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DIVERSIDADE TECNOLÓGICA E REGIMES DE TRANSAÇÃO EM REDES DE FIRMAS Jorge Britto( *) ABSTRACT The article discusses the institutional diversity of inter-firm networks, suggesting that they should be understood as institutional forms conditioned by the characteristics of technologies that have to be mobilised to make feasible the production in these environments The analysis begins with a discussion of how the concept of inter-firm networks can be characterised in a transaction cost perspective. A critical analysis of the transaction costs approach is also developed, emphasising the importance of a more detailed discussion of the “transaction regime” of these networks, in order to capture their institutional specificity. Then, some elements associated with the technological diversity of the environment are used to characterise the transaction regime of different “stylised models” of inter-firm networks. Specifically, four kind of networks are identified: traditional products networks, modular products networks, complex products networks and technology-based networks. The main characteristics of those “stylised models” are presented, emphasising the specificity of governance structure in each situation. Finally, a conclusive section identifies some investigation lines to be explored in the future 1 - INTRODUÇÃO A moderna literatura institucionalista tem utilizado de maneira recorrente o conceito de “redes de firmas” para analisar conformações inter-organizacionais caracterizadas pela densidade de relacionamentos cooperativos entre agentes. Tal conceito incorpora uma crítica contundente à divisão artificial entre o agente econômico e o ambiente externo no qual o mesmo se insere, pressupondo que este ambiente se encontra institucionalmente estruturado em função da densidade de vínculos transacionais, produtivos e tecnológicos estabelecidos entre as agentes interdependentes. Na discussão das características das “redes de firmas”, a Teoria dos Custos de Transação - formulada originariamente por Coase (1937 e 1988) e sedimentada através dos trabalhos de Williamson (1975, 1981, 1985, 1991 e 1993) - constitui uma referência teórica fundamental. Em relação à microeconomia tradicional, a TCT desloca o eixo central da discussão da eficiência alocativa baseada em uma análise marginal no sentido da discussão da eficiência de diversas formas organizacionais e institucionais. Quatro elementos básicos são integrados no interior deste referencial teórico: (i) atributos particulares das transações realizadas; (ii) características específicas das formas organizacionais mobilizadas na coordenação das transações; (iii) princípios comportamentais que dão coerência à conduta dos agentes, associados a uma “racionalidade limitada” que, apesar de impossibilitar um cálculo racional maximizador, resulta em procedimentos aproximativos orientados à busca de maior eficiência organizacional; (iv) sistemáticas contratuais que orientam a realização de transações. 35 Como hipótese básica, supõe-se que a coordenação de atividades econômicas envolve uma adequação das formas organizacionais (e institucionais) aos atributos das transações realizadas, mobilizando-se uma sistemática contratual condizente com estes atributos e tendo-se, como objetivo básico, a minimização dos custos de transação, o que garantiria maior eficácia ao processo de coordenação. A teoria dos custos de transação tradicionalmente concebe as redes de firmas como formas “intermediárias” ou “híbridas” de governança, localizadas no meio termo entre a firma integrada e o mercado atomizado (Thorelli, 1986; Jarillo, 1988; Williamson, 1991). Ao longo do artigo, utiliza-se essa conceitualização como referência teórica fundamental, procurando-se discutir possíveis desdobramentos daquela análise em termos de uma caracterização mais detalhada dos mecanismos de coordenação (ou governança) presentes nestes arranjos. Em particular, procura-se incorporar à análise elementos objetivos que permitam uma melhor caracterização dos “regimes de transação” (Knorringa, 1994) que lhes são específicos. Sugere-se, nesse sentido, que as características destes regimes são decisivamente afetadas pelo grau de hierarquização interna das redes, o qual, por sua vez, é influenciado pelo tamanho relativo de seus membros e pelo padrão de especialização que os mesmos apresentam nos relacionamentos estabelecidos entre si. Além disso, procura-se incorporar à análise elementos que permitam “formatar” a diversidade institucional das redes de firmas. Com esse intuito, enfatiza-se a especificidade das tecnologias mobilizadas ao nível desses arranjos. Argumenta-se, nesse sentido, que os mecanismos de operação das redes de firmas são condicionados por características específicas das tecnologias que necessitam ser mobilizadas para tornar factível a produção com níveis satisfatórios de eficiência nos respectivos ambientes industriais. Procura-se, assim, qualificar o conceito de ‘embeddedness’ (Grabher, 1993) associado à discussão desses arranjos, de maneira a considerar como os padrões tecnológicos dos contextos industriais afetam os mecanismos de coordenação presentes nos mesmos1 . O artigo está dividido em quatro seções, além dessa introdução. A Seção 2 apresenta um quadro sintético de como o conceito de “redes de firmas” é retratado no âmbito da visão standard da Teoria dos Custos de Transação. A Seção 3 discute a conexão existente entre a diversidade institucional das redes de firmas – relacionada aos “regimes de transação” que podem ser encontrados em diferentes tipos de arranjos – e a complexidade tecnológica do ambiente no qual estes arranjos se encontram inseridos. A Seção 4 explora empiricamente esta conexão, discutindo as particularidades dos “regimes de transação” em quatro “modelos estilizados” de redes de firmas: redes de produtos tradicionais; redes de produtos modulares; redes de produtos complexos; redes de desenvolvimento de tecnológico. Finalmente, uma seção conclusiva (Seção 5) procura identificar algumas linhas de investigação possíveis de serem exploradas a partir de desdobramentos da análise realizada. 2. AS REDES DE FIRMAS COMO ESTRUTURAS DE GOVERNANÇA Contrapondo-se à visão tradicional da firma como unidade abstrata de produção, as análises formuladas com base na TCT procuram demonstrar que a busca genérica de maior “eficiência” reflete-se diretamente no padrão de conduta dos agentes, resultando em idiossincrasias nas maneiras como estes agentes organizam e coordenam as diferentes atividades econômicas. Na busca da minimização dos custos 36 de transação relativos a fatores de produção especializados, a firma seria induzida a estabelecer uma fronteira eficiente entre as atividades que tem interesse em controlar por meio de processos de integração e aquelas para as quais será mais vantajoso recorrer à realização de transações no mercado. Este processo de ajustamento está associado à montagem de estruturas de governança específicas. As estruturas de governança relacionam-se ao arcabouço contratual implícito ou explícito dentro da qual a transação é viabilizada, compreendendo desde relações de compra e venda particularizadas até organizações internas às firmas (hierarquias) e formas mistas, que combinam elementos de interações mercantis com mecanismos de adaptação e ajuste de tipo administrativo. Williamson (1985 e 1991) sugere que as organizações realizam adaptações de caráter autônomo nas estruturas de governança, em função das sinalizações oferecidas pelo sistema de preços. Entretanto, existem determinados distúrbios ambientais, não necessariamente captados pela evolução dos preços relativos, que requerem uma adaptação qualitativamente mais complexa, envolvendo a coordenação de ações realizadas por diversas instâncias funcionais integradas à estrutura interna da firma (“hierarquia”). O processo de internalização decorre do custo implícito na utilização do mercado (via mecanismos de preço) como elemento de coordenação das atividades produtivas2 . A dinâmica organizacional obedece, assim, a uma lógica baseada no princípio de “first order economizing”, associado à minimização dos custos de transação que interferem na passagem de um modo organizacional para outro. No entanto, é possível identificar limites concretos ao processo de internalização de transações pela firma. Por um lado, essa internalização pode envolver a montagem de sistemas complexos, que garantam o intercâmbio de informações e a logística de operação com a eficácia necessária, o que não é uma questão trivial. Por outro lado, a própria rigidez de estruturas integradas pode gerar uma inércia intra-organizacional, criando dificuldades de adaptação em ambientes competitivos mais dinâmicos, ou sujeitos a um elevado grau de incerteza. Desse modo, a análise da TCT evolui de uma distinção inequívoca entre mercados e firmas como arranjos institucionais (institutional set-ups) possíveis de serem selecionados com base em critérios de eficiência no sentido da investigação de “formas intermediárias” (Williamson, 1985), que freqüentemente criam um arcabouço institucional eficaz para a realização de transações, tais como formas de governança bilaterais, baseadas em mecanismos de “contratação relacional” (relational contracting), e formas de governança trilaterais, envolvendo instâncias de mediação dos interesses dos agentes (third parties). Para a TCT, as redes de firmas são geralmente retratadas como “formas híbridas” de governança localizadas no meio termo entre a firma integrada e o mercado atomizado, caracterizando-se pelo intenso intercâmbio de bens e serviços - e dos respectivos fluxos de informações - no âmbito de relacionamentos inter-industriais sistemáticos. Em linhas gerais, é possível referenciar esse tipo de arranjo a quatro elementos utilizados para discutir a eficácia de diferentes formas de governança: (i) instrumentos particulares mobilizados para viabilizar o processo de coordenação, em função de atributos particulares das transações realizadas; (ii) mecanismos de controle institucionalmente construídos que orientam o comportamento dos agentes; (iii) a presença de um determinado arcabouço contratual que sustenta os relacionamentos internos e externos às diferentes formas de governança; (iv) a capacidade de realizarse as “adaptações” requeridas face às mudanças nas condições ambientais. As transações são consideradas as unidades básicas de análise neste tipo de abordagem, na medida em que é a partir de atributos das mesmas que serão 37 selecionadas estruturas de governança mais ou menos eficazes. Basicamente, as transações podem ser caracterizadas em função de três atributos: freqüência, incerteza e especificidade dos ativos envolvidos. Em termos do conteúdo das transações, o elemento crítico a ser considerado é a especificidade dos ativos. O conceito de especificidade dos ativos relaciona-se à facilidade pela qual um ativo pode ser deslocado para usos alternativos sem perda de seu valor produtivo. Em particular, quanto mais elevada for esta especificidade, mais provável será a ocorrência de um processo de “internalização”, realizado por meio de hierarquias internas aos agentes3 . Williamson (1991) assume que o nível de especificidade dos ativos (H) e as formas organizacionais (O) selecionadas não são mutuamente afetados, de tal modo que, para diferentes níveis de H supostos como dados, uma escolha particular de O conduziria a uma minimização dos custos de transação. Uma vez que a especificidade dos ativos seja nula, as formas organizacionais podem preservar sua identidade, adaptando-se a perturbações exógenas percebidas através de sinalizações dos preços relativos. Inversamente, uma vez que a especificidade dos ativos se eleve, desenvolvese uma relação de “dependência bilateral” - envolvendo uma interação mediada pela “lei de pequenos números” (small numbers) - entre unidades produtivas, a partir da qual são realizadas adaptações que requerem um maior grau de coordenação entre as ações dos agentes. Esta coordenação provoca mudanças organizacionais que podem contemplar tanto a internalização total de atividades - no caso de ativos “altamente específicos” - como a cooperação sistemática entre agentes formalmente independentes - no caso de ativos “semi-específicos”. Em função do aumento da especificidade dos ativos, evolui-se de uma coordenação realizada pelo “mercado” na direção de uma coordenação promovida pela “hierarquia”; por outro lado, situações intermediárias desta “especificidade” são particularmente favoráveis à coordenação por “formas híbridas”. Define-se, desse modo, uma “fronteira eficiente” no tocante à seleção de diferentes formas organizacionais, caracterizada por três intervalos bem definidos, cada um deles associado a uma forma particular de coordenação. É possível introduzir algumas qualificações em relação à visão standard da TCT, de modo a incorporar interdependências que estão usualmente presentes entre o nível de especificidade de ativos e a seleção de formas organizacionais com base em critérios estritos de eficiência. De fato, a hipótese de que a especificidade dos ativos e os atributos das formas organizacionais não são mutualmente afetados dificilmente pode ser vista como realista. Quando uma firma opta por um processo de integração vertical ou pelo estabelecimento de relações bilaterais com fornecedores, a natureza dos ativos produtivos envolvidos costuma ser afetada. Em particular, as adaptações que necessitam ser realizadas na órbita produtiva para permitir a integração de competências externas e internas alteram a especificidade dos ativos de uma maneira decisiva. Este processo assume um caráter cumulativo ao longo do tempo, devido a mecanismos internos e externos de aprendizado. Três conseqüências desta dinâmica podem ser salientadas: (i) a adaptação dos ativos produtivos em função das necessidades de agentes envolvidos em interações sistemáticas, que ocorre como subproduto de mecanismos interativos de aprendizado; (ii) o desenvolvimento de interdependências produtivas, tecnológicas e organizacionais entre os agentes envolvidos, que afeta a “racionalidade” de suas respectivas decisões; (iii) o desenvolvimento de um processo de “auto-reforço” (self-reinforcing) das formas organizacionais ao longo do tempo, o qual simultaneamente gera uma capacidade endógena de adaptação e cria uma espécie de “inércia organizacional” (Langlois e 38 Robertson, 1994), que pode dificultar a realização de mudanças radicais nas estruturas de governança. Bakos e Brynjolfsson (1993) introduzem uma outra qualificação importante em relação à versão standard da TCT, que explicaria a tendência observada à redução do número de fornecedores diretos, apesar do impacto da adoção de novas tecnologias