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DIVERSIDADE TECNOLÓGICA E REGIMES
DE TRANSAÇÃO EM REDES DE FIRMAS
Jorge Britto( *)
ABSTRACT
The article discusses the institutional diversity of inter-firm networks, suggesting
that they should be understood as institutional forms conditioned by the characteristics
of technologies that have to be mobilised to make feasible the production in these
environments The analysis begins with a discussion of how the concept of inter-firm
networks can be characterised in a transaction cost perspective. A critical analysis of
the transaction costs approach is also developed, emphasising the importance of a
more detailed discussion of the “transaction regime” of these networks, in order to
capture their institutional specificity. Then, some elements associated with the
technological diversity of the environment are used to characterise the transaction regime
of different “stylised models” of inter-firm networks. Specifically, four kind of networks
are identified: traditional products networks, modular products networks, complex
products networks and technology-based networks. The main characteristics of those
“stylised models” are presented, emphasising the specificity of governance structure in
each situation. Finally, a conclusive section identifies some investigation lines to be
explored in the future
1 - INTRODUÇÃO
A moderna literatura institucionalista tem utilizado de maneira recorrente o
conceito de “redes de firmas” para analisar conformações inter-organizacionais
caracterizadas pela densidade de relacionamentos cooperativos entre agentes. Tal
conceito incorpora uma crítica contundente à divisão artificial entre o agente econômico
e o ambiente externo no qual o mesmo se insere, pressupondo que este ambiente se
encontra institucionalmente estruturado em função da densidade de vínculos
transacionais, produtivos e tecnológicos estabelecidos entre as agentes interdependentes.
Na discussão das características das “redes de firmas”, a Teoria dos Custos
de Transação - formulada originariamente por Coase (1937 e 1988) e sedimentada
através dos trabalhos de Williamson (1975, 1981, 1985, 1991 e 1993) - constitui uma
referência teórica fundamental. Em relação à microeconomia tradicional, a TCT desloca
o eixo central da discussão da eficiência alocativa baseada em uma análise marginal
no sentido da discussão da eficiência de diversas formas organizacionais e institucionais.
Quatro elementos básicos são integrados no interior deste referencial teórico: (i) atributos
particulares das transações realizadas; (ii) características específicas das formas
organizacionais mobilizadas na coordenação das transações; (iii) princípios
comportamentais que dão coerência à conduta dos agentes, associados a uma
“racionalidade limitada” que, apesar de impossibilitar um cálculo racional maximizador,
resulta em procedimentos aproximativos orientados à busca de maior eficiência
organizacional; (iv) sistemáticas contratuais que orientam a realização de transações.
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Como hipótese básica, supõe-se que a coordenação de atividades econômicas envolve
uma adequação das formas organizacionais (e institucionais) aos atributos das
transações realizadas, mobilizando-se uma sistemática contratual condizente com estes
atributos e tendo-se, como objetivo básico, a minimização dos custos de transação, o
que garantiria maior eficácia ao processo de coordenação.
A teoria dos custos de transação tradicionalmente concebe as redes de firmas
como formas “intermediárias” ou “híbridas” de governança, localizadas no meio termo
entre a firma integrada e o mercado atomizado (Thorelli, 1986; Jarillo, 1988; Williamson,
1991). Ao longo do artigo, utiliza-se essa conceitualização como referência teórica
fundamental, procurando-se discutir possíveis desdobramentos daquela análise em
termos de uma caracterização mais detalhada dos mecanismos de coordenação (ou
governança) presentes nestes arranjos. Em particular, procura-se incorporar à análise
elementos objetivos que permitam uma melhor caracterização dos “regimes de
transação” (Knorringa, 1994) que lhes são específicos. Sugere-se, nesse sentido, que
as características destes regimes são decisivamente afetadas pelo grau de
hierarquização interna das redes, o qual, por sua vez, é influenciado pelo tamanho
relativo de seus membros e pelo padrão de especialização que os mesmos apresentam
nos relacionamentos estabelecidos entre si.
Além disso, procura-se incorporar à análise elementos que permitam “formatar”
a diversidade institucional das redes de firmas. Com esse intuito, enfatiza-se a
especificidade das tecnologias mobilizadas ao nível desses arranjos. Argumenta-se,
nesse sentido, que os mecanismos de operação das redes de firmas são condicionados
por características específicas das tecnologias que necessitam ser mobilizadas para
tornar factível a produção com níveis satisfatórios de eficiência nos respectivos
ambientes industriais. Procura-se, assim, qualificar o conceito de ‘embeddedness’
(Grabher, 1993) associado à discussão desses arranjos, de maneira a considerar como
os padrões tecnológicos dos contextos industriais afetam os mecanismos de
coordenação presentes nos mesmos1 .
O artigo está dividido em quatro seções, além dessa introdução. A Seção 2
apresenta um quadro sintético de como o conceito de “redes de firmas” é retratado no
âmbito da visão standard da Teoria dos Custos de Transação. A Seção 3 discute a
conexão existente entre a diversidade institucional das redes de firmas – relacionada
aos “regimes de transação” que podem ser encontrados em diferentes tipos de arranjos
– e a complexidade tecnológica do ambiente no qual estes arranjos se encontram
inseridos. A Seção 4 explora empiricamente esta conexão, discutindo as particularidades
dos “regimes de transação” em quatro “modelos estilizados” de redes de firmas: redes
de produtos tradicionais; redes de produtos modulares; redes de produtos complexos;
redes de desenvolvimento de tecnológico. Finalmente, uma seção conclusiva (Seção
5) procura identificar algumas linhas de investigação possíveis de serem exploradas a
partir de desdobramentos da análise realizada.
2. AS REDES DE FIRMAS COMO ESTRUTURAS DE GOVERNANÇA
Contrapondo-se à visão tradicional da firma como unidade abstrata de produção,
as análises formuladas com base na TCT procuram demonstrar que a busca genérica
de maior “eficiência” reflete-se diretamente no padrão de conduta dos agentes,
resultando em idiossincrasias nas maneiras como estes agentes organizam e
coordenam as diferentes atividades econômicas. Na busca da minimização dos custos
36
de transação relativos a fatores de produção especializados, a firma seria induzida a
estabelecer uma fronteira eficiente entre as atividades que tem interesse em controlar
por meio de processos de integração e aquelas para as quais será mais vantajoso
recorrer à realização de transações no mercado.
Este processo de ajustamento está associado à montagem de estruturas de
governança específicas. As estruturas de governança relacionam-se ao arcabouço
contratual implícito ou explícito dentro da qual a transação é viabilizada, compreendendo
desde relações de compra e venda particularizadas até organizações internas às firmas
(hierarquias) e formas mistas, que combinam elementos de interações mercantis com
mecanismos de adaptação e ajuste de tipo administrativo. Williamson (1985 e 1991)
sugere que as organizações realizam adaptações de caráter autônomo nas estruturas
de governança, em função das sinalizações oferecidas pelo sistema de preços.
