Crime Organizado e Terrorismo no Sahel

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Crime Organizado e Terrorismo no Sahel
2008/12/10
CRIME ORGANIZADO
E
TERRORISMO
NO
SAHEL
José Vale Faria[1]
Continuando a dissecar o anel operacional da Al-Qaeda que ameaça a Europa, este artigo visa
dilucidar a ameaça colocada pela estreita ligação e cooperação entre o crime organizado[2] e o
terrorismo jihadista,na África Ocidental e especialmente no corredor do Sahel.
1. Características da região
A região do Sahel apresenta os mais baixos índices de desenvolvimento humano, incluindo
alguns dos países mais pobres do mundo, que passaram por fortes guerras civis, ditaduras e
regimes autoritários, onde a pobreza, a fome e o alto índice de contaminação do vírus da
imunodeficiência humana (VIH), ainda fazem parte do quotidiano da região mais paupérrima do
planeta.
A faixa do Sahel, cujo étimo deriva do árabe sahil que significa, “costa” ou “fronteira”, do deserto do Sara,[3] é uma região dominada por
vegetação de savana que se estende por toda a África Setentrional, formando um corredor desde o Senegal e a Mauritânia, na costa
atlântica, até ao Sudão sobre o Mar Vermelho, constituindo uma zona de transição entre o deserto do Sara e a zona arborizada de
savanas a sul, totalizando uma área aproximada de 3.053,200 km2, equivalente ao dobro da área do Alasca.[4]
A topografia é essencialmente plana e a maioria da região, situa-se entre os duzentos e os quatrocentos metros de altitude. A densidade
populacional é baixa, variando entre 1 a 5 habitantes/km2 no norte do país, e 50 a 100 habitantes/km2 no Sul e nas proximidades de
alguns cursos de água, incluindo o Nilo no Sudão. A maioria da população que está afastada dos pontos de água e tradicionalmente é
semi-nómada, vive da agricultura e da criação de gado bovino, num sistema de transumância que é provavelmente, a forma mais viável e
sustentável de utilização do Sahel.[5]
O clima é tropical, quente e fortemente sazonal. A temperatura máxima mensal, varia entre 33° e 36° célsius e a temperatura mínima
mensal, entre os 18° e os 21° célsius. A precipitação anual varia entre os duzentos milímetros a Norte e os seiscentos no Sul, situandose a estação das chuvas, entre os meses de Maio e Setembro, seguindo-se seis a oito meses de estação seca.[6]
Os movimentos da Zona de Convergência Intertropical[7], determinam a quantidade de chuvas, num determinado ano – se penetram
muito para Norte, provocam um longo período de chuvas e, se não se moverem o suficiente, as chuvas de Maio fracassam totalmente.
Durante o Inverno, os ventos quentes e secos, sopram do deserto do Sara (conhecidos em grande parte da África Ocidental, como
“siroco” e “harmatão”) gerando espectaculares tempestades de areia, de violência incomum que por vezes atingem a costa da Florida. [8]
A auto-estrada transnacional saheliana ou auto-estrada transnacional do Sahel (AE 5 na rede trans-africana de auto-estradas) é um
projecto que visa pavimentar estradas transnacionais, melhorar e facilitar as formalidades fronteiriças num percurso rodoviário, através
da franja sul do Sahel, na África Ocidental, entre Dakar no Senegal, a Oeste e N’Djamena no Chade, a Este.[9]
Esta via atravessa sete países, ligando regiões com clima e meio ambiente semelhantes, assim como, laços comerciais e culturais que
remontam há séculos. Tem uma extensão aproximada de 4500 quilómetros, através do Senegal, Mali, Burquina Faso, Níger, Nigéria, e o
extremo norte dos Camarões, terminando em N’Djamena, na fronteira ocidental do Chade. Os cerca de 775 quilómetros, principalmente
na parte ocidental do Mali, estão pavimentados, mas extensas secções noutros locais, exigem reabilitação ou estão actualmente em
reconstrução. A maior parte do trajecto, faz-se em estradas nacionais já existentes, mas uma rota opcional requer a construção de uma
nova estrada entre o Senegal e o Mali.[10]
Para o abastecimento do Sahel, Alain Rodier refere que os contrabandistas utilizam principalmente dois itinerários principais. A Oeste, a
estrada que atravessa a Tunísia e a Líbia em direcção ao sul da Argélia, Mali, Níger e Chade. A Este, a estrada que parte do Sara
ocidental para desembocar na região ocidental do Sahel. Este jornalista relata métodos expeditos utilizados por elementos da Frente
Polisário que “desviam” petróleo e furtam veículos, junto de Organizações Não Governamentais, nos arredores da cidade fronteiriça de
Tindouf, situada no sudoeste da Argélia, a qual está rodeada por muitos refugiados sarauís, o que constitui uma “mina” para os
traficantes. A partir daí, as mercadorias seguem para a Mauritânia, o Mali e o Níger. [11]
2. Situação
Actualmente existe uma variedade de factores que explicam a crescente importância da África Ocidental e Central, no mapa mundial do
crime organizado e das organizações criminais transnacionais. A concorrência de factores externos como o rápido crescimento
demográfico, o urbanismo descontrolado, governos ineficazes e as dinâmicas das diásporas regionais e mundiais, amplificam os efeitos
das dificuldades políticas, económicas e sociais. Perante esta situação, as redes de crime organizado transnacional, procuram bases
operativas seguras para executarem as suas operações ilícitas (principalmente tráfico de estupefacientes e de seres humanos, produtos
pirateados e contrafeitos, emigração ilegal e recursos naturais), cooperam e coabitam, com as recentes e auspiciosas redes criminosas
próprias da África Ocidental.[12]
As duras condições socioeconómicas, a corrupção generalizada, cenários de conflitos presentes e passados, fronteiras permeáveis, má
governança e uma crescente cultura de impunidade têm alimentado o desenvolvimento de práticas ilícitas, mercê das quais, as
operações internacionais de redes de crime organizado que se realizam na região de África Ocidental e Central, têm adquirido um maior
relevo. A incapacidade sistemática dos Estados, em aplicar as regras do Estado de Direito e garantir a segurança dos seus cidadãos e
agentes económicos, oferece condições propícias para o desenvolvimento das actividades criminosas, com a finalidade de obter
benefícios fáceis, à custa de seres humanos e a segurança da sociedade.[13]
Os países desta região, com as suas distintas etnias, raízes culturais e abundância de recursos naturais, têm em comum, possuírem
dos níveis de vida mais baixos do mundo. Onze dos quinze membros da Comunidade Económica de Estados de África Ocidental[14]
(CEDEAO) e sete dos onze membros de Comunidade Económica de Estados da África Central[15] (CEEAC) encontram-se entre os trinta
países que figuram na cauda, do Índice de Desenvolvimento Humano, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento[16]
(PNUD). A ampla desigualdade na distribuição de riqueza e um crescimento demográfico incontrolado, associado a um rápido – e
desregulado – urbanismo, são características comuns a todas as sociedades da África Ocidental e Central que contribuem para a
crescente aceitação pelos seus habitantes, da prática de actividades criminosas, como opção, para romperem o círculo de pobreza.[17]
