Declaração sobre Analfabetismo e Alfabetização GLEACE

Transcrição

Declaração sobre Analfabetismo e Alfabetização GLEACE
SOBRE ANALFABETISMO E ALFABETIZAÇÃO
Traduçao Beatriz Cannabrava - ICAE
Declaração de membros do Grupo Latino-americano de Especialistas em Alfabetização e
Cultura Escrita (GLEACE)
22 de outubro de 2009
Os abaixo assinados, membros do Grupo Latino-Americano de Especialistas em
Alfabetização e Cultura Escrita (GLEACE), desejamos expressar que:
1. Valorizamos os renovados esforços que vêm sendo feitos na América Latina e no
Caribe no campo da educação de adultos.
2. Consideramos especialmente propícios o cenário e o momento criados pela VI
Conferência Internacional de Educação de Adultos (CONFINTEA VI, Belém, Brasil, 1 a
4 de dezembro de 2009), que será realizada pela primeira vez no hemisfério sul e nesta
região em particular.
3. Sentimos-nos convocados pelo apelo a avançar "da alfabetização à aprendizagem ao
longo da vida” proposto na CONFINTEA V (Hamburgo, 1997) e reiterado para o caso
desta região na conferência regional preparatória da CONFINTEA VI, realizada no
México em setembro de 2008.
4. Ao mesmo tempo, e neste marco, vemos com preocupação:
(a) A ênfase predominante que tem sido dada à alfabetização, a ponto de novamente
reduzir-se ‘educação de adultos’ a ‘alfabetização’. Além disso, persistem as dicotomias
tradicionais entre ‘analfabetos’ e ‘alfabetizados’, e entre ‘analfabetos puros’ e
‘analfabetos funcionais’, longamente questionadas por abundantes pesquisas, bem como
pelo próprio desenvolvimento e complexidade da cultura escrita no mundo atual.
(b) Ações de alfabetização que se instauram no vazio, tanto no nível nacional como
regional, desconhecendo a rica e longa história da alfabetização de adultos pela qual se
conhecem e se destacam a América Latina e o Caribe no âmbito mundial.
(c) A persistência de uma concepção simplista e facilista da alfabetização, vista como um
processo que pode ser realizado em pouco tempo, em condições precárias, com
educadores sem ou com mínima capacitação, com métodos únicos, escassos materiais de
leitura e escrita, pouco aproveitamento das modernas tecnologias; e sem levar em conta a
diversidade lingüística e cultural dos educandos. Precisamente por serem as pessoas
analfabetas, ou com baixa escolaridade, de setores pobres e às quais tem sido negado há
muitos anos o direito à educação, é que elas merecem uma oferta educativa
contemporânea e de melhor qualidade.
(d) A ausência de avaliação das aprendizagens, freqüentemente dando-se por
alfabetizadas as pessoas inscritas ou as que se declaram como tal, sem verificar o que
aprenderam realmente, e sem dar condições para que possam utilizar o que foi aprendido
e continuar aprendendo. Este modo de proceder não só ignora a centralidade que deve ser
atribuída à aprendizagem em todo processo educativo, mas também a própria experiência
de avaliações rigorosas de campanhas e programas massivos de alfabetização realizados
nesta mesma região, no passado e na atualidade, com o que, em lugar de avançar, em
muitos casos se retrocede.
(e) O uso político de cifras e taxas de alfabetização, inclusive a declaração de ‘territórios
livres de analfabetismo’ ou ‘países alfabetizados’ com base em pura contagem estatística.
Em vez de enfrentar a problemática com a integralidade que ela merece, cria-se a ilusão
de se conseguiu resolvê-la em tempo recorde. Isso contribui, por outro lado, para um
efeito contrário, que é a maior marginalização das pessoas e grupos que são considerados
alfabetizados sem que o sejam.
(f) A contínua desvinculação do analfabetismo de suas condições estruturais de
reprodução, principalmente a pobreza e a negação do direito a uma educação pública
gratuita e de qualidade para toda a população, sem o qual é impensável resolver de
maneira sustentável a problemática do analfabetismo.
