1m 2,733 totais 2m 2,100 Diplópodos 1m 6,941 2m 2,765 t p 2,993 0,006 3,569 0,003 inundação. De qualquer modo, não podemos excluir a possibilidade de que a maior proximidade em relação à água esteja refletindo apenas os requisitos desses invertebrados em relação à umidade, por exemplo. Ao contrário do que esperávamos, a rugosidade não interferiu na densidade e riqueza dos invertebrados amostrados, provavelmente porque estes indivíduos estão adaptados a colonizar de troncos com diferentes graus de rugosidade em ambiente de várzea. Ainda, é possível que o rápido aumento do nível da água durante a enchente não permita que haja uma seleção de troncos para migração vertical pelos invertebrados, que simplesmente ocupariam o substrato disponível mais próximo. Agradecimentos Figura 1 - Regressão linear simples entre densidade de diplópodos e diâmetro dos troncos. Agradecemos ao prof. Jorge Nessimian pela orientação e sugestão do projeto, ao Jansen pelas sugestões e discussão do trabalho e ao Dadão e Juruna pelo samba de fundo no momento de coleta. Tanto a riqueza de invertebrados quanto a densidade de diplópodos foram maiores na faixa até 1m acima da superfície da água (Tabela 2). Referências Discussão Nas várzeas Amazônicas, o pulso de inundação interfere na comunidade de invertebrados terrestres, obrigando parte da fauna a migrar verticalmente em sincronia com a flutuação no nível da água. De acordo com os resultados obtidos, podemos supor que os invertebrados amostrados estavam descendo e acompanhando o início da vazante, uma vez que foi amostrado um maior número de indivíduos na faixa mais próxima da superfície da água. No entanto, como identificamos os indivíduos nos troncos somente até Ordem, não foi possível saber com segurança se eram realmente terrestres ou arborícolas e, consequentemente, afirmar que realmente estavam descendo. Apesar disso, sabemos que os diplópodos têm hábito terrestre (J. Nessimian, com. pess.) e portanto, que esses indivíduos estavam realmente descendo, acompanhando o pulso de Adis, J., Moraes J. W & Ribeiro, E. F., 1987. Vertial distribution and abundance of arthropods in the soil of a neotropical secondary forest during the dry season. Trop. Ecol. 28: 174-181 Conserva, A. S. e Piedade, M. T. F., 2001. Ciclo de vida e ecologia de Paspalum fasciculatum Willd. Ex. Fluegge (Poaceae) na várzeea da Amazônia Central. Acta Amazônica. 31(2): 205-220. Junk, W. J.; Bayley, P. B. & Sparks, R. E., 1989. The flood pulse concept in river-flood plain systems. In: Dodge, D.P. (Ed). Proceedings of the international large river symposium. Can. Spec. Publ. Fish. Aquatic Sci, 110-127. Junk, W. J., 1997. The Central Amazon floodplain: ecology of a pulsing system. Ecological studies, vol 126. Springer-Verlag, Berlin, Heidelberg. Orientador: Jorge Nessimian Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 45 A disponibilidade de luz e a altura da coluna de água durante a fase de inundação podem influenciar a quantidade de lenticelas em Pseudobombax munguba (Malvaceae)? Dana Moiana, Amanda F. Mortati, Maura M. Pezzato, Mariana Farria-Corrêa e Sandro von Matter Introdução Métodos Nas planícies alagadas da Amazônia, as comunidades vegetais podem ser facilmente distinguidas entre alga (fitoplâncton e perifiton), plantas aquáticas herbáceas e floresta inundada. Essas comunidades vegetais ocupam diferentes habitats e são influenciadas principalmente pela duração das fases aquática e terrestre, determinada pelo pulso de inundação que é a principal força para a existência, produtividade e interações da biota (Junk, 1989). Além disso, outros fatores ambientais podem afetar o desenvolvimento e o estabelecimento de tais plantas, como estabilidade física do ambiente, tempo de inundação, disponibilidade de luz, sedimentação, processos de erosão, velocidade de corrente, ação das ondas, processos sucessionais e impacto humano (Junk & Piedade, 1997). Nestas planícies alagadas existem grandes áreas ricas em nutrientes, cobertas por uma enorme riqueza de espécies vegetais, altamente adaptadas à floresta inundáveis (Junk, 1989). Espécies lenhosas destas regiões estão adaptadas não somente às variações climáticas anuais, mas também às mudanças a longo prazo (Scholtens, 1978), utilizando como estratégia a produção de sementes e esporos resistentes à cheia. Os longos períodos de dormência permitem o acúmulo de sementes no solo, possibilitando uma rápida recolonização após períodos de condições adversas. Um exemplo disso são as sementes de Portulaca oleraceae (Poaceae), que podem germinar depois de longos períodos de dormência de até 40 anos (Koch, 1969 apud Piedade et al., 1997). Pseudobombax munguba (Malvacea) é uma espécie lenhosa altamente adaptada às inundações sazonais das planícies amazônicas, possuindo síndrome de dispersão e ciclo de vida estritamente ligados às cheias anuais. Esta espécie ocorre tanto na margem quanto no interior da floresta inundada, de modo que a disponibilidade de luz e o tempo de inundação poderiam interferir no desenvolvimento dos indivíduos e conseqüentemente selecionar aqueles com características fisiológicas e/ou morfológicas adaptadas às variações destes fatores. Assim, o objetivo deste estudo foi determinar se a menor disponibilidade de luz e o maior tempo de inundação podem gerar maior densidade de lenticelas no tronco de indivíduos de P. munguba. Realizamos o estudo no Lago Camaleão da Ilha da Machantaria, no município de Iranduba, AM, que recebe influência direta do rio Solimões e por isso apresenta características de várzea. Este lago está localizado a 15 km de Manaus (31º S’ 57o O’), com temperatura média anual de 26,7ºC e pluviosidade em torno de 2186 mm por ano (Conserva, 2001). Amostramos 20 indivíduos de Pseudobombax munguba, 10 localizados em áreas sombreadas no interior da várzea (baixa disponibilidade de luz) e 10 na margem (alta disponibilidade de luz). Para cada indivíduo estimamos a densidade de lenticelas no tronco da seguinte maneira: uma transparência de 21 x 30 cm foi colocada sempre na mesma face dos troncos (para eliminar um possível efeito da luz sobre as lenticelas) e todas as lenticelas foram desenhadas. Cada transparência foi sobreposta à uma grade quadriculada de área conhecida e a cobertura relativa de lenticelas foi estimada contando-se o número de quadrados cobertos por lenticelas. Medimos a profundidade da coluna de água para cada ponto de amostragem. A relação entre densidade de lenticelas e as duas variáveis ambientais (luminosidade e profundidade da água) nos dois ambientes foi testada através de uma análise de covariância (ANCOVA) utilizando-se o pacote estatístico Systat 8.0, sendo relacionados porcentagem de lenticelas, profundidade e ambiente (dentro e fora da floresta alagada). 46 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 Resultados A densidade média de lenticelas presentes nos troncos de P. munguba e a profundidade média da coluna de água dos mesmos não variam em função da diferença dos ambientes (dentro e fora da floresta alagada) (Tabela 1). Tabela 1: Variação média da densidade de lenticelas e profundidade da coluna de água Densidade de lenticelas Profundidade da água Ambiente Média (%) Desvio padrão Média (%) Desvio padrão Luz 17,2 13,8 4,62 0,47 Sombra 33,2 22,7 3,60 0,30 Não houve correlação entre a disponibilidade de luz (fora - sol e dentro – sombra da floresta alagada), profundidade da coluna d’água e a densidade de lenticelas por área de tronco (R múltiplo = 0,531; R2 = 0,282 ) (tabela 2). Tabela 2: Análise de Covariância (ANCOVA) entre a profundidade, disponibilidade de luz e quantidade de lenticelas por área (N=20). Análise de Variância Fonte GL F P Profundidade Luz Erro Padrão 1 1 17 2,721 0,023 0,117 0,880 A densidade de lenticelas não é um bom indicador das condições físicas em que esses indivíduos de P. munguba se encontram, tais como luz e sombra. A quantidade de lenticelas amostradas por área de tronco pode ser resultado da história evolutiva da planta mais do que de sua ecologia. Além disso, o número de lenticelas não responde aos parâmetros analisados (luz e profundidade da água) porque, talvez, essa espécie não possua plasticidade fenotípica que responda a estes fatores. Também é possível que a resposta fisiológica de P. Munguba à hipoxia ou à necessidade de mais energia seja simplesmente um aumento na eficiência das lenticelas, e não em seu número (J. Zuanon com. pess.). Agradecimentos Agradecemos ao professor Glauco pelas impagáveis correções e/ou sugestões. Ao PDBFF e aos colegas do grupo que transformaram trabalho em diversão. Referências Discussão Folhas são estruturas fotossintetizantes extremamente eficientes, mas com manutenção energeticamente cara. Num ambiente de várzea, onde nutrientes não são um recurso limitante, muitas plantas perdem as folhas durante a cheia e rebrotam na fase seca (Prolin, 2000). No caso de P. munguba, elas também perdem as folhas para economizar energia, e a atividade fotossintética é desempenhada pelas lenticelas, cuja eficiência não é tão alta quanto à das folhas, porém exigem muito menos energia para se manter. Para estas plantas, esta estratégia é essencial, pois durante a fase de cheia suas raízes sofrem hipoxia, causando depleção em seu balanço energético. Ao mesmo tempo, a dispersão de seus frutos tem que ocorrer neste período, pois depende da água. Assim, durante as inundações P. munguba abaixa seu metabolismo e perde as folhas, conseguindo frutificar e se manter graças às lenticelas. Isto foi confirmado através de experimentos nos quais as lenticelas foram isoladas, impedindo as trocas gasosas. Os indivíduos que passaram por este tratamento não frutificaram e, em alguns casos, morreram (L. Ferreira com. pess.). Conserva, A. S. & Piedade, M. T. F., 2001. Ciclo de vida e ecologia de Paspalum fasciculatum Willd. Ex. Fluegge (Poaceae) na várzea da Amazônia Central. Acta Amazônica. 31(2): 205-220. Junk, W. J.; Bayley, P. B. & Sparcks, R. E., 1989. The flood pulse concept in river-flood plain systems. In: Dodge, D.P. (Ed). Procedings of the internactional large river symposium. Can. Spec. Pulse Fish Aquatic Sci, 110-127. Junk, W. J. & Piedade, M. T. F., 1997. Plant life in the floodplain with special reference to herbaceous plants. In: Junk, W. J. (ed.). The Central Amazon Floodplain. Ecological Studies. Springer-Verlag, Berlin, pp147185. Piedade, M. T. F. e Junk, W. J.,1997. Ecological studies. In: Junk, W. J. (ed.). The Central Amazon Floodplain. Ecological Studies. Springer-Verlag, Berlin. Scholtens, H., 1978 Adaptations and flood tolerance of tree species. In: Plant life in anaerobic environments. Ann arbor science. Saint Andrews University, Scotland. Orientador: Leandro Ferreira Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 47 Forrageo de aves granívoras (Emberezidae e Icteridae) en una varzéa del Río Solimões (AM) Faviany Lino, Branca M. O. Medina, Christiane E. Corrêa, , Juliana Silva de Souza, Luciano F. A. Montag y Ricardo I. de Campos Introducción Resultados Se registraron 61 observaciones, de forrageo de cuatro especie de la familia Emberezidae (Sporophila lineola, Sicalis colombiana, Ammodramus aurifron y Sporophila 48 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 C americana) e dos especies de Icteridae (Agelaius icterophalus y Molothrus bonariensis). El numero de observaciones por especie no fue homogénea. Las especies mas observadas fueron S. lineola (27) y S. colombiana (14), con un numero intermedio, M. bonariensis (9) y A. Icterocephalus (7) y con el mínimo de observaciones, A.aurifrons (2) y S. americana (1) (Figura 2). Mayor observación 30 Observación intermedia 25 20 Poca observación 15 10 5 ro ce ph alu s A au rif ro ns S. am er ic an a A ic te .b on ar ie ns is an a bi M co lo m lin eo la 0 C. El área de estudio se localiza en el municipio de Iranduba (3o14.275’ S y 59o56.857’O), localidad de Isla Marchantaria. En una varzéa al margen izquierdo del Río Solimões. L a metodología empleada comprendió el método “animal - focal”, en áreas de bancos de macrófitas flotantes con varias especies de capins. (e.g. Paspalum fasciculatum y Echmocloa polysthaca). Las observaciones se iniciaron a las seis horas hasta las once horas de la mañana. Las aves fueron observadas con binoculares (10 x 50) e identificadas a través guías de campo de Hilty y Brown (1986). Categorizamos tres tipos de tácticas de forrageo: táctica A = vertical del ápice; táctica B = otra planta como pulero y la táctica C = horizontalmente sobre el ápice (Figura 1). Para todas las observaciones se registró la táctica de forrageo y especie vegetal utilizada como recurso. La hipótesis de la diferencia de distribución de frecuencia de táctica de forrajeo entre especies, fue testada con el test G. B Figura 1 – Esquematización das tácticas de forrageo reconocidas en este trabajo. A = ave posada en la vertical del ápice; táctica B = ave que utiliza una planta como pulero para alimentarse de otra planta y la táctica C = ave posada horizontalmente sobre el ápice de la planta. S. Métodos A No de observaciones La vegetación acuática en ambientes de varzéa de la amazonía es altamente heterogénea en estructura y en composición de especies y responden sincrónicamente con las variaciones del ciclo hidrológico (Klinge y Furch, 1991). Debido a la alta productividad y biomasa de macrófitas flotantes, estos ambientes sirven como substrato, protección y principalmente de alimentación para muchas especies de aves que se asocian a la vegetación. Algunos registros indican que hasta diez especies de aves pueden encontrarse forrageando en un mismo recurso (Macedo et al, 2000). Un grupo que utiliza este recurso son las especies del familia Emberezidae e Icteridae (Sick, 1981), aves granívoras y omnívoras que forragean entre las gramíneas acuáticas. Presentan preferencia por hábitats próximos a ríos, principalmente por vegetaciones acuática emergentes, gramíneas de áreas alargadas e vegetaciones fluctuantes de lagos (Mâcedo, et al. 2000). El objetivo de nuestro trabajo es describir el patrón de uso de recursos alimenticios entre especies de las familias Emberezidae e Icteridae (Passeriformes: Aves), una vez que varias especies usen un mismo recurso, estas puedan desarrollar estrategias de coexistencia. Figura 2 - Número de observaciones para las especies de aves granívoras de la varzéa de Marchantaria (Iranduba, AM). Cuatro recursos disponibles fueron identificados, de éstos, solo tres fueron utilizados como recurso para forrageo: Paspalum fasciculatum (Capim membeca), Paspalum repens; Echmochloa polysthaca (Canarana) e Hymenax amplexicaule (rabo de raposa). La frecuencia de la ocurrencia de aves por el recurso disponible fue mayor para Echmochloa polysthaca (85%), ya que todas las especies forragearon este recurso. Sin embargo otras como H. Amplexicaule (8%) y P. repens (5%) también fueron forrageadas aunque en menor proporción y solo por tres especies de la familia Emberezididae (A. aurifrons, S. lineola, A. icterocephalus). El numero de observaciones por táctica no presentó diferencias sigificativas para ninguna especie (A. icterocephalos G = 1,08; p= 0,95; C. colombiana G= 0,57, P=0.995; M. bonariensis G=0.55, P= 0,995; S. lineola G= 8.10, P=0.25; gl=6), lo cual indica que las aves no presentaron diferencia en la táctica utilizada para el forrageo. Discusión La variación del numero de observaciones de individuos de cada especie pudo ser influenciada por el comportamiento migratorio de las mismas. Se sabe que S. lineola presenta migraciones estacionales que siguen un patrón cíclico en función de la fluctuación hídrica, precisamente para poder aprovechar el recurso del medio (Borges, com pers). Durante el periodo de crecidas e incremento del nivel de agua, las macrófitas, como E. polystrachya y P. fasciculatum, se encuentran en periodo de fructificación, incrementando su producción y biomasa, generando grandes cantidades de recurso alimenticio que es aprovechado por otras especies (Junk, 1996). Debido a esta alta disponibilidad del recurso, podría incrementar la predación por el mismo y las especies que forragean de ella presentarían sobreposición de dieta, seleccionando el alimento que más le beneficie. Así es que varias especies, principalmente de ictéridos, incluyen en su dieta algunos insectos que habitan en la planta. Por otro lado, haber encontrado un patrón de frecuencia de la táctica de forrageo podría ser atribuido a varias razones, se sabe que las especie pueden presentar diferentes clases de forrageo según el tipo de recurso optado, pero que entre especies diferentes no son las mismas (Sick, 1988). Otra razón podría ser que las aves busquen estabilidad para el forrageo en la planta o que encuentre una manera mas fácil de adquirir el recurso. Conclusion La grán cantidad de recursos alimentícios disponibles en el medio, puede evitar el desenvolvimiento de táticas de forrageo específicas para cada especie. No fue observado ningún patrón de forrageo, para las especies analizadas, la gran cantidad de recursos alimenticios pudo evitar el desarrollo de tácticas de forrageo muy específicas por especie. Agradecimientos Agradecemos a Angela Midori por su colaboración en la observación de aves, a Dadão por la sugerencia estadísitica y a Sérgio Henrique Borges por la identificación de las especies y la orientación en el trabajo. Bibliografia Hilty, S.L. y B. W.L. Brown.1986.A Guia to the Birds of Colombia. Princeton University. E.E.U.U. Junk, W.J. y M.T. Piedade. 1996. Plant life in the foodplain with special reference to herbaceous plants. In: Junk J.(editor). The Central Amazon Floodplain. Klinge, H. y K. Furch.1991. Towards the classification of Amazonian floodplain and their forest by means of biogechemical criteria of river water and forest biomas. Interciencia. Macêdo, I. T., Borges, S. H. E Torres y M. F. N. de Macedo Torres. 2000. Ecologia alimentar de duas aves granívoras (Estrilda astrild y Sporophila castaneiventris) na região de Manaus. In: Alves, M. A. dos S. (editor). A ornitologia no Brasil – Pesquisa atual e perspectivas Edwery. Rio de Janeiro. Sick,H.1984.Ornitologia Brasileira.Linha Gráfica. Helmut Sick. Vol 2. Orientador: Sérgio Henrique Borges Efeito do hábitat na predação de insetos de deriva por peixes na várzea do rio Solimões Ricardo I. Campos; Branca M. O. Medina; Christiane E. Corrêa; Faviany Lino; Juliana S. de Souza e Luciano F. A. Montag. Introdução A predação é caracterizada pelo consumo de um organismo vivo por outro e pode ter grande importância na regulação de populações e na evolução de características referentes ao forrageio (predador) e defesa (presa) (Begon et al. 1990). Em ambientes contínuos e heterogêneos, predador e presa coexistem quando pelo menos uma das espécies se movimenta no espaço ou tempo (McLaughlin e Rouhgarden 1993). Esse é o caso da predação de insetos por peixes em várzeas. Neste ambiente, formam-se grandes bancos de macrófitas aquáticas (gramíneas: Paspalum, Echinochloa, Leercia e macrófitas: Eichhornia, Pistia, Salvinia etc) que irão propiciar a permanência de uma fauna muito diversa (Sioli, 1975). Bancos de vegetação flutuante, além de disponibilizar um maior número de hábitats e recursos alimentares Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 49 Métodos Realizamos o estudo na várzea do Rio Solimões, AM, nas proximidades da ilha da Marchantaria, município de Iranduba. Amostramos oito pontos distribuídos igualmente entre margem e canal central, e em cada um disponibilizamos cinco gafanhotos (coletados na noite anterior no barco por coleta direta) como presa para estimar a taxa de predação. Medimos o tempo até o primeiro ataque, até o limite de três minutos, quando consideramos como não atacado. Paralelamente, coletamos uma amostra dos recursos na coluna d’água superficial em cada ponto com rede de arraste de 134mm de abertura de malha, que foram triadas em campo. Identificamos o material até o menor nível taxonômico possível e utilizamos riqueza de grupos e abundância de indivíduos como estimadores da disponibilidade de recurso local. Para comparar a freqüência de predação entre a margem e o canal central, assim como entre gafanhotos parados ou ativos, utilizamos o teste exato de Fisher. A rapidez com que o peixe percebia a presa foi comparada entre os ambientes pelo teste de Mann-Whitney considerando os gafanhotos não comidos com o tempo de três minutos. O efeito da disponibilidade de presas foi avaliado realizandose regressões lineares de suas riqueza e abundância contra frequência de predação. Resultados Houve maior frequência de predação no remanso do que no canal central da várzea (figura 1). 50 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 18 Frequência de predação diferenciados, formam um ambiente aquático de remanso, diminuindo a movimentação da água. Nesse ambiente, é esperada uma maior percepção das presas na água por parte dos peixes, devido à menor turbulência quando comparado com a área livre mais central do corpo d´ água. Uma parcela significativa dessas presas é composta de insetos que podem servir como mais um bom atrativo para os peixes (Brown, 1975). Na época da vazante (final da estação chuvosa e início da seca), a descida do rio determina a deriva de plantas e animais que são levados de uma forma ativa ou passiva para outros tipos de habitats (Fittkau 1977 apud Castilho et al. 1998). Esta situação é utilizada como possibilidade de migração para algumas espécies de artrópodes. A deriva é uma estratégia efetiva de dispersão para diversas espécies de insetos aquáticos (J. Nessimian, com. pess.), sendo comum encontrar larvas em primeiros estágios. O objetivo deste trabalho foi avaliar se na porção central da várzea, que apresentam uma maior turbulência diminuindo a percepção do predador, os insetos à deriva eram menos predados em relação a margem. Para verificar esta relação avaliamos se a predação de insetos a deriva por peixes variava em função: 1 – do habitat (margem e canal central da várzea – remanso e canal), 2 – da movimentação da presa e 3 – da disponibilidade de recursos (invertebrados de superfície da água). 16 Não predado Predado 12 8 4 0 Canal Remanso Figura 1 – Freqüência de predação de gafanhotos por peixes em ambientes de remanso e canal, ilha da Marchantaria, AM. Quanto à movimentação dos gafanhotos, não houve diferença significativa entre predação de gafanhotos que se movimentaram e que permaneceram estáticos (teste exato de Fisher: N = 40; p = 0,5115). O tempo de ataque foi maior no canal central, ou seja, os peixes realmente perceberam a presa com maior rapidez na margem (Z = -2,82, p = 0,004; N = 33). Em relação a disponibilidade de recursos (invertebrados aquáticos) foram encontradas 16 taxons na margem e 16 na borda, sendo o número de indivíduos também não muito diferente (tabela 1). Conseqüentemente, a disponibilidade de presas oferecidas não variou em função da riqueza e abundância da disponibilidade da fauna de invertebrados aquáticos.(respectivamente, R2 = 0,0003 p = 0,968; R2 = 0,052 p = 0,587). Discussão A arquitetura hidrodinâmica dos corpos d’água influencia a distribuição espacial e a capacidade de forrageio das espécies de peixe. É esperado que em habitats de correnteza exista uma maior quantidade de alimento devido à maior movimentação da água. No entanto, este ambiente impõe um maior gasto energético, melhor capacidade de natação e maior eficiência de obtenção de alimento, devido a maior complexidade hidrodinâmica do habitat (Mattheus 1998). Na várzea estudada, a margem formada pelas macrófitas apresenta um leve movimento circular da água, o que pode trazer um maior aporte de recursos para os peixes (J. Zuanon, com. pess.). É provável que isto esteja influenciando a maior predação encontrada, tanto em frequência quanto em rapidez do ataque, apesar de não termos encontrado uma relação significativa entre a disponibilidade de recurso e freqüência de predação. Além disso, principalmente em hábitats inundáveis, alguns grupos de peixes insetívoros alóctones (ex. Triportheus spp) migram para remansos com vegetação flutuante, em busca da maior disponibilidade de recursos e ambientes associados a vegetação flutuante (LoweMcConnel, 1999). A turbulência maior na porção central da várzea pode favorecer a movimentação segura das presas a deriva dificultando a percepção pelos peixes em comparação a Tabela 1 – Número de indivíduos por taxon (disponibilidade de recurso) nos ambientes de margem e canal central da várzea estudada, na ilha da Marchantaria. Taxon Margem Canal Acari 7 10 Araneae 1 1 Baetidae 5 0 Caerixidae 4 0 Calopiterigidae 1 2 Cenagriorridae 1 0 Chironomidae 0 6 Cladoceros 0 1 Coenagrinoidae 0 1 Coenidae 4 0 Conchostracha 1 3 Copepoda 6 2 Coricidae 2 8 Ephemeroptera 0 1 Formicidae 1 2 Gerridae 1 0 Helodidae 1 0 Hemiptera 0 1 Hirudinae 1 0 Molusco 3 0 Nematoda 2 1 Notonectidae 0 1 Oligochaeta 0 1 Ostracoda 0 10 Total de indivíduos 41 51 Total de taxons 16 16 margem. Além disso, a margem apresenta algumas características diferenciadas que expõem mais os insetos, mostrando que a estratégia da deriva é vantajosa. Referências Bibliográficas: Begon, M; Harper, J. L. e Townsend, C. R. 1990. Ecology: Individuals, populations and communities. Blackwell Scientific Publications, Cambridge. 945p. Brown, V. N. 1975. Fishes. Em: River ecology, B.A.Whitton (ed.). University of California Press, Berkeley. Castilho, C. V.; Pacheco, S.; Gonzaga, N. O.; OliveiraFilho, F. J. B. e Tucker, J. 1998. Macrofauna aquática da floresta de igapó e a deriva no arquipélago de Anavilhanas, Rio Negro. Em: Reltórios do curso de campo em ecologia da floresta Amazônica, A. Scariot e E. M. Venticinque (ed.). INPA. Lowe-McConnell, R. H. 1999. Estudos ecológicos de comunidades de peixes tropicais. Tradução por A. E. A. M. Vazzoler, A. A. Agostinho e P. M. Cunnhingham. São Paulo: EDUSP. 536 p. Tradução de: Ecological Studies in tropical fish communities. Mathius, W. J. 1998. Pattenrs in fresh water fish ecology. Chapmam & Hall, London. 756p. McLaughlin, J. F. e Roughgarden, J. 1993. Species interactions in space. Em: Species diversity in ecological communities, R. E. Ricklefs e D. Schluter. University of chigago press, Chicago. 414p. Sioli, H. 1975. Tropical river: the Amazon. Em: River ecology, B.A.Whitton (ed.). University of California Press, Berkeley. Síndrome de dispersão de espécies vegetais de uma várzea no rio Solimões Patricia Rodin, Rita de C.Q. Portela, Branca Medina & Amanda de la Torre Introdução A dispersão é o processo de transporte dos diásporos para distante da planta-mãe. Ela pode ser realizada por agentes passivos (vetores abióticos) e ativos (vetores bióticos) (Begon et al., 1990). A síndrome de dispersão é uma característica flexível dentro das famílias de plantas, onde espécies filogeneticamente próximas podem apresentar síndromes distintas, enquanto espécies muito distantes filogeneticamente podem apresentar a mesma síndrome (Van der Pijl, 1982). Além disso, diásporos com a mesma síndrome de dispersão podem ser morfologicamente diferentes (Van der Pijl, 1982).O ambiente representa uma forte pressão de seleção sobre a síndrome de dispersão das espécies que nele ocorrem, havendo, em muitos casos, uma convergência evolutiva nas síndromes. As florestas alagadas da Amazônia podem ficar inundadas de trës a 11 meses por ano (Waldhoff, 1996). Nesta região, a maioria das espécies frutificam e dispersam seus frutos na época de alagamento. Sendo que muitas espécies das áreas Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 51 alagadas tendem a uma convergência evolutiva à hidrocoria (Waldhoff, 1996). Contudo, muitas espécies apresentam dispersão por vetores múltiplos, anemocoria, hidrocoria e posterior zoocoria, resultando em uma série de tipos morfológicos de diásporos. O objetivo deste trabalho foi fazer um levantamento das síndromes de dispersão e determinar a variedade de tipos morfológicos de diásporos encontrada para cada síndrome. Métodos Este estudo foi realizado em uma área de várzea na ilha da Marchantaria (02° 55’S; 59° 59’W) no rio Solimões, a 15 km da confluência com o rio Negro, no início da vazante. Nessa área de várzea, foi escolhido um trecho de floresta alagada, que foi percorrida pelo seu interior e borda a procura de indivíduos em frutificação. Todas as espécies em fruto foram coletadas e identificadas, determinando-se a síndrome Espécies Família Classe Hidrocoria de dispersão e a caracterização morfológica do fruto de acordo Van der Pijl (1982): 1- semente com arilo, pericarpo ± deiscente e ± carnoso; 2- semente seca, pericarpo indeiscente e carnoso, 3a- semente seca e pericarpo seco e descente e 3b- semente seca e pericarpo seco e indescente. Resultados Foram amostradas 20 espécies de 19 famílias de plantas em fase de frutificação (Tab.1). Sete apresentam dispersão primária e secundária: cinco de hidrocoria e ictiocoria; uma anemocooria e posterior hidrocoria; uma de ornitocoria e posterior hidrocoria; outras 13 apresentaram apenas uma síndrome de dispersão: oito hidrocóricas; duas ictiocóricas; uma mastozoocóricas; uma quiropterocóricas; uma ornitocórica (Tab.1). As espécies observadas estiveram presentes nas três classes morfológicas, com uma maior representação nas classes 2 e 3 (Tab. 1). Ictiocoria Ornitocoria Mastozoocoria Quiroptero- córica Morfológica Abarema Leguminosae adiantifolium Mimosoideae Alchornea – 3b X Euphorbiaceae 3b X Annonaceae 2 X X Cecropia latiloba Cecropiaceae 2 Cissus sp. Vitaceae 2 X X Clusia colunaris Clusiaceae 2 X Crudia Leguminosae amazonica Caesalpinioideae Crataeva Caparidaceae 2 X Bignoniaceae 3b X Lecyhidaceae 3ª X castaenifolia Annona hypoglava – 3ª X X X X X benthami Crescentia amazonica Eschweilera ovalifolia Inga punctata Leguminosae – 1 X 2 X X Mimosoideae Maclura Moraceae tencticoria Macrolobium Leguminosae acacaefolium Caesalpinioideae Nectandra Lauraceae 2 X Viscaceae 2 X Sapotaceae 2 Bombacaceae 3ª X Myrtaceae 2 X – 3b X X amazonum Phoradendrom sp. Pouteria X glomerata Pseudobombax munguba Psidium X acutangulum Pterocarpus Leguminosae amazonum Papilinoideae Vitex cimosa Verbenaceae – 3b 2 X x Tabela 1: Lista de espécies, família, e síndrome de dispersão das plantas encontradas em frutificação na várzea da Ilha de Marchantaria, Amazonas. Classes morfológicas: 1- Semente com arilo, pericarpo ± deiscente, e ± carnoso, 2- Semente levemente seca, pericarpo indeiscente, e carnoso, 3a- Semente seca, pericarpo seco e descente e 3b- Semente seca, pericarpo seco e indeiscente. 52 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 Discussão Hidrocoria foi a síndrome dominante na área de várzea estudada, ocorrendo em pelo menos uma fase da dispersão em 75% das espécies amostradas, pertencentes a 14 famílias diferentes. A dominância dessa síndrome também foi encontrada por Waldhoff (1996) em um estudo nos dois tipos principais de áreas alagadas (várzea e igapó) na Amazônia. O alto número de espécies pertencentes a famílias filogeneticamente distantes (segundo a classificação de Cronquist) e apresentando a mesma síndrome de dispersão, indica uma convergência evolutiva nessa característica, seguindo os estudos de Van der Pijl (1982). A ictiocoria ocorre em 35% das espécies amostradas. Nas áreas alagadas estima-se que 200 espécies de peixes são dependentes de frutos e sementes, principalmente durante a cheia (Kubitzki & Ziburskl, 1994 apud Waldhoff, 1996), sendo que muitas das espécies são de alto valor comercial (Waldhoff, 1996). Portando, a riqueza de peixes está diretamente relacionada à conservação desses ambientes. As síndromes de dispersão primária das espécies estudadas foram determinadas pelo mesmo conjunto de caracteres morfológicos. No entanto, a dispersão secundária não está diretamente relacionada a uma determinada morfologia. Isso demonstra que as espécies respondem por diferentes caminhos às mesmas pressões seletivas impostas pelo ambiente. As espécies estudadas, com relação as síndromes de dispersão, se ajustaram aos fatores bióticos e abióticos desses ambientes alagados. Tal fato pode ser constatado pela pronunciada substituição, em relação da terra firme da síndrome anemocórica pela hidrocórica e da dispersão por vertebrados terrestres pela ictiocória (Smythe et al. 1992). Agradecimento Agradecemos ao professor Leandro Ferreira pela identificação das espécies e das síndromes de dispersão. Referência Bibliográfica Begon, M., Harper, J.L. &Towsend, C.R. 1996. Ecology: individuals, populations and communities. Blackwell Scientific Publication. Waldhoff, D., Daint-Paul, U. & Furch, B.1996. Value of fruits and seeds from the floodplain forests of Central Amazonia as food resource for fish. Ecotropica 2: 143156. van der Pijl, L.1982. Principals of dispersal in higher plants. Berlin Heidelberg New Yourk. Smythe, N., Glanz, W.e., Leigh, E.G. 1992. Regulación de la pablación de alguns frugívoros terrestres. In: Ecologia de un bosque tropical. (eds. Leigh, E.G., Rand, A.S., Windsor, D.M.) Dispersión de macroinvertebrados asociados a islas de macrófitas a la deriva en el rio Solimões, AmazonasBrasil Faviany Lino, Mariana Faria-Corrêa, Fresnel Díaz y Flávio Quental Introducción En sistemas amazónicos especialmente en várzeas, ocurre un hábitat especial, formado por islas de plantas y asociación de materia orgánica. Este material inicialmente se produce por la frecuencia de plantas flotantes con una colonización secundaria de especies de animales (Junk, 1983). Las oscilaciones del nivel de agua provocan una serie de transformaciones en la estrutura de la vegetación flotante, determinando el tipo de fauna y flora que se asocia a ellas (Junk, 1973). Cuando el nivel de agua se incrementa ocurre un desprendimiento de masas vegetales y principalmente semillas, peces, anfibios, moluscos, crustaceos e insectos pueden ser arrastrados por las corrientes aguas abajo. Un grupo presente en estos ambientes son los macroinvertebrados, organismos con dimensiones suficientemente grandes como para ser observados a simple vista (>0.5mm; Cummnins, 1975). Por estar asociados a esta vegetación, son dispersados hacia nuevos ambientes colonizables (Roldan, 1987; Junk, 1993; Conserva 2001). La dinámica de dispersión de invertebrados a través de las islas de macrófitas flotantes a la deriva se encuentran poco estudiadas y no se conoce exactamente que especies pueden beneficiarse de este fenómeno. El objetivo de este estudio es conocer la fauna de macroinvertebrados que se asocian a islas de macrófitas flotantes a deriva y validar si existe un patrón de distribución en islas de diferentes tamaños y composición vegetal. Métodos La Isla Marchantaria está situada en el río Solimões, municipio de Iranduba (03º 15’S y 59º 58’), dista aproximadamente a 15 km de Mamaus. El método de muestreo consistió en localizar las islas de macrófitas flotantes. Medir la máxima distancia linear y cercarla con una red para colectar la fauna de insectos asociados. La captura se realizó a través de una red de cerco (6 x 3 m, malla 0.3cm). Toda la vegetación fué retirada manualmente y todos los ejemplares de macroinvertebrados Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 53 fueron colectados para su posterior clasificación. La vegetación fue identificada a traves de observación directa. Para testar la similaridad entre las islas, realizamos uma análisis de agrupamiento utilizando el índice de Morisita para comparar la estructura de macroinvertebrados entre las islas y outro, utilizando el coeficiente de Jaccard para comparar la composición de macroinvertebrados. Los análisis fueron realizados con el programa MVSP. Resultados Se identificaron 178 individuos repartidos en 21 taxa, de estos, algunos grupos fueron identificados a nivel de familia y otros, debido a la dificultad taxonómica, fueron clasificados a nivel Orden (Tabla 1). La estructura vegetal de las islas, estaba conformada por Eichlornia crassipes, Pistia stratiotes y Paspalum repens en diferentes proporciones. La Tabla 2 muestra la composición vegetal, tamaño (distancia linear) y número de indivíduos de macroinvertebrados coletados en cada isla. Figura 1. Análisis de similaridad de abundancia de macroinvertebrados entre las islas de macrófitas flotantes, utilizando el índice de Morisita. No se observa similaridad de la composición de taxa entre las islas muestreadas, la unica diferencia se encuentra en las islas 5 y 4, que poseen 70% de semejanza en la composición (Fig.2). Tabla 1. Lista de taxa de macroinvertebrados encontrados en islas de vegetación flotante. Isla 2 Isla 3 Isla 4 Mollusca Taxa Ampulariidae Isla 1 2 16 4 6 Crustacea Trichodactylidae 2 1 3 2 3 12 7 Palaemonidae 1 11 Aranea Acari Actinedida Opiliones Laniatores Ephemeroptera Caenidae 1 Odonata Aeshnidae 1 Libellulidae 4 2 2 Ensifera Tettigonidae Hemiptera Belostomatidae Noctonectidae 1 1 9 2 4 3 2 3 3 3 2 Dytiscidae 1 2 2 3 3 1 1 3 2 5 1 3 2 Coccinellidae 1 No identificado Formicidae 3 5 Trichoptera Leptoceridae Diptera Ceratopogonidae 1 6 1 1 Tabla 2 – Características de las islas muestreadas - formación vegetal (+) presencia; (-) ausencia. (n) número de indivíduos colectados por isla; (Tam) tamaño en metros. Isla E. crassipes P. stratiotes P. repens n Tam (m) 1 + - - 4 1,0 2 - - + 29 4,0 3 + + - 58 4,0 4 - - + 55 2,0 5 + + + 32 3.3 En relación a la estructura de comunidades de macroinvertebrados hubo, mayor similaridad entre las islas 2, 4 y 5, y con la isla 3, excluyendo del grupo a la numero 1 (Fig.1). 54 Figura 2. Análisis de similaridad de riqueza entre las islas de macrófitas flotantes, utilizando o coeficiente de Jaccard. 2 Curculionidae Hydrophilidae Hymenoptera 1 12 Naucoridae Coleoptera Isla 5 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 Discusión Algunos estudios detallados sobre la fenología de macrófitas en la amazonía, indican que las especies identificadas Pistia stratiotes y Eichornia crassipes presentan su ciclo intimamente ligado al pulso de inundación, e incrementan su producción y biomasa generando ambientes com alto potencial para ser colonizados (Junk, 1973,1984). Esta abundancia de vegetación se constituye en un recurso para mucha fauna, principalmente insectos acuáticos y terrestres que suelen asociarse a ellas para completar su ciclo biológico (Junk, 1970). Esto apoya a los registros obtenidos, ya que se logró identificar insectos acuáticos y otros artrópodos (ortópteros, coleópteros y arácnidos). Durante el ciclo de inundación se incrementa el nivel de agua y la vegetación sufre desprendimiento, lo cual puede ocurrir por dos razones: (1) las raices de las plantas en descomposicción pueden ser desprendidas del substrato y arrastradas por las aguas, por causa de factores ambientales como el viento (Zuanon, com. pess.) y (2) el aumento del nivel del agua ejercen tensión de las raices de las plantas provocando su desprendimiento (Sioli, 1984). Esta aglomeración de vegetación al ser arrastrada por la corriente, puede convertirse en un medio de dispersión, que permite el desplazamiento de una diversidad de fauna (peces, anfibios, crustaceos, moluscos, insectos acuáticos e insectos terrestres) y semillas a lo largo de grandes distancias. La presencia de invertebrados terrestres en las muestras, como los saltamontes de la familia Pauliniidae puede deberse a que estos completan su ciclo biológico en Salvinia spp.y Pistia stratiotes, y sus poblaciones son reguladas por las oscilaciones del nivel de agua, presentando gran abundancia en periodos de crecidas (Vieira,1992; Adis y Junk, 2002). Varios estudios han demostrado que la abundancia de las especies se incrementa proporcionalmente al tamaño del ambiente que ocupan (Begon, 1978). Sin embargo, la semejanza entre las islas 2, 4 y 5 (Fig. 1) podría deberse presisamente al tamaño de la misma, por presentar longitudes similares; por el contrario la isla numero 1 se excluye del grupo por tener un menor tamaño (1 m) y porque en ella, fueron capturados el menor numero de invertebrados.La isla numero 3 se separa del grupo de 2, 4 y 5 (a pesar de tener un tamaño similar), talvés porque solo en ella se encontraron individuos de Naucoridae, Notonectidae y Actineida. Un factor que también podría estar relacionado con la composición de los grupos es la presencia de ciertas especies vegetales como P. repens, que también podría estar influenciando su agrupamiento. Porque se sabe que esta especie proporciona proteción y alimento para la mayoria de los invertebrados (Conserva y Piedade,2001). Otras especies asociadas a estos ambientes como peces y anfibios, por lo que sugerimos que se realizen trabajos mas detallados sobre la fauna en general, ya que pueden explicar casos de dispersión, recolonización y distribución de las especies. Agradecimientos Al equipo de personas que trabajo conjuntamente con nosotros en las islas flotantas, especialmente a Luciano Montagi (Miúdo) por la colaboración en el uso de MSVP, a Jansen y Jorge por la revisión del documento. Referencías bibliográficas Ades, J. y W.J. Junk. 2002. Terrestrial invertebrates inhbiting lowland river floodplains of Central Amazonia and Central Europe: a review. Freswater Biology, 47, 771-731. Begon, M., J. Harper y C. Townsend. 1990. Ecology, individuals, populations and communities. Blackwell Scientific Publications. London. Cummnins, K.W. 1975. Macroinvertebrates. In: Whitton, B.A. (editor). River Ecology. New York: Blackwell Scientific.p.170-198 Conserva, A. y M.T.Piedade.2001. Ciclo de vida e ecologia de Paspalum fasciculatum Willd. Ex.fluegge (Poaceae), na Varzea da Amazónia Cetral. Acta Amazonica 31(2)205-220. Junk, W.J.1993.Wetland of tropical South America.In:Whigham,D.,Hejny,S. y Dykyjove,D. (eds).Wetlands of the World.Dr W.Junk Publi,. Dordrecht, Boston. Junk,W.J. y C. Howard. 1983. Ecology of aquatic macrophytes in amazonia. In: Sioli H.1984. The Amazon Limnology and landscape ecology of a mighty tropicla river and its basin. Junk,W.J.1970.Investigations on the ecology and production biology of the floating Meadows (Paspalo – Echinochloetum) on the middle Amazon. Part I: the floating vegetation and its ecology. Amazoniana,2 (4), 449-495. Junk.W.J.1973.Investigations on the ecology and production biology of Floating Meadows (PaspaloEchinochloetum) on the Middle Amazon). Acta Amazoniana 4:9-102 Roldan, 1988. Guía para el estudio de los macroinvertebrados acuáticos del departamento de Antioquia. Universidad de Antioquia. MedellínColombia.217p. Ictiofauna associada a ilhas de macrófitas flutuantes no lago Camaleão e no rio Solimões - Amazônia Central Luciano Fogaça de Assis Montag, Fabiana Rocha-Mendes, Janael Ricetti, Dana Moiana Viana e Sandro Von Matter Introdução Na Amazônia Central, o pulso de inundação gera diferenças de até 14 m no nível das águas e as inundações podem durar de 50 dias a nove meses, entre o início da cheia e o início da vazante (Goulding et al. 2003). Os canais principais dos rios, em sua maioria não permitem a ocorrência de macrófitas enraizadas, em função da profundidade e da velocidade de correnteza. Entretanto, se os níveis de nutrientes forem suficientes, pode haver um crescimento de ilhas de macrófitas, principalmente dos gêneros Paspalum e Eichornia, nas margens (Junk & Howard-Williams, 1984). Ocasionalmente, estas ilhas podem ser arrancadas das margens pela chuva e pelos ventos, e carregadas como ilhas flutuantes ao longo dos rios (Junk & Howard-Williams, 1984), representando um hábitat de estabelecimento e dispersão para a fauna aquática e terrestre. As macrófitas desempenham importante função nos ecossistemas aquáticos, uma vez que constituem abrigo e Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 55 fonte de alimento para uma grande variedade de animais como insetos terrestres e aquáticos, anfíbios e peixes (Junk & Howard-Williams, 1984; Goulding et al. 2003). No caso dos peixes, esse microhabitat é utilizado por várias espécies como berçário, refúgio e sítio de forrageamento (MachadoAllison, 1987). A complexidade dessas ilhas de macrófitas aumenta heterogeneidade ambiental (Sánchez-Botero et al., 2001), podendo influenciar na comunidade de peixes locais. As ilhas de macrófitas à deriva constituem fragmentos de bancos marginais maiores e abrigam subconjuntos de espécies de peixes presentes nesses bancos. É possível que essas espécies representam amostras aleatórias da ictiofauna dos bancos, mas diversos fatores (e.g. evitação, migração, mortalidade diferencial) podem modificar esse conjunto de peixes. O presente estudo teve como objetivo comparar os conjuntos de espécies de peixes encontradas nas ilhas de macrófitas a deriva, em relação àquelas encontradas em um lago no interior da Ilha da Marchantaria. Métodos O estudo foi realizado na região da Ilha da Marchantaria (31o S; 57o O), localizada a 15 km de Manaus. A temperatura média anual da região é de 26,7 oC e a pluviosidade varia em torno de 2.186 mm por ano. Foram amostradas cinco ilhas de macrófitas a deriva no rio Solimões e cinco ilhas de macrófitas no lago do Camaleão (denominadas deste ponto em diante como rio e lago, respectivamente). Toda a Ilha da Marchantaria recebe influência direta do rio Solimões e, por isso, apresenta características típicas dos ambientes de várzea da Amazônia Central (Conserva e Piedade, 2001). A composição das ilhas de macrófitas no lago Camaleão e no rio Solimões constitui-se principalmente de Paspalum repens, Eichornia crassipes, e Pistia spp. . A captura foi realizada em julho de 2003, com uso de rede de cerco de seis metros de comprimento por três metros de largura (malha de 0,3 centímetros entre nós opostos). A rede foi disposta circundando as ilhas de macrófitas, que foram então retiradas da rede até restarem apenas os peixes. Os espécimes de peixes capturados foram identificados, contados, e posteriormente fixados em formol a 10%. A análise de dados foi efetuada por meio de estatística multivariada para se verificar possíveis diferenças na composição e abundância de espécies entre os tipos de ilhas investigadas. Inicialmente foi realizada uma análise de correspondência da abundância das espécies nas ilhas de rio e lago. Os produtos desta análise (eixos 1 e 2) foram utilizados na análise de variância multivariada (MANOVA) para verificar se havia diferenças na abundância e composição de espécies. Os programas computacionais utilizados foram o MVSP e STATISTICA 6.0. Resultados Foram coletados 306 indivíduos pertencentes a 49 espécies de peixes de 16 famílias. As espécies mais 56 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 Tabela 1 – Número de indivíduos por espécie para os ambientes investigados; rio = ilha de macrófitas do rio; lago = ilha de macrófitas de lago. rio lago Total % Total Hemigrammus ocellifer Espécie 1 54 55 18 Cichlasoma amazonarum 6 33 39 13 Mesonauta insignis 0 35 35 11 Ctenobrycon 4 23 27 9 Mylossoma duriventre 12 12 24 8 Moenkhausia collettii 3 9 12 4 Hemigrammus levis 0 9 9 3 Serrapinus sp. 0 9 9 3 Astronotus crassipinis 0 7 7 2 Hoplias malabaricus 2 5 7 2 Brachyhypopomus sp.1 2 3 5 2 pinnicaudatus 1 3 4 1 Hyphessobrycon eques 0 4 4 1 Moenkhausia intermedia 2 2 4 1 Schizodon fasciatus 2 2 4 1 Serrasalmus sp. 1 3 4 1 Synbranchus sp.2 (faixa) 0 4 4 1 aff.erythrurus 1 2 3 1 Apistogramma agassizi 4 0 3 1 Apistogramma sp.2 0 3 3 1 Gymnocorymbus thayeri 0 3 3 1 Apistogramma aff. eunotus 0 2 2 1 Callichthys callichthys 2 0 2 1 Crenicichla cf. cincta 0 2 2 1 Cyphocarax sp. 0 2 2 1 Eigenmannia sp. 0 2 2 1 hauxwellianus Brachyhypopomus Aphyocharax Heros sp. 2 0 2 1 Nannostomus eques 0 2 2 1 Odontostible aff. fugitiva 1 1 2 1 Rivulus sp. 1 1 2 1 Serrasalmus rhombeus 2 0 2 1 Anadoras sp. 1 0 1 <1 Astronotus ocellatus 0 1 1 <1 brevirostris 0 1 1 <1 Brachyhypopomus sp.2 0 1 1 <1 orbicularis 0 1 1 <1 Crenicichla gr. wallacii 1 0 1 <1 Crenicichla inpa 1 0 1 <1 Curimatopsis sp. 1 0 1 <1 Gymnotus sp. 1 0 1 <1 Leporinus friderici 0 1 1 <1 Leporinus trifaciatus 0 1 1 <1 Liposarcus pardalis 1 0 1 <1 Metynnis sp. 1 0 1 <1 Brachyhypopomus Chaetobranchopsis Moenkhausia lepidura 1 0 1 <1 galeatus 1 0 1 <1 Pyrrhulina aff.brevis 1 0 1 <1 Sternopygus macrurus 0 1 1 <1 <1 Parauchenipterus Synbranchus sp.1 (malhado) Total 0 1 1 59 245 304 abundantes foram Hemigrammus ocellifer, Cichlasoma amazonarum, Mesonauta inignis, Ctenobrycon hauxwellianus e Mylossoma duriventre (Tabela 1); juntas, essas cinco espécies totalizaram 59% dos indivíduos coletados. Nas ilhas de rios foram capturados 59 exemplares de 28 espécies, sendo que Mylossoma duriventre e Cichlasoma amazonarum foram as mais abundantes (Tabela 1) e constituíram 29% do total. Para as ilhas de lago foram coletados 245 indivíduos de 35 espécies, sendo as mais abundantes Hemigrammus ocellifer e Mesonauta insignis (Tabela 1). A similaridade na composição de espécies entre as ilhas do lago variou entre dez e 38,1% ( X = 24,3%), em quanto que no rio os valores oscilaram entre zero e 23% ( = 6,6%). Entre as amostras de rio e lago a similaridade máxima entre as ilhas foi de 22,7% ( = 11,4%) (Tabela 2). Tabela 2 – Índice de similaridade de Jaccard (incidência) entre pares de amostras de coletas. (rio = ilha de macrófita a deriva no rio Solimões; lago = ilha de macrófitas no lago do Camaleão; S = número de espécies; E = número de espécies exclusivas). rio1 rio2 rio3 rio4 rio5 lago1 lago2 lago3 lago4 Lago5 Rio1 100 Rio2 7,1 Rio3 0 10 100 Rio4 0 13,6 0 100 Rio5 0 11,8 0 23,1 100 Lago1 6,3 15,4 14,3 22,7 16,7 100 Lago2 0 15,8 6,7 11,8 8,3 26,3 100 Lago3 0 21,7 10 25 11,8 36,4 29,4 100 Lago4 0 11,5 4,5 13 5,3 19,2 21,1 38,1 100 Lago5 7,1 21,7 4,8 19 11,8 20 10 21,7 20,8 100 S 1 14 8 11 5 16 8 14 15 14 E 0 7 4 3 1 1 1 2 5 6 100 Não foi observada diferença em relação à composição e à abundância das espécies entre ilhas do rio e do lago (Wilk’s lambda = 0,764; GL1 = 2; GL2 = 7; p = 0,359). Porém, pode ser observada uma tendência de segregação entre os pontos por meio da análise de agrupamento (Figura 1). A análise de correspondência também revelou uma segregação entre os conjuntos de espécies de peixes coletadas nas ilhas de macrófitas nos dois ambientes (Figura 2). Figura 2 – Análise de correspondência para a composição de espécies nas ilhas utilizando os eixos 1 e 2 (Variância acumulada = 33,03%). Discussão A maior similaridade da ictiofauna no ambiente de lago pode ser explicada pelo fato de estarem em menor movimentação e mais próximas entre si, possibilitando uma maior movimentação de indivíduos entre as ilhas. As ilhas à deriva no rio aparentemente apresentam-se como ambientes mais instáveis (menos simples entre si), o que pode ser resultado de uma maior taxa de predação, pois algumas vezes encontram-se longe das margens em ambiente exposto (Lowe-McConnel, 1999). A descontinuidade e a distância entre as ilhas podem dificultar a colonização e a re-colonização pelos peixes, acentuando as diferenças entre as ilhas.. Houve uma tendência da composição de espécies entre as ilhas dos dois ambientes ser diferente, muito embora estas diferenças não tenham sido detectadas pela análise de variância multivariada (MANOVA). Postulamos as seguintes hipóteses para explicar esses resultados: (1) ilhas encontradas no rio podem ser provenientes de locais distantes, a montante, os quais podem conter conjunto ictiofaunísticos distintos; (2) os peixes nessas ilhas sofrem uma grande taxa de predação, eliminando certas espécies, e gerando conjuntos ictiofaunísticos diferentes. Todavia, vale salientar que parte das diferenças observadas na composição de espécies das ilhas podem ter resultado do pequeno número de amostras analisadas, superestimando as diferenças entre os ambientes de coleta. Agradecimento Figura 1 – Análise de agrupamento para a composição de espécies nas ilhas do rio e do lago, com uso da média de grupo não ponderada (UPGMA) e similaridade de Jaccard. Agradecemos a Jansen Zuanon pela identificação da ictiofauna e auxílio na análise dos dados juntamente com Eduardo Venticinque, ao Ocírio (Juruna) pelo acompanhamento e ajuda nas coletas de dados, e a todos os revisores deste trabalho. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 57 Referência bibliográfica Conserva, A. C., Piedade, M. T. F. 2001. Ciclo de vida e ecologia de Paspalum fasciculatum Willd. ex. fluege (Poaceae) na várzea da Amazônia central. Acta Amazônica 31 (2): 205 – 220. Goulding, M.; Barthem, R.; Ferreira Efrem. 2003. The Smithsonian Atlas of the Amazon. Smithsonian Books, Washington and London. 253 p. Junk, W. J. & C. Howard-Williams, 1984. Ecology of aquatic macrophytes in Amazonia. In: H. Sioli (ed.). Pp. 269-294. The Amazon, Liminnology and landscape ecology of a mighty tropical river and its basin. Dr. W. Junk Publishers. Machado-Allison , A. 1987. Los peces de los llanos de Venezuela, un ensayo su historia natural. Universidad Central de Venezuela. Sánchez-Botero, J. I., D. S. Garcez, J. Lobón-Cerviá. 2001. Oxigênio dissolvido e temperatura em lagos da região de Ati-Paraná-Solimões, Amazônia Central, Brasil. Acta Limnológica Brasileira13 (2):45-51. Morfometria e uso do ambiente em peixes em uma área de várzea da Amazônia Central Márcio S. Araújo e Juliana S. de Souza Introdução Alguns trabalhos têm demonstrado uma associação entre forma do corpo e aspectos da ecologia de peixes, como alimentação e uso do ambiente (e.g. Wainwright, 1996). Wood e Bain (1995), por exemplo, demonstraram correlações entre forma do corpo de peixes de riacho e velocidade da correnteza. Em um igarapé amazônico, observou-se uma associação entre forma do corpo e tipo de substrato utilizado por peixes (Silva, 1993). Muitas espécies de peixes de água doce são encontradas entre raízes de macrófitas aquáticas (Junk e Howard-Williams, 1984). Esse ambiente serve de berçário, refúgio e sítio de forrageamento para essas espécies (Machado-Allison, 1987). Nas áreas de várzea amazônica, caracterizadas por rios de água branca ricos em nutrientes e pH neutro, há grande abundância de macrófitas aquáticas (Junk e HowardWilliams, 1984), que em linhas gerais, podem ser classificadas como flutuantes ou emergentes (Sioli, 1975). O sistema radicular das macrófitas flutuantes forma uma estrutura compacta logo abaixo da superfície da água, enquanto que nas macrófitas emergentes o sistema radicular está preso ao substrato, formando uma massa de talos e raízes bastante desenvolvida, ramificada e ocupando quase toda a coluna d’água (Sioli, 1975). Em função dessa diferença de estrutura da porção submersa dessas macrófitas (sistema radicular + talos), é possível que a ictiofauna associada a esses ambientes apresente características morfológicas relacionadas ao ambiente em que ocorrem. O objetivo do presente estudo foi investigar relações entre a morfologia dos peixes e as características estruturais de macrófitas aquáticas emergentes e flutuantes. Métodos O estudo foi realizado em julho de 2003, no Lago do Camaleão, na Ilha da Marchantaria, localizada a 15 Km de 58 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 Manaus (03º14’ S; 59o57’ O). A temperatura média anual da região é de 26,7ºC e a pluviosidade varia em torno de 2.186 mm por ano. O Lago do Camaleão recebe influência direta do rio Solimões e, por isso, seu entorno apresenta características dos ambientes de várzea da região Amazônica (Conserva, 2001). Amostramos com rede de cerco (malha de 3mm) três bancos de macrófitas com dominância do capim Paspalum repens (macrófita emergente) e três com dominância do aguapé Eichornia crassipes (macrófita flutuante). Dispusemos a rede no entorno de cada banco com o intuito de capturar os peixes presentes na porção submersa da vegetação. As amostras foram fixadas em formol (10%) e identificadas até o nível específico. Para cada espécie coletada, medimos, sempre que possível, os três maiores indivíduos, como forma de minimizar os efeitos de possíveis alometrias de crescimento. Foram tomadas as medidas de comprimento padrão (CP), maior altura e largura (no mesmo ponto em que a altura foi medida), com uso de paquímetro (0,05mm) ou régua milimetrada. A altura e a largura foram divididas pelo CP, e as proporções obtidas foram multiplicadas por 100 para transformação dos dados em porcentagem. Para cada espécie, foi calculada a média do CP, da altura e largura relativas. Posteriormente, realizamos uma análise de componentes principais (PCA) com as médias das variáveis de cada espécie. Como forma de analisar as relações entre a forma das espécies e o tipo de ambiente onde foram encontradas, as amostras foram rotuladas de acordo com o tipo de macrófita: flutuante, emergente ou ambos. Resultados Foram coletadas 27 espécies de peixes em bancos de E. crassipes, sendo 12 delas exclusivas desse microambiente (Tabela1). Em P. repens foram coletadas 22 espécies, das quais oito foram exclusivas desse microambiente (Tabela Tabela 1: Lista de espécies, número total e variáveis morfométricas medidas de indivíduos coletados em bancos de Eichornia crassipes e Paspalum repens no Lago do Camaleão, Ilha da Marchantaria, Amazonas. CP: comprimento padrão (mm). Família Espécie Anostomidae Leporinus friderici Leporinus trifaciatus Schizodon fasciatus Apteronotus hasemani Aphyocharax aff. erythrurus Ctenobrycon hauxwellianus Gymnocorymbus thayeri Hemigrammus levis Hemigrammus ocellifer Hyphessobrycon eques Moenkhausia collettii Moenkhausia intermedia Odontostilbe aff. fugitiva Serrapinus sp. Apistogramma aff. eunotus Apistogramma agassizi Astronotus crassipinnis Chaetobranchopsis orbicularis Cichlasoma amazonarum Crenicichla cf. cincta Mesonauta insignis Cyphocarax sp. Anadoras sp. Hoplias malabaricus Brachyhypopomus pinnicaudatus Brachyhypopomus sp.1 Brachyhypopomus brevirostris Brachyhypopomus sp.2 Nannostomus eques Synbranchus sp. 1 Synbranchus sp. 2 Rivulus sp. Mylossoma duriventre Serrasalmus sp. Eigenmannia sp. Sternopygus macrurus Apteronotidae Characidae Cichlidae Curimatidae Doradidae Erytrinidae Hypopomidae Lebiasinidae Synbranchidae Rivulidae Serrassalmidae Sternopygidae Eichornia crassipes 0 1 2 1 1 8 1 3 7 8 1 1 0 1 2 0 7 0 6 0 0 0 2 4 4 6 1 1 0 1 5 1 7 1 2 0 Paspalum repens 1 0 0 0 1 17 2 8 47 2 8 1 1 8 0 3 0 1 28 2 35 2 0 3 0 0 0 0 2 0 0 0 6 2 0 1 1). Treze espécies de peixes foram encontradas em ambos os bancos de macrófitas (Tabela 1). Na análise de componentes principais, o eixo 1 foi responsável por 87,3% da variância e o eixo 2 por 11,4%, e as variáveis mais importantes foram CP e “altura/CP*100” (Tabela 2). As espécies coletadas na macrófita emergente apresentaram a menor amplitude de variação e se caracterizaram pelo pequeno tamanho (Figura 1). Já as espécies coletadas nas macrófitas flutuantes apresentaram ampla distribuição ao longo do eixo 1, sendo que a maior parte das espécies teve escores positivos nesse eixo, o que é indicativo de maiores valores de comprimento. Além disso, a maioria dessas espécies teve escores negativos no eixo 2, indicando pequena altura relativa, ou seja, peixes de corpo longo e de pequena altura relativa: hypopomídeos, sternopygídeos e symbranchídeos. As espécies coletadas em ambos os tipos de macrófitas aquáticas apresentaram uma distribuição intermediária em relação às demais espécies. Tabela 2 – Autovetores da análise de componentes principais (PCA) de variáveis morfométricas da ictiofauna de macrófitas aquáticas do Lago do Camaleão, Ilha da Marchantaria, Amazonas. CP: comprimento padrão. Variável Eixo 1 Eixo 2 Comprimento Padrão 0,98 0,20 Altura/CP*100 -0,19 0,95 Largura/CP*100 -0,54 0,23 CP CP/altura *100 28,9 32,1 27,4 17,4 23,2 43,3 42,0 30,4 36,9 34,3 32,6 29,4 29,5 30,6 36,1 30,8 44,4 51,0 48,2 20,8 46,1 28,4 36,0 19,8 12,8 11,5 9,0 9,5 19,4 3,3 4,0 18,0 68,2 46,1 14,4 17,1 41,26 129,00 49,80 43,82 25,21 25,08 20,17 23,49 17,92 19,99 21,26 26,76 27,38 17,38 24,76 17,20 47,47 35,56 69,58 36,99 42,43 23,29 39,12 98,43 52,72 80,11 56,24 151,30 18,97 145,00 100,00 22,25 43,86 20,30 34,33 26,85 CP/largura *100 13,9 16,6 14,9 9,7 11,9 9,8 11,6 24,3 12,1 12,2 10,4 11,1 9,7 11,7 18,0 18,3 22,7 18,9 24,4 16,5 17,3 15,2 22,0 14,2 7,1 6,4 4,2 5,1 10,3 2,9 3,6 19,3 12,4 9,5 7,0 7,8 8,000 Eixo 2 Tipo de macrófita Flutuante Emergente Ambos 6,000 4,000 2,000 Eixo 1 0 -10,000 -5,000 0 5,000 10,000 15,000 20,000 -2,000 -4,000 Figura 1 – Análise de componentes principais (PCA) de três variáveis morfométricas (comprimento padrão, CP; altura/ CP*100; e largura/CP*100) de peixes coletados em dois tipos de macrófitas aquáticas (emergente e flutuante) em uma área de várzea do Rio Solimões, Amazonas. Discussão Parece haver um padrão morfométrico consistente nas espécies associadas às macrófitas emergentes (Figura 1), o que está de acordo com a idéia de que espécies que utilizam o mesmo microhabitat são morfologicamente semelhantes (Wood e Bain, 1995). Algumas das espécies amostradas nesse ambiente (família Characidae) são caracterizadas pelo pequeno tamanho dos indivíduos e pela formação de cardumes. Essas espécies, portanto, necessitam de espaço Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 59 para se deslocar, o que pode implicar a sua ocorrência preferencial nesse tipo de macrófita aquática. Além disso, esse ambiente é freqüentemente usado por jovens das famílias Anostomidae (aracus) e Serrasalmidae (pacus), que dirigem-se a esses ambientes em busca de alimento e abrigo. As espécies de formato anguiliformes encontradas, de maior comprimento padrão e mais delgadas, estiveram associadas principalmente às macrófitas flutuantes. O ambiente fornecido por esse tipo de macrófita, especialmente o sistema radicular mais compacto, confere maior proteção aos peixes que aí vivem. Essa maior compactação, entretanto, parece impor restrições morfológicas às espécies que vivem nesse ambiente, em função da necessidade de locomover-se entre pequenos espaços, resultando na maior ocorrência de peixes com corpo esguio. Como seria de se esperar, as espécies encontradas em ambos os ambientes apresentaram um padrão morfométrico intermediário. Esse formato intermediário aparentemente confere a essas espécies a capacidade de explorar os dois tipos de ambiente. Da mesma forma, peixes em estágio ontogenéticos diferentes podem utilizar diversos tipos de macrófitas, otimizando o uso de recursos e possivelmente reduzindo a competição intra-específica por abrigo e alimento. Agradecimentos Agradecemos a Rosseval, a Pati, aGabi, a Janael, a Juliana e a Fresnel pela ajuda na coleta dos exemplares. Ao Jansen pela paciente ajuda na identificação dos exemplares e pela discussão dos resultados. Ao Jansen, Dadão e Glauco pelas sugestões na versão final do relatório. Referências bibliográficas Conserva, A. C. e M. T. F. Piedade. 2001. Ciclo de vida e ecologia de Paspalum fasciculatum Willd. ex. fluege (Poaceae) na várzea da Amazônia central. Acta Amazônica 31 (2): 205–220. Junk, W. J. e C. Howard-Williams. 1984. Ecology of aquatic macrophytes in Amazonia. In: H. Sioli (ed.). Pp. 269-294. The Amazon, Liminnology and landscape ecology of a mighty tropical river and its basin. Dr. W. Junk Publishers. Machado-Allison , A. 1987. Los peces de los llanos de Venezuela,un ensayo su historia natural. Universidad Central de Venezuela. Silva, C. P. D. 1993. Alimentação e distribuição espacial de peixes do igarapé do Candirú, Amazonas, Brasil. Acta Amazônica 23(2-3): 271–285. Sioli, H. 1975. Tropical rives as expressions of their terrrestrial environments. In: Golley, F. B. & E. Medina (eds.). Pp. 275-288. Tropical ecological systems. Trends in terrestrial and aquatic research. Spriger, Berlin. Wainwright, P. C. 1996. Ecological explanation through functional morphology: the feeding biology of sunfishes. Ecology 77(5):1336-1343. Wood, B. M. e M. B. Bain. (no prelo). Morphology and microhabitat use in stream fish. Canadian Journal of Fisheries. Variações morfométricas de Salvinia auriculata Aubiet (Salvinaceae) em um lago de várzea da Amazônia Central Maura M. Pezzato, Odirlene M. Ribeiro, Jivanildo P. Miranda, Amanda F. Mortati, Christiane Corrêa, Juliana Stropp e Ricardo I. Campos Introdução As áreas de várzea na Amazônia Central são regiões periodicamente alagadas por águas ricas em nutrientes e partículas em suspensão. A periodicidade de inundação dessas áreas, definida como pulso de inundação, influencia o ciclo de vida de muitas espécies deste ambiente. Assim, as mudanças que este sistema sofre ao longo do ano interferem na estrutura dos indivíduos e da população vegetal (Junk & Piedade, 1997). As comunidades bióticas mais características das várzeas são as macrófitas aquáticas (Junk, 1970). Macrófitas aquáticas são plantas que crescem na água, em solos alagados (Weaner & Clements, 1938). O crescimento das populações de espécies de plantas aquáticas está relacionado com as flutuações do nível da água, com a estabilidade do habitat, 60 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 variações de luminosidade e disponibilidade de nutrientes. Salvinia auriculata Aubiet (Salvinaceae) é uma macrófita aquática abundante em ambientes de várzea que também se estabelece em florestas alagadas ou nas margens dos lagos, uma vez que estes locais estão bem protegidos dos ventos e da correnteza (Junk, 1970). Com a enchente, as populações de S. auriculata iniciam rapidamente seu desenvolvimento e na vazante diminuem sua abundância de forma rápida, continuando presentes apenas em lagos permanentes (Junk, 1970). O objetivo deste estudo foi analisar a variação da morfometria nos indivíduos de S. auriculata em áreas de floresta alagada e margens de um lago em ambiente de várzea e as relações desta com os parâmetros limnológicos. Métodos Este trabalho foi realizado no Lago Camaleão, na Ilha da Machantaria (03° 15’ S e 60° 00’ O), localizada no Rio Solimões à 15 km de Manaus, AM (Conserva et al., 2001). Amostramos indivíduos de S. auriculata na floresta alagada e na margem do lago, em dois pontos para cada ambiente. Cada ponto compreendeu três quadrados (20 x 20 cm), resultando em um total de seis quadrados em cada ambiente. Acondicionamos as amostras em sacos plásticos e posteriormente retiramos ao acaso dez indivíduos de cada ponto, medindo o comprimento da raiz e da folha. Em cada ponto medimos a condutividade elétrica e a temperatura com o aparelho Salinity Conductivity Temperature (Model 30) e o oxigênio dissolvido com o aparelho Dissolved Oxigen (Model 55), ambos da YSI-Incorporated Yellow Spring. Além disso, determinamos a entrada de luz na água com um disco de Secchi. Realizamos um teste-U de Mann-Whitney para avaliar se as variações do tamanho da folha e da raiz eram diferentes entre os ambientes e determinar se os parâmetros limnológicos analisados diferiam entre a margem e a floresta alagada. Avaliamos a relação entre os parâmetros limnológicos estudados e o comprimento de folhas e raízes de S. auriculata pelo coeficiente de correlação de Spearman. Todas as análises foram feitas com o pacote estatístico Statistica 5.0. Resultados O comprimento das folhas e das raízes de S. auriculata foi maior na floresta alagada do que na margem (Tabela 1). Dentre os parâmetros limnológicos analisados, O2 dissolvido, pH e profundidade da água diferiram entre os ambientes de margem e floresta alagada (Tabela 2). Observamos relação significativa somente entre o comprimento das folha e raízes com a profundidade para os ambientes de margens (Tabela 3) . Tabela 1. Valores da mediana (máximo e mínimo) do comprimento de folhas e raízes de S. auriculata e estatística U de Mann-Whitney entre os ambientes, no Lago do Camaleão, Ilha da Marchantaria, AM. Margem (mm) Floresta Alagada (mm) Mann-Whitney Folha 0,88 (0,52-1,96) 1,09 (0,57-1,26) U=1073,5; Z= 3,35 (p<0,001) Raiz 0,95 (0,52-1,96) 1,63 (0,56-2,14) U=1137,5; Z= 2,30 (p<0,002) Tabela 2. Valores da mediana (máximo-mínimo) dos parâmetros limnológicos da água e estatística U de MannWhitney entre os ambientes, no Lago do Camaleão, Ilha da Marchantaria, AM. Margem Floresta Alagada Mann-Whitney PH 6,4 (6,4-6,8) 6,3 (6,2-6,4) U = 2; Z=2,56 (p=0,01) O2 dissolvido (mg/L) 2,48 (2,37-3,35) 2,19 (2,12-2,33) U = 0; Z= 2,88 (p<0,01) Profundidade (m) 6,65 (5,2-11,9) 5,05 (4,5-5,6) U = 2,5; Z= 2,48 (p=0,01) Tempera tura (°C) 28,2 (28,7-27,6) 27,8 (27,8-27,7) U = 14; Z= 0,64,(p= 0,52) Condutividade (µS/cm) 66,45 (67,6-66,3) 66,35 (66,60-66,2) U = 16; Z= 0,32 (p= 0,75) Secchi (cm) 60 (50-45) U = 16; Z= -0,32 (p= 0,75) 45 (70-20) Tabela 3. Parâmetros da correlação de Spearman, (significância - p) entre as variáveis limnológicas e o comprimento das folhas e raízes (mm) de S. auriculata nos ambientes de margem (M) e floresta alagada (FA), no Lago do Camaleão, Ilha da Marchantaria, AM. PROFUNDIDADE (m) M FA O2 DISSOLVIDO (mg/L) M PH FA M FA FOLHA 0,94 (0,04) 0,70 (0,12) 0,37 (0,46) 0,23 (0,66) 0,37 (0,46) -0,68 (0,13) RAÍZ 0,88 (0,02) 0,20 (0,70) 0,31 (0,54) 0,20 (0,70) 0,37 (0,47) -0,33 (0,51) Discussão Encontramos indivíduos com maior comprimento de folha e raiz na floresta alagada do que na margem. No entanto, nesse ambiente, nenhum dos parâmentros limnológicos analisados explicam o comprimentos de folhas e raízes dos indivíduos de S. auriculata. Assim, outros fatores devem estar condicionando o padrão. A disponibilidade de luz é um fator limitante no crescimento das plantas (Westlake, 1975), podendo influenciar o investimento em área foliar e sistema radicular (Junk, 1970). Apesar do fator luz não ter sido registrado neste estudo, parece razoável presumir que a incidência de luz sobre S. auriculata é maior na margem do que na floresta alagada. Nos ambientes da margem a ocorrência de S. auriculata esteve sempre associada à ocorrência de Papallum repens. Esta planta causa um sombreamento nos indivíduos de S. auriculata que ocorrem sintopicamente. Entretanto este sombreamento é mais fraco do aquele produzido pelas arbóreas da floresta alagada (obs. pess.). Na margem, o aumento da profundidade explicou o aumento do comprimento das folhas e raízes de S. auriculata, o que poderia estar relacionado ao maior crescimento de plantas aquáticas durante a época de cheia (Junk et al. 1997). Estudos sobre alometria de plantas aquáticas são importantes para examinar as relações de crescimento e alocação de recursos. Entretanto, muitos fatores influenciam este processo. Os parâmetros limnológicos analisados neste estudo foram escolhidos por potencialmente afetarem a obtenção de nutrientes, porém a ausência de relação entre eles e o comprimento das estruturas de S. auriculata indica que outros fatores não contemplados aqui (e.g. luz) devem ser mais importantes na determinação das características estudadas em S. auriculata. Agradecimentos Agradecemos ao Enóc pela ajuda no campo, conduzindo a voadeira e ao Prof. Jansen pelas sugestões na discussão. Referências Conserva, A. S. & Piedade, M. T. F. 2001. Ciclo de vida e ecologia de Paspalum fasciculatum Willd. Ex. Fluegge (Poaceae) na várzeea da Amazônia Central. Acta Amazônica. 31(2): 205-220. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 61 Junk, W. J. 1970. Investigations on the ecology and production-biology of the “floating meadows” (Paspalo-Echinochloetum) on the Middle Amazon. Part I: The floating vegetation and its ecology. Amazoniana 2(4): 449-495. Junk, W. J. & Piedade, M. T. F. 1997. Plant life in the floodplain with special reference to herbaceous plants. pp. 148-181 In: Junk, W. J. (ed.), The Central Amazon Floodplain - Ecology of Pulsing System. Ecological Studies, Vol. 126. Weaner, J. E. & Clements, F. E. 1938. Plant Ecology. McGraw – Hill. New York. Westlake, D. F. 1975. Macrophytes. pp. 106-108. In: Whitton, B. A. (ed.), River Ecology. University of California Press. Vol 2. Relação da distribuição temporal de forrageamento de cupins (Isoptera: Termitidae) com o tempo de inundação em um igapó no arquipélago de Anavilhanas, rio Negro Amanda De La Torre, Odirlene Marinho Ribeiro, Jivanildo P. Miranda, Flávio Quental & Rita de Cássia Quitete Portela Introdução Os rios da Amazônia Central apresentam flutuações anuais do nível da água (Sioli, 1975). O termo igapó, referese a áreas inundadas de águas pretas as quais são pobres em nutrientes e matéria orgânica em suspensão, apresentando altos níveis de acidez (Ikian et al., 1997, Sioli, 1975). Os cupins (Insecta: Isoptera) estão entre os artrópodos mais abundantes nos trópicos, junto com formigas, colêmbolos e ácaros (Lee & Wood, 1971 apud Martius, 1997). Nos ecossistemas tropicais os cupins são importantes dentro da cadeia alimentar de detritívoros, processando todos os tipos de resíduos orgânicos, madeira, folhas e matéria orgânica do solo (Lee & Wood, 1971 apud Martius, 1997). As espécies da família Termitidae apresentam um sistema de castas bem desenvolvido com indivíduos reprodutivos alados, operários e soldados (Penny & Arias, 1982). A produção de alados pelas colônias continua durante os períodos de inundação, com um alto requerimento de consumo de energia (Martius, 1997). Para sobreviver aos ciclos de inundação as colônias de cupins armazenam suficiente matéria orgânica nas paredes dos ninhos para assegurar sua alimentação (Martius, 1997). Portanto, a estratégia de forrageamento desse grupo de insetos é muito importante para entender a dinâmica desse grupo em áreas alagadas. O objetivo do nosso estudo foi responder a seguinte pergunta: o tempo de inundação influencia a atividade de forrageamento dos cupins? Métodos Este estudo foi realizado no dia 20 de julho de 2003 em uma área de igapó no arquipélago de Anavilhanas, rio Negro. Nesta localidade, a coleta de dados foi feita em três 62 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 transecções, espaçadas em um mínimo de 30m, ligando o lago do Prato ao paraná do Prato. Registramos todos os cupinzeiros de nasutos da família Termitidae avistados ao longo das transecções e medimos a altura da coluna de água e altura do cupinzeiro na árvore em relação ao solo, estimamos o tamanho do cupinzeiro e contamos o número de caminhos (canais que saem do cupinzeiro) em direção ao solo. Analisamos a relação entre a altura da coluna de água (variável independente) e as variáveis dependentes número de caminhos, tamanho dos ninhos e a altura do ninho na árvore utilizando regressão linear. Analisamos também a relação entre o tamanho do ninho (variável independente) e o número de caminhos (variável dependente) utilizando o mesmo teste Resultados Avistamos 21 cupinzeiros nas três transecções. Encontramos que quanto maior a coluna de água, maior o número de caminhos em direção ao solo e quanto maior a coluna de água, maior a altura do ninho em relação ao solo (Tabela 1 e Figura 1). Porém, o tamanho dos ninhos não variou com a altura da coluna de água. O número de caminhos também não variou em função do tamanho do ninho (Tabela 1). Tabela 1: Regressão linear das variáveis amostradas em um igapó do arquipélago de Anavilhanas. Variáveis Altura da coluna de água x número de caminhos Altura da coluna de água x tamanho dos ninhos Altura da coluna de água x altura do ninho em relação ao solo Tamanho do ninho x nú mero de caminhos r2 0,31 0,005 0,36 p 0,007 0,748 0,003 0,081 0,198 Número de caminhos 8 7 6 5 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 Altura da coluna de água (m) Altura do ninho em relação ao solo (m) Figura 1: Regressão linear entre a altura da coluna de água e o número de caminhos em cupinzeiros no igapó do arquipélago de Anavilhanas. 20 Agradecimento 15 Agradecemos muito ao professor Jorge pelas ótimas idéias, ao professor Leandro pelo resgate quando do defeito do nosso motor e pelo Juruna pelas manobras dentro do igapó. 10 5 0 0 mesmo foi encontrado para a altura do ninho em relação ao solo, ou seja, ninhos mais altos são encontrados em áreas que enfrentam um maior período de inundação. Os cupins investem nos caminhos em direção ao solo independentemente do tamanho do ninho, ou seja, o fator de maior importância no esforço de forrageamento de cupins é o período de alagamento, independente do tamanho do ninho. Encontramos somente dois ninhos em árvores que estavam em uma profundidade maior do que 3m, e estes são dados que exerceram um efeito alavanca na análise estatística realizada. Entretanto, estes são dados muito importantes e merecem atenção, já que se tivéssemos mais amostras nessa faixa de profundidade, poderíamos ter um resultado mais robusto. Em um estudo feito com o gênero Anaplotermes, também se observou uma sincronização entre cheias e o comportamento destes no ninho. Nesse estudo foi observado uma sincronização entre o pulso de inundação e o ciclo de vida dos cupins, com a altura do ninho variando com o nível da inundação (Martius, 1997), um resultado congruente ao encontrado em nosso estudo. Referências 1 2 3 4 5 6 Altura da coluna de água (m) Figura 2: Regressão linear entre a altura da coluna de água e o altura do ninho em relação ao solo de cupinzeiros no igapó do arquipélago de Anavilhanas. Discussão O comportamento dos cupins na área alagada estudada demonstrou que estes investem em um maior número de caminhos quanto maior for o período de inundação, refletindo um maior esforço para forrageamento concentrado no tempo em áreas que ficam alagadas por mais tempo. O Sioli, H. 1975. Tropical river: the Amazon. In: Whitton, B. A. (ed.). River Ecology.Studies in Ecology, vol 2. University of Chicago Press, Chicago, USA. Irion, G., Junk, W. e J. A. S. N. de Mello. 1997. The large central amazonian river floodplains near Manaus: Ecological, climatological, hydrological and geomorfological aspects. In: Junk, W. (ed.) The Central Amazon Floodplain. Springer-Verlag. Berlin. Penny, N. e J. Arias. 1982. Insects of amazon forest. Columbia University Press, New York, USA. Martius, C. 1997. The termites. In: Junk, W. (ed.) The Central Amazon Floodplain. Springer-Verlag, Berlin, Alemanha. Orientador do projeto: Jorge Nessimian Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 63 Fatores que determinam a ocorrência de plantas dependentes de suporte em copas isoladas em lagos de Anavilhanas Juliana Stropp, Patricia Rodin, Fabiana Rocha Mendes, Marcio Araújo, Janael Ricetti e Fresnel Gustavo Métodos O estudo foi realizado em dois lagos do Arquipélago de Anavilhanas, pertencentes à bacia do rio Negro. Em um dos lagos, amostramos 10 copas de E. tenuifolia e no outro 16 copas. Estimamos para cada copa seu diâmetro, sua altura e a distância da copa mais próxima. Em cada copa, registramos a ocorrência de plantas dependentes de suporte (epífitas, hemiepífitas e parasitas), pertencentes as seguintes famílias: (A) Orchidaceae e Bromeliaceae com síndrome de dispersão anemocórica; (B) Viscaceae, Cactaceae e Clusiaceae com síndrome zoocórica (Ribeiro et al., 1999). A probabilidade de ocorrência de indivíduos dependentes de suporte, com diferentes síndromes de dispersão, foi determinada em função do diâmetro, altura, volume e da 64 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 Resultados Registramos nas copas de E. tenuifolia 10 ocorrências da família Bromeliaceae, quatro de Orchidaceae, nove de Viscaceae, cinco de Cactaceae, e três de Clusiaceae. A probabilidade de ocorrência da família Bromeliaceae variou em função da altura (G=3,9; n=25; p=0,04; Figura 1) e do diâmetro (G=3,75; n=25; p=0,05; Figura 2) das copas. 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 0 2 4 6 8 Altura da copa (m) 10 Figura 1. Probabilidade de ocorrência de indivíduos da família Bromeliaceae em função da altura da copa de E. tenuifolia em dois lagos do Arquipélago de Anavilhanas, AM. 1,0 Probabilidade A presença de uma planta é dependente da chegada de sua semente, via dispersão, e do seu estabelecimento no habitat (Schupp et al., 1989). No caso das plantas dependentes de suporte, a chegada das sementes é decorrente da distância da fonte de sementes e das características das copas das árvores hospedeiras, sendo que diferentes características devem exercer distinta influência na chegada de sementes anemocóricas e zoocóricas. A chegada das sementes anemocóricas deve ser influenciada pelo diâmetro e altura da copa, pois quanto maior a área de uma copa, maior a chance das sementes dispersas pelo vento ficarem retidas na árvore. A chegada das sementes zoocóricas, por sua vez, deve ser fortemente influenciada pela altura das copas, pois, as aves, seus principais dispersores, tendem a escolher as árvores mais altas como poleiros (Ghevara et al., 1986). Além disto, quanto maior a área de uma copa, maior deve ser a sua heterogeneidade de microhabitats, aumentando a chance de os indivíduos dependentes de suporte encontrarem condições apropriadas para se estabelecerem. As florestas alagadas ficam inundadas de dezembro a julho, quando árvores adaptadas à inundação, como a Eshweilera tenuifolia (Lecythidaceae), ficam parcialmente imersas, formando ilhas isoladas de copas de árvores. As copas desta espécie são utilizadas como suporte por um grande número de plantas de diferentes formas de vida, como as epífitas, hemiepífitas e parasitas. O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência de características das ilhas de copas de Eshweilera tenuifolia sobre a ocorrência de plantas dependentes de suporte com diferentes síndromes de dispersão. distância da copa mais próxima, por meio de regressões logísticas. PROBABILIDADE Introdução 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 0 5 10 15 20 Diâmetro da copa (m) Figura 2. Probabilidade de ocorrência de indivíduos da família Bromeliaceae em função do diâmetro da copa de E. tenuifolia em dois lagos do Arquipélago de Anavilhanas, AM. Probabilidade 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 0 2 4 6 8 10 Altura da copa (m) Figura 3. Probabilidade de ocorrência de indivíduos da família Orchidaceae em função da altura da copa de E. tenuifolia em dois lagos do Arquipélago de Anavilhanas, AM. Probabilidade 1,0 0,8 o que está de acordo com o esperado. No entanto, a probabilidade de ocorrência de indivíduos da família Bromeliaceae e Orquidaceae é bem distinta. Em Bromeliaceae, a probabilidade se aproxima do limite máximo (p@1) com os maiores valores de altura e diâmetro da copa (Figura 1 e 2), diferentemente de Orchidaceae, cuja probabilidade de ocorrência não se estabiliza com os valores de altura ou volume de copa amostrados (Figura 3 e 4). A diferença entre as curvas pode ser decorrente das exigências particulares de estabelecimento dos indivíduos destas famílias. As espécies da família Orchidaceae germinam apenas em associação com determinados fungos (Ribeiro et al., 1999). Desta forma, o estabelecimento desses indivíduos depende de condições aquém das características da copa, o que torna a sua ocorrência bem menor que a dos indivíduos de Bromeliaceae. A ocorrência de indivíduos com dispersão zoocórica não foi influenciada pelas características da copa. A ausência desta relação indica que as aves que se deslocam utilizam as copas como poleiros independentemente de seu tamanho. Portanto, copas distintas funcionam de forma semelhante como foco de recrutamento de sementes zoocóricas. 0,6 Agradecimentos 0,4 Agradecemos ao Dadão pela orientação e pela ajuda no campo e análise dos dados. 0,2 Referências Bibliográficas 0,0 Discussão Begon, M., J. L. Harper, C. R. Townsend. 1990. Ecology – individuals, population e communities. Blackwell scientific publications, Oxford, London. 945p. Ghevara, S., S. E. Purata & E. van der Maarel.1986. The role of remmant forest trees in the tropical secondary sucession. Vegetatio 66:77-84. Ribeiro, J. E. L. S., M. J. G. Hopkins, A. Vincentini, C. A. Sothers, M. A. S. Costa, J. M. Brito, M. A. D. Souza, L. H. P., Martins L. G. Lohman, P. A. C. L. Assunção, E. C. Pereira, C. F. Silva, M. R. Mesquita & L. C. Procópio. 1999. Flora da Reserva Ducke: Guia de identificação das plantas vasculares de terra firme na Amazônia Central, Manaus: INPA. Schupp, E. W., H. F. Howe & C. K. Augspurger. 1989. Arrival and survival in tropical treefall gaps. Ecology 70(3): 562-564. A ocorrência de indivíduos de dispersão anemocórica foi influenciada pela altura e diâmetro das copas de E. tenuifolia, Orientador: Eduardo Venticinque 0 200 400 600 3 Volume (m ) Figura 4. Probabilidade de ocorrência de indivíduos da família Orchidaceae em função do volume da copa de E. tenuifolia em dois lagos do Arquipélago de Anavilhanas, AM. Para os indivíduos da família Orchidaceae, a probabilidade de ocorrência variou em função da altura (G=4,5; n=25; p=0,03; Figura 3) e do volume da copa (G=6,14; n=25; p=0,01; Figura 4). A probabilidade de ocorrência das famílias Viscaceae, Cactaceae e Clusiaceae não variou em função de nenhum dos parâmetros estudados. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 65 Efeitos da complexidade estrutural de áreas com presença e ausência de Astrocaryum jauari sobre a avifauna Sandro von Matter, Dana Moiana Vianna, Amanda F. Mortati, Maura M. Pezzato, Mariana Faria-Corrêa Introdução Padrões de seleção de hábitat são importantes determinantes da composição da comunidade de aves (Cody, 1985, apud Gentry, 1990) e a diversidade de hábitat em uma região influencia fortemente o número de espécies que podem ocorrer nela (Karr, 1980, 1982, apud Gentry, 1990 ). Muitos fatores influenciam na distribuição das aves, dentro de florestas primárias, muitas espécies encontram-se mais freqüentemente no interior da floresta ou no dossel do que na borda e clareiras (Blake et al., 1990). Em contraste, indivíduos fora da fase reprodutivas tendem a concentrar-se em bordas e são menos comuns dentro da floresta e no dossel (Blake et al., 1990). Comunidades consistem de um número de células (todas idênticas em condições e disponibilização de recursos) que são colonizados aleatoriamente por indivíduos de um número de espécies (Begon, 1995). MacArthur e MacArthur’s (1961), observaram que a diversidade da avifauna está positivamente correlacionada à complexidade estrutural da vegetação. Dentro deste contexto trabalhamos com a palmeira Astrocaryum jauari por suas agregações (ou manchas) se caracterizarem como um possível modificador do ambiente, e pela sua fácil localização nas margens. Desse modo, o objetivo deste trabalho foi determinar se a mudança na complexidade estrutural com aumento de microhabitats a partir de aglomerados da palmeira A. jauari pode estar interferindo na riqueza de aves em dada área de igapó. Método O estudo foi realizado ao longo do principal paraná do Lago do Prato, no Arquipélago de Anavilhanas, localizado na bacia do Rio Negro, Novo Airão / AM. Ao longo de uma das margens deste paraná, amostramos a avifauna em áreas com e sem manchas de Astrocaryum jauari. Através de observações diretas (visuais) e indiretas (sonoras), registramos o número de espécies em um raio de 50m a partir da margem, com tempo de observação de 15 minutos para cada ponto. As observações se iniciaram às 6:30, terminando às 10:30 da manhã. Ao todo foram amostrados doze pontos (seis com mancha de A. jauari e seis sem mancha de A. jauari) distribuídos entre as duas margens. Para eliminar o efeito do horário de atividade dos pássaros de nossa amostragem, fizemos pontos com e sem A. jauari alternadamente. Para análise dos dados utilizamos teste Mann-Witney e 66 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 ordenação Twin-span para avaliar a diferença no número e composição de espécies de aves entre os dois tipos de ambiente, respectivamente. Uma mancha pode ser uma área favorável ou desfavorável para dispersão , porém o organismo é facilmente capacitado para se dispersar de uma área para outra (Begon, 1995). Utilizamos manchas da palmeira A. jauari como indicador da alteração da complexidade estrutural do ambiente. Classificamos as aves em guildas tróficas para verificar a relação entre sua distribuição equitativa entre ambientes com e sem A. jauari. Resultados Foram encontrados 14 espécies de aves (n = 41 ind) para a área com A. jauari; 29 espécies (n = 61 ind) para a área sem A. jauari (Tabela 1). Não houve uma relação significativa entre a distribuição da avifauna e os ambientes (Tabela 2 e 3). As guildas não apresentaram preferência por nenhum ambiente específico, embora os insetívoros tenham sido os mais abundantes nos dois sistemas (Tabela 4). Discussão Apesar de não haver diferença significativa na distribuição das aves entre áreas com presença ou ausência de A. Jauari, os ambientes com presença de aglomerados desta palmeira demonstraram visualmente uma simplificação da complexidade estrutural, uma vez que palmeiras são estruturas morfometricamente mais simples que a maioria das espécies lenhosas. Apesar de grandes manchas de palmeira criarem microhabitats para espécies da avifauna, pequenos aglomerados desta espécie, agravados pela localização em área de borda podem não criar estruturas significativas para estabelecimento de aves, e em alguns casos influenciar negativamente a sua distribuição. MacArthur e MacArthur’s (1961), observaram um aumento na complexidade estrutural proporcional à um aumento da abundância e riqueza das espécies de aves. Para avifauna uma maior heterogeneidade espacial pode não apresentar uma complexidade estrutural eficiente. As áreas estudadas não se caracterizaram como uma alteração da complexidade estrutural, pois os aglomerados amostrados desta palmeira, possuíam um número muito pequeno de indivíduos e se localizavam na borda do ambiente, característica própria desta espécie vegetal . Fatores existentes nos aglomerados, com maior intensidade Tabela 1 – Espécies amostradas, respectivas guildas tróficas, e distribuição segundo a presença (C), ausência (S) de manchas de Astrocaryum jauari ou ambos (A). s Onívora Amazona festiva Tabela 3 - Valores médios, mínimo, máximo e desvio padrão do no. de espécies (a) amostrados. Ambiente Média (n sp) Mínimo Máximo Desvio-padrão Jauari 4,833 1.000 7.000 2,401 Sem jauari 8,500 5.000 13.000 3,271 s Onívora Piculus sp s Onívora Turdus fumigatus s Granívora Aratinga leucophtalmus s Granívora Columba cayennensis s Insetívora Columba subvinacea Ambiente s Insetívora Hemitriccus minor Com A. jauari 4 0 0 2 1 7 Sem A. jauari 10 3 0 0 2 15 Nasica longirostris Ambas áreas 5 3 1 1 0 10 Total 6 1 3 3 32 s Insetívora s Insetívora Camptostoma obsoletum s Onívora Ramphastos tucanus s Insetívora Todirostrum chrysocrotaphum s Insetívora Todirostrum maculatum s Insetívora Cacicus cela s Insetívora Xiphorhynchus picus s Insetívora Zimerius gracilipes a Onívora Atilla cinnamomeus a Onívora Hylophilus semicinereus a Onívora Thryothorus leucotis a Piscívoro Galbula galbula a Frugívora Trogon sp a Insetívora Herpsilochmus dorsimaculatus a Insetívora Hypocnemoides melanopogon a Insetívora Myrmotherula klagesi a Insetívora Sakesphorus canadensis a Insetívora Thamnophilus nigrocinereus c Piscívoro Celeus flavus c Piscívoro Monasa nigrifrons c Granívora Chloroceryle amazona c Insetívora Dendrexetastes rufigula c Insetívora Celeus torquatus c Insetívora Tolmomyias poliocephalus c Insetívora Xiphorhynchus obsoletus Tabela 4 – Número de espécies amostradas, segundo guildas tróficas, e distribuição segundo a presença, e ausência de manchas de Astrocaryum jauari. Insetívoro Onívoro 19 Frugívoro Pscívoro Granívora Total de luz, presença de clareira, podem ter interferido muito mais na distribuição das aves do que a presença ou ausência de A. jauari, apesar disso pode indicar áreas de clareira, ou seja, com menor complexidade estrutural. O método utilizado neste trabalho se mostrou ineficiente, talvez devido ao desenho amostral, já que as estruturas vegetacionais de uma área de floresta amazônica podem mudar rapidamente em uma distância de 5m, e completamente para 50m, isso mascararia os fatores que influenciaram a distribuição das aves nos pontos de amostragem. Também não houve uma preferência para a distribuição da avifauna quanto a diferentes guildas tróficas. A maior presença de insetívoros nas áreas amostradas pode ser explicada pela caracterização do ambiente estudado como área de borda; aves insetívoras costumam habitar ambientes transicionais, enquanto que aves frugívoras costumam utilizar o interior da mata, raramente se expondo a áreas abertas. Ainda, a amostragem individual não se mostrou confiável já que não houve como confirmar o número de indivíduos presentes devido a dificuldade de observações diretas (visuais). É possível que palmeiras desempenhem um papel importante na formação de microhabitats para aves, porém outros fatores devem ser considerados para o nosso trabalho, Como escolher áreas sem a interferência de fatores externos, com área máxima de 10m, variando com o tamanho das manchas. Agradecimentos Tabela 2 - Mann-Whitney do número de indivíduos amostrados, nos dois ambientes (com e sem A. jauari) Mann-Whitney U GL P Ao Eduardo Venticinque e Jansen Zuanon pela ajuda na análise dos dados, à “Angelita” pelo acompanhamento a campo e ajuda logística e ao Sérgio pela orientação. Referências Anderson, 1990. Alternatives to deforestastion, Columbia University Press, New York. Begon M., Harper J. L., Townsend C.R.1990. Ecology, Individuals, populations and Communities, Segunda Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 67 edição - BlackWell Scientific Publications. 495. Blake, J.G.; Stiles F.G. e Loiselle B.A. 1990. Birds of la Selva Biological station: Habitat Use, Trophic composicion and Migrants. In: Gentry, A.H.(ed.) Four Neotropical Rainforests, Yale University Press, New Haven and London, pp.161-182. Clark, D. B., D. A. Clark, e J. M. Read. 1998 Edaphic variation and the mesoscale distribution of the tree species in a neotropical rain forest. Journal of Ecology 86:101-102. MacArthur, R.H. and J.MacArthur 1961. On bird species diversity. Ecology 42, 594-598 (7). Menezes, S.; Pimentel, F.; Mokross, K.; Romero, Q.G.; Gonsales, E. M. L. 2002. Influência do corte seletivo de madeira na abundância de folhiço aéreo e artrópodes associados. In: E. Vemticinque e J. Zuanon, orgs. Ecologia da Floresta Amazônica – Relatório de curso de campo. Pp. 21-22. Primack, B. R. 1993. Essentials of Conservation Biology. Sinauer U.S.A., Massachussets. Orientador: Sérgio Borges Mortalidade de árvores por efeito da cheia de 1953 no Arquipélago de Anavilhanas - Amazonas Juliana Silva de Souza, Branca M. O. Medina, Christiane E. Corrêa, Faviany Lino, Luciano F. A. Montag e Ricardo I. de Campos Introdução Métodos A flutuação sazonal do nível de água dos grandes rios amazônicos influencia a estrutura e a dinâmica da comunidade vegetal do igapó, tanto ecologicamente quanto fisiologicamente, resultando em alterações florísticas e estruturais da vegetação (Junk, 1989). A maioria das espécies de plantas de igapó tem uma distribuição influenciada pelo gradiente de inundação (Worbes, 1987). Apesar das espécies de igapó possuírem certa tolerância à variação do ciclo de inundação, estas podem não resistir a longos períodos ininterruptos de alagamento (Worbes, 1987). A submersão submete as árvores à anoxia, impedindo as trocas gasosas realizadas pelo sistema radicular (Larcher, 1929), podendo causar mortalidade mesmo nas espécies adaptadas, principalmente se o período de anoxia é extenso. A profundidade de inundação fornece uma estimativa do tempo de submersão das plantas no Igapó e, portanto, do período de estresse a que estas são submetidas durante o período de cheia dos rios. Ayres (1983) e Campbell et al. (1992) encontram uma relação significativa entre a mortalidade de árvores e a profundidade da água em estudos realizados em ambientes de várzea. Em 1953, uma cheia prolongada afetou fortemente as áreas alagáveis da Amazônia Central, incluindo o arquipélago de Anavilhanas, fazendo com que o nível do rio se mantivesse alto por alguns anos e ocasionando aparentemente uma alta mortalidade de diversas espécies arbóreas. No presente estudo, nosso objetivo foi investigar se a concentração de árvores mortas em certas áreas do Arquipélago de Anavilhanas pode ser correlacionada com a cheia ocorrida em 1953. Nossa hipótese é que áreas que apresentam uma profundidade maior, submetendo as árvores a um período maior de hipóxia, possuirão uma alta proporção de árvores mortas. Realizamos o estudo no arquipélago das Anavilhanas, no Rio Negro, AM. Fizemos amostragens em dois lagos: um local com alta concentração de árvores mortas, conhecido como “Paliteiro” e em outro a jusante do Paraná do Prato (Lago 2, Figura 1). Selecionamos aleatoriamente um indivíduo arbóreo no centro de cada lago, e medimos a profundidade da coluna d´água a 1 m de distância do tronco do mesmo. A partir desse primeiro indivíduo, medimos a profundidade de outros, sendo que sempre era escolhida a árvore mais próxima da ultima a ser medida. Esse procedimento foi repetido até totalizar 20 árvores em cada lago. 68 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 Figura 1. Localização das áreas de estudo (Paliteiro e Lago 2, imagem Landsat TM5 do arquipélago das Anavilhanas, Rio Negro). Comparamos as medidas de profundidade entre as árvores dos dois lagos através de um teste-t. Para testar a hipótese principal do trabalho, realizamos uma regressão logística e um teste exato de Fisher entre a quantidade absoluta de indivíduos arbóreos vivos ou mortos e a profundidade. Resultados A composição de espécies das árvores amostradas foi basicamente a mesma nos dois lagos, com uma grande dominância de Eschweleria tenuifolia (“macacaricuia”). A profundidade média no Paliteiro foi menor que no Lago 2 (t = 6,394, n = 40, p = 0,001, Figura 2 Profundidade (m) 9,8 9,2 8,6 8 7,4 6,8 Lago2 Paliteiro Figura 2 – Distribuição das profundidades a 1 m do tronco dos dois locais amostrados. Quanto à proporção de árvores vivas e mortas, observamos um aumento na quantidade de indivíduos vivos em maiores profundidades (n = 40, G = 12,3 , p = 0,001, Figura 3). No entanto quando testamos o número de árvores vivas e mortas em profundidades equivalentes (7 – 8 m) para os dois locais não foram observadas diferenças (X2 = 0,56; GL = 1; p = 0,42). Figura 3 – Regressão logística entre profundidade e estado do indivíduo (1 = vivo; 0 = morto) para os dois lagos estudados do arquipélago de Anavilhanas, Rio Negro. Discussão Apesar de Ayres (1983) e Campbell et al. (1992) terem fornecido suporte à hipótese de existência de uma relação causal entre a concentração de árvores mortas nas matas alagadas da Amazônia Central e a cheia de 1953, nossos resultados não responderam da mesma forma. Uma hipótese que pode ser levantada sobre a origem da mortalidade é que esta poderia ter sido provocada por um período de seca, ao invés de um período prolongado de inundação. Nessa época de seca teria ocorrido um isolamento do lago do paliteiro, por conta de sucessivos períodos de cheias menos pronunciadas, isolando-o do lago principal (lago do Prato). Este acontecimento resultaria na maior mortalidade de plantas causada pela falta de circulação da água, com conseqüente redução do nível de oxigênio e da disponibilidade de nutrientes (Ferreira, com. pess.). Outra consideração importante é que não tivemos pontos amostrados em profundidades menores, de modo que não temos a distribuição completa do gradiente de inundação existente no ambiente. Este fato dificulta uma melhor compreensão do que pode ter causado a mortalidade de árvores no paliteiro. Futuros trabalhos deveriam realizar amostragens em lagos com características mais próximas do paliteiro como áreas de comparação. Além disso, outras variáveis deveriam ser consideradas, pois apenas a profundidade pode não ser suficientemente reveladora dos fenômenos causadores da mortalidade de árvores observada. Referências Bibliográficas Ayres, J. M. C. 1983. As matas de várzea do Mamirauá – MCT, CNPq, Programa do Trópico Úmido – Sociedade Civil de Mamirauá. Campbell, D. G.; Stone, J. L. & Junior, A. R. 1992. A comparison of the phytosociology and dynamics of three (várzea) forest of known ages, rio Juruá, western brazilian amazon. Bot. J. of Lin. Soc., 108: 213-237. Junk, W. J.; Bayley, P. B. & Sparcks, R. E. 1989. The flood pulse concept in river-flood plain systems. In: Dodge, D.P. (Ed). Procedings of the internactional large river symposium. Can. Spec. Pulse Fish Aquatic Sci., pp. 110-127. Larcher, W. 1929. Ecofisiologia vegetal. Editora Pedagógica e Universitária Ltda. 319p. Worbs, M. 1997. The forest ecosystem of the floodplain. In: Junk, W. J. (ed). The central Amazon Floodplain, Spring-Verlag Berlin Heidelberg, Berlim. Orientador: Leandro Ferreira Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 69 Tamanho de teias e de machos seriam estratégias para seleçao sexual em Mesabolivar auriantiacus (Araneae: Pholcidae)? Amanda Mortati, Fabiana Rocha-Mendes, Juliana Stropp, Flávio Quental, e Ricardo Ildefonso de Campos As aranhas são consideradas um grupo megadiverso, apresentam distribuição cosmopolita e formam um dos mais importantes grupos de animais predadores, possuindo atualmente cerca de 37.000 espécies conhecidas (Platnick, 2001). Foelix (1996) considera que o grupo não só habita diferentes porções geográficas como também se distribui nos diversos estratos vegetais de uma mesma área. A espécie Mesobolivar auriantiacus pertence ao gênero mais representativo da família Pholcidae (Brescovit et al., 2001) e, como todas as outras espécies de aranhas, é dióica. Machos e fêmeas constroem teias em forma de domo paralelas ao chão, sobre a vegetação ou água. A construção dessas teias exige dos indivíduos grande investimento energético, já que esta espécie apresenta tamanho reduzido do corpo. Ao contrário das outras espécies da família, e até mesmo da ordem Araneae, M. auriantiacus possui dimorfismo sexual, sendo o macho maior que a fêmea. Além do tamanho, os machos possuem uma coloração avermelhada conspícua no fêmur do terceiro par de pernas (Carnaval et al., 1999). Estas duas características podem indicar um processo particular de seleção sexual para a espécie. O dimorfismo sexual está diretamente relacionado à seleção sexual, de modo que a escolha da fêmea e a competição entre os machos são as forças dominantes no processo e geram características morfológicas ou comportamentais inter e intrassexuais. As características interssexuais funcionam como atrativo para o sexo oposto, enquanto que as intrassexuais permitem que o indivíduo avalie seu oponente e o combate (Krebs & Davies, 1981). Com base nestas informações propusemos as seguintes questões: 1) O tamanho dos machos e das teias influenciam a seleção sexual em M. auriantiacus? 