crescente aceitação pelos seus habitantes, da prática de actividades criminosas, como opção, para romperem o círculo de pobreza.[17]
Esta situação é bem ilustrada por Omar Sangari, funcionário do Ministério da Administração Territorial, em Bamako, o qual refere que “(…)
as pessoas são muito pobres e se lhes dão dinheiro, tornam-se salafistas, ou jihadistas, ou naquilo que lhes peçam”, (…) “podem ser
traficantes de armas, drogas ou tabaco, desde a fronteira sul da Argélia até ao Chade e Sudão, vendem o seu espólio no Egipto, e as
armas vão para a Palestina ou o Iraque”. [18]
A própria estrutura de muitas economias desta região, baseadas na exploração de recursos naturais (minério ou monoculturas orientada
para a exportação), conjugada com uma concepção patrimonial do Estado, segundo o qual os recursos financeiros e naturais da nação
“pertencem” a quem ocupa o poder, contribui para potenciar uma situação, onde a desobediência às normas jurídicas e a utilização de
privilégios institucionais, para fins privados, não só se justifica, como se considera um indicador de poder. Estes factores, contribuem
para atrair agentes económicos sem escrúpulos, facilitam o estabelecimento e desenvolvimento de redes criminosas, locais e
transnacionais, assim como, fomentam a consolidação de um modelo cultural em que o dinheiro pode comprar tudo, incluindo a
impunidade e o poder político, para além do respeito e a consideração social.[19]
3. Contrabando e Tráficos
Segundo Alain Rodier, na região do Sahel tem-se verificado um aumento de todo o tipo de tráficos. Com efeito, os vários grupos rebeldes
que actuam nesta vasta área, desértica e descontrolada, relacionam-se com as redes criminosas, para usufruírem de apoio logístico –
fornecimento de víveres, armamento, munições e veículos. Observadores constataram que alguns grupos de tuaregues e rebeldes
islâmicos, ligados à organização da Al-Qaeda para o Magrebe Islâmico[20] (daqui em diante AQMI) estão equipados com modernos
veículos todo-o-terreno, aparentemente em bom estado, assim como, referem que os operacionais, das várias facções e grupos, estão
fortemente armados com espingardas automáticas, metralhadoras pesadas e lança-foguetes do tipo RPG, aparentando, não terem
problemas em sobreviver e operar nas regiões hostis e desérticas do Sahel, o que demonstra possuírem um profundo conhecimento do
terreno e uma eficiente rede logística.[21]
Esta realidade, demonstra a cooperação existente entre os grupos terroristas e as redes de crime organizado, que beneficiam da
“protecção” dos vários grupos, para passarem as suas “mercadorias” (principalmente substâncias estupefacientes, armas, seres
humanos e tabaco, entre outros) nas rotas do Sahel, destinadas à Europa através de pontos de embarque localizados ao longo da costa
magrebina. Em troca desta protecção, os traficantes envolvidos, fornecem aos rebeldes e aos terroristas, aquilo que estes mais precisam
para “controlarem” a região – veículos e combustível.[22]
Relativamente à existência de uma grande rede criminosa, dedicada ao “fornecimento” de veículos furtados ou roubados no Japão e
enviados para África, ainda não existem elementos de prova, mas apenas indícios, que sugerem a sua existência. Contudo, a existir, esta
organização deverá ser importante, porquanto a logística necessária para deslocar os veículos, em segurança, não é empresa fácil, não
sendo de descartar o envolvimento das “yakuzas” japonesas[23] e as “tríades” chinesas[24], assim como, as organizações criminosas
transnacionais nigerianas, para a execução destas operações. [25]
Alguns operacionais argelinos do Grupo Salafista para a Predicação e o Combate (daqui em diante GSPC), têm encontrado aliados nas
zonas mais deprimidas da Mauritânia, Mali, Níger e Chade, onde numa vasta terra de ninguém negoceiam e roubam, com a ajuda de
nómadas, pastores e chefes locais, a quem proporcionam dinheiro e veículos todo-o-terreno, em troca de protecção. Amari Saifi, um
antigo pára-quedista do exército argelino e ex-líder do GSPC, conhecido como “Abderrazak, o pára-quedista”, preso no Chade em 2004,
deu os primeiros passos na região, através de uma estratégia tão antiga como o casamento de conveniência, desposando três jovens
tuaregues no Mali.[26]
3.1. Tráfico de Estupefacientes
A costa e os portos da África Ocidental converteram-se no centro do tráfico transatlântico de cocaína. Para além de grandes envios de
cocaína, transportados por mar que são armazenados na África Ocidental e enviados para os seus destinos finais, em países ocidentais,
as redes internacionais de crime organizado, traficam com drogas duras, utilizando correios humanos “descartáveis”, com passaportes e
vistos falsos.[27]
A cocaína, proveniente da América Latina penetra no continente africano através de duas vias principais: a Este, por Madagáscar e, a
Oeste, pelo Senegal. Um dos maiores traficantes no Sahel, o marroquino Nouredine al-Youbi, coopera estreitamente com Yahia Djouadi,
o chefe da nona região da AQMI, assim como, mantém contactos com a Aliança Tuaregue do Norte do Mali para a Mudança (ATNMC) de
lbrahim Ag Bahanga. Youbi, alegadamente terá substituído Mokhtar Belmokhtar, o antigo chefe da nona região, notório traficante que foi
excluído da AQMI pelo seu líder, Abdelmalek Droukdel, sendo declarado morto em Janeiro de 2008, contudo esta informação não foi
confirmada.[28]
A heroína procedente do Afeganistão, Paquistão e Irão – região conhecida por “Crescente Dourado”[29]– entra na região, principalmente
por via aérea, para ser reexportada posteriormente para a Europa e, em menor escala, para os Estados Unidos. Esta realidade é bem
demonstrada pelas várias centenas de cidadãos oriundos de países de África Ocidental e Central que estão a cumprir penas de prisão,
por tráfico de droga, em estabelecimentos prisionais da Tailândia, Paquistão e Colômbia, entre outros países, para não falar dos correios
de droga, também designados “mulas” que morrem ao rebentarem as bolas de droga que transportam no estômago. O cultivo de
cannabis está amplamente generalizado para o consumo local, regional e em menor escala para exportação para países do norte de
Europa. [30]
3.1.1. O caso da Guiné-Bissau
Na tendência actual, a África Ocidental vem adquirindo uma importância crescente nas rotas internacionais do tráfico de cocaína – devido
ao aumento da vigilância policial no Atlântico Norte – desempenhando a Guiné-Bissau uma função primordial como entreposto da droga
proveniente da América Latina, porquanto tem condições ideais para o tráfico, devido à vigilância deficiente, inexistência de
estabelecimentos prisionais, um Estado demasiado fraco e uma população demasiado pobre, factos que motivaram a sua designação
como narco-Estado, em alguns fóruns e organizações internacionais. [31]
Recentemente a Organização das Nações Unidas (daqui em diante ONU) alertou para o facto de a antiga “Costa do Ouro”, na África
Ocidental, se ter transformado na “Costa da Coca”, advertindo para o risco, de a Guiné-Bissau ficar refém dos cartéis da droga e do crime.