5. Neste contexto, fazemos um renovado apelo aos organismos internacionais a fim de
que coordenem entre si e cumpram seu papel técnico, assumindo sua responsabilidade
diante da indispensável seriedade, transparência e credibilidade das ações governamentais
que apóiam. Não é demais recordar que organismos como a UNESCO e outros dedicados
às tarefas da cooperação internacional foram criados para apoiar os governos em
benefício dos povos.
6. Solicitamos, finalmente, à CONFINTEA VI que aborde de maneira reflexiva e crítica a
questão do analfabetismo e da alfabetização das pessoas jovens e adultas nesta região e
em todo o mundo, estimulando as iniciativas governamentais, porém no marco de um
diálogo sincero, não demagógico, aberto à participação das organizações sociais e dos
diversos atores nacionais e internacionais que intervêm nesse campo.
Atenciosamente,
Marta Acevedo (México). Editora de livros e materiais em línguas originárias.
Miriam Camilo Recio (Rep. Dominicana). Coordenadora do Mestrado em Educação de
Pessoas Jovens e Adultas do Instituto Tecnológico de Santo Domingo - INTEC.
Integrante do Grupo de Trabalho de Alfabetização e Educação de Adultos do Conselho
de Educação de Adultos para a América Latina e o Caribe - CEAAL. Ex-Diretora Geral
de Educação de Adultos, Secretaria de Estado de Educação.
Lola Cendales G. (Colômbia). Educadora e pesquisadora de Dimensão Educativa,
Bogotá.
Susana Fiorito (Argentina). Presidenta da Fundação Pedro Milesi e da Biblioteca Popular
de Bella Vista (Córdoba). Coordenadora de um projeto de Comunidade de Aprendizagem
com eixo na leitura e na escrita.
Gregorio Hernández Zamora (México). Doutor em Língua e Cultura Escrita pela
Universidade de Berkeley - USA. Pesquisador e consultor independente.
María Isabel Infante R. (Chile). Coordenadora Nacional de Educação de Adultos,
Ministério de Educação.
Timothy Ireland (Brasil). Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa.
María Luisa Jáuregui (El Salvador). Ex-Especialista Regional de Educação de Jovens e
Adultos do Escritório da UNESCO para a América Latina e o Caribe (OREALC), em
Santiago.
María Eugenia Letelier (Chile). Coordenadora do Sistema Nacional de Avaliação de
Aprendizagens e Certificação de Estudos, Programa Chilecalifica.
Luis Oscar Londoño Z. (Colômbia). Pesquisador em Educação (independente).
Especialista em Educação de Adultos.
Vera Masagão Ribeiro (Brasil). Pesquisadora e coordenadora de programas da ONG
Ação Educativa, São Paulo.
Ana María Méndez Puga (México). Professora-Pesquisadora Escola de Psicologia,
Universidade Michoacana de San Nicolás de Hidalgo, Morelia, Michoacán.
Eliana Ramírez de Sánchez Moreno (Peru). Educadora. Especialista na aprendizagem da
leitura e escrita.
Nydia Richero (Uruguai). Professora, ex-Diretora de Escolas de Práticas Docentes,
Professora de Didática, Psicologia da Educação e Didática da Linguagem Escrita nos
Institutos Normais. Ex-Diretora do Departamento de Psicologia da Educação e Didática
da Faculdade de Humanidades e Ciências da Educação, Universidade da República,
Montevidéu. Coordenadora para o Uruguai da Rede Latino-Americana de Alfabetização.
José Rivero H. (Peru). Consultor internacional. Ex-Especialista de Educação de Adultos
do Escritório Regional da UNESCO para a América Latina e o Caribe (OREALC).
Membro fundador do Conselho Nacional de Educação do Peru.
Miguel Soler Roca (Uruguai). Professor uruguaio. Ex-Diretor da Divisão de
Alfabetização, Educação de Adultos e Desenvolvimento Rural da UNESCO. Doutor
Honoris Causa da Universidade da República, Montevidéu.
Rosaura Soligo (Brasil). Professora, formadora de professores.
Pesquisadora/colaboradora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Continuada
(GEPEC) da Unicamp. Coordenadora de projetos do Instituto Abaporu de Educação e
Cultura, Campinas/São Paulo.
