IMPACTOS DO PISOTEIO OVINO NOS ATRIBUTOS FÍSICOS DO

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IMPACTOS DO PISOTEIO OVINO NOS ATRIBUTOS FÍSICOS DO
IMPACTOS DO PISOTEIO OVINO NOS ATRIBUTOS FÍSICOS DO SOLO EM
ÁREA DE COQUEIRO-ANÃO IRRIGADO, NA REGIÃO DO SEMIÁRIDO
PARAIBANO
Ednaldo Barbosa Pereira Júnior 1*; Jacob Silva Souto 2; Patrícia Carneiro Souto 2, Oscar
Mariano Hafle 1
RESUMO: A compactação do solo pelo pisoteio animal e máquinas proporcionam um aumento da
densidade, acarretando a redução no seu volume de poros, sendo considerado como impactos ao meio
ambiente. Com o objetivo de avaliar o efeito do pisoteio ovino nos atributos físicos de um Neossolo
Flúvico, em área de cultivo do coqueiro-anão (Cocos nucifera L.), foi conduzido experimento em
blocos casualizados com quatro tratamentos e três repetições no Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia da Paraíba, Campus Sousa, Paraíba, Brasil (06º 50` 22”S; 38º 17` 42” WGr a
220 m de altitude). Os tratamentos utilizados foram: 1-piquetes sem animais, 2-com dois animais, 3quatro animais e 4-seis animais. Foram coletadas amostras de solo antes da instalação do experimento
e após a aplicação dos tratamentos para análise dos atributos físicos (densidade do solo, porosidade
total, macroporosidade, microporosidade e umidade do solo) na camada de 0-5 cm, 5-10 cm, 10-15 cm
e 15-20 cm de profundidade. Os resultados mostraram que as características físicas do solo foram
influenciadas significativamente pelo pisoteio ovino, na camada de 0-5 cm. Para a camada de 5 - 10
cm, apenas a umidade do solo foi influenciada pelo pisoteio. O pisoteio ovino causou o aumento na
densidade do solo, diminuição da porosidade total e mudanças no tamanho dos poros na camada de 05 cm.
Palavras-chave: Cocos nucifera, compactação, conteúdo de água
IMPACTS OF TRAMPLING ON SOIL ATTRIBUTES SHEEP IN AREA OF DWARF
COCONUT IRRIGATED IN SEMIARID REGION OF PARAÍBA
ABSTRACT: Soil compaction by cattle trampling and machines provide an increase in density,
resulting in a reduction in its pore volume and considering impacts to the environment. To evaluate the
effect of sheep trampling on the physical fluvent in the area of dwarf coconut cultivation (Cocos
nucifera L.), a field experiment was conducted in randomized blocks with four treatments and three
repetitions at Federal Institute of Education, Science and Technology of Paraiba, Campus Sousa,
Paraiba, Brazil (06º 50` 22”S; 38º 17` 42” WGr at 220 m of altitude). The treatments were: 1-pickets
without animals, 2- with two animals, 3- four animals and 4- six animals. Soil samples were collected
before the experiment and after application of treatments for analysis of physical attributes (density,
porosity, macroporosity, microporosity and soil moisture) in 0-5 cm, 5-10 cm, 10-15 cm and 15-20 cm
deep. The results showed that soil physical properties were significantly influenced by sheep trampling
in 0-5 cm layer. For the layer from 5-10 cm, only the soil moisture was influenced by trampling. The
sheep trampling caused the increase in bulk density, decreased porosity and changes in pore size in the
0-5 cm layer.
Key words: Cocos nucifera. Compaction, water content
1
Professores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, Campus Sousa, Caixa Postal
49, CEP 58800-970, Sousa, PB. * E-mail: [email protected]. Autor para correspondência.
2
Universidade Federal de Campina Grande - UFCG. Caixa Postal 64, CEP 58700-970 Patos (PB). Email: [email protected]; [email protected].
Recebido em: 26/12/2012. Aprovado em: 25/04/2014.
Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 07, n. 01, p.48 – 55, jan/abr. 2014.
E.B. Pereira Júnior et al.