António Maria Costa, italiano e director executivo do departamento da ONU de combate à droga e ao crime, dizia no Washington Post, que
“a Guiné-Bissau pode ficar refém dos cartéis da droga, em conluio com forças corruptas no Governo e com os militares”, [32] caminhando
rapidamente para uma situação de estado falhado ou exíguo.[33]
No Verão de 2008, duas denúncias voltaram a chamar a atenção para a Guiné-Bissau e para a fortíssima possibilidade deste país estar
No Verão de 2008, duas denúncias voltaram a chamar a atenção para a Guiné-Bissau e para a fortíssima possibilidade deste país estar
em vias de se transformar num narco-Estado. O procurador-geral da República, Luís Manuel Cabral, afirmou estar a ser vítima de
“ameaças de morte”, devido a uma investigação relacionada com o conteúdo da carga de dois aviões retidos em Bissau, apontando o
dedo a “políticos e militares que não querem que a investigação avance”. António M. Costa acrescenta que o combate é dificultado pela
“inexistência de radares, de navios ou embarcações de intercepção e mesmo de veículos das polícias locais”, realçando que “em alguns
casos não há sequer prisões para colocar os detidos”. Estas denúncias reiteraram o alerta para um problema já instalado, estando hoje
adquirida a visão de uma Guiné-Bissau transformada em importante ponto de escala no transporte de cocaína da América do Sul para a
Europa, aproveitando os traficantes as enormes dificuldades guineenses, a não existência de estruturas estatais mínimas, a falta de
meios de vigilância e intervenção (os investigadores criminais confrontam-se com a falta de quase tudo, de computadores a viaturas,
passando por falta até de papel e esferográficas para não falar nos ordenados em atraso e que nunca se sabe quando vão ser pagos), o
amplo e carente campo de recrutamento e a proximidade do continente europeu. [34]
No início do passado mês de Agosto, correram rumores de uma tentativa de golpe de estado, na sequência da suspensão do Chefe do
Estado-Maior da Armada, José Américo Bubu Nantchute, devido ao seu alegado envolvimento no tráfico de droga, designadamente
cocaína. Este facto é demonstrativo da forma como a imagem do país está a denegrir-se, cada vez mais, internacionalmente, funcionando
como placa-giratória da cocaína oriunda da América do Sul para a Europa, via Bissau.[35]
A esta realidade socio-política muito delicada, acresce a situação geográfica do país que é atraente para os traficantes, pelas facilidades
na realização de operações. A zona marítima da Guiné-Bissau é maior que o território continental, e o arquipélago dos Bijagós com cerca
de uma centena de ilhas, praticamente desabitadas, onde é fácil armazenar droga e combustível, admitindo-se mesmo que os produtos
são lançados de pára-quedas e recolhidos por “funcionários” em terra.[36]
3.2. Tráfico Humano
As péssimas condições económicas e de segurança fomentam o tráfico de seres humanos, que prospera impunemente. Em toda a
região trafica-se com mulheres e crianças, procedentes de toda África Ocidental e Central, exploradas como mão-de-obra ou como
trabalhadoras do sexo e “exportadas” para a Europa, Médio Oriente e Península Arábica. Algumas notícias na imprensa referem que
alguns lugares de África Ocidental estão a converter-se em destinos atractivos para o turismo sexual, incluindo a sua degeneração mais
atroz – a pedofilia.[37]
A ONU informou que em cada ano são traficadas aproximadamente duzentas mil crianças procedentes da África Ocidental e Central. O
Departamento de Estado dos Estados Unidos da América (EUA) realizou estudos, segundo os quais se calcula que nos países da África
Ocidental, trabalham aproximadamente 400.000 crianças. Além disso, Benim, Burquina Faso, Camarões, Costa do Marfim, Gabão, Gana,
Mali, Nigéria e Togo estão entre os países da África Ocidental, que registam maior tráfico de mão-de-obra infantil.[38]
Relativamente ao tráfico de imigrantes ilegais, a região é tanto um ponto de partida como de trânsito. Alguns países produtores de
petróleo da região, como o Gabão, Mauritânia e Guiné Equatorial, ou economias regionais desenvolvidas como a África do Sul e a Nigéria,
são o destino dos emigrantes subsarianos. Além de emigrantes africanos, nalguns lugares da África Ocidental e Central também se
trafica com emigrantes asiáticos, em trânsito para destinos ocidentais.[39]
A forma mais simples de viajar é por via aérea, directamente para a Europa ou, como alternativa, para o Norte de África e Médio Oriente,
de onde se pode prosseguir por via marítima. Obviamente, viajar por ar é mais dispendioso e efectua-se sob controlo dos grupos de
crime organizado, porquanto são necessários passaportes falsos, visas e documentos de acreditação, pelo que a maioria dos
emigrantes clandestinos utiliza a rota marítima. São conhecidos casos de navios com procedências tão remotas como os Camarões e a
Nigéria que viajaram por toda a costa ocidental de África até chegar ao destino mais habitual: as Ilhas Canárias e os Açores. Estes navios
podem rumar a portos inadequadamente controlados ou ancorar perto da costa para receber mais imigrantes que chegam em pequenas
embarcações, designadas em Espanha “pateras ou cayucos”. Noutros casos, embarcações com rotas estabelecidas entre dois países
(vizinhos), são utilizadas pelos emigrantes para realizarem um troço de uma viajem mais longa.[40]
O tráfico de emigrantes em rotas marítimas, depende essencialmente dos grupos de crime organizado, porque requer uma injecção
inicial de capital para aquisição de embarcações, assim como, uma base logística em terra para reabastecimento e recolha na rota, dos
emigrantes de vários países. Existem indícios que apontam para a participação de grupos de crime organizado procedentes da Nigéria,
Gana, Libéria e Senegal. [41]
As rotas terrestres de emigrantes ilegais percorrem o deserto do Sara, de sul a norte. Quando se trata de tráfico por terra, alegadamente
existem duas possibilidades. Na primeira, o emigrante compra uma “solução integral” desde o seu lugar de origem. Esta pode incluir
documentação falsa, transporte, alojamento e, suborno de funcionários aduaneiros. Na segunda, os emigrantes tentam chegar até onde
podem pelos seus próprios meios, recorrendo a estradas e meios de transporte convencionais.[42]
Afastados das rotas que atravessam o Sara, os habitantes locais especializaram-se na prestação de apoio logístico aos “emigrantes”,
oferecendo comida e alojamento, falsificando documentos e proporcionando transporte e guias, para evitar serem detectados no deserto.
