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CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
Ciência e Cultura
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
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CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE BARRETOS
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
CIÊNCIA E CULTURA
Revista Científica Multidisciplinar do
Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos
Endereço:
POSGRAD - Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa
Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos
Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389 – Aeroporto
14783-226 – Barretos – SP – Brasil
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Publicação Semestral / Semi-annual publication
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CIÊNCIA E CULTURA
CENTRO UNIVERSITÁRIO DA
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE BARRETOS
Reitoria
Reitor: Prof. Dr. Reginaldo da Silva
Pró-Reitora de Graduação: Profa. Dra. Sissi Kawai Marcos
Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa: Profa. Dra. Fernanda Scarmato De Rosa
Pró-Reitora de Pós-Extensão e Cultura: Profa. Maria Paula Barcellos de Carvaho
Superintendente de Administração e Finanças: Wander Furegatti Ramos Martins
Conselho Curador
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Presidente
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Ciência e Cultura
Editor chefe:
Prof. Dr. Matheus Nicolino Peixoto Henares
Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos - UNIFEB
Comitê Editorial
Profa. Dra. Ana Emília Farias Pontes
Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos - UNIFEB
Prof. Dr. Claudinei da Cruz
Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos - UNIFEB
Prof. Dr. Romildo Martins Sampaio
Universidade Federal do Maranhão - UFMA
Prof. Dr. Luiz Fabiano Palaretti
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Câmpus de Jaboticabal
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SUMÁRIO
Editorial
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Aspectos éticos e legais do atendimento odontológico ao paciente com necessidades especiais
Ethical and legal aspects of dentistry attendence to patients with special needs
Fabiano de Sant’Ana dos SANTOS1, João Francisco de Lima FACCHINA1, Endriw Nakamichi Godoy
de FIGUEIREDO1, Thais Uenoyama DEZEM1, Alex Tadeu MARTINS1, Fábio Luiz Ferreira
SCANNAVINO1
11
Avaliação do desconforto pós-operatório em pacientes submetidos a cirurgia de reabertura de
implantes unitários: estudo-piloto
Evaluation of postopertative discomfort in patients submitted to second-stage surgery of singletooth implants: pilot study
Ana Emília Farias PONTES1, Jayne Aparecida de Mello MACHADO1, Liliane Fernanda Luz ORTEGA1,
Vinícius Maximo GOMES1, Fabiano Sant’Ana dos SANTOS1, Fernando Salimon RIBEIRO1
19
Cuidados no atendimento odontológico a gestantes de alto risco
Dental care to pregnant women at high risk
Suzely Adas Saliba MOIMAZ1, Mírian Navarro SERRANO2, Cléa Adas Saliba GARBIN1, Orlando
SALIBA1
27
Enxerto ósseo em bloco sem fixação interna com parafuso: relato de caso clínico
Block bone graft without internal fixation with screw: clinical case report
Daniel de Albuquerque PINHEIRO1, Fernando Salimon RIBEIRO1, Ana Emília Farias PONTES1
39
A figura do City Manager à luz do direito administrativo brasileiro na gestão compartilhada
The City Manager from the perspective of Brazilian administrative law in shared management
Pedro Henrique Costa SERRADELA1, Danilo Henrique NUNES1, Lucas de Souza LEHFELD1
49
Identificação e avaliação do perfil de sensibilidade de Staphylococcus aureus isolados das mãos de
estudantes do curso de Farmácia do UNIFEB
Identification and evaluation of the sensitivity profile of Staphylococcus aureus isolated from the
hands of students of Pharmacy UNIFEB
Andressa Leme de FIGUEIREDO1, Mariana Rodrigues ROZATTO1, Juliana Rico PIRES2, Deny Munari
TREVISANI3
57
Levantamento social, técnico, produtivo e de qualidade de unidades paulistas produtoras de leite
Social survey, technician, productive and quality of units São Paulo producers milk
Maira MATTAR1, Amanda Nogueira MATIAS1, Carolina Bilia Chimello LUZ1, Marluci Silva de
CARVALHO1, Ricardo RIVAS1, Luciano Menezes FERREIRA1
65
Visitantes florais na cultura da crotalária (Crotalaria juncea)
Visitor flowers on crotalaria crop (Crotalaria juncea)
Darclet Teresinha MALERBO-SOUZA1
79
Uma proposta de atividade sócio-técnica para o ensino de engenharia
A proposal for socio-technical activity for engineering education
Jurandyr C. N. LACERDA NETO1, Vágner Ricardo A. PEREIRA1, Rodrigo BORGES POLASTRINI2,
Gilberto BATISTA POLASTRINI2
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Editorial
A divulgação científica, comumente conhecida como publicação,
é o sistema que troca informações e certifica autoria por meio de
avaliação por pares. A composição desse processo envolve diversas
etapas, especialmente a elaboração de hipóteses e respostas a questões
e enigmas de diversas complexidades. Todo cientista quer encontrar
respostas a suas questões e submetê-las à avaliação e discussão por
pares a fim de divulgar suas conclusões, ou seja, publicá-las. No decorrer
desse processo, o texto científico, i.e., texto argumentativo que defende
conclusões, é referenciado por citações científicas. A citação científica
possui frequentemente caráter positivo, principalmente quando fortalece
a informação e o argumento resultante. As críticas da informação citada
também possuem valor na ciência, embora sejam menos frequentes.
A revisão por pares cria o processo argumentativo (discussão)
das informações e resultados obtidos no desenvolvimento da pesquisa.
Logo, além da evidência empírica resultante das citações científicas, a
adoção do sistema de revisão por pares também certifica as informações
presentes no texto científico, pois de certa forma representa um acordo
fundamental entre os cientistas. O texto científico devidamente redigido
e fundamentado por citações científicas, após avaliação e aprovação
pelos pares1 pode ser publicado no periódico ou revista científica.
A divulgação do trabalho científico passa por intensas mudanças
devido ao desenvolvimento dos meios de comunicação, em especial
da internet, das redes sociais e dos sites especializados na reunião do
perfil de diversos cientistas e de seus artigos já publicados (i.e.,
submetidos à avaliação por pares e, aprovados!). O grande entrave na
divulgação científica se deve à restrição do acesso a algumas bases de
dados, não por coincidência, daquelas de maior prestígio (e.g., Web of
Science, MEDLINE, Scopus). De acordo com Volpato (2013), algumas
bases de dados são mais reconhecidas do que outras, uma situação
que impõe tendenciosidade quando se busca por literatura científica
(bases de dados famosas são preferidas, e sua literatura é privilegiada;
assim, alguma literatura importante pode ser negligenciada porque os
artigos foram publicados em revistas não prestigiadas). O acesso free
à publicação científica está em debate em diversos centros e institutos
de pesquisa, universidades e sociedades científicas, pois representa a
execução, de fato, do direito ao conhecimento e do avanço científico.
Ciência e Cultura
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A Scientific Eletronic Library Online (SciELO) é uma base de dados
de livre acesso que contém periódicos da África do Sul, Argentina,
Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Espanha, México, Peru,
Portugal e Venezuela. Os periódicos indexados nesta base de dados
adotam a avaliação por pares como requisito para aceitação ou rejeição
do trabalho científico. Em muitos periódicos desses países podem ser
encontrados artigos de alta qualidade, o que tem atraído diversos
pesquisadores a divulgarem os resultados de suas pesquisas.
A Revista Ciência e Cultura, de escopo Multidisciplinar,
publicada pelo Centro Universitário da Fundação Educacional de
Barretos – UNIFEB, embora não esteja indexada a nenhuma base de
dados, adota a revisão por pares e tem sido publicada desde 2006,
com rigor da avaliação. Ciência e Cultura (UNIFEB) preconiza o acesso
livre ao seu conteúdo, por isso mantém os artigos publicados no
endereço www.unifeb.edu.br . A Revista do UNIFEB continuará
disponibilizando livremente os artigos científicos no site da Instituição,
mas pretende buscar maior visualização e citação dos artigos
publicados, pois entende que a ampla divulgação dos trabalhos,
sobretudo com livre acesso, é importante e fundamental para a
“construção” do conhecimento científico. Para encerrar, convido a todos
a prestigiar nossa Revista e em especial os pesquisadores para que
submetam seus manuscritos à Ciência e Cultura.
Matheus Nicolino Peixoto Henares
Editor Chefe
Referência
VOLPATO, G.L. Fortalecendo as citações para avaliação da qualidade
científica. RFO, Passo Fundo, v. 18, n. 2, maio/ago. 2013
____________________________________________________________________________________________________________________________________________
nesta etapa do processo de avaliação dos trabalhos científicos, os pares são denominados de revisores ou
referee’s.
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Aspectos éticos e legais do atendimento odontológico ao
paciente com necessidades especiais
Ethical and legal aspects of dentistry attendence to patients with
special needs
Fabiano de Sant’Ana dos SANTOS1, João Francisco de Lima FACCHINA1, Endriw Nakamichi Godoy de
FIGUEIREDO1, Thais Uenoyama DEZEM1, Alex Tadeu MARTINS1, Fábio Luiz Ferreira SCANNAVINO1
Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB, Curso de Odontologia, Av. Prof.
Roberto Frade Monte 389, Aeroporto, CEP 14783-226, Barretos (SP).
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RESUMO
Paciente com necessidades especiais geralmente tem a saúde bucal comprometida, o que é um grande
desafio para a odontologia no diagnóstico e tratamento desses pacientes que necessitam de um atendimento
específico e diferenciado. Desta forma, torna-se imprescindível que o atendimento odontológico seja pautado
nos princípios éticos que regem o relacionamento de toda equipe de saúde bucal com o paciente e sua
família/cuidador, porém estes pacientes ainda encontram dificuldades para serem atendidos, devido ao
grande número de profissionais que recusam atendimento a esse tipo de paciente, muitas vezes por medo,
falta de preparo e outras vezes por preconceito. Os autores do presente estudo realizaram uma revisão de
literatura com objetivo de analisar os aspectos éticos e legais que envolvem os atendimentos clínicos à
pacientes com necessidades especiais.
Palavras chave: Ética, Odontologia, Pessoas com Deficiência
ABSTRACT
Disabled persons needs often have impaired oral health, which is a big challenge for dentistry in the
diagnosis and treatment of these patients requiring a specific and differentiated treatment. Thus, it is
essential that dental care is guided by the ethical principles governing the relationship of all the oral health
team with the patient and family/caregiver, but these patients still find it difficult to be fulfilled due to the
large number of professionals who refuse compliance with this type of patient, often out of fear, lack of
preparation and sometimes by prejudice. The authors of this study conducted a literature review in order to
examine the ethical and legal aspects involving clinicians to disabled persons.
Keywords: Ethics, Dentistry, Disabled Persons
Autor para correspondência: Prof. Dr. Fabiano de Sant’Ana dos Santos
E-mail: [email protected]
Telefone: 17 3321-6336
Recebido em: 18/11/2013
Aceito para publicação em: 09/06/2014
Ciência e Cultura
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Aspectos éticos e legais do atendimento odontológico ao paciente com
necessidades especiais
Introdução
Paciente com necessidade especial é
todo indivíduo que apresenta desvios no padrão
de normalidade, podendo ser identificáveis ou
não, e que por isso necessitam de atenção e
abordagem especiais por um período da vida
ou indefinidamente (CASTRO et al, 2010).
Segundo Guedes-Pinto (1993), os indivíduos
que necessitam de cuidados especiais por um
tempo indeterminado ou por parte de sua vida,
são pacientes com necessidades especiais e seu
tratamento odontológico depende de eliminar
ou de contornar as dificuldades existentes em
função de uma limitação.
Odontologia para pacientes com
necessidades especiais é um termo
inespecífico, e abrange vários grupos de
patologias e condições que fazem com que um
paciente necessite de atendimento diferenciado,
definindo-se, que pacientes com necessidades
especiais são aqueles que apresentam
alterações mentais, físicas, orgânicas, sociais
e/ou comportamentais (SABBAGHHADDAD e MAGALHÃES, 2007). Os
indivíduos que apresentam desvios no padrão
de normalidade, de sua condição física, mental,
orgânica e/ou de sociabilização, são tidos como
pacientes com necessidades especiais. Essa
condição pode ser de caráter transitório como
a gravidez ou permanente como a paralisia
cerebral (ELIAS, 2007).
Imagina-se que pacientes com
necessidades especiais são indivíduos com
doença grave ou deficiência, mas essa visão é
extremamente reducionista. Deve-se pensar no
paciente com necessidades especiais como um
paciente que por alguma razão está, no
momento do atendimento, necessitando de uma
atenção especial, e para essa atenção o ideal é
que o profissional esteja sempre atento
(OLIVER, 1990). De acordo com Dualibi e
Dualibi (1998), os pacientes com necessidades
especiais são classificados em grupos,
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SANTOS et al.
subgrupos, lesão principal e sublesão. Os
grupos definidos são: a malformação congênita
(genética e não-genética); as alterações
comportamentais (psicoses, neuroses, autismo,
perversão e dependência química); e as
alterações físicas adquiridas (gravidez,
alterações sistêmicas, traumatismos e geriatria).
Uma necessidade especial nem sempre
pode ser identificada pelo aspecto físico, sendo
assim, o Cirurgião-Dentista deve realizar
anamnese minuciosa a fim de detectar possíveis
alterações e assim, proporcionar atendimento
odontológico integral e seguro. Com isso, o
Cirurgião-Dentista sempre deve fazer uma
anamnese não somente para ter em mãos seu
histórico médico e sim saber todas suas
necessidades como paciente e ser humano
(VARELLIS, 2013). Devido ao aumento da
expectativa de vida, os pacientes com
necessidades especiais estão cada vez mais
presentes na prática diária do CirurgiãoDentista. É preciso uma adequação ergonômica
no consultório devido as limitações que eles
podem apresentar, surgem muitas dúvidas
quando se fala sobre o manejo destes
pacientes, se as técnicas a serem utilizadas serão
as mesmas de pacientes que não possuem
necessidades especiais, quando e como usar
técnicas de contenção, medo do
comportamento, enfim inúmeras dúvidas
surgem no atendimento ao paciente com
necessidade especial (SILVA et al, 2005).
A sociedade brasileira está tomando
consciência dos seus direitos por meio da mídia,
que tem dedicado grande espaço ao chamado
“erro médico” e também pelo advento do
Código de Defesa do Consumidor. Por isso, é
de extrema importância que o CirurgiãoDentista esteja preparado e acompanhado de
medidas de salvaguarda, destacando a
documentação clínica como uma das mais
efetivas para proteger o profissional contra
reclamações que podem ser infundadas e,
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algumas vezes, até fantasiosas (ALMEIDA,
2005). Ainda segundo Almeida (2005), uma
grande parcela de profissionais CirurgiõesDentistas negligencia a elaboração do
prontuário, por diversos motivos, dentre os
quais se destaca a falta de espaço no
consultório para arquivar a documentação, o
grande tempo investido na elaboração da
documentação, e outros profissionais
manifestam seu inconformismo, e por vezes
inaptidão, para o que consideram uma
atividade burocrática desnecessária e
enfadonha, dissociada do exercício clínico.
O histórico do paciente geralmente é
desconhecido pelo Cirurgião-Dentista, que por
meio da anamnese se informa sobre o estado e
história de saúde do paciente, podendo assim,
identificar doenças que requererão cuidados
específicos, as quais poderão interferir na
condução do tratamento odontológico
(ROMANO, 2000). O paciente portador de
necessidade especial necessita de educação
especial e instruções suplementares temporárias
ou definitivas em função de sua situação de
saúde, sendo assim, a figura do cuidador tornase importante no desempenho das atividades
dirigidas a suprir as demandas de acordo com
a vida diária dos indivíduos especiais
(BATTISTELLA, 1997).
Vale a pena chamar atenção para o último
Relatório Mundial sobre Deficiência publicado
pela Organização Mundial de Saúde (OMS),
que relatou haver no mundo mais de 1 bilhão
de pessoas que vivem com alguma deficiência,
o que representa 15% da população mundial.
Os dados referidos representam números
maiores que os anteriormente estimados pela
OMS, datado de 1970, e que vislumbrava um
número em torno de 10%. Assim, notadamente,
há uma tendência mundial para o crescimento
quantitativo de pessoas com deficiência que
sobrecarregará os serviços de saúde de uma
maneira geral (OMS, 2012).
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Mediante o exposto, presente estudo tem
por objetivo apresentar sugestões para prática
segura no tocante aos aspectos éticos e legais
no atendimento odontológico à pacientes com
necessidades especiais.
Material e métodos
Trata-se de um estudo descritivo e
analítico realizado por meio de revisão
bibliográfica. A busca literária foi realizada
ativamente a partir dos descritores em
português: ética, odontologia e pacientes com
necessidade especial no período de maio a
setembro de 2013. As bases de dados
consultadas foram Scielo, Lilacs, Medline,
Periódicos Capes, Biblioteca Virtual em Saúde,
Ministério da Saúde, Conselho Federal de
Odontologia e em livros das respectivas áreas
de conhecimento. Os critérios de inclusão
foram artigos na íntegra “on line” e capítulos
de livros que abordavam o tema proposto neste
estudo.
Resultados e discussão
Conforme aludido no Código de Ética
Odontológica que entrou em vigor em janeiro
de 2013, especificamente no seu Artigo 2o “A
Odontologia é uma profissão que se exerce em
benefício da saúde do ser humano, da
coletividade e do meio ambiente, sem
discriminação de qualquer forma ou pretexto”
(BRASIL, 2012). É intrigante imaginar que no
campo das relações humanas especialmente
entre odontólogos, profissionais técnicos e
auxiliares, pacientes e cuidadores tenhamos que
trazer a tona importante reflexão com olhares
críticos relacionados a ética e a legalidade de
condutas nos atendimentos odontológicos aos
pacientes com necessidades especiais.
Ressalta-se que dados do Conselho Federal
de Odontologia constam 534 especialistas em
Odontologia para Pacientes com Necessidades
Especiais atualmente prestando serviços nesta
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Aspectos éticos e legais do atendimento odontológico ao paciente com
necessidades especiais
nobre especialidade (CFO, 2013).
Comparado com outras especialidades
odontológicas, pode se afirmar que o número
de especialistas na área de Odontologia para
Pacientes com Necessidades Especiais é
insuficiente para atender os 45 milhões de
brasileiros que apresentam necessidades
especiais (BRASIL, 2013). Pelo exposto, os
Cirurgiões-Dentistas clínicos gerais devem
suprir os atendimentos odontológicos
demandados pela população em questão, não
obstante, é imprescindível que estejam
devidamente preparados dentro do contexto
explorado pelo presente estudo.
A prática segura da odontologia está
fundamentada nos registros de informações
pertinentes ao atendimento odontológico de
todo e qualquer paciente. Neste sentido, o
Código de Ética Odontológica é taxativo e
destaca o prontuário odontológico como sendo
o conjunto de documentos que fornece ao
Cirurgião-Dentista informações sobre aquele
indivíduo que está sendo avaliado, com a
finalidade de diagnosticar, planejar, executar e
acompanhar o atendimento odontológico
(SILVA et al, 2011; BRASIL, 2012).
Infelizmente, conforme apontado por Almeida
(2005), há no mercado de trabalho
odontológico profissionais que se descuidam
na elaboração do prontuário odontológico. É
dever fundamental do odontólogo organizar e
guardar os dados relativos ao paciente, seu
estado de saúde e tratamentos indicados e
realizados. Sem esse cuidado tem-se muita
dificuldade para planejar, acompanhar o
desenvolvimento do trabalho e avaliar seus
resultados. O objetivo primordial, para a
elaboração de um prontuário minucioso,
correto e com maior número possível de
informações sobre o paciente, é a obtenção
de um diagnóstico mais preciso possível, que
nos facilitará a definição de um prognóstico e
plano de tratamento e o registro dos
14
SANTOS et al.
procedimentos executados para se obter os
resultados esperados (SANTOS e CIUFFI,
2009; BRASIL, 2012).
O prontuário odontológico deve ser
estruturado a partir dos dados de identificação
do profissional e do paciente, seguido da ficha
de anamnese (composta pela queixa principal,
questionário de saúde médico e odontológico),
assim como do exame físico geral e extrabucal,
e do exame físico intrabucal (SILVA et al,
2011). Na literatura é possível encontrar
autores que chamam a atenção para a
importância do registro do estado bucal
apresentada pelo paciente antes do tratamento,
mesmo quando se trate da intervenção de
especialista que o recebeu por encaminhamento
de um colega, sendo uma forma de resguardar
o profissional de eventual responsabilidade por
atos operacionais não realizados (RAMOS e
CALVIELLI, 1991; ALMEIDA, 2005; SILVA
et al, 2011; VANRELL, 2012).
Os componentes naturais que devem
constar do prontuário são os seguintes
documentos: a ficha clínica odontológica; a
documentação de imaginologia (radiografias,
tomografias e fotografias); a documentação
histopatológica (quando existente); exames
complementares (hemograma, coagulograma,
glicemia, cardiológico, urina simples, entre
outros); traçados ortodônticos; instruções de
higienização; fichas de índice de placa;
recomendações
pós-operatórias;
esclarecimentos sobre limitações para a
realização de determinados trabalhos, técnicas
e ou procedimentos; cópia do termo de
consentimento livre e esclarecido; cópia do
contrato de prestação de serviços profissionais;
cópia de quaisquer documentos fornecidos ou
emitidos em favor do paciente (atestados,
declarações, recibos, laudos e pareceres), cada
um com a assinatura de conhecimento ou
anuência do paciente ou cuidador; cópia dos
honorários profissionais, devidamente anuídos
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pelo paciente ou cuidador; cópia das
moldagens em gesso, eventualmente tomadas
do paciente (VANRELL, 2012).
O Cirurgião-Dentista deve ficar atento
também a outra possibilidade que não é
incomum no atendimento a pacientes especiais,
trata-se do abandono de tratamento pelo
paciente e ou de seus cuidadores. A literatura
chama atenção que este fato deve ficar
comprovado, com vistas à responsabilidade
profissional. Sendo assim, na ocorrência de
faltas ou quando o paciente e ou seu
responsável deixar de agendar consultas
programadas para a continuidade do
tratamento, o Cirurgião-Dentista deve
acautelar-se, expedindo correspondência
registrada (com aviso de recebimento) em que
solicita o seu pronunciamento sobre as razões
do impedimento. Na falta de resposta, a
correspondência deve ser reiterada no prazo
de 15 ou 30 dias, para que o abandono fique
caracterizado. Esta convocação nos mesmos
termos e prazos, pode ser feita também por
telegrama fonado com cópia (SILVA, 1999).
A contenção física pode ser utilizada
durante os atendimentos odontológicos a
pacientes com necessidades especiais, para
isso, é imprescindível que o profissional
comunique verbalmente os pais e ou cuidadores
do paciente, bem como se devem tomar destes
uma autorização por escrito em que sejam
destacados os riscos e benefícios deste recurso
físico. Em uma pesquisa realizada com
cuidadores de pacientes odontológicos com
necessidades especiais, 55% dos cuidadores
informaram ser necessário o uso da contenção
física, tanto a ativa feita pelo profissional e
equipe odontológica, como a passiva por meio
de faixas, lençóis e aparatos confeccionados
para esse fim específico. Informaram também
que 87% relataram não se incomodar, caso seja
necessária o uso da contenção. A contenção
física tem demonstrado ser um facilitador para
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o tratamento (SANTOS et al, 2011). Salientase que os métodos de contenção têm sido
preconizados por outros autores com sucesso
(OLIVEIRA et al, 2004; SILVA et al, 2005).
Outro recurso que pode ser utilizado por
profissionais que atuam no atendimento a
pacientes com necessidades especiais é o uso
de fármacos ansiolíticos. A literatura aponta que
estes medicamentos são seguros e eficazes,
quando bem indicado (ANDRADE, 2006).
Vale ressaltar que nestes casos, o cuidador deve
ser bem orientado pelo profissional, bem como
anuir à cópia da receita (SILVA et al, 2011;
VANRELL, 2012).
Conclusão
O êxito do tratamento odontológico em
pacientes com necessidades especiais está
associado ao estabelecimento do vínculo entre
o profissional, o paciente e a família e ou
cuidador, assim como a legitimidade da
terapêutica por meio da obtenção de um
prontuário circunstanciado. Desta forma, tornase imprescindível que o atendimento
odontológico seja pautado nos princípios éticos
e legais que regem o relacionamento de toda
equipe de saúde bucal com o paciente e sua
família e ou cuidador.
Agradecimentos
Aos pacientes com necessidades
especiais e seus cuidadores atendidos pelo
Grupo de Atendimento Multiprofissional à
Pacientes com Necessidades Especiais do
Curso de Odontologia do Centro Universitário
da Fundação Educacional de Barretos
(GAMPE UNIFEB).
Referências
ALMEIDA, C.A.P. Prontuário: instrumento
ético e de defesa do Cirurgião-Dentista, J.
Assoc. Paul. Cir. Dent. 2005.
15
Aspectos éticos e legais do atendimento odontológico ao paciente com
necessidades especiais
ANDRADE, E.D. Terapêutica medicamentosa
em Odontologia. 2 ed., São Paulo, Artes
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BATTISTELLA, L.R. O portador de
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Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
Avaliação do desconforto pós-operatório em pacientes
submetidos a cirurgia de reabertura de implantes
unitários: estudo-piloto
Evaluation of postopertative discomfort in patients submitted to
second-stage surgery of single-tooth implants: pilot study
Ana Emília Farias PONTES1, Jayne Aparecida de Mello MACHADO1, Liliane Fernanda Luz ORTEGA1,
Vinícius Maximo GOMES1, Fabiano Sant’Ana dos SANTOS1, Fernando Salimon RIBEIRO1
1
Curso de Odontologia, Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB.
RESUMO
O objetivo deste estudo piloto foi testar uma metodologia de avaliação do desconforto pós-operatório em
relação à dor, inchaço e sangramento, em pacientes submetidos a cirurgia de reabertura de implantes unitários.
Para isto, sete pacientes consecutivos do curso de Mestrado em Ciências Odontológicas do UNIFEB, que
foram submetidos a cirurgia de reabertura de implantes em outubro de 2013, foram convidados a participar
da pesquisa. Eles deveriam responder a um questionário com 10 perguntas sobre intensidade de dor, inchaço
e sangramento, na Escala Analógica Visual (0 a 10); e mais quatro perguntas relacionadas ao uso adicional
de analgésicos, necessidade de repouso, e acompanhamento profissional devido a complicações póscirúrgicas. Os cirurgiões foram alunos dos cursos de Mestrado em Ciências Odontológicas do UNIFEB, que
também forneceram informações sobre a área operada e a técnica cirúrgica empregada. Seis pacientes
aceitaram participar da pesquisa e responderam ao questionário. Nos três primeiros dias pós-operatórios, os
valores de dor tenderam a diminuir de 0,9 para 0,2; os de inchaço tenderam a diminuir de 2,2 para 0,9; e os de
sangramento diminuíram de 1,3 para 0,1. Nenhum paciente necessitou de doses adicionais de analgésico;
nenhum procurou acompanhamento profissional devido a complicações pós-cirúrgicas; e dois pacientes
relataram necessidade de repouso. Entretanto, não houve padronização nas respostas sobre o tipo de
técnica empregado. Dentro dos limites deste estudo, pode-se concluir que a cirurgia de reabertura ocasiona
mínimo desconforto pós-operatório, e que este tendeu ainda a diminuir ao longo do período de observação.