INTRODUÇÃO
Algumas vantagens como controle de
ervas espontâneo, integração do espaço e
acumulação de renda credenciam a
ovinofruticultura como um instrumento de
alto potencial para o sistema de produção
integrada ou para a produção de frutas
orgânicas, cujo mercado se encontra em
acelerada expansão. Por outro lado, a
consorciação praticada sem o adequado
manejo pode acarretar desvantagens para a
fruticultura, podendo ser mencionados como
mais importantes os danos às fruteiras jovens,
uma maior competição por nutrientes e
umidade entre a fruteira e a vegetação usada
como pasto e a compactação do solo
(GUIMARÃES FILHO & SOARES, 2000).
A possibilidade de integrar, no mesmo
espaço, a criação de animais com cultivo de
espécies arbóreas, de modo especial de
frutíferas, tem despertado crescente interesse
nos últimos anos, em função do enorme
potencial de benefícios que o sistema pode
trazer a esse tipo de empreendimento rural.
Ao
longo
de
décadas,
a
caprinovinocultura foi considerada uma
atividade marginal ou de subsistência na
região Nordeste do Brasil, normalmente, com
baixa produtividade e realizada por
produtores desprovidos de capital financeiro
e de recursos tecnológicos. Entretanto,
atualmente, a produção destes pequenos
ruminantes vem se caracterizando como uma
atividade de grande importância cultural,
social e econômica para a região,
desempenhando um papel crucial no
desenvolvimento do Nordeste (COSTA et.
al., 2008).
Acredita-se
que
a
caprinoovinocultura, por sua adequação aos
agroecossistemas locais, por sua baixa
necessidade de capital inicial, por sua
capacidade de acumulação de renda em
pequena escala e por sua fácil apropriação
sócio-cultural, configura-se como uma
alternativa agropecuária apropriada para a
geração da renda e garantia de segurança
49
alimentar da população do semi-árido do
Nordeste brasileiro (HOLANDA JÚNIOR &
ARAÚJO, 2004).
A principal consequência do pisoteio
animal excessivo é a compactação do solo,
caracterizada pelo aumento da densidade do
solo como resultados de cargas ou pressões
aplicadas (LEÃO et al., 2004). Deste modo, a
maioria dos estudos que avaliam os efeitos do
pisoteio sobre a qualidade física do solo se
baseiam na quantificação da densidade do
solo e outras propriedades físicas do solo
afetadas pela compactação, tais como:
resistência à penetração (IMHOFF et al.,
2000), características de retenção de água
(BELL et al., 1997) e infiltração (FRANCIS
et al., 1999).
Segundo Pinzón e Mesquita (1991),
em geral, o pisoteio dos animais compacta o
solo nos primeiros 15 cm, ocasionando uma
severa diminuição no movimento interno da
água e um aumento na densidade do solo. Isto
traz, como consequência, uma diminuição na
porosidade e trocas desfavoráveis na relação
solo-água-atmosfera
que
afetam
o
desenvolvimento das raízes das plantas e a
sua produtividade.
Naeth et al. (1990), trabalhando com
impactos da compactação provocados pelo
pisoteio animal, sugerem que pessoas que
trabalham com o manejo de pastagens,
poderiam utilizar regimes de pastejo
seletivos, que mantivesse a superfície do solo
em condições de suportar as forças de
compactação promovidas pelo pastejo,
evitando com isso alterações na densidade do
solo e na resistência à penetração, que são
danosas ao desenvolvimento das plantas.
Segundo os autores, estes regimes de pastejo
mantêm altos níveis de matéria orgânica no
solo, que promove um efeito amortecedor
efetivo entre o solo e o pisoteio animal,
minimizando os principais fatores da
compactação.
Com base nessa realidade, foi
desenvolvido trabalho de campo com ovinos
no semi-árido da Paraíba, para avaliar a
possível deterioração em alguns atributos
Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 07, n. 01, p.48 – 55, jan/abr. 2014.
Impactos do Pisoteio...