de informação e comunicação em termos da redução dos custos de transação associados a operações mercantis. Segundo estes autores, essa tendência pode ser explicada ao alargar-se o conceito de “especificidade de ativos”, de maneira a incorporar analiticamente os investimentos a eles associados. De fato, investimentos associados a relacionamentos bilaterais sistemáticos geralmente envolvem uma série de dimensões - relativas à qualidade, nível tecnológico e customização, dentre outras - que dificilmente podem ser especificadas com precisão no arcabouço contratual dos relacionamentos, o que limitaria as possibilidades de utilização do mercado como forma de governança4 . Além da especificidade dos ativos, dois outros atributos das transações influenciam os processos de “internalização”. Por um lado, quanto maior for a freqüência da realização de determinada transação, mais factível será o desenvolvimento de instituições estruturadas especificamente no intuito de operacionalizá-la de forma eficaz. Por outro lado, a influência da incerteza sobre os processos de “internalização” decorre do fato de que, em função da maior ou menor confiança dos agentes na sua capacidade em antecipar acontecimentos futuros, podem ser estimuladas relações contratuais mais flexíveis, com capacidade de adaptação à mutabilidade do ambiente. A montagem arranjos organizacionais (e institucionais) eficazes pode também ser correlacionada à montagem de um arcabouço contratual que crie uma fundamentação legal para a realização de transações de forma eficiente. Este arcabouço contratual deve contemplar a especificação de mecanismos incitativos que permitam minimizar a ameaça de comportamentos oportunistas, a qual tende a estar presente em situações de informação assimétrica e de forte dependência bilateral entre os agentes. No que se refere à estrutura contratual implícita na realização de transações, Williamson (1991) introduz algumas hipóteses: (i) contratos complexos são inevitavelmente “incompletos” do ponto de vista institucional; (ii) todo contrato, ao relacionar-se a uma promessa de venda, traz implícito o risco de um comportamento oportunista dos agentes; (iii) ganhos serão obtidos se os contratos forem organizados de maneira a salvaguardar as transações contra os riscos de um comportamento oportunista dos agentes. A formalização de contratos refere-se à possibilidade dos agentes definirem com relativa precisão regras legais que orientem a repartição de ganhos e a resolução de conflitos. Quando isto não é possível, pode-se optar pela realização de acordos internos aos relacionamentos, em detrimento da resolução de litígios no mercado. Uma solução alternativa seria a utilização de “contratos incompletos” como forma de regulação das relações entre agentes. Estes contratos baseiam-se num horizonte de longo prazo, incorporando mecanismos que conferem aos agentes um maior raio de manobra quanto à sua conduta, permitindo-lhes responder satisfatoriamente a perturbações não antecipadas do ambiente econômico. Bakos e Brynjolfsson (1993) ressaltam que a montagem de um arcabouço contratual é afetada não apenas pelo caráter “específico” (ou complexo) dos ativos envolvidos, mas também pela natureza particular dos investimentos que devem ser realizados para obtê-los. O problema básico refere-se a determinadas variáveis que interferem na execução da transação, as quais não são facilmente “verificáveis”. Nestas circunstâncias, as partes tenderiam a não 39 incorporar explicitamente aquela variável ao arcabouço contratual, optando por repartir eventuais ganhos através de uma barganha ex-post5 . Um aspecto particularmente relevante de qualquer arcabouço contratual referese à satisfação dos interesses das partes envolvidas. De fato, cada agente individual envolvido no arranjo tem um interesse particular que deve ser satisfeito na relação. Desse modo, não basta apenas incrementar o nível de eficiência a partir da relação; é necessário também que os ganhos associados à “quase-renda relacional” (Foray, 1991) obtida sejam repartidos, de maneira a gerar benefícios condizentes com as expectativas dos agentes. A montagem de uma sistemática contratual indutora de relações cooperativas envolve, portanto, três aspectos, que devem ser equacionados pelas partes envolvidas no arranjo: (i) a seleção do tipo de contrato mais adequado à realização de transações; (ii) a incorporação de mecanismos de repartição da “quase-renda relacional” gerada ao contrato; (iii) a incorporação de estímulos à busca de eficiência no âmbito do arranjo contratual elaborado. As diferentes formas de governança podem também ser discutidas em função da capacidade das mesmas adaptarem o processo de coordenação às mudanças nas condições do ambiente no qual se inserem. Em particular, esse aspecto associa-se ao reforço da flexibilidade no processo de mobilização de recursos produtivos. Neste sentido, a análise de Foray (1991), é bastante ilustrativa. Segundo Foray, um aspecto fundamental na avaliação da eficácia de diferentes estruturas de governança referese à possibilidade de conciliar-se a apropriação de “quase-rendas compostas” com requerimentos de “reversibilidade” dos recursos mobilizados. As “quase-rendas compostas”, segundo a concepção de Alchian e Woodward (1988), referem-se a uma parcela da quase-renda total dos recursos que depende de uma associação continuada com outros recursos específicos. O conceito de “reversibilidade”, por sua vez, relacionase à necessidade dos agentes manterem uma certa flexibilidade no processo de mobilização de recursos, com o intuito de explorar novas oportunidades e de melhor enfrentar a incerteza inerente ao ambiente econômico. A “reversibilidade” ou “flexibilidade” proporcionada pela montagem de redes de firmas se explica em função diferentes elementos, tais como: (i) a montagem de sistemas de produção flexíveis e a agilização dos fluxos de transação entre agentes; (ii) a repartição de irreversibilidades associadas a investimentos de maior porte, com conseqüente redução de sunk-costs para os agentes individuais; (iii) a adequação a atributos da demanda baseados em preferências voláteis, por meio da incorporação de princípios de “compatibilidade” entre produtos e componentes; (iv) a redução de incertezas mercadológicas, associadas ao comportamento da demanda, e de incertezas tecnológicas, associadas às configurações dos sistemas produtivos. Além desses aspectos, destaca-se a possibilidade dos agentes, através desses arranjos, coordenarem suas ações em períodos de desaceleração cíclica ou de maior turbulência econômica. O reforço da flexibilidade decorre também da possibilidade dos agentes compatibilizarem suas estruturas organizacionais, estilos gerenciais e estratégias de conduta, sem que isto implique necessariamente a realização de fusões entre eles. Finalmente, é possível citar a possibilidade de superar-se limitações que impedem a formalização de contratos entre os agentes, decorrentes do caráter não transparente dos fatores transacionados ou de dificuldades na codificação de informações e conhecimentos. Em síntese, as redes de firmas poderiam ser compreendidas como arranjos inter-organizacionais que compatibilizam o recebimento de estímulos exógenos do mercado – os quais se refletiriam na evolução dos preços relativos dos fatores - com a 40 geração de estímulos endógenos de tipo administrativo – que surgem de ações deliberadas e autônomas dos agentes responsáveis pelo processo de coordenação. Desse modo, essas redes permitem a realização de adaptações de caráter “autônomo” e de adaptações que demandam a “coordenação” de diferentes funções produtivas, as quais são repartidas entre seus componentes (Williamson, 1991; Guilhon, 1993).Quanto aos mecanismos de coordenação das decisões estratégicas dos agentes no interior dessas redes, é importante ter claro qual a natureza específica das “ações conjuntas” (joint-actions) adotadas pelos seus membros. A sistematização proposta por Humphrey e Schimitz (1996) constitui um ponto de partida para este tipo de investigação, na medida em que introduz dois elementos de caracterização destas ações: (i) o seu caráter bilateral ou multilateral, associado ao número de partes envolvidas; (ii) o seu caráter horizontal ou vertical, baseado na distribuição de tarefas ao longo da cadeia produtiva6 . 