1 UNIVERSIDADE DO PORTO FACULDADE DE BELAS

Transcrição

1 UNIVERSIDADE DO PORTO FACULDADE DE BELAS
UNIVERSIDADE DO PORTO
FACULDADE DE BELAS ARTES
Suite Doutoral em 2 andamentos
Rui Gabriel Saraiva Leite
A Improvisação musical como ferramenta e processo para a
aprendizagem musical
PROJETO DE TESE
DOUTORAMENTO EM EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
Junho 2015
Orientador: António Augusto Martins da Rocha Oliveira Aguiar
1
2
Programa
Abertura
- Intro
Alla Breve
pág. 5 – 7
pág. 8 - 10
1º Andamento
Andante Pesaroso
pág. 11 – 12
2º Andamento
Allegretto
Crescendo com Alma
Animato Súbito
Coda
Bibliografia Webgrafia
pág. 13
pág. 14 – 16
pág. 17
pág. 18– 19
pág. 20
3
"Estar atento significa estar disponível ao espanto. Sem espanto não
há ciência, não há criação artística. O espanto é um momento do processo
de pesquisa, de busca. Essa postura de abertura ao espanto é uma exigência
fundamental ao educador e à educadora. [...] O espanto não é o medo que
ele tem nem é coisa de ignorante. O espanto revela a busca do saber."1
No Time No Changes - SpaghettiStyle
“Free‖, como em “Free Improvisation‖; não sei se este texto é um texto
de Pré-Tese, nem sei se será um texto, de “Pré‖ alguma coisa, penso que
será mais um exercício de auto reflexão, que me guiou a uma inquietação,
um espanto.
Improvisar, para mim, é abrir horizontes, é olhar, ouvir e estar de
forma diferente, mesmo que seja em silêncio.
1
Paulo Freire
4
- Porque é que a Improvisação não está presente na escola?
- Abertura:
Intro
A prática musical e a educação sempre se confundiram na minha vida.
O caminho que me conduziu à educação foi estranho, até porque não foi bem
um “caminho”, foi mais um atalho.
A minha formação musical certificada é em Jazz. Sou licenciado pela
Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo em Jazz, variante
Contrabaixo, e pela Escola Superior de Educação do Porto, sou licenciado do
curso de Professores do ensino básico, variante Educação Musical. Esta é a
formação oficial.
A “minha‖ formação como músico começou antes, como autodidata, a
tocar com os amigos.
―Como esquecer as
intermináveis improvisações
em Mi menor, nunca mais acabavam,
eu chegava a parar ir beber
qualquer coisa voltava e
ainda estávamos em Mi menor‖2
Aqui,
a
música
era
“improvisada”,
ou
melhor,
por
vezes
“desenrascada”. Na sequência destas ―canjas”3 veio a 'escolinha' de música,
2
Conversa particular com Miguel Azevedo, músico de Rock do Porto, Abril 2015.
5
onde aprendi a tocar alguns acordes na guitarra, aquilo a que eu chamaria
“guitarra para campismo”.
Mais tarde, ingressei na Escola de Jazz do Porto, para estudar baixo
elétrico, onde também se iniciou o meu percurso como professor:
-
Professor de baixo elétrico.
Entretanto, surgiu a oportunidade de entrar para a Orquestra Orff do
Porto, como contrabaixista, do que resultou a minha entrada no Instituto Orff
do Porto, onde sou professor de música de conjunto e orquestra.
No meu percurso inscreve-se ainda o Instituto Orff de Salzburg, na
Universitat Mozarteum, onde realizei uma Pós Graduação Orff Schulwerk, de
pedagogia do ensino da música e da dança.
O que têm de comum estes percursos?
A improvisação.
A Improvisação esteve sempre presente durante todas estas
atividades, fazia parte dos “currículos‖ das bandas onde toquei, dos
currículos de algumas escolas onde fui aluno e das escolas onde sou
professor, no fundo, faz parte da minha vida. Como disse David Liebman
numa entrevista a Marco Cattani em Barga, Itália, 2008:
“But to improvise is to live and to breathe. We improvise every
minute.‖14
Como professor, o centro teórico do meu trabalho, está alicerçado, no
Orff Schulwerk,5 o qual estudei e ainda estudo.