Entretanto, existem determinados distúrbios ambientais, não necessariamente captados
pela evolução dos preços relativos, que requerem uma adaptação qualitativamente
mais complexa, envolvendo a coordenação de ações realizadas por diversas instâncias
funcionais integradas à estrutura interna da firma (“hierarquia”). O processo de
internalização decorre do custo implícito na utilização do mercado (via mecanismos de
preço) como elemento de coordenação das atividades produtivas2 . A dinâmica
organizacional obedece, assim, a uma lógica baseada no princípio de “first order
economizing”, associado à minimização dos custos de transação que interferem na
passagem de um modo organizacional para outro.
No entanto, é possível identificar limites concretos ao processo de internalização
de transações pela firma. Por um lado, essa internalização pode envolver a montagem
de sistemas complexos, que garantam o intercâmbio de informações e a logística de
operação com a eficácia necessária, o que não é uma questão trivial. Por outro lado, a
própria rigidez de estruturas integradas pode gerar uma inércia intra-organizacional,
criando dificuldades de adaptação em ambientes competitivos mais dinâmicos, ou
sujeitos a um elevado grau de incerteza. Desse modo, a análise da TCT evolui de uma
distinção inequívoca entre mercados e firmas como arranjos institucionais (institutional
set-ups) possíveis de serem selecionados com base em critérios de eficiência no sentido
da investigação de “formas intermediárias” (Williamson, 1985), que freqüentemente
criam um arcabouço institucional eficaz para a realização de transações, tais como
formas de governança bilaterais, baseadas em mecanismos de “contratação relacional”
(relational contracting), e formas de governança trilaterais, envolvendo instâncias de
mediação dos interesses dos agentes (third parties).
Para a TCT, as redes de firmas são geralmente retratadas como “formas
híbridas” de governança localizadas no meio termo entre a firma integrada e o mercado
atomizado, caracterizando-se pelo intenso intercâmbio de bens e serviços - e dos
respectivos fluxos de informações - no âmbito de relacionamentos inter-industriais
sistemáticos. Em linhas gerais, é possível referenciar esse tipo de arranjo a quatro
elementos utilizados para discutir a eficácia de diferentes formas de governança: (i)
instrumentos particulares mobilizados para viabilizar o processo de coordenação, em
função de atributos particulares das transações realizadas; (ii) mecanismos de controle
institucionalmente construídos que orientam o comportamento dos agentes; (iii) a
presença de um determinado arcabouço contratual que sustenta os relacionamentos
internos e externos às diferentes formas de governança; (iv) a capacidade de realizarse as “adaptações” requeridas face às mudanças nas condições ambientais.
As transações são consideradas as unidades básicas de análise neste tipo de
abordagem, na medida em que é a partir de atributos das mesmas que serão
37
selecionadas estruturas de governança mais ou menos eficazes. Basicamente, as
transações podem ser caracterizadas em função de três atributos: freqüência, incerteza
e especificidade dos ativos envolvidos. Em termos do conteúdo das transações, o
elemento crítico a ser considerado é a especificidade dos ativos. O conceito de
especificidade dos ativos relaciona-se à facilidade pela qual um ativo pode ser deslocado
para usos alternativos sem perda de seu valor produtivo. Em particular, quanto mais
elevada for esta especificidade, mais provável será a ocorrência de um processo de
“internalização”, realizado por meio de hierarquias internas aos agentes3 .
Williamson (1991) assume que o nível de especificidade dos ativos (H) e as
formas organizacionais (O) selecionadas não são mutuamente afetados, de tal modo
que, para diferentes níveis de H supostos como dados, uma escolha particular de O
conduziria a uma minimização dos custos de transação. Uma vez que a especificidade
dos ativos seja nula, as formas organizacionais podem preservar sua identidade,
adaptando-se a perturbações exógenas percebidas através de sinalizações dos preços
relativos. Inversamente, uma vez que a especificidade dos ativos se eleve, desenvolvese uma relação de “dependência bilateral” - envolvendo uma interação mediada pela
“lei de pequenos números” (small numbers) - entre unidades produtivas, a partir da
qual são realizadas adaptações que requerem um maior grau de coordenação entre
as ações dos agentes. Esta coordenação provoca mudanças organizacionais que
podem contemplar tanto a internalização total de atividades - no caso de ativos
“altamente específicos” - como a cooperação sistemática entre agentes formalmente
independentes - no caso de ativos “semi-específicos”. Em função do aumento da
especificidade dos ativos, evolui-se de uma coordenação realizada pelo “mercado” na
direção de uma coordenação promovida pela “hierarquia”; por outro lado, situações
intermediárias desta “especificidade” são particularmente favoráveis à coordenação
por “formas híbridas”. Define-se, desse modo, uma “fronteira eficiente” no tocante à
seleção de diferentes formas organizacionais, caracterizada por três intervalos bem
definidos, cada um deles associado a uma forma particular de coordenação.
É possível introduzir algumas qualificações em relação à visão standard da
TCT, de modo a incorporar interdependências que estão usualmente presentes entre
o nível de especificidade de ativos e a seleção de formas organizacionais com base
em critérios estritos de eficiência. De fato, a hipótese de que a especificidade dos
ativos e os atributos das formas organizacionais não são mutualmente afetados
dificilmente pode ser vista como realista. Quando uma firma opta por um processo de
integração vertical ou pelo estabelecimento de relações bilaterais com fornecedores, a
natureza dos ativos produtivos envolvidos costuma ser afetada. Em particular, as
adaptações que necessitam ser realizadas na órbita produtiva para permitir a integração
de competências externas e internas alteram a especificidade dos ativos de uma maneira
decisiva. Este processo assume um caráter cumulativo ao longo do tempo, devido a
mecanismos internos e externos de aprendizado. Três conseqüências desta dinâmica
podem ser salientadas: (i) a adaptação dos ativos produtivos em função das
necessidades de agentes envolvidos em interações sistemáticas, que ocorre como
subproduto de mecanismos interativos de aprendizado; (ii) o desenvolvimento de
interdependências produtivas, tecnológicas e organizacionais entre os agentes
envolvidos, que afeta a “racionalidade” de suas respectivas decisões; (iii) o
desenvolvimento de um processo de “auto-reforço” (self-reinforcing) das formas
organizacionais ao longo do tempo, o qual simultaneamente gera uma capacidade
endógena de adaptação e cria uma espécie de “inércia organizacional” (Langlois e
38
Robertson, 1994), que pode dificultar a realização de mudanças radicais nas estruturas
de governança.
Bakos e Brynjolfsson (1993) introduzem uma outra qualificação importante em
relação à versão standard da TCT, que explicaria a tendência observada à redução do
número de fornecedores diretos, apesar do impacto da adoção de novas tecnologias
de informação e comunicação em termos da redução dos custos de transação
associados a operações mercantis. Segundo estes autores, essa tendência pode ser
explicada ao alargar-se o conceito de “especificidade de ativos”, de maneira a incorporar
analiticamente os investimentos a eles associados. De fato, investimentos associados
a relacionamentos bilaterais sistemáticos geralmente envolvem uma série de dimensões
- relativas à qualidade, nível tecnológico e customização, dentre outras - que dificilmente
podem ser especificadas com precisão no arcabouço contratual dos relacionamentos,
o que limitaria as possibilidades de utilização do mercado como forma de governança4 .