Rosa María Torres del C. (Equador). Coordenadora do Grupo Latino-Americano de
Especialistas em Alfabetização e Cultura Escrita (GLEACE). Coordenadora do
Pronunciamento Latino-Americano por uma Educação para Todos. Ex-Assessora da
Seção Educação no UNICEF - Nova York. Ex-Ministra de Educação e Culturas. ExDiretora Pedagógica da Campanha Nacional de Alfabetização "Monseñor Leonidas
Proaño". Moderadora das redes virtuais Comunidad E-ducativa e Ecuador-lee-escribe.
Vera Barreto (Brasil). Educadora há longos anos na Educação de Jovens e Adultos - EJA.
Coordenadora pedagógica do Vereda-Centro de Estudos em Educação, São Paulo.
Outras adesões:
Cecilia Amaluisa Fiallos (Equador). Especialista em educação de pessoas adultas, ex–
Diretora Nacional de Educação Popular Permanente do Ministério de Educação do
Equador. Integrante do grupo intergovernamental encarregado de formular o Plano Iberoamericano de Alfabetização e Educação Básica de Pessoas Adultas 2007-2016
promovido pela OEI.
Pep Aparicio Guadas (Espanha). Professor especialista em alfabetização e educação de
pessoas adultas. Coordenador do Centro de Recursos e Educação Continuada da
Diputación de València e Presidente do Instituto Paulo Freire da Espanha.
María de Lourdes Aravedo Reséndiz (México). Mestre em Ciências com Especialidade
em Pesquisas Educativas. Subdiretora de Conteúdos Básicos do Instituto Nacional para a
Educação dos Adultos-INEA.
Alberto Blandón Schiller (Colômbia). Docente. Diretor da Escola Popular KAMINOS,
Bogotá.
Carmen Campero Cuenca (México). Docente-pesquisadora da Universidade Pedagógica
Nacional. Integrante da Rede de Educação de pessoas Jovens e Adultas.
Nélida Céspedes Rossel (Peru). Presidenta do Conselho de Educação de Adultos da
América Latina (CEAAL). Membro do Comitê Diretivo da Campanha Latino-Americana
pelo Direito à Educação (CLADE). Coordenadora Regional de Tarea em Ayacucho.
Susana Córdova Avila (Peru). Educadora. Diretora Geral doInstituto de Fomento de uma
Educação de Qualidade (Instituto EDUCA). Ex-Coordenadora Geral do Programa de
Alfabetização Integral em San Juan de Lurigancho (Programa Edualfa). Ex- Diretora do
Programa Nacional de Alfabetização.
Francisco Cueto Villamán (Rep. Dominicana). Politólogo. Diretor da Faculdade LatinoAmericana de Ciências Sociais-FLACSO Programa República Dominicana.
Lydia Ducret (Uruguai). Docente. Diretora da Revista QUEHACER EDUCATIVO, da
Federação Uruguaia de Magistério (FUM-TEP).
Benito Fernández F. (Bolívia) Diretor da Associação Alemã para a Educação de Pessoas
Adultas (AAEA)-Bolívia.
Dinorah García Romero (Rep. Dominicana). Educadora. Ex-Diretora Geral de Currículo.
Ex-Coordenadora Geral do Centro Cultural Poveda.
Sandra González (Rep. Dominicana) Pesquisadora. Coordenadora do Centro de Estudos
Educativos/Instituto Tecnológico de Santo Domingo (CEED/INTEC).
Ana Margarita Haché (Rep. Dominicana). Professora Associada da Pontifícia
Universidade Católica. Mãe e Mestra. Formadora de professoras e professoras para o
ensino de espanhol como língua materna. Especialista em elaboração de materiais
educativos para o ensino da leitura e da escrita.
Jefrey Lizardo (Rep. Dominicana). Economista. Pesquisador associado e membro do
Conselho Acadêmico da FLACSO- Programa República Dominicana.
Sérgio Haddad (Brasil). Educador, Coordenador Geral da Ação Educativa, São Paulo.
Argentina Henríquez (Rep. Dominicana) Educadora, pesquisadora. Co-fundadora do
Centro Cultural Poveda. Consultora nas Reformas Educativas Nacionais: Plano Decenal
de Educação 1992- 2002; Plano Estratégico 2002-2012; Plano Decenal 2008- 2018.