Palavras chave: Cirurgia bucal, cirurgia plástica, escala analógica visual de dor, implante dentário
ABSTRACT
The aim of this pilot study was to test a method for the evaluation of postoperative discomfort in relation to
pain, swelling and bleeding, in patients submitted to second-stage surgery of single-tooth implants. Thus,
seven consecutive patients from the Master of Science course from UNIFEB, who were submitted to secondstage surgery in 2013 October, were invited to participate of the research. They should answer to a
questionnaire with ten questions about the intensity of pain, swelling and bleeding, at a Visual Analogue
Scale (0 to 10); and four more questions related to additional use of analgesic, demand of rest, and professional
support due to postoperative complications. The surgeons were students from Master of Science course
from UNIFEB that also provided information concerning surgical site and surgical technique chosen. Six
patients accepted to participate of the research and answered the questionnaire. In the first three days,
values from pain tended to decrease from 0.9 to 0.2; those from swelling, reduced from 2.2 to 0.9; and from
bleeding reduced from 1.3 to 0.1. No patient needed additional doses of analgesic; none sough for professional
support due to postoperative complications; and two patients reported need to rest. However, there was no
standardization in the answer on the type of technique employed. Within the limits of this study, it could be
concluded that second-stage surgery causes minimum postoperative discomfort, and that it tended to
decrease further over the period of observation.
Keywords: Surgery, oral; surgery, plastic; pain measurement; dental implant.
Autor para correspondência: Ana Emília Farias Pontes
E-mail: [email protected]
Telefone: (17) 3321-6468. Fax: (17) 3321-6205.
Recebido em: 19/12/2013
Aceito para publicação em: 16/04/2014
Ciência e Cultura
19
Avaliação do desconforto pós-operatório em pacientes submetidos a
cirurgia de reabertura de implantes unitários: estudo-piloto
Introdução
O protocolo descrito por Branemark
et al. (1969), para instalação de implantes
dentários prevê a realização de duas fases
cirúrgicas. Na primeira fase, um retalho total é
elevado e o implante é instalado após fresagem
óssea, seguida do fechamento do retalho com
sutura. Um período de reparo de quatro a seis
meses é preconizado então, para permitir a
osseointegração. Na segunda fase, o tecido
mole formado coronalmente ao implante é
removido, para que seja confeccionada a
prótese.
Existem diversas técnicas descritas na
literatura que podem ser utilizadas para este
fim, como a remoção do tecido pela técnica
do bisturi circular, e técnicas que permitem o
concomitante aumento da faixa de mucosa
queratinizada (KHOURY & HAPPE, 2000;
TUNKEL et al., 2013). A técnica empregada
parece não interferir no índice de sucesso e
sobrevida do implante (CAIRO et al., 2008).
A técnica do bisturi circular parece ser a menos
traumática, pois após anestesia e identificação
da posição do implante, o bisturi é simplesmente
pressionado sobre o tecido, sem que haja
sequer necessidade de sutura pós-operatória.
Sendo assim, o período de reparo pode ser
menor, e esteticamente o resultado pode ser
satisfatório, com a manutenção do contorno
da mucosa, quando a técnica é corretamente
indicada. Contudo, apresenta a desvantagem
de não aumentar a faixa de mucosa
queratinizada, e eventualmente reduzi-la
(BAYOUNIS et al., 2011).
Por outro lado, a técnica de incisão
paracrestal seguida do deslocamento apical do
retalho é mais traumática. Tal modalidade
preconiza a realização de três incisões, uma
horizontal e duas relaxantes, além da elevação
de um retalho mucoperiosteal com o intuito de
20
PONTES et al.
aumentar a faixa de mucosa queratinizada
(TUNKEL et al., 2013). Sendo assim, o reparo
pode ser mais demorado, porém trazendo
benefícios estéticos adicionais, visto que o
tecido perimplantar se torna mais espesso, o
que contribui para um perfil de emergência mais
adequado.
Embora sejam observados na literatura
estudos que avaliem o desconforto pósoperatório após apicectomia e obturação
radicular retrógrada (CHRISTIANSEN et al.,
2008), tratamento endodôntico cirúrgico
(TSESIS et al., 2003), e cirurgia de instalação
de implantes (MULLER & RIOS, 2001;
HASHEM et al., 2006; AL-KHABBAZ et al.,
2007; URBAN et al., 2010), não foram
encontradas pesquisas abordando a visão do
paciente quanto aos diferentes métodos de
reabertura na segunda fase cirúrgica.
Em Implantodontia, deve ser
considerado o estudo de Fortin et al. (2006),
que comparou duas técnicas de instalação de
implantes, uma convencional, com retalho
mucoperiosteal elevado; e outra, considerada
minimamente invasiva, sem deslocamento de
retalho. A diferença da experiência de dor foi
expressa por meio de uma escala visual
analógica. Desta forma, pôde-se concluir que
a utilização de uma técnica minimamente
invasiva resultou em menos dor sentida pelos
pacientes, quando comparada à técnica
convencional.
Hipotetiza-se que de forma geral as
cirurgias de reabertura levem a pouco
desconforto pós-operatório. Ademais,
previamente a desenvolver um estudo
longitudinal, convém que seja realizado um
estudo piloto, que forneça dados para calcular
o tamanho amostral ideal e testar o instrumento
de avaliação e o método de coleta de dados.
O objetivo deste estudo piloto foi testar
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
uma metodologia de avaliação do desconforto
pós-operatório em relação à dor, inchaço e
sangramento, em pacientes submetidos a
cirurgia de reabertura de implantes unitários.
Material e métodos
Esta pesquisa foi submetida ao Comitê
de Ética e Pesquisa (CAAE 25398613.1.
0000.5433). Para seu desenvolvimento, foram
incluídos todos os pacientes atendidos na clínica
de Implantodontia do Curso de Odontologia
do UNIFEB a serem submetidos a cirurgia de
reabertura de implantes unitários no dia 21 de
outubro de 2013. Foram definidos como
critérios de exclusão: a recusa a participar da
pesquisa, ou a assinar o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.
Previamente à cirurgia, os pacientes
foram informados verbalmente do estudo, e
orientados na forma de preenchimento do
questionário. Este era impresso em quatro
páginas, contendo dez perguntas sobre a
intensidade de dor, inchaço e sangramento a
serem respondidas por meio da escala
analógica, conforme descrito por Christiansen
et al. (2008) (Q1 a Q10, Quadro 1). O
questionário continha ainda quatro perguntas
sobre o uso adicional de analgésicos,
necessidade de repouso e acompanhamento
profissional devido a complicações póscirúrgicas (Q11 a Q14, Quadro 1). Os dados
de identificação do paciente (nome e idade)
foram coletados no prontuário do paciente, e
o tipo de cirurgia foi anotado na planilha de
dados com base na informação fornecida pelo
cirurgião responsável, aluno do curso de
Mestrado em Ciências Odontológicas do
UNIFEB.
A escala analógica era representada
por uma linha com 10 cm de comprimento, com
a expressão “Sem dor / inchaço / sangramento”
Ciência e Cultura
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
em um extremo, e “Dor forte / Muito inchado /
Muito sangramento” no outro extremo. Foi
explicado que deveria ser feita uma marcação
na própria linha, no local que correspondesse
a seu grau de dor e desconforto.
As cirurgias foram conduzidas sob a
supervisão do docente responsável. O
protocolo medicamentoso pós-operatório
adotado em todos os casos foi o mesmo:
paracetamol 500 mg de 6 em 6 horas, no caso
de dor; e nimesulida 100 mg de 12 em 12
horas, durante 3 dias. Além disto, foi
recomendada a aplicação de bolsa de gelo no
local, alimentação líquida e pastosa fria, e
manutenção de repouso, nas primeiras 24
horas; e bochechos com solução de digluconato
de clorexidina a 0,12% de 12 em 12 horas,
durante 7 dias. O paciente foi instruído a
contatar o cirurgião em caso de suspeita de
complicação pós-operatória.
Os pesquisadores entregaram o
questionário ao paciente, que o levou para
casa. Os pacientes devolveram os questionários
no dia da remoção da sutura, sete dias após a
cirurgia.
A interpretação dos resultados foi feita
usando uma régua, que foi posicionada próxima
à linha, e o valor correspondente em centímetros
foi mensurado e anotado na lateral da página
do questionário. A intensidade de desconforto
foi classificada de acordo com McCaffery &
Beebe (1993): nenhuma, quando o valor
anotado foi zero; leve, quando os valores
variaram de um a três; moderado, quando os
valores variaram de quatro a seis; e severa,
quando variaram de sete a dez.
A análise dos dados foi descritiva,
desenvolvida por meio de um programa
específico (BioEstat 5.0, Sociedade Civil
Mamirauá / MCT – CNPq, Belém, Brasil). A
unidade de análise foi o implante.
21
Avaliação do desconforto pós-operatório em pacientes submetidos a
cirurgia de reabertura de implantes unitários: estudo-piloto
PONTES et al.
Quadro 1 – Questionamentos aplicados aos pacientes:
Resultados e Discussão
Sete pacientes foram contatados, e um
se recusou a participar da pesquisa. Sendo
assim, seis pacientes foram incluídos, três
homens e três mulheres, com idade variando
entre 36 e 65 anos (50,3 ± 9,5). Mais detalhes
da amostra são apresentados na Tabela 1. Não
houve padronização das respostas quanto à
técnica operatória, o que impediu a
comparação estatística entre as modalidades
de tratamento.
A compilação das respostas obtidas no
questionário é apresentada nas Tabelas 2 e 3.
De forma geral, os valores dados para dor ou
desconforto variaram de nenhum a leve.
Tabela 1 – Caracterização da amostra estudada.
22
Ciência e Cultura
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Tabela 2 – Média dos Escore pontuados na escala analógica visual, correspondente aos
questionamentos Q1 a Q10.
O conhecimento relativo ao controle do
desconforto é indispensável para se adequar a
prática clínica e trazer maior satisfação e
qualidade de vida ao paciente. A experiência
de dor é um fenômeno multifatorial em que
aspectos sensoriais e emocionais estão
envolvidos, portanto é muito influenciada pelas
expectativas associadas a um determinado
procedimento odontológico (ELI et al., 2000).
A quantificação dos níveis de dor associados a
diferentes procedimentos cirúrgicos devem
ajudar na determinação de diretrizes para a
comunicação com pacientes a fim de
estabelecer expectativas realistas a respeito do
tratamento. Isto pode reduzir os níveis de
ansiedade e levar a uma aceitação maior dos
procedimentos propostos (AL-KHABBAS et
al. 2007; BENHAMOU et al., 2008).
Tabela 3 – Tabela de frequência dos valores pontuados nos questionamentos Q11 a Q14.
O principal achado deste estudo foi
que os valores de desconforto foram leves.
Ciência e Cultura
Mais especificamente, a média de dor variou
entre 0,2 a 1,2 (em uma escala de zero a dez),
23
Avaliação do desconforto pós-operatório em pacientes submetidos a
cirurgia de reabertura de implantes unitários: estudo-piloto
e tenderam a reduzir ao longo dos dias de
observação, o que corroboram os achados de
Hashem et al. (2006) e Fortin et al. (2006),
que também utilizaram a escala analógica para
avaliar dor após a cirurgia de instalação de
implantes. Ressalta-se que em nossos
resultados os registros mais altos na escala de
dor foram feitos no 1º dia, ou seja, nas primeiras
horas após a cirurgia. Esta ocorrência coincide
com outros trabalhos que utilizaram a mesma
escala para avaliar a dor após cirurgia periapical
(PEÑARROCHA et al., 2006) e de instalação
de implantes (GONZALES-SANTANA et al.,
2005).
No trabalho de Fortin et al. (2006),
metade da amostra (trinta pacientes) foi
submetida a cirurgia convencional de instalação
de implantes com deslocamento de retalho, e
a dor pós-operatória foi avaliada desde o dia
da cirurgia até seis dias depois. Quanto à
ausência de dor, no segundo dia do referido
estudo, esta foi registrada em 12 pacientes
(40%), contra três pacientes (50%) no presente
estudo. As porcentagens são equiparáveis, e o
interessante é que no estudo de Fortin et al.
(2006) a medicação analgésica (paracetamol
500 mg) ou anti-inflamatória não esteroidal
(citam o exemplo do ibuprofeno 400 mg) foi
prescrita e recomendada que o paciente fizesse
uso apenas quando sentissem dor; para um
paciente especificamente, para o qual não
foram fornecidos maiores detalhes, foi ainda
prescrito o uso de anti-inflamatório esteroidal,
no caso, prednisolona.
Vale ainda salientar ainda que em dois
pacientes houve necessidade de realizar
enxertos de tecido mole (pacientes 1 e 6).
Contudo, apesar da realização de intervenção
cirúrgica em dois sítios, doador e receptor, o
que poderia acarretar maior dor, desconforto
e sangramento, os valores observados não
diferiram dos demais.
A prescrição do analgésico da forma
24
PONTES et al.
como foi feita nesta pesquisa pode representar
uma limitação, visto que não seria possível seu
desenvolvimento sem a prescrição
medicamentosa, o que feriria a integridade física
e emocional do paciente, e os princípios de
ética. Os resultados aqui apresentados sugerem
ainda a eficácia do protocolo medicamentoso
empregado na clínica de Implantodontia desta
instituição de ensino superior. Talvez a utilização
de um protocolo medicamentoso diferente
tivesse conduzido a resultados diversos, e
pudesse ser motivo de estudos complementares
a este. Pode-se ainda utilizar os dados do
presente estudo nas diferentes fórmulas de
cálculo amostral que levam em consideração
os desvios-padrões. Assim será possível
desenvolver um estudo prospectivo com alto
poder estatístico, maior que 80% (AYRES &
AYRES JR, 2007).
Um aspecto a ser considerado é que
não houve possibilidade de comparação entre
as técnicas, pela falta de padronização durante
a coleta de dados. Este fato pode ser
solucionado, em uma continuação da pesquisa,
oferecendo aos operadores as opções de
técnicas, como por exemplo: “Técnica do
Punch”, “Técnica da incisão paracrestal com
deslocamento apical do retalho”, e outras,
contemplando aquelas empregadas no centro
de estudo. Por fim, a publicação deste artigo,
apontando uma limitação na coleta de dados
pode ser benéfica para a validação de estudos
subsequentes, evitando assim a repetição deste
erro.
Conclusão
Dentro dos limites deste estudo, podese concluir que a cirurgia de reabertura de
implantes unitários ocasiona mínimo
desconforto pós-operatório, e que este tendeu
ainda a diminuir ao longo do período de
observação.
Ciência e Cultura
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Cuidados no atendimento odontológico a gestantes de alto
risco
Dental care to pregnant women at high risk
Suzely Adas Saliba MOIMAZ1, Mírian Navarro SERRANO2, Cléa Adas Saliba GARBIN1, Orlando SALIBA1
Programa de Pós-Graduação em Odontologia Preventiva e Social da Faculdade de Odontologia de
Araçatuba FOA/UNESP Departamento de Odontologia Infantil e Social – Rua José Bonifácio 1193 - CEP:
16015-050 – Araçatuba/São Paulo/Brasil.
2
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Odontologia Preventiva e Social da Faculdade de
Odontologia de Araçatuba FOA/UNESP Departamento de Odontologia Infantil e Social – Rua José
Bonifácio 1193 - CEP: 16015-050 – Araçatuba/São Paulo/Brasil.
1
RESUMO
A gravidez é um fenômeno fisiológico na vida da mulher e, por isso mesmo, sua evolução se dá na maior
parte dos casos sem intercorrências. No entanto, há uma parcela pequena de gestantes que, por ser portadora
de alguma doença, sofrer algum agravo ou desenvolver problemas, apresenta maiores probabilidades de
evolução desfavorável, tanto para o feto como para a mãe – “gestantes de alto risco”. Objetivo: apresentar
os principais aspectos que envolvem a gestação de alto risco, salientar as principais alterações bucais
durante a gestação, reforçar os cuidados em saúde bucal, bem como orientar os cirurgiões-dentistas sobre
os cuidados que devem tomar no tratamento odontológico de gestantes de alto risco. Metodologia: esta
pesquisa consiste em uma revisão de literatura do tipo bibliográfica, composta por artigos científicos,
dissertações e livros pertinentes ao tema, objetivando rever na literatura a abordagem sobre a temática.
Conclusão: faz-se importante ressaltar que o cirurgião-dentista bem informado sobre as alterações sistêmicas
que envolvem a gestante de alto risco pode oferecer um atendimento odontológico individualizado, seguindo
as recomendações clínicas, de acordo com o problema apresentado pela paciente, proporcionando maior
segurança ao tratamento e promovendo saúde bucal, minimizando desfechos desfavoráveis à gestação.
Palavras chave: Gestação de alto risco, saúde bucal, odontologia, complicações na gravidez
ABSTRACT
Pregnancy is a physiological phenomenon in a woman’s life, and therefore, in most cases, it evolves with no
adverse events. However, there is a small percentage of pregnant women who, for suffering from any illness,
receiving any injury or developing complications, present greater probability of an unfavorable outcome,
either for the fetus or for themselves or for both. They have a “high risk pregnancy”. Objective: Presenting
the main aspects involving a high risk pregnancy; highlighting the main oral changes and the oral health
care advisable during pregnancy; presenting guidelines for dentists concerning the caution to be taken in
the dental treatment of high risk pregnancy patients. Method: bibliographic literature review of scientific
articles, theses and books to review the approach to oral health care in high risk pregnancy. Conclusion: It
is important to emphasize that the dentist well informed about the systemic changes occurring in high risk
pregnancies can deliver personalized dental care, following the clinical recommendations specific for the
condition presented by the patient, ensuring greater safety to the treatment while promoting oral health care
and minimizing the occurrence of adverse events during pregnancy.
Keywords: high-risk pregnancy, oral health, dentistry, complications in pregnancy
Autor para correspondência: Mírian Navarro Serrano
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Recebido em: 14/02/2014
Aceito para publicação em: 27/06/2013
Ciência e Cultura
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Cuidados no atendimento odontológico a gestantes de alto risco
Introdução
A gravidez é um fenômeno fisiológico
na vida da mulher e, por isso mesmo, sua
evolução se dá na maior parte dos casos sem
intercorrências, provocando alterações no
organismo materno voltadas ao
desenvolvimento e bem-estar do feto, devendo
este resultar como produto vivo, sadio, com
peso e idade adequados (MARREIRO et al.,
2009; MARTINS, 2002; FERNANDES,
2012).
As alterações fisiológicas visam
preparar a gestante para o parto e a
amamentação, tendo como finalidade o bem
estar e saúde do binômio mãe-filho. Dentre as
principais e gerais ocorrências manifestas
durante a gestação, estão o aumento do fluxo
sanguíneo, aumento do volume uterino,
alterações hormonais para o desenvolvimento
do feto e manutenção da gravidez.
As modificações estruturais no corpo
da mulher são resultado de um aumento na
produção de estrógeno, progesterona, entre
outros hormônios, que representam processos
fisiológicos normais decorrentes da
preparação do organismo feminino para a
geração do bebê (SURESH e RADFAR,
2004) e a cavidade bucal não está isenta de
sofrer influências decorrentes do aumento
desses hormônios, podendo apresentar
algumas mudanças reversíveis e transitórias, e
outras mais consideradas patológicas,
dependendo do estilo de vida, do
comportamento individual e do estado de saúde
geral da gestante (FINKLER et al., 2004).
Durante a gestação, as modificações
do periodonto (hiperemia, edema e
sangramento gengival) estão relacionadas a
fatores como deficiências nutricionais, altos
níveis de estrógeno e progesterona, alterando
a resposta do periodonto aos fatores etiológicos
locais, como exemplo a presença de placa
bacteriana, assim como o estado transitório de
28
MOIMAZ et al.
imunodepressão (GOLDMAN e COHEN,
1980).
Além de toda a susceptibilidade
aumentada aos problemas gengivais durante a
gravidez, outros fatores que contribuem para
o agravo desses problemas são os déficits na
higienização das gestantes que ocorrem devido
aos enjoos frequentes, mal-estar, atingindo 60
a 70% das gestantes. Por esse motivo, a
gengiva torna-se inflamada, edematosa,
sensível e com tendência ao sangramento.
Assim, a gestante pode ser considerada uma
paciente com risco temporário maior que o
normal, para desenvolver complicações
periodontais (HONKALA e AL-ANSARI,
2005). É importante enfatizar que as doenças
periodontais não só afetam, significativamente,
a saúde bucal, mas também estão associadas
a doenças sistêmicas, tais como doenças
cardiovasculares, diabetes, nascimento
prematuro e pneumonia por aspiração
(PIHLSTRÖM et al., 2005; MIYAZAKI et
al., 1991).
Há uma parcela pequena de gestantes
que, por serem portadoras de alguma doença,
sofrerem algum agravo ou desenvolverem
problemas, apresentam maiores probabilidades
de evolução desfavorável, tanto para o feto
como para a mãe. Essa parcela constitui o
grupo chamado de “gestantes de alto risco”
(BRASIL, 2010). Na gestação de alto risco, a
vida ou a saúde da mãe e/ou do feto e/ou
recém-nascido tem maiores chances de serem
atingidas que as da média da população
considerada (BRASIL, 2010).
Esta visão do processo saúde-doença,
denominada Enfoque de Risco, fundamentase no fato de que nem todos os indivíduos têm
a mesma probabilidade de adoecer ou morrer,
sendo tal probabilidade maior para uns que para
outros. Essa diferença estabelece um gradiente
de necessidade de cuidados que vai desde o
mínimo, para os indivíduos sem problemas ou
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com poucos riscos de sofrerem danos, até o
máximo necessário para aqueles com alta
probabilidade de sofrerem agravos à saúde
(BRASIL, 2010).
Considerando a importância da
gravidez de alto risco no binômio mãe-filho, é
necessária a identificação precoce destas
gestações, para que assim seja possível
proporcionar uma assistência médicoodontológica adequada e para obtenção de
resultados satisfatórios (BUZZO et al., 2007).
Para tanto, objetivou-se apresentar os
principais aspectos que envolvem a gestação
de alto risco, salientar as principais alterações
bucais durante a gestação, reforçar os cuidados
em saúde bucal, bem como orientar os
cirurgiões-dentistas sobre os cuidados que
devem tomar no tratamento odontológico de
gestantes de alto risco.
Material e métodos
Para a identificação dos estudos
incluídos ou considerados nesta revisão, foi
realizada uma estratégia de busca detalhada e
avançada no banco de dados Bireme. Foram
utilizados como descritores: gestação de alto
risco, saúde bucal, odontologia, complicações
na gravidez. Todos os descritores utilizados
foram cruzados através da utilização de artigos
boleanos durante a pesquisa. Os critérios de
inclusão foram: artigos clínicos, estudos
controlados aleatórios, estudos in vitro,
revisões de literatura, revisões sistemáticas com
e sem meta-análise e livros/cartilhas que
abordassem o estudo. Os critérios de exclusão
foram: artigos sem resumo, artigos cujo idioma
não fosse o inglês e o português. O descarte
dos artigos foi feito primeiramente através do
título, logo em seguida os resumos também
foram analisados e então escolhidos os artigos
de interesse. De um total de 75 artigos, após
uma análise segundo o critério de inclusão e
exclusão, foram selecionados 30 artigos, sem
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atribuição do ano de publicação. Os dados
foram analisados e debatidos para a realização
da redação com os resultados concludentes.
Revisão da Literatura
Gestação de Alto Risco e Agravos à Saúde
Na parcela de gestantes denominadas
“gestantes de alto risco” (BRASIL, 2010), o
percurso natural da gestação sofre alterações
que podem desencadear risco de morte tanto
para a mãe, quanto para o feto e/ou recémnascido.
A Hipertensão é uma das complicações
mais comuns existentes nesta fase, e ocorre
quando a pressão arterial é igual ou superior a
140/90 mmhg na média de duas ou mais
medidas. Em geral ocorre após a 20ª semana
de gestação com desaparecimento até 12
semanas após o parto (BRASIL, 2010).
Outra complicação que pode afetar o
processo gestacional é o Diabetes, que é uma
doença metabólica crônica caracterizada por
hiperglicemia. Quando diagnosticada durante
a gravidez, ela é denominada “Diabetes
Gestacional”. “No Brasil, a prevalência do
diabetes gestacional em mulheres com mais de
20 anos, atendidas no Sistema Único de Saúde,
é de 7,6%, sendo que 94% dos casos
apresentam apenas tolerância diminuída à
glicose e 6% apresentam hiperglicemia no nível
de diabetes fora da gravidez.” (BRASIL, 2010)
As Cardiopatias são outro fator
gerador de risco durante a gravidez, e as
mulheres com este diagnóstico devem ser
orientadas e acompanhadas durante o pré-natal
por ser esta a doença com maior índice de
morbidade e mortalidade materna não
obstétrica. No Brasil, verifica-se que 4,2% das
gestantes apresentam cardiopatias, sendo
necessário, no pré-natal, afastar fatores que
precipitem as alterações cardiovasculares e
acentuam os riscos de morte, pois a cardiopatia
é considerada a maior causa de morte materna
29
Cuidados no atendimento odontológico a gestantes de alto risco
indireta no ciclo gravídico-puerperal (LAGE e
BARBOSA, 2012).
Durante a gravidez, outras situações
podem representar complicações gestacionais
ou agravos, dentre elas os problemas
sanguíneos, sendo os mais comuns
hemorragias, trombofilias e anemias. Presentes
entre 10 e 15% das gestações, as hemorragias
podem ser divididas entre as que ocorrem na
primeira metade da gestação (abortamento;
gravidez ectópica; neoplasia trofoblástica
gestacional benigna; descolamento
coriamniótico) e as que ocorrem na segunda
metade da gestação (placenta prévia;
descolamento prematuro da placenta; rotura
uterina; vasa prévia). Do diagnóstico correto
da causa do sangramento e da conduta
adequada depende o prognóstico materno e
fetal (BRASIL, 2010).
Podendo ocorrer em idade precoce,
ser recorrente e/ou migratória, a trombofilia é
conhecida como tendência à trombose. A
gestação pode ser a única oportunidade para
sua investigação; pois, alguns eventos podem
ser indicativos de sua ocorrência, tais como:
aborto recorrente, óbito fetal, pré-eclâmpsia,
eclâmpsia, descolamento prematuro e restrição
de crescimento grave (BRASIL, 2010).
Desses problemas sanguíneos, a
anemia, de acordo com a definição dos níveis
de hemoglobina sugeridos pela OMS, pode
estar presente em até 50% das grávidas, sendo
mais frequente em países em desenvolvimento,
associada a problemas nutricionais. “Nesses
mesmos países, onde a principal causa de
morbimortalidade materna é a hemorragia pósparto, a presença de anemia pode potencializar
esse problema” (BRASIL, 2010).
Considerada uma doença crônica
prevalente em países desenvolvidos e em
desenvolvimentos, a obesidade e o sobrepeso
são referidos atualmente como problemas de
saúde pública em razão do risco de doenças
30
MOIMAZ et al.
associadas, como hipertensão arterial, doenças
cardiovasculares, diabetes mellitus tipo 2, entre
outras alterações (SEABRA et al., 2011).
A obesidade pode ser considerada
fator determinante para o desfecho da gestação,
bem como para a manutenção da saúde, a longo
prazo, da mãe e da criança. No Brasil, a
prevalência do excesso de peso passou de
28,7% para 48%, sendo que 16,9% das
mulheres (1/3) apresentam obesidade
(SEABRA et al., 2011). Considerada uma das
doenças do século devido às mudanças nos
hábitos alimentares da sociedade, a obesidade
materna e o ganho de peso acima do
recomendado aumentam os riscos para uma
série de resultados adversos, tais como:
diabetes gestacional, parto prolongado, préeclâmpsia, cesárea e depressão. Porém, para
o recém-nascido, verifica-se maior morbidade
neonatal (NOMURA et al., 2012).
