Revista - Ano I, v.1, n.2 - FJAV – Faculdade José Augusto Vieira
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Revista - Ano I, v.1, n.2 - FJAV – Faculdade José Augusto Vieira
Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 ANO I – Nº 02 – 2008 – ISSN 1983-1285 www.fijav.com.br/revistaeletronica 2 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Expediente 2008 ÍNDICE Revista Eletrônica da Faculdade José Augusto Vieira edição 02, ano I. Lagarto, setembro de 2008. EDITOR-CHEFE Prof. Msc. Claudefranklin Monteiro Santos CONSELHO EDITORIAL E REDAÇÃO Prof. Msc. Alexandre Matos (Administração de Empresas) Prof. Rogério Teles Santos (Contabilidade) Prof. Msc. Ademário dos Santos Júnior (Geografia) Prof. Msc. Samuel Barros de Medeiros Albuquerque (História) Prof. Paulo Roberto Boa Sorte Silva (Letras Português-Inglês) Prof. Edílson de Araújo Santos (Matemática) Profª Msc. Silmere Alves Santos de Souza (Serviço Social) APRESENTAÇÃO - Prof. Msc Claudefranklin Monteiro Santos........ p.05 A Mulher na Família Empresária- Rosana Rocha Siqueira .............. p. 06 Planejamento Logístico para o Desenvolvimento Organizacional: o Caso da Integração da Rede Calçadista- Rilley Guimarães de Oliveira e Prof. Msc. Alexandre de Souza Matos ................................................p. 16 Despindo a Preceptora Inglesa – Prof. Msc. Samuel Barros de Medeiros Albuquerque ........................................................................................... p. 43 COLABORADORES O Uso da Iconografia no Ensino de História – Prof. Msc. Claudefranklin Monteiro Santos ..................................................................................... p. 47 Acadêmicos Rosana Rocha Siqueira (Administração de Empresas) Rilley Guimarães de Oliveira (Administração de Empresas) Literatura e Cultura no Ensino na Língua Inglesa – Profª Ana Lúcia Simões Borges Fonseca .......................................................................... p.66 Professores Prof. Msc. Alexandre Matos (Administração de Empresas) Prof. Msc. Samuel Barros de Medeiros Albuquerque (História) Prof. Msc. Claudefranklin Monteiro Santos (História) Profª. Ana Lúcia Simões Borges Fonseca (Letras Português-Inglês) Prof. Edilson de Araújo Santos (Matemática) Prof. Bel. Alysson Cristian Rocha Souza (Serviço Social) Prof. Cezar Alexandre Neri Santos (Letras Português-Inglês) Profª. Msc. Jussara Maria Viana Silveira (ISEJAV) O Brasil das Incoerências – Prof. Edilson de Araújo Santos ............... p.87 Avaliação dos Capsaicinóides em Pimentas Malagueta - João Antonio Belmino dos Santos, Ds.C; Gabriel Francisco da Silva, Ds.C; Universidade Federal de Sergipe; Lilia Calheiros de Oliveira, Eng. de Alimentos......pg 91 Cidade e Modos de Vida: Transformações Socioculturais em Aracaju Alysson Cristian Rocha Souza ........................................................pg. 101 Outras Instituições Professor João Cardoso Nascimento Júnior e o Movimento Estudantil da Universidade Federal de Sergipe (1968-1972) – Profª. Msc. Jussara Maria Viana Silveira ...........................................................................pg. 128 João Antonio Belmino dos Santos, Ds.C Gabriel Francisco da Silva, Ds.C – Universidade Federal de Sergipe Lilia Calheiros de Oliveira, Eng. de Alimentos CAPA - Efeito X Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da revista. www.fijav.com.br/revistaeletronica Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 3 O Uso de Recursos Audiovisuais no Ensino-Aprendizagem da Língua Latina - Cezar Alexandre Neri Santos ............................................pg. 148 www.fijav.com.br/revistaeletronica 4 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 APRESENTAÇÃO 2008 A MULHER NA FAMÍLIA EMPRESÁRIA Rosana Rocha Siqueira [email protected] Passado o momento de descrença, a Revista Eletrônica da FJAV chega ao seu número 02 com algumas novidades, entre elas a participação Acadêmica do 7º Período do Curso de Administração de Empresas (FJAV) externa na contribuição de artigos e trabalhos. RESUMO A visita técnica do MEC, através dos Professores Doutores Oséias de Oliveira (Centro-Oeste do Paraná) e Antônio Marcelo Jackson Ferreira da O novo panorama social e econômico, influencia de forma significativa na formação familiar e na organização das empresas, onde a mulher empreendedora Silva (UERJ) no final de junho, abriu novos horizontes e nos permitiu assume novas atribuições na família empresária, sendo de fácil percepção a estreita enxergar a importância dessa iniciativa acadêmica, a qual tem despertado na relação do cotidiano feminino com a busca por soluções, acrescida pelo impulso da comunidade docente o desejo de produzir cientificamente. profissionalização. A prática da governança corporativa surge então como uma Os nossos ilustres visitantes permitiram-nos ampliar parcerias com outras IES e atrair um público diferenciado do nosso, capaz de dinamizar o universo acadêmico no que tange à amplitude das capacidades humanas em oportunidade igualitária de solucionar conflitos entre três esferas básicas: família, empresa e sociedade, analisando-as de forma distinta sem comprometer sua integração. PALAVRAS-CHAVES: empresa, família, mulher. suas mais variadas áreas do saber. Abraçando o compromisso com uma educação plural e ABSTRACY The new social and economic , influences of significant form in the familiar emancipadora, a Revista Eletrônica da FJAV vai ganhando, aos poucos, formation and the organization of the companies, where the enterprising woman credibilidade junto ao público acadêmico. E-mails vindos de diversas partes assumes new attributions in the family entrepreneur , being of easy perception the do país demonstram a nossa vontade de se inserir com afinco no campo da narrow daily relation of the feminine one with the search for solutions, increased pesquisa, da produção e da formação. for the impulse. For the impulse of the professionalization the practical one of O tempo tem sido o aliado maior dessa idéia e construirá sedimentos onde possa ser repousada a postura transformadora e desafiante da marca FJAV, reconhecidamente de qualidade. Prof. Msc. Claudefranklin Monteiro Santos – Editor-Chefe www.fijav.com.br/revistaeletronica 5 the corporative governance appears then as a chance to solve conflicts between three basic spheres: family, company and society, analyzing them of distinct form without compromising its integration . WORDS- KEY : company, family , woman ,work . www.fijav.com.br/revistaeletronica 6 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Segundo Castells (2005, p.82), se há uma nova economia é porque há um impulso substancial de crescimento da produtividade, desenhando o O Objetivo deste artigo é a análise do papel feminino na família empresária, onde mulheres motivadas pelo empreendedorismo destacam-se surgimento de empresas onde as estruturas físicas já não representam a totalidade dos negócios modernos. nos negócios, embora estilos de liderança ainda patriarcais dominem as O trabalho agora mais flexível e adaptável ganha novas colocações estratégicas nas empresas. Enfatiza ainda a necessidade de características onde o talento, a pró-atividade empreendedora e o reformularmos conhecimento, agregam valor ao novo perfil dos (as) empresários conceitos organizacionais não igualitários em oportunidades, méritos e crescimento profissional. (as). O ato de trabalhar ganhou mais importância na vida das pessoas, principalmente das mulheres, como imperativo de competição a fim 2. METODOLOGIA de alcançar seus objetivos, antes ligados somente a realização familiar. A metodologia adotada foi a revisão analítica do material Pela ótica de Berardi (2005, p.38), o trabalho se tornou uniforme, bibliográfico em livros, revistas, e Internet. Pretendendo-se salientar através onde vários profissionais independente do sexo e do ramo de atuação da reflexão, os referenciais teóricos sobre a temática abordada. realizam trabalhos ergonomicamente da mesma forma, diante de computadores ou máquinas. 3. RESULTADOS DA PESQUISA E DISCUSSÃO Este panorama leva a primordial reflexão sobre as transformações que as empresas familiares passam a fim de atingir o grau de maturidade e A sociedade de forma geral está inserida em um âmbito global de competitividade que o mercado global exige, sem esquecermos que as mudanças velozes antes nunca vistas, onde fatores como o acesso amplo às empresas familiares possuem peculiaridades que as diferem dos moldes informações e a grande participação das mulheres no mercado de trabalho comuns de uma organização empresária, sendo predominantes em todo o moldam novas relações na família empresária. mundo, inclusive no Brasil. www.fijav.com.br/revistaeletronica 7 www.fijav.com.br/revistaeletronica 8 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Empresa familiar é uma organização onde os membros de uma níveis assalariados, onde apenas 25% têm seu próprio negócio formalizado. família detém a maior parte do capital e possuem componentes A consultora avalia que realmente as mulheres avançam nos cargos, mas as (consangüíneos ou não) em cargos estratégicos. Estas empresas podem chefias de cúpula continuam difíceis de alcançar, devido muitas vezes ao surgir de uma idéia motivada por oportunidades ou da busca pela preconceito e ao despreparo da gestão da liderança e do poder. sobrevivência, onde o(a) empreendedor (a) fundador (a) dedica muito Podemos citar avanços e melhorias no que se refere à queda de tempo de sua vida , compartilhando o alcance dos objetivos profissionais paradigmas, onde empresas apresentam mudanças de incentivo à com o crescimento familiar . saúde da mulher e cuidados com a família, por observarem que tais Sendo de fácil percepção estabelecermos uma estreita relação entre o cotidiano feminino com suas atribuições, e a motivação em busca de soluções empreendedoras , seja para ajudar nas despesas do lar, para o aumento da renda pessoal, destaque profissional ou mesmo a fim de superar desafios. De acordo com pesquisa realizada pelo Global Entrepreneurship, em parceria com o SEBRAE, o Brasil possui mais de 6 milhões de mulheres empreendedoras e mais de 11 milhões de A observação detalhista do cotidiano, a prática de atividades variadas manuais, cognitivas e estratégicas, a habilidade na gestão do tempo, no aprendizado e repasse de novos conhecimentos facilitam a participação das mulheres nas empresas familiares, apoiando muitas lideranças patriarcais que a sujeitam a posições “colaborativas”. Segundo deste tipo podem abrir espaço para o aumento da participação das mulheres em cargos de diretoria. O controle da natalidade, o aumento da escolaridade feminina e seu ingresso no mercado de trabalho são grandes influenciadores das novas organizações familiares, onde mulheres à frente dos negócios sugerem estilos de liderança mais flexíveis e dinâmicos, sem a “obrigação” de parecerem homens no poder. domicílios chefiados por mulheres. vezes medidas agregam valor à qualidade de vida no trabalho, iniciativas Consultores especialistas em empresas familiares como o renomado Renato Bernhoeft, analisam a nova geração de herdeiras que buscam a profissionalização. Segundo ele, as mulheres representam 50% do número de participantes, do programa de formação ministrado pela Bernhoeft Consultoria. Em 2001, a proporção de mulheres que concluíram pelo menos o ensino médio atingiu 23,2%%%%, situando-se 3,1 pontos acima da população masculina. Lembrando que há diferença entre herdeiros e Margarite Berger do Banco Interamericano de Desenvolvimento, no Brasil a presença da mulher é mais significativa nos www.fijav.com.br/revistaeletronica 9 sucessores, onde o herdeiro somente assume o poder com o falecimento do fundador, e o sucessor poderá tomar posse com sua indicação para o cargo. www.fijav.com.br/revistaeletronica 10 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 De acordo com Roberta Machado, uma das herdeiras da Editora Filhos homens e filhas mulheres costumam relacionar-se de Record, em pesquisa realizada para sua tese de mestrado, foi constatado que forma diferente com o peso da herança e da sucessão. (...) Os 75% das empresas familiares em todo o mundo estão sob o comando da filhos muitas vezes são educados para ter um emprego na primeira geração, onde 20% estão sob a orientação dos filhos dos empresa da família, o que gera um conforto perigoso e inibe iniciativas próprias. Quanto às mulheres, há com freqüência uma expectativa bem diferente. Sua educação costuma ser afastada do raio de influência dos negócios ou da área corporativa de difícil mensuração de resultados, onde se fundadores e apenas 5% são dirigidas pelas gerações seguintes. Segundo Gersick (2006, p.69), a relação de preparação de herdeiras e de mulheres a frente de negócios familiares estão intimamente ligadas ao “empreendimento-casamento”, um sistema de relações cada vez mais acredita, quaisquer decisões terão menor impacto sobre a complexas, onde o casal elabora acordos e hábitos implícitos e explícitos a companhia. (PASSOS, 2006. p.46) respeito de dinheiro, trabalho, afeição, filhos e comportamento empresarial, onde as violações desses acordos constituem a fonte da maioria dos conflitos. Novos arranjos familiares mudaram as estruturas organizacionais dos As empresas e as famílias são mutáveis e por vezes podem não seguir negócios, onde o triangulo esposo, esposa e filhos já não é requisito para as mesmas tendências do ponto de vista organizacional, ocorrendo rupturas que exista família, redesenhando também o papel de pai-chefe. sob o prisma de interesses diferentes, onde a “velha receita” do sucesso do Mulheres empresárias cuidam muitas vezes de seus filhos sem auxílio (a) fundador (a) pode não representar vantagem competitiva atual. de um parceiro; a convivência entre avós e netos tornou-se dinâmica e A possibilidade da mulher assumir papeis estratégicos na empresa participativa devido ao aumento da longevidade; filhos de casamentos familiar deve então partir do princípio básico da meritocracia e das anteriores trabalham com meio-irmãos e outros membros familiares. Cada competências profissionais, analisado em nível de igualdade, independente geração da família cria inúmeras combinações na empresa familiar, onde as do sexo. Velhos paradigmas como a primogenitura masculina e sua disfunções preparação para a liderança e sucessão, a pré-disposição natural e social da podem causas instabilidades, separações, desajustes organizacionais e até a venda ou falência da empresa. mulher com a maternidade, a formação e educação familiar, criam falsos Muitas empresas familiares ainda não avançaram em relação ao planejamento em longo prazo e a preparação não somente de herdeiros, mas entraves para que as mulheres possam realmente preparar-se para a sucessão nas empresas familiares. também de herdeiras potenciais. www.fijav.com.br/revistaeletronica 11 www.fijav.com.br/revistaeletronica 12 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 A prática da governança corporativa surge como um caminho participação das mulheres nos negócios já estabelecidos pela família igualitário e uma possível solução para tais conflitos, onde as três esferas empresária, onde a frase “negócio para homem” pode vir a perpetuar o básicas: família, empresa e sociedade são observadas de forma diferenciada, preconceito nas organizações familiares. compreendidas em suas peculiaridades, mas não deixando de serem integradas, agregando valor à cultura organizacional proposta pelo (a) fundador (a). 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS As mudanças no cenário social e econômico influenciaram Portanto, os órgãos da governança formam e reforçam a profundamente a formação familiar e a organização das empresas neste integração entre os sistemas por meio de canais competentes. novo século, trazendo novos arranjos entre seus membros e novos diálogos Uma empresa familiar adequadamente estruturada com os entre as gerações. órgãos de governança permite atender às demandas das A clareza das aptidões e dos papéis desempenhados pelos membros famílias, dos sócios, dos executivos e formar o alicerce para da família são de extrema importância para que se possa ser definida suas sua perpetuação. (BORNHOLDT, 2005. p.28) atribuições na empresa familiar, lembrando que o profissionalismo das relações é primordial para que cada membro realmente desempenhe funções Todas as vertentes influem na delegação e sucessão do poder, pois famílias menores possuem o número reduzido de potenciais sucessores. Quando se refere a presença das mulheres em cargos da alta cúpula, tornase ainda mais delicada as relações nas empresas familiares. A maioria dos cargos é destinada aos homens herdeiros, sócios ou outros profissionais contratados, sendo poucos os exemplos de preparação de herdeiras para a sucessão do poder nas empresas familiares. Devemos observar ainda que muitos empresários apóiam iniciativas femininas de filhas e esposas em negócios separados do ramo principal, como lojas, restaurantes, mas muitas vezes criam barreiras diante da www.fijav.com.br/revistaeletronica 13 de acordo com suas competências, passando por avaliações de desempenho como os demais membros da empresa. A delegação de poder e responsabilidade, unida à avaliação do desempenho, caminham rumo ao alcance da governança corporativa, baseada na ética e na igualdade de oportunidades, onde homens e mulheres possam tanto progredir profissionalmente, quanto perpetuarem os valores e propósitos iniciados pelo (a) fundador (a). A Cultura organizacional compreende fatores muito importantes neste âmbito, onde os hábitos e crenças da família tendem a influenciar nas bases fundamentais da empresa, inclusive na forma de liderança. www.fijav.com.br/revistaeletronica 14 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Embora a grande maioria das empresas ainda permaneça em modelos patriarcais (pai-chefe) de liderança e sucessão de poder, muitos avanços em prol da flexibilização e valorização da mulher empresária são marcantes, abrindo espaço para novas idéias e formas de gestão independente do sexo, comprometidas com as novas estratégias e vantagens competitivas. A mulher sendo respeitada em suas opiniões e idéia no âmbito familiar terá grandes chances de colocá-las em prática na empresa, onde as relações de delegação do poder geram códigos de conduta e participação mútua. Não bastando apenas incentivar e capitalizar outros negócios para que as mulheres da família possam se dedicar, mas permitir sua profissionalização, acesso aos cargos estratégicos e preparação de herdeiros, a fim de perpetuar de forma competitiva e plena, os ideais propostos pelo (a) fundador (a) da empresa familiar. Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 PLANEJAMENTO LOGÍSTICO PARA O DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL: O caso da integração da rede calçadista. Rilley Guimarães de Oliveira Graduando do 5º período do curso de Administração de Empresas da Faculdade José Augusto Vieira – FJAV e sócio-gerente da Elegante Calçados Ltda. . E-mail: [email protected] M S.c. Alexandre de Souza Matos Mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento pela UFSC e professor da Faculdade José Augusto Vieira – FJAV. E-mail: [email protected] do 5º período do curso de Administração de Empresas da Faculdade José Augusto Vieira – FJAV e secretária da Lagarto Factoring Ltda. E-mail: [email protected] RESUMO Este artigo caracteriza-se por ser um estudo teórico que visa contribuir com a literatura sobre planejamento logístico e o desenvolvimento organizacional dentro das empresas. O estudo tem como público alvo, tanto executivos quanto acadêmicos que estejam engajados na árdua tarefa da busca de vantagem competitiva, para que as empresas possam competir com sucesso numa economia cada vez mais globalizada. Pretende-se que, ao final do artigo, o leitor tenha aprimorado sua capacidade de avaliar e sugerir recomendações úteis que venham a colaborar com as atividades empresariais na definição do desenvolvimento organizacional, dentro do contexto do planejamento logístico. Palavras-chave: Controle, distribuição e competitividade. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BORNHOLDT, Werner. Governança na Empresa Familiar. Porto Alegre: Brookman, 2005.p.28 BERARDI, Franco. A Fábrica da Infelicidade: Trabalho Cognitivo e a Crise da New Economy. Rio de Janeiro: DP & A Editora, 2005. p.38. CASTELL, Manuel. A Galáxia da Internet: Reflexões sobre a Internet, os Negócios e a Sociedade. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2005. P.82 ABSTRACT This article is characterized for being a theoretical study that it aims at to inside contribute with literature on logistic planning and the organizacion development of the companies. The study it has as public target, in such a way executive how much academics who are engaged in the arduous task of the search of competitive advantage, so that the companies can more compete successfully in a economy each globalizada time. One intends that, to the end of the article, the reader has improved its capacity to evaluate and to suggest recommendations useful that come to collaborate with the enterprise activities in the definition of the organizacion development, inside of the context of the logistic planning. Word-key: Control, distribution and competitiveness. www.fijav.com.br/revistaeletronica 15 www.fijav.com.br/revistaeletronica 16 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 1. INTRODUÇÃO 2008 Brasil, observa-se que o mercado de transporte está em pleno processo de A logística deve ser entendida como o principal instrumento administrativo para a obtenção de vantagem competitiva das organizações locais, deste século. A necessidade de uma integração logística, aliada às constantes mudanças das necessidades dos clientes, nos leva a ver na logística não apenas as atividades de: almoxarifado, estoque e transporte de mercadorias, mas sim planejamento e coordenação do fluxo de informações e materiais que permitem maior eficiência no suprimento da fábrica, no planejamento da produção e na distribuição física dos produtos acabados. A globalização exige que a vantagem competitiva seja mais determinante do que a vantagem comparativa para os paises que negociam no âmbito internacional. Portanto, desenvolver estratégias que norteiam a empresa é um fator de extrema importância para a sua manutenção no mercado. O processo de desenvolvimento de estratégias exige a participação de todo corpo gerencial da empresa, além disso, é importante contar com o apoio de bons estrategistas que, de certa forma, fornecerão uma base sólida no desenvolvimento das atividades. Atualmente, uma atividade que está em evidência no âmbito empresarial é a do transporte que, consiste na tarefa de se levar as mercadorias de um lugar para o outro. Esta atividade é o mecanismo que aproxima indústrias, comerciantes e clientes, envolvendo elementos importantes como preço do serviço, pontualidade da entrega, condições físicas dos bens entregues, entre outros. Tudo isso é levado em consideração pelos clientes no momento da definição de qual a empresa se tornará parceira para o desenvolvimento dos serviços de transporte. No www.fijav.com.br/revistaeletronica Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 17 reestruturação em virtude da globalização e da abertura do mercado. Como conseqüência deste processo de globalização e de abertura do mercado, tem-se a chegada de empresas internacionais que iniciaram suas atividades no país impulsionando a implantação de ferramentas modernas de gerenciamento, agregando valor nos serviços oferecidos aos clientes, contribuindo, assim para tornar o setor mais dinâmico. As novas exigências para a atividade logística no Brasil e no mundo passam pelo maior controle e identificação de oportunidades de redução de custos, redução de prazos de entrega e aumento da qualidade no cumprimento do prazo, disponibilidade constante dos produtos, programação das entregas, facilidade na gestão dos pedidos e flexibilização da fabricação, análises de longo prazo com incrementos em inovação tecnológica, novas metodologias de custeio, novas ferramentas para redefinição de processos e adequação dos negócios (Exemplo: Resposta Eficiente ao Consumidor – Efficient Consumer Response), entre outros. Apesar dessa evolução até a década de 40, havia poucos estudos e publicações sobre o tema. A partir dos anos 50 e 60, as empresas começaram a se preocupar com a satisfação do cliente, foi então que surgiu o conceito de logística empresarial, motivado por uma nova atitude do consumidor. Os anos 70 assistem à consolidação dos conceitos como o MRP (Material Requeriments Planning), Kanban e Just-in-time. Após os anos 80, a logística passa a ter realmente um desenvolvimento revolucionário, empurrado pelas demandas ocasionadas pela globalização, pela alteração da economia mundial e pelo grande uso de www.fijav.com.br/revistaeletronica 18 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 computadores na administração. Nesse novo contexto da economia Entende-se como serão gerenciadas as ações de planejamento, globalizada, as empresas passam a competir em nível mundial, mesmo organização e controle. Um planejamento bem feito, terá como resultado dentro de seu território local, sendo obrigadas a passar de moldes organização e controles mais eficazes. multinacionais de operações para moldes mundiais de operação. Conforme Martins (2005), o planejamento logístico tem por objetivo desenvolver estratégias que possam resolver os problemas de quatro áreas 2. REFERENCIAL TEÓRICO de destaque em empresas de transporte que são: 1) o nível de serviços oferecido aos clientes; 2) localização das instalações de centros de 2.1. PLANEJAMENTO LOGÍSTICO distribuição; 3) decisões de níveis de estoque e; 4) decisões de transportes adotam a definição de logística que devem ser utilizados no desenvolvimento de todo o processo. Todas as formulada em 1986 pelo CLM – Council of Logistics Management (Concílio quatro áreas são de fundamental importância para a empresa, suas funções e do Gerenciamento da Logística), que assim descreve a logística: atividades devem ser planejadas de forma integrada, buscando oferecer um Lambert e Stock (1992, p. 125) resultado operacional dentro das necessidades que o mercado exige de seus “É o processo eficiente de planejamento, implementação e controle efetivo do fluxo de custos, do estoque em processo, dos bens acabados e da informação relacionada do ponto de origem ao ponto de consumo, com o propósito de se adequar participantes. Levantar informações sobre o mercado no qual se está inserido e suas respectivas necessidades são de grande validade no processo de planejamento da empresa, bem como, na definição de como serão utilizados os recursos disponíveis, alocando-os da melhor maneira possível. Mesmo com o avanço atual da tecnologia, da troca de informações em aos requisitos do consumidor.” tempo real, o transporte continua sendo fundamental para que seja atingido o objetivo logístico, que é o produto certo, na hora, no lugar certo, ao menor Conforme Bowersox (2001) é de competência da logística a custo possível. Poderão ser adotadas diversas estratégias de transporte: coordenação de áreas funcionais da empresa, desde a avaliação de um entrega direta, milk run¹, consolidação, cross-docking², OTM (operação de projeto de rede, englobando localização das instalações, sistema de transporte multimodal), intermodal, janela de entrega, observando ainda a informação, transporte, estoque, armazenagem, manuseio e qualificação de melhor matriz de transporte (rodoviário, ferroviário, aquaviário, duto viário, materiais até se atingir um processo de criação de valor para o cliente. aeroviário), e sua adequação aos objetivos propostos em cada etapa do processo de transporte. Sobre a decisão do modelo de gestão de estoques www.fijav.com.br/revistaeletronica 19 www.fijav.com.br/revistaeletronica 20 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 mais adequado, dependerá da identificação das principais características das decisão de utilizar ou não os serviços da empresa. Através do planejamento operações de produto e/ou distribuição. De maneira geral, as decisões de logístico a empresa deve estruturar toda a sua plataforma de operação, estoque devem estabelecer os reabastecimentos, constituindo-se sempre em definindo seus padrões de níveis de serviços que serão oferecidos aos seus decisões de alto risco, pois itens mantidos em estoque podem deteriorar clientes. O mercado sofre mudanças rápidas e, muitas vezes, as empresas tornarem-se obsoletos e até se perderem na produção, além de ocuparem não estão preparadas para absorver estas mudanças dificultando sua espaço que poderia estar sendo utilizado para outros fins, sem contar o adaptação ao novo ambiente de negócios. Portanto, desenvolver um bom custo do capital investido. Em contrapartida, a manutenção de estoque processo de planejamento, é de importância extrema para a empresa, pois proporciona segurança em ambiente incerto e complexo. Desta forma, um planejamento logístico, orientado para atender as necessidades impostas haverá sempre o trade-off³: custo versus disponibilidade, que definirá pelo mercado, faz com que se mantenha o controle da empresa. Esse quanto pedir, quando pedir e como controlar o sistema (tecnologias controle advém do equilíbrio dos recursos financeiros disponíveis e da adotadas). oferta de serviços especializados, de forma que se agregue valor aos Segundo Ballou (2001), a logística envolve todas as operações mesmos e, também, oportunizando um diferencial competitivo a relacionadas com planejamento e controle de produção, movimentação de concorrência sem afetar a rentabilidade da empresa. O planejamento materiais, embalagem, armazenagem e expedição, distribuição física, logístico ampara-se no planejamento estratégico da empresa, sendo assim, transporte e sistemas de