3
Canjas – Jargão utilizado para definir uma improvisação em conjunto, mais utilizada no rock e
música popular. No jazz é mais utilizada a expressão “Jam Sessions‖
4
http://www.daveliebman.com
5
Orff-Schulwerk – uma abordagem pedagógica para a aprendizagem da música, desenvolvida
pelo compositor alemão Carl Orff e Gunild Keetman. O termo alemão Schulwerk significa trabalho ou
tarefa de escola.
6
“Improvisation is the starting point
for elemental music making.
From the begining we practised freely
Made rhythmic improvisations for
Wich simple ostinati served as
foundation and stimulus.‖6
Depois de muita prática musical cheguei às escolas oficiais de música.
Posso afirmar que me deparei então com um constrangimento, utilizando a
terminologia de António Augusto Aguiar, na sua tese “Forma e Memória na
Improvisação”7. A improvisação não só não era praticada como não era
“expectada”.
6
Orff, Carl (1978). The Schulwerk, West Germany: English Edition: Schott Music Corp p. 22
Aguiar, António Augusto (2012). Forma e Memória na Improvisação. Aveiro: Universidade de
Aveiro [Tese de Doutoramento]
7
7
Alla Breve
A minha prática musical, como atrás referi, iniciou-se nos então
denominados Grupos de Baile, Bandas de Garagem e Bandas de Bares.
Em todas estas experiências musicais, a improvisação esteve sempre
presente, fazia naturalmente parte da música. Com os estudos musicais a
nível académico - desapareceu!
Não se ouvia sequer a palavra Improvisação no ensino musical
clássico, tradicional, formal. Mais do que um constrangimento, para mim, isto
foi uma perplexidade.
A Improvisação, com a excepção de uns exercícios de formação
musical aos quais os professores chamavam improvisações (exercícios
rítmicos escritos durante os quais os alunos improvisavam melodias em
determinados modos, e que ainda hoje fazem parte dos programas de
formação musical), não era praticada, como atrás já foi referido, não fazia
parte sequer do léxico utilizado na escola. Apenas uma curta experiência, e
por sinal muito interessante, com o Professor António Saiote, que
estranhamente terminou antes do tempo, por se “desadequar‖ do projeto da
escola.
Como se desadequava desse projeto escolar? A improvisação estava
presente.
Esta experiência acontecia durante as aulas de orquestra, que têm
como um dos pressupostos estudar repertório de orquestra para eventuais
apresentações públicas, ou no caso de um exercício escolar, exames de
orquestra. O que aconteceu, (e aqui entendo a Improvisação como uma
metodologia para a aprendizagem),
por razões de instrumentação e por
diferentes níveis dos músicos, é que o professor optou por um conjunto de
exercícios que consistiam na escrita de ritmos diferentes, num quadro que
existia na sala de ensaios, que os músicos deveriam interpretar
improvisando melodias que podiam ter um carácter de solista, ou de
acompanhamento. Mais uma vez, a presença da Improvisação na escola foi
perturbadora.
8
Paralelamente ao estudo tradicional (chamo ensino tradicional, ao
ensino clássico da música), continuei a
estudar jazz e
improvisação
jazzística.
Reconheço a importância desta forma de improvisação, fundamental
para o estudo técnico, para o estudo estilístico da linguagem e cultura
jazzística, mas não era esta a improvisação que mais me motivava. Baseavase no estudo de standards8, ou de exercícios melódicos para determinadas
progressões harmónicas e menos nas abordagens mais contemporâneas do
jazz e de outros estilos musicais, e quase nada na Improvisação livre.
Na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo do Porto, conheci
excelentes músicos, professores, alunos, hoje profissionais, altamente
competentes, mas que afirmavam, (e ainda hoje o afirmam), não saber ou
não conseguir improvisar.