Além da especificidade dos ativos, dois outros atributos das transações
influenciam os processos de “internalização”. Por um lado, quanto maior for a freqüência
da realização de determinada transação, mais factível será o desenvolvimento de
instituições estruturadas especificamente no intuito de operacionalizá-la de forma eficaz.
Por outro lado, a influência da incerteza sobre os processos de “internalização” decorre
do fato de que, em função da maior ou menor confiança dos agentes na sua capacidade
em antecipar acontecimentos futuros, podem ser estimuladas relações contratuais mais
flexíveis, com capacidade de adaptação à mutabilidade do ambiente.
A montagem arranjos organizacionais (e institucionais) eficazes pode também
ser correlacionada à montagem de um arcabouço contratual que crie uma
fundamentação legal para a realização de transações de forma eficiente. Este arcabouço
contratual deve contemplar a especificação de mecanismos incitativos que permitam
minimizar a ameaça de comportamentos oportunistas, a qual tende a estar presente
em situações de informação assimétrica e de forte dependência bilateral entre os
agentes. No que se refere à estrutura contratual implícita na realização de transações,
Williamson (1991) introduz algumas hipóteses: (i) contratos complexos são
inevitavelmente “incompletos” do ponto de vista institucional; (ii) todo contrato, ao
relacionar-se a uma promessa de venda, traz implícito o risco de um comportamento
oportunista dos agentes; (iii) ganhos serão obtidos se os contratos forem organizados
de maneira a salvaguardar as transações contra os riscos de um comportamento
oportunista dos agentes.
A formalização de contratos refere-se à possibilidade dos agentes definirem
com relativa precisão regras legais que orientem a repartição de ganhos e a resolução
de conflitos. Quando isto não é possível, pode-se optar pela realização de acordos
internos aos relacionamentos, em detrimento da resolução de litígios no mercado.
Uma solução alternativa seria a utilização de “contratos incompletos” como forma de
regulação das relações entre agentes. Estes contratos baseiam-se num horizonte de
longo prazo, incorporando mecanismos que conferem aos agentes um maior raio de
manobra quanto à sua conduta, permitindo-lhes responder satisfatoriamente a
perturbações não antecipadas do ambiente econômico. Bakos e Brynjolfsson (1993)
ressaltam que a montagem de um arcabouço contratual é afetada não apenas pelo
caráter “específico” (ou complexo) dos ativos envolvidos, mas também pela natureza
particular dos investimentos que devem ser realizados para obtê-los. O problema básico
refere-se a determinadas variáveis que interferem na execução da transação, as quais
não são facilmente “verificáveis”. Nestas circunstâncias, as partes tenderiam a não
39
incorporar explicitamente aquela variável ao arcabouço contratual, optando por repartir
eventuais ganhos através de uma barganha ex-post5 .
Um aspecto particularmente relevante de qualquer arcabouço contratual referese à satisfação dos interesses das partes envolvidas. De fato, cada agente individual
envolvido no arranjo tem um interesse particular que deve ser satisfeito na relação.
Desse modo, não basta apenas incrementar o nível de eficiência a partir da relação; é
necessário também que os ganhos associados à “quase-renda relacional” (Foray, 1991)
obtida sejam repartidos, de maneira a gerar benefícios condizentes com as expectativas
dos agentes. A montagem de uma sistemática contratual indutora de relações
cooperativas envolve, portanto, três aspectos, que devem ser equacionados pelas partes
envolvidas no arranjo: (i) a seleção do tipo de contrato mais adequado à realização de
transações; (ii) a incorporação de mecanismos de repartição da “quase-renda relacional”
gerada ao contrato; (iii) a incorporação de estímulos à busca de eficiência no âmbito
do arranjo contratual elaborado.
As diferentes formas de governança podem também ser discutidas em função
da capacidade das mesmas adaptarem o processo de coordenação às mudanças nas
condições do ambiente no qual se inserem. Em particular, esse aspecto associa-se ao
reforço da flexibilidade no processo de mobilização de recursos produtivos. Neste
sentido, a análise de Foray (1991), é bastante ilustrativa. Segundo Foray, um aspecto
fundamental na avaliação da eficácia de diferentes estruturas de governança referese à possibilidade de conciliar-se a apropriação de “quase-rendas compostas” com
requerimentos de “reversibilidade” dos recursos mobilizados. As “quase-rendas
compostas”, segundo a concepção de Alchian e Woodward (1988), referem-se a uma
parcela da quase-renda total dos recursos que depende de uma associação continuada
com outros recursos específicos. O conceito de “reversibilidade”, por sua vez, relacionase à necessidade dos agentes manterem uma certa flexibilidade no processo de
mobilização de recursos, com o intuito de explorar novas oportunidades e de melhor
enfrentar a incerteza inerente ao ambiente econômico.
A “reversibilidade” ou “flexibilidade” proporcionada pela montagem de redes
de firmas se explica em função diferentes elementos, tais como: (i) a montagem de
sistemas de produção flexíveis e a agilização dos fluxos de transação entre agentes;
(ii) a repartição de irreversibilidades associadas a investimentos de maior porte, com
conseqüente redução de sunk-costs para os agentes individuais; (iii) a adequação a
atributos da demanda baseados em preferências voláteis, por meio da incorporação
de princípios de “compatibilidade” entre produtos e componentes; (iv) a redução de
incertezas mercadológicas, associadas ao comportamento da demanda, e de incertezas
tecnológicas, associadas às configurações dos sistemas produtivos. Além desses
aspectos, destaca-se a possibilidade dos agentes, através desses arranjos,
coordenarem suas ações em períodos de desaceleração cíclica ou de maior turbulência
econômica. O reforço da flexibilidade decorre também da possibilidade dos agentes
compatibilizarem suas estruturas organizacionais, estilos gerenciais e estratégias de
conduta, sem que isto implique necessariamente a realização de fusões entre eles.
Finalmente, é possível citar a possibilidade de superar-se limitações que impedem a
formalização de contratos entre os agentes, decorrentes do caráter não transparente
dos fatores transacionados ou de dificuldades na codificação de informações e
conhecimentos.
Em síntese, as redes de firmas poderiam ser compreendidas como arranjos
inter-organizacionais que compatibilizam o recebimento de estímulos exógenos do
mercado – os quais se refletiriam na evolução dos preços relativos dos fatores - com a
40
geração de estímulos endógenos de tipo administrativo – que surgem de ações
deliberadas e autônomas dos agentes responsáveis pelo processo de coordenação.