comunicação que, realizadas de modo ambos devem ser coerentes de forma que os objetivos estipulados sejam sincronizado, podem fazer com que as empresas agreguem valor aos atingidos. Estrategistas, altamente conhecedores do assunto, devem serviços oferecidos aos clientes e também oportunizando um diferencial assessorar o desenvolvimento do mesmo, sob pena de se ter reveses durante competitivo perante a concorrência. O objetivo central da logística é o de todo o processo. È importante salientar que o processo, para ter êxito, atingir um nível de serviço ao cliente pelo menor custo total possível precisa necessariamente ter o consentimento de toda a direção da empresa e buscando oferecer capacidades logísticas alternativas com ênfase na de seus acionistas, de forma que sejam estabelecidos os limites máximos de flexibilidade, na agilidade, no controle operacional e no compromisso de mudanças aceitos para o posicionamento da empresa no mercado. Assim, os atingir um nível de desempenho que implique um serviço perfeito. gestores das empresas devem elaborar planejamentos logísticos flexíveis de Pode-se verificar que, no contexto das quatro áreas, a definição dos forma que possam ser ajustados aos elementos críticos logísticos, serviços a serem oferecidos aos clientes é o que afeta drasticamente toda a estabelecendo ações apropriadas que devem ser utilizadas caso algum viabilidade do negócio. Ele será o indicador pelo qual o cliente tomará a evento inesperado venha ocorrer. Desta forma, pode-se evitar um processo www.fijav.com.br/revistaeletronica 21 www.fijav.com.br/revistaeletronica 22 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 desgastante junto aos clientes por não terem sido cumpridas as ações que devem ser gerenciadas coletivamente, incentivado a cooperação entre programadas o que, em muitos casos, podem provocar quebras de contratos as funções. e perdas de clientes de alta rentabilidade. O mesmo autor afirma que a dimensão setorial refere-se aos esforços de parceiros da cadeia de suprimentos para coordenar e gerenciar suas atividades como uma única entidade em vez de gerencia-las como entidades 2.2. AS TRÊS DIMENSÕES DA LOGÍSTICA separadas. A integração da cadeia de suprimentos requer que as partes De acordo com Martins (2005) a logística tem três dimensões principais: dimensão de fluxo, dimensão de atividades e dimensão de domínios. Já Dornier (2000) diz que as dimensões da logística são: compartilhem conhecimentos, eliminando ineficiências que adicionam custo sem adicionar valor. A dimensão geográfica da logística identifica e analisa os fatores que diferem entre as nações que influenciam na efetividade das funções dimensão funcional, dimensão setorial e dimensão geográfica. Segundo Martins (2005) a dimensão de fluxo diz respeito aos (produtividade do trabalhador, adaptabilidade do processo, regulamentações suprimentos, transformação, distribuição e serviço ao cliente; a dimensão de e assuntos governamentais, disponibilidade de transporte, cultura e outros). atividades trata do processo operacional, administrativo, gerencial e de Nesta dimensão, por causa das distancias envolvidas nas operações globais, engenharia; a dimensão de domínios aborda a gestão de fluxos, tomada de o transporte e a distribuição têm maior importância bem como a eficiência e decisão, gestão de recursos e modelo organizacional. efetividade da função logística, pois bens e mercados dispersos A dimensão de domínio engloba: visão de fluxo (entradas, saídas e geograficamente são mais difíceis de gerenciar e servir. controles); visão de decisão (estratégias, princípios de planejamento e Dorrnier (2000, p. 89) afirma que “o objetivo central do sistema controle, decomposição de ordem, comunicação); visão de recursos (físico, logístico é maximizar o lucro através da racionalização de recursos”. O humanos, métodos de trabalho e ferramentas); visão organizacional relacionamento entre as três dimensões no modelo de logística global (estrutura de negócios, gerência e cultura). proporciona uma melhor orientação para a organização. Os três tipos Tendo em vista as dimensões propostas por Dornier (2000) supracitado, observa-se que a dimensão funcional destaca a natureza básicos de orientação são: logística orientada para recursos; logística orientada para a informação e logística orientada para o usuário. interfuncional da logística que cruza as áreas funcionais e permitem a criação de importantes conexões entre as áreas de atividades da empresa www.fijav.com.br/revistaeletronica 23 www.fijav.com.br/revistaeletronica 24 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Conforme o autor as organizações podem adotar cada uma das três orientações com diferentes intensidades em diferentes épocas, pois os Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 flexibilidade é obtida através da combinação de diferentes empresas por meio de uma adequada coordenação. negócios globais são bastante dinâmicos, e as prioridades da empresa 2.3. PONTOS BÁSICOS DA LOGÍSTICA podem ser mudadas por causa de diferentes forças internas e externas. Segundo Dornier (2000, p. 88): “A logística orientada para recursos é o gerenciamento de recursos diferentes necessários para a fabricação de produtos a serem entregues aos clientes finais. Ela enfatiza o relacionamento entre as dimensões funcionais e geográficas”. Sua ênfase é orientar-se para a otimização do uso dos recursos, já que o mercado está se tornando independente de fronteiras geográficas, isto é, as empresas estão buscando diferentes localidades geográficas, como locais de fabricação para minimizar os custos. “Se o mercado é o mundo, a empresa deve coordenar os recursos de diferentes áreas funcionais para satisfazer às necessidades globais” (DORNIER, 2000, p. 88). A logística orientada para informação está relacionada à gestão da informação como fonte de vantagem competitiva, pois a logística não está só envolvida com o fluxo de produtos, mas também com o fluxo de informação (disponibilidade de produto, prazo de entrega, necessidades dos clientes). Refere-se ao relacionamento entre a dimensão setorial e a dimensão geográfica, fornecendo não só informações tradicionais, mas informações mais recentes e estratégicas. A logística orientada para o usuário foca no cliente final, ganhando assim flexibilidade na resposta à necessidade dos clientes através da interação e cooperação entre parceiros da cadeia de suprimentos, ou seja, a www.fijav.com.br/revistaeletronica 25 Os principais pontos em que a logística se baseia são movimentação dos produtos; a movimentação das informações, o tempo, o custo e o nível de serviços. Por isso é de suma importância o nível de serviço, pois o transporte de carga tradicional tratava de deslocar produtos e insumos entre diversos pontos, considerando a escala do tempo de forma secundária. Assim, o transportador tradicional se incumbia de levar determinada carga de um ponto A para um ponto B, mas, geralmente, não assumia o compromisso de entregá-la no destino dentro de um prazo preestabelecido. Com a evolução do mercado e com a preocupação das empresas em relação ao nível de serviço oferecido aos seus clientes, procurou-se identificar e quantificar os fatores necessários para elaboração de novos níveis de serviço como: prazo de execução e respectivo nível de confiabilidade; tempo de processamento de tarefas, disponibilidade de pessoal e dos equipamentos solicitados; facilidade em sanar erros e falhas; agilidade e precisão em fornecer informações sobre os serviços em processamento; agilidade e precisão no rastreamento de cargas em processamento ou em trânsito; agilidade no atendimento de reclamações e no encaminhamento de soluções; estrutura tarifária fácil de entender e simples de aplicar. Para que esses pontos básicos sejam integrados de forma concisa a logística temos que levar em conta os seguintes grupos: www.fijav.com.br/revistaeletronica 26 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 1) Fornecedores – A função dos fornecedores dentro da logística moderna é armazenando os dados básicos conforme seja necessário, processando o de parceiros operacionais. Esse conceito exige um relacionamento aberto, dados em informações úteis armazenando as informações conforme seja que compreende desde o desenvolvimento conjunto do produto até necessário e transferindo informações aos usuários e clientes. Assim, contratos de fornecimento com preços, qualidade e prazos sujeitos a uma fortalecem a percepção de que a gestão da informação na logística é um mútua administração, visando a conservação do mercado pela contínua elemento de grande importância funcional ao afirmarem: “Mais que apenas satisfação do cliente. o fluxo de produtos, o sistema logístico está diretamente envolvido com o 2) Atacadistas – Trabalham com a logística como principal meio de fluxo de informações (disponibilidade de produtos, prazo de entrega, aumentar o número de clientes. necessidades dos clientes)", Dornier (2000, p. 584). 3) Suprimento - Fornecimento; provisão. O sistema integrado é de grande importância para as empresas, pois 4) Venda Direta - A realizada sem intermediário entre produtor e oferece um melhor atendimento ao cliente, com mais eficiência e rapidez, consumidor. ajuda organizar o estoque de forma que o produto é lançado e retirado do estoque com menor tempo, coloca a disposição ferramentas para tomada de 2.4. SISTEMA INFORMAÇÃO DE INFORMAÇÃO – TECNOLOGIA DE decisão acertada, permite o retorno de informações para um melhor monitoramento do desempenho operacional. Conforme Novaes (2001), o sistema de informação é uma peça crítica Um sistema de informações bem feito é fator critico de sucesso para do canal logístico total, desempenhando um conjunto de funções vitais. um sistema logístico. Ele consegue ter a visão do processo logístico de Em suma, o propósito de um sistema de informação logística é empresa, desde estoques, emissão de notas fiscais, entregas de mercadorias coletar, manter e manipular os dados dentro da empresa para tomada de e outros. As informações nos permitem fazer previsões e dar respostas aos decisões, abrangendo desde o nível estratégico até o operacional. consumidores em tempo real. As áreas comerciais e industriais das empresas estão sempre buscando Ao propor uma gestão eficaz das operações e logísticas globais, procedimentos para incrementar a distribuição de seus produtos e viabilizar afirmam que o sistema de informações logísticas tornou-se um fator crítico operações que atendam ao aumento de demanda, mantendo o abastecimento de sucesso na estratégia logística. Ele engloba a monitoração de fluxo ao continuo em todas as regiões de atuação, por mais remotas que sejam. A longo de toda a cadeia de atividades logísticas, capturando dados básicos, logística aplicada nas empresas de maneira correta, agrega valor de forma transferindo dados para outros centros de tratamento e processamento, 27 www.fijav.com.br/revistaeletronica que os resultados são rápidos e eficientes. Com a implantação de sistemas www.fijav.com.br/revistaeletronica 28 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 de informações eficientes e ferramentas como, por exemplo, o EDI, as De acordo Dálcio Nunes, diretor comercial da Fimatec, empresa empresas reduzem custos, tem maiores ganhos e o cliente fica satisfeito fornecedora de componentes para calçados, uma logística eficiente deve ser com a agilidade na entrega, pois todo valor agregado é de grande voltada para um sistema de informação que armazene todos os registros e importância para o cliente. todas as operações, como ele mesmo afirma que adotou o EDI (intercambio A implantação de um bom sistema de informação nas empresas, a eletrônico de dados) e fala que o mesmo reduz e até elimina erros de logística fica eficiente e eficaz de forma que as entregas são mais rápidas e digitação e de informação verbal na comunicação. eficientes. Isso é elo de cadeias que envolvem dos fornecedores ao (disponível em http://www.wsag.udesc.br/biblioteca/textos/giuliani.html). consumidor. Quando o sistema está integrado, a empresa consegue controlar todo tipo de transação realizada, que vai do processo de compra até a entrega. Muitas empresas não conseguem trabalhar com sistema eficiente de logística, por conta dos altos custos, mas a empresa deve se conscientizar que é necessário investir em equipamentos e no capital intelectual. A dinâmica da globalização nos remete a uma continua reflexão sobre a concorrência baseada no tempo, a necessidade de redução dos ciclos operacionais, além da descoberta de meios e iniciativas que melhorem a relação entre o tempo consumido em atividades que realmente adicionem valor a produtividade tornando uma espécie de diferencial entre bons e maus resultados de uma empresa. E necessário que o empresário perceba que entender o conceito de logística é de grande importância para o desenvolvimento organizacional, para que assim possa aceitar as mudanças e não ter dificuldades de se adaptar a elas. Com o sistema de informação a empresa só tem a ganhar, pois com a globalização e o avanço tecnológico, tudo é realizado de maneira muito rápida e a velocidade no atendimento é uma estratégia para ganhar concorrência. www.fijav.com.br/revistaeletronica 29 2.4.1 ELETRONIC DATA INTERCHANGE – EDI Entende-se por EDI (Eletronic Data Interchange) ou intercambio eletrônico de dados, uma ferramenta tecnológica de informação, que tem sido utilizada pelas organizações para ligar seus componentes e parceiros, de modo a gerar perfeita integração, rápida comunicação e agilidade na resposta. No entender de PIZYSIEZNIG (2002) o EDI influência a cadeia de valor quando a adoção de estratégias para uma vantagem competitiva em um mercado globalizado. “O EDI é uma rede de acesso restrito aos clientes do provedor, que permite a conexão entre os sistemas eletrônicos de informação entre empresas, independentemente dos sistemas e procedimentos utilizados no interior de cada uma. A função principal de um provedor de EDI é, no momento de adesão de um cliente a rede, instalar o hardware e software para a tradução das informações da empresa em padrões já normatizados www.fijav.com.br/revistaeletronica 30 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 internacionalmente. Na operação do sistema, o provedor deve garantir, ser eficiente sem pensar em um padrão adequado de logística. Toda cadeia tanto o registro da transação (comunicação) entre dois parceiros na rede, está ligada. E os empresários que pensam no futuro sabem disso e estão quanto o sigilo em relação ao acesso de terceiros a estas informações. As procurando se modernizar. É a única forma de sobreviver num mercado empresas não entram em contato apenas com bancos, mas com todos os cada vez mais globalizado e competitivo”, afirma Ivair Kautzmann, gerente parceiros nos negócios. A troca de informação gera economias e maior de TI da Via Marte, empresa do setor calçadista. eficiência para todos os participantes da rede. Assim, cada um é, ao mesmo tempo, cliente e fornecedor de informações”. (PIZYSIEZNIG 2002: 55) Este conceito de comunicação entre empresas, o EDI compreende todas as trocas de documentos e informações entre todos os participantes das transformações, potencializando recursos de tempo e capital eliminando todo e qualquer tipo de ineficiência da cadeia de valor. A adoção do EDI implica em re-configurar no sistema logístico, englobando todos os parceiros comerciais, sejam eles fabricantes, transportadores ou varejistas. Com espaço cada vez mais garantido no futuro das operações logísticas, o EDI oferece maior eficiência, controle e organização no intercâmbio de dados: “Não existe progresso ou desenvolvimento rápido na logística sem automação dos processos. A logística eficiente, agregada ao sistema de intercâmbio eletrônico de dados chegou para ficar. É uma situação irreversível que, mais cedo ou mais tarde, todas as empresas adotarão. Ninguém pode se furtar da tecnologia e ela chegou para ficar e conquistar, a cada dia que passa mais espaço. A GS1 Brasil - Associação Brasileira de Automação tem um papel fundamental na efetivação desse processo no País. Cabe a ela dar todo suporte técnico e informações que as empresas precisam para operar o sistema corretamente. Não há mais como www.fijav.com.br/revistaeletronica 31 3. ESTUDO DE CASO Em virtude da falta de aderência entre os modelos de pedido e de uma demanda diferenciada, nasceu o projeto GOL (Grupo de Otimização Logística). Grupo composto por empresas do setor calçadista como Azeléia, Beira Rio, Grendene, Paquetá e Via Marte e pela GS1 Brasil. O setor de componentes da cadeia calçadista, ou seja, de matériaprima para a fabricação do calçado, é formado por uma gama variada de empresas, pertencentes a distintos ramos de produção. Dada à diversidade de segmentos que compõem o setor, as soluções desenvolvidas não poderiam ser únicas, e por esse motivo a metodologia utilizada para o trabalho com o grupo foi a de agrupamento das empresas, de acordo com os produtos que fabricam e mercados atendidos. Por exemplo, produtos químicos e sintéticos; couro; saltos; solas e solados; têxteis e sintéticos etc. O grupo de Trabalho nasceu no início de 2002, como conseqüência do desenvolvimento de um projeto piloto bem sucedido realizado pela Calçados Azaléia, com o apoio da GS1 Brasil. Os bons resultados administrativos e operacionais obtidos pelo projeto, mesmo em sua fase de www.fijav.com.br/revistaeletronica 32 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 implantação, a necessidade de viabilização dos investimentos necessários Redução de volume de papéis; em toda a cadeia de suprimentos e o interesse da Abicalçados – Associação Facilidade de apuração de margens, giro de estoque, descontos, Brasileira da Indústria de Calçados, em ampliar a utilização das ferramentas segurança e rapidez no inventário e no controle físico e financeiro de automação em toda a indústria, levaram à criação do Grupo de dos estoques, etc. Otimização Logística (GOL). A premissa básica para a formação desse grupo foi à utilização de padrões internacionais, pois já havia sido criado Estes benefícios resultam em mais vendas, redução total de custos, um padrão setorial que não obteve sucesso, visto que a maioria das diminuição da margem de erros e aumento de eficiência no ponto-de-venda, indústrias participantes estavam inseridas em diversas cadeias de promovendo crescimento e vantagens para toda a cadeia. suprimentos diferentes e exportavam seus produtos para vários países. Os objetivos específicos são implantar padrões para sistemas O objetivo do projeto é desenvolver padrões para a utilização de automatizados nas operações logísticas de recebimento e compras da ferramentas de gerenciamento da cadeia de suprimentos, envolvendo as indústria calçadista; Estabelecer padrões de etiquetas logísticas e tecnologias de captura automática de dados e comércio eletrônico, mensagens eletrônicas com base no Sistema GS1; Possibilitar a adoção das permitindo a integração colaborativa de forma eficiente e eficaz entre os ferramentas de automação pelos fornecedores da Indústria Calçadista; participantes da Cadeia de Suprimentos da Indústria Calçadista, nos Reflexo da automação do recebimento; aprovação do pedido e expedição de aspectos logísticos e comerciais. Essa cadeia envolve fornecedores, produto nos fornecedores. transportadores, distribuidores, lojistas e supermercados. As expectativas dos participantes do grupo são: A GS1 Brasil, entidade que representa mais de 52 mil empresas usuárias de padrões de código de barras e comércio eletrônico dissemina padrões internacionais para integração da cadeia de suprimentos. A Maior eficiência na gestão de estoques; organização coordena, em conjunto com empresas e entidades do setor, o Agilização no recebimento e expedição de mercadorias; Grupo de Trabalho de Calçados, realiza mensalmente reuniões para Melhoria na eficiência do fluxo de produtos e informações; definição e implantação das melhores práticas para o setor. O Sistema GS1 Melhor gerenciamento do Negócio; é um conjunto de padrões que possibilita a gestão eficiente de cadeias de Ampliação dos serviços aos clientes; suprimentos globais e multisetoriais, identificando com exclusividade Intensificação do relacionamento entre clientes e fornecedores; produtos, unidades logísticas, localizações, ativos e serviços. Além disso, Redução dos custos da administração dos processos logísticos; facilita os processos de comércio eletrônico, propondo soluções www.fijav.com.br/revistaeletronica 33 www.fijav.com.br/revistaeletronica 34 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 estruturadas para mensagens eletrônicas e viabilizando 2008 a Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 total rastreabilidade das operações, o que vem ao encontro dos objetivos do setor calçadista. O piloto entre a Via Marte e Lojas Paquetá foi finalizado com enormes ganhos de produtividade e redução expressiva de erros operacionais, trazendo respaldo, veracidade e credibilidade para o projeto. A indústria otimiza a logística ampliando as parcerias em todas as áreas. Ivair Kautzmann, gerente de TI da Calçados Via Marte, explica que a empresa busca mostrar aos envolvidos, seja indústria, fornecedor, transportador ou varejo, que com a utilização de um padrão haverá sempre a redução de tempo e dinheiro no alinhamento da logística entre os parceiros. “Fica muito claro que a questão da otimização passa pela identificação padronizada, somada ao intercambio eletrônico de dados (EDI). Não há como otimizar relações sem contemplar esses dois itens do processo”. Para que o processo tenha sucesso é necessário entender o seu Figura 1: base da proposta – fluxo de integração da rede calçadista conceito fundamental e investir em equipamentos, treinamento de pessoal especializado, tanto na área administrativa, como na produção e expedição. Fonte: elaborada pelos autores. A automação dos sistemas logísticos com o EDI contribui de forma surpreendente para as cadeias de suprimentos, uma vez que o fluxo eficiente e continuo das informações é imprescindível para a eficácia do 3.1. FUNCIONAMENTO DO PROJETO GOL relacionamento das cadeias através de seus elos. Como as empresas utilizaram os serviços traçados pelo projeto GOL Iniciando no departamento de compras (da Loja), o comprador, com o representante da indústria, fecha o pedido. Cada item com suas descrições via EDI, conforme figura abaixo: são identificados com seu código de barras. As informações da venda são transcritas para o sistema da indústria e resumidamente para o sistema da www.fijav.com.br/revistaeletronica 35 www.fijav.com.br/revistaeletronica 36 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 loja, aguardando a fabricação e entrega. No comercial (da indústria), as para o transportador dos produtos acabados e para o lojista, garantindo informações das vendas, efetuado pelo representante, são recebidos agilidade e economia dos processos. No transportador (de produtos eletronicamente e alimentam o banco de dados que irá apoiar os processos acabados), de posse da nota fiscal eletrônica, o transportador gera o fabris e financeiros da indústria. No planejamento (da produção da conhecimento de frete para a entrega de mercadorias ao ponto de venda, indústria), em função das necessidades de matéria-prima e componentes, as encaminha via EDI os documentos de fretes para a indústria. Os DOCs ordens de compras são emitidas e transmitidas para os fornecedores. Cada eletrônicos dos serviços prestados podem ser encaminhados aos bancos item com suas unidades de medidas e seu código de barras. No fornecedor conveniados também via EDI de forma automática. Na recepção (da loja), o (de matéria-prima ou componentes), ao receber a ordem de compra produto chega ao ponto de venda com a nota fiscal física e a nota fiscal eletrônica, é providenciada a fabricação e a entrega da mercadoria para seu eletrônica. Já estando no banco de dados, alimenta seu estoque. Mais cliente, a indústria. Encaminha a nota fiscal eletrônica a transportadora e a rapidez significa menos gastos, maior tempo para vender, menor tempo indústria por EDI. Na transportadora (de matéria-prima), de posse da nota para o produto ser exposto no ponto de venda, processo que não agrega fiscal eletrônica, a transportadora emite o conhecimento de fretes (via EDI) valor. No contas a pagar (da indústria), de posse dos conhecimentos gerados para a indústria. A indústria recebe o componente ou matéria-prima eletronicamente pela transportadora, a indústria efetua os pagamentos. No solicitada junto com os documentos fiscais. No entanto, os documentos banco, processa os DOCs eletrônicos e os pagamentos recebidos eletrônicos já se encontram no seu sistema (economia de tempo e custo). A encaminhando aos clientes, quer sejam transportadores, indústria ou adoção do padrão GOL: nota fiscal eletrônica, o aviso de despacho, código fornecedores fechando o ciclo da operação. de barras da embalagem e etiqueta, garante a verificação automática na Ninguém discute a necessidade de informatização dos processos intra- recepção e checagem com a ordem de compra, nota fiscal, conteúdo da empresariais (da pequena a grande empresa) e, cada vez, mais organizações embalagem. Com isso, agiliza a entrada do estoque e libera os itens de ponta estão integrando os seus sistemas com os seus parceiros: recebidos para a linha de produção. Na recepção (na indústria), com o fornecedores, clientes, representantes, bancos ou governo. padrão GOL, a embalagem já vem identificada com etiqueta com códigos logísticos. Se o documento “aviso de despacho” estiver sendo utilizado facilitará a conferencia e o rastreamento dos volumes. Na expedição (da Indústria), quando a produção do pedido solicitado pelo lojista estiver concluída, no processo de expedição, a nota fiscal eletrônica é encaminhada www.fijav.com.br/revistaeletronica 37 www.fijav.com.br/revistaeletronica 38 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 4. METODOLOGIA Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 dissertações, publicações referentes ao objeto da investigação e mídia eletrônica. Os objetivos deste artigo é uma revisão da literatura sobre a logística como estratégia para o desenvolvimento organizacional. A pesquisa visa descrever uma determinada realidade, logo pode ser considerada como descritiva, do tipo teórico e empírico. 5. CONCLUSÃO A logística está sempre sob objeto de interesse dos empresários. A Considera-se o paradigma interpretativo o mais adequado ao objeto redução dos custos aliados ao aumento de produtividade nesse setor nunca em estudo. O padrão interpretativo, assim como o funcionalista, preocupa- deixará de ser perseguido pelos gestores. Diante do mercado globalizado se com a regulação social, porém de um ponto de vista subjetivista em que vivemos e com constantes mudanças, qualquer alteração pode (LAKATOS & MARCONI, 2001). Assim, para melhor considerar a provocar incertezas para o planejamento e operação das atividades da subjetividade, opta-se por uma pesquisa qualitativa. logística. Isto exigirá habilidade e constante atualização por parte da Como método de abordagem, a pesquisa foi conduzida de forma administração das empresas. indutiva, realizada em três etapas: a observação dos fenômenos, a Conclui-se que, por meio do estudo de caso da indústria do calçado descoberta da relação entre eles e a generalização da relação (LAKATOS & brasileiro e sua integração entre toda cadeia calçadista, que o emprego MARCONI, 2001). Utilizou-se também como método de procedimentos, o correto da logística significa redução de tempo, numa economia cada vez estudo de caso, definido como uma investigação empírica que investiga um mais globalizada e sequiosa de agilidade e ganhos. Seu planejamento fenômeno contemporâneo, dentro de seu contexto da vida real (YIN, 2001). juntamente com a automação dos sistemas logísticos como EDI, contribui No presente trabalho foi realizado revisão e interpretação dos estudos de forma surpreendente para as cadeias de suprimentos, uma vez que o pertinentes, implicando na seleção, leitura e análise de conceitos que fluxo eficiente e continuo das informações é imprescindível para a eficácia abrangem o tema, permitindo assim, maior clareza nos dados e na do relacionamento das cadeias através de seus elos. Mas, vale lembrar que formulação de comparações com aplicações práticas. as empresas precisam entender que é necessário investir em equipamento, A revisão da literatura permitiu edificar conceitos teóricos, métodos e treinamento de pessoal especializado, tanto na área administrativa, como na instrumentos de análise, através de referências bibliográficas ou citações de produção e expedição conscientizando-os da importância de trabalhar com artigos, trabalhos e aplicações semelhantes em outros contextos, revistas, informações corretas. www.fijav.com.br/revistaeletronica 39 www.fijav.com.br/revistaeletronica 40 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Fica claro que a logística é um ponto fundamental para qualquer empresa que queira ganhar e se manter no mercado altamente competitivo, Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 LAMBERT, Douglas M., STOCK, James R. Strategic Logistics Management. 3.ª Ed. U.S.A. Irwin/McGraw-Hill. 1992. com redução de seus custos e eficiência no atendimento de seus clientes que significa a chave do sucesso de qualquer organização. MANIERO, Ana Paula V. Soluções de Negócios/GS1 Brasil. ABLAC, nº 07, p. 18-19, jul. 2007. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MARTINS, Petrônio Garcia. Administração de Materiais e Recursos Patrimoniais. São Paulo: Saraiva, 2005. DORNIER, Philippe-Pierre, ERNST, Ricardo, FENDER, Michel, KOUVELIS, Panos. Logística e Operações Globais: textos e casos. São NOVAES, Antonio, G. Logística e gerenciamento da cadeia de Paulo. Ed. Atlas. 