Planejamento e novas determinações do
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Planejamento e novas determinações do
A ECONOMIA SOLIDÁRIA COMO INSTRUMENTO DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E HUMANO E O SISTEMA CAPITALISTA: COOPERAÇÃO versus COMPETIÇÃO Francisco Renê Fernandes Feitosa1 Ângela Lima Calou2 RESUMO: Diante da exclusão trabalhista inerente ao sistema capitalista há de se observar a existência de formas que resistem aos problemas do sistema dominante, propondo uma nova configuração da sociedade. Uma dessas formas é a Economia Solidária, um modo de produção caracterizado pela propriedade coletiva e que preza pelos princípios de solidariedade e igualdade entre os indivíduos. É com esta temática que este trabalho tem por objetivo analisar o quanto os empreendimentos solidários podem ser instrumentos de dinamização da localidade em que se encontram, a ponto de seu impacto econômico e social tornar-se amplamente reconhecido como uma ferramenta de desenvolvimento econômico. Alguns conceitos básicos sobre Economia Solidária são discutidos neste trabalho, bem como a questão do capitalismo e suas contradições, especialmente no tocante ao desemprego. Palavras-chave: Economia Solidária; Desenvolvimento Econômico; Empreendimentos Solidários. INTRODUÇÃO A Revolução Tecnológica, que não é mais caracterizada como sendo de infraestrutura, mas de sistemas de organização do conhecimento, é um dos principais motivos das transformações ocorridas no campo econômico. De início, o encurtamento do tempo e da eficiência da produção não parece problema, entretanto, com a ausência das mudanças institucionais correspondentes, a tecnologia termina por privilegiar minorias e gerar exclusão em massa (DOWBOR, 1998). Outro agravante é que, frente à hegemonia do capital fictício sobre as atividades substantivas do capital, ou seja, diante da ênfase que a fase do capitalismo especulativo tem 1 Servidor técnico-administrativo da Universidade Federal do Cariri - UFCA. Cursando Especialização em Direito Administrativo e Gestão Pública pela Universidade Regional do Cariri. Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri. Email: [email protected]. Cel: (88) 96224856 2 Graduada em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará, Campus Cariri e mestre em Filosofia Contemporânea pela Universidade Federal da Paraíba. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 837 dado às finanças em detrimento da produção de excedente econômico, surge uma certa reestruturação produtiva no sentido de atender a essa redução do papel do trabalho formal, sobretudo com relação às atividades industriais. Assim, para Carcanholo (2008), chega-se ao ponto de a sociedade negar o papel do trabalho como o centro da produção de riqueza, o que contrapõe-se à teoria marxista do valor. Asociedade moderna acostumou-se a conviver com surtos de crises econômicas temporárias. Desde que o capitalismo se firmou no mundo como forma de produção amplamente aceita e praticada, o homem começou a perceber os malefícios causados por suas práticas e, dentre os problemas gerados pelas crises econômicas do sistema, encontra-se o desemprego, o qual reduz o poder de compra das populações e, com ele, o nível de bem-estar geral. No Brasil, como observaPicchetti (2003, p.9) “a taxa de desemprego aberto tem se elevado paulatinamente desde o início dos anos noventa, em que pesem seus movimentos cíclicos conduzindo-as a quedas temporárias.” O mesmo autor afirma que houve aumento da dificuldade em se obter um novo posto de trabalho entre 1991 e 2002, pois a participação de trabalhadores desempregados a mais de um ano elevou-se de 12,1% para 23,8%, e a participação daqueles incluídos na faixa de duração do desemprego a mais de 12 meses aumentou de 4,1% para 11,4% no mesmo período. Já com relação ao número médio de semanas para obter um emprego, este passou de 17,6, em 1992, para 20,5, em 2001, chegando ao valor de 23,6 semanas no ano de 1999. Com isso, observa-se que o sistema capitalista, de acordo com os índices analisados, constitui um modelo econômico produtor de desemprego. O sistema em voga necessita conviver com processos de exclusão e inclusão ao mesmo tempo, o que apresenta contradições visíveis, uma vez que o mesmo é alimentado pela geração de empregos e demandas. Com o emprego formal perdendo sua representatividade a partir de uma tendência de queda notável, cada vez mais as pessoas têm se organizado em pequenas e médias empresas, bem como em unidades familiares informais no intuito de adquirir uma nova forma de inserção em cadeias produtivas. (DUPAS, 1998). Durante a década de 1980 e 1990, quando se intensifica o processo de abertura comercial às importações, movimentos sociais de reação às crises fazem ressurgir a Economia Solidária no Brasil de forma heterogênea no território. (SINGER, 2000). IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 838 Singer (2002) entende a Economia Solidária como sendo um modo de produção particular e diferenciado que presa pela propriedade coletiva e o direito à liberdade, e, que possui, nos princípios de solidariedade e igualdade, o mote da sua existência. Tal liberdade pode ser entendida como a liberdade de escolha da forma de organização pelos trabalhadores. Abdalla (2004) cita outra característica essencial da Economia Solidária, concernente à aversão à acumulação de lucro: este tipo de economia descarta a possibilidade de concentração de rendimentos entre um ou poucos do grupo, pois todos são reconhecidos como integrantes do negócio, o quê tende a desconcentrar a renda e aumentar a satisfação e o bemestar dos participantes. O surgimento da economia solidária, as inovações tecnológicas e as crises de emprego O processo de globalização da economia, observado nas últimas décadas, em conformidade com os princípios neoliberais e a busca pelo lucro e pela distribuição máxima de dividendos é, de fato, algo incombinável aos trabalhadores e aos sindicatos. Estes são vistos como meros redutores de lucros, os quais impedem a acumulação máxima pelos detentores dos meios de produção e devem ser combatidos de uma forma ou de outra. Com a redução do papel do Estado após a aceitação dessa nova lógica capitalista, a busca de lucros máximos e a curtos prazos tornou-se lei (AKTOUF, 2005). As inovações tecnológicas, que substituem os modelos de produção e trabalhos ultrapassados, são essenciais à sobrevivência das empresas no cenário global, uma vez que estas levam à “expansão das oportunidades de combinação de recursos materiais e humanos, aumentando a produtividade, a eficiência desses recursos e a competitividade das empresas” (KON, 1997 apud PERIOTTO et al., 2004: p.18). No entanto, com essa nova configuração da economia, as distorções estruturais se avolumam ao gerar desemprego em massa como subproduto dos ganhos de produtividade constantes, como menciona Ricardo (1996 apud Periotto, 2004). É fato que o trabalho constitui o fundamento da vida humana, importante para o processo de humanização e civilização, como reconhecia o próprio Karl Marx. No entanto, como afirma Antunes (2009), a sociedade capitalista distorceu o trabalho como algo que deve ser praticado de forma alienada e assalariada, tornando-se um meio de subsistência e não mais IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 839 um meio de construir a sociedade. Assim, o trabalho não é nada mais que mercadoria que tem a finalidade de gerar novas mercadorias no intuito de valorizar o capital. As crises de emprego e a ocorrência de colapsos em geral relativos ao sistema de produção, distribuição e consumo capitalistas tornaram-se comuns em todo o mundo, sobretudo após o século XX. Tais crises tomaram alcances generalizados com o advento da globalização, provocando efeitos maléficos para a sociedade e para o planeta, sentidos em todas as faixas sociais e em todas as nações. Abdalla (2004) afirma que grandes empresas exploram de forma predatória e irracional os recursos naturais dos quais utilizam para produzir, e, mais que um problema ambiental, a exploração capitalista também vem provocando o desemprego de bilhões de pessoas no mundo, através de sua lógica excludente. Nesse sentido das crises e contradições do sistema capitalista, afirma Sawaya (1999) que: A sociedade exclui para incluir e esta transmutação é condição da ordem social desigual, o que implica o caráter ilusório da inclusão. Todos estamos inseridos de algum modo, nem sempre decente e digno, no circuito reprodutivo das atividades econômicas, sendo a grande maioria da humanidade inserida através da insuficiência e das privações, que se desdobram para fora do econômico (SAWAIA, 1999, p.8). Na visão de Dupas (1998), as transformações socioeconômicas pelas quais o mundo tem passado ― principalmente a partir da década de 1980, com a intensificação da internacionalização econômica aliada à tecnologia da informação nas atividades econômicas ― fizeram surgir “pessoas supérfluas ao sistema”, gerando um foco de problemas sociais pela incapacidade de acesso aos meios de inserção social. O autor também afirma que: A tendência do capitalismo contemporâneo é reduzir o número e aumentar o porte dos grupos por setor, operando em nível global e lutando predominantemente por mercados abertos em competição enérgica. Evidentemente há muitas tentativas de acordos e proteções, mas o processo predominante é o da concorrência. (DUPAS, 1998, p. 125) Retomando o pensamento de Abdalla (2004), este afirma que essa lógica capitalista da concorrência gera reações espontâneas, difusas e irracionais na sociedade, as quais se refletem nos altos índices de criminalidade, violência, xenofobismo etc.. Ao mesmo tempo, existem as reações conscientes, planejadas e organizadas, como os atos de terrorismo. Para o mesmo IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 840 autor, só serão possíveis novas formas de produção e sociabilidade a partir de outra racionalidade. Assim, o sistema econômico vigente hoje torna-se incapaz de resolver o grande volume de problemas decorrentes das crises no interior de sua lógica, haja vista o caso dos países classificados como de “Terceiro Mundo”. Estes vivenciam um drama interno, onde os organismos estatais são ineficientes na contenção da escalada dos problemas sociais, principalmente dentro dos grandes centros urbanos, fruto de uma incapacidade do mercado de trabalho em absorver todos os que necessitam de trabalho. Dessa forma, um grande problema oriundo das crises capitalistas é a questão do desemprego crescente. O Estado é asfixiado pelos problemas relacionados a esse fenômeno, pois é forçado cada vez mais a buscar ferramentas de seguridade das relações sociais. Assim, para França Filho e Laville (2004): Com o aumento do desemprego, o Estado fica ao mesmo tempo privado de uma parte dos seus recursos e solicitado para novos compromissos financeiros: medidas de apoio ao sistema produtivo, redução das taxas de desemprego, incitação à retirada do mercado de trabalho para certas categorias de população, financiamento de formações para fins ocupacionais, criação de novas atividades com financiamento público parcial. (FRANÇA FILHO E LAVILLE, 2004, p.77) Oliveira (2003) esclarece que foi logo no início do século XX que as cooperativas começaram a ser utilizadas com maior intensidade por aqueles trabalhadores excluídos do sistema produtivo, distributivo e consumidor em voga na época, ou seja, o sistema capitalista, constituindo uma alternativa de sobrevivência frente às crises econômicas, redutoras do nível de emprego formal. Para o mesmo autor, o cooperativismo possui relação com a Economia Solidária e com a prática da autogestão: para ele, o cooperativismo pode ser um instrumento para a luta de determinados grupos sociais pela reinvenção de padrões culturais, sobretudo aqueles que se referem aos hábitos dos mecanismos de produção/distribuição/consumo de bens e serviços. No tocante ao surgimento da Economia Solidária segundo Oliveira (2003), os “socialistas utópicos”, sobretudo ingleses e franceses, os quais buscavam uma sociedade mais justa, como Proudhon, Willian King, Lánge, Buchez, Louis Blanc, Saint-Simon, Fourier e Robert Owen, possuíam idéias e práticas cooperativistas e influenciaram os “Pioneiros de Rochdale”. Tratava-se de um grupo constituído de artesãos do distrito de Lancashire na IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 841 Inglaterra, criadores de uma cooperativa de consumo em 1844, os quais desenvolveram os “Princípios de Rochdale”, que norteiam o cooperativismo até hoje. Tais pensadores formaram o pensamento cooperativo moderno, que começou a surgir na Europa Ocidental no início do século XIX, juntamente com a Revolução Industrial. Dessa forma, vários pensadores contemporâneos à época contribuíram para a formação do pensamento cooperativista, tendo como base as experiências relacionadas que iam surgindo. No entanto, para Veiga e Fonseca (2001), o cooperativismo surgiu antes disso, em 1760, com os trabalhadores dos estaleiros de Woolwich e Chatham (Inglaterra), os quais fundaram moinhos de cereais, numa reação defensiva, uma vez que os preços dos bens básicos se encontravam bastante elevados. O moinho de Woolwich foi incendiado durante o mesmo ano de sua fundação. Após esse incidente, surgiram várias padarias e moinhos cooperativos por volta de 1973, aumentando bastante o preço do trigo. Ainda segundo os mesmos autores, os tecelões de Fenwick de 1769, na Escócia, constituíram a primeira cooperativa de consumo existente no mundo, enquanto que na Inglaterra essa vertente de cooperativa surgiria apenas em 1795, chamada de Oldham Co-operativeSupplyCompany. No Brasil, data-se de 1887 o surgimento das primeiras cooperativas, no estado de São Paulo – a Cooperativa de Consumo dos Empregados da Companhia Paulista. Em 1902, nasce a primeira cooperativa de crédito no Brasil, em Nova Petrópolis (RS), administrada por produtores de vinho. Já com relação ao conceito de Economia Solidária adotado no Brasil, segundo França Filho e Laville (2004), o termo tem servido para identificar iniciativas de grupos populares em geral, que se organizam frente aos problemas sociais, na busca de uma alternativa de obtenção de renda através de atividades econômicas; no entanto, a nível nacional, tal termo encontra-se ainda em nível de estruturação. Conceitos Relativos à Economia Solidária Em diferentes contextos da sociedade, como expõe França Filho (2004), o termo Economia Solidária surge para indicar que, atualmente, estão emergindo novas formas de dinamização da solidariedade que fazem alusão à iniciativa cidadã, se opondo às formas abstratas de solidariedade, praticadas historicamente pelo Estado e às formas tradicionais de IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 842 solidariedade marcadas pelo caráter apenas comunitário, o que indica que estamos diante de um fenômeno inédito. Dagnino (2000) destaca alguns elementos que explicam o surgimento do conceito de Economia Solidária, tais como: tecnologias inadequadas para resolver o problema do desemprego estrutural causado pelas inovações, a ideia de que a retomada do crescimento não reverterá a tendência ao desemprego nos países periféricos, a necessidade da geração alternativa de outras oportunidades de trabalho e renda não ligados ao emprego formal e o reconhecimento da potencialidade da produção em rede e autogestionária ligada ao cooperativismo. Diante desse cenário de necessidade de geração de postos de trabalho e de dificuldade de inserção e reinserção no mercado de trabalho causado por crises capitalistas, a Economia Solidária surge como uma “peça de resistência e como ensaio de outro projeto de sociedade, de uma globalização alternativa calcada na democratização da economia e na cidadania”. Assim, considerada como uma economia realmente eficaz, a Economia Solidária tornaseessencial para a credibilidade a uma nova “arquitetura mundial” (GAIGER, 2004, p. 799 e 800). Para redefinir tais padrões culturais e superar a pobreza é necessário o estímulo ao desenvolvimento da economia das comunidades periféricas, no intuito de se obter uma resposta coletiva. Alguns agentes externos possuem papel fundamental nesse sentido, pois conseguem mobilizar a comunidade no sentido de formular projetos de novas atividades econômicas, como as Organizações Não Governamentais (ONGs), as igrejas, os governos, as associações de moradores, entre outros (SINGER, 2004). Abdalla (2004) defende o princípio da cooperação, entendido como uma colocação revolucionária sobre o eixo da troca competitiva praticado pelo sistema capitalista em voga, que tem o poder de manter a sobrevivência de um número considerável de pessoas. No entanto, ele identifica algumas cooperativas “contingenciais”, as quais reproduzem a lógica do mercado capitalista, contratando mão-de-obra e não respeitando os limites da colaboração durante o processo produtivo. Para Krieger e Johnson (2006) a Economia Solidária pode ser vista como um movimento social, a partir do momento que surge como resposta ao desemprego causado IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 843 pelas crises. Esses autores entendem que o aspecto cultural desse tipo de economia pode ser compreendido como a relação existente entre o caráter alternativo e marcante do trabalho e a procura por renda desenvolvido no âmbito do mercado, mas com uma manifestação específica da prática da solidariedade, ou seja, a Economia Solidária nasce da necessidade do consumo. Assim, ela consegue atender as necessidades pessoais vislumbrando o bem-estar dos trabalhadores, a manutenção do ecossistema e o surgimento e manutenção de uma sociedade menos injusta e, consequentemente, mais solidária. Nesse contexto, Gaiger (2004) entende que a prática da solidariedade em Economia solidária é algo natural e cotidiano, haja vista os obstáculos pelos quais passam as comunidades que sobrevivem de sua prática: Empreendimentos solidários nas periferias urbanas deparam-se com infindáveis dificuldades, embora estejam mais próximos das forças dinâmicas da sociedade e da economia, ao lidarem com situações de alta instabilidade econômica, quando não de extremada pobreza, de desenraizamento social e cultural. Setores sociais expostos a esse nível de degradação, premidos pelas circunstâncias, vivem, em geral, em uma solidariedade compulsória, sem transformá-la em valor e norma interior de vida. As práticas associativas certamente contribuem para a introjeção racionalizada da solidariedade, uma vez que criam espaços para a sua prática intencional e cotidiana. (GAIGER, 2004, p.804). França Filho (2006) classifica quatro categorias de organizações e de atores que compõem o setor da Economia Solidária no Brasil: A primeira é constituída pelo que poderíamos definir como organizações de primeiro nível: os empreendimentos econômicos solidários (EES)¹. Uma segunda categoria de atores, as organizações de segundo nível, reúne as entidades de apoio e fomento (EAF). A terceira categoria apresenta diferenças marcantes em relação às duas primeiras, por constituir-se quase que exclusivamente de formas de autoorganização política, ilustrada pelas redes e fóruns de economia solidária. Por fim, um quarto ator pode ser representado por uma espécie de nova institucionalidade pública de Estado. Dela são exemplos a rede de gestores de políticas públicas de economia solidária, a Secretaria Nacional para a Economia Solidária (Senaes), vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego, e, ainda, uma série de outras instâncias políticas do Estado (secretarias, diretorias ou departamentos), que estão tentando construir políticas públicas de economia solidária em governos municipais ou estaduais. (FRANÇA FILHO, 2006, p.163) IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 844 Para este autor, o tema da Economia Solidária no Brasil vem conquistando espaço nos últimos anos sejam em trabalhos científicos, movimentos populares ou através de políticas públicas. Para um melhor entendimento das características da Economia solidária podemos citar algumas considerações de Tauile (2001). Para ele, esse tipo de economia apresenta as seguintes peculiaridades: reciprocidade no sentido de satisfação social e cultural a níveis coletivos; empreendedorismo coletivo livre da busca de retorno individual do investimento; junção de recursos mercantis, não-mercantis e não-monetários caracterizando financiamento híbrido, inclusive com a participação de contribuições de cunho voluntário e criação de espaços públicos de proximidade através da dinâmica cidadã. Outra importante característica da Economia Solidária é a prática da autogestão. Segundo Cançado (2008) a heterogestão, entendida como várias gestões diferentes ou desiguais é presente na sociedade capitalista de forma hegemônica, uma vez que é mais adequada aos objetivos do sistema: busca de lucro e acumulação de capital. Nesse contexto, o autor entende que a autogestão é condição básica para um empreendimento ser caracterizado como de Economia Solidária, sendo uma “velha-nova maneira de organizar o trabalho”. Nova por não ser o tipo de gestão empregada atualmente, e velha por já haver sido discutida por vários pensadores, a exemplos de Proudhon e Mandel, bem como já ter sido colocada em prática em diversas regiões como em Israel, Rússia, Iugoslávia e França. Amorim e Araújo (2004) relembram que no II Fórum Social Mundial, em 2002, fora realizada uma Conferência de Economia Solidária onde foi lançado um documento de “Princípios da Economia Solidária” para orientar as movimentações organizadas pelos diversos estados brasileiros no intuito de criar um Fórum Brasileiro de Economia Solidária mais participativo e democrático. A lista de princípios é a seguinte: • A valorização social do trabalho humano. • A satisfação plena das necessidades de todos como eixo da criatividade tecnológica e da atividade econômica. • O reconhecimento do lugar fundamental da mulher e do feminino numa economia fundada na solidariedade. • A busca de uma relação de intercâmbio respeitoso com a natureza. • Os valores da cooperação e da solidariedade. • O valor central da Economia Solidária é o trabalho, o saber e a criatividade humanos e não o capital-dinheiro e sua propriedade sob quaisquer de suas formas. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 845 A Economia Solidária busca a unidade entre produção e reprodução, evitando a contradição fundamental do sistema capitalista, que desenvolve a produtividade, mas exclui crescentes setores de trabalhadores do acesso aos seus benefícios. • A Economia Solidária busca outra qualidade de vida e de consumo, e isso requer a solidariedade entre os cidadãos do centro e os da periferia do sistema mundial. • A Economia Solidária busca outra qualidade de vida e de consumo, e isso requer a solidariedade entre os povos do Hemisfério Norte e do Sul. • A Economia Solidária representa práticas fundadas em relações de colaboração solidária, inspiradas por valores culturais que colocam o ser humano como sujeito e finalidade da atividade econômica, em vez da acumulação privada de riqueza, em geral, e de capital, em particular. • Para a Economia Solidária a eficiência não pode limitar-se aos benefícios materiais de um empreendimento, mas se define também como eficiência social, em função da qualidade de vida e da felicidade de seus membros e, ao mesmo tempo, de todo o ecossistema. • A Economia Solidária é um poderoso instrumento de combate à exclusão social, pois apresenta alternativa viável para a geração de trabalho e renda e para a satisfação direta das necessidades de todos, provando que é possível organizar a produção e a reprodução da sociedade de modo a eliminar as desigualdades materiais e difundir os valores da solidariedade humana. (AMORIM & ARAÚJO, 2002, p.49) De acordo com os princípios acima, bem como toda a teoria vista anteriormente, percebe-se que o trabalho proporcionado pelas organizações solidárias a fim de atender às necessidades da comunidade é algo extremamente válido, pois, a partir de valores como solidariedade e cooperação e colocando-se o trabalho, o saber e a criatividade a favor do homem, desenvolve-se a possibilidade de qualidade de vida para os indivíduos envolvidos. Dessa forma, a Economia Solidária pode ser entendida como instrumento de combate à exclusão social ao gerar trabalho e renda a quem necessita, o que tende à eliminação e amenização das desigualdades sociais e materiais, o que refletirá no bem-estar geral. Considerações Finais O sistema capitalista, tendo na competição um motivo para sua manutenção na maior parte do mundo, gera como produto a exclusão social e econômica, o que faz surgir e manter indivíduos carentes materialmente, dificultando a manutenção da sua sobrevivência, A Economia Solidária surge como alternativa de sobrevivência dentro de um sistema que não concede oportunidade de acesso a todas as pessoas. A solidariedade, a cooperação, a inclusão social, a qualidade de vida e do consumo, independentemente de qualquer questão, devem fazer parte da vida humana, num processo IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 846 contínuo, no que tange à busca pela sobrevivência e, se há uma forma de viver desta maneira, esta forma deve ser enaltecida e desenvolvida, a despeito de suas disfunções e distorções, inerente a qualquer outro objeto, o que não deve ser confundido com a exaustão total deste modo de produção e consumo, o qual, pela tendência atual, pode tornar-se mais forte e consolidado futuramente. REFERÊNCIAS ABDALLA, Maurício. O princípio da cooperação: em busca de uma nova racionalidade. 2.ed.São Paulo: Paulus, 2004. AKTOUF, Omar. Auditoria, governança e responsabilidade corporativa no quadro do capitalismo neoliberal globalizado: uma análise radical-crítica. E & G Economia e Gestão, Belo Horizonte, v. 5, n. 11, p. 19-34, dez. 2005 AMORIM, Brunu Marcus F. Amorim; ARAÚJO, HertonEllery. 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A Economia Solidária no Governo Ferderal, 2004Disponível em: <http://www.mte.gov.br/ecosolidaria/conf_textopaulsinger.pdf> Acesso em 16 fev. 2010 TAUILE, J. R.. Do Socialismo de Mercado à Economia Solidária. Revista de Economia Contemporânea, Rio de janeiro, v. 6, n. 2, p. 107-122, 2001. VEIGA, Sandra Mayrink; FONSECA, Isaque. Cooperativismo: uma revolução pacífica em ação. Rio de Janeiro: DP&A: Fase, 2001. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 849 A MULTIDIMENSIONALIDADE DA POBREZA NO BRASIL Andréa Ferreira da Silva3 Jair Andrade Araujo4 Guaracyane Lima Campelo5 RESUMO Este artigo tem como objetivo apresentar novas perspectivas para a compreensão da pobreza multidimensional no Brasil nos anos de 2006 a 2012. Foi utilizada uma metodologia inédita para o Brasil, construída por Bourguignon e Chakravarty (2003), na qual apresenta uma nova forma alternativa de medir a multidimensionalidade da pobreza. Com dados retirados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), tomando como referência a abordagem das necessidades básicas e a Teoria das Capacitações, que define pobreza como um fenômeno multidimensional. Os resultados das seis dimensões analisadas revelaram uma redução da proporção de pobres multidimensionais da população brasileira, de 24,24% em 2006, para 21,23% em 2012. Para as análises isoladas das regiões metropolitana, urbana e rural, verificou-se que a pobreza foi mais intensa na região rural. Portanto, embora os resultados do trabalho tenham apontado uma redução no grau de vulnerabilidade dos domicílios, ainda há uma parcela significativa da população em situação de pobreza. Palavras - Chaves: Pobreza Multidimensional; Privação; Gap. ABSTRACT This article aims to present new perspectives for the understanding of multidimensional poverty in Brazil in the years 2006-2012. Unprecedented methodology for Brazil, built by Bourguignon and Chakravarty (2003), which presents a new alternative way of measuring was used multidimensionality of poverty. With data from the National Survey by Household Sampling (PNAD), with reference to the basic needs approach and the Capability Theory, which defines poverty as a multidimensional phenomenon. The results of the six dimensions analyzed revealed a reduction in the proportion of multidimensional poor of Brazil's population, 24.24 % in 2006 to 21.23% in 2012. Isolated for analysis of metropolitan, urban and rural regions, it was found that poverty was more intense in the rural region. Therefore, although the results of the work have shown a reduction in the degree of vulnerability of households, there is still a significant portion of the population in poverty. Key-Words:Multidimensional Poverty; deprivation; Gap 1 INTRODUÇÃO 3 Economista. Mestranda do Curso de Pós-Graduação em Economia Rural - MAER, Universidade Federal do Ceará (UFC). Tel.: (88) 9729-0750. E-mail: [email protected]. 4 Professor do Curso de Pós-Graduação em Economia Rural - MAER, Universidade Federal do Ceará (UFC).Email: [email protected]. 5 Professora dos Cursos de Economia e Finanças da Universidade Federal do Ceará (UFC), Campus de Sobral.Email: [email protected]. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 850 A economia brasileira apresentou, em 2012, um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 4.40 trilhões, sustentando um PIB per capita de R$ 22.400,00. No entanto, mostrou-se como um fraco crescimento, sendo o pior desde 2009 (auge da crise econômica mundial). Cresceu apenas 0,9% em relação ao ano anterior, ficando abaixo dos 2,7% de crescimento ocorrido em 2011 (NERI, 2013). Ainda conforme Neri (2013) foi implantado um conjunto de políticas e ações voltadas a aperfeiçoar o combate à pobreza no Brasil em 2011, no qual apresentou resultados bastante significativos. Mesmo com fraco desempenho do PIB em 2012, a renda per capita média da família brasileira cresceu 7,98%. No entanto, cerca de 3,5 milhões de brasileiros saíram da pobreza em 2012. Mesmo com tamanha taxa de crescimento e com a significativa redução da pobreza no Brasil ocorridas no período recente, a extrema pobreza no país ainda afeta 16,27 milhões de pessoas, o correspondente a 8,5% da população total do país, segundo estimativas elaborada pelo IBGE (GUIMARÃES, 2012). Existem diversos estudos econômicos, por exemplo em Araujo, Morais e Cruz (2013) que tratam do conceito de pobreza de forma multidimensional. Na verdade, o conceito é tratado, em sua maioria, como associado à privação ou à carência de determinados atributos, sejam eles monetários ou não. Diante disso, surge a importância da análise da pobreza no Brasil não apenas pela ótica da renda. É necessário, portanto, ampliar o estudo para o atendimento das necessidades básicas e incrementar à definição de pobreza um caráter multidimensional. Esta discussão em torno dessa nova abordagem foi iniciada na década de 80, tendo como mentor o economista Amartya Sen. A necessidade de tal abordagem multidimensional para a medição da desigualdade do bem-estar foi salientada entre diversos autores, internacionais como, Sen (1997, 1998, 1999, 2000, 2001), Bourguignon e Chakravarty (2003), Ravallion (1996), Thorbecke (2008), e nacionais, Hoffmann e Kageyama (2006), Silva e Barros (2006), Lacerda (2009), dentre outros. Dentro desse contexto e da importância de abordar a pobreza de forma multidimensional, no qual amplia o foco de investigação para além da insuficiência de renda. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 851 O presente trabalho se propõe a apresentar novas perspectivas para a compreensão da pobreza multidimensional no Brasil nos anos de 2006 a 2012, ao considerar outras dimensões além da renda, com a finalidade de auxiliar politicas publicas focadas na sua diminuição e aceleração do processo de desenvolvimento. A metodologia que será abordada nunca fora antes utilizada no Brasil, foi construída por Bourguignon e Chakravarty (2003) e detalhada por Mideros (2012).Essa metodologia apresenta uma nova forma alternativa de medir a multidimensionalidade da pobreza. Na qual especifica uma linha de pobreza para cada dimensão e considera que uma pessoa é pobre, se mantiver abaixo de pelo menos em uma destas várias linhas. Considera-se, assim, a privação e não privação sobre as famílias e indivíduos brasileiros. Utiliza-se o nível de privação, que é o hiato da pobreza. A escolha das dimensões advém das disponibilidade de informações da principal pesquisa domiciliar brasileira – a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Os anos que serão estudados são seis anos a partir da década de 2000, sendo eles de 2006 à 2012. Como justificativa para a escolha desses anos, resolveu-se analisar o período que compreende a ação governamental sob liderança do Partido dos Trabalhadores, o PT. Considerado um período com taxas de crescimentos significativas, observou-se que muito mais do que gerar riqueza e promover o crescimento do PIB e da renda per capita, é preciso que as ações considerarem a apropriação e distribuição da riqueza gerada e a melhoria das condições de vida da população. O artigo é dividido em cinco seções. Inicialmente, na seção 2, serão discutidas a pobreza multidimensional e suas abordagens. A terceira seção apresenta a base de dados e a construção dasdimensões utilizadas. Na quarta seção especifica-se a metodologia. Na quinta seção são analisados os resultados do modelo. Na última são apresentadas as principais conclusões. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1Pobreza Multidimensional: Abordagem das necessidades básicas e a Abordagem das capacitações IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 852 Na década de 70, os questionamentos sobre a adoção de perspectivas unidimensional no estudo da pobreza cresceram, levando alguns autores a buscarem formas alternativas de analisá-la, tentando devolver à pobreza, e a seus meios de medidas, dimensões não monetárias e particularmente sociais e políticas (SALAMA E DESTREMAU, 1999). Desde então, esse movimento se intensificou, permitindo que o enfoque multidimensional da pobreza ganhasse espaço no debate, embora a abordagem unidimensional ainda predomine. No estudo multidimensional da pobreza, duas abordagens tem se destacado: a abordagem das necessidades básicas e a abordagem das capacitações. Salama e Destremau (1999) surgem com o conceito para a definição de pobreza, que é o conceito da abordagem das necessidades básicas. Esta abordagem considera essencial o acesso a alguns bens, de modo que sem estes os cidadãos não seriam capazes de usufruírem uma vida minimamente digna. Como água potável, rede de esgoto, coleta de lixo, acesso ao transporte público e educação, que são bens imprescindíveis para que os indivíduos possam levar vidas saudáveis e tenham chances de inserção na sociedade. Segundo Araujo, Morais e Cruz (2013) a abordagem das necessidades básicas ganhou espaço e alcançou seu auge na década de 1970 e passou a dominar as políticas de desenvolvimento de alguns órgãos internacionais. Rocha (2006) ainda define que essa abordagem significa ir além daquelas definições de alimentação ou nutrição, para, assim, incorporar uma noção mais ampla das necessidades humanas, tais como educação, saneamento, habitação. Essa noção de pobreza abrange outros aspectos da vida cotidiana dos indivíduos, pelo simples fato de que elas não apenas se alimentam, mas se relacionam, e trabalham, tendo, portanto, uma vida social. De acordo com Stewart (2006), a abordagem das necessidades básicas tem, apenas, a intenção de complementar o crescimento econômico, pois considera que este é essencial para geração de renda para as populações pobres e de receitas públicas que assegurem a oferta dos bens e serviços públicos. Trata-se apenas de refutar o argumento de que o crescimento econômico é somente a condição suficiente para reduzir ou evitar a pobreza. Já com relação a abordagem das capacitações, conforme Lacerda (2009), no final da década de 1970 e início dos anos 1980 os trabalhos do economista Amartya Sen se constituem no ponto de partida da formulação dessa teoria. A intenção dessa abordagem não se restringe IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 853 apenas à análise da pobreza, traz contribuições importantes para a teoria do bem-estar social e para a teoria do desenvolvimento socioeconômico. Thorbecke (2008) afirma que a compreensão do conceito de pobreza tem melhorado e se aprofundado consideravelmente nas últimas três décadas ou mais após Sen. Atualmente, possui-se ferramentas empíricas para identificar e localizar os pobres, descrever suas características e medir o grau de pobreza em diferentes níveis de agregação. No entanto, apesar de todo o avanço metodológico na análise da pobreza, um número conceitual de pontos continuam ainda à ser abordadas ou esclarecidas. Destacando-se por ser uma abordagem não utilitarista da pobreza, a abordagem das capacitações é uma vertente particular do desenvolvimento, segundo o qual a liberdade é um elemento substantivo básico na vida das pessoas (SILVA, 2009). Os indivíduos tem o direito de praticarem suas liberdades bem como de fazerem respeitar seus direitos e busca analisar as diferentes formas de acesso aos recursos privados e coletivos. É importante ressaltar não apenas os direitos sociais, mas também os direitos civis e políticos. De acordo com Sen (1997), pobreza representa uma situação na qual as oportunidade mais básicas para o desenvolvimento dos indivíduos como cidadãos lhe são negadas. Significando, assim, a privação de uma boa saúde, de usufruir de uma vida criativa e ter um padrão de vida digna, de liberdade, de decência, de amor próprio, entre outras privações. Conforme Kuklys (2005), a abordagem das capacitações opera claramente em dois níveis. O primeiro refere-se à realização de bem-estar que é mensurado em termos de “funcionamentos”. Entende-se que funcionamentos refletem vários acontecimentos ou bens que um indivíduo pode considerar valioso fazer ou ter. O segundo diz respeito ao potencial de bem-estar que é estimado em termos de “capacidades”. Em que um indivíduo consiste nas diversas combinações de funcionamentos cuja realização é possível para ele. Assim, a capacidade é um tipo de liberdade, a liberdade provável de realizar combinações alternativas de funcionamentos. Conforme Bourguignon e Chakravarty (2003), o bem-estar é intrinsecamente multidimensional sobre o ponto de vista das capacitações e funcionamentos. Isto, assim, IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 854 funcionamentos são minunciosamente motivados por atributos como capacidade de ler e escrever, expectativa de vida, entre outros e não apenas pela renda. Sen (1993) ainda aponta as restrições da renda per capita como único indicador de bem-estar ou de privação econômica. Avaliar o sucesso econômico de uma nação somente pela renda ou outro indicador como fim de riqueza faz com que se perca de vista a progresso do bem-estar da população. Um país com alta renda per capita e acesso restrito aos serviços de saúde e educação básica pode ter menor expectativa de vida e maiores taxas de mortalidade, assim como num país com alto valor da disponibilidade de alimentos per capita pode haver partes da população desnutridos ou famintos. Anand e Sen (1997) alegam que a pobreza é a pior forma de privação e envolve a ausência de oportunidades para se viver uma vida suportável, daí a necessidade de um aspecto multidimensional para este fenômeno. Essa abordagem tem sido vista como uma vantagem, e ao envolver adequadamente uma ampla visão de privação, sendo ela indispensável e importante. Todavia, segundo Salama e Destremau (1999) existem críticos direcionados à abordagem multidimensional da pobreza, a qual apresenta evidências quantitativa e qualitativa. A primeira crítica argumenta que a estimativa empírica da pobreza multidimensional é dificultada pela necessidade de ponderação de múltiplos conceitos de pobreza em um único indicador. A segunda, de cunho qualitativo expõe que a abordagem multidimensional da pobreza pode criar um conflito entre as suas causas e a real pobreza, referente à renda, no que pode levar a uma subestimação do papel da renda sobre esse fenômeno. Cabe destacar que a opção por o enfoque da pobreza multidimensional não significa o abandono da renda como uma dimensão da pobreza, embora alguns trabalhos não incluam essa variável. Conforme enfatizado por Sen (2000), a renda é uma importante dimensão da pobreza, mas não pode ser considerada a única. Por isso os níveis de renda são relevantes, pois permitem que as pessoas adquiram bens e serviços e que usufruam de um determinado padrão de vida. Por este motivo, a dimensão renda está presente na maioria dos estudos multidimensionais. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 855 3BASE DE DADOS E CONSTRUÇÃO DAS DIMENSÕES A fonte de dados utilizada para a construção dos indicadores e dimensões composto na pobreza multidimensional foi a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Foram selecionadas as PNADs referentes aos anos de 2006, 2007, 2008, 2009, 2011 e 2012. Neste trabalho, foram consideradas seis dimensões na elaboração de um indicador multidimensional, conforme a tabela 1. Nota-se, além das 6 dimensões, 22 variáveis derivadas a partir das variáveis originais extraídas das PNADs. Elas foram escolhidas com base na revisão da literatura acerca da temática da pobreza, tanto sob o enfoque das necessidades básicas quanto das capacidades. Na tabela 1 estão os indicadores X il,k construídos para i={1,2,...,n} pessoas, j={1,2,...,h} domicílios e , k={1,2,...,m} dimensões.Todos os indicadores têm um valor máximo de 1 (não privado) e um mínimo de 0 (privação total). Os indicadores são definidos entre 0 e 1 para reduzir os problemas de descontinuidade, mas são limitado pela informação disponível. Com o fim de obter diferentes conjunto de dados categóricos se estabelecem diferentes níveis equidistantes (ou seja, os indicadores são ordinal). Os indicadores se agregam a nível de cada dimensão sobre a base da seguinte função: 𝑝 1 𝑋𝑖,𝑘 = 𝑔𝑘 (𝑋𝑖,𝑘 , … , 𝑋𝑖,𝑘 ) para as variáveis l= {1, ..., p}, onde a função 𝑔𝑘 (. ) é especifica de cada dimensão k. Para identificar o nível de privação de cada dimensão, a reformulação dos índices se realiza utilizando a formula: 𝑋̂𝑖,𝑘 = 1 − 𝑋𝑖,𝑘 , onde o nível de privação 𝑋̂𝑖,𝑘 é interpretado como sendo o Gap relativo entre o nível individual de 𝑋𝑘 e o limiar da privação 𝑧𝑘 = 1, com um valor máximo de 1 (privação total) e um mínimo de 0 (sem privação). Tabela 1 - Dimensões e Indicadores da Pobreza Multidimensional Dimensões Alimentos e Água Variáveis Derivadas Água na Moradia Capacidade de compra de alimentos Comunicação e Informação Indicadores 1, 𝑠𝑒 𝑠𝑖𝑚 1 𝑋𝑖,1 ={ 0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜 2 𝑋𝑖,1 = 𝑚𝑖𝑛 {1, 𝑟𝑒𝑛𝑑𝑎 𝑝𝑒𝑟 𝑐𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑗;𝑖 ∈𝐽 } 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 𝑑𝑒 𝑝𝑜𝑏𝑟𝑒𝑧𝑎 Telefone 1 𝑋𝑖,2 ={ 1, 𝑠𝑒 𝑠𝑖𝑚 0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜 Televisão 2 𝑋𝑖,2 ={ 1, 𝑠𝑒 𝑠𝑖𝑚 0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜 IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 856 Educação Computador 3 𝑋𝑖,2 ={ 1, 𝑠𝑒 𝑠𝑖𝑚 0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜 Internet 4 𝑋𝑖,2 ={ 1, 𝑠𝑒 𝑠𝑖𝑚 0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜 Ensino Primário Ensino Fundamental incompleto Ensino Fundamental completo Ensino Médio incompleto Condições da Moradia Saúde 1 𝑋𝑖,3 ={ 1, 𝑠𝑒 𝑡𝑖𝑣𝑒𝑟 1 𝑎 5 𝑎𝑛𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑢𝑑𝑜 𝑛𝑎 𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑞𝑢𝑎𝑑𝑎 0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜 2 𝑋𝑖,3 ={ 1, 𝑠𝑒 𝑡𝑖𝑣𝑒𝑟 4 𝑎 9 𝑎𝑛𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑢𝑑𝑜 𝑛𝑎 𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑞𝑢𝑎𝑑𝑎 0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜 3 𝑋𝑖,3 ={ 1, 𝑠𝑒 𝑡𝑖𝑣𝑒𝑟 8 𝑎 14 𝑎𝑛𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑢𝑑𝑜 𝑛𝑎 𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑞𝑢𝑎𝑑𝑎 0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜 4 𝑋𝑖,3 ={ 1, 𝑠𝑒 𝑡𝑖𝑣𝑒𝑟 12 𝑎 15 𝑎𝑛𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑢𝑑𝑜 𝑛𝑎 𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑞𝑢𝑎𝑑𝑎 0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜 Ensino Médio completo 1, 𝑠𝑒 𝑡𝑖𝑣𝑒𝑟 𝑎𝑐𝑖𝑚𝑎 𝑑𝑒 15 𝑎𝑛𝑜𝑠 5 𝑋𝑖,3 = {𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑢𝑑𝑜 𝑛𝑎 𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑞𝑢𝑎𝑑𝑎 0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜 Proporção de crianças na escola 6 𝑋𝑖,3 ={ Tipo de Moradia 1, 𝑠𝑒 𝑎 𝑐𝑎𝑠𝑎 é 𝑝𝑟ó𝑝𝑟𝑖𝑎 1 𝑋𝑖,4 = {0,5 𝑠𝑒 𝑎 𝑐𝑎𝑠𝑎 𝑝𝑟ó𝑝𝑟𝑖𝑎 𝑝𝑎𝑔𝑎𝑛𝑑𝑜 0, 𝑠𝑒 𝑜𝑢𝑡𝑟𝑜𝑠 Iluminação 2 𝑋𝑖,4 ={ 1, 𝑠𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑞𝑢𝑎𝑑𝑜 0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜 Material da parede 3 𝑋𝑖,4 ={ 1, 𝑠𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑞𝑢𝑎𝑑𝑜 0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜 Material do teto 4 𝑋𝑖,4 ={ 1, 𝑠𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑞𝑢𝑎𝑑𝑜 0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜 Nº de pessoas por dormitório 5 𝑋𝑖,5 ={ Esgotamento sanitário 1 𝑋𝑖,5 ={ 1, 𝑠𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑞𝑢𝑎𝑑𝑜 0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜 Condição Sanitária 2 𝑋𝑖,5 ={ 1, 𝑠𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑞𝑢𝑎𝑑𝑜 0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜 Eliminação do lixo 3 𝑋𝑖,5 ={ 1, 𝑠𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑞𝑢𝑎𝑑𝑜 0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜 1, 𝑠𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑝𝑜𝑟çã𝑜 > 1 0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜 1, 𝑠𝑒 < 3 0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜 IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 857 Trabalho e Demografia Trabalho precário 1 𝑋𝑖,6 ={ Razão de dependência por domicílio 2 𝑋𝑖,6 ={ 1, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜 0, 𝑠𝑒 𝑠𝑖𝑚 1, 𝑠𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑝𝑜𝑟çã𝑜 < 1 0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜 Fonte: Elaboração pelos próprios autores a partir dos dados da PNADs. A dimensão 1: alimentos e água, a variável água mede se há abastecimento de água apropriada na moradia. Já a segunda, captura a capacidade de compra de alimentos, por meio da condição monetária, fazendo uma relação da renda per capita do indivíduo com a linha de pobreza utilizada. As linhas de pobreza utilizadas foram do Instituto de Estudo do Trabalho e Sociedade (IETS), elaboração de Sonia Rocha com base na POF (Pesquisa de Orçamento Familiar). A dimensão 2: comunicação e informação também entra na análise, considera como indivíduos privados os que não possui meios de informação para a vivencia na sociedade atual. As variáveis adotadas no estudo são: telefone, televisão, computador e internet. A dimensão 3: educação, apresenta mais uma novidade para a mensuração da pobreza multidimensional no Brasil neste trabalho. Leva em consideração a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/1996), que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, na qual afirma que há um nível de escolaridade mínima requerida para uma determinada faixa etária. Assim, para o morador com nível de escolaridade maior do que o requerido na sua idade, é considerado não privado, caso contrário, privado. Considerando também os indivíduos de 18 anos ou mais que não tenham a quantidade de anos de estudos referentes a conclusão do ensino médio, sendo este considerado carente com relação a anos de estudo não sendo capaz de conseguir um emprego digno sem ao menos o ensino médio concluído, seria considerado privado. Sendo assim, a dimensão educação está dividida em 6 variáveis em análise, a idade adequada referente a cada etapa escolar: Ensino primário, ensino fundamental incompleto e completo, ensino médio incompleto e completo.Essas categorias, em cujas especificações se levou em conta o número de anos de estudo mínimosexigidos para conclusão dos níveis de ensino. Ao incluir essa variável no indicador, a intenção foi captar não somente o ano de IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 858 estudo médio por indivíduo, mas também o “contexto educacional” no qual o indivíduo está inserido. A proporção de crianças da escola trata-se em relação ao total de crianças no domicílio. De acordo com a Lei nº 8.069/90, art. 2º, considera-se criança a pessoa até 12 anos de idade incompletos, e adolescentes aquela entre doze e dezoito anos de idade. A dimensão 4: Condições de Moradia, na sua análise foram utilizadas as variáveis: tipo de moradia, iluminação, material de parede, material do teto, e número de pessoas por dormitório. Ainda que essas variáveis possam ser discutidas quanto à sua utilidade na análise da pobreza, percebesse que a ausência de condições adequadas de moradia se configura em um tipo de privação importante, além de ser uma abuso aos direitos sociais garantidos pelo texto constitucional brasileiro. E outro pronto relevante do estudo dado nessa seção é a dimensão5: saúde. Como não existem variáveis especificas que possa trazer informações a respeito dessa dimensão, serão utilizados proxies para estuda-la, sendo elas: esgotamento sanitário, condição sanitária e eliminação do lixo. A justificativa para essa escolha foi o entendimento de que a falta de acesso, ou o acesso inapropriado, a qualquer uma dessas variáveis pode ocasionar sérios prejuízos à saúde do indivíduo, principalmente no que diz respeito à saúde básica. E por fim, na dimensão 6: trabalho e demografia, analisa: trabalho precário e a razão de dependência por domicilio. Classificou-se comosituação de trabalho precário aquela na qual o trabalhador não era segurado da previdênciasocial nem contribuinte de outro instituto de previdência e, por isso, não tinha proteção contraos chamados riscos sociais (incapacitantes ao trabalho). E a variável razão de dependência é um indicador demográfico utilizado nas análises de mercado de trabalho, pois trata da relação entre pessoas em idade potencialmente inativa e pessoas em idade potencialmente ativa. As pessoas com idade inferior a 14 anos ou igual ou superior a 60 anos foram definidas como dependentes. A especificação do limite na idade de 60 anos ou mais se pautou no que foi estabelecido pelo Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003), que considera idoso os indivíduos que estão nessa faixa etária (LACERDA, 2009). 4METODOLOGIA IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 859 Conforme Bourguignon e Chakravarty (2003) uma maneira simples de definir a pobreza e a contagem do número de pobres é levar em consideração a possibilidade de ser pobre em qualquer dimensão da pobreza. Uma forma de fazer isso é definir a variável indicador de pobreza. Um enfoque multidimensional define a pobreza mediante um vetor de características particulares (TSUI, 2002). Em termos gerais, um índice de pobreza multidimensional pode ser apresentado como uma função: 𝑃(𝑋, 𝑧): 𝑀 × 𝑧 → 𝑅+1 em que 𝑋 ∈ 𝑀é uma matriz de atributos, como renda, educação, saúde, (n x m), para 𝑖 = {1, 2, … , 𝑚} pessoas e 𝑘 = {1, 2, … . 𝑚}dimensões, 𝑧 ∈ 𝑍 é um vetor de limites ou "níveis minimamente aceitáveis" para diferentes atributos (BOURGUIGNON e CHAKRAVARTY,2003). Um índice pode ser construído por meio depelo menos três diferentes abordagens metodológicas: a abordagem axiomática, a teoria dos conjuntos fuzzy e a teoria das informações (MAASOUMI e LUGO, 2008). Com base em Bourguignone Chakravarty (2003) - um índice multidimensional geral – pode ser decomposto e cumpre os axiomas necessários, pode ser definido como: 𝑥 𝑛 𝑚𝑎𝑥 {0; (1 − 𝑧𝑖,1 )} 1 1 𝑃(𝑋, 𝑧) = ∑ 𝑓 ( ) 𝑥 𝑛 , … , 𝑚𝑎𝑥 {0; (1 − 𝑧𝑖,𝑘)} 𝑖=1 (1) 𝑘 Ou de forma geral, como: 𝑛 1 𝑃(𝑋, 𝑧) = ∑ 𝑓 (𝑋𝑖,̂1 , … , 𝑋𝑖,̂𝑚 )(1.1) 𝑛 𝑖=1 IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 860 Por abordagem vinculativa para definir f (∙) e usando uma variação no índice de Foster, Greer e Thorbecke (1984) para capturar a severidade da pobreza, a pobreza multidimensional pode ser medida da seguinte forma: 𝑛 𝑛 1 1 𝑃(𝑋, 𝑧) = ∑ 𝑓 [ ∑ 𝑋𝑖̂,𝑘2 ] 𝑛 𝑚 𝑖=1 (2) 𝑖=1 Em (2) presume-se que as dimensões não são substituíveis mas se inter-relacionam com o nível geral de pobreza, o que é consistente com uma abordagem baseada em dimensõesde bem estar. No nível individual, mais peso é dado para as dimensões que apresentam um maior Gap de privação e, em seguida, mais peso é atribuído a pessoas com maiores níveis de privação. Isto faz com que o índice seja sensível para a distribuição de 1 pobreza. A pobreza a nível individual se define por: 𝑃𝑖 𝑚 ∑𝑛𝑖=1 𝑋𝑖̂,𝑘 2 , com um valor máximo de 1 (pobreza total) e um mínimo de 0 (sem pobreza). Para cada dimensão, pode ser estimado os índices de incidência (proporção de pobres) e os níveis de privação para diferentes regiões e grupos demográficos. Para o índice de incidência é considerado que todas as pessoas que estão abaixo do limite em pelo menos umavariável sofrem privação (enforque de união), com base em a seguinte regra: 𝑆𝑜𝑓𝑟𝑒 𝑃𝑟𝑖𝑣𝑎çã𝑜 = { 𝑆𝑖𝑚; 𝑠𝑒 𝑋𝑖̂,𝑘 > 0 𝑁ã𝑜; 𝑠𝑒 𝑋𝑖̂,𝑘 = 0 (3) O nível de privação para cada pessoa em cada indicador se mede diretamente por ̂ 𝑙 𝑋𝑖,𝑘 , embora o nível privação individual em cada dimensão é determinada pela função de agregação 𝑔𝑘 (. )como segue: 𝑝 𝑋𝑖,𝑘 1 𝑙 = ∑ 𝑋𝑖,𝑘 𝑝 (4) 𝑙=1 IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 861 Onde os indicadores se agregam a nível para cada dimensão sobre a base da seguinte 𝑝 𝑙 função:𝑋𝑖,𝑘 = 𝑔𝑘 (𝑋𝑖,𝑘 , … , 𝑋𝑖,𝑘 ) para as variáveis l={1,...,p}, onde a função 𝑔𝑘 (. )é específica de cada dimensão k. Todos os indicadores têm o valor máximo de 1 (nível alcançado) e um valor mínimos de 0 (privação total), sendo essa definição utilizada para reduzir os problemas de descontinuidade. Finalmente, o nível de privação global que pode ser decomposto para cada dimensão é: 𝑛 1 𝑋𝑘̂ = ∑ 𝑋𝑖̂,𝑘 𝑛 (5) 𝑖=1 O nível de privação global (𝑋𝑖̂,𝑘 )semede usando (4) em cada dimensão e se define como o nível de privação médio entre as variáveis. Para identificar o nível de privação de cada dimensão, a reformulação dos índices é feita usando a fórmula:𝑋𝑖̂,𝑘 = 1 − 𝑋𝑖,𝑘 , onde o nível de privação𝑋𝑖̂,𝑘 é interpretado como a diferença relativa entre o nível individual de 𝑋𝑖,𝑘 e o limite da privação𝑍𝑘 = 1, com um valor máximo de 1 (privação total) e um mínimo de 0 (sem privação). Mediante a utilização de (5) é possível decompor o nível de privação por região e grupo demográfico da seguinte forma: 𝑞 𝑋𝑘̂ = ∑ 𝑠=1 𝑛𝑠 𝑋 (𝑠) 𝑛 𝑖̂,𝑘 (6) 1 𝑛 em que S é o conjunto de grupos {1,...,q}, e{1, … , 𝑞}, 𝑒 𝑋𝑘̂ (𝑠) = 𝑛 ∑𝑖𝑠𝑠=1 𝑋𝑖̂𝑠 ,𝑘 . 𝑠 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES Inicialmente analisa-se os resultados dos graus de privação em cada uma dos indicadores e nas respectivas dimensões, de 2006 a 2012. Os Gaps, que é a distância dos indivíduos pobres a um limite de pobreza, também serão apresentados para cada dimensão diferenciando entre áreas (metropolitana, urbana e rural), e grupos: sexo, faixa etária e raça. E, IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 862 num segundo momento, por fim, a pobreza multidimensional é analisada entre as regiões brasileiras e os grupos. Apresenta-se ainda, a diferença da intensidade da pobreza multidimensional entre as áreas urbanas e rurais a nível nacional, e dentre as regiões brasileiras. 5.1 Dimensão 1: Alimentos e Água Esta dimensão é definida por duas varáveis: água na moradia e capacidade de compra de alimentos. Água na moradia é definida como bem de necessidade básica para a sobrevivência humana, e sua proveniência nos domicílios mede a privação ou não da população. Se o abastecimento for da rede geral de distribuição o domicílio é considerado não privado, contudo, se for proveniente de poço ou nascente, ou outra providencia é denominado privado do bem. A variável capacidade de compra de alimentos mede a privação monetária (ou seja, a renda), como um substituto para a privação de alimentos. Os domicílios com renda per capita inferior a linha de pobreza é considerado privado, por não ser capaz de consumir a necessidades nutricionais mínimas. A Tabela 2 mostra a incidência de privação no Brasil, de 2006 a 2012, entre os indicadores e dimensões. A percentagem de pessoas que não têm um abastecimento água potável,proveniente da rede geral de distribuição, em seus domicílios caiu de 10,99% em 2006 para 8,82% em 2012. Enquanto, o percentual de pessoas com a privação monetária, também, houve uma redução de 4,80% para 3,70% no mesmo período. Importante observar que na dimensão como um todo, o impacto da redução foi maior em conjunto, do que quando os indicadores são analisados separadamente. Houve uma redução de 14,68% em 2006 para 11,80% em 2009, diminuição de 2,88% da pobreza multidimensional no Brasil na dimensão água e alimentos.Observa-se que 1%, em média, da população deixavam de ser privados para não privados a cada ano. O Gap de privação é apresentado na Tabela 3 por dimensões. Os números mostram a diferença média para diferentes áreas e grupos populacionais. Pode-se observar que a pobreza nesta dimensão é um problema, especialmente nas áreas rurais, em 2012, apresenta-se com uma lacuna de privação de 12,68%, enquanto que nas regiões metropolitanas e urbanas há IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 863 uma lacuna de registros privação menor quando comparados com a área rural do Brasil, com valores, respectivamente, de 4,21% e 4,86%, no mesmo período. Verificou-se que com relação aos grupos populacionais não há uma lacuna tão significante com relação a pobreza. Contudo, houve uma redução em todos os grupos em estudo, de 2006 a 2012. 5.2 Dimensão2: Comunicação e Informação A privação na dimensão da comunicação e informação é medida por cinco variáveis a nível domiciliar: a posse de telefone (incluindo fixo ou celular), uma televisão (preto e branco ou colorida), um computador, e acesso à internet. No entanto, Mideros (2012) afirma que a maioria destes acesso à informação não significa uma verdadeira privação, e também não traz nada sobre a qualidade da informação que os domicílios acessam. Embora seria necessário uma análise completa desses critérios, mas isso está além do escopo desta investigação. A Tabela 2 mostra que,entre 2006 e 2012, a incidência foi reduzida em todas os indicadores. Em 2012, os maiores índices de privação foram registrados para acesso à internet (56,89%) e computador (50,13%). Enquanto os níveis mais baixos de privação são do telefone (6,43%) e televisão (2,01%). Tabela 2 - Incidência de Privação no Brasil, 2006-2012 (%) Dimensões/Variáveis Dimensão 1: Água e Alimentos Água na Moradia Capacidade de compra de alimentos Dimensão 2: Comunicação e Informação Telefone Televisão Computador Internet Dimensão 3: Educação Ensino Primário Ensino Fundamental incompleto Ensino Fundamental completo Ensino Médio incompleto Ensino Médio Completo Proporção de crianças na escola Dimensão 4: Condições da Moradia Tipo de Moradia Iluminação 2006 14,68 10,99 4,80 82,62 22,53 6,03 76,81 82,50 93,68 81,98 91,03 92,55 93,57 93,68 3,88 42,05 29,76 1,21 2007 14,53 10,69 4,96 79,10 20,14 4,28 71,80 78,89 93,32 81,95 90,76 92,11 93,17 93,31 3,81 40,57 28,93 0,89 2008 13,75 10,25 4,47 74,90 14,84 3,45 66,58 74,67 92,86 81,88 90,49 91,68 92,73 92,85 3,02 40,05 28,85 0,69 2009 13,42 9,81 4,62 71,35 12,90 2,97 62,89 71,06 92,39 81,68 90,07 91,21 92,25 92,38 2,98 40,09 29,56 0,52 2011 13,09 9,74 4,24 61,47 7,64 2,29 53,93 61,08 91,82 80,96 89,31 90,44 91,60 91,81 2,27 39,19 29,05 0,41 2012 11.80 8,82 3,70 57.35 6,43 2,01 50,13 56,89 91,43 80,90 89,09 90,20 91,24 91,42 2,10 38,76 29,22 0,29 IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 864 Material da Parede Material do Teto Nº de pessoas por dormitório Dimensão 5: Saúde Esgotamento Sanitário Condição Sanitária Eliminação do lixo Dimensão 6: Trabalho e Demografia Trabalho Precário Razão de dependência por domicilio 9,70 1,71 8,31 43,56 42,85 11,44 0,97 65,05 59,23 17,78 9,12 1,97 7,64 41,88 41,32 11,05 0,90 64,71 58,57 17,83 8,70 1,71 7,19 41,66 41,05 10,61 0,90 63,86 57,96 17,55 8,37 1,63 7,00 41,91 41,40 9,98 0,78 62,59 56,84 17,26 7,85 2,28 6,28 38,81 38,12 10,25 0,70 59,12 53,07 17,10 7,12 2,16 5,94 38,38 37,69 10,61 0,60 58,61 52,53 17,45 Fonte: Elaboração pelos próprios autores a partir dos dados da PNADs. Os indicadores que apresentaram os maiores impactos de redução da privação foram computador, redução de 26,68% de 2006 para 2012, acesso à internet, com uma redução de 25,61% no mesmo período, e telefone reduzindo 16,10%. A tabela 3 apresenta o Gap da privação por região e grupos a nível de dimensão. O Gap foi reduzido em todos as áreas e grupos entre 2006 e 2012. Tanto em 2006, quanto em 2012, o Gap de privação da população rural brasileira foi bem mais elevada do que das regiões metropolitana e urbana. Em 2012, a área rural apresenta-se com uma lacuna de privação de 51,16%, enquanto as regiões metropolitana e urbana apresentam-se, respectivamente, com 20,74% e 28,26%. A privação entre as pessoas do sexo masculino é maior do que a do sexo feminino com relação a esta dimensão. Analisando a faixa etária a privação é maior nas crianças e nos idosos, 32,33% e 39,22%, respectivamente, em 2012. Com relação ao grupo raça, a lacuna de privação é maior para as raças não brancas, 34,25% em 2012. 5.3 Dimensão3: Educação Os maiores indicadores de privação concentra-se na dimensão educação. Precisamente por conta da pesquisa levar em consideração a adoção daLei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/1996), que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. No ensino primário, de acordo com a Lei, crianças com até 5 anos de idade, podem ter no máximo 5 anos de escolaridade, denominado ensino pré-escolar. No ensino fundamental incompleto, crianças de 6 anos a 10 anos de idade para não serem considerados privados devem ter de 4 a 9 anos de estudo. No ensino fundamental completo, seria as crianças de 11 a IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 865 14 anos, que estariam terminando o ensino fundamental em torno de 8 a 14 anos de escolaridade. No ensino médio incompleto, os pré-adolescentes em torno dos 15 a 17 anos estariam completando o ensino médio de 12 a 15 anos de estudo. E por fim, o ensino médio completo, são os jovens acima de 18 anos que devem ter no mínimo 15 anos de escolaridade pra poder ter uma boa formação educacional e ter capacidade para entrar no mercado de trabalho e não ser considerado privado de educação. E a proporção de crianças na escolarefere-se ao total de crianças no domicílio. Na dimensão educação, observa-se uma pequena redução na privação, em 2006 era de 93,68%, passando para 91,43% em 2012. O ensino que apresentou uma maior redução na privação foi o ensino fundamental completo, reduzindo 2,35% de 2006 para 2012. Logo em seguida o ensino médio incompleto e completo, com 2,33% e 2,26% respectivamente. Proporção de crianças na escola apresentou uma privação de apenas 2,10% em 2012, mesmo apresentando levados índices de privação nos ensinos primário, fundamental incompleto, e completo. Destaca-se que a análise em questão é a faixa etária com anos de estudos correspondentes. Tabela 3 - Brasil: Gap da privação por dimensão, 2006 e 2012. (%) (continua) Água e Alimentos Comunicação e Informação 2006 2012 2006 2012 Nacional 14,68 11,80 82,62 57,35 Metropolitano 4,65 4,21 38,83 20,74 Urbano 6,11 4,86 46,95 28,26 Rural 16,78 12,68 67,58 51,16 Homens 7,05 5,74 47,47 29,24 Mulheres 6,94 5,59 46,48 28,50 Crianças 9,74 7,48 51,91 32,33 Adolescentes 8,04 6,71 47,58 27,55 Jovens 7,31 5,98 45,62 26,63 Adultos 5,56 4,88 44,18 26,71 Idosos 4,81 3,97 51,77 39,22 Branca 4,53 3,78 40,20 22,77 Não Branca 9,58 7,34 54,05 34,25 Fonte: Elaboração pelos próprios autores a partir dos dados da PNADs. Educação Região/Grupo 2006 93,68 81,65 83,81 88,14 84,37 83,00 77,12 83,85 87,58 83,09 93,28 81,12 86,33 2012 91,43 79,80 82,57 88,20 83,62 81,31 77,36 83,28 84,80 81,29 92,11 79,04 85,43 IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 866 Tabela 3 - Brasil: Gap da privação por dimensão, 2006 e 2012. (%) (conclusão) Condições da Saúde Moradia 2006 2012 2006 2012 Nacional 42,05 38,76 43,56 38,38 Metropolitano 8,48 7,41 7,94 5,83 Urbano 9,34 8,57 15,81 13,44 Rural 14,18 10,40 56,32 54,10 Homens 9,84 8,56 19,11 16,92 Mulheres 9,53 8,32 17,76 15,71 Crianças 13,15 11,61 21,02 18,76 Adolescentes 10,16 9,13 20,80 18,45 Jovens 10,32 9,53 18,03 15,98 Adultos 8,25 7,30 16,87 15,11 Idosos 5,37 4,44 17,25 15,31 Branca 8,80 7,74 14,22 12,19 Não Branca 10,60 9,06 22,81 19,93 Fonte: Elaboração pelos próprios autores a partir dos dados da PNADs. Região/Grupo Trabalho e Demografia 2006 2012 65,05 58,61 32,29 31,86 39,67 35,67 39,00 39,65 37,96 34,37 39,01 35,56 44,25 38,77 37,42 33,59 33,23 28,59 33,99 30,23 65,08 67,24 35,36 32,38 41,79 37,29 Na tabela 3, observa-se uma maior Gap na área rural, quando comparadas com a metropolitana e urbana, não diferente do que foi ressaltado nas outras dimensões. Contrapondo-se a todos os resultados apresentados nas outras dimensões, a zona rural foi a única área na qual houve um aumento da privação, 88,14% em 2006, para 88,20% em 2012. O que não acontece com as áreas metropolitanas e urbanas, na qual foi observado uma redução da privação em educação. Quando observa-se homens e mulheres, houve também uma redução, mulheres apresentam uma privação menor de 81,31% em 2012, quando comparados com homens, 83,62%.Nota-se que no hiato médio de privação educação é 1,8 vezes maior para homens do que para mulheres. No grupo faixa etária, com exceção de crianças, que houve um aumento no Gap de 0,24%, o restante apresentaram uma redução na privação. Sendo o grupo jovens com maior redução, 2,78% de 2006 a 2012. E no grupo raça, os brancos a privação é de 79,04%, e não brancos de 85,43%. E o impacto da redução de 2006 para 2012 também ocorreu no grupo de raça branca, houve uma redução de 2,08%, comparado com apenas 0,9% na raça não branca. 