Considerada fator de risco para a
gestação, por estar entre duas fases evolutivas
importantes na vida da mulher, a gestação na
adolescência acarreta uma exacerbação dos
processos fisiológicas decorrente da gravidez
e das modificações físicas, psíquicas e sociais
provenientes da adolescência, aumentando os
riscos de alterações que podem ser
consideradas patológicas (BOUZAS e
MIRANDA, 2004; GALLO, 2011). O
diagnóstico precoce é essencial, na assistência
à adolescente gestante, para avaliação e controle
permanente do risco desde o início da
gestação. Desde que haja acompanhamento
adequado, no cuidado pré-natal, verifica-se
menor risco de complicações obstétricas
(BOUZAS e MIRANDA, 2004; GALLO,
2011).
Outro grupo que merece destaque são
gestantes com idade igual ou superior a 35 anos,
cuja gestação é denominada tardia. Para
aquelas com idade superior a 45 anos,
denomina-se gestação com idade materna
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muito avançada (SANTOS et al, 2009). A
gestação em mulheres com idade igual ou
superior a 35 anos está associada a risco
aumentado para complicações maternas, fetais
e do recém-nascido (ANDRADE et al., 2004).
É de consenso geral que o aumento do risco
obstétrico seja decorrente de doenças
crônicas, em especial, hipertensão crônica,
diabetes mellitus e miomas, ocasiona riscos
potenciais à gravidez e morbimortalidade
materna. Porém, o acesso a cuidados básicos
de saúde, principalmente, durante a gestação,
parto e puerpério, reduz os risco de
morbimortalidade materna (ANDRADE et al.,
2004).
Com relação às Doenças Sexualmente
Transmissíveis (DST), as infecções mais
importantes na gestação, consideradas a
prevalência e as consequências na saúde do
binômio mãe-filho são: sífilis, herpes simples,
hepatite B e HIV.
A sífilis é uma doença infecciosa
sistêmica, de evolução crônica e tendo como
agente etiológico o Treponema pallidum, que
pode produzir as formas adquirida e congênita
da doença. Essa DST pode ser controlada com
sucesso por meio de ações e medidas
preventivas através de testes de diagnósticos
sensíveis e tratamento efetivo de baixo custo.
Porém, continua sendo um problema de saúde
pública no Brasil (BRASIL, 2010).
A infecção do feto, ou seja a
transmissão vertical da sífilis, está na
dependência do estado da doença na gestante
e pode alcançar taxas entre 70 e 100% dentre
aquelas não tratadas, dependendo da fase de
infecção da gestante e do trimestre da gestação
(BRASIL, 2010; KUPEK e OLIVEIRA,
2012).
A infecção pelo Herpes Simples Vírus
(HSV) acontece pelo contato sexual, ou
também através do contato direto com lesões
ou objetos contaminados. Durante a gravidez,
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a virose pode determinar uma de suas
complicações de maior morbimortalidade - o
herpes neonatal, através da transmissão fetal
transplacentária, além de abortamento
espontâneo, quando a infecção materna ocorrer
nos primeiros meses de gestação (BRASIL,
2010).
Dentre as hepatites mais comuns no
Brasil (A, B, C e D), a Hepatite B pode
apresentar possibilidade de intervenção positiva
(prevenção, diagnóstico precoce e cuidado) em
relação à gestante e ao recém-nascido.
Enquanto apenas 5 a 10% dos que adquirem a
infecção na idade adulta evoluem para a forma
crônica, em neonatos, filhos de mães portadoras
do vírus da hepatite B (VHB), o risco de isso
ocorrer atinge aproximadamente 90%
(BRASIL, 2010; PERIM e PASSOS, 2005).
Estima-se, no Brasil, que 0,4% das
gestantes sejam soropositivas para o HIV
(BRASIL, 2010), traduzindo-se num problema
de saúde pública; pois, observa-se um aumento
crescente dos casos de infecção do HIV entre
mulheres, entre 15 e 45 anos. Quando não são
realizadas intervenções de profilaxia, durante
a gestação, a transmissão vertical do HIV
ocorre em cerca de 25% das mulheres
infectadas (BRASIL, 2007).
Recomendações à Prática Clínica
Odontológica
Ao contrário do que se acredita, o
atendimento odontológico pode ser realizado
em qualquer período gestacional, uma vez que
é mais prejudicial ao feto a manutenção de
infecções na cavidade bucal da mãe do que o
tratamento instituído (SILVA et al., 2006).
Durante o atendimento odontológico,
devem ser feitas perguntas sobre higiene bucal,
tais como frequência de escovação, uso de fio
dental, visitas regulares ao dentista e
sintomatologia sugestiva de manifestações
bucais associadas ao diabetes mellitus, que
31
Cuidados no atendimento odontológico a gestantes de alto risco
envolve o sangramento ou pus na gengiva,
dentes “moles ou bambos”, candidíase oral,
abscessos e tratamento periodontal prévio
(ALVES et al., 2006).
Faz-se necessário enfatizar e ensinar a
essas gestantes a importância da higienização
bucal adequada (escovação e uso de fio dental
frequentes), a fim de reduzir os riscos de
inflamação (gengivite gravídica e/ou
periodontite) que pode levar ao parto
prematuro e ao nascimento de crianças de
baixo peso (SOARES et al., 2009).
Durante o exame clínico, deve-se
atentar para que a paciente seja atendida na
segunda metade da manhã, com sessões
clínicas curtas, ficar atento aos reflexos de
vômito ou enjôo e manter a gestante em posição
mais elevada para que não ocorra a Síndrome
da Hipotensão Postural, que pode ocorrer
quando a gestante permanece em posição
supina por um breve período de tempo (3-7
minutos), apresentando sinais e sintomas de
Síncope. A causa provável é a compressão da
veia cava pelo útero gravídico e a diminuição
do retorno venoso dos membros inferiores.
Para o controle de uma Hipotensão Supina em
gestantes, a paciente deve ser posicionada
virada para o lado esquerdo, para aliviar a
compressão (SILVA et al., 2006a).
Em caso de tomadas radiográficas, o
cirurgião-dentista deve se preocupar com a
proteção da gestante, bem como de seu bebê,
colocando na gestante protetor de tireoide e
avental de chumbo (SILVA et al., 2006b).
Havendo a necessidade de moldagem
é aconselhável aplicar spray anestésico na
região de palato mole da gestante para diminuir
os reflexos de vômito e de enjoo (SILVA et
al., 2006b).
Em gestantes portadoras de diabetes
mellitus, algumas manifestações bucais podem
ser observadas, como, xerostomia,
hiposalivação, infecções, perda precoce de
32
MOIMAZ et al.
dentes, dificuldade de cicatrização e doença
periodontal, embora não sejam específicas
dessa doença; porém têm sua incidência ou
desenvolvimento favorecidos pelo descontrole
da taxa glicêmica (ALVES et al., 2006).
Outra condição que deve ser
observada pelo cirurgião-dentista na portadora
de diabetes é a redução do fluxo salivar, gerada
pelo uso de drogas com ação anticolinérgica.
Essa diminuição do fluxo de saliva favorece a
susceptibilidade de infecções orais, por
exemplo, candidíase oral (ALVES et al., 2006).
Em gestantes cardiopatas, a dose limite
de administração do vasoconstritor adrenalina
é de 54 µg, ou seja, 3 a 6 tubetes com
concentrações respectivas 1:100.000 e
1:200.00, por sessão. Já a felipressina, por ser
análoga sintética da vasopressina, torna-se um
potente vasoconstritor coronariano, podendo
desencadear, em pacientes cardiopatas, uma
crise de angina com isquemia miocárdica, além
de ter capacidade de levar à contração uterina
(PAIVA e CAVALCANTI, 2005). Portanto,
a solução anestésica mais empregada, em
pacientes gestantes de alto risco, é a lidocaína
a 2% com epinefrina na concentração de
1:100.000. A prilocaína é um anestésico do tipo
amida, de menor toxicidade que a lidocaína,
pode ser instituída como a solução anestésica
de segunda escolha e uma boa alternativa de
uso em pacientes, cujo agente vasoconstritor é
contraindicado (MOIMAZ et al., 2009). É
frequente encontrar na literatura, como motivo
para contraindicação ao uso de prilocaína, o
risco de produzir metahemoglobinemia; porém,
esse risco pode ocorrer tanto em pacientes
gestantes, como em outros pacientes. É
importante ressaltar que o cirurgião-dentista
deve estar atento à doença pré-existente da
paciente e a dose máxima recomendada
(MOIMAZ et al., 2009).
Quando houver necessidade de
atendimentos emergenciais, cirúrgicos ou
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endodônticos, recomenda-se a utilização de
corticosteroides (dexametasona 4mg) em vez
de anti-inflamatórios não esteroides (AINES).
Apesar desses fármacos serem considerados
seguros para gestantes, é imprescindível
investigar se a gestante é hipertensa ou se
encontra-se com diabetes gestacional
(VASCONCELOS et al., 2012).
Ante ao tratamento de uma gestante
portadora de sífilis, o cirurgião-dentista deve
perguntar se a mesma está fazendo o
acompanhamento pré-natal adequadamente, se
já foi solicitado algum exame de sangue durante
o pré-natal e se essa gestante já iniciou o
tratamento medicamentoso, sempre reforçando
a ideia de que o tratamento sendo realizado
adequadamente pode evitar a infecção do feto
(VALENTE et al., 2008).
Ao exame clínico, o cirurgião-dentista
deve se atentar aos sinais clínicos, como lesões
ulceradas de bordas endurecidas e elevada de
base clara (cancro) em lábios, língua, palato,
gengiva e amígdalas (VALENTE et al., 2008).
Outras manifestações bucais como placas
esbranquiçadas, irregulares, indolores que
podem ser destacáveis com a exposição do
tecido conjuntivo (condiloma lata, ou
condiloma plano), lesão característica da sífilis
secundária. Por ser identificável através de
manifestações bucais, o cirurgião-dentista tem
o importante papel no diagnóstico e controle
da sífilis através da identificação de seus sinais
e sintomas, orientação do paciente, suporte do
tratamento e acompanhamento (VALENTE et
al., 2008).
O sistema cardiovascular sofre grandes
modificações durante a gestação, e algumas
alterações podem agravar um problema
cardíaco pré-existente e levar a morbidade e
mortalidade. Portanto, é fundamental que o
cirurgião-dentista conheça a história médica da
paciente, por meio de uma anamnese detalhada
e criteriosa, e na presença de quaisquer sinais
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como arritmia, palpitação, fadiga, tontura,
Dispneia, dor no peito, solicite avaliação médica
(SILVA et al., 2006).
Na necessidade de exodontias,
raspagem periodontal, ou tratamento
endodôntico é aconselhável a terapia
medicamentosa profilática para segurança e
cobertura tanto da mãe quanto do feto. Como
agente antimicrobiano de primeira escolha,
pode-se optar pela prescrição das Penicilinas
(Penicilina V ou Amoxicilina) e Cefalosporinas,
categorizados pela FDA como categoria B
(MOIMAZ et al., 2009). Como segunda
escolha, o profissional pode optar pelos
Macrolídeos (Eritromicina, Clindomicina e
Azitromicina), que também são categorizados
como categoria B e recomendados em
pacientes que são alérgicas à penicilina. A
Claritromicina, que também é um macrolídeo,
é recomendada para pacientes gestante com
HIV+ e categorizada pela FDA como categoria
C (MOIMAZ et al., 2009).
Segundo Corrêa e Andrade (2005), na
odontologia, o desconhecimento da doença e
seus aspectos clínicos, além do preconceito
gerado em torno da AIDS, causou sérias
limitações no tratamento de pacientes
infectados pelo vírus HIV. A grande maioria
dos cirurgiões-dentistas não se sente
suficientemente preparada para atender
portadores de HIV. Porém, o tratamento de
pacientes HIV/AIDS não é mais complexo do
que outros pacientes com comprometimento
clínico. Além disso, os primeiros sinais clínicos
da imunodeficiência associada ao HIV
aparecem, com frequência, na cavidade oral,
o que dá ao cirurgião-dentista um importante
papel no diagnóstico precoce da infecção e
tratamento desse grupo de paciente (CORRÊA
e ANDRADE, 2005).
Com relação à transmissão do vírus
HIV na atividade clínica odontológica, por
acidentes de trabalho, existe um pequeno risco,
33
Cuidados no atendimento odontológico a gestantes de alto risco
porém concreto. Este vai depender da
gravidade do acidente (profundidade do corte,
volume de sangue no instrumental contaminado,
entre outros), além da carga viral do paciente
(CORRÊA e ANDRADE, 2005). Estima-se
que após um acidente percutâneo, o risco de
soro conversão seja de 0,3%. Após uma
exposição mucocutânea a sangue contaminado
o risco é de 0,09%. Para comparação, cerca
de 30 a 40% dos profissionais (não vacinados)
acidentalmente expostos a sangue infectado
pelo vírus da hepatite B, tornam-se
soropositivos. No caso da hepatite C, o risco
médio é de 1 a 10% (CORRÊA e ANDRADE,
2005). O profissional de saúde deve considerar
todos os pacientes como potencialmente
infectados, sendo que os procedimentos de
biossegurança devem ser adotados como rotina
em todo e qualquer atendimento: uso de gorro,
óculos de proteção, máscara descartável,
avental, luvas e calçado fechado e
antiderrapante (DISCACCIATI e VILAÇA,
2001).
Durante o tratamento de pacientes
hepáticas, mesmo que a função hepática da
paciente esteja alterada, consultas
odontológicas que visem à promoção de saúde
bucal devem ser realizadas, pois pessoas
infectadas são mais propensas a terem pobre
saúde bucal (ROCHA et al., 2009). Em alguns
casos, baixas dosagens do medicamento são
requeridas, enquanto outras drogas
(Eritromicina, Metronidazol, Tetraciclina,
Paracetamol, AINES, Diazepam e
Barbitúricos) devem ser evitadas, pois tendem
a agravar o quadro hepático da paciente. Além
disso, a maioria dos anestésicos locais usados
em Odontologia é hepatotóxica e sofrem
biotransformação no fígado; portanto, o uso
desses anestésicos deve ser em doses menores
(ROCHA et al., 2009) e como solução
anestésica de primeira escolha, recomenda-se
o uso da prilocaína, por ser menos tóxica que
34
MOIMAZ et al.
a lidocaína (MOIMAZ et al., 2009).
A conduta mais segura é sempre a
prevenção. Seguir as normas universais de
biossegurança, com base no princípio de que
todo indivíduo pode ser potencialmente
portador de doenças infectocontagiosas e,
adquirir conhecimentos básicos sobre essas
doenças é a melhor forma do profissional
trabalhar com segurança, respeitando as
questões éticas, legais e sociais (CORRÊA e
ANDRADE, 2005).
Discussão
Sabe-se que os riscos de
morbimortalidade na gestação são, na maioria
das vezes, preveníveis, sendo necessária a
participação efetiva de todos os profissionais
da área da saúde que tiverem contato com as
mesmas, inclusive o cirurgião-dentista.
A gravidez é um período favorável para
a promoção de saúde, não só por meio do
acompanhamento clínico sistemático realizado
durante o pré-natal, como também pela
possibilidade de estabelecimento, incorporação
e mudanças de hábitos pois, a singularidade
do momento remete a uma série de dúvidas,
que pode funcionar como estímulo para que a
gestante busque informações e, com isso,
adquira novas e melhores práticas de saúde
(CODATO, 2005).
Os benefícios de boas práticas de
saúde certamente se estenderão ao futuro bebê,
por meio da adoção de hábitos alimentares
adequados e de medidas preventivas,
minimizando a possibilidade do surgimento de
várias patologias na criança, dentre elas a cárie
dentária (CODATO, 2005).
A maioria das mulheres, durante a
gravidez, muda seus hábitos alimentares e passa
a comer, com mais frequência, alimentos ricos
em carboidratos e ácidos. Devido a essas
mudanças e à pobre higienização, a cavidade
bucal fica exposta a novas lesões no esmalte
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dentário e ao desenvolvimento da cárie dentária,
contribuindo para exacerbação dessa situação
a diminuição do pH salivar associada aos
frequentes enjôos e vômitos (MERGLOVAA
et al., 2012).
As mudanças hormonais próprias da
gestação em associação à pobre higienização
bucal são responsáveis pelo desenvolvimento
das gengivites (gengivite gravídica). A
vascularização da boca é muito intensa durante
a gravidez e quaisquer alterações fisiológica,
imunológica e/ou comportamental influenciam
suas estruturas, levando a um maior ou menor
grau de severidade (BRASIL, 2010;
MERGLOVAA et al., 2012).
A presença de infecção, em pacientes
gestantes, pode induzir ao parto prematuro e
ao nascimento de crianças de baixo peso. Por
ser um processo infeccioso, a doença
periodontal é apontada como um fator de risco
para ocorrência desses eventos, devido à
suspeita de que citocinas pró-inflamatórias
liberadas do periodonto inflamado possam
estimular a contração uterina (SOARES et al.,
2009).
Os distúrbios da cavidade bucal mais
freqüentes em pacientes portadoras de diabetes
mellitus são: xerostomia, hiposalivação,
infecções, perda precoce de dentes, dificuldade
de cicatrização e doença periodontal (ALVES
et al., 2006). Os desfechos gestacionais e
bucais estão diretamente relacionados ao
con-trole glicêmico materno (MATTAR et al.,
2011).
Em pacientes gestantes infectadas pelo
vírus da hepatite C, a cavidade bucal pode
apresentar alguns sinais dessa disfunção
crônica: presença de alterações hemorrágicas,
petéquias, hematomas, mucosa ictérica e
sangramento gengival, a Síndrome de Sjögren
e o líquen plano também têm sido associados
com hepatite C crônica (ROCHA et al., 2009).
O pré-natal, seja ele médico ou
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odontológico, é a melhor forma de prevenção.
Durante o pré-natal odontológico, a gestante
recebe informações sobre a importância da
saúde bucal e dos cuidados necessários durante
essa fase, aprende também sobre as
manifestações bucais características do período
gestacional e também sobre a necessidade de
cuidados profissionais, desmistificando a crença
de que mulheres grávidas não podem realizar
tratamento odontológico (SOARES et al.,
2009; MOIMAZ et al., 2007).
Para realização do tratamento
odontológico em gestantes de alto risco, o
cirurgião-dentista deve conhecer as alterações
sistêmicas de sua paciente, bem como sua
história médica pregressa, por meio de uma
anamnese detalhada, atentando-se para os
principais cuidados no atendimento, a fim de
estabelecer um plano de tratamento adequado.
Conclusão
A gestação de alto risco pode estar
relacionada a hipertensão, diabetes,
cardiopatias entre outros agravos ou condições.
O conhecimento sobre os aspectos
relacionados às condições de saúde, pelos
profissionais, é de fundamental importância no
cuidado à saúde da gestante. Seguir as
recomendações clínicas, de acordo com o
problema vivido pela paciente, proporciona
maior segurança ao tratamento, além de
promover saúde bucal, minimizando desfechos
desfavoráveis à gestação e prevenção das
principais doenças bucais.
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CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
Enxerto ósseo em bloco sem fixação interna com parafuso:
relato de caso clínico
Block bone graft without internal fixation with screw: clinical
case report
Daniel de Albuquerque PINHEIRO1, Fernando Salimon RIBEIRO1, Ana Emília Farias PONTES1
Curso de Mestrado em Ciências Odontológicas, Centro Universitário da Fundação Educacional de
Barretos – UNIFEB.
1
RESUMO
O objetivo desse trabalho foi relatar uma técnica alternativa de reconstrução óssea de rebordo alveolar em
área estética para reabilitação com implante unitário, utilizando osso autógeno em bloco, com um retalho
conservador sem incisão relaxante e sem fixação interna rígida. Paciente M.V.O., 31 anos, gênero feminino,
procurou atendimento odontológico para reabilitação com implante dentário na região do dente 21. Após os
exames clínico e radiográfico, o rebordo alveolar foi considerado inadequado para a instalação de um
implante. A reconstrução óssea foi programada com enxerto autógeno em bloco removido do ramo da
mandíbula. Na área receptora, após anestesia local, uma incisão horizontal foi realizada, seguida por incisão
intrassulcular nos dentes adjacentes. Um retalho de espessura total foi elevado até expor a porção vestibular
da crista óssea. Um pequeno envelope foi aberto na face vestibular, desde a crista até o comprimento
programado do implante, e lateralmente, até o limite do defeito ósseo. O bloco ósseo preparado foi inserido
com uma pinça hemostática até ficar submerso e estável, devido à pressão dos tecidos moles. Cinco meses
após, um retalho mucoperiosteal foi elevado, e observou-se boa adaptação do bloco ao leito receptor.O
implante (3,8x13,0mm) foi instalado sem sinais de desprendimento do bloco. No caso clínico apresentado, a
variação da técnica de enxerto autógeno, sem a fixação interna com parafuso permitiu a estabilização e
sobrevida do bloco ósseo. Sugere-se que sejam desenvolvidos estudos clínicos randomizados controlados
e avaliações clínicas e tomográficas em longo prazo para criar um protocolo para sua utilização na prática
clínica.
Palavras chave: Aumento do rebordo alveolar, fixadores internos, implante dentário, transplante autólogo,
perda óssea alveolar, procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos
ABSTRACT
The aim of this study was to report an alternative technique of bone reconstruction from analveolar ridge in
esthetic area for single-tooth implant rehabilitation, using autologous bone in block, with a conservative
flap without relaxing incision and rigid internal fixation. Patient M.V.O., 31 years of age, female, sought
dental treatment for rehabilitation with dental implant in the area of teeth #21. After clinic and radiographic
exams, alveolar bone was considered inadequate for dental implant insertion. Bone reconstruction was
indicated with autologous bone removed as a block from mandible ramus. In receptor area, after local
anesthesia, a horizontal incision was performed, followed by intrasulcular incision in adjacent teeth. A total
full-thickness flap was elevated after exposition of vestibular aspect of the crestal bone. A small envelope
was opened at the buccal aspect, from the crest up to the height of the implant to be installed, and laterally,
up to the limit of bone defect. The prepared bone block was inserted with a hemostat clamp until it remains
submerse and stable, due to soft tissue pressure. Five months later, a mucoperiosteal flap was elevated, and
a good adaptation of the block was observed to the recipient site. A dental implant (3.8x13.0mm) was
installed, no signs of detachment of the block were observed. In present case, a variation of autologous
bone graft was presented without internal fixation with a screw allowed the stabilization and survival of
bone block. It is suggested that randomized controlled trials with clinical and topographic evaluations,
should be developed in long term, to create a protocol for its use in clinical practice.
Keywords: Alveolar bone loss, alveolar ridge augmentation; dental implantation; internal fixators; surgical
procedures, minimally invasive; transplantation, autologous.
Autor para correspondência: Ana Emília Farias Pontes
e-mail: [email protected]
Telefone: (17) 3321- 6468
Recebido em: 18/12/2013
Aceito para publicação em: 19/06/2014
Ciência e Cultura
39
Enxerto ósseo em bloco sem fixação interna com parafuso: relato de
caso clínico
Introdução
Após a perda do elemento dental, um
remodelamento fisiológico do processo alveolar
se estabelece na região, levando à deficiência
no volume ósseo do rebordo. De acordo com
Misch e Judy (1985), estes defeitos ósseos
podem ser classificados em altura, espessura,
distância mesiodistal, angulação da carga
oclusal e espaço da altura da coroa.
Com relação aos defeitos em
espessura, nos casos em que é prevista a
instalação de implantes, o tratamento de eleição
está na reconstrução do rebordo por meio de
enxerto autógeno em bloco. No decorrer do
procedimento cirúrgico, o enxerto deve ser
fixado ao leito ósseo por meio de taxas, fio de
aço, e/ou parafusos (KHAN, 1991;
LATRENTA et al., 1989; QUERESHY et al.,
2010). De acordo com Kroon et al. (1977), a
utilização de aparatos de fixação interna rígida
é fundamental no período de reparo inicial,
especificamente em condição de função por
carregamento biomecânico. Todavia, este não
é o caso quando o objetivo é o aumento de
rebordo em Implantodontia, pois nestes casos,
o enxerto é instalado previamente ao implante
dentário, respeitando um período de
aproximadamente cinco meses. Depois de
outros quatro a seis meses é submetido a
carregamento por meio de prótese (MISCH
&
MISCH-DIETSH,
2008).
Convencionalmente, uma incisão horizontal e
uma relaxante são feitas para permitir acesso
ao leito receptor, o que pode causar retração
tecidual. No caso de área anterior superior,
mesmo para realizar a instalação de implante
unitário, há necessidade de um retalho muito
extenso para adaptar um pequeno bloco, o que
pode comprometer o resultado estético final.
Mazzocco et al. (2008) propuseram o
uso de uma técnica menos invasiva, na qual
não era feita a incisão crestal na área receptora
do enxerto em bloco, e sim incisões relaxantes.
40
PINHEIRO et al.
O retalho total era elevado para formar um
túnel, dentro do qual o enxerto era posicionado
e parafusado. Os autores defendiam que desta
forma era possível evitar o uso de membrana
para recobrir o enxerto. De modo semelhante,
Li et al. (2013) usaram a técnica do túnel em
humanos, porém com bloco ósseo de origem
bovina. Na avaliação histológica constatou-se
a ocorrência de neoformação óssea,
conformando a eficiência da técnica.
No presente estudo, porém, é proposta
uma técnica ainda mais conservadora de acesso
ao leito receptor, evitando a incisão relaxante
e fazendo um deslocamento em envelope de
dimensões reduzidas. Desta forma, o enxerto
é inserido entre o osso e o retalho por meio de
uma leve pressão. Os tecidos moles adjacentes
pressionam e estabilizam, tornando
desnecessário o uso de fixação interna rígida.
O objetivo desse trabalho foi relatar
uma técnica alternativa de reconstrução óssea
em área estética para reabilitação com implante
unitário, utilizando osso autógeno em bloco,
com um retalho conservador sem incisão
relaxante e sem fixação interna rígida.
Relato de caso
Paciente M. V. O., 31 anos, gênero
feminino, com ausência do elemento 21
procurou atendimento na clínica odontológica
da Associação Brasileira de Odontologia –
Seccional de Rio Verde, Goiás, para
reabilitação com implantes na referida área.
A paciente relatou apresentar boa saúde
geral e não fazer uso de medicamentos, não
ter sido submetida à radioterapia, não ser
usuária de drogas, álcool e tabaco. Ao exame
clínico, não foram identificados sinais de
parafunção. Após o exame clínico e análise
radiográfica (Figura1) foi observada deficiência
óssea na área de interesse. Sendo assim, foi
planejada uma cirurgia para reconstrução óssea
com enxerto autógeno em bloco.
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
A prescrição pré-operatória incluiu
Amoxicilina 500 mg (2 g uma hora antes do
procedimento e mais 2 g oito horas após) e
Betametaso na 5 mg (2 comprimidos uma hora
antes da cirurgia). A assepsia extrabucal foi
realizada com Iodopovidona e a intrabucal, com
Clorexidina a 0,12 %. A paciente foi anestesiada
com Cloreto de Articaína a 4% e Epinefrina
1:100.000. Na maxila foi usada a técnica
infiltrativa superior, acesso pelas faces
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
vestibular e lingual. Na mandíbula, foi feito
bloqueio do nervo bucal, lingual e alveolar
inferior do lado esquerdo.
Uma incisão horizontal foi realizada de
forma palatinizada na crista óssea, unindo os
dentes 11 e 22, seguida por uma incisão
intrasulcular até o ponto mais medial de ambos
os dentes. Um retalho de espessura total foi
elevado até expor a porção vestibular da crista
óssea.
Figura 1 - Radiografia panorâmica demonstrando ausência do elemento 21.