Desse modo, essas redes permitem a realização de adaptações de caráter “autônomo”
e de adaptações que demandam a “coordenação” de diferentes funções produtivas,
as quais são repartidas entre seus componentes (Williamson, 1991; Guilhon,
1993).Quanto aos mecanismos de coordenação das decisões estratégicas dos agentes
no interior dessas redes, é importante ter claro qual a natureza específica das “ações
conjuntas” (joint-actions) adotadas pelos seus membros. A sistematização proposta
por Humphrey e Schimitz (1996) constitui um ponto de partida para este tipo de
investigação, na medida em que introduz dois elementos de caracterização destas
ações: (i) o seu caráter bilateral ou multilateral, associado ao número de partes
envolvidas; (ii) o seu caráter horizontal ou vertical, baseado na distribuição de tarefas
ao longo da cadeia produtiva6 .
3. DIVERSIDADE INSTITUCIONAL E TECNOLÓGICA DAS REDES DE FIRMAS
Diversas análises procuram avançar no sentido da construção de tipologias
que captem a diversidade institucional das redes de firmas. Algumas dessas análises,
como a de Harrison e Storper (1991) privilegiam, como critérios de diferenciação desses
arranjos, aspectos relacionados à morfologia de sua estrutura interna, particularmente
no que se refere ao seu grau de centralização e hierarquização. Arcangelli, Belussi e
Gruin (1995), por sua vez, desenvolvem uma análise interessante dos mecanismos de
coordenação intra-rede, correlacionado-os não apenas ao seu maior ou menor grau
de centralização, mas também à própria conformação morfológica da estrutura, que
poderia ser “ajustada” no intuito de permitir uma coordenação eficaz de seus fluxos
internos, face às mudanças repentinas nas condições do macro-ambiente7 . Ë possível
destacar também o esforço de sistematização de diferentes formas de governança
realizado por Park (1996), o qual considera dois aspectos fundamentais: o tipo de
interdependência que se estabelece entre os agentes e as formas de controle que
predominam em cada tipo de arranjo. Destacam-se também análises baseadas na
caracterização de modelos estilizados de arranjos produtivos - de caráter mais ou
menos cooperativo – que poderiam ser associados à noção de “redes de firmas”, dentre
as quais é possível mencionar as de Paché (1991), Garofoli (1993), Langlois e Robertson
(1995) e Coriat (1995).
Apesar dos diversos problemas inerentes a esse tipo de classificação tipológica,
essas análises ressaltam a presença de “formas plurais” (Bradach e Eacles, 1989;
Hamilton e Fenestra, 1995) de governança, evidenciando que mera caracterização
das redes de firmas como estruturas “híbridas” localizadas no meio termo entre a firma
e o mercado não é suficiente para captar a variedade de soluções institucionais
associadas a estes arranjos. A diversidade dessas soluções institucionais reforça a
importância de uma caracterização cuidadosa dos “regimes de transação” (Knorringa,
1994) subjacentes às redes de firmas. Neste sentido, alguns aspectos devem ser
considerados. Em primeiro lugar, é importante identificar a estrutura de poder subjacente
a estes arranjos, ressaltando-se os mecanismos internos de resolução de conflitos e a
especificidade da concorrência interna existente entre os componentes da rede. Este
aspecto remete a discussão no sentido da discussão da conformação hierárquicofuncional do arranjo, relacionada à estrutura de poder subjacente às suas relações
internas. Basicamente, esta dimensão diz respeito ao tamanho relativo dos agentes
41
participantes do arranjo, bem como ao grau de centralização das relações internas
que o conformam. Ë importante identificar também grupos homogêneos de agentes
que estabelecem um padrão similar de relacionamentos com os demais, de modo a
captar a estratificação interna da rede.
O detalhamento das características dos “regimes de transação” de redes de
firmas requer também a discussão de outros aspectos. Em especial, é importante
considerar as especificidades das sistemáticas contratuais que regem as interações
entre agentes, as quais envolvem tanto mecanismos de incentivo específicos –
responsáveis pela repartição dos ganhos de produtividade e das “quase rendas” geradas
através do arranjo - como formas particulares de resolução dos conflitos no âmbito da
rede. Além disso, é importante identificar elementos mais eminentemente estruturais
daquelas formas de governança, tais como o grau de centralização de seus fluxos
internos e a hierarquização dos relacionamentos intra-rede. A identificação das principais
formas de coordenação das decisões ao nível da rede é também importante,
ressaltando-se o objeto desta coordenação - que pode envolver múltiplas dimensões e a base contratual na qual ela se apóia8 . Por fim, é importante identificar valores,
regras e códigos de comportamento não formalizados entre os membros da rede, os
quais reforçam a coesão interna da estrutura ao longo do tempo.
Considerando estes aspectos, é possível avançar no sentido da identificação
de elementos que possibilitem “formatar”, do ponto de vista analítico, a diversidade
institucional das redes de firmas. Com esse intuito, é possível considerar as
interconexões que se estabelecem entre as características das tecnologias mobilizadas
e os possíveis impactos em termos dos “regimes de transação” que caracterizam
aqueles arranjos9 . De fato, a consolidação de arranjos inter-organizacionais baseados
na repartição de funções produtivas entre parceiros não surge em um “vácuo”, estando
fortemente condicionada pela complexidade das tecnologias que necessitam ser
mobilizadas. Segundo Joly e Mangematin (1995), é possível identificar duas tendências
que explicam o aumento da complexidade tecnológica do ambiente no qual as firmas
se encontram inseridas. A primeira delas relaciona-se ao aumento da complexidade
do processo de produção em termos do número de insumos (ou inputs) requeridos, o
qual acarreta um aumento na utilização de recursos externos. Essa tendência refletese também no próprio produto gerado, cuja “arquitetura” em termos do padrão de
integração de componentes pode ser extremamente complexa10 . Uma segunda
tendência refere-se ao aumento do conjunto de conhecimentos e competências que
necessitam ser integrados de modo a tornar factível a realização da produção. A
complexidade das tecnologias integradas ao nível da rede afeta o processo de
“governança” na medida em que impõe determinados requisitos quanto à
compatibilização de procedimentos operacionais e transacionais, que devem ser
satisfeitos através da coordenação das ações dos agentes. Em particular, é possível
supor que quanto mais “complexo” for o ambiente tecnológico, mais importante será o
acesso das firmas a ativos e competências complementares.
4. REGIMES DE TRANSAÇÃO EM MODELOS ESTILIZADOS DE REDES DE FIRMAS
A partir dos elementos mencionados na seção anterior, é possível avançar no
sentido de uma sistematização de “modelos estilizados” de redes de firmas e dos
“regimes de transação” subjacentes. Visando captar a heterogeneidade institucional
das redes de firmas, dois critérios de classificação destes arranjos são considerados:
42
(i) características das tecnologias empregadas em termos de determinados atributos
técnicos, os quais definem um certo nível de complexidade para o processo de produção;
(ii) características do ambiente sócio-cognitivo no qual a rede se insere, particularmente
em termos da diversidade de conhecimentos e competências que necessitam ser
mobilizados para produzir de maneira eficiente e para gerar inovações nos respectivos
mercados. Com base nestes critérios, quatro tipos distintos de redes de firmas podem
ser caracterizados, cujas características dos “regimes de transação” são discutidas a
seguir.