5.4 Dimensão4: Condições de Moradia IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 867 Para medir a privação de habitação são levados em conta cinco indicadores. A Tabela 2 mostra a percentagem de população com privação na moradia. Quase um terço da população não possui uma moradia própria já quitada. Houve uma pequena redução do índice de privação, em 2006 era de 29,76%, passando para 29,22% em 2012. No que diz respeito à iluminação, qualidade da parede, qualidade do teto e número de pessoas por dormitório houve uma redução não muito significativa nos índices de incidência, nos quais já apresentam uma baixa privação. Em 2012, apenas 6% da população vive em uma casa com mais de três pessoas por quarto. Apenas 0,29% da população vive com privação de iluminação, 7,12% e 2,16% não apresentam os materiais, respectivamente, da parede e do teto adequados em suas moradias. Houve assim uma redução na privação nacional da dimensão, em torno, de 3,29% de 2006 para 2012. Na tabela 3, em áreas rurais houve uma maior redução do Gap de privação na dimensão moradia, reduzindo-se de 14,18% em 2006 para 10,40% em 2012. Embora, ainda apresenta-se com a maior lacuna de privação dentre as áreas metropolitana (7,41%), e urbana(8,57) em 2012. No grupo sexo, mulheres apresentam uma privação menor que os homens, sendo essa diferença de apenas 0,24%, em 2012. Ainda esse mesmo período, entre os grupos etários, quem possui a menor privação é o grupo dos idosos, com apenas 4,44%, e a maior é o grupo das crianças, com 11,61%. As populações de raça não branca têmGap de maior privação do que a raça não branca. A não branca apresenta-se com um hiato de privação de 1,32% maior que a branca, em 2012. 5.5 Dimensão5: Saúde Nessa dimensão foi utilizada as condições de saneamento básico como proxy para analisar a dimensão saúde. Como justificativa, a falta de acesso, ou o acesso inapropriado, a qualquer uma dessas variáveis de saneamento pode ocasionar sérios prejuízos à saúde do indivíduo, principalmente no que diz respeito à saúde básica. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 868 Na dimensão, houve uma redução da sua privação, de 43,56% em 2006, para 38,38% em 2012, sendo assim, uma queda de 5,18% no período analisado. Essa redução pode ser assim explicada porque também ocorreu uma redução em todos os indicadores da dimensão. No esgotamento sanitário, indicador com maior impacto na redução da privação, houve uma queda de 5,16%. Queda também na condição sanitária, e na eliminação do lixo, de 0,83% e 0,37%, respectivamente, de 2006 para 2012. A maior diferença da privação entre a regiões está localizado na área rural, em 2006, a lacuna de privação é de 56,32%, obtendo uma pequena redução em 2012, para 54,10%. Indicando que mais da metade na população rural apresenta-se com privação de saneamento básico. E em decorrência desse resultado, a área rural apresenta-se também como a região mais sensível com relação a saúde. Já as áreas metropolitana (5,83%) e urbana (13,44%) brasileiras apresentam-se com uma menor privação em 2012. Com relação a homens e mulheres houve uma redução de 2006 para 2012, as mulheres apresentam uma menor privação, em 2012, de 15,71%, quando comparadas com os homens que tem 16,92% de privação no mesmo período. No grupo etário, quem possui maior déficit na saúde é o grupo das crianças, com 18,76% em 2012. E o menor, é o grupo dos adultos, com 15,11%. Em todos os grupos foi observado uma redução da privação. As populações de raça não brancas têm lacunas de privação mais elevados devido, com uma taxa de 19,93% em 2012, bem maior quando comparada com a raça branca, que é apenas de 12,19%. 5.6 Dimensão6: Trabalho e Demografia A privação do trabalho é medido por trabalho precário. Foi denominado trabalho precário aquele no qual o trabalhador não era segurado da previdênciasocial nem contribuinte de outro instituto de previdência. E demografia, a razão de pessoas dependentes por domicílio, sendo elas as menos de 14 anos e maiores de 60. A Tabela 2 mostra a incidência de privação para cada indicador. Mais de 50% da população sofre de privação de trabalho digno, 52,61% em 2012 trabalham em situação de IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 869 trabalho precário. Mesmo tendo ocorrido uma redução de 6,44% de 2006 para 2012, ainda permanece uma taxa de privação bastante elevada. Já a razão de dependência apresenta uma taxa de privação considerada baixa, 17,45% da população em 2012 apresenta alguma relação de dependência. Na análise nacional da dimensão, houve uma queda na privação, de 65,05% em 2006 para 58,61% em 2012. Ainda exibindo um alto percentual de privação. A área rural, na Tabela 3, se destacou dentre as outras por apresentar um aumento da lacuna de trabalho e demografia de 39% em 2006, para 39,65% em 2012, sendo assim, um aumento de 0,65% no período. Entretanto, ocorreu uma redução nas outras áreas em estudo. Na área urbana houve um maior impacto entre 2006 e 2012, uma redução de 4% no período analisado. Redução também na área metropolitana, de 32,29% em 2006 para 35,67% em 2012. Contrapondo-se com todas as outras dimensões, na dimensão trabalho e demografia, as mulheres apresentam dessa vez um Gap privação maior que os homens, evidencia-se mais ainda a diferença no mercado de trabalho entre homens e mulheres. Mesmo havendo uma redução, ainda é considerado alto a privação entre mulheres e homens, em 2012, uma lacuna de privação de 35,56% de mulheres, e 34,37% em homens. No grupo da faixa etária, ocorreu os resultados esperados, maior privação para crianças e idosos, pois os mesmos são dependentes e não trabalham, crianças em 2012, com privação de 38,77% e idosos, com 67,24%. Com o menor Gap, apresentou-se o grupo dos jovens, com 28,58%, em 2012. A população branca possui uma lacuna de privação menor quando comparada com a raça não branca, apresenta um hiato de 4,9% menor. Mesmo ambos os grupos obtendo uma redução no período de 2006 a 2012. 5.7 A Pobreza Multidimensional De maneira geral, as informações extraídas da PNAD sinalizam uma melhora nas condições de vida da população brasileira entre os anos 2006-2012.Essa melhora, no entanto, não ocorreu de forma homogênea entre as regiões brasileiras, nem entre os grupos sexo, faixa etário e raça. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 870 A tabela 4 mostra a pobreza multidimensional por região e por grupos no Brasil, 20062012. Os resultados sugerem uma redução na pobreza multidimensional de 24,24% em 2006 para 21,23% em 2012 segundo a metodologia adotada, com uma variação de 3,01%. Entre o período analisado, o nível de pobreza multidimensional declinou a uma taxa média de 0,6 %. Tabela 4 - Pobreza Multidimensional por região e por grupo no Brasil, 2006-2010. (%) Pobreza Multidimensional Variação 2006 2007 2008 2009 Nacional 24,24 23,68 23,00 22,56 Região Norte 30,71 29,48 28,33 27,74 Região Nordeste 27,78 27,11 26,20 25,79 Região Sul 22,56 22,14 21,47 21,09 Região Sudeste 21,67 21,18 20,68 20,22 Região Centro-Oeste 24,13 23,57 22,86 22,25 Homens 24,41 23,84 23,15 22,71 Mulheres 24,08 23,52 22,86 22,42 Crianças 24,09 23,42 22,53 22,09 Adolescentes 23,84 23,24 22,46 22,08 Jovens 24,27 23,56 22,78 22,18 Adultos 23,03 22,55 21,91 21,48 Idosos 32,01 31,72 31,40 31,09 Branca 21,97 21,51 20,99 20,57 Não Branca 26,62 25,90 24,97 24,50 Fonte: Elaboração pelos próprios autores a partir dos dados da PNADs. 2011 21,54 27,01 24,46 20,27 19,33 20,69 21,73 21,36 20,76 20,73 21,11 20,56 30,44 19,70 23,29 2012 21,23 26,20 24,18 20,01 18,99 20,50 21,42 21,06 20,30 20,50 20,77 20,17 30,41 19,33 22,92 -3,01 -4,51 -3,60 -2,55 -2,68 -3,63 -2,99 -3,02 -3,79 -3,34 -3,50 -2,86 -1,60 -2,64 -3,70 Em média, não há diferença significativa na pobreza entre os grupos sexo e faixa etária. Contudo, houve uma redução em todos os grupos. A pobreza multidimensional entre os homens em 2012 é de 21,42%, enquanto que nas mulheres é de 21,06%, havendo uma variação maior entre as pessoas do sexo feminino, 3,02%. Diferença pouco notada também entre crianças, adolescentes, jovens e adultos. Um impacto maior na redução foi no grupo crianças, uma queda de 3,79% de 2006 a 2012. Já no grupo idosos, houve pouca redução na proporção, 1,60%, sendo ela o grupo com maior pobreza multidimensional, 30,41% em 2012. As populações de raça não branca têmos mais altos níveis de pobreza multidimensional, 22,92% em 2012. Mesmo apresentando a maior taxa de variação 3,7% de 2006 a 2012. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 871 Este estudo partiu com o objetivo de apresentar novas perspectivas para a compreensão da pobreza multidimensional no Brasil nos anos de 2006 a 2012, considerando outras dimensões além da renda, com a finalidade de auxiliar politicas publicas focadas na sua diminuição e aceleração do processo de desenvolvimento. Apresentou como inovação um exercício empírico que aborda a pobreza multidimensional no Brasil, conforme Bourguignon e Chakravaty (2003). Na qual mensura que para cada dimensão, pode ser estimado os índices de incidência (proporção de pobres) e os níveis de privação para diferentes regiões e grupos demográficos. Considerando a mensuração da pobreza multidimensional no Brasil pela ótica das seis dimensões estudas, constatou-se que a pobreza multidimensional apresentou uma trajetória decrescente durante o período de estudo. Os resultados do trabalho sugerem uma redução de 24,24% em 2006, para 21,23% em 2012, da pobreza multidimensional no Brasil. Para as análises separadas das áreas metropolitana, urbana e rural o nível de pobreza foi mais intenso na região rural, onde as intensidades de pobreza foram sensivelmente maiores. Por outro lado, essa situação é menos grave na área metropolitana brasileira. Na análise da pobreza entre os grupos quase não existe diferenças entre homens e mulheres, mas vale salientar que a persistente privação concentra-se em ser maior entre os homens. Já entre as faixas etárias também observa-se uma pequena privação. Crianças, adolescentes, jovens e adultos encontram-se com a mesma proporção, em média, de pobres multidimensionais. O impacto maior na pobreza seria sobre o grupo do idosos, esses são considerados mais privados com relação aos outros grupos etários. Contrapondo-se, as desigualdades persistentes continuam para a população de raça branca e não brancas, havendo assim uma significativa diferença na pobreza multidimensional quando comparadas. Portanto, conclui-se que para reduzir a pobreza multidimensional deve-se adotar políticas públicas direcionadas especificamente para as dimensões que mais impactam a pobreza, sendo elas: educação, trabalho e demografia, comunicação e informação, e saúde. E sem seguida uma melhor distribuição desses recursos entre as regiões do Brasil, diminuindo assim as disparidades regionais. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 872 No entanto, além disso é necessário trabalhar sobre as desigualdades e promoção do desenvolvimento econômico, social e estrutural, para haver, deste modo, um crescimento econômico mais equitativo. Sendo assim, dois outros elementos essenciais são a vontade política e compromisso social. Finalmente, é necessário uma investigação mais a fundo para compreender as relações entre proteção social, crescimento econômico, e redução da desigualdade sobre redução da pobreza multidimensional. É também importante contar com dimensões adicionais para uma análise mais completa. Portanto, deve-se ser continua à procura de novos dados que visam melhorar os indicadores utilizadospara medir cada uma das dimensões, e assim mensurar qual tem mais impacto na pobreza multidimensional no Brasil. REFERENCIAS ANAND, S.; SEN, A. Concepts of Human Development and Poverty: a multidimensional perspective. HumanDevelopmentPapers. New York: UNDP, 1997. ARAUJO, J.A.; MORAIS, S.G.; CRUZ, M.S. Estudo da pobreza multidimensional no Estado do Ceará. Revista Ciências Administrativas, v. 19, n. 1, 2013. BARROS, R.P.; CARVALHO, M.; FRANCO, S. Pobreza multidimensional no Brasil. Texto para discussão n. 1227. 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Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 876 ANÁLISE ECONÔMICA E AVALIAÇÃO FINANCEIRA DA CULTURA DA MANGA NO CONDOMINIO RURAL TASSO RIBEIRO JEREISSATI NO MUNICIPIO DE MAURITI-CE. Maria Rosa Dionísio Almeida6 Otácio Pereira Gomes7 Tiago Cartaxo de Lucena8 RESUMO: Apesar de sua origem indiana, a mangueira foi introduzida no Brasil pelos portugueses no século XVI, adaptando-se muito bem em várias regiões, sendo muitas vezes confundida como fruteira nativa. O Brasil é um dos maiores produtores de manga do mundo, sendo esta, a segunda fruta mais consumida nos trópicos atrás somente da banana. Rica em sais minerais, vitaminas, açúcares e de sabor muito agradável, a manga é uma das principais frutas consumidas no país. Devido a relevância desta cultura, o presente artigo tem por objetivo analisar economicamente e financeiramente a cultura da manga no Condomínio Rural Tasso Ribeiro Jereissati, localizado no município de Mauriti, no estado do Ceará. Os dados são provenientes de fontes primárias e secundárias. A metodologia que se utilizou envolveu o cálculo de medidas de resultado econômico, que levou em consideração as medidas residuais e de eficiência, tais como: Taxa de Remuneração do Capital (TRC), Custo Unitário (CU), Ponto de Nivelamento (PNR) e Relação RB/CT, Renda Bruta (RB), Renda Liquida (RL); e o método como avaliação de culturas perenes, empregando a demonstração de fluxo de caixa para definir o valor do pomar no ano 3. Foi concluído que produzir manga é uma atividade economicamente eficiente na qual se obteve o resultado da relação RB/CT = 1,9 > 1, demonstrado que é uma atividade lucrativa para os produtores desse condomínio, e também estável face às possíveis variabilidades dos custos e receitas, como também mostra um valor do pomar propício à produção. Palavras-chave: Análise de Investimento, resultado econômico, Mauriti. 1.INTRODUÇÃO 6 Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA)- email: [email protected] (88) 9605-7733 7 Mestrando em Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará (UFC); Professor Substituto do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri (URCA) – Unidade Descentralizada de IguatuUDI.e-mail: [email protected] - (88) 96011930 8 Mestrando em Geografia pelo Departamento de Geociências da Universidade Federal do Ceará (UFC)- [email protected] (85) 97082313 IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 877 O Brasil, por sua origem tropical dispõe de fatores propícios ao bom desenvolvimento da fruta, sendo considerado um grande produtor, sua produção é destinada ao abastecimento do mercado interno, como também do mercado externo, produzindo frutas de excelente qualidade (GOMES, 1980). O cultivo da manga no Brasil historicamente foi feita de maneira extensiva, sendo comum o plantio em áreas extensivas como também nos quintais e fundos de vales das pequenas propriedades. No país, predominam as variedades locais do tipo "Bourbon", "Rosa", "Espada", "Coqueiro", "Ouro", entreoutras. Contudo, nos últimos anos, esse quadro vemsendo alteradoatravésda implantação de grandes áreas com novas variedades de manga de comprovada aceitação pelo mercado externo(EMBRAPA, 2010). Segundo lista elaborada pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, 2011), os mais importantes países produtores de manga são: Índia, China, México, Tailândia, Paquistão, Indonésia, Filipinas, Nigéria, Gâmbia e Brasil. O Brasil ocupa a terceira colocação do ranking entre os países produtores de fruta com resultado estipulado em 43,912 milhões de toneladas em 2012. Acima disso estão a China com desempenho gigantesco, de 224,816 milhões de toneladas e a Índia, com 83,032 milhões de toneladas (FAO apud SANTOS, 2013). A atividade congrega cerca de 5,6 milhões de pessoas, o que corresponde a 34% da força e trabalho empregado no meio rural, de acordo com o Instituto Brasileiro de Frutas. (IBRAFapud SANTOS, 2013). A expansão da mangicultura teve seu pico no Estado de São Paulo, onde foram difundidas as novas variedades para o restante do país, principalmente para os polos de agricultura irrigada do Nordeste, onde ocorreu à incorporação de plantios tecnificados, principalmente no submédio do Vale do São Francisco com destaque para os estados da Bahia, Pernambuco e outras áreas irrigadas como as dos Vales do Jaguaribe, Açu-Mossoró, Parnaíba e Platô de Neópolis: Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí e Sergipe (EMBRAPA, 2010). O agronegócio relacionado à produção da mangicultura vem se constituído em um mercado bastante propulsor, pela a aceitação dos mercados internos e externos. Possibilitando IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 878 uma rentabilidade satisfatória para os produtores. Quanto compara seus custos de produção e comercialização percebe-se que está fruteira poderá promover resultado satisfatório. No Ceará o município de Mauriti situado na região do Cariri, é um grande produtor de manga por meio da irrigação, principalmente no Condomínio Rural Tasso Ribeiro Jereissati, fonte de pesquisa deste trabalho onde há uma grande incidência desta fruta, constituindo uma fonte de renda para os produtores como é absorvedora de mão-de-obra local. Para tanto, para que a cultura da mangicultura continue promovendo os resultados satisfatórios é necessário que as propostas discutidas para o desenvolvimento desta atividade, incluam pontos que não vise apenas aspectos agronômicos e econômicos. Portanto, o presente estudo objetiva analisar economicamente de forma a avaliar a cultura da manga nos Condomínio Rural Tasso Ribeiro Jereissati no município de MauritiCe.Especificamente, calcularam-se as receitas e custos de implantação e operacionais da atividade como se estimou a produção e a renda liquida obtida. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Caracterização do cultivo da mangicultura Pertencente à família Anacardiácea, a mangueira configura-se como uma das frutas mais populares do mundo. É uma árvore frondosa que pode ser tanto de porte médio como grande, com copa arredondada. A inflorência gera flores perfeitas, tem como polinizador a mosca domestica, o fruto é variável no tamanho, peso, forma e cor, a polpa é amarela (de vários tons), de sabor variado dependendo da variedade. Adaptam-se melhor em áreas onde as estações secas e chuvosas são bem definidas, vegeta e frutifica tanto em solos arenosos como em solos argilosos ligeiramente ácidos ou alcalinos (FEREIRA e CASTRO, 2001). Para a plantação comercial deve-se preferir o solo areno-argiloso, soltos e profundos e com boa fertilidade, assim garantindo uma boa produção. Para quem visa implantar um pomar, as áreas que possibilitam a mecanização são as mais indicadas. A manga é uma fruta deliciosa e nada tem de indigesta, mesmo consumida após as refeições, quando consumida ao natural.Com ela fazem-se compostas excelentes, doces, geleias, refrescos, sorvetes. Na índia, fervem mangas verdes, coam o líquido IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 879 e misturam com leite e açúcar. Quando muito nova, a manga é cortada em pedaços pequenos e consumida como salada (GOMES, 1985, p. 314). AOrganização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO)estima que a colheita de manga será de cerca de 28,8 milhões de toneladas em 2014, ou seja, 35 % da produção mundial de frutas tropicais (FAO apud TODA FRUTA.COM ,2014).No Brasil é muito grande a variedade de mangas que podemos encontrar entre as quais; Espada, Rosa, Haden, keitt, Kent, TomyAtkions, Palmer, Van Dyke entre outras. As variedades mais indicadas são as que apresentam alta produtividade, coloração atraente do fruto, preferencialmente avermelhado, polpa doce, pouca ou nenhuma fibra, além da resistência ao manuseio e ao transporte para mercados distantes. Atualmente, a Tommy Atkins é a variedade mais produzida e a que possui a maior participação no volume comercializado no mundo, devido principalmente a sua coloração intensa, produções elevadas e resistência ao transporte a longas distâncias (EMBRAPA, 2014). O cultivo da manga no país pôde ser divido em duas etapas distintas: a primeira, que trouxe como diferencial principal os cultivos de forma extensiva, com variedades locais e pouco ou nenhum uso de tecnologias; e a segunda, assinalada pelo alto nível tecnológico, como variedades melhoradas, irrigação e indução floral (IBRAF, 2007). As regiões Nordeste e Sudeste se destacam na produção nacional de manga, foram responsáveis no ano 2012, respectivamente, por 782.365 e 377.819 toneladas da produção total de manga, enquanto que a região Sul produziu 9.674 toneladas, na região Norte produziu-se apenas 2.132 t e o Centro-Oeste um pouco mais que a anterior sendo 3.745 toneladas, conforme a Tabela1. Tabela 1 – Produção brasileira de mangicultura por regiões em 2012. Região fisiográfica Norte Nordeste Sudeste Sul Área colhida (ha) 317 50.169 21.869 687 Quantidade produzida (t) 2.132 782.365 377.819 9.674 Valor da produção(Mil Reais) 993 426.031 222.015 8.236 Participação na produção (%) 0,04 6,03 0,94 0,19 IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 880 Centro-Oeste Brasil 311 73.310 3.745 1.175.735 3.885 660.159 0,48 100,00% Fonte: IBGE-Produção Agrícola Municipal 2012. Consultado em 25/09/2014. . De acordo com a Tabela 2 dentre todos os estados nordestinos, os estados da Bahia e Pernambuco se destacam na produção de manga em relação aos aspectos como área colhida, produção e valor da produção, com respectivamente 25.661 e 11. 