Para remoção do bloco, foi utilizada a
técnica de Albrektsson (1980), usando o ramo
da mandíbula como leito doador. O bloco foi
removido com dimensão de 7 x 13 mm, com 4
mm de espessura. O preparo do bloco foi
realizado, promovendo-se o arredondamento
dos ângulos e remoção de arestas cortantes,
sob irrigação salina constante (Figura 2a).
No leito receptor, a elevação do retalho
mucoperiosteal foi realizada com descolador
do tipo Molt no 5, usando sua ponta ativa
menor (Figura 2b). Este pequeno envelope na
vestibular, estendeu-se desde a crista até a uma
altura que correspondia à altura programada
Ciência e Cultura
do futuro implante (neste caso, 13 mm de
comprimento), e lateralmente, preenchia os
limite do defeito ósseo (neste caso, largura de
7 mm). Com o auxílio de uma pinça
hemostática, o bloco foi inserido no leito, de
maneira que ficasse totalmente submerso, e em
posição estável devido à pressão exercida
pelos tecidos moles (Figura 3).
Os bordos do retalho foram suturados
com fio de nylon 4.0 (Johnson & Johnson do
Brasil, São José dos Campos, SP, Brasil) (Fig.
4). O paciente foi medicado com Nimesulida
(100 mg de 12 em 12 horas por três dias) e
Paracetamol (750 mg a cada 6 horas).
41
Enxerto ósseo em bloco sem fixação interna com parafuso: relato de
caso clínico
PINHEIRO et al.
Figura 2 – (a) Bloco de osso autógeno devidamente preparado. (b) O descolamento do retalho
mucoperiosteal foi conservador.
Figura 3 - (a) Inserção do bloco sendo testada. Neste caso, (b) um deslocamento adicional do retalho foi
realizado; e (c) a inserção do bloco foi feita utilizando uma pinça hemostática.
Figura 4 - (a) O bloco foi totalmente submerso e estabilizado pelos tecidos moles. (b) Sutura final do
retalho.
Sete dias após a instalação do bloco, as suturas
foram removidas, e à inspeção visual observouse aspecto de cicatrização normal.Cinco meses
após a cirurgia de reconstrução óssea, um
42
retalho mucoperiosteal foi elevado, e
observou-se uma boa adaptação do bloco ao
leito receptor (Figura 5), sem sinais de
desprendimento do bloco.
Ciência e Cultura
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v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
Figura 5 – Aspecto da adaptação do bloco de osso autógeno cinco meses após sua colocação.
Em seguida, a instalação do implante
foi executada. O posicionamento no sentido
vestíbulo-lingual foi planejado de acordo com
o guia cirúrgico, seguindo a indicação de uma
reabilitação com coroa cimentada. A sequência
progressiva de fresas obedeceu as instruções
do fabricante de acordo com o tipo de implante
empregado (Strong, Sistema de Implante
Nacional, São Paulo, Brasil) com conexão do
tipo cone morse, e dimensão de 3,8 x 13,0
mm (Figura 6). O retalho foi suturado com fio
de nylon 4.0.
Figura 6 – Aspecto clínico (a) após a instalação do implante, e (b) após a sutura do retalho.
Discussão
A proposta de realizar cirurgias
minimamente invasivas vem crescendo na área
de saúde (FORTIN et al., 2006). Os benefícios
estão relacionados ao pequeno trauma tecidual,
que diminui a morbidade para os pacientes, além
de reduzir o tempo e o custo total do
tratamento. Dentro desta linha de raciocínio, a
técnica convencional de reconstrução óssea
Ciência e Cultura
com enxerto autógeno em bloco também pode
ser aprimorada.Sendo assim, no presente
estudo, uma modificação foi testada com
sucesso, com a eliminação das incisões
verticais, menor área de exposição óssea, e
não utilização do parafuso de fixação.Caso a
área receptora tenha demanda estética, esta
poderia se beneficiar de uma melhor
manutenção do volume e altura tecidual, o que
43
Enxerto ósseo em bloco sem fixação interna com parafuso: relato de
caso clínico
justificaria a realização do presente estudo.
De acordo com Misch e Misch-Dietsh
(2008), dentre os pré-requisitos para o
sucesso dos enxertos ósseos em blocosão
incluídos: cirurgia asséptica e livre de infecção,
retalho com desenho que permita o
recobrimento completo do enxerto por tecido
mole; que seja feita amanutenção de espaço,
imobilização do enxerto, e estimulação local
por meio de prótese provisória; que sejam
respeitados o fenômeno de aceleração regional,
a vascularização do leito receptor, e o tempo
necessário para reparo tecidual; além de serem
observados o tamanho e topografia do defeito
ósseo. Comparando a técnica convencional
com a técnica aqui proposta, o fator que mais
sofreria modificação dentre os descritos seria
o padrão de imobilização do enxerto, visto que
no presente caso clínico a boa acomodação
do enxerto ao leito receptor e a pressão firme
exercida pelos tecidos moles são fatores
fundamentais e imprescindíveis para manter o
enxerto ósseo em posição.
Para garantir uma boa estabilidade do
enxerto, é fundamental ter especial atenção ao
deslocamento do retalho e preparo do bloco
ósseo. Em termos práticos, a maior extensão
do bloco, de 13 mm, foi definida pelo
comprimento desejado para o futuro implante.
Neste contexto, o envelope foi estendido desde
a crista óssea até que fosse atingido tal
comprimento. Considerando o sentido mésiodistal, a largura do bloco, de 7 mm, foi definida
com base na distância entre as raízes dos dentes
adjacentes. Diferentemente das outras
medidas, a dimensão do bloco no sentido
vestíbulo-lingual foi definida pela própria
anatomia do leito receptor. Por esta razão, foi
preciso testar a penetração do bloco no
envelope; nas áreas que provocaram maior
tensão, o bloco foi desgastado. Enfatize-se que
nesta técnica, a abertura do leito receptor foi
finalizada após a remoção do enxerto e que o
44
PINHEIRO et al.
bloco foi desgastado para se adequar ao
preparo do envelope, ou seja, o preparo do
leito foi concomitante ao preparo do bloco.
É interessante considerar ainda que a
maior resistência tecidual durante a penetração
do bloco ósseo no envelope ocorre próximo à
crista, e vencida esta resistência inicial,
observou-se sua acomodação. A avaliação da
estabilidade do bloco foi feita após, forçando
seu deslocamento, por meio de pressão digital
alternada externamente ao retalho, sendo por
fim observado que não houve movimentação
no sentido mesiodistal. Possivelmente, a falta
de estabilidade nesta fase poderia ter causado
o insucesso do caso, conforme evidenciado por
Lin et al. (1990), Ermis & Poole (1992), e
McAllister & Haghighat (2007).
Yaremchuk (1994) em uma revisão de
literatura sobre diferentes tipos de fixação em
cirurgia craniofacial observou que formas
alternativas de fixação podem ser utilizadas com
sucesso.O autor cita o uso de parafusos, fios e
placas, além de cola de cianoacrilato, cujo
emprego tornaria desnecessário o uso de
aparato de fixação. Saska et al. (2009)
testaram a fixação de bloco ósseo em coelhos
com cola de cianoacrilato comparado ao uso
de parafuso de titânio; observaram melhor
manutenção da área de enxerto nos sítios em
que foi utilizada a cola. Resultados semelhantes
foram apontados por Oliveira Neto et al. (2010)
também em coelhos. Os autores relataram que
nos sítios em que o cianoacrilato foi usado houve
dano ao periósteo embora a manutenção do
volume do enxerto e o padrão de incorporação
ao leito receptor tenham sido semelhantes aos
sítios em que foi usado parafuso. Este tipo de
observação não seria possível no presente
relato, que focou a viabilidade clínica de sua
realização, porém, seria viável em pesquisa
futura contemplando a avaliação histológica.
Boyd et al. (1993) compararam os
tipos de fixação óssea em pacientes após terem
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
sido acometidos por carcinoma, e concluíram
que enxertos ósseos vascularizados obtiveram
alto grau de união independente do tipo de
fixação sugerindo que o tipo de fixação pode
não ser tão importante para o sucesso do caso.
Grupos de animais em que enxertos
autógenos foram instalados sem fixação fizeram
parte do estudo de Fialkov et al. (1995), como
grupo controle. Estes foram comparados a
fixação rígida com parafuso. Ambos foram
submetidos a inoculação de bactérias
(Staphylococcus aureus). Desta forma,
observou-se que os enxertos com fixação
interna rígida tiveram maior revascularização e
neoformação óssea quando comparado ao
osso sem fixação. Porém, deve-se considerar
que no referido estudo, não houve cuidado para
estabilização do bloco ósseo, o que
seguramente interferiu nos achados.
Clinicamente, os resultados de tal estudo nos
fazem considerar que além d os cuidado pré,
pós e transcirúrgicos de controle de infecção,
pode-se sugerir como contraindicação da
técnica situações em que haja risco de infecção
pós-cirúrgica.
Adicionalmente, o preparo do bloco
deve ser feito de tal forma que não cause lesão
nos tecidos moles, deixando as arestas
arredondadas, e os permitam ficar em íntimo
contato com o leito receptor (MISCH, 2008).
Poreste último motivo, e também para mantêlo estável em posição, optou-sepor fresá-lo até
que sua espessura fosse suficiente apenas para
exercer pressão nos tecidos moles. O leito
receptor deve estar isento de periósteo e esse
deve ser deslocado junto com tecido gengival
sem dilacerá-lo (HOPPER et al., 2001). Outro
ponto a ser comentado é que os fenômenos de
aceleração regional podem ser conseguidos
pela criação de orifícios ou canaletas perfurando
a cortical óssea local. No caso da técnica
modificada o acesso ao osso é mais restrito,
portanto, é preciso afastar o tecido mole com
Ciência e Cultura
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
cuidado para não interferir na tensão que será
exercida sobre o enxerto, além de evitar injúrias
e dilacerações no periósteo. O fato de não criar
tais orifícios e canaletas pode não comprometer
o resultado final, conforme demonstrado por
Bartlett & Whitaker (1989), em cujo estudo
mostrou que o grau de vascularização local não
foi crucial para determinar a sobrevivência de
enxertos em bloco.
Por fim, uma avaliação da adaptação
do bloco ao leito receptor poderia ser feita
histologicamente ou tomograficamente com
aparelho de feixe cônico, no pós-operatório
imediato e cinco meses após a cirurgia, antes
da instalação dos implantes, para avaliar a
manutenção do volume tecidual.
Conclusão
Sugere-se que sejam desenvolvidos
estudos clínicos randomizados controlados e
avaliações clínicas, histológicas e tomográficas
em longo prazo para criar um protocolo para
sua utilização na prática clínica.No caso clínico
apresentado, a variação da técnica de enxerto
autógeno sem a fixação interna com parafuso
permitiu a estabilização do bloco ósseo por
meio de uma adequada acomodação do
enxerto ao leito receptor associada à pressão
exercida pelo tecido mucoperiostal do retalho.
Desta forma, esta técnica minimamente invasiva
permitiu a obtenção de um ganho de tecido
ósseo, possibilitando a instalação posterior de
um implante dentário e, portanto, mostra-se
como uma técnica promissora, se bem indicada
e executada.
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CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
A figura do City Manager à luz do direito administrativo
brasileiro na gestão compartilhada
The City Manager from the perspective of Brazilian
administrative law in shared management
Pedro Henrique Costa SERRADELA1, Danilo Henrique NUNES1, Lucas de Souza LEHFELD1
Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos – Unifeb. Bacharelado em Direito, Av. Professor
Roberto Frade Monte 389, Aeroporto, CEP 14283-078, Barretos-SP.
1
RESUMO
O presente artigo analisa a real possibilidade de implementação do city manager à luz do direito administrativo
brasileiro na gestão compartilhada. Foi necessário o levantamento de dados históricos acerca do tema, o
que ofereceu bases consistentes a favor da implantação desse sistema no Brasil. Buscamos tratar da figura
do city manager, que uma vez habilitado, exerce planejamento, execução e eficiência da supremacia do
interesse público. Propomos a inclusão dessa figura, como instrumento eficaz e eficiente na melhoria da
gestão administrativa, pois levamos em conta, a atual situação da Administração Pública, que enfrenta o
problema entre recursos e sua devida e necessária aplicação. A metodologia aplicada foi no campo da
pesquisa bibliográfica, nas áreas dedutiva e indutiva. A primeira por meio do estudo do Direito Constitucional,
Administrativo, Previdenciário, Econômico e da Seguridade Social, para que se verifique a possível
implantação no Brasil, sob a ótica da legislação nacional. A segunda perfazendo todo estudo da realidade
brasileira, no tocante à essência e exercício do poder público, para que se verificasse o enquadramento do
gerente de cidade na administração pública municipal. Ademais, foi indispensável utilizar-se da Constituição
Americana, como parâmetro da presente pesquisa, elencando modelos adotados e demonstrando que é
efetiva e adequada a figura do city manager no direito comparado. Concluímos que é cabível a inclusão do
gerente de cidade na administração pública brasileira, em especial, na esfera municipal, com indicação do
Prefeito e, posterior, aprovação dos vereadores, para que sejam atendidas as necessidades locais.
Palavras chave: Gerente de cidade, gestão compartilhada, políticas públicas, eficiência
ABSTRACT
This article aims to analyse the real possibility of implementing the city manager in the light of brazilian
administrative law in shared management. It has been necessary mapping the historical data on the subject,
which offered reasonable grounds in favor of the implementation of this system in Brazil. Seeking to adress
the city manager figure, that once enabled, exercise planning, execution and efficiency of public interest’s
supremacy. We propose to include this figure, as an effective and efficient way in the improvement of
administrative management, therefore considering the current situation of public administration, that faces
the problem between resources and their proper and necessary application. The applied methodology was
on the bibliographic research, both deductive and inductive areas. The first one by studying the
Constitutional Law, Administrative, Social Security, Economic and the Social Welfare, for which there is a
possible deployment in Brazil, from the national legislation’s perspective. The second one making the entire
study of Brazilian reality, in terms of the substance and the exercise of government, so that it appeared the
framework of the city manager in municipal government. Besides, it was essential using the U.S. Constitution,
as a parameter for this research, listing adopted models and demonstrating the efectiveness and adequacy
of the city manager figure in the comparative law. We conclude that is totaly reasonable the employment of
the city manager in the brazilian public admninistration, specially at the municipal level, with the Mayor’s
indication and later the approval of the Council, so that the local needs could be attended.
Keywords: City Manager, shared management, public policy, efficiency
Autor para Correspondência: Danilo Henrique Nune
E-mail: [email protected]
Telefone: (17) 981717770
Recebido em: 26/02/2014
Aceito para publicação em: 09/06/2014
Ciência e Cultura
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A figura do City Manager à luz do direito administrativo brasileiro
na gestão compartilhada
Introdução
O Poder Executivo brasileiro, em
especial o Municipal, vive um momento sem
precedente em sua história institucional e
política. Comprimido entre a necessária e
burocrática aplicação de recursos e a grande
demanda de politicas públicas a serem
implementadas, acaba sendo equivocadamente
gerenciado o orçamento, comprometendo a
eficiência dos serviços prestados à população.
Muitos são os fatores que autorizam
esse fenômeno, entre eles, a falta de
qualificação e formação dos agentes públicos
que exercem funções de chefia, direção,
assessoramento e liderança – sendo em sua
maioria agentes políticos investidos de cargos
eletivos ou comissionados – num amplo
exemplo de democracia, entretanto, acabam
por desconhecer técnicas e legislação de
administração pública, contabilidade,
infraestrutura e demais ramos da atividade
humana correlata ao bom desempenho de suas
funções no exercício da função pública.
Não é de se desconsiderar que os
políticos historicamente não são
necessariamente formados e qualificados nestas
áreas, sendo de inúmeras outras profissões, das
quais se desligam para exercer mandato por
determinado tempo e retornam depois às suas
atividades profissionais.
Contudo, a evolução do direito
administrativo brasileiro e a alta demanda social
por políticas públicas, efetivas e eficientes
passaram a exigir dedicação integral dos
agentes políticos. E, mais ainda, grau
elevadíssimo de conhecimento destas áreas,
sob pena de comprometer os princípios
constitucionais da Administração Pública, além
de legislação correlata.
Quando aludimos o tema referente à
Administração Pública, logo pensamos nos
servidores que compõem esta tão importante
esfera responsável por conduzir a União,
50
SERRADELA et al.
Estados e Municípios e, mais do que isso,
regular a vida entre os seres componentes da
sociedade; mas, não podemos nos esquecer
de que somente os recursos humanos não são
necessários para se atingir todos objetivos da
Administração, uma vez que é necessário que
haja, assim como no campo privado, um
modelo de gestão capaz de produzir lucros, o
que no setor público significa que além de
liquidar dívidas, ter recursos financeiros
suficientes no orçamento para investir em obras
e serviços de Engenharia, prestação de serviços
para a comunidade e aplicação nos mais
diversos setores. Logo, o papel da
Administração Pública é governar de forma
legal, impessoal, moral, com publicidade de
seus atos e, além disso, almejando a Eficiência,
conforme positiva o art. 37, caput, da CF / 88.
Tal trabalho, portanto, propõe à
Administração Pública Brasileira um modelo
de gestão similar ao encontrado nos Estados
Unidos e em alguns países da Europa. Tratase da figura do City Manager, ou “gerente de
cidade”, que nada mais é do que uma pessoa
com conhecimento técnico, sem vínculo
partidário e responsável por executar as
Políticas Públicas, sendo preferencialmente
graduado em curso superior de Administração
Pública
Material e métodos
A pesquisa bibliográfica se dará nas
áreas do Direito Constitucional, Administrativo,
Tributário, Econômico e da Seguridade Social,
de modo a satisfazer análise de dados dedutiva
– a partir da interpretação legislativa, conceitos
doutrinários, teorias e jurisprudências atuais –
além da indutiva, perfazendo o estudo da
realidade fática, passando pela análise
multidisciplinar que envolve estudos da ciência
política, notadamente, as políticas públicas.
A produção científica em relação aos
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
temas em comento depende da compreensão
de outros que lhe dão suporte, motivo pelo qual
a discricionariedade administrativa e a evolução
do poder do Estado foram objeto de estudo
deste expediente.
A análise jurisprudencial, especialmente
vinculada ao entendimento do Supremo
Tribunal Federal, também foi utilizada como
ferramenta para que as finalidades do estudo
sejam alcançadas.
Não obstante, o estudo da legislação
nacional igualmente terá espaço, sobretudo as
sucessivas Constituições brasileiras e as Leis
Orgânicas Municipais, a fim de que se obtenha
afirmação quanto à possibilidade de
implantação do City Manager, à luz das leis
brasileiras.
Ademais, o Direito Comparado
ocorreu, por sua vez, ao se estudar as
Constituições de outros países, não apenas as
vigentes, mas também as que adquiriram
especial significado jurídico, sendo utilizadas
como parâmetros na possibilidade de
implementação do City Manager na
Administração Pública Brasileira, visando
sempre, demonstrar a Eficiência das políticas
públicas.
Resultados e discussão
Com efeito, a presente pesquisa
analisou, entre outras coisas, a introdução
histórica que envolve o tema acerca da inserção
do gerente de cidade na gestão compartilhada
na administração pública. A partir desta análise
será possível escolher com segurança qual
melhor modelo para ser adotado no Brasil,
levando em conta a estrutura administrativa já
adotada.
Verifica-se a existência de três modelos
básicos para o sistema de gestão
compartilhada, que incluem a figura do City
Manager. O primeiro deles é o governo de
comissão, onde basicamente os Poderes
Ciência e Cultura
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
Executivo e Legislativo concentram-se nas
mãos de 3 a 5 gerentes, modelo que pode ser
encontrado no Texas. O segundo apareceu em
1912 na cidade de Sumter, Carolina do Sul,
muito comum nos Estados Unidos, neste a
população escolhe um conselho responsável,
que por sua vez, escolhe o prefeito e, além
disso, contrata um City Manager como
encarregado das execuções administrativas. E,
por fim, o terceiro modelo, que seria o mais
indicado para implantação no Brasil, pela
similaridade estrutural administrativa, pois neste
modelo, a população elege seu prefeito, e este,
fica encarregado de contratar um profissional
habilitado, ou seja, com conhecimento técnico,
que ficará responsável pelas execuções das
políticas públicas. Este último com aparição
inicial na cidade de San Francisco, Califórnia,
em 1931, tendo passado para o condado de
Los Angeles pouco tempo depois, em 1938.
Depois de um conceito pouco
abrangente, acerca dos modelos existentes de
gestão compartilhada, bem como o
apontamento do possível modelo a ser adotado
pelo Brasil, chega-se à problemática, qual seja:
há vantagem de se criar mais um cargo na
estrutura da Administração Pública, por meio
da gestão compartilhada? E qual impacto isso
pode causar no orçamento público?
Importante deixar claro que não se
prega o desaparecimento da figura do prefeito,
uma vez que ele é o responsável por legitimar
o instituto republicano, bem como personificar
a democracia, como representante eleito pelo
povo. O que se propõe é associar a figura
política a alguém - gerente de cidade - com
conhecimento adquirido na própria
universidade, por meio do curso de
Administração Pública, que sabe lidar com
orçamento público e, mais do que isso, planejar
e projetar de tal forma que a Supremacia do
Interesse Público seja realmente levada em
conta.
51
A figura do City Manager à luz do direito administrativo brasileiro
na gestão compartilhada
Essa associação da administração
pública à figura do gerente de cidade, nada mais
é do que a inclusão da gestão compartilhada,
isto é, desconcentrar as responsabilidades
política e técnica de uma única pessoa e
transferi-las para o gerente de cidade, que é
pessoa habilitada e com condições específicas,
para conduzir a administração pública com
eficiência, de modo a atender necessidades
administrativas, pois sem dúvidas os municípios
brasileiros passam por problemas financeiros
sem precedentes onde, mesmo com a forte Lei
de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar
Federal n.º 101), ocorre a má gestão dos
recursos públicos prejudicando o ensino, a
saúde e a segurança pública.
O prefeito tem a função de traçar
políticas públicas para que o gerente de cidade
as execute, contudo, para que este esteja
habilitado para execução de suas funções, sua
contratação, observar-se-á alguns requisitos,
quais sejam: o gerente de cidade não deve ter
qualquer vinculo político, ou seja, deverá ser
apartidário; seu conhecimento deve ser técnico,
justificado por formação em curso reconhecido;
com experiência comprovada e idade mínima
de 35 anos.
Quanto aos vencimentos, verificamos
que o gerente de cidade terá rendimentos
inferiores apenas ao do próprio prefeito, vez
que hierarquicamente está acima dos demais
cargos políticos componentes da cúpula
governamental. Isso se deve sem dúvidas a falta
de conhecimento técnico dos políticos que ali
estão.
É importante que o city manager fique
diretamente ligado ao Prefeito, pois ele indicará
melhores opções para a administração. De
maneira sucinta, podemos dizer que city
manager é um executor das políticas públicas,
capacitado profissionalmente e especialista
naquele assunto, cumprindo lado a lado com o
prefeito o papel da Administração Pública, que
52
SERRADELA et al.
é “governar” de forma legal, impessoal, moral,
com publicidade de seus atos e, além disso,
conquistando a tão almejada Eficiência, nos
termos do art. 37, caput, da CF / 88.
Nesse sentido, vale dizer que a gestão
compartilhada, com a inclusão da figura do
gerente de cidade deverá ocorrer por meio de
um projeto de lei em conformidade com a Lei
Orgânica do Município, que deverá conter
nome do cargo a ser criado; atribuições do
cargo; vínculo hierárquico; padrão de
vencimentos; tempo de permanência (ideal de
2 anos); sabatina da Câmara Municipal, que
aprovará por meio da maioria dos votos, após
indicação do Chefe do Executivo, bem como
condições mínimas para nomeação, por
exemplo, comprovação de formação em curso
superior de administração pública. Vale
mencionar que, o ex-gerente ficará impedido
no término do mandato de prestar qualquer
serviço no setor público ou para aqueles que
tenham ligação direta com a Administração
Pública.
Como forma de melhor empregar estes
recursos trazendo a eficiência almejada no
mundo privado, em conformidade com as leis
rígidas, que regem a administração pública,
tornando-a por vezes engessada, a figura do
gerente de cidade ou na nomenclatura de
origem, city manager, pode ser importada dos
Estados Unidos e adaptada para nossas
realidades jurídica, econômica e social.
Para que isso ocorra é indispensável
que haja uma legislação municipal forte, com
intuito de assegurar ao ocupando do cargo a
execução daquilo que lhe é proposto nos
sistemas de origem e para o qual é destinado
e, conforme mencionado anteriormente, sem
interferência partidária ou de conchavos de
escolha. O indicado deve ser vinculado
estritamente às metas públicas estipuladas pelo
Prefeito com o prazo de dois anos para colheita
dos resultados pretendidos ou ainda aqueles
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
possíveis em decorrência das alterações
diversas que podem afetar estes índices, a
exemplo de menor produção industrial,
circulação de bens e serviços, entre outros.
Além de uma legislação que possa garantir a
essência do que é proposto, o gestor também
deve ter a consciência de que a interferência
política, nestas situações, pode comprometer
aquilo que é a finalidade de sua inserção, qual
seja: a oferta das melhores opções para escolha
do Prefeito. O gerente de cidade vem para
mostrar uma ótica técnica com opções que
combinam economia, prática e eficiência,
cabendo ao Prefeito, obviamente, sentir o
clamor da população no momento de sua
escolha. A título exemplificativo, ao Chefe do
Executivo cabe o faro da necessidade de se
construir uma escola, visando sanar a demanda
dos jovens para ingresso no ensino fundamental
e, ao Gerente de Cidade, cabe a tarefa de
determinar em qual bairro a construção melhor
atenderia a demanda levando em conta o
sistema de transporte coletivo municipal, áreas
de lazer próximas, entre outros.
Esta condição não minoraria a atuação
dos secretários municipais, muito pelo contrário
já que ao mesmo tempo em que o gerente
aconselha a execução das políticas públicas de
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
iniciativa do prefeito, também pode atuar
juntamente com os secretários. Insta salientar
que o nível de suas competências se encontra
acima dos Secretários, inclusive na
remuneração, como forma de garantir sua
interferência inclusive no apontamento de
supressão de pastas, como também criação de
novas. Esta distinção é imprescindível até por
razões lógicas já que não faria qualquer sentido
que um investido de cargo do mesmo nível
hierárquico possam atuar de forma horizontal
na gestão de seus pares.
O gerente de cidade ocupará cargo
dentro da administração pública, por isso se
faz necessário apontar o organograma para que
seja identificado seu real enquadramento e
hierarquia dentro dos quadros da
administração, para que seu desempenho não
seja afetado de modo a prejudicar a liberdade
de seus trabalhos. Vale acrescentar que, este
mesmo organograma quando finalizado deve
acompanhar o Projeto de Lei de iniciativa do
Executivo.
O organograma sugerido segue na
sequência, a título exemplificativo como
estrutura administrativa adaptada da Prefeitura
do Município de Barretos reformada pela Lei
Complementar Municipal n.º 193.
ORGANOGRAMA
Ciência e Cultura
53
A figura do City Manager à luz do direito administrativo brasileiro
na gestão compartilhada
Conclusão
Concluímos possível a inclusão do city
manager na administração pública municipal,
desde que de acordo com a Lei Orgânica do
Município, pois visa única e exclusivamente a
melhoria da gestão das políticas públicas,
principalmente, no tocante à correta distribuição
e aplicação dos recursos e a eficiência da
administração.