2000. distribuição: estratégia, operação e avaliação. Rio de Janeiro, 2001. http://www.gs1brasil.org.br/main.jsp?lumPageId=FF8080810CB59FEC010 PIZYSIEZNIG FILHO, João. Competências Essenciais e a Tecnologia da CB6337AE33F5D&lumI=gs1.magazines.details&itemId;articleLanguageC informação: o caso da interchange. Instituto de Pesquisas Tecnológicas do ontentId=notspecified&itemId=B533221F6463485AA16107F4EA7ABE7B Estado de São Paulo. 2002 . Acesso em: 25/11/2007. PORTER, Michael E. Competição: estratégias competitivas essenciais. Rio http://www.gs1brasil.org.br/main.jsp?lumPageId=FF8080810CB59FEC010 de Janeiro: Campus, 1999. CB6337AE33F5D&lumI=gs1.magazines.details&itemId;articleLanguageC ontentId=notspecified&itemId=04E6C3DFF9984BC3A49D00F8F318C68 A. Acesso em: 25/11/2007. YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. São Paulo: Bookman. 2001. LAKATOS, E. M., Marconi, M.A. Fundamentos da metodologia científica. 4ª. ed. 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A autora tem uma copiosa produção bibliográfica3 e, Num passado não muito distante, entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX, educadoras estrangeiras atualmente, dedica-se a estudos voltados para o gênero gótico nas literaturas contemporâneas de língua inglesa. estiveram a cultivar a fina-flor da juventude sergipana. Eram preceptoras O livro “Sombra errante” foi publicado em 2000, pela Editora da alemãs, austríacas, francesas e inglesas que cruzavam o Atlântico, Universidade Federal Fluminense (EdUFF). Trata-se do desdobramento de seduzidas por boas propostas de emprego. Tenho estudado, sistematicamente, a contribuição dessas mestras na formação educacional das antigas elites sergipanas1. Contudo, no desenrolar dessa laboriosa tarefa, emergia um grande problema: o(s) perfil(is) das preceptoras européias. Afinal, quem eram essas mulheres? uma premiada tese, defendida por Maria Conceição Monteiro em 1998, no Instituto de Letras da UFF.4 A apresentação gráfica da obra não é das melhores5. A capa, mesmo trazendo uma bela imagem ao centro, carece de melhor elaboração6. A As poucas obras da nossa historiografia educacional, dedicadas integral ou parcialmente ao estudo da preceptoria, esclarecem parcamente o 3 problema. Por isso mesmo, foi bastante compensador deparar-me com a obra “Sombra errante: a preceptora na narrativa inglesa do século XIX”, da professora Maria Conceição Monteiro.2 1 2 Projeto desenvolvido no doutorado em História do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Bahia, sob a orientação da Profª Drª Lina Aras [ALBUQUERQUE, Samuel Barros de Medeiros. Preceptoras alemãs na Bahia e em Sergipe (1860-1920). Salvador/BA. Projeto de Pesquisa (Doutorado em História) – Programa de Pós-Graduação em História/UFBA. Início: 2008]. MONTEIRO, Maria Conceição. “Sombra errante: a preceptora na narrativa inglesa do século XIX”. Niterói/RJ: EdUFF, 2000. 153 p. (Coleção Ensaios; 17). www.fijav.com.br/revistaeletronica 43 4 5 Além de inúmeros ensaios em livros e periódicos, Maria Conceição Monteiro é autora de obras como: “Na aurora da modernidade: a ascensão dos romances gótico e cortês na literatura inglesa” (Rio de Janeiro: Caetés, 2004); “Representações culturais do outro” (Niterói/RJ: Vício de Leitura, 2001); “Dialogando com culturas: questões de memória e identidade” (Niterói/RJ Vício de Leitura, 2003); “Figurações do feminino nas manifestações literárias” (Rio de Janeiro: Caetés, 2005), as três últimas organizadas em parceria com Tereza Marques de Oliveira Lima. Sob orientação do professor Roberto Acízelo Quelha de Souza, o trabalho recebeu o prêmio de melhor tese do Programa de Pós-Graduação em Literatura Comparada do Instituto de Letras da UFF, em 1999. A referida edição da EdUFF tem formato 14x21 cm, orelhas de 07 cm e um montante de 153 páginas, agrupadas em 10 cadernos costurados e colados. O papel utilizado na confecção da obra foi o chamois 75 g/m2, sendo que o cartão www.fijav.com.br/revistaeletronica 44 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 formatação do texto não está equilibrada com as dimensões da edição, além de outros importantes documentos da época (manuais de notadamente as margens esquerda e direita. Todavia, o conteúdo não deixa comportamento feminino e muitos periódicos). dúvidas quanto à grandiosidade da obra. Do conjunto de romances estudados, um número expressivo foi O texto desenvolve-se em cinco capítulos, sendo o último de caráter traduzido para o português. Provavelmente, a circulação desses livros conclusivo. O primeiro, especialmente instigante para os historiadores de contribuiu para formação de uma imagem acerca da preceptora européia no ofício, analisa a condição histórica de preceptora na Inglaterra do século imaginário dos leitores brasileiros. XIX. O segundo capítulo apresenta o perfil da preceptora inglesa, baseando-se na narrativa ficcional que antecede a publicação do romance “Jane Eyre”7, obra que é analisada no terceiro capítulo. Em seguida, a autora trata das representações da preceptora na ficção inglesa posterior a “Jane Eyre”. E, finalmente, o quinto capítulo empreende um balanço geral do estudo. Monteiro reconhece a problemática que gira em torno do uso de textos ficcionais como lastro para estudos históricos. Entretanto, conclui que, mesmo não reproduzindo a realidade, a ficção indicia o impacto mental causado pela figura da preceptora nas mentes de seus contemporâneos. Além disso, um dos méritos da obra, de grande valia para os O ensaio de Maria Conceição Monteiro representa um monumento historiadores da educação brasileira, é a devassa empreendida pela autora à figura histórico-literária da preceptora. O talento da autora fica na bibliografia de língua inglesa que trata da educação doméstica. Obras de evidenciado no fôlego do seu texto, fluente e agradável da primeira à última sociologia, história e educação que foram utilizadas e devidamente página, tão sedutor quanto os romances oitocentista que esmiúça. referenciadas. Além disso, Monteiro desenvolveu uma meticulosa pesquisa em bibliotecas inglesas, em especial, a de Oxford e a de Nottingham, onde levantou suas fontes básicas — primeiras edições dos romances estudados, Lastreada num articulado diálogo entre história e literatura, a autora nos põe diante de uma preceptora inglesa do século XIX, espectro que ganha forma no brilhante estudo de Maria Conceição Monteiro. Dessa forma, muitos dos questionamentos que formulei acerca dessas educadoras 6 7 supremo 250 g/m2 foi utilizado na capa. Não conseguimos dados sobre a tiragem da edição. Em preto e branco, a capa tem no centro a imagem (9x12 cm) de uma bela dama, que suponho ser uma preceptora inglesa do século XIX. O título da obra aparece acima da citada imagem e, abaixo dela, observa-se o nome do autor e o símbolo da editora. Obra Charlotte Brontë, publicada, originalmente, em 1847. www.fijav.com.br/revistaeletronica 45 européias foram elucidados. www.fijav.com.br/revistaeletronica 46 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 O USO DA ICONOGRAFIA NO ENSINO DE HISTÓRIA Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 necessário entender aqui iconografia ou imagens como um artefato (gravuras, Claudefranklin Monteiro Santos Graduado em História e Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe. Professor, Historiador e Escritor Lagartense. Coordenador e Docente do Curso de Licenciatura em História da Faculdade José Augusto Vieira e Professor de História da Rede Pública Estadual de Sergipe. Ee-mail: [email protected] 2008 fotografias, litografia, xilografia, charges, caricaturas, publicidade, cartaz, cinema, televisão, vídeo) produzido culturalmente por uma dada sociedade industrial, os chamados “artefatos imaginéticos”. Em seguida, a iconografia passa então a ser encarada como técnica de ensino, tendência construída ao longo da história da educação brasileira. (SCHMIDT, 2002) “A imagem instrumentalizada transforma o olho do cientista: abre-lhe novos horizontes e fecha outros, habitua este olho a enxergar em uma direção específica com a exclusão de outras, ou a constituir de um modo e não de outro os contornos de determinado objeto. Compreendido isto, a questão não é lutar em vão contra as inevitáveis limitações de uma imagem instrumentalizada ou de uma direção metodológica estabelecida para tal o qual fim, mas sim devolver a estas imagens e direções metodológicas a sua dimensão instrumental e transitória, dominá-las e não se deixar dominar por elas, superá-las sempre que for necessário e propor constantemente novas maneiras de abordar ou constituir o objeto sempre a partir de uma imaginação criadora e demolidora de imagens e conceitos congelados”. (D´ASSUNÇÂO, 2004) SERRANO afirma que é preciso aprender História “pelos olhos e não mais enfadonhamente só pelos ouvidos, em massudas, monótonas e indigestas preleções” (SERRANO,1912:11). Assim, o uso da iconografia no ensino de história concretiza o que pode chamar de educação pelo olhar. Mas, o uso excessivo da imagem também pode afastar o aluno do mundo real, quando este não se dá conta da carga de representatividade construída em torno dela. O fenômeno da iconização das coisas, e não diferente do ensino de história, pode trazer distorções de aprendizagem e distanciar o aluno das representações sociais. Essa tese é defendida por alguns estudiosos, a exemplo da professora Elias Thomé Saliba (USP). Ela Considerando que quase tudo que acontece se dá pelo aspecto visual, admite que a imagem muitas vezes não ilustra bem a realidade e nem tão faz-se necessário ao professor de história a necessidade de se valorizar a pouco a reproduz, dado que é construída num determinado contexto educação pelo olhar. A história acontece a olhos vivos. Além disso, é histórico. Assim, nem sempre o que é ou parece ser, é de fato: é o que preciso salientar a força que a imagem provoca nas pessoas. Seu poder de querem que seja ou que pensem que seja. “Toda a atenção – não apenas do atração e seu fascínio. Aquilo que desperta tanta atenção não pode deixar de professor, mas de todo aquele que lida com as imagens – deve voltar-se ser um veículo precioso de ensino e de aprendizagem. para o lado mais invisível, frágil, onde talvez se encontrem os possíveis Como entender o material iconográfico e sua utilização em sala de aula é uma reflexão que merece um cuidado inicial. Antes de tudo, é 47 www.fijav.com.br/revistaeletronica vestígios de um inconsciente visual de nossa época” (SALIBA , 2003:126). www.fijav.com.br/revistaeletronica 48 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Para analisar e/ou interpretar a história de uma nova maneira, sob um “(...) a indagação sobre o popular levou à diversificação de recursos, novo olhar, muitos historiadores vêm se distanciando do paradigma relativizando o primado do escrito e valorizando outras fontes, tais como o tradicional. A chamada história nova tem considerado “novos problemas”, documento oral e a iconografia, ardil legítimo para se romper o silêncio de “novas abordagens” e “novos objetos”. Essa nova roupagem da história mundos mal conhecidos” (VOVELLE, 1997:17). Permitindo ir além do permite, entre tantas possibilidades, através da iconografia a revelação de escrito, as novas fontes procuram dar conta de lacunas que por vezes representações simbólicas que o dado oficial ou o registro escrito não ajudaram a firmar imagens distorcidas de épocas da história mundial e seriam capazes de permitir uma interpretação do real. Nesse contexto, o brasileira. Nesse sentido, há quem afirme que a fonte iconográfica, se bem professor de história pode se fazer valer do imaginário e despertar em seu utilizada como testemunho, muitas vezes tornam-se mais exatos em sua aluno a construção do mesmo nas mentalidades coletivas. informação do que o discurso escrito. Para tanto, há que se fazer e saber Nascida na França, em 1919 pela iniciativa de Marc Bloch e Lucien fazer novas perguntas a essas novas fontes, para que elas possam romper o Febvre, seguida nun segundo momento por Fernand Braudel, a História silêncio acima citado, num universo historiográfico dominado pela palavra Nova está associada a revista dos Annales (Annales, économies, societés, escrita. Lidar com imagens também é lidar com o desconhecido e invisível, civilisations), colaborando sobremaneira para a renovação dos chamados com o ausente. “paradigmas da história”. Para BURKE (1992), um dos maiores estudiosos do tema, durante muito tempo houve na tradição histórica uma preocupação “Sendo as coisas que pensamos invisíveis, nem mesmo quem enxerga pode vê-las” (CHARTIER , 1996). com uma história nacional ou internacional, não levando em consideração a Com a Nova História ampliou-se também o conteúdo do termo importância do aspecto regional. Esse tipo de tendência insistia na idéia de documento – “há que tomar a palavra ‘documento’ no sentido mais amplo, que a política era a formadora da história, desconsiderando os variados documento escrito, ilustrado, transmitido pelo som, pela imagem ou de aspectos das atividades humanas, vista em sua totalidade. Preocupados em qualquer outra maneira” – destacando a necessidade da crítica do relatar uma história factual, centrada nos acontecimentos, não se documento. Para Le Goff, “o documento não é qualquer coisa que fica por preocuparam em saber de toda estrutura que permeia as transformações. conta do passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo as Esse tipo de conduta historiográfica valorizava excessivamente figuras relações de forças que aí detinham o poder. Só a análise do documento ilustres, em detrimento da História Nova que valoriza todas as categorias enquanto documento permite à memória coletiva recuperá-lo e ao sociais e suas representações, que deram origem à história das historiador usá-lo cientificamente, isto é, com pleno conhecimento de mentalidades. causa”. www.fijav.com.br/revistaeletronica 49 www.fijav.com.br/revistaeletronica 50 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Ulpiano Bezerra vai mais longe e propõe que o historiador, ao se aproximar do campo visual (iconográfico) desenvolva o que ele chama de Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 principalmente por não levarem em conta os aspectos visualidade e leituras de imagens. potencial cognitivo (MENESES, 2003). Para tanto, ele convida o Complementando essa visão, é preciso estar atento que BURKE historiador a mergulhar no campo da história da imagem, como elemento denominou de “contexto social” da imagem, ou seja, as circunstâncias nas necessário para a elucidação da historicidade das coisas. Nesse sentido, o quais ela foi encomendada, bem como o contexto material e o local onde se aspecto iconográfico na história adquire numa visão antropológica de si desejava exibi-la, procurando dar conta das formas de produção, circulação mesma, três modalidades: ele é visto como elemento produzido pelo e consumo dos meios visuais. (BURKE, 2005:171). observador, como registro ou parte do observável (na sociedade observada) e a interação entre o observador e observado. As novas concepções no campo da História Nova e a relação com a nova prática do ensino de História não só permite como também dinamiza a O sentido proposto por este autor não tem ainda merecido estudos relação professor de história e aluno, até porque o uso da iconografia em mais abrangentes, e quando existentes limitam-se a épocas específicas, sala de aula pode perfeitamente tornar-se possível e bem vindo. Para como a Antiguidade, o Renascimento, entre outros. Para tanto, atribui ao SCHMIDT, “o uso de imagens como alternativa metodológica para a campo da história da arte, à partir do século XVIII um período promissor ao formação do professor de História é importante, não só para entendê-las reconhecimento do potencial cognitivo da iconografia. como documento ou um tipo de linguagem a ser utilizada pelo professor em Na ótica de Ulpiano Bezerra, a imagem não pode ser encarada como seu trabalho em sala de aula, como também no sentido de apreendê-las mera ilustração do real, mas como coisa intrinsecamente pertencente a ele e como conteúdo curricular, isto é, como conteúdo a ser ensinado” às práticas materiais que a envolvem. A iconografia não pode ser vista (SCHMIDT, 2002:171). como à margem da história, mas na e parte dela. A imagem estaria, assim, dosada de uma historicidade própria. A prática mecanicista do uso novas formas de aprendizagem no ensino de História devem ser evitadas, pois comprometem o processo de Este autor afirma, ainda, que existe por parte da própria historiografia construção qualitativa do conhecimento, inibindo a capacidade do aluno no uma espécie de silenciamento do tratamento da imagem como documento que se refere a sua postura crítica diante da informação apresentada. As histórico, mesmo por parte daqueles que se apresentam como os maiores fontes iconográficas não devem ser usadas como mera ilustração. Elas nomes de então na área das novas abordagens históricas: Le Goff e Pierre devem ser tratadas como instrumento para a construção do saber histórico, Nora. Os estudos desenvolvidos são ao seu ver evasivos no tratamento colaborando na problematização dos conteúdos expostos e estimulam o historiográfico dado às imagens, no que o autor os chama de superficiais, aluno a ir além do tema abordado. www.fijav.com.br/revistaeletronica 51 www.fijav.com.br/revistaeletronica 52 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 O uso da iconografia na prática do ensino de história deve estabelecer Burke (1994) traça um amplo painel dos processos utilizados pela um diálogo entre a produção cultural da sociedade contemporânea e a corte de Luís XIV, por exemplo, com a finalidade de criar uma imagem, construção do conhecimento histórico propriamente dito. uma representação e mitos sobre a figura do rei. Cristina Bruzzo (2004) afirma que o nosso imaginário sobre outros Michel Vovelle (1987:93), na primeira parte de Ideologias e tempos e espaços é indelevelmente marcado pelo repertório visual que mentalidades, discute a relação entre iconografia e a história das povoa as várias expressões de nossa cultura. Para tanto, é preciso estar mentalidades, destacando a sua utilização por parte dos historiadores da atento às armadilhas resultantes das convenções presentes na iconografia do Idade Média que - ao analisarem ex-votos, altares, estátuas etc.- buscaram passado. traçar tanto uma geografia do sagrado como o perfil das sensibilidades Considerando que a iconografia é resultado de uma prática social e coletivas no passado. Os problemas levantados por Vovelle convergem para construída culturalmente, o estudo das representações, defendida pelo uma única questão: "Pode-se, efetivamente, elaborar uma verdadeira historiador francês Roger Chartier (1990:13), permite “ver uma coisa semiologia da imagem?” ausente quer como exibição de uma presença”. Ainda de Vovelle (1997), Imagens e Imaginário na História vêm Num trabalho desenvolvido por Fábio Vergara Cerqueira (2000) discutir algumas questões pertinentes ao uso da iconografia na história. sobre a iconografia dos vasos gregos antigos como fonte histórica, afirma Primeiro por ser uma contribuição essencial ao estudo das mentalidades, que iconografia, registrada nas pinturas que decoram os vasos gregos, é uma vez que somente nela ela se concretiza enquanto fonte histórica. produzida por artesãos, população de origem humilde e simples, distanciada Depois, porque ele considera a imagem como resultado da sensibilidade de da sofisticação dos debates filosóficos, do refinamento das récitas poéticas e uma época, ao passo que o pesquisador deva detectar as idéias-forças das das observações científicas. Para o pesquisador, remeter-se da tradição representações coletivas expressas nesses sistemas de símbolos, o que não literária à iconográfica significa colocar em relação o imaginário popular e poderia de deixar de ser também uma dos ofícios do professor de história. o das elites, a cultura dos excluídos e dos incluídos. Considerando, por O aspecto inovador da Nova História chega ao Brasil a partir dos exemplo, que a alfabetização no período clássico devia atingir, de forma anos 70 e com repercussões saudáveis no campo da prática do ensino de satisfatória, aproximadamente 15 a 20% da população, o entendimento das história. Tal evidência leva a crer que não há como desassociar a prática de informações visuais era irrestritamente acessível a amplas camadas, ensino do aspecto teórico-metodológico. contanto tivessem acesso a divisar os objetos decorados e dispusessem de códigos culturais para interpretá-los. www.fijav.com.br/revistaeletronica 53 www.fijav.com.br/revistaeletronica 54 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 “(...) essa grande mudança cultural e epistemológica envolve mudanças em termos de tecnologia e pedagógica e, portanto, novas compreensões da relação entre tecnologias e pedagogias, escolarização e cultura da mídia. Apenas agora estamos começando a registrar a importância educacional e cultural da imagem como princípio organizacional para as relações sociais e as subjetividades”. (GREEN, B.; BIGUN, C,1995) 2008 História exige um domínio consistente do conteúdo a ser trabalhado, bem como um acompanhamento das novas pesquisas e produções historiográficas, para que diferentes temas sejam incorporados aos conteúdos que serão trabalhados em sala de aula”. (SCHMIDT, 2002:176). O perfil dos professores de história no Brasil gira em torno da idéia de um serem sujeitos não muito dados à reflexão, em função da via Diante de tais considerações, torna-se evidente que não seja mais discursiva adotada pela maioria deles na prática de ensino. Tal possível imaginar que a história seja exclusivamente elaborada e ensinada representação leva a crer que ensinar história é uma tarefa muito fácil, por apenas por intermédio de discursos escritos. Para a história, a iconografia se não requerer, aparentemente, qualquer interferência de questões teóricas, apresenta como fonte de conhecimento visual da cena passada e, portanto, metodológicas e ideológicas, bastando apenas decorar e transmitir o que é como possibilidade de estudo desse passado ou resgate da memória do posto. homem e do seu entorno sócio-cultural. Este tipo de representação deposita, ainda, no professor a mazela de No âmbito da discussão didático-pedagógica, se nota uma crítica em ser um agente centralizador do saber histórico, ao passo em que o aluno se torno da prática de ensino de história em não se dá a devida atenção à parte transforma num receptor passivo de conteúdos constante no currículo de teórico-metodológica, o que para alguns tem engessado a área no sentido de história, mas nem sempre capaz de renovar a realidade por meio do proporcionar alterações e mudanças significativas. cotidiano da sala de aula, como o uso, por exemplo, da iconografia. A prática do ensino de história que leve em consideração o uso do A experiência em sala de aula nos permite trocar experiências com material iconográfico deve estar atenta à idéia de que ele não pode vir nossos alunos, além de termos diante de nós uma gama inesgotável de desassociado da noção de que é um elemento importante na sociedade fontes de pesquisa através do documento. Porque não acrescentarmos a tudo contemporânea e de que é preciso salientar a relação entre cultura e isso, além de lousa, giz e livro didático, a aprendizagem da História através educação (SCHMIDT, 2002). da iconografia. O professor de História deve alimentar no aluno o hábito ler o “(...) Se esse trabalho com imagens enquanto documento pressupõe que o professor domine conteúdos e competências específicas do uso escolar do documento e também da linguagem que ele for trabalhar, o recorte temático da www.fijav.com.br/revistaeletronica 55 material iconográfico que se apresentar, de modo especial nos livros didáticos, onde texto e imagem muitas vezes não se relacionam, servindo www.fijav.com.br/revistaeletronica 56 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 apenas como ilustração. Ainda que se leve em consideração o que Entre os elementos apontados por BITTENCOURT (2003:77), um GASKELL (1992:237) afirma sobre a maioria dos historiadores (e nesse chama a atenção no que se refere às ilustrações. No uso delas no livro contexto, professores de história também), que “são muitas vezes didático, a autora enfatiza o seu aspecto mercadológico e afirma despreparados para lidar com o material visual, muitos utilizando as categoricamente a interferência dos interesses de lucro até mesmo na imagens apenas de maneira ilustrativa”. escolha e aplicação das imagens nos livros didáticos, tolhendo a liberdade Enest Lavisse, em seu Historie de France (1887) destaca a de produção do autor, inclusive a nível técnico. importância da imagem para a compreensão da história. No livro, justifica o A autora ainda destaca que as representações do material iconográfico uso das mesmas como a necessidade de formar no aprendiz de história a são carregadas de conteúdo ideológico. Segundo ela, ao longo dos anos capacidade de desenvolver a inteligência e a memória, no que ele chamava predominou as representações da História Política, com ênfase nas figuras de “revisão pelas imagens”. administrativas e suas especificidades e variações, a exemplo das figuras de O texto acompanhado do material iconográfico tem sido uma das D. Pedro I e Getúlio Vargas. Com o avanço da História Social e Cultural, mais eficientes estratégias de aprendizagem nos livros didáticos de história. essa cena vai mudando de feição e outras representações até então ocultadas Ao longo da história da educação do Brasil isso é notório, especialmente ou deformadas aparecem como a tônica de trabalhos de História do Brasil, entre o final do século XIX e o início do século XX, onde os chamados como indígenas e negros. livros de leitura procuravam por meio de imagens, incutirem nas crianças mensagens como noções de higiene, moral e civismo. Se considerarmos o período compreendido entre os anos 1930-1945 no Brasil, ver-se-á que houve um investimento maciço em produção de O uso do conteúdo iconográfico no ensino de história não é uma material iconográfico, cuja finalidade fora a de criar uma imagem novidade desse século. Há muito se faz uso de ilustrações nos textos extremamente positiva de seu governante, o ditador Getúlio Vargas, escritos. Porém, nunca tão intensificado como nas práticas pedagógicas comumente e estrategicamente chamado de “pai dos pobres”. Para atuais, ainda mais como os surgimento e aprimoramento de novas mídias. A KORNIS (1988:72), “transformados em verdadeiros ícones ao longo das professora BITTENCOURT (2003) manifesta, nesse sentido, duas últimas cinco décadas, tais registros reinvetam a todo o momento o mito em preocupações que merecem um exaustivo debate. Primeiramente com torno de uma figura”. relação à escassez, dentro da questão ensino-aprendizagem do uso dessas Cabe, portanto, ao professor de história debruçar-se sobre tal imagens. Em seguida, com relação às mudanças, que embora pertinentes, problemática e tirar-lhe um proveito pedagógico, construindo entre outras venham a causar na aprendizagem de história. coisas, com seu aluno estratégias que não só desmistificam imagens www.fijav.com.br/revistaeletronica 57 www.fijav.com.br/revistaeletronica 58 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 construídas ideologicamente, como a de Getúlio Vargas, ao mesmo tempo de fontes a profícua iconografia da época (fotos de jornais e revistas, em que desenvolvam um senso crítico de leitura de imagens que lhe garanta gravuras, fotografias pessoais, entre outros, não só para reviver figurinos, habilidades que o cotidiano muitas vezes exigem em outras situações que estilos, comportamentos e até posturas dos personagens que outrora foram extrapolem a sala de aula. “(...) Imagens podem ser utilizadas para reais). quaisquer fins, não sendo por si só provas de verdade, muito embora não Com relação à figura de Tiradentes, as representações políticas possamos desconhecer a existência de um registro real na imagem também se fizeram presentes por meio do uso e do abuso do material documental” (KORNIS, 1988:73). iconográfico. De famigerado rebelde e perigo para a nacionalidade na abordagem da Monarquia Brasileira, na Republica, após 1889, torna-se “Ao considerar o livro como um documento, ele passa a ser analisado dentro de pressupostos da investigação histórica, portanto objeto produzido em um determinado momento e sujeito de uma história da vida escolar ou da editora. Nesse sentido, cabe ao professor a tarefa de utilizar uma metodologia que possibilite leitura e interpretação que desperte o sentido histórico nas relações triviais de sala de aula”. (BITTENCOURT , 2003:86). símbolo da causa republicana, transfigurando-se em herói e mártir, numa construção de fundamentação religiosa bastante evidente, dada a sua figura ser aproximada a de Cristo, como redentor de muitos, com pinturas lhe representando de cabelos longos, barba comprida e olhar de padecimento, a exemplo da tela de Pedro Américo (1843-1930), “Tiradentes Esquartejado”. Não seria diferente, entende-se, como o conteúdo iconográfico. O fato de um livro insistir em trazer a representação tradicional de um momento da história (Independência do Brasil) não impede que alunos e professor possam se debruçar sobre aquela imagem e decifra-la sob todos os aspectos. O olho existe não para a conformação passiva do aprendiz, mas para o eterno olhar na melhor atitude de um estudioso incansável em absorver o real, ainda que em seu sentido abstrato. Essa nova postura permite a perspectiva de análise sobre o imaginário. Nas representações políticas construídas ao longo da história, permite ver a minissérie global JK como um elemento importante na Entre os mais afeiçoados à idéia libertadora, figurava um alferes de cavalaria, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Era um homem pobre, de coração generoso, inteligência viva, amante do progresso, um auto-didata, cheio de ardor e capaz de grandes empreitadas. (...) Não era nem sonhador, nem entusiasta vulgar. Tinha senso da realidade, espírito prático, realizador, produto que era de um meio, onde se cultivavam as letras, empreendiam-se organizações, lutava-se com a aspereza da terra e procurava-se disciplinar a fortuna. (...) Era o tipo representativo do brasileiro do século XVIII, cujas virtudes e qualidades os pósteros herdaram, nos seus cometimentos e empresas pela libertação moral, intelectual e econômica do Brasil, entre os quais citamos José Bonifácio, Cairú, Mauá, Rebouças e tantos outros. (VIANA, 1994:336) construção de uma identidade nacional coletiva. Seus autores se utilizaram www.fijav.com.br/revistaeletronica 59 www.fijav.com.br/revistaeletronica 60 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Chama à atenção a obra de Michel Vovelle (1997), onde o historiador O gosto pela pesquisa deve ser também um ingrediente importante procura mostrar as mudanças nas chamadas “mentalidades” a partir de uma nessa nova prática do ensino de história, uma vez que a iconografia passa a variação iconográfica das imagens da Revolução Francesa ou ainda dos ser encarada como documento capaz de permitir a investigação histórica. altares dedicados às almas do purgatório entre os séculos XV e XX. Faz-se necessário, assim, entender a prática pesquisa histórica no cotidiano Um dos campos mais privilegiados e mais fecundos da iconografia é das aulas de história, para que o aluno perceba que o conhecimento é o da religião e da religiosidade. Muitas das imagens estiveram associadas à construído e não repassado desgastantemente pelo professor. “Encaminhar ideologia cristã, especialmente na ótica do catolicismo. o processo ensino-aprendizagem nesta perspectiva é acreditar na capacidade “As comparações de ilustrações reproduzidas em momentos de raciocínio do aluno, proporcionado-lhe condições para raciocínios diferentes são necessárias para que alunos possam estabelecer relações críticos, criativos, sem deixar de considerar um certo rigor metodológico na históricas entre permanências e mudanças e para relativizar o papel que orientação sobre a busca do conhecimento.” (LUPORINI, 2002:200). determinados personagens tendem a desempenhar na História”, afirma Se a iniciativa do professor de história em fazer bom uso do material BITTENCOURT (2003:88). É o caso, por exemplo, da Lei Áurea e sua iconográfico em sala de aula for bem sucedida, ele estará formando, sem relação com a Princesa Isabel. Normalmente, as imagens utilizadas passam sombras de dúvidas, um sujeito com uma postura realmente historiográfica, a idéia de concórdia entre brancos e negros e a de heroísmo e humanidade capaz não só de dá conta do elemento aprendizagem (via ensino), mas da Alteza. Nesse sentido, as representações mais comuns dão conta de também de aguçar nesse profissional o gosto pela pesquisa e pela apresentar o 13 de maio como uma grande vitória ou a “redenção de uma construção do conhecimento histórico. raça” e garantia da paz e prosperidade social, desconsiderando, dessa forma, os longos anos de luta e resistência dos negros e os efeitos maléficos da Lei Áurea, especialmente no campo social, como os atuais problemas de Referências discriminação e miséria social dos descendentes daquele povo. A proposição do uso da iconografia no ensino de história implica, necessariamente, entender e encarar o ensino como produção do conhecimento e convite à pesquisa. Mais do que o docente, os cursos superiores de licenciatura em história devem formar o professor- ABREU, Martha e Soihet, Rachel (org.) Ensino de história: conceitos, temáticas e metodologia. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003. BARROS, José D´Assunção. Imagens da História. Revista Virtual de Humanidades, n. 10, v. 5, abr./jun.2004. pesquisador. www.fijav.com.br/revistaeletronica 61 www.fijav.com.br/revistaeletronica 62 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 BITTENCOURT, Circe. Livro didático e conhecimento histórico: Uma história do saber escolar. Tese de doutorado, Departamento de História, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP, São Paulo, 1993. FELDMAN-BIANCO, Bela e LEITE, Miriam L. Moreira (orgs.). Desafios da imagem. Fotografia, iconografia e vídeo nas ciências sociais. Campinas, São Paulo, Papirus, 1998. ____________________. Livros Didáticos entre Textos e Imagens. In. 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SIMAN, Lana Mara de Castro e FONSECA, Thais Nivia de. Encontrando a História e construindo a nação. Discursos e imagens no ensino da História. Belo Horizonte: Ed. Autêntica, 2001. Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 LITERATURA E CULTURA NO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA Ana Lúcia Simões Borges Fonseca Especialista em Metodologia do Ensino Superior e Mestranda em Língua Inglesa e suas Literaturas pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Professora do Curso de Letras Português / Inglês da Faculdade José Augusto Vieira. E-mail: [email protected] RESUMO Pretendemos, com este trabalho, fazer com que educadores/as e alunos/as reflitam sobre a importância de utilizar os textos literários nas aulas de língua estrangeira não apenas com o objetivo de decodificá-los, mas com a proposta de utilizá-los como mediadores na formação de sujeitos verdadeiramente críticos, ativos e leitores das relações do mundo. Pretendemos, também, tratar da relevância que tem a literatura no sentido de permitir um diálogo interdisciplinar e, sobretudo, VOVELLE, Michel. Ideologia e mentalidades. São Paulo: Brasiliense, 1987. demonstrar qual a sua contribuição em se tratando do ensino/aprendizagem do inglês como língua estrangeira. ________________. Imagens e Imaginação na História. São Paulo: Ática, 1997. VIANA, Artur Gaspar. História do Brasil para a 3ª série ginasial. São Paulo: Editora do Brasil, 1944. (livro didático) www.fijav.com.br/revistaeletronica 65 Palavras-Chave: Língua; Literatura; Cultura ABSTRACT This article aims at making teachers and students reflect on the importance of using literary texts in the foreign language classes, not only with the purpose of interpreting them, but with the purpose of using them to mediate the formation of critical and active individuals, who are able to read the world’s relations. We also highlight the relevance of Literature in what concerns its interdisciplinary approach and show its contribution towards the teaching and learning of English as a foreign language. Key words: Language; Literature; Culture www.fijav.com.br/revistaeletronica 66 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 1-INTRODUÇÃO 2008 Esses fatores, associados a uma série de observações concernentes à nossa prática com o ensino de Língua Inglesa e suas Acreditamos ser a literatura uma importante faceta das manifestações culturais e leitura que objetiva gerar reflexão, conscientização e atuação dos indivíduos sobre si próprios e sobre o mundo que os cerca. Acreditamos, também, ser a literatura constituída de aspectos dinâmicos, os quais oportunizam transformações e acompanham as mudanças do mundo podendo, portanto, propiciar mudanças significativas no nosso sistema educacional. Sistema este que, infelizmente, encontra-se distante dos ideais educacionais e o qual, para atender às condições histórico-sociais que lhe são impostas no decorrer de séculos e sobre as quais não objetivamos discorrer no dado momento, ainda se desenvolve muito mais no plano da manutenção do que no da criação dificultando, sobremaneira, a liberdade de inovar. Assim sendo, pretendemos, com este trabalho, fazer com que educadores/as e alunos/as reflitam sobre a importância de utilizar os textos literários nas aulas de língua estrangeira não apenas com o objetivo de decodificá-los, mas com a proposta de utilizá-los como mediadores na formação de sujeitos verdadeiramente críticos, ativos e leitores das relações do mundo. Pretendemos, também, tratar da relevância que tem a literatura no sentido de permitir um diálogo interdisciplinar, chamando a atenção de outras áreas do conhecimento para problemáticas dentro das quais as mesmas se inserem e, sobretudo, demonstrar qual a sua contribuição em se tratando do ensino/aprendizagem do inglês como língua estrangeira. www.fijav.com.br/revistaeletronica 67 Literaturas e que têm nos mostrado o quão desconhecido ainda é o terreno literário para muitos/as alunos/as que ingressam no curso de Letras Português/Inglês inseguros, angustiados e tementes em relação aos estudos literários e, muitas vezes, descrentes em relação às suas habilidades e percepções, vêm reforçar esta nossa proposta, no sentido de fazer com que haja reflexões sobre a necessidade premente de se utilizar a literatura no ensino/aprendizagem do inglês como língua estrangeira. Portanto, não hesitamos em sugerir a incorporação do uso de atividades que visem integrar a leitura de textos literários em língua estrangeira às propostas curriculares dos ensinos Fundamental e Médio, visando fazer com que os/as alunos/as, desde cedo, tenham a chance de conhecer e vislumbrar as inúmeras possibilidades que esta integração língua/literatura lhes pode proporcionar. Pensamos que tal mudança far-seia de fundamental importância, uma vez que prepararia os/as alunos/as para compreender que eles/as sempre terão algo a dizer a respeito de um texto literário e que o caminho da literatura está repleto de descobertas fascinantes, mas precisa ser trilhado. Afinal, como propõem Collie e Slater8 ao tratar da literatura (1987, p.16), é importante que os alunos sintam que seus conhecimentos e experiência de vida podem oferecer valiosa orientação. 8 It is important for learners to feel that their knowledge and life experience can still provide valuable guidance. www.fijav.com.br/revistaeletronica 68 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Considerando esses aspectos que norteiam a nossa proposta, faz-se importante ressaltar que procuramos pautá-la, também, nas idéias Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 esses benefícios, desde que o/a professor/a faça uma seleção equilibrada de atividades e as apresente com confiança. 9 de Culler (1997, p.43), que diz ser de particular relevância o estudo de Os objetivos culturais e literários concernentes à nossa culturas instáveis e identidades culturais que surgem para grupos – proposta tratarão, respectivamente, da questão da discriminação e minorias étnicas, imigrantes, mulheres – que podem ter problemas em se preconceito e das imagens utilizadas nos poemas para construir a idéia de identificar com a cultura mais ampla na qual se encontram – uma cultura não-pertencimento. Quanto aos objetivos lingüísticos, faz-se importante que é em si mesma uma construção ideológica em constante mutação; de destacar que a falta de leitura de textos literários em língua estrangeira 10 Kramsch (1993, p.205), ao citar o fato de o pensamento tradicional no ainda tem dificultado e comprometido a compreensão dos/as alunos/as ao ensino de LE ignorar o fato de que boa parte do que chamamos cultura é se depararem com os mesmos. Mediante o exposto, e com o intuito de, um construto social, o produto da percepção de si mesmo e dos outros e, paulatinamente, mudar este quadro de perplexidade por parte dos/as 11 (1987, p.10) que sugerem alunos/as, buscamos desenvolver este trabalho de forma que estes/as se uma abordagem através da qual os/as alunos/as possam aproveitar os sentissem confiantes para debater sobre a temática proposta utilizando a benefícios de atividades comunicativas e outras atividades para o língua alvo o máximo possível13, no caso o inglês, a fim de que, ao aprimoramento da língua dentro de contextos de trabalhos adequados de término dos trabalhos, estivessem aptos a redigir um texto expressando finalmente, na proposta de Collie e Slater 12 literatura. Ainda segundo Collie e Slater (1987, p.10), compartilhar suas percepções acerca dos temas sobre os quais versou a temática em literatura com os alunos é um estímulo para que eles possam adquirir questão: discriminação, cultura, minorias e/ou outros que pudessem advir das discussões. Dessa forma, acreditamos ser possível integrar, por meio dos 9 Particularly important, therefore, has been the study of unstable cultures and cultural identities that arise for groups – ethnic minorities, immigrants, women – that may have trouble identifying with the larger culture in which they find themselves – a culture which is itself a shifting ideological construction. 10 It (=traditional thought) has usually ignored the fact that a large part of what we call culture is a social construct, the product of self and other perceptions. 11 The overall aim, then, of our approach to the teaching of literature is to let the student derive the benefits of communicative and other activities for language improvement within the context of suitable works of literature. 12 Sharing literature with students is a spur to their acquiring these benefits, providing teachers make a balanced selection of activities and present them with confidence. Todas as traduções são minhas. www.fijav.com.br/revistaeletronica 69 textos literários, as quatro habilidades de uma maneira diferenciada e interessante, demonstrando, sobretudo, quão significativa e possível pode ser a integração língua, literatura e, por conseguinte, cultura. 13 Com o intuito de não inibir a participação dos/as alunos/as, permitir-se-á, também, o uso da língua materna, caso haja necessidade. www.fijav.com.br/revistaeletronica 70 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 A idéia para a elaboração desta proposta, surgiu durante as leitura. Para atingir tal objetivo, consideramos ser necessário levar em aulas do mestrado, na disciplina Literatura e o Ensino de Inglês como conta o interesse que eles/as possam ter pelo tema proposto e as reações LE, quando das entusiasmadas e eloqüentes apresentações de poemas que os textos selecionados possam vir a despertar nos/as mesmos/as, já declamados pela Professora Ildney Cavalcanti, e dentre os quais que esses podem constituir-se em fatores indispensáveis para fazer com chamaram a minha atenção os poemas de Phillis Wheatley e Grace que eles/as queiram ler os textos literários. Nichols. Ao atentar-me às observações feitas pela professora, veio-me à Visando, portanto, atingir a meta supracitada, utilizamos a mente uma discussão mantida com os/as alunos/as do curso de Letras canção London, London, de Caetano Veloso, como uma atividade Português/Inglês do Projeto de Qualificação Docente (PQD), na aula de introdutória. Além do atrativo da música, a escolha desta canção deveu- Literatura Norte Americana, sobre o Dia da Consciência Negra, se ao fato de ela já ser conhecida pelos/as alunos/as e, sobretudo, por comemorado no dia 20 de novembro, e que me parecera suscitar grande estar relacionada à temática dos dois poemas a serem analisados. interesse por parte dos/as mesmos/as. De imediato, reportei-me à música Pensamos, pois, propiciar com essa estratégia, uma maior identificação London, London, de Caetano Veloso, associando-a aos dois poemas os inicial por parte dos/as alunos/as e, a qual, segundo a nossa percepção, quais, por sua vez, também me pareceram estar relacionados à poderia ser decisiva para um bom encaminhamento do processo como problemática debatida previamente em sala de aula. Concluí, portanto, um todo. O uso da canção também visou permitir que os alunos que os textos adequar-se-iam a uma possível atividade a ser desenvolvida percebessem o quão interessante é fazer a ponte entre diferentes nas aulas de inglês e resolvi executá-la. Mediante os resultados obtidos, e momentos, culturas e autores. Após ouvirem a música, a professora os quais os alunos/as consideraram bastante satisfatórios, esperamos que explanou sobre possíveis dúvidas referentes ao vocabulário14 e falou outros se interessem e possam vir a executar e/ou adaptar a proposta ora sobre a vida de Caetano Veloso, sobre o momento em que ele compôs a sugerida. canção e sobre o motivo principal que o levou a fazê-lo, sempre solicitando e incentivando a participação dos/as alunos/as para que 2-DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE levantassem questionamentos ou dessem contribuições pertinentes à discussão. Ao término das discussões, a pedido dos/as alunos/as, a Consideramos ser de suma importância conseguir, satisfatoriamente, despertar nos/as alunos/as a curiosidade e o prazer pela www.fijav.com.br/revistaeletronica 71 professora executou mais uma vez a canção e, em seguida, distribuiu 14 O/A professor/a poderá esclarecer as dúvidas lexicais antes da execução da música. www.fijav.com.br/revistaeletronica 72 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 cópias dos dois poemas a serem analisados, juntamente com uma sucinta desta vez revelando-lhes quaisquer aspectos que tivessem passado biografia de suas autoras: On Being Brought from Africa to America, de despercebidos e/ou não tivessem sido citados por eles/as como, por autoria de Phillis Wheatley, e The Fat Black Woman Goes Shopping, exemplo, a questão das minorias e do não-pertencimento a outras escrito por Grace Nichols. Pediu-se aos/às alunos/as apenas que eles culturas. Após exaustivos comentários acerca dos poemas, deu-se a fizessem a leitura em casa para discussão na aula subseqüente. Findou-se, finalização do segundo momento e a professora solicitou aos /às assim, o primeiro momento do trabalho. alunos/as que, na aula seguinte, cada grupo expusesse o seu trabalho, Deu-se início aos trabalhos do segundo momento com uma considerando as discussões conduzidas no decorrer do processo e, pequena discussão sobre as interpretações e impressões dos/as alunos/as sobretudo, ressaltando as suas impressões sobre a proposta desenvolvida. em relação aos textos. As perguntas, inicialmente, versaram sobre os Durante a apresentação, a professora responsabilizou-se em fazer todos temas e as idéias principais encontradas nos mesmos e a professora não os comentários e colocações pertinentes às temáticas apresentadas, com o fez comentários e/ou perguntas complexas que viessem a inibir a fala intuito de explicitar quaisquer dúvidas e/ou esclarecer questões que dos/as alunos, já que o objetivo era deixá-los/as à vontade para que pudessem comprometer as apresentações, sempre observando a pudessem expor as suas idéias. Em seguida, a professora falou participação e interação dos/as alunos/as e motivando-os/as a exaustivamente sobre as autoras dos poemas e sobre o momento em que expressarem suas idéias. Ao término das apresentações, e para encerrar o compuseram as suas obras pedindo, em seguida, que os/as alunos/as processo, pediu-se que cada aluno/a redigisse, em casa, um texto acerca fizessem uma segunda leitura dos poemas, agora em pequenos grupos. da temática ora exposta, finalizando, assim, os trabalhos. Formados os grupos, foram distribuídas atividades referentes aos dois Em suma, acreditamos que atividades como esta, além de poemas para que os/as alunos/as pudessem refletir sobre questões mais despertarem um maior interesse por parte dos/as alunos/as pela literatura, específicas em relação aos mesmos, além de oportunizar uma maior permitem-lhes aprimorar os seus conhecimentos e habilidades na língua interação entre os seus componentes; neste momento, a professora atuou inglesa e, também, adentrar discussões em outras áreas de conhecimento, como mediadora das discussões, esclarecendo dúvidas e levantando tais como a história, a geografia, etc., mostrando-lhes que língua, alguns questionamentos a fim de manter os/as alunos/as engajados/as na literatura e cultura realmente podem e devem caminhar lado a lado. atividade. Permitem-lhes, também, perceber que o medo, a insegurança, a incerteza, Finalizada a atividade, a professora perguntou aos/às a perplexidade e outros sentimentos que muitas vezes parecem ser alunos/as quais tinham sido as suas impressões após a segunda leitura, inibidores podem, na verdade, passar a ser a mola propulsora que os/as www.fijav.com.br/revistaeletronica 73 www.fijav.com.br/revistaeletronica 74 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 leva a buscar entender o que trazem consigo os textos literários e o quão objetivos lingüísticos ainda foram os mais privilegiados, considerando o intrigante é o universo que os constitui. Entender que, muitas vezes, a fato de que, infelizmente, os/as alunos/as ainda não tinham uma aguçada escuridão é necessária para motivar-nos a buscar a claridade. Entender percepção que lhes permitisse adentrar nos pormenores das questões que é do não entendimento que se fazem as grandes descobertas. literárias e/ou discutir as suas sutilezas. Entender que o caminho que permeia o claro no escuro é exatamente o caminho que eles/as se propuserem a trilhar... Visando, portanto, permitir que os/as alunos/as sejam cada vez mais estimulados/as a querer participar das discussões literárias e se sintam realmente preparados/as e confiantes para isso, esperamos que 3-PERFIL DO GRUPO atividades como a que propusemos venham a ser trabalhadas com mais freqüência pelos/as professores/as de Língua Inglesa e suas Literaturas, Embora acreditemos na possibilidade e necessidade de se trabalhar com os textos literários desde o ensino fundamental, sugere-se que a atividade aqui proposta seja desenvolvida com alunos/as de nível com o intuito de que, cada vez mais, haja uma integração entre as duas disciplinas e o terreno literário, ainda árido e pouco explorado por muitos, possa vir a gerar frutos. Irriguemo-lo, pois! intermediário e/ou avançado15, considerando o grau de dificuldade dos textos no que diz respeito às questões de vocabulário e à problematização 4-REFERÊNCIAS por estes sugerida. Outros aspectos que foram levados em consideração para a escolha dos níveis com os quais pensamos em trabalhar, bem como para a escolha da atividade, foram condizentes com a maturidade intelectual do grupo, seu embasamento cultural e literário e os seus interesses. Assim sendo, embora acreditemos ter atingido satisfatoriamente os objetivos literários voltados para esta proposta, observamos que os 15 Entenda-se como alunos/as de nível intermediário e/ou avançado, aqueles/as que sejam capazes de fazer uso, o máximo possível, da língua alvo, no nosso caso do inglês, seja para participar das discussões, seja para redigir o texto final ao término do trabalho proposto. www.fijav.com.br/revistaeletronica 75 COLLIE, Joanne & SLATER, Stephen. Literature in the Language Classroom – A Resource Book of Ideas and Activities. Cambridge: Cambridge University Press, 1987. CULLER, Jonathan. Literary Theory - A Very Short Introduction. Oxford: Oxford University Press, 1997. HOUAISS, Antônio. 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She was captured by www.fijav.com.br/revistaeletronica 77 www.fijav.com.br/revistaeletronica 78 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 slave traders and brought to America in 1761. Purchased by John Wheatley, brought her to America; Wheatley was the surname of her master. She died a tailor from Boston, Phillis was taught to read by one of Wheatley's in Boston, in 1784. daughters. Phillis studied English, Latin and Greek and in 1767 began writing poetry. Her first poem was published in 1770. Phillis Wheatley caused a stir in white society when a book of her poetry http://www.spartacus.schoolnet.co.uk/USASwheatley.html was published in England in 1773. At the time, many whites considered blacks to be inferior. They wondered how a girl brought from Africa at 8 years of age could be reading Latin and writing poetry in the style of the ANEXO C – Phillis Wheatley’s Poem “On Being Brought from Africa to America” great English poets of the age by the time she was 12 years of age. Even though Wheatley lived with a family who recognized her talent and promoted the publication of her work, the public was highly skeptical. On Being Brought from Africa to America Wheatley had to be examined by prominent members of Boston society who finally attested, in a letter to the public, that she was capable of writing Phillis Wheatley the poems. Due to that, the assumption about the inferiority of blacks was brought into question. People believed that Africans were not fully human because they had no written literature. The fact that African literature followed an oral, rather than written, tradition was ignored. Whether or not her poetry 'TWAS mercy brought me from my Pagan land, Tought me benighted soul to understand convinced people otherwise, Wheatley's writing was well received. That there's a God, that there's a Saviour too: Wheatley was the first American woman and the first black writer to Once I redemption neither sought nor knew. publish a book in North America. Phillis was the name of the boat that www.fijav.com.br/revistaeletronica 79 Some view our sable race with scornful eye, www.fijav.com.br/revistaeletronica 80 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 "Their colour is a diabolic die." Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Grace Nichols was born in Georgetown, Guyana, in 1950 and grew up in a small country village on the Guyanese coast. She moved to the city with her Remember, Christians, Negros, black Cain, family when she was eight, an experience central to her first novel, Whole of a Morning Sky (1986), set in 1960s Guyana in the middle of the country's May be refin'd, and join th' angelic train. struggle for independence. She worked as a teacher and journalist and, as part of a Diploma in http://www.theotherpages.org/poems/2001/wheatley0101.html Communications at the University of Guyana, spent time in some of the ©2001 Poets' Corner Editorial Staff, All Rights Reserved Worldwide most remote areas of Guyana, a period that influenced her writings and initiated a strong interest in Guyanese folk tales, Amerindian myths and the ANEXO D – Grace Nichols’ Biography South American civilisations of the Aztec and Inca. She has lived in the UK GRACE NICHOLS since 1977. Her first poetry collection, I is a Long-Memoried Woman, was published in 1983. The book won the Commonwealth Poetry Prize and a subsequent film adaptation of the book was awarded a gold medal at the International Film and Television Festival of New York. The book was also dramatised for radio by the BBC. Subsequent poetry collections include The Fat Black Woman's Poems (1984), Lazy Thoughts of a Lazy Woman (1989), and Sunris (1996). She also writes books for children, inspired predominantly by Guyanese folklore and Amerindian legends, including Come on into My Tropical Garden (1988) and Give Yourself a Hug (1994). Everybody Got A Gift (2005) which includes new and selected poems. Photo: © Penguin Her most recent collection is Startling the Flying Fish (2006), poems which tell the story of the Caribbean. www.fijav.com.br/revistaeletronica 81 www.fijav.com.br/revistaeletronica 82 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 She lives in England with her partner, the poet John Agard. Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 thinking she don’t notice Lord is aggravating Author Profile - www.contemporarywriters.com Wednesday, January 23, 2008. Copyright © Booktrust, British Council, the authors, the photographers. Produced by the Literature Department of the British Council in association with Booktrust. Nothing soft and bright and billowing to flow like breezy sunlight when she walking The fat black woman curses in Swahili/Yoruba ANEXO E – Grace Nichols’ Poem “The Fat Black Woman Goes Shopping” and nation language under her breathing all this journeying and journeying The Fat Black Woman Goes Shopping The fat black woman could only conclude Grace Nichols that when it come to fashion the choice is lean Shopping in London winter Nothing much beyond size 14 is a real drag for the fat black woman going from store to store http://www.pearsonpublishing.co.uk/education/samples/S_493419.pdf in search of accommodating clothes and de weather so cold Reproduced with permission of Curtis Brown Ltd, London on behalf of Look at the frozen thin mannequins Grace Nichols. Copyright © Grace Nichols 1984 fixing her with grin and de pretty face salesgals exchanging slimming glances www.fijav.com.br/revistaeletronica 83 www.fijav.com.br/revistaeletronica 84 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 APÊNDICES APÊNDICE A – Activity on Phillis Wheatley’s Poem APÊNDICE B – Activity on Grace Nichols’ Poem ACTIVITY ON THE POEM ACTIVITY ON THE POEM THE FAT BLACK WOMAN GOES SHOPPING ON BEING BROUGHT FROM AFRICA TO AMERICA by by GRACE NICHOLS PHILLIS WHEATLEY 1- What were your first impressions about the poem? 2- Did you like it? Why (not)? 1- What were your first impressions about the poem? 3- List some of the words and phrases the author uses to describe the background of the poem. 2- Did you like it? Why (not)? 4- Is there any relation between the fat black woman and the weather in the poem? If so, is it important? Why? 3- Why does the author make use of some words in italics? Discuss such usage. 5- Does the fat black woman experience any sort of prejudice? Where can we find it in the poem? 4- Comment on the use of the words God and Saviour. Are they related in a way? 5- What do you think the author meant by using the word benighted? 6- Who is the author referring to when she uses the word some? 7- Spot the grammatical mistakes that can be found in the poem and explain what the author wants to convey by using them. 7- “Their color is a diabolic die”. Who says so and why? 8- Comment on the use of the word journeying in the text. What does the author really mean? 8- Comment on the use of the imperative Remember. 9- What could you learn from the poem? www.fijav.com.br/revistaeletronica 6- Comment on the fat black woman’s response to the salesgirl. 9- What do the two texts analysed have in common? In what way are they related to Caetano Veloso’s song? Justify your answer. 