3. DIVERSIDADE INSTITUCIONAL E TECNOLÓGICA DAS REDES DE FIRMAS Diversas análises procuram avançar no sentido da construção de tipologias que captem a diversidade institucional das redes de firmas. Algumas dessas análises, como a de Harrison e Storper (1991) privilegiam, como critérios de diferenciação desses arranjos, aspectos relacionados à morfologia de sua estrutura interna, particularmente no que se refere ao seu grau de centralização e hierarquização. Arcangelli, Belussi e Gruin (1995), por sua vez, desenvolvem uma análise interessante dos mecanismos de coordenação intra-rede, correlacionado-os não apenas ao seu maior ou menor grau de centralização, mas também à própria conformação morfológica da estrutura, que poderia ser “ajustada” no intuito de permitir uma coordenação eficaz de seus fluxos internos, face às mudanças repentinas nas condições do macro-ambiente7 . Ë possível destacar também o esforço de sistematização de diferentes formas de governança realizado por Park (1996), o qual considera dois aspectos fundamentais: o tipo de interdependência que se estabelece entre os agentes e as formas de controle que predominam em cada tipo de arranjo. Destacam-se também análises baseadas na caracterização de modelos estilizados de arranjos produtivos - de caráter mais ou menos cooperativo – que poderiam ser associados à noção de “redes de firmas”, dentre as quais é possível mencionar as de Paché (1991), Garofoli (1993), Langlois e Robertson (1995) e Coriat (1995). Apesar dos diversos problemas inerentes a esse tipo de classificação tipológica, essas análises ressaltam a presença de “formas plurais” (Bradach e Eacles, 1989; Hamilton e Fenestra, 1995) de governança, evidenciando que mera caracterização das redes de firmas como estruturas “híbridas” localizadas no meio termo entre a firma e o mercado não é suficiente para captar a variedade de soluções institucionais associadas a estes arranjos. A diversidade dessas soluções institucionais reforça a importância de uma caracterização cuidadosa dos “regimes de transação” (Knorringa, 1994) subjacentes às redes de firmas. Neste sentido, alguns aspectos devem ser considerados. Em primeiro lugar, é importante identificar a estrutura de poder subjacente a estes arranjos, ressaltando-se os mecanismos internos de resolução de conflitos e a especificidade da concorrência interna existente entre os componentes da rede. Este aspecto remete a discussão no sentido da discussão da conformação hierárquicofuncional do arranjo, relacionada à estrutura de poder subjacente às suas relações internas. Basicamente, esta dimensão diz respeito ao tamanho relativo dos agentes 41 participantes do arranjo, bem como ao grau de centralização das relações internas que o conformam. Ë importante identificar também grupos homogêneos de agentes que estabelecem um padrão similar de relacionamentos com os demais, de modo a captar a estratificação interna da rede. O detalhamento das características dos “regimes de transação” de redes de firmas requer também a discussão de outros aspectos. Em especial, é importante considerar as especificidades das sistemáticas contratuais que regem as interações entre agentes, as quais envolvem tanto mecanismos de incentivo específicos – responsáveis pela repartição dos ganhos de produtividade e das “quase rendas” geradas através do arranjo - como formas particulares de resolução dos conflitos no âmbito da rede. Além disso, é importante identificar elementos mais eminentemente estruturais daquelas formas de governança, tais como o grau de centralização de seus fluxos internos e a hierarquização dos relacionamentos intra-rede. A identificação das principais formas de coordenação das decisões ao nível da rede é também importante, ressaltando-se o objeto desta coordenação - que pode envolver múltiplas dimensões e a base contratual na qual ela se apóia8 . Por fim, é importante identificar valores, regras e códigos de comportamento não formalizados entre os membros da rede, os quais reforçam a coesão interna da estrutura ao longo do tempo. Considerando estes aspectos, é possível avançar no sentido da identificação de elementos que possibilitem “formatar”, do ponto de vista analítico, a diversidade institucional das redes de firmas. Com esse intuito, é possível considerar as interconexões que se estabelecem entre as características das tecnologias mobilizadas e os possíveis impactos em termos dos “regimes de transação” que caracterizam aqueles arranjos9 . De fato, a consolidação de arranjos inter-organizacionais baseados na repartição de funções produtivas entre parceiros não surge em um “vácuo”, estando fortemente condicionada pela complexidade das tecnologias que necessitam ser mobilizadas. Segundo Joly e Mangematin (1995), é possível identificar duas tendências que explicam o aumento da complexidade tecnológica do ambiente no qual as firmas se encontram inseridas. A primeira delas relaciona-se ao aumento da complexidade do processo de produção em termos do número de insumos (ou inputs) requeridos, o qual acarreta um aumento na utilização de recursos externos. Essa tendência refletese também no próprio produto gerado, cuja “arquitetura” em termos do padrão de integração de componentes pode ser extremamente complexa10 . Uma segunda tendência refere-se ao aumento do conjunto de conhecimentos e competências que necessitam ser integrados de modo a tornar factível a realização da produção. A complexidade das tecnologias integradas ao nível da rede afeta o processo de “governança” na medida em que impõe determinados requisitos quanto à compatibilização de procedimentos operacionais e transacionais, que devem ser satisfeitos através da coordenação das ações dos agentes. Em particular, é possível supor que quanto mais “complexo” for o ambiente tecnológico, mais importante será o acesso das firmas a ativos e competências complementares. 4. REGIMES DE TRANSAÇÃO EM MODELOS ESTILIZADOS DE REDES DE FIRMAS A partir dos elementos mencionados na seção anterior, é possível avançar no sentido de uma sistematização de “modelos estilizados” de redes de firmas e dos “regimes de transação” subjacentes. Visando captar a heterogeneidade institucional das redes de firmas, dois critérios de classificação destes arranjos são considerados: 42 (i) características das tecnologias empregadas em termos de determinados atributos técnicos, os quais definem um certo nível de complexidade para o processo de produção; (ii) características do ambiente sócio-cognitivo no qual a rede se insere, particularmente em termos da diversidade de conhecimentos e competências que necessitam ser mobilizados para produzir de maneira eficiente e para gerar inovações nos respectivos mercados. Com base nestes critérios, quatro tipos distintos de redes de firmas podem ser caracterizados, cujas características dos “regimes de transação” são discutidas a seguir. 