4.1 Redes de Produtos Tradicionais
Neste caso, os produtos gerados apresentam um caráter não-complexo, sendo
produzidos em escala reduzida, a partir de uma base de conhecimentos relativamente
simples. O número de componentes e subsistemas integrados ao produto é limitado, o
que facilita a viabilização do processo produtivo com níveis satisfatórios de eficiência.
Os ganhos competitivos estão tradicionalmente associados a um processo de
“especialização flexível” (Piore e Sabel, 1994; Best, 1990) entre fornecedores, que
resulta na queda dos custos de produção e no aumento da flexibilidade produtiva. As
interações entre produtores e fornecedores são mediadas pela pré-definição de ordens
de compra, observando-se um intercâmbio limitado de informações entre os membros
da rede. Exemplos deste tipo de arranjo estão associados a diferentes indústrias, tais
como têxtil, calçados, alimentar, móveis e artefatos de metal.
Em termos das estruturas de governança, estas redes caracterizam-se pela
presença de um nível elevado de dispersão dos agentes pelo ambiente econômico,
envolvendo um baixo nível de hierarquização interna e estando baseadas na
especialização funcional de empresas independentes. De forma estilizada, estes
arranjos podem ser caracterizados como redes policêntricas, nas quais os atores
cooperam ou competem entre si de forma voluntária, através de um conjunto de relações
verticais e horizontais. Em certo sentido, estas redes podem ser vistas como uma
evolução e sofisticação do sistema tradicional de putting-out, envolvendo interações
mediadas pela pré-definição de ordens que devem ser atendidas por fornecedores. A
coordenação dos fluxos internos nestes arranjos envolve duas alternativas principais.
A primeira delas baseia-se numa coordenação promovida por agentes externos,
responsáveis pela distribuição dos produtos gerados (dealers), os quais, muitas vezes,
são responsáveis pela definição de novos tipos de design que devem ser atendidos
pelos fornecedores. A segunda alternativa envolve uma coordenação promovida por
firmas de maior porte - localizadas nos estágios finais da cadeia produtiva ou que são
fornecedoras de insumos críticos - as quais, em função do seu nível de capacitação,
também atuam na definição do design dos produtos. Contudo, estas alternativas estão
usualmente baseadas em contratos de curto prazo, que raramente incluem mecanismos
de incentivo indutores da repartição de ganhos técnico-produtivos ao longo da cadeia
de suprimento.
Apesar da presença de empresas de maior porte que eventualmente assumem
o papel de coordenação dos fluxos internos desses arranjos, uma característica básica
dos mesmos é a presença de um número elevado de pequenas empresas que conferem
uma maior dispersão à conformação institucional desse tipo de rede. Brusco (1986) e
Triglia (1992), em sua análise dos distritos industriais da “Terceira Itália”, identificam
três tipos distintos de pequenas empresas presentes nestes arranjos. O primeiro deles
compreende pequenas empresas “tradicionais”, que produzem bens não padronizados
diretamente para o mercado, baseando sua posição competitiva nos baixos custos
43
salariais e na pequena proteção ao trabalhador (geralmente contratado de forma
temporária). O segundo tipo compreende pequenas firmas dependentes de
compradores maiores, que com eles estabelecem relações tradicionais de
subcontratação, produzindo partes e componentes baseados no baixo custo da mãode-obra. Finalmente, um terceiro tipo de agente compreende a “firma típica” (idealizada)
do modelo de especialização flexível, a qual estaria integrada a um sistema de divisão
de trabalho para o qual não é possível identificar relações nítidas de dependência
hierárquica, com as vantagens competitivas sendo originárias de “externalidades”
geradas no âmbito da rede e do próprio dinamismo produtivo e tecnológico gerado
pelas relações entre agentes.
É possível identificar três aspectos que conferem uma maior organicidade ao
“regime de transação” nestes arranjos. Em primeiro lugar, destaca-se o papel crucial
desempenhado pela presença de “economias externas” específicas ao espaço territorial
onde interagem os agentes, relacionadas à possibilidade de se reproduzirem e
difundirem conhecimentos técnicos e qualificações profissionais especializadas que
conferem vantagens competitivas para os participantes do arranjo. Em segundo lugar,
destaca-se a presença, neste tipo de arranjo, de um balanceamento entre regras de
interação estritamente mercantis e regras de “regulação social” estabelecidas ao nível
local, que se refletem na criação de instituições especificamente dedicadas à resolução
de problemas de “market failure” e ao reforço de valores baseados em princípios de
solidariedade social. Finalmente, em terceiro lugar, destaca-se a realização de um
elenco de ações conjuntas e coordenadas entre os agentes, as quais resultam numa
ampliação dos níveis de “eficiência coletiva” (Schmitz, 1994) proporcionados pelo
arranjo. Essa “eficiência coletiva” é geralmente associada a um processo dinâmico
que permite a redução dos custos de transação e o aumento das possibilidades de
diferenciação de produto ao longo do tempo, em virtude do intercâmbio de informações
e do fortalecimento de laços cooperativos entre os agentes. Destaca-se também a
circulação de informações e o desenvolvimento de uma capacitação comercial e
mercadológica que facilita a antecipação das tendências de comportamento do mercado,
viabilizando a rápida introdução de novos produtos em função destas tendências.
Um aspecto recorrentemente mencionado como elemento constitutivo do
“regime de transação” neste tipo de arranjo refere-se à implementação de ações
coletivas indutoras de aumentos dos níveis de eficiência. Considerando a sistematização
proposta por Humphrey e Schimitz (1996), é possível identificar algumas características
das “ações coletivas” adotadas neste tipo de arranjo. Em particular, destacam-se ações
coletivas multilaterais de caráter horizontal, baseadas na associação entre um conjunto
de firmas similares visando a realização de uma tarefa qualquer. Como exemplo, é
possível citar a montagem de centros prestadores de serviços técnicos especializados
para as firmas atuantes nestes distritos, os quais funcionam como núcleos geradores
de “externalidades” ao nível da rede. Destaca-se também a montagem de associações
empresariais locais que funcionam como núcleo de intercâmbio de informações e
competências, operando também como grupos de pressão dos interesses de seus
membros no plano político-institucional.
4.2 - Redes de Produtos Modulares
Os produtos gerados nestes arranjos são obtidos através de um processo de
produção em massa, estando baseados numa “arquitetura modular” de componentes
e subsistemas. Neste caso, o processo de produção envolve uma complexa hierarquia
de componentes que necessitam ser integrados ao nível da rede. Exemplos de indústrias
44
de montagem de produtos baseados numa “arquitetura modular”, tais como a
automobilística, computadores e equipamentos eletrônicos podem ser associados a
este tipo de arranjo. Os ganhos competitivos gerados envolvem não apenas a redução
do custo e o aumento da performance dos componentes, mas também o aumento da
variabilidade do “mix” de produtos gerados, devido à possibilidade de ampliaçãodiversificação da linha de produtos e de incorporação de inovações incrementais, a
partir de mudanças nos componentes integrados através de uma “arquitetura modular”.