257 hectares de área colhida, 422.763 e 226.921 toneladas de fruta produzida, constituindo um valor de 182.867 e 168.946 mil reais em 2012. Nos estados da Bahia e Pernambuco, os municípios de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) caracterizam-se como referencia na produção de manga (IBGE, 2012). Tabela 2 - Produção brasileira de mangicultura por estados do Nordeste em 2012. Estados Bahia Pernambuco Ceará Rio Grande do Norte Sergipe Paraíba Piauí Alagoas Maranhão BRASIL Área Colhida (ha) 25.661 11.257 5.262 2.876 1.012 1.751 1.023 747 580 73.310 Produção (t) 422.763 226.921 43.138 38.167 21.325 12.199 9.499 5.195 3.158 1.175.735 Valor da produção (Mil Reais) 182.867 168.946 19.801 26.015 14.664 6.328 3.698 1.406 2.306 660.159 Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2012. Consultado em 10/09/2014. A despeito da região de Petrolina /Juazeiro em produzir manga durante o ano todo, sua produção está concentrada nos meses de julho até dezembro, as exportações nordestinas sucedem em maior expressão nos meses de agosto a dezembro, destinando-se aosmercados americano e para a Europa, onde a fruta é recebida no primeiro semestre, porque o volume de produção é menor(CINTRA, 2002). Portanto, a região se destaca em relação a produção e comercialização de manga.Segundoo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Universidade de São Paulo (USP), que analisa só os grandes polos de produção comercial, o IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 881 estudo realizado indica avanço de 7,5% e Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), onde a área passou de 23 mil para 25 mil hectares (SANTOS, 2013). 4. METODOLOGIA 4.1.Área de estudo O município de Mauriti está localizado ao Sul do Estado do Ceará, distante 406 km da capital cearense em linha reta. De acordo com Instituto de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), sua população é de 44. 240 habitantes. Detêm uma área territorial de 1111,86 km², limita-se ao norte com Estado da Paraíba e o município do Barro; ao sul faz limite com o município de Brejo Santo, e os Estados da Paraíba e Pernambuco; ao leste com Estado da Paraíba, já a oeste com os municípios de Brejo Santo e Milagres. Possui um clima tropical quente semiárido, a pluviosidade é de 872,3 mm, os meses mais chuvosos são fevereiro á abril. A temperatura média é de 24C° a 26C° (IPCE, 2013). O município dispõe de dois grandes reservatórios de água, os Açude Gomes e Quixabinha. 4.2. Fonte dos dados Os dados primários quantitativos e qualitativos foram coletados junto aos produtores do Condomínio Rural Tasso Ribeiro Jereissati do município de Mauriti- CE. A forma de entrevista foi semiestruturada, que de acordo com Triviños (1987), tem como particularidade, questionamentos básicos que são sustentados em hipóteses e teorias que estão relacionados ao tema da pesquisa. O período de coleta dos dados foi realizado no mês de julho de 2014. Portanto, os preços dos insumos, serviços, fatores de produção e preço do produto correspondem a este período. As seguintes técnicas de pesquisa para a coleta de dados foram usadas: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e pesquisa empírica. 4.3. Método de Análise 4.3.1. Análise Econômica da Produção de Manga IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 882 Para se avaliar a eficiência econômica é importante entender os conceitos de receitas e custos da produção, para depois se chegar aos indicadores propostos no mencionado trabalho e conseguir os resultados esperados. O conceito de custo é definido por "o valor de bens e serviços consumidos na produção de outros bens ou serviços" (MATTOS, 1998). Portanto, está relacionado com todos os bens e serviços que uma definida atividade produtiva utiliza num certo período de tempo, definindo-se como as despesas (saídas) da atividade implantada. Já receitas, conforme Silva (1999) tomando U como utilidade (serviço ou bem), no qual preço de venda por unidade signifique um preço fixo P0, para quantias entre q1 e q2 unidades. A função dada por RT=P0.q, com q1≤q≤q2, é designada função receita total ou simplesmente receita total (valor total recebido por uma número de produtos vendidos a um certo preço fixo). O método utilizado nesse trabalho para a análise econômica levou em consideração que todos os fatores utilizados devem ser remunerados para produzir determinado bem, compreendendo-se entre eles, empresário, terra e capital. É importante ainda observar que o conceito clássico de custo se fundamenta em dois aspectos basais: a) no princípio do custo de oportunidade ou custo alternativo, no qual o custo dos recursos para a empresa é igual ao seu valor no mais perfeito uso alternativo; e, b) nos custos implícito e explícito; o primeiro é acatado como os encargos devidos a fatores que pertencem à firma, o segundo, é definido como a despesa em dinheiro comumente realizado pela firma, referente aos gastos com serviços alugados ou comprados (MATSUNAGA et al.,1976). Como já recomendado, o custo de produção considera todos os itens que ficassem indireta ou diretamente ligados ao processo de produção, aceitando-se critérios subjetivos para recompensar determinados fatores. De forma geral, o custo de produção expõe os seguintes componentes: a) Despesas indiretas (CV), que são levados em consideração os gastos em dinheiro com fertilizantes, aluguel de equipamentos, trabalhadores, transportes, defensivos, etc. b) Despesas diretas (CF): fazem parte taxas e impostos, gastos gerais e diversos, entre estes estão listados luz e força, água, material de escritório, conservação de benfeitorias, IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 883 instalações, máquinas e equipamentos e depreciações. Para o cálculo da depreciação, utilizouse a seguinte fórmula: 𝐷= 𝑉𝑖 + 𝑉𝑓 𝑛 Onde: 𝑉𝑖 = Valor inicial do bem de capital; 𝑉𝑓 = Valor final do bem de capital; 𝑛 = Tempo de vida útil do bem de capital; c) Remuneração dos demais componentes: terra e capital Segundo Hofmannet al. (1987), utilizando-se os indicadores dos resultado econômico é possível avaliar o rendimento de uma atividade, ou seja, algumas medidas de lucratividade e eficiência econômica de uso dos fatores de produção. Os indicadores de resultado econômico utilizadas são: - Renda Bruta (RB); - Renda Líquida (RL); - Taxa de Remuneração do Capital (TRC); - Custo Unitário (CU); - Ponto de Nivelamento de Rendimento (PNR); - Relação Renda Bruta/Custo Total (RB/CT). Como forma de obter os indicadores acima referidos e para que haja melhor compreensão do tema, é necessário definir esses e outros indicadores de resultado econômico, como estão descritos a seguir: (a) Renda Bruta (RB) – abrange a soma dos valores encontrados como resultado da atividade, em formas monetárias por forma matriz, tais como: - renda bruta da venda da manga; - renda bruta do autoconsumo; (b) Renda Líquida (RL) – este indicador é tido como a diferença entre a renda bruta (RB) e as despesas (D). 𝑅𝐿 = 𝑅𝐵 − 𝐷 IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 884 (c) Remuneração do Capital (RC) – é dado pelo valor do capital que está empatado na propriedade multiplicado pela taxa de juros do FNE (6,75% a.a.). (d) Renda da Terra (RT) – é dada pelo produto do valor da terra empregada na produção pela taxa do FNE (6,75% a.a.). (e) Taxa de Remuneração do Capital (TRC) – é a remuneração pelo uso do capital, do que sobra depois de descontada todas as despesas de operação inclusive a remuneração do empresário. 𝑇𝑅𝐶 = 𝑅𝐶 𝑥100 𝐶𝑀𝐸 Em que: 𝐶𝑀𝐸 = 𝐼𝑖 + 𝐼𝑓 2 CME = capital médio empatado; 𝐼𝑖 = valor total do inventário no início do ano; 𝐼𝑓= valor total do inventário no fim do ano. (f) Custo Unitário (CU) – indica quanto o produtor gasta em unidades monetárias para produzir um kg de manga. Para chegar a este valor, divide-se o custo total (CT) pelo volume físico de produção (VFP). Levando em consideração a conceituação teórica do custo total de produção, no qual o CT é formado por todos os gastos da atividade, inclusive a remuneração do capital e da terra. 𝐶𝑈𝑇 = 𝐶𝑇 𝑉𝐹𝑃 (g) Ponto de Nivelamento de Rendimento (PNR) - o Ponto de Nivelamento de Rendimento mostra como se comportam os custos e as receitas e, também, de seus componentes, em certo período de tempo. Os valores foram obtidos dividindo-se o Custo Total (CT) pelo preço médio do kg da manga. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 885 𝐶𝑇 𝑝𝑟𝑒ç𝑜𝑚é𝑑𝑖𝑜𝑣𝑒𝑛𝑑𝑎 𝑃𝑁𝑅 = (h) Relação RB/CT – A relação Renda Bruta/Custo Total mostra o comportamento das receitas relacionadas aos custos totais da atividade, acordados com as situações a seguir: RB/CT = 1, situação regular, receitas iguais aos custos totais; RB/CT>1, situação boa, onde as receitas superam os custos totais; RB/CT<1, situação ruim, pois os custos totais superam as receitas, ou seja, é gerado prejuízo. 4.3.2 .Avaliação da Cultura da Manga De forma conceitual, o valor do pomar (manga) é estimado baseado nos gastos da fase de formação e o valor presente da renda líquida calculado para cada um dos anos futuro do pomar. Desta forma para qualquer ano “n” na fase de produção, o valor do pomar é calculado como: 𝑉𝑃𝑛 = 𝑉𝐹𝐹𝑛 + 𝑉𝑃𝑅𝐿𝐹 ∗ (1 − 𝑟) Onde: 𝑉𝑃𝑛 = Valor do pomar no ano “n”; 𝑉𝐹𝐹𝑛 = Valor futuro dos gastos de formação da cultura; 𝑉𝑃𝑅𝐿𝐹 = Valor Presente das Receitas Líquidas Futuras (anos posteriores ao ano “n”); 𝑟 = Coeficiente de risco que está ligado à queda no fluxo de receitas líquida por conta de imprevistos que acabem resultando em queda no preço do produto e/ou na produtividade almejada e/ou nos valores dos insumos, comumente atribui-se uma taxa de 10% ao risco. Para calcular o Valor Futuro dos Gastos de Formação (VFF) no ano “n” tem-se: 𝑛 𝑉𝐹𝐹𝑛 = ∑ 𝐶𝐹 𝑖 ∗ (1 + 𝑟)𝑛−1 𝑖=0 Em que: IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 886 CF = Custo de Formação da cultura. 𝑖 = anos da formação; 𝑛 = Quantidade de anos da formação da cultura; 𝑟 = Taxa de juros reais; Para o cálculo do Valor Presente das Receitas Líquidas Futuras (VPRLF) no ano “3” (período em que a cultura é estabilizada), conforme sugerido, tem-se: 𝑘 𝑉𝑃𝑅𝐿𝐹𝑚 = ∑ 𝑅𝐿𝑗 /(1 + 𝑟)𝑘 𝑗=4 Onde: 𝑅𝐿 = Receita Líquida; 𝑚 = ano 3 (período de estabilização da cultura); 𝑘 = Quantidade de anos restante do fluxo da cultura; 𝑗 = Anos seguintes ao do valor em análise (m=3). 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO Primeiramente foi feito a análise das medidas de resultado econômico e depois se procedeu a análise da avaliação da cultura da manga, especificamente, o valor do pomar para o ano 3. 4.1 Levantamento dos Investimentos e Custos Operacionais A Tabela 3 mostra os valores dos equipamentos para se produzir um hectare de manga, supondo o sistema de irrigação incluindo apenas canos, gotejadores e “outros” no qual está incluso a instalação, a terra para o cultivo da manga, galpão, maquinas e equipamentos, com as respectivas quantidades e a vida útil de cada fator, com um valor inicial total de R$ 20.040,00; valor final de R$ 18.667,00, com custo de depreciação total igual a R$ 1.373,00. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 887 Tabela 3 - Cronograma de valor do capital empatado por hectare, para os produtores de manga do Condomínio Rural Tasso Ribeiro Jereissati, município de Mauriti, Estado do Ceará, 2014. Vida Útil restante (anos) Valor Inicial (R$) Valor Final (R$) Depreciação (R$) - Terreno - 8.000,00 8.000,00 - - Galpão 20 6.000,00 5.700,00 300 - Máquinas e Equipamentos 8 5.000,00 4.375,00 625 Inversões (ano zero) Canos 10 180 162 18 Gotejadores e outros 2 860 430 430 20.040,00 18.667,00 1.373,00 Total Fonte: Dados da pesquisa (2014). A Tabela 4 apresenta os custos operacionais para produção da manga, estes são compostos pelos serviços de roçagem e aração, gradagem e calagem, covas (sulcamento), mão de obra, roçadeira, pulverização, colheita, além de insumos e fertilizantes. Assim sendo, as despesas indiretas ou os custos variáveis estimados da produção de manga irrigada do condomínio rural Tasso Ribeiro Jereissati são de R$ 6.720,00 a partir do 3º ano em diante. Tabela 4 - Custos variáveis ou despesas indiretas por hectare dos produtores de manga do Condomínio Rural Tasso Ribeiro Jereissati, município de Mauriti, Estado do Ceará, 2014. Discriminação 1. Preparo Solo e Plantio - Roçagem e aração - Gradagem e Calagem - Covas (sulcamento) 2. Insumos Mudas Água Energia Adubos minerais: - Sulfato de Potássio Fosforo Nitrogênio Unid. Preço Unitário Ano Zero Quant Valor 1º Ano ao 2º Ano Quant Valor 3º Ano em diante. Quant Valor 2400 tr/h tr/h tr/h 0,60 0,60 0,60 5 5 5 310 1 - 1500 600 300 2994 1240 250 - Um m³ Kwh 4,00 250 250 Kg Kg Kg 1,36 1,36 1,36 50 50 50 68 68 68 1 1 1100 250 250 1 1 1100 250 250 - - - - IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 888 Magnésio Calcário Gesso Defensivos 3. Tratos culturais e fitossanitários Mão de obra Roçadeira Pulverização 4. Colheita Total Kg t. t. L 28 250 300 150 25 1 1 4 700 600 4 3300 h/d tr/h tr/h h/d - 180 60 120 60 - 10 5 10 - 1800 300 1200 8.694 600 4 3300 50 5 10 - 1800 300 1200 4.400 600 3300 50 15 10 20 1800 900 1200 1200 6.720 Fonte: Dados da pesquisa (2014). Na Tabela 5, podemos analisar a renda bruta que corresponde a toda a receita do negócio, na qual podemos verificar um valor de R$ 25.000,00. No que se referem aos custos fixos estes foram de R$ 3.157,675 que são compostos pela depreciação dos bens de capital, manutenção e gastos com água. Os custos variáveis ou as despesas indiretas, onde estão calculadas as despesas operacionais da atividade somaram R$ 900,00. A renda líquida que é o lucro da propriedade foi de R$ 18.000. A taxa de remuneração do capital foi 6,5% que representa a remuneração pela utilização do capital, subtraídas todas as despesas de operação. O custo unitário, ou seja, por kg do produto foi R$0,16 que representa o preço mínimo que o produtor gasta em unidades monetárias para produzir um kg de manga, valores estes variáveis se levarmos em consideração a época do ano, como fatores que interferem no rendimento produção; clima, investimentos, demanda, entre outros. A variedade de manga que predomina no Condomínio agrícola é a Tommy Atkins, a mais resistente ao transporte de longas distâncias como é mais comercializada. A produção de manga no Condomínio Rural Tasso Ribeiro Jereissati destina-se ao mercado local, estados da Paraíba e Pernambuco, e as Centrais de Abastecimento do Ceará (CEASA). Levando em conta também o ponto de nivelamento do rendimento (PNR) que representa o mínimo que deve ser produzido para que as receitas igualem aos custos, identificou-se valor igual a 3.381,4 kg e a relação RB/CT = 1,9 > 1, ou seja, mostra que a IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 889 atividade da mangicultura é lucrativa, o que beneficia os produtores possibilitando um rendimento necessário ao atendimento das necessidades básicas e familiares. Tabela 5 - Indicadores econômicos da produção de manga irrigada no perímetro irrigado Senador Tasso Jereissati, município de Mauriti, Estado do Ceará, 2014. ITENS 1. RENDA BRUTA TOTAL 25.000 2. DESPESAS DIRETAS (CF) 3157.675 2.1. Depreciação anual 2.2. Juros sobre o capital 2.3. Juros sobre a terra 2.4. Manutenção: 5% sobre o capital 2.5. Água 2.6. Encargos Sociais 600 1.000 540 767.675 250 4. TOTAL DESPESAS (CT) 737,28 900 4057.675 5. RENDA LÍQUIDA (lucro) 18000 3. DESPESAS INDIRETAS 6. TAXA DE REM. CAPITAL 6,5 7. CUSTO UNITÁRIO/Kg 0,16 8. PNR (Ponto Nivelamento Rendimento) 9. RB/CT 3381,4 1,9 Fonte: Dados da pesquisa (2014). 4.3 Avaliação da Cultura da Manga De acordo com a Tabela 6, para os resultados da avaliação da cultura de manga no Condomínio Rural Tasso Ribeiro Jereissati, considerou-se o fluxo de caixa para um horizonte de 10 anos, instrumento necessário para o cálculo do valor do pomar no ano 3 (período de estabilização da cultura), em que mostra o total de entradas (receitas) e saídas (custos mais investimentos), os gastos futuros da formação (VFF) que somam um total de R$ 73.018,2 e o Valor Presente das Receitas Líquidas Futuras (VPRLF) para o ano 3, num total de R$ 61.429,8 , assim o valor do pomar no ano 3 foi de R$ 128. 305,00. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 890 Tabela 6 - Fluxo de caixa dos custos e receitas da produção de manga no Condomínio RuralTasso Jereissati, município de Mauriti, Estado do Ceará, 2014. Especificações I - TOTAL DE ENTRADAS (1+2+3) 1. Receitas do Projeto 2. Créditos (2.1 + 2.2): 2.1. Crédito de Investimento 2.2. Crédito de Custeio 3. Desinvestimento (Valor Residual) II – TOTAL DE SAÍDAS (4+5+6+7) 4. Investimento 5. Reinvestimentos 6. Custos Operacionais 7. Serviço da Dívida (7.1 + 7.2) 7.1. Investimento (a + b) a) Amortização b) Juros 7.2. Custeio (c + d) c) Principal d) Juros III – BENEFÍCIO LÍQUIDO (I – II) Valor Fut. Cust. Form. (VFF) Valor. Pr. Rec. Liq. Fut. (VPRLF) Valor Pomarano 3 0 35247 35247 23247 12000 41454 20040 8694 12720 12720 12000 720 -6207 41454 1 24000 24000 2 - 24000 10278.02 4400 5878.02 1394.82 10878.02 600 4400 5878.02 1394.82 1394.82 4483.2 4080 403.2 13721.98 54530.165 1394.82 4483.2 4080 403.2 -10878.02 73018.2 3 25000 25000 15026.04 6720 8306.04 3822.84 2583 1239.84 4483.2 6720 403.2 9973.96 61429.8 128305.0 Anos do Projeto 4 5 6 25000 25000 25000 25000 25000 25000 15471.06 14716.08 15161.1 600 600 6720 6720 6720 8151.06 7996.08 7841.1 3667.86 3512.88 3357.9 2583 2583 2583 1084.86 929.88 774.9 4483.2 4483.2 4483.2 6720 6720 6720 403.2 403.2 403.2 9528.94 10283.92 9838.9 7 25000 25000 14406.12 6720 7686.12 3202.92 2583 619.92 4483.2 6720 403.2 10593.88 8 25000 25000 20111.14 5860 6720 7531.14 3047.94 2583 464.94 4483.2 6720 403.2 4888.86 9 25000 25000 14096.16 6720 7376.16 2892.96 2583 309.96 4483.2 6720 403.2 10903.84 10 39750 25000 14750 13941.18 6720 7221.18 2737.98 2583 154.98 4483.2 6720 403.2 25808.82 56047.4 35364.3 32862.5 24176.9 0.0 49546.6 43052.1 Fonte: Dados da Pesquisa (2014). IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do CaririURCA, Crato Ceará-Brasil 891 5. CONCLUSÃO No munícipio de Mauriti-Ce a produção da mangicultura tem grande impacto na melhoria da qualidade de vida dos produtores do Condomínio Rural Tasso Ribeiro Jereissati, contribuindo para o aumento da renda destes, possibilitando o atendimento básico das necessidades familiares, a renda liquida obtida com a atividade chega R$ 18.000, 00 podendo atingir valores maiores, em anos de melhores condições. O referido trabalho foi discutido em perspectiva da análise econômica da produção de manga irrigada, como também para avaliação do pomar em um determinado período produtivo. Como mostram os indicadores econômicos, o projeto mostrou viabilidade, expondo resultados positivos para os indicadores que foram calculados, isto é, segundo os custos e receitas apresentados no estudo, as receitas mostraram-se maiores que os custos. A relação RB/CT = 1,9 > 1 mostra que a atividade da mangicultura é lucrativa, contribuindo para viabilidade do projeto, promovendo também um garantia de renda e geração de emprego aos produtores que vivem desta prática agrícola. REFERÊNCIAS CINTRA, F.R.; BOTEON, M. Avaliação do desempenho dos principais pólos produtores de manga no Brasil. In: Congresso Brasileiro de economia e sociologia rural, São Paulo, 2002. Disponível em: <http://cepea.esalq.usp.br>. Acesso em: 15 set. 2014. EMBRAPA- Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-Sistemas de Produção, 2014. Disponível em: <http sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.brhtml> Acesso em: 25 Set. 2014. EMBRAPA-Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, 2010. Disponível em: <http://www.sct.embrapa.br/novosite/embrapa/acs/emb30an/areasdegr.html> Acesso em: 10 jan. 2014. FAO- FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION.Mangifera Indica, L. Austrália, 2014. Disponível em: <http://www.fao.com>. Acesso em: 20 Set. 2014. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 892 FERREIRA, Clero Chaves; CASTRO, Elenimar B. Curso de Produção da Manga. Secretaria de Agricultura Irrigada, Limoeiro do Norte- CE, 2001.30 p. GOMES, Raymundo Pimentel. Fruticultura Brasileira. 6º Ed. São Paulo: Nobel S.A, 1980. HOFFMANN, R.; SERRANO, O.; MARZABEL, E. N.; THAME, M. C.; ENGLER, C. J. J.Administração da empresa agrícola. São Paulo: Pioneira, 1987. 320p. IBRAF-Comparativo das Exportações Brasileiras de Frutas Frescas, 2006-2007. Disponível em: <http//www.ibraf.org.br/Estatísticas e Revista>. Acesso em 15 jan. 2014. IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Dados da produção e consumo de manga no Brasil, 2012. Disponível em: <www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em 10/01/2014. IPECE – Instituto de Pesquisa Econômico do Ceará: Perfil Básico Municipal 2013. Disponível em: <http//www.ipece.ce.gov.br>. 