50
físicos da camada arável do solo, provocada total da área experimental, utilizando turno de
pelo pisoteio em uma área ocupada com a rega de 3 dias.
cultura do coqueiro, comparada com área
Inicialmente, foram realizadas a
similar sem pisoteio.
limpeza da área e o estaqueamento para
instalação da cerca elétrica. A vegetação
existente
no
local
era
constituída,
MATERIAL E MÉTODOS
principalmente, por: vassourinha (Scoparia
O estudo foi realizado em área procumbens Jacq), Capim-de-burro (Cynodon
experimental do no Instituto Federal de dactylon
Perl),
Capim-pé-de-galinha
Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, (Eleusine indica Gaertner), Tiririca (Cyperus
Campus Sousa (IFPB-Sousa), Paraíba, Brasil rotundus L. ssp), braquiaria (Brachiaria
(06º 50` 22”S; 38º 17` 42” WGr a 220 m de decumbens (Stapf) Webster).
altitude). O clima é caracterizado como semiA unidade experimental constituiu-se
árido, quente, do tipo Bsh da Classificação de de piquetes de 10m x 40m, e com taxa de
Koppen. A pluviosidade média anual é de lotação de 0, 2, 4 e 6 animais/piquetes,
654 mm, com as chuvas concentradas no equivalente a 0, 50, 100 e 150
período de janeiro a junho. A temperatura animais/hectare. Os tratamentos utilizados
média anual de 27 °C e a umidade relativa foram: sem animais (sa), 2 animais por
média de 64%. A vegetação predominante da piquete (Da), 4 animais por piquete (Qa) e 6
região é a caatinga hiperxerófila, e a área animais por piquete (Sa) com três repetições.
encontram-se cultivada com coqueiro-anão- Utilizaram-se ovinos da raça Santa Inês com
precoce (Cocos nucifera L.), estabelecido em peso médio de 35 kg e diâmetro médio de
um Neossolo Flúvico (EMBRAPA, 1999).
casco dos de 3,8 cm.
O experimento foi instalado em área
Para determinação dos atributos
cultivada com coqueiro-anão, com as plantas químicos e físicos do solo, por ocasião da
espaçadas 7,5 m (sistema triangular), e com instalação do experimento, foram coletadas
área total de 0,48 ha. O sistema de irrigação amostras na profundidade de 0–20 cm, em 10
utilizado foi o de microaspersão tendo os pontos aleatórios para obtenção de uma
emissores vazão de 100 L h-1, com cobertura amostra composta (Tabela 1).
Tabela 1. Atributos químicos e físicos do solo da área experimental.
pH
P
K
Na
Ca
Mg
Al
H+Al
H2O
mg.dm-3
---------------------------cmolc dm-3 -----------------------------7,6
31
0,15
0,21
3,9
1,8
0,0
1
Granulometria
Areia Silte Argila
------------ g/kg-1------------640
240
120
Classificação textural
Franca arenosa
Da
M.O
g/kg
13,8
Dp
---- kg dm-3 _--1,36
2,74
P, K: Extrator Mehlich 1M; Al, Ca, Mg: Extrator KCL 1M; H + Al: Extrator Acetato de Cálcio 0,5 M, pH
7,0:em H2O; Matéria orgânica: Digestão Úmida Walkley-Black; Areia: por pesagem; Silte e argila: Dênsimetro
de Boyoccus; Densidade aparente (Da): método torrão parafinado: Densidade de partícula (Dp): método do balão
de 50 ml.
A retirada das amostras ocorreu antes
(na testemunha) e após a saída dos ovinos em
cada piquete, em 4 níveis de profundidade do
solo: 0–5 cm, 5-10 cm, 10–15 cm e 15–20
cm, em quatros pontos aleatórios para
determinação dos atributos físicos.
Após a coleta, as amostras foram
levadas para Laboratório de Análise de Solo,
Água e Planta do IFPB – Campus Sousa,
onde foram realizadas as determinações
físicas (densidade aparente - DA, densidade
de partículas - DP, porosidade total – PT,
microporosidade - MAP, macroporosidade –
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E.B. Pereira Júnior et al.
MIP e conteúdo de água no solo), Embrapa
(1997).
Os dados foram submetidos à análise
de variância pelo teste F e quando
significativos, foram aplicado o teste Tukey
ao nível de 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 1, apresenta a densidade
aparente do solo nas quatro profundidades
amostradas, com e sem lotação animal.