4.1 Redes de Produtos Tradicionais Neste caso, os produtos gerados apresentam um caráter não-complexo, sendo produzidos em escala reduzida, a partir de uma base de conhecimentos relativamente simples. O número de componentes e subsistemas integrados ao produto é limitado, o que facilita a viabilização do processo produtivo com níveis satisfatórios de eficiência. Os ganhos competitivos estão tradicionalmente associados a um processo de “especialização flexível” (Piore e Sabel, 1994; Best, 1990) entre fornecedores, que resulta na queda dos custos de produção e no aumento da flexibilidade produtiva. As interações entre produtores e fornecedores são mediadas pela pré-definição de ordens de compra, observando-se um intercâmbio limitado de informações entre os membros da rede. Exemplos deste tipo de arranjo estão associados a diferentes indústrias, tais como têxtil, calçados, alimentar, móveis e artefatos de metal. Em termos das estruturas de governança, estas redes caracterizam-se pela presença de um nível elevado de dispersão dos agentes pelo ambiente econômico, envolvendo um baixo nível de hierarquização interna e estando baseadas na especialização funcional de empresas independentes. De forma estilizada, estes arranjos podem ser caracterizados como redes policêntricas, nas quais os atores cooperam ou competem entre si de forma voluntária, através de um conjunto de relações verticais e horizontais. Em certo sentido, estas redes podem ser vistas como uma evolução e sofisticação do sistema tradicional de putting-out, envolvendo interações mediadas pela pré-definição de ordens que devem ser atendidas por fornecedores. A coordenação dos fluxos internos nestes arranjos envolve duas alternativas principais. A primeira delas baseia-se numa coordenação promovida por agentes externos, responsáveis pela distribuição dos produtos gerados (dealers), os quais, muitas vezes, são responsáveis pela definição de novos tipos de design que devem ser atendidos pelos fornecedores. A segunda alternativa envolve uma coordenação promovida por firmas de maior porte - localizadas nos estágios finais da cadeia produtiva ou que são fornecedoras de insumos críticos - as quais, em função do seu nível de capacitação, também atuam na definição do design dos produtos. Contudo, estas alternativas estão usualmente baseadas em contratos de curto prazo, que raramente incluem mecanismos de incentivo indutores da repartição de ganhos técnico-produtivos ao longo da cadeia de suprimento. Apesar da presença de empresas de maior porte que eventualmente assumem o papel de coordenação dos fluxos internos desses arranjos, uma característica básica dos mesmos é a presença de um número elevado de pequenas empresas que conferem uma maior dispersão à conformação institucional desse tipo de rede. Brusco (1986) e Triglia (1992), em sua análise dos distritos industriais da “Terceira Itália”, identificam três tipos distintos de pequenas empresas presentes nestes arranjos. O primeiro deles compreende pequenas empresas “tradicionais”, que produzem bens não padronizados diretamente para o mercado, baseando sua posição competitiva nos baixos custos 43 salariais e na pequena proteção ao trabalhador (geralmente contratado de forma temporária). O segundo tipo compreende pequenas firmas dependentes de compradores maiores, que com eles estabelecem relações tradicionais de subcontratação, produzindo partes e componentes baseados no baixo custo da mãode-obra. Finalmente, um terceiro tipo de agente compreende a “firma típica” (idealizada) do modelo de especialização flexível, a qual estaria integrada a um sistema de divisão de trabalho para o qual não é possível identificar relações nítidas de dependência hierárquica, com as vantagens competitivas sendo originárias de “externalidades” geradas no âmbito da rede e do próprio dinamismo produtivo e tecnológico gerado pelas relações entre agentes. É possível identificar três aspectos que conferem uma maior organicidade ao “regime de transação” nestes arranjos. Em primeiro lugar, destaca-se o papel crucial desempenhado pela presença de “economias externas” específicas ao espaço territorial onde interagem os agentes, relacionadas à possibilidade de se reproduzirem e difundirem conhecimentos técnicos e qualificações profissionais especializadas que conferem vantagens competitivas para os participantes do arranjo. Em segundo lugar, destaca-se a presença, neste tipo de arranjo, de um balanceamento entre regras de interação estritamente mercantis e regras de “regulação social” estabelecidas ao nível local, que se refletem na criação de instituições especificamente dedicadas à resolução de problemas de “market failure” e ao reforço de valores baseados em princípios de solidariedade social. Finalmente, em terceiro lugar, destaca-se a realização de um elenco de ações conjuntas e coordenadas entre os agentes, as quais resultam numa ampliação dos níveis de “eficiência coletiva” (Schmitz, 1994) proporcionados pelo arranjo. Essa “eficiência coletiva” é geralmente associada a um processo dinâmico que permite a redução dos custos de transação e o aumento das possibilidades de diferenciação de produto ao longo do tempo, em virtude do intercâmbio de informações e do fortalecimento de laços cooperativos entre os agentes. Destaca-se também a circulação de informações e o desenvolvimento de uma capacitação comercial e mercadológica que facilita a antecipação das tendências de comportamento do mercado, viabilizando a rápida introdução de novos produtos em função destas tendências. Um aspecto recorrentemente mencionado como elemento constitutivo do “regime de transação” neste tipo de arranjo refere-se à implementação de ações coletivas indutoras de aumentos dos níveis de eficiência. Considerando a sistematização proposta por Humphrey e Schimitz (1996), é possível identificar algumas características das “ações coletivas” adotadas neste tipo de arranjo. Em particular, destacam-se ações coletivas multilaterais de caráter horizontal, baseadas na associação entre um conjunto de firmas similares visando a realização de uma tarefa qualquer. Como exemplo, é possível citar a montagem de centros prestadores de serviços técnicos especializados para as firmas atuantes nestes distritos, os quais funcionam como núcleos geradores de “externalidades” ao nível da rede. Destaca-se também a montagem de associações empresariais locais que funcionam como núcleo de intercâmbio de informações e competências, operando também como grupos de pressão dos interesses de seus membros no plano político-institucional. 