Emigrantes de outros continentes, concretamente do Extremo Oriente e Ásia Oriental, também utilizam as rotas de contrabando da África
Ocidental e Central, tendo já sido detectados emigrantes procedentes da China, da Índia e do Bangladesh. Estes, viajam até esta região,
por via aérea e, daí seguem viagem até à Europa, por rotas marítimas ou terrestres.[43]
As rotas utilizadas para o tráfico de estupefacientes e de emigrantes, também são utilizadas para o próspero comércio de artigos
pirateados e contrafeitos,procedentes, principalmente, da Ásia Oriental, assim como, da América Latina, de acordo com várias notícias. O
problema das falsificações afecta gravemente as industrias locais, especialmente o sector do lazer, o alimentar e o farmacêutico. Neste
contexto, importa realçar que, segundo o Banco Mundial, a música representa o terceiro elemento mais importante do crescimento
económico anual e de receita, em termos do Produto Interno Bruto, no Senegal, Mali, Gana e Camarões. A Interpol, descobriu ligações
suspeitas, entre grupos organizados que participam em pirataria musical, no Gana, Guiné, Libéria e Nigéria e, organizações terroristas do
Médio Oriente. No Mali, Mauritânia e Nigéria, foram encontrados CD’s com mensagens e propaganda de grupos extremistas.[44]
3.3. Tráfico de Armas
Segundo vários estudos, somente nos países da África Ocidental existem entre quatro e oito milhões de armas ligeiras, o que representa
um grande obstáculo para o fim dos conflitos civis na região. A fácil disponibilidade de armas ligeiras, conjugada com as incapacidades
dos Estados, em proporcionar a devida segurança, controlar os seus territórios e aplicar a justiça de modo imparcial, fomentam os
comportamentos violentos, os delitos contra a propriedade e, com o devir, a anarquia. A trivialização e privatização do uso da violência,
conjugada com a impunidade e a corrupção, são neste contexto, as causas dos conflitos violentos que podem desembocar em
verdadeiras guerras civis.[45]
verdadeiras guerras civis.[45]
As milícias civis, formadas por inexperientes e indisciplinados combatentes, deslocam-se de país em país com as suas armas,
passando de conflito em conflito. As forças estatais e não estatais também compram, com grande facilidade, a lealdade destas pessoas
com a promessa de repartição do quinhão ou de um punhado de dólares, como se verificou na Libéria, Serra Leoa, Costa do Marfim e
ainda perdura na República Democrática do Congo. Nestes países também se recorreu a pilotos mercenários, procedentes de países da
ex-União Soviética e de outros conflitos da região, juntamente com mercenários procedentes da Europa e da África do Sul, para
participarem em tentativas de golpes de Estado na região.[46]
3.4. Campos de Treino no Sahel
Em termos organizativos, os campos de treino móveis surgiram com o aproveitamento de uma dupla realidade: por um lado a prévia
implantação de células do GSPC, em regiões do sul da Argélia, lideradas por Mokhtar Bel Mokhtar, e, por outro lado, a utilização de uma
área que tradicionalmente tem servido como corredor de passagem para todo o tipo de tráficos ilícitos (de seres humanos, drogas,
armas, lavagem de dinheiro, diamantes, veículos roubados, entre outros) e que após as revoltas Tuaregues dos anos 1980, aliado à
impossibilidade dos estados da região, controlarem as suas vastas fronteiras, tem permitido a existência de grupos armados, muitas
vezes dedicados ao banditismo e reconvertidos para a causa terrorista, como se constatou, no sequestro de trinta e dois turistas
ocidentais, em Fevereiro de 2003, pelo GSPC que permitiu a este grupo obter um avultado resgate com a libertação dos reféns, no Mali,
após negociações com o governo alemão.[47]
José Maria Irujo referiu no El Pais, citando fontes dos serviços de informações europeus e norte-americanos que jihadistas recrutados
em Espanha estavam a ser treinados no manuseamento de armamento, explosivos e produtos tóxicos, na região do Sahel,
concretamente no Mali, um dos países mais pobres do mundo. As regiões desérticas do norte do Mali, junto às cidades de Tombuctou,
Gao e Kidal, “tornaram-se numa nova base de treino da Al-Qaeda”, referindo este diário madrileno que conjuntamente com as bases na
Mauritânia e no Níger, constituem a maior ameaça e um perigo potencial para a Europa, salientando que aproximadamente, vinte por
cento dos terroristas suicidas no Iraque, procedem supostamente, da filial da Al-Qaeda no Magrebe. [48]
Esta situação foi comprovada, por uma operação realizada pela polícia espanhola, em Reus – Tarragona, onde vários dos trinta e cinco
jihadistas, captados na Catalunha, pelo militante marroquino do GSPC e professor de taekwondo, Mbarara El Jaafari, teriam viajado para
campos de treino no Sahel, porquanto, “…já não têm de ir para o Afeganistão ou o Iraque. Agora treinam aqui ao lado, sendo as
deslocações muito mais fáceis, por isso o perigo aumenta…”.[49]
De acordo com um relatório da Direction Générale de la Sécurité Extérieure (Direcção Geral de Segurança Externa – designação dos
serviços de informações franceses) voluntários estrangeiros, principalmente, mauritanos e nigerianos, têm vindo a receber treino militar
dos salafistas argelinos, na região do Sara”. Esta situação, beneficia do facto de cerca de 90% dos treze milhões e meio de malianos,
serem muçulmanos, assim como, existem registadas, dezassete mil e quinhentas mesquitas. Contudo, os serviços de informações
advertem para a presença de novos pregadores, com dinheiro proveniente da Arábia Saudita, para disseminar a doutrina
wabita/salafista[50], levantar novas mesquitas, orfanatos e centros de caridade em Tombuctou e outras localidades do deserto, mas
sempre em áreas do norte, pobres e mais desfavorecidas. Ainda nesta perspectiva, um responsável de Bamako reconhece que “o Norte
é enorme, sendo impossível controlar essas fronteiras e, até o governo actua como se fosse terra de ninguém”, acrescentando que “os
rebeldes tuaregues fizeram três revoluções desde os anos cinquenta e fazem o que querem”. [51]
3.5. Os Tuaregues
O Norte do Mali é a terra dos tuaregues, os homens das túnicas azul índigo, conhecidos hoje em dia como antigamente, por «cavaleiros
do deserto», continuam a praticar uma vida semi-nómada e a residir sobretudo nas regiões desérticas e semi-desérticas.[52]
Em 1960 após a vaga de independências obtidas por várias nações africanas, os tuaregues, também conhecidos por piratas do deserto,
viram os seus territórios tradicionais, no coração do Sara, divididos por cinco países: Burquina Faso, Mali, Níger, Argélia e Líbia. [53]
Em 1963, uma revolta secessionista tuaregue, no Mali, foi brutalmente reprimida. Como consequência, uma parte da população foi
deportada para a periferia das cidades, os seus animais foram abatidos e as regiões nómadas, ficaram sob controlo militar. Com a seca
dos anos 1970 e 1980, numerosos jovens tuaregues do Níger e do Mali deslocaram-se para a Argélia e a Líbia, na esperança de
encontrarem emprego, chegando alguns a alistar-se na Legião Islâmica de Khadafi, vindo a combater no Chade e no Líbano. No início
dos anos 1990, dezenas de milhares de tuaregues voltaram ao Níger, mas a ajuda financeira prometida pelo governo, não se
materializou, originando a segunda rebelião que se estendeu até ao Mali.[54] Em 24 de Abril de 1995, foram assinados acordos de paz,
em Ouagadougou – Burquina Faso, entre o Níger e os tuaregues, com os seguintes pontos principais:
– A integração dos ex-rebeldes nas forças armadas nacionais; – Uma ajuda financeira para o regresso à vida civil; – Uma melhor
repartição das riquezas; – Abertura de escolas e centros de formação.