Rocío Hernández (Rep. Dominicana) Pesquisadora. Docente Mestrado em Educação de
pessoas Jovens e Adultas. Decana de Gestão da Docência do Instituto Tecnológico de
Santo Domingo - INTEC.
Raúl Leis R. (Panamá). Secretario General do Conselho de Educação de Adultos da
América Latina (CEAAL).
Julio Alexander Parra M. (Venezuela). Graduado em Educação. Facilitador do Centro de
Educação Básica de Adultos - CEBA "Los Curos", Mérida.
Sebastià Parra Nuño (Espanha). Mestre de pessoas adultas e professor da Universidade de
Girona (Catalunha), aposentado. Membro do Conselho Reitor do Instituto Paulo Freire da
Espanha e da Associação de Educação Popular Carlos Fonseca Amador da Nicarágua.
Magda Pepén Peguero (Rep. Dominicana). Pesquisadora associada. Co-coordenadora do
Programa de Educação e Coordenadora do Programa de Promoção da Reforma Educativa
da América Latina e do Caribe (PREAL) da Faculdade Latino-Americana de Ciências
Sociais – FLACSO - Programa República Dominicana.
César Rolando Picón (Peru). Consultor internacional. Ex-Diretor Geral de Educação de
Adultos e ex-Vice-ministro de Gestão Pedagógica do Peru. Ex-especialista de
alfabetização e educação de adultos do CREFAL. Ex-especialista de alfabetização e
educação de adultos da UNESCO na América Central. Ex-coordenador fundador do
Programa de Alfabetização y Educação Básica Popular do CEAAL.
Magaly Pineda (Rep. Dominicana). Socióloga, pesquisadora e feminista. Diretora
Executiva do Centro de Investigação para a Ação Feminina - CIPAF.
Jorge Jairo Posada E (Colômbia). Professor da Universidade Pedagógica Nacional de
Colômbia. Docente convidado do Mestrado de Educação de Pessoas Jovens e Adultas do
Instituto Tecnológico de Santo Domingo - INTEC.
Mario Quintanilla Arandia (Bolívia). Diretor do Instituto de Pesquisa e Capacitação
Pedagógica e Social - IIPS. Especialista em alfabetização pelo enfoque Reflect ação.
Responsável pelo programa de alfabetização do IIPS em municípios rurais da Bolívia.
Docente universitário em Educação de Adultos da Universidade Salesiana.
Jorge E. Ramírez Velásquez (Colômbia). Centro Internacional de Desenvolvimento
Humano – CINDE - Bogotá.
Rudá Ricci (Brasil). Sociólogo. Diretor Geral do Instituto Cultiva, da Executiva Nacional
do Fórum Brasil do Orçamento (FBO) e do Observatório Internacional da Democracia
Participativa (OIDP).
Jorge Rivas (Uruguai). Pesquisador do Centro Regional de Cooperação para a Educação
de Adultos na América Latina e no Caribe - CREFAL, Pátzcuaro-Michoacán, México.
Jorge Rivera Pizarro (Bolívia). Consultor independente. Assessor do Escritório Multipaís
da UNESCO para a América Central. Ex-Oficial de Educação e Ex-Representante do
UNICEF na Costa Rica e na Argentina. Fundador e primeiro Diretor do Serviço Nacional
de Alfabetização e Educação Popular da Bolívia (SENALEP).
Yadira Rocha (Nicarágua). Área Educação, Instituto para o Desenvolvimento e a
Democracia - IPADE, Manágua.
Benno Sander (Brasil). Presidente da ANPAE - Associação Nacional de Política e
Administração da Educação do Brasil.
Sergio Serrón Martínez (Venezuela). Coordenador Nacional da Cátedra UNESCO para a
Leitura e Escrita. Professor Titular da Universidade Pedagógica Experimental Libertador.
William Thélusmond (Haiti). Coordenador do 'Centre de Recherche et d'Action pour le
Développement (CRAD). Coordenador do 'Regroupement Education pour Toutes et pour
Tous (REPT)'. Enlace Coletivo do CEAAL no Haiti.
Madeleine Zúñiga C. (Peru). Coordenadora Nacional da Campanha Peruana pelo Direito
à Educação. Consultora internacional sobre línguas, culturas e educação.