85 www.fijav.com.br/revistaeletronica 86 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 O BRASIL DAS INCOERÊNCIAS 2008 Foi criado o FGTS para beneficiar o trabalhador, assegurar uma Professor Edílson de Araújo Santos - (Matemática – FJAV) Deve pagar imposto quem tem condições e pode ajudar a quem nada tem. Deve pagar mais impostos, quem tem mais – que grandeza tributária! Imediatamente vem a pergunta: Que país é esse? No nosso país as coisas são diferentes, ou seja, quem tem muito não paga nada, paga pouco, sonega, cria fundações fantasmas, recebe incentivos fiscais ou ajuda internacional. No país do carnaval e do Lula cria-se um imposto a cada sessão parlamentar, através de medidas provisórias, que não deixa de ser um Decreto – Lei (AI-5 e cia.) disfarçada, muito usada no regime militar de 64. Vamos citar algumas aberrações tributarias: cria-se um imposto compulsório sobre combustíveis, carros novos e viagens internacionais, que nunca será devolvido, e qual a finalidade? Cria-se uma CPMF que se dizia provisória e que já estava a caducar, para financiar a saúde, e no fim se descobre que não foi nada disso, foi apenas para reforçar o caixa do governo, pois a saúde continua em estado terminal nas UTI´s das cidades deste imenso manicômio chamado Brasil. E agora, depois de prorrogar o prazo de contribuição da dita cuja e aumentando o seu percentual de 0,30% para 0,38% dando como justificativa a criação de Fundo de Apoio a Pobreza – pelas experiências anteriores foi mais um engodo contra o povo, que continua de mal a pior, mas a CPMF foi extinta por uma discursão entre o governo e a oposição. Hoje o governo Lula envia uma nova proposta de se criar não a CPMF mais sim um outro imposto que tenha a mesma finalidade da anterior com uma taxa de 0,1%. www.fijav.com.br/revistaeletronica Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 velhice tranqüila, porém com esse dinheiro o governo constrói casas populares, via BNH, hoje com a CEF, mas quando o fundo quebrar, o trabalhador terá que arcar com o prejuízo. Foi criado o INSS para cuidar da previdência social, e o que acontece? Para cada rombo que surge, por culpa da desonestidade e corrupção de funcionários, auditores e juízes, o trabalhador é taxado mais e mais, e o rombo continua, e os fraudadores se multiplicam e se especializam. E quando por acaso, alguns são presos, o dinheiro não volta na sua totalidade aos cofres públicos, raramente os bens são confiscados, e a vida continua. Privatizam-se empresas estatais viáveis, competentes, leiloadas a preços mínimos, e o dinheiro se evapora, e as dividas externa e interna continua a níveis estratosféricos, tudo em nome de um neoliberalismo tupiniquim. As empresas estatais, órgãos públicos, ministérios, governos estaduais e municipais terceirizam seus serviços, alguns essenciais, visando torna-se mais eficientes – mas pura ilusão! Ou será que fazem de má fé, para beneficiar amigos e correligionários? Pois tudo continua como estava antes, ou pior – péssimo serviço, altos custos e total desrespeito á população e nenhuma economia para os órgãos ou empresas publicas. Criaram uma Lei de Incentivo á Cultura (Lei Sarney) – mas que cultura? Da soja, do café ou da chuchu? Porque obrigar um pai da família a por o filho na escola, sob pena de punição em troca de R$ 90,00 por mês, é piada de mau gosto. Impedir que se faça dedução no imposto de renda, com gastos referentes á compra de livros técnicos, cursos de informática e idiomas, são realmente de deixar o mundo civilizado de queixo caído com tanto incentivo á tal 87 www.fijav.com.br/revistaeletronica 88 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 cultura e educação. Mas nem tudo esta perdido – o credito educativo é mentes dominantes que temos, o futuro é incerto e tenebroso. O Brasil oferecido a estudantes carentes, a juros de mercados, sem carência e o passa formando começa a pagar – ló um ano após a formatura. Pergunta-se: Com responsabilidade, que emprego com que experiência profissional irá pagar o debito? É uma comprometidos com o social, com a segurança, com a saúde, com a piada não? educação, com a habitação popular. A fome e a miséria deste país, rico para por uma serie de crise valores de identidade, morais, com de honestidade, carência de de cidadãos A tabela do imposto de renda foi reformada, enquanto isso o salário uns e miserável para a grande maioria de sua população, que é sofrida, mínimo aumenta todo ano, a inflação continua existindo. Enquanto isso, a carente e marginalizada é incontestável, desumano. Dizer que este país é Receita Federal comemora recordes de arrecadação. Com a tabela nova, serio, tem futuro promissor e que estamos há um passo do primeiro mundo, sem aceitar as deduções acima citadas e outras que fogem ao meu é na melhor das hipóteses, na melhor das intenções quererem alienar a conhecimento, precisa ser muito inteligente para perceber quem esta todos, ou então querer levar o primeiro mundo para a´idade da pedra. pagando a conta? Mas o combate à sonegação fiscal, aos grandes A pergunta que se faz é a seguinte: Até quando o povo brasileiro empresários, aos CPF´s fantasmas, ao caixa 2 das empresas, não passa de vai continuar sofrendo, chorando, torcendo pela seleção brasileira e cena e papo de vendedor de ilusões. O que é notório e incontestável é que o brincando carnaval o ano inteiro, lembrando os velhos costumes romanos? trabalhador continua carregando esse país nas costas – desde o inicio Até quando continuará elegendo e sustentando os corruptos e insanos? Seria do´plano Real que o homem do campo juntamente com os demais cômico se não fosse trágico e tendencioso – a receita federal impede a trabalhadores assalariado tem dado o sangue para manter viva a esperança dedução no imposto de renda, gastos com a compra de óculos, aparelhos de de dias melhores. Os trabalhadores carregam um bando de ociosos e mal surdez e compra de remédios – Será que se encontra critico mais intencionados, nas repartições publicas, nos governos, no sistema financeiro conveniente: cego, surdo e doente? Enfim, até quando o cidadão vai e um congresso, que quando faz alguma coisa é quase sempre causa própria continuar pagando o pato. Alias, pagar o pato é redundância, pois o e fins escusos, sobrando migalhas para o povo, e ainda tem o desplante de trabalhador vai continuar sendo o pato, o avestruz e até o vira-lata nas mãos ficarem a lavar a roupa suja, fruto de suas maracutais, na frente de toda deste governo pobre de decisões, pobre de credibilidade e rico de população pacata e submissa. desilusões. E os desmandos continuam – a insegurança, o desemprego, e o Se a esperança é a ultima que morre, já podemos ministrar a povo a perder a paciência e a esperança de dias melhores para si, sua extrema-unção para o povo brasileiro e desejar uma grata acolhida junto ao família e para as futuras gerações, pois como as coisas estão e com as criador. www.fijav.com.br/revistaeletronica 89 www.fijav.com.br/revistaeletronica 90 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 AVALIAÇÃO DOS MALAGUETA CAPSAICINÓIDES EM 2008 PIMENTAS João Antonio Belmino dos Santos, Ds.C; Email: [email protected]. Gabriel Francisco da Silva, Ds.C – Universidade Federal de Sergipe E-mail: [email protected]. Lilia Calheiros de Oliveira, Eng. de Alimentos; E-mail: [email protected]. Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 INTRODUÇÃO A indústria de processamento de hortaliças vêm apresentando importância crescente no mercado nacional, pelas suas características de alta produtividade, alta rentabilidade por área e por unidade de capital investido, além de sua importância social1. A pimenta-malagueta (Capsicum ssp) é um arbusto pequeno pertencente a família das solanáceas, nativo de regiões tropicais e muito RESUMO O cultivo de pimentas malagueta (Capsicum spp) para aplicação na indústria de alimentos vem crescendo a cada ano, tornando uma atividade bastante rentável economicamente. O sabor picante dos frutos provém da ação de uma substância denominada capsaícina que é acumulada pelas plantas no tecido da superfície da placenta e é liberada pelo dano físico às células quando se extraem sementes ou corta-se o fruto para qualquer fim. O objetivo deste trabalho foi verificar a ardência em pimentas malaguetas por cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC). Palavras-chave: capsaicinóides, processo; análises. cultivada no Brasil. O arbusto possui flores alvas e frutos vermelhos bastante picantes, utilizados como condimento e excitantes do aparelho digestivos, sendo utilizados na América Latina desde a época prehispánica2. A principal característica do fruto da pimenta é a pungência, conferida por substâncias alcalóides denominados capsaicinóides dos quais, aproximadamente, 90% encontram-se na placenta dos frutos3 citado por4. Os principais capsaicinóides encontrados na pimenta malagueta são os seguintes: ABSTRACT EVALUATION OF CAPSAICINOIDS IN PEPPERS MALAGUETA. The cultivation of peppers malagueta (Capsicum spp) for application in the industry of foods comes growing to every year, turning a quite profitable activity economically. The spicy flavor of the fruits is the action of a substance denominated capsaicin that is accumulated by the plants in the fabric of the surface of the placent and it is liberated by the physical damage to the cells when seeds are extracted or the fruit is cut for any end. The objective of this work went verify to capsaicin in peppers malaguetas high performance liquid chromatography (HPLC). Capsaicina Keywords: capsaicinoids; process; analyses. www.fijav.com.br/revistaeletronica 91 www.fijav.com.br/revistaeletronica 92 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Dihidrocapsaicina Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 atividade bastante rentável de grande importância sócio-econômica. Contribuindo como fonte geradora de renda e sustentabilidade da atividade rural. O presente trabalho teve por objetivo quantificar os capsaicinóides presente em pimentas malagueta após trinta dias de maturação em solução de cloreto de sódio na concentração de 12%. Nordihidroxicapsaicina MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Análises Físicoquímica da Maratá Sucos do Nordeste Ltda e no Laboratório de Tecnologia de Alimentos-UFS. A indústria de processamento de pimenta é um mercado ascendente Matéria-prima em volume e importância. Os diferentes tipos de pimentas apresentam A matéria-prima foi pimentas malagueta, utilizadas para a produção diversas formas de preparo e de consumo, sendo uma das hortaliças mais de molhos. Os lotes de sementes de pimenta malagueta foram adquiridos versáteis para a indústria de alimentos. As pimentas doces e picantes podem dos produtores do Município de Lagarto-SE. Após a recepção, cada lote de ser processadas na forma de pó, flocos, picles, escabeches, molhos líquidos, semente foi homogeneizado com 12% de cloreto de sódio e em seguida conservas de frutos inteiros, geléias e etc. As pimentas picantes ainda são triturado em moinho de martelo. Nesta etapa foram coletadas amostras para utilizadas pela indústria farmacêutica e também pela indústria de análise dos capsaicinóides. 5 cosméticos . Trazem ainda benefícios para a saúde por sua atividade Cromatografia líquida de alta eficiência antioxidante e anticancerígena6,8. No Estado de Sergipe, especificamente no município de Lagarto, Os cromatogramas dos capsaicinóides foram obtidos utilizando-se atualmente o cultivo de pimenta-malagueta (Capsicum frutescens L.) é uma um cromatógrafo líquido constituído por conjunto de bombeamento www.fijav.com.br/revistaeletronica 93 www.fijav.com.br/revistaeletronica 94 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 quaternário de solvente, da marca VARIAN STAR, detector de arranjo de Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 RESULTADOS E DISCUSSÃO diodos e injetor Rheodyne (loop de 20µL). Foi usada uma coluna OMNISPHER 5 C18 (250 x 4,6mm) com partícula de 5µm e pré-coluna ChoromSep Guard Columm SS (10 x 3mm), fase móvel constituída de acetronitrila e água, com ácido acético 2% (80:20, v/v), desenvolvido isocraticamente a um fluxo de 1mL/min, tempo de corrida de 30min e comprimento de onda de 460nm; todos os solventes e grau cromatográfico foram previamente filtrados em membrana de 0,45µm antes de serem utilizados no equipamento7,9 . Na Figura 1 se encontram os resultados dos teores de ardência (SHU) obtidos para as sementes de pimentas malagueta utilizadas no presente estudo. Os resultados indicam que a ardência decresce significativamente em função do período de amostragem. Estes resultados comprovam os apresentados por10, que comparou a produção de capsaicina em pimentas da espécie Capsicum annuum L. var. annuum quando submetidas a condições de ausência de água e observou que as plantas Foram pesados com precisão 0,0200g de cada amostra e adicionados 5mL de acetona para facilitar a solubilidade do pigmento. Transferiram-se as amostras para balão volumétrico de 50mL completando- mantidas em tratamento de déficit de água apresentaram maiores concentrações de capsaicinóides em relação às amostras mantidas em condições normais de desenvolvimento. se com acetronitrila. Antes da análise por CLAE, as amostras foram filtradas em membrana de 0,45µm e acondicionadas em vials de cor âmbar. Expeimental Ajuste polinomial 40000 O padrão de capsaícina utilizado neste trabalho foi fornecido pela 2 SHU=42336,94-2725,82*Mêses-134,40*(Mêses) 2 R =98,44% 36000 Sigma-Aldrich. 32000 pimentas malagueta utilizado foi unidade de Scoville de calor (SHU). Essa é a unidade mais empregada para quantificação de ardência em pimentas. SHU Os resultados da quantificação dos capsaicinóides presentes nas 28000 24000 20000 Jan Fev Mar Abr Mai Mêses Figura 1. Ardência de pimentas durante período de cinco meses. www.fijav.com.br/revistaeletronica 95 www.fijav.com.br/revistaeletronica 96 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Os experimentos de cromatografia líquida de alta eficiência tiveram Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 CONCLUSÕES como finalidade avaliar as variações das concentrações de capsaicinóides em função do período de amostragem. Na Figura 2 estão apresentados os cromatogramas das amostras estudadas. Observou-se que em todas as amostras foram detectadas as presenças dos três picos correspondentes a Com base nos resultados obtidos na quantificação de capsaicinóides em pimentas malagueta, conclui-se que: capsaicina, nordihidroxicapsaicina e dihidrocapsaicina. Relata-se também que o principal componente de ardência das pimentas malagueta é a capsaicina. 1. A quantidade da ardência nas pimentas malagueta depende do período em que são colhidas. Os melhores resultados foram obtidos no período de Janeiro a Março. 2. Por cromatografia líquida de alta eficiência possibilitou quantificar os capsaicinóides presentes nas pimentas, sendo a capsaicina a substância em maior quantidade. REFERÊNCIAS 1. TORRES, S.B. Envelhecimento acelerado em sementes de pimentaFigura 2. Cromatogramas de pimentas durante período de cinco meses. www.fijav.com.br/revistaeletronica 97 malagueta (Capsicum frutescens L.). Revista Ciência Agronômica, v.36, n.1, p.98-104, 2005. www.fijav.com.br/revistaeletronica 98 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 2. NUNES, C. & RIBEIRO, N. Análise de pigmentos de pimenta malagueta 8. TOFANELLI, M.B.D.; AMAYA-ROBLES, J.E.; RODRIGUES, J.D.; por cromatografia em papel. II Congresso de Pesquisa e Inovação da ONO, E.O. Ácido giberélico na produção de frutos partenocárpicos de Rede Norte Nordeste de Educação Tecnológica, João Pessoa – PB, 2007. pimenta. Horticultura Brasileira, v.21, n.1, p.116-118, 2003. 3. ISHIKAWA, K.; JANOS, T.; SAKAMOTO, S.; NUNOMOURA O. The 9. Cázares-Sánchez, E.; Ramírez-Vallejo, P.; Castillo-González, F.; Soto- contents of capsaicinoids ant their phenolic intermediates in the various Hernández R. M.; Rodríguez-González, M. T. e Chávez-Servia, J. L. tissues of plants of Capsimum annuum. Capsicum and Eggplant Capsaicinoides y preferencia de uso en diferentes morfotipos de chile Newsletter, v.17, p.22-25, 1998. (capsicum annuum l.) del centro-oriente de Yucatán. Agrociencia. n.39, p.627-638, 2005. 4. WAGNER, C.M. Variabilidade e base genética da pungência e de caracteres do fruto: implicações no melhoramento de uma população de Capsicum annuum L. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, 10. SUNG, Y., CHANG, Y. e TING, N. Capsaicin biosynthesis in waterstressed hot pepper fruits. Botanical Bulletin of Academia Sinica. n. 46, p. 35-42, 2005. Piracicaba-SP, 104.p, 2003. 5. HENZ, G.P. & COSTA, C.S.R. Como produzir pimenta Embrapa Hortaliças. Embrapa Hortaliças e Frutas, nº 33, 7.p, 2005. 6. BIANCHINI, R.; PENTEADO, M. V. C. Carotenóides de pimentões amarelos (Capsicum annuum L.). Caracterização e verificação de mudanças com o cozimento. Ciência e Tecnologia dos Alimentos, 18 (3), 1998. 7. Parris, M. Liquid chromatographic method for determining capsaicinoids in Capsicum and their extractives. Collaborative study. J. AOAC-ASTA int. 79 (3): 738, 1996. www.fijav.com.br/revistaeletronica 99 www.fijav.com.br/revistaeletronica 100 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 CIDADE E MODOS DE VIDA: TRANSFORMAÇÕES SOCIOCULTURAIS EM ARACAJU Alysson Cristian Rocha Souza Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Alguns acontecimentos foram importantes para atribuir a capital sergipana o estatuto de cidade completamente urbanizada. Um dos principais fatores se deveu aos planos de Habitação e geração de empregos Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais e Mestre em Sociologia das Cidades pela Universidade Federal de Sergipe. Pesquisador do Laboratório de Estudos Urbanos e Culturais – LABEURC e Professor da disciplina Sociologia I do curso de Serviço Social da Faculdade José Augusto Vieira – FJAV. Endereço eletrônico: [email protected] desenvolvidos pelo Banco Nacional de Habitação – BNH. Resumo Aracaju passou por diversas mudanças no seu território desde o inicio das políticas de habitação iniciada nos anos sessenta. A intervenção do poder público na criação de novos conjuntos habitacionais apresentou uma mudança radical no espaço urbano, isso pôde ser visto no crescimento da população, assim como na localização das camadas sociais após o fim das politicas do Banco Nacional de Habitação, em que teve como resultado: as camadas de baixa renda ficaram situadas na zona norte e noroeste e as camadas de média e alta renda ocupando a zona sul. As transformações espaciais e sociais proporcionaram o surgimento de bairros que afirmaram essa condição. Bairros como Treze de julho, Inácio Barbosa, Atalaia, Grageru, São José e Jardins, entre outros, constituíram as atividades socioculturais antes desenvolvidas no Centro da cidade para a zona sul. Palavras-chave: Aracaju, Bairro Jardins e modos de vida. construção civil para os mais pobres. No entanto, esse plano acabou Este programa tinha como objetivo dar soluções para o déficit habitacional do país, ao mesmo tempo que geraria empregos na área da gerando graves problemas urbanos. As cidades escolhidas para tais intervenções foram as capitais que, por sua vez, não conseguiram solucionar o problema da falta de habitação e, além disso, assistiu ao aparecimento de outros problemas urbanos graves como, a violência urbana, a falta de infra-estrutura e o grande fluxo migratório que provocou um “inchaço” nessas cidades. Com isso, o aumento da desigualdade social, desemprego e formação de áreas precárias para a moradia contribuíram para a fragmentação socio-espacial dessas cidades. A última grande urbanização de Aracaju registrada entre os anos sessenta e oitenta proporcionou grandes mudanças no espaço e na sociedade. A começar pela modificação da referência de moradia das elites do Centro para a Zona Sul, além disso, as transformações socioculturais proporcionaram a ampliação de serviços e produtos voltados para as camadas sociais de maior renda. De fato esse desenho de Aracaju das últimas décadas do século XX pode estar diretamente associada as migrações provenientes do interior do estado e de outros estados. www.fijav.com.br/revistaeletronica 101 As ações do poder público contribuíram para fortalecer as empresas imobiliárias e suas ações no espaço urbano, já que estas tinham como trunfo um conjunto de fatores políticos, econômicos e sociais favoráveis e com uma demanda efetiva proveniente dos contratos firmados com o Estado. Foi a partir disso que Aracaju assistiu ao processo de uma nova estratificação para no seu espaço urbano. Foi na década de noventa que essa condição se realizou. Segundo França (1999), “A partir de 1996, o setor imobiliário começa a reagir no www.fijav.com.br/revistaeletronica 102 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 âmbito nacional e intensificam-se os lançamentos de prédios na cidade.”(p. sociedades completamente urbanizadas. (LEFEBVRE, 1999). A expansão 190). das atividades econômicas, principalmente na produção fabril e na A ascensão do mercado imobiliário acompanhou as transformações ampliação do comércio, e a densidade demográfica foram fatores sociais e culturais de Aracaju. Isso significa que as intervenções na região importantes para o surgimento de distintos modos de vida. Para esse autor, sul e sudoeste da cidade não se deram somente pelo processo de a urbanização ganha independência em relação a industrialização. especulação de suas terras, mas devido à escolha das camadas de maior renda nesta região da cidade. Isso aconteceu de maneira gradativa e, em seguida, foi continuada pelos planos de habitação e pelo crescente desenvolvimento do mercado imobiliário. Com isso, a expansão urbana de Aracaju ocorreu através da ação gradativa, como no caso do atual bairro Atalaia, ou através dos agentes do setor imobiliário que adquiriram terrenos que em décadas seguintes passaram por uma grande valorização. Segundo Nunes (s/d), A ênfase que estamos dando ao caráter urbano a tal transformação está ligada a nossa concepção de ‘urbano’ entendido mais como um fenômeno cultural do que propriamente espacial/territorial (Pechman, 1991). Assim, estamos considerando que são nas cidades (manifestação concreta do urbano) que novos modos de vida se gestam e a cultura daí decorrente se transforma em paradigma de uma cultura universal abrangendo também o campo. (p. 01). A seguir propomos uma ampliação da discussão dos conceitos de urbanização e modos de vida para com isso estabelecer aproximação com o As diferenças entre campo e cidade são definidas a partir da objeto empírico. Para isso partiremos do argumento de que a urbanização é constituição dos seus modos de vida. Os atores sociais dessas duas um fenômeno social gerado a partir da ação de seus agentes, os mesmos expressões sociais da humanidade atribuem sentidos a seus respectivos contribuem para re-organizar o espaço urbano sendo responsáveis pela espaços, em que constituem cosmovisões, fundamentadas, relações de construção das paisagens que por sua vez exercem poder. (ZUKIN, 2000b). interação social e de identificação. Os atores sociais urbanos, focos principais desse artigo, vivenciam a cidade atribuindo a ela sentido. O urbanismo racionalizador e higienista, herança da emblemática URBANIZAÇÃO E MODOS DE VIDA intervenção parisiense do século XIX, inaugurou uma etapa de disposição fragmentada das camadas sociais no espaço urbano. Da mesma forma que Segundo Lefebvre (1999), a urbanização é um fenômeno originalmente impulsionado pela industrialização. Foi através da industrialização e das suas intervenções que muitas cidades tornaram-se 103 www.fijav.com.br/revistaeletronica contribuíram para construir significados diferenciados nas sociabilidades públicas e nos modos de viver. www.fijav.com.br/revistaeletronica 104 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Wirth (1997) e Park (1979) investigaram o crescimento das cidades sob a ótica dos grupos sociais e seus modos de viver. A densidade demográfica fazia das cidades grandes aglomerados urbanos proporcionava o surgimento de práticas e comportamentos sociais em toda a sua extensão. Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 é denominado ‘enobrecimento’. (...) o ‘enobrecimento é um processo que resulta num mercado imobiliário em torno do ‘lugar’ de diversidade social e cultural criado por artistas, intelectuais e classes trabalhadoras. Numa paisagem cada vez mais homogênea, a diversidade tem valor de mercado. (p. 108). Com isso, a presença de uma cultura urbana se diferenciava do estilo de vida do campo sob o aspecto territorial e social, sendo definida como As políticas de enobrecimento acompanham essas modificações, “Ecologia Humana”. Esse conceito diz respeito ao desenvolvimento dos uma vez que os valores culturais da classe média e alta são o seu principal modos de vida em uma forma de organização social que se diferencia da foco. Junto a isso está a crescente necessidade de equipamentos de controle vida em comunidade por aspectos de dimensão territoria e populacional, social, responsáveis pelo desenvolvimento asséptico das sociabilidades. fatores quantitativos, mas principalmente por características diversas no Segundo Caldeira (2000), atualmente as políticas de segregação tocante a reunião de diferenciados grupos sociais e étnicos, fatores socio-espacial apontam para a construção de símbolos de status. Esses qualitativos. Segundo Park (1979), “... a cidade não é meramente um fazem parte de um processo que possui como critérios a constituição de mecanismo físico e uma construção artificial. Está envolvida nos processos espaços de distinção social que afirmam essa condição através da vitais das pessoas que a compõem é um produto da natureza, e coadunação de símbolos. Sendo assim, “...o uso de meios literais de particularmente da natureza humana”. (p. 26). separação é complementado por uma elaboração simbólica que transforma As experiências urbanas contemporâneas representadas pelas políticas de enobrecimento constituem uma realidade fragmentada para as cidades, já que a constituição desses espaços está regida pela lógica de enclausuramento, isolamento, restrição e vigilância em símbolos de status...” (CALDEIRA, 2000, p. 259). Nunes (s/d) complementa mercado marcada pela constituição de símbolos que identificam as camadas sociais de maior renda. Segundo Zukin (2000b), processo de melhoramento urbano e de deslocamento devido à ação do mercado privado e não ao planejamento do Estado www.fijav.com.br/revistaeletronica 105 Em Weber, o lugar social e mesmo o destino dos homens está determinado por uma estima social, de honra, onde – conforme já explicitado – nem sempre a propriedade joga um papel chave. Em outras palavras, pessoas com propriedade e pessoas sem propriedade podem pertencer ao mesmo grupo de status, desde que gozem de uma honra social comum. Esta honra advinda do status está ligada à semelhança de estilos de vida comum aos indivíduos participantes e que impõem aos www.fijav.com.br/revistaeletronica 106 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 que desejam entrar no círculo a adaptação de seus estilos de vida àquele grupo. (p. 07). Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 URBANIZAÇÃO ARACAJU E SEGREGAÇÃO 2008 SOCIOESPACIAL EM Segundo Zukin (2000b), a construção de paisagens de poder nas As políticas de habitação promovidas pelo Estado a partir dos anos cidades são a combinação entre política e cultura. Ou seja, as ações dos sessenta resultaram na fragmentação do espaço urbano de Aracaju. A poderosos modificam o espaço a partir da impressão de marcas e usos, os construção de conjuntos habitacionais para além da malha urbana quais constroem a sua identificação fundamentada na distinção. Desse contribuiu para o aumento da especulação imobiliária, pois, entre esses modo, as intervenções enobrecedoras atribuem símbolos às paisagens que conjuntos se formaram grandes terrenos, cujas intervenções se deram em por sua vez passam a representar estilos de vida. A construção desses maior instância a partir dos anos noventa pelo setor privado na região sul da sentidos se impõem diante de outros grupos sociais e seus usos, segundo cidade. Essas iniciativas contribuíram para impulsionar a mobilidade dos Zukin (2000a, 2000b), através da paisagem. De acordo com essa grupos sociais mais abastados para a zona sul, tomando essa região como interpretação o espaço construído possui forte influência na apropriação do espaço para o desenvolvimento dos seus modos de vida. grupo, pois é através desse que os usos vão sendo definidos e as fronteiras proporcionalmente se erguem selecionando os usuários do mesmo. A valorização dessa região fomentou a formação de paisagens constituídas por prédios de luxo e serviços voltados para os grupos sociais A formação de áreas enobrecidas expressa a apropriação de que passou a ser predominante na região. Proporcionalmente a essa usuários a uma determinada região da cidade. A sua imagem é construída a transformação o Centro foi perdendo a sua condição histórica de ponto de partir do investimento econômico ou da afirmação do valor cultural o valor moradia e atividades sócio-culturais das elites aracajuanas cedendo lugar cultural. Portanto, a constituição de “paisagens de poder” são a expressão para um comércio popular e de pouco interesse para as classes média e alta. dessas políticas, onde o “vernacular”, os sem poder, são retirados do Desde que foi elevada a capital do Estado na metade do século espaço, pois não coadunam com a paisagem enobrecida. XIX, o Centro sempre foi o foco principal do poder político, econômico e cultural da cidade. De onde partiu o primeiro plano urbanístico da cidade e de onde partiam os códigos de postura, ou de como eram deveriam ser definidas os comportamentos de quem vivia no perímetro planejado. O primeiro plano urbanístico realizado em Aracaju foi realizado pelo www.fijav.com.br/revistaeletronica 107 www.fijav.com.br/revistaeletronica 108 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 engenheiro Sebastião Pirro que dispôs as ruas do centro semelhante a um tabuleiro de xadrez. Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 transporte, iluminação, arborização, entre outros. (p. 198). Foi nessa localidade que foram definidas fronteiras a partir de sanções que concederam a esta área a apropriação simbólica por parte A busca por símbolos que atribuíssem uma face moderna ao centro desses grupos sociais. Definidas tanto pela valorização de seus terrenos consistia na apropriação do Centro através de marcas físicas e culturais como pelas normas de uso das intervenções ocorridas. Desta forma, pode-se reconhecidas por seus usuários. inferir que essas transformações reforçavam a presença das elites única se viu ameaçada nas três décadas em que a capital sergipana viu sua aracajuanas no Centro, pois era neste que estes grupos sociais desenvolviam população quadruplicar passando de uma cidade com áreas rurais para uma os seus modos de vida. realidade completamente urbana. Durante essa experiência surgiram áreas No entanto, o estatuto de centralidade As intervenções realizadas no Centro, por exemplo, visavam de forte influência econômicas e sociais, originadas por fluxos espontâneos construir espaços em que as atividades sociais e culturais reunissem em da população de maior renda que já possuíam terrenos ou habitações torno das marcas simbólicas, formas contíguas de sociabilidades. Com isso, naquela região, obtidos pelos planos habitacionais ou por conta própria. a construção do mercado Tales Ferraz e do Hotel Palace procuraram passar Neste sentido, a distribuição de grupos sociais pelo espaço urbano a cidade uma imagem moderna tanto no aspecto físico como nas atividades se deu de forma fragmentada gerando a constituição gradativa da sócio-culturais. Junto a isso estava o status constituído através da desigualdade social e espacial. Durante este período Aracaju viu o seu diferenciação do restante da cidade. espaço urbano dividir-se da seguinte forma: as camadas de baixa renda se concentraram no Norte e Noroeste da cidade enquanto na zona sul e Segundo Lima (2002), sudoeste concentraram-se as camadas de média e alta renda. A criação do Banco Nacional de Habitação – BNH não conseguiu ...a aclamada modernização aracajuana perpassou-se muito mais no desejo de suas elites, as quais proveram meios de anunciar as melhorias urbanas como elementos identificadores do “novo” e do “moderno”, do que propriamente na transformação de Aracaju numa cidade socialmente mais homogênea e melhor munida de serviços públicos básicos como saneamento, cumprir seus objetivos de sanar o déficit habitacional. As construções de casas e conjuntos habitacionais movimentou o setor da construção civil e impulsionou o aparecimento de empresas do setor imobiliário. Segundo Campos (2006), a “...ampliação do número de empresas de construção civil, que passa de 18 empresas locais na década de 70 para 174 no inicio de 90”, muitas delas constituídas por capitais regionais e estrangeiros...” (p. 237). www.fijav.com.br/revistaeletronica 109 www.fijav.com.br/revistaeletronica 110 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 A decadência dos planos desenvolvidos pelo poder público se deu para os subcentros e a deteriorização urbana do núcleo original, concomitantemente à mudança na composição social da população que passa a habitar este último, marcada pela forte presença das classes populares. (p. 26). no final dos anos oitenta. Segundo Campos (2006), Após a extinção do BNH, quando parte de suas atribuições foram transferidas para a Caixa econômica Federal, as criticas que foram impostas, principalmente com respeito à qualidade e ao elevado custo dos investimentos e sua representatividade quanto á redução do déficit habitacional em relação ao período anterior, caracterizam-no como grande fracasso da história política recente do Brasil. (p. 229). Os motivos desse deslocamento e da apropriação cultural da zona sul pelas camadas de média e alta renda se deram através da combinação entre as ações do poder público sobre o espaço urbano e a apropriação cultural das camadas de média e alta renda no lado sul. CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO ARACAJU 1960 – 2000 Conjuntos e bairros passaram rapidamente a situar as atividades econômicas e os grupos sociais na região sul. Deste modo, a urbanização compreendida no período entre os anos sessenta e anos noventa contribuiu POPULAÇÃO POPULAÇÃO URBANA RURAL 1960 112.500 3.213 115.713 1970 179.276 4.394 183.670 1980 287.900 5.200 293.100 1991 402.341 - 402.341 1996 428.194 - 428.194 2000 461.534 - 461.534 ANOS para fortalecer o mercado imobiliário e constituir centralidades. As centralidades consistem na adaptação da cidade a parâmetros 2008 TOTAL modernizadores, por sua vez, influenciados por fluxos econômicos globais, ao mesmo tempo que disciplinam os usos e seus usuários. Segundo Frugoli Júnior (2000), ...O processo de expansão metropolitana, portanto, torna a questão da centralidade ainda mais complexa. Em alguns casos, os subcentros guardam certas relações de complementaridade com o núcleo central, nos passam muitas vezes a competir economicamente de forma mais acirrada com o centro tradicional, de modo a se tornarem ou almejarem se tornar os “novos centros”. Isso se dá, em particular, pela lógica dessa expansão, que acarreta muitas vezes a fuga de empresas www.fijav.com.br/revistaeletronica 111 Fonte: Anuário Estatístico da Prefeitura Municipal de Aracaju (Secretaria Municipal de Planejamento) 2005. www.fijav.com.br/revistaeletronica 112 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 O desinteresse das camadas sociais de maior renda pelo Centro Os bairros Atalaia e Coroa do Meio eram também constituídos tradicional representou a incompatibilidade simbólica desses grupos com o predominantemente por colônias de pescadores que a partir do avanço da espaço. Para Loureiro (1983), o principal motivo para o seu deslocamento urbanização viu esta população ser expulsa e, em consequência, a está associado à queda da qualidade de vida, ou seja, a “poluição decadência da atividade pesqueira (SILVA, 2001). atmosférica, sonora, congestionamento de tráfego, etc.” (p. 81). A ação da valorização do uso do solo no bairro Atalaia contribuiu A busca por áreas mais amenas e tranqüilas convergia para a zona para a expulsão dos moradores pobres do bairro, para dar lugar a uma sul, devido a reunião de alguns elementos atrativos como às condições população de alta renda, visando a ocupação por parte das camadas de alta climáticas, a proximidade da praia e a distância das “insalubridades” da renda como mostra a citação abaixo, cidade. Com isso, o Centro foi se tornando uma área de concentração comercial, serviços e consumo popular. A mobilidade das populações de (...) compravam-se as suas casas [dos moradores mais pobres] por preços aviltamente baixos para revendê-las a preço de mercado, forçando muitos moradores nativos a se transferirem para as áreas de mangue. (SILVA, 2001, p. 35). melhor poder aquisitivo que residiam no Centro foram para bairros situados na zona sul e sudoeste da cidade: Grageru, Jardins, Treze de Julho, São José, Salgado Filho e Luzia (SOUZA, 2004, p. 34). Toda zona sul passou por processos de substituição das suas populações. A urbanização colocou essas populações em dias com as condições de vivência com uma cidade urbanizada, não apenas pela infraestrutura e outros equipamentos urbanos, mas principalmente pelas condições de trabalho e modificação nas suas formas de viver. O enobrecimento dessa região se deu a partir da substituição dessas comunidades e de suas atividades como pode ser visto no relato de Ribeiro (1989): Os bairros São José e a praia Treze de Julho transformaramse em eixo do setor elegante da cidade. Estes bairros tiveram desenvolvimento rápido, quase exclusivamente por grupos da classe média/alta e da classe alta, que iam em busca de amenidades e, nesse processo, expulsavam os antigos ocupantes – os pescadores. (p. 49). www.fijav.com.br/revistaeletronica 113 Processo semelhante ocorreu na Coroa do Meio no final dos anos oitenta quando da construção do primeiro shopping Riomar. Resultado da parceria entre a construtora Góes Cohabita S. A. da Bahia e da EMURB (Empresa Municipal de Urbanização), tinha como estratégia promover a substituir a população constituída por pescadores por outra de maior renda. Segundo França (1999), “A construção do shopping Riomar foi também uma estratégia da EMURB para a ocupação e valorização da Coroa do Meio, a instalação do shopping atraiu outras atividades comerciais e de serviços nas suas proximidades para as avenidas Beira-Mar e Francisco Porto.” (p. 172). Segundo Ribeiro (1989) a urbanização do espaço urbano aracajuano durante esse período se dividiu em três etapas. O momento inicial da www.fijav.com.br/revistaeletronica 114 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 expansão do território através dos conjuntos habitacionais (1964 – 1967); 2008 inaugurado nos últimos dias do mês de abril de 1997, considerado o mais moderno do Nordeste. (p. 192). na fase seguinte, em ritmo crescente, mesmo diante da grande demanda e da crise na indústria de material de construção (1968 – 1974); e, o período central para observar o crescimento do setor imobiliário e da construção As intervenções na zona sul continuaram ao longo dos anos noventa civil (1975 – 1981). Nesta etapa Aracaju cresceu em várias direções, tendo com a construção do bairro Jardins. Este bairro caracterizou-se como o seu ápice em 1981, neste momento o setor da construção civil e o setor último grande investimento do setor e potencializando formas de moradia, imobiliário cresceram em conjunto com Aracaju. Tanto é que em 1976 as consumo e lazer. áreas construídas superaram as de licenciadas, fato que caracterizou, segundo Ribeiro (1989), como o “período de aburguesamento da cidade”. Esta informação pode ser verificada na divisão das habitações realizadas durante o período. Inicialmente essa divisão estava na ordem de É importante destacar que a centralidade do bairro Jardins já era reforçada em seu processo de construção. Tanto que, as empresas que realizaram a intervenção ressaltavam os serviços, as lojas, o shopping e a qualidade de vida que seria morar naquela localidade. 50% para a classe média e 50% para a classe de baixa renda, no entanto, essa distribuição foi realizada da seguinte forma: classe média (45,6%), classe alta (32,6%) e a classe popular (21,7%). (RIBEIRO, 1989, p. 64). A constituição da zona sul como região preferida pelas camadas de média e alta renda é a expressão contemporânea do desenvolvimento urbano de Aracaju materializadas pela combinação de moradias, serviços urbanos e econômicos. Segundo França (1999), ...Surge, então o bairro Jardins, a nova área de ‘viver bem’ na cidade, amplamente divulgada para a classe média e alta com toda a sua Infra-estrutura próxima. De um lado, surgem condomínios financiados pelo Plano Maior, que, a partir de 1995, vem suprir a escassez do sistema financeiro, e, no outro, edifícios mais diferenciados para a população de maior renda da cidade. Além disso, começa, nesta época, a surgir um maior número de particulares, através de condomínios, com a intenção de uma maior liberdade e qualidade de projeto associada a um menor preço. (DINIZ, 2005, p. 115). A associação do “bem viver” com morar em condomínios passou a consolidação e ampliação da Norcolândia (área pertencente à construtora NORCON, toda verticalizada, situada no bairro Treze de Julho), isto é, a ocupação adensada de uma área moderna e elitizada da cidade. Além disso, se constituirá um outro sub-centro, pois já está em construção um novo shopping, que tem como loja âncora um hipermercado, www.fijav.com.br/revistaeletronica 115 pela mudança nos valores culturais da classe média e alta da cidade. Com isso, a construção dos sentidos perpassou pela afirmação nas sociabilidades e dos modos de vida desenvolvidos nessa faixa da cidade. A constituição do bem estar da moradia passa por viver com comodidade, em áreas de clima www.fijav.com.br/revistaeletronica 116 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 ameno, próximos de serviços e praças de consumo convergentes com as suas necessidades simbólicas, segurança, espaços de lazer e entretenimento. A constituição da representação da região sul como região que ARACAJU DIVISÃO DOS BAIRROS converge status se deve a rede de serviços que se desenvolveram naquele espaço, são escolas, bancos, shoppings centers, hipermercados, restaurantes, bares, entre outros. N No anúncio de um prédio de luxo a publicidade destaca o status do 16 37 empreendimento e da sua localização, 30 32 36 15 31 28 27 35 O edifício Premium acertou em cheio em tudo o que você esperava de um empreendimento imobiliário. Ele tem estilo, inovação, sofisticação, acabamento impecável e, para valorizar ainda mais a sua conquista, está na melhor localização da Francisco Porto, bem perto do calçadão da Treze de Julho, de bancos, escolas, hipermercado, shoppings e restaurantes. O Premium é seu por dois motivos: merecimento e sorte de conquistar o apartamento que combina totalmente com o seu estilo de vida. No anúncio de um outro prédio de classe média localizado no 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 21 18 22 20 19 25 24 34 0 26 12 13 11 05 10 17 29 33 14 23 09 04 06 08 07 01 02 03 1100 2200 3300m Centro Industrial Porto D'anta Lamarão Soledade Cidade Nova Santo Antônio Palestina 18 do Forte Santos Dumont 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Bugio Jardim Centenário José Conrado de Araújo Olaria Novo Paraíso Capucho América Siqueira Campos Getúlio Vargas Cirurgia 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 Pereira Lobo Suissa São José 13 de Julho Salgado Filho Grageru Jardins Luzia Ponto Novo Jabotiana 31 32 33 34 35 36 37 36 37 Inácio Barbosa São Conrado Farolândia Coroa do Meio Atalaia Aeroporto Expansão Urbana Aeroporto Expansão Urbana Mapa de Aracaju com a divisão dos bairros Fonte: Secretaria de Planejamento do Município de Aracaju - SEPLAN. Bairro Luzia possui a seguinte frase, “No bairro Luzia, próximo de tudo que você precisa: shopping Jardins, escolas, supermercados como todo conforto BAIRRO JARDINS E CENTRALIDADE que sua família merece”. Outra característica que essas empresas oferecem nestas moradias são a segurança e o lazer. Deste modo, são ressaltadas guaritas, cercas elétricas, parque infantil, salão de festas, piscina, churrasqueiras, entre outros. www.fijav.com.br/revistaeletronica 117 O bairro Jardins foi inaugurado em meados dos anos noventa em conjunto com um shopping center de mesmo nome. A combinação entre centro comercial e moradias verticalizadas www.fijav.com.br/revistaeletronica se configurou como 118 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 empreendimento realizado entre empresas imobiliárias e lojas âncoras do shopping center Jardins. Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Nesse contexto, a formação das “paisagens de poder” (Zukin, 2000b), expressam a afirmação deste segmento social no espaço, o qual O seu território era composto por salinas, sítios e manguezais. Ao concede um discurso segregador para a cidade. Deste modo, estilos de vida, seu redor já existiam residências de classe média como, o conjunto Leite formas de consumo, moradias e sociabilidades se relacionam como Neto, os bairros Luzia, Inácio Barbosa, Treze de Julho e Grageru. características de status. O enobrecimento desta área acompanhou a ascensão das empresas As residências verticalizadas organizadas em condomínios fechados imobiliárias na década de noventa. A concretização das construções é a forma predominante de moradia deste bairro. Guaritas, cercas elétricas, aconteceu em 1997 com propagandas anunciando o surgimento de uma área interfones e áreas de lazer nos espaços intramuros. O acesso ao interior nobre na cidade dispondo de um shopping center. dessas habitações fica restrito aos seus moradores e àqueles que recebem autorização desses para a sua entrada. Esta é uma foto geral das obras do PLANO MAIOR em JARDINS, onde está nascendo uma nova Aracaju. Destacamos os 4 primeiros lançamentos, o real Garden (1° prédio já entregue), o Golden Garden, o Victoria Garden e o Regent Garden. Todos os prazos estão sendo cumpridos e é uma satisfação mostrar aos nossos clientes e parceiros a nossa realidade com obras. (CINFORM. Aracaju, 14 a 20 de outubro de 1996, edição 705, ano XIV). Na mesma edição outro informe refere às proximidades do shopping, neste caso na referente a Avenida Silvio Teixeira, estava circundado por ocupações e serviços voltados para essas camadas sociais. Escolas, casas de show, hipermercados, um shopping (Riomar), restaurantes, bancos, todos esses serviços sempre estiveram relacionados com os prédios inaugurados na região, desempenhando um papel especifico de valorização econômica e de status. As características relativas ao bem estar, tranqüilidade e segurança se apresentam em expressões dos modos de viver na cidade. Esses modos de viver estão relacionados a maneira de como esses grupos lidam com o O residencial Delphinos fica no Grageru, na Avenida Silvio Teixeira, a 100 metros do novo Shopping. Uma localização privilegiada, com todo o conforto que o bairro oferece, num imóvel que tem a garantia de entrega e qualidade COSIL. Um lançamento à altura da sua estrela pessoal. (CINFORM. Aracaju, 14 a 20 de outubro de 1996, edição 705, ano XIV) www.fijav.com.br/revistaeletronica O bairro Jardins como um dos empreendimentos dessa região já 119 espaço e como constroem as suas práticas. A reprodução de áreas públicas como parques, quadras poliesportivas, salão de festas, piscinas entre outros, reforçam o caráter de status e de segurança. Os informes publicitários de prédios construídos em sua proximidade ressaltam a característica de construção de uma outra www.fijav.com.br/revistaeletronica 120 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 cidade com aspectos econômicos e socioculturais diferenciados de outras camadas de média e alta renda. Para Caldeira (2000, p.264) “Os anúncios regiões da cidade. usam um repertorio de imagens e valores que fala à sensibilidade e fantasia Com o fim do modelo de políticas de habitação no final dos anos das pessoas, a fim de atingir seus desejos”. oitenta outras perspectivas foram abertas para o setor imobiliário que por Segundo França (2005), existiam até o ano de 2004 vinte e nove sua vez passou a comandar as construções para a classe média e alta, condomínios horizontais na Zona de Expansão. Neste trabalho, a autora principalmente durante os anos noventa. As grandes empresas do setor que investigou a condição de auto-segregação dos grupos que escolhem este tipo haviam se estruturado durante o período das políticas de habitação de moradia o qual destaca como categoria que delimita uma continuidade direconaram seus investimentos para a zona sul da cidade, próximo as praias desse status de viver na zona sul, onde o isolamento e a segurança são os e das amenidades climáticas, além dessas o estabelecimento das camadas de principais motivos. média e alta renda se deu pelo rápido desenvolvimento dos serviços e pela A busca pela qualidade de vida oferecida pelos condomínios expansão de suas marcas para uma nova área de valorização da cidade a fechados segue a condição de refúgio que essas moradias ganham em Zona de expansão. Esse espaço compreende um conjunto de povoados relação aos “perigos” da cidade. Segundo França (2005), “A idéia principal localizados na extensão sul da capital. Esta área está sendo bastante da publicidade dos condomínios fechados vem sendo atrelada à intenção de valorizada devido à proximidade com a praia e amenidades climáticas. mostrar os incômodos causados pelos problemas urbanos, como barulho e a De forma semelhante, como ocorreu nos outros bairros da zona sul, violência”. (p. 216). esse espaço desenvolveu formas de moradia para a classe média. Portanto, ainda é continua a investida das camadas sociais de média Diferentemente das moradias da zona sul que registraram o adensamento de e alta renda em direção a zona sul. O surgimento de bairros e áreas condomínios verticalizados fechados (DINIZ, 2005). enobrecidas fez realizar nessa região a apropriação cultural por parte desses Embora existam casas de veraneio, condomínios fechados e outras segmentos sociais com seus estilos de vida e formas de sociabilidade. A formas de moradia, a predominância ainda são as atividades das estabilização dessas camadas sociais atraiu atividades comerciais e de comunidades pesqueiras. No entanto, muitos serviços como supermercados serviços para a região. O deslocamento de atividades econômicas como e condomínios de luxo já podem ser encontrados naquela região. Alguns dos restaurantes, bares, escolas, bancos, casas de show e shoppings centers fatores que são tomados como atrativos expostos pelos anúncios das contribuíram para constituir, nesta parte de Aracaju a cidade suscita um construtoras sã a tranqüilidade e o lazer, esses aliados a segurança ritmo especifico que caminha na direção de uma continuidade do que ocorre configuram alguns dos valores explorados por essas empresas para atrair as na zona sul e sudoeste. www.fijav.com.br/revistaeletronica 121 www.fijav.com.br/revistaeletronica 122 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 CONSIDERAÇÕES FINAIS Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 a sua segregação socioespacial a partir dos modos de vida e de como eles estão dispostos no espaço urbano. A substituição do contingente populacional das áreas da zona sul, antes habitadas por comunidades de pescadores, assistiu a chegada de REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS modos de vida e atividades urbanas características das camadas de média e alta renda. A marca da segregação socioespacial construída em Aracaju durante a última grande urbanização colocou as populações de baixa renda CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de Muros: Crime, segregação e cidadania em São Paulo. Editora 34 e EDUSP, 2000 concentradas nas zonas norte e noroeste da cidade e, por outro lado, CAMPOS, Antonio Carlos. A Cidade segregada: O papel do Estado na convergiram os estratos de maior renda para a zona sul. A ascensão das empresas imobiliárias teve importância para Urbanização de Aracaju. In: O Ambiente Urbano. Helio Mário de Araújo potencializar os modos de vida que se estabeleciam, assim como transformar (org.) [et. Al]. São Cristóvão: Departamento de Geografia da Universidade a paisagem. No entanto, o comando do mercado imobiliário nas Federal de Sergipe – UFS, 2006. intervenções urbanas dessa região proporcionou uma espécie de urbanização particular voltada somente para uma parte da cidade. DINIZ, Dora Neuza Leal O Processo de Verticalização em Aracaju. In: Aracaju: 150 anos de Vida Urbana. Maria Lúcia De Oliveira Falcón e Vera O mercado imobiliário encontrou na zona sul um grande filão que Lúcia Alves França (orgs.). Aracaju: PMA/SEPLAN, 2005. permitiu a expansão desses espaços. O investimento em moradias e espaços de sociabilidades e consumo se juntam ao progressivo desenvolvimento de FRANÇA, Vera Lúcia A. Aracaju: Estado e Metropolização. Aracaju, redes de serviços como restaurantes, lojas, shoppings, bares, hipermercados, editora UFS, 1999. entre outros que afirmam o caráter fragmentador. Neste sentido, o mercado imobiliário intensifica essa condição, pois este segue a lógica de sua construção em áreas mais valorizadas com camadas sociais de maior renda. Isso contribui para o deslocamento de empresas com produtos e serviços voltados para esses grupos sociais. Tais FRANÇA, Sarah Lúcia Alves. Os Condomínios Horizontais Fechados na zona de expansão Urbana de Aracaju: Uma Nova Modalidade de Segregação. In: Aracaju: 150 anos de Vida Urbana. Vera Lúcia A. França e Maria Lúcia de O. Falcón (orgs.). Aracaju: PMA/SEPLAN, 2005. serviços afirmam uma condição que é gritante no espaço urbano aracajuano: www.fijav.com.br/revistaeletronica 123 www.fijav.com.br/revistaeletronica 124 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 FRUGOLI JR., Heitor. Centralidade em São Paulo: Trajetórias, conflitos e RIBEIRO, Neuza Maria Góis. Transformações do Espaço Urbano: O Caso Negociações. São Paulo: Cortez: Editora da Universidade de São Paulo, de Aracaju. Recife, FUNDAJ. Editora Massanga, 1989. 2000. SILVA, Candido de Jesus. 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Aracaju: 125 _____________ Paisagens do Século XXI: Notas Sobre a Mudança Social e o Espaço Urbano. IN: Arantes, A. (org) O Espaço da Diferença. Campinas, Papirus, 2000b. www.fijav.com.br/revistaeletronica 126 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 PROFESSOR JOÃO CARDOSO NASCIMENTO JÚNIOR E O MOVIMENTO ESTUDANTIL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE (1968-1972) Jussara Maria Viana Silveira Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe. Professora substituta da Universidade Federal de Sergipe. Coordenadora do Instituto Superior de Educação José Augusto Vieira – ISEJAV - Faculdade José Augusto Vieira - FJAV. Professora do Núcleo de Pós-Graduação da Faculdade José Augusto Vieira. Membro do Grupo de Pesquisa em História da Educação: Intelectuais, Instituições e Práticas de Ensino e membro da Sociedade Brasileira de História da Educação – SBHE. Este artigo tem por objetivo reconstruir historicamente a trajetória do professor João Cardoso Nascimento Júnior, contemplando a sua atuação como primeiro Reitor da Universidade Federal de Sergipe e a forte ligação com o movimento estudantil sergipano entre os anos de 1968 a 1972, num período conturbado da nossa história “a ditadura militar”. O referencial selecionado para o estudo relaciona-se à História da Educação e à História Cultural e como metodologia apropriei-me da Abordagem Biográfica. Entre as categorias de análises estabelecidas por Chartier, trabalhei a apropriação e representação; bem como os conceitos de campo e capital de Bourdieu e memória de Jacques Le Goff. Ao construir essa trajetória, trilhei inúmeros caminhos, transformei vestígios descontínuos em História, na história de vida de João Cardoso Nascimento Júnior, que ao longo da sua trajetória contribuiu para edificar o ensino superior em Sergipe. Biográfica; 2008 Dr. João Cardoso teve um desempenho elogiável, pois conseguiu levar a bom termo uma universidade mal vista aos olhos da revolução, com ‘tiras’ em seu corpo, patrulhando, ideologicamente, todos. Conciliar a prepotência com a democracia, a vigilância opressora com a liberdade discreta, só o seu caráter firme e manso pôde operar tal milagre na difícil reitoria.(MARQUES, 1988) Para muitos, as universidades brasileiras entraram em crise quando houve a “Quartelada Militar” de 1964, e passaram a ser chamadas nessa época de “Universidade da Mordaça”, onde estudantes e intelectuais foram tratados como delinqüentes e muitos obrigados a retirar-se do país, na RESUMO PALAVRAS-CHAVES: Abordagem Nascimento Júnior; Trajetória. Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 Educação; João Cardoso imposição de um exílio forçado, e outros submetidos a sessões de torturas e humilhações por parte dos que acreditavam estar impondo a ordem e a tranqüilidade do país através da força bruta. O golpe militar repercutiu significativamente no movimento estudantil. A influência das correntes políticas de esquerda levou ás autoridades militares a reprimirem as lideranças estudantis e desarticularem as suas principais organizações representativas. Primeiramente a União Nacional dos Estudantes (UNE) foi posta na ilegalidade, depois foi a vez do Diretório Central dos Estudantes (DCE), partindo dessa desarticulação foram criadas novas organizações e novos procedimentos foram adotados para seleção de seus representantes. As constantes tentativas das lideranças estudantis de retomarem o controle das organizações foi o principal fator a desencadear novas ondas de repressão política. Desse modo, reivindicações educacionais e manifestações de protesto político contra o governo militar foram as www.fijav.com.br/revistaeletronica 127 www.fijav.com.br/revistaeletronica 128 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 principais bandeiras de luta do movimento na segunda metade da década de 1960. O ápice da radicalização dos grupos estudantis ocorreu em 1968, ano marcado por grandes manifestações de rua contra a ditadura militar. O auge da repressão que parecia ser uma breve intervenção militar na política acabou transformando-se numa ditadura que reprimiu violentamente grupos e movimentos de oposição. De 1969 a 1973, a coerção política atingiu o seu ápice. Neste período, o movimento estudantil Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 São Paulo. Quando retornamos para Aracaju fomos soltos. Em São Paulo ficamos detidos no presídio Tiradentes, em torno de uma semana ou um pouco mais. Mas como não tínhamos nenhum pedido de prisão preventiva decretada, nós ficamos respondendo o processo em liberdade aqui em Sergipe. Logo depois da edição do Ato institucional nº. 5, então todos nós retornamos a prisão, fomos presos e aí nós pudemos ver, que o regime realmente foi o período mais difícil da ditadura. Porque não havia hábeas corpus, não havia praticamente nada! (Entrevista com o Dr. João Augusto Gama, concedida à autora em 3.1.2007). foi completamente desarticulado. A maior parte dos militantes e líderes estudantis ingressaram em organizações de luta armada para tentar derrubar Começava para o Magnífico Reitor da UFS, Professor João o governo. No dia 28 de março de 1968, uma manifestação contra a má Cardoso Nascimento Júnior, uma nova luta para proteger os estudantes e os qualidade do ensino, realizada no restaurante estudantil Calabouço, no Rio professores, que ele acreditava estarem sob sua proteção. No dia seguinte à de Janeiro, foi violentamente reprimida pela polícia, resultando na morte do publicação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), os estudantes sergipanos que estudante Edson Luís Lima Souto (GASPARI, 2002:51). participaram do XXX Congresso da UNE em Ibiúna voltaram a ser presos, No Brasil já no segundo semestre de 1968, os estudantes juntamente com outras pessoas que eram consideradas subversivas pelo começavam a demonstrar sinais de recuo. Somente alguns comandos mais governo militar. Segundo o historiador Ibarê Dantas, três professores foram radicais da época continuavam a lutar pela repressão desencadeada. intimados a comparecer no 28º Batalhão de Caçadores (28º BC), em Segundo o professor Daniel Arão Reis, “o canto do cisne ocorreu quando da Aracaju, onde foram “inquiridos”, respondendo aos processos pelos quais dissolução pela polícia, do XXX Congresso da UNE, em Ibiúna, interior de foram condenados pela Justiça Militar do 6ª Região Militar em Salvador São Paulo, em outubro de 1968, tendo sido presas centenas de lideranças (DANTAS, 2004:182-183). estudantis” (REIS, 2002:51). Entre os estudantes presos em São Paulo estavam alguns alunos da recém-criada Universidade Federal de Sergipe: O governo sergipano estava sob a administração do médico Lourival Baptista, que havia tomado posse com a indicação do presidente da República em 31 de janeiro de 1967. Em fins de janeiro é instituída em E no dia 13 de dezembro, com a edição do Ato Institucional nº. 5, aí as coisas ficaram complicadas, porque nós tínhamos sido presos no XXX Congresso da UNE, em Ibuína no Estado de www.fijav.com.br/revistaeletronica 129 Sergipe a Comissão Geral de Investigação (CGI), com a finalidade de apurar corrupção em todo o estado, embora se soubesse essa era a forma de obter informações seguras para “respaldar os atos punitivos que www.fijav.com.br/revistaeletronica 130 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 prosseguiam” (DANTAS, 2004:184). Em 1970, o governador de Sergipe, estudantes da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP). Lourival Baptista, renunciou ao cargo para concorrer a uma cadeira no Este conflito foi muito violento, e o prédio da Faculdade foi destruído e Senado, sendo indicado para substituí-lo o engenheiro Paulo Barreto de logo depois desativado. O governo militar ao editar, em dezembro de 1968, Menezes. o AI-5 retirou todas as garantias individuais dos cidadãos brasileiros. O Para o historiador Ibarê Dantas, o governador Lourival Baptista terminou seu mandato considerando-se “um administrador operoso e poder foi centralizado na pessoa do presidente da República, que adquiriu poderes para atuar como legislador e executivo: conciliador”. Em toda a sua administração a política econômica sergipana esteve marcada pela ostentação, certificada pelo aumento vertiginoso da receita, ocorrido com a mudança da legislação tributária. Entre os seus feitos em Sergipe, estão às construções de: estádios de futebol; o Edifício Estado de Sergipe, com 28 andares; escolas; postos de saúde; rodovias; conjuntos habitacionais; saneamento básico; ampliação da rede elétrica; implantação do Distrito Industrial de Sergipe e o empenho pela criação da O quinto Ato Institucional significava a vitória da linha dura sobre os moderados, proporcionando nova fase do Estado Autoritário. Com esse instrumento normativo, o Executivo tornou-se autorizado a fechar as diversas casas legislativas, intervir nos estados e municípios, cassar mandatos eletivos e suspender direitos políticos, remover e aposentar ou reformar funcionários, decretar estado de sítio e confisco de bens, suspender garantias constitucionais e estabelecer censura à imprensa (DANTAS, 2004:182). Universidade Federal em Sergipe (DANTAS, 2004:184). A ditadura colocou à margem da lei todas as organizações e Numa época de governo autoritário avesso a qualquer manifestação movimentos que surgiram nas faculdades e universidades em todo o país. de liberdade institucional e do povo, o Professor João Cardoso conduzir o Tudo que fosse considerado ameaça à “tutela militar” era visto como destino da jovem universidade sergipana, defendendo a autonomia de subversivo. Entre os movimentos que conheceram a mão repressora do pensamento da instituição. Soube ser paciente com os discentes que na Estado Ditatorial encontravam-se a UNE e o DCE da Universidade Federal ânsia de querer a democracia no país, foram duramente perseguidos. Como de Sergipe. Abafando esses movimentos, os militares procuravam evitar primeiro Reitor da Universidade Federal de Sergipe o Professor João qualquer ação política no interior das instituições de ensino superior. Cardoso Nascimento Júnior defendeu os seus discentes da arbitrariedade e A UNE, mesmo extinta, continuava a agir na clandestinidade, da prepotência do governo militar. A UFS, em 1968 nascia e já começava a liderando em todo o país a revolta estudantil. O ano de 1968 foi marcado engatinhar sofrendo as pressões do Governo Ditatorial instalado no Brasil por muitas revoltas. Os estudantes foram às ruas reivindicar direitos e lutar desde o golpe militar de 1964. Com a institucionalização do AI-5, a UFS pela volta da democracia no Brasil. A polícia reprimiu a revolta dos www.fijav.com.br/revistaeletronica 131 www.fijav.com.br/revistaeletronica 132 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 passa a viver sob um “fogo cruzado”, como ressaltou o historiador Ibarê (Informações obtidas através da entrevista como senhor Antônio Bernardo Dantas. da Silva Lima, concedida à autora em 12 de abril de 2007). A situação agravou-se quando o Reitor João Cardoso Nascimento O Magnífico Reitor João Cardoso ignorou todas as ameaças Júnior recebeu o oficio de nº. 24-E/2, de 13 de fevereiro de 1969, expedido expressas nos Ofícios Confidenciais recebidos. Em resposta, baixou uma pela 6ª Região Militar, localizada em Salvador, e assinado pelo General de Portaria de nº. 09, de 10 de março de 1969, afastando os dirigentes do DCE Brigada Abdon Senna. O ofício de caráter “Confidencial” trazia anexo, uma da UFS, das suas funções e representações estudantis. Com coragem e lista contendo os nomes de trinta e dois discentes das Escolas e das determinação, após análises feitas em vários documentos, afirmou-se que o Faculdades que eram agregadas à Fundação da Universidade Federal de Professor João Cardoso Nascimento Júnior, durante o seu reitorado não Sergipe, os quais segundo as fontes consultadas para construção desse cassou os direitos estudantis de nenhum dos jovens estudantes da UFS que artigo, estavam prejudicando a vida da sociedade aracajuana e trazendo tiveram seus nomes expostos na mira da ditadura militar. intranqüilidade ao setor estudantil da UFS. No mesmo dia em que baixou essa Portaria o Magnífico Reitor João De acordo com depoimentos, toda essa pressão levou o Professor Cardoso, recebeu outro ofício confidencial nº. 46-E/2 de 10 de março de João Cardoso a sofrer um infarto. Ele resguardava a sua família e os amigos 1969, contendo os nomes dos estudantes Antônio Vieira da Costa, Benedito mais próximos dos momentos de pressão e tensão pelo qual passava como Figueiredo, Elze Maria dos Santos, João Augusto Gama da Silva, Janete Reitor da Universidade Federal de Sergipe. Mesmo sendo um intelectual Correia de Melo, Laura Tourinho Ribeiro e Wellington Dantas Mangueira respeitado pela política do regime militar, sofria com agressões enviadas Marques, que deveriam ser expulsos da UFS: pelos militares que comandavam o 28º BC e a 6ª Região Militar. Num desfile cívico do dia 7 de setembro de 1970, em cujo palanque principal estavam presentes, o Reitor João Cardoso e demais autoridades civis, militares e políticas sergipanas, ficou marcado, pelas ameaças que o Comandante da 6ª Região Militar fez ao Professor João Cardoso dizendo que “o Reitor de Sergipe não estava prestando atenção às recomendações Mas o Reitor afastou-os da representação política, protelou a decisão e não os expulsou, passando a ser mal visto pelas autoridades militares. Enquanto isso, nos outros estados, em 05/1969 a 03/1970, pelos menos 192 estudantes ficaram impedidos de estudar com base no decreto lei 477 (DANTAS, 2004:183). vindas do comando militar e estava conciliando demais com os comunistas”. Em resposta ao General Abdon Senna, o Professor João O Professor João Cardoso Nascimento Júnior também foi Cardoso, disse “o senhor comanda soldados, eu comando inteligência” interrogado no 28º Batalhão de Caçadores, para prestar esclarecimentos em www.fijav.com.br/revistaeletronica 133 www.fijav.com.br/revistaeletronica 134 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 face da sua decisão de não observar o decreto 477 para cassar os direitos dos discentes, cujos nomes foram indicados pelos órgãos de segurança como lideranças subversivas. Os esclarecimentos prestados pelo Reitor João Cardoso foram considerados insatisfatórios. A UFS entra para a História da Educação como uma universidade federal brasileira que não cassou os direitos dos seus estudantes universitários. Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 habilidade muito grande e assim realmente Sergipe foi um dos estados que menos perseguiu os estudantes e os professores também. [...]. (Entrevista com a professora, escritora e historiadora Maria Thétis Nunes, concedida autora no dia 11 de julho de 2007). Segundo documentos analisados, o Professor João Cardoso Nascimento Júnior deu ao governo da Universidade Federal a plenitude de O Reitor da Universidade Federal de Sergipe, João Cardoso Nascimento Júnior, foi interrogado diversas vezes para esclarecer a decisão de não cassar os direitos dos estudantes que estavam sob a sua orientação. Além da convocação do 28º BC, o Professor João Cardoso também foi chamado a prestar depoimentos na 6ª Região Militar, em Salvador. sua personalidade, a clarividência do espírito, a bondade do coração e o esforço do trabalho intensivo. Para alcançar os objetivos de sua administração, preferiu sempre as regras humanizadas da persuasão aos argumentos indiscutíveis da autoridade. Não enfraqueceu diante do medo das pressões e das decisões tomadas; nem a vaidade e a inflexibilidade Ao protelar a idéia de expulsar os discentes, o Reitor ganhava tempo, pois só colocou em votação o assunto em outubro de 1969. O seu objetivo era que os alunos se formassem. Em 10 de março de 1969, o Reitor João Cardoso reuniu todo o corpo docente e discente da UFS na Faculdade de Ciências Econômicas e leu em público a Portaria de nº. 09, em que seriam suspensos do exercício de suas funções todos os dirigentes dos órgãos e das representações estudantis da UFS. imobilizaram-no para o reexame e as revisões indispensáveis. O tempo e a paciência entraram sempre na fórmula com que curava as incompreensões e a maldade dos ressentimentos gratuitos. Em fevereiro de 1970, ele foi novamente convocado a depor, desta vez diante do General Comandante da 6ª Região Militar, Abdon Senna, para prestar esclarecimentos sobre a subversão estudantil na UFS, após receber outro oficio confidencial nº. 001/SI/DSIEC/70 da Divisão de Segurança e Informações, onde continha o Para a professora e historiadora Maria Thétis Nunes: nome de mais cinco estudantes entre os quais estava o historiador José Ibarê Costa Dantas (Oficio nº. 001/SI/DSIEC/70 do Ministério da Educação e A luta naquele momento era sobretudo estudantil. Nós sabemos o que em 1968 foi passado. A passeata dos Cem Mil, e aquela passeata toda foi a reação. Quanta gente perdeu emprego; Estudantes cancelaram as matrículas. Muitos começaram seus exames e foram terminar em outros estados. Aí, Doutor João conseguiu contornar realmente isso, essa é a grande verdade naquela época, ele tinha muita conversa e com www.fijav.com.br/revistaeletronica 135 Cultura enviado ao Magnífico Reitor da Universidade Federal de Sergipe Professor João Cardoso. Data: 7.1.1970. Fonte: Acervo pessoal do Prof. João Cardoso).. No segundo parágrafo do citado oficio, dizia que o Magnífico Reitor tinha suspendido os direitos políticos estudantis, www.fijav.com.br/revistaeletronica 136 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 entretanto todos integrantes mencionados na lista, continuavam a freqüentar dependências da UFS pelo Departamento de Polícia Federal, este chefiado as faculdades, fazendo inclusive, distribuições de jornais e outras pelo General Bretas Cupertino; a inspeção da Diretoria de Divisão de publicações notadamente subversiva. Segurança e Informações dirigida pelo Brigadeiro Armando Tróia e a Ao longo da história da UFS, muitos nomes destacaram-se, cada um contribuindo ao seu modo para a consolidação do ensino superior coação vinda do 28º BC sob o comando do Coronel Ítalo Diogo Tavares (DANTAS, 2004). federal em Sergipe. Portanto, o nome do seu primeiro Reitor, Professor O Professor João Cardoso não foi simplesmente o Magnífico João Cardoso Nascimento Júnior, deve ser lembrado como aquele que Reitor da UFS, mais um “Reitor Magnífico”, pelo papel que conduziu e resistiu habilmente às tentativas dos militares de exigir a desempenhou dentro dessa universidade, pois muitos estiveram sob sua expulsão dos estudantes que participaram ativamente do movimento proteção; e com “tiras em seu corpo”, livrou os seus discentes e docentes estudantil, deixando sua marca na História do Ensino Superior em das garras do poder opressor e agressor dos militares. João Cardoso Sergipe como um homem conciliador e de visão abrangente. Nascimento Júnior não administrou a UFS com atitudes covardes e nem Segundo o professor José Paulino da Silva: foi subserviente; não baixou a cabeça para os mandos e desmandos do governo militar e nem para aqueles que, por terem indicado seu nome Numa época de governo autoritário, avesso a qualquer sopro de liberdade das instituições e das pessoas, João Cardoso soube conduzir os destinos da Universidade Federal de Sergipe, defendendo a autonomia de pensamento da instituição e, sobretudo, soube ser paciente com os jovens universitários e defendê-los contra a arbitrariedade e a prepotência do então governo federal do regime ditatorial militar (SILVA, 1998:11). para Reitor, pensaram em decidir como queriam o destino da universidade em Sergipe. O “Reitor Magnífico” João Cardoso Nascimento Júnior, dirigiu a instituição com dignidade; e como escreveu a professora e escritora Núbia Marques, “o Reitor da Universidade, com sua serenidade, conseguiu conter situações delicadas. Hoje não convém citá-las” (MARQUES, 1988). No dia 15 de maio de 1972, no salão nobre do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, o Professor João No início de 1969, poucos eram os que sabiam o que estava Cardoso Nascimento Júnior despede-se do seu reitorado da UFS. Em acontecendo no interior da Reitoria da UFS. As pressões sofridas pelo sessão extraordinária, os conselheiros, o corpo docente, discente e Professor João Cardoso começaram bem antes da institucionalização do AI- funcionários da Universidade Federal homenageiam o seu ex-reitor. Em 5, a exemplo da vigilância da 6ª Região Militar em Salvador, comandada nome do Conselho Diretor falou o Dr. Walter Cardoso, enquanto que em pelo General de Brigada Abdon Senna; as interferências dentro das nome do Conselho de Pesquisa e Universitário falou o Dr. João Batista www.fijav.com.br/revistaeletronica 137 www.fijav.com.br/revistaeletronica 138 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Perez Garcia Moreno, ressaltando o trabalho do Professor João Cardoso à de Aracaju, para que continuasse no cargo de Reitor, o Professor João frente da Reitoria. Em agradecimento o homenageado, João Cardoso Cardoso Nascimento Júnior recusou. O Ministro da Educação queria-o finaliza o seu discurso de despedida dizendo que a Universidade deve dentro da universidade devido ao caráter seguro e as habilidades que estar sempre integrada ao homem (Recorte do jornal “Gazeta de tinha quando se tratava de lidar com questões envolvendo o corpo Sergipe”. Data: 20.5.1972. Fonte: Acervo pessoal do Professor João discente; e este caráter para Jarbas Passarinho, era necessário dentro de Cardoso). uma universidade. Portanto, indicou, assim com foi pedido pelos A imprensa sergipana noticiou o fim do mandato do primeiro membros dos Conselhos, um nome, o do professor Luiz Bispo, Reitor da UFS, ressaltando a valiosa contribuição prestada pelo Professor acreditando ele ser melhor naquele momento para dar continuidade ao João Cardoso ao ensino superior em Sergipe. O Senador da República trabalho que vinha sendo feito dentro da administração da UFS. Lourival Baptista, em nota ao jornal “Gazeta de Sergipe” (Jornal “Gazeta Em oficio de nº. GR/122/72, de 15 de maio de 1972, enviado ao de Sergipe”. Data: 3.6.1972. Fonte: Acervo pessoal do Professor João MEC, em nome do Ministro Jarbas Passarinho, o Magnífico Reitor João Cardoso), disse que o Professor João Cardoso, como primeiro Reitor, foi Cardoso Nascimento comunica o encerramento do seu mandato no cargo um grande colaborador para o desenvolvimento educacional do Estado. de Reitor da UFS, notificando a transmissão do cargo para o Professor O Professor João Cardoso deixou a Reitoria da UFS no dia 15 de Luiz Bispo. Em seu nome e em nome da Universidade agradeceu ao maio de 1972, após quatro anos de mandato, cumprindo mais uma Ministro pelo seu elevado espírito público e por ter encaminhado as missão que lhe foi confiada. Emocionado, agradeceu em poucas palavras soluções dos desafiadores problemas da Educação e Cultura no Brasil e as homenagens que lhe foram prestadas pelos professores, diretores, pela compreensão que teve com a UFS na sua cotidiana luta para poder funcionários e estudantes. Na ocasião, o Professor João Cardoso prestar os serviços de que tanto carecem aqueles que a procuraram e nela Nascimento Júnior transferiu o cargo de Reitor para o seu sucessor depositaram suas esperanças (Oficio nº. CR/122/72. Universidade professor Luiz Bispo. O Ministro da Educação Jarbas Passarinho mandou Federal de Sergipe para o Ministério da Educação e Cultura. Data: um representante do MEC o Dr. Sileno Ribeiro Paixão para transmitir ao 15.5.1972. Fonte: Acervo pessoal do Professor João Cardoso). Professor João Cardoso, os seus agradecimentos pelos serviços prestados a educação brasileira. Mesmo com o pedido da comunidade universitária, do Ministro da Educação e Cultura Jarbas Passarinho e das sociedades civil e política www.fijav.com.br/revistaeletronica 139 www.fijav.com.br/revistaeletronica 140 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Considerações Finais Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Através da história foi possível elaborar uma pós-história, dando Na esfera da abordagem biográfica, uma história de vida ou trajetória deve ser entendida como um caminho de conhecimentos do mundo apresentado e apropriado através da subjetividade dos sujeitos que decidi biografar. A relevância do estudo aqui apresentado teve como objetivo reconstruir a trajetória do Professor João Cardoso Nascimento Júnior, como médico e professor, apontando os traços que marcaram sua significado a um conjunto de significados. O esforço de interpretar essa trajetória, apontando sua importância para os estudos biográficos na História da Educação em Sergipe, foi providencial, pois tem como objetivo narrar a história de vida desse intelectual da educação, trazendo-o de volta, dando-lhe voz outra vez, tirando-o do esquecimento. Para o historiador e professor Jorge Carvalho do Nascimento: presença no cenário educacional, social e histórico sergipano. Percebi as inúmeras possibilidades que a abordagem biográfica ofereceu para a construção da pesquisa histórica e em particular para compreensão do determinado contexto da historiografia educacional sergipana, empreendendo o exercício fascinante de garimpar memórias, reconstruindo histórias de vida e a partir delas apropriar-me de saberes, A reconstrução das trajetórias dos intelectuais pode ser feita através dos registros de suas experiências de vida: registros de imprensa, documentos institucionais e particulares referentes à formação, atuação profissional e política , atas, relatórios, processos, teses, depoimentos (orais e escritos), cartas e fotografias (NASCIMENTO, 2007:97). conhecimentos, experiências e práticas que se tornaram imperceptíveis A metodologia escolhida para construção deste estudo inseriu-se na aos documentos. Ao narrar às experiências do Professor João Cardoso, compreendi perspectiva da Abordagem Biográfica, em que me utilizei da narrativa para sua trajetória não como uma reprodução de fatos passados, mas como uma entender o significado dos caminhos trilhados pelo ator social João Cardoso reconstrução congruente da compreensão atual, fazendo-o sujeito da sua Nascimento Júnior, os quais segui através das fontes documentais e orais própria história, através das suas emoções, das suas decisões e escolhas. A para construir sua história de vida, trazendo para a narrativa as narrativa utilizada para a construção deste texto não se limitou apenas à representações e apropriações do mundo vivenciado por ele, através das reconstrução do passado, mas se preocupou em expressar a compreensão suas memórias e pelas experiências compartilhadas por meio de de momentos vivenciados pelo personagem João Cardoso Nascimento depoimentos, ajudaram-me na construção deste artigo. A trajetória do Professor João Cardoso Nascimento Júnior ainda Júnior. tem muito para contar e contribuir com a História da Educação em Sergipe. www.fijav.com.br/revistaeletronica 141 www.fijav.com.br/revistaeletronica 142 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Recorro às palavras de Ana Chrystina Venâncio Mignot que diz: “sua trajetória evidencia que a vida é mais complexa que as classificações. Em Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 _____________________. O historiador e seu personagem: algumas reflexões em torno da biografia. In: Revista Horizonte. V. 19. Bragança Paulista: jan/dez. de 200 (p. 01-10). diferentes momentos, nos diversos espaços de atuação, demonstrou que entendia a educação como instrumento de ação política” (MIGNOT, 2002:324). BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: M. M. Ferreira e J, Amado.(Org.). Uso e abuso da História Oral. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996 (p.184). ________________. 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Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 O USO DE RECURSOS AUDIOVISUAIS NO ENSINOAPRENDIZAGEM DA LÍNGUA LATINA Cezar Alexandre Neri Santos OUTRAS FONTES: Professor de língua latina (UFS / FJAV). [email protected] Jornal “Gazeta de Sergipe”. Data: 3.6.1972. Fonte: Acervo pessoal do Professor João Cardoso. _________________________ Data: 20.5.1972. Fonte: Acervo pessoal do Professor João Cardoso. Jornal da Cidade. Data: 29.08.1998. Fonte: Acervo particular da família Cardoso. MARQUES, Núbia N. A difícil Reitoria. Jornal da Manhã. Caderno Opiniões/Debates. Data: 19 e 20 de junho de 1988. Fonte: Jornal da “Manhã”, pertencente ao acervo particular da família Cardoso. Oficio nº. 001/SI/DSIEC/70 do Ministério da Educação e Cultura enviado ao Magnífico Reitor da Universidade Federal de Sergipe Professor João Cardoso. Data: 7.1.1970. Fonte: Acervo pessoal do Prof. João Cardoso. SILVA. José Paulino. UNIT homenageia 1º Reitor da UFS. Jornal da Cidade. Seção Variedades – Caderno C – página 11. ENTREVISTAS: GAMA, João Augusto, concedida à autora em 3.1.2007. LIMA, Antônio Bernardo da Silva, concedida à autora em 12 de abril de 2007. RESUMO Este trabalho pretende apresentar experiências resultantes da prática docente em língua latina. Até o século XVIII o Latim era visto como indispensável na vida civil. Já na sociedade contemporânea, seu espaço está restrito à igreja, a algumas ciências e aos bancos escolares dos cursos de ciências humanas. As TICs (tecnologias da informação e comunicação) têm facilitado o acesso a bons e raros materiais, ao passo que obras didáticas clássicas sofrem redução editorial. Assim, ao lado das leituras de Fedro, Cícero e César, podem-se apresentar trechos da Vulgata, de orações, o dicionário vulgar e o ‘Latinitas Recens’ – léxico recente com vocábulos do cotidiano moderno, além de trechos de grupos musicais e do bestseller Harry Potter em sua versão latina. Acredita-se que a utilização de tais instrumentos pode incitar o estudo da etimologia e do legado histórico-cultural deixado nesta língua. Palavras chave: Latim; didática; recursos audiovisuais. ABSTRACT This work aims to present experiences of teaching process in the Latin language. Up to the eighteenth century Latin was indispensable in civil daily life. Currently, its use is reserved for the Catholic Church, college subjects and some sciences. TICs (communication and information technologic instruments) have made access to relevant and rare material easily, opposed to the number of didactic works in the classic area, which have been reduced drastically. Phedro’s, Cicero’s and Caesar’s works can be studied alongside with the Latin Bible, prays, and studies on modernday and forbidden vulgar lexicon in Latin. Besides, translating songs, texts and audios, like Harry Potter’s in Latin. It’s believed to stimulate students’ motivation through etymological and diachronic studies. Based on the purpose of making teaching pleasanter, strategies should be practiced so as to spread the Latin language and to clear up historic and cultural importance and bequest. Key words: Latin language; didactics; audio-visual aids. NUNES, Maria Thétis, concedida autora no dia 11 de julho de 2007. www.fijav.com.br/revistaeletronica 147 www.fijav.com.br/revistaeletronica 148 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 “Quem não estudou as estruturas do Latim ignora ainda do que é capaz a linguagem humana” (Werner Jaeger) Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 dos alimentos e sobretudo textos religiosos. Lê-se Aristóteles em sua tradução latina, assim como a Bíblia. (...) As descrições da Zoologia e da Botânica eram todas em latim; os nomes científicos, todavia, ainda o são.”ii A linguagem é um fato social e fatos lingüísticos são a expressão do Nas escolas do tempo medievo, os que tinham a oportunidade de espírito de uma determinada época, grupo ou nação. Diante dessa instruir-se estudavam com livros escritos em latim, e no seu ensino perspectiva, nenhuma língua ocidental foi tão fundamental e conseguiu ter utilizavam métodos de tradução direta, com textos literários longos e tanto prestígio em vários campos do conhecimento humano quanto o latim. complexos. As temáticas destes textos vão de provérbios a retórica, O latim deriva de línguas arcaicas faladas no Lácio e em Roma, objetivando um ensino basilar moral muito arraigado às tradições católicas. consolidando-se gramaticalmente a partir do século III a.C. Do local de sua É mister considerar que, na "Idade das Trevas", o modelo de erudição era o origem, na Itália central, provém o seu nome. Serviu inicialmente como ‘homo trilinguis’ ou ‘trium linguarum gnarus’, aquele conhecedor das três canal de comunicação do Império Romano e perdurou como língua franca – línguas sapienciais - latim, grego e hebraico. Mesmo assim, os dois últimos idioma dos negócios, das ciências, da escola – até o fim do Renascimento. foram sempre subjugados ao primeiro. O grego, por possuir vasta literatura No entanto, muitos perguntam por qual finalidade se estuda latim se há várias obras já traduzidas para as línguas modernas. Crê-se que a pagã, não podia ser cristianizado, a exemplo de tratados filosóficos; assim como a língua hebraica por estar vinculada à religião judaica. verdadeira instrução para a humanidade exige universalidade e uma visão Desde suas origens ao seu desaparecimento como língua viva, se geral. Quanto a isto, Schopenhauer indaga “como seria se cada um deles imortalizou nas penas de Cícero, César e Vergílio. Seu auge se deu entre o [autores antigos] tivesse escrito na língua de seu país, seguindo o estágio século I a.C. e meados do século I d.C. como via de expressão dos autores em que ela se encontrava na sua época? Seria impossível, para mim, supracitados, literatos clássicos universais. É importante ressaltar o porquê i entender sequer a metade dos seus textos (...)” Grande defensor do ensino o Latim galgou tal prestígio como língua universal e o grego não. das línguas clássicas, grego, latim e sânscrito, o filósofo alemão ratifica a Supremacia política não significa imposição lingüística e o ponto de importância cultural do latim, como via propagadora durante vários séculos desequilíbrio a favor do primeiro foi o Cristianismo, e com ele seu maior do conhecimento humano. representante, a Igreja Católica. No século IV d.C., o Catolicismo tornou-se Esse partidarismo quanto ao latim se dá porque foi nesse idioma a religião oficial do Império Romano, ao mesmo tempo em que tomou para que “as leis francesas são escritas até séc. XVI, (...) os tratados de música si o latim como sua língua oficial. Literatura, vocabulário e ensino passaram de Boécio; livros de medicina, de culinária, de veterinária, de conservação www.fijav.com.br/revistaeletronica 149 www.fijav.com.br/revistaeletronica 150 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 a ter um forte cunho moral, já que as obras cristãs passaram a ser escritas na não a ordem, mas os sufixos determinam a função sintática de um termo na língua de Roma. oração. Poucas línguas modernas possuem este princípio, como o alemão, e Com a expansão territorial do Império Romano, consolidado na seu desaparecimento nas línguas românicas se deve, por exemplo, às leis Europa, África e Ásia entre I a.C. e III d.C., o latim foi levado nesse plano fonéticas. É comum que os falantes pronunciem erroneamente certas dominatório. Tal contato permitiu que até línguas