O que a indústria de biocombustíveis pode aprender da quebra da

Transcrição

O que a indústria de biocombustíveis pode aprender da quebra da
Tradução do artigo publicado no site: biofuelsdigest.com (Jim Lane) em Janeiro/14
O que a indústria de biocombustíveis pode aprender da quebra da TMO?
Porque alguns micro organismos biocombustíveis ficam de lado?
No caso da TMO Renewables, segundo o chefe da Hamrick Engineering, Ed
Hamrick, não é por falta de dinheiro, e sim, por falta de razões para existir.
Na semana passada reportamos que, apesar do número de associações/joint-ventures de alto nível e
acordos de licenciamento, TMO Renewables foi obrigada a entrar em insolvência. E, no caso da TMO,
nós mencionamos os desafios de estar em um estágio de empresa em desenvolvimento com um
modelo de licenciamento quando a base de clientes consiste de empresas em estágio de
desenvolvimento, que podem, por sí só, passar por desafios e atrasos significativos de
desenvolvimento.
Mas Ed Hamrick, da Hamrick Engineering, que mergulhou mais a fundo na TMO, trabalha com uma
tese diferente. Ele acredita que o micróbio ficou obsoleto em função dos novos micro-organismos e
estratégias de celulose que vieram para o mercado, que ofereciam muitos dos mesmos benefícios a um
custo menor com menos desafios de processamento.
Ele escreve:
Pets.com e TMO Renewables (exemplos falhas épicas de pontocom e biocombustíveis)
“Um dos maiores tropeços da bolha das empresas pontocom foi pets.com – a empresa vendia para pet
on-line com entrega através de empresas como UPS. É importante examinar o porquê do recente
insucesso da TMO Renewables - foi inevitável – assim como foi da pets.com, por muitas razões
semelhantes.”
“Pets.com perdeu US$ 300 milhões do capital de investimento, enquanto que a TMO Renewables
perdeu apenas US$ 75 milhões do capital de investimento (46 milhões de Libras). Nenhuma empresa
perdeu qualquer recurso proveniente de empréstimos do governo nem garantias de empréstimo – mas
ambos tinham investidores pouco sofisticados que não entendiam os fundamentos do negócio.
Pets.com abriu o capital rapidamente, sem mesmo ter tido qualquer lucro, e seus investidores eram
pessoas que foram atraídos pela onda das pontocom e que não entendiam a futilidade de vender ração
para animais domésticos na internet. Os investidores da TMO, eram em grande parte não técnicos do
Reino Unido e fundos de pensão que foram pegos pela onda de “energia verde” e que tinham muito
pouco entendimento sobre os problemas técnicos e de negócios que a TMO estava enfrentando.”
“Pets.com vendia suprimentos e acessórios para animais domésticos – concorrendo com empresas que
vendiam produtos idênticos em todas as mercearias na América. Eles conquistavam clientes vendendo
seus produtos com uma média de 27% de desconto sobre o seu custo, assim ficava mais barato
comprar da pets.com do que na mercearia local. A densidade da ração é baixa, especialmente quando
comparado ao custo, e assim os custos de transporte reduziram ainda mais a sua margem de lucro.”
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O modelo de negócio
“Em retrospectiva, foi um modelo de negócio fraco, visto que as empresas com as quais estavam
concorrendo tinham uma margem de lucro de 3%, assim pets.com não conseguiria se tornar lucrativa
simplesmente tendo uma escala maior (como fez a amazon.com, eventualmente). Os custos de
transporte de ração animal nunca iriam reduzir suficientemente, e amazon.com conseguiria vender
acessórios e brinquedos para animais domésticos de uma forma mais eficiente e que tinham maior
margem de lucro.”
“TMO também tinha um concorrente – simples – fermento ordinário que poderia ser comprado pelo
preço de ração animal em sacos de 22 libras (10kg), utilizando uma tecnologia que tem 2000 anos
para fazer etanol. Fermento era essencialmente sem custo, e TMO não teve sucesso, pois não foram
capazes de competir com algo que não tinha custo.”