Contudo nenhuma destas disposições foi cumprida. [55]
Em 2003, trinta e dois turistas ocidentais, foram raptados no deserto do sara argelino, por elementos do GSPC, entre meados de
Fevereiro e meados de Março, tendo o carismático líder político e ícone histórico do movimento tuaregue, Iyad Ag Ghaly, sido escolhido
para estabelecer contactos com o GSPC e, serviu como mediador nas negociações, para a libertação dos turistas alemães e austríacos
raptados, “conseguindo” que os reféns fossem finalmente libertados em troca de um alto resgate.[56]
Até ao presente, a instabilidade crónica da região é mantida, acima de tudo, pela marginalização dos povos do Sahel. No entanto, o
encontro com o extremismo religioso pode revelar-se explosivo se o rigor da seita fundamentalista conseguir criar raízes no deserto.[57]
Contudo, segundo José Manuel Anes, a ideologia wabita/salafista não penetra facilmente no Sahel, onde o Islão sufi tradicional é muito
forte e constitui uma barreira, assim como, existe na África sub-sariana ocidental, um conflito entre o sufismo popular tradicional e o
integrismo rigorista do wabismo/salafismo, o que é um factor importante a considerar na estratégia anti-terrorista.[58]
A capital tuaregue – Kidal, é uma pequena vila de alguns milhares de habitantes, cercada por muros de pedra negra, considerada pelo
Pentágono a nova frente da “guerra contra o terror”. Para esta localidade, não existem voos comerciais, apenas um único voo militar,
semanal, se as condições atmosféricas o permitirem, pelo que o acesso a Kidal, faz-se pelo antigo trilho das caravanas, do longínquo
comércio no Sara que ligava a cidade de Gao, no Mali, à cidade argelina de Salah, sendo uma rota também usada pelos contrabandistas.
[59]
A enorme faixa de areia desde o Sara Ocidental até ao Darfur está fora de controlo. Os seus raros visitantes, viajam centenas de
quilómetros em veículos todo-o-terreno, sem avistarem um uniforme e, apenas avistam nómadas, perto de pontos de água ou oásis.
quilómetros em veículos todo-o-terreno, sem avistarem um uniforme e, apenas avistam nómadas, perto de pontos de água ou oásis.
Neste cenário, os terroristas deslocam-se em potentes viaturas todo-o-terreno, Toyota Land Cruiser (com motores a gasolina de 4,5 litros
de cilindrada) transportando reservatórios de água e utilizam para abastecimento das viaturas, depósitos subterrâneos, posicionados
estrategicamente ao longo das rotas, localizados por equipamentos de posicionamento global, vulgo GPS. Estão armados com
metralhadoras pesadas de calibre 12,7mm, morteiros e possuem telefones satélite, Thuraya, para as comunicações. Neste teatro de
operações, os islamistas argelinos beneficiem da indiferença, e até mesmo da interessada assistência dos nómadas, atraindo as boas
graças do povo, ao oferecerem antibióticos e outros medicamentos quando as crianças estão doentes. Para além disto compram gado
caprino, por vezes ao dobro do preço normal, “conquistando” desta forma, as mentes e os corações das pobres populações. [60]
3.6. Recursos Naturais e Redes de Crime Organizado
Esta vasta região de África é rica em recursos naturais. Petróleo, pedras preciosas, ouro, platina e madeira são as fontes de divisas mais
importantes de vários Estados da região. Contudo, se consideramos o contexto político geral, no qual os recursos são explorados, é
importante salientar que o seu controlo, pode ser causa de longos conflitos internos e a sua exploração pode contribuir para financiar
exércitos privados.[61]
Os vínculos com redes de crime organizado internacionais, grupos terroristas ou grupos rebeldes, Estados falhados e cleptocracias
africanas, surgem em vários relatórios oficiais da ONU, como por exemplo, os dedicados à Serra Leoa e à República Democrática do
Congo. Não é claro se a Al-Qaeda tem feito investimentos na indústria de diamantes na Serra Leoa, mas agentes seus, viajaram e
passaram temporadas na África Ocidental, e algumas operações do Hezbollah, no Líbano, foram financiadas com fundos provenientes
da exploração de diamantes.[62]
A recente detenção da neurocientista paquistanesa, Aafia Siddiqui, (nascida há 36 anos no Paquistão, estudou na Universidade Brandeis
e no Massassuchets Institute of Technology, nos EUA) que está a ser julgada em Nova Iorque, por ligações à Al-Qaeda, e segundo
responsáveis em contraterrorismo, ouvidos pelo londrino Times, a CIA e o FBI, sabem que esta terá passado anos em Boston, à
disposição de Khalid Sheikh Mohammed (alegado cérebro dos atentados de 11 de Setembro de 2001 nos EUA), fornecendo abrigo aos
operacionais que este enviava para os Estados Unidos.[63] Aafia Siddiqui, poderá também estar envolvida no financiamento da Al-Qaeda,
através do tráfico de diamantes na Libéria, além de outra acusações que o julgamento poderá ajudar a esclarecer.[64]
Na Nigéria, entre 60.000 a 100.000 barris de petróleo, são desviados diariamente de oleodutos e enviados para o estrangeiro por redes
internacionais de contrabandistas. Os lucros são utilizados para financiar a aquisição de armamento, para o que concorrem os grupos
criminosos e as milícias tribais, responsáveis pelo derramamento étnico de sangue na rica, mas empobrecida, região do Delta. Além das
economias informais de subsistência, grandes áreas dos mercados e economias nacionais estão governadas por monopólios paralelos
e ocultos que oferecem oportunidades para a lavagem e o branqueamento de dinheiro. Esta realidade evidenciou-se, em Dezembro de
2003, quando a polícia italiana deteve no aeroporto internacional de Dakar, no Senegal, Giovanni Bonomo, um dos homens mais
procurados da máfia siciliana, procedente de Costa do Marfim. Segundo fontes policiais, este homem teria importantes interesses
económicos em ambos países, porquanto a generalidade da população, neste contexto, não só considera as práticas de corrupção
“lícitas”, como inclusive, as “institucionaliza” como o mecanismo mais aceitável de redistribuição da riqueza nacional.[65]
3.7 A ameaça jihadista no Sahel
O professor Javier Jordán caracteriza a ameaça jihadista no Sahel, nos seguintes termos:
1. Quatro países do Sahel (Mauritânia, Mali, Níger e Senegal) onde actuam grupos jihadistas argelinos, totalizam uma superfície quase
nove vezes superior à de Espanha e, têm uma população aproximada de trinta e oito milhões de habitantes, constituindo na sua grande
maioria, sociedades pobres. A autoridade e a presença estatal são mínimas, nas zonas próximas do deserto do Sara.