Constatamos que a gestão
compartilhada, com a inclusão do gerente de
cidade tem muito a agregar na atual estrutura
administrativa das cidades, em razão das
características elencadas ao longo de todo o
trabalho. Todavia, para que seja
verdadeiramente aplicada deve ser instituída
visando atender necessidades locais, ou seja,
dar a devida importância à eficiência das
políticas públicas, conforme prevê a
Constituição Federal.
Verificamos que, um dos requisitos
indispensáveis para contratação do gerente de
cidade é que este tenha formação técnica
específica, pois só assim poderá contribuir com
a gestão da administração. Vale dizer que, muito
embora formação em gerente de cidade seja
de pós-graduação, e a graduação,
preferencialmente, em administração pública,
nada impede que outras áreas de formação
sejam usadas conforme exige a necessidade
local, por exemplo, uma cidade com problemas
de planejamento pode nomear pessoa
graduada em Arquitetura e Urbanismo ou
Engenharia Civil. A pós-graduação voltaria
atenção para a gestão, complementando aquilo
já absorvido na graduação, ofertando uma série
de possibilidades.
A possibilidade de formação destes
profissionais no Brasil em instituições
renomadas já mostra a preocupação da classe
educacional de constante lubrificação da
máquina pública através de sua gestão de
pessoas de competência inquestionável.
54
SERRADELA et al.
Entendemos que o Prefeito não precisa ser
técnico para que desempenhe um trabalho que
realmente melhore a vida dos seus, mas, boas
escolhas devem acompanhá-lo em cada ação
na vida pública.
O que nos parece claro é que somente
a nomenclatura inserida no bojo da Lei de
criação do cargo não garante que ele atinja
todas as suas prerrogativas, cabendo ao Prefeito
fazê-lo. Além do que, imprescindível que sejam
atendidos requisitos exigidos, para que o
gerente de cidade contratado esteja habilitado
para exercer as funções que lhe foram
conferidas, para que, assim, seja um instrumento
de eficiência da administração pública, em
especial, na esfera municipal.
Foi possível observar, por meio do
organograma acima descrito, que a figura do
gerente de cidade está abaixo apenas do
próprio prefeito, o que intensifica sua
importância dentro dos quadros da
administração e, principalmente, para a própria
gestão pública que, atualmente está adoentada
e engessada em antigos e ineficientes
fundamentos.
Portanto, a inclusão do city manager
na gestão compartilhada à luz do direito
administrativo brasileiro, demonstra ser um
valioso instrumento de eficiência da
administração pública, vez que na maioria das
vezes o prefeito e demais auxiliares não são
especializados profissionalmente para atender
determinadas demandas, por isso, a
contratação do gerente de cidade, ideologia
importada dos Estados Unidos, é mais uma
alternativa dada, em resposta ao clamor da
população, pois se enquadra nas nossas
realidades jurídica, econômica e social.
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CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
Identificação e avaliação do perfil de sensibilidade de
Staphylococcus aureus isolados das mãos de estudantes
do curso de Farmácia do UNIFEB
Identification and evaluation of the sensitivity profile of
Staphylococcus aureus isolated from the hands of students of
Pharmacy UNIFEB
Andressa Leme de FIGUEIREDO1, Mariana Rodrigues ROZATTO1, Juliana Rico PIRES2, Deny Munari
TREVISANI3
1
Farmacêutica pelo Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB. Avenida
Professor Roberto Frade Monte nº 389 - CEP: 14.783-226. Barretos – SP. Brasil.
2
Professora Doutora do Curso de Odontologia e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Odontológicas
do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB. Avenida Professor Roberto
Frade Monte nº 389 - CEP: 14.783-226. Barretos – SP. Brasil.
3
Professor Doutor do Curso de Graduação em Odontologia e Farmácia Bioquímica do Centro Universitário
da Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB. Avenida Professor Roberto Frade Monte nº 389 - CEP:
14.783-226. Barretos – SP. Brasil.
RESUMO
A ocorrência de infecções e a disseminação de microrganismos multirresistentes associadas aos cuidados de saúde é um
grave problema clínico e econômico em hospitais, principalmente em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Dentre os
microrganismos resistentes, o Staphylococcus aureus meticilina resistente (SAMR) é a principal causa dessas infecções
hospitalares. O presente estudo teve como objetivo identificar a espécie Staphylococcus e analisar o perfil de sensibilidade
de Staphylococcus aureus isoladas das mãos de estudantes universitários. Participaram do estudo 37 alunos do curso
de Farmácia do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB. Os estudantes foram orientados
a lavarem as mãos dentro de um saco plástico, utilizando caldo nutriente hipercloretado (técnica do saco plástico).
Amostras do caldo utilizado por cada estudante foram obtidas e plaqueadas para posterior identificação bioquímica e
contagem em unidades formadoras de colônias (UFC/mL) de Staphylococcus sp, e posterior análise do perfil de
sensibilidade do S. aureus frente à Vancomicina e Meticilina. Colônias de Staphylococcus foram encontradas nas mãos
de 97,3% dos estudantes avaliados. Destes estudantes (97,3%), 54% apresentaram Staphylococcus aureus, os quais
100% eram resistentes à Vancomicina e Meticilina. Dentro dos limites deste estudo, podemos concluir que os estudantes
avaliados apresentaram as mãos colonizadas por espécies de Staphylococcus resistentes e potencialmente infecciosas.
Foi evidenciada a necessidade do desenvolvimento de programas institucionais educativos direcionados para a
conscientização destes profissionais da saúde sobre a importância da higienização adequada das mãos na prevenção de
infecções.
Palavras chave: Mãos, Vancomicina, Meticilina, Staphylococcus aureus
ABSTRACT
The occurrence of infections and the spread of multiresistant microorganisms associated to health care is a major
clinical and economic problem in hospitals, especially in intensive care unit (ICU). Among the microorganisms resistant,
methicillin-resistant Staphylococcus aureus (MRSA) is a major cause of these hospital infections. This study aimed to
identify the Staphylococcus species and analyze the sensitivity of Staphylococcus aureus isolated from the hands of
college students. Participants were 37 students of Pharmacy of the University Center of the Educational Foundation
of Barretos - UNIFEB. Students were instructed to wash their hands in a plastic bag, using nutrient broth hipercloretado
(plastic bag technical). Samples of the broth used by each student were obtained and plated for subsequent biochemical
identification and counting colony forming units (CFU/mL) of Staphylococcus, and subsequent analysis of the sensitivity
profile front Vancomycin and Methicillin. Colonies of Staphylococcus were found in the hands of 97.3% of students
assessed. These students (97.3%), 54% had Staphylococcus aureus which 100% were resistant to methicillin and
vancomycin. Within the limits of this study, we can conclude that students showed high hands colonized by
Staphylococcus species resistant and potentially infectious. Showed the need to develop educational programs targeted
to institutional awareness of these health professionals about the importance of proper hand hygiene to prevent
infection.
Keywords: Hands, Vancomycin, Methicilin, Staphylococcus aureus.
Autor para correspondência: Deny Munari Trevisani
E-mail: [email protected]
Telefone: 17-33226205
Recebido em: 19/03/2014
Aceito para publicação em: 19/06/2014
Ciência e Cultura
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Identificação e avaliação do perfil de sensibilidade de Staphylococcus aureus
isolados das mãos de estudantes do curso de Farmácia do UNIFEB
Introdução
As infecções por Staphylococcus
aureus são cada vez mais reconhecidas em todo
o mundo, com taxas de mortalidade elevada,
onde apenas no Reino Unido, cerca de 12.500
casos a cada ano são registrados, com uma
mortalidade associada de cerca de 30%
(THWAITES et al., 2011).
Os Staphylococcus aureus são
bactérias esféricas, do grupo dos cocos Grampositivos, frequentemente encontradas na pele
e nas fossas nasais de pessoas saudáveis.
Entretanto, o S.aureus pode provocar doenças
decorrentes da invasão direta nos tecidos, de
bacteremia primária ou, exclusivamente, ser
devido à liberação de toxinas bacterianas
(NNIS, 2004; COIA et al., 2006;
HENDERSON, 2006). Korn et al. (2001)
relataram que Staphylococcus é capaz de
causar uma ampla variedade de infecções
supurativas, bacteremia, endocardite, assim
como intoxicações alimentares e a síndrome
do choque tóxico. Adicionalmente, o S. aureus
tem sido considerado a causa mais frequente
de infecção nosocomial, contribuindo para
cerca de 13% das infecções nosocomiais nos
EUA (KORN et al., 2001). Sendo considerada
a primeira causa de pneumonia nosocomial e
de infecção das feridas cirúrgicas, e a segunda
causa (a seguir ao Staphylococcus coagulasenegativo) de bacteremia nosocomial (NNIS,
2004; ANDRIOLO, 2005; BRAUNWALD et
al., 2002).
Classicamente, a análise do mecanismo
de invasão do S. aureus revela que, no primeiro
momento, essa bactéria adere a pele ou a
mucosa para, em seguida, romper as barreiras
do epitélio, comprometendo estruturas de
ligações intercelulares, como desmossomos e
junções de aderência (KORN et al., 2001).
Após a invasão do epitélio, o S. aureus utiliza
diversas estratégias para permitir a sua
sobrevivência e proliferação no organismo
58
FIGUEIREDO et al.
hospedeiro. Essas estratégias estão
relacionadas com a opsonização do
complemento, a neutralização da fagocitose e
a inibição das respostas imune, humoral e
celular (SCHECHTER e MARANGONI,
1998).
Nos E.U.A., entre os anos de 1998 e
2003, foi observado um aumento de 12% na
resistência de amostras de Staphylococcus
aureus à oxacilina (BERNARD et al., 2004).
As cepas de Staphylococcus aureus
meticilina-resistente (SAMR) foram pela
primeira vez descritas na Inglaterra em 1961,
logo após a meticilina se ter tornado disponível
para uso clínico (CAVALCANTI et al., 2005;
IWATSUKI et al., 2006). A resistência à
meticilina confere também resistência a todos
os antibióticos beta-lactâmicos e a vancomicina
(S. aureus resistente à vancomicina [SARV]).
Estudos tem demonstrado que
Staphylococcus aureus resistente à Meticilina
(SARM) são a principal causa das infecções
hospitalares (BARRET et al., 1968; SANTOS
et al., 2007). Autores relataram que 52% dos
pacientes, dentre os não colonizados por
SARM, adquirem esse microrganismo após
admissão em Unidade de Terapia Utensiva
(UTI) (BRUMFITT e HAMILTONMILLER, 1989).
Apesar de todas as evidências
apontando para a importância da higienização
das mãos, muitos profissionais permanecem
passivos diante do problema (GOULD, 2009).
O consentimento na lavagem das mãos para
profissionais da saúde e a obediência a estas
normas de biossegurança não só irão
proporcionar um ambiente mais seguro, mas
também melhorar a qualidade do trabalho
(CHEN e CHIANG, 2007).
Diante do exposto, o objetivo do
presente estudo foi identificar a espécie de
Staphylococcus e analisar o perfil de resistência
antimicrobiana do Staphylococcus aureus
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
isolados das mãos dos estudantes do curso de
farmácia do Centro Universitário da Fundação
Educacional de Barretos (UNIFEB).
Material e métodos
Este foi um estudo prospectivo foi
realizado com 37 (100%) alunos do curso de
Farmácia do Centro Universitário da Fundação
Educacional de Barretos - UNIFEB, localizada
na cidade de Barretos, São Paulo.
Os participantes foram instruídos a
realizar a lavagem das mãos com caldo
nutriente hipercloretado (Ni) dentro de um saco
plástico, método conhecido como técnica do
saco plástico (PALAZZO, 2000).
Amostras do caldo utilizado por cada
estudante para lavar as mãos foram obtidas por
meio de “Swabs” estéreis e semeadas em
placas de cultura contendo Ágar Mueller
Hinton (BD Difco tm ). As placas
foram imediatamente incubadas em
estufa bacteriológica (Marconi, Piracicaba, SP,
Brasil) à 35ºC por um período de 48 horas.
Transcorrido o período de incubação
foi confirmado o crescimento bacteriano. Para
a confirmação do crescimento de espécies de
Staphylococcus as colônias deveriam
apresentar a forma de cocos em grupamentos,
segundo análise microscópica, por meio de
coloração de Gram. Na análise macroscópica,
as colônias deveriam apresentar formas
circulares, opacas, bordas regulares, produção
de pigmento branco e amarelo caracterizando
estafilococos.
A identificação das espécies de
Staphylococcus isoladas foi feita por meio de
provas bioquímicas: Catalase, DNAse e
Coagulase.
As provas catalase positivas, DNAse
positivas e coagulase positivas são indicadores
para a identificação da espécie aureus.
Para análise do perfil de sensibilidade
bacteriano, todas as cepas de Staphylococcus
Ciência e Cultura
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
aureus identificadas neste estudo foram
submetidas ao teste do antibiograma de acordo
com Bauer e Kirby (1996) e as recomendações
do National Committee for Clinical Laboratory
Standards (2003).
Os discos de antibióticos utilizados
para as cepas isoladas de Stpahylococcus
aureus foram discos de 30 µg de vancomicina
e meticilina (Sensibiodisc – CECON, São
Paulo, SP, Brasil)).
Os dados foram tabulados e analisados
por meio do software Microsoft Excel (2007).
Resultados
Os dados demográficos dos estudantes
podem ser observados no gráfico 1. Dos 37
(100%) estudantes que participaram deste
estudo, 30 (81%) eram do gênero feminino.
A idade dos estudantes variou entre 20 e 40
anos, entretanto, 29 (78,4%) estudantes
apresentaram faixa etária de 20 a 30 anos.
Em relação à colonização por
Staphylococcus sp, foi observado que 36
(97,3%) estudantes apresentaram colonização
e apenas 1 (2,7%) não apresentou este
microrganismo nas mãos (Figura 1).
A média de unidades formadoras de
colônia para Staphylococcus sp isolados foi
de 75 UFC/mL (máximo = 171 e mínimo = 11
UFC/ mL).
Nas provas bioquímicas para
identificação das espécies de Staphylococcus,
a prova da catalase foi positiva para todas as
amostras analisadas, confirmando que as
bactérias isoladas eram do gênero
Staphyloccocus sp. As provas da coagulase e
DNase positivas demonstraram que 54%
(n=20) amostras eram Staphylococcus aureus,
enquanto que 46% (n=17) amostras isoladas
foram negativas para a prova da coagulase,
sugerindo serem Staphylococcus epidermidis.
Estes resultados foram observados na
figura 2.
59
Identificação e avaliação do perfil de sensibilidade de Staphylococcus aureus
isolados das mãos de estudantes do curso de Farmácia do UNIFEB
FIGUEIREDO et al.
Figura 1 - Distribuição dos estudantes de farmácia do Centro Universitário da Fundação Educacional de
Barretos - UNIFEB, segundo gênero, faixa etária e presença ou ausência de Staphylococcus sp.
Figura 2 - Resultados das provas bioquímicas realizadas nas colônias de Staphylococcus sp isolados das
mãos dos estudantes do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB.
Na avaliação do perfil de sensibilidade
dos Staphylococcus aureus isolados das mãos
de estudantes antes da higienização, todas as
amostras apresentaram resistência aos
antibióticos testados, sendo 100% resistentes
a meticilina e 100% a vancomicina.
60
Discussão
A dose infectante, ou o número de
microrganismos capaz de induzir infecção em
indivíduos em domicílio ou em ambiente
hospitalar, ainda não está estabelecida.
Entretanto, quanto maior o número de carga
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
microbiana (UFC), maior será o risco de
contaminação e possivelmente infecção.
Evidências mostram que a pele do ser humano
é colonizada por diferentes microrganismos,
sendo que nas mãos de profissionais da saúde
foram quantificados valores entre 3,9x10-4 a
4,6x10-6 UFC/cm2 (SILVA et al., 2011). A
contagem microbiana nas mãos varia de pessoa
para pessoa frente ao risco de infecção, sendo
assim, a higiene das mãos representa uma
medida individual de prevenção simples e de
baixo custo para controle de infecção (PITTET
et al., 2000; SILVA et al., 2011).
Custódio et al. (2009) realizaram uma
análise bacteriológica da mão dominante dos
profissionais da área da saúde de um hospital
particular de Itumbiara (GO) e verificaram a
presença de Staphylococcus coagulase
negativa (44,4%), Staphylococcus aureus
(40,0%), Enterococcus (13,3%) e Bacillus spp
(2,2%). Tais achados estão em concordância
com o presente estudo, no qual foi verificada
frequências similares, sendo 54%
Staphylococcus
aureus
e
46%
Staphylococcus coagulase negativa.
Para Metam et al. (2005), cerca de 50
a 87% das infecções hospitalares, tem
Staphylococcus como agente responsável,
sendo que em 16 a 43% dos casos os pacientes
evoluem para óbito em função do amplo
espectro de resistências desses microrganismos
aos antimicrobianos. A espécie mais importante
do gênero é o Staphylococcus aureus, sendo
considerado o maior fator de risco para o
desenvolvimento de infecções hospitalares
adquiridas na comunidade (SILVA et al., 2010).
A incidência da resistência à meticilina
e à vancomicina frente aos microrganismos
isolados das mãos dos estudantes foi de 100%.
Estes indivíduos estão expostos diariamente a
uma variedade de microrganismos capazes de
transmitir doenças infecciosas, através das
mãos, presentes no sangue, saliva e vias aéreas
Ciência e Cultura
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
respiratórias.
A importância destes achados está
relacionada com a ameaça à saúde pública
mundial e estão associadas a um aumento na
morbidade e mortalidade (ANDRADE et al.,
2011). A transmissão de infecções torna-se mais
séria quando atrelada à ocorrência de
microrganismos resistentes (KONEMAN et al.,
2001; MENEGOTTO e PICOLI, 2007).
Historicamente é reconhecido e inquestionável
o risco de infecção associado às mãos
(FABIANO et al., 2008) e ao aumento da
resistência microbiana (CUSTÓDIO et al.,
2009), o que exige, além da vigilância
epidemiológica, também a priorização em
programas efetivos de educação (PITTET,
2005).
Este estudo comprova a necessidade,
já reconhecida pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) de descobrir e sintetizar novos
antibióticos para o tratamento de
microrganismos resistentes, principalmente das
cepas de Staphylococcus aureus
multirresistentes, que atualmente vem
aumentando acentuadamente. Adicionalmente,
acredita-se que programas de educação
continuada que visem à higienização das mãos
com água e sabão, com o intuito de reduzir o
número de microrganismos, não somente entre
os profissionais da saúde, que lida com
infecções diariamente, como toda a população
são imprescindíveis para um adequado controle
de infecção e transmissão por Staphylococcus
aureus e outros microrganismos patogênicos.
Conclusão
Foi concluído que no total das amostras
de estafilococos identificadas das mãos dos
estudantes do curso de Farmácia do Centro
Universitário da Fundação Educacional de
Barretos-UNIFEB, o Staphylococcus aureus
foi a espécie predominante, sendo que todas
as espécies de S.aureus apresentaram
61
Identificação e avaliação do perfil de sensibilidade de Staphylococcus aureus
isolados das mãos de estudantes do curso de Farmácia do UNIFEB
resistência frente à meticilina e à vancomicina.
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de unidades paulistas produtoras de leite
Social survey, technician, productive and quality of units São
Paulo producers milk
Maira MATTAR1, Amanda Nogueira MATIAS1, Carolina Bilia Chimello LUZ1, Marluci Silva de
CARVALHO1, Ricardo RIVAS1, Luciano Menezes FERREIRA1
1
Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB, Curso de Zootecnia, Av. Prof.
Roberto Frade Monte 389, Aeroporto, CEP 14783-226, Barretos, SP.
RESUMO
Esse estudo teve como objetivo realizar o levantamento dos dados de variáveis sociais, técnicas,
produtivas e de qualidade do leite de unidades paulistas produtoras e fornecedoras de leite. Os
dados das variáveis sociais, técnicas e produtivas foram coletados de dezenove (19) produtores
por meio do questionário de pesquisa quantitativo/qualitativo. Para qualidade do leite as variáveis
estudadas foram contagem bacteriana total, em UFC/mL, contagem de células somáticas, em CS/
mL e resíduo de antibiótico (presença ou ausência), obtidas a partir dos arquivos de análises
laboratoriais da Usina de Beneficiamento de Leite do Unifeb correspondente ao período de junho
de 2009 a janeiro de 2010, sendo que apenas treze (13) propriedades possuíam análises de qualidade.
Todas as variáveis estudadas foram avaliadas por meio de estatística descritiva geral utilizando o
programa Statistical Analysis System. A prática do levantamento das variáveis sociais, técnicas,
produtivas e de qualidade do leite possibilitou neste estudo observar a variação dessas informações
entre as propriedades, mesmo estando próximas, evidenciando a heterogeneidade dos sistemas de
produção de leite na região de Barretos.
Palavras chave: Bovinos de leite, produção de leite, qualidade de leite
ABSTRACT
This study was designed to gather data about social variables, techniques, productivity, and the
quality of milk among the State of São Paulo producers and suppliers of milk. The social variables,
techniques, and productivity data were collected from 19 producers by means of a quantitative/
qualitative research questionnaire. In order to measure milk quality, the total bacterial count was
studied, in UFC/mL, somatic cell count in CS/mL and antibiotic residue (present or absent). These
data were obtained from laboratory analyses archives from the Usina de Beneficiamento de Leite,
which corresponds to the period of June 2009 to January 2010. Only thirteen (13) properties
possessed quality analyses. All of the variables studied were evaluated by means of general
descriptive statistics, utilizing the Statistical Analysis System program. The practice of gathering
social variables, techniques, productivity, and the quality of milk was made possible in this study,
through the observation of variations of this information, between properties that are approximate,
and demonstrate heterogeneity systems of the milk production in the region Barretos.
Keywords: Dairy cows, milk production, milk quality
Autor para correspondência: Maira Mattar
E-mail: [email protected]
Telefone: (16)9786-2929
Recebido em: 12/06/2013
Aceito para publicação em: 15/04/2014
Ciência e Cultura
65
Levantamento social, técnico, produtivo e de qualidade de unidades paulistas
produtoras de leite
Introdução
O Brasil possui o terceiro maior
rebanho de vacas leiteiras do mundo,
considerando que a primeira posição pertence
à Índia e não se trata de rebanho comercial e,
a segunda à União Europeia, que inclui 27
países. Já, no país, a região Sudeste tem o
maior rebanho nacional de vacas leiteiras,
juntamente com a maior produção de leite. No
entanto, o Brasil se encontra classificado na
sexta posição do ranking mundial em produção
de leite, ficando atrás dos Estados Unidos,
União Europeia, China, Rússia e Índia,
evidenciando sua baixa produtividade por
animal (ANUALPEC, 2009). Estas estatísticas
apontam que apesar de o Brasil e suas regiões
apresentarem grande potencial produtivo de
leite, o país precisa melhorar nos rebanhos suas
eficiências de produção. Além da necessidade
de melhorias na produção, a qualidade do leite
também tem gerado exigências para o setor
leiteiro a partir da publicação da Instrução
Normativa nº 51 (IN51), de 18 de setembro
de 2002 do Ministério da Agricultura; Pecuária
e Abastecimento (MAPA), a fim de estabelecer
regulamentos técnicos de produção, identidade
e qualidade do leite. Assim, como a IN51 são
parâmetros mundialmente aceitos, tornou-se
imprescindível, ações de assistência técnica aos
produtores não adaptados às novas e
exigências (BRASIL, 2002).
Com vistas à realidade do campo de
os produtores apresentarem dificuldades em
adequarem-se à IN51, em 29 de dezembro
de 2011 foi instituída pelo MAPA a Instrução
Normativa nº 62 com o objetivo de estabelecer
novos critérios, como a mudança de parâmetros
para a contagem de células somáticas (células/
mL) e de contagem bacteriana total (UFC/mL)
de leite. Outro importante item foi a instituição
de Comissão Técnica Consultiva permanente,
com vistas à avaliação das ações voltadas para
a melhoria da qualidade do leite no Brasil
66
MATTAR et al.
(BRASIL, 2011).
Segundo a visão de Sbrissia e Ponchio
(2010), o sistema agroindustrial do leite no
Brasil vem passando por transformações
sensíveis e, produtores de leite, indústrias e
cooperativas estão diante de um futuro incerto.
Os mesmos autores apontam que a produção
brasileira de leite vem crescendo
significativamente desde o inicio da década de
90, e verificaram nas principais empresas e
cooperativas leiteiras, aumento da captação de
leite e redução do número de fornecedores,
indicando ganhos em escala, produtividade e
eficiência. Isto porque o baixo retorno por litro
faz com que a escala de produção seja o
principal determinante da renda gerada, e
torna-se, portanto, fator importante para
explicar a tendência crescente à especialização
do setor.
No entanto, cabe ressaltar que no
Brasil existem 1,47 milhões de
estabelecimentos familiares na atividade leiteira,
onde 41% estão localizados na região Sudeste.
São pequenas propriedades, com baixos
índices de produtividade, mas que respondem
por 36% da oferta do produto na região
(CALDAS, 2003).
Na região de Barretos, as estatísticas
apontam 384 unidades produtoras de leite com
total de 13.174 animais destinados apenas para
esta exploração, sem contabilizar as
propriedades de aptidão mista (carne e leite).
Nessas propriedades leiteiras, grande parte não
utiliza ordenha mecânica e resfriadores de leite,
além da baixa utilização de assistência técnica
e grande variação no nível de escolaridade do
produtor rural (CATI, 2010).
Com isso, este estudo teve como
objetivo realizar o levantamento dos dados de
variáveis sociais, técnicas, produtivas e de
qualidade do leite de unidades paulistas
produtoras e fornecedoras de leite na região
de Barretos-SP.
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
Material e métodos
Os dados das variáveis sociais,
técnicas e produtivas foram coletados ao longo
do segundo semestre do ano de 2010 por meio
de questionário de pesquisa quantitativo/
qualitativo, elaborado para esta finalidade, e
encaminhado individualmente para cada uma
das 19 propriedades. Para a qualidade do leite,
as variáveis estudadas foram a contagem
bacteriana total (CBT), em UFC/mL, a
contagem de células somáticas (CCS), em CS/
mL, e Resíduo de Antibiótico, presença (1) ou
ausência (0) no leite.
Estas variáveis fizeram referência às
amostras mensais de cada UPL, obtidas a partir
dos arquivos de análises laboratoriais da Usina
de Beneficiamento de Leite do Unifeb
correspondentes ao período de junho de 2009
a janeiro de 2010. As amostras foram
analisadas, no mesmo período, na Clínica do
Leite da ESALQ/Piracicaba – USP/SP,
totalizando 96 amostras de leite cru para cada
variável pertencentes a 13 propriedades.
Todas as amostras de leite foram
mensalmente colhidas nas dependências da
Usina de Beneficiamento, após a coleta diária
dos latões de leite de cada produtor, feita pela
própria usina por meio de transporte próprio.
As amostras foram acondicionadas em frascos
estéreis, disponibilizados pelo laboratório,
dispostas imediatamente em caixa de material
isotérmico contendo gelo reciclável e
encaminhadas, em seguida, para análise no
laboratório da Clínica do Leite, ESALQ-USP,
Piracicaba-SP.
Estas
propriedades
foram
caracterizadas por Luz et al, (2011) baseandose nas variáveis sociais, técnicas, produtivas e
de qualidade do leite deste estudo. Os autores
evidenciaram heterogeneidade entre as
propriedades que foram classificadas como
muito ruim a boa, em relação à qualidade do
leite, evidenciando que mesmo em locais
Ciência e Cultura
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
próximos, a qualidade dependeu de
particularidades sociais, técnicas e produtivas
e suas inter-relações.
As variáveis, quantitativas e
qualitativas, sociais, técnicas, produtivas e de
qualidade do leite foram avaliadas por meio de
estatística descritiva geral utilizando o programa
SAS (2003).