O acordo da Fiberight em retrospectiva
“Um dos mais notáveis licenciadores do organismo TM242 da TMO foi Fiberight (fiberight.com). Em
2010, Fiberight e TMO anunciaram um acordo por 20 anos de US$ 500 milhões para construir 15
plantas para produção de etanol celulósico em escala comercial nos EUA nos próximos 5 anos.
Passaram-se 4 anos agora, e se for pesquisar no website da Fiberight, encontrará uma menção apenas
sobre TMO, em uma página de 2010. Porque os planos da TMO com a Fiberight não deram em nada?
Eu diria que é porque fermento é uma solução melhor do que o TM242 e que a Fiberight fez a escolha
certa em utilizar fermento com hidrólise enzimática.”
Por que a TMO alardeou um acordo de US$ 500 milhões por 20 anos em 2010? E por que a Diverso,
um dos maiores investidores da TMO, deu entrevistas em 2011, mencionando que a TMO poderia ir
para a bolsa no Reino Unido em 2011? E por que a TMO anunciou um acordo de intenções vinculado
(oxymoron?) em abril de 2013, que eles iriam construir, serem donos e operar uma planta para 10
milhões de litros de etanol no Brasil? Será que qualquer um destes anúncios coincide com a busca
desesperada por recursos financeiros? (Não, poderia ser isto)”
A tecnologia errada
“Em retrospectiva, o insucesso da TMO foi baseado em 3 ítens técnicos, que foram todos escondidos
dos investidores da TMO, ou simplesmente eram muito técnicos para os investidores da TMO
entenderem:
1. O organismo TM242 podia produzir somente etanol a 5% (w/w) de concentração. Custos de
destilação sobem exponencialmente com uma concentração menor de etanol, e assim os custos
de destilação com o TM242 eram significativamente maiores do que com fermento.
2. O organismo TM242 precisa de um pH de aproximadamente 7, enquanto que enzimas utilizadas
na hidrólise enzimática necessita de um pH de aproximadamente 5. Isto significa que não era
possível fazer simultaneamente a sacarificação e fermentação (SSF) com o TM242. Existem
outras inúmeras razões porque o SSF não pode ser utilizado, principalmente que a alta
temperatura do TM242 desnatura enzimas celulósicas. SSF é necessário para se produzir etanol
de uma forma eficiente de matéria prima de celulose.
3. O organismo TM242 não podia ser distribuído aos clientes em sacos de 22 libras (10kg)
embalados a vácuo, como pode ser o fermento. Isto significava que os clientes tinham que ter
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uma estrutura cara na fábrica para propagação do fermento, ou então, receber entregas
regularmente do TM242 da TMO.”
A falha comercial
“ Também houveram 4 significativas razões de negócio para o insucesso da TMO:
1. A unidade piloto para demonstração (PDU) construída em 2008 foi muito cara e sem
possibilidade de aumento de capacidade. Custou US$ 13 milhões para construir, tinha 5 km de
tubulação, uma bomba de US$ 250 mil que não era resistente aos abrasivos da biomassa e não
permitia fazer SSF (sacarificação e fermentação simultaneamente). Ela foi dimensionada para
processar somente 750 kg/hora na base de 50% sólidos secos, o que corresponde a
aproximadamente 300,000 galões de etanol por ano. Este é um custo de capital de US$ 43 por
galão por ano, comparado a US$ 7 por galão por ano para outras plantas que produzem etanol
celulósico, e US$ 1 por galão por ano para grandes plantas de etanol de milho.
2. A densidade da biomassa é bem baixa, e o custo por kg é também baixo (muitas vezes
negativo). O custo para transportar biomassa celulósica é o custo preponderante, assim as
soluções mais viáveis (eficientes) são aquelas próximas à matéria prima (biomassa), fazendo
mais sentido econômico (ex. Energia de água doce). TMO não tinha uma solução viável para
distribuição da produção de açucares provenientes da biomassa celulósica.