A estrutura de governança associada a este tipo de arranjo baseia-se no papel
central desempenhado por uma firma montadora que opera como vértice central da
rede. É também comum a hierarquização de fornecedores de subsistemas e
componentes em diferentes níveis - fornecedores de primeiro nível, fornecedores de
segundo nível, etc. - em função de suas competências técnicas e do grau de interação
dos mesmos com a firma montadora que coordena os fluxos internos da rede. Quanto
mais próximo estiver um fornecedor da firma montadora que ocupa a posição central
na estrutura de governança do arranjo, mais intenso e multidimensional tende a ser o
processo de coordenação11 e o intercâmbio de informações associado.
Para uma grande firma que opere como núcleo central desse tipo de rede, a
montagem de tal arranjo resulta em custos de coordenação, gestão operacional,
normalização técnica e na compatibilização dos avanços tecnológicos realizados a
partir de articulações com outros agentes. Para minimizar estes custos, três estratégias
costumam ser utilizadas. A primeira delas compreende uma redução do número de
empresas participantes da rede direta de subcontratação das empresas montadoras,
de maneira a garantir um maior grau de interatividade nestes relacionamentos. A
segunda estratégia compreende uma estruturação hierárquica das relações de
subcontratação, através da qual cada firma subcontratada se compromete a organizar
e gerir uma nova “rede” composta pelos fabricantes de insumos que ela vier a adquirir.
A terceira estratégia refere-se à utilização de novas tecnologias de informação e
telecomunicação (EDI, por exemplo) visando agilizar o intercâmbio de informações
entre os agentes.
Em arranjos mais estruturados, as interações não se limitam à definição
unilateral pelas montadoras dos padrões técnicos e das inovações a serem incorporadas
produtivamente. Ao contrário, observa-se uma forte interatividade nas relações clientefornecedor, com as empresas montadoras atuando em dois sentidos principais: (i) na
definição de especificações gerais de componentes, a serem aperfeiçoadas e alteradas
pelos fornecedores em função do processo de desenvolvimento tecnológico; (ii) na
identificação de determinados requerimentos de performance a serem considerados,
que orientam a realização de um trabalho conjunto de desenvolvimento com os
fornecedores.
Nestas redes, os mecanismos mobilizados no intuito de coordenar as ações
das firmas participantes do arranjo (montadoras e fornecedores) costumam ser bastante
complexos. Na órbita produtiva, estes mecanismos envolvem métodos sofisticados de
planejamento da produção, bem como o uso amplo de protocolos orientadores das
articulações entre empresas, baseados em princípios do sistema just-in-time. Os
mecanismos de coordenação dos fluxos internos à rede envolvem também projetos
específicos orientados ao co-desenvolvimento de componentes e subsistemas entre
montadoras e fornecedores, bem como a adaptação da arquitetura modular do produto,
para propiciar a obtenção de uma maior variedade de produtos.
Em termos do arcabouço contratual utilizado, esta coordenação está geralmente
baseada em contratos de longo prazo, incorporando mecanismos de incentivo
45
específicos que visam estimular o aumento da produtividade e qualidade dos
componentes gerados. Não apenas é possível observar a disseminação de contratos
de longo prazo neste tipo de arranjo, como também uma expectativa de que os
relacionamentos empresariais perdurarão além do período estabelecido nos contratos,
devido à confiança mútua que nortearia aqueles relacionamentos. A busca contínua
da melhor performance, maior qualidade/nível tecnológico e menor custo de peças e
componentes faz com que os contratos de longo prazo que norteiam os relacionamentos
intra-rede sejam pouco amarrados do ponto de vista formal, permitindo a adaptação
dos mesmos em função dos resultados obtidos. Algumas evidências também sugerem
que uma importante forma de coordenação das relações cliente-fornecedor nesse tipo
de arranjo diz respeito à participação do principal cliente na estrutura acionária dos
fornecedores.
4.3 Redes de Produtos Complexos
Estes arranjos estão orientados à obtenção de produtos sofisticados, intensivos
em esforços de engineering e que envolvem a pré-definição de um projeto no qual são
definidos os atributos do produto e os requisitos de performance a serem atendidos.
Estes bens são produzidos de forma unitária ou em escalas reduzidas, adaptando-se,
em termos do padrão de performance, às exigências e necessidades de consumidores
individuais. Como exemplos, destacam-se: sistemas de controle de tráfico aéreo,
aeronaves e motores para aviões, sistemas de automação bancária, simuladores de
vôo, construção naval, computadores do tipo mainframe, plantas nucleares e
hidroelétricas, plataformas offshore, bens de capital sofisticados (turbinas, por exemplo),
equipamentos de robótica, sistemas de satélite e defesa.
A complexidade dos produtos gerados reflete-se na conformação institucional
destes arranjos. Dentre os agentes presentes nos mesmos, destacam-se aqueles que
atuam como “integradores de sistemas”, responsáveis pela integração de múltiplas
competências e pela coordenação dos fluxos internos (tangíveis e intangíveis) da rede.
Na medida em que estas redes estruturam-se de modo a possibilitar a viabilização de
projetos complexos, a sua conformação baseia-se em interações entre um conjunto
de fornecedores de subsistemas, componentes e softwares, cuja aproximação é função
específica dos “integradores de sistemas”. É possível mencionar dois outros atores
que, em circunstâncias específicas, também desempenham um papel importante nestas
redes. A natureza das atividades realizadas reforça a importância de firmas de
engenharia, as quais podem atuar não apenas na coordenação de etapas específicas
do processo de produção, mas também elas próprias como “integradoras de sistemas”.
Além disso, destacam-se agências governamentais de regulação, as quais, em
determinadas circunstâncias, podem influenciar decisivamente o gerenciamento dos
projetos desenvolvidos.
As relações típicas destes arranjos envolvem firmas que atuam como
“integradores de sistemas” e uma rede de fornecedores de componentes e subsistemas.
A estrutura de governança do arranjo é relativamente “fluida”, estando baseada em
projetos específicos de caráter transitório, nos quais se pode observar a definição
prévia de tarefas a serem realizadas pelos membros da rede. Em função da diversidade
de componentes e subsistemas que necessitam ser integrados ao projeto, verifica-se
uma tendência à hierarquização da estrutura de governança do arranjo. Estas redes
podem ser concebidas como arranjos de caráter “virtual”, estruturando-se através de
task-forces ativadas pelos “integradores de sistemas” para viabilizar novos projetos,
em função de exigências específicas dos compradores. Apesar do caráter transitório
46
de tais projetos, as articulações entre agentes comandadas pelos “integradores de
sistemas” assumem um caráter sistemático, extrapolando a duração do referido projeto,
visando permitir a mobilização dos recursos e competências assim que a mesma se
fizer necessária.