Esta dificuldade com a Improvisação na escola, e as razões pelas
quais a sua presença não é estimulada e valorizada, foi sempre motivo de
reflexão e de muita discussão com colegas, professores e outros músicos.
Com o decorrer dos estudos fui de facto constatando que a separação entre
a improvisação e a aprendizagem musical era enorme e tinha a tendência
para crescer no lado da chamada música clássica. Por outro lado, verificava
que improvisar, para outras estéticas musicais, continuava a ser
algo
perfeitamente natural, desde o fado, música tradicional, ao rock e à música
pop.
A partir destas conversas, destas reflexões com colegas, professores e
outros músicos, e de leituras que fui realizando surgiu a vontade de estudar a
improvisação como ferramenta e processo para a aprendizagem da música, e
tentar responder a algumas questões.
- Porque será que muitos músicos de excelente
nível afirmam serem incapazes de improvisar?
8
Jazz Standards - Standard é o termo que se utiliza para denominar um tema de jazz,
normalmente uma canção, que faz parte do repertório básico dos músicos de jazz.
9
- Porque será que a improvisação foi afastada do
ensino, da escola?
- Precisamos de uma nova Escola para que a
improvisação possa ter lá um lugar?
- Porque será que ao percorrer os planos de
estudo de algumas escolas de formação de
professores, e de escolas superiores de música, a
palavra “improvisação” quase não aparece?
- Qual o motivo de se utilizar quase sempre o
mesmo repertório, no ensino do instrumento?
Sendo que determinadas peças até marcam o
nível dos alunos.
- Um professor que na sua formação não estuda
Improvisação, no mínimo a um nível elementar,
irá utilizar essa ferramenta nas suas aulas?
- Porque será que todas as grandes correntes
pedagógicas da aprendizagem musical, Dalcroze,
Orff, Gordon, Suzuki, afirmam categoricamente,
que a improvisação é fundamental no ensino da
música, e esta tem uma presença no ensino,
praticamente insignificante?
10
1º Andamento
Andante Pesaroso
―Improvisation enjoys the curious
Distinction of being the most widely
Practiced of musical activities,
and the least acknowledged
and understood.‖9
A que se deve o facto da improvisação ser tão negligenciada e
afastada da aprendizagem musical actual?
Em primeiro lugar, e seguindo o pensamento de Bruno Nettl (1998), 10
os musicologistas concentraram mais o seu trabalho na composição
propriamente dita, do que no processo que deu origem a essa mesma
composição. A efemeridade da improvisação também contribui para o
afastamento de uma instituição como a escola, que tem por tendência
Conservar. A orientação contemporânea das escolas no desenvolvimento
Não quero com isto dizer que a improvisação, por si só, seja suficiente
para o ensino da música, longe disso, faz parte da aprendizagem, é
complementar, bem como o estudo de repertório, da técnica, da História da
música, do fraseado, da harmonia, do ritmo, da forma.
Com este projecto de investigação, e a partir de um contexto particular
(a Orquestra Orff e o Instituto Orff do Porto), pretende-se estudar o impacto
da improvisação na aprendizagem musical.
De algum modo, esta
investigação permitirá perceber a incompatibilidade que parece existir entre a
Improvisação e a escola 'tradicional'. Compreender se é a Improvisação que
não serve a esta “Escola”, ou se é esta “Escola” que não serve a
9
Bailey, Derek (1980). Improvisation its nature and practices in music p. IX
10
Nettl, Bruno (1998) “In the course of Performance: Studies in the course or musical Improvisation”
Chicago: University of Chicago Press
11
Improvisação. Construir ferramentas, promover, reutilizar outras formas,
processos, para a utilização e validação da Improvisação em contexto
escolar, desde o início dos percursos de aprendizagem musical, promover a
Improvisação como uma forma de arte musical válida, e tentar deste forma
que a música contemporânea se torne mais acessível aos alunos,
configuram-se como objectivos deste estudo.