Resultados e discussão
Na tabela 1 são apresentados a média
e o desvio-padrão de vacas em lactação (VL)
indicando pequena produção nas unidades
produtoras de leite (UPL), confirmada pela
média de litros de leite produzida diariamente
(L/dia). Este resultado é semelhante ao
encontrado por Nero et al. (2009) que
confirmaram o perfil de pequena produção pela
reduzida quantidade de animais em lactação,
na região de Viçosa – MG. As propriedades
leiteiras no Brasil são comumente caracterizadas
por pequenas unidades, segundo Brito et al.
(2004), a maior parte dos produtores pode ser
classificada como pequenos ou médios, com
produção diária de 50 a 100 L de leite e de
caráter familiar.
Em estudo realizado por Freitas et al.
(2004) com vacas girolandas foram obtidas
médias para a produção de leite em 305 dias e
na lactação total de 3,49 ± 1,73 kg e 3,72 ±
1,96 kg, respectivamente. No entanto, Ledic
et al. (2002) ao estudarem vacas da raça gir
leiteiro melhoradas geneticamente encontraram
valores de 11,97 ± 4,64 kg, superiores à média
apresentada nesse trabalho. Com isso, a
diferença de raças desses estudos pode ser um
dos fatores que influenciaram a produção.
Estes resultados evidenciaram que a
atividade leiteira é, em geral, composta por
pequenos produtores com poucos animais no
rebanho, provavelmente com baixa
infraestrutura, sistemas de criação ineficientes
e animais com composição genética inferior.
67
MATTAR et al.
Levantamento social, técnico, produtivo e de qualidade de unidades paulistas
produtoras de leite
Pela média e desvio-padrão para a área
total das propriedades (ha total), pode-se
observar propriedades de menor porte, com
sistemas de produção heterogêneos
(extensivos, semi-intensivos e intensivos)
observados pela porcentagem de área
destinada para a pecuária leiteira (% ha),
conforme a Tabela 1.
Já pela avaliação da produtividade em
litros de leite produzidos por área (L/ha) foi
possível evidenciar grande variação na eficiência
do uso da exploração da terra. Nascif (2011),
analisando dados de pesquisa feita no Estado
de Minas Gerais observou que os maiores
produtores apresentaram rebanhos, em média,
com produtividade de 10.399,68 litros/ha/ano,
enquanto os menores produziram 873,87 litros/
ha/ano. Nestes últimos, apontou uma
produtividade muito baixa, perfazendo 2,39
litros/ha/dia, tão baixa quanto encontrada em
propriedades neste trabalho. O mesmo autor
afirma que para ter um sistema com alta
produção de leite em menores áreas se deve
utilizar adequadamente as tecnologias para
produzir mais e melhor. No caso, para aumentar
a produtividade da terra, medida em litros por
hectare por ano, deve-se aumentar a eficiência
principalmente de dois indicadores que são o
número de vacas em lactação por hectare e
produção de leite por vacas em lactação.
Tabela 1 - Análise descritiva para variáveis de produção de leite, Barretos-SP, 2010.
vacas em lactação, 2litros por dia por vaca, 3hectare total, 4porcentagem de hectare para
produção de leite, 5litros de leite produzido por hectare.
1
Em relação às variáveis sociais (Tabela
2), as unidades produtoras envolvidas neste
trabalho apresentaram, na maioria, a pecuária
leiteira como atividade complementar à renda.
A falta de estabilidade do setor leiteiro, com a
variação de preços pagos aos produtores, não
incentiva os envolvidos a se dedicarem apenas
à atividade. No entanto, a cadeia produtiva
do leite está em fase de estruturação, e vem se
recuperando nos últimos anos, devido às
mudanças estruturais que vem acontecendo no
País, no crescimento e na estabilidade
econômica, e na implantação de políticas
públicas sociais e também voltadas ao
desenvolvimento da cadeia produtiva do leite
(FILHO e CARVALHO, 2009). Enquanto
68
isso, os resultados apontam pouco investimento
nas propriedades estudadas, em geral, com a
mão-de-obra familiar. A agricultura familiar é
uma forma de produção em que o núcleo de
decisões, gerência, trabalho e capital é
controlado pela família. E em geral, são
produtores com baixo nível de escolaridade
que diversificam as atividades para aproveitar
as potencialidades da propriedade, melhor
ocupar a mão-de-obra disponível, e aumentar
a renda (ZOCCAL et al., 2004).
Neste trabalho o baixo número de
pessoas envolvidas na atividade leiteira também
ajuda na análise de que se trata de pequenas
propriedades, não tecnificadas, com mão-deobra predominantemente não especializada.
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Tabela 2 - Análise descritiva para variáveis sociais, Barretos-SP, 2010.
Os resultados dispostos na tabela 3
evidenciam que a maioria das propriedades
estudadas utiliza ordenha manual, ficando
evidente que a maioria delas se caracteriza
como pequenas. Neste contexto, a ordenha
manual, se for feita com rigorosa higiene não
colabora para a disseminação de microorganismos no leite e nas glândulas mamárias
dos animais, sendo assim, tão eficiente quanto
a ordenha mecânica. No entanto, se não for
bem praticada, a ordenha manual pode ser meio
de transmissão de doenças no rebanho,
principalmente a mastite.
A prática observada de uma ordenha
diária não é a recomendada em termos
produtivos, pois intervalo entre ordenhas muito
grande interfere no estímulo de produção de
leite pela glândula mamária. Segundo Garçone
(2005), a frequência e o intervalo entre as
ordenhas são ferramentas disponíveis ao
produtor para a manipulação da produção de
leite pela vaca, melhorando a produtividade do
rebanho. Para conseguir aumentos significativos
na produção de leite das propriedades
estudadas a ordenha poderia passar de uma
vez ao dia para duas vezes diárias, aumentando
assim a frequência de ordenha e diminuindo o
intervalo entre elas. No entanto, para isso se
Ciência e Cultura
deve levar em consideração o potencial
produtivo resultado da genética dos animais
antes de adotar essa medida.
Aproximadamente a metade dos
produtores utilizou locais que diminuem o
acúmulo de sujidades no local de ordenha
evitando a contaminação do leite e no animal,
principalmente pela utilização de piso
concretado. No entanto, a soma das
propriedades que não possuem estrutura
adequada para manter a higiene também foi
próxima à metade delas. Já a frequência de
limpeza dos locais onde são feitas as ordenhas
desses animais foi na maioria diária, onde pode
ser realizada através principalmente de
raspagem do piso do estábulo.
A maioria das vacas foi higienizada
antes da ordenha onde se lavam somente os
tetos das mesmas. Segundo Netto et al. (2006),
esse procedimento de lavagem tem a função
de estimular a descida do leite, facilitando a
ordenha, e após a lavagem seca-se os tetos
com papel toalha descartável e também evita
que escorra água do úbere para o leite
ordenhado.
No manejo preventivo foi observado
que a maioria dos produtores não utiliza a
69
Levantamento social, técnico, produtivo e de qualidade de unidades paulistas
produtoras de leite
técnica da caneca de fundo escuro, onde se
detecta grumos no leite que evidenciam a
presença de mastite clínica no animal. De
acordo com Netto et al. (2006), esse
procedimento tem a finalidade de eliminar todos
os micro-organismos que normalmente são
encontrados no canal do teto.
A grande maioria dos produtores rurais
não utiliza o pré-dipping (desinfecção dos tetos
antes da ordenha) e o pós-dipping
(desinfecção dos tetos após a ordenha). O prédipping tem como objetivo reduzir a
contaminação nos tetos especialmente por
agentes ambientais impedindo a ocorrência de
novas infecções (FONSECA e SANTOS,
2000). Já o pós-dipping é necessário para que
haja a desinfecção após a ordenha enquanto
ocorre o fechamento do esfíncter da papila
mamária. Esse procedimento pós-ordenha é
muito importante no controle da mastite, pois
auxilia a prevenir a entrada de microorganismos na glândula mamária da vaca
(LOPES e BATISTA, 2010).
A higienização dos baldes na maioria
foi feita com água e detergente, isso deve ser
feito cuidadosamente sem deixar resíduos para
evitar contaminação do leite. Segundo Moreira
et al. (2007), os baldes devem ser lavados com
detergente, esfregando toda a superfície interna
e externa, usando esponja ou escova
apropriada, e deve-se enxaguar com água
clorada e escorrer bem o excesso ao final.
Portanto, baldes e latões devem ser mantidos
rigorosamente limpos e secos devendo ser
guardados com a boca virada para baixo em
local apropriado (limpo e seco) evitando
contato com moscas, poeira ou outra sujidade.
O leite das propriedades foi coletado
e levado em latões individuais sem refrigeração
para a usina até as 10:00 h (dez horas) do dia
de sua obtenção, conforme a instrução
normativa vigente no período deste estudo
70
MATTAR et al.
(IN51). No entanto, segundo Lopes e Batista
(2010) o ideal seria após a coleta o leite ser
refrigerado em temperatura de 4°C, em um
espaço de tempo de duas horas, para não
ocorrer proliferação de bactérias na matéria
prima. As vacinações contra a febre aftosa
foram realizadas em todas as propriedades
avaliadas; porém, para a brucelose apenas
algumas tiveram o manejo preventivo. Como a
brucelose se trata de uma zoonose, a falta de
controle da doença em rebanhos pode afetar
tanto aspectos reprodutivos do rebanho como
a saúde pública. Essa omissão é evidenciada,
em parte, pela falta de assistência técnica nas
propriedades estudadas e consequentemente
falta de informação da importância da
vacinação de acordo com o calendário de
vacinação.
Nas propriedades a maior incidência
foi de animais cruzados, na maioria com genética
da raça Gir e Holandês provavelmente pelos
baixos a médios níveis de manejo o que impede
a criação de raças especializadas devido à alta
exigência nutricional e de manejo desses
animais. Além disso, a maioria das propriedades
apresentou outras criações perto do local de
ordenha, o quer pode promover maior
contaminação com micro-organismos e
interferência no odor do leite.
Segundo Philpot e Nickerson (1991),
as células somáticas do leite são células de
defesa do organismo que migram do sangue
para o lúmen da glândula mamária para
combater os agentes causadores da mastite.
Observa-se, na Tabela 4, que o valor
médio para Contagem de Células Somáticas
(CCS) encontra-se no limite de diagnóstico de
mastite subclínica segundo Coentrão et al.
(2008), que pode ser caracterizada por CCS
> 200.000 CS/mL. Para Dias (2007), quando
há presença de micro-organismos patogênicos
na glândula mamária geralmente a contagem
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Tabela 3 - Análise descritiva para variáveis técnicas, Barretos-SP, 2010.
Ciência e Cultura
71
Levantamento social, técnico, produtivo e de qualidade de unidades paulistas
produtoras de leite
de células somáticas se apresenta elevada
(acima de 300.000 CS/mL de leite). No
entanto, foram observadas tanto a ausência de
infecções (valor mínimo) como a existência de
infecções inaceitáveis (valor máximo) nos
animais avaliados.
Machado et al. (2000) encontraram
641.000 ± 767.000 CS/mL, superior à média
apresentada nesse trabalho, enquanto
Coentrão et al. (2008) encontraram valores
mensais de 608.000 ± 967.000 CS/mL.
A mastite clínica pode ser mais
agressiva, pois existem sinais evidentes de
inflamação como edema, aumento de
temperatura, endurecimento e dor na glândula
mamária, e/ou aparecimentos de grumos, pus
ou qualquer alteração das características do
leite (BRADLEY, 2002). Contudo, a forma
subclínica, geralmente de longa duração ou
crônica, apresenta alta contagem de células
somáticas (DIAS, 2007) e não ocorrem
mudanças visíveis no aspecto do leite ou do
úbere (PERSSON et al., 2003). Dessa forma
pode evoluir nos rebanhos tornando-se mais
preocupante do que a clínica.
Para Contagem Bacteriana Total
(CBT) a média encontrada neste estudo foi
moderada e superior as relatadas por Fonseca
et al. (2008), que encontraram valores de CBT
nas regiões de Minas Gerais, Alto Paranaíba/
Triângulo Mineiro e do Norte de MG iguais a
425.000 UFC/mL e 430.000 UFC/mL,
respectivamente. No entanto, a partir de 01
de janeiro de 2012 a 30 de junho de 2014 o
limite máximo de CBT é de 600 mil UFC/mL,
ou seja, a média dos valores da CBT atualmente
está acima da preconizada pela IN 62.
Valores altos de CBT podem ser
indícios de uma ordenha inadequada ou ainda
o modo como é armazenada a matéria prima
(DÜRR, 2005). Segundo Paschoal (2010),
72
MATTAR et al.
algumas medidas são necessárias para diminuir
a CBT, como manter a sala ou o local de
ordenha sempre limpos; utilizar água potável
de boa qualidade; lavar as mãos e mantê-las
limpas durante a ordenha; imergir os tetos em
solução desinfetante antes e após a ordenha;
secar os tetos com papel toalha descartável;
lavar os equipamentos e os utensílios após cada
ordenha com água aquecida, usando os
detergentes de acordo com o manual do
fabricante dos mesmos; trocar mangueiras e
borrachas do equipamento de ordenha na
frequência recomendada pelo fabricante ou
quando ocorrerem rachaduras; lavar os tanques
de refrigeração, usando água aquecida e
detergentes adequados cada vez que o leite
for recolhido pelo transportador.
As grandes variações nas análises de
CBT observadas neste estudo apontam
diversidade de manejo durante e após a
ordenha, mesmo em rebanhos muito próximos.
Isso evidencia a falta de padronização nos
sistemas de produção de leite no Brasil e, por
consequência na qualidade do leite.
Em relação às análises de antibióticos
no leite todas as amostras foram negativas, o
que evita, segundo (BRITO e LANGE, 2005),
problemas na industrialização do leite pela
inibição de culturas lácteas, e na saúde pública
pela possibilidade de desenvolvimento de
reações alérgicas ou tóxicas nos indivíduos que
ingerem o leite contaminado com os resíduos
de antibióticos. Talvez a ausência de resíduos
neste trabalho possa ser explicada pela maior
preocupação dos produtores com o estado
sanitário dos animais, separando os animais
com mastite na hora da ordenha, e respeitando
o período de carência dos antibióticos para
tratar da mastite desses animais, ou ainda pelo
descaso dos produtores com a sanidade dos
rebanhos não os tratando com antimicrobianos.
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Tabela 4 - Análise descritiva para contagem de células somáticas (CCS), contagem bacteriana total (CBT) e
resíduos de antibiótico (ATB), Barretos-SP, 2010.
¹número de amostras de leite; ²desvio-padrão
Na Tabela 5 observam-se a contagem
de células somáticas (CCS) e a contagem
bacteriana total (CBT) com valores acima dos
regulamentados para a Região Sudeste pela
IN51, Barretos-SP, 2010.
Para a CCS foi observada que 7,29%
(7) das amostras analisadas apresentaram
valores acima de 750 mil cél./mL, ou seja, fora
dos padrões da Instrução Normativa nº 51
(IN51) para a Região Sudeste, o que
representou 5,21% (5) das propriedades.
Desde 2008 e até junho de 2011 a IN51
determinava que para a mesma região os
valores de CCS deviam ter no máximo o valor
supracitado. A partir de julho a dezembro de
2011 a normativa estabelecia que os valores
não ultrapassassem 400 CS/mL. Com isso
aumentou para 30,20% (29) o número de
amostras acima do regulamentado e 9,37% (9)
as propriedades que se apresentavam acima
do valor estabelecido a partir deste período.
Quando os resultados da CCS foram
comparados aos padrões preconizados
atualmente pela IN 62, vigentes a partir de 01
de janeiro de 2012, foi observado que 12,50%
(12) das amostras analisadas apresentaram
valores acima de 600 mil/mL, ou seja, fora dos
padrões para a Região Sudeste, o que
representou 9,37% (9) das propriedades.
Segundo Santos e Fonseca (2006),
quando ocorre a presença de micro-organismo
patogênico na glândula mamária, geralmente a
CCS se eleva (acima de 200.000 CS/mL de
leite) e esse aumento na CCS é a principal
Ciência e Cultura
característica utilizada para o diagnóstico da
mastite subclínica no rebanho. Assim, a
contagem de células somáticas tem sido
considerada medida padrão de qualidade, pois
está relacionada com a composição,
rendimento industrial e segurança alimentar
(BUENO et al., 2005). Os resultados deste
estudo mostram que em algumas propriedades
não há controle eficiente da mastite, com isso
ocorre o aumento na CCS indicador de mastite
no rebanho (SANTOS e FONSECA, 2002).
Além disso, com o aumento de CCS no leite
ocorre queda na produção, causando grandes
prejuízos ao produtor, e podendo ser
penalizado ou bonificado por seus valores.
Para a CBT, as amostras analisadas
apontaram que 23,95% (23) se encontravam
fora do requerido na IN 51 que, de 2008 até
junho de 2011, estabelecia limite de 750 mil
UFC/mL, o que envolveu aproximadamente
10,42% (10) das propriedades estudadas. No
entanto, a partir de julho de 2011 até dezembro
de 2011 esses valores não podiam ultrapassar
100 mil UFC/mL, e com os valores obtidos
neste estudo 13,54% (13) das propriedades
encontravam-se além da qualidade requerida
para o leite com 72,91% (70) das amostras
acima de 100 mil UFC/mL.
Quando os valores da CBT foram
comparados aos preconizados pela IN 62,
vigentes a partir de 01 de janeiro de 2012, as
amostras analisadas apontaram que 28,12%
(27) se encontravam acima dos valores
máximos estabelecidos que são de, no máximo,
73
Levantamento social, técnico, produtivo e de qualidade de unidades paulistas
produtoras de leite
600 mil UFC/mL atualmente, resultado este que
envolveu aproximadamente 10,42% (10) das
propriedades estudadas.
Valores altos de CBT indicam
contaminação do leite por bactérias, as
bactérias estão em todos os lugares, no ar, na
poeira, nos utensílios, nos próprios animais, nos
ordenhadores. Para ter o leite com baixos
índices de CBT é preciso trabalhar com uma
higiene rigorosa e refrigerar imediatamente o
leite após a ordenha (DÜRR, 2005).
Estes resultados implicam em matéria
MATTAR et al.
prima heterogênea e baixa qualidade, e
mudanças as necessárias para produzir leite de
melhor qualidade são: manter o rebanho
saudável, utensílios e instalações sempre limpos
e o ordenhador, mão de obra especializada,
armazenar o leite de maneira correta e na
temperatura ideal. Fagundes et al. (2006)
destacam que a racionalização da coleta e do
transporte do leite até a indústria beneficia toda
a cadeia do leite e que a refrigeração do leite,
imediatamente após a ordenha, visa diminuir a
multiplicação de bactérias.
Tabela 5 - Contagem de células somáticas (CCS) e contagem bacteriana total (CBT) com valores acima dos
regulamentados para a Região Sudeste pela IN51 e IN62, Barretos-SP, 2010.
¹referente à quantidade de amostras acima do limite regulamentado. *Instrução Normativa n°62.
Com isso, neste trabalho observou-se
que as variáveis produtivas demonstraram que
por se tratar de pequenas propriedades com
poucos animais no rebanho, provavelmente
com baixa infraestrutura, sistemas de criação
ineficientes e animais com genética inferior,
resultou em baixa produção.
Em relação às variáveis sociais
observou-se que são propriedades que não tem
a pecuária leiteira como única fonte de renda
por ser uma atividade onerosa. Por isso, o uso
da mão de obra dessa atividade é a familiar
para não haver mais gasto com a produção.
Foi observado, ainda, que se tratam de
pequenas propriedades não tecnificadas e com
mão de obra predominantemente não
especializada.
74
Ao serem analisadas as variáveis
técnicas podem-se considerar as propriedades
como sendo pequenas, por se fazer ordenha
manual, pela ordenha ser feita uma vez ao dia
e por não ter profissional qualificado para
orientar esses produtores, fatores esses que
interferem na mudança e, consequentemente,
na qualidade do leite.
As variáveis de qualidade mostraram
que algumas propriedades não possuíam
higienização adequada, consequentemente os
valores de CCS e CBT foram altos na matéria
prima em estudo, não estando dentro das
normas estabelecidas pela Instrução Normativa
n° 51, vigente no período do estudo, e que
ainda não estariam adequadas, caso os dados
encontrados fossem comparados à IN 62,
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
vigente atualmente.
Por fim, ressalta-se a importância que
a IN51 representou para a mudança da
qualidade do leite no Brasil e que produtores
que estiverem fora das normas estabelecidas
pela IN62 terão o leite descartado, pois o
produto terá menos tempo de prateleira e de
fácil deterioração. Dessa forma, as INs 51 e
62 vieram para incentivar o produtor a produzir
com qualidade, fomentando o pagamento do
leite por qualidade e não por quantidade
produzida, pois geralmente os valores de CBT
encontrados acima do regulamentado evidencia
a falta de incentivo dos produtores para
produzir um leite com qualidade, não se
preocupando com o manejo de ordenha.
Conclusão
O presente trabalho demonstrou que a
prática do levantamento das variáveis sociais,
técnicas, produtivas e de qualidade do leite
possibilitou observar a variação dessas
informações entre as propriedades mesmo
estando próximas, evidenciando a
heterogeneidade dos sistemas de produção de
leite, na maioria, de atividade secundária da
pecuária leiteira. Com isso, espera-se que este
estudo forneça subsídios para que técnicos e
produtores promovam a melhoria na produção
e na qualidade do leite não somente na região
de Barretos-SP, mas também em outras regiões
do Brasil.
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v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
Visitantes florais na cultura da crotalária (Crotalaria
juncea)
Visitor flowers on crotalaria crop (Crotalaria juncea)
Darclet Teresinha MALERBO-SOUZA1
Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos, Av. Professor Frade Monte, 389. CEP 14873-226.
Barretos, SP.
1
RESUMO
O presente experimento foi conduzido na área experimental do Centro Universitário Moura Lacerda, no
município de Ribeirão Preto, SP com o objetivo de identificar os visitantes florais da Crotalaria juncea,
bem como, o tipo de coleta desses visitantes e seu comportamento forrageiro. Após o início do florescimento,
a cultura ficou em observação e foram avaliadas as espécies de insetos visitantes, que foram identificados
em comparação à coleção entomológica da Instituição. A frequência das visitações dos insetos, no decorrer
do dia, foi obtida por meio de contagem, a cada 50 minutos, das 7h00 às 17h00, 15 minutos em cada
horário, por meio de observação visual, percorrendo o local do experimento, com três repetições em dias
distintos. Foram observados apenas insetos visitando as flores, com predominância de abelhas
(Hymenoptera) (83,57%), sendo a mais frequente a espécie Apis mellifera africanizada (54,71%), seguida
pelas abelhas melíponas (17,75%) e duas espécies de abelhas Xylocopa (11,11%). Com relação aos outros
insetos foram observados: insetos da ordem Lepidoptera (6,88%), Hemiptera (5,55%), Coleoptera (1,45%),
Orthoptera (0,98%), Vespidae (0,85%) e Diptera (0,72%). As abelhas africanizadas coletaram apenas
pólen nas flores da crotalária, aumentando sua frequência até às 13h00, diminuindo em seguida, até o final
da tarde. As abelhas Xylocopa spp. visitaram as flores durante o dia todo, sem grandes oscilações na sua
frequência. As abelhas melíponas iniciaram a visita a partir das 9h00, aumentando sua frequência durante
o dia, com pico entre 16h00 e 17h00. As flores da crotalária foram visitadas principalmente por abelhas,
sendo considerada boa fonte de alimento para elas.
Palavras chave: Abelhas, crotalária, insetos, interação planta-polinizador, polinização
ABSTRACT
The present experiment was carried out to evaluate the floral biology of crotalaria (Crotalaria juncea), on
Ribeirão Preto, SP, Brazil, in February 2012 and the insects involved in pollination, their behavior in the
flower (frequency and constancy). The most frequent insects were recorded daily (counted during
fifteen minutes, every hour) from 7:00 a.m. to 5:00 p.m. with three replications. It was also observed
the insect forage behavior and constancy on the flower. The insect visitors were Africanized honey-bee
Apis mellifera (83.57%), native bees (17.75%) and two species of carpenter bees Xylocopa (11.11%),
Lepidoptera (6.88%), Hemiptera (5.55%), Coleoptera (1.45%), Orthoptera (0.98%), Vespidae (0.85%)
and Diptera (0.72%). Africanized honey-bees collected only pollen in crotalaria flowers, increasing its
frequency until 1:00 p.m., and then decrease until the late afternoon. The carpenter bee species visited the
flowers throughout the day, without major fluctuations in its frequency. Meliponidae started visit 9:00
a.m., increasing its frequency during the day, peaking 4:00 p.m. and 5:00 p.m. The crotalaria flowers were
visited primarily by bees, and it is considered a good food source for them.
Keywords: Apis mellifera, insects, crotalaria, pollination.
Autor para correspondência: Darclet Teresinha Malerbo-Souza
e-mail: [email protected].
Telefone: (16) 997020881
Recebido em: 03/04/2014
Aceito para publicação em: 25/02/2014
Ciência e Cultura
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Visitantes florais na cultura da crotalária (Crotalaria juncea)
Introdução
Existe uma preocupação mundial com
a preservação de polinizadores e estudos sobre
a biologia da polinização podem contribuir para
o conhecimento da biodiversidade, bem como
para o entendimento da evolução das
interações planta-polinizador. Neste caso, os
animais tendem a aperfeiçoar a coleta de
recursos como pólen e néctar, enquanto que
as plantas tendem a otimizar a transferência e
recepção do pólen, buscando o menor custo
energético possível. Sendo a morfologia floral
um dos aspectos mais importantes nas
interações planta-polinizador, pois determina
a acessibilidade ao néctar, a eficiência de
deposição de pólen no corpo do polinizador e
a eficiência de aquisição de pólen pelo estigma
(PELLMYR, 2002).
A família Fabaceae é a terceira maior
entre as angiospermas e a mais importante
economicamente. No Brasil, esta família está
representada por cerca de 190 gêneros e
2.100 espécies, que possuem papel de
destaque como elemento florístico em diversas
formações vegetais, principalmente daquelas
pertencentes ao domínio atlântico, em que
possuem importância por sua riqueza e
abundância (JUDD et al., 2009).
Diante da grande riqueza e importância
ecológica dessa família no Brasil, ainda existem
poucos estudos sobre biologia da polinização
e da reprodução sobre espécies de Fabaceae
(CARVALHO; OLIVEIRA, 2003,
WESTERKAMP, 2004, AGOSTINI et al.,
2006, NOGUEIRA; ARRUDA, 2006, PRATA
DE ASSIS PIRES; FREITAS, 2008).
Dentre as espécies da família Fabaceae,
a Crotalaria é um gênero com cerca de 690
espécies e que inclui ervas perenes, arbustos e
subarbustos, principalmente, nos trópicos do
velho mundo, havendo 59 espécies endêmicas
80
MALERBO-SOUZA
e outras 15 introduzidas no novo mundo e cerca
de 35 espécies na América do Sul,
principalmente no Brasil (VAN WYK, 2005).
As poucas informações sobre biologia da
polinização e reprodução em espécies de
Crotalaria correspondem a C. retusa
(JACOBI, 2005), C. micans, C. stipularia
(ETCHEVERRY et al., 2003) e C. juncea
(NOGUEIRA-COUTO et al., 1992) indicaram
que estas espécies foram polinizadas por
abelhas, mas são auto compatíveis e pode
ocorrer autopolinização espontânea.