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IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 894 Analise territorial de Políticas Economia Criativa: repercussões sobre o desenvolvimento Victor da Silva Oliveira9 Tiago Costa Martins10 Marcela Guimarães Martins11 Resumo: Novas ações públicas voltadas para a contemplação de agentes sociais historicamente desassistidos pelo poder público entraram em voga nos anos recentes no Brasil. Concepções distintas de desenvolvimento e (re)fortalecimento da ação do Estado nacional se contrapõe as ações realizadas em um passado próximo. Nessa perspectiva, o presente artigo teve por objetivo analisar as repercussões territoriais dos primeiros resultados obtidos pela politica pública brasileira para economia criativa, propondo uma revisão literária acerca de perspectivas de desenvolvimento que pautaram a criação da Secretária de Economia Criativa, assim como na realização de uma breve revisão sobre a politica em questão e outras que auxiliam a compreensão da emergência de novas políticas públicas no ambiente político brasileiro. Por fim, buscou-se especializar os primeiros empenhos financeiros da Secretaria. Os resultados apontam o importante passo inicial realizado pelo Ministério da Cultura, entretanto observa-se a necessidade da incorporação de outras pastas ministeriais para efetivamente compor-se uma política intersetorial e angariar força financeira e política para efetivar-se. Por tratar-se de uma ação recente, obviamente ajustes são precisos, contudo a análise da repercussão territorial mostra a imponência da diversidade cultural do Brasil, incorporando regiões historicamente marginalizadas na ação estatal, como o nordeste. Entretanto, percebe-se grande concentração geográfica das ações da Secretaria de Economia Criativa no litoral, havendo emergência de expansão das ações para o “interior” do país, assim contemplando seu objetivo de auxiliar na redução das desigualdades regionais e sociais. Palavras-chave: desenvolvimento; planejamento; cultura. Introdução 9 doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco (PPGeo/UFPE), 81-9887.4719, [email protected]; 10 professor assistente do Curso de Relações Públicas (Ênfase em produção cultural) da Universidade Federal do Pampa (Campus São Borja/RS), 55-8406.2252, [email protected]; 11 professora titular do Curso de Relações Públicas (Ênfase em produção cultural) da Universidade Federal do Pampa (Campus São Borja/RS), 55-8462.2252, [email protected]; IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 895 O presente artigo é fruto parcial das discussões e pesquisas do Grupo de Pesquisa de Investigação em Política e Economia da Cultura (Inpecult) da Universidade Federal do Pampa, vinculado ao Curso de Relações Públicas, sediado no campus São Borja/RS e sob coordenação do Professor Tiago Costa Martins. O grupo, com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Ministério da Cultura, realiza uma pesquisa referente a alocação de recursos públicos municipais e a possibilidade de configuração de um arranjo produtivo da cultura regional. Dentre as análises secundárias realizadas pelo grupo com objetivo de construir um marco teórico e perceber o cenário atual de fomento público a políticas culturais, destaca-se a recente formação da Secretaria de Economia Criativa junto ao Ministério da Cultura, que realizou uma planificação propondo uma intervenção na estrutura política e um conjunto de ações práticas. Assim, o presente artigo tem por objetivo analisar as repercussões territoriais dos primeiros resultados obtidos pela politica pública brasileira para economia criativa. Entre as propostas norteadoras da política estão a ação intersetorial para promoção do desenvolvimento e a inclusão social por intermédio da valorização da vasta e rica diversidade cultural brasileira. Para realização dessa pesquisa construiu-se um marco teórico para análise cultural a partir do estruturalismo histórico, em especial as reflexões de RaúlPrebisch e Celso Furtado, assim como outros autores que refletiram sobre a perspectiva cultural em obras dos principais pensadores da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), respectivamente. Posteriormente, é tratada a Politica de Economia Criativa como uma alternativa de desenvolvimento baseada nas concepções teóricas abordadas, salientando o momento oportuno da política brasileira para o surgimento e afirmação de propostas políticas que abrangem setores historicamente desassistidos pelo poder público, assim como ações envolvendo diversas pastas ministeriais. Na sequência são traçados alguns comentários IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 896 sobre o Plano de Economia Criativa, documento que reúne o histórico de criação da Secretaria e norteia o trabalho da mesma. Por fim é mencionado alguns limites e desafios para se fazer avançar na valorização da criatividade como vetor para desenvolvimento e diminuição de desigualdades sociais e regionais. No último tópico, baseado nas reflexões anteriores e na espacialização da destinação dos recursos do ano de 2013 da Secretaria de Economia Criativa, discute-se os primeiros resultados obtidos pela política pública brasileira para economia criativa, assim como sua repercussão territorial e as possibilidades criadas para enfrentamento das desigualdades regionais e sociais e como vetor de desenvolvimento. Desta forma, essa pesquisa partiu da seguinte pergunta: quais repercussões territoriais dos primeiros resultados obtidos pela política pública brasileira para economia criativa? Marco teórico: análise cultural a partir do estruturalismo histórico Para compreensão das reflexões do estruturalismo histórico no que concerne a cultura, se faz necessário uma breve reflexão mais ampla, trazendo alguns traços dessas corrente teórica/metodológica a partir de Prebisch e Furtado, seus principais pensadores. Dessa breve discussão pretende-se pontuar os aspectos centrais que justificam a proposta de desenvolvimento a partir do vetor cultural, ao passo que essa corrente teórica auxiliou na fundamentação da criação da Secretaria de Economia Criativa e de seu Plano estratégico. O processo de formação da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) apresenta elementos que auxiliam na compreensão da perspectiva estruturalista histórica sobre as mudanças necessárias na América Latina, e por extensão no Brasil, para diminuir a lacuna econômica e social perante os países desenvolvidos. Criada em 1948, a CEPAL atualmente é composta por 44 Estados-Nação e oito territórios associados. Entre as atribuições iniciais da instituição estava a elaboração de grandes diagnósticos para cada país sul-americano e caribenho, destacando as potencialidades, fragilidades e principais desafios para serem alcançadas melhores IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 897 condições competitivas economicamente e paridade social. Essa proposta estava alinhavada com a busca da expansão do Plano Marshall de reconstrução europeia pós Segunda Guerra Mundial para a América do Sul e Central. Entre os pesquisadores que realizaram tais estudos, destaca-se RaúlPrebisch (1901 – 1986). O economista argentino, que tornou-se o principal intelectual da CEPAL, propunha uma ação transformadora nas estruturas econômicas das nações latino-americanas. Contrário as teorias de vantagens comparativas de David Ricardo, Prebisch percebia a necessidade da superação do modelo agrário-exportador, visto a desvantagem histórica da comparação entre os preços de produtos industrializados, os quais eram importados pela América Latina dos países centrais, e os agrários exportadores, principais geradores de divisas dos países latinos para obtenção de manufaturas. De acordo com Souza (1999), a percepção da necessidade de criação de alternativas para o setor agrário-exportador penetrou na base política e econômica de vários países latino-americano, entre os quais o Brasil destacou-se. Passou-se a defender que para transformação da economia brasileira seria primordial a consolidação de uma base industrial, pautada por um planejamento econômico e ampla participação do Estado em tal processo. Obviamente, a participação do Estado como agente ativo na planificação e industrialização entre os países latino-americanos foi heterogêneo. Prebisch (1964, 31) justifica esse fato afirmando que “o Estado não é uma entidade abstrata e incorpórea. Aqueles que manejam seus recursos são movidos por interesses e paixões e não apenas por objetivos coletivos”. A busca por maior ação estatal foi marcada por essa heterogeneidade, sendo um dos pontos alvo de crítica da proposta cepalina. Entretanto, críticas de diversas frentes surgiram: por parte dos países centrais contrários a industrialização periférica; das oligarquias agrárias, pois eram contrários a reforma agrária e a divisão do poder com uma possível elite industrial; a direita percebia o planejamento nacional como uma IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 898 estratégia soviética/socialista; as frentes agrarias de esquerda consideravam a proposta conservadora e alinhada com o grande capital, era reformista e não revolucionária. No Brasil essas críticas tiveram em pauta a medida que buscava a implementação das propostas cepalinas. Entre os principais defensores e agregadores das reflexões estruturalistas no país está Celso Furtado (1920-2004). O economista questionava-se, de acordo com Borja (2013), as razões de algumas sociedades nacionais esterilizam seu excedente enquanto outras experiências logram alta retenção, multiplicação e reprodutividade do mesmo. Ou seja, quais razões para os excedentes produtivos no Brasil não serem aproveitados para alavancar uma reprodução baseada em uma proposta endógena alinhavada com uma proposta industrial e de maior equidade social. Para melhor aproveitamento dos excedentes, Furtado (1964) defende uma ampla participação do Estado na economia, pois a depender do mercado, as reproduções tendem-se a serem mais concentradoras territorialmente e por extrato de classes. Esse fato decorre das condições de reprodução serem propícias em locais já com densidade econômica, ocorrendo paralelamente defesa de setores, empresas e pessoas. O planejamento estatal, de acordo com o autor, orientaria o crescimento e procuraria romper as estruturas arcaicas que bloqueiam o desenvolvimento do país. Entretanto, sendo necessário não seguir passos de países centrais, uma vez que o subdesenvolvimento e o desenvolvimento não são simples etapas históricas pelas quais países devem passar, como propunha Rostow (1974), com base na teoria da modernização. O desenvolvimento é resultado da mundialização da economia desde a Revolução Industrial que criou centros industriais em alguns países, enquanto os demais formaram uma periferia subdesenvolvida. O subdesenvolvimento possui grande capacidade de persistência, ampliação e capacidade de reprodução sendo um difícil quadro a ser revertido. Assim, não havendo empenho contrário a tais forças, com uma intervenção concisa e poderosa, não será superado. Estruturalista, tais como Furtado, propõe o Estado para preencher tal espaço baseado em reflexões keynesianas. Para Furtado, o Estado possui condições para IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 899 planejar o capitalismo, realizar a normatização e devidos investimentos para delinear propostas não contempladas pelo livre mercado. Essa reflexão torna-se preponderante ao refletir-se sobre a política cultural no Brasil. Brandão (2013) expõe as formas utilizadas pelo mercado para preencher os espaços furtivos a ele. Entre as justificativas utilizadas, uma que logra grande aceitação é o desenvolvimento. Baseado na obra de Furtado, o autor afirma que o desenvolvimento vem sendo utilizado para mobilizar a sociedade periférica e leva-los a aceitar grandes esforços para legitimação e destruição de estruturas culturais tradicionais na busca pela compreensão da necessidade do novo, destruindo o meio físico e mental e aceitar a dependência visando reforçar o caráter predatório do sistema produtivo. O caminho de superação do subdesenvolvimento no Brasil por intermédio da industrialização teria criado nos países latino-americanos profundos laços de dependência com os países centrais, então principais detentores da expertise industrial, em especial os EUA. Esta dependência, como referido, extrapolou o campo produtivo e tornou-se cultural. A origem dessa dependência cultural remonta a inserção latino-americana como primário-exportador na divisão internacional do trabalho após a Revolução Industrial. A geração de excedentes apropriada pelas classes dirigentes locais, vide o caso brasileiro, que buscava a diversificação no seu padrão de consumo a partir da importação de bens de consumo final, em especial produtos customizados com alto grau de valor agregado. Cabe nesse ponto uma breve reflexão sobre o que Furtado e outros estruturalista consideram como cultura. Porém, essa revisão não tem um caráter apenas teóricoconceitual, uma que, como afirmam Formiga e Sachs (2000), essa visão sobre cultura possui relevante importância atualmente para construção de percepções alternativas aos modelos ortodoxos de intervenção e reflexão acadêmica. Furtado não preocupou-se em definir um conceito sobre cultura, apesar de sempre destacar a importância do mesmo. Contudo, há elementos suficientes em suas IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 900 obras que permitem traçar sua linha de pensamento sobre o conceito. Borja (2013, p.138) realiza esse esforço e afirma que para Furtado: a cultura é um conjunto de elementos interdependentes, toda vez que em determinadas condições históricas avança a tecnologia e se desenvolvem as bases materiais, todos os demais elementos serão chamados a ajustar-se às novas condições, ajustamentos esses que darão origem a uma série de novos processos, com repercussões inclusive a base material. Em outras palavras, o desenvolvimento está interligado a cultura, é globalmente considerada. Consiste, a partir da geração de processos inovativos, em perpetuar a capacidade de criação da sociedade. Formiga e Sachs (2000) destacam dois processos intrínsecos a cultura presente na reflexão furtadiana: a cultura material e a não-material. A primeira refere-se a criatividade e inovação que permitem gerar excedentes econômicos adicionais, com ampliação e renovação do horizonte de opções disponíveis a uma sociedade. Em síntese, consiste na produção e uso de bens materiais. A inovação que abrange a cultura não-material possibilita a realização das potencialidades latentes da sociedade, a identificação a partir da atividade, como reflexão, meditação, criação artística, investigação cientifica, produção cultural, etc. Como o próprio Furtado (1984, p.106) afirma “a rigor, pode-se falar em desenvolvimento quando a capacidade criativa do homem se dirige ao descobrimento de si mesmo, empenhando-se em enriquecer seu universo de valores”. De forma sintética, consiste no patrimônio de ideias e valores que uma sociedade constrói ao longo de sua história. A formação do sistema cultural brasileiro, tanto material como o não-material possuí raízes na expansão comercial e deslocamento da fronteira agrícola para a América Latina, onde integraram-se no processo de produção, circulação e consumo populações europeias, africanas e indígena, originando a miscigenação da sociedade brasileira. Já a inserção do Brasil na civilização industrial não ocorreu de forma direta, ou seja, desenvolvendo forças produtivas, mas sim com simples integração comercial. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 901 Nesse caso, o processo de modernização ocorre via comércio exterior, em que transplanta-se o padrão de consumo e comportamento, um ideal de modernidade, sem haver uma conexão com o desenvolvimento das forças produtivas, causando uma dependência estrutural que é acompanhada com a emulação de valores materiais e ideológicos dos países desenvolvidos centrais. Dessa perspectiva e questionando-se sobre o processo de subdesenvolvimento e os requisitos para superação dessa condição, Furtado percebe haver uma imitação dos padrões de consumo, os quais são constantemente renovados e apresentam uma apreciação pelo estrangeiro. Essa relação remete a aceitação do externo como conquista de progresso, ligada a um prestigio social. Essa apreciação é acompanhada sempre de penetração de ideias e valores estrangeiros. Nas palavras de Furtado (1974, p. 80): A existência de uma classe dirigente com padrões de consumo similares aos de países onde o nível de acumulação de capital era muito mais alto e impregnada de uma cultura cujo elemento motor é o progresso técnico transformou-se, assim, em fator básico na evolução dos países periféricos. Assim, a modernização da sociedade através da importação de produtos industrializados para consumo direto sem a construção e uma diversificação do aparelho produtivo é o ponto central para dependência tecnológica dos países latinos, sobretudo o Brasil. Furtado vai além, afirmando não ser uma questão apenas tecnológica, mas almeja-se emular o modo de vida, produtos consumidos e formas de produção, resultam uma dependência cultural, material e não-material. Nesse ponto resgata-se a pergunta central de Furtado sobre a utilização dos excedentes produtivos. No caso dos países subdesenvolvidos, tomando o Brasil como exemplo, percebe-se que a utilização não autônoma de tais recursos, uma vez que são destinados aos países centrais na busca por produtos e serviços ausentes na periferia, condiciona a uma reprodução da formação social, refletindo a dominação cultural que é manifestada nas relações externas de circulação. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 902 Segundo Borja (2013), as classes dirigentes são identificadas cultural e ideologicamente com as classes dirigentes dos países centrais, fato que acaba por nortear o sistema econômico a uma reprodução das formas de vida dos países desenvolvidos. Há, portanto, uma intersecção entre os interesses da burguesia local – que confunde-se com a elite política – e a burguesia dos países centrais, sendo essa fonte da reprodução da dependência. Assim, utiliza-se o excedente na importação de bens comuns aos países centrais, emulando sua cultura e aderindo-a como status de progresso, desconsiderando a grande potencialidade em tornar-se centro na difusão cultural. Nas palavras de Furtado (1984, p. 240): O distanciamento entre elite e povo será a característica marcante do quadro cultural que emerge nesse período. As elites, como que hipnotizadas, voltamse para os centros da cultura europeia - e norte americana - (...) O povo era reduzido a uma referência negativa, símbolo do atraso, atribuindo-se significado nulo à sua herança cultural não europeia e recusando-se valia à sua criatividade. (palavras grifadas foram adicionadas pelos autores) Nessa perspectiva compreende-se a parca valorização e ação pública no que tange a valorização cultural e sua diversidade como vetores para o desenvolvimento, uma vez que culturas tradicionais e a versas ao “ideal central” são sinônimos de atraso. Toda conjuntura estrutural histórica auxiliou no travamento e truncamento do processo cultural criativo. Como afirma Brandão (2013, p.241) “tendência atávicas de nossa sociedade ao elitismo e à opressão social” Essas concepções foram fundamentadas com preceitos de desenvolvimento na busca por garantir uma solidariedade internacional para expansão da civilização industrial e geração de dependência. Esse esforço realizado a todo custo satisfazia os interesses das classes dominantes na periferia, destruindo os valores próprios de cada sociedade e comunidades internas dos países periféricos. Assim, foi imposta uma desconexão entre acumulação de capital e diversificação produtiva e cultural a partir de sua valorização e utilização das experiências criativas e inovadoras que poderiam criar um conteúdo tecnológico autônomo. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 903 Soma-se a preocupação com os rumos tomados pelo Brasil para ingresso na civilização industrial, a oferta rígida de produtos industriais, sem grande capacidade de aumento da oferta quantitativa e qualitativamente. A curto prazo é limitada a capacidade de aumento da produção, tendo como uma das possíveis soluções para esse fato flexibilizar a oferta. Dessa necessidade, somando o momento econômico oportuno que vive a sociedade e a economia brasileira, percebe-se a emergência de uma nova abordagem cultural para enfrentamento do subdesenvolvimento. Como proposta, percebendo as questões latentes anteriormente citadas em economias periféricas como a brasileira, Furtado ressalta a necessidade de um ‘desenvolvimento endógeno’. Esse consiste em promover as energias criadoras alicerçadas na identidade cultural nacional própria, ou seja, despertar a criatividade nãomaterial no âmbito cultural e percebe-las como propulsoras de um desenvolvimento amparado por tais peculiaridades. Essa proposta defende uma maior autonomia na utilização dos excedentes, necessitando a participação ativa do Estado, uma vez que a tendência de mercado é propagar a dependência e impossibilitar a criação de um desenvolvimento endógeno que valorize a rica diversidade cultural brasileira. Escapar a lógica economicista que percebe a acumulação de capital como objetivo final do desenvolvimento é essencial para desconexão do circuito de dependência. Essa busca dialoga com dotar-se de capacidade de nortear o processo social e atingir objetivos compatíveis com a valorização da identidade cultural e sua promoção, cabendo aos países periféricos lutar pela valorização de seu sistema cultural. Dois economistas, Kalecki e Schumpeter, destacam atenção especial para a necessidade de condições financeiras para materialização da criatividade e transforma-la em inovação. A criatividade é elemento inicial, porém é fundamental o apoio por intermédio do crédito, especialmente no que condizem as questões culturais, visto seu caráter alternativo na solução de questões de desenvolvimento. Propostas como a concessão de crédito visando o fomento a diversidade cultural para o desenvolvimento geraria grande incomodo no âmbito político e cultural, uma vez IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 904 que é necessário movimentar bases sociais e sujeitos que possuem poder de transformação das engessadas estruturas de poder e chocar-se com forças de modernização alinhadas com os preceitos culturais dos países centrais. Celso Furtado reflete sobre a elaboração de uma estratégia nacional de desenvolvimento, a qual terá por necessidade partir da diversidade, das estruturas distintas do Brasil, suas peculiaridades culturais, históricas, geográficas, baseando-se em maior equidade social para gerar possibilidades para agentes sociais historicamente marginalizados. Para elaboração de tal estratégia, Furtado (1980) relata a ação diretora em escala nacional, pois essa cumpre o papel ímpar de defender a criação de oportunidades de acesso a bens e serviços, assim como gerenciar o processo de enriquecimento das bases culturais e sua transformação material no país. A assimilação passiva de culturas exógenas pela elite economica/política brasileira jogam contra a possibilidade de criação de bases endógenas de valorização da diversidade cultural de nossa sociedade. Nesse sentido, Furtado (1984, p.31) questionase: como preservar o gênio inventivo de nossa cultura em face da necessidade de assimilar técnicas que, se aumentam nossa capacidade de ação, nossa eficácia, também são vetores de valores que com frequência mutilam nossa identidade cultural? Se o Brasil tem, como vários pesquisadores afirmam, um potencial latente no que tange a capacidade criativa e de inventividade como trunfo de sua diversidade, Furtado (1984) afirma que a vontade política é elemento fundamental para reconstruir as estruturas sociais na busca por condições superiores e vida. Essa vontade é própria do Estado, uma vez que o mercado, apesar de ser necessário considera-lo, age em espaços tradicionais e consolidados para reprodução de lucros e estruturas ortodoxas. Por fim, cabe destacar a citação de Furtado (1999, p. 53) que resume a emergência do desafio posto a sociedade brasileira “continuaremos a contribuir para o enriquecimento do patrimônio comum da humanidade ou seremos relegados ao papel IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 905 passivo de simples consumidores de bens culturais adquiridos no mercado. Ter ou não ter acesso à criatividade, eis a questão.”