12
2º Andamento
Allegretto
―If formal music education focuses on reading and executing sheet
music alone, it will only prepare students for a narrow experience of music –
an experience of a historically and culturally unique musical culture, rare in
is neglect of improvisation.‖11
A tradição europeia da improvisação era uma prática comum e muito
apreciada, são conhecidas as histórias de músicos que enquanto jovens
eram mais reconhecidos como improvisadores do que compositores,
Beethoven é um exemplo.
R. Keith Sawyer, no seu trabalho ―Improvisation and Teaching‖12,
afirma que a actual corrente cultural ocidental no ensino da música, de
especialização de músicos de altíssima competência, mas completamente
incapazes de improvisar, é historicamente e culturalmente ímpar, que a
grande maioria dos músicos formados nesta tradição, não são capazes de
improvisar, contudo, a sua formação prepara-os para ler e executar de forma
rápida e fluente uma partitura, conforme está escrita.
A Improvisação hoje em dia está praticamente ausente dos currículos,
não é uma prática comum no ensino musical, e muitas vezes é mesmo
afastada das práticas de aprendizagem, o que parece ser contraditório, pois
alguns dos maiores pedagogos musicais, defendem que a
Improvisação
deve ser um dos pontos fulcrais da aprendizagem musical. Orff, já atrás
referido, e Dalcroze são um exemplo..
“The student should come to music without the teacher’s pre
conceptions. Thus students find music through their own movements, singing,
and playing. Improvisation becomes a way of finding music for yourself and by
11 Sawer, R. Keith (2007) “Improvisation and Teaching” 2007Critical Studies in Improvisation / Études
critiques en improvisation, pag. 1
12 Sawer, R. Keith (2007) “Improvisation and Teaching” 2007Critical Studies in Improvisation / Études
critiques en improvisation, pag. 1
13
yourself, a discovery rather than an imitation. A sense of discovery takes
courage, which is a vital factor and virtue of the improviser.‖13
Crescendo con alma
Esta investigação vai centrar-se na Orquestra Orff do Porto no trabalho
na Orquestra, e no Instituto Orff do Porto, onde a improvisação tem um lugar
muito importante na aprendizagem e criação musical dos alunos, como
também em vários projetos musicais do Instituto Orff, que na sua origem
foram altamente improvisados.
- O Bicho da Música;14
- 2001 Flautistas;15
Daqui pode surgir uma outra pergunta:
- O que faz do Instituto Orff e da Orquestra Orff do Porto uma escola
onde se improvisa? Porquê? Esta é uma questão que se coloca e cujas
respostas serão exploradas durante o processo da investigação.
Validar, ou não, a potencialidade da Improvisação como ferramenta
pedagógica, uma ferramenta que em conjunto com todas as outras, poderá
ajudar a desenvolver nos alunos de áreas diferentes do ensino de música a
criação musical,
a criatividade, o desenvolvimento técnico e artístico, a
predisposição para trabalhar e interpretar diferentes estéticas musicais, a
13
Abramson, M. Robert (1980) “Dalcroze-Based Improvisation” in Music Educators Journal,
Vol.66, nº5 , Jan, 1980 p. 62
14
"PERDEU-SE O BICHO DA MÚSICA"
Começa assim esta história, tornada aventura por um detective contratado para seguir o rasto
deste "bichinho irrequieto. O Instituto Orff e a Orquestra Orff proporcionam este detective uma viagem
imaginária pela história da música, pelos instrumentos e por diferentes culturas.
15
Projecto organizado pelo Instituto Orff "2001 Flautistas", para o evento "Porto Capital da
Cultura", pretendia envolver toda a cidade num gigantesco coreto, com mais de 1000 flautistas a
tocar e a desfilar pela cidade.
14
capacidade, muito importante nos nossos dias, de tocar em conjunto, ou seja,
trabalhar em conjunto, a capacidade de ouvir e responder.