2. As Forças Armadas dos quatro países atingem os 53.000 efectivos. O seu treino é deficiente e os meios logísticos são precários,
porquanto, são incapazes de controlar eficazmente, as vastas fronteiras com o deserto e grande parte dos seus territórios, pelo que não
será difícil perceber que alguns gruposjihadistas argelinos actuam na região com um elevado grau de liberdade.
3. Contudo, a presença destes grupos não supõe uma ameaça a curto e médio prazo, contra os regimes políticos destes países, assim
como, de momento, não existem provas de que possuam massa crítica favorável nas sociedades do Sahel.
4. Existe informação de que os jihadistas têm utilizado o Sahel com os seguintes fins: Refúgio/santuário – procurando obter a tolerância
da população local através de compensações materiais, não tanto de simpatia ideológica;
Financiamento – mediante as rotas de contrabando que existem na zona e, nalguns casos concretos, com o sequestro de turistas
ocidentais, para aquisição de armamento;
Formação/treino - segundo algumas fontes, satélites norte-americanos descobriram pequenos campos que mudam de local, em cada
dois ou três dias.
5. Por último, e talvez o mais importante, não está clarificada a vinculação directa dos grupos armados jihadistas do Sahel com a
organização da AQMI. Neste ponto não é claro distinguir a realidade de uma possível intoxicação das agências de segurança argelinas.
Contudo, existem sérios indícios de divisões internas (o qual não constitui uma novidade na história do jihadismo argelino), sobretudo
desde a incorporação formal do GSPC na Al-Qaeda, em Setembro de 2006. Nesta perspectiva, a fidelidade do emir argelino Mokhtar
Benmokhtar, considerado um dos principais líderes jihadistas no Sahel, à organização da AQMI constitui uma incógnita. Várias fontes
consideram que Benmokhtar e o seu grupo, passaram do jihadismo para a simples criminalidade e banditismo, sendo possível que
parte, substancial, deste grupo não sejam operacionais da AQMI.[66]
4. O Comando África dos EUA
Desde o início da guerra no Afeganistão, os Estados Unidos vêm referindo a fuga de membros da Al-Qaeda para países africanos, onde
instituições débeis e territórios semi-desérticos, favorecem o desenvolvimento de infra-estruturas de treino e redes de recrutamento.
Depois de um esforço inicial, para levar forças e garantir o apoio das autoridades no Corno de África, as preocupações ampliaram-se
recentemente para a zona do Sahel e os países do Magrebe, como referiu o general Charles Wald, 2º Comandante do Comando
Americano na Europa (US European Command – EUCOM) que cobre toda a África excepto o Corno, “temos de tratar disto. À medida que
os cercamos eles estão a migrar para África”, sublinhando o interesse da Al-Qaeda na região.[67]
Após os atentados de 11 de Setembro de 2001, nos Estados Unidos da América, vários especialistas vêm manifestado a preocupação,
de que o Sahel, com os seus vastos espaços vazios e fronteiras extremamente permeáveis, constitua um santuário, porque poderia servir
de que o Sahel, com os seus vastos espaços vazios e fronteiras extremamente permeáveis, constitua um santuário, porque poderia servir
como base de recrutamento e formação, para terroristas locais e internacionais, assim como, corredor para a circulação de pessoal e
material – algo similar ao Afeganistão para a Al-Qaeda, em finais dos anos 1990. Com estas preocupações em mente, a administração
norte-americana tem procurado estreitar vínculos militares, políticos e económicos com os estados da região.[68]
O jornal marroquino Al Ahdath Al Maghribia, citando “fontes marroquinas bem informadas” referiu que os atentados de 11 de Março de
2004, em Madrid, terão sido planeados pela Al-Qaeda, numa zona desértica situada entre as fronteiras do Mali, Mauritânia, Marrocos e
Argélia, referindo-se à zona do deserto do Sara como “triângulo do terrorismo”. Este jornal explica ainda que os serviços de informações
de Rabat terão conseguido identificar as movimentações dos suspeitos que planearam os ataques na capital espanhola que deixaram
201 mortos. Neste “triângulo” ou “base de retaguarda da Al-Qaeda” coabitam dois grupos de islamistas marroquinos[69], que devido às
perseguições das autoridades de Marrocos, terão optado por escapar para esta região, de difícil acesso e onde prolifera o tráfico de
armas, tendo aderido à rede de Osama bin Laden.[70]
O general Loureiro dos Santos referiu que o Sahel tem condições para se transformar num “imenso Afeganistão”, porquanto começa a
encher-se de fundamentalistas, da costa atlântica à do Índico. No Mali, segundo notícias recentes, está activo um campo de treino da AlQaeda, com a finalidade de instruir combatentes, europeus (espanhóis?) e não-europeus, para atacar a Europa. A instabilidade
incendeia o Sudão, onde avulta a tragédia do Darfur. Do Golfo da Guiné ao Corno de África o jihadismo está em acção – a Nigéria
encontra-se a braços com uma situação complexa no delta do Níger e a Somália, para além da pirataria[71] que grassa ao longo da sua
costa, transformou-se em campo de batalha de islamistas (Tribunais Islâmicos e milícias al-Shabaab) contra forças socorridas pela
Etiópia (cristã), que os EUA apoiam mais a sul, procura-se a estabilização dos Congos e tenta-se impedir que o terrorismo ameace a
própria África do Sul[72].
4.1. A Iniciativa do Plano Sahel
Em finais de 2002, os Estados Unidos lançaram a Iniciativa do Plano Sahel (Pan Sahel Initiative - PSI), um modesto programa com um
orçamento inicial inferior a 10 milhões de dólares americanos. Ao abrigo deste programa, os EUA enviaram elementos das suas forças
especiais e unidades de contraterrorismo para treinar as Forças Armadas do Chade, Mali, Mauritânia e Níger. O programa, concluído em
2004, teve um êxito notável, porquanto os efectivos formados, no Chade e Níger, expulsaram elementos do GSPC que se tinham
albergado nos respectivos países.[73]
4.2 AIniciativa Contraterrorista para o Trans-Sara
A Iniciativa Contraterrorista para o Trans-Sara (Trans-Sahara Contraterrorism Initiative - TSCTI) teve o seu início no ano seguinte, com um
orçamento anual aproximado, de 80 milhões de dólares americanos. O TSCTI, actualmente, inclui a Argélia, Chade, Mali, Mauritânia,
Marrocos, Níger, Nigéria, Senegal, e a Tunísia. Operacionalmente, tinha como objectivos a formação, com a implantação de cerca de 200
boinas verdes, do 10º Grupo de Forças Especiais do Exército dos EUA, para treinar as unidades militares dos países da região e
melhorar as suas estratégias, tácticas e coordenação com as operações militares e de intelligence americanas.[74]
Conclusão
Concatenando o exposto, podemos concluir que a África Ocidental e o Sahel em particular, transformaram-se num destino atractivo para
as redes internacionais de crime organizado que associadas às redes locais, fomentaram a criação e a exportação progressiva, de um
modelo específico de rede criminosa. Além das conhecidas redes nigerianas, estão a surgir novas redes no Gana, na Costa do Marfim e
no Senegal. Modeladas à imagem e semelhança do tipo de “rede” nigeriana, estas organizacionais criminosas partilham as mesmas
características imprecisas, fragmentadas e orientadas para o comércio que lhes proporciona tanto êxito nesta aldeia global do moderno
crime organizado.