4.2 - Redes de Produtos Modulares Os produtos gerados nestes arranjos são obtidos através de um processo de produção em massa, estando baseados numa “arquitetura modular” de componentes e subsistemas. Neste caso, o processo de produção envolve uma complexa hierarquia de componentes que necessitam ser integrados ao nível da rede. Exemplos de indústrias 44 de montagem de produtos baseados numa “arquitetura modular”, tais como a automobilística, computadores e equipamentos eletrônicos podem ser associados a este tipo de arranjo. Os ganhos competitivos gerados envolvem não apenas a redução do custo e o aumento da performance dos componentes, mas também o aumento da variabilidade do “mix” de produtos gerados, devido à possibilidade de ampliaçãodiversificação da linha de produtos e de incorporação de inovações incrementais, a partir de mudanças nos componentes integrados através de uma “arquitetura modular”. A estrutura de governança associada a este tipo de arranjo baseia-se no papel central desempenhado por uma firma montadora que opera como vértice central da rede. É também comum a hierarquização de fornecedores de subsistemas e componentes em diferentes níveis - fornecedores de primeiro nível, fornecedores de segundo nível, etc. - em função de suas competências técnicas e do grau de interação dos mesmos com a firma montadora que coordena os fluxos internos da rede. Quanto mais próximo estiver um fornecedor da firma montadora que ocupa a posição central na estrutura de governança do arranjo, mais intenso e multidimensional tende a ser o processo de coordenação11 e o intercâmbio de informações associado. Para uma grande firma que opere como núcleo central desse tipo de rede, a montagem de tal arranjo resulta em custos de coordenação, gestão operacional, normalização técnica e na compatibilização dos avanços tecnológicos realizados a partir de articulações com outros agentes. Para minimizar estes custos, três estratégias costumam ser utilizadas. A primeira delas compreende uma redução do número de empresas participantes da rede direta de subcontratação das empresas montadoras, de maneira a garantir um maior grau de interatividade nestes relacionamentos. A segunda estratégia compreende uma estruturação hierárquica das relações de subcontratação, através da qual cada firma subcontratada se compromete a organizar e gerir uma nova “rede” composta pelos fabricantes de insumos que ela vier a adquirir. A terceira estratégia refere-se à utilização de novas tecnologias de informação e telecomunicação (EDI, por exemplo) visando agilizar o intercâmbio de informações entre os agentes. Em arranjos mais estruturados, as interações não se limitam à definição unilateral pelas montadoras dos padrões técnicos e das inovações a serem incorporadas produtivamente. Ao contrário, observa-se uma forte interatividade nas relações clientefornecedor, com as empresas montadoras atuando em dois sentidos principais: (i) na definição de especificações gerais de componentes, a serem aperfeiçoadas e alteradas pelos fornecedores em função do processo de desenvolvimento tecnológico; (ii) na identificação de determinados requerimentos de performance a serem considerados, que orientam a realização de um trabalho conjunto de desenvolvimento com os fornecedores. Nestas redes, os mecanismos mobilizados no intuito de coordenar as ações das firmas participantes do arranjo (montadoras e fornecedores) costumam ser bastante complexos. Na órbita produtiva, estes mecanismos envolvem métodos sofisticados de planejamento da produção, bem como o uso amplo de protocolos orientadores das articulações entre empresas, baseados em princípios do sistema just-in-time. Os mecanismos de coordenação dos fluxos internos à rede envolvem também projetos específicos orientados ao co-desenvolvimento de componentes e subsistemas entre montadoras e fornecedores, bem como a adaptação da arquitetura modular do produto, para propiciar a obtenção de uma maior variedade de produtos. Em termos do arcabouço contratual utilizado, esta coordenação está geralmente baseada em contratos de longo prazo, incorporando mecanismos de incentivo 45 específicos que visam estimular o aumento da produtividade e qualidade dos componentes gerados. Não apenas é possível observar a disseminação de contratos de longo prazo neste tipo de arranjo, como também uma expectativa de que os relacionamentos empresariais perdurarão além do período estabelecido nos contratos, devido à confiança mútua que nortearia aqueles relacionamentos. A busca contínua da melhor performance, maior qualidade/nível tecnológico e menor custo de peças e componentes faz com que os contratos de longo prazo que norteiam os relacionamentos intra-rede sejam pouco amarrados do ponto de vista formal, permitindo a adaptação dos mesmos em função dos resultados obtidos. Algumas evidências também sugerem que uma importante forma de coordenação das relações cliente-fornecedor nesse tipo de arranjo diz respeito à participação do principal cliente na estrutura acionária dos fornecedores. 4.3 Redes de Produtos Complexos Estes arranjos estão orientados à obtenção de produtos sofisticados, intensivos em esforços de engineering e que envolvem a pré-definição de um projeto no qual são definidos os atributos do produto e os requisitos de performance a serem atendidos. Estes bens são produzidos de forma unitária ou em escalas reduzidas, adaptando-se, em termos do padrão de performance, às exigências e necessidades de consumidores individuais. Como exemplos, destacam-se: sistemas de controle de tráfico aéreo, aeronaves e motores para aviões, sistemas de automação bancária, simuladores de vôo, construção naval, computadores do tipo mainframe, plantas nucleares e hidroelétricas, plataformas offshore, bens de capital sofisticados (turbinas, por exemplo), equipamentos de robótica, sistemas de satélite e defesa. A complexidade dos produtos gerados reflete-se na conformação institucional destes arranjos. Dentre os agentes presentes nos mesmos, destacam-se aqueles que atuam como “integradores de sistemas”, responsáveis pela integração de múltiplas competências e pela coordenação dos fluxos internos (tangíveis e intangíveis) da rede. Na medida em que estas redes estruturam-se de modo a possibilitar a viabilização de projetos complexos, a sua conformação baseia-se em interações entre um conjunto de fornecedores de subsistemas, componentes e softwares, cuja aproximação é função específica dos “integradores de sistemas”. É possível mencionar dois outros atores que, em circunstâncias específicas, também desempenham um papel importante nestas redes. A natureza das atividades realizadas reforça a importância de firmas de engenharia, as quais podem atuar não apenas na coordenação de etapas específicas do processo de produção, mas também elas próprias como “integradoras de sistemas”. Além disso, destacam-se agências governamentais de regulação, as quais, em determinadas circunstâncias, podem influenciar decisivamente o gerenciamento dos projetos desenvolvidos. As relações típicas destes arranjos envolvem firmas que atuam como “integradores de sistemas” e uma rede de fornecedores de componentes e subsistemas. A estrutura de governança do arranjo é relativamente “fluida”, estando baseada em projetos específicos de caráter transitório, nos quais se pode observar a definição prévia de tarefas a serem realizadas pelos membros da rede. Em função da diversidade de componentes e subsistemas que necessitam ser integrados ao projeto, verifica-se uma tendência à hierarquização da estrutura de governança do arranjo. Estas redes podem ser concebidas como arranjos de caráter “virtual”, estruturando-se através de task-forces ativadas pelos “integradores de sistemas” para viabilizar novos projetos, em função de exigências específicas dos