Quando activada em contexto de aprendizagem, a improvisação abre
novas possibilidades, novas formas, novas melodias, novos sons, que podem
surgir nas mais diversas formas, em colaboração com outras artes, na
procura de sonoridades menos exploradas nos instrumentos, na exploração
sonora de instrumentos não convencionais, entre tantas outras. A escola é
aqui, mais uma vez, fundamental, na forma como trabalho o conceito do que
é música, de como ela chega a nós, e como se desenvolveu historicamente.
A este propósito, e numa conversa com o professor Doug Goodkin16,
este afirma:
―A musician's attitude and experience and competence in improvisation
is directly related to his/her concept of what music is and how he/she learned
it. There are two routes to musical competence— one through the ear and the
other through the eye. Music through out history and in most times and places
rightly comes to music through the ear. Since music is the art and science of
sound and the ear the principal organ of sound, this feels like the right
approach. Like wise, music comes through the body, through dance and
gesture and kinesthetic pattern‖
(Email particular Janeiro de 2015)
Um outro aspecto que a improvisação pode ajudar é na relação, muito
particular, que esta mantém com o erro, entendido como gerador de novas
proposições, e não com a carga negativa que adquire hoje nas escolas.
Sobre este assunto, Stefon Harris, um brilhante músico de jazz afirma
numa “Ted Talk:
―So the way I perceive a mistake when I'm on the bandstand –
first of all, we don't really see it as a mistake.
The only mistake lies in that I'm not able to perceive what it is that
16
Goodkin Doug (2015) – um professor Norte Americano muito respeitado pelo seu trabalho,
particularmente com o Orff Schulwerk.
15
some one else did.
Every "mistake" is an opportunity in jazz. So it's hard to even describe
what a funny note would be. Every "mistake" is an opportunity in jazz.‖17
O que pretendo com a minha investigação é desenvolver um espaço
para a improvisação nas salas de aula de música, um lugar para a
improvisação na escola, não pretendendo criar uma pedagogia para a
improvisação, ou um modelo a seguir.
Pretendo, isso sim, estudar o meu trabalho no seio da Orquestra Orff e
do Instituto Orff, tentar compreender de que forma a
improvisação
influenciou os alunos, entrevistando antigos e atuais músicos, que foram
alunos e músicos da Orquestra e alunos do Instituto. Estabelece-se como
objectivos
construir
ferramentas,
promover,
reutilizar
outras
formas,
processos, para a utilização e validação da Improvisação em contexto
escolar, observar os resultados, encontrar alternativas, desvios, campos de
possibilidades.
Da minha experiência, das conversas e discussões, assim como das
leituras realizadas destaca-se uma evidência:
- A improvisação é fundamental para o ensino da música. Mas
voltando à pergunta que despoletou esta minha inquietação:
- Porque é que a improvisação não está presente nas escolas?
Esta dúvida surgiu da inquietação de não encontrar uma resposta
plausível para esta pergunta, uma razão para este vazio, o porquê da
improvisação estar fora das planos de aprendizagem musical.
17
https://www.ted.com/talks/stefon_harris_there_are_no_mistakes_on_the_banstand.
16
Animato Súbito
Este projeto de investigação envolve-me enquanto investigador numa
tripla faceta, a de investigador, a de professor, e a de compositor.
No decorrer da investigação, as propostas apresentadas poderão
concorrer na minha auto formação de professor/investigador, realizando
desta forma uma reflexão sobre as minhas práticas pedagógicas, e contribuir
com novas propostas que conduzam a alterações de paradigmas na minha
própria atividade lectiva, refletir sobre estas alterações, bem como, reclamar
a pertinência da improvisação na aprendizagem musical.
Tenho presente que a utilização da improvisação da sala de aula pode
ser difícil, desde logo pela própria natureza da mesma, sempre mutável e
móvel, nunca estática, extremamente esquiva a análises e descrições. A
mera tentativa de descrever improvisação, é em si mesmo uma contradição,
pois o espírito da criação livre, contradiz a própria ideia de cristalização, de
estatização.
17
Coda
Caros professores, fiquei com a sensação que não terei sido muito
claro em relação à Orquestra Orff do Porto, onde provavelmente irei centrar o
meu trabalho.
