Pescas sustentáveis são economicamente vantajosas
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Pescas sustentáveis são economicamente vantajosas
Pescas sustentáveis são economicamente vantajosas Um resumo da investigação da nef Os ministros das pescas podem criar empregos e ajudar as economias dos seus países, se estabelecerem objetivos claros para a recuperação dos stocks de peixes da UE ● Um acréscimo de 10,6 milhões de euros na receita anual, resultante dos desembarques suplementares. ● Criação de 700 empregos. Um investimento rentável A sobrepesca é um gravíssimo problema económico e ambiental na Europa, mas é perfeitamente resolúvel. De acordo com o relatório No Catch Investment da nef, se a partir de hoje, suspendêssemos inteiramente a pesca dos stocks sobreexplorados, a maioria recuperaria por completo em cinco anos e o abastecimento total de peixe da UE ultrapassaria os atuais níveis no espaço de quatro anos. Bastariam portanto quatro anos para que o abastecimento de peixe fosse mais volumoso – e mais sustentável – do que é hoje. 15,000 10,000 2010 2009 2008 2007 2006 2005 0 2004 5,000 2003 ● Mais 21 mil toneladas de peixe desembarcadas anualmente (o suficiente para suprir as necessidades de consumo anual de peixe de 350.000 portugueses). 20,000 2002 De um modo geral, as medidas para acabar com a sobrepesca continuam a ser mal vistas pela indústria pesqueira. Mas segundo o relatório Jobs Lost at Sea da nef, a recuperação de 43 stocks europeus sobre-explorados, no sentido de obter uma biomassa que permita manter o rendimento máximo sustentável (Brms), traria as seguintes vantagens a Portugal: Comparação do valor atual de capturas de 54 stocks de peixes com o valor do rendimento máximo sustentável Valor (em milhões de euros) Os peixes são um recurso renovável que, se for bem gerido, pode trazer inúmeras vantagens à sociedade, em termos de alimento, receita e emprego. Mas, infelizmente, cerca de dois terços dos stocks monitorizados da UE encontram-se atualmente sobre-explorados, o que se traduz em menos capturas, menores receitas e menos empregos do que se os stocks estivessem no seu rendimento máximo sustentável (RMS - ver quadro 1). Valor do máximo sustentável de capturas Valor atual de capturas Source: www.neweconomics.org/nocatchinvestment Quadro 1: Rendimento máximo sustentável É possível fazer capturas dentro do rendimento máximo sustentável (RMS), quando a população de um stock de peixes atinge o seu máximo natural no ecossistema. O RMS corresponde à quantidade máxima de peixe que é possível retirar de um stock durante um período indeterminado de tempo, sem que a população entre em declínio. Published by nef (the new economics foundation), March 2013. Image: © Aniol Estaban. www.neweconomics.org Tel: 020 7820 6300 Email: [email protected] Registered charity number 1055254. O período de transição custaria 10,5 mil milhões de euros ao longo de 9,4 anos, em compensações aos pescadores pelo investimento, mas as receitas geradas atingiriam os 15,6 mil milhões de euros em 2023. Ou seja, obter-se-ia um lucro de 5,1 mil milhões de euros, o equivalente a 50% de retorno no investimento, ou 1,50€ por cada 1€ investido. ● Os métodos de pesca mais destrutivos recebem a maior fatia das quotas disponíveis. São desembarcadas anualmente quase 6 mil toneladas de bacalhau pescado por arrasto, enquanto que por redes de emalhar desembarca-se menos de 3 por cento desse valor - apenas 163 toneladas. Todos os gastos seriam recuperados no espaço de 4,6 anos e os anos seguintes traduzir-se-iam num benefício líquido face ao investimento. Em 2052, o retorno desse investimento atingiria os 1400%, ou seja, 14€ por cada 1€ investido à partida. ● Estamos a favorecer os métodos que destroem valor social, em detrimento daqueles que o criam. Os grandes arrastões recebem subsídios diretos de 252€ por tonelada de bacalhau desembarcado, enquanto as embarcações de redes de emalhar apenas 44€. A pesca seletiva compensa Dependentes das importações de peixe Apesar de se registarem avanços tecnológicos no equipamento pesqueiro, os pescadores