A crotalária (C. juncea) tem sido
amplamente utilizada como adubo verde e suas
fibras empregadas na manufatura de corda,
barbante, sola de sapato, papel para cigarro e
tecidos de papel. As necessidades de
polinização da crotalária não são bem
entendidas e carecem de estudos, existindo
considerações de que a crotalária é
autopolinizada. Quando essas flores não são
visitadas por insetos, as elongações contínuas
dos filamentos pressionam as massas de pólen
dentro do estigma, possibilitando a
autopolinização. No entanto, a fertilização só
ocorre quando a superfície estigmática é
pressionada pelo corpo do um inseto, o que
explica o que tem sido observado em algumas
regiões da Índia, onde a produção de sementes
é baixa, possivelmente devido à ausência de
polinizadores (NOGUEIRA-COUTO et al.,
1992).
Ainda de acordo com esses autores, a
crotalária tem apresentado em algumas regiões
quedas na produção de sementes devido à
escassez de agentes polinizadores. Para que
ocorra a polinização dessa planta é necessário
que a quilha seja pressionada e devido a isso,
as abelhas de maior porte são polinizadores
mais eficientes.
Devido a falta de informações atuais
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
sobre os polinizadores da crotalária, esse
experimento foi realizado com os objetivos de
identificar os visitantes florais da Crotalaria
juncea, bem como, o tipo de coleta desses
visitantes e seu comportamento forrageiro, em
cultura instalada em Ribeirão Preto, SP.
Material e métodos
O presente experimento foi conduzido
na área experimental do Centro Universitário
Moura Lacerda (Campus), no município de
Ribeirão Preto, SP (Figura 1). A altitude é de
620 metros, com as seguintes coordenadas
geográficas: 21°10’04"de latitude sul e
47°46’23" de longitude oeste (W), com clima
subtropical temperado, temperatura média
anual ao redor de 21°C e precipitação
pluviométrica anual média de 1.500 mm.
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
A cultura em estudo foi instalada em
fevereiro de 2012 e ficou em observação durante
todo o período de florescimento, que ocorreu em
abril de 2012 (Figura 2).
A frequência das visitações dos
insetos, bem como, o tipo de coleta efetuado
nas flores (néctar e/ou pólen), no decorrer do
dia, foi obtido por meio de contagem, nos
primeiros 15 minutos de cada horário (7h00
às 7h15, 8h00 às 8h15, e assim por diante até
às 17h00), com três repetições (três dias
distintos).
Essas contagens foram obtidas por
observação
visual,
percorrendo,
aleatoriamente, o local do experimento, com
três repetições, em dias distintos, anotando-se
os insetos presentes nas flores e o que eles
estavam coletando (néctar ou pólen).
Figura 1 - Vista área do campus do Centro Universitário Moura Lacerda, com detalhe para a área experimental
- seta branca e onde está instalado o apiário do campus - seta cinza (Fonte: Google Earth).
Ciência e Cultura
81
Visitantes florais na cultura da crotalária (Crotalaria juncea)
MALERBO-SOUZA
Figura 2 - Visão geral da área experimental.
Além disso, o comportamento
forrageiro de cada espécie de inseto foi avaliado
por observações visuais, no decorrer do dia,
durante todo o período experimental.
O índice de densidade relativa (IDR)
desses insetos foi obtido por meio da fórmula:
IDR = (P x 100)/N, onde P é o número de
coletas contendo a espécie estudada e N é o
número total de coletas efetuadas.
O delineamento utilizado foi o inteiramente
casualizado e todos os dados foram analisados
estatisticamente utilizando-se o programa
ASSISTAT. Para a comparação de médias
utilizou-se o teste de Tukey ao nível de 5% de
probabilidade. Para analisar a frequência de
visitação dos insetos às flores, no decorrer do
dia, utilizou-se análise de regressão por
polinômios ortogonais, obtendo-se assim
equações adequadas aos padrões observados,
nas condições do experimento.
Resultado e discussão
Foram observados apenas insetos
utilizando as flores da crotalária como recurso
alimentar, sendo que várias ordens foram
observadas, apresentando superioridade da
ordem Hymenoptera (Tabela 1).
Tabela 1 - Insetos de diferentes ordens que visitaram as flores da crotalária (Crotalaria juncea), em Ribeirão
Preto, SP.
82
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
Dentre a ordem Hymenoptera, as
abelhas Apis mellifera africanizadas foram
significativamente superiores (54,71% dos
insetos observados), comparadas às abelhas
melíponas (17,75%) e às abelhas Xylocopa
frontalis e X. griscenses (11,11%) (Figura 3),
discordando de Nogueira-Couto et al. (1992)
que relataram que as abelhas africanizadas
representaram apenas 3,5% dos insetos
observados, com a predominância de abelhas
do gênero Xylocopa e a presença de abelhas
Trigona, entretanto, esse experimento foi
realizado há mais de 20 anos, tendo ocorrido
mudanças na população dessas abelhas, em
especial, diminuição das espécies de abelhas
nativas. Além disso, como já foi relatado, havia
um apiário próximo à área experimental.
Em Jaboticabal, SP, Nogueira-Couto
et al. (1992) relataram que os visitantes florais
da crotalária, foram nove espécies de abelhas:
Xylocopa frontalis, Megachile orba, X.
griscenses, Megascirtetica mephistophelica,
M. friesei, Tetragonisca angustula, Trigona
spinipes, Pseudaugochloropsis gramínea e
Apis mellifera. Dessas visitas, a frequência das
espécies do gênero Trigona representaram
2,60%, A. mellifera, 3,5% e 93,9% das
demais sete espécies. Dentre essas sete
espécies, os autores relataram 49,7% de
abelhas X. frontalis, 19,1% de X. griscenses,
17,6% de M. orba e 13,6% de M.
mephistophelica.
Nogueira-Couto et al. (1992) também
observaram, a mais de 20 anos atrás, que as
abelhas T. spinipes apresentaram
comportamento de perfurar a quilha e atrás da
flor para coleta de pólen e néctar,
respectivamente. As abelhas A. mellifera se
aproveitavam das aberturas feitas pela Trigona
para também realizarem coletas. Esse
comportamento possivelmente se deve à
dificuldade dessas abelhas em pressionarem a
quilha para ter acesso ao néctar e ao pólen e
seria uma estratégia desenvolvida para
Ciência e Cultura
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
obtenção de alimento em flores adequadas para
polinizadores de grande porte.
Brito et al. (2010) também relataram
que espécies de Trigona que possuem língua
com comprimento inferior a 3,0 mm, obtiveram
néctar apenas furando a base do cálice. Estas
espécies visitaram as flores em busca de pólen,
porém, devido ao pequeno tamanho corporal
e ao fato de manipularem as anteras
individualmente, contataram o estigma apenas
esporadicamente. Abelhas Augochlora sp.
possuem língua <3,0 mm e visitaram as flores
somente em busca de pólen, raramente
contatando o estigma.
No presente experimento, não foram
observadas abelhas Trigona, e nenhuma outra
espécie de abelha apresentou o
comportamento de perfurar a base da flor para
coleta de néctar, sendo que as abelhas
africanizadas coletaram apenas pólen nas flores
da crotalária.
As abelhas africanizadas coletaram apenas
pólen nas flores da crotalária, aumentando sua
frequência até às 13h00, diminuindo em
seguida, até o final da tarde. As abelhas
Xylocopa spp. visitaram as flores durante o dia
todo, sem grandes oscilações na sua frequência.
As abelhas melíponas iniciaram a visita a partir
das 9h00, aumentando sua frequência durante
o dia, com pico entre 16h00 e 17h00 (Figuras
4 e 5).
Entretanto, apesar de muito frequente
nas flores, as abelhas africanizadas não
possuem tamanho adequado para realizar a
polinização nessa espécie vegetal, como as
abelhas Xylocopa, concordando com
Nogueira-Couto et al. (1992).
As abelhas Xylocopa spp. possuem
comprimento da língua acima de 4,0 mm,
dimensão apropriada para acessar o néctar na
câmara nectarífera através de visitas legítimas
e comprimento do corpo acima de 8,5 mm,
tamanho adequado para contatar as estruturas
reprodutivas das flores na coleta do néctar.
83
Visitantes florais na cultura da crotalária (Crotalaria juncea)
MALERBO-SOUZA
Figura 3 - Porcentagem dos insetos visitantes das flores da crotalária (Crotalaria juncea).
Para acessar o néctar, essas abelhas
pousavam sobre as alas e peças da quilha e
em seguida inseriram a cabeça na base do
estandarte, deslocando-o e tornando acessível
a entrada pela qual foi inserida a língua para
alcançar o néctar (Figuras 6 e 7).
Durante esta atividade, as alas e as
peças da quilha foram deslocadas pelas pernas,
liberando as anteras e o estigma, ocasião em
que contataram a região ventral do tórax,
concordando com Brito et al. (2010).
Figura 4 - Número médio de abelhas visitando as flores da crotalária (Crotalaria juncea), no decorrer do dia.
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Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
Figura 5 - Abelha Apis mellifera africanizada coletando pólen na flor da crotalária (Crotalaria juncea).
Figura 6 - Abelha Xylocopa frontalis visitando a flor da crotalária (Crotalaria juncea) e pressionado a
quilha, para coleta de néctar.
Ciência e Cultura
85
Visitantes florais na cultura da crotalária (Crotalaria juncea)
MALERBO-SOUZA
Figura 7 - Abelha Xylocopa griscenses visitando a flor da crotalária (Crotalaria juncea) e pressionando a
quilha para coleta de néctar.
Outras espécies de insetos foram
observadas na cultura, entretanto, foram visitas
ocasionais.
Pelo comportamento das espécies de
abelhas que visitaram as flores, apenas abelhas
de porte maior, como as Xylocopa, foram
adaptadas ao transporte do pólen. A abelha
africanizada apesar de muito frequente, não
tocava os órgãos reprodutivos da flor em suas
visitas para coleta de pólen, não sendo
considerados polinizadores efetivos da
crotalária.
Entretanto, o florescimento dessa
espécie ocorreu em abril, na área experimental,
sendo a flor da crotalária considerada
86
importante fonte de pólen em um período que
precede o inverno. No inverno,
tradicionalmente, ocorre menos flores
disponíveis para fornecimento de néctar e pólen
para as abelhas e o pólen é o alimento
primordial das crias das abelhas, sendo
essencial para o bom desenvolvimento da
colônia.
Com relação ao Índice de Densidade
Relativa (IDR), observou-se que as três
espécies de abelhas observadas foram
constantes nas flores: A. mellifera (88,23%),
Xylocopa spp. (100%) e meliponíneos
(76,47%). Esse índice demonstra que a flores
da crotalária foram um importante recurso
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alimentar para as espécies de abelhas citadas,
sendo para as Xylocopa spp. fonte de néctar
e para outras espécies, fonte de pólen.
Nesse experimento, observou-se que
as espécies de abelhas de maior porte
apresentaram o comportamento de movimentar
a quilha, atuando como polinizadores efetivos
dessa espécie vegetal.
Brito et al. (2010) observaram que C.
vitelina é uma espécie auto compatível, mas
dependem de polinizadores para formação de
frutos e sementes. Em condições naturais, a
frutificação em C. vitellina foi 42%. Xylocopa
brasilianorum, Bombus morio, Centris
labrosa e Megachile spp. foram os
polinizadores dessa espécie vegetal. Estas
abelhas possuem comprimento da língua
compatível com as dimensões das câmaras
nectaríferas, acessando o néctar por visitas.
Espécies de abelhas Trigona e Augochlora
não têm acesso ao néctar em visitas, pois não
possuem comprimento da língua compatível
com as dimensões das câmaras nectaríferas.
Portanto, essas dimensões das câmaras
nectaríferas de C. vitellina funcionam como
barreira seletiva às espécies de abelhas com
língua curta, assegurando maior oferta de néctar
aos polinizadores que são comuns na restinga
e atuam como vetores de pólen de diversas
espécies neste ecossistema. Portanto, a
manutenção destas leguminosas é importante
para a diversidade da fauna de abelhas e
essencial para a comunidade de plantas.
A ausência de frutos por
autopolinização espontânea em crotalária
provavelmente está relacionada ao não
rompimento da cutícula estigmática, indicando
que essas espécies dependem de polinizadores
para a formação de frutos. Westerkamp (1997)
verificou que flores do tipo quilha, como as
flores da crotalária, previnem que as abelhas
coletem pólen ativamente durante a visita, e esta
obtenção indireta de pólen garante que mais
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v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
grãos sejam usados na polinização.
Câmaras nectaríferas evoluíram por
dois motivos: reduzir os efeitos negativos de
parasitas ou polinizadores ineficientes que
diminuem o sucesso reprodutivo; ou aumentar
a eficácia dos polinizadores criando um caminho
físico até o néctar e que garante a polinização.
Esse aspecto é aplicável às câmaras das
espécies estudadas, pois sua estrutura garante
o melhor posicionamento dos polinizadores
para que a transferência de pólen ocorra de
forma eficiente. Entretanto, a atividade
pilhadora das abelhas de línguas curtas pode
interferir e diminuir as visitas dos polinizadores,
cuja consequência é a redução na quantidade
de frutos produzidos (PELLMYR, 2002).
Conclusão
As flores da crotalária são visitadas por
diversas ordens de insetos, sendo os
himenópteros mais frequentes. Dentre a ordem
Hymenoptera, as abelhas Apis mellifera
africanizadas foram as mais frequentes,
coletando apenas pólen. Entretanto, as abelhas
Xylocopa frontalis e X. griscenses foram
consideradas as polinizadoras efetivas dessas
flores. Todas essas espécies foram constantes
nas flores da crotalária.
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CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
Uma proposta de atividade sócio-técnica para o ensino
de engenharia
A proposal for socio-technical activity for engineering education
Jurandyr C. N. LACERDA NETO1, Vágner Ricardo A. PEREIRA1, Rodrigo BORGES POLASTRINI2, Gilberto
BATISTA POLASTRINI2
Professor do Instituto Federal de São Paulo (IFSP) e do Centro Universitário da Fundação Educacional
de Barretos (UNIFEB). Avenida Professor Roberto Frade Monte nº 389 - CEP: 14.783-226- Barretos - SP,
telefone: (17) 3321-6411
2
Aluno do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (UNIFEB).Avenida Professor
Roberto Frade Monte nº 389 - CEP: 14.783-226- Barretos - SP, telefone: (17) 3321-6411
1
RESUMO
O modelo de desenvolvimento da sociedade atual observam-se contradições entre a necessidade de
desenvolver e, ao mesmo tempo, preservar os recursos que sustentam o atual modelo de
desenvolvimento. Tal problema nos remete a mudanças na formação de profissionais da área científica
e tecnológica que proporcione um entendimento crítico do desenvolvimento tecnológico e de suas
decorrências. Quando buscamos caminhos para se realizar estes objetivos em sala de aula, encontramos
uma experiência interessante no estudo de controvérsias sócio técnicas, baseada na abordagem teórica
e metodológica conhecida como a teoria ator rede. Neste artigo, procura-se propor um conjunto de
atividades com controvérsia sócio técnica que possa contribuir na formação de Engenheiros mais
críticos sobre a nossa realidade.
Palavras chave: Ator rede, CTS, ensino de engenharia
ABSTRACT
The development model of modern society has brought many problems to the lives of many people
on the planet. Contradictions are established between the need to develop and at the same time
preserving the resources that sustain the current development model. This problem leads us to changes
in the training of professionals in science and technology in order to provide a critical understanding
of technological development and its consequences. When we seek ways to accomplish these goals
in the classroom, we found an interesting experience in the study of sociotechnical controversies,
based on theoretical and methodological approach known as actor network theory. In this paper, we
propose a set of activities with sociotechnical controversy that may contribute to the formation of
Engineers more critical about our reality.
Keywords: Actor network, STS, engineering education
Autor para correspondência: Jurandyr C. N. Lacerda Neto
E-mail: [email protected]
Telefone: (17) 3321 6411
Recebido em: 01/08/2014
Aceito para publicação em: 07/07/2014
Ciência e Cultura
89
Uma proposta de atividade sócio-técnica para o ensino de engenharia
Introdução
A discussão sobre a crise
socioambiental tornou-se imprescindível, diante
das inegáveis evidências de que a situação do
mundo requisita ações emergenciais, não só
pela vulnerabilidade ante os impactos
ambientais crescentes, mas também pela
exclusão social.
Os caminhos percorridos pelos seres
humanos nas últimas décadas mostram que, ao
mesmo tempo em que o avanço do
conhecimento e do desenvolvimento
tecnológico contribuiu de forma significativa
para a melhoria das condições e da elevação
da expectativa de vida, contraditoriamente
gerou, também, crescentes problemas e riscos
que acabam por comprometer o bem estar,
conseguido às custas dos mesmos avanços
(CARLETTO, 2009).
No eixo das contradições que se
estabelecem entre a necessidade de
desenvolver e, ao mesmo tempo, preservar os
recursos que sustentam o atual modelo de
desenvolvimento, encontram-se condicionantes
culturais, sociais, políticos e econômicos, que
vêm direcionando os rumos da ciência, da
tecnologia e tratando a problemática ambiental
de forma insuficiente (CARLETTO, 2009).
Baseado nos informes Limites do
Crescimento (1972), Sanmartín (1993) explica
que a economia industrial cresce, teoricamente,
“exponencialmente”, e isso significa que
entidades a ela relacionadas podem crescer do
mesmo modo. Ou seja, o crescimento
exponencial do capital industrial traz consigo o
crescimento exponencial de recursos
energéticos e materiais usados e da
contaminação causada. Assim, o crescimento
exponencial possui um perfil que faz com que
seu impacto seja dificilmente percebido, a não
ser quando já resta pouco tempo para contêlo. O crescimento exponencial, somado à falta
90
LACERDA NETO et al.
de atenção, pode propiciar que se siga em frente
inadvertidamente, sem que se percebam as
graves consequências que pode acarretar. Isso,
em parte, justifica a inoperância em se tomar
ações corretivas e preventivas para reverter o
processo de degradação ambiental e humana.
É assim que os crescentes conflitos
sociais e as repercussões socioambientais se
refletem na crise ambiental instalada e
requisitam maior compreensão sobre a relação
mútua entre ciência, tecnologia e sociedade,
além da necessidade de gestionar de forma
mais eficaz o desenvolvimento de novos
produtos, sistemas ou serviços. Os problemas
ambientais são mais sociopolíticos do que
puramente técnico, científicos, o que significa
que as soluções não podem basear-se
exclusivamente em mudanças tecnológicas ou
procedimentos científicos. As respostas aos
problemas estabelecidos pelo desenvolvimento
tecnológico deverão passar pela forma com
que se desenvolve a tecnologia (CARLETTO,
2009).
O mito da neutralidade da ciência é
transferido em parte para a engenharia, no
momento em que a formação do engenheiro o
induz a acreditar que haja e que ele possa
prover uma solução puramente técnica para a
construção de um artefato (bem ou serviço)
que lhe seja solicitado. Assim, ensina-se aos
estudantes de egenharia, explícita ou
implicitamente, que ao profissional cabe cuidar
da parte “técnica” do artefato tecnológico.
Estabelece-se uma divisão entre o “técnico” e
o “social” ou “político” e cabe ao engenheiro
tratar daquela parte que se pretende,
independente das condições sociais locais e
que, por isso, como que paira acima, ou, pelo
menos, separada delas. No entanto, de modo
geral, qualquer projeto de engenharia envolve
tomar decisões. E qualquer decisão privilegia
uns e desfavorece outros.
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
Tornou-se necessário imprimir, na
educação em engenharia, conhecimento técnico
e competências que estimulem o processo de
inovação, mas com o entendimento da ciência
e da tecnologia como fenômenos humanos
produzidos em um contexto social. Uma vez
que engenheiros e tecnólogos serão
responsáveis pela prática do desenho e
execução de projetos técnicos, devemos
educá-los para que sejam conscientes das
práticas e valores “não técnicos” que se
incorporam e transmitem em seu exercício
profissional, assim como estarem preparados
para reconhecer os riscos e as consequências
das aplicações da tecnologia.
Apesar disso, as práticas em engenharia
normalmente desenvolvem-se no sentido de
resolver problemas e desenvolver produtos que
se materializem em soluções para necessidades
criadas numa perspectiva técnica e
mercadológica com forte apelo ao consumo
massivo. Na opinião de Acevedo (2001), essa
realidade resulta do enfoque destinado,
preferentemente, a formar tecnicamente para
a indústria.
No entanto, em função dos avanços
da mudança climática global e das pressões
sociais a favor da equidade social, os cenários
que se desenham estão requisitando um modelo
de ensino menos reducionista, que proporcione
um entendimento crítico do desenvolvimento
tecnológico e de suas decorrências.
De acordo com Linsingen (2007), os
problemas que envolvem as interações da
ciência e da tecnologia com a sociedade são
bastante significativos para as reflexões
pedagógicas da educação científica e
tecnológica, na medida em que possibilita a
emersão de questões relacionadas às
interações dos campos disciplinares da
tecnociência com o seu entorno sociocultural,
notadamente ausentes na formação profissional,
Ciência e Cultura
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
sendo conveniente que as instituições
universitárias se atenham a considerar
seriamente a inclusão da perspectiva Ciência,
Tecnologia e Sociedade (CTS), em todas as
áreas de formação profissional, especialmente
as técnicas.
O questionamento sobre quais
aspectos do conhecimento da tecnologia devem
ser contemplados na Educação em Engenharia
remete a Fourez (2003), quando sugere um
enfoque que dê condições aos alunos de
analisar os efeitos organizacionais de uma
tecnologia e isso implica considerações sociais,
econômicas e culturais que vão muito além de
uma aplicação das ciências. Segundo o autor,
é a compreensão da implicação do social e,
acrescente-se também, do ambiental na
construção das tecnologias que possibilita um
estudo crítico das mesmas.
Para Sousa e Gomes (2011), o atual
estágio de desenvolvimento tecnológico afetou
a atuação profissional dos engenheiros, que
deixaram de possuir um saber amplo e
passaram a dominar apenas parcelas dos
processos produtivos. Essa mudança exige um
aperfeiçoamento humanístico para torná-los
integradores de saberes, pois eles já não detêm
um saber único capaz de projetar os complexos
equipamentos hoje existentes. No entanto, a
mudança na formação profissional não se
resume em fazer do engenheiro apenas o
integrador de soluções, mas torná-lo capaz de
compreender as demandas da sociedade e
integrar soluções que estejam de acordo com
valores humanisticamente elevados.
López Cerezo e Valenti (2005)
indicam que o próprio processo ensinoaprendizagem em educação tecnológica deve
realizar mudanças metodológicas, didáticas e
atitudinais de forma que a participação e a
inovação sejam levadas à sala de aula. O
objetivo é estimular no educando um sentido
91
Uma proposta de atividade sócio-técnica para o ensino de engenharia
crítico que, sobre a base de um conhecimento
sólido, motive-o e o capacite para implicar-se
ativamente como cidadão e como profissional
nos assuntos relacionados com a tecnologia.
Daí emerge o campo de estudo CTS,
como subsídio para um entendimento mais
crítico das principais questões que têm levado
às implicações atuais da ciência e da tecnologia.
Cabe lembrar que, dentre os objetivos da
educação científica e tecnológica em CTS,
encontra-se a contribuição para desmistificar
a ciência e a tecnologia, ao tratar de suas
relações mútuas com a sociedade e suas
inovações tecnológicas (ACEVEDO, 2007);
para evidenciar o papel das decisões humanas
na gestão da tecnologia e sobre a possibilidade
de influir no desenvolvimento tecnológico de
forma consciente (TODT, 2002).
No âmbito do ensino superior, os
programas CTS oferecem um grau específico
ou complemento curricular tanto para
estudantes da área tecnológica como para
estudantes das ciências naturais. No caso das
engenharias, a ideia é proporcionar uma
formação humanística básica com o objetivo
de desenvolver nos estudantes uma
sensibilidade crítica acerca dos impactos sociais
e ambientais derivados dos projetos e soluções
técnico-científicas.
Importa, portanto, oferecer aos futuros
engenheiros condições metodológicas para
realizar uma aprendizagem significativa, para
que possam compreender a complexidade do
ambiente, ao mesmo tempo em que avaliam a
tecnologia de forma sistêmica, e assim identificar
seus limites e poderes.
A sociedade moderna, fortemente
influenciada pelo desenvolvimento da Ciência
e da Tecnologia, impõe profundas
transformações às atividades escolares. Essa
sociedade cada vez mais informatizada e
interconectada requer aprendizagens com
92
LACERDA NETO et al.
maior nível de autonomia, flexibilidade e
autorregulação, devendo estar presentes nos
materiais instrucionais as metas educacionais
que preparem os futuros cidadãos para
enfrentarem as implicações sociais e éticas que
o impacto tecnológico envolve e os capacite
para a tomada de decisões fundamentadas e
responsáveis (CABOT, 2012).
A literatura cita três tipos de
metodologias:
1- Enxerto CTS. Trata-se de
introduzir, nas disciplinas de ciências, nos
currículos, temas CTS, especialmente
relacionados com aspectos que levem os
estudantes a serem mais conscientes das
implicações da ciência e da tecnologia.
2- Ciência e tecnologia através de
CTS. Ensina-se mediante a estruturação dos
conteúdos das disciplinas de cunho científico e
tecnológico, a partir de CTS ou com orientação
CTS. Essa estruturação pode ser levada a cabo
tanto por disciplinas isoladas como através de
cursos multidisciplinares, inclusive por linhas de
projetos pedagógicos interdisciplinares.
3- CTS puro. Significa ensinar CTS
onde o conteúdo científico passa a ter um papel
subordinado. Em alguns casos, o conteúdo
científico é incluído para enriquecer a
explicação dos conteúdos CTS em sentido
estrito; em outros, as referências aos temas
científicos ou tecnológicos são apenas
mencionadas, porém, não são explicadas.
Como o interesse deste estudo está
focado nas possibilidades das metodologias
CTS abrirem espaço para a abordagem da
teoria ator rede (TAR) nos cursos de
engenharia, enfatiza-se a adequação do enxerto
CTS, pela possibilidade de levar a reflexões
mais amplas sobre os objetos e processos
técnicos em sua inserção social, a partir de
problemas técnico-científicos relevantes.
O enxerto CTS oportuniza o estudo
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
de casos fictícios ou reais, que determinam o
desenvolvimento de controvérsias CTS.
Educar numa perspectiva CTS é,
fundamentalmente, possibilitar uma formação
para maior inserção social das pessoas no
sentido de se tornarem aptas a participar dos
processos de tomadas de decisão conscientes
e negociadas em assuntos que envolvam ciência
e tecnologia. A renovação educativa proposta
por essa perspectiva pode ser favorecida por
uma mudança de olhar através da qual o ensino
de ciências e tecnologia deixa de ser focado
em conteúdos distantes e fragmentados,
baseados em conhecimentos científicos
supostamente neutros e autônomos, e passa a
ser focado em situações vividas pelos alunos
em seus contextos cotidianos. Assim, buscase estabelecer relações de compromisso entre
o conhecimento tecnocientífico e a formação
para o exercício de uma cidadania responsável,
visando à participação democrática, o que
implica criar condições para um ensino de
ciências contextualizado, social e
ambientalmente referenciado e comprometido
(LINSINGEN, 2007).
Os conteúdos que possam
ser considerados como pertencente aos
estudos de CTS para o ensino técnicocientífico requerem
perspectivas
e metodologias inovadoras. Uma delas
é baseada no estudo de controvérsias sóciotécnicas. Essa iniciativa é baseada na
abordagem teórica e metodológica conhecida
como TAR .