2) O micro ambiente em que a teia está localizada influencia o tamanho dos machos e das teias? Métodos Realizamos o estudo na Reserva do Km 41 (02o 25’ S e 59 50’ O), pertencente ao Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, 80 km ao norte de Manaus. Esta região compreende uma vegetação típica de terra firme da Amazônia central (RADAMBRASIL, 1978). Amostramos teias com presença de pelo menos um macho de M. auriantiacus ao longo de três trilhas e de um igarapé. Todos os machos foram coletados e fixados em álcool 70% para confirmação de seu estágio desenvolvimento (somente machos adultos foram analisados) e mensuração do fêmur direito do terceiro par de pernas, com o auxílio de um paquímetro digital. Para cada teia registramos as seguintes informações: (1) maior comprimento do domo da teia, (2) comprimento perpendicular ao maior comprimento do domo, (3) ambiente onde a teia se encontrava (sobre o igarapé ou sobre a vegetação) e (4) número de fêmeas. Calculamos a área do domo como uma meia elipsóide a partir das medidas dos itens 1 e 2 citados acima. Para avaliar a existência de relação entre a área da teia e o tamanho do fêmur dos machos utilizamos regressão linear simples. Para determinar se a probabilidade de ocorrência de fêmeas variou em função do tamanho do fêmur do macho e da área da teia, utilizamos regressões logísticas. A relação entre a frequência de ocorrência de fêmeas nas teias e o microhabitat foi analisada através do teste Qui-quadrado. As análises estatísticas foram realizadas no pacote SYSTAT 8.0. Resultados Foram amostradas 38 teias e coletados 38 machos de M. auriantiacus. A distribuição das freqüências de tamanho de fêmur dos indivíduos coletados se assemelha a uma distribuição bimodal (Figura 1). 12 10 8 Freqüência Introdução 6 4 2 o 70 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 0 10 11 12 13 14 15 Comprimento da perna (mm) Figura 1. Distribuição das freqüências de tamanho de fêmur dos indivíduos de M. auriantiacus. área da teia (cm2) A área da teia variou em função do tamanho do fêmur dos machos presentes em teias sem fêmeas (R2= 0,3; p= 0,001; F= 13,40) (Figura 2). Entretanto, não houve relação entre a área da teia e o comprimento do fêmur de machos associados a fêmeas (R2= 0,2; p= 0,15; F= 2,32). 10000 9000 8000 7000 6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 10 SEM FEMEAS COM FEMEAS 11 12 13 14 15 Comprimento do femur (mm) Figura 2. Relação da área da teia com o comprimento do fêmur de machos de M. auriantiacus em função da presença de fêmeas. A probabilidade de ocorrência de fêmeas na teia não variou em função do tamanho do fêmur do macho (G = 0; gl = 1; p = 0,982) e da área da teia (G = 0,861; gl = 1; p = 0,353). Também não houve relação entre a ocorrência de fêmeas e o microhabitat da teia (G = 0,071; gl = 1; p = 0,79). Discussão A forma da curva de distribuição do tamanho de pernas do machos, que apresentam dois picos distintos, sugere a ocorrência de dois morfotipos na população estudada. Talvez a população esteja passando por um processo de seleção sexual onde um dos morfotipos seria mais atrativo para as fêmeas e, então, estaria sendo selecionado (A. Pacheco, com. pess.). O comprimento do fêmur do macho pôde explicar as variações no tamanho da teia, somente para os indivíduos que estavam sem fêmeas. Nesse caso, indivíduos solitários teriam mais tempo e energia para cuidar da teia do que machos acompanhados de fêmeas. Machos acompanhados de fêmeas podem se ocupar em atividades como a captura de presas para oferecer à fêmea como presente nupcial ou na tentativa de impedir que sua parceira seja inseminada por outro macho. Fêmeas de folcídeos possuem espermateca aplogínica, que favorece a fecundação dos ovos pelo esperma proviniente da última inseminação e, por isso, o macho residente despenderia tempo repelindo outros machos (Pacheco, 2001). Há uma sugestão de que as fêmeas estariam vagando e realizando busca ativa de machos (Pacheco, 2001). No estudo realizado por Carnaval et al.(1999), 75% das teias estavam ocupadas somente por machos. Assim, as fêmeas encontrariam um macho ideal e ficariam na sua teia, beneficiando-se do macho que a defende e a alimenta. Entretanto, quando os machos estão acompanhados por fêmeas, não existe relação entre o seu tamanho e a área das teias. Este padrão sugere que são os machos que se deslocam para a teia das fêmeas (J. Nessimian, com. pess.). Não encontramos evidência de que a área da teia ou o local onde ela se encontra estejam relacionados com a atratividade dos machos. Isto significa que, apesar do tamanho do macho poder ser atrativo para as fêmeas, a construção das teias pode estar relacionada com outros fatores que não estejam diretamente ligados à seleção sexual. Nesse sentido, o tamanho do macho talvez seja a principal característica relacionada ao sucesso reprodutivo dos machos de M. aurantiacus. Agredecimentos Agradecemos à orientação da Angelita, que transformou nosso trabalho num grande passeio pela floresta e nos fez observar a natureza por outra perspectiva. E ao Glauco por todas as sugestões e admirável empenho. Referências Brescovit, A.D.; Bonaldo, A.A.B. & Rheims, C.A. 2001. Amazonian Arachinida e Myriapoda. J. Adis (Ed). Pp . 1-41. PENSOFT Publishers, Sofia – Moscow. Carnaval, A.C.O.Q.; Cunha, H.F.; Simon, M.; Pavón, Y.C. & Dantas, S. 1999. Investigações preliminares sobre o significado adaptativo de um dimorfismo sexual raro em uma espécie de aranha da família Pholcidae. Livro do Curso de campo “Ecologia da Floresta Amazônica”, INPA/Smithsonian Institution, Manaus/AM. Krebs, J.R. & Davies, N.B. 1981. Behavioural Ecology: An Evolutionary Approach. Sinauer Associates, INC., Massachussets. Pacheco, A.M.F. 2001. Papel do dimorfismo sexual na reprodução sexual de uma espécie de aranha da família Pholcidae. Livro do Curso de campo “Ecologia da Floresta Amazônica”, INPA/Smithsonian Institution, Manaus/AM. Platnick, N. I. 2001. The world spider catalog, version 2.0. American Museun of Natural Hitory, online at http:/research.amnh.org/entomology/spiders/catalog8187/index.html RADAMBRASIL. 1978. Folha AS 20 Manaus, página 261. Ministério de Minas e Energia, Departamento Nacional de Produção Mineral, Rio de Janeiro. Orientadora: Angela Pacheco Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 71 Impacto de trilhas sobre invertebrados de serapilheira Maura M. Pezzato, Sandro von Matter, Márcio S. Araújo, Odirlene M. Ribeiro, Amanda De La Torre, Faviany Lino Introdução Serapilheira são resíduos orgânicos predominantemente vegetais (folhas, flores, frutos, galhos e gravetos) que se depositam sobre o solo da floresta (Vieira, 1988). As condições microclimáticas (luz, temperatura e umidade do ar) regulam a dinâmica da serapilheira, assim como a comunidade de invertebrados e microorganismos que compõem sua fauna (Jordam, 1982). Esses invertebrados cumprem funções vitais nos processos do ecossistema, tais como decomposição e ciclagem de nutrientes (Didham et al., 1996). A abertura de trilhas pode constituir um impacto importante para esse microambiente da serapilheira. Um dos impactos, por exemplo, refere-se à compactação da serapilheira, provocada pelo pisoteio na trilha, o que pode dimiuir a disponibilidade de espaço e a complexidade estrural desse microambiente. Ambientes mais complexos estruturalmente são mais ricos e possuem maior abundância de indivíduos do que aqueles mais homogêneos (Begon et al., 1990). Provavelmente, a abertura de trilhas altera as condições microclimáticas e a estrutura da serapiheira, e, conseqüentemente, pode diminuir a riqueza e a abundância de invertebrados associados a esse ambiente. Com base nessa premissa, o objetivo do presente estudo foi avaliar o impacto de trilhas na riqueza e abundância dos invertebrados associados à serapilheira. Métodos Este projeto foi desenvolvido na reserva do Km 41 do projeto PDBFF, 80 quilômetros ao norte de Manaus, AM (2°25‘S - 59°59‘W). Essa reserva possui um gride de trilhas distantes 100 m umas das outras. As coletas de invertebrados de serapilheira foram realizadas em quatro trilhas, duas trilhas de alto impacto (muito usadas) e duas trilhas de baixo impacto (pouco usadas). Em cada trilha, coletamos três amostras dentro da trilha e três amostras a três metros de distância perpendicular da trilha, no interior da mata, num total de 24 amostras. As amostras foram delimitadas com o uso de uma bacia plástica sem fundo (0,12 m2), colocada sobre a serapilheira e pressionada contra o substrato para evitar a fuga dos invertebrados. No interior de cada amostra a profundidade da serapilheira foi medida com uso de régua milimetrada. Todo o conteúdo de serapilheira no seu interior foi coletado e acondicionado em sacos plásticos, para posterior triagem. No laboratório, os invertebrados foram identificados, quando possível, até o nível de Família. Para cada ambiente, foi testada a diferença de profundidade da serapilheira entre as amostras da trilha e 72 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 seus respectivos pares no interior da floresta por meio do teste pareado de Wilcoxon. O mesmo teste foi usado para testar diferenças de riqueza e abundância de invertebrados entre os pares de amostra (trilha x interior da floresta) nos dois ambientes (alto e baixo impacto). Além disso, a riqueza e a abundância de espécies foi comparada entre as áreas de alto e baixo impacto, utilizando-se separadamente as amostras das trilhas e as amostras do interior da floresta, por meio do teste de Mann-Whitney (Zar, 1984). Resultados Encontramos nas amostragens da serapilheira seis classes e 24 ordens de invertebrados (Tabela 1). A profundidade da serapilheira foi diferente entre a trilha e o interior da floresta nas áreas de alto impacto (Z = 2,02; p = 0,04; N = 6), mas não houve diferença entre trilha e floresta nas áreas de baixo impacto (Z = 1,36; p = 0,17; N = 6). A riqueza dos invertebrados não diferiu entre a trilha e o interior da floresta, nem na área de alto impacto (Z = 1,27; p = 0,20; N = 6) nem na de baixo impacto (Z = 0,13; p = 0,89; N = 6). A abundância de invertebrados também não diferiu entre as trilhas e o interior da floresta, nas área de alto (Z = 0,73; p = 0,46; N = 6) e baixo impacto (Z = 0,73; p = 0,46; N = 6). Comparando somente as amostras das trilhas, a riqueza de invertebrados não diferiu entre as áreas de alto e baixo impacto (U = 9,00; p = 0,15; N = 12), o mesmo ocorrendo para a abundância (U = 17,00; p = 0,52; N = 12). O mesmo padrão foi observado nas amostras no interior de floresta, em que não houve diferenças entre as áreas de alto e baixo impacto para os valores de riqueza (U = 14,00; p = 0,52; N = 12) e de abundância (U = 12,50; p = 0,37; N = 12). Discussão O pisoteio das trilhas parece diminuir a profundicade da serapilheira entre a trilha e o inteiror da floresta na área de alto impacto. A profundidade da serapilheira pode ser uma medida indireta de espaço e complexidade estrutural nesse ambiente. Essa compactação, entretanto, parece não exercer influência sobre a riqueza e a abundância de invertebrados. Nossos resultados contrariam a expectativa de uma relação positiva entre riqueza e abundância de invertebrados e profundidade da serapulheira. Além disso, a comparação entre as amostras das trilhas entre as áreas de alto e baixo impacto não revelaram diferenças de riqueza e abundância. Os dados, em conjunto, indicam que apesar de haver uma maior compactação da serapilheira nas áreas muito pisoteadas, esta não parece alterar os padrões de riqueza e abundância de invertebrados asociados a esse ambiente. Tabela 1 – Invertebrados de serapilheira coletados no meio de trilhas e no interior da floresta em uma área de alto e uma de baixo impacto na Reserva do Km41, Manaus, Brasil. Classe Oligochaeta Arachnida Chilopoda Diplopoda Crustacea Insecta Ordem Araneae Pseudoscorpiones Opiliones Acari Geophilomorpha Scolopendromorpha Ordem 1 Ordem 2 Ordem 3 Ordem 4 Isopoda Archaeognatha Blattodea Coleoptera Collembola Diplura Diptera Heteroptera Homoptera Hymenoptera Isoptera Lepidoptera Orthoptera Psocoptera Número de indivíduos Número de táxons Sub-Ordem/Família Alto impacto Trilha Mata 1 7 1 3 0 3 0 1 0 4 1 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 2 1 0 0 2 Carabidae 1 3 Elateridae 1 0 Staphilinidae 1 0 Buprestidae (larva) 0 0 Entomobriomorpha 7 3 Simphilopleona 1 0 Japigidae 0 0 Pitilidae 2 0 Campodeidae 0 1 Ceratopogonidae 2 1 Micetophilidae 1 0 Brachicera 0 1 Psichodidae 0 0 Chironomidae 0 1 Schizopteridae 0 0 Coreidae 1 0 Reduviidae 0 1 Fulgoridae 0 1 Formicidae (adulto) 22 128 Formicidae (pupa) 0 2 Formicidae (larva) 0 0 Termitidae 15 12 0 1 Gryllotalpidae 1 1 Gryllidae 0 0 0 0 38 144 11 16 Agradecimentos Agradecemos ao Jorge Nessimian pela idéia do projeto, ajuda na triagem e identificação dos invertebrados, além da conversa, piadas e risadas, descontraindo o grupo durante a triagem do material. Referências Begon, M, Harper, J. L. & Townsend, C. R., 1990. Ecology: individuals, populations and communities. 2nd ed, Blackwell Scientific publications, Boston Baixo impacto Trilha Mata 3 2 7 2 2 2 0 2 6 0 1 0 2 2 4 2 0 2 0 3 1 0 0 3 1 0 1 2 0 0 0 0 0 1 1 0 2 2 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 1 0 0 1 0 0 0 1 0 0 57 39 9 2 16 1 0 0 0 0 0 0 1 1 1 0 84 43 14 11 Oxford London 945pp. Didham, R.K., Ghazoul, J., Stork, N. E. & Davis, A. J., 1996. Insects in fragmented forest: a funcional approach. Trends in Ecology and Evolution 11: 255-260. Jordan, C. F., 1982. Rich forest, poor soil. Garden (N.Y. Botanical Garden) 6: 11-16. Penny, N. P. & Arias, J. R., 1982. Insects of an Amazon Forest. Columbia University Press, New York. Vieira, L. S., 1988.Manual de ciências do solo, com ênfase aos solos tropicais. São Paulo, Ed. Agronômica Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 73 Ceres, Ltda, 454 p. Zar, J. H. 1984. Bioestatistical Analysis. Second Edition. 718 pp. Orientador: Jorge Nessimian Abundância e atividade de lagartos heliófilos em floresta de terra firme na Amazônia Central, Manaus, AM Fresnel Diaz Araujo, Mariana Faria-Corrêa, Rita de Cássia Quitete Portela, Janael Ricetti, Juliana S. de Souza e Christiane Erondina Corrêa Introdução Lagartos podem ocupar diversos tipos de ambientes na região amazônica, tais como savanas, florestas de terra firme, matas de várzea e igapó, margens de grandes rios e pequenos igarapés (Beebe, 1994; Vanzolini, 1986; Duellman, 1990). Os ambientes alterados por ação antrópica também podem ser utilizados por diversas espécies de lagartos amazônicos (Crump, 1971; Dixon & Soini, 1975; Vitt et al., 1997). Esses animais podem ser encontrados em micro-hábitats como no solo, subsolo, sobre ou abaixo da serapilheira, em tronco caídos ou em árvores, desde a base até o dossel (Duellman, 1979; Oda, 1998; Vitt, 1996). Apesar desta ampla utilização de hábitats, as espécies de lagartos respondem a condições ambientais específicas e, portanto, existe uma distribuição de espécies em função do conjunto de características ambientais que determinam o microclima (Echternacht, 1968). Por serem animais ectotérmicos, exibem uma séria de adaptações anatômicas e fisiológicas para manter uma temperatura adequada que permita a atividade física (Schiesari, 1994). O padrão de atividade destes animais é regulado por um balanço entre a energia absorvida do ambiente e desprendida durante as atividades que estão relacionadas com a termoregulação (Scott & Limerich, 1993). Alguns ambientes apresentam mudanças sazonais na temperatura e/ou fotoperíodo influenciando a atividade e, consequentemente, a obtenção de alimento, a razão de crescimento, e a reprodução em lagartos. Dentro desse contexto, o nosso objetivo foi verificar se os lagartos heliófilos são mais ativos em ambientes mais abertos (estrada) e se esta atividade varia em função da temperatura. Métodos O estudo foi desenvolvido em uma floresta de terra firme na Reserva do Km 41, localizado a cerca de 80 Km de Manaus (AM). Nesta área, foram estabelecidos três transecção de 400 m no interior da floresta e três transecção de mesmo tamanho na estrada. Cada transecção foi percorrida em intervalos de 30 min, iniciando às 9h da manhã 74 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 e terminando às 11h30. A presença de lagartos heliófilos (Ameiva ameiva e Kentropyx calcarata) foi observada e a temperatura em cada um dos intervalos também foi medida nos dois ambientes. Os dados foram analisados por boxplot. Resultados Foram realizadas 212 observações das espécies Ameiva ameiva e Kentropyx calcarata. A maior parte dos registros foi feita na estrada (91,5%). A atividade dos lagartos heliófilos no interior da floresta foi muito mais homogênea ao longo da manhã do que dos indivíduos na estrada (Figura 1A). Neste último local, a atividade dos indivíduos apresentou um pico máximo entre 9h30 e 10h. Após esse período o número de avistamentos começou a diminuir, não de forma linear, com o aumento da temperatura (Figura 1AB). Para os lagartos do interior de floresta este pico de atividade foi observado, aproximadamente, uma hora após ao observado para os indivíduos da estrada (Figura 1A). Discussão A maior atividade dos lagartos na estrada, quando comparada com a atividade dentro da floresta, parece ser ocasionada, principalmente, pela cobertura vegetal. Acreditamos que essa maior atividade encontrada na estrada não ocorra em função da dificuldade de observação, uma vez que foi estabelecida uma prévia padronização (treinamento) dos observadores envolvidos neste estudo. As distintas características entre as áreas também influenciaram no horário de máxima atividade, determinando uma precedência de uma hora na atividade dos lagartos da estrada. Estes fatos podem estar relacionados, entre outras coisas, com a capacidade de tamponamento que os solos de floresta possuem em relação ao aumento da temperatura, quando comparados aos de áreas abertas e sem cobertura (estrada) (Ross, 1989). Uma vez que a água possui alto calor específico, o aumento da temperatura em solos mais úmidos requer maior aporte de energia. Além disso, a vegetação exerce impede a chegada direta Agradecimento Número total de indivíduos 30 Agradecemos ao professor Marcelo Gordo pelas idéias. A Referências bibliográficas 20 10 Estrada Floresta 0 0 1 2 3 4 5 6 Intervalos de observação (horas) 7 B 31 Estrada Temperatura (oC) 30 29 28 Floresta 27 26 25 24 0 1 2 3 4 5 6 7 Intervalos de observação (horas) Figura 1 – (A) Box-plot do número de indivíduos de lagartos heliófilos nos intervalos de horários: 1 (9h - 9h30); 2 (9h30 - 10h); 3 (10h - 10h30); 4 (10h30 - 11h); 5 (11h - 11h30) e 6 (11h30 - 12h) por área (estrada e floresta). (B) Temperatura na estrada e na floresta nos intervalos de horários em uma mata de terra firme na Reserva do Km 41, Manaus, AM. de luz no solo que, em diferentes escalas, causa uma variabilidade da luminosidade. A grande luminosidade incidente em clareiras produz um habitat mais semelhante ao da estrada, tendo uma influência direta na atividade de termoregulação dos lagartos heliófilos no interior da floresta. Conclusão Para lagartos heliófilos as estradas funcionam como um local de grande disponibilidade de luz e altas temperaturas, ocasionando a concentração destes animais. Já na floresta, estes recursos se encontram dispersos, não proporcionando a concentração destes animais em pontos específicos, diminuindo, desta forma, a chance de visualização. Beebe, W. 1944. Field notes on the lizards of kartabo, British Guyana and Caripito Venezuela. Parte 1. Gekkonidae. Zoologica 29: 145-160. Crump, M.L. 1971. Quantitative analysis of the ecological distributions of a tropical herpetofauna. Occas. Paper Mus. Nat. Hist. Univ. Kansas 3: 1-62. Dixon, J.R. & P. Soini. 1975. The reptiles of the upper Amazon Basin, Iquitos region, Peru. Milwaukee Publics Museum, Milwaukee. Duellman, W.E. 1979.The south American herpetofauna: its origen, evolution and dispersal. Museum of Natural History, The University of Kansas. Monograph, N7. Duellman, W.E. 1990. Herpetofauna in Neotropical rainforest: comparative, composition, history and resourse use. In A.H. Gentry (ed.), Four neotropical rainforest, Pp: 455-505. Yale University Press, New Haven, Connecticut. Echternacht, A.C. 1968. Distributional and ecological notes on some reptiles from northern Honduras. Herpetologica 24:151-158. Oda, W.Y. 1998. Utilização de microhabitats e densidade populacional de lagartos, Gonatodes humeralis (Sauria, Gekkonidae), em áreas de floresta na região de Manaus. Dissertação de mestrado. INPA, 33pp. Ross, S. 1989. Soil processes: a systematic approach. Routledge, New York, USA. Schiesari, L.C. 1994. Atividade do lagarto heliófito Ameiva ameiva (Sauria, Teiidae). Relatório do curso de campo Ecologia da Floresta Amazônica, pp. 446-452. Scott, N.J. & S. Limerich, 1983. Reptiles and anphibians. Pp: 351-425. In D.H. Janzen (ed.), Costa Rica Natural History. The University of Chicago Press. Chicago, USA. Vanzolini, P.E. 1986. Levantamento herpetológico da área do estado de Rondônia sob influência da rodovia BR364. Programa Polonoroeste, Subprograma de Ecologia Animal, Relatório de Pesquisa número 1. CNPq, Brasília. Vitt, L.J. 1996. Biodiversity of Amazonian lizards. Pp: 89-108. In A.C. Gibson.(ed.) Neotropical biodiversity and conservation. University of California, USA. Orientador: Marcelo Gordo Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 75 Defesa biótica induzida em Maieta poeppigii Cogn. (Melastomataceae), uma mimercófita da Amazônia Central Luciano F. A. Montag; Branca O. Medina; Dana M. Vianna; Jivanildo P. Miranda e Patricia Rodin Introdução A herbivoria diminui a área fotossinteticamente ativa e danifica os meristemas de crescimento, afetando a aptidão das plantas (Marquis, 1984). Desta forma, a pressão sobre as plantas exercida pelos herbívoros deve ter atuado como um fator de seleção para a evolução de características que dificultam ou impedem a herbivoria. As diferentes estratégias de defesa contra a herbivoria podem ser classificadas em químicas, físicas e bióticas (Begon et al., 1990). Um exemplo de defesa biótica é a interação mutualística entre plantas e formigas, conhecida como mirmecofitismo. Algumas espécies de plantas possuem cavidades (e.g., domáceas) que servem de abrigo para a construção de ninhos por formigas. Estes insetos, por sua vez, defendem seu abrigo contra o ataque de herbívoros, beneficiando a planta (Janzen, 1966). Dado que a percepção química é o sentido mais desenvolvido nas formigas (Hölldobler e Wilson, 1990), mutualistas que se abrigam nas domáceas podem perceber um dano ocorrido nas folhas através da emissão de voláteis, exudação de seiva e percepção mecânica (Agrawal, 1999). O mirmecofitismo é particularmente freqüente na família Melastomataceae, com cerca de 19% das espécies apresentando domáceas (Fonseca 1991). O gênero Maieta, por exemplo, é composto exclusivamente por espécies mirmecófitas (Vasconcelos, 1991). Em Maieta guianensis, já foi demonstrado que a remoção das formigas aumenta a herbivoria, diminuindo a aptidão da planta (Vasconcelos, 1991). No entanto, pouco se conhece sobre os fatores que induzem uma reação de defesa pelas formigas. Este estudo enfocou a interação formiga-planta existente entre Maieta poeppigii Cogn. e a formiga Pheidole minutula, que ocorre exclusivamente em domáceas (Vasconcelos, 1991). Neste sentido, as seguintes questões foram levantadas: (1) danos físicos nas folhas induzem uma reação de defesa pelas formigas? (2) a resposta das formigas é mediada quimicamente por compostos liberados pela planta? (3) as formigas respondem a estímulos químicos de outras espécies de plantas? Métodos O estudo foi realizado na reserva do Km 41 pertencente ao PDBFF/INPA, localizada a aproximadamente 70 km de Manaus. Os experimentos foram conduzidos ao longo de um igarapé, onde os indivíduos de Maieta poeppigii são mais abundantes (obs. pes.) Para examinar a resposta das formigas ao dano foliar causado por herbivoria foram realizados três experimentos. 76 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 Em cada experimento foram utilizados 10 indivíduos de M. poeppigii e, em cada indivíduo, foram selecionadas duas folhas (uma para controle e outra para tratamento). A seleção das folhas seguiu os seguintes critérios: a) estarem presentes em ramos apicais; b) apresentarem tamanhos similares; c) apresentarem danos similares; d) possuírem domáceas em perfeito estado. Para responder se danos físicos promovem uma resposta pelas formigas que habitam as domáceas, removemos aproximadamente 30% do ápice da folha com uma tesoura (tratamento) e, no controle, apenas prensamos o ápice da folha com uma pinça sem promover dano físico aos tecidos. Para testar se a resposta das formigas ao dano é induzida quimicamente, foi utilizado um extrato de M. poeppigii obtido do macerado de uma folha, diluído em 4 ml de água. Para o experimento, foram colocadas duas gotas desse extrato na folha tratamento e duas gotas de água na folha controle. O procedimento utilizado para verificar se as formigas respondem a estímulos químicos de outras espécies de plantas foi semelhante ao anterior. A diferença foi o uso de um extrato de uma folha de Marantaceae em lugar de uma folha M. poeppigii. Em cada planta, tanto na folha tratamento quanto na controle, registramos o número total de indivíduos (descriminando operárias e soldados) presente na lâmina adaxial após 10 min da produção do estímulo. Para examinar diferenças no número de indivíduos presente nas folhas em cada grupo experimental, foi utilizado o teste pareado de Wilcoxon (Zar, 1984). Resultados No primeiro experimento, o número de formigas presente nas folhas submetidas ao corte de 30% foi significativamente maior que nas folhas controle após 10 min (Z=1,0; n=10; p=0,01) (Figura 1a). No segundo experimento, as folhas que foram submetidas ao tratamento com extrato de M. poeppigii apresentaram um número significativamente maior de formigas que as folhas que receberam duas gotas de água (Z=6,5; n=10; p=0,03) (Figura 1b). O mesmo resultado foi encontrado no terceiro experimento, no qual foi utilizado como tratamento o extrato de Marantaceae (Z=1,0; n=10; p=0,02) (Figura 1c). Nos três experimentos, soldados foram encontrados em uma maior porcentagem de folhas tratamento do que de folhas controle, sendo que o número de soldados presente nos tratamentos foi, em geral, maior do que nos controles (Tabela 1). 40 35 No. de Formigas 30 A 25 20 15 10 5 0 Min-Max 25%-75% Median value -5 CONTROLE TRATAMENTO B direcionada para defesa) nos tratamentos também fortalece esta idéia. Adicionalmente, P. minutula demonstrou resposta à presença de compostos químicos (extrato de folha) de sua planta hospedeira, sugerindo que a detecção do dano ocorre, provavelmente, por via quimiossensorial. Um resultado semelhante foi encontrado em Maieta guianensis Aubl., que também está associada a P. minutula (Paré, 1998). A resposta de P. minutula, entretanto, não foi espécieespecífica conforme indicado pelo recrutamento de formigas na presença do extrato de uma monocotiledônea, grupo filogeneticamente distante das melastomatáceas. Desta forma, os compostos responsáveis por desencadear a resposta defensiva das formigas podem estar presentes em vários grupos de angiospermas. Em um experimento de remoção de formigas foi demonstrado que a ausência de P. minutula tem um forte impacto negativo sobre a aptidão de M. guianesis (Vasconcelos, 1991). O presente estudo fornece indicativos de que, em um sistema semelhante, a presença de P. minutula pode conferir vantagens defensivas contra o ataque de herbívoros em M. poeppigii. Agradecimentos Agradecemos ao Glauco Machado pela orientação, ajuda no campo e nas valiosas discussões e considerações, e ao Janael e à Gabi pela colaboração. Referências bibliográficas C Figura 1 – Número de formiga presente na lâmina adaxial de Maieta poeppigii nos experimentos de dano físico (a); extrato de Maieta (b) e extrato de Marantaceae (c). Tabela 1 – Porcentagem de folhas em cada grupo experimental com presença de soldados nos três experimentos. Entre parênteses é apresentado o número máximo de soldados observado sobre as folhas. Experimento Dano Físico Extrato de Maieta Extrato de Marantaceae Controle Tratamento 20% (1) 40% (11) 0 40% (2) 10% (4) 30% (2) Discussão Neste estudo ficou experimentalmente demonstrado que Pheidole minutula atua como defesa biótica induzida diante de um dano foliar simulado em Maieta poeppigii. A presença de um maior número de soldados (casta com função mais Agrawal, A. 1999. Leaf damage and associated cues induce aggressive ant recruitment in a neotropical antplant. Ecology 79(6): 2100-2112. Janzen, D. H. 1966. Coevolution of mutualisms between ants and Acacias in Central America. Evolution 20: 249-275. Fonseca, C. R. S. D. da 1991. Interação entre Tachigalia myrmecophila Ducke (Caesalpinaceae) e formigas associadas. Dissertação de Mestrado, Unicamp. Campinas, São Paulo. Hölldobler, B. e E. O.Wilson, 1990. The Ants. Harvard University Press, London. Marquis, R. J. 1984. Leaf herbivores decrease fitness of a tropical plant. Science 226: 537-539. Paré, K. B. 1998. Defensas inducidas en el sistema mirmecófilo Maieta guianensis Pheidole minutula. Ecologia da Floresta Amazônica. Curso de CampoINPA. 1998. Vasconcelos, H. L. 1991. Mutualism between Maieta guianensis Aubl., a myrmecophytic melastome, and one of its ant inhabitants: ant protection against insect herbivores. Oecologia 87: 297-298. Zar, J. H. 1984. Biostatistical Analysis. Prentice Hall, New Jersey. Orientador: Glauco Machado Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 77 Padrões de formação de galhas de insetos em Vismia cayennensis (Clusiaceae) na reserva do Km 41, Amazônia Central Christiane Erondina Corrêa Introdução Galhas são modificações anatômicas das plantas causadas por diversos organismos, entre eles os principais são os fungos e os insetos (Arduin & Kraus, 2001; Espírito-Santo & Fernandes, 2002; Fernandes et al., 2002). Os agentes galhadores alteram os processos fisiológicos da planta causando perturbações ao hospedeiro, como a formação de tumores (Lara & Fernandes, 1994; Espírito-Santo & Fernandes, 2002). Galhas de insetos apresentam maior desenvolvimento e complexidade quando comparadas com qualquer outro tipo de galha (Price et al., 1987). Em geral, as perturbações causadas pelas larvas dos insetos galhadores são maiores quando comparadas aos danos causados por outros herbívoros (Lara & Fernandes, 1994; Espírito-Santo & Fernandes, 2002). Para diminuir os danos provocados pelo ataque dos insetos, plantas desenvolveram mecanismos de defesa que, em contrapartida, são respondidos pelos insetos com estratégias que visam barrar ou minimizar o efeito destes mecanismos (Espírito-Santo & Fernandes 2002; Melo & Silva-Filho, 2002). Nesse sentido, os insetos galhadores são altamente susceptíveis às respostas defensivas das plantas por serem sedentários e isso pode afetar as taxas de sobrevivência do inseto galhador (Price et al., 1987). Por isso, insetos galhadores investem muito tempo e energia na escolha do sítio de oviposição (Lara & Fernandes, 1994). Espera-se que exista então, uma variação na distribuição das galhas nos hospedeiros pela seleção diferencial dos sítios de oviposição pelas fêmeas (Lara & Fernandes, 1994). Além dessa variação, o local onde há maior translocação da seiva tem a preferência do galhador, representando um local ótimo para formação de galha (Whitham, 1978). Fatores como complexidade estrutural da planta e disponibilidade de recurso são importantes no momento da escolha dos sítios de oviposição (Vrcibradic et al., 2000). Estes locais podem ser partes das plantas, como folhas jovens, que apresentam alta concentração de recursos em comparação às folhas mais antigas. Além disso, folhas antigas apresentam maiores chances de sofrerem abscisão. Em oposição a esta hipótese, existe a idéia de que seria vantajoso ovipor em folhas mais antigas porque estas permitiriam uma distribuição espacial maior dos ovos do herbívoro, diminuindo assim o risco de predação (Vrcibradic et al., 2000). A espécie estudada foi Vismia cayennensis (Clusiaceae), uma espécie comum nas áreas de capoeira e que ocorre do 78 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 norte da América do Sul até o nordeste brasileiro (Ribeiro et al., 1999). Esta é uma espécie comum na região e apresenta galhas de inseto. O objetivo deste trabalho foi responder às seguintes questões: (1) qual a influência da idade na freqüência de ocorrência de galhas?; (2) o grau de infestação de galhas difere entre folhas novas e velhas?; (3) a freqüência de ocorrência de galhas difere entre o ápice e a base da folha?; (4) a sobrevivência das galhas é maior em folhas novas ou velhas? (5) a hipersensitividade varia em função da idade da folha? Métodos O estudo foi desenvolvido na reserva do Km 41 (02o 24’ S, 59o 52’ W), pertencente ao projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais INPA/Smithsonian, situada a 80 Km ao Norte de Manaus. Foi percorrido um trecho de 700 m na estrada ZF-3, onde todos os indivíduos da espécie de V. cayennensis que apresentavam galhas foram amostrados. De cada indivíduo coletou-se dois ramos com presença de galhas e destes foram separadas as folhas novas (consideradas como tal folhas até o terceiro nó a partir do ápice do ramo) das folhas velhas. O número de ramos foi estabelecido pelo fato de que em todos os casos as plantas apresentavam apenas dois ramos onde as folhas estavam com galhas. De cada amostra foi anotada a quantidade de folhas com galhas, a posição das galhas na folha (base = metade proximal e ápice = metade distal) e o número de galhas vivas. Além disso, foi anotada a freqüência de ocorrência de hipersensitividade na folha. O termo hipersensitividade foi usado por Fernandes (1990) como reação de defesa da planta contra infestação por patógenos que provoca necrose do tecido adjacente ao atacado pelo galhador. Para medir isto, toda a herbivoria na folha com formato arredondado e que remetesse a presença anterior de uma galha foi considerado como hipersensitividade. Para testar se a quantidade de galhas por folha era diferente em relação à idade foi feito teste t pareado, usando o número médio de galhas para folhas novas e velhas das 18 plantas coletadas com o programa SYSTAT 9.0 (Wilkinson, 1998). Para testar as diferenças na presença, posicionamento e sobrevivência das galhas foi utilizado o teste de quiquadrado de contingência com correção de Yates para um grau de liberdade (Vieira, 1991), sendo que cada folha foi considerada uma amostra. Resultados Foram amostradas 18 plantas, das quais foram obtidas 868 folhas, sendo 445 novas e 423 velhas (Tabela 1). O inseto galhador era um Diptera que induz uma galha de forma globular, que não apresenta pêlos e esta posicionada na porção abaxial da folha. A cor do tumor é um gradiente do vermelho ao verde, da parte exposta da galha até o limbo foliar. Folhas novas apresentaram uma maior freqüência de galhas (Tabela 2). Entretanto, o número de galhas por folha não apresentou relação com a idade da folha (Tabela 2). A freqüência de ocorrência de galhas não diferiu quanto à posição na folha, sendo que 63,3% das galhas ocorreram na base e 36,7% no ápice (c2=1,282; g.l.= 1; p> 0,05). Maior freqüência de galhas vivas foi verificada em folhas novas (Tabela 2). A hipersensitividade foi encontrada em 401 folhas, entretanto a frequência desse tipo de defesa da planta não foi diferente em relação à idade das folhas (Tabela 2). Tabela 1. Número de folhas com galhas e quantidade total de galhas, por planta, em uma floresta de terra firma da Amazônia Central Número de Planta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 Total Frequência de galhas Número de galhas/folha folhas Novas Velhas 61 5 2 7 3 62 6 0 13 0 76 12 3 34 12 81 7 11 13 36 35 4 2 9 12 39 6 2 16 3 69 32 3 14 13 74 5 2 8 7 27 2 5 17 33 42 4 0 11 0 45 0 3 0 21 37 0 3 0 10 70 2 2 3 4 26 0 4 0 4 27 2 2 13 14 21 1 3 1 4 27 3 1 6 1 49 2 5 10 22 868 93 53 175 199 Novas Velhas Tabela 2. Resultados das análises estatísticas relacionando os padrões de formação de galhas com a idade das folhas de V. cayennensis em uma floresta de terra firme da Amazônia Central. Folhas % de ocorrência de Novas Velhas Estatística 10,71 6,11 χ2= 10,86; g.l.= 1; p< 0,05 31,69 19,01 χ2= 5,48; g.l.= 1; p< 0,05 0,420 ± 0,361 0,553 ± 0,661 t= 0,927; g.l.= 17; p= 0,37 23,16 23,04 galhas % de galhas vivas Média de galhas/folha (± DP) % de χ2= 0,391; g.l.= 1; p> 0,05 hipersensitividade Discussão Alguns autores afirmam que herbívoros sedentários, como insetos galhadores, apresentam certa preferência por tecidos jovens como locais de oviposição e de forrageio da larva (Price et al., 1987; Akimoto & Yamaguchi, 1984). O padrão de formação de galha do díptero nos indivíduos de V. cayennensis mostrou que a idade da folha é importante na escolha do sítio de oviposição. Dado que as larvas dos galhadores são sedentárias e se alimentam de tecidos do entorno do lúmen da galha (ver Price et al. 1987), é importante que a fêmea escolha um sítio com disponibilidade de recursos para suas larvas terminarem o ciclo de vida. Aparentemente, folhas novas de V. cayennensis são recursos importantes para o desenvolvimento de galhadores. De fato, a frequência de galhas vivas foi maior em folhas novas. Outros fatores que podem influenciar a escolha da planta hospedeira são a complexidade estrutural, a idade, a fenologia, a presença de mecanismos de defesa como escleromorfismo, pilosidade, compostos secundários, além da hipersensitividade do hospedeiro (Fernandes, 1990; Lara & Fernandes, 1994). Para o díptero estudado, mais importante que a posição na folha, seria o recurso que está sendo disponibilizado por ela. A folha como um todo seria um recurso em potencial para a oviposição, sem categorização de ápice e base. Portanto, a escolha está mais relacionada ao recurso que estará sendo disponibilizado para a larva do que com o local na folha onde se localiza a larva. Não houve diferença no número de galhas por folha. A galha pode permanecer por um certo tempo na folha, mesmo que vazia. Portanto as folhas velhas podem estar mantendo marcas das galhas que foram induzidas quando estas folhas eram novas. Isso explica a semelhança na freqüência de galhas por folhas com relação à idade. Além disso, outros fatores podem estar determinando as densidades populacionais das galhas nas plantas como, por exemplo, a qualidade do hospedeiro, defesas e resistência das plantas, inimigos naturais dos galhadores e variações ambientais (Gonçalves-Alvim et al., 2001). A reação de hipersensitividade nas folhas de V. cayennensis não foi diferente para folhas novas e velhas. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 79 Esta defesa da planta hospedeira provoca alterações morfológicas e histológicas e, quando estimulada por um parasita, induz necrose do tecido adjacente onde o parasita está localizado. Este mecanismo de defesa é controlado geneticamente (Fernandes, 1990; Fernandes et al., 2000; Fernandes & Negreiro, 2001), portanto, esta é uma reação que é independente da idade da folha. É preciso apenas a indução do parasita para que a reação de defesa seja desencadeada. Isto justifica a ausência de relação entre a idade e a presença de indicadores da reação de hipersensitividade. Agradecimentos Agradeço ao Eduardo Venticinque, Jansen Zuanon, Angela Midori e Erich Fischer pelas sugestões ao trabalho. Um agradecimento especial para Glauco Machado pela paciência e auxílio durante todo o trabalho, para Maura Pezzato pela companhia no campo e Rita Portela pelos comentários. Muito obrigada às pessoas que passaram o mês inteiro comigo com muito bom humor e amizade: Amanda Mortati, Ju Stropp, Ju Souza, Rita, Patricia, Branca, Ricardo, Favy, Mari, Jiva, Lene, Márcio, Fresnel, Miúdo, Gabi, Sandro, Dana, Flávio, Janael, Juruna, Jorjão, Eduarda. E também às pessoas que ficaram em Campo Grande, Mato Grosso do SUL, esperando as novidades. Valeu! Referências Akimoto, S. & Yamaguchi, Y. 1994. Phenotypic selection on the process of gall formation of a Tetraneura aphid (Pemphigidae). Journal of Animal Ecology 63:727738. Arduin, M. & Kraus, J. E. 2001. Anatomia de galhas de ambrosia em folhas de Baccharis concinna e Baccharis dracunculifolia (Asteraceae). Revista Brasileira de Botânica 24:63-72 São Paulo, mar. Espírito Santo, M. M. & Fernandes, G. W. 2002 Host plant effects on the development and survivorship of the galling insect Neopelma baccharidis (Homoptera: Psyllidae). Austral Ecology 27:249-257. Fernandes, G. W. 1990. Hipersensitivity: A neglected plant resistance mechanism against insect herbivores. Entomological Society of America 19:1173-1182. Fernandes, G. W.; Araújo, R. C.; Araújo, S. C.; Lombardi, J. A; Paula, A. S.; Loyola Jr., R. & Cornelissen, T. G. 2002. Insect galls from savanna and rocky fields of Jequitinhonha Valley, Minas Gerais, Brazil. Naturalia 80 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 26:39-49. Fernandes, G.W; Cornelissen, T. G.; Isaias, R. M. S. & Lara, T. A. F. 2000. Plants fight gall formation Hypersensitivity. Ciência e Cultura 52:49-53. Fernandes, G. W. & Negreiros, D. 2001. The occurrence and effectiveness of hypersensitive reaction against galling herbivores across host taxa. Ecological Entolomogy 26:46-55. Gonçalves-Alvim, S. J.; Santos, M. C. F. V & Fernandes, G. W. 2001. Leaf gall abundance on Avicennia germinans (Avicenniaceae) along an Interstitial Salinity Gradient. Biotropica 33:69-77. Lara, A. C. F. & Fernandes, G. W. 1994. Distribuição de galhas de Neopelma baccharidis (Homoptera: Psyllidae) em Baccharis dracunculifolia (Asteraceae). Revista Brasileira de Biologia 54:661-668. Mello, M. O. & Silva-Filho, M. C. 2002. 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En La Selva, Costa Rica, se encontró que el 75% de las especies arbóreas dependen de clareras para germinación y crecimiento antes y después de la fase de plántula (Hartshorn 1978 apud Abiola Rose 2000). Las semillas de muchas especies pioneras, germinan sólo dentro de áreas de abertura del dosel arbóreo, requiriendo de condiciones ambientales típicas de clareras de un tamaño mínimo para germinar (Abiola Rose 2000). Las clareras crean variación temporal y espacial en el medio ambiente del sotobosque, con respuestas variadas de las especies a estos estímulos (Yavitt et al,.1995). Según Almeida (1989,) las especies responden a microclimas y éstos a su vez se encuentran relacionados com la forma, orientación y topografía de la clarera. El tamaño y edad de la clarera estarían relacionadas al suceso regenerativo de especies pioneras, sin embargo, poco se conoce al respecto y las opiniones sobre el tema son divergentes. El objetivo de este estudio es evaluar si existe alguna relación entre el tamaño y edad de la clarera con la abundancia y riqueza de especies pioneras en clareras de formación natural. Métodos El presente estudio fue realizado en la Reserva del km 41 (20 24’S, 590 52’W) del Proyecto Dinámica Biológica de Fragmentos Forestales (INPA/ Smithsonian Institution), localizada a 80 km al norte de Manaus, Amazonas, Brasil. Se realizó la evaluación en cinco transectos de 1000 m de largo separadas entre ellos por 100 m. Fueron evaluadas 33 clareras ubicadas a ambos lados de los transectos, en las cuales se contaron todos los individuos, de altura mayor a 1m, pertenecientes a 10 especies pioneras: Cecropia sciadophylla, C. purpurescens, Miconia phanerostila, Miconia sp., Vismia macrophylla, V. japurensis, Vismia sp., Pourouma sp1, Pourouma sp2, Rinorea racemosa. Las especies fueron escogidas teniendo en consideracion su frecuencia en campo. Se evaluaron características de las clareras, como rango de edad y tamaño. La edad fue clasificada en joven, intermedio y vieja, tomando en consideración los siguientes parámetros: estructura de la vegetación, altura de la regeneración natural y grado de descomposición de los árboles caídos. El tamaño fue estimado midiendo dos diámetros perpendiculares a lo largo y ancho para luego estimar el área, a través del área del elipsoide. El análisis estadístico se realizó com el programa Systat 8.0. Se utilizó ANCOVA para analizar la relación entre tamaño y edad de clareras con riqueza y abundancia de pioneras. También fue utilizada ANCOVA para analizar la relación entre abundancia con. tamaño y edad para cuatro de las diez especies estudiadas. Resultados El tamaño de las clareras en estudio varió de 54,98 m2 a 1074,27 m2, con una media de 314,58 m2 (DE= 214,68). Al evaluar la edad de las clareras, siete de ellas fueron clasificadas como jóvenes, nueve como intermedias y 17 como viejas. De las 33 clareras evaluadas, en 20 se encontró al menos un individuo de las especies estudiadas. Las tres especies más abundantes fueron Miconia phanerostila, Rinorea racemosa, Pourouma sp.1. y Miconia sp. (Tabla 1). En cuanto a distribución, las especies con mayor distribución en las 20 clareras en las cuales se encontró al menos un individuo, fueron Miconia phanerostila (80%), seguida de Pourouma sp1 (60%) (Tabla 1). Tabla 1: Número de individuos y porcentaje de ocurrencia (abundancia) de las diez especies de pioneras en 20 clareras Especie Miconia phanerostila Rinorea racemosa Pourouma sp1 Miconia sp. Vismia macrophylla Cecropia sciadophylla Cecropia purpurescens Vismia japurensis Pourouma sp2 Vismia sp. Número de individuos 70 30 25 22 20 % ocurrencia 80 30 60 30 20 14 25 13 11 7 3 25 20 10 10 El tamaño de la clarera y la edad no estuvieron relacionados con la abundancia (F(1) =0,176 ,P=0,681; F(1) =0.848, P=0,371); ni con la riqueza de especies (F(1) =0,743, P=0,401; F(1) = 2,232 , P=0,155). El mismo análisis fue realizado para algunas de las especies estudiadas: Miconia phanerostila, Pourouma sp.1, Vismia macrophylla y Cecropia sciadophylla. Para ninguna de las especies se encontró Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 81 relación entre abundancia con tamaño o edad de la clarera. Discusión La falta de relación significativa entre tamaño de clarera y abundancia y establecimiento de pioneras es corroborada por algunos estudios (e.g. Benitez-Malvido 1995). Sin embargo, otros estudios señalan que si existe relación significativa entre estos dos factores (Almeyda 1989). Al parecer, otros factores además de la edad y el tamaño de las clareras estarían determinando el establecimiento de las pioneras. Ramos (1991) apud Benitez-Malvido (1995), encontró que la composición de especies en las clareras tiene relación con la identidad de los árboles vecinos. Modificaciones del suelo, provocadas por la caída de árboles con raíces superficiales, también estarían favoreciendo la regeneración de pioneras (Benitez-Malvido 1995). Por tanto, mis resultados indican que otros factores diferentes del tamaño y la edad de la clarera estarían determinando la abundancia y riqueza de especies pioneras. Riswan & Kartawinata (1991) apud Benitez-Malvido (1995), encontraron que la composición de especies en un área disturbada se encuentra en relación con el tipo de alteración (caída de árboles, corta o quema), la vegetación del sotobosque luego de la alteración, sobrevivencia del banco de semillas en el suelo forestal y las especies inmigrantes (lluvia de semillas) que acontecen luego de la alteración. Es importante señalar que en ninguna de las clareras evaluadas se encontró dominancia en el dosel en términos de abundancia de alguna de las especies de pioneras, lo cual podría estar relacionado al tipo de alteración en la zona en estudio. Al parecer, especies pioneras como Cecropia sp. y Vismia sp. estarían respondiendo a alteraciones drásticas en el paisaje. Paustein (2003) encontró que en áreas deforestadas y posteriormente quemadas de 2 a 9 veces, la especie Vismia sp. era dominante, en cuanto que Cecropia se encontró en áreas sin grandes alteraciones en la intensidad de uso. Agradecimientos Muchos agradecimientos a Marcelo Paustein Moreira por su constante ayuda y sugerencias; a Ocirio de Souza Pereira 82 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 (Juruna) por su apoyo en el trabajo de campo y su calidez durante todo el curso de campo y a Selvino Neckel y Wilson S. Pironello por su paciencia con los análisis estadísticos y buen humor. Referencias Abiola, S. 2000. Seeds, seedlings and gaps, size matters. Tropenbos- Guyana Series 9. Almeida, S.1989. Clareiras Naturais na Amazonia Central: Abundancia, Distribução, Estrutura e Aspectos da Colonização Vegetal. Tese INPA/UFAM. Benitez-Malvido, J. 1995. The Ecology of Seedlings in Central Amazonian Forest Fragments. Doctoral Dissertation, University of Cambridge. Brandani, A.; Hartshorn,G. & Orians, G. H. 1988. Internal heterogeneity of gaps and species richness in Costa Rican tropical wet forest. Journal of tropical Ecology 4:99-119. Paustein, M. 2003. 