Observa-se que na profundidade de 0–5 cm
ocorreram diferenças significativas (p < 0,05)
entre os tratamentos com utilização de ovinos
comparado com o tratamento sem pisoteio e
isso pode ser atribuído à carga animal
utilizada em cada tratamento. As densidades
aparentes do solo obtidas nos tratamentos
com pisoteio ovino podem ser consideradas
elevadas para muitas culturas anuais e ou
pastagens que poderão ser consorciadas com
coqueiral, sendo necessário, portanto, um
maior acompanhamento do agricultor quando
da introdução de animais em uma
determinada área. Segundo Bowen e Kratky
(1985) sugerem valores críticos de densidade
do solo, considerando a capacidade de
campo, que variam entre 1,55 kg dm3 para
51
solos com textura argilosa e 1,85 kg dm 3 para
solos com textura arenosa.
Os dados obtidos no presente estudo
corroboram com aqueles encontrados por
Drewry et al. (1999) que, trabalhando com o
efeito ovino nas propriedades físicas de solo
cultivado com tremoço (Lolium perenne) e
trevo-branco (Trifolium repens) na Nova
Zelândia, verificaram efeito significativo (p<
0,05) na densidade do solo na profundidade
de 0–5 cm no solo, comparados com parcelas
não pastejadas. Dados semelhantes também
foram encontrados por Greenwood et al.
(1997).
Observa-se também na Tabela 1 que,
nas profundidades de 5-10 cm, 10–15 cm e
15–20 cm não ocorreram diferenças
significativas na densidade aparente do solo,
(p< 0,05), evidenciando que as pressões
exercidas na camada superficial pelo pisoteio
ovino não interferiram nas demais
profundidades. Estes dados concordam com o
afirmado por Drewry et al. (1999) que,
trabalhando com o efeito Trifolium repens na
Nova Zelândia, encontraram resultados não
significativo nas profundidades de 5-10 e 1015 cm no solo comparados com parcelas não
pastejadas.
Tabela 1. Densidade aparente do solo nas diferentes ocupações com ovinos em sistema
integrado com coqueiro-anão.
Densidade aparente do solo (kg dm-3)
-----------------------Profundidades (cm)-----------------------Tratamentos
0–5
5 – 10
10 – 15
15 – 20
T1 (sa)
1,44 b
1,67 a
1,69 a
1,72 a
T2 (Da)
1,67 a
1,71 a
1,68 a
1,69 a
T3 (Qa)
1,69 a
1,71 a
1,67 a
1,66 a
T4 (Sa)
1,72 a
1,72 a
1,65 a
1,66 a
Letras iguais não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey (p<0,05), T1 (sa) = sem animais; T2 (Da)
= Dois animais; T3 (Qa) = Quatros animais; T4 (Sa) = Seis animais.
Os níveis de compactação na
profundidade de 0–5 cm obtidos nos
tratamentos (Qa) e (Sa) (Tabela 1)
influenciaram na porosidade total (p < 0,05)
tabela 2. Constatou-se, que o número
excessivo de animais na área prejudicou o
armazenamento de água e ar, tão necessários
ao crescimento e desenvolvimento da planta.
Bertol et al. (1998) também
observaram que a pressão aplicada pelo
pisoteio dos animais ocasionou alterações na
porosidade total do solo, especialmente nos
primeiros 3 a 6 cm de profundidade.
Lanzanova et al. (2007), avaliando o efeito do
pisoteio bovino, durante três anos de estudo,
verificaram que a compactação do solo,
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Impactos do Pisoteio...
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segundo os valores de densidade do solo, 10–15 cm e 15–20 cm), não ocorreram
limitou-se à camada superficial do solo, de 0- diferenças estatísticas entre os tratamentos
0,05 m de profundidade.
pelo pisoteio ovino.
Ainda na Tabela 2, observa-se que nas
demais profundidades estudadas (5–10 cm,
Tabela 2. Porosidade total do solo nas diferentes ocupações com ovinos em sistema integrado
com coqueiro-anão.
Porosidade total do solo (m3m-3)
-----------------------Profundidades (cm)-----------------------Tratamentos
0–5
5 – 10
10 – 15
15 – 20
T1 (sa)
0,46 a
0,40 a
0,39 a
0,38 a
T2 (Da)
0,39ab
0,38 a
0,38 a
0,38 a
T3 (Qa)
0,38 b
0,39 a
0,40 a
0,40 a
T4 (Sa)
0,37 b
0,39 a
0,40 a
0,40 a
Letras iguais não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey (p<0,05), T1 (sa) = sem animais; T2 (Da)
= Dois animais; T3 (Qa) = Quatros animais; T4 (Sa) = Seis animais.