. Política de Economia Criativa como alternativa Baseado nas reflexões teóricas anteriormente discutidas, nessa seção é debatido a inserção da economia criativa na ação estatal como alternativa de desenvolvimento a tendências ortodoxas que tendem a concentrar-se social e territorialmente, fortalecendo a dependência cultural e tecnológica. Para além das questões teóricas, buscou-se discutir brevemente o momento político brasileiro oportuno para novas abordagens, exemplificando com intervenções do Estado em prol de agentes historicamente desassistidos. Por fim, apresenta-se algumas notas sobre a principal mecanismo de interação da economia criativa através da Secretaria de Economia Criativa do Ministério da Cultura, e os limitantes e desafios para avançar na valorização da proposta. A política recente brasileira vem sofrendo transformação ainda resultantes da constituinte de 1988 que ofereceu possibilidade de descentralização política por diversos meios de intervenção estatal antes ausentes, como por exemplo os Consórcios Municipais. Entretanto são duas formas de ação pública que vem chamando atenção devido a seu caráter distinto da tradição brasileira: as abordagens intersetoriais/territoriais; e criação e ampliação de políticas para agentes fragilizados pela estrutura social historicamente construída. Um bom exemplo da inserção de novos agentes na pauta política brasileira é a criação do Ministério de Política Agrícola e Desenvolvimento Agrário em 1999, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, que, em 2000, passou a denominar-se Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). O Brasil historicamente desprendeu esforços para inserção no mercado mundial a partir do seu sistema agrário exportador, desse o pau-brasil, passando pelo açúcar, cacau, café, borracha, soja, enfim. Essa escolha, que definia-se por vantagens competitivas e debatidas contrariamente por estruturalistas a partir do pós-Segunda Guerra Mundial, como referido anteriormente, IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 906 delineou a percepção do espaço rural como meio de produção, preterindo as relações de sociais e de vida para além da atividade agrícola em si. Um exemplo dessa escolha é a implementação da extensão rural no Brasil no final da década de 1940. De acordo com Fonseca (1985), está foi vinculada à grande produção agropecuária, visto a parceria realizada entre Brasil e Estados Unidos – dependência -, especialmente na figura do mensageiro, Sr. Nelson Rockefeller, família que financiou e fomentou a Revolução Verde. Ações como a criação da EMBRAPA Soja é exemplo da escolha do Governo Federal em fomentar a grande produção. Contudo, os antecedentes que vieram a trazer para pauta política brasileira a pequena produção e suas ramificações foram pautadas por lutas agrárias e a construção de um ambiente democrático que fizessem ingressar nas ações públicas parte do meio agrário tradicionalmente excluído. Especialmente após a redemocratização, cresceram largamente as lutas por uma compreensão distinta do meio rural e pela tutela do Estado as suas reinvindicações que eram distintas das grandes propriedades agropecuárias alinhadas ao mercado internacional. Apesar de ainda possuir uma distância entre os valores públicos destinados ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e ao MDA, nota-se que essa lacuna vem diminuindo tanto nos recursos das pastas, como pode-se perceber na tabela 1, como no crescimento do principal programa para agricultura familiar, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), tabela 2. Tabela 1 – Recursos destinados as pastas ministeriais selecionadas. MAPA MDA 2011 2012 2013 R$ % do total R$ % do total R$ % do total 9.406.188 0,73 10.126.523 0,73 11.474.397 0,78 2.417.402 0,19 2.729.930 0,20 4.369.446 0,30 Fonte: Portal transparência. (em R$1.000 e %). Tabela 2 – Número de contratos e montante financeiro destinados ao Pronaf. Safra 2003 / 2004 Contratos 1,3 milhão Montante R$ 4,5 bilhões IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 907 2004 / 2005 2006 / 2007 2009 / 2010 2012/2013 1,6 milhão 2 milhões R$ 6 bilhões R$ 10 bilhões R$ 15 bilhões R$ 16 bilhões Fonte: Banco Central do Brasil. Outra ação recente do Estado brasileiro que vem promovendo integração de populações desguarnecidas de ação pública e que contribui para o avanço da integração intersetorial no ambiente político do país é o Programa Território da Cidadania (PTC). O PTC, lançado em 2008, inicialmente abrangendo sessenta territórios que passaram para cento e vinte em 2009, vem provendo ações em todos os entes federados na busca por maior equidade social e regional. Atualmente o programa tem engajamento de dezessete ministérios, quatro secretarias especiais, além da Secretaria Geral da Presidência da República e outros órgãos federais, como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. No ano de 2009, o programa destinou R$ 23,5 bilhões aos cento e vinte territórios, promovendo ações planejadas de apoio à produção, cidadania e acesso a direitos e de infraestrutura. Cabe destacar a proposta diferenciada do Programa ao integrar esforços de diferentes Ministérios, tomando por base de ação o território e não o setor – educação, saúde, infraestrutura, enfim -, os quais são escolhidos a partir de indicadores que privilegiam a intervenção em regiões com populações desprovidas por vários anos de investimentos. Os critério de escolha dos territórios alvo das ações da política territorial foram definidos primeiramente com concepções técnicas de ruralidade, uma vez que as raízes do programa estão no MDA baseados na proposta anteriormente descrita de valorização do rural como meio de cidadania e de vida, sendo assim, foi priorizado especialmente o atendimento a agricultura familiar. Posteriormente houve definições de cunho político, através dos governos estaduais, e identitários com agentes sociais. Cabe mencionar outra ação pelo seu caráter distinto que demonstra o momento oportuno de espaço para novas abordagens no ambiente político brasileiro. A Política IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 908 Nacional de Desenvolvimento Regional que encontra-se em sua segunda fase possui entre seus objetivos, segundo o Ministério da Integração, “Sustentar uma trajetória de reversão das desigualdades inter e intrarregionais, valorizando os recursos endógenos e as especificidades culturais, sociais, econômicas e ambientais” e “Criar condições de acesso mais justo e equilibrado aos bens e serviços públicos no território brasileiro, reduzindo as desigualdades de oportunidades vinculadas ao local de nascimento e moradia”. A Política propõe inserir o corte regional nas ações públicas, fortalecendo as ações intersetoriais e promovendo redução de desigualdades e o desenvolvimento no território brasileiro. Por não possuir recursos próprios para sua efetiva assimilação pelos Ministérios, assim como promover suas próprias intervenções, a proposta ainda padece de diversos limitantes para sua assimilação de forma abrangente. Contudo, os espaços reabertos para discussão para uma ação de corte regional que viera a tona na política brasileira ainda na década de 1950 com o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN), expõe concepções distintas novamente permeando o Estado brasileiro, convergindo com a necessidade de criação de alternativas as propostas tradicionais. Uma proposta política que vem inserindo na pauta a criatividade e valorização da diversidade regional como vetores para transformação social na busca por maior equidade está vinculada ao Ministério da Cultura. A criação da Secretaria de Economia Criativa (SEC) torna-se outro marco na consolidação de propostas alternativas para o país. Cabe tecer algumas notas sobre a mesma pautada no Plano de Economia Criativa (PEC) confeccionado para balizar as ações da Secretaria. Parte significativa da proposta presente no PEC dialoga com o marco teórico apresentado nesse artigo, sendo inclusive citados autores estruturalistas na busca por fundamentar os argumentos mencionados. Entre as afirmações do Plano, que corrobora com menções de diversos autores, destaca-se a percepção da potencialidade brasileira no que tange uma proposta de valorização da criatividade a partir da diversidade IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 909 cultural, fato objetivado com a PEC através da SEC, visto ao parco aproveitamento dessas possibilidades por razões anteriormente descritas. Concomitante a novas concepções de desenvolvimento que surge da apreciação da diversidade, o PEC da conta do fracasso dos modelos ortodoxos de ‘desenvolvimento’. Estes não foram suficientes para diminuir o abismo social existente no Brasil e entre suas regiões. Para realização desse esforço, é apresentado no PEC alguns limitantes para esse macro objetivo, entre os quais salienta-se as poucas pesquisas no Brasil sobre a real potencialidade de desenvolvimento a partir da economia criativa. Essa falta exprimisse pelos poucos dados sistematizados sobre a temática no país, ponto situado e propostas ações para suprir essa deficiência, como financiamentos para pesquisas que gerem informações/métodos comparáveis e reproduzíveis em realidades distintas. A ação da SEC apresentada no PEC dialoga com outros programas no que concerne sua transversalidade dentro dos governos e com a sociedade, como Programa Brasil Sem Miséria, Programa de Aceleração do Crescimento, enfim. Busca-se uma estratégia que afirme o apoio público a cultura na construção de uma pauta abrangente e intersetorial de desenvolvimento. Também em concordância com propostas e intervenção, algumas delas mencionadas anteriormente, o PEC tem como um dos seus objetivos a descentralização regional do apoio a economia criativa. Compreende-se a necessidade dessa disseminação do apoio justamente pela valorização da diversidade, a qual decorre também das peculiaridades históricas e geográficas existentes no vasto território brasileiro. Em síntese, a percepção territorial do PEC é voltada para convergência de políticas, institucionalização de entes nos territórios para ação local, havendo determinadas práticas alinhadas com ações tradicionais, aproveitando oportunidades, como grandes eventos. Contudo, salienta-se a nova percepção de criatividade para além da valorização cultural em si, abrangendo suas repercussões econômicas com inserção de circuitos marginais na economia. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 910 A proposta do PEC, portanto dialoga com outras intervenções recentes do Estado brasileiro, contudo ainda é uma política recente, fato que afeta a análise dos resultados já alcançados. Porém, alguns desafios já podem ser percebidos nos primeiros anos da SEC na promoção da criatividade como vetor para desenvolvimento. Entre as preocupações para a afirmação e intensificação dos esforços da SEC está a busca por executar a proposta de participação de dezesseis Ministérios como prevê o PEC. A aderência de mais pastas ministeriais, para além do Ministério da Cultura, insere transversalmente as reflexões sobre criatividade e desenvolvimento e propicia condições financeiras para materialização dos projetos. Espelhando-se no caso do Programa Territórios da Cidadania, pode-se afirmar que a importância do corte territorial com uma ação coordenada a nível nacional, há necessidade da realização proposta no PEC de atividades institucionalizadas no local/regional. Como exemplo, pode-se citar a educação para economia criativa. A coordenação e articulação devem possuir responsabilidade macro, ou seja, na escala nacional, devido a sua pertinência e desprendimento de recursos. Contudo, a formação ocorre na micro escala, no local/região, sendo pertinente haver, como já previsto no PEC, uma representação concisa em tal escala que ofereça suporte. Em contrapartida, o inverso também possui relevância, especialmente no que tange o financiamento. Linhas de oferta de crédito para materialização das ideias criativas devem ser disponibilizadas na escala local/regional. Entretanto, a origem dos recursos não devem estar pautadas apenas nessas escalas devido a centralização dos recursos públicos na União, uma interação entre as três esferas de poder é primordial. Espacialização dos primeiros resultados da Secretaria Economia Criativa Para compreender os primeiros resultados obtidos pela política pública brasileira para economia criativa realizou-se uma investigação sobre o principal meio de investimento realizado pela SEC durante o ano de 2013, segundo ano de implementação da mesma. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 911 Para além da análise dos dados financeiros, foi buscado também compreender a espacialização dos recursos aplicados, uma vez que a proposta de valorização da cultura para promoção do desenvolvimento dialoga com a preocupação em ofertar para diversidade cultural do Brasil condições de sua materialização. Assim, a técnica utilizada para realização dessa pesquisa baseou-se na realizada por Martins e Oliveira (2013), porém resgatando os dados referentes aos empenhos do Ministério da Cultura no Portal da Transparência, em que destacou-se os principais ‘elementos de despesa’. Como os principais desprendimentos referentes a economia criativa da União estão vinculados ao Ministério da Cultura, neste na Secretaria de Economia Criativa, com gastos com premiações culturais artísticas científicas desportivas, decidiu-se, em um primeiro momento de pesquisa, limitar a tais empenhos. A figura 1 apresenta um exemplo de pesquisa realizada no site do Portal da Transparência e as informações coletadas. Figura 1: Exemplo de resultado da pesquisa no site do Portal da Transparência. Fonte: Portal da Transparência. Como pode-se perceber, além do nome do favorecido e os valores destinados a cada um destes, é divulgado o Cadastro de Pessoa Física ou o Cadastro Nacional da IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 912 Pessoa Jurídica. No caso de pessoas jurídicas favorecidas, foi pesquisado no site da Receita Federal a localização da sede do mesmo, possibilitando assim o mapeamento de parte significativa dos empenhos realizados para fomento da economia criativa. A tabela 3 apresenta os dados referente ao número e valor dos empenhos realizados pela SEC em 2013 no que refere-se a premiações culturais artísticas científicas desportivas que, juntamente com despesas correntes, é o principal desprendido da Secretaria. Dos 149 empenhos e pouco mais de R$3,5 milhões, foram possível mapear os 98 realizados junto a CNPJs. Tabela 3 – Número e valor dos empenhos da SEC em premiações culturais artísticas científicas desportivas. 2013 CNPJ CPF Total Número 98 51 149 Valor (R$) 2.358.000 1.239.000 3.597.000 Fonte – Portal da transparência. A figura 2 apresenta a espacialização dos empenhos selecionados em 2013, sendo que cada ponto significa um convenio entre a SEC e um CNPJ. Os dados especializados apresentam significativa desconcentração entre as macrorregiões, com relativa participação das regiões Sul, Sudeste e Nordeste, contudo com poucos empenhos juntos a região Norte e Centro Oeste. Entre as diversas interpretações possíveis a partir do mapa, destacamos duas para reflexão. Primeiro percebe-se a abrangência da política na ‘porção norte’ do país, em especial na região Nordeste. Uma estrutura social historicamente construída que repercute até os dias atuais apontam para um descompasso nos indicadores entre o Centro-Sul do Brasil e o Norte e Nordeste, sendo que estas últimas apresentam indicadores econômicos e sociais mais modestos em perspectiva ao restante do Brasil. Assim, a presença significativa de apoio a economia criativa na região Nordeste, especialmente, apresenta um interessante percurso a ser intensificado na busca por reduzir as desigualdades regionais. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 913 Colateralmente a presença da política de fomento a economia criativa no nordeste do Brasil, percebe-se uma grande concentração das mesmas na faixa litorânea do país, em especial nas capitais e suas respectivas regiões metropolitanas. Esse fato leva a questionar-se a realização do objetivo de valorização da diversidade cultural do país e da desconcentração territorial da política, visto que a interiorização dos empenhos ainda é parca. Em contrapartida, pode-se realizar a leitura da organização e institucionalização da produção cultural presentes em grandes centros, uma vez que para acessar os investimentos aqui analisados, foi necessária a participação em editais. Figura 2:Espacialização dos empenhos selecionados da SEC em 2013. Fonte: Portal da Transparência e Receita Federal. Produzido pelos autores. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 914 Em suma, mesmo com importante diálogo com estados do Nordeste brasileiro, a parca presença no interior acende a preocupação com a necessidade de propor alternativas para sanar essa lacuna. Como já ressaltado, essa análise é pautada em uma política recente, o PEC fora lançado em 2011, e 2013, ano aqui analisado, foi o primeiro de efetiva aplicação de recursos. Justamente por estar em um estágio inicial da proposta, ajustes podem ser realizados sem provocar grandes constrangimentos e auxiliarão no alcance dos objetivos propostos pela política, intensificando seu macro objetivo de tornar-se, juntamente com outras ações que estão sendo realizadas, alternativas para propostas ortodoxas que pouco êxito logram na universalização de acesso a bens sociais e econômicos. Considerações finais Buscou-se nesse artigo apresentar a emergência e o momento oportuno para propostas diferenciadas de alternativas as concepções ortodoxas de desenvolvimento e combata as lacunas sociais e regionais historicamente construídas no Brasil. Com base nas reflexões estruturalistas, percebe-se que a tendência de persistência e agravamento do subdesenvolvimento é proporcional ao desvio de atenção do Estado na atuação de regulação das ações do mercado. Descompasso que agrava-se pelas raízes de dependência criados na indústria que expandiu-se para a cultura, em que a emulação de tendências dos países centrais passaram a serem valorizadas como progresso em prol do esmagamento da rica cultura brasileira. A política recente do Brasil vem experimentando a materialização de propostas alternativas, cedendo atenção a populações desguarnecidas em outrora e considerando ações transversais do Estado, compilando esforços de diversos Ministérios com um objetivo comum. Dentro dessa proposta a SEC construiu o PEC que em 2013 teve sue primeiro ano de efetiva atuação. Esse artigo buscou analisar as repercussões territoriais dos primeiros resultados obtidos pela politica pública brasileira para economia criativa, os quais mostram uma ação que carece de maturidade e ajustes, especialmente na busca por considerar a IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 915 diversidade cultural como alternativa, visto a grande concentração dos empenhos realizados pela Secretaria. Por fim, cabe destacar a importância da inserção da economia criativa na pauta política brasileira não apenas como um espaço dentro do Ministério da Cultura. A partida foi realizada por tal Ministério, porém a proposta de expansão para outras pastas, assim como tornar-se uma alternativa na estruturação de novos caminhos para o desenvolvimento e diminuição de lacunas sociais e regionais, possui relevância que vão além dos resultados já percebidos. Obviamente há ajustes a serem realizados, pois tratase de uma política recente, porém salienta-se o desafio posto ao ambiente político do Brasil em expandir experiências de valorização de camadas desassistidas ao longo de sua história e de sua formas particulares de promoção social que podem, com o devido apoio do Estado, tornar-se vetor de geração de renda e condições sociais satisfatórias. Referências BORJA, Bruno. Notas sobre a dimensão cultural na obra de Celso Furtado. In. AGUIAR, Rosa Freire d’. Celso Furtado e a dimensão cultural do desenvolvimento. Rio de Janeiro. Centro Internacional Celso Furtado, 2013. BRANDÃO. Carlos. Celso Furtado: subdesenvolvimento, dependência, cultura e criatividade. In. AGUIAR, Rosa Freire d’. Celso Furtado e a dimensão cultural do desenvolvimento. Rio de Janeiro. Centro Internacional Celso Furtado, 2013. FONSECA, Maria Teresa Lousa da.A extensão rural no Brasil, um projeto educativo para o capital. 