Fernando Reinares referia no El Pais que dos vinte e sete estados, situados na África Ocidental e Central, nenhum ratificou os dezasseis
instrumentos de combate ao terrorismo, produzidos pelas Nações Unidas ao longo de quarenta anos. Vinte e quatro dos países
envolvidos, não cumprem as suas obrigações perante o Comité contra o Terrorismo do Conselho de Segurança e apenas três deles, têm
legislação anti-terrorista ou disposições nos seus respectivos códigos penais.[75]
Relativamente ao Sahel, tornou-se na zona cinzenta que o mundo ocidental temia. A vastidão dos seus territórios, o perfeito conhecimento
do terreno pelos contrabandistas e grupos terroristas, conjugados as carências institucionais para prevenir, conter e erradicar o
terrorismo, são potenciadas pela precária governança e deficiências no sistema político, falta de recursos humanos ou materiais, assim
como, as fracas capacidades (técnicas, tácticas e logísticas) das Forças Armadas e das Forças e Serviços de Segurança, da maioria
destes países, que enfrentam sérias dificuldades em monitorizar os vastos territórios que devem controlar, defender e proteger,
proporcionando as condições para que o status quo continue a persistir, permitindo assim, a instalação, permanência e desenvolvimento
das redes terroristas.
[1] Major de Infantaria da Guarda Nacional Republicana. Licenciado em História.
[2] A definição adoptada pela ONU, em Palermo, na Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, considera
crime organizado, um grupo estruturado com três ou mais pessoas, existente durante um período de tempo e actuando concertadamente
com o propósito de cometer um ou mais crimes graves de acordo com a presente Convenção, com o objectivo de obter, directa ou
indirectamente, um benefício financeiro ou outro material. Consultado em 25/11/2008 e disponível em
http://www.unodc.org/documents/treaties/UNTOC/Publications/TOC%20Convention/TOCebook-e.pdf.
[3] PHAM, J. Peter, Violence, «Islamism, and Terror in the Sahel», in World Defense Review, 22/02/2007, acessível em
http://worlddefensereview.com/pham022207.shtml, consultado em 25/07/2008.
[4] «Sahelian Acacia savanna (AT0713)», World Wildlife Fund Scientific Report, acessível em
http://www.worldwildlife.org/wildworld/profiles/terrestrial/at/at0713_full.html, consultado em 25/07/2008.
[5] Idem, ibidem.
[6] Idem, ibidem.
[7] Zona situada entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio, também designada por Zona Tórrida. GARRIDO, Dulce e COSTA, Rui,
Dicionário Breve de Geografia, Editorial Presença, Lisboa, 1ª edição, Setembro de 1996, pág. 198.
Dicionário Breve de Geografia, Editorial Presença, Lisboa, 1ª edição, Setembro de 1996, pág. 198.
[8] «Sahelian Acacia savanna (AT0713)», op. cit. e REGÀS, Ricad, Direcção Editorial, «Atlas Universal Expresso», Editorial Sol
90/Expresso, Lisboa, 2005, pág. 34.
[9] «Review of the Implementation Status of the Trans African Highways and the Missing Links, Volume 2: Description of Corridors», African
Development Bank/United Nations Economic Commission For Africa, SWECO International AB e Nordic Consulting Group AB, Estocolmo,
14/08/2003, acessível em
http://www.afdb.org/pls/portal/docs/PAGE/ADB_ADMIN_PG/DOCUMENTS/NEPAD_INFORMATION/TAH_FINAL_VOL2.PDF, consultado em
28/07/2008, pp. 113-114.
[10] Idem, ibidem.
[11] RODIER, Alain, «Sahel – Point de Passage pour Tous les Traffics», in RAIDS, Paris, edição n.º 265, Junho de 2008, pág. 18.
[12] MAZZITELLI, Antonio L., «El desafío de las drogas, el crimen organizado y el terrorismo en África Occidental y Central», Real Instituto
Elcano, Madrid, ARI n.º 43/2006, edição de 20/04/2006, acessível em
http://www.realinstitutoelcano.org/wps/portal/rielcano/contenido?
WCM_GLOBAL_CONTEXT=/Elcano_es/Zonas_es/Africa+Subsahariana/ARI+43-2006, consultado em 10/08/2008.
[13] Idem, ibidem.
[14] A CEDEAO inclui o Benim, Burkina Faso, Cabo Verde, Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Níger, Nigéria,
Senegal, Serra Leoa e Togo. Mazzitelli, Antonio L., op. cit..
[15] A CEEAC inclui Angola, Burundi, Camarões, Republica Centro-Africana, Chade, República do Congo, República Democrática do
Congo, Guiné Equatorial, Gabão; Ruanda e São Tomé e Príncipe. MAZZITELLI, Antonio L., op. cit..
[16] Para mais informação cfr. Relatório de Desenvolvimento Humano 2007/2008, Edições Almedina S. A., disponível em
http://www.pnud.org.br/arquivos/rdh/rdh20072008/hdr_20072008_pt_complete.pdf.
[17] MAZZITELLI, Antonio L., op. cit..
[18] IRUJO, José Maria, «Al Qaeda entrena en el desierto del Sahel a ‘yihadistas’ reclutados en España», El Pais, Madrid, 11/02/2007,
acessível em
http://www.elpais.com/articulo/espana/Qaeda/entrena/desierto/Sahel/yihadistas/reclutados/Espana/elpepuesp/20070211elpepinac_1/Tes,
consultado em 23/09/2008.
[19] Idem, ibidem.
[20] Para mais informação consultar, Faria, José Augusto do Vale, «Nova Era Jihadista no Magrebe», Lisboa, in revista da Guarda
Nacional Republicana “ Pela Lei e Pela Grei”, n.º 75, Julho-Setembro de 2007 e n.º 76, Outubro-Dezembro de 2007, e no Jornal de Defesa
e Relações Internacionais acessível em http://www.jornaldefesa.com.pt/conteudos/view_txt.asp?id=546.
[21] RODIER, Alain, op.cit..
[22] Idem, ibidem.
[23] Os grupos criminosos japoneses que dão pelo nome de boryokudan e fora do país de yakuza nasceram há muitos séculos atrás,
quando os homens habituados a guerrear ficaram desempregados com a chegada da paz. Hoje, os sabres e as vestes dos samurais,
foram trocadas pelas metralhadoras e óculos escuros. A protecção por intimidação. Cfr. Novi, Quid, Concepção, Organização e Direcção,
Os Rostos do Crime, Diário de Notícias, Lisboa, 1998, pp. 512-513.