Os dados médios da microporosidade
obtidos em função dos níveis de pressão
exercida pelo pisoteio ovino, comparado com
área similar sem pisoteio (tabela 3),
demonstram efeitos significativos na
profundidade de 0–5 cm, onde os tratamentos
com lotação de dois, quatro e seis animais
diferiram estatisticamente do tratamento sem
animais (p < 0,05). A explicação para tal
comportamento crescente dos tratamentos foi,
devido à carga animal exercida e também,
devido aos números diferentes de animais por
tratamentos.
Tabela 3. Microporosidade do solo nas diferentes ocupações com ovinos em sistema
integrado com coqueiro-anão.
Microporosidade do solo (m3m-3)
-----------------------Profundidades (cm)-----------------------Tratamentos
0–5
5 – 10
10 – 15
15 – 20
T1 (sa)
0,22 b
0,25 a
0,25 a
0,27 a
T2 (Da)
0,25a
0,26 a
0,26 a
0,26 a
T3 (Qa)
0,25 a
0,25 a
0,25 a
0,25 a
T4 (Sa)
0,26 a
0,25 a
0,25 a
0,25 a
Letras iguais não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey (p<0,05), T1 (sa) = sem animais; T2 (Da)
= Dois animais; T3 (Qa) = Quatros animais; T4 (Sa) = Seis animais.
Nas demais profundidades estudadas,
os valores médios da microporosidade não
sofreram interferência significativa pelo
pisoteio ovino.
Dados semelhantes foram encontrados
por Bertol et al. (1995), que em campo nativo
submetido permanentemente a pastoreio
extensivo por ovinos e bovinos, demonstrou
efeito significativo na microporosidade de 0–
5 cm de profundidade, em um Cambissolo
Húmico Distrófico. Vizzotto et al. (2000),
trabalhando com bovinos, constataram efeitos
significativos a (p<0,05) de probabilidade na
profundidade de 0–10 cm onde os valores da
microporosidade decresceram com carga
média de 738 kg de peso vivo, em solo
classificado como Planossolo.
Os
valores
médios
da
macroporosidade
decresceram
na
profundidade de 0–5 cm, diferindo
significativamente (p < 0,05) Tabela 4. Ao
avaliar o efeito da lotação animal nas
propriedades físicas do solo, na Nova
Zelândia, Drewry et al. (1999) demonstraram
que a macroporosidade na camada de 0–5 cm
diminui em áreas com pastoreio intensivo
Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 07, n. 01, p.48 – 55, jan/abr. 2014.
E.B. Pereira Júnior et al.
53
com ovinos em comparação com parcelas não significativo (p < 0,01) na profundidade de
pastejadas. Os mesmos autores relatam 5–10 cm com pisoteio ovino, diferindo dos
decréscimo da macroporosidade, com efeito resultados encontrados no presente estudo.
Tabela 4. Macroporosidade do solo nas diferentes ocupações com ovinos em sistema
integrado com coqueiro-anão.
Macroporosidade do solo (m3m-3)
-----------------------Profundidades (cm)-----------------------Tratamentos
0–5
5 – 10
10 – 15
15 – 20
T1 (sa)
0,24 a
0,14 a
0,13 a
0,11 a
T2 (Da)
0,13 b
0,11 a
0,12 a
0,12 a
T3 (Qa)
0,12 b
0,12 a
0,14 a
0,15 a
T4 (Sa)
0,09 b
0,10 a
0,14 a
0,15 a
Letras iguais não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey (p<0,05), T1 (sa) = sem animais; T2 (Da)
= Dois animais; T3 (Qa) = Quatros animais; T4 (Sa) = Seis animais.
O valor de 0,10 m3 m-3 da aeração
(macroporos) foi assinalado como limite
crítico inferior, a partir das quais as raízes
começam a reduzir seu crescimento
(DEXTER, 1988). No entanto, o tratamento
com seis animais (0,09 m3 m-3) de 0–5 cm de
profundidade demonstrou valor inferior
proposto por esses autores, que de certa
forma contribuiu para tal impedimento.