continuam a não poder fazer uma seleção perfeita das espécies que capturam, o que leva a que muitas espécies não-alvo, bem como capturas acessórias, sejam lançadas ao mar como “danos colaterais”. Décadas de sobrepesca e de má gestão tiveram como resultado pescas menos produtivas e consequente diminuição de empregos e de meios de sustento. Atualmente, consumimos mais peixe na UE do que aquele que pescamos, o que significa que dependemos das importações para colmatar esta diferença. Por outro lado, o aumento da aquacultura na UE tem-se revelado muito insuficiente para compensar este défice. O relatório da nef Money Overboard debruça-se sobre os custos das rejeições de peixe, ou devolução de peixes ao mar, baseando-se no bacalhau nas águas do Reino Unido como estudo de caso. Concluiu-se que se a indústria pesqueira do Reino Unido, durante o período de 1963 a 2000, tivesse desembarcado o bacalhau que lançou ao mar, teria tido mais 1,15 mil milhões de euros de receitas e mantido mais 711 postos de trabalho. Mas, acima de tudo, o relatório mostra a pertinência económica de prevenir que certos peixes sejam capturados por engano. Se o Reino Unido tivesse utilizado equipamento de pesca totalmente seletivo - que pouparia o bacalhau miúdo dando-lhe tempo para crescer -, esse mesmo peixe rejeitado teria rendido ao país 3 mil milhões de euros. Há métodos de pesca que geram valor, outros destroem-no. Quais devemos incentivar? É preciso que a gestão dos stocks de peixe seja feita tendo em vista acima de tudo o interesse público. E isso exige que esses mesmos stocks se mantenham em níveis sustentáveis e que seja dada prioridade aos pescadores que geram maiores benefícios sociais, económicos e ambientais. Como tal, as quotas de peixe e os dinheiros públicos deviam ser distribuídos segundo um critério de preferência por quem criasse maior valor para a sociedade. O relatório da nef Value Slipping Through the Net compara dois métodos de pesca — redes de emalhar e de arrasto — em função da sua criação de valor para a sociedade. Para tal, tem em conta receitas líquidas, postos de trabalho, subsídios, devoluções e emissão de gases com efeitos de estufa. E concluiu que: ● A pesca de arrasto gera valor negativo para sociedade por cada tonelada de bacalhau desembarcado, que vai desde -134€ para as pequenas traineiras até -2.300€ para os grandes arrastões. Comparativamente, as redes de emalhar geram um valor positivo para a sociedade de +1.000€ por tonelada de peixe desembarcado. O relatório da nef Fish Dependence apresenta este problema a uma nova luz. Estimou-se que, se durante um ano civil, a UE só consumisse peixe das suas águas, a 8 de Julho deixaria de ter peixe. Ou seja, de dia 9 de Julho em diante estaria completamente dependente das importações (com base nos atuais níveis de consumo). Portugal ficaria dependente das importações a 29 de Abril, o que significa que 67% do seu consumo anual seria de peixe de fora da UE. É hora de mudar Em tempos de incerteza na indústria pesqueira — que radicam em vários fatores, desde o impacto indefinido das alterações climáticas nos stocks de peixe à subida do preço dos combustíveis ou à diminuição dos fundos públicos à disposição —, a melhor garantia de um futuro estável e sustentável para o setor é a recuperação dos stocks de peixes. Apoio à recuperação dos stocks de peixes (Brms) Atraso na recuperação dos stocks de peixes Mais desembarques Menos desembarques Maiores receitas Menores receitas Mais e/ou melhores empregos Menos e/ou piores empregos Menos subsídios Os mesmos ou mais subsídios Boa utilização dos recursos públicos Desperdício dos recursos públicos Descarregue os relatórios e obtenha mais informações sobre a nef e sobre uma política económica que vise pescas justas e sustentáveis em: www.neweconomics.org Design by: the Argument by Design – www.tabd.co.uk Published by nef (the new economics foundation), March 2013. Image: © Aniol Estaban. www.neweconomics.org Tel: 020 7820 6300 Email: [email protected] Registered charity number 1055254.
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