Nas situações de controvérsia sóciotécnicas, temos condições privilegiadas para
descobrir a fabricação das realidades científicas
e tecnológicas que, uma vez estabelecidas, são
consideradas fatos científicos ou o resultado
lógico do desenvolvimento tecnológico. Eles
são, portanto, um elemento básico no campo
CTS para remover o que podem ser
Ciência e Cultura
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
consideradas posições
positivistas,
deterministas sobre o desenvolvimento
científico e tecnológico (Schlierf, 2010).
Nesse sentido, ressalta-se que o que
se procura não é tanto uma situação de
controvérsia no sentido usual da palavra, mas
sim um debate que tem como objeto um
conhecimento técnico ou científico que não está
ainda assegurado. Eles,
portanto,
procuraram situações em que as incertezas
sociais, políticas e morais não são reduzidas,
mas amplificadas pela técnica e pela ciência .
Portanto, visa a treinar estudantes para dar
conta dessas incertezas, ao invés de informar
ou ilustrar aspectos sociais inerentes às
atividades e produtos científicos e
tecnológicos. Poderíamos dizer que, em
comparação com os três objetivos da
educação
CTS propostos
por Martin Gordillo e Osório (2003) orientação nas relações entre ciência, tecnologia
e sociedade (saber), como escolher entre os
caminhos diferentes que
são
fornecidos (conduzir), e tornar-se agentes
ativos nestes relacionamentos (parte) - a
metodologia colocaria um objetivo adicional:
aprender a apreciar as dificuldades inerentes
desses três objetivos, de aprender e
desenvolver habilidades para tomar essas
dificuldades em conta quando se defrontar com
disputas de vários tipos.
O objetivo deste trabalho foi
desenvolver uma atividade de controvérsia
sócio-técnica levando em consideração uma
realidade das salas de aula dos cursos de
engenharia no Brasil e que abordasse um
problema da realidade atual do país.
Mas para isso, antes iremos expor
algumas ideias da teoria TAR.
A Teoria Tar
No campo dos estudos da ciência e
93
Uma proposta de atividade sócio-técnica para o ensino de engenharia
tecnologia (ECT), a teoria TAR, também
conhecida como sociologia da translação,
apresenta-se como uma alternativa às
abordagens que focam somente o papel
desempenhado pelos humanos ou pelos
artefatos, ao analisarem as mudanças e o
desenvolvimento tecnológico.
Nessa concepção, as entidades
adquirem seus atributos como consequência dos
relacionamentos com outras entidades (LAW,
1994).
Uma vez que as entidades existem em
redes de relações (LAW, 1992), os atores e
as redes não podem ser concebidos de maneira
separada.
Na visão da TAR, os elementos
componentes de uma organização são efeitos
gerados em múltiplas interações; não algo dado
na ordem das coisas. Analisá-las por meio da
TAR é uma forma de tentar compreender por
quais meios um sistema difuso e complexo,
composto por humanos e não-humanos, tornase
uma
rede
(BLOOMFIELD;
VURDUBAKIS, 1999).
A TAR tem utilizado também as noções
de móveis imutáveis e de ação à distância para
discutir o processo de ordenamento. Móveis
imutáveis são formas que possuem a
capacidade de “fixar” o conhecimento e permitir
que este seja disseminado além do seu ponto
de origem (HETHERINGTON, 1997). Os
móveis imutáveis tendem a surgir por meio de
um longo processo de tradução das
informações de interesse (e.g. posição no
oceano, tamanho e formato de um território,
comportamento de um vírus) em algo imutável
e móvel (e.g. mapas, coordenadas espaciais,
gráficos), que são os objetos que podem se
transportados enquanto mantêm seu formato
(LATOUR, 1987, p.227). Para Law (1986),
a possibilidade de agir a distância se sustenta
no alinhamento de documentos, planos, mapas
94
LACERDA NETO et al.
etc. Ao analisar o processo de ordenação, a
TAR desenvolveu a ideia de translação. Esse
conceito refere-se “ao trabalho pelo qual os
atores modificam, deslocam e transladam seus
variados e contraditórios interesses”
(LATOUR, 1999b, p.311), na tentativa de
torná-los comuns (CALLON, 1986;
CALLON; LATOUR, 1981; LAW, 1999a,
p.101). De acordo com Callon (1986), a
translação é composta por quatro diferentes
momentos: problematização, interesse,
envolvimento e a mobilização de aliados e
estabelecimento de um representante de todos
os atores envolvidos numa dada rede-deatores.
Esta posição específica teórica e
metodológica
marca os objetivos
educacionais de temas para o estudo
de controvérsias.
Atividades de sala de aula
Levando em consideração os nortes
teóricos apresentados, procuramos um tema
de controvérsia sócio-técnica para
elaborarmos uma atividade de ensino para
estudantes de engenharia.
Escolhemos a construção da usina de
Belo-Monte como tema, por se tratar de um
tema atual, controverso, com conflito de
diferentes atores que estabelecem relações de
cooperação ou confronto dentro de uma rede
de relações. É um tema atual pois envolve o
aumento da geração de energia elétrica,
considerado estratégico para o
desenvolvimento nacional. Por outro lado,
modifica o meio ambiente em grande escala,
desaloja comunidades indígenas e ribeirinhas e
tem recebido fortes críticas de grupos
ambientalistas, dentro e fora do Brasil.
O estudo da problemática da
construção da usina de Belo-Monte deve
passar pelo crivo de conhecimento técnico e
Ciência e Cultura
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científico. Na medida em que queremos ter um
debate qualificado sobre o tema, precisamos
nos aprofundar nas questões técnicas da
construção de uma obra deste porte, das
implicações ambientais dos impactos causados,
do custo de geração da energia elétrica a ser
produzida, assim como de seu transporte para
os grandes centros consumidores do país. Mas
também devemos levar em consideração os
aspectos políticos e sociais, a briga de poder
traçada por um governo que busca
reconhecimento, de produtores e empresários
envolvidos em ganhos diretos e indiretos na
construção com membros de comunidades que
historicamente sobrevivem naquela região. Se
ela seria a forma mais eficiente de atender às
demandas de um país em desenvolvimento, da
discussão do respeito àqueles que já estão ali
versus o interesse do desenvolvimento nacional,
são apenas alguns aspectos de uma discussão
que já ganhou alguns momentos radicais como
embates físicos, ameaças e muita ação judicial.
Propõe-se que os alunos levantem os
elementos dessa rede e como se estabelecem
os vínculos de relações entre eles. Como o
conhecimento técnico e científico são
transladados e modificados pelos atores em
conformidade com seus interesses e na
construção de seus argumentos.
Para motivar os alunos a expressarem
suas ideias, introduziu-se o assunto ao
apresentar dois vídeos coletados na internet.
Um deles, proveniente do movimento
denominado “Movimento Gota d’Água, é
apresentado por atores conhecidos do público
de TV e se posiciona contra a construção da
usina1. Após foi exibido um vídeo, também
obtido na internet, contra-argumentando o
vídeo anterior e defendendo a construção da
usina2. A ideia desses vídeos era introduzir o
tema com sua controvérsia.
Ciência e Cultura
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
Logo após a exibição deste vídeo, foi
apresentado o seguinte problema, a ser
respondido individualmente:
“Com a necessidade de novas fontes
para gerar energia elétrica, qual a sua opinião
sobre a construção da usina de Belo Monte?
Justifique com suas palavras”.
A proposta é que os alunos pudessem
expressar suas ideias, valores e preconceitos
livremente. Concordamos com Zabala (2002)
quando afirma que todo processo educativo
deve começar com as concepções que os
alunos já possuem sobre o assunto, pois
somente notando as limitações de suas próprias
ideias os alunos se engajam num verdadeiro
processo de aprendizado.
Mostrar as limitações de um
argumento é uma tarefa complicada,
principalmente quando se trata de temas
controversos e que envolvem valores e
ideologias. Não raras vezes, as concepções
tendem a ser resistentes a mudanças e o assunto
ganha componentes emocionais que impedem
o avanço da discussão e do aprendizado.
Neste momento, deve ser evitada a
manifestação do professor, pois este, tendo a
posição de autoridade dentro da sala de aula,
tende a encerrar as manifestações por parte
dos alunos, sem que nenhuma modificação nas
pré-concepções
ou
mesmo
um
aprofundamento do tema.
Pediu-se, então, para que os alunos se
reunissem em grupo e procurassem um
consenso entre suas respostas. A ideia é que,
discutindo entre os pares, os mesmos se sintam
mais livres para se expressarem. É importante
notar que o debate que se busca não visa a
encerrar o assunto, muito menos induzir uma
resposta. Mas, antes disso, procurar, através
do debate, a necessidade de argumentar e ouvir
outros pontos de vista, os alunos percebam a
95
Uma proposta de atividade sócio-técnica para o ensino de engenharia
superficialidade de suas concepções e a
necessidade de aprofundamento no assunto.
Seguindo a mesma linha, foi aberto o
debate para toda a sala, pedindo para que os
grupos mostrassem suas resposta e foi
solicitado que a sala tentasse chegar a um
consenso. O professor atua na discussão
apenas como um mediador do debate, sem
expressar a sua opinião, mas pode interrogar
em alguns momentos sobre determinada
informação, anotar e propor perguntas para
investigação. Ao final do debate, nenhum
consenso mais cristalizado foi construído, mas
sim um escopo de perguntas a serem
respondidas para buscar um aprofundamento
do assunto. Evidentemente, nem todas podem
ser respondidas no tempo e espaço pedagógico
do curso, então selecionar aquelas que serão
pesquisadas deve ser o próximo passo do
trabalho.
Embora essa seleção deva ser feita por
todo o grupo, assim como também as ações
que serão feitas para respondê-las, neste
momento, propomos que o professor tenha uma
participação mais incisiva, pois a partir deste
programa de investigação serão desenvolvidos
os conteúdos propostos.
Cremos que, neste momento, o
professor já deva ter em mente algumas
questões a serem desenvolvidas. Visando a
aprofundar o tema, propomos algumas
questões conjuntamente com as ações que os
alunos devem executar para respondê-las no
quadro 1.
As tarefas sejam divididas entre os
grupos, no qual cada um destes deve ficar
responsável por tarefas de diferentes naturezas.
Todo material pesquisado deve ser
digitalizado e apresentado pelos grupos para o
conhecimento de toda a turma.
Cada grupo montou um relatório no
96
LACERDA NETO et al.
qual respondeu todas as perguntas e abordar
todos os aspectos envolvidos.
Ao final, houve um debate, no qual um
grupo defendeu a construção da usina e outro
defendeu a posição contrária. Os demais alunos
motaram grupos representando os diferentes
atores da sociedade, relevantes ao problema.
Conclusão
É primordial que os cursos de
engenharia orientem os alunos a abordarem
questões controversas analisando fatores que
vão além do técnico. Porém, a introdução pura
e simples de tópicos CTS de forma expositiva
pode não chegar a esse intento, pois não ensina
ao aluno como abordar as controvérsias
presentes em temas desse tipo.
Acreditamos que a introdução de
atividades de análise de temas controversos,
como exposto neste artigo, possa contribuir
para que os alunos adquiram habilidades de
análise e pesquisa, além do conhecimento de
aspectos técnicos, maior compreensão sobre
a natureza da ciência e da tecnologia, do
processo científico-tecnológico e de sua
repercussão no meio social, político,
econômico e ambiental e, ainda, como os
fatores externos podem influenciar nas decisões
sobre o desenvolvimento científico e
tecnológico.
Neste momento, terminamos a análise
de um projeto piloto que se mostrou bem
sucedido em promover essa discussão numa
turma de segundo ano de engenharia de uma
instituição privada do interior do estado de São
Paulo.
Após a conclusão dessa etapa,
pretendemos aplicar novamente as atividades,
para analisar os dados com maior nível de
detalhamento. Em breve, publicaremos os
resultados deste trabalho.
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
Quadro 1 - Relação entre questões e ações
Ciência e Cultura
97
Uma proposta de atividade sócio-técnica para o ensino de engenharia
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100
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
Ciência e Cultura
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
101
INSTRUÇÕES AOS AUTORES
Revista Multidisciplinar de Divulgação Científica do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos
Finalidade
A Revista Ciência e Cultura é um periódico
Multidisciplinar publicado semestralmente pelo Centro
Universitário da Fundação Educacional de Barretos UNIFEB. A Revista tem como objetivo divulgar os
conhecimentos produzidos em pesquisas desenvolvidas
no UNIFEB e outras Instituições, nas grandes áreas do
conhecimento. Podem ser publicados Trabalhos originais,
Revisão de literatura, Relato de caso e Desenvolvimento
de metodologias ou técnicas, em português ou inglês.
Política Editorial
O conteúdo dos arquivos será previamente
avaliado pelo Comitê Editorial. Caso seja necessário o
manuscrito será devolvido aos autores para alterações e
adequações. Após as modificações ou, no caso do
manuscrito não precisar de modificações prévias, ele
receberá um número de protocolo e será enviado para os
revisores “ad hoc”, capacitados e especializados na área
especifica do conteúdo do manuscrito. Os pareceres dos
revisores serão encaminhados aos autores para eventuais
correções, sem conhecimento das partes envolvidas nos
processos de publicação e avaliação. Somente serão aceitos
para publicação, os manuscritos com parecer final
favorável.
Os manuscritos podem conter, em forma de
agradecimento, o nome da agência financiadora e o número
do processo.
Procedimento para envio do manuscrito
Os autores deverão preparar os manuscritos
seguindo as instruções abaixo. Os manuscritos deverão
ser enviados para o E-mail: [email protected] em 02
(dois) arquivos, sendo um em formato doc ou docx,
elaborado no editor de textos “in Word for Windows” e
outro no formato PDF, contendo inclusive as figuras,
tabelas e ilustrações.
O recebimento dos arquivos originais pela
secretaria da Revista não implica na obrigatoriedade da
publicação do manuscrito. O conteúdo do manuscrito
deverá ser inédito ou parcialmente inédito e não ter sido
publicado ou enviado para publicação em outro periódico.
O autor correspondente deverá enviar por Email, juntamente com os arquivos correspondentes ao
manuscrito, a declaração de Autorização da publicação
e cessão dos direitos autorais (em: www.unifeb.edu.br)
à Revista Ciência e Cultura. Além dos arquivos
supracitados, os manuscritos que relatam experimentos
realizados com modelos em seres vivos devem vir
acompanhados do certificado de aprovação da pesquisa
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição onde o
autor desenvolveu a pesquisa ou da Instituição onde os
indivíduos da pesquisa foram recrutados, conforme
Resolução vigente do Conselho Nacional de Saúde do
Ministério da Saúde.
Preparação do Manuscrito
O texto, incluindo Resumo, Abstract, tabelas,
figuras e referências, deverá ser redigido “in Word for
Windows”, fonte “Times New Roman”, tamanho 12,
espaçamento 1,5 cm, margem lateral esquerda de 3,0 cm,
margem direita 2,5 cm, superior e inferior com 2,5 cm e
papel tamanho A4. Parágrafos deverão conter tabulação
1,25 cm à esquerda.
Todas as páginas do manuscrito deverão ser
numeradas a partir da página de identificação, com total
de até 20 páginas, incluindo as figuras, tabelas e referências.
As linhas do manuscrito devem ser numeradas
sequencialmente, sem interrupções.
O manuscrito deverá indicar uma das seguintes
áreas de conhecimento: Ciências Agrárias, Ciências
Biológicas, Ciências da Saúde, Ciências Exatas e da Terra,
102
Engenharias, Ciências Humanas, Ciências Sociais e
Aplicadas e Linguística, Letras e Artes.
Página de Identificação
A página de identificação deverá conter as
seguintes informações na ordem em que seguem com espaço
de 01 linha entre os itens:
§ título em português e inglês de forma clara e concisa;
§ área de conhecimento do trabalho;
§ nome dos autores por extenso;
§ utilizar sobrescrito numérico para identificar a
Instituição de origem dos autores;
§ nome das instituições com os respectivos endereços
e CEP.
§ Iniciar a nomeação das instituições seguindo a
mesma ordem estabelecida para a autoria do manuscrito;
§ endereço de E-mail, telefone e fax do autor
correspondente.
Resumo e Abstract
Esses itens deverão preceder o texto principal
do trabalho, digitados sem tabulação e/ou recuo, com no
máximo 250 palavras e em parágrafo único. Descreva
brevemente a introdução, o objetivo, material e métodos,
os principais resultados e as conclusões.
Palavras chave e Keywords
Palavras chave e Keywords deverão ser redigidas
logo após espaço de 01 linha do Resumo e o Abstract,
respectivamente, em número de 3 a 5, separadas por
“vírgula”, sem pontuação após a última palavra. Com
exceção de nomes científicos, apenas a primeira palavra
deve ser grafada com letra inicial maiúscula. Evite usar as
mesmas palavras usadas no título do trabalho.
Texto
O texto deverá apresentar os seguintes
elementos: Introdução, Material e Métodos, Resultados e
Discussão, Conclusão e Referências.
Esses itens devem ser redigidos sem recuo, em
negrito com inicial maiúscula (ex. Introdução). NÃO
devem ser numerados.
Introdução: deverá apresentar o “estado da arte”
de forma concisa e ao final, as hipóteses e os objetivos a
serem avaliados.
Material e métodos: apresentados com
detalhes suficientes para responder aos objetivos,
confirmar ou refutar as hipóteses, incluindo critérios para
o controle das variáveis, padronização do experimento,
amostragem e delineamento estatístico.
Resultados: apresentado em forma de texto,
tabelas e figuras, sem duplicidade de informações entre
essas formas de apresentação. O relato dos resultados
deve ser conciso, seguindo a ordem descrita no item
Material e métodos.
Discussão: A discussão consiste em inferência
de hipóteses ou sugestões com base fundamentada nos
resultados obtidos no próprio manuscrito confrontados
com os resultados encontrados na literatura. Limitações
na metodologia deverão ser indicadas, bem como,
implicações em pesquisas futuras.
Conclusão: deve ser concisa e responder aos
objetivos do estudo de forma clara.
Agradecimento: este item é opcional e deve
ser reservado para citação de instituições financiadoras e
de apoio material ou de pessoas que prestaram ajuda
técnica.
Referências: usar o sistema Vancouver autordata. Todas as referências citadas no texto devem estar
listadas por ordem alfabética no item Referências. A lista
de referência deve ser digitada sem recuo e/ou tabulação
Ciência e Cultura
INSTRUÇÕES AOS AUTORES
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB
v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029
Revista Multidisciplinar de Divulgação Científica do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos
com espaço de 01 linha entre as citações. Referências à
comunicação pessoal, trabalhos em andamento e/ou
submetido à publicação, bem como a citação de trabalhos
apresentados em eventos científicos no formato de resumo
simples ou expandido, Dissertação e Tese devem ser
evitados. A correta citação das referências no texto assim
como sua inserção no item Referência é de
responsabilidade dos autores do manuscrito. Dar
preferência às referências mais atualizadas e relevantes
ao estudo.
No caso específico de artigo de Relato de Caso,
o texto deverá apresentar os seguintes elementos:
Introdução, Relato de Caso, Discussão, Conclusão e
Referências. No item Relado de Caso deverão ser
apresentados detalhes suficientes do caso para responder
aos objetivos, podendo ser apresentadas tabelas e figuras,
sem duplicidade de informações entre essas formas de
apresentação.
Citações no texto
A citação de um autor deve ser feita em letras
maiúsculas e minúsculas pelo sobrenome seguido do
ano de publicação entre parênteses, ex.: Lie (1990). A
citação de dois autores segue o mesmo padrão, porém
com a conjunção “e” entre os autores, ex.: Lie e Hire
(1990). Mais de dois autores a citação deve ser indicada
pelo sobrenome do primeiro autor em letras minúsculas
seguido da expressão “et al.” e do ano entre parênteses,
ex.: Lie et al. (1990).
Citações no final de frase ou parágrafos:
Seguem as mesmas recomendações para as
citações no texto, com exceção da citação de dois autores,
que devem ser separadas por ponto e vírgula (;).
Ex.:
Taxas de arraçoamento incrementam a produção
em resposta à entrada de nutrientes (Boyd, 2004).
Densidade de estocagem inferior, mas com
elevada taxa de arraçoamento, ocasiona um aumento das
concentrações de nutrientes (Thakur; Lin, 2003).
O crescimento das populações de fitoplâncton
e de bactérias se deve ao incremento de nutrientes (Redding
et al., 1997).
Documentos do mesmo autor publicados no
mesmo ano, acrescentar letras minúsculas após o ano,
sem espaço:
[...] (Redding et al., 1997a)
[...] (Redding et al., 1997b)
Redding et al. (1997a,b) [...]
debate no campo da saúde coletiva. 2a ed. São Paulo:
Hucitec; 2006. 132 p.
Capítulo de livros:
Autoria do capítulo. Título do Capítulo. In: Autor do
livro. Título do Livro. Edição (1a ed., não precisa constar).
Local: Editora; Ano. p. página inicial-final.
Ex.:
Rojko JL, Hardy WD Jr. Feline leukemia virus and other
retroviruses. In: Sherding RG, editor. Te cat: diseases and
clinical management. New York: Churchill Livingstone;
1989. p. 229-332.
Trabalhos acadêmicos
Autoria. Título da obra: subtítulo (se houver) [grau].
Localidade: Instituição onde foi apresentada; ano.
Grau (mestrado - dissertação; tese - doutorado
e livre-docência, monografia - trabalho de conclusão de
curso)
Ex:
Pereira VAR. Variação sazonal nas concentrações de
aeroalérgenos em diferentes níveis de poluição ambiental
[tese]. São Paulo: Universidade de São Paulo, Faculdade
de Medicina; 2007.
Documento em formato eletrônico
Autoria. Título do trabalho. Título da publicação
[Descrição física do meio eletrônico]. Ano; Volume
(fascículo ou número): paginação inicial-final (se houver)
[data do acesso da obra on-line]. Endereço eletrônico.
Ex.:
Conti MB, Marchesi MC, Rueca F, Fabi T. Tumori gastrici
nel cane: osservazioni personali. Atti Soc Ital Sci Vet [CDROM]. 2004; 58.
Abood S. Quality improvement initiative in nursing homes:
the ANA acts in an advisory role. Am J Nurs. 2002;102(6)
[acessado em 12 ago. 2002]. Disponível em: http://
www.nursingworld.org/AJN/2002/june/Wawatch.htm.
Tabelas e Quadros
Conter na parte superior legendas
autoexplicativas e numeradas consecutivamente com
algarismos arábicos na ordem em que são citadas no texto.
As notas explicativas deverão ser colocadas abaixo da
tabela. Se a tabela e o quadro forem extraídos de outros
trabalhos, deverá ser mencionada a fonte de origem.
Figuras
Periódicos
Sobrenome Prenome(s) do(s) autor(es) (abreviados).
Título do artigo: subtítulo (se houver). Título do periódico.,
Ano de publicação, volume(número do fascículo): páginas.
Ex.:
Loe H, Theilade E, Jensen SB. Experimental gingivitis in
man. J. Periodontol., 1965, 36: 177-187.
Ilustrações como, fotografias, desenhos, gráficos
e mapas são consideradas figuras, que deverão ser limitadas
ao mínimo indispensável e numeradas consecutivamente
com algarismos arábicos, na ordem em que são citadas no
texto. Deverão ser suficientemente claras para permitirem
a sua reprodução em 8,2 cm (largura da coluna do texto)
ou 17,2 cm (largura da página) com resolução mínima de
600dpi (ou 1000 pixels). As legendas devem ser
apresentadas na parte inferior. No texto, a referência à
figura, deve estar no local considerado mais apropriado
pelos autores. Não serão publicadas figuras coloridas, a
não ser em casos de absoluta necessidade e, a critério do
Comitê Editorial com recomendação expressa dos
revisores. A impressão das páginas coloridas será custeada
pelos autores. Se houver figuras extraídas de outros
trabalhos, deverão ser mencionadas as fontes de origem.
Livros e trabalhos acadêmicos
Autoria. Título: subtítulo (se houver). Edição (1a ed., não
precisa constar). Local de publicação: Editora; Ano.
Paginação.
Ex.:
Silva Júnior AG. Modelos tecnoassistenciais em saúde: o
Abreviaturas, Siglas e Unidades de Medidas
Para unidades de medida deve seguir o Sistema
Internacional (SI) de Medidas. Nomes de medicamentos e
materiais registrados, bem como produtos comerciais,
devem aparecer em notas de rodapé; o texto deverá conter
somente nomes genéricos.
Vários trabalhos de autores diferentes, indicar
em ordem cronológica a citação dos autores.
[...] (Redding et al., 1997; Thakur; Lin, 2003;
Boyd, 2004) ou
Redding et al. (1997), Thakur e Lin (2003) e
Boyd (2004) observaram que [...]
Ciência e Cultura
103
Aspectos éticos e legais do atendimento odontológico ao paciente com necessidades especiais
Ethical and legal aspects of dentistry attendence to patients with special needs
Fabiano de Sant’Ana dos SANTOS1, João Francisco de Lima FACCHINA1, Endriw Nakamichi Godoy de
FIGUEIREDO1, Thais Uenoyama DEZEM1, Alex Tadeu MARTINS1, Fábio Luiz Ferreira SCANNAVINO1
Avaliação do desconforto pós-operatório em pacientes submetidos a cirurgia de reabertura de implantes
unitários: estudo-piloto
Evaluation of postopertative discomfort in patients submitted to second-stage surgery of single-tooth implants:
pilot study
Ana Emília Farias PONTES1, Jayne Aparecida de Mello MACHADO1, Liliane Fernanda Luz ORTEGA1, Vinícius
Maximo GOMES1, Fabiano Sant’Ana dos SANTOS1, Fernando Salimon RIBEIRO1
Cuidados no atendimento odontológico a gestantes de alto risco
Dental care to pregnant women at high risk
Suzely Adas Saliba MOIMAZ1, Mírian Navarro SERRANO2, Cléa Adas Saliba GARBIN1, Orlando SALIBA1
Enxerto ósseo em bloco sem fixação interna com parafuso: relato de caso clínico
Block bone graft without internal fixation with screw: clinical case report
Daniel de Albuquerque PINHEIRO1, Fernando Salimon RIBEIRO1, Ana Emília Farias PONTES1
A figura do City Manager à luz do direito administrativo brasileiro na gestão compartilhada
The City Manager from the perspective of Brazilian administrative law in shared management
Pedro Henrique Costa SERRADELA1, Danilo Henrique NUNES1, Lucas de Souza LEHFELD1
Identificação e avaliação do perfil de sensibilidade de Staphylococcus aureus isolados das mãos de estudantes
do curso de Farmácia do UNIFEB
Identification and evaluation of the sensitivity profile of Staphylococcus aureus isolated from the hands of
students of Pharmacy UNIFEB
Andressa Leme de FIGUEIREDO1, Mariana Rodrigues ROZATTO1, Juliana Rico PIRES2, Deny Munari
TREVISANI3
Levantamento social, técnico, produtivo e de qualidade de unidades paulistas produtoras de leite
Social survey, technician, productive and quality of units São Paulo producers milk
Maira MATTAR1, Amanda Nogueira MATIAS1, Carolina Bilia Chimello LUZ1, Marluci Silva de CARVALHO1,
Ricardo RIVAS1, Luciano Menezes FERREIRA1
Visitantes florais na cultura da crotalária (Crotalaria juncea)
Visitor flowers on crotalaria crop (Crotalaria juncea)
Darclet Teresinha MALERBO-SOUZA1
Uma proposta de atividade sócio-técnica para o ensino de engenharia
A proposal for socio-technical activity for engineering education
Jurandyr C. N. LACERDA NETO1, Vágner Ricardo A. PEREIRA1, Rodrigo BORGES POLASTRINI2, Gilberto
BATISTA POLASTRINI2
104
Ciência e Cultura