Nas demais profundidades estudadas
(Tabela 4), apesar dos valores da
macroporosidade
não
diferirem
estatisticamente, pode-se salientar que nas
profundidades de 10–5 cm e 15–0 cm nos
tratamentos com quatro e seis animais
demonstraram
melhores
valores
nos
tamanhos dos poros ocupados por ar.
Portanto, demonstra que não ocorreu
interferência do pisoteio nas citadas
profundidades, existindo uma independência
dos dados, não fugindo da sua estrutura
natural. Resultado semelhante foi obtido por
Drewry et al. (1999), que encontraram efeitos
não significativos para a macroporosidade em
áreas com pastoreio intensivo com ovinos,
comparado com parcelas não pastejadas na
profundidade de 10–15 cm do solo.
A umidade do solo variou por
tratamento e profundidade (Tabela 5). Na
profundidade de 0–5 cm, houve redução nos
tratamentos (Da), (Qa) e (Sa), que não
diferiram entre si, porém, os valores
decresceram significativamente ao nível (p <
0,01), em relação a testemunha (sa).
Verificou-se que os valores de umidade
inicial do solo diminuíram, à medida que foi
se colocando os animais nos referidos
piquetes. Esse comportamento está associado
ao pisoteio e a redução do estrato herbáceo,
devido ao consumo pelos animais, de modo
que a retirada da cobertura vegetal contribuiu
para a diminuição do sombreamento e a
atuação mais intensa da radiação solar na
camada superficial do solo, com consequente
evaporação da água durante o período
experimental.
Tabela 5. Umidade do solo nas diferentes ocupações e profundidades com ovinos em sistema
integrado com coqueiro-anão.
Umidade do solo (m3m-3)
-----------------------Profundidades (cm)-----------------------Tratamentos
0–5
5 – 10
10 – 15
15 – 20
T1 (sa)
0,32 a
0,24 a
0,13 a
0,11 a
T2 (Da)
0,11 b
0,12 b
0,12 a
0,12 a
T3 (Qa)
0,09 b
0,13 b
0,14 a
0,15 a
T4 (Sa)
0,11 b
0,14 b
0,14 a
0,15 a
Letras iguais não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey (p<0,05), T1 (sa) = sem animais; T2 (Da)
= Dois animais; T3 (Qa) = Quatros animais; T4 (Sa) = Seis animais.
Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 07, n. 01, p.48 – 55, jan/abr. 2014.
Impactos do Pisoteio...
Observa-se na Tabela 5, que a
umidade do solo na profundidade de 5-10 cm
nos tratamentos (Da), (Qa) e (Sa) diminuiu à
medida que aumentou os números de animais
por piquete. No entanto, a análise estatística
demonstra efeito significativo (p < 0,05) de
todos os tratamentos com relação à
testemunha (sa) e não entre eles. Estes
resultados podem ser explicado pela
influência do pisoteio e, também, pelo
processo de percolação da água que ocorreu
ao longo do perfil do solo estudado.
Nas profundidades 10-15 cm e 15-20
cm (Tabela 5), não ocorreram diferença
estatística nos valores da umidade do solo
entre os tratamentos. Nessas profundidades, o
acúmulo de água foi maior, provavelmente,
devido à dinâmica interna mais lenta e a
pouca influência dos processos externos
como a evaporação e luminosidade. Costa et
al. (2003), avaliando as propriedades físicas
de um Latossolo, observaram também, na
profundidade de 0,01 – 0,02 m resultados não
significativos para umidade do solo.
A grande variabilidade dos dados da
umidade pode ser atribuída à pequena
profundidade na quais as amostras foram
coletadas. Segundo Reichardt (1987), as
camadas superficiais são as mais expostas a
variações de umidade que ocorre, devido à
chuva, irrigação, evaporação, transpirações e
de irregularidade destes processos juntamente
com a variabilidade do solo resulta a grande
variação dos dados da umidade.
54
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CONCLUSÕES
A compactação causada pelo pisoteio
ovino induziu aumento de densidade do solo,
diminuição da porosidade total e alteração na
distribuição do tamanho dos poros na camada
de 0 – 5 cm.
As maiores lotações de animais
provocaram redução nos teores de água no
solo nas profundidades estudadas.
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