A coordenação dos fluxos internos à rede é a principal função desempenhada
pelos “integradores de sistemas” no âmbito destes arranjos. Esta coordenação baseiase em técnicas de gerenciamento de projetos, envolvendo procedimentos definidos
antes mesmo da montagem de task-forces para viabilização dos mesmos. O processo
de coordenação envolve um número relativamente limitado de transações entre os
“integradores de sistemas” e a rede de fornecedores de subsistemas,. Essas transações,
além de envolverem valores extremamente elevados, estão associadas a um conteúdo
complexo, que dificilmente pode ser especificado ex-ante. Como a tarefa delegada
aos fornecedores deve ser ajustada em função do gerenciamento do projeto e da
necessidade de compatibilização das diversas tecnologias incorporadas ao produto,
os relacionamentos intra-rede são usualmente regulados por contratos incompletos,
envolvendo preços negociados que muitas vezes incorporam “mecanismos de incentivo”
ao aumento da produtividade e à busca de maior eficiência na tarefa realizada. No
processo de coordenação intra-rede, é possível observar o uso intensivo de tecnologias
de informação, assim como de técnicas de “engenharia paralela” (parallel engineering)
que aumentam a performance das atividades realizadas. A necessidade de configurar
a estrutura de hardware e software em função das necessidades de usuários também
pode exigir ajustes nos procedimentos de coordenação comandados pelos “integradores
de sistemas”. Além disso, como os produtos gerados destinam-se, muitas vezes, a
setores de infra-estrutura, é comum que as inter-relações intra-rede estejam sujeitas a
diferentes formas de regulação institucional, adicionando um elemento a mais à dinâmica
do processo de coordenação.
4.4 Redes de Desenvolvimento Tecnológico
Estas redes estruturam-se no intuito de viabilizar a geração e aplicação produtiva
de novas tecnologias, ainda em estágio inicial de seu ciclo de vida, que se baseiam em
conhecimentos complexos e requerem vultosos investimentos em P&D. Neste caso,
destacam-se as atividades desempenhadas por empresas de “alta tecnologia” (hightechnology firms) de tamanho reduzido, especializadas em campos específicos do
conhecimento e que desempenham um papel central na viabilização do processo
inovativo. Outro aspecto particularmente importante dessas redes é a rotinização de
inter-relacionamentos cooperativos entre firmas inovadoras e agentes inseridos na
infra-estrutura científico-tecnológica - universidades, institutos de pesquisa, centros de
transferência etc. Exemplos deste tipo de arranjo estão geralmente associados a
indústrias de alta tecnologia, tais como as de biotecnologia, ótica, novos materiais e
semicondutores. Os ganhos competitivos proporcionados estão associados à integração
de competências e qualificações complementares, o que aumenta a eficácia do processo
de P&D, permitindo reduzir o “lead time” do desenvolvimento de novas tecnologias.
Os principais atores presentes neste tipo de rede são empresas de “base
tecnológica” (spin-offs) - nas quais concentra-se o esforço inovativo - que se articulam
com empresas de setores usuários das tecnologias geradas, com fornecedores de
componentes, equipamentos e serviços, assim como com universidades e institutos
de pesquisa. Os relacionamentos estabelecidos estão geralmente associados à divisão
de tarefas no ciclo P&D-produção. Neste tipo de arranjo é possível observar uma
convergência dos fluxos internos às redes no sentido de empresas de base tecnológica.
47
Algumas vezes, estas firmas estabelecem relações de subcontratação com outros
agentes como fornecedoras (quando elas interagem com firmas usuárias das
tecnologias desenvolvidas, de que são exemplo as relações entre empresas de
biotecnologia e companhias farmacêuticas); outras vezes elas atuam como clientes
no processo de subcontratação (quando interagem com agentes inseridos na infraestrutura científico-tecnológica, como universidades e institutos de pesquisa). Outros
relacionamentos importantes destes arranjos são aqueles que envolvem empresas de
base tecnológica e instituições financeiras (bancos e empresas de venture-capital, por
exemplo), empresas especializadas na prestação de serviços tecnológicos (laboratórios,
escritórios de patentes, etc.), empresas especializados na prestação de consultoria
gerencial (escritórios de advocacia e contabilidade, por exemplo), assim como
fornecedores e clientes.
A estrutura de governança desse tipo de arranjo baseia-se numa definição
relativamente fluída de tarefas e responsabilidades, de acordo com os requerimentos
associados à integração dos diferentes estágios do processo de P&D. Apesar disso,
três alternativas em termos da estrutura de governança costumam ser associadas a
este tipo de arranjo. A primeira possibilidade envolve situações nas quais o setor usuário
da tecnologia gerada induz a consolidação do arranjo, estabelecendo vínculos
cooperativos com empresas de base tecnológica (spin-offs) responsáveis pelo
desenvolvimento de tecnologias específicas. A segunda alternativa contempla situações
nas quais as empresas de base tecnológica atuam como líderes da rede, coordenando
a divisão de trabalho com outras firmas inseridas no arranjo. A terceira alternativa
compreende a consolidação de redes compactas, estruturadas a partir da pré-existência
de um contexto social - social millieu, na definição de Maillat, Crevoisier e Lecoq (1994)
- que cria possibilidades múltiplas de inovação para os vários parceiros, baseado em
regras de comportamento cooperativo definidas no âmbito da comunidade a que
pertencem os agentes.
Em função da complexidade institucional destes arranjos, as formas de
coordenação assumem um caráter específico. Na fase de consolidação destas redes,
a realização de projetos de P&D coordenados por firmas de base tecnológica é
particularmente relevante. Nesta fase, destacam-se também formas mais amplas de
coordenação, baseadas em programas cooperativos de caráter público ou semi-público.
A impossibilidade de definir-se um “resultado” para estes projetos de maneira precisa
resulta no uso de “contratos incompletos” enquanto instrumento de regulação das
interações entre firmas. Dentre os diferentes aspectos destes contratos, particular
importância é geralmente atribuída à pré-definição negociada das condições de
apropriabilidade das inovações a serem geradas. Na medida em que a interação entre
os agentes perdure e se aprofunde ao longo do tempo, é provável que ocorra uma
progressiva formalização dos mecanismos de coordenação e da base contratual que
orienta as relações entre firmas. São bastante comuns situações nas quais este
processo de “formalização” se combina com uma progressiva “centralização” da
estrutura da rede.
Comparados com outros tipos de arranjos, estas redes operam como estruturas
mais voláteis, uma vez que a viabilização do processo inovativo pode requerer mudanças
expressivas em sua estrutura e nas tarefas desempenhadas pelos agentes. Observase também uma tendência à realização de ajustes na estrutura de governança destes
arranjos, em função da evolução do “ciclo de vida” das tecnologias e produtos gerados.