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A utilização de óleo essencial de frutos maduros de Piper hispidum Swartz (Piperaceae) para atração e captura de morcegos filostomídeos (Chiroptera: Phyllostomidae) Fabiana Rocha-Mendes Introdução A região Neotropical destaca-se por possuir uma das mais ricas faunas de quirópteros do mundo (Patterson e Pascual, 1972; Humphrey e Bonaccorso, 1979). De notável importância numérica e ecológica, os morcegos chegam a representar, em algumas regiões como a Costa Rica, 52% das espécies de mamíferos conhecidos (Robinson, 1971). No Brasil este grupo representa aproximadamente um terço dos mamíferos não aquáticos, com aproximadamente 147 espécies e nove famílias (Aguiar e Taddei, 1995; Fonseca et al., 1996; Pedro, 1998). A grande diversidade de morcegos nos neotrópicos pode estar relacionada à maneira eficiente com que partilham a variedade de recursos disponíveis, em especial os alimentos (Tamsitt, 1967; Trajano, 1984; Muller e Reis, 1992). Os morcegos contribuem eficientemente à dinâmica dos ecossistemas naturais, agindo como predadores de insetos, polinizadores e dispersores de sementes (van der Pijl, 1957; Goodwin e Greenhall, 1961; Vogel, 1969; Marinho-Filho e Sazima, 1998). Os representantes da família Phyllostomidae, congregam um elevado número de espécies, aproximadamente 140 (Koopman, 1993). Os filostomídeos apresentam uma grande variedade de formas e funções ecológicas (Fleming, 1988) diretamente relacionadas ao caráter especializado da dieta das diferentes espécies (Findley, 1993). Muitas espécies da família alimentam-se de frutos (Carvalho, 1961), tornandose um grupo de especial interesse, uma vez que podem percorrer grandes distâncias em suas atividades de forrageio, defecando enquanto voam e eliminando nas fezes sementes desses frutos. Portanto, podem ser considerados elementos importantes no processo de sucessão vegetal, atuando eficientemente na recuperação de regiões desmatadas e de clareiras naturais (van der Pijl, 1957; Sazima e Sazima, 1978; Fleming, 1988; Emmons, 1997). Com o objetivo de testar a atração de morcegos frugívoros por óleos essenciais de frutos considerados quiropterocóricos, foi fundado no ano de 1999 um grupo de pesquisa junto ao Departamento de Química da Universidade Federal do Paraná. Teixeira et al. (2001) e Mikich et al. (2003) testaram o óleo essencial de Piper gaudichaudianum em um remanescente da Floresta Estacional Semidecidual do Estado do Paraná e obtiveram resultados positivos na atração de Carollia perspicillata e Sturnira lilium, considerados importantes consumidores de frutos de Piperaceae na região de estudo (Mikich, 2002). A utilização óleos essenciais pode servir como importante ferramenta para atração de morcegos frugívoros para áreas degradadas, onde irão defecar sementes acelerando e incrementando sua recuperação natural. O presente estudo tem como objetivo testar a capacidade de atração de morcegos filostomídeos utilizando óleo essencial de Piper hispidum, em uma área de floresta de terra firme da Amazônia Central, como forma de verificar o alcance das conclusões e generalidades dos resultados obtidos em outros sistemas florestais. Métodos O estudo foi realizado na Reserva 1501, conhecida como reserva do km 41 (2º 24’ S, 59º 52’ W), do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (INPA – Smithsonian Institution), localizada na estrada vicinal ZF – 3, rodovia BR 174, a 80 km de Manaus. A área caracteriza-se por uma formação vegetal de floresta de terra firme, com dossel médio de 35 m e sub-bosque dominado por palmeiras (Pires e Prance, 1985). A pluviosidade média anual na região é de 2200 mm e a temperatura média anual é de 26,7 oC (RADAMBRASIL, 1978 apud Lovejoy e Bierregaard, 1990). Para testar a eficiência do óleo essencial de frutos maduros de Piper hispidum na atração dos morcegos frugívoros, foram realizadas quatro noites de captura, de 28 de julho a 01 de agosto. Foram utilizadas dez redes-de-neblina com tamanho 12 x 2,5 m, sendo cinco redes com malha de 38 mm e cinco com malha de 60 mm, instaladas em um trecho de estrada abandonado. As redes foram dispostas em cinco pares alternados nos lados da estrada, distantes 20 m. Cada par continha uma rede com fruto-falso embebido em óleo bessencial e outro um fruto-falso sem o óleo (Figura 1). Para aleatorizar qual rede-de-neblina receberia o fruto com óleo foi realizado sorteio. Figura 1 – Modelo parcial da disposição das redes-de-neblina e os frutos com e sem óleo essencial de Piper hispidum. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 83 Os frutos falsos, com aspecto semelhante aos frutos de Piper hispidum, confeccionados com blocos de espuma de floricultura, foram fixados com fios de cobre no ponto médio de altura e do comprimento de cada rede. O óleo essencial, foi fornecido pelo Departamento de Química da Universidade Federal do Paraná. As redes permaneceram abertas por um período de 6 h por noite a partir do crepúsculo vespertino, com exceção de uma noite em que as redes foram fechadas antes devido à chuva. Ao final do trabalho, o esforço amostral total (E) foi de 6300 m2.h. (cf. Straube e Bianconi, 2002). As revisões das redes foram realizadas a cada 30 min. Os dados de freqüência de captura por tipo de rede (com ou sem óleo essencial) foram analisados através do teste Chi-quadrado. Resultados Foram capturados 27 morcegos, dos quais 26 foram filostomídeos, distribuídos nos seguintes taxa: Carollia spp. (N=7), Rhinophylla pumilio (N=5), Artibeus spp. (N=11), Tonatia silvicola (N=1), Phylloderna stenops (N=1) e Mimon crenulatum (N=1), e um representante da família Mormoopidae, Pteronotus parnellii. Somente os exemplares de Artibeus spp., Carollia spp., Rhinophylla pumilio e Tonatia silvicola foram analisados, devido a utilização de frutos do gênero Piper em sua dieta. Destes, 14 foram capturados em rede-de-neblina que continham frutos embebidos em óleo essencial de Piper hispidum e 10 em redes que não continham o óleo (Tabela 1). Não houve diferença nas capturas entre as redes com ou sem óleo essencial (X2= 0,67, gl= 1, p= 0.41). Tabela 1 – Número de indivíduos de quadro gêneros de morcegos capturados em redes com e sem óleo essencial de Piper hispidum. Redes com óleo Redes sem óleo Total Artibeus spp. 7 4 11 Carollia spp. 5 2 7 Rhinophylla pumilio 2 3 5 Tonatia silvícola 0 1 1 14 10 24 Espécies do óleo deste fruto na atração de morcegos frugívoros. Embora os resultado apresentados neste trabalho também indique que morcegos do gênero Carollia são mais capturados em redes que apresentam óleo essencial, a baixa taxa de captura impede a confirmação de um padrão. A ausência de diferenças nas capturas de morcegos frugívoros, nas redes com óleo, pode ser resultado dos seguintes fatores: (1) no período do estudo havia um excesso de recurso na área, tornando o óleo pouco eficiente na atração dos morcegos; (2) os componentes químicos encontrados no óleo essencial da população de P. hispidum da área de estudo não são semelhantes aos encontrados no óleo utilizada este trabalho, uma vez que o óleo essencial foi preparado com frutos de uma população do centro-oeste paranaense; (3) as baixas taxas de captura impediram a detecção de padrões. Bernard (1997), trabalhando em sub-bosque nesta e em outra reserva da região de Manaus conseguiu uma taxa de captura de 0,23 morcego/hora.rede, neste trabalho a taxa de captura foi de apenas 0,1 morcegos/hora.rede. Um maior esforço de campo e coletas em diferentes épocas do ano seriam necessários para avaliar a eficiência do óleo essencial de P. hispidum na atração de morcegos frugívoros nesta região da Amazônia. Agradecimento Agradeço ao Gledson Vigiano Bianconi pelo todo incentivo e ajuda na elaboração deste projeto e pelo material bibliográfico, à Sandra Bos Mikich pelo apoio e disponibilização do material, ao Wagner André Pedro pelas sugestões no projeto, Arthur A. Bispo pelo empréstimo das redes e ao grupo de pesquisa do Departamento de Química da Universidade Federal do Paraná por me possibilitarem a realização deste trabalho. Agradeço também à todos meus ajudantes de campo, diretos e indiretos, intensivos e esporádicos: Janael Ricetti, Luciano Montag (Miúdo), Dana Vianna, Juliana Souza, Sandro von Matter (diretamente do mundo de Sandro), Mariana Faria-Corrêa e Christiane E. Corrêa. Ao Jivanildo Miranda (Jiva) pela fundamental ajuda no X2, ao Jansen Zuanon, Glauco Machado e Selvino NeckelOliveira pelas sugestões e ao INPA e PDBFF pela oportunidade de realizar este trabalho. Total Referências bibliográficas Discussão Alguns autores têm indicado o olfato como o principal sentido utilizado por Carollia perspicillata para localização de frutos maduros (Laska e Schimidt, 1986; Fleming, 1988). Baseando-se nessa informção era esperado que as redes que apresentavam óleo de P. hispidum capturassem significativamente, mais morcegos que consomem este tipo de alimento. Em experimento semelhante ao aqui realizado, realizado no Estado do Paraná, morcegos da espécie Carollia perspicillata foram capturados em número significativamente maior em redes que continham óleo essencial de Piper gaudichaudianum, indicando eficiência 84 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 Aguiar, L. M. S. & V. A. Taddei. 1995. Workshop sobre conservação dos morcegos brasileiros. Chiroptera Neotropical, 1:24-29. Bernard, E. 1997. Estratificação de comunidades de morcegos em clareiras abertas em matas de terra-firme da Amazônia Central. Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas). Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA. Carvalho, C. T. 1961. Sobre los hábitos alimentares de phillostómideos. Rev. Biol. Trop. 9: 53-60. Emmons, L. H. 1997. Neotropical Rainforest Mammals – A Field Guide. 2 ed. The University of Chicago Press. Chicago. 307 p. Findley, J. S. 1993. Bats: a communication in bats. Bloomington: University of Indiana Press. Indiana. Fleming, T. 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Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 85 Actividad y uso de microhabitas en Ameiva ameiva (Sauria: Teiidae) en claro de bosque de la Amazonía central Fresnel Gustavo Diaz Araujo Introducción Conocer los patrones de actividad y el uso del espacio es de gran importancia para el entendimiento de la historia natural de las especies (Peterson & Wilkinson 1996). Estos patrones de actividad, en el caso de los reptiles, están relacionados principalmente a sus necesidades de termoregular. Como es sabido, los reptiles son animales ectotérmicos y por lo tanto sus temperaturas corporales no derivan de procesos metabólicos sino del medio ambiente, exhibiendo una serie de adaptaciones anatómicas, fisiológicas y de comportamiento, para mantener una temperatura adecuada y actividad física (Bruce 1986; Bruce 1986; Schiesari 1994). El patrón de actividad es regulado por el balance entre la energía absorbida del ambiente y liberada durante actividades relacionadas a termo-rregulación (Scott & Limerich 1983). Este balance depende del tamaño del animal: individuos mayores necesitan de mas tiempo para calentarse y pierden menos calor debido a la mayor relación superficie/volumen (Scott & Limerich 1983). La dependencia de estos animales relación a la temperatura del medio, hace posible inferir algunos aspectos de su actividad diaria con cambios de temperatura en el campo (Huey & Webster 1976; Magnusson 1993). Magnusson y colaboradores (1985) observaron la inactividad en pequeños lagartos de la familia teiidae adoptando posiciones corporales que favorecen la absorción de la energia solar en las primeras horas del día. Los lagartos de la amazonia se caracterizan por estar asociados a largos períodos de exposición en áreas abiertas. Esta exposición así como el desplazamiento a estas áreas aumentan el riesgo de depredación (Huey & Webster 1976), pues en áreas abiertas están expuestos a depredadores potenciales. Estas restricciones dan como resultado diferentes estrategias de termo-regulación, en la cual el animal realiza el menos esfuerzo en mantener constante su temperatura corporal, ampliando el rango de temperatura a la cual es activo (Huey 1974). La especie Ameiva ameiva es una lagartija de la familia Teiidae, de tamaño medio y amplia distribución en la América del Sur. En el bosque amazónico está generalmente asociada a espacios abiertos (Martins 1991; Schiesari 1994) y puede ser clasificada como una forrajeadora activa, con un gran número de desplazamientos en su comportamiento diario (Magnuson et al. 1985). Estas características de A. ameiva permiten realizar investigaciones acerca de su comportamiento. El objetivo de este estudio es determinar 86 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 si la actividad diaria de A. ameiva en diferentes microhábitats está influenciada por las fluctuaciones de temperatura y humedad relativa. Métodos El presente estudio fue desarrollado en una clarera de selva amazónica de tierra firme en la reserva del Km 41. Esta reserva es parte del Proyecto Dinámica Biologica de Fragmentos Forestales/INPA/Smithsonian, localizado a 80 Km al noreste de Manaus, Amazonas (Oliveira 1997). La clarera tiene un área de 1813 m2 practicamente libre de vegetación , los bordes se caracterizan por la presencia de arboles, un estrato menor conformado por arbustos y una vegetación una vegetación herbácea en suelo arenoso. El metodo seguido es una adaptación de los metodos de Bruce (1986) y Heyer y colaboradores (1994) consiste en la localización y seguimiento de uno o varios individuos proximos en intervalos de 20 min, registrando su ubicación en áreas de sombra y sol (incluye arbustos, troncos, hojarasca y arena). Las actividades consideradas fueron: forrajeo y termo-regulación. Cada 20 min se registro el número total de individuos en sol y sombra, la temperatura y humedad relativa a nivel del suelo en sol y sombra con esta finalidad se utilizó un termómetro ambiental y un higrometro marca Brooklyn. Se realizaron regresiones entre las medias de temperatura y humedad relativa del suelo con el número de observaciones de animales. Posterior se calculó los porcentajes de cada parámetro de actividad relacionados con el número de individuos Los analisis estadísticos fueron realizados en el programa SYSTAT (Wilkinson 1988). Resultados La actividad de los lagartos muestra fluctuaciones (Figura 1) durante un periodo de 9 a 16 h, encontramos dos maximos de actividad entre las 11 h y 14:20 h de los animales en el sol, una dismnuciõn de la misma a las 12 h, por el contrario al disminuir los animales en el sol aumentaban en la sombra. Estas fluctuaciones de animales en sol y sombra estan estrechamente relacionadas con los aumentos de temperatura. Se realizaron 245 observaciones de A. ameiva en un periodo de 510 min. El periodo de actividad fue entre las 9:00 y 16:00 h, variando mucho entre los días debido a que las condiciones ambientales no fueron constantes, presentándose dos días de lluvia que limitaron el número de observaciones y no se incluyeron en los analisis. 16 Média en sol Média en sombra Média de observaciones 14 12 10 8 6 4 2 16 :4 0 16 :0 0 14 :4 0 15 :2 0 14 :0 0 13 :2 0 12 :4 0 12 :0 0 11 :2 0 10 :4 0 10 :0 0 09 :2 0 08 :4 0 08 :0 0 0 Horas del día Las figuras 2 y 3 muestra que en temperaturas menores de 22 0C y humedad relativa menores a 55% no se registraron individuos, por el contrario en los rangos de 23-32 0C y humedad relativa 58-80% se observa un incremento de la presencia de los individuos, valores mayores a ese rango no se registro la presencia de los animales mostrando que la actividad y el uso del espacio de este lagarto está condicionado o limitado. Figura 3. Relación entre la media del numero de observaciones y la humedad relativa del suelo. Termorregulando 50 Forrageando 45 40 Porcetaje de observaciones Figura 1. Relación entre la media de observaciones ocurridas en las diferentes horas del día para animales en sol y sombra. 35 30 25 20 15 10 5 0 Cobertura vegetal Arena Sol Sombra Figura 4. Relación porcentual de observaciones en el sustrato (cobertura vegetal) y en áreas con y sin iluminación. Figura 2. Relación entre la media del numero de observaciones y la tempertura del suelo. No existe una relación significativa entre la temperatura y el número de observaciones durante el día (actividad de los animales) (P=0,325; F=1,007; R2= 0,037;. Fig 2). Por el contrario, se encontró una relación significativa entre la humedad relativa (P=0,0013; F=7,128; R2= 0,215. Fig 3). Se muestra en la figura 4 que la mayor actividad de forrajeo de los individuos la realizan en la sombra bajo la protección de la cobertura vegetal y la termo-regulación bajo el sol o la sombra pero mayormente en la arena bajo el sol. Discusión Los valores de temperatura y humedad que muestra la mayor actividad de A. ameiva donde puede desarrollar multiples actividades los puede encontrar en un sistema con condiciones especificas. El subsistema suelo–hojarasca, arbustos y troncos caídos provee regímenes adecuados de humedad para el desarrollo de reptiles, que puede variar en 65-80 %ademas provee superficie y espacios subterráneos frescos. Este hábitat con temperaturas ambientales moderadas en torno de 25 0C en regiones secas y calientes provee un sustrato para alimentación, refugio y reproducción. (Manzanilla & Péfaur, 2002), por ejemplo se encontró que la mayor actividad de pequeños lagartos del genero Anolis es desarrollada en pastizales a temperatura entre los 22-30 0 C que ofrecen un sustrato en la regulación de su temperatura (Ballinger et al. 1970; Bennett et al. 1976). La presencia en estos sistemas suelo-hojarasca caracteriza a A. ameiva lugares donde invierten el mayor tiempo de forrajeo evitando sobrecalentarse o perder calor y realizando así diferentes actividades este tipo de ambiente ofrecen diversos recursos alimentarios a la fauna asociada (Magnusson et al 1985). Estos lugares podriamos considerarlos los como micro-habitat adecuados para desarrollar sus actividades con temperatura y humedad relativa adecuadas Las variaciones en el estado del tiempo diario (nubosidad, periodos de lluvia y de sol), afectan la actividad de los reptiles (Magnusson 1993). Las altas temperaturas que presentan los forrajeadores activos como A. ameiva, reflejan la Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 87 necesidad de estos lagartos de alcanzar estas temperaturas para poder estar activos y realizar sus actividades eficientemente (Echternacht 1968). Esta necesidad a reducir su periodo de actividad diaria a intervalos de tiempo con las condiciones climáticas adecuadas, que permita alcanzar la temperatura corporal requerida. Las actividades de A. ameiva durante el día dependen de la termoregulación que realizan en las primeros minutos expuestos al. sol alcanzando una temperatura adecuada. En horas del medio día la temperatura del suelo aumenta provocando un comportamiento de movilizarse a sustratos que ofrecen protección a los rayos solares. Este comportamiento de desplazarse a diferentes lugares evadiendo la fuerte radiación solar fue observado en lagartos como Tropidurus peruvianus (Echternacht 1968., Huey 1974). La relación que existe entre la temperatura del sustrato con el sol y el tiempo destinado por A. ameiva en áreas soleadas, puede señalar la preferencia que existe por áreas con cobertura en el bosque o en los bordes donde aprovechando al máximo el tiempo de radiación. Esta selección de microhábitats son muy frecuentes en especies de la familia Teiida, lo que les trae el beneficio de termoregular (Magnuson et al 1985.; Gasnier et al 1994). Agradecimientos Quiero agradecer al Dr. Jansen Zuanon por su compresión de mis principios Adventistas. A Eduardo M. Venticinque, Ocírio Pereira de Souza (Juruna) por su amistad, ayuda y optimismo en las diferentes etapas del curso. A mis amigos Mariana Faria-Corrêa, Faviany Lino, Jivanildo Miranda, Sandro von Matter Ricardo Ildefonso de Campos, Fabiana Mendes y Flavio que en todo momento me hicieron sentir como en casa.A los profesores Selvino Neckel y Glauco Machado por su orientación en el desarrollo de este trabajo. Al INPA/PDBFF. Por esta oportunidad de extender mis conocimientos en el área de ecología de florestas amazónicas . Referencias bibliográficas Ballinger, R.E., K. Marion., & O. Sexton. 1970. Thermal ecology of the lizard, Anolis limifrons with comparative notes on three additional Panamanian anoles. 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Dados sobre amostragem taxonômica sugerem que cerca de 25% das famílias da classe ocorre na região amazônica, compreendendo cerca de 2% das espécies descritas para o mundo (Adis et al., 2002). Diferentemente de alguns grupos megadiversos de aracnídeos, a ordem Amblypygi contém apenas 136 espécies. Os amblipígios são animais carnívoros e solitários que possuem hábitos noturnos. Durante o dia os indivíduos podem ser encontrados escondidos em cavidades naturais e debaixo de troncos caídos. À noite, entretanto, os indivíduos abandonam seus abrigos e podem ser vistos parados no chão ou na vegetação (Adis et al., 2002; Barnes, 1984). Poucos estudos tratam da relação dos amblipígios com o ambiente. O gênero Heterophrynus é endêmico da região amazônica, sendo que em um estudo feito em uma floresta nas proximidades da cidade de Manaus (Reserva Florestal Adolpho Ducke), a única espécie encontrada foi H. batesii (Adis et al., 2002). Na reserva do Km 41, Vasconcelos (2002) mostrou indícios de territorialismo em H. longicornis, observando um alto grau de recaptura de indivíduos no mesmo sítio de captura. Essa observação permite a formulação de questões sobre a preferência por microambientes e competição intraespecífica por recursos espaciais nessa espécies. Levando em consideração a escassez de informações sobre a ordem Amblypygi, o presente estudo teve como objetivo investigar o uso de micro-habitats por H. longicornis, contribuindo, assim, para o conhecimento de aspectos da história natural do grupo. Métodos Este estudo foi realizado em uma área de floresta de terra firme dentro da reserva do Km 41 (2o25’S; 59o48’W), pertencente ao Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (INPA/Smithsonian), Manaus, AM. A temperatura média anual é de 26,70C com precipitação média anual de 2.186 mm, sendo março e abril os meses mais chuvosos com cerca de 300 mm cada, e o período mais seco entre julho e setembro (Lovejoy & Bierregaard, 1990). Foram estabelecidas três parcelas, sendo duas de 2.000 m2 e uma de 1.400 m2. Cada parcela foi delimitadoa até 2 m de ambos os lados do gride de trilhas da reserva, e foi percorrida por três pessoas entre as 21 e 24 h. A procura de indivíduos ocorreu em troncos de árvores até uma altura de 2 m, assim como em troncos caídos, tanto no platô como em baixio. Os indivíduos de H. longicaudis encontrados foram capturados, sexados e tiveram a largura do cefalotórax medida com uso de paquímetro. Foram retiradas medidas do DAP das árvores com amblipígios e a altura em que o indivíduo se encontrava no momento em que foi avistado. A presença de sapopema, abrigos (buracos e frestas na base das árvores) e oco (no caso de troncos caídos) foi registrada para obter dados sobre utilização dos diferentes microhábitats. Posteriormente, foram tomados os diâmetros de todas as árvores acima de 10 cm de diâmetro dentro das parcelas. Para avaliar a relação do tamanho do cefalotórax dos indivíduos e DAP das árvores foi realizada uma regressão linear simples. Para verificar as diferenças de tamanho do cefalotórax entre machos e fêmeas foi utilizado teste t. Para avaliar as diferenças nas freqüências de encontro de amblipígios em árvores com e sem sapopema foi utilizado o teste de Chi-quadrado. Para comparar as proporções de encontro de amblipígio nas diferentes classes de diâmetro de árvores (10 – 40; 41 – 70; > 71 cm) foi realizado o teste G. As análises foram feitas no programa SYSTAT. Resultados Foram vistoriadas 393 árvores e 60 troncos caídos, sendo encontrados 31 indivíduos de H. longicornis em 5.400m2. A razão sexual foi de 1:1, sendo 29% dos indivíduos encontrados composto por jovens. A média do tamanho do cefalotórax dos machos adultos (12,89 ± 0,74 mm) foi maior do que o das fêmeas adultas (10,87 ± 1,03 mm) (t = 4,792; gl = 16; p > 0,001). Foram encontrados 22 indivíduos sobre troncos de árvores vivas, sendo nove em plantas sem sapopema e 13 em plantas com sapopema. O número de indivíduos por árvore variou de um a três, sendo que nunca foi encontrado mais que um macho adulto na mesma árvore. Das 22 árvores onde ocorreram amblipígios, 16 (72%) apresentaram abrigos em sua base. Levando-se em consideração a abundância de árvores com e sem sapopema dentro das parcelas amostradas, a freqüência de encontro de amblipígios em árvores com sapopema foi maior do que o esperado pelo acaso (X2 = 9,07; gl = 1; p < 0,001). Dos oito troncos caídos caídos onde ocorreram amblipígios, sete apresentaram ocos ou abrigos próximos. Não houve relação entre o tamanho dos indivíduos e o DAP das árvores (rs = 0,190; n = 21; p > 0,5). Entretanto Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 89 houve uma maior proporção de árvores com amblipígios nas classes de diâmetros maiores que 41 cm (G = 11,09; gl = 3; p = 0,001) (Tabela 1). Tabela 1 – Porcentagem de encontros de indivíduos de H. longicornis nas diferentes classes de diâmetros de árvores na reserva do km 41. % de árvores Classes de Diâmetro Com amblipígios Sem amblipígios 10 – 40 (n = 367) 5 95 41 – 70 (n = 24) 25 75 > 71 (n = 2) 100 0 Discussão As diferenças no tamanho de indivíduos machos e fêmeas, evidenciam um acentuado dimorfismo sexual em H. longicornis, que pode estar relacionado à defesa de territórios pelos machos (Vasconcelos, 2002). De fato, nenhuma árvore apresentou dois machos adultos. Houve uma marcante preferência dos indivíduos amblipígios em ocupar árvores com sapopema. A sapopema funciona como suporte da planta, apresentando extensões da parte superior das raízes superficiais, proporcionando áreas largas e achatadas (Ribeiro et al., 1999). Esse ambiente pode ser preferido pelos indivíduos por favorecer uma maior superfície de forrageamento para esses predadores. Também foram encontrados amblipígios em troncos caídos. Entretanto, ressalta-se a presença de ocos e abrigos nesses micro-ambientes, o que pode ser importante, visto que esses animais possuem hábitos noturnos, necessitando de locais para se abrigar durante o dia (Barnes, 1984). O tamanho dos indivíduos de H. longicornis não foi relacionado ao DAP das plantas em que foram encontrados. Isso talvez tenha ocorrido porque estes animais, como caçadores, necessitam procurar por presas, podendo assim percorrer trajetos que incluam árvores com diâmetros variados, impossibilitando ao observador, a identificação de 90 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 um tronco específico utilizado como moradia do indivíduo. Outra possibilidade é que os principais fatores determinando a ocorrência de amblipígios sejam a presença de abrigos e/ ou de sapopemas nas árvores. Agradecimentos Agradeço ao Glauco Machado pela orientação, motivação, criatividade e paciência, à Juliana CO2 pela agradável companhia e alto astral durante as noites na floresta, ao Miúdo e a Gabi por se estressarem e desestressarem junto comigo e também opinarem sobre este trabalho. Referências bibliográficas Adis, J.; Bonaldo, A. B.; Brescovit, A.D.; Bertani, R.; Cokendolpher, J.C.; Condé, B.; Kury, A.B.; Lourenço, W. R.; Mahnert, V.; Pinto-da-Rocha, R.; Platnick, N. I.; Reddell, J. R.; Rheims, C. 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Anais do curso de campo Ecologia da Floresta Amazônica INPA/SMITHSONIAN/UNICAMP/OTS. Manaus. pp 141-142 Qual o significado ecológico da coloração conspícua das folhas jovens das espécies de plantas de sub-bosque na Amazônia central? Jivanildo Pinheiro Miranda Introdução A herbivoria tem importante efeito sobre o crescimento e reprodução de muitas espécies de plantas, podendo influenciar diversos aspectos da ecologia e afetar a estrutura e composição da comunidades vegetais (Clark & Clark, 1985; Begon, 1990). Em florestas tropicais cerca de 11% da produção anual de folhas é perdida pela ação de herbívoros e patógenos (Coley & Aide, 1991). Esta perda deve ser bastante significativa, tanto que muitas espécies de plantas alocam quantidades relevantes de energia em mecanismos e estruturas defensivas (e.g. tricomas, espinhos e domáceas). Folhas jovens, devido à sua menor quantidade de fibras e maior conteúdo de água e nitrogênio em relação a folhas mais velhas, são mais facilmente digeridas e apresentam maio valor nutricional para os herbívoros (Coley & Aide, 1991). Folhas jovens, portanto, são mais vulneráveis e sofrem cerca de vinte vezes mais danos por herbívoros do que folhas maduras, o que corresponde a cerca de 70 % dos danos que os indivíduos experimentam durante todo seu tempo de vida (Coley & Kursar, 1996). Na floresta tropical amazônica, muitas espécies pertencentes a diferentes famílias apresentam ramos novos em cores conspícuas, tais como verde-claras ou avermelhadas, sendo estas últimas mais freqüentes (obs. pess.). A coloração avermelhada dos ramos novos das plantas tropicais tem sido sugerida como uma sinalização, que indicaria a presença de alta concentração de antocianinas, uma substância desagradável para algumas espécies de insetos (Coley & Kursar, 1996). Alternativamente, a coloração conspícua poderia atuar como sinalização para aves insetívoras, indicando a presença de um ramo novo, presumivelmente com alta densidade de insetos para serem predados (W. W. Benson, com. pess.). O objetivo deste estudo foi investigar o significado da coloração dos ramos jovens em plantas de sub-bosque da Amazônia Central. Para tanto, as seguintes questões foram levantadas: a) existe diferença na intensidade de herbivoria em ramos avermelhados e verde-claros? b) folhas avermelhadas e folhas verde-claras são igualmente palatáveis para um herbívoro generalista? c) existe diferença na frequência de remoção ou ataque a lagartas em folhas de diferentes cores (avermelhadas ou verde-claras)? Métodos Este estudo foi realizado no período de 27 de julho a 01 de agosto de 2003 na reserva do Km 41 (02° 25’ S e 59° 46’ W) do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF - INPA). O estudo não se dirigiu para espécies em particular, mas incluiu qualquer espécie com folhas jovens verde-claras ou avermelhadas, desde que estas fossem glabras e sem associações mutualísticas com formigas. Este estudo foi dividido em três partes, conforme segue: HERBIVORIA EM RAMOS NOVOS AVERMELHADOS E VERDE-CLAROS Para examinar diferenças na intensidade de herbivoria dos ramos segundo a cor da folha, realizei caminhadas nas trilhas H, I e J (percorrendo um total de três quilômetros) em busca de ramos jovens de folhas avermelhadas e verdeclaras. Foram utilizados apenas os ramos mais apicais de cada planta. Para cada ramo localizado registrei o grau de dano em todas as folhas do ramo, para o cálculo do índice de herbivoria de Dirzo & Dominguez (1995): IH = Σ (Ni x Ci)/ N, onde IH é o índice de herbívoria, Ni é o número de folhas observadas em uma dada categoria de dano, Ci é a categoria de dano e N é o número total de folhas observadas no ramo estudado. As categorias são: 0 para 0%; 1 para 1 a 6% de dano, 2 para 6 a 12% de dano; 3 para 12 a 25% de dano; 4 para 25 a 50% de dano e 5 para mais de 50% de dano. EXPERIMENTO SOBRE PALATABILIDADE DAS FOLHAS JOVENS Para examinar diferenças na palatabilidade de folhas avermelhadas e verde-claras foram coletadas amostras de morfoespécies vegetais de sub-bosque (14 de cada cor). De cada folha foi retirado um quadrado de 20 x 20 mm, o qual foi oferecido em um experimento de escolha (um quadrado de cada cor) para uma ninfa de gafanhoto, submetida a 12 horas de jejum (24 réplicas). Cada ninfa de gafanhoto, mantida em terrário individual (pote plástico com 1L de capacidade), teve acesso aos quadrados por um período de 24h, após o qual o experimento foi encerrado e o consumo de folhas foi registrado. EXPERIMENTO SOBRE O ATAQUE A LARVAS EM FOLHAS AVERMELHADAS E VERDE-CLAROS Para estudar se a coloração das folhas afeta a frequência de predação de larvas forrageando sobre folhas avermelhadas ou verde-claras, foram instaladas 100 folhas-modelo (feitas em cartolina, apresentando uma parte simulando borda Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 91 consumida por herbívoro). Nestas folhas foram colados modelos de larvas de lepidópteros feitos em massa de modelar e fixados na borda onde havia a simulação de dano para conferir maior realismo ao modelo. Cada unidade experimental, constituída por uma folha-modelo avermelhada e outra verde-clara, foi instalada a uma altura de 1,5 m, tendo as folhas espaçadas entre si por 1,5-2,0 m e distribuídas sobre várias espécies de plantas de sub-bosque, ao longo das trilhas I e J em um espaçamento de 10-15 m. As unidades experimentais foram vistoriadas para registro dos ataques após 24 h da instalação, repostas e vistoriadas novamente após as 24 h seguintes. ANÁLISE ESTATÍSTICA Diferenças estatísticas na distribuição de danos nas folhas de diferentes cores (avermelhadas ou verde-claras) foram examinadas através do teste U de Mann-Whitney. Diferenças estatísticas na frequência de consumo das folhas pelas ninfas de gafanhoto (consumiu ou não) e na frequência de ataque aos modelos nos dois tipos de folhas-modelo foram avaliadas por meio da análise de Qui-quadrado (Zar, 1984). Resultados Registrei índices de herbivoria para 116 plantas, sendo 68 com folhas avermelhas e 48 com folhas verde-claras. Houve diferença na intensidade de herbivoria de acordo com a coloração das folhas, sendo as folhas avermelhadas menos atacadas pelos herbívoros (U = 979,5; p = 0,002; Figura 1). 5.5 Máximo Mínimo Mediana; 75% 25% 4.5 3.5 2.5 1.5 0.5 -0.5 VERDE-CLARA AVERMELHADA CATEGORIA DE COR Figura 1: Índice de herbivoria dos ramos jovens de diferentes cores das plantas de sub-bosque na Reserva do Km 41, Amazonas, Brasil. No experimento sobre a palatabilidade das folhas segundo a coloração, 12 unidades experimentais não tiveram qualquer das folhas consumidas pelos gafanhotos. Em dez houve consumo de partes da folha verde-clara e em duas houve consumo de partes da folha avermelhada, sendo esta diferença estatisticamente significativa (c2 = 7,0; GL = 2; p < 0,03). Esta diferença se mantém mesmo quando retirados da análise os ensaios onde não houve consumo em folhas de qualquer das cores (c2 = 5,33; GL = 1; p < 0,02). Em relação ao experimento com lagartas-modelo, foi 92 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 observado um total de 43 ataques aos modelos (22 sobre folhas avermelhadas e 21 nas verde-claras, dispensando o uso de testes estatísticos). O tipo de marcas deixado foi bastante semelhante entre os modelos atacados, mas a distribuição destas ao longo do corpo do modelo variou. Em 18 (dez nos modelos sobre folhas avermelhadas e oito nas verde-claras) dos 43 modelos atacados, as marcas se concentraram apenas na porção próxima à borda com simulação de dano, supostamente a área da cabeça da lagarta modelo. Discussão As marcas de ataque aos modelos de lagartas parecem consistentes com bicadas de aves de pequeno porte, especialmente devido à concentração de muitas delas (18 de 43) na porção correspondente à cabeça da lagarta. A coloração avermelhada da folha parece não representar uma sinalização para aves insetívoras, dado que não houve diferença na freqüência de ataque aos modelos nas diferentes cores de folhas. Entretanto, os dados obtidos com o índice de herbivoria indicam que folhas jovens com coloração avermelhada estão menos suscetíveis a ação de herbívoros. Já as duas folhas avermelhadas que foram consumidas pelo herbívoro no experimento sobre palatabilidade poderiam indicar a presença de mímicos (espécies com folhas avermelhadas, mas completamente palatáveis) na comunidade de plantas. Muitas espécies de plantas tropicais apresentam folhas novas com coloração mais clara devido à presença de apenas 10-20% da quantidade normal de cloroplastos (Coley & Kursar, 1996), o que poderia representar uma alternativa à defesa química e justificar a existência desse tipo de folha. Nessa estratégia, o retardo na produção de cloroplastos enquanto a folha ainda não está totalmente lignificada, faz com que essas folhas sejam menos atrativas para herbívoros (menos nutritivas) e as perdas eventuais no caso de ocorrer herbívoria não sejam tão elevadas, embora haja também um prejuízo na fotossíntese inicial da folha. Em qualquer situação (defesa química ou retardo de pigmentação), a existência de um mecanismo para proteção das folhas jovens, deve ser muito importante para a manutenção de qualquer população vegetal, especialmente em ambiente de solo pobre como é o caso da Amazônia Central. Em estudos subseqüentes seria interessante utilizar modelos mais elaborados, por exemplo por meio do uso de alguma substância para isolar a folha-modelo do acesso de insetos (e.g. vaselina ou graxa). Esse procedimento daria maior garantia de que as marcas nos modelos não sejam feitas por formigas ou outros insetos terrestres. O resultado do experimento de palatabilidade indica que a menor herbivoria sobre folhas avermelhadas ocorra devido à presença de defesas químicas nesse tipo de folha, fortalecendo a hipótese de que a coloração avermelhada dos ramos novos seja uma sinalização de toxidez para herbívoros (Coley & Kursar, 1996). Por outro lado, um número representativo dos ensaios experimentais sobre palatabilidade não teve qualquer folha consumida, sugerindo que mesmo as folhas verde-claras possuem algum tipo de composto impalatável aos herbívoros. Agradecimentos Agradeço aos excelentíssimos Jansen Zuanon e Eduardo “Cinquente” pela agradável convivência, discussões ecológico-estatísticas e excelente trabalho na coordenação do curso; ao estimado Glauco Machado pela ajuda no campo e fundamental auxílio no delineamento dos experimentos; ao incansável Wilson Spironello pelas frutíferas discussões e imprescidível auxílio em campo; ao divertido e multi-multifuncional Ocírio Juruna pelo auxílio em campo; à Santa Rita de Cássia Quitete Portela “Padroeira da Ecologia de Campo” por sua imprescindível ajuda na preparação das lagartas de massinha e na distribuição dos modelos no campo; à Patricia Rodin pela ajuda na preparação de modelos e interessantes discussões sobre Ecologia; aos revisores dos relatórios pelas valiosas críticas e sugestões; aos colegas de turma pela agradável convivência, troca de idéias e favores; a todas as pessoas que direta e indiretamente contribuem para a realização deste curso e ao INPA/Smithsonian/ PDBFF pela excelente oportunidade. Referências Bibliográficas Begon, M., J. L. Harpen & C. R.Townsend. 1990. Ecology: Individuals, Populations and Communities. Blackwell Scientific Publications. Massachusetts. Clark, D. A. & D. A. Clark. 1985. Seedling dynamics of tropical tree: Impacts of herbivory and meristem damage. Ecology 66: 1884-1892. Coley P. D. & T. M. Aide. 1991. Comparison of herbivory and plant defenses in temperate and tropical broadleaved forests. In: Price, P. W., T. M. Lewinsohn, , G. W. Wilson-Fernandes & W. W. Benson (eds.). Plantanimal interactions: Evolutionary ecology in tropical and temperate regions. John Wiley and Sons. New York. Coley P. D. & T. A. Kursar. 1996. Anti-herbivore defenses of young tropical leaves: Physiological constraints and ecological trade-offs. In: Mulkey, S. S., R. L. Chazon & A. P. Smith. Tropical forest ecophysiology. Chapman and Hall. London. Dirzo, R. & C. Dominguez. 1995. Plant-animal interactions in mesoamerican tropical dry forest. In: Bullock, M & H. Mooney (eds.). Seasonally dry forest. Cambridge University press. Cambridge. Zar, J. H. 1984. Biostatistical Analysis. 2nd Edition. Prentice Hall. New Jersey. Estrutura da vegetação e topografia: uma análise da paisagem na Amazônia central Juliana Stropp Carneiro Introdução Atualmente, a compreensão dos processos que interferem na dinâmica das florestas tropicais tem influenciado algumas decisões políticas importantes. A discussão do papel das florestas tropicais no seqüestro de carbono e sua contribuição para o aquecimento global, por exemplo, envolve tanto cientistas tanto políticos. Em torno deste tema, é documentado na literatura recente a busca de uma estimativa de biomassa para as florestas tropicais (Clark e Clark, 2000). Neste contexto, o estudo da estrutura da vegetação pode responder questões e levantar hipóteses ecológicas. A estrutura da floresta pode ser analisada a partir de parâmetros como distribuição de diâmetros de indivíduos arbóreos, porcentagem de contribuição de árvores e palmeiras, distribuição das clareiras e outros (Clark e Clark, 2000).Dentre os fatores que moldam a vegetação está a mortalidade de árvores e a distribuição de grupos estruturalmente distintos, como árvores emergentes, palmeiras e plantas dependentes de suporte. A mortalidade de árvores, por exemplo, não é igualmente distribuída no espaço, pois suas taxas e as causas diferem dramaticamente ao longo da paisagem, podendo estar relacionada com aspectos físicos do ambiente, como clima e relevo (Franklin, 1987). A distribuição espacial dos grupos vegetais também pode estar relacionada com aspectos físicos do ambiente e apresentar um padrão estruturado na paisagem (Tuomisto et al. 2002). Assim, a estrutura física e a fisionomia da floresta podem variar com a disponibilidade de nutrientes no solo, clima, perturbações ambientais, estágio sucessional, posição topográfica e impacto humano. No entanto, a magnitude da variação da estrutura da vegetação numa escala intermediária (1 – 100 Km2), e a suas relações com variáveis ambientais ainda não são bem entendidas (Clark e Clark, 2000). Este trabalho foi proposto com o objetivo de verificar se a estrutura da vegetação varia em gradientes topográficos em uma escala intermediária. Para alcançar este objetivo relacionei densidade do sub-bosque, diâmetro à altura do peito (DAP), número de palmeiras acaule e com caule, e a ocorrência de plantas dependentes de suporte com os gradientes de declividade e altitude, em uma área de floresta Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 93 de terra firme na Amazônia Central Método A área de estudo compreende uma parcela de 100 ha do projeto Lecythidaceae na reserva de mata contínua do Km 41, localizada na estrada vicinal ZF 3 a aproximadamente 80 Km ao norte de Manaus. A cobertura vegetal desta região tem dossel bastante uniforme com altura média em torno de 30 a 35 m, com emergentes ocasionais de até 55m.Os solos são latossolo vermelho-amarelos e podzólicos. O relevo é constituído por áreas de platôs recortados por pequenos igarapés, que, em certos casos formam áreas de inundação (Garcia, 2000). Amostrei 20 transectos de 2 x 40 m dispostos em diferentes cotas de altitude e graus de declividade. Para definir a localização dos transectos utilizei o mapa topográfico da área apresentado por Garcia (2000) (Figura 1). Em cada transecto registrei o DAP ³ 10 cm, número de palmeiras acaule, com caule e troncos caídos, presença e ausência de árvores emergentes e plantas dependentes de suporte, e finalmente, a densidade do sub bosque. Este último parâmetro estimei a partir do número de vezes que a vegetação tocava uma vara de 2 m, sendo que em cada transecto obtive 10 medidas, distantes 4 m entre si. Os valores de declividade (graus) e altitudes (variação de 5 m) foram disponibilizados pelo Projeto Dinâmica Biológica de Fragementos Florestais (INPA/SI). Analisei a relação entre DAP, número de indivíduos de palmeiras acaule e com caule, número de troncos caídos e densidade do sub-bosque com a declividade e altitude por meio de regressões lineares simples. Verifiquei a relação entre ocorrência de plantas dependentes de suporte, árvores emergentes com os gradientes de declividade e altitude a partir de regressão logística. Espacializei as regressões significativas a partir dos arquivos de declividade e altitude disponíveis em um banco de dados geográficos utilizando o módulo MAP CALCULATOR no programa ArcView versão 3.2. Resultados A ocorrência de plantas dependentes de suporte e árvores emergentes variou com a altitude (G = 14,3; GL = 1; p < 0,01), sendo que não registrei presença dessas plantas em cotas acima de 90 m. A probabilidade de ocorrência de plantas dependentes de suporte foi extremamente alta até a cota de 90 m, onde ocorreu uma queda abrupta na probabilidade de ocorrência (Figuras 2). Isso ficou evidente quando as probabilidades foram espacializadas, desta forma 80% da área apresenta alta probabilidade de ocorrência e as áreas de platôs baixos com valores de probabilidade (Figura 3). 1.0 probabilidade 0.8 0.6 0.4 0.2 0.0 50 60 70 80 Altitude (m) 90 100 Figura 2. Probabilidade de ocorrência de plantas dependentes de suporte em função de gradientes de altitude na parcela do projeto Lecythidaceae na reserva do Km 41. Figura 1. Mapa topográfico da parcela de 100 ha do Projeto Lecythidaceae com a localização dos pontos de amostragem e o sistema de trilhas da área. As isolinhas representam as curvasde nível de 5m e os números equivalem às cotas altimétricas. 94 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 Presença de epífitas Figura 5. Mapa de probabilidades de ocorrência de indivíduos arbóreos emergentes em função da altitude na parcela do projeto Lecythidaceae da reserva do Km 41, Manaus. Os números representam as altitudes e as curvas de nível têm intervalo de 5 m, os tons mais escuros representam áreas com maiores valores de probabilidade. Já as árvores emergentes ocorreram em cotas altimétricas mais elevadas, entre 70 e 100m de altitude (G=4,8; GL = 1, p = 0,02), com apenas alguns registros na cota de 65m emergentes A probabilidade de ocorrência desses indivíduos torna-se elevada a partir de 90m de altitude (Figuras 4). A represetação espacial do gradiente dessa probabilidade evidencia o aumento de ocorrência de indivíduos emergentes da vertente em direção ao platô (Figura 5). 1.0 probabilidade 0.8 8 7 6 5 4 3 2 1 0 50 0.6 60 70 80 90 100 Altitude (m) Figura 6. Variação do número de palmeiras com caule em função da altitude no plot Lecytidaceae na reserva do Km 41, Manaus. 0.4 0.2 0.0 50 N. palmeiras com caule Figura 3. Mapa de probabilidades de ocorrência de plantas dependentes de suporte em função de altitude na parcela do projeto Lecythidaceae da reserva do Km 41, Manaus. Os números representam as altitudes e as curvas de nível têm intervalo de 5 m, os tons mais claros representam áreas com maiores valores de probabilidade. No caso das palmeiras com caule, a densidade foi maior em baixas altitudes (r2 = 0,2; F = 5,17; p= 0,03). (Figuras 6). A distribuição potencial da densidade de palmeiras em função da altitude obtida pela espacialização da regressão linear, evidencia o aumento da densidade desses indivíduos em direção aos ambientes de baixio, alcançando valores mais elevados nos vales (Figura 7). 60 70 80 90 100 Altitude (m) Figura 4. Probabilidade de ocorrência de indivíduos arbóreos emergentes em função de gradientes de altitude na parcela de 100 ha do projeto Lecythidaceae na reserva do Km 41, Manaus. Os demais parâmetros da vegetação analisados (número de indivíduos com DAP ³10 cm, palmerias acaule, número de troncos caídos, densidade do sub bosque) não variaram em função dos gradientes de altitude e declividade. A ocorrência de plantas dependentes de suporte, árvores emergentes também não variou em função da declividade. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 95 Figura 7. Mapa da distribuição potencial da densidade de palmeiras em função da altitude (cotas altimétricas de 5 m) no plot Lecythidaceae na Reserva do Km 41, Manaus, com curvas de nível de 5 m. Discussão A ocorrência de plantas dependentes de suporte em ambientes mais baixos indica que a umidade é uma variável importante para o estabelecimento desses organismos. A maior ocorrência das epífitas em ambientes úmidos explicase pela maneira que estes organismos utilizam a umidade e os minerais necessários para sua sobrevivência (Benzing mimiografado). O maior número de palmeiras com caule encontrado em baixas altitudes revela a preferência do grupo por este tipo de ambiente. Garcia (2000) estudou a distribuição espacial de palmeiras na mesma área e verificou que das 22 espécies analisadas, somente cinco possuiam distribuição aleatória, sendo que as demais apresentavam preferência ou exclusão por alguma unidade física natural. Das palmeiras com caule estudadas por esse autor, oito ocorreram com maior freqüência nos baixios, duas em vertentes e seis se distribuíram de maneira uniforme, sendo que nenhuma apresentou distribuição associada a platôs. Vale ressaltar a alta densidade de patauá (Oenocarpus bataua) em ambientes de baixio (Garcia, 2000). Das palmeiras acaule analisadas por Garcia (2000), quatro espécies distribuíram-se uniformemente em todos os ambientes. Estes resultados evidenciam o padrão de distribuição de determinados grupos de palmeiras associado à variáveis topográficas. Outros grupos de plantas também demonstram este mesmo tipo de padrão, Tuomisto e colaboradores (2002) reportam a relação entre a ocorrência de Pteridófitas e indivíduos da família Melastomataceae e gradientes edáfico-topográficos, Clark e colaboradores (1998) encontraram este mesmo padrão para dois gêneros de palmeiras. Desta forma, a composição da comunidade vegetal pode apresentar uma distribuição espacial associada a variáveis ambientais que mudam ao longo da paisagem. Neste estudo, a ocorrência de indivíduos arbóreos 96 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 emergentes foi condicionada pela altitude, apresentando alta probabilidade de ocorrência nos platôs. Isto sugere que a ocorrência desses indivíduos se relaciona com a maior estabilidade desses ambientes, pois para alcançarem o estrato acima do dossel estes indivíduos devem persistir no local por um longo período de tempo. Além disso, os solos mais argilosos dos platôs (Garcia, 2000) podem ter alguma influencia na ocorrência de árvores emergentes nesse tipo de ambiente, já que a ocorrência desses indivíduos pode variar em função da altitude, tipo de solo, declividade, história de perturbação do ambiente e aspectos biogeográficos (Clark e Clark, 1996). No entanto, não encontrei relação entre o número de indivíduos com DAP ³ 10 cm e variáveis topográficas, contrariando o padrão obtido para as árvores emergentes. É possível que o esquema de amostragem tenha influenciado os resultados, pois o tamanho dos transectos utilizados pode não ter sido eficiente para captar a variabilidade da distribuição de DAP nos diferentes ambientes. Clark e Clark (2000) avaliaram a relação entre biomassa e variáveis edáfico-topográficas em 600 ha utilizando parcelas de 50 x 100 m. Entretanto, B. Medina (2003, neste volume). utilizou transectos de 4 x 40 m para registrar o DAP de indivíduos emergentes e verificou que indivíduos com DAP maiores ocorrem em altitudes maiores. O número de troncos caídos não variou em função das variáveis topográficas analisadas. Flávio Rodrigues (2003, neste volume). avaliou a distribuição espacial de clareiras em função de variáveis topográficas na mesma área e período do presente estudo, e não encontrou relação entre as variáveis analisadas. Assim, estas perturbações na área deestudo pode estar ocorrendo de maneira estocástica, como simples distrubuição da disponibilidade das unidades topográficas. Em suma, este estudo mostrou que alguns aspectos da estrutura da floresta apresentam distribuição espacial não aleatória. A utilização de uma abordagem espacial a uma questão ecológica só foi possível devido à existência de uma base de dados geográficos sobre características físicas da paisagem. Assim, a disponibilização de dados físicos e biológicos em um contexto espacial pode favorecer o avanço na compreensão de processos ecológicos numa escala de paisagem. Agradecimentos Agradeço ao Eduardo Venticinque, Wilson Spironelo e Marcelo Moreira pela discussão e ajuda na elaboração deste projeto. À Branca Medina por fazer nosso trabalho ser um passeio e uma descoberta da história da floresta. À todos os professores do curso e principalmente ao Jansen Zuanon e Eduardo Venticinque por ensinarem a ecologia da floresta amazônica de maneira tão sincera. Aos companheiros de curso Juruna, D. Eduarda e Seu Jorge pela ajuda em todos os momentos do curso. À galera especial por toda energia positiva. Ao PDBFF pelo apoio financeiro e logístico ao curso de ecologia da floresta Amazônica. Bibliografia Clark, D. B., D. A. Clark. 2000. Landscape-scale variation in forest structure and biomass in a tropical rain forest. Forest Ecology and Management 137: 185-198. Clark, D. B., D. A. Clark., J. M. Read. 1998. Edaphic variation and mesoscale distribution of tropical rain forest trees. Ecology 80: 2662-2675. Clark, D. B., D. A. Clark. 1996. Abundance, growth and mortality of very large trees in neotropical lowland rain forest. Forest Ecology and Management 80 (1996): 235-244. Franklin, J. F., H. H. Shugart e M. E. Harmon, 1987. Tree death as an ecological process. Bioscience 37 (8): 550- 560. Garcia, J. P. M. 2000. A geomorfologia como instrumento de identificação de unidades físico-naturais em florestas umidas. (tese de doutorado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. São Paulo. 229p. Hormer, Jr. D. W., S. Lemeshow. 1989. Applied Logistic Regression. New York: John Wiley & Sons. 307 p. Tuomisto, H., K. Ruokolainen., R. C. Moran., C. Quintana., G. Cañas., e J. Celi. 2002. Distribution and diversity of Peteridofitas and Malastomataceae along edaphic gradiens in Yasuní National Park. Biotropica 34 (4): 516-533. Estrutura de hábitat e distribuição espacial de peixes em igarapés de terra-firme da bacia do rio Urubu, Amazônia Central. Luciano Fogaça de Assis Montag Introdução Métodos Os riachos, conhecidos por igarapés na Amazônia, abrigam uma fauna de peixes que mantém uma íntima associação com a floresta, responsável pelo aporte de material orgânico (folhas, galhos e troncos) que garantem abrigo e alimentação para a ictiofauna (Menezes, 1996). Estes locais seguem um gradiente das nascentes à foz, ocorrendo um aumento de volume de água e disponibilidade de hábitats (Vannote et al., 1980). Características estruturais de hábitats têm sido reconhecidas como fatores decisivos na distribuição de espécies e na organização das comunidades de peixes de riachos (Hynes, 1970; Vannote et al., 1980). Variações na distribuição e na composição das comunidades de peixes têm sido associadas com mudanças espaciais e temporais no hábitat, como composição do substrato, profundidade e quantidade de abrigos (Angermeier & Karr, 1983). Da mesma forma, variações na morfologia do canal e na disponibilidade de recursos (Schlosser, 1982), tamanho do riacho e abertura do dossel (Angermeier & Karr, 1983), velocidade da correnteza e tamanho do riacho (Meffe & Sheldon, 1988), no tamanho do riacho e alcalinidade (Peterson & Galé, 1991), parecem explicar boa parte das variações observadas nas distribuições das espécies de peixes. Com base nessas informações o presente trabalho teve por objetivo conhecer o padrão de distribuição espacial de espécies de peixes de igarapés de terra-firme da Amazônia Central, avaliando a influência da estrutura de hábitat para estas comunidades. O estudo foi desenvolvido na área de reserva florestal 1501 do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), do convênio entre o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e Smithsonian Institution (SI). A reserva situa-se cerca de 80 km ao norte da Manaus, AM (2o28’S; 59o46’O). Segundo a classificação de Köppen, o clima local é tropical chuvoso (Amw), com precipitação e temperatura médias anuais de 2.127 mm e 27,2 oC, respectivamente (Lovejoy & Bierregaard, 1990). A vegetação caracteriza-se por uma formação vegetal de floresta de terra-firme, com dossel médio de 35 m (Pires & Prance, 1985). Os igarapés amostrados integram as cabeceiras de drenagem da bacia do rio Urubu, afluente da margem esquerda do curso médio do rio Amazonas. Foram amostrados 10 trechos de igarapés de terra-firme de 1a e 2a ordem, entre os dias 28 a 31 de agosto de 2003. As coletas foram realizadas com rede de mão (puçá ou peneira) em um trecho de 20 metros lineares de igarapé, o qual foi bloqueado utlizando-se redes de tapagem com malha de 0,5 cm entre nós opostos. Em todas as estações de coleta foram tomadas as coordenadas georeferenciadas com o uso de GPS. O tempo de coleta em cada estação não foi estipulado, permanecendose no trecho o tempo necessário para realizar as coletas e tomadas de dados sobre estrutura de hábitats. A estrutura de hábitats foi estimada através de parâmetros físico-químicos, morfológicos e fisiográficos. Os parâmetros físico-químicos medidos foram: pH, condutividade elétrica (µS.cm-1) e temperatura (ºC). Os parâmetros morfológicos Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 97 foram obtidos através do cálculo da média aritmética de três pontos eqüidistantes no trecho amostrado e incluíram a largura do igarapé (m), profundidade (m) e velocidade da correnteza (m.s-1). Características fisiográficas foram avaliadas visualmente, por meio de estimativas de cobertura do substrato por folhiço, troncos caídos, raízes e areia A maioria dos peixes coletados foram triados e identificados no campo e em seguidas devolvidos vivos aos igarapés. Apenas alguns exemplares foram fixados em formalina a 10% e depois transferidos para álcool 70%. A identificação dos peixes foi baseada em literatura, e os espécimes foram retidos para incorporação à Coleção de Peixes do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). A complexidade de hábitats foi analisada por meio do cálculo do índice de diversidade de Shannon-Wienner para os dados fisiográficos. Foram aplicados tratamentos estatísticos de análise de agrupamento e análise de componentes principais (PCA) sobre os dados de ocorrência de espécies de peixes, em função das características das estações de coleta, visando descrever as comunidades em função da abundância das espécies. As relações entre as variáveis ambientais e a riqueza e abundância das espécies foram verificadas por meio de regressões lineares. Resultados COMPOSIÇÃO DA ICTIOFAUNA Foram coletados 226 indivíduos: representado por 24 espécies pertencentes a 11 famílias de seis ordens (Tabela 1). Characiformes foi a ordem mais representativa em número de indivíduos e de espécies. Cinco espécies representaram 71% de todos os indivíduos coletados: Pyrrhulina brevis (43%), Hemigrammus cf. pretoensis (11,9%), Rivulus compressus (11,1%) e Helogenes marmoratus (4,4%) (Tabela 1). ESTRUTURA DE HÁBITATS Os valores dos parâmetros ambientais amostrados são apresentados na Tabela 2. A análise de componentes principais (PCA) revelou que a presença de folhiço (-0,707) e areia (0,704) representaram 71% da variação dos dois primeiros eixos (Figura 1). Tabela 2 – Parâmetros fisiográficos, físico-químicos e morfológicos de dez igarapés de terra-firme da reserva florestal 1501: Índice de diversidade de Shannon-Wienner (H’) para os parâmetros fisiográficos; porcentagem de troncos, folhiço, raiz e areia; potencial hidrogeniônicon (pH); condutividade elétrica (Cond.); temperatura da água (Temp.); largura média (Larg.); profundidade média (Prof.); velocidade média (Veloc.). Estações de Coleta Parâmetros 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Ordem 1 1 2 1 1 1 1 2 2 2 0,55 0,80 0,81 0,82 0,83 0,90 0,80 0,88 0,86 1,08 Tronco (%) 7,0 5,0 4,0 13,0 7,4 5,3 9,9 18,0 6,0 5,0 Folhiço (%) 84,1 17 59 15,0 64 60,0 67,7 66,0 29 53,0 Raiz (%) 0,0 4,0 0,0 0,5 0,4 2,4 0,0 0,0 1,0 10,0 Areia (%) 8,9 74,0 37 0,0 28,2 32,3 19,4 16 64,0 32,0 pH 4,0 4,1 3,7 4,2 4,2 4,5 4,4 4,6 4,3 4,5 Cond. (µS.cm-1) 11,1 10,0 8,8 9,4 10,1 10,4 11,0 8,6 8,7 10,4 Temp. ( oC) 23,5 24,2 23,2 23,6 24,8 24,1 25,2 24,8 22,9 24,4 Larg. (m) 1,0 1,4 3,0 2,5 1,8 2,0 2,4 1,9 2,3 2,5 Prof. (m) 0,17 0,19 0,14 0,30 0,55 0,12 0,87 0,17 0,23 0,25 Velocid. (m.s -1) 0,08 - 0,05 0,05 0,09 - 0,23 0,06 0,09 0,04 H’ hábitat 10 Tabela 1 – Composição da ictiofauna, número de indivíduos e frequência relativa de captura nos igarapés amostrados na reserva florestal 1501 (INPA/PDBFF). Ordem Characiformes Família Characidae Crenuchidae Perciformes Siluriformes (%) 11,95 Hyphessobrycon aff. melazonatus 6 2,65 Hyphessobrycon agulha 8 3,54 Hyphessobrycon sp. 5 2,21 Moenkhausia sp. 2 0,88 Crenuchus spilurus 1 0,44 Microcharacidium sp. 1 0,44 Erythrinus erythrinus 2 0,88 Lebiasinidae Copella nigrofasciata 2 0,88 Gymnotidae Cichlidae Nannostomus marginatus 6 2,65 Pyrrhulina brevis 99 43,81 Rivulus compressus 25 11,06 Gymnotus anguillaris 2 0,88 Gymnotus pedanopterus 3 1,33 Aequidens pallidus 6 2,65 Apistogramma gr. steindachneri 6 2,65 Apistogramma sp. 8 3,54 Crenicichla inpa 1 0,44 Crenicichla saxatilis 1 0,44 Crenicichla sp. 1 0,44 Callichthyidae Callichthys callichthys 1 0,44 Cetopsidae Helogenes marmoratus 10 4,42 Trichomycteridae Ituglanis amazonicus Synbranchiformes Synbranchidae Synbranchus sp Total 98 N 27 Erythrinidae Cyprinodontiformes Rivulidae Gymnotiformes Espécie Hemigrammus cf. pretoensis Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 2 0,88 1 0,44 226 100 Figura 1 – Análise de componentes principais (Eixos 1 e 2) para características físico-químicas, morfológicas e fisiográficas de igarapés de terra-firme da reserva florestal 1501. PORCENTAGEM DE FOLHIÇO VS. COMPOSIÇÃO DE ESPÉCIES Não foi observada relação direta entre a porcentagem de folhiço e riqueza de espécies (R2 = 0,05; N = 10; F = 0,46; P = 0,51), e entre presença de folhiço e abundância de peixes (R2 = 0,23; N = 10; F = 2,39; GL = 1 , 8; P = 0,16). Por outro lado, a análise de agrupamento hierárquico baseado no eixos 1 e 2 da análise de componentes principais para os dados de abundância de espécies, resultou na formação de dois principais grupos: (1) espécies com distribuição ampla ocorrendo nos diversos ambientes, (2) espécies com uma distribuição mais restrita, em destaque espécies dominantes em bancos de folhiço (Figura 2). Figura 2 – Análise de agrupamento hierárquico das abundâncias das espécies de peixes coletadas em igarapés de terra-firme da reserva florestal 1501. A área hachurada ressalta as espécies com dominância em bancos de folhiço. Discussão A dominância de Characiformes é um padrão comum para a ictiofauna da região Neotropical (Lowe-McConnell, 1987). A alta dominância de Pyrrhulina brevis, no entanto pode ter sido relacionado a uma preferência por igarapés de primeira e segunda ordem e por possuir um hábito alimentar baseado em itens alóctones originados das zonas ripárias, condição presente nesses igarapés (Bührnheim & CoxFernandes, 2000); essa dependência dos peixes em relação à floresta é bem conhecida em riachos tropicais (Knöppell, 1970; Vannote et al, 1980; Goulding, 1980; Goulding et al. 1988; Silva 1993). Sistemas biológicos são influenciados por um grande número de fatores, que interferem nos padrões de distribuição espacial e temporal das espécies (Barrella, 1992). Cada espécie possui preferência ou tolerância a características como qualidade de água e tipo de hábitat; em geral, a riqueza e diversidade de espécies aumenta em função do aumento do volume e da complexidade de hábitats (Araújo, 1988). Das dez variáveis ambientais amostradas, a porcentagem de área coberta por folhiço (folhiço e areia) teve importância para explicar as diferenciações entre as estações de coleta. A existência de uma relação entre diversidade de peixes e complexidade do hábitat parece ser um fato generalizado em riachos, tem sido identificada em riachos norteamericanos, sul-americanos (Guiana) e africanos (Gorman & Karr, 1978) e os riachos da Amazônia Central não parecem ser uma exceção (Araújo-Lima, et al. 2001). O aumento da heterogeneidade espacial geralmente permite a acomodação de novas espécies, diminuindo a competição entre elas e criando refúgios contra predadores (Vannote, et al. 1980). Apesar das clarezas destas teorias, estes padrões não são facilmente detectados em riachos de 1a e 2a ordem (Garutti, 1988), assim como a associação entre a diversidade de hábitats e a riqueza e abundância de espécies. Porém, uma relação mais clara foi observada por Penczak et al. (1994), que constataram uma alta taxa de substituição de espécies em comunidades de riachos de primeira e segunda ordem. A baixa relação entre o número de espécies e a ordem dos igarapés estudados pode estar refletindo o processo de estruturação dessas comunidades baseado na adição de novas espécies de um trecho para outro, bem como uma pequena amplitude de variações das condições ambientais desses igarapés. A relação entre fatores físiográficos e a estrutura da comunidade de peixes foi reportada por vários autores, para diversos ambientes aquáticos (e.g., Gorman & Karr, 1978; Power, 1992). Nesses estudos, a relação entre a densidade de material vegetal (macrófitas e folhiço), complexidade de hábitat e parâmetros das comunidades indicam que os bancos de macrófitas são um fator chave na estrutura de comunidades de peixes. Bancos de material vegetal parecem promover abundância de recursos alimentares (detritos, larva de insetos e zooplâncton) e proteção para a ictiofauna. Substratos com grande quantidade de material particulado (folhas, galhos e raízes) podem suportar uma grande diversidade biológica (Payne, 1986), principalmente por fornecer abrigo e alimento para a ictiofauna e macroinvertebrados. O presente resultado, no entanto, não demonstrou uma relação direta entre a quantidade de folhiço e a riqueza de espécies. A reunião dos dois grupos de espécies resultante da análise de agrupamento indica associação de certas espécies com ambientes dominados por bancos de folhiço. O primeiro grupo é marcado por espécies de meia água que se utilizam dos bancos ocasionalmente (e.g., P. brevis), enquanto o segundo é representado por espécies com dominância nesses bancos, também observado em um estudo de peixes de folhiço (A. Mortati, com. pess.). Espécies como H. marmoratus, Gymnotus spp., R. compressus e I. amazonicus utilizam preferencialmente esses microhabitats, onde permanecem abrigados debaixo do folhiço durante o período diurno. Agradecimentos Agradeço ao Jansen pela amizade, orientação e identificação das espécies, ao Dadão, Selvino e Glauco pelas valiosas sugestões nas análises dos dados, à Amanda e Lene pelas ajuda nas coletas de dados, à Angelita pelos excelentes esquemas dos igarapés, ao Jujuba (Juruna) pelo auxílio nas confecções da redes; à Gabi pelo companheirismo e ajuda na elaboração deste manuscrito, ao Janael pelas diversas discussões, sugestões e amizade, às terapeutas do abraço (Dana, Ju (CO2) e Chris), ao Sandro pelo apoio musical e ao INPA/PDBFF pela excelente oportunidade. Referências bibliográficas Angermeier, P. L. & J. R. Karr, 1983. Fish communities along environmental gradients in a system of tropical Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 99 stream. Env. Biol. Fish. 9:117-135. Araújo, F. C. 1988. Adaptação do índice de integridade biótica usando a comunidade de peixes para Rio Paraíba do Sul. Rev. Bras. Biol. 58 (4): 547-558 Araújo-Lima, C. A. R. M.; L. F.Jiménez; R. S. Oliveira; P. C. Eterhovick; U. Mendoza & A. Jerozolimnki 2001. Relação entre o número de espécies de peixes, complexidade do hábitat e ordem do riacho nas cabeceiras de um tributário do rio Urubu, Amazônia Central. Acta Limnologica Brasiliensia 11(2): 127-135. Barrella, W. 1992. Princípios básicos da metodologia aplicada em estudos ambientais. Terra Gasta: a questão ambiental. Educ, São Paulo. Bührnheim C. M. & C. Cox-Fernandes. 2000. Low seasonal variation of fish assemblages in Amazonian rain Forest streams. Ichthyol. Explor. Freshwater. 12(1): 65-78. Garutti, V. 1988. Distribuição longitudinal da ictiofauna em córrego da região noroeste do Estado de São Paulo, bacia do rio Paraná. Revista Brasileira de Biologia, 48:747-759 Gorman, O. T. & J. R. Karr 1978. Habitat structure and stream fish communities. Ecology, 59: 507-515. Goulding, M. 1980. The fishes and the forest, exploration in Amazonian natural history. 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As áreas de baixio por onde correm os igarapés abrigam conjuntos de espécies 100 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 exclusivas, como algumas palmeiras (Ribeiro et al., 1999) e invertebrados aquáticos (Nessimian et al, 1998). Além disso, a ictiofauna incrementa a riqueza local de espécies de vertebrados (Knöppel, 1970; Silva, 1993; Mendonça, 2001). A floresta adjacente determina habitats específicos dos igarapés de terra firme (Walker, 1995), de modo que a composição e estrutura da fauna são resultado da elevada complexidade estrutural, associada às interações ecológicas e à variedade de itens alimentares alóctones disponíveis neste sistema. O denso dossel da floresta intercepta grande parte da radiação solar que atingiria a lâmina d’água, tornando o igarapé praticamente heterotrófico e dependente do material alóctone proveniente da vegetação ripária (Henderson & Walker, 1986; Nolte, 1988; Nessimian et al, 1998). Assim, a fauna aquática depende da vegetação adjacente, pois muitas espécies que estruturam a comunidade estão fortemente associadas ao material alóctone e, portanto, estão suscetíveis às perturbações que podem ocorrer no habitat e na vegetação de entorno (Angermeier & Karr, 1984). A vegetação de entorno determina a quantidade e composição do folhiço, que será acumulado e posteriormente carreado para os igarapés. As folhas acumulam-se tanto em remansos como em correntezas, fornecendo abrigo e alimento para a fauna associada (Sabino & Zuanon, 1998; Souza, 2002). Os bancos de folhas submersos conectam os componentes aquático e terrestre do ecossistema, constituindo importante agente de seleção das características de história de vida das espécies de peixes (Grether et al., 2001). Os peixes que habitam os bancos de folhas, como Helogenes marmoratus (Siluriformes: Cetopsidae), Nemuroglanis sp. (Siluriformes: Heptapteridae), Microsternarchus bilineatus e Steatogenys duidae (Gymnotiformes: Hypopomidae) usam este microhabitat, principalmente, como local de abrigo contra predadores aquáticos e terrestres, enquanto que ciclídeos, como Apistogramma spp, usam-no como área de forrageamento (J. Zuanon, com. pessoal). Estes peixes que vivem associados ao folhiço submerso alimentam-se de invertebrados, principalmente, quironomídeos (J. Zuanon, com. pessoal). Estudos envolvendo assembléias de peixes mostram que a cobertura de folhas no fundo do igarapé pode ser alterada por mudanças na paisagem, vazão, profundidade e largura do igarapé, afetando tanto a ictiofauna como os invertebrados aquáticos (Bojsen & Barriga, 2002; Projeto Ygarapés, 2002). A vazão, profundidade e largura dos igarapés são importantes parâmetros no estudo da ictiofauna associada ao folhiço submerso, pois estão relacionadas à capacidade de retenção de folhas e, portanto, à formação dos bancos (Bojsen & Barriga, 2002). Neste contexto, o objetivo do presente trabalho é investigar se a profundidade, largura e quantidade de bancos de folhiço têm relação positiva com a abundância e riqueza da ictiofauna associada nos igarapés. Métodos O estudo foi realizado na Reserva do km 41 (02o 24 S e 059o 44 O), na área do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, localizada a aproximadamente 80 km ao norte de Manaus-AM. A reserva, de floresta de terra firme densa e úmida, compreende 1.000 ha de mata primária não isolada. Foram amostrados trechos de 20 m de 10 igarapés de 1a e 2 ordens. Cada trecho teve a largura e profundidade medidas em três pontos, como parâmetros referentes ao tamanho do igarapé. A coleta de peixes foi realizada com auxílio de peneiras de malha fina, de 60cm de diâmetro, nos bancos de folhiço acumulados ao longo do igarapé, em remansos e correntezas. O esforço empregado foi proporcional ao tamanho do banco, ou seja, a coleta prosseguiu até que o banco todo fosse amostrado. Os exemplares foram identificados segundo Géry (1977) e J. Zuanon e soltos no local de origem. Para amostragem da disponibilidade de substrato e localização dos bancos de folhiço submerso (remanso e correnteza), cada trecho de igarapé foi mapeado. A disponibilidade de folhiço em correntezas foi representada pela freqüência de ocorrência dos bancos, e a disponibilidade de folhiço em remansos pela freqüência de ocorrência e pela área relativa (%) coberta pelos bancos na área amostrada. Os dados de largura e profundidade representam médias de três pontos medidos a 0, 10 e 20 m do trecho amostrado. A relação entre o número de indivíduos (abundância) e de espécies (riqueza) e o número de bancos de folhiço, largura e profundidade dos igarapés foi investigada por meio de análise de covariância (ANCOVA). As possíveis relações entre a porcentagem da área coberta por folhiço em áreas de remanso e a riqueza e abundância de peixes foram analisadas com uso de regressões lineares simples. Para a análise estatística foi utilizado o programa estatístico SYSTAT 8.0 (Wilkinson, 1998). a Resultados Foram coletados 89 indivíduos e 18 espécies de peixes nos 10 igarapés amostrados, sendo 43 indivíduos nos bancos de folhiço em remansos e 46 na correnteza, pertencentes a 15 e 10 espécies respectivamente (Tabela 1). Não houve relação entre o número de peixes coletados, a largura do igarapé e tipo de microhabitat; no entanto, observou-se uma interação entre microhabitats marginalmente significativa (F=4,07; gl=1; P=0,06). Isto indica que a relação entre a largura e o número de indivíduos não está covariando entre microhabitats. Contudo, ocorreu uma diminuição do número de indivíduos capturados em função do aumento na largura do igarapé (r2= 0,48; N=10; F=7,47; P=0,02), nos bancos de folhiço localizados em correntezas (Figura 1a); o mesmo não foi observado para o microhabitat de remanso. Quanto à profundidade do igarapé, a diferença no número de indivíduos foi marginalmente significativa para os microhabitats (F=3,65; GL=1; P=0,07). Para os bancos de folha em locais de correnteza, houve relação positiva entre a profundidade e o número de peixes capturados (r2= 0,45; N=10; F=6,51; P=0,03; Figura 1b). Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 101 Tabela 1. Lista de espécies coletadas e respectivas abundâncias nos dois microhabitats amostrados (*criptobióticas, + associadas). Espécies coletadas Characiformes Characidae Hemigrammus cf. pretoensis Hyphessobrycon aff. melazonatus Hyphessobrycon agulha Lebiasinidae Copella nigrofasciata Nannostomus marginatus Pyrrhulina brevis Crenuchidae Crenuchus spilurus Siluriformes Trichomycteridae Ituglanis amazonicus* Cetopsidae Helogenes marmoratus * Callichthyidae Callichthys callichthys Perciformes Cichlidae Aequidens pallidus Apistogramma sp. + Crenicichla saxatilis+ Crenicichla inpa+ Gymnotiformes Gymnotidae Gymnotus pedanopterus* Gymnotus anguillaris* Cypriniformes Rivulidae Rivulus compressus Synbranchiformes Synbranchidae Symbranchus sp.* Remanso Correnteza Total 1 4 5 1 1 2 3 1 1 1 23 1 N. de indivíduos 1 1 2 2 7 8 1 1 1 2 1 1 1 1 2 3 1 1 2 2 2 2 4 3 1 7 1 A 10 0,1 0,2 Profundidade (metros) 0,3 B 10 5 0 1,0 1,5 2,0 2,5 Largura (metros) 3,0 3,5 Figura 1. Variação no número de indivíduos para bancos de folhiço em correnteza. Os pontos representam os trechos de 20m amostrados para cada um dos 10 igarapés. a) variação em função da largura e b) em função da profundidade. 102 Tabela 2. Análise de covariância para largura, profundidade e riqueza de espécies entre microhabitats (remanso e correnteza): L=largura e P=profundidade. Fator Microhabitat (L) Largura Interação (L) Microhabitat (P) Profundidade Interação (P) gl 1 1 1 1 1 1 F 2,81 0,50 3,41 0,58 2,20 0,43 P 0,11 0,49 0,08 0,45 0,16 0,52 Tabela 3. Análise de covariância para número de bancos de folhiço, largura, profundidade, número de indivíduos (I) e riqueza de espécies (E) entre microhabitats (remanso e correnteza). Fator Microhabitat (I) Bancos (I) Interação (I) Microhabitat (E) Bancos (E) Interação (E) gl 1 1 1 1 1 1 F 2,16 1,07 1,75 4,23 1,14 4,34 P 0,16 0,32 0,20 0,06 0,30 0,05 Discussão 5 0 0,0 N. de indivíduos 24 1 1 47 Não houve relação entre a riqueza de espécies e a largura e profundidade dos igarapés, tanto para remanso como correnteza (Tabela 2). Também não foi observada a existência de relações significativas entre a quantidade de bancos de folhiço e o número de indivíduos ou riqueza de espécies de peixes, seja no remanso ou nas áreas de correnteza (Tabela 3). Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 A cobertura relativa de folhas no substrato de igarapés pode predizer a estrutura de comunidades de peixes e indicar alterações no ambiente (Bojsen & Barriga, 2002). Contudo, para que qualquer interpretação neste sentido seja feita, é necessário que se estabeleçam, primeiramente, as relações entre a estrutura da ictiofauna e as características abióticas relacionadas à disponibilidade de habitats (Rincón, 1999). Deste modo, a distribuição da ictiofauna nos bancos de folhiço seria o primeiro passo para contribuir com informações mais precisas sobre a dinâmica de uso desse microhabitat pelos peixes. A disponibilidade de espaço e o tipo de substrato podem interferir na distribuição de indivíduos e na ocorrência de espécies (Nemeth, 1998). Assim, as espécies selecionam os habitats e se distribuem neles em função da pressão de predação e da complexidade estrutural do habitat, destacando-se então a importância da arquitetura do substrato, ou do habitat como um todo (Hixon & Beets, 1989; Eklöv & Person, 1996). Das espécies coletadas no presente trabalho, algumas como H. marmoratus são criptobióticas, ou seja, vivem escondidas nos bancos de folha na maior parte do dia e alimentam-se de invertebrados (principalmente chironomídeos e tricópteros), durante a noite. Outras, como Apistogramma spp., associam-se ao folhiço submerso para forrageamento e reprodução, alimentando-se dos invertebrados presentes neste microhabitat durante o dia. A existência de uma relação negativa entre o número de peixes e a largura do igarapé, e positiva em relação à profundidade, indica que igarapés mais estreitos e profundos proporcionam condições melhores para formação de bancos adequados à ocupação pela ictiofauna. É possível que tais bancos apresentem maior complexidade estrutural em função do gradiente de estratificação vertical assim formado. Este tipo de banco, aparentemente, comporta um maior número de peixes que os bancos de folhiço pouco profundos e com grande carga de sedimentos associados, freqüentemente formados em igarapés largos e rasos. Uma questão que permanece é: porque essa relação não se dá para bancos localizados em remansos? Novamente, estes microhabitats acumulam mais sedimento areno-lodoso, o que pode resultar na exclusão de certas espécies de peixes típicas de bancos com folhas mais limpas (J. Zuanon, com. pessoal). Uma segunda pergunta diz respeito à riqueza de espécies, que não variou significativamente em relação à disponibilidade de bancos de folhiço. É possível que a amplitude de variação no tamanho dos igarapés amostrados (e, consequentemente, da proporção de bancos de folhiço presentes nesses ambientes) não tenha sido significativamente grande a ponto de evidenciar essas relações. Como constatado por Araújo-Lima et al. (2000), igarapés de primeira ordem parecem ser muito semelhantes aos de segunda ordem em termos de riqueza. Os trechos aqui amostrados correspondem a igarapés de primeira e segunda ordens de uma única bacia de drenagem e, portanto, não apresentariam grandes diferenças com relação às espécies presentes em cada trecho. Ainda, a porcentagem de folhiço em remansos pode não ter explicado as variações no número de indivíduos e de espécies por um efeito de ineficiência da coleta pois, durante o trabalho de campo, percebi maior eficiência de amostragem nos igarapés de menor porte. Contudo, alterações na complexidade de bancos em remansos, que possam modificar significativamente sua capacidade de comportar indivíduos, talvez só apareçam com maiores amplitudes de variação. Igarapés maiores, a partir de terceira ordem, têm maior probabilidade de apresentar diferenças na estrutura da ictiofauna por compreenderem maior variação nas proporções e tipos de microhabitats (J. Zuanon, com. pessoal). De modo geral, os bancos formados em áreas de correnteza parecem ser mais sensíveis a variações de largura e de profundidade do igarapé, em relação à sua complexidade estrutural. Assim, podemos considerar que, pelo menos em termos de abundância, esta complexidade determina a estrutura da comunidade de peixes associada a esses bancos de folhiço. Agradecimentos Agradeço aos companheiros de coleta, Miúdo, Márcio e em especial à Lene por toda paciência e ajuda com a identificação dos exemplares. À Angelita pelo mapeamento dos igarapés, atitude nas horas de sufoco e sonoplastia indispensável. Aos coordenadores Jansen e Dadão, por toda atenção e apoio durante a elaboração deste trabalho e pelas lições providenciais durante o curso. Ao Juruna, fiel escudeiro, por tudo como sempre. Finalmente, aos nada caííídos, muito especiaaais, óóótimos companheiros desta incrível passagem pela Floresta Amazônica. Referências Angermeier, P. L. & Karr, J. R. 1984, Fish communities along environmental gradients in a system of tropical streams. In: Zaret, T. M., ed. Evolutionary ecology of neotropical freshwater fishes. Netherlands, Dr. W. Junk Publishers, The Hague, p.39-57. Araújo-Lima, C, A.; Jiménez, L. F.; Oliveira, R. S.; Eterovick, P. C.; Mendoza, U. & Jerozolimnki, A. 2000. Relação entre número de espécies de peixes, complexidade do habitat e ordem do riacho nas cabeceiras de um tributário o rio Urubu, Amazônia Central. Acta Limn. Brasil. 11(2): 127-135. Bojsen, B. H. & Barriga, R. 2002. Effects of deforestation on fish community structure in Ecuadorian Amazon streams. Fresh. Biol. 47: 2246-2260. Eklöv, P. & Persson, L. 1996. The response of prey to the risk of predation: proximate cues for refuging juvenile fish. Anim. Behavior. 53:105-115. Géry, J. 1977. Haracoids of the world. TFH Publ., Neptune, NJ. 672p. Grether, G. F.; Millie, D. F.; Bryant, M. J.; Reznick, D. N. and Mayea, W. 2001. 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Apesar da Amazônia abrigar a maior ictiofauna de água doce do planeta, seus igarapés são sistemas aquáticos com uma produção biológica razoavelmente baixa (Goulding et al., 1988). Esses sistemas aquáticos são muito dependentes da floresta circundante, que atua como principal elemento de produção primária, sustentando grande parte da cadeia trófica (Walker, 1991; Lowe-McConnel, 1999). Estes igarapés são colonizados principalmente por espécies de peixes de pequeno porte (Golding et al., 1988). Estudos sobre distribuição espacial, alimentação e estrutura de comunidades de peixes em pequenos igarapés vêm sendo realizados na região tropical (Silva, 1992; Sabino & Zuanon, 1998; Esteves & Aranha, 1999). Na realização desses estudos, algumas metodologias de coleta são aplicadas especialmente para igarapés. Entre estas estão os métodos 104 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 passivos (redes e armadilhas, como covo e “fike-net”) e os métodos ativos (redes de mão, puçás, peneiras, mergulho, etc). A coleta passiva consiste na captura de peixes utilizando apetrechos que não são movidos ativamente pelo coletor, tornando-se uma forma de captura menos agressiva ao ambiente, uma vez que a rede ou armadilha fica à espera do animal. Porém, a coleta passiva é bastante seletiva quanto às espécies e ao tamanho dos peixes (Uieda & Castro, 1999). A coleta ativa, por outro lado, consiste na captura de peixes através de uma malha que perturba o ambiente, uma vez que é preciso o uso da força e às vezes necessita-se mexer na estrutura dos microhábitats. Além disso, as capturas por esse método são altamente dependentes da habilidade do coletor (Uieda & Castro, 1999). Quando se considera a importância dos dois tipos de impactos de coleta sobre as populações naturais, especialmente em unidades de conservação ambiental, a tendência seria optar por métodos de coleta passivos. Por outro lado, quando há necessidade de realizar levantamentos ecológicos ou faunísticos rápidos, os métodos ativos, via de regra, são escolhidos. Tendo em vista as diferenças peculiares a cada método de captura, torna-se interessante realizar um estudo comparativo entre eles, averiguando a seletividade e eficiência de cada tipo sobre os animais coletados. Assim sendo, o presente trabalho tem por objetivo comparar a eficiência de duas metodologias de coleta em igarapés de terra firme da Amazônia Central, levando em consideração a riqueza, composição e abundância das capturas. Métodos COLETA DE DADOS AMBIENTAIS As coletas foram realizadas, no período de 28 de julho a 01 de agosto, em oito igarapés de primeira ordem da Reserva do Km 41, do Projeto de Dinâmica de Fragmentos Florestais (PDBFF–INPA/Smithsonian Institution), localizada a 80km ao Noroeste da cidade de Manaus, entre as coordenadas 2°24’26" - 2°25’31"S e 59°43’40" - 59°45’50"O e em altitudes variando de 50 a 125m. A reserva apresenta um sistema de trilhas que possibilitou a prévia escolha dos igarapés estudados (Tabela 1). As coletas foram realizadas em trechos de 20m por igarapé, os quais foram bloqueados com tela de mosquiteiro, delimitando a área de coleta. Cada igarapé foi considerado como uma réplica. Após a delimitação da área, foram tomadas três medidas de largura, pois apesar de todos os igarapés serem de primeira ordem segundo a classificação de Petts (1994), a largura varia razoavelmente e constitui um bom descritor do tamanho dos igarapés (Soares Junior, 2002). Tabela 1: Igarapés amostrados na reserva do Km 41, com sua largura e localização no sistema de trilhas. Igarapés Trilha Largura 1 J1 1,02 2 M2-3 1,54 3 N9 2,10 4 J5 2,15 5 V8 2,75 6 V-X 9-10 3,47 7 Q16 2,90 8 S19 3,45 COLETA DE PEIXES E IDENTIFICAÇÃO No método de coleta passiva, foram utilizadas 10 armadilhas tipo covo, feitas de garrafa pet, por igarapé (Figura 1A) Cada armadilha continha isca de sardinha acondicionada em um frasco de filme fotográfico perfurado. As armadilhas foram distribuídas ao longo dos igarapés numa distância aproximada de 2m uma da outra, sendo instaladas no fundo de áreas marginais e com a abertura voltada para jusante, e permanecendo armadas por um período de 24h. No método ativo foi utilizado puçá (rapiché) e peneira (Figura 1B, C), tomando o cuidado de amostrar exaustivamente os diferentes ambientes encontrados nos 20m de igarapé. Um trecho de igarapé foi considerado esgotado quando após em 5 min de coleta não se capturava nenhum indivíduo. As áreas onde cada método foi aplicado em um dado igarapé foram distanciadas em cerca de 5m, evitando assim possíveis interferências diretas nos resultados. Em média, as coletas ativas duraram cerca de 1h por igarapé. Os indivíduos foram coletados, colocados em bandejas plásticas, contados, identificados no próprio local de coleta e depois soltos no igarapé de origem ao final da amostragem. Foi necessário levar alguns exemplares em sacos plásticos até o acampamento para melhor identificação. A B C Figura 1: Apetrechos utilizados para a aplicação dos métodos de coleta de peixes em igarapés na reserva do Km 41. AArmadilha tipo covo (método passivo); B- Puçá e C- Peneira (método ativo). Após a aplicação dos dois métodos de coleta, surgiu a dúvida de que as armadilhas do tipo covo estariam sofrendo uma alta taxa de escape de peixes, em função do longo intervalo de tempo (24h) entre a instalação e a despesca. Assim, decidiu-se realizar um pequeno experimento de campo com o objetivo de averiguar se os escapes realmente ocorriam e com qual frequência. Em um trecho de 40m foram colocadas 20 armadilhas, com distância média de 2m uma da outra. A cada hora todas as armadilhas foram revistadas, anotando-se as espécies e o número de indivíduos capturados, sem retirá-los das armadilhas. Quatro armadilhas foram removidas aleatoriamente a cada hora, como forma de medir as capturas efetivas por período. ANÁLISE DOS DADOS Os valores de riqueza e abundância obtidos nas duas metodologias foram comparados utilizando um teste t pareado. Para verificar a variação da abundância e da riqueza em relação à largura do igarapé para os dois métodos e para analisar o quanto a riqueza varia em função da abundância, foram realizadas análises de regressão linear simples. Também foi verificado se havia diferença entre as duas metodologias quanto à composição de espécies capturadas, Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 105 50 Resultados 40 Nos oito igarapés estudados foram capturadas 17 espécies, em um total de 302 peixes. A ordem mais rica foi Characiformes com seis espécies, em segundo lugar, ficaram as ordens Siluriformes e Perciformes com quatro espécies e, finalmente as ordens Gymnotiformes e Cypriniformes com duas e uma espécies, respectivamente. A família mais abundante foi Cichlidae com quatro espécies (Tabela 2). No método passivo foram capturados 97 indivíduos e no ativo 205. A média de capturas com o método passivo foi menor (12 peixes por igarapé) do que com o ativo (25,6 peixes por igarapé) (t= 3,459; GL=7; e p=0,011). Quanto à riqueza, não houve diferenças nas capturas com os dois métodos (t=2,080;GL=7; e p=0,076) (Figura 2). Abundância com o uso do índice de similaridade de Jaccard. 0 Ativo Passivo Tipo de coleta 10 9 8 7 Passivo Total 30 10 6 0 36 16 1 0 1 3 4 105 5 64 9 169 2 7 9 16 11 0 11 1 2 0 0 1 2 1 0 1 2 2 0 0 2 2 2 1 4 0 4 3 2 1 6 4 6 1 22 205 3 97 25 302 Riqueza Ativo 6 5 4 1 Tanto a riqueza quanto a abundância não apresentaram relação com a largura dos igarapés, para os dois métodos de coleta utilizados (Tabela 3). No entanto, quanto juntamos os dois métodos, verificamos uma variação significativa da riqueza em função da abundância (R2=0,389 e p=0,01) (Figura 3). 106 20 10 Tabela 2: Lista de espécies capturadas nos oito igarapés da reserva do Km 41, com a aplicação dos dois métodos, ativo e passivo. Espécie CHARACIFORMES Characidae Hemigrammus gr. pretoensis Hyphessobrycon agulha Crenuchidae Microcharacidium sp. Lebiasinidae Nannostomus marginatus Pyrrhulina brevis Erythrinidae Erythrinus erythrinus SILURIFORMES Cetopsidae Helogenes marmoratus Pimelodidae Nemuroglanis sp. Ituglanis cf. amazonicus Callychthidae Callichthys callichthys GYMNOTIFORMES Gymnotidae Gymnotus pedenopterus Gymnotus anguilaris PERCIFORMES Cichlidae Aequidens pallidus Apistogramma gr. steindachenri Apistogramma sp. Crenicichla saxaltilis CYPRINIFORMES Rivulidae Rivulus compressus Total 30 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 0 Ativo Passivo Tipo de coleta Figura 2: Box plot representando os valores de riqueza e abundância de peixes obtidos com os dois métodos de coleta. As linhas horizontais representam as medianas, os retângulos, os quartis e as linhas verticais, o mínimo e o máximo. Tabela 3: Resultado das relações da riqueza e abundância com a largura dos igarapés estudados na reserva do km 41, para os dois métodos de coleta. 2 Variáveis R p Largura X Riqueza (Passiva) 0,088 0,47 Largura X Riqueza (Ativa) 0,324 0,14 Largura X Abundância (Passiva) 0,000 0,99 Largura X Abundância (Ativa) 0,146 0,35 Método Ativo Método Passivo Riqueza 10 5 0 0 10 20 30 40 Abundância 50 Figura 3: Regressão da relação da riqueza com a abundância juntando os dois métodos, ativo e passivo. No caso da composição de espécies observou-se uma similaridade geral de 65% entre os peixes coletados com os métodos passivo e ativo. A similaridade média entre as capturas com os dois métodos em cada igarapé foi muito mais baixa (27%). O valor médio de similaridade entre igarapés amostrados com o método ativo foi de 41% e com o método passivo foi de 35%. Quanto à taxa de escapes de peixes nas 40 vistorias sucessivas realizadas, detectou-se a ocorrência de escapes em 11 ocasiões (27%), representando uma perda potencial de 21 peixes. Discussão O número de espécies encontradas nos oito igarapés amostrados neste estudo (17) foi semelhante ao encontrado nos 12 pontos estudados por Araújo-Lima et al. (2000), que foi de 20 espécies. Isso indica que os dois métodos de coleta utilizados neste estudo são eficientes para amostragens em igarapés de primeira ordem, ou que são igualmente ineficientes. A ausência de diferença na eficiência dos métodos de captura passiva e ativa para a riqueza indica que, ao fazer um inventário em uma área de conservação como a do Km 41, o método passivo poderia ser escolhido, pois causa menos impacto. No entanto, para trabalhos que consideram a abundância das espécies o método passivo não seria adequado. Isso pode não estar relacionado com a ineficiência das armadilhas tipo covo, e sim com uma elevada taxa de escape, confirmada com o experimento realizado. Talvez um redimensionamento da estrutura do covo reduzisse a taxa de escape do mesmo. Uieda e Castro (1999) comentaram que a seletividade do método de coleta pode resultar de fatores extrínsecos, como forma de construção da armadilha e métodos de operação. Na fase experimental também foi registrado entradas de Jejus (E. erithrinus) nas armadilhas, mas isso não acontecia por causa das iscas que estavam nas mesmas e sim para comer os peixes que ali estavam, o que também pode ter reduzido um pouco o nosso número de indivíduos capturados por esse método. A realização de mais vistorias de captura, com revisões de 6 em 6 horas, talvez possibilitassem capturar indivíduos com hábitos diferenciados (diurnos e noturnos). No entanto, a praticidade de posicionar as armadilhas e retirálas apenas no dia seguinte seria perdida, diminuindo a diferença de esforço em relação à captura ativa. Sob o ponto de vista de conservação, o método de coleta ativa não seria tão apropriado, uma vez que durante o trabalho de campo o efeito negativo sobre a estrutura dos microhábitats que a coleta ativa exerceu no igarapé foi observado. Araújo-Lima et al. (2000) encontraram uma relação significativa entre a abundância de peixes, o número de microhábitats e não com a largura ou ordem do igarapé. Esses autores concluíram que amostragens em igarapés de primeira e segunda ordem seriam redundantes em função da alta similaridade na composição de espécies nesses ambientes. Um outro fator que pode explicar a aparente ausência de relação entre as capturas e dimensões dos igarapés é que os métodos de captura não são igualmente eficientes para igarapés de diferentes larguras. Uieda e Castro (1999) mostraram que características do habitat como profundidade, correnteza, tipo de fundo e transparência afetam a seletividade dos instrumentos de coleta. Com o aumento do tamanho do igarapé, aumenta a correnteza, o que poderia estar afetando nas capturas de certas espécies. No caso da regressão analisada para as capturas com as duas metodologias, percebe-se claramente que os métodos são complementares. Quanto à similaridade de 65% observada nas capturas com os dois métodos, o método ativo capturou alguns peixes criptobióticos, ou seja, que têm hábito de ficar escondidos como: Callichthys callichthys, Helogenes marmoratus, Microcharacidium sp., Ituglanis amazonicus, Gymnotus pedanopterus e Gymnotus anguilaris, ausentes nas captura com o método passivo. Dentre as espécies capturadas com o método passivo, apenas uma espécie, Crenicichla saxatilis, não ocorreu no método ativo, que pode ser decorrência de uma baixa abundância dessa espécie nos igarapés. No entanto, quando comparamos pontos de um mesmo igarapé, esse índice diminui para 27%, o que nos faz concluir que para amostrar rápida e eficientemente esses ambientes o ideal seria conjugar os dois métodos ou aumentar o esforço de coleta. Conclusão A escolha do método de coleta deve considerar limitações impostas pelo ambiente e a natureza do trabalho que se pretende desenvolver. Foi confirmado que para riqueza o método passivo e ativo são igualmente eficientes, no entanto, Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 107 para a abundância o método ativo gerou melhores resultados. O aumento do número de revisões das armadilhas poderia sanar essa deficiência nas amostragens. Agradecimentos Agradeço primeiramente ao Dadão e ao Jansen pela seleção nesse curso. A todos os meus colegas de curso de campo pela companhia e principalmente pelos meus infalíveis companheiros no Brega (Wanderley Andrade et al.). Ao Jansen pelos incansáveis ouvidos e dicas para o trabalho realizado. Aos meus companheiros de coleta, Miúdo, Amanda, Juruna e Angelita (e pelos lindos desenhos também). Às minhas amigas Rita, Maura e mais uma vez ao Juruna pela ajuda com as lavagens das armadilhas (estavam fedidas heim?). Muito obrigado ao PDBFF/INPA/ Smithsoniam Institution pelo financiamento desse curso e por nos ter proporcionado ótimas experiências na região amazônica. Finalmente, agradeço ao seu Jorge e à dona Eduarda pelas maravilhosas refeições. Referências Araújo-Lima, C. A. R. M; L. F; Jímez; R. S. Oliveira; P. C. Eterovick; U. Mendoza, U e A. Jerozolimnki. 2000. Relação entre o número de espécies de peixes, complexidade do habitat e ordem do riacho nas cabeceiras de um tributário do rio Urubú, Amazônia Central. Acta Limnológica Brasiliensia 11 (2): 127135. Esteves, K. E. e J. M. R. Aranha. 1999. Ecologia trófica de peixes de riachos. pp. 157-182. In: Caramaschi, E. P.; Mazzoni, R. & Peres-Neto, P. R. (Ed.) Ecologia de Peixes de Riachos. Série Oecologia Brasiliensis, vol. VI. 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Todas as espécies de Parkia caracterizam-se por apresentarem adaptações à zoofilia. Segundo um estudo realizado na Amazônia Central, cinco das sete espécies encontradas na Reserva Ducke são polinizadas por morcegos que visitam as árvores rapidamente, lambendo o néctar produzido pelas flores (Ribeiro et al., 1999). As 108 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 outras espécies têm como polinizadores principais mariposas e abelhas noturnas. Parkia pendula é uma árvore de dossel, com copa larga, aplainada, perenifólia, mesófila ou heliófila, que ocorre em floresta alta de terra firme na região amazônica (Oliveira e Ferraz, 2003) e na mata pluvial Atlântica (Hopkins, 1986). Esta espécie tem adaptações para a polinização por morcegos e apresenta inflorescências pendulares e ântese noturna (Develely et al., 1997). As inflorescências (capítulos) são separadas dos galhos por um pedúnculo de até 1 m de comprimento, pendurados abaixo da copa, que se abrem e relativa e distribuição temporal das visitas (horário e ao longo do período de estudo). Resultados Durante esse estudo realizei 76 varreduras nas quais pude registrar a visitação de morcegos, mariposas e cuíca (Caluromys philander; Didelphimorphia: Didelphidae). As porcentagens de ocorrência de cada grupo podem ser vistas na Tabela 1. Tabela 1. Porcentagem de ocorrência de visitantes florais de Parkia pendula (n=76 registros) Visitantes florais 34,55 Mariposas 30 Caluromys philander 17 Nenhum visitante 20 O horário de maior atividade de visitação de morcegos ocorreu entre 19h e 22h, mariposas entre 18:40h e 22h e C. philander não apresentou picos de visitação em função do alto tempo de permanência em cada visita, ocorrendo apenas após as 20:40h (Figura 1). Ao longo dos dias de observação houve um decréscimo no número total de visitantes a cada noite (Figura 2). 