de árvores lingüísticas terminações. Como modelo de comparação, pode-se verificar como os não-itálicas se latinizassem, a exemplo do alemão e do inglês. Este último, brasileiros deixam de pronunciar o S final das palavras. O mesmo ocorreu de descendência indo-germânica, possui entre 45 e 55% de seu léxico de com o latim historicamente. iii origem latina, boa parte através do francês. Isso se deve à invasão Com o exposto, é latente que o latim serve como língua que normando-francesa a partir do século XI, que renovou lexicalmente a língua demanda certa lógica e atenção no seu estudo. Por tal fato, muitos países da Bretanha, um dos motivos pelo qual há tantos cognatos entre o português não-latinos o proporcionam em seus currículos, inclusive no ensino médio, e a língua de Shakespeare. independente de área do conhecimento. Talvez pelo valor que tais nações Outro ponto relevante é o ensino do latim em diversos países não- dêem ao latim e ao seu legado histórico-cultural, pode-se relacionar com o românicos. Entre estes, merecem destaque a Alemanha, grande difusor da nível econômico e intelectual alcançados. O Brasil, na contramão destes filologia românica, área destinada aos estudos e críticas de textos nas países, mesmo sendo de família lingüística românica, restringiu os estudos línguas neolatinas. Além de haver grande número de estudiosos, todo clássicos aos cursos de letras, depois de várias reformas educacionais. aquele que se destina ao ensino superior naquele país tem de estudar latim Muitos são os que pensam que o latim restringe-se a influenciar por nove anos. Na Áustria, sete. Em Bremen, norte da Alemanha, há uma línguas como português, espanhol, francês e italiano, pela posição rádio transmissora que expede tudo em língua latina. Neste país, o latim é a geográfica de Roma. Porém, são dez as línguas denominadas românicas ou terceira língua mais procurada nas academias, atrás apenas do inglês e do neolatinas. Além das citadas, há o romeno, como o próprio nome pode francês. “Os alemães querem aprender latim na tentativa de entender as explicitar sua ligação com Roma, o provençal, sardo, rético, catalão e o suas próprias raízes e de encontrar uma identidade européia comum. O dalmático. Estes últimos são dialetos não elevados ao nível de língua renascimento latino coincide com a unificação da Europa.”iv literária como os primeiros, mas com estrutura léxico-gramatical também A preferência de vários autores pela língua latina se dá por esta ser advindas da língua do Lácio. uma língua sintética. Isso significa que seu sistema nominal é baseado em Atualmente o latim é lembrado comumente por ser uma língua desinências, exigindo lógica e perspicácia do estudante em entender que morta, ou seja, não possuir uma comunidade lingüística falante. Mesmo www.fijav.com.br/revistaeletronica 151 www.fijav.com.br/revistaeletronica 152 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 assim, deve-se lembrar que as línguas românicas ou neolatinas são a antigos habitantes do Lácio, na Itália Central. No Império Romano, não passagem diacrônica do latim dos tempos romanos e continua presente havia escolarização em massa, mas apenas uma parcela minoritária, como nestas línguas no léxico, na fonologia e na sintaxe. O português, por os cidadãos livres, podia freqüentar bancos escolares. Havia no Império exemplo, é denominado pelo epíteto ‘A última flor do Lácio’. Isso se deve a uma coexistência pacífica entre o latim clássico e o latim vulgar. É este ter sido um dos últimos idiomas a se formar do latim – século XII. relevante pontuar aqui a distinção entre duas formas. Como afirmam tantos autores, deve ser esta a causa de a língua portuguesa ser tão semelhante em léxico e ortografia ao latim. Toda língua possui níveis lingüísticos, ou seja, formas canonizadas como estilo correto ou em desconforme com suas regras. Deve-se pontuar Contrariamente, não há tanta menção ao idioma que permutou que durante o Império Romano diferentemente do que comumente se influências com o latim na formação de nossa língua. A língua originária do imagina, este último não é derivado do primeiro, mas tal latim era vulgar Condado Portucalense, hoje correspondente à região de Portugal, o dialeto por “ser uma língua popular, expressão das camadas sociais que não galego, sofreu simbioses ao encontrar os dominadores romanos, tiveram acesso à cultura formal e escrita. Não fica excluído que essa colonizadores desta área. O modelo sintático e de estilo foi o latim, assim variedade pudesse ser falada também pela aristocracia em situações como o esquema gramatical sobre a qual foram descritas, mas é certo que o extremamente informais”viii. Isso revela que ambas as variantes lingüísticas galego também influenciou a língua de Camões. se constituíram concomitantemente. Contudo, mesmo grandes impérios possuem limitações. E a Assim, as línguas românicas são o produto desse latim vulgar, Romanização superficial ou a superioridade cultural dos vencidos fez do gramaticalmente ‘errado’, com os dialetos das áreas conquistadas. O latim latim galgar, no máximo, a posição de adstratov em certos locais da dominava sob a sua forma dupla: o “sermo nobilis”, língua literária das Româniavi. Para Ilari, “o latim impôs-se como língua falada no obras de literatura, dos tratados e das escolas e o “sermo rusticus, plebeicus, mediterrâneo ocidental e na Europa continental, mas esteve sempre em castrensis”, a linguagem dos colonos e falada pelas populações locais. vii Segundo Oliveira, “isso aconteceu não porque essas línguas Assim, a separação do império Romano em Império do Oriente, de deixaram de ser empregadas, mas porque não atendiam mais às língua grega, e Império Ocidental, de língua latina, corresponde a uma necessidades de uma nova civilização, nem às relações que se tornavam realidade. Mesmo sendo influenciado, o Latim não é derivado do grego nem mais freqüentes entre as diversas partes do Império e, sobretudo, com a de qualquer outra língua historicamente conhecida. Ele resulta de um metrópole”. Durante a expansão territorial do Império Romano, o latim situação de inferioridade na Grécia, Anatólia e no Mediterrâneo Oriental.” idioma há muito desaparecido, que não pode ser reconstituído, falado pelos www.fijav.com.br/revistaeletronica 153 www.fijav.com.br/revistaeletronica 154 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 influenciava dialetos autóctones com vocabulário ligado à guerra e ao arremessando contra eles, como dardos, a mais segura das armas: as direito. palavras da prece”. xi Todas as grandes civilizações durante o curso da humanidade, como o império Babilônico, o Egito, as cidades-estados Gregas, os Impérios Romano e Inca, deixaram um legado de influências ou vestígios que permanece até hoje. Numa proposta de dominação, a eficácia está diretamente proporcional à aculturação do oponente. É assim atualmente o caso estadunidense, sendo o inglês uma via de imposição através dos negócios, da internet e de sua cultura tecnológica. Quanto ao prestígio do latim, Oliveira explica que “as línguas modernas, por sua vez, não seriam dignas de desempenhar o mesmo papel pedagógico que as línguas clássicas, pois não teriam o mesmo valor cultural e civilizador” ix. Detendo-se à esfera científica, observamos a importância do latim como instrumento de difusão do conhecimento epistemológico. Das ciências jurídicas às biológicas, passando pela literatura, foi em latim que os Numa perspectiva sociopolítica, ao mesmo tempo em que o uso do latim perdia utilidade para a vida profissional, também foi um instrumento de divisão social. Assim, não importava sua nacionalidade - Inglaterra, Portugal, França ou Brasil - o latim era o divisor de classes, aquele que classificava os cidadãos. Esse era o pensamento da elite medievo-moderna. Este fato também ocorre na atualidade, a exemplificar o poder do inglês e na distinção social entre os falantes e os não-falantes da língua de Shakespeare. Por outro lado, o latim também funcionou como ferramenta de ascensão social. Alguns argumentos atestam que a aprendizagem de uma língua clássica gera nas pessoas senso crítico, ao mesmo tempo em que constitui status no meio social. Segundo Oliveira, seu estudo seria cientistas até o fim do Renascimento se expressaram, sendo o idioma do Lácio a língua franca da Idade Média, ou seja, língua da cultura, das correspondências e dos negócios. Todo o modus vivendi e modus cogitandi do homem medievo foi permeado de latim: lia-se a Bíblia através de sua tradução latina, a Vulgata, feita por São Jerônimo no fim do século IV, mesmo já havendo, antes desta, uma encorajadora de aspirações quiméricas a profissões inacessíveis às massas mais humildes (...). Por outro lado, “do Renascimento ao século XIX, o latim foi um fenômeno amplamente elitista, [que] classificava os indivíduos, ou seja, traduzia ostensivamente a pertença a uma classe.” (OLIVEIRA, 2004, p. 101) várias versões da Bíblia grega, na qual a mais difundida foi a Agostiniana, denominada Ítala. Cantava-se em latim para afastar o mal x. Como observa A Igreja Católica foi certamente o maior difusor da língua latina. Georges Duby, os cantos gregorianos são "cantos de guerra, criados pelos Os cristãos foram barbaramente perseguidos durante 300 anos. As primeiras monges, combatentes contra os exércitos satânicos, para impor a derrota, comunidades cristãs se opunham ao politeísmo Romano e sua injusta 156 www.fijav.com.br/revistaeletronica www.fijav.com.br/revistaeletronica 155 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 política de coleta de impostos, que designava todos, pobres ou ricos, como uma reconciliação interior no coração da Igreja (...) a missa no antigo rito devedores de César. Mas em 391 d.C., após tornar-se religião oficial do tridentino poderá ser celebrada livremente em todo mundo, pelos sacerdotes Império Romano, proibiu outras crenças e rituais de serem praticados, que assim o desejarem, sem necessidade de autorização hierárquica, licença constituindo-se como uma instituição de Roma, e transformando-se em ou indulto de um Bispo”.xii O papa, com esse ato, dá força e margem à ala canal de comunicação de todos os autores cristãos até o início do tradicionalista da igreja, que se viu prejudicada com a promulgação do Renascimento. Pode-se inferir que a Igreja, nesse ponto, via no latim um Concílio Vaticano II, na década de 1960, em que a Igreja dá grandes saltos idioma unificador, com o papel de reunir todos os pensamentos cristãos em no sentido de abertura política. Este concílio é visto por muitos como uma unidade lingüística. Essa visão pastoral tinha uma função extremamente liberal. emancipatória, já que ao aprender o idioma do Lácio, o indivíduo teria acesso à vasta literatura. Com os argumentos anteriores, atesta-se que a língua latina foi um instrumento poderoso utilizado em várias esferas do conhecimento Concomitante e paradoxalmente, a Igreja, no Concílio de Tours, na epistemológico e artístico. E que deveras é interessante entender o espaço França em 813, percebendo a existência das línguas românicas nacionais, das línguas clássicas no processo histórico assim como seu significado prescreve que o clero e missionário passem a evangelizar desde então não pedagógico, político e social. mais em latim, para que houvesse compreensão e eficácia na recepção da Até o século XVIII o Latim era visto como indispensável na vida mensagem cristã. Constata-se que, já em tal época – século IX, as línguas civil. Entretanto, as críticas ao seu ensino se davam pela sua rigidez ou nacionais possuíam estrutura própria, e assim, sendo distintas do latim. metodologia descontextualizada. Atualmente, na maioria das universidades No campo religioso, ainda se mantém como a língua oficial do brasileiras, depara-se com alunos despreparados e desmotivados. A prática Vaticano. Por isso, todos os documentos oficiais da Igreja são expedidos em docente faz acreditar que quando há o segundo fator – a motivação – a falta latim, e somente após ou concomitantemente são traduzidos para as línguas de outras variáveis é minimizada e que o ensino não-traumático, mas sim modernas. Até a década de 1960, as missas, se iniciavam com o In nomine apaixonante e contextualizado, é possível. Patri e terminavam com o Dominus vosbiscum, passando pelo Pater As TICs (tecnologias da informação e comunicação) tem facilitado o acesso a bons e raros materiais. Ao lado das fábulas de Fedro e dos Noster. Atualmente, há uma discussão quanto à posição do papa Bento XVI clássicos de Cícero e César, pode-se apresentar trechos da Vulgata, orações, em permitir que a liturgia seja professada em latim. No documento "motu estudar o ‘Latinitas Recens’ – dicionário recente com vocábulos do proprio”, de julho de 2007, Bento afirma que "é uma questão de chegar a cotidiano moderno. Traduzir trechos de grupos como Era, Cirque du Soleil, www.fijav.com.br/revistaeletronica 157 www.fijav.com.br/revistaeletronica 158 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 High School Musical, Carl Orff, texto e áudio do best-seller Harry Potter, já leituras de Harry Potter, de músicas contemporâneas em latim e de cantos com duas versões latinas, além de estudo de uma lista de vocábulos gregorianos. proibidos em Latim incitam a curiosidade quanto à etimologia e ao estudo Quanto ao glossário latino, Longo diz que: diacrônico. O ensino de uma segunda língua possui particularidades, por ser o “para quem está diante de um dicionário de uma língua antiga como o latim, cujo estudo está reduzido à recepção escrita, todas as informações que visam à produção de discursos na língua, geralmente fornecidas pelos dicionários bilíngües, não têm a mesma relevância que no dicionário de um idioma moderno. Para garantir a leitura e a compreensão do texto latino, tornam-se importantes aquelas informações que dêem conta da significação da palavra e seus diferentes empregos.” (LONGO, 2006, p. 39) “aprendizado de línguas diferente de qualquer outro aprendizado devido à sua natureza social e comunicativa. Aprender uma língua envolve comunicação com outras pessoas e isso requer não somente as habilidades cognitivas, mas também habilidades sociais e comunicativas”.xiii Assim, a aprendizagem de uma nova língua possibilita um leque de oportunidades, como o acesso a outra cultura, seus costumes e seus escritos. Como professor também de uma língua moderna, a citar o inglês, e estudante de alemão, o autor desse texto percebe profundas diferenças na abordagem de ensino dos idiomas modernos em relação aos clássicos. O latim apresenta objetivos diferentes dos de uma língua moderna, exatamente por ser uma língua clássica, como o inglês. Seu foco está num viés mais cultural que comunicativo, já que se o estuda nas universidades brasileiras não para a prática oral, mas para a tradução e compreensão de sua literatura, para seu estudo gramatical ou influência na língua Deve-se trabalhar na carga contida no radical da palavra latina. Assim, o estudo dos metaplasmos (µετα:: além de + πλασµα obra modelada) é balizado no entendimento das alterações fonéticas que ocorrem em determinadas palavras ao longo da evolução de uma língua. Metaplasmos podem ocorrer pela adição, supressão ou modificação dos sons. Tal mecanismo torna-se útil pois ao entender que as leis fonéticas seguem portuguesa. Crê-se que a utilização de novas estratégias no ensino de latim possibilite um relevante meio de aprendizagem. O uso do dicionário não é o único instrumento possível de estudo de uma língua clássica. A internet é uma ferramenta de auxílio ao professor de latim. Através dela, pode-se fazer download de áudios de resenhas de livros clássicos e modernos, como www.fijav.com.br/revistaeletronica O dicionário não deve mero instrumento de procura por vocábulos. 159 padrões regulares, o alunado compreende a etimologia de muitas palavras em língua vernácula através de modelos lineares. Isso é possível por que o latim possui diversas similaridades com o português, já que aproximadamente 59% (60.000 palavras) do nosso vocabulário derivam diretamente do latim vulgar, sendo quase www.fijav.com.br/revistaeletronica todas estas são, 160 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 morfologicamente, ativas, com exceção de 354 termos, que, até o presente, ficaram inativos xiv. Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 O professor de latim deve estar consciente e conscientizar os alunos de que o uso de recursos com teor sacro não significa transmitir uma Músicas, independente da língua, é sempre uma boa técnica de corrente ideológica. Todo estudo epistemológico, como é o que o latim aprendizagem. O latim traz consigo uma grande carga religiosa, também pretende ser, deve estar dissociado de ideologias religiosas. Apesar de possuindo diversas obras seculares. Até o emprego de músicas pode ser grande e valioso material estar relacionado à Igreja Católica, orações e guiado por óperas ou bandas góticas que encontram no latim uma expressão referências místicas devem ser trabalhados tão imparcial quanto de seu estilo medieval. É evidente o grande número de grupos musicais objetivamente. como Nightwish, Era, Rhapsody, que enfocando a mitologia clássica, Corroborado a esfera religiosa, a visão do professor de latim sempre através do latim, compõem canções nessa língua. O interessante em tais se configurou a de um docente desatualizado, “caduco” ou conservador. obras é o teor pagão e demoníaco que várias possuem. Ao contrário dos Para Vasconcellos, em seu texto sobre a visão de professor de latim no cantos cristãos, que entoam anjos e Maria e a exaltação de Jesus Cristo, cinema, comenta que “no Brasil, até há algumas décadas atrás, essa imagem músicas pagãs pregam o fim do Reino de Deus e a exortação do diabo. Um era freqüentemente associada a ideais de direita e a elitismo, o que deve ter exemplo disto está na canção “Cathar Rhythm”, que compreende em seu contribuído para a eliminação do latim dos currículos das escolas de ensino refrão a passagem “O Reino não é nada, escureceu, onde está Tu, deus secundário a partir da década de 60“.xv cruel/fortaleza? (...) as mãos negras do diabo”. Por este último argumento, uma estratégia de ensino eficaz é Até o grupo circense Cirque di Soleil tem em seu repertório canções utilizar áudios em latim, que representem as diversas pronúncias desta em vários dialetos, demonstrando o caráter universal no grupo. Uma destas língua. Numa abordagem comunicativa, utilizando diversos recursos, pode- foi composta em latim, Miracula Aeternitatis cuja temática é o milagre da se trabalhar vocabulário, estruturas gramaticais ou até compreensão vida. auditiva. Este último expediente é possível pela semelhança fonético-lexical O emprego da Vulgata, tradução bíblica latina feita por São entre as línguas latina e portuguesa. Exatamente por ser o português uma Jerônimo, se justifica pelo vasto conhecimento que as pessoas possuem do língua românica, a fonética portuguesa é baseada na latina, sendo que texto sagrado. Assim como documentos expedidos pelo Vaticano em latim, poucos são os fonemas diferentes. escritos sagrados podem ser trabalhados gramaticalmente. Aspectos dos sistemas verbal e nominal podem ser trabalahdos, como a criação do mundo Essa técnica, caracterizada como listening no ensino de inglês, permite que o aluno, ou excertos dos evangelhos. www.fijav.com.br/revistaeletronica 161 www.fijav.com.br/revistaeletronica 162 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 “assim como na leitura, na audição, há também duas formas simultâneas e complementares de processar um texto. No processo topo-base (de cima para baixo), os aprendizes usam seu conhecimento prévio para fazer previsões sobre o texto. Já no base-topo, estes se apoderam no conhecimento de elementos lingüísticos – vogais, consoantes, palavras, sentenças para fazer a construção do significado. Os professores geralmente acham que os alunos conseguiram captar todos os sons, palavras ou frases antes de entenderem o sentido geral da passagem. No entanto, na prática, eles geralmente adotam uma abordagem topo-base para prever o provável tema e então passar ao base-topo para checar seu entendimento”. xvi Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Outra técnica de ensino numa perspectiva sociocultural que pode interessar aos alunos é o estudo de léxico latino através de um dicionário vulgar. Através deste, decifra-se quais as principais expressões de baixo calão usadas no Império Romano, assim como compreender sua visão quanto à sexualidade como civilização que existiu há mais de dois mil anos atrás. Como exemplo, pode-se explicar que palavras como vagina, merda, penis, meretrix e cacare mostram que certos termos ainda continuam a ser usados em português. Curiosidades como estas fazem o discente pensar em língua como sistema de expressão de seu pensamento (νουσ grego). Neste viés, o estudo de léxico moderno latino se faz pertinente. Em latim, tal metodologia pode ser utilizada ao extrair do aluno seu conhecimento de mundo, um dos principais entraves de um professor de Como expressar, em latim, verbetes de cunho tecnológico ou disciplinas balizadas como históricas, como são o latim e a filologia contemporâneo, como computador, automóvel e internet, termos que não clássica. Trabalhar aspectos socioculturais, dando à disciplina um tom de existiam na época do Império Romano? Para tal finalidade foi criado o “latinidade”. As principais dificuldades estão na falta do que Buonamassa latinitas recens, dicionário de vocabulário recente que contempla termos de chama de “noções elementares de história antiga e geografia da Europa e expressão necessários num contexto capitalista e de sociedade globalizada. limitação do patrimônio relativo à cultura geral”. Para a autora, Disponibilizado para abranger termos que até então não possuíam verbetes, tais neologismos são necessários devido a seu emprego em novas situações. “em primeiro lugar, procuramos fornecer as informações relativas às questões históricas e geográficas. (...) e coadjuvados, os dois, pela escolha de documentários e filmes sobre o período histórico em tela, proporcionaram uma consciência bastante segura no aluno da importância do processo de romanização (durante e depois do Império Romano) para o desenvolvimento das línguas neolatinas e da língua portuguesa, especificamente.” xvii Como língua veicular da Igreja Católica e instrumento de ciências tais quais a Botânica e o Direito, tornam-se necessários termos que esclareçam essas expressões. Os amantes dos estudos clássicos, apesar de lidarem, certas vezes, com material escasso ou não traduzido, procuram perpetuar de diversas formas uma cultura da Antiguidade. Destarte, uma via encontrada pelos latinistas foram as histórias em quadrinhos. Escritas em latim e expondo www.fijav.com.br/revistaeletronica 163 temas de época, este gênero textual e entretenimento serve como forma de 164 www.fijav.com.br/revistaeletronica Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 aprendizagem. Um exemplo de quadrinhos é as aventuras de Asterix e palavras como internetum, captilavium (shampoo) ou autocinetum Obelix. Numa perspectiva histórica, pode-se ler sobre os célebres combates laophorum (ônibus). entre Gálios e Romanos, quando da invasão da Gália (atual França) pelos Independente de se tratar de línguas vernáculas ou estrangeiras, últimos. Personagens como Júlio César e seus centuriões são revestidos de modernas ou clássicas, o ensino baseado em técnicas que trabalhem os aspectos modernos, numa linguagem mais coloquial, em relação aos textos sentidos humanos é eficaz. Mais que comprovada, a teoria das múltiplas clássicos geralmente estudados nesta disciplina. inteligências de Howard Gardner atesta que são diversas as formas de Tal como Asterix, outro personagem da ficção que serve de veículo ao estudo do latim é o best-seller Harry Potter. Nas suas duas traduções obtenção do conhecimento, assim como também presume a teoria dos sentidos. latinas, ‘Harrius Potter’ e seus amici podem ser meios de aprendizagem do Tal tese baseia-se na idéia de que os canais sensitivos são mais idioma por dois motivos. Primeiro, por ser um texto moderno e de fácil aguçados a depender da personalidade do indivíduo. Nesta teoria há três aceitação por parte dos alunos, já que parte já leu ou possui o mínimo de tipos de alunos. A saber, sinestésico, auditivo e visual. Boa parte das informações sobre sua temática. Segundo por conter vários neologismos e crianças é sinestésica, daí a enorme quantidade de atividades que envolvem verbetes que apóiam o estudo do latinitas recens. Tanto em Philosophi o lúdico e a locomoção. Já adultos tendem a ser mais visuais e auditivos. Lapis (A Pedra Filosofal) quanto em Camara Secretorum (A câmara dos Nessa perspectiva de ensino de língua estrangeira, técnicas que segredos), o texto nos envolve com uma tradução direta e plena de termos abracem figuras, áudios, mapas e animações de histórias são bons contemporâneos, muitos dos quais perífrases para vocábulos cotidianos. Lá instrumentos de auxílio. Sempre aliada à teoria gramatical, a motivação e a encontram-se respostas para perguntas como ‘Como dizer computador ou aprendizagem do latim é facilitada e torna-se mais prazerosa. Em adição ao avião em latim, termos tecnológicos?’ Vocábulos como carro podem já explanado, o professor português João Torrão, numa pesquisa realizada demonstrar diferenças culturais interessantes. Em latim clássico traduz-se com discentes patrícios, demonstra que o deficit dos alunos é, por vezes, de como carrus, i, da segunda declinação. Mas carrus designa o carro da conhecimentos básicos humanísticos e gramaticaisxviii. Assim, entender as época do Império Romano – a carruagem. Para sanar tal ambigüidade, o vicissitudes e percursos da língua latina durante o curso histórico é de tradutor se fez de uma expressão para designar o léxico – quattuor rotula grande auxílio. automotaria. Pensando atentamente, um carro moderno nada mais é do que um “motor automático de quatro rodas”. Neste caminho, pode-se aprender www.fijav.com.br/revistaeletronica 165 www.fijav.com.br/revistaeletronica 166 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 CONCLUSÃO Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 iii Conclui-se que o ensino-aprendizagem do latim, útil não apenas aos estudantes de Letras, pode ser processado com técnicas multimídias, negando a pejorativa imagem de que o profissional desta disciplina é desajustado socialmente, desatualizado ou sádico. Esse ethos pode ser BRITO, Otávio T. de. Do Latim ao Inglês. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1965. iv LOSS, Hartmut apud SCARDOVELLI, Eliane. Namoro germânico com o latim In Revista Língua Portuguesa. Ano I. n. 8. São Paulo: Segmento, 2006. p. 45 v instrumentos. Técnicas até então reservadas às línguas modernas também Adstrato é um termo lingüístico que remete à situação de bilingüismo. Ou seja, o latim, na Grécia, por não possuir a mesma carga cultural do vizinho grego, conseguiu conviver concomitantemente nos territórios orientais, emprestando e influenciando lingüisticamente. podem fazer parte de uma aula de latim (ou grego). Além de fornecer um vi porque os amantes da língua latina vêm produzindo vasto material, didático ou não, neste idioma. Cabe ao docente ter acesso a esses por vezes raros caráter de formação humanística, patriótica e pedagógica, entre outros Entenda-se aqui o termo România como os povos latinizados, ou seja, sob a alçada do Império Romano e consequentemente, do latim. argumentos, o latim corrobora para a visão de linguagem como expressão vii do pensamento, de um povo, sua época e cultura (volkgeist) e dar subsídios ILARI, Rodolfo. Lingüística Românica. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1999. p.48 pedagógicos aliados à nova ordem mundial é uma saída para a procura e viii eficácia de seu ensino. Com essas práticas, espera-se e confia-se que frases Op. Cit., p. 60 ix língua que mata!”, com referência à dificuldade em se aprender suas regras, OLIVEIRA, Antônio Andrade de. O Ensino de Latim na História da Educação Luso-brasileira. 2004. 127 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Sergipe. p. 99 possam ser proferidas com menos freqüência. x como a de um aluno nosso “o latim não é uma língua morta, mas uma Como bem explícito em ‘O nome da Rosa (The Name of the Rose, ALE/FRA/ITA 1986). Jean Jacques Annaud. 130 min, Globo Vídeo’ xi DUBY apud BRAGANÇA, Álvaro Alfredo. Provérbios medievais em latim – o discurso da dominação. Hipertexto disponível em www.filologia.org.br/anais/anais_238.html. NOTAS i SCHOPENHAUER, Arthur. A Arte de Escrever. Trad. Pedro Süssekind. Porto Alegre: L&PM, 2005. p.35 xii ii xiii VIARO, Mário Eduardo. A Importância do Latim na atualidade. Revista de ciências humanas e sociais, São Paulo, Unisa, v. 1, n. 1, 1999. p. 8 www.fijav.com.br/revistaeletronica 167 http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=236651. WILLIAMS M.; BURDEN R.L. Psychology for Language Teachers. Cambridge. Cambridge University Press, 1997. www.fijav.com.br/revistaeletronica 168 Revista Eletrônica da FJAV – ANO I - nº 02 – ISSN 1983-1285 2008 xiv Apud HECKLER, Evaldo, et al. Estrutura das palavras: famílias, morfologia, análise, origem. São Leopoldo: UNISINOS, 1994. 416 p. p. 21 xv Vale a pena ler o artigo de VASCONCELLOS, P. S. A construção da imagem do professor de latim no cinema. Calíope (UFRJ), v. 17, p. 95, 2007 xvi http://iteslj.org/Techniques/Lingzhu-Listening.html, [tradução nossa]. xvii BUONAMASSA, Stefania. O ensino da Filologia Românica em Sergipe: algumas considerações teórico-metodológicas. Hipertexto em www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno09-08.html xviii Vide pesquisa sobre o ensino do latim em Portugal in TORRÃO, João Manuel. O ensino de latim: exigência ou sedução? Hipertexto disponível em www2.dlc.ua.pt/classicos/ensilodelatim.pdf www.fijav.com.br/revistaeletronica 169