Ao longo dos diferentes estágios deste ciclo, o grau de centralização da estrutura
tende a aumentar, com o arranjo progressivamente transformando-se de estruturas
48
orientadas estritamente a atividades de pesquisa em arranjos com um caráter mais
nitidamente produtivo. Como reflexo deste processo de centralização, é possível
mencionar a inter-penetração dos direitos de propriedade entre empresas de base
tecnológica e empresas localizadas nos setores finais usuários das tecnologias geradas,
a qual funciona como mecanismo de incentivo que favorece a sustentação de
determinadas formas de cooperação. Este processo pode resultar, inclusive, na
aquisição de firmas de base tecnológica por empresas de maiores dimensões.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Algumas linhas promissoras de investigação podem ser identificadas como
desdobramentos da análise realizada ao longo do artigo. A primeira delas envolve um
esforço de maior fôlego teórico, no qual os conceitos originalmente formulados pela
Teoria dos Custos de Transação – como os de especificidade de ativos, oportunismo,
confiança, e contratação relacional – seriam utilizados para descrever, com o necessário
rigor, as principais características dos diferentes “modelos estilizados” de arranjos
identificados na análise. Uma segunda linha de investigação está relacionada à tentativa
de correlacionar-se a evolução de mudanças institucionais nos diversos tipos de arranjos
à evolução do ambiente tecnológico e às pressões competitivas às quais os mesmos
se encontram sujeitos. De maneira a captar-se essas transformações, o aprofundamento
de investigações empíricas constitui um passo absolutamente fundamental da análise.
Finalmente, uma terceira linha de investigação refere-se à discussão de possíveis
desdobramentos normativos da análise realizada, em termos de medidas de política
indutoras da consolidação e fortalecimento daqueles arranjos.
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NOTAS
Como reflexo deste processo de centralização, é possível mencionar a inter-penetração dos
direitos de propriedade entre empresas de base tecnológica e empresas localizadas nos setores finais
usuários das tecnologias geradas, a qual funciona como mecanismo de incentivo que favorece a
sustentação de determinadas formas de cooperação.
(*)
Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense. E-mail:
[email protected]. Este artigo é uma versão modificada de parte do Capítulo II da tese de doutorado
“Características estruturais e modus-operandi das redes de firmas em condições de diversidade
tecnológica” defendida junto ao IE-UFRJ.
1 A noção de “embeddedness” (Grabher, 1993) refere-se às influências estabelecidas entre a
estrutura de relações e o comportamento dos agentes, que se manifestam no interior de um ambiente
econômico com determinadas especificidades institucionais.
2 Em primeiro lugar, o custo de utilização do mercado é explicado pela necessidade de se
estabelecer um contato entre as partes e de se identificar quais os “preços pertinentes” que influenciam
a tomada de decisões. Outro custo implícito na utilização do mercado decorre dos gastos com a
negociação, conclusão e elaboração de contratos entre as partes de cada transação. Em condições de
incerteza, os agentes participantes devem levar em conta os custos ex-ante de fixar e negociar as
contrapartidas e salvaguardas dos contratos e os custos ex-post de monitoramento, renegociação e
adaptação dos seus termos a novas circunstâncias.
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3 Quando a especificidade dos ativos aumenta, os custos de transação tendem a elevar-se e
as economias de escala associadas à produção externa tendem a reduzir-se, atingindo-se um ponto de
inflexão (point of crossover) a partir do qual as desvantagens do mercado em termos dos custos de
transação superam eventuais vantagens.
4 Segundo Bakos e Brynjolfsson (1993), o processo de contratação de novos fornecedores
teria continuidade até que o custo marginal da busca se igualasse à expectativa de benefício marginal
associado à incorporação de novos fornecedores. Supõe-se que o aumento no número de fornecedores
reduz substancialmente a parcela do retorno marginal sobre o investimento apropriado por cada um
deles. Isto limita os incentivos que estes fornecedores têm para investir, o que tenderia a conduzir a
situações sub-ótimas em termos de eficiência.
5 Como exemplo é possível citar compromissos assumidos entre determinada firma e seus
fornecedores em termos da realização de investimentos visando elevar a qualidade e o nível tecnológico
dos insumos e componentes adquiridos. De fato, este “esforço”, apesar de poder ser claramente
identificado pelas partes envolvidas, dificilmente pode ser especificado ex-ante com maior grau de
detalhamento. Ele envolveria, portanto, um determinado “compromisso” entre as partes, com o “valor”
gerado sendo repartido ex-post em função do poder de barganha de cada uma delas.
6 Quatro tipos de ações coletivas podem ser identificadas: (i) ações coletivas bilaterais de
caráter horizontal, envolvendo pares de firmas que realizam o mesmo tipo de atividade; (ii) ações coletivas
bilaterais de caráter vertical, envolvendo ligações entre duas firmas atuantes em diferentes estágios da
cadeia produtiva; (iii) ações coletivas multilaterais de caráter horizontal, quando um conjunto de firmas
similares decide se articular de modo a realizar uma tarefa qualquer; (iv) ações coletivas multilaterais de
caráter vertical, envolvendo diversas firmas localizadas em diferentes pontos da cadeia produtiva que se
articulam de modo a atingir um objetivo comum.
7 Essa capacidade de adaptação é correlacionada por estes autores aos conceitos de “reversibilidade” e “retratbilidade”.
O conceito de “reversibilidade” associa-se à possibilidade de rearranjos das funções dos agentes no interior da rede
em função de estímulos ambientais, enquanto o conceito de “retratibilidade” associa-se a mudanças na estrutura do
arranjo decorrentes da entrada e saída de agentes.
8 Quanto a este aspecto, é importante ter claro qual a natureza específica das “ações conjuntas” (joint-actions)
adotadas pelos membros da rede, as quais permitem a obtenção de ganhos de eficiência, facilitando a repartição de
tarefas e possibilitando um enfrentamento coordenado da turbulência ambiental.
9 ATCT geralmente analisa a influência da complexidade tecnológica no contexto mais geral das decisões entre
compra ou internalização da produção (make-or-buy decisions). Considerando esta complexidade como evidência
de um elevado grau de especificidade dos ativos, a TCT costuma correlacioná-la à geração de estímulos a processos
de integração vertical.
10 Henderson e Clark (1990) salientam esse aspecto, utilizando o conceito de “configuração da arquitetura do
produto” para definir os padrões através dos quais componentes e subsistemas interagem entre si. Nesse sentido, os
requisitos de compatibilidade entre componentes e a necessidade de um certo balanceamento entre a
performance dos mesmos condicionam o aperfeiçoamento do sistema. Alguns autores correlacionam
esse aspecto à existência de pontos de estrangulamento que orientam a realização de desenvolvimentos
tecnológicos, tais como os de “technological guideposts” (Sahal, 1985) e “reverse salients” (Hughes,
1983).
11 Para uma discussão sobre este processo ver, por exemplo, Liker, Kamagh, Wasti e Nagamachi (1996).
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