4 3,5 Métodos 3 2,5 Caluromys 2 Morcegos 1,5 Mariposas 1 0,5 18 :0 0 18 :2 0 18 :4 0 19 :0 0 19 :2 0 19 :4 0 20 :0 0 20 :2 0 20 :4 0 21 :0 0 21 :2 0 21 :4 0 22 :0 0 22 :2 0 22 :4 0 23 :0 0 23 :2 0 23 :4 0 00 :0 0 0 Horário Figura 1. Registro de atividade dos visitantes florais de Parkia pendula em cada horário. Morcegos Caluromys 40 Mariposas 35 Número de registros Realizei este estudo na reserva do Km 41 (02o24’S; o 58 52’O), uma área de floresta contínua administrado pelo Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), 80km ao norte de Manaus, Amazonas. Para realizar esse trabalho selecionei um indivíduo em floração de P. pendula com 15 m de altura e área de copa de 120 m2. Observei esse indivíduo por quatro noites entre 18h e 24h. A cada noite, anotei o horário de abertura das inflorescências e às 18:40h contei todas as inflorescências abertas. Para avaliar a frequência de visitação utilizei o método de varredura instantânea (Setz, 1991), observando a cada 20 min quais e quantos animais estavam visitando as inflorescências naquele momento. Para observar a interação de mamíferos não voadores com as inflorescências, a cada 20 min realizei 5 min de observação focal, registrando o horário, a posição do animal na árvore, o número de inflorescências visitadas, o tempo de permanência em cada inflorescência e a descrição do comportamento durante as visitas. Os resultados são apresentados em forma de frequência Porcentagem de ocorrência (%) Morcegos Média de registros começam a produzir néctar durante a noite (Hopkins, 1984; Fisher, 1999). Cada inflorescência possui numerosas flores, sendo que as situadas na parte superior são estéreis e produzem uma grande quantidade de néctar, atraindo polinizadores (Prance, 1985). O pico de produção de néctar ocorre na primeira metade da noite, entre 21h e 23h (Fisher, 1999; Hopkins, 1984). Na Amazônia Central, o período de maior floração de P. pendula é de maio a julho (Alencar, 1998). Sua estratégia reprodutiva consiste em abrir um grande número de capítulos a cada noite, com um pico de floração de apenas duas semanas (Hopkins, 1984). Durante esse período, muitas espécies animais, além dos morcegos, são observadas alimentando-se do néctar, entre elas cuícas (Marmosops parvidens e Caluromys lanatus) e mariposas (Develey et al., 1997). Alguns estudos indicam que excluindo os morcegos, os demais visitantes não são polinizadores efetivos de P. pendula. A intensa visitação de agentes não polinizadores deve-se, possivelmente, à grande quantidade de néctar produzido pelas inflorescências (2,5 ml/h), com alta concentração de açúcar (18 a 23%) (Develey et al., 1997). Quanto aos morcegos, oito espécies de filostomídeos são polinizadoras: Ametrida centurio, Artibeus lituratus, Artibeus concolor, Carollia perspicillata, Phyllostomus discolor, P. elongatus, P. hastatus e Uroderma bilobatum (Rodríguez-H, 1999). Até o momento, pouco se conhece sobre a interação entre P. pendula e macrovisitantes florais, sendo importante realizar estudos enfocando o comportamento desses visitantes. Neste sentido, o objetivo desse estudo foi registrar os visitantes florais em um indivíduo de P. pendula, observando a frequência de visitação e seus padrões comportamentais durante as visitas. 30 25 20 15 10 5 0 27/7/2003 28/7/2003 29/7/2003 30/7/2003 Data Figura 2. Número total de registros de visitantes florais de Parkia pendula por dia de observação. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 109 Com relação ao acompanhamento das visitas de Caluromys philander, realizei 17 observações de 5 min cada uma, totalizando 85 min de animal-focal. Em todas as ocorrências de manipulação das inflorescências, o animal pendurava-se pela cauda prêensil, recolhendo o maior número de inflorescências possível. Após juntá-las, o animal começava a lambê-las por intervalos que variavam de 1s a 24s. Essa seqüência repetia-se uma ou duas vezes, em seguida, o animal iniciava um comportamento de autolimpeza, lambendo principalmente o peito e os membros anteriores e reiniciava as visitas. Durante o período de permanência na árvore (entre 4 a 300 min), o animal alternou períodos de busca ativa por inflorescência e descanso, aumentando o tempo de repouso após as 22h. O número médio de flores visitadas variou de 0 a 27 (média + DP = 8 + 8,17) e o número de galhos utilizados para busca de inflorescências entre 0 e 7 (média + DP = 3,35 + 2,40) por intervalo de observação. O número de inflorescências abertas a cada noite apresentou variação ao longo do período de estudo (média + DP = 48,5 + 10,40). O horário de abertura das flores ocorreu entre 18:20h e 18:40h e não variou entre os dias. O número total de flores no último dia diminuiu 31,5% em relação ao primeiro dia de amostragem. Discussão Entender melhor os processos de polinização é de extrema importância já que esse é o processo inicial para a dispersão da maioria das espécies arbóreas. Há muitas formas de polinização e uma série de adaptações florais para permitir a polinização por determinados grupos animais ou outro vetor. No caso de P. pendula, a sua morfologia floral está intimamente relacionada à quiropterofilia, entretanto, outros visitantes aproveitam-se do néctar produzido pelas flores inférteis. Até que ponto esses visitantes também participam do processo de polinização é de difícil estimativa. O volume de néctar produzido em uma hora, bem como a concentração de açúcar no néctar de P. pendula, não podem ser considerados pequenos. Esse fato poderia estimular a visita de polinizadores, mas também potencializaria a ação de possíveis “pilhadores” de néctar, ou seja, aqueles visitantes que apenas usufruem da recompensa, mas não proporcionam benefícios para a planta. Entretanto, essa perda pode não ser de grande importância para o indivíduo arbóreo pois, segundo Simpson e Neff (1983), o néctar é a mais simples recompensa que as plantas podem oferecer, extremamente fácil de produzir e que comparativamente a outros atrativos, apresenta custos energéticos bastante baixos. Caluromys philander é um marsupial de médio porte, solitário e de hábitos noturnos que alimenta-se de frutas, néctar e invertebrados (Emmons, 1997; Einsenberg e Redford, 1999). O comportamento de visita C. philander em P. pendula foi semelhante ao observado por Develey et al. (1997) para C. lanatus. Segundo esses autores, C. lanatus alcança a inflorescência descendo pelo pedúnculo, permanecendo virado de cabeça para baixo, enquanto retira 110 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 o néctar por meio de lambidas. Durante esse processo, o pescoço e o peito do animal entram em contato com o pólen. Nesse mesmo estudo, Caluromys lanatus não se mostrou um bom polinizador de P. pendula, apesar de transportar pólen durante as visitas. Segundo Charles-Dominique (1983), C. philander possui área de vida entre 0,3 e 1 ha. Esse fato, somado à distribuição esparsa de P. pendula (Develey et al., 1997) minimizam a chance que esses animais visitem mais de uma planta na mesma noite, podendo promover apenas auto-polinização. Se P. pendula é uma espécie autocompatível, é provável que C. philander esteja contribuindo como polinizador dentro desse mesmo indivíduo, já que muitas flores foram visitadas em uma mesma noite. Entretanto, essa contribuição não parece ser muito expressiva pois após as visitas, o animal lambia-se exaustivamente, provavelmente removendo a maior parte do pólen de seu corpo. Quanto às mariposas, não foi possível chegar a nenhuma conclusão, mas o estudo de Develey et al. (1997) registra que esses animais não entram em contato com o pólen das inflorescências de P. pendula, podendo ser considerados pilhadores do néctar. As características morfológicas e fenológicas das inflorescências de P. pendula fazem dos morcegos o grupo polinizador potencialmente mais efetivo (Prance, 1985). Como esperado, a maioria dos visitantes florais foram os morcegos, indicando que P. pendula possui síndrome de polinização quiropterófila. Agradecimentos Ao INPA e PDBFF pela maravilhosa oportunidade de realizar esse trabalho. Aos meus amigos Faviany e Fresnel pelo apoio em campo, companheirismo e amizade durante todo o curso; ao Juruna pela força em campo; ao Wilson, Glauco, Jansen, Pinguela e Dadão pelas idéias e apoio; ao Miúdo pelo empréstimo do holofote; a Gabi pelas conversas, revisão do trabalho e empréstimo do binóculo; ao Janael e Cris (norte-americana) pelas imagens, Rosinha pelas dicas e a todos os amigos que conheci nesse mês que se divertiram comigo vendo as estripulias da Mucura e contribuíram com sugestões a esse trabalho. Referências bibliográficas Alencar, J. C. 1998. Fenologia das espécies arbóreas tropicais na Amazônia Central. In: Gascon, C. e Moutinho, P. (Eds). Floresta Amazônica: dinâmica, regeneração e manejo. INPA, Manaus. Charles-Dominique, P. 1983. Ecology and social adaptations in didelphid marsupials: comparision with eutherians of similar ecology. In: Einsemberg, J. F. e Kleiman, D. G. (Eds.). Advances in the study of mammalian behaviour. Special Publication 7. Shippensburg, Pa.: American Society of Mammalogists. Develey, P., Moscoso, D.; Tirira, D.; Sotta, E. D. e Andrade, I. 1997. Visitantes florais em Parkia pendula (MIMOSACEAE). In: Mesquita, R. e Lima, C. (Eds.). V Curso de Ecologia da Floresta Amazônica. Manaus, AM. INPA, Smithsoniam Institution, OTS e UNICAMP. p. 2 – 4. Einsenberg, J. F. e Redford, K. H., 1999. Mammals of the central neotropics. The northern Neotropics. Vol. 3. The University of Chicago and London Press. Emmons, L. H. 1997. Neotropical rainforest mammals: a field guide. The University of Chicago and London Press. Fisher, E. A. 1999. Polinização por morcegos Glossophginae versus Phyllostomidae em florestas de terra firme na Amazônia Central. Dissertação de mestrado Unicamp, São Paulo. Hopkins, H. S. 1984. Floral biology and pollination ecology of Neotropical species of Parkia. Journal of Ecology. 72: 1 – 23. Hopkins, H.S.; Huxley, C. M.; Pannell, C. M.; Prance, G. T. e White, F. 1998. The Biological Monograph. Royal Botanical Gardens Key. Oliveira, M. C. P e Ferraz, I. D. K. 2003. Comportamento das sementes de Parkia pendula (Willd.) Walp. (visgueiro) no banco de sementes aéreo. In: Higuchi, N., Santos, J., Sampaio, P. T. B., Marenco, R. A., Ferraz, J., Sales, P. C., Saito, M. e Matsumoto, S. (Orgs.). Projeto Jacaranda Fase II: pesquisas florestais na Amazônia Central. CPST, INPA, Manaus. Prance, G. T. 1985. The pollination of Amazonian plants. 166-191. In: Prance, G. T., Lovejoy, T. E. (Eds.). Key Environments Amazonia. Pergamon Press, Oxford, England. Ribeiro, J. E. L. S, Hopkins, M. J. G., Vicentini, A., Sothers, C. A., Costa, M. A. S., Brito, J. M., Souza, M. A. D., Martins, L. H. P., Lohmann, L. G., Assunção, P. A. C. L., Pereira, E. C., Silva, C. F., Mesquita, M. R e Procópio, L. C. 1999. Flora da Reserva Ducke – guia de identificação das plantas vasculares de uma floresta de terra-firme na Amazônia Central. INPA, DFID. Manaus. Rodriguez-H, B. 1999. Ametrida centurio (Phyllostomidae) un nuevo visitante a las flores de Parkia pendula (Mimosoideae), en Amazonía Central, Brazil. In: Venticinque, E. e Hopkins, M. J. G. (Eds.). Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica. Setz, E. 1991. Métodos de quantificação de comportamento de primatas em estudos de campo. In: A primatologia do Brasil 3. Fundação Biodiversitas, Belo Horizonte. Simpson, B. B. e Neff, J. L., 1983. Evolution and diversity of floral rewards. Em: Jones, C. E. e Little, R. J. (Eds.). Handbook of experimental pollination biology. Scientific and Academic Editions, New York. Assimetria Flutuante como ferramenta para avaliar o efeito de borda em Heliconia acuminata na Amazônia Central Maura Maria Pezzato Introdução O efeito de borda pode ser considerado como um dos principais fatores que afetam populações vegetais e animais (Laurance e Bierregaard, 1997). Murcia (1995) distinguiu três tipos de efeito de borda: abiótico, bióticos direto e bióticos indireto. Os efeitos abióticos envolvem as mudanças ambientais físicas como temperatura, intensidade de luz, umidade e vento. Os efeitos bióticos diretos envolvem as mudanças na distribuição e abundância das espécies em decorrência das alterações nas condições abióticas próximas a borda, enquanto que os efeitos bióticos indiretos resultam nas mudanças das interações entre as espécies como herbivoria, predação, parasitismo, dispersão e polinização. Mudanças nas condições abióticas podem causar modificações fisiológicas nos indivíduos influenciando no seu desenvolvimento e crescimento (Bruna, 2001). O controle do desenvolvimento de um organismo sob uma certa faixa de condições ambientais e/ou genéticas é denominada estabilidade de desenvolvimento (Moller e Swaddler, 1997). Uma maneira de se avaliar a estabilidade de desenvolvimento em plantas é a medida de assimetria em caracteres com estrutura bilateral, como as folhas. Condições de estresse ambiental durante o desenvolvimento tendem a gerar e aumentar os desvios na simetria em orgãos vegetais (Freeman et al., 1993; Moller e Shykoff, 1999). A assimetria flutuante é muito usada para medir a instabilidade do desenvolvimento (Moller e Swaddle, 1997). Um indivíduo, animal ou vegetal, incapaz de se desenvolver devido a um distúrbio, de origem ambiental ou genético, pode exibir pequenos desvios de simetria. Desta maneira, desvios são denominados de assimetria flutuante quando eles são não direcionais e aleatórios (Moller e Swaddle, 1997). Portanto, indivíduos mais simétricos possuem maior estabilidade de desenvolvimento, melhor sucesso Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 111 reprodutivo e maiores taxas de sobrevivência. Deste modo, plantas são ideais para esse tipo de abordagem, porque cada indivíduo de planta possui folhas, flores e talos geneticamente idênticos, sendo possível testar em indivíduos diferentes a assimetria flutuante e conseqüentemente, as diferenças na estabilidade de desenvolvimento na planta (Freeman et al., 1993). As plantas na borda da floresta devem exibir uma maior instabilidade do desenvolvimento, devido ao fato de estarem expostas diretamente aos efeitos ambientais e antropogênicos. Contrariamente, as plantas no interior da floresta podem mostrar uma maior estabilidade de desenvolvimento, por estarem estabelecidas em um ambiente mais tamponado. Desta forma, populações vegetais que estão exposta a mudanças ambientais físicas podem apresentar maiores desvios na simetria das folhas na borda do que no interior da floresta. Portanto, o objetivo deste estudo foi avaliar a estabilidade do desenvolvimento de Heliconia acuminata L. C. Richard em resposta ao efeito de borda, utilizando a ferramenta assimetria flutuante. Métodos O estudo foi realizado na Reserva Florestal do Km 41, pertencente ao Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF) – INPA/Smithsonian. Esta reserva está distante cerca de 80 Km ao norte de Manaus, AM (02° 25’ S; 59° 44’ W). A área estudada foi uma floresta tropical úmida, com dossel variando entre 30 e 37m e com emergentes de mais de 55m de altura, a temperatura média anual é de 26 °C e a média anual pluviométrica é de 2.000mm (Gascon & Bierregaard, 2001). A espécie escolhida para este estudo foi Heliconia acuminata (Fam. Heliconiaceae), uma planta herbácia, hermafrodita e perene, muito comum na área de estudo (Bruna, 2001). Indivíduos de H. acuminata foram amostrados em diferentes pontos de um transecto na floresta: na borda da estrada ZF3 e a 100 metros desta (sentido borda- interior da floresta). Cerca de 20 indivíduos foram coletados aleatoriamente em um transecto de 600 m, tanto na borda da estrada como no interior da floresta. Foram coletadas 100 folhas (3-5 folhas/indivíduo) em cada ambiente e posteriormente feita uma triagem para padronizar idade e tamanho semelhantes para ambos os ambientes (folhas adultas com 28 a 32cm de comprimento, n=75). Para cada folha foram medidas três distâncias (A, B, C) da nervura central da folha até a borda do lado direito (D) e da nervura central da mesma folha até a borda do lado esquerdo (E) (Figura 1). Posteriormente foi calculado os desvios de simetria (d) para cada distância entre o lado esquerdo e direito (dA= dB= dC= D - E), utilizando um paquímetro. 112 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 Lado Esquerdo (E) Lado Direito (D) 3 cm C B h h/2 A 3 cm Figura 1. Desenho esquemático de uma folha de H. acuminata, evidenciando o lado direito e esquerdo, as três distâncias medidas (A, B, C) e a altura em que elas foram medidas (h= altura da medida). Para analisar a diferença entre o lado direito (D) e esquerdo (E) das folhas, para cada distância (A, B, C), na borda e no interior da floresta foi feito um teste t pareado. Para testar os desvios de simetria (d) das folhas entre a borda e o interior da floresta, para cada par de distância foi feito um teste t não pareado (p < 0,05) (Zar, 1984). As análises estatísiticas foram feitas usando o pacote Systat 8.0 (Wilkinson, 1998). Resultado Para as três distâncias medidas na folha de H. acuminata (A, B e C) o lado esquerdo foi significativamente maior do que o lado direito da folha, nos dois ambientes (Tabela 1). Tabela 1. Valores médios (+ desvio padrão) (mm) para os lados esquerdo e direito de folhas de H. acuminata, para cada distância medida (A, B, C) na borda e no interior da floresta (teste t pareado, p < 0,05). Ambiente Distância Esquerda Direito t P 2,84 (+ 0,41) 2,52 (+ 0,40) 12,281 p<0,05 B 3,35 (+ 0,32) 3,14 (+ 0,42) 7,904 p<0,05 C 2,89 (+ 0,37) 2,72 (+ 0,34) 6,556 p<0,05 A 2,89 (+ 0,50) 2,66 (+ 0,45) 12,075 p<0,05 B 3,56 (+ 0,58) 3,34 (+ 0,56) 12,775 p<0,05 C 3,02 (+ 0,52) 2,88 (+ 0,46) 5,423 p<0,05 A Borda Interior Quando as comparações dos desvios de simetria foram feitas para as folhas entre os dois ambientes, não ocorreu diferenças significativas: A (t= 0,381; p= 0,704), B (t= 1,191; p= 0,236) e C (t= 1,428; p= 0,155). Pode-se observar que a porcentagem dos coeficientes de variação (CV) foram semelhantes nos dois ambientes, mas os valores na borda foram maiores na distância A e C do que no interior da floresta (Tabela 2). Tabela 2. Valores médios (+ desvio padrão) (mm) dos desvios de simetria (d) das folhas de H. acuminata e porcentagem do coeficiente de variação (CV) nas distância (A, B, C) entre a borda e o interior da floresta (teste t, p < 0,05). Distâncias/Ambiente Desvio de simetria (+ DP) Coeficiente de variação (%) A Borda 0,337 (+ 0,214) 63,5 A Interior 0,324 (+ 0,215) 66,3 B Borda 0,263 (+ 0,179) 68,2 B Interior 0,232 (+ 0,133) 57,2 C Borda 0,233 (+ 0,146) 62,7 C Interior 0,193 (+ 0,133) 68,9 Discussão As diferenças entre os lados direito e esquerdo das folhas de H. acuminata ocorre, provavelmente, devido às características ontogênicas desta espécie e não pelo efeito de borda, uma vez que esta característica foi observada tanto na borda como no interior da floresta. A análise de assimetria flutuante mostrou que a estabilidade de desenvolvimento de H. acuminata não é influenciada pelo efeito de borda na Reserva do Km 41, pois não foi verificado diferenças entre os desvios de simetria na borda e no interior da floresta. De acordo com Murcia (1995), dois fatores podem modular as mudanças abióticas do efeito de borda: a orientação e a fisionomia. A orientação determina a exposição à radiação solar, e segundo a autora o efeito de borda nos trópicos é modulado pelo ângulo de intensidadede luz e comprimento do dia que é muito variável durante o ano. A fisionomia também afeta o efeito de borda pela redução da incidência de luz e mudança dos ângulos incidentes que alcançam as bordas. Esses dois fatores talvez tenha pouca influência na borda do Km 41, uma vez que a largura da estrada é pequena e o dossel é alto o suficiente para minimizar os efeitos dos diferentes ângulos de incidência de luz. Neste estudo, H. acuminata não mostrou diferenças na análise de assimetria flutuante, provavelmente porque os efeitos abióticos na borda da estrada não são suficientemente fortes para influenciar a estabilidade de desenvolvimento das folhas desta espécie nesta Reserva. Uma sugestão para outros trabalhos que visem utilizar a assimetria flutuante para analisar efeitos de borda é realizar estudos em ambientes mais alterados. Agradecimentos A toda galera do Curso de Campo “Ecologia da Floresta Amazônica” – 2003., em “essspecial” Rita, Branca, Pati, Ju Stropp, Amanda M., Lene, Chris e Ricardo (conpanheiros da estrada ZF3), Flávio “Essspecial”, Jiva, Márcio. A querida e bem humorada monitora Angelita, ao Juruna (Sr. Ocírio) pela disposição (sempre!!), sabedoria e prática no campo. A todos os pesquisadores, motoristas e cozinheiros essenciais para o andamento e continuidade do curso. Ao Marcelo (Pinguela) e Wilson pela ajuda no campo e ao Selvino pela ajuda e discussão dos resultados. Aos coordenadores Jansen e Dadão (Eduardo) por conseguirem manter a ordem e a desordem – essenciais para a existência da vida!! – nesse 1 mês de aprendizado intenso, gratificante, muitas vezes nervoso mas também muito feliz, com belas e inesquecíveis paisagens Amazônicas!! Super Ótimo!Valeu Galera!!! Referências Bruna, E. 2001. Effect of habitat fragmentation on the growth, reproduction and population dynamics of na Amazonian understory herb (Heliconia acuminata, Heliconiaceae). Disseration submitted in partial satisfaction on the requirements for the degree of doctor of phylosophy in population biology in the offcice of graduate studies of the University of California Davis, 226p. Freeman, D. C., J. H. Graham & J. M. Emlen, 1993. Developmental stability in plants: symmetries, stress and epigenesis. Genetica 89, 97-119. Gascon, C.; R.O., Bierregaard, 2001. The Biological Dynamics of Forest Fragments. The study site, experimental desing, and research activity, 31-46. 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Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 113 Ocorrência de clareiras naturais em uma área de floresta de terra firme na Amazônia Central Flavio Quental Rodrigues Introdução A dinâmica florestal nos trópicos úmidos é condicionada, dentre outros fatores, por perturbações naturais que podem variar da queda de um galho ou de uma árvore até a queda simultânea ou sequencial de várias árvores, provocando a abertura de clareiras naturais na floresta (Withmore, 1978; Brandani et al., 1988). Estes distúrbios definem a composição da comunidade de especies vegetais (Uhl et al., 1988 apud Almeida, 1989), caracterizando as florestas tropicais como um mosaico de clareiras de diferentes idades e tamanhos (Withmore, 1978; Brokaw, 1985; Almeida, 1989). Segundo Almeida (1989), clareiras naturais podem ser definidas como áreas de floresta com dossel interrompido, provocadas pela queda de uma ou mais árvores, ou parte delas, onde há um maior tempo de exposição solar do subbosque e são encontradas espécies pioneiras regenerando. Nas florestas tropicais, a chuva, associada ou não a ventos fortes, são os principais causadores da queda de árvores que abrem clareiras naturais (Withmore, 1978; Brokaw, 1985; Brandani et al., 1988; Almeida, 1989). Segundo Brokaw (1985), o estudo da frequência e periodicidade na formação de clareiras naturais é importante devido a três fatores principais: i) trata-se de um possível fator seletivo na germinação e dispersão de sementes de espécies dependentes de clareiras para seu estabelecimento inicial; ii) as implicações para espécies regenerantes em clareiras, considerando a disponibilidade intermitente de sementes; e iii) para a compreensão da causa da queda de árvores no contexto da dinâmica florestal. Em relação ao terceiro fator supra citado, estudos realizados em florestas tropicais citam variações topográficas como um dos fatores que provocam ou facilitam a queda de árvores que abrem clareiras naturais (Withmore, 1978; Brokaw, 1985; Brandani et al., 1988; Almeida, 1989). Desta forma, o presente trabalho teve como principal objetivo responder a seguinte pergunta: A topografia influencia a ocorrência de clareiras naturais em uma floresta de terra firme na Amazônia Central? Métodos Este trabalho foi realizado na reserva de mata continua 1501 do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazonia (INPA), no Km 41 da estrada vicinal ZF-3 da rodovia BR176 (Manaus-Boa Vista). Esta área está sob responsabilidade do Projeto Dinamica Biologica de Fragmentos Florestais (PDBFF), em convênio com o INPA e o Smithsonian Institution. O estudo de ocorrência de clareireas foi realizado em 114 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 uma parcela de 100 ha (coordenadas 02° 25’ 51" S a 02° 26’ 23" S e 54° 45’ 33" O a 59° 46’ 06" O) denominada Parcela Lecythidaceae, marcada com piquetes a cada 20m com trilhas orientadas no sentido norte-sul e leste-oeste. Foram percorridos aproximadamente 12 km de trilhas e todas as clareiras observadas em uma distância de até 30m para cada lado da trilha foram anotadas, o que permitiu a varredura de cerca de 60% da área da parcela. Foi registrada a localização e a orientação de cada uma das clareiras em relação ao sistema de trilhas. As coordenadas obtidas para cada clareira foram projetadas em um mapa topográfico pertencente ao banco de dados do PDBFF, utilizando o software ArcView 3.2. Através deste procedimento foram localizadas as clareiras em relação as curvas de nível do terreno, o que permitiu comparar a ocorrência das clareiras em função de três variáveis topográficas: cotas de altitude, declividade e direção das vertentes. As cotas de altitude do terreno foram categorizadas em 10 classes com amplitude de 5m cada, sendo a primeira cota de 50 a 55m até a última de 96 a 100m; declividade do terreno foi categorizada em 9 classes com amplitude de 4o, iniciando de 0o a 3o até a última de 28o a 32o; direção das vertentes foi categorizada em 6 classes – Norte, Nordeste, Noroeste, Sul, Sudeste, Sudoeste. As frequências de ocorrência das clareiras para as três variáveis topográficas foram comparadas utilizando o teste Kolmogorov-Smirnov. Resultados Foram encontradas 201 clareiras na parcela estudada (3,3 clareiras/ha) (Figura 1). A frequência de ocorrência de clareiras não variou em função das cotas de altitude (KS = 0,2; p = 0,96). No entanto, a maior quantidade de clareiras está localizada entre 66 e 75m (± 47%), que corresponde a Superfície Aplainada NeoPleistocênica e nos platôs entre 95 e 100m (± 15%), que corresponde a Superfície Aplainada Pilo-Pleistocênica (Garcia, 2000). De forma geral, a distribuição de frequências das clareiras respondeu diretamente a disponibilidade de área nas cotas do terreno ( Figura 2). Não ocorreu diferença na frequência da distribuição de clareiras em comparação com a porcentagem de área nas cotas de declividade (KS = 0,22; p = 0,96). A maior parte das clareiras ocorreu nas áreas mais planas (± 55%), que representam a maior parte da área do terreno. Houve um baixo número de ocorrências nas cotas com altas de declividade e somente na cota de 25 a 280 ocorreu uma frequência maior de ocorrência do que a disponibilidade do terreno (Figura 3). Também não ocorreu diferença na frequência da # # # 60 80 # 50 55# # # 6060 # # # # # 75 # # 90 # # # 80## 75 # # # # 70 # # 65 75 # # # # # # 80 # # # # 75 0 # # 100 # # # # # # # # # # # # # # # 85 80 80 # 75 # ## # # # # # # # # # # # # # # 70 # # # ## # # 0.3 # # # Clareiras Terreno # # # Figura 3. Frequência de classes de declividade do terreno (barras brancas) e freqência de ocorrência de clareiras nestas classes de declividade (barras pretas) # # # # # # # # # ## # # # # # # # 200 # 90 # # # # # # # # # # # # # 75 # 100 # # # # # # # 90 80 # 95 # # # 7 10 14 17 21 25 28 32 3 0 - 03 - 7 - 0 - 4 - 7 - 1 - 5 - 8 0 1 1 1 2 2 2 Declividade (graus) # # 0.0 # # # # 0.1 # 60 # # # # # # 75# # # # # # # # # # # # 65 #65 # # # # # 75 55 80 # # # # # # # # # # 0.2 # # # # # # 70 80 # # 70 75 # # Clareiras Terreno 0.3 ## # # # # # # # 60 # 60 # # 60 # 90# # # # # 100 # # # # # 200 Meters Figura 1. Mapa da área com o sistema de trilhas, as curvas de nível com algumas cotas de altitude e a localização das clareiras estudadas. As curvas de nível tem amplitude de cinco metros. frequência (%) # 60 0.4 frequência (%) distribuição de clareiras em comparação com a porcentagem de área disponível nas direções das vertentes (KS = 0,22; p = 0,96). De forma geral, a distribuição de frequências das clareiras respondeu diretamente a disponibilidade de área nas direções das vertentes ( Figura 4). A maior parte das clareiras ocorreu nas vertentes com direção Noroeste (± 22%), que representam a maior parte da área do terreno. 0.2 0.1 0.0 e ste rte ste no ste ste ul s te st S Le o rde oroe N o Oe Pla ude do e S Su N N Direção da vertente frequência (%) 0.3 Clareiras Terreno 0.2 Figura 4. Frequência de direção de vertentes no terreno (barras brancas) e frequência de ocorrência de clareiras nestas direções de vertentes (barras pretas) Discussão 0.1 0.0 0 5 5 0 0 5 5 0 5 0 - 5 - 6 - 6 - 7 - 7 - 8 - 8 - 9 - 9 10 50 56 61 66 71 76 81 86 91 96 - Cotas (m) Figura 2. Frequência de classes de cotas de altitude do terreno (barras brancas) e frequência de ocorrência de clareiras nestas classes de cotas de altitude (barras pretas) O número de clareiras por hectare encontrado neste trabalho é semelhente ao encontrado em estudos realizados em florestas tropicais do Gabão e Costa Rica, porém, outros trabalhos encontraram números bem mais expressivos, como nas florestas do México, Guiana Francesa e Equador, com números de até 12, 13 e 18 clareiras por hectare, respectivamente (Brokaw, 1985). Na Amazônia Central brasileira, o trabalho realizado por Almeida (1989) em uma das reservas do PDBFF, localizada a cerca de 30km da área de estudo, registrou a presença de 9,4 clareiras por hectare. As diferenças podem estar relacionadas a composição de espécies vegetais que compõem as florestas estudadas, fato que influencia diretamente a dinâmica de queda de árvores e abertura de clareiras nessas áreas. O fato de não terem sido encontradas diferenças na densidade de clareiras em relação as cotas de altitude, Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 115 declividade e posição das vertentes, não corrobora os dados de literatura, uma vez que Oldeman (1978, apud Brokaw, 1985) e Lawton e Dryer (1980 apud Brokaw,1985) encontraram mais clareiras nas vertentes. Porém, estes estudos foram realizados em países da América Central, onde eventos climáticos como ciclones e furacões causam danos físicos em grandes extensões de áreas florestais (Withmore, 1978).. Almeida (1989) encontrou uma pequena diferença na frequência de área sob clareiras em transectos de 500m com topografia irregular (13%) em relação a transectos com topografia plana (17%). A amostragem em transectos e posterior extrapolação para o total da área pode ter superestimado a densidade de transectos na área. Além disso, a parcela estudada foi de 9ha, contra 60ha deste estudo, portanto nem todas as unidades topográficas encontradas na área total de 1000ha podem ter sido representadas na sua amostragem. Lawton (1980, apud Brokaw, 1985), em seu trabalho desenvolvido no Equador, encontrou mais clareiras em maiores altitudes, atribuindo o resultado encontrado aos fortes ventos que incidem nas regiões mais altas da região, fato que pode não se repetir com a mesma intensidade no local deste estudo. Os diferentes resultados encontrados em relação as demais áreas neotropicais podem também estar relacionados a diferenças na comunidade de espécies arbóreas nas áreas, bem como a diferenças nos solos, uma vez que a área de estudo apresenta sensíveis diferenças na composição litológica, alternando, em pequenas distâncias, sedimentos com origens em épocas distintas (Garcia, 2000). Outra explicação possível seria o efeito de fatores que podem ser responsáveis pelo maior número de clareiras, atuando diferencialmente nas unidades topográficas estudadas, como, por exemplo, a presença de um maior número de árvores de grande porte (potenciais causadoras de danos) nos platôs, a maior instabilidade do terreno nas vertentes ou uma menor estruturação dos solos nos baixios devido a maior quantidade de areia. A incorporação de dados litológicos, topográficos e sensoriamento remoto nos estudos de ecologia florestal, aliado a um maior esforço amostral, são ferramentas importantes para a compreensão da ocorrência, distribuição e dinâmica de clareiras em florestas tropicais. 116 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 Agradecimentos A equipe de campo do PDBFF, Juruna, Jorjão, Dona Eduarda, Júnior, Luis Caboclão, Jegão, Paulo Acreano, Otacildo, Edílson e Antônio. Aos coordenadores Jansen Zuanon e Eduardo Venticinque, pelo profissionalismo e competência. A turma do curso de campo 2003, em especial ao Márcio Comandante, Rita, Maura, Ju Stropp, Paty e Ricardo. Ao companheiro Pinguela pela ajuda na execução do trabalho. Ao professor Selvino, pela contribuição nas discussões. Aos demais professores e palestrantes, que socializaram resultados de suas pesquisas e contribuiram para nossa formação. A nossa doce monitora Angelita. Aos amigos Tim-Tim e Débora, que me receberam calorosamente em Manaus. Principalmente a querida amiga e companheira especial Branca Medina. Referências Almeida, S.S.1989. Clareiras naturais na Amazônia Central: abundância, distribuição, estrutura e aspectos de colonização vegetal. Dissertação de mestrado em Ecologia. INPA-FUA, Manaus, AM. Brandani, A., Hartshorn, G.S., Orians, G.H. 1988. Internal heterogeneity of gaps and species richness in Costa Rican tropical wet forest. Journal of Tropical Ecology 4: 99-119. Brokaw, N.V.L. 1985. Treefalls, regrowth, and community structure in tropical forests. Páginas: 53-69 in S.T.A. Pickett e P.S. White, editores. The ecology of natural disturbance and patck dynamics. Academic Press, Inc.: Orlando, Florida, USA. Garcia, J.P.M. A geomorfologia como intrumento de identificação de unidades físicas naturais em florestas úmidas. Tese de doutorado em Geografia Física, USP, SP. Lawton, R. O. 1982. Wind stress and elfin stature in a montane rain forest tree: an adaptive explanantion. Am, Jardim Botânico, pp-69-122. Lawton, R. O. and Dryer, V. 1980. The vegetation of the Monteverde cloud forest reserve. Brenesia 18, pp. 101116. Withmore, T.C. 1978. Gaps in the forest canopy. In Tropical trees as a living systems. Commomwealth Forestry Institute, University os Oxford, England, pp. 639-655. Efeito da dispersão de sementes por Alouatta seniculus (Alloautinae, Cebidae) na dinâmica de estabelecimento de plântulas em uma floresta de terra-firme na Amazônia Central Patricia Rodin Introdução A dispersão de sementes evoluiu, de forma independente, nas diversas famílias de Angiospermas. Nas florestas tropicais, 60 a 95% das espécies vegetais são dispersas por animais (Howe & Smallwood, 1982; Charlie-Dominique, 1993), sendo os primatas, particularmente o macaco-aranha (Ateles paniscus), o guariba (Alouatta seniculus) e o macacoprego (Cebus apella), os principais dispersores de um grande número de espécies de plantas (Julliot, 1996). A qualidade da dispersão realizada por estes frugívoros depende do tempo de retenção da semente no estômago, da distância que eles se locomovem em relação à planta-mãe, do sítio de depósito das sementes (Schupp, 1993) e de características da defecação, como o número de sementes dispersas (Spironello, 1999). Estes hábitos comportamentais do dispersor influenciam no sucesso de recrutamento da planta dispersa e, assim, na distribuição espacial de sua população de plântulas e, em última instância, na de adultos. Os guaribas, macacos de médio porte com peso entre 7 e 9 kg quando adultos, vivem em grupos de 3-10 indivíduos, utilizam, principalmente, as árvores mais altas da floresta como sítios de dormir e de defecação (latrina), e têm como dieta, basicamente, folhas, flores e frutos (Neves, 1985). Eles se alimentam de pelo menos 30 famílias de plantas, sendo os frutos de Sapotaceae e Moraceae os mais utilizados (Neves, 1985). Na Amazônia, os guaribas são um dos dispersores arbóreos mais eficientes entre os primatas (Spironello, 1999). Eles removem uma elevada quantidade de frutos por visita e apresentam uma baixa taxa de digestão, com um intervalo médio de 20h e 40min entre o consumo do fruto e a eliminação das sementes nas fezes (Julliot, 1996); isso permite aos indivíduos percorrerem uma distância média de 255 metros transportando sementes em seu estômago (Spironello, 1999). Além disso, eles têm como hábito defecar em grupo (Neves, 1985) e liberar uma grande quantidade de sementes por defecação nos sítios utilizados como latrina (Julliot, 1996). Esse padrão de dispersão agregada de sementes pode ter um impacto negativo na população da planta dispersa, em decorrência da mortalidade por fatores dependentes de densidade (Howe, 1980). No entanto, diferentes espécies respondem de forma distinta a semelhantes padrões de dispersão. Caso a dispersão pelo frugívoro aumente o sucesso reprodutivo das espécies por ele dispersas, espera-se encontrar sob as árvores utilizadas como latrinas um maior número de plântulas estabelecidas que no restante da floresta e na área de influência da planta-mãe. Dessa forma, seria possível estimar o efeito da dispersão de sementes realizada pelo frugívoro através do padrão de estabelecimento das plântulas. O objetivo deste trabalho foi avaliar se o padrão de dispersão de Alouatta seniculus pode ocasionar um maior estabelecimento de plântulas de Pouteria sp.(Sapotaceae) e Clarisia racemosa Ruiz & Pav. (Moraceae), duas espécies amplamente consumidas pelos guaribas (Spironello, 1999), sob as latrinas. Métodos O estudo foi realizado na reserva do Km 41, uma área de floresta contínua pertencente ao Projeto de Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), distante cerca de 80 km de Manaus. As árvores utilizadas pelo A. seniculus como sítios de defecação foram determinadas e marcadas previamente a este estudo (F. Pinto e W. Spironello, com. pess.) Foram escolhidos 12 sítios de defecação e seus recíprocos controles, cujos locais, num raio de cerca de 10 m, não continham árvores das espécies em estudo. Os controles foram demarcados a 20 metros de distância ao Norte de cada sítio de defecação, onde não houvesse nenhum outro sítio de defecação por perto e não fosse uma área de clareira. Quando essas condições não eram satisfeitas, o controle era marcado a 20 metros de distância ao Sul da latrina. Em cada área (latrina e controle) foi marcada uma parcela de 2 x 5 metros, cujo lado mais estreito foi orientado na direção Norte-Sul. Em cada parcela, foi feito um levantamento do número de plântulas de Pouteria sp. e de Clarisia racemosa que possuísse até 1 metro de altura. Para avaliar o efeito do padrão de dispersão de Alouatta seniculus no estabelecimento de plântulas das duas espécies estudadas, foi utilizado o teste de Wilcoxon (Zar, 1984). Resultados Nas 12 parcelas amostradas sob as latrinas foi encontrada uma variação de 2-10 plântulas de Pouteria sp. e 1-5 de Clarisia racemosa, enquanto nas 12 parcelas-controle observa-se uma variação de 1-2 plântulas de Pouteria sp. e apenas uma plântula de Clarisia racemosa (Tabela 1). O número de plântulas encontrado nas latrinas foi significativamente diferente do encontrado nas parcelas Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 117 controle (Pouteria sp.: Z= -2,687; p = 0,007; Clarisia racemosa: Z = -2,203; p = 0,028). Tabela 1: Número de plântulas de Pouteria sp. e Clarisia racemosa encontradas nas latrinas e áreas-controle. Pouteria sp. Clarisia racemosa depositadas em locais propícios à germinação. Os guaribas podem ser considerados eficientes dispersores, pois carregam sementes viáveis para longe da planta-mãe e para sítios favoráveis ao estabelecimento, sem afetar o poder germinativo das sementes (Julliot, 1997). Além disso, no caso das espécies de Sapotaceae, os guaribas, além dos macacos-aranha e dos macacos-prego, são os únicos capazes de abrir os frutos, ingerir e dispersar as sementes sem danificá-las (Julliot, 1996; Spironello, 1999). O padrão de dispersão realizado pelos guaribas, portanto, influencia o padrão de estabelecimento de plântulas das duas espécies estudadas, concentrando-as sob os sítios utilizados como latrinas. Assim, os guaribas ao agregar seus recursos alimentares dentro de sua área de vida, podem alterar a regeneração potencial da floresta, influenciando a sua futura estrutura florística (Julliot, 1997). Agradecimentos Discussão Com base no alto consumo de frutos pelos guaribas e no seu comportamento de defecar em grupo em latrinas, é razoável supor que a dispersão de sementes nestes sítios se dê em proporções muito maiores que no restante da floresta. É provável que a grande concentração de sementes nas latrinas acarrete uma elevada taxa de mortalidade dependente de densidade. No entanto, ainda que isto ocorra, o número de plântulas estabelecidas nestes sítios deve ser maior que no restante da floresta. De fato, neste estudo, o número de plântulas encontrado no sítio utilizado como latrina foi sete vezes maior para Pouteria sp. e 12 para C. racemosa, do que nas áreas-controle. É sabido que a taxa de recrutamento de plântulas é maior longe da planta-mãe (Janzen, 1970; Connel, 1971). Desta forma, as sementes consumidas pelos guaribas, ao serem carregadas para longe da planta-mãe, têm maior probabilidade de se estabelecerem. Além disso, o fato de os guaribas ingerirem quase que exclusivamente frutos não parasitados (Julliot, 1997) provavelmente aumenta as chances de recrutamento destas sementes. Fatores abióticos, como características edáficas ou a intensidade luminosa também influenciam no estabelecimento das plântulas, em função das condições fisiológicas de cada espécie de planta (Julliot, 1996). Os guaribas usam como sítios de dormir e de defecação apenas árvores altas localizadas no interior da floresta, cuja luminosidade do sub-bosque favorece a germinação das espécies estudadas (Spironello, 1999). Portanto, os guaribas parecem aumentar as chances das sementes serem 118 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 À turma e todos os professores que participaram do curso. Ao Jansen e Dadão pela ÓOOtima coordenação do curso. Ao Jansen por ter sido um pai de todos nós enfermos, e por ser sempre tão atencioso a tudo e a todos! A Angela pelo bom humor e muita, muita paciência! Ao Juruna, um agradecimento especialíssimo, por sua eterna disposição e sua fundamental ajuda no campo. Ao Wilson pela ajuda em encontrar as latrinas, e me entupir de bibliografia. À Flávia Pinto por me apresentar o mundo das latrinas e pelos artigos. Ao Márcio pela grande ajuda no relatório e por se divertir com as minhas crises de bobeira. Aos mais que ESPECIAL, amigos do coração: Rita, Branca, Márcio, Maura, Jiva, Ju Stropp, Amanda Mortati, Flávio e Cris que fizeram este mês ser muito, muito, mais que um curso de Ecologia. E enfim a AMAZÔNIA, que me deixou em constante estado de êxtase. Morrerei de saudades de todos vocês! Referências Charlie-Dominique, P. 1993. Speciation and coevolution: An interpration of frugyvory phenomena. Vegetatio 107-108: 75-84. Connell, J. H. 1971. On the role of natural enemies in preventing competitive exclusion in some marin animals and rain forest trees. In: P. J. Der Boer e G. R. Gradwell (eds.). Dynamics of populations, PUDOC, Wageningen. Pp 298-312. Howe, H. F.1980. Monkey dispersal and waste of neotropical fruit. Ecology 61(4): 944-959. Howe, H. F.e J. Smallwood, 1982. Ecology of seed dispersal. Annual review of Ecology and Systematics 13: 201-228. Janzen, D. H. 1970. Herbivores and the number of tree species in tropical forest. American Naturalist 104: 501-528. Julliot, C.1996. Seed dispersal by red howling monkeys (Aloutta seniculus) in a tropical rain forest. American journal of Primatology 17: 239-258. Julliot, C.1997. Impact of seed dispersal by red howler monkeys Alouatta seniculus on the seedling poulation in the understory of tropical rain forest. Jouranl of ecology 85: 431-440. Neves, A. M. S. 1985. Alguns aspectos da ecologia de Alouatta seniculus em reserva isolada na Amazônia Central. Monografia Ciências Biológicas. Faculdade de Filosofia, Ciências, e Letras de Ribeirão Preto. Universidade de São Paulo. 60 p. Schupp, E. W. 1993. Quantity, quality and the effectiveness of seed dispersal by animals. Vegetatio 107-108: 15-29. Spironello, W. R. 1999. The Sapotaceae community ecology in a central amazonian forest effects of seed dispersal and seed predation. PhD thesis. University of Cambridge. 244 p. Zar, J. H. 1984. Biostatiscal Analysis. 2 nd edition. Prentice Hall, New Jersey. Efeito da topografia sobre ecounidades em uma floresta contínua na Amazônia Central Branca M. Opazo Medina Introdução A arquitetura de indivíduos arbóreos reflete o padrão genético de uma espécie e sua interação com o meio (Torquebiau, 1986). A maneira como a árvore se ramifica, no entanto, nem sempre está confinada ao modelo arquitetural da espécie, por causa dos danos ocorridos nos meristemas e da descontinuidade na entrada de energia e nutrientes no indivíduo (Vester e Cleef, 1998). O processo de construção de galhos extra (bifurcação do tronco principal) é chamado de reiteração (Oldeman e van Dijk, 1991). O galho reiterado representa a história da floresta e reflete o momento em que a árvore atingiu as condições luminosas no dossel ou próximo dele, abandonando as condições sombreadas, úmidas e relativamente frias do sub-bosque. Abaixo desta reiteração o tronco é simples e contínuo e a partir da primeira bifurcação as unidades são progressivamente menores. O ponto de interseção entre estes dois compartimentos é chamado de ponto de inversão. (Torquebiau, 1986). O estudo da arquitetura individual possibilita conhecer a heterogeneidade da floresta e sua organização em manchas, ecounidades ou unidades de regeneração (Torquebiau, 1986; Oldeman e van Dijk, 1991). Ecounidade é a unidade vegetacional que começou seu desenvolvimento ao mesmo tempo na mesma superfície (Oldeman, 1983 apud Vester e Cleef, 1998). Elas são uma representação estática de uma seqüência temporal, composta de quatro fases principais: a primeira é a de reorganização, surgida após um distúrbio como a queda de uma árvore; depois vem a de crescimento, com árvores sem reiteração (do futuro); em seguida, as árvores atingem o dossel, reiteraram-se e compõe uma fase de equilíbrio (do presente) e por último, a árvore entra em senescência natural ou após um dano, restando apenas seu esqueleto (decrépita ou do passado), constituindo a fase de degradação (Torquebiau 1986). As árvores do presente podem ter o ponto de inversão abaixo ou acima da metade de sua altura total. No primeiro caso, são chamadas de presente inferior, ou seja, atingiram o dossel ainda cedo e/ou este era baixo (floresta jovem ou com muitas clareiras). Já no segundo caso, são chamadas de presente superior, pois atingiram o dossel mais tarde e/ou este era mais alto, constituído de árvores maduras (Torquebiau 1986). A estratificação da floresta é determinada principalmente por estas árvores do presente, que geralmente suprimem o crescimento das do futuro (Vester e Cleef 1998). O dossel é um componente importante dos ecossistemas florestais, influenciando fortemente a estrutura da floresta (Laurance et al., 2000). Ele está intimamente relacionado à heterogeneidade ambiental por meio de distúrbios como queda de troncos e galhos, assim como processos que afetam toda a comunidade florestal, por exemplo evapotranspiração, interceptação de chuvas e fotossíntese (Maass et al., 1995) e modificação do microclima do sub-bosque (Laurance et al., 1998). Desta forma, cada ecounidade pode ser determinada por um único indivíduo de dossel (Torquebiau 1986). Estudos sobre a estrutura da floresta de terra firme da Amazônia Central têm enfatizado apenas o aspecto biológico com breve referência ao ambiente físico e são espacialmente restritos. A caracterização tem sido apenas uma descrição geral do solo, clima e relevo, sem relação com o foco da pesquisa biológica (Garcia, 2000). É esperado que a topografia exerça influência na distribuição e estrutura da vegetação, de modo que devem ser consideradas na definição de unidades ambientais com representatividade ecológica (Garcia, 2000), como é o caso das ecounidades. Desta forma, o objetivo deste estudo foi verificar se a estrutura e distribuição das ecounidades tem relação com características topográficas do terreno (altitude e declividade), já que estas podem estar influenciando indiretamente o desenvolvimento dos indivíduos que interceptam a radiação solar diretamente, e como consequência, sobre toda a comunidade. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 119 Métodos Realizei o estudo na reserva de mata contínua do Km 41, que faz parte da área de estudo do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF). Nesta floresta de terra firme há muitos indivíduos de diâmetro pequeno, bem espaçados, com altura entre 15 e 20m (Oliveira, 1997). Há árvores de dossel com altura média entre 30 e 35m e emergentes ocasionais até 55m (Oliveira, 1997). O solo é predominantemente de latossolos vermelho-amarelados e o relevo é composto basicamente de platôs recortados por pequenos riachos que formam áreas de inundação (Garcia, 2000). Uma característica única da área estudada é a dominância da família Lecythidaceae, tanto em número de indivíduos quanto riqueza de espécies (Oliveira, 1997; Mori et al. 2001). Em uma parcela de 100 ha (de 2o45’06’’ a 2o26’23’’ S e de 54o45’33’’ a 59o46’06’’ W) fiz 20 parcelas de 4 x 40m distribuídas nas diferentes cotas topográficas existentes (Figura 1), onde amostrei todos os indivíduos de dossel e emergentes que interceptavam diretamente a radiação solar. Classifiquei cada um nas diferentes ecounidades, estimei a altura total, altura até a primeira ramificação (quando presente) e diâmetro a altura do peito. As palmeiras são um caso à parte, pois nunca reiteram-se, e foram classificadas separadamente. Figura 1. Mapa da parcela de 100ha do projeto Lecytidaceae na reserva de Km 41 do PDBFF, indicando os pontos de amostragem. As curvas de nível tem um intervalo de cinco metros. Os pontos de amostragem foram projetados num mapa utilizando o programa ArcView 3.2. Isto possibilitou determinar os valores de declividade e altitude do terreno em cada ponto. Estas duas variáveis foram relacionadas por regressões lineares múltiplas no programa SYSTAT 8.0 com os seguintes parâmetros: altura total, altura até a reiteração, 120 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 número de indivíduos e o fator 1 da análise de componentes principais (PCA) realizada com a proporção de cada ecounidade. Nesta análise, o fator 1 explicou 51,97% da variação total, ordenando as ecounidades na seguinte ordem cresente: futuro-, palmeira-, presente inferior+ e superior+ (as decrépitas não foram utilizadas devido à baixa amostragem). Calculei também a razão entre altura até a reiteração e diâmetro e entre altura total e até a reiteração, que indicam o quanto o indivíduo investe em crescimento lateral e apical até ramificar, respectivamente. Para as regressões onde foram utilizados os dados por indivíduo (altura, DAP etc) a unidade amostral considerada foi o indivíduo, já que reduzir seus parâmetros a um único valor por parcela resultaria em grande perda de informações, além do fato todos indivíduos que ocorriam na mesma parcela estavam na mesma cota de altitudes e de declividade. As regressões que tiveram resultados significativos foram espacialisadas no mapa com o programa ArcView 3.2, a fim de projetar para toda a área os padrões encontrados. Resultados Amostrei no total 72 indivíduos sendo 35 do futuro, 29 do presente superior, 3 do presente inferior, 4 palmeiras e 1 decrépito. Em um baixio encontrado num vale bem encaixado não observei nenhum indivíduo atingindo diretamente a radiação solar, pois eram todos sombreados pelas árvores encontradas na vertentes adjacentes .A única ecounidade determinada por um indivíduo decrépito ococrreu num platô de 100m de altitude. As alturas das árvores variaram de 5 a 45m e os diâmetros de 6,9 a 99cm. Os indivíduos do futuro foram os mais variáveis, pois houve um com o menor DAP encontrado e outro com o maior, assim como o indivíduo com menor altura foi desta ecounidade. A árvore mais alta foi do presente sup e r i o r. A altura total relacionou-se positivamente com altitude e declividade (Figura 2), o DAP das árvores só foi relacionado com a altitude do terreno (Figura 3) e o fator 1 do PCA com a proporção das ecounidades só se relacionou – marginalmente - com a declividade (Figura 4), ambos positivamente. Palmeiras e árvores do futuro foram mais abundantes nas menores declividades e as do presente nos locais mais inclinados. Todas estas relações foram abaixo de 20%, indicando que há muita variação nos modelos acima (ver Tabela 1). Discussão A distribuição espacial de platôs e vertentes forma mosaicos onde cada unidade apresenta características individualisadoras que se repetem (Garcia, 2000). As ecounidades representam estas unidades na medida em que as árvores do presente encontram-se em maior proporção nas maiores declividades (vertentes), enquanto as do futuro e palmeiras nas áreas mais planas (baixios e platôs). A maior proporção de árvores do presente nas maiores declividades Tabela 1. Resultados das regressões múltiplas. Os valores em negrito são os que tiveram relação significativa. Alt = altura, decl = declividade, Af = altura do fuste (até a reiteração), DAP = diâmetro a altura do peito. R2 F P CONSTANT ALTITUDE P ALT DECLIVIDADE P DECL 0,223 0,022 0,475 0,014 E ALTURA 0,14 5,44 0,006 5,87 TOTAL 0,13 5,63 0,002 -16,97 0,612 0,002 0,335 0,333 ALTURA /DA 0,002 DAP 0,05 0,948 0,99 -0,0002 0,968 -0,003 0,744 0,05 0,77 0,4170 12,01 0,12 0,382 0,19 0,414 AF /DAP 0,021 0,315 0,733 0,845 -0,003 0,467 -0,002 0,797 FATOR 1 0,18 3,75 0,069 -0,87 0,0062 0,730 0,0632 0,069 0,08 0,6957 0,513 1,58 0,0309 0,3767 -0,036 0,584 P ALTURA FUSTE PCA NUM. INDS. Figura 2. Distribuição das alturas das ecounidades na parcela de 100 ha do projeto Lecythidaceae na reserva do Km 41 do PDBFF. Observe a presença marcante de árvores mais altas nas vertentes e de indivíduos menores no baixio. Figura 3. Distribuição dos diâmetros a altura do peito (DAP) na parcela de 100 ha do projeto Lecythidaceae na reserva do Km 41 do PDBFF. Veja a distribuição de árvores mais largas nos platôs e vertentes mais altas. Figura 4. Distribuição do fator 1 da PCA ordenando as ecounidades: futuro (–), palmeiras (–), presente inferior (+) e superior (+)na parcela de 100 ha do projeto Lecythidaceae na reserva do Km 41 do PDBFF. pode ser resultado da maior luminosidade por unidade de área de solo, fazendo com que se ramifiquem para maximizar a captação de luz. A maior quantidade de árvores ramificando nas vertentes não se deve a maior ocorrência de danos porque não há relação do número de clareiras (Rodrigues, 2003; este volume), nem do número de troncos caídos (Stropp, 2003; este volume) com a declividade na área estudada. A reiteração do modelo inicial de uma árvore de dossel é um mecanismo oportunístico e a flexibilidade é selecionada pelo ambiente na espécie que pode reiterar rapida e difusamente (Oldeman e Van Dijk, 1991). A filogenia também exerce sua influência no padrão de reiteração no sentido em que foi verificado que certas famílias são mais resistentes a danos que outras (Almeida, 1989; Vester e Cleef, 1998). As árvores do futuro e palmeiras ocorrem em maior proporção nos locais mais planos. No caso das árvores de futuro, a relativa continuidade na entrada de nutrientes no plano pode fazer com que os indivíduos cresçam mais continuamente sem se ramificar. Com relação às palmeiras, é bem documentada a maior ocorrência de algumas espécies com caule em baixios, que são planos (Garcia, 2000) e estas seriam umas das poucas árvores que atingem a luz diretamente, determinando ecounidades nesta topografia. Os indivíduos formadores de ecounidades atingiram maiores alturas em locais mais altos (platôs) e nos mais inclinados (vertentes), e maiores diâmetros nestes últimos. As maiores alturas de árvores nas maiores altitudes pode estar relacionada à possível maior estabilidade dos platôs, a qual tem relação com a composição mineralógica e granulométrica, que é mais argilosa (Garcia 2000), permitindo que as árvores consigam se fixar bem no substrato e investir em crescimento. Este fator teria mais peso que os fortes ventos comuns nas maiores altitudes neste tipo de ambiente (Brokaw 1985, Almeida 1989). Esta noção de equilíbrio fica bem ilustrada ao se observar que o único indivíduo decrépito formador de ecounidade foi encontrado num platô, e aparentava senecência natural. Com relação à declividade, a maior luminosidade citada anteriormente poderia explicar o alto investimento em altura e diâmetro, pois haveria muito “alimento” disponível para as árvores Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 121 que interceptam a luz diretamente. De forma similar, Clark e Clark (2000) encontraram que nas maiores declividades as árvores com mais de 10cm de diâmetro atingiram maiores áreas basais e atribuiram este resultado tanto às próprias características topográficas quanto a questões edáficas. Agradecimentos Agradeço muitíssimo a Ju Stropp, em primeiro lugar pelo companheirismo full time no campo e pelos óootimos momentos que ela me proporcionou, fazendo com que fosse um dos melhores trabalhos de campo da minha vida. Em segundo lugar, pela ajuda nas análises, dicas de bibliografia e discussões. A Mauritia Pezzato pelo gran finale na coleta de dados, fechando o campo com chave de ouro. A Dadão pelo sorriso constante, pelas dicas estatísticas e por ter me apresentado o apaixonante programa ArcView, que mudou minha vida. A Wilson por ajudar a pensar na amostragem inicial, a Jansen pela atenção, paz e calma sempre presentes, a Angelita pela alegria contagiante e pelo apoio na hora em que precisei, a Juruna pelo alto astral e eterna disposição em ajudar e também a Paty, Marcio, Amanda, Chris, Rita e Jiva pelos momentos superótimos que me proporcionaram. Finalmente, agradeço ao amigo especial Flávio pela força de sempre... Bibliografia Almeida, S. S. 1989. Clareiras naturais na Amazônia Central: abundância, distribuição, estrutura e aspectos da colonização vegetal. Dissertação de Mestrado em Ecologia. INPA – FUA, Manaus, AM. Brokaw, N. L. 1985. Tree falls, regrowth and community structure in tropical forests. Em: The ecology of natural disturbance and patch dynamics. Pikcett, S. T. A. e White, P. S. (eds). Academic Press, New York. Clark, D. B. e Clark, D. A. 2000. Landscape-scale variation in forest structure and biomass in a tropical rain forest. Forest Ecology and Management 137: 185198. 122 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 Garcia, J. P. M. 2000. A geomorfologia como instrumento de de Identificação de unidades fisico-naturais em florestas umidas. Dissertação de doutorado em Geografia Física, USP, São Paulo, SP. Laurance, W. F.; Ferreira, L. V.; de Merona, J. M. R. e Laurance, S. 1998. Rain forest fragmentation and the dynamics of Amazonian tree communities. Ecology 79: 2032-2040. Laurance, W. F.; Delamônica, P.; Laurance, S.; Vasconcelos, H. L. e Lovejoy, T. E. 2000. Rainforest fragmentation kills big trees. Nature 404: 836. Maass, J. M.; Vose, J. M.; Swank, W. T. e MartinezYrízar. 1995. Seasonal changes of leaf area index (LAI) in tropical deciduous forest in west Mexico. Forest Ecology and Management. 74: 171-180. Mori, S. A.; Becker, P. e Kincaid, W. 20001. Lecythidaceae of a Central Amazonian lowland forest: implications for conservation. Em: Lessons from Amazonia: the ecology and conservation of a fragmented forest. Bierregaard Jr, R. O.; Gascon, C.; Lovejoy, T. E. e R. C. Mesquita (eds.). Oldeman, R. A. A. e van Djik, J. 1991. Diagnosis of the temperament of tropical rain forest trees. Em: Rain Forest Regeneration and Management. A. GomesPompa, A.; Whitmore, T. C. e Hadley M. (eds.) pp 2165. Oliveira, A. A. 1997. Diversidade, estrutura e dinâmica do componente arbóreo de uma floresta de terra firma de Manaus, Amazonas. Tese de Doutorado em Botânica, Universidade de São Paulo, SP. Torquebiau, E. F. 1986. Mosaic patterns in dipterocarp rain Forest in Indonésia, and their implications for practical forestry. Journal of Tropical Ecology 2: 301325. Vester, H. F. M. e Cleff, A. M. 1998. Tree architecture and secondary tropical rain forest development – a case study in Araracuara, Colombian Amazonia. Flora 193: 75-97. Efeitos diretos e indiretos de Hemigrammus cf. pretoensis (Characidae) sobre náiades de Aeshnidae (Odonata)e girinos de Osteocephalus taurinus (Amphibia, Anura) Dana Moiana Vianna Introdução Predadores podem moldar comunidades de suas presas reduzindo suas abundâncias, diminuindo a competição entre elas (Wilbur, 1972 apud Gascon, 1990), e restringindo suas áreas de ocorrência (Smith, 1983 apud Gascon, 1990). Para girinos, a predação parece ser o fator determinante para a composição de suas comunidades. Ramos et al. (1999) demonstraram, num estudo realizado na Amazônia Central, que a maior parte das espécies de girinos apresentam sobreposição temporal, segregação espacial e baixas densidades, indicando que a competição intraespecífica não é um fator importante neste sistema. Contudo, a composição de espécies presentes variou com o gradiente de predação, indicando que diferentes predadores podem ter efeitos distintos sobre diferentes espécies de girinos. O mesmo estudo mostrou que predadores invertebrados coexistem com girinos (em lagos e poças) mais freqüentemente do que peixes carnívoros, sugerindo que a predação por peixes pode influenciar fortemente a composição dessas comunidades. Por outro lado, algumas espécies de girinos podem apresentar defesas químicas contra vertebrados, mas que não afetam insetos (S. Neckel, com. pess.), de forma que a predação por peixes nestes casos pode se tornar pouco efetiva. Larvas de Odonata são predadores usuais de girinos (Gascon, 1990), extremamente vorazes, podendo dizimar localmente algumas populações (Heyer et al., 1975 apud Pérez et. al 1999). Os peixes, por sua vez, são predadores destas larvas, podendo exercer um efeito positivo indireto nas comunidades de girinos por meio da diminuição da densidade de seus predadores. O objetivo deste estudo é avaliar os efeitos diretos e indiretos de Hemigrammus cf. pretoensis (Characidae) sobre girinos de Osteocephalus taurinus (Amphibia, Anura) e náiades de Aeshnidae (Odonata) em uma abordagem experimental. Especificamente, eu respondi às seguintes questões: 1) H. cf. pretoensis predam girinos de O. taurinus? 2) Náiades de Aeshnidae predam girinos de O. taurinus? 3) O tamanho das náiades influencia a taxa de predação destes girinos? Métodos Este estudo foi realizado na Reserva do Km 41 do projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, na Fazenda Esteio, 80 Km ao norte de Manaus, AM (2 24’S; 59 44’O). Os girinos e as náiades de Aeshnidae foram coletados em poças temporárias na estrada de terra que leva à reserva do Km 41. Os peixes foram coletados, no igarapé, próximo ao acampamento. O experimento consistiu de três tratamentos, cada um com cinco réplicas: Tratamento 1: Para verificar se peixes predam girinos, coloquei um peixe e 12 girinos em cada bacia (cada bacia tinha cerca de 60 cm de diâmetro, e água até uma altura de 20 cm), e verifiquei se houve predação após 12 horas (em todos os tratamentos). Tratamento 2: Para observar as relações de predação entre peixes, náiades grandes de Odonata (3,5 e 4,0 cm, média = 3,8 cm) e girinos, coloquei em cada uma das cinco bacias um peixe, uma náiade grande de Aeshnidae e doze girinos. Tratamento 3: Para observar as relações de predação entre peixes, náiades médias (2,4 e 3,0 cm, média = 2,8 cm) de Odonata e girinos, coloquei em cada uma das cinco bacias um peixe, uma náiade de tamanho médio de Aeshnidae (Odonata) e doze girinos. Para comparar a sobrevivência dos girinos entre os três primeiros tratamentos utilizei um teste de Wilcoxon pareado e o programa estatístico Systat (Wilkson,1998). Resultados Hemigrammus cf. pretoensis não atacou nenhum girino ou náiade (grandes e médias), razão pela qual testei apenas se há diferença entre a eficiência de predação entre náiades de Odonata grandes e médias. Já as náiades de Aeshnidae, tanto as grandes quanto as médias, predaram quantidades consideráveis de girinos de O. taurinus (Z = 0,547; p = 0,583). A maior taxa de sobrevivência de girinos no tratamento 3 (onde só havia peixes e girinos) foi maior, o que é óbvio, já que os peixes não predaram nenhum girino. Uma vez que os peixes não predaram os girinos do grupo controle (tratamento 1), considerei todos os desaparecimentos de girinos dos demais tratamentos como predados por odonatas. Posteriormente ao experimento, para me certificar de que H. cf. pretoensis costitui um predador potencial de larvas de Odonata, e verificar se o tamanho das náiades utilizadas no experimento pode ter inviabilizado a predação, eu utilizei cinco bacias, cada uma com um peixe (Hemigrammus cf. pretoensis) e três náiades de Libellulidae (Odonata) com Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 123 comprimento inferior a 1,5 cm. Observei se houve predação após 8 horas. Utilizei náiades de Libellulidae ao invés de Aeshnidae porque eram menores, e eu pretendia testar simplesmente o efeito do tamanho das odonatas. De fato, houve predação de náiades por Hemigrammus cf. pretoensis em três das cinco bacias, tendo sido comidos três, duas e duas náiades, respectivamente. Discussão Náiades de Aeshnidae são vorazes predadores de girinos de O. taurinus, e os resultados deste estudo indicam que estas têm potencial para influenciar suas populações. Dada a quantidade de girinos predados no curto período de tempo em que se deu o experimento (uma única náiade chegou a comer dez girinos em 12 horas), e a quantidade de odonatas presentes em uma poça de água (numa poça de 1 x 3 m, capturamos 10 náiades grandes), acredito que elas são capazes de extinguir populações locais de girinos. Não obstante, ainda que a taxa de predação tenha sido alta no experimento, devemos considerar que em seu habitat os girinos podem utilizar-se de refúgios e/ou estratégias de fuga, atenuando os efeitos da predação em ambientes naturais (Pacheco, 1988 apud Pérez et al., 1999). Apesar de Hemigrammus cf. pretoensis não haver predado os girinos de Osteocephalus taurinus, estes peixes são predadores reconhecidamente agressivos, e há registros de que algumas espécies de girinos podem fazer parte de sua dieta, tendo sido observado inclusive o ataque a girinos de Phyllomedusa tarsius (Marinelli et al. 2001). Uma explicação plausível é que a situação de estresse alterou o comportamento dos peixes, inibindo sua ação. Contudo, devemos considerar o fato de que talvez O. taurinus tenha defesas químicas contra vertebrados, e que não afetam Odonatas (S. Neckel, com. pess.) A predação de náiades de Odonatas por peixes parece ser realmente definida pelo tamanho destas, já que apenas no momento em que eu ofereci náiades pequenas aos peixes, ocorreram ataques. De qualquer forma, o papel de peixes como mediadores de relações predador-presa entre náiades de Odonata e girinos não pode ser desconsiderado. 124 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 Agradecimentos Gostaria de agradecer a todos os que tornaram possível minha participação neste curso. Ao Juruna, pela ajuda nos matos, girinos, palmeiras e caipirinhas. Aos moradores do Corinthians Village: Gabi (só sorrisos), Janael (Bonitão do Igarapé), Miúdo (doutorando em vudú africano) e Sandro, (que me ajudou em tudo, o tempo todo) pela maravilhosa vizinhança, ajuda e companhia. A Jansen, pelo equilíbrio e pelos peixes do igarapé, ao Dadão pelas risadas, bregas e estatísticas, ao Selvino que salvou meu projeto G.8 (auge do desespero), à maravilhosa Angelita, sempre sorridente, à Débora, “Superótima”. Muito obrigada aos amigos que tornaram o curso divertido do começo ao fim: Ricardo, pelo forró e companhia, Mariana, Jú CO2, Amandita, Amanda (orrme orrrme!), e todos os outros; vocês são todos “sspiciais”. Ao Cake, The Verve, Metallica, The Specials, forrozinhos e ao Ctrl+B. Obrigada Henrique, por fazer parte de cada quark da minha vida. Referências Bibliográficas Gascon, C. 1990. The relative importance of habitat caracteristics in the maintenance of a larval anuran species assemblage in the tropics. Doctoral dissertation. Florida State University, Florida. Marinelli, C. E.; B. R. Guerra; C.F. Jurinitz; D. L. M. Vieira & R. Cogni, 2001. “Defesa química de duas espécies de hilídeos (Anura) conra um peixe predador” Curso de Campo Ecologia da Amazônia: 68 – 69. Pérez, J.; A. C. Q. G. Carnaval & M. P. Pais, 1999. “Reconhecimento predador-presa entre náiades de Odonata e girinos de Osteocephalus taurinus (Amphibia, Anura)” Curso de Campo Ecologia da Amazônia : 57-60 Ramos, C. A.; W. E. Magnusson & P. Bayliss, 1999. “Predation as the Key Factor Structuring Tadpole Assemblages in a Savanna in Central Amazônia” Copeia 1: 22-33 Efeito do adensamento populacional na competição por espaço em larvas de formiga-leão (Neuroptera: Myrmeleontidae) Juliana S. de Souza Introdução A ordem Neuroptera é um grupo com distribuição Neotropical e que inclui cerca de 1.100 espécies distribuidas em 17 famílias (Penny e Arias, 1982). Todas as espécies da ordem são predadoras, tanto na fase adulta quanto na fase larval. Na família Myrmeleontidae, as larvas, conhecidas como formigas-leão, constróem funis cônicos com um diâmetro que pode variar entre 2 e 5 cm, em solos arenosos e secos, e esperam por formigas e outros artrópodos de solo que possam cair nesta armadilha (Penny e Arias, 1982). Diversos fatores podem afetar a distribuição espacial dos funis no ambiente. Dentre eles destacam-se a disponibilidade de locais com solo seco para a construção dos funis, textura do solo, abundância de presas e a competição por espaço entre as larvas (Mc Clure, 1983; Pes et al., 2002). Se a demanda por locais favoráveis exceder o disponível no ambiente pode haver competição intraespecífica (Begon et al., 1990). Além da competição, uma alta densidade populacional pode aumentar a frequência de canibalismo entre as larvas. Estudos indicam que existe uma relação linear entre o tamanho da larva e o diâmetro do funil formado (e.g. Mc Clure, 1983). Entretanto, quando mantidas sem alimento, estas larvas aumentam o tamanho do funil, visando aumentar o sucesso na captura das presas (G. Machado, com. pess.). Neste contexto, pode-se esperar que em condições de competição, também possa ocorrer alteração na relação entre o tamanho das larvas e o diâmetro do funil formado por elas. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar experimentalmente o efeito da competição por espaço entre larvas de formiga-leão no estabelecimento e tamanho de funis construídos. Particularmente, procurou-se responder às seguintes questões: (1) em condições de alta densidade populacional, as larvas de formiga-leão alteram o diâmetro de seus funis de captura?; (2) a interferência que uma larva exerce sobre outra é dependente de seu tamanho? Métodos O estudo foi desenvolvido na Reserva do Km 41 (02o 24’S; 59o 52’O) do Projeto de Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (INPA/Smithsonian), situada na estrada vicinal ZF-3 da BR 174, a 80 Km ao norte da cidade de Manaus, AM. As larvas utilizadas nos experimentos descritos abaixo foram coletadas no acampamento da reserva, onde ocorrem em altas densidades nos locais abrigados da chuva, como beirais de telhados. EXPERIMENTO 1: EFEITO DO ADENSAMENTO Para avaliar o efeito do aumento da densidade populacional sobre o número e tamanho de funis construídos, foram estabelecidas quatro arenas de 20 x 25 cm (500 cm2), contendo areia seca e peneirada. Em cada arena, foram colocadas 10, 15, 20 e 25 larvas, representando um gradiente de tamanho de 3 a 10 mm de comprimento corporal (excluindo as mandíbulas). Após 12 h, os funis formados foram quantificados e medidos, e as larvas foram removidas e medidas. O tamanho médio das larvas nos quatro grupos experimentais não diferiu estatisticamente (ANOVA, F= 0,58; g.l.= 3; P= 0,632). Um teste G foi utilizado para testar se existe diferença entre o número de larvas que construíram e larvas que não construíram funis para os diferentes grupos experimentais de adensamento. Foram utilizadas regressões lineares para testar o efeito do adensamento na relação entre o tamanho do indivíduo e o diâmetro do funil para os quatro grupos experimentais. Os coeficientes de determinação (R2) das regressões obtidos destas análises foram usados como uma medida indireta de competição por espaço entre as larvas. Nesse sentido, quanto menor o valor de R2, maior seria a interferência da interação entre os indivíduos no diâmetro dos funis construídos. Para testar esta hipótese, foi realizada uma análise de regressão entre os valores de R2 (variável dependente) e a densidade de larvas (variável independente). EXPERIMENTO 2: INFLUÊNCIA DO TAMANHO DA LARVA NA COMPETIÇÃO POR ESPAÇO Visando verificar a importância do tamanho da larva na interferência que um indivíduo exerce sobre outro, foi conduzido um experimento em arenas de 25 cm2 contendo areia seca e peneirada. O tamanho da arena foi determinado com base em medidas de campo, nas quais os maiores funis encontrados na área de estudo apresentavam 5 cm de diâmetro. As larvas foram divididas em cinco grupos experimentais com 15 réplicas cada um: (P) apenas uma larva pequena por arena; (PP) duas larvas pequenas por arena; (PG) uma larva pequena com uma larva grande por arena; (G G) duas larvas grandes por arena e (G) apenas uma larva grande por arena. Considerou-se como pequenas larvas aquelas com comprimento total (excluindo as mandíbulas) entre 3 e 6 mm, e grandes as larvas entre 8 e 11 mm de comprimento total. Doze horas após a colocação das larvas nas arenas, os Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 125 funis formados foram medidos e as larvas removidas para verificação de possíveis eventos de canibalismo. Para testar a diferença entre o diâmetro dos funis formados nos diferentes grupos experimentais, foi utilizada uma análise de variância, e para verificar quais tratamentos diferiam entre si foi utilizado o teste a posteriori de Tukey. Todos os testes foram realizados no programa estatístico Systat 8.0 (Wilkson, 1998). Tabela 1: Resultado das regressões lineares utilizadas para testar o efeito do adensamento sobre tamanho dos funis formados. Número de larvas / 500 cm2 gl R2 P 10 9 0,51 0,019 15 12 0,75 0,000 20 12 0,28 0,060 25 14 0,74 0,000 Resultados 47 a Diâmetro do funil (mm) EXPERIMENTO 1 Houve diferença significativa no número de indivíduos que não construíram funil, sendo verificado um aumento no número de larvas que não construíram funil com o aumento de densidade (Figura 1). Nos grupos experimentais de 20 e 25 larvas foram verificadas, respectivamente, uma e três larvas mortas por canibalismo, enquanto que nas menores densidades (10 e 15 larvas), não foram verificados eventos de canibalismo. Não houve diferença significativa no tamanho das larvas que construíram e não construíram funil nos grupos de 15 (U=21, g.l.= 1, P= 0,110) e 20 larvas (U= 49, g.l.= 1, P= 0,805). 37 a a 27 b 17 b b 7 Número de larvas 20 G GG GP P 15 Figura 2: Diâmetro médio de funil construído nos diferentes grupos experimentais (ANOVA, F= 31,04, gl = 5, p = 0,000) e Tukey 5% , onde pontos seguidos de mesma letra não diferem estatisticamente. 10 5 0 10 15 20 25 Densidade (larvas/500 cm2) Figura 1: Número de larvas que construíram (barras cinzas) e que não construíram (barras pretas) funil nos diferentes grupos experimentais (G= 10,526; gl = 3, P = 0,015). Existe relação significativa entre o tamanho das larvas e o diâmetro do funil formado independente do nível de adensamento, com exceção do tratamento de 20 larvas que apresentou um valor marginalmente significativo (Tabela 1). Entretanto, não houve relação entre os coeficientes de regressão e tratamentos de densidade (R2= 0,74; F= 1,005 g.l.=3; P= 0,42). EXPERIMENTO 2 Não houve diferença no diâmetro do funil entre as larvas pequenas (P, PP e PG), assim como entre as larvas grandes (G, GG e GP), independente da presença e do tamanho de outra larva. Entretanto, houve diferença no diâmetro do funil entre as larvas grandes e as larvas pequenas (Figura 2). 126 PG PP Grupos experimentais Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 A porcentagem de larvas que construíram funis foi semelhante para os dois grupos experimentais P e G, que apresentaram as maiores porcentagens de funis estabelecidos (Tabela 2). Na mesma tabela, pode ser observada a maior porcentagem de larvas que não construíram funil no grupo experimental PG, seguido de GG. É importante salientar que no grupo experimental PG todos os funis construídos pertenciam às larvas grandes. O número de larvas canibalizadas foi maior no grupo PG (Tabela 2), sendo as larvas pequenas as últimas em todos os casos. Tabela 2: Porcentagem e número absoluto (valores entre parênteses) de larvas que construíram e que não construíram funil no experimento 2, e o total de mortos por canibalismo. Grupo Número de larvas % de larvas canibalizadas experimental Com funil Sem funil P 94,0 (14) 6,0 (01) - PP 70,0 (21) 30,0 (09) 0 PG 43,3 (17) 56,7 (13) 5 G 94,0 (14) 6,0 (01) - GG 53,3 (14) 46,7 (16) 0 Discussão Agradecimentos Os resultados obtidos neste estudo indicam que o tamanho do funil construído por uma larva independe da presença e do tamanho de outra larva. Não foi verificada uma diminuição do coeficiente de determinação (R2) com o aumento da densidade, mostrando que a competição por espaço não acarreta uma modificação na relação entre o tamanho da larva e o tamanho do funil. Entretanto, o que ocorre é um efeito direto sobre o estabelecimento de algumas larvas que não conseguem construir funil em altas densidades. O número de larvas que conseguiram construir seus funis no experimento 1 não aumenta com o aumento de densidade, o que sugere um limite de densidade em torno de 13 larvas 500/cm2. Considerando que uma larva grande ocupa uma área de até 25 cm2, seria possível o estabelecimento de até 20 funis de larvas grandes na área que foi disponibilizada. Uma vez que esta situação não foi detectada, pode-se considerar que a partir de determinado nível de adensamento, as interações agressivas entre os indivíduos passam a preponderar na determinação do estabelecimento dos funis e, conseqüente, sucesso da larva. Como estas larvas têm comportamento canibal, o encontro de duas larvas é conflitante, podendo ocasionar o não estabelecimento do funil por uma ou ambas. Nesse sentido, o tamanho da larva parece ser um fator na determinação de qual indivíduo construirá o funil de captura. Agradeço ao Dadão e ao Jansen pelas contribuições (científicas, culturais, logísticas, etc) sempre tão intensas e cheias de alegria ao longo de todo curso. Também à oportunidade de participar deste curso tão enriquecedor. A todos os pesquisadores que contribuíram em algum momento na elaboração do curso. Ao Juruna pelo apoio com sua biblioteca zoobotânica, sem a qual ainda estaria coletando os dados do primeiro projeto orientado, e a Eduarda e ao Jorge pelo “crescimento radial”. A Angelita pela dedicação e por suas diferentes performances em nos ajudar. Agradeço a Gabiana Fabriela pelas inúmeras larvas de fomiga-leão coletadas. Ao sincero Glauco Machado por este presente (projeto) me ajudando em todo o desenvolvimento e discussão, aliado a momentos de grande felicidade e entusiasmo pela pesquisa. Por fim, a quem me ajudou desde o princípio, meu anjo Carlos, que me encoraja transmitindo segurança, imprimindo um sentimento de paz nos caminhos que escolho seguir. Conclusões A competição por espaço entre larvas não é evidenciada pela alteração no diâmetro do funil, e sim pela construção ou não do funil, e conseqüente estabelecimento da larva. Quando o espaço começa se tornar limitante, o confronto entre larvas e seus respectivos tamanhos tornam-se os fatores que determinarão quem e quantos indivíduos irão se estabelecer construindo funil. Bibliografia Begon, M.; J. L. Harper e C. R.Townsend. 1990. Ecology: Individuals, populations and Communities. 2nd ed. Blackwell, Cambridge, U.S.A. McClure, M.S. 1983. Myrmeleon (Hormiga León, Antlions) Pp:742-743. in Janzen D.H. Costa Rican Natural History. The University of Chicago Press, London 816 p. Penny, N. D. e J. Arias. 1982. Insects of an Amazon forest. Columbia, New York, U.S.A. Pes, A. M. O.; F. Pimentel; M. L. Jorge; M. C. Vega e M. Hidalgo. 2002. Larvas de formiga-leão (Myrmeleontidae, Neuroptera) famintas aumentam o esforço de captura? in Venticinque, E. e J. Zuanon. Ecologia da Floresta Amazônica – Curso de campo. Wilkinson, L. 1998. Systat: The system for statistis. Evanston, IL, Systat Inc. Efeito de borda de estrada na predação de ninhos e sementes artificiais numa área de mata de terra firme da Amazônia Central. Sandro von Matter Introdução Faaborg et al. (1992) define borda como a junção entre dois tipos de habitats em estágios sucessionais diferentes. O aumento da quantidade de borda em relação ao interior aumenta o efeito de borda, este é o conjunto de características ecológicas associadas com essa junção que afetam algumas características biológicas e que podem se estender por grandes distancias dentro dos habitats (Marini et al. 1995, Murcia 1995). Aves são organismos particularmente sensíveis ao efeito de borda (Gates e Gysel, 1978). Estes animais são extremamente pressionados por parasitismo (Brittingham e Temple, 1983), perda de microhabitats e competição por alimento (Blake, 1983), muito do interesse no estudo dos Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 127 efeitos da fragmentação começou com a extinção local de espécies de pássaros. A predação de ninhos se tornou um dos fatores chaves na determinação da abundância e diversidade de pássaros em áreas de borda (Wilcove, 1985). Alguns estudos sugerem a predação como responsável pela extinção de pássaros em fragmentos florestais (Wilcove, 1985). Diversos estudos mostram que a taxa de predação na borda da mata muitas vezes é maior que no interior (Gates e Gysel 1978, Burkey 1993, Paton 1994, Tabarelli e Mantovani 1997). Algumas hipóteses vêm sendo sugeridas para explicar o aumento da predação de ninhos em áreas de borda, alguns autores apoiam a idéia do “mesopredator release”, onde a ausência de predadores de topo propicia o aumento de populações de predadores menores e onívoros, potenciais predadores de ovos (Wilcove, 1985). Gibbs (1991) sugere que o aumento seria devido a invasão de predadores vindos de habitats adjacentes, esta hipótese é reforçada pelo fato de fragmentos isolados por corpos d’água apresentarem menores taxas de predação de ninhos. Observações diretas de predação são muito difíceis por que os atos de predação são muito rápidos e distribuídos por um grande período de tempo (Skutch, 1966; Best, 1974). Um modo indireto de determinar as taxas de predação sobre ninhos de aves e sementes podem ser inferidos através de experimentos de ninhos artificiais e de predação de sementes. A predação de ninhos e sementes em trilhas florestais sofre influência de vários fatores, incluindo o tamanho da trilha, a distância da área de borda, e ou a idade e estrutura do ambiente (Gates e Gysel, 1978; Chasco e Gates, 1982, Picman, 1988). Utilizei amendoins para quantificação da taxa de predação a uma espécie exótica de semente em um ambiente: a predação destas sementes e em geral realizada por predadores comumente generalistas, ocorrendo normalmente em áreas com grandes mudanças ambientais, como alterações antrópicas (Burkey, 1993). Bierregaard e Lovejoy (1989) trabalhando no Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais acompanharam a comunidade de pássaros de diversas áreas durante o processo de fragmentação, e encontraram que aves de chão de mata, são uma guilda mais suscetível a predação de ninhos (Terborgh 1974). Por este ser o estrato mais acessível, e com maior taxa de predação (Gibbs 1991, Bierregaard e Lovejoy 1989), este foi escolhido para a montagem do experimento. Para realização deste estudo utilizei ninhos artificiais, este método vem sendo utilizado há bastante tempo ( Thompson et al., 1967; Henry, 1969). Apesar disso este método é bastante controverso, alguns autores não encontraram diferenças entre as taxas de predação de ninhos naturais e artificiais, e consideram ninhos artificiais como uma ferramenta eficaz para medir a taxa de predação em ninhos. Por outro lado, alguns trabalhos relatam diferenças significativas entre as taxas de predação de ninhos naturais a artificiais (O’Relly e Hannon, 1989), e afirmaram que ninhos artificiais não são capazes de propiciar resultados 128 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 aplicáveis à predação em ninhos naturais. De um modo geral, taxas de predação de ninhos artificiais não devem ser usadas como uma simulação autêntica de ninhos naturais, entretanto têm grande validade como um índice relativo para a pressão da predação sofrida por ninhos naturais e como uma ferramenta para estudos comparativos (Yahner e Voytko, 1989). O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de uma estrada sobre as taxas de predação de sementes e ninhos artificiais em relação ao efeito de borda em uma mata de terra firme na Amazônia Central. Metodologia Realizei o experimento entre 27 de julho a 01 de agosto de 2003 na Reserva 1501 (Km 41) do PDBFF (02º 25 S 59º 50 W). A borda nesse ambiente apresenta uma vegetação de dossel mais baixa, uma complexidade menor e heterogeneidade maior que o interior (Laurance, 2001). A vegetação da Reserva é floresta de terra firme, as coletas de dados foram conduzidas em área de platô caracterizadas por solo argiloso, dossel de 35-40m com muitas árvores emergentes, grande biomassa e sub-bosque com muitas palmeiras (Ribeiro, 1999). Foram utilizadas parcelas da estrada ZF-3 (Laurance, 2001 Oki 2002). A temperatura média anual é de 26.7o C, e as médias mensais flutuam cerca de apenas 2o C. A pluviosidade anual média é de 2186 milímetros, variando de 1900 a 2400 mm (RADAMBRASIL, 1978). Instalei ninhos artificiais com ovos de Coturnix coturnix (codorna), com 4 ovos cada, como é comum para aves que nidificam no chão da mata na Amazônia Central (Hilty e Brown, 1986). O lugar escolhido para instalação dos ninhos foi o chão da floresta. Utilizei materiais vegetais disponíveis no local para confecção dos ninhos, durante todo o procedimento de construção utilizei luvas de borracha para reduzir o efeito da contaminação com o odor humano (Janzen 1978). Dispus os ninhos ao longo de 13 transectos lineares distantes 100m entre si , em 50 pontos de classes de distância diferentes distribuídos aleatoriamente (por sorteio), sendo 25 pontos para cada lado da estrada, cada transecto possuía 10 classes de distância, 5 para cada lado da estrada; Adotei as seguintes classes de distância da borda para o interior da mata, 0, 25, 50, 100 e 200m, estabelecidos com auxílio de uma trena de 100m e bússola. Os ninhos foram checados por 4 dias, em cada visita os vistoriei quanto ao seu conteúdo (predado ou intacto), efetuei as contagens em todos os pontos, obtendo-se com isso a taxa de predação dos ovos. Foram considerados predados ovos danificados, arranhados ou removidos. Para os experimentos de predação de sementes (amendoins), foram instalados 10 sementes de amendoim sem casca, à 5m de cada ninho, chequei os amendoins diariamente em um total de 4 dias de experimento em relação ao seu conteúdo (predado ou intacto), efetuei contagens em todos os pontos, obtendo a taxa de predação das sementes. Utilizei o programa Statistica versão 5, 1997; As análises foram feitas com o auxílio do teste Kruskal-Wallis comparando distância da borda e remoção de sementes e ovos. Resultados Encontrei uma diferença significativa para a distância de 0m o qual apresentou uma alta predação em relação as outras classes de distância para a remoção de ovos nas diferentes distâncias da borda (Kruskal-Wallis ( GL = 4, N = 50) = H = 15.4, p = 003 - Figura 1), a remoção variou de 19 a 3 ovos (borda / interior). Não houve diferença significativa para a remoção de sementes (amendoim) para as diferentes classes de distância da borda, ocorrendo alta predação em todos os pontos (Kruskal-Wallis ( GL = 4, N = 50) = H = 5.05, p = 0.28 - Figura 2), a remoção variou de 68 a 62 amendoins (borda / interior). Figura 1 – Taxa de remoção de ovos para diferentes distâncias da borda a distância de 0m, correspondente a própria borda do ambiente, a alta taxa de remoção desta distância evidencia um efeito monotônico de predação, este efeito de alta predação na borda já foi observado por vários autores (Gates e Gysel, 1978; Chasko e Gates, 1982; Andrén et al., 1985; Wilcove et al. 1986; Yahner, 1991; Burkey, 1993), entretanto há poucos estudos em ambientes tropicais (Gibbs, 1991; Burkey, 1993; Wong et al., 1998). Algumas hipóteses podem explicar este evento, a área do efeito de borda caracteriza-se por uma região de junção de ecossistemas adjacentes, onde muitos predadores oportunistas buscam recursos, esta borda pode ainda ser usada como um corredor, onde os predadores se locomovem penetrando na mata em diferentes locais (Bider, 1968; Gates e Gysel, 1978). Wong et al. (1998) não encontrou diferenças significativas para taxas de remoção de sementes para as diferentes classes de distância da borda; neste trabalho também não houve diferença significativa para a predação de sementes (amendoim). Porém ocorreu uma alta taxa de predação para todas as distâncias. Observei a presença de alta densidade de formigas em toda a área de estudo, principalmente para as do gênero Pheidole, Ectatomma e Wasmania. A alta densidade de formigas por toda a área de estudo, mascarou qualquer evidencia de outro possível predador, sendo estas encontradas predando as sementes ao longo de todos os pontos amostrados, já que estas apagaram as possíveis marcas deixadas por outros predadores durante o consumo da semente. A não ocorrência de uma variação nas taxas de predação pelas formigas em diferentes distâncias, pode ser explicada, pois diferentes espécies predam esta semente, assim embora a riqueza de espécies diminuísse com a proximidade da borda a densidade aumentava mantendo constante a alta predação por formigas para todo o ambiente, isto se deve provavelmente a maior disponibilidade de recursos nesse ambiente, devido a fusão de dois ecossistemas ecologicamente distintos (Carvalho, 1998). A constância da densidade da população de formigas do interior para a borda, pode explicar o fato de não haver diferença para a predação de sementes por formigas nas diferentes classes de distância. Conclusão Figura 2 – Taxa de remoção de sementes para diferentes distâncias da borda. Discussão Esse estudo avaliou o efeito de borda para diferentes classes de distância na predação de ninhos e sementes artificiais, corroborando com os trabalhos de Angelstam (1986); Andrén e Angelstam, (1988). Verifiquei uma taxa de remoção significativa de ovos para Na área de estudo a largura da estrada é considerável, cerca de 20m, a alta taxa de predação para a borda do ambiente encontrada neste estudo, pode indicar que predadores generalistas estão utilizando a borda como um corredor para se deslocar no ambiente e explorar seus recursos (Bider, 1968; Gates e Gysel, 1978); este ambiente pode ainda estar atraindo predadores de sistemas externos a floresta (Gibbs, 1991). A largura das estradas que cortam a Floresta Amazônica pode ser caracterizada como uma barreira para algumas espécies de aves, influenciando diretamente algumas síndromes de dispersão ao qual estas estão ligadas. Além Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 129 disso o efeito de borda causado por estradas pode gerar conseqüências deletérias para a biota local (Murcia 1995). A presença de uma borda para cada lado da estrada potencializa ainda mais este feito de impedimento, desta maneira a estrada pode levar a uma alteração da distribuição das aves entre os seus lados (Laurance, 2001). A pressão causada por este efeito de borda pode causar uma diminuição de microhabitats, conseqüentemente muitas espécies especialistas podem sofrer extinção regional devido a sua associação a habitats particulares (Zimmerman e Bierregaard, 1986), esta é a principal causa da queda da diversidade de espécies em florestas tropicais (Erlich, 1988); A predação e a drástica transformação do habitat, reduz e isola populações, essa redução pode comprometer a sua viabilidade genética através do “inbreeding”, a população pode sobreviver por diversas gerações, enquanto perde terreno devido a baixa fecundidade e viabilidade (Frankel e Soulé, 1981). Estes efeitos podem ser minimizados com a criação de corredores sobre e/ou sob a estrada, que facilitariam o fluxo de predadores de topo diminuindo assim a presença de uma alta densidade de predadores onívoros de menor porte, e do fluxo gênico das populações entre os ambientes pelos dois lados da estrada, este tipo de ferramenta diminuiria substancialmente o efeito de borda e suas conseqüências. Agradecimentos Agradeço a fita cassete do Metálica / Nirvana, que me fez ter capacidade mental para escrever este relatório isolando-me do brega e do pagode; Um obrigado especial ao meus queridos colegas de curso que sempre me fizeram rir, a Amanda Mortati por ser minha amiga, a Dana Moiana pelas inesquecíveis noites ao luar com os girinos, a Fabiana Rocha Mendes pelo seu sorriso que vai deixar saudades, a Fresnel Diaz por seu amor latino, a Janael Ricetti (gente boa) por suas fitas, a Juliana Souza por sua simpatia e por nosso bebê, a Luciano Montag por sua força maligna contra rádios, a Angelita Midori por toda a ajuda, a Eduardo Venticinque por sua companhia e pela caixa, ao muito querido Professor Jansen pelas orientações neste trabalho, e ao professor Selvino pelas sugestões. Referências Andrén, H. e P. Angelstam (1988) Elevated predation rates as an edge effect in habitat islands: Experimental evidence. Ecology 69: 544-547. 