compradores. Apesar do caráter transitório 46 de tais projetos, as articulações entre agentes comandadas pelos “integradores de sistemas” assumem um caráter sistemático, extrapolando a duração do referido projeto, visando permitir a mobilização dos recursos e competências assim que a mesma se fizer necessária. A coordenação dos fluxos internos à rede é a principal função desempenhada pelos “integradores de sistemas” no âmbito destes arranjos. Esta coordenação baseiase em técnicas de gerenciamento de projetos, envolvendo procedimentos definidos antes mesmo da montagem de task-forces para viabilização dos mesmos. O processo de coordenação envolve um número relativamente limitado de transações entre os “integradores de sistemas” e a rede de fornecedores de subsistemas,. Essas transações, além de envolverem valores extremamente elevados, estão associadas a um conteúdo complexo, que dificilmente pode ser especificado ex-ante. Como a tarefa delegada aos fornecedores deve ser ajustada em função do gerenciamento do projeto e da necessidade de compatibilização das diversas tecnologias incorporadas ao produto, os relacionamentos intra-rede são usualmente regulados por contratos incompletos, envolvendo preços negociados que muitas vezes incorporam “mecanismos de incentivo” ao aumento da produtividade e à busca de maior eficiência na tarefa realizada. No processo de coordenação intra-rede, é possível observar o uso intensivo de tecnologias de informação, assim como de técnicas de “engenharia paralela” (parallel engineering) que aumentam a performance das atividades realizadas. A necessidade de configurar a estrutura de hardware e software em função das necessidades de usuários também pode exigir ajustes nos procedimentos de coordenação comandados pelos “integradores de sistemas”. Além disso, como os produtos gerados destinam-se, muitas vezes, a setores de infra-estrutura, é comum que as inter-relações intra-rede estejam sujeitas a diferentes formas de regulação institucional, adicionando um elemento a mais à dinâmica do processo de coordenação. 4.4 Redes de Desenvolvimento Tecnológico Estas redes estruturam-se no intuito de viabilizar a geração e aplicação produtiva de novas tecnologias, ainda em estágio inicial de seu ciclo de vida, que se baseiam em conhecimentos complexos e requerem vultosos investimentos em P&D. Neste caso, destacam-se as atividades desempenhadas por empresas de “alta tecnologia” (hightechnology firms) de tamanho reduzido, especializadas em campos específicos do conhecimento e que desempenham um papel central na viabilização do processo inovativo. Outro aspecto particularmente importante dessas redes é a rotinização de inter-relacionamentos cooperativos entre firmas inovadoras e agentes inseridos na infra-estrutura científico-tecnológica - universidades, institutos de pesquisa, centros de transferência etc. Exemplos deste tipo de arranjo estão geralmente associados a indústrias de alta tecnologia, tais como as de biotecnologia, ótica, novos materiais e semicondutores. Os ganhos competitivos proporcionados estão associados à integração de competências e qualificações complementares, o que aumenta a eficácia do processo de P&D, permitindo reduzir o “lead time” do desenvolvimento de novas tecnologias. Os principais atores presentes neste tipo de rede são empresas de “base tecnológica” (spin-offs) - nas quais concentra-se o esforço inovativo - que se articulam com empresas de setores usuários das tecnologias geradas, com fornecedores de componentes, equipamentos e serviços, assim como com universidades e institutos de pesquisa. Os relacionamentos estabelecidos estão geralmente associados à divisão de tarefas no ciclo P&D-produção. Neste tipo de arranjo é possível observar uma convergência dos fluxos internos às redes no sentido de empresas de base tecnológica. 47 Algumas vezes, estas firmas estabelecem relações de subcontratação com outros agentes como fornecedoras (quando elas interagem com firmas usuárias das tecnologias desenvolvidas, de que são exemplo as relações entre empresas de biotecnologia e companhias farmacêuticas); outras vezes elas atuam como clientes no processo de subcontratação (quando interagem com agentes inseridos na infraestrutura científico-tecnológica, como universidades e institutos de pesquisa). Outros relacionamentos importantes destes arranjos são aqueles que envolvem empresas de base tecnológica e instituições financeiras (bancos e empresas de venture-capital, por exemplo), empresas especializadas na prestação de serviços tecnológicos (laboratórios, escritórios de patentes, etc.), empresas especializados na prestação de consultoria gerencial (escritórios de advocacia e contabilidade, por exemplo), assim como fornecedores e clientes. A estrutura de governança desse tipo de arranjo baseia-se numa definição relativamente fluída de tarefas e responsabilidades, de acordo com os requerimentos associados à integração dos diferentes estágios do processo de P&D. Apesar disso, três alternativas em termos da estrutura de governança costumam ser associadas a este tipo de arranjo. A primeira possibilidade envolve situações nas quais o setor usuário da tecnologia gerada induz a consolidação do arranjo, estabelecendo vínculos cooperativos com empresas de base tecnológica (spin-offs) responsáveis pelo desenvolvimento de tecnologias específicas. A segunda alternativa contempla situações nas quais as empresas de base tecnológica atuam como líderes da rede, coordenando a divisão de trabalho com outras firmas inseridas no arranjo. A terceira alternativa compreende a consolidação de redes compactas, estruturadas a partir da pré-existência de um contexto social - social millieu, na definição de Maillat, Crevoisier e Lecoq (1994) - que cria possibilidades múltiplas de inovação para os vários parceiros, baseado em regras de comportamento cooperativo definidas no âmbito da comunidade a que pertencem os agentes. Em função da complexidade institucional destes arranjos, as formas de coordenação assumem um caráter específico. Na fase de consolidação destas redes, a realização de projetos de P&D coordenados por firmas de base tecnológica é particularmente relevante. Nesta fase, destacam-se também formas mais amplas de coordenação, baseadas em programas cooperativos de caráter público ou semi-público. A impossibilidade de definir-se um “resultado” para estes projetos de maneira precisa resulta no uso de “contratos incompletos” enquanto instrumento de regulação das interações entre firmas. Dentre os diferentes aspectos destes contratos, particular importância é geralmente atribuída à pré-definição negociada das condições de apropriabilidade das inovações a serem geradas. Na medida em que a interação entre os agentes perdure e se aprofunde ao longo do tempo, é provável que ocorra uma progressiva formalização dos mecanismos de coordenação e da base contratual que orienta as relações entre firmas. São bastante comuns situações nas quais este processo de “formalização” se combina com uma progressiva “centralização” da estrutura da rede. Comparados com outros tipos de arranjos, estas redes operam como estruturas mais voláteis, uma vez que a viabilização do processo inovativo pode requerer mudanças expressivas em sua estrutura e nas tarefas desempenhadas pelos agentes. Observase também uma tendência à realização de ajustes na estrutura de governança destes arranjos, em função da evolução do “ciclo de vida” das tecnologias e produtos gerados. Ao longo dos diferentes estágios deste ciclo, o grau de centralização da estrutura tende a aumentar, com o arranjo progressivamente transformando-se de estruturas 48 orientadas estritamente a atividades de pesquisa em arranjos com um caráter mais nitidamente produtivo. Como reflexo deste processo de centralização, é possível mencionar a inter-penetração dos direitos de propriedade entre empresas de base tecnológica e empresas localizadas nos setores finais usuários das tecnologias geradas, a qual funciona como mecanismo de incentivo que favorece a sustentação de determinadas formas de cooperação. Este processo pode resultar, inclusive, na aquisição de firmas de base tecnológica por empresas de maiores dimensões. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Algumas linhas promissoras de investigação podem ser identificadas como desdobramentos da análise realizada ao longo do artigo. A primeira delas envolve um esforço de maior fôlego teórico, no qual os conceitos originalmente formulados pela Teoria dos Custos de Transação – como os de especificidade de ativos, oportunismo, confiança, e contratação relacional – seriam utilizados para descrever, com o necessário rigor, as principais características dos diferentes “modelos estilizados” de arranjos identificados na análise. Uma segunda linha de investigação está relacionada à tentativa de correlacionar-se a evolução de mudanças institucionais nos diversos tipos de arranjos à evolução do ambiente tecnológico e às pressões competitivas às quais os mesmos se encontram sujeitos. De maneira a captar-se essas transformações, o aprofundamento de investigações empíricas constitui um passo absolutamente fundamental da análise. Finalmente, uma terceira linha de investigação refere-se à discussão de possíveis desdobramentos normativos da análise realizada, em termos de medidas de política indutoras da consolidação e fortalecimento daqueles arranjos. BIBLIOGRAFIA ALCHIAN A. e WOODWARD, S. “The firm is dead: long live to the firm”; Journal of Economic Literature, XXVI, 65-79, 1988 AOKI, M.; GUSTAFSSON, B.; WILLIAMSON, O.E. (eds.) “The Firm as a Nexus of Treaties”, Sage Publications, London, 1990 ARCANGELI, F., BELUSSI, F. 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(*) Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense. E-mail: [email protected]. Este artigo é uma versão modificada de parte do Capítulo II da tese de doutorado “Características estruturais e modus-operandi das redes de firmas em condições de diversidade tecnológica” defendida junto ao IE-UFRJ. 1 A noção de “embeddedness” (Grabher, 1993) refere-se às influências estabelecidas entre a estrutura de relações e o comportamento dos agentes, que se manifestam no interior de um ambiente econômico com determinadas especificidades institucionais. 2 Em primeiro lugar, o custo de utilização do mercado é explicado pela necessidade de se estabelecer um contato entre as partes e de se identificar quais os “preços pertinentes” que influenciam a tomada de decisões. Outro custo implícito na utilização do mercado decorre dos gastos com a negociação, conclusão e elaboração de contratos entre as partes de cada transação. Em condições de incerteza, os agentes participantes devem levar em conta os custos ex-ante de fixar e negociar as contrapartidas e salvaguardas dos contratos e os custos ex-post de monitoramento, renegociação e adaptação dos seus termos a novas circunstâncias. 54 3 Quando a especificidade dos ativos aumenta, os custos de transação tendem a elevar-se e as economias de escala associadas à produção externa tendem a reduzir-se, atingindo-se um ponto de inflexão (point of crossover) a partir do qual as desvantagens do mercado em termos dos custos de transação superam eventuais vantagens. 4 Segundo Bakos e Brynjolfsson (1993), o processo de contratação de novos fornecedores teria continuidade até que o custo marginal da busca se igualasse à expectativa de benefício marginal associado à incorporação de novos fornecedores. Supõe-se que o aumento no número de fornecedores reduz substancialmente a parcela do retorno marginal sobre o investimento apropriado por cada um deles. Isto limita os incentivos que estes fornecedores têm para investir, o que tenderia a conduzir a situações sub-ótimas em termos de eficiência. 5 Como exemplo é possível citar compromissos assumidos entre determinada firma e seus fornecedores em termos da realização de investimentos visando elevar a qualidade e o nível tecnológico dos insumos e componentes adquiridos. De fato, este “esforço”, apesar de poder ser claramente identificado pelas partes envolvidas, dificilmente pode ser especificado ex-ante com maior grau de detalhamento. Ele envolveria, portanto, um determinado “compromisso” entre as partes, com o “valor” gerado sendo repartido ex-post em função do poder de barganha de cada uma delas. 6 Quatro tipos de ações coletivas podem ser identificadas: (i) ações coletivas bilaterais de caráter horizontal, envolvendo pares de firmas que realizam o mesmo tipo de atividade; (ii) ações coletivas bilaterais de caráter vertical, envolvendo ligações entre duas firmas atuantes em diferentes estágios da cadeia produtiva; (iii) ações coletivas multilaterais de caráter horizontal, quando um conjunto de firmas similares decide se articular de modo a realizar uma tarefa qualquer; (iv) ações coletivas multilaterais de caráter vertical, envolvendo diversas firmas localizadas em diferentes pontos da cadeia produtiva que se articulam de modo a atingir um objetivo comum. 7 Essa capacidade de adaptação é correlacionada por estes autores aos conceitos de “reversibilidade” e “retratbilidade”. O conceito de “reversibilidade” associa-se à possibilidade de rearranjos das funções dos agentes no interior da rede em função de estímulos ambientais, enquanto o conceito de “retratibilidade” associa-se a mudanças na estrutura do arranjo decorrentes da entrada e saída de agentes. 8 Quanto a este aspecto, é importante ter claro qual a natureza específica das “ações conjuntas” (joint-actions) adotadas pelos membros da rede, as quais permitem a obtenção de ganhos de eficiência, facilitando a repartição de tarefas e possibilitando um enfrentamento coordenado da turbulência ambiental. 9 ATCT geralmente analisa a influência da complexidade tecnológica no contexto mais geral das decisões entre compra ou internalização da produção (make-or-buy decisions). Considerando esta complexidade como evidência de um elevado grau de especificidade dos ativos, a TCT costuma correlacioná-la à geração de estímulos a processos de integração vertical. 10 Henderson e Clark (1990) salientam esse aspecto, utilizando o conceito de “configuração da arquitetura do produto” para definir os padrões através dos quais componentes e subsistemas interagem entre si. Nesse sentido, os requisitos de compatibilidade entre componentes e a necessidade de um certo balanceamento entre a performance dos mesmos condicionam o aperfeiçoamento do sistema. Alguns autores correlacionam esse aspecto à existência de pontos de estrangulamento que orientam a realização de desenvolvimentos tecnológicos, tais como os de “technological guideposts” (Sahal, 1985) e “reverse salients” (Hughes, 1983). 11 Para uma discussão sobre este processo ver, por exemplo, Liker, Kamagh, Wasti e Nagamachi (1996). 55 56