[24] Para mais informação cfr. BOOTH, Martin, As Tríades – As Irmandades Criminosas Chinesas, Publicações Europa-América,
Colecção Estudos e Documentos, Mem Martins.
[25] Idem, ibidem.
[26] IRUJO, José Maria, op. cit..
[27] MAZZITELLI, Antonio L., op. cit..
[28] RODIER, Alain, op.cit..
[29] Crescente Dourado é uma expressão que data da década de 1990 e designa uma nova região na geografia da droga, a zona de
produção de ópio do Afeganistão, de onde hoje vêm 80% da produção de heroína mundial. A designação Crescente surge por imitação
do Triângulo Dourado; crescente evoca a sua localização num país islâmico. LACOSTE, Yves, Dicionário de Geografia – da geopolítica às
paisagens, Teorema, Lisboa, Setembro de 2005, pág. 110.
[30] MAZZITELLI, Antonio L., op. cit..
[31] Para mais informação cfr. PINTO, Cândida, «Guiné-Bissau: O Estado da droga», Expresso, Revista Única, Lisboa, 03/11/2007,
disponível em
http://semanal.expresso.clix.pt/unica/artigo.asp?edition=1827&articleid=ES271153&subsection=Guin%E9-Bissau, consultado em
06/11/2007.
[32] BARROS, Silva, «Costa do Ouro passou a ser a Costa da Coca», Diário de Notícias, Lisboa, 03/08/2008, consultado em 29/09/2008,
pág. 30.
[33] Para mais informação cfr. RODRIGUES, Alexandre Reis, «Estados Falhados» Jornal Defesa e Relações Internacionais, 15/07/2005,
acessível em http://www.jornaldefesa.com.pt/conteudos/view_txt.asp?id=229 e ALMEIDA, Políbio F. A. Valente, Do Poder do Pequeno
Estado – enquadramento geopolítico da hierarquia das potências, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Lisboa, 1990.
Estado – enquadramento geopolítico da hierarquia das potências, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Lisboa, 1990.
[34] Idem, ibidem.
[35] António, Nhaga, «Tráfico de Droga Levou à Suspensão de Nantchute», Diário de Notícias, Lisboa, 09/08/2008, pág. 44.
[36] Barros, Silva, op. cit..
[37] MAZZITELLI, Antonio L., op. cit...
[38] Idem, ibidem.
[39] Idem, ibidem.
[40] Idem, ibidem.
[41] Idem, ibidem.
[42] Idem, ibidem.
[43] Idem, ibidem.
[44] Idem, ibidem.
[45] Idem, ibidem.
[46] Idem, ibidem.
[47] JESÚS, Carlos Echeverría, «El terrorismo yihadista a las puertas de España: los campos de entrenamiento en el Sahel», Grupo de
Estudios Estratégicos, Análisis nº 202 5, Julho de 2007, acessível em http://www.gees.org/articulo/4230/, consultado em 14/08/2008.
[48] IRUJO, José Maria, «Al Qaeda entrena en el desierto del Sahel a ‘yihadistas’ reclutados en España», El Pais, Madrid, 11/02/2007,
acessível em
http://www.elpais.com/articulo/espana/Qaeda/entrena/desierto/Sahel/yihadistas/reclutados/Espana/elpepuesp/20070211elpepinac_1/Tes,
consultado em 09/06/2008.
[49] Idem, ibidem.
[50] Para mais informação cfr. FARIA, José Augusto do Vale, «Islamismo Radical e Jihadismo em Marrocos» in Jornal Defesa e Relações
Internacionais, 1º parte em 05/06/2008 e 2ª parte em 06/06/2008, disponível em http://www.jornaldefesa.com.pt/noticias_v.asp?id=602.
[51] OBERLE, Thierry, «Tracking Down Jihadists in the Sahara» Le Figaro, Paris, 21/03/2007, acessível em
http://www.lefigaro.fr/english/20070321.WWW000000533_tracking_down_jihadists_in_the_sahara.html, consultado em 30/07/2008.
[52] UNGER, Monika, Direcção do projecto, Geografia do Mundo – África Oceania, Circulo de Leitores, Rio de Mouro, Dezembro de 2006,
pp. 59 e 69.
[53] «Tuareg rebels in the African desert», The Croissant, Washington, 07/26/2007, disponível on-line mediante subscrição.
[54] Idem, ibidem.
[55] Idem, ibidem.
[56] OBERLE, Thierry, op. cit..
[57] Idem, ibidem.
[58] ANES, José Manuel, «O Salafismo Radical e Jihadista contra o Islão Popular e Tradicional das Confrarias Sufis: uma Oportunidade
de Estratégia Anti-terrorista», Revista Segurança e Defesa n.º5, Dezembro 2007 – Fevereiro 2008, Loures, pp. 34-35.
[59] OBERLE, Thierry, op. cit..
[60] Idem, ibidem.
[61] MAZZITELLI, Antonio L., op. cit..
[62] Idem, ibidem.
[63] LORENA, Sofia, «Alegada ex-agente adormecida da Al-Qaeda formada no MIT vai ser julgada em Nova Iorque» Público, Lisboa,
06/08/2008, pág. 15.
[64] FARAH, Douglas, «Evidence that Africa Matters for al Qaeda», CounterterrorismBlog, Estados Unidos da América, 06/08/2008,
disponível em http://www.douglasfarah.com/article/382/evidence-that-africa-matters-for-al-qaeda.com, consultado em 27/08/2008.
[65] Idem, ibidem.
[66]JORDÁN, Javier, «El Sahel – Un Activo para Al-Qaida en el Magreb?» in Athena Intelligence, 24/08/2007, acessível em
http://www.athenaintelligence.org/Sahel.pdf, consultado em 28/06/2008.
[67] LORENA, Sofia, «EUA Estendem Luta Contra o Terrorismo ao Sahel», in Público, Lisboa, 17/03/2004.
[68] PHAM, J. Peter, op. cit..
[69] Para mais informação cfr., FARIA, José Augusto do Vale, «Islamismo Radical e Jihadismo em Marrocos», Jornal de Defesa e
Relações Internacionais, 05/06/2008, Parte 1, acessível em
http://www.jornaldefesa.com.pt/noticias_v.asp?id=602 e Parte 2,
http://www.jornaldefesa.com.pt/noticias_v.asp?id=603.
[70] «Jornal Marroquino diz que 11M foi Planeado no Sara», in Público, Lisboa, edição de 21/03/2004.
[71] Cfr. LOURO, Nuno Paixão, «O Regresso dos Piratas», in Sábado n.º 223, 07/08/2008, pp. 70-73.
[72] SANTOS, Loureiro, «Um comando militar americano para África», in Público, Lisboa, 19/02/2007.
[73] PHAM, J. Peter, op. cit..
[74] Idem, ibidem.
[75] REINARES, Fernando, «Al sur del Sáhara», El Pais, Madrid, 24/05/2006, disponível em
http://www.elpais.com/articulo/opinion/sur/Sahara/elpepiopi/20060524elpepiopi_4/Tes, consultado em 22/06/2008, pág. 17.
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