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Esse modelo propõe que a abundância relativa dos diversos tipos de alimento varia de forma previsível e contínua nos sistemas de drenagem, à medida que os cursos d’água aumentam de tamanho. A produtividade em pequenos riachos seria muito dependente do aporte de material alóctone proveniente da vegetação ripária, e à medida que os riachos aumentam de tamanho, a importância da produção primária autóctone também aumentaria. Esse gradiente de disponibilidade de recurso, por sua vez, seria um fator importante na estruturação das comunidades de consumidores (e.g. invertebrados aquáticos e peixes). Os ecossistemas aquáticos da Amazônia podem ser divididos em sete ambientes principais: leito de grandes rios, lagos, igarapés, vegetação flutuante, corredeiras, igapós e praias (Lowe-McConnell, 1987, 1999). Os igarapés amazônicos localizados em ambientes de floresta de terrafirme estão pouco sujeitos à influência das cheias sazonais da Bacia Amazônica, apresentando variações de vazão dependentes principalmente das precipitações locais (Bührnheim e Cox-Fernandes, 2001). Em função da baixa luminosidade resultante da densa cobertura florestal, do baixo teor de sais minerais e da correnteza acentuada, os igarapés são sistemas aquáticos de baixa produção primária (Walker, 1995) e, portanto, muito dependentes da floresta circundante como fonte de nutrientes (Lowe-McConnell, 1999). De fato, o alimento de origem alóctone constitui a maior parte da dieta dos peixes dos rios amazônicos pobres em nutrientes (Lowe-McConnell, 1986). À medida que esses igarapés aumentam de tamanho, a área de cobertura vegetal diminui em termos proporcionais. Concomitantemente, a área para entrada de luz aumenta, e espera-se um incremento da produtividade primária. Haveria, portanto, uma substituição, em termos de importância relativa, dos recursos de origem alóctone por aqueles de origem autóctone e, possivelmente, um aumento na abundância total de recursos alimentares disponíveis decorrente da maior produtividade primária. A abundância de recurso alimentar exerce influência nas taxas de crescimento e de reprodução em peixes (Wooton, 1990). Assim, é possível que, para uma dada espécie de peixe 132 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 de riacho, exista um gradiente de tamanho, massa corpórea e fecundidade associado a esse suposto gradiente de tipo e abundância de alimento. Nessa situação, os indivíduos que habitam os riachos de maior ordem seriam maiores ou mais robustos ou, no caso das fêmeas, apresentariam maior fecundidade do que os indivíduos de riachos de menor ordem. Pyrrhulina brevis é um lebiasinídeo abundante em igarapés amazônicos (ver Bührnheim e Cox-Fernandes, 2001), ocorrendo em riachos de 1a, 2a e 3a ordens (Ferreira e Marinelli, 2001). Esse peixe se alimenta predominantemente de invertebrados terrestres, além de crustáceos e insetos aquáticos (Ferreira, 2001), e a principal tática alimentar utilizada é a captura de alimento na superfície ou à deriva (J. Zuanon, com. pess.). O presente estudo teve como objetivos verificar (1) se existe um gradiente de tipo e abundância de recurso alimentar ao longo de igarapés amazônicos de 1a a 3a ordens e (2) se existe um gradiente de tamanho, massa e/ou fecundidade em peixes, associado ao gradiente de disponibilidade de alimento, usando P. brevis como modelo de estudo. Métodos O estudo foi realizado em igarapés localizados na Reserva do Km 41 (2o 26' S; 59o 46' W), na estrada vicinal ZF-3, rodovia BR 174, 80 Km ao norte de Manaus. Foram amostrados 11 igarapés, sendo cinco deles de 1a ordem, quatro de 2a ordem e dois de 3a ordem. Em seis desses igarapés (dois de cada ordem) foram colocadas redes de deriva (funis de tela plástica com 30cm de diâmetro e malha de 1mm), a meia água, pelo período de 24h, a montante dos pontos de coleta de peixes, para a amostragem do alimento disponível. Em cada igarapé, um trecho de 20m foi estabelecido arbitrariamente e cercado com redes (malha de 6mm) para evitar a evasão dos peixes (cf. Ferreira, 2001). A largura do riacho foi medida nas extremidades e no ponto mediano dos trechos de amostragem. Dentro desse trecho, os indivíduos de P. brevis foram coletados com o uso de peneiras de 50 cm de diâmetro (malha de 1mm), passadas ao longo das margens dos riachos. Em um único igarapé de 1a ordem os peixes foram amostrados com uso de armadilhas com isca, deixadas pelo período de 24 horas. O conteúdo das iscas ficava encerrado em potes plásticos perfurados e, portanto, inacessível para os peixes, evitando, assim, a contaminação dos conteúdos estomacais pelo material contido nas iscas. No laboratório, o material animal coletado nas redes de deriva foi fixado em álcool 70%, triado, identificado e classificado em alóctone ou autóctone; o número de indivíduos coletados em cada uma dessas duas categorias foi registrado. Para cada amostra das redes de deriva, foi calculada a proporção de itens alóctones em relação ao total de itens coletados. Os peixes capturados foram fixados em formalina 5%; sua massa foi estimada com uso de balança do tipo Pesolaâ (0,1g de precisão) e seu comprimento padrão (CP) medido com paquímetro (0,05 mm de precisão). Os peixes foram dissecados para retirada do estômago e, no caso das fêmeas, para retirada e contagem dos ovócitos presentes. Os estômagos foram dissecados, e os conteúdos de origem alóctone e autóctone foram triados, identificados e contados. Para cada igarapé foi calculado o número médio de itens alimentares (alóctones e total) consumidos pelos peixes coletados. Além disso, foi calculada uma média de fecundidade por igarapé, dividindo o número total de ovócitos registrados pelo número de fêmeas com ovócitos coletadas. No caso do tamanho e da massa corpórea, somente os indivíduos adultos foram utilizados. Foram considerados adultos todos os indivíduos de CP maior ou igual à metade do CP do maior indivíduo coletado (J. Zuanon, com. pess.). Também foi calculada uma média de tamanho (CP) e massa para os peixes de cada igarapé. A fim de verificar a existência de um gradiente de abundância de recursos alimentares no ambiente, foram calculadas regressões lineares entre a largura dos igarapés e o número total de animais coletados nas redes de deriva. Além disso, foi feita uma regressão entre a proporção de itens alóctones nas redes e a largura do igarapé, com o objetivo de verificar se ocorre diminuição na proporção de material alóctone com o aumento dos igarapés. Para investigar se existe gradiente de tamanho, massa corpórea e fecundidade de P. brevis ao longo dos riachos, foram feitas regressões entre as médias dessas variáveis e as larguras dos riachos. Resultados As principais categorias de itens alimentares coletados no ambiente foram, entre os de origem alóctone, formigas (16,9%) e aranhas (4,8%), e entre os de origem autóctone, larvas de dípteros (53,72%), tricópteros (9,27%) e efemerópteros (7,6%). Houve ampla variação tanto na abundância de recursos alimentares coletados nos igarapés, quanto na proporção de itens alóctones dentro de cada amostra (Tabela 1). Não houve relação entre o número total de itens amostrados nas redes de deriva e a largura dos igarapés (F(1, 4) = 0,013; R2 = 0,00; p < 0,92; N = 6) e nem entre a proporção de itens alóctones no ambiente e a largura do riacho (F(1, 4) = 0,002; R2 = 0,00; p < 0,97; N = 6). Tabela 1: Abundância de recursos alimentares e proporção de itens alóctones em igarapés de 1a, 2a e 3a ordem na reserva do Km 41, Manaus, AM. Os valores nas células correspondem ao número de itens coletados; os valores entre parênteses são proporções em relação ao total. Ordem do igarapé Largura (m) Número total de itens Itens alóctones a 1,4 5 1 (0,20) 1a 1,0 115 52 (0,45) 2a 2,3 69 10 (0,14) 2 a 2,5 89 27 (0,33) 3 a 2,8 25 14 (0,56) 3 a 2,6 322 58 (0,18) 1 Foram analisados 40 indivíduos de P. brevis, sendo nove fêmeas adultas, 18 machos adultos, 10 machos jovens e três jovens de sexo indeterminado. Desse total, 32 foram coletados nos igarapés de 1a ordem e oito foram coletados nos igarapés de 2a ordem. Não foi coletado nenhum indivíduo de P. brevis nos dois igarapés de 3a ordem amostrados. Houve ampla variação no tamanho, na massa dos peixes e na média de consumo de alimento entre os igarapés estudados (Tabela 2). Com exceção de um dos igarapés de 2a ordem, a proporção de itens alóctones foi alta na dieta de P. brevis (³ 65%; Tabela 2) e superior à proporção desse tipo de item no ambiente (Tabela 1). As principais categorias alimentares encontradas nos estômagos foram formigas (47%), cupins (22%) e dípteros adultos (6%), entre os invertebrados terrestres; e larvas de dípteros (17%) entre os invertebrados aquáticos. Não houve relação entre a média do número total de itens consumidos por indivíduo em cada igarapé e a largura do riacho (F(1, 5) = 3,041; R2 = 0,38; p< 0,14; N = 7), e tampouco entre a proporção de itens alóctones consumidos em cada igarapé e a sua largura (F(1, 5) = 1,177; R2 = 0,19; p < 0,33; N = 7). A largura do igarapé também não explicou a variação do CP dos peixes (F(1, 5) = 4,770; R2 = 0,49; p < 0,08; N = 7), da massa corpórea (F(1, 5) = 0,000; R2 = 0,00; p < 0,99; N = 7), nem da fecundidade (F(1, 3) = 0,000; R2 = 0,00; p < 0,99; N = 5). Discussão A composição da fauna de invertebrados aquáticos disponíveis no ambiente neste estudo foi semelhante àquela observada em riachos do Panamá, que foi constituída de efemerópteros, coleópteros larvas de dípteros (Angermeier e Karr, 1984). Já a fauna de artrópodos terrestres diferiu bastante entre as áreas: no estudo do Panamá, predominaram dípteros e coleópteros, enquanto que neste estudo formigas e aranhas foram os itens mais importantes. A não observância de gradientes de recurso alimentar neste estudo, em oposição ao observado por Angermeier e Karr, (1984) para invertebrados terrestres, pode ser resultante da pequena variação de tamanho dos igarapés aqui estudados. No estudo do Panamá, os riachos variaram de 1,3 a 5,6m de largura, Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 133 Tabela 2: Tamanho, fecundidade, consumo médio de alimento e porcentagem de itens alimentares alóctones de Pyrrhulina brevis em igarapés de 1a e 2a ordem na reserva do Km 41, Manaus, AM. CP: comprimento padrão. Valores nas células: médias ± DP (mín. – máx.; n). As médias foram calculadas apenas para N ³ 3 peixes. Ordem Largura (m) CP (mm) Massa (g) Fecundidade No de itens estomacais Itens alóctones (%) a 1 a 1 2,28 1,39 29,3 ± 9,25 0,4 ± 0,41 (20,4 – 38,85; (0,15 – 0,90; n = 3) n = 3) 41,6 ± 11,29 1,1 ± 1,1 (29,2 – 62,1; (0,3 – 3,4; n = 6) ____ 4 ± 1,7 91 (2 – 5; n = 3) ____ 4,3 ± 5,35 100 (0 – 15; n = 6) n = 6) a 1 2,43 39,1 ± 8,90 1,1 ± 0,67 (30,1 – 51,7; (0,5 – 2; n = 5) (39; n = 1) 6,6 ± 4,62 82 (3 – 14; n = 5) n = 5) a 1 2,00 38,0 ± 11,56 1,1 ± 1,10 42,7 ± 16,50 7,3 ± 5,83 (25,1 – 62,3; (0,3 – 3,7; n = 9) (29 – 61; (1 – 17; n = 9) n = 9) a 1 2 a 1,03 2,53 65 n = 3) 37,5 ± 10,25 1,1 ± 0,65 (44 – 75; 1,3 ± 1,66 (22,3 – 51,4; (0,15 – 2,15; n = 2) (0 – 5; n = 9) n = 9) n = 9) 25,9 ± 15,02 0,5 ± 0,64 (14,9 – 43,0; (0,1 – 1,2; n = 3) (81; n = 1) 9,3 ± 5,51 75 25 (4 – 15; n = 3) n = 3) 2 a 1,89 41,7 ± 5,37 1,5 ± 0,55 (35,3 – 48,1; (0,9 – 2,3; n = 5) (81; n = 1) 10,6 ± 4,51 79 (6 – 17; n = 5) n = 5) enquanto que aqui de 1,0 a 2,8m. É possível que em uma escala de observação maior, que contemple maior variação de tamanho de riachos, seja evidenciado algum gradiente de tipo e abundância de recursos alimentares em igarapés amazônicos. O modelo do Rio Contínuo foi proposto com base em sistemas de riachos de clima temperado, caracterizados por variações de grande magnitude e em escalas espaciais pequenas (Vannote et al., 1980). O sistema de igarapés amazônicos de terra-firme, por sua vez, é caracterizado pela estabilidade de suas condições abióticas (Lowe-McConnell, 1986) e pela baixa influência de cheias sazonais pronunciadas (Bührnheim e Cox-Fernandes, 2001). Além disso, a escassez de nutrientes inorgânicos nas águas de igarapés de terra-firme (Walker, 1995) provavelmente é mantida em igarapés de ordens maiores, o que explicaria a ausência de um padrão de substituição gradual da condição heterotrófica pela autotrófica. Lowe-McConnell, (1986) sugeriu que o sistema de rios amazônicos é muito vasto e complexo para ser descrito por um modelo relativamente simples como o do Rio Contínuo. A ausência de gradientes de tamanho, massa corpórea e fecundidade em P. brevis, portanto, pode ser explicada pela ausência de gradiente de recursos alimentares, ao menos na escala de observação deste estudo. Entretanto, meus resultados indicam que P. brevis ocupa preferencialmente 134 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 igarapés de 1a e 2a ordem e, portanto, não seria um bom modelo de estudo para se testar essa hipótese. Dados de fecundidade, apesar de importantes, são raramente contemplados em estudos sobre peixes amazônicos (Lowe-McConnell, 1999). As informações aqui obtidas corroboram a hipótese de que lebiasinídeos produzem ovos em pequenas quantidades (entre 50-300; Machado-Allison, 1990), possivelmente como resposta às condições oligotróficas dos igarapés amazônicos de terrafirme. Agradecimentos Agradeço à inestimável ajuda de Favyane no trabalho de campo e de laboratório. A Miúdo, Amanda e Lene por me cederem os peixes que coletaram. A Juruna e Angela pela ajuda no campo. A Jansen, Glauco e Selvino pelas valiosas críticas e sugestões. À Pati, pela cessão de preciosas horas de computador, pela companhia agradável, pelo carinho, pelas gostosas risadas e saborosas conversas; sem sua companhia este curso certamente não teria sido o mesmo. Referências Angermeier, P. L. e J. R. Karr .1984. Fish communities along environmental gradients in a system of tropical streams. In: Zaret, T. M. (ed.). Pp. 39-57. Evolutionary ecology of neotropical freshwater fishes. Dr W. Junk Publishers, The Hague. Bührnheim, C. M. e C. Cox-Fernandes. 2001. Low seasonal variation of fish assemblages in Amazonian rain forest streams. Ichthyol. Explor. Freshwaters, 12: 65-78. Ferreira, K. 2001. Distribuição longitudinal e estrutura trófica da ictiofauna de igarapés de terra-firme da Amazônia Central. In: Venticinque, E. e J. Zuanon (eds.). Pp. 87-89. Ecologia da Floresta Amazônica Curso de Campo 2001. PDBFF - INPA. Ferreira, K. e C. E. Marinelli. 2001. Composição, riqueza e abundância da ictiofauna de um igarapé de terra firme da Amazônia Central, AM. In: Venticinque, E. e J. Zuanon (eds.). Pp. 87-89. Ecologia da Floresta Amazônica - Curso de Campo 2001. PDBFF - INPA. Lowe-McConnell, R. H. 1986. Fish of the Amazon system. In: Davies, B. R. e K. F. Walker (eds.). Pp. 339-351. The Ecology of River Systems. Dr W. Junk Publishers, Dordrecht, The Netherlands. Lowe-McConnell, R. H. 1987. Ecological Studies in Tropical Fish Communities. Cambridge University Press, Cambridge. Lowe-McConnell, R. H. 1999. Estudos Ecológicos de Comunidades de Peixes Tropicais. EDUSP, São Paulo. Machado-Allison, A. 1990. Ecologia de los peces de las áreas inundables de los llanos de Venezuela. Interciencia, 15(6): 411-423. Vannote, R. L., G. W. Minshall, K. W. Cummins, J. R. Sedell e C. E. Cushing. 1980. The river continuum concept. Can. J. Fish. Aquat. Sci., 37: 130-137. Walker, I. 1995. Amazonian Streams and Small Rivers. In: Tundisi, J. G., C. E. M. Bicudo e T. M. Tundisi (eds.). Pp. 167-193. Limnology in Brazil. Academy of Sciences e Brazilian Limnological Society, Rio de Janeiro. Wooton, R. J. 1990. Ecology of Teleost Fishes. Chapman e Hall. Dieta de Pyrrhulina brevis (Characiforme: Lebiasinidae) en igarapés de la Amazonía Central: Selectiva o Generalista? Faviany Lino Pimentel Introducción Uno de los ambientes acuáticos mas importantes en la amazonía son los igarapés, pobres en minerales, nutrientes y que poseen una baja productividad. A pesar de estas características limitantes, los diferentes hábitats presentes en estos sistemas, permiten el establecimiento de una diversidad de fauna acuática. Sin embargo, la presencia o ausencia de una determinada especie puede estar relacionada con características físico químicas, dinámica hídrica, geomorfología y con la oferta de hábitats, las cuales determinan condiciones adecuadas para el desarrollo de las comunidades (Resh y Rosenberg 1984). Por algunos estudios, se sabe que la riqueza y abundancia de especies de peces se incrementa a lo largo de un gradiente, desde las cabeceras hasta los grandes ríos (Gillian et al. 1993, Vannotte et al. 1980), y el recurso disponible como alimento para la fauna acuática sigue este mismo patrón. Sabino y Zuanon (1998) mostraron que existe una diferencia en la selección de recurso disponible para peces de igarapés, mientras que Junk (1989, 1993), Nessimian et al. (1998) y Merritt & Cummins (1996) indican que los peces que habitan igarapés de primer orden dependen de material alóctono que proviene de la vegetación circundante, además del acarreado por lluvias. Por otro lado los que habitan en igarapés de segundo y tercer orden tendrán una alimentación más basada en material autóctono (recurso acuático). Sin embargo, las especies presentan diferentes patrones de consumo alimenticio, categorizándose como generalistas (aquellas especies que no discriminan el recurso) o selectivas (aquellas que presentan preferencia por un recurso). Sin embargo para que se posible discriminar la existencia o nó de selectividad es necesario conocer la disponibiliad de recurso en el medio (Wotton 1990). Existen algunos reportes sobre dietas de peces en igarapés de la amazonía central (Silva 1993, Santos 1999), sin embargo sobre Pyrrhulina brevis no existen referencias, apesar de que es una especie abundante en estos ambientes y presenta una distribuición en la Amazonía Central (Rincon 1999, Ver Buhrnheim y Cox Fernandes 2001, Ferreira y Marinelli 2001). Esta especie incluye en su dieta a invertebrados acuáticos e insectos terrestres, sin embargo, no se sabe con certeza si presenta un comportamiento de dieta selectiva o generalista. En base a esto, el objetivo del presente estudio es evaluar la cantidad de recurso disponible en igarapés de primer, segundo y tercer orden e identificar cúal es la proporción de recurso ingerido por Pyrrhulina brevis (Lebisinidae) en estos ambientes, con el fin de testar si la especie es generalista o Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 135 selecciona un determinado tipo de recurso. Método El área de estudio se encuentra en la reserva del Km 41 (PDBFF – INPA) aproximadamente en los 02o 25´S y 59 o 48´O. La reserva abarca cerca de 10.000 ha. de floresta de tierra firme continua y presenta una serie de igarapés de características particulares. En esta área, la selección de 10 igarapés (cinco de primer orden, tres de segundo orden y dos de tercer orden) se realizó en función a caracterísiticas tributarias. En seis de ellos se colectaron los peces con bastidores, para ello, se cercaron 20 metros en cada igarapé, se midió el ancho en tres secciones (a los 0 m, a los 10 m y a los 20m) registrándo la media de los valores. La velocidad de corriente fué registrada en ms-1 promediando tres medidas tomadas del centro del canal. Para la obtención de los peces, se exploró los diferentes microhábitats, hojarasca, arena, margen y raíces. Los especímenes de P. brevis fueron fijados en Formol (10%). Se analizó el contenido estomacal identificando y realizando un conteo de todos los items encontrados, la preferencia alimenticia fué determinada cuantitativamente calculándose la proporción del recurso ingerido. Para evaluar el recurso disponible en el medio (invertebrados acuáticos y terrestres) acarreado por la corriente, se colocó una red de deriva en cada igarapé (30 cm de diámetro y malla 250 micras). Las redes se colocaron en el centro de cada igarapé sostenidas por parantes (en la columna de agua), sin embargo los luagares de colecta fueron independientes del lugar de colecta de peces. El tiempo de colecta fué de 24 h. El material fué tamizado y fijado con alcohol (75%) para posterior identificación taxonomica en nivel de orden o familia. Proporciones del total del recurso disponible fueron utilizadas para comparar el alimento disponible y lo efectivamente ingerido por los peces con el Indice de Pianka (1973) que engloba datos de composición y abundancia) calculado con el Sotware Ecosim (1990) y testado con el algoritmo de Randomización 3 (Lawlor 1990). Para obtener una relación de la disponibilidad de recurso (material autoctono y aloctono) en función de las caracterisiticas físicas de cada igarapé muestreado (ancho del igarapé) se utilizaron regresiones lineales en el programa Statistica 8.0. Resultados RECURSO DISPONIBLE EN EL AMBIENTE ACUÁTICO La muestra de recurso disponible resultó de la captura 603 individuos, repartidos en 12 taxa (11 de invertebrados y 1 vertebrado) (Tabla 1). Los taxa registrados fueron 23, sin embargo la mayor abundancia fué representada por las familias Chironomidae, Simuliidae y Formicidae. Los demás grupos se presentaron ocasionalmente con porcentajes bajos. 136 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 En general, en todo el sistema el mayor porcentaje de recurso disponible lo constituye la fauna autóctona (76%) que corresponde a invertebrados acuáticos y el resto a fauna alóctona (24%) (invertebrados terrestres). El mismo patrón se registra en cada igarapé de primer, segundo y tercer orden, donde los porcentajes se incrementan en función a la categoria de igarapé (Tabla 2). Tabla 1. Lista de la fauna registrada en igarapés de primer, segundo y tercer orden en una floresta de tierra firme en la Amazonia. Clase Orden Familia Origen Igarapé Orden 1° 2° 3° Total % Individuos Amphibia Anura Autoctono 0 0 1 1 0,16 Archnida Acari Autoctono 4 0 2 6 0,99 Archnida Insecta Coleoptera Araneae Aloctono 4 24 1 29 4,80 Elmidae Autoctono 0 9 1 10 1,65 0,49 Collembola Diptera Autoctono 3 0 0 3 Ceratopogonidae Autoctono 3 2 0 5 0,82 Chironomidae Autoctono 47 69 76 192 31,84 4 11 Chironominae (adulto) Aloctono 2 5 Autoctono 1 4 122 127 21,06 Autoctono 0 0 10 10 1,65 Aloctono 0 1 1 2 0,33 Leptohyphidae Autoctono 0 5 12 17 2,81 Leptophlebiidae Autoctono 3 6 8 17 2,81 Simuliidae Ephemeroptera Baetidae Leptohyphidae adulta 1,82 Hemiptera Naucoridae Autoctono 0 2 0 2 0,33 Hymenoptera Formicidae Aloctono 45 4 53 102 16,91 Odonata Coenagrionidae Autoctono 0 1 0 1 0,16 Gomphidae Autoctono 1 0 0 1 0,16 Libellulidae Autoctono 1 0 2 3 0,49 Perlidae Autoctono 0 0 6 6 0,99 Aloctono 2 0 0 2 0,33 Glossossomatidae Autoctono 1 6 5 12 1,99 Hydrobiosidae Autoctono 3 2 8 13 2,15 Hydropsychidae Autoctono 0 0 8 8 1,32 Hydroptilidae Autoctono 0 4 7 11 1,82 Orthoptera Trichoptera Leptoceridae Autoctono 0 3 3 6 0,99 Odontoceridae Autoctono 0 2 2 4 0,66 Philopotamidae Autoctono 0 0 2 2 0,33 603 100 Total individuos Tabla 2. Porcentajes del recurso disponible segun el orden de los igarapés en en una floresta de tierra firme en la Amazonia. Orden de igarapé Fauna autóctona Fauna alóctona Primero (n= 5) 56 (n = 10) 44(n = 4) Segundo (n= 3) 77 (n = 13) 23 (n = 4) Tercer 82 (n = 14) 18 (n = 2) (n= 2) Los porcentajes de los diferentes grupos de presas varían, la clase Diptera fué la mas importante en todos los igarapés, variando muy poco en los porcentajes. Los demás grupos, muestraron una mayor variación entre los igarapés de 1a a 3 a orden. Se analizó el contenido estomacal de 40 individuos, de los cuales 32 fueron capturados en igarapés de 1e orden, 8 en igarapés de 2e orden. La identificación de los contenidos, se limitó a nivel de orden, registrandose 11 taxa, entre invertebrados acuáticos y terrestres (Arachnida, Coleoptera, Collembola, Diptera, Ephemeroptera, Hemiptera, Trichoptera, Hymenoptera, Blattodea, Isoptera y Oligochaeta). La mayor proporción se registró con los ordenes Hymenoptera (47%), Isopoda (22%) y Diptera (18%). El indice de Similaridad de Pianka indica que existe 56% (Ojk; RA3, P= 0,040) de semejanza entre el recurso que consume P. brevis y el recurso disponible en el medio. Se observó que la proporción de recursos alóctonos y autóctonos disponibles en el medio no dependen del ancho de igarapé (r2 = 0,02; F = 0,062; P = 0,82; n = 6 y r2 = 0,23; F = 0,22; P = 0,66; n = 6, respectivamente). Tampoco se observó relación siginificativa entre el ancho del río y la fauna autóctona ingerida por P. brevis (r2 = 0,33; F = 2,44; P = 0,18; n = 7), o con la fauna alóctona ingerida (r2 = 0,25; F = 0,33; P = 0,59; n = 7). Los ejemplares analisados de P. brevis consumieron proporciones mayores de Hymenoptera (hormigas) e Isoptera (termitas) que lo disponible en el ambiente. Por otro lado, el consumo de Diptera (Chironomidae), arácnidos terrestres, ephemeropteros y tricopteros, fueron proprocionalemente menores de lo que esta disponible en el medio acuático (Fig 1). Discusión Los resultados muestran que en ambientes de igarapé de menores ordenes (1r, 2do y 3er orden), el mayor recurso disponible (acarreado por deriva) se constituye por fauna autóctona (invertebrados acuáticos). Estos resultados corroboran con otros estudios realizados en los mismos ambientes (Pes 2002; J. Nessimian, com pers). Sin embargo, muy poco se conoce sobre el recurso que se encuentra en el medio y que es arrastrado por la corriente. Este recurso es considerado como fauna alóctona (externa al medio). La presencia de esta categoria en las cabeceras se debe principalmente a que la presencia de una larga estructura vegetal que cubre en gran parte su recorrido (Vannotte et al., 1980), y que de alguna manera la fauna que coloniza la vegetación cae al agua y es arrastrada por la corriente, principalmente hormigas, termitas y otros. Los mayores porcentajes de fauna alóctona en igarapés de 1er orden, se relaciona con la hipótesis de Vannotte et al. (1980) que indica que la cobertura forestal en las cabeceras de los ríos reduce la contribución autóctona, debido a la poca cantidad de luz que ingresa al ambiente y limita la colonización de organimos productores. El medio ofrece una gran variedad de recursos que P. brevis no consume apesar de su elevada proporción; esto sugiere que, de todo el recurso disponible en el ambiente, esta especie escoge pocos grupos de insectos terrestres (homigas, termitas, dípteros terrestres). Esta preferencia por la fauna alóctona sugiere que P. brevis presenta una dieta selectiva, específica por un tipo de recurso. Sin embargo P. brevis también se alimenta de dípteros acuáticos (fauna autóctona) pero esta proporción es mucho menor que la ofrecida en el medio. Así las proporciones de los demas items econtrados en su dieta como oligochetos, hemipteros, ephemerópteros y arácnidos es tan baja que podría considerarse como ocasional. Estos resultados corroboran los obtenidos por Silva (1993) que realizó un estudio sobre la dieta de algunas especies en igarapés, observando que Pyrrhulina presenta una dieta basada en insectos terrestres principalmente hormigas. La preferencia de P. brevis por este recurso puede deberse a varios factores: 1) que sea de alto valor energético, 2) que por ser un item alóctono sea vulnerable o facilmente obtenible y evite que la especie realice un mayor gasto energético en su busca, 3) o que la abundancia de este recurso sea tan alta y constante a lo largo del año o sea, previsible como fuente de recurso. Esto puede ser evidenciado por estudios que indican que la comunidad de hormigas, termitas y otros invertebrados componen la mayor biomasa de origen Proporción de individuos 0,600 Recurso ingerido 0,500 Recurso disponible 0,400 0,300 0,200 0,100 0,000 Arac Cole Coll DipA EphA Hemi Tric DipT Hym Blat AraT HetT Isop Olig Amp Orth EphT Odon Recurso (presas) Figura 1. Proporciónes de la disponibilidad de recurso presente en el medio y proporciónes del recurso ingerido por P. brevis en igarapes de tercer, segundo y primer orden, Amp = Amphibia; Arac = Arachinida; AraT= Aranea; Blat = Blattodea; Coleo = Coleoptera, Coll = Collembola; DipA = Diptera acuática; DipT = Diptera terrestre; Ephe = Ephemeroptera; EpheT = Ephemroptera adulta terrestre; Hemi = Hemiptera; HetT = Heteroptero terrestre; Hyme = Hymenoptera; Isop = Isoptera; Odon = Odonata; Olig = Oligochaeta; Ortho = Orthoptera; Trich = Trichoptera. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 137 animal en bosques tropicales (Sousa y Brown, 1994). Por otra parte el indice de Pianka mostró una alta similaridad entre la dieta y la disponibilidad de recursos en el medio (56%), lo cual indicaría que la especie consume en la mayor parte, lo que el medio produce y ofrece, sin embargo este valor puede ser discutido biológicamente, ya que observando las proporciones (Fig. 1), claramente existe una preferencia por el recurso alóctono, inclusive si el medio ambiente no lo ofrece (orden Isoptera), por tanto la sobreposición de los recursos disponibles e ingeridos por la especie no refleja el valor encontrado. No existió relación significativa entre el material alóctono y autóctono con el ancho de cada igarapé, tampoco existió relación de la fauna alóctona y autóctona ingerida por la especie con el ancho de los igarapés. Esto puede ser atribuido a la poca variación de las características de los igarapés muestreados, o sea que la escala de muestreo es tan pequena, que no refleja un gradiente de variación a lo largo del curso de agua. Agradecimientos Gostaria de agradecer ao INPA e PDBFF por dar-me a oportunidade de conhecer e entender um pouco mais o funcionamento ecológico de ambientes amazônicos. Ao Jansen Zuanon pela orientação e sugestões do projeto, a Jorge Nessimian pelas conversas e empréstimo do material de campo, à equipe peixes – Luciano Montag (Miúdo), Ordilene Ribeiro e Amanda Mortati – pela coleta dos animais, ao Juruna pelo auxílio em campo, ao Glauco Machado pela revisão do trabalho, ao Jivanildo Miranda pelas sugestões nas análises estatísticas, ao Márcio Araújo (companheiro de campo) pela colaboração na coleta de dados e aos amigos Mariana Faria-Corrêa e Fresnel Diaz por tornar mais fácil e divertida a vida no campo. Bibliografía Buhrnheim, C.M. & C. Coz Fernandes. 2001. Low seasonal variation of fish assemblages in Amazonian rian forest streams. Ichthyol. Explor.Freshwater, 12: 65-78. Ferreira, K. & C.E. Marinelli. 2001. 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Alguns estudos têm demonstrado que um grande número de espécies de formigas são atraídas pelas substâncias excretadas por essas glândulas (Beattie, 1985; Davidson e Mckey, 1993). Assim, devido a grande oferta de alimento, as formigas passam grande parte do seu tempo sobre a planta, gerando proteção contra inimigos naturais que podem ser predadores, parasitas e/ou competidores (DelClaro e Santos, 2000). A hipótese mais aceita para a origem e evolução dos NEFs é que pressões seletivas impostas pela herbivoria produziram atrativos para as formigas (Beattie, 1985). Também muito conspícua na natureza, as associações entre formigas e homópteros, ocorrem na grande maioria das famílias de plantas com flores e têm uma ampla distribuição desde habitats tropicais até temperados (revisão em Way, 1963; Buckley, 1987). Diversos taxa de homópteros, tais como coccídeos, psilídeos e membracídeos, são atendidos por formigas (Moya-Raygoza e Nault, 2000) e existe uma ampla variação no comportamento de ambos durante a interação (Wood, 1984; Gaume et al., 1998). De uma forma geral, os homópteros excretam uma substância açucarada que é então aproveitada pelas formigas como fonte principal de carboidratos. Desse modo, as formigas agem protegendo os homópteros de inimigos naturais e, como conseqüência, protegem também as plantas de outros herbívoros (Oliveira et al., 1997; Moya-Raygoza e Nault, 2000). Em recentes estudos, estão sendo demonstradas a grande importância dos NEFs e da interação formiga-homópteros na estruturação das comunidades de formigas em plantas (Floren e Linsenmair, 2000; Bluthgen, 2000). Espera-se que o comportamento de forrageamento das formigas varie em função do recurso alimentar utilizado, sendo determinados principalmente por disponibilidade de recursos e níveis de dominância entre os diferentes taxa de formigas (Bluthgen, 2000). Essas diferenças ainda não são bem entendidas e estudos que comparem diretamente esses dois recursos se fazem necessários para um melhor entendimento dessas interações mutualísticas. O objetivo deste trabalho foi avaliar a riqueza, composição e eficiência de proteção de espécies de formigas em plantas com presença de NEFs e associações com homópteros. Para isso, foram formuladas as seguintes questões: 1) plantas com NEFs possuem maior riqueza de espécies de formigas quando comparadas com plantas com associações com homópteros? 2) formigas que visitam NEFs protegem mais as plantas do que aquelas associadas a homópteros? 3) diferentes sub-famílias de formigas possuem diferentes potenciais de defesa para plantas? Métodos O estudo foi realizado na Reserva Florestal do km 41 (02 24’S, 59 o 44’W) do Projeto Dinâmica de Fragmentos Florestais (PDBFF/INPA), localizada a 80 km a NNE de Manaus. Ao longo da estrada ZF3 foram amostradas 61 indivíduos de plantas que variavam de 1 até 2m em dois transectos paralelos aos dois lados da estrada que totalizaram 10km. Ao longo desse transecto foram amostrados todos os indivíduos de plantas que possuíam formigas em NEFs ou atendendo a homópteros totalizando 26 espécies de plantas. A riqueza de formigas sobre as plantas foi estimada visualmente, sendo realizado posteriormente um experimento de remoção de presas que utilizou operários de isópteros (cf. Jeanne, 1979). O experimento consistiu na fixação de dois cupins vivos, colados pelo dorso com cola branca, sobre as folhas das plantas, totalizando 122 cupins colocados em 61 indivíduos de plantas (30 com NEFs e 31 com interações homóptero-formiga). Em cada planta, um cupim era colado na face adaxial da folha mais próxima à interação (NEFs ou homópteros), sendo este tratamento designado como “perto”. Ao mesmo tempo, outro cupim era colado em uma folha mais distante da interação, em que não houvesse formigas forrageando sobre ela, sendo este tratamento designado como “longe”. Assim, para medir indiretamente a proteção das formigas contra os herbívoros, era marcado o intervalo de tempo até que as formigas atacassem o cupim com as mandibulas. Não foi considerado como ataque quando a formiga apenas localizava os cupins, não mordendo-os e nem recrutando outras operárias. O tempo máximo estabelecido foi 10min sendo que depois desse tempo o cupim foi considerado não atacado. Para as análises de tempo os dados foram transformados em o Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 139 segundos, sendo que para os cupins não atacados foi considerado o tempo de 600s (10 min). Depois do final de experimento, pelo menos um exemplar de cada espécie de formiga que forrageava sobre a planta foi coletado para a análise de riqueza e composição de espécies. Adicionalmente, uma amostra da planta era coletada para posterior identificação. Devido à não normalidade dos dados de riqueza de formigas, foi utilizado o teste não paramétrico de MannWhitney para testar se existe diferença entre o número de espécies interagindo com NEFs ou homópteros. Para análise da similaridade entre a fauna de formigas de plantas com NEFs e interações com homópteros foi calculado índice binário de Jaccard. Para os dados relacionados com a eficiência de captura de cupins por formigas, foram feitos os testes pareado de Wilcoxon (diferença da eficiência das formigas para a captura dos cupins perto e longe da interação), Qui-quadrado (diferença na frequência de captura de cupins por formigas em NEFs e interações com homópteros) e Kruskal-Wallis (diferença no tempo de captura de cupins entre quatro sub-famílias principais de formigas (Zar 1984). As análises dos dados foram feitas com a utilização pacote estatístico SYSTAT 8.0. foram coletadas apenas com interação com NEFs (Tabela 2) e todas as melastomatáceas e clusiáceas amostradas apresentaram interação homóptero-formiga (Tabela 2). Nenhuma espécie de planta foi coletada com ambas as interações (Tabela 2). Tabela 2: Número de indivíduos de plantas amostradas com formigas em nectários extra-florais (NEFs) ou com interação formiga-homóptero (IFH). Plantas Família Bignoniaceae Boraginaceae Clusiaceae Euphorbiaceae Leguminosae Lauraceae Resultados Malphighiaceae Foram amostradas um total de 61 indivíduos de plantas, sendo 30 plantas com NEFs e 31 plantas com associação formiga-homóptero. Nessas plantas foram coletadas 24 espécies de formigas, das quais sete utilizaram os dois tipos de recursos, duas utilizaram apenas NEFs, e quatro apenas homópteros (Jaccard = 53,8 %) (Tabela 1). Essas formigas forrageavam em 26 espécies de plantas (13 famílias), sendo 12 com interação formiga-homóptero e 14 com NEFs. Todas as espécies de leguminosas e praticamente todas de lauráceas Melas tomatacea e Myrtaceae Sapotaceae Violaceae Siparunaceae Tabela 1: Espécies de formigas coletadas em nectários extraflorais (NEFs), em interações com homópteros (IFH) ou forrageando sobre a folhas (outros) das plantas amostradas. Formigas Subfamília Dolichoderinae Formicinae Myrmicinae Ponerinae Pseudomyrmecin ae 140 Espécie Azteca sp. Dorimyrmex sp. Paratrechna sp. Monacis sp. Brachmyrmex sp. Camponotus retangulares Camponotus sp.1 Camponotus sp.2 Camponotus sp.3 Camponotus sp.4 Gigantiops sp. Crematogaster sp.1 Crematogaster sp.2 Cephalotes pusilus Pheidole sp.1 Pheidole sp.2 Wasmania sp. Ectatomma tuberculatum Ectatomma sp. Odontomachus sp. Pseudomyrmex gracillis Pseudomyrmex sp.1 Pseudomyrmex sp.2 Pseudomyrmex sp.3 Interações NEFs X IFH Outros X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 X X X X N° de indivíduos Espécie Arrabidae sp. Cordia sp. Vismia cayannensis Vismia guianensis Vismia japurensis Aparistimium cordatum Acacia multipinnata Inga sp.1 Inga sp.2 Inga sp.3 Machaerium multifoliol atum Stryphnodendron pulcherrimun Mimosa guilandinae Ocotea sp. Platymicium sp . Piptadenia minutiflora Piptadenia sp . Stryphnodendron pulcherimum Byrsonima duckeana Byrsonima sp. Bellucia dichotoma Miconia sp. Eugenia sp . Diliocarpus sp. Rinorea sp. Siparuna sp. NEFs 2 IFH 1 4 4 8 2 1 3 4 5 1 2 4 1 1 4 1 2 2 2 6 1 1 2 1 1 Houve um maior número de espécies de formigas associadas a plantas que possuíam interações com homópteros (N = 31; mediana = 2; amplitude = 1-5) quando comparadas com plantas com NEFs (N = 30; mediana = 1; amplitude = 1-3; U = 330; p = 0,033). De um total de 60 cupins (30 em NEFs e 30 em IFH) colocados perto da interação, 40 foram atacados, enquanto dos outros 60 colocados nas folhas distantes e sem interações, apenas 19 cupins foram atacados. Adicionalmente os cupins foram mais rapidamente encontrados quando colocados perto da interação, tanto nos NEFs (Z = 2,84; p = 0,005), quanto nas interações com homópteros (Z = 2,84 ; p > 0,001), (Figura 2). Houve um maior número de cupins encontrados próximos da interação em plantas com homópteros (X2 = 3,91; GL = 1; p = 0,048); ao contrário, quando os cupins foram colocados longe da interação não houve diferença em nenhum dos tipos de interação (X2 = 0,553; GL = 1; p = 0,457; Figura 1). As formigas que estavam em interações com homópteros responderam mais rapidamente quando a isca foi colocada perto da interação (U = 609; p = 0,034). Entretanto, quando os cupins foram colocados em uma folha longe da interação não houve diferença (U = 539,5 ; p = 0,198) (Figura 2). Número de cupins atacados 30 NEFs IFH 25 20 15 10 5 0 Perto Longe Posição em relação a interação Figura 1 - Número de cupins atacados por formigas, quando colocados em folhas próximas a interação e longe das interações, NEFs: Nectários extraflorais; IFH: Interação formiga-homóptero. Figura 2: Box plot representando o tempo gasto pelas formigas até o ataque a cupins colocados em folhas próximas (perto) e distantes (longe) das interações, NEFs: nectários extraflorais; IFH: Interação formiga-homóptero. Os quadrados centrais representam as medianas, os retângulos, os quartis e as linhas verticais, o mínimo e máximo. Não houve diferença nas frequências de captura de cupins entre as quatro sub-famílias principais (Ponerinae, Myrmicinae, Formicinae e Dolichoderinae) (perto: X2 = 4,2; GL = 3; p = 0,24 e longe: X2 = 7,5; GL = 3; p = 0,57). Ao contrário, o tempo de localização dos cupins pelas subfamílias de formigas foi diferente para os cupins colocados perto da interação. A sub-família Dolichoderinae, representada principalmente por espécies do gênero Azteca foi a mais rápida, enquanto as Ponerinae e Myrmicinae foram as mais lentas (H = 7,89; GL = 3; p = 0,048; Figura 3). Para os cupins colocados longe da interação não houve diferença no tempo de ataque (H = 6,76; GL = 3; p = 0,08). Discussão Foi observada uma similaridade relativamente alta entre a mirmecofauna de plantas com NEFs e interações com homópteros, quando comparado com outro estudo na Amazônia (Blütgen et al., 2000). Esses autores, trabalhando em habitats de dossel, encontraram 27% de similaridade Figura 3: Tempo gasto até o ataque efetivo da isca viva de cupim, colocada perto da interação, para as quatro subfamílias de formigas mais representativas do trabalho. Os quadrados centrais representam as medianas, os retângulos, os quartis e as linhas verticais, os valores mínimo e máximo. contra 54% neste estudo. Grande parte dessa diferença pode ser explicada por fatores relacionados com a estrutura de habitats, onde é esperado uma dinâmica completamente diferente entre a vegetação do dossel e a de sub-bosque em beiras de estrada (Erwin, 1983). Uma possível explicação para a maior riqueza de formigas em plantas com interações com homópteros, estaria relacionada à disponibilidade e previsibilidade dos recursos explorados. Assim, quando o recurso é mais váriavel e escasso, como é o caso das excretas de homópteros em habitats de borda, é esperado que não exista uma grande dominância sobre esse recurso, o que permite que várias espécies possam conviver dentro da mesma planta (Floren e Linsenmair, 2000). Ao contrário, como os NEFs geram exudatos de forma mais previsível e menos pontual, parece que algumas poucas espécies passam a dominar o recurso, excluindo outras espécies da planta. Os resultados dos experimentos indicam que as formigas localizam herbívoros potenciais mais rapidamente quando eles são colocados mais próximo da interação. Em um experimento semelhante, Oliveira el al., (1987) encontraram resultados similares, indicando que a agressão das formigas está diretamente relacionada à proximidade da fonte de recurso ou do ninho. Por outro lado, o não encontro de presas pode estar variando meramente em função da densidade de formigas sobre a planta. Assim, como não foi observado muitas plantas com altas densidades de formigas, isso poderia explicar as baixas frequências de encontro de cupins distantes da interação. Messina (1981) e Buckley (1983) demonstraram que plantas com homópteros associados com formigas apresentaram menores taxas de herbivoria do que plantas da mesma espécie desprovidas da interação. Por outro lado, os homópteros, ao sugarem seiva elaborada, podem reduzir o vigor da planta (Becerra, 1989; Buckley, 1983) e até mesmo agirem como vetores de doenças (Buckley, 1987). No caso Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 141 do presente estudo, foi demonstrado que além dos homópteros aumentarem a riqueza de formigas na planta, eles também incentivam uma resposta pontual mais rápida contra inimigos naturais (herbívoros). A maior efetividade e velocidade de ataque aos cupins gerada pelas formigas associadas a homópteros pode estar relacionada com um maior cuidado sobre este recurso alimentar. Assim, quando o cupim era colocado perto da interação com homópteros, as formigas poderiam atacar mais como uma simples proteção ao mutualista. As respostas diferenciadas geradas pelas sub-famílias, podem ser explicadas pelas diferentes estratégias de forrageamento das mesmas. O gênero de formiga mais agressivo foi Azteca (Dolichoderinae), sendo que outros estudos já demostraram esse comportamento extremamente territorialista das espécies desse gênero (Janzen, 1966, 1967). Também é importante ressaltar que as espécies da sub-família Myrmicinae, representadas nesse trabalho principalmente por espécies do genêro Crematogaster, se mostraram pouco agressivas, possuindo uma baixa movimentação sobre a planta. Já as Ponerinae, apesar de bem agressivas, forrageavam geralmente com um baixo número de indivíduos. Por último, as Formicinae, de uma forma geral, se mostraram bem ágeis, aumentando assim sua eficiência de ataque aos cupins. Assim, conclui-se que para o habitat estudado existe uma maior riqueza de formigas em plantas com associações formiga-homóptero, além de existirem diferenças na agressividade das formigas ao utilizarem NEFs ou excretas de homópteros. Desse modo, formigas que atendem a homópteros são mais efetivas no ataque às presas localizadas próximas da interação, provavelmente por serem consideradas ameaças para os homópteros atendidos, resultando em uma defesa mais efetiva contra herbívoros potenciais para as plantas. Agradecimentos Gostaria de agradecer primeiramente aos coordenadores do curso de campo Jansen Zuanon e Eduardo Venticinque pelas correções e pela possibilidade de participar desse curso que, sem o grande esforço deles, não existiria. Pelas identificações das plantas agradeço ao Marcelo Pinguela Moreira e pela ajuda em campo agradeço ao amigo Flavio Especial Quental. Agradeço também a Angela Angelita Pacheco pela ajuda na organização e análises dos dados. Sem esquecer da indispensável orientação de Glauco Machado que também foi um dos idealizadores do projeto. Por último, mas não menos importante, agradeço a todos os colegas do curso pela atenção e paciência durante a realização do projeto e pela agradável companhia durante todo o curso. Referências Bibliográficas Beattie, A. I. 1985. Evolutionary ecology of ant-plant mutualisms. Cambridge University Press, Cambridge, 142 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 U.K., 182p. Becerra, J. X. & D. L. Venable. 1989. 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A escala destes distúrbios varia de pequenas clareiras, criadas por quedas de um galho ou árvore, a grandes clareiras, produzidas por quedas simultâneas ou seguidas de muitas árvores (Brandani et al., 1988). Em florestas tropicais, a maior parte das clareiras são de pequeno tamanho (<100 m2) (Brokaw, 1985). Quanto maior o tamanho da clareira, maior será a diferença microclimática entre esta área e o sub-bosque da floresta (Almeida, 1989). Esse microclima é determinado por muitos fatores, tais como, duração e intensidade de luz recebida, que por sua vez depende do tamanho, forma, orientação da clareira, inclinação do terreno e altura da floresta adjacente (Brokaw, 1985). A abertura do dossel exerce uma grande influência na dinâmica de populações de algumas espécies arbóreas (Brokaw, 1985), sendo que as espécies que exigem níveis de temperatura, umidade e luminosidade diferentes daqueles existentes no sub-bosque da floresta são favorecidas (Denslow, 1980). Palmeiras colonizam tanto o sub-bosque como áreas abertas (Almeida, 1989) e são muito abundantes no subbosque de florestas tropicais, sendo que muitas espécies têm o crescimento incrementado em clareiras (Hartshorn, 1978 apud Almeida, 1989). Existem aproximadamente 200 gêneros e 1500 espécies de palmeiras (família Arecaceae) em todo o mundo e cerca de 550 delas ocorrem nas Américas (Henderson et al., 1995). Esta é uma das famílias vasculares mais comuns em florestas tropicais, principalmente na Amazônia (Scariot, 1996). São também um importante componente da estrutura e composição da floresta (Scariot, 1996) e seus frutos são muito consumidos por primatas (Spironello, 2001). Desta forma, é importante identificar os efeitos de clareiras nas populações espécies de palmeiras, pois essas alterações podem influenciar toda a comunidade de uma floresta. Dentro deste contexto, o objetivo do presente estudo é responder a seguinte pergunta: existe efeito da abertura do dossel (clareira) na estrutura populacional de Attalea attaleoides? A resposta esperada é uma maior densidade de A. attaleoides nas áreas de clareiras, quando comparada com áreas de sub-bosque. Métodos Este trabalho foi realizado na reserva do Km 41 (02° 24’S; 58° 52’O), uma área de floresta contínua pertencente ao Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, distante cerca de 70 Km de Manaus, AM. Esta área é composta por floresta tropical úmida, com dossel variando entre 30 e 37m e emergentes com até de 55m de altura (Gascon & Bierregaard, 2001). A média anual pluviométrica na região é de 2.000mm e a temperatura média anual é de 26 °C (Gascon & Bierregaard, 2001). A espécie escolhida foi Attalea attaleoides por ser abundante e apresentar uma distribuição uniforme na área de estudo (Garcia, 2000). Esta é uma espécie típica de subbosque de floresta primária (Tucker et al., 1998), embora ocorra também em florestas secundárias e em pastagens, parecendo ser uma espécie muito resistente à perturbação (Scariot, 1996). Apresenta uma redução na densidade populacional nas baixas vertentes dos principais vales de drenagem (Garcia, 2000). Esta espécie produz o segundo maior fruto de palmeiras na área de estudo, que são muito consumidos por mamíferos não voadores (Scariot, 1996). Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 143 Número de indivíduos/200m2 10 2 10 Os resultados encontrados corroboram em parte a hipótese proposta e indicam que A. attaleoides se desenvolve melhor em clareiras do que no sub-bosque da floresta. Aparentemente, sementes desta espécie germinam nos dois ambientes (clareira e sub-bosque), pois plântulas e jovens ocorrem com a mesma freqüência nesses dois ambientes. A diferença ocorre de fato na população de adultos, que é maior em clareiras. Piñero e colaboradores (1986 apud Almeida, 1989) relataram que Astrocaryum mexicanum tem um melhor desenvolvimento e maior concentração em clareiras do que 144 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2003 10 Número de indivíduos/200m2 B 2 Resultados Discussão clareira sub-bosque Tratamento 6 -2 Foram amostrados 109 indivíduos de A. attaleoides: 50 adultos, 19 jovens e 40 plântulas, nos dois tratamentos. Nas clareiras, o número de adultos variou de 0 a 7, indivíduos enquanto nas áreas de sub-bosque variou de 0 a 8. O número de jovens nas clareiras variou de 0 a 3 e nas áreas de subbosque variou também de 0 a 3 e o número de plântulas nas clareiras variou de 1 a 3 enquanto que nas áreas de subbosque variou de 0 a 4 (Fig. 1). O número de indivíduos adultos foi maior nas clareiras quando comparado com o do sub-bosque (Z= -1,97, p= 0,048), mas o número de indivíduos jovens (Z= -0,61, p= 0,54) e de plântulas (Z= 1,0, p= 0,32) não diferiu entre os tratamentos. A 6 -2 Número de indivíduos/200m2 Para a amostragem, foram escolhidas somente áreas de platô, de forma a evitar a interferência do relevo na estrutura populacional da espécie escolhida. Foram escolhidas 10 clareiras antigas de tamanho médio (variando de 500 a 700 m2). Foi seguido o conceito de clareiras proposto por Almeida (1989), que define como clareira natural uma área de floresta com dossel descontínuo, aberta pela queda de galhos ou de árvores, limitada pelas copas das árvores marginais. Clareiras antigas se entendem por áreas que não possuem mais galhos finos, mas somente o tronco da árvore que a originou. A área média das clareiras foi de 670 m2, sendo estimada pela medida da maior distância (comprimento) e sua perpendicular (largura) e calculadas pela área da elipsóide (p x comprimento x largura). Em cada clareira foi estabelecida uma parcela de 10 x 20 m (200 m2), no centro (tratamento 1) e outra a 50 m do centro da clareira, na direção mais sombreada (tratamento 2= sub-bosque). Em cada parcela foram amostrados todos os indivíduos da A. attaleoides e estes foram divididos nos seguintes estádios ontogenéticos: (1) plântulas: aquelas com folhas não divididas; (2) juvenis: aqueles que têm tanto folhas divididas como não divididas; e (3) adultos: aqueles que possuem apenas folhas divididas e que ou já reproduziram, ou estão reproduzindo (segundo Scariot, 1996). Os pares de tratamento (clareira x sub-bosque) de cada estádio ontogenético foram analisados pelo teste não paramétrico de Wilcoxon, por não apresentarem distribuição normal (Zar, 1984). As análises foram feitas com o uso do programa SYSTAT 9.0 (Wilkinson, 1998). clareira sub-bosque Tratamento C 6 2 -2 clareira sub-bosque Tratamento Figura 1. Box plot do número de indivíduos de A. attaleoides por estádio ontogenético em clareiras e sub-bosques: adultos (A), jovens (B) e plântulas (C) em uma floresta de terra firme da Reserva do Km 41, Amazônia Central. As linhas horizontais representam as medianas, os retângulos os quartis e as barras verticais os máximos e mínimos. no sub-bosque em uma floresta tropical no México, e o mesmo pode estar ocorrendo para A. attaleoides. Algumas espécies de florestas tropicais seguem esse padrão, necessitando, em pelo menos uma fase da vida, de uma maior intensidade luminosa para atingir a fase reprodutiva (Schupp et al., 1989). Aparentemente, A. attaleoides ocorre, na fase adulta, em manchas de maior densidade dentro de clareiras, ou seja, de maneira não uniforme na floresta, concentrados em áreas de descontinuidade do dossel. Cintra & Horna (1997) encontraram uma igual sobrevivência de plântulas e sementes de Astrocaryum murumuru em clareiras e sub-bosque na Amazônia. Siqueira (2002) encontrou uma maior remoção de sementes de Astrocaryum acaule no sub-bosque quando comparada com a remoção em sub-bosque na reserva do Km 41. Estes dois resultados coincidem quanto ao padrão de distribuição e regeneração das espécies, bem como a dinâmica de clareiras. Porém, segundo os dados aqui obtidos para A. attaleoides, o padrão de distribuição desta palmeira parece estar mais relacionado com o estabelecimento da fase adulta do que com a sobrevivência de sementes, plântulas e jovens. Ou seja, esta espécie parece ter uma relação bastante forte com ambientes de clareiras em sua fase reprodutiva. Porém, um experimento de remoção de frutos desta palmeira em clareiras e sub-bosque seria muito interessante para corroborar essa hipótese. Como o estudo aqui apresentado envolve um número pequeno de clareiras de apenas uma classe de tamanho e idade (670 m2 e antigas), os dados aqui discutidos não podem ser tomados como regra para a espécie. Em um estudo feito por Melo (2002), na mesma área de estudo, não foi encontrado plântulas nas clareiras, mas sim no sub-bosque da floresta. O conceito de clareira varia muito entre autores e a utilização de diferentes métodos de amostragem, com base nesses diferentes conceitos, tem dificultado a comparação entre localidades (Almeida, 1989). Esses dois fatores podem explicar as diferenças encontradas entre o presente estudo e os resultados de Melo (2002). Portanto, estudos com caracterização de clareiras deveriam analisar variáveis abióticas, tais como intensidade luminosa, abertura do dossel, umidade do ar e solo e variáveis bióticas, tais como chuva de sementes e herbivoria, de forma a permitir análises comparativas mais elucidativas. Agradecimentos Aos novos amigos do curso de campo 2003 pelas conversas surreais nas horas do almoço e do jantar, principalmente ao Flávio e Maura pela ajuda no campo e ao querido Juruna pela imensa ajuda no campo e também no pensamento do projeto. Agradeço também a Patricia pelos artigos e ataques de risadas, ao Glauco pela ajuda na estatística, ao Pinguela pelas idéias, ao Wilson pelos artigos e idéias e a Ângela pelas sugestões ao manuscrito e pela enorme ajuda com as caixas. Agradeço ainda ao Jansen e ao Dadão pelo maravilhoso curso e, principalmente, ao primeiro pela ajuda com as doenças da galera. Agradeço também a Amazônia por ser tudo o que eu esperava e MUUUUUUUUITO mais! Referências Almeida, S.S. 1989. Clareiras naturais na Amazônia Central: abundância, distribuição, estrutura e aspectos da colonização vegetal. Dissertação de mestrado em Ecologia, INPA-FUA, Manaus, AM. Brandani, A.; Hartshorn, G.S. & Orians, G.H. 1988. Internal heterogeneity of gaps and species richness in Costa Rican tropical wet forest. Journal of Tropical Ecology 4: 99-119. Brokaw, N.V.L. 1985. Treefalls, regrowth, and community structure in tropical forests. Pp.: 53-69. In: S.T.A. Pickett e P.S. White. (eds.). 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