A Orquestra já tem 29 aninhos, é quase uma trintona, como tal, requer
algum trato, digamos mais delicado.
A geração de músicos que está agora a trabalhar comigo é a quinta
geração da Orquestra. Os músicos que saíram da Orquestra para uma
atividade profissional relacionada com a música, são muitos, desde técnicos,
directores de escolas e conservatórios, músicos da orquestra clássica, jazz,
rock, enfim, muitos.
Será, se não a única, será das muito poucas orquestras, com um
trabalho contínuo e ininterrupto há quase 30 anos.
Daqui já pode surgir uma pergunta. Como?
De que forma foi possível este trabalho contínuo?
O número de desistências da Orquestra de alunos, alunos sim, porque
considero a Orquestra, uma escola, por motivos que são comuns a muitas
crianças que estudam música, não gostam, vão para outras atividades é
mínimo, para não dizer, que não me lembro de nenhum, neste momento.
Ainda hoje, nos reunimos, conversamos, discutimos sobre a
Orquestra. Só vou contar um episódio, que me parece pertinente para
compreender esta ligação à Orquestra de antigos membros.
Como sabem no início desta ―famosa crise‖, as escolas de música
particulares sofreram imenso. Perante esta dificuldade, convocou-se uma
reunião com estes antigos membros da Orquestra, para uma espécie de
―estado da Orquestra e planos de contingência‖, desde logo ideias, propostas
e contactos foram estabelecidos para ajudar a resolver os problemas mais
urgentes.
O grupo atual, também é assim, e espero que no futuro de seja
idêntico. Em poucas palavras este é a minha Orquestra Orff do Porto, o meu
local de lazer, é o meu SPA, o meu laboratório, onde me sinto muito bem a
trabalhar, a improvisar, e da qual sou faço parte à mais de 20 anos, sendo eu
o responsável por ela à cerca de 10 anos.
18
O que faz deste grupo um grupo tão absolutamente especial? Esta é
uma boa pergunta.
Outra pergunta interessante.
Se eu não fosse um professor ―fixe‖, a situação seria esta?
Quero dizer. As propostas de trabalho que eu levo para a Orquestra
são interessantes por si mesmo? – ou necessitam um professor ―fixe‖?
Como responder a esta questão sem me questionar a mim mesmo,
sem entrar no tal ―processo de esquizofrenia‖. Sem me manter estático, numa
simples postura de cópia de modelos, estereotipados, tão em voga nos
nossos dias. Esta uma das grandes tensões da improvisação, como resistir
aos seus próprios processos de criação, se improvisar é criar no momento,
será improvisação quando repito um momento?
O facto de uma boa parte das propostas assentar na participação
criativa dos alunos, será a improvisação suficientemente interessante para as
crianças?
Caros professores, sinto-me como o Coelho da Alice, tantas perguntas
e tão pouco tempo.
19
Bibliografia:
Aguiar, A. A. (2012): Forma e Memória na Improvisação
; Tese de
Doutoramento, Universidade Aveiro
Bailey, D. (1992). Improvisation: Its Nature and Practice in Music. Da Capo
Press.
Berliner, P.(1994). Thinking in Jazz: the infinite art of improvisation. Chicago:
University of Chicago Press.
Caspurro, H. ( 2006). Efeitos da aprendizagem da audição da sintaxe
harmónica no desenvolvimento da improvisação ; Tese de Doutoramento,
Universidade Aveiro.
Globokar, V. (1970). Reagir, Musique en Jeu, 1. 70-77.
Nachmanovitch, S. (1990). Free Play, Improvisation in Life and Art. New
York: Tacher/Putnam.
Nettl, B. (Ed.) (1998). In the Course of Performance: Studies in the world of
musical improvisation. Chicago: University of Chicago Press.
Orff, C. (1978). The Schulwerk. New York: Schott Music Corp.
Webgrafia
http://www.criticalimprov.com
http://www.sinfoniavirtual.com
http://www.orff.ru/improvisation.html
20