3. O organismo TM242 é um organismo geneticamente modificado. Receber autorizações para
utilização de OGM’s pode ser um processo longo e tortuoso, (e muitas vezes, sem sucesso).
Pode levar de 2 a 3 anos para receber a autorização governamental de países como o Brasil e a
China para uso destes organismos em seus países, e como a TMO apenas obterá receita
quando seus licenciados estiverem produzindo etanol, isto acrescenta incerteza sobre as
perspectivas de lucratividade e fica mais difícil de abrir o capital na bolsa.
4. Terranol produz um organismo geneticamente modificado (V-1) do fermento padrão
S.cerevisiae. Ele compartilha muitas vantagens do fermento não-modificado S.cerevisiae e
também fermenta açucares C5. A maioria dos problemas técnicos do TM242 são solucionados
pelo organismo V-1, e a Novozymes está ajudando o mercado de V-1, fazendo o organismo
TM242 bem menos competitivo.”
“Faz muito mais sentido para uma empresa utilizar apenas hidrólise enzimática com fermento, e
mudar para organismos não provados como V-1 ou TM242, quando eles estiverem aprovados
para uso e melhor entendidos.”
Questões fundamentais e premissas de negócio erradas
“Empresas ignoram questões fundamentais que oferecem risco. Pets.com ignoraram o fato que é mais
barato comprar ração para animais domésticos no supermercado, e TMO ignorou o fato de que o
fermento S.cerevisiae funciona muito bem. Nenhuma empresa teve sucesso porque faltou dinheiro –
não tiveram sucesso, pois assumiram premissas de negócio erradas – e, mais dinheiro não teria
solucionado os problemas de ambas as empresas.”
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“Então, como podemos utilizar as lições aprendidas do insucesso da TMO em outros negócios de
biocombustíveis hoje? Sugiro que, para uma empresa ter maior probabilidade de sucesso, que tenha
recursos próprios ou tenha investidores sofisticados com maior conhecimento.”
“Beta Renewables recebe recursos financeiros de uma empresa familiar com muitos anos de
experiência na produção de produtos químicos especiais. POET/DSM tem muitos anos de experiência
produzindo etanol e tem recursos próprios. DUPONT tem produzido produtos químicos por mais de 100
anos e trabalha com recursos próprios. Ineos Bio tem feito grandes fábricas para químicos e trabalha
com recursos próprios. Todas tem perspectivas variadas para alcançar o sucesso no negócio de
biocombustíveis.”
“Por outro lado, uma característica de empresas com probabilidade de não ter sucesso, diz respeito ao
fato que tentar abrir o capital em bolsa de valores, bem antes de terem algum resultado ou foco em
receber investimentos de investidores não técnicos como fundos de pensão ou investidores
estrangeiros.”
“Se você está pensando em investir em uma empresa de biocombustíveis, lembre-se das lições do
insucesso da Pets.com (e TMO, e Range Fuels,....). No Vale do Silício, empresas que falharam, não são
empresas sem sucesso, são apenas valiosas experiências de aprendizado, e existem muitas lições a
serem aprendidas dos fracassos de empresas de biocombustíveis como TMO.”
Resultado - Resumo
São necessárias apenas algumas tecnologias de processo para revolucionar o panorama de energia.
Qual ou quais irão ter sucesso no desafio de fazer com que a bactéria cumpra o que é esperado,
fazendo com o que o desejo do cliente seja satisfeito, com um projeto financeiramente possível, com
bom controle financeiro, com claras políticas, e atrair um tipo de talento classe mundial, que possa
levar a tecnologia para uma escala maior e além?
As respostas não são claras – mas uma coisa é certa: a música está tocando, tem menos cadeiras do
que empresas, e a disputa pelos lugares está bem encaminhada.
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