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Para tanto, foram utilizados os indicadores de vantagem comparativa revelada (VCR), posição relativa (POS) e indicador de desempenho (DES), todos para o período de 2000 a 2011, e o modelo Constant-Market-Share (CMS) para o período de 2003 a 2011, com a avaliação de quatro subperíodos: 2003/2005, 2005/2007, 2007/2009 e 2009/2011. A análise dos resultados mostrou que o Brasil vem perdendo espaço no mercado de castanha de caju e, esse mau desempenho, pode ser explicado pela perda de mercado, em especial, para a castanha vietnamita, e também pela perda de competitividade no mercado internacional. Além disso, a crise de 2008 teve efeitos negativos sobre as exportações brasileiras, forçando a reestruturação do mercado de produção de commodities. Esses indícios levam a crer que o setor da castanha de caju no Brasil necessita de uma reestruturação em seus mercados de destino de exportações e de investimento em P&D para conseguir melhorar a sua competitividade no mercado internacional. PALAVRAS-CHAVE: Competividade; Commodity; Exportações de castanha de caju. INTRODUÇÃO O comércio internacional representa hoje, para economia mundial, um dos principais sinalizadores no processo de desenvolvimento nacional. É por meio da sensibilidade dos mercados que são observadas as alterações das preferências e do fluxo mercantil. Desse modo, observa-se que as economias exibem um sistema produtivo em 12 Estudande de economia formada pela UFREP/UAST.e-mail: [email protected]. celular: (87) 9975-9572 13 Professor de economia da UFRPE/UAST e Doutorando em economia pela UFF. email:[email protected]. celular: (88) 9616-0205 14 Professor de matemática da UFRPE/UAST e Doutorando em economia pela UFC. email:[email protected]. celular: (87) 9921-3173 IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 918 constante reorganização que busca de forma contínua alcançar as transformações dos mercados. O acesso globalizado de informações representa também, outro grande avanço das sociedades que tem contribuído bastante para esse processo de reestruturação produtiva, informando acerca de tecnologias e rentabilidade das atividades. O desenvolvimento incorporado às tecnologias de produção na agricultura e manufatura tem contribuído fortemente para o crescimento do comércio internacional e bem-estar das nações. No caso brasileiro, vários produtos da agropecuária são produzidos com vantagem comparativa, entre os principais estão: soja e seus derivados, minérios, material de transporte, petróleo e combustíveis, carnes. Conforme o Ministério da Agricultura (2014), esses produtos compuseram os maiores valores exportados em milhões de dólares, considerando o valor agregado no período de janeiro a junho de 2013, cuja soma das exportações chegaram a US$ 64.032 milhões. Adam Smith (1996) e David Ricardo (1996) foram os primeiros a tratar dos benefícios do comércio internacional para o crescimento nacional, com teorias baseadas na dotação de fatores. Desde então foram desenvolvidas várias outras teorias das vantagens do comércio internacionais essencialmente baseadas na dotação relativa de fatores, como as teorias do fator específico e Heckscher-Ohlin. Assim, o comércio internacional, associado à aptidão natural de cada nação teve fundamental importância na divisão internacional do trabalho e, portanto, na formação do sistema produtivo global (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). A castanha de caju, objeto de estudo dessa pesquisa, não está entre os principais produtos exportados pelo país, mesmo assim, o Brasil, de acordo com dados disponibilizados pela FoodandAgricultureOrganization (FAO) (2013), até o ano de 2011, ainda era considerado um dos cinco maiores produtores e um dos quatro maiores exportadores da fruta, considerando a soma das exportações da castanha de caju com casca e sem casca dos últimos anos. Sua produção é inferior apenas às produções do Vietnã, Nigéria, Índia e Costa do Marfim até 2011. Mesmo assim, ainda é o quarto IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 919 maior exportador com o valor exportado de US$ 226.658.000,00 só no ano de 2011 (FAO, 2013). Além disso, é apropriado enfatizar a importância econômica e social do caju para o nordeste do país, especialmente para os estados do Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, quanto à geração de emprego e renda. Esses estados respondem por quase a totalidade da produção e comercio, estando o Ceará com 73,1% das exportações totais brasileiras só em 2011. No mesmo ano, as exportações do setor de castanha de caju representaram 13,6% das exportações totais do referido estado (FIEC, 2012). Segundo dados do Sindicato das Indústrias de Beneficiamento de Castanha de Caju e Amêndoas Vegetais do Estado do Ceará (SINDICAJU, 2013), esse segmento é responsável por mais de 300 mil empregos diretos e indiretos, na indústria e no campo, em toda região Nordeste. Ao mesmo tempo, consegue minimizar o êxodo rural, visto que o período de safra do caju se dá no período de entressafra das principais culturas de plantio do nordeste, por exemplo, milho e feijão (EMBRAPA, 2013). Apesar de sua relevância regional, o relatório ProducingAddedValuetoUnderutilizadCrops (PAVUC), desenvolvido pelo Center de coopérationinternationaleenrechercheagronomiquepourledéveloppement (CIRAD), apontou o caju como uma cultura subutilizada15, porémcom um possível potencial de comércio. Para o PAVUC (2006), faltam pesquisas que possam desenvolver a cadeia de produção e agregar valor ao produto para aumentar as oportunidades de negócio. Além do que a maior parte dos estudos empíricos evidencia a perda de competitividade das exportações da castanha de caju brasileira no comércio internacional. Além desses desafios impostos a comercialização externa da castanha de caju brasileira, houve ainda uma forte restrição de consumo associada à crise financeira dos Estados Unidos em 2008, com implicações diretas nas exportações brasileiras em 2009. A maior evidencia disso fora a alteração das exportações de destino a partir de 2008, dando maior expressão as exportações para China em relação aos Estados Unidos, 15 Tem alto potencial na comercialização, no entanto, não estão sendo aproveitadas todas as oportunidades de negócio do produto. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 920 principal importador da castanha brasileira (IPEADATA, 2013). O efeito transbordamento da crise afetou as importações das principais economias do mundo, reorganizando as exportações setoriais. Para Teixeira Filho et al. (2009), os setores que impulsionavam o crescimento dos investimentos na indústria, no Brasil, foram impactados pela baixa dos preços das commodities, resultante da crise de 2008. Desse modo, dada a importância do setor de castanha de caju para o Nordeste do país e as evidências de perda de competitividade no cenário internacional, compete a essa pesquisa analisar a competitividade das exportações da castanha de caju brasileira e o efeito da crise de 2008 sobre suas exportações. Para isso, foi caracterizado o mercado mundial da castanha de caju; analisado o grau de competitividade das exportações brasileiras de castanha de caju; e identificado às causas das variações nas exportações da castanha de caju brasileira de 2000 a 2011. 1.EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS Devido à importância da competitividade do mercado de commodities do Brasil, vários estudos foram realizados analisar a competitividade dos vários setores nacionais voltados ao comércio exterior. Cunha Filho (2005) analisou a evolução da competitividade do setor de fruticultura brasileiro no período de 1990 a2003, a partir de indicadores de posição relativa, vantagem comparativa revelada, taxa de cobertura, índice de concentração e indicador de desempenho. Os resultados mostraram o setor de fruticultura conseguiu se inserir no mercado internacional, com ganhos de competitividade. Entretanto, há forte concentração em termos de produtos exportados e de destino das exportações, tornando vulnerável o mercado de exportação brasileiro. Diz (2008) analisou a competitividade das exportações brasileiras de manga e de uva no mercado internacional no período de 1989 a 2005, utilizando os índice de vantagem comparativa revelada (VCR) e o modelo de constant Market Share (CMS) para os períodos trienais: 1989/1990/1991, 1994/1995/1996 e 2003/2004/2005. Ambos os indicadores evidenciaram a alta competitividade tanto da uva quanto da manga no mercado internacional, no período analisado. Silva (2005) analisou a competitividade IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 921 dos principais produtos do complexo de soja brasileiro no comércio internacional. Para tal, foram usados indicadores de vantagem comparativa e o estudo estatístico da relação entre variáveis de produção e comercialização. Os resultados demonstraram que o farelo e óleo de soja brasileiros perdiam competitividade no mercado internacional e que a soja in natura conseguia se manter em posição satisfatória no mercado. Gasques e Conceição (2002) estimaram um conjunto de indicadores de comércio exterior da agropecuária brasileira no período 1990/2001. Os referidos atores utilizaram o indicador de posição no mercado mundial; participação do saldo comercial dos produtos no PIB; indicador de participação do saldo total no PIB; índice para eliminação da influência das mudanças não específicas do país estudado; índice de participação do saldo comercial por produto na média das trocas do país; índice de participação do saldo comercial total de produtos agrícolas na Média das trocas do país; índice participação do comércio do produto no comércio total; índice de vantagem comparativa; indicador de contribuição corrigida ao saldo dos produtos agropecuários; taxa tendencial de crescimento da demanda mundial e indicador de desempenho. O principal resultado mostra que deve haver grande preocupação com as oscilações de preços mundiais e que deve haver uma diferenciação de produtos e, até mesmo, com novos produtos para que o país sofra menos impacto com as oscilações de preço. Pais et al. (2012), analisaram o comportamento das exportações brasileiras de minério de ferro, no período de 2000 a2008. A metodologia utilizada inclui o Índice de Orientação Regional, o Índice de Vantagem Comparativa Revelada e o Constant Market Sharenos subperíodos: 2000 a 2002, 2003 a 2005 e 2006 a 2008. Os resultados mostraram a perda de mercado no contexto internacional, o direcionamento das exportações desse produto para a China e o aumento das exportações do minério de ferro devido, principalmente, ao crescimento do comércio mundial. Com relação a estudos sobre as exportações brasileiras de castanha de caju, os destaques são os trabalhos de Mendonça et al. (2009) e Albuquerque (2010), para diferentes períodos de análise. Mendonça et al. (2009) analisaram a inserção do Brasil no mercado mundial de castanha de caju, comparando aos seus principais concorrentes. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 922 Para tanto, utilizou o índice de posição relativa no mercado (POS), índice de vantagem comparativa revelada de Balassa (VCR) e o modelo constant Market share(CMS). Os resultados mostraram que houve crescimento das exportações brasileiras de castanha de caju, mas que apesar disso, o Brasil sofria limitações de competitividade externa, especialmente em relação ao Vietnã. Os resultados do CMS exibiram o efeito negativo do residual de competitividade sobre as exportações de caju em todo o período. O trabalho de Albuquerque et al. (2010) procurou analisar a competitividade das exportações da amêndoa de castanha de caju brasileira no período de 1990 a 2007. Para obter os resultados, utilizaram os indicadores de vantagem comparativa revelada (VCR), taxa de cobertura (TC), desempenho das exportações (DES) e modelo constantmarketshare(CMS). O principal resultado do estudo mostra que a amêndoa da castanha de caju perdeu competitividade no mercado mundial no período de análise, principalmente quando comparado ao Vietnã e a Índia. As evidências empíricas mostram os métodos de análise mais utilizados na análise de competitividade internacional e sugerem a queda de competitividade da castanha de caju brasileira nos últimos anos, com destaque para a perda de mercado para os seus principais concorrentes. 2. MATERIAL E MÉTODOS O método empregado nessa pesquisa é composto de quatro partes principais: para identificar o grau de competitividade das exportações da castanha de caju brasileira, foram calculados os indicadores de Posição Relativa (POS); de Vantagem Comparativa Revelada (VCR); e indicador de desempenho (DES), todos para o período de 2000 a 2011. Segundo Almeida et al. (2007), Os indicadores apresentados dispõem de informações que ampliam o entendimento sobre a competitividade das atividades econômicas. Além disso, foi utilizado o modelo constant Market shareem terceiro nívelpara decompor a variação das exportações de castanha segundo os determinantes de exportação pelos motivos de crescimento mundial, composição da pauta, destino das exportações e residual de competitividade. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 923 Os dados utilizados nessa pesquisa foram coletados nos bancos de dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), por meio do sistema Aliceweb2, e da FAO, disponíveis no The Food and Agriculture Organization Corporate Statistical Database (FAOSTAT).O total das exportações e importações de castanha de caju, utilizados para o cálculo dos indicadores de competitividade, foi obtido pela soma das exportações da castanha com e sem casca. Os valores coletados no sistema aliceweb2, estão na sigla dado pela Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) 08013200. 2.1 Índice de Posição Relativa (POS) O referido índice representa uma medida percentual de posicionamento do superávit comercial do k ésimo produto no i ésimo país no n ésimo tempo, em relação ao valor comercializado do produto k no mundo em cada tempo. Acredita-se que essa medida possa ser utilizada para indicar o nível de competitividade internacional do país em termos de uma commodity ou conjunto de commodities (LAFAY, 1999 apud SOUZA et al., 2008). Neste trabalho, o índice POSikn foi utilizado para medir a competitividade da castanha de caju brasileira no comércio internacional, em relação aos maiores produtores de castanha de caju no mundo. Os cinco maiores produtores são: Vietnã, Nigéria, Índia, Costa do Marfim e Brasil, e o total de castanha de caju comercializada nesses países foi obtido pela soma das exportações e importação em cada ano da análise, no período de 2000 a 2011. Sua forma algébrica é descrita como: X ikn M ikn POS n Wk n ik (1) Em que X ikn Exportações do k ésimo produto do i ésimo país no n ésimo tempo; M ikn Importações do k ésimo produto do i ésimo país no n ésimo tempo; e IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 924 Wkn Soma das exportações e importações do k ésimo produto no n ésimo tempo de todos os países em análise. O índice de POSikn possui duas interpretações, a saber: quando POSikn 0 , diz-se que o país possui posicionamento superavitário no comércio internacional e quando POSikn 0 , posicionamento deficitário (SOUZAet al., 2008). 2.2 Índice de Vantagem Comparativa Revelada (VCR) Os indicadores de vantagem comparativa revelada foram desenvolvidos a partir da dificuldade de quantificação dos fatores responsáveis pelas vantagens comparativas dos países, incluindo custos relativos e diferenças de “fatores não ligados a preços”. Nesse sentido, é sugerido que o estudo das vantagens seja feito a partir da forma em que essas vantagens são “reveladas” nos padrões de comércio, os quais, na teoria neoclássica, seriam determinados exclusivamente pelas vantagens comparativas (COUTINHO; FERRAZ, 1993). O indicador VCRij é medido pela participação das exportações do i ésimo produto do país j, nas exportações agrícolas totais do país j, dividido pela participação das exportações do i ésimo produto do grupo de países k,nas exportações agrícolas totais da região k. Portanto, as vantagens comparativas de um determinado produto seriam “reveladas” pela sua participação na pauta do país analisado em relação à sua participação na pauta regional. Desta forma, o indicador de vantagem comparativa revelada para uma região j em um produto ou grupo de produtos i pode ser definido da seguinte forma: X ij VCRij X j X ik Xk (2) Sendo X ij valor das exportações i ésimo produto da j ésima região, ou país; X J valor total das exportações de produtos agrícolas da j ésima região, ou IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 925 país; X ik valor das exportações do i ésimo produto, do k ésimo país, ou zona de referência; e X k valor total das exportações de produtos agrícolas no k ésimo país ou zona de referência. O indicador VCRij pode variar de zero 0 ao infinito . Quando VCRij 1 , diz-se que o i ésimo produtodo agronegócio da j ésima região, ou país, apresenta vantagem comparativa em relação ao k ésimo país, ou zona de referência. Quando VCRij 1 , o caso contrário, e ainda, quando VCRij 1 , diz-se que o i ésimo produtodo agronegócio da j ésima região, ou país, não apresenta vantagem, ou desvantagem, comparativa em relação ao k ésimo país, ou zona de referência. Neste caso, conclui-se que a produção local atende as necessidades internas de consumo, não havendo excedente para exportação. 2.3 Indicador de desempenho (DES) Esse indicador permite analisar o desenvolvimento comercial de um país em um setor ou produto específico (k), durante um determinado período de tempo (t). Este indicador expressa o desempenho temporal das exportações de um produto (k) no tempo (CUNHA FILHO, 2005). DES 1 X ikt X ikt0 t t0 XX kt m kt0 m (3) Onde t0 tempo de referência sobre o qual se quer comparar o desempenho do país; t tempo sobre o qual se está buscando o seu desempenho em relação a t 0 ; X ikt exportações do produto k, no período t, do país i; X ikt0 exportações do produto k, no período t0, do país i; X mkt total das exportações mundiais do produto k, no período t, no mundo; X mkt0 total das exportações mundiais do produto k, no período t0, no mundo. Se DES 0 significa que o país aumentou sua participação no mercado IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 926 importador, caso DES 0 , indica que o país perdeu participação no mercado global (CUNHA FILHO, 2005). 2.4 Modeloconstant market share (CMS) A análise de segundo nível do modelo de Constant Market sharedesagrega a variação das exportações no tempo em três efeitos: efeito dimensão, efeito distribuição e efeito competitividade. O efeito dimensão relaciona a variação das exportações ao crescimento das exportações mundial. O efeito distribuição representa a redistribuição das exportações entre os mercados mais competitivos e o efeito competitividade ou residual atribui a variação da exportação mudanças na competitividade do país em relação aos seus concorrentes. A intuição do modelo desagrega os três efeitos com base nas hipóteses de influência direta da importação global sobre a exportação de cada produto e constante reorganização da dinâmica das economias no tempo. Tomich (1999) entende que o efeito dimensão exibe a variação das exportações como função direta das importações global quando da hipótese de manutenção da situação relativa da exportação nacional entre os seus concorrentes. Dessa forma, toda variação não captada pela dimensão do crescimento do mercado global será identificado como mudança devida à reestruturação produtiva das economias e o residual de competitividade. Segue a descrição das equações do modelo de segundo nível: Vì `Vì riVì Vì `Vì riVì (4) Em que Vì ` Valor da exportação da i-ésimacommoditie no final do período analisado; Vì Valor da exportação da i-ésimacommoditie no início do período analisado; ri Taxa de crescimento mundial da exportação da i-ésimacommoditie no período analisado. Aplicando somatório de ambos os lados da identidade: IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 927 V `V rV i ri r Vì i Vi `Vi riVì (a) (b) (5) (c) Sendo V ` i Vi ` e V i Vi O efeito (a) é o efeito dimensão, o efeito (b) é o efeito redistribuição das exportações e o efeito (c) é o resíduo de competitividade, como apresentado na equação (5). A análise mais completa do Constant-market-shareé também identificada como análise de terceiro nível que consegue captar o efeito da variação das exportações em função de mudanças na pauta de exportação por destino da economia. A esse efeito atribui-se a determinação das exportações que ocorrem em função das reorganizações de preferências dos importadores da economia global. Segue a descrição das equações do modelo completo nas equações (6) e (7): Vìj `Vìj rijVìj Vìj `Vìj rijVìj (6) Em que Vìj ` Valor da exportação da commoditiei para o país j no final do período analisado; Vìj Valor da exportação da commoditiei para o país j no início do período analisado; rij Taxa de crescimento mundial das exportações da commoditie i para o país j. Da mesma forma que para as equações (1) e (2), aplicando somatório de ambos os lados da identidade da equação (3), encontra-se a equação (4). V `V rV i ri r Vi i j rij ri Vij i j Vìj `Vìj rijVìj (a) (b) (c) (7) (d) Sendo (a) Efeito devido ao crescimento do comercio mundial. “O efeito dimensão do mercado mundial representa a variação nas exportações totais do produto considerando-se que o país manteve a sua participação no mercado global no mesmo nível que no inicio do período” (TOMICH, 1999) apud (DIZ, 2008; p. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 928 65). Portanto, é o crescimento ocorrido por causa do crescimento das importações do mundo; (b) Efeito composição da pauta de exportações. Para Stalder (1997), esse efeito indica se as exportações do país em questão estão concentradas em produtos mais ou menos dinâmicos do que a média dos outros produtos, sendo ponderados pelo valor das exportações desse produto. Ou seja, “o termo (b) indica se os produtos exportados pelo país em análise crescem mais ou menos do que a média das exportações mundiais de todos os produtos” (DIZ, 2008; p. 68). (c) Efeito destino das exportações: “mudanças decorrentes das exportações de mercadorias de crescimento mais ou menos dinâmico, ou seja, crescimento decorrente da distribuição do mercado de exportações do país” (MENDONÇA et al., 2009; p. 140). (d) Efeito competitividade: “a medida desse efeito residual está relacionada mudanças nos preços relativos, isto é, os importadores tendem a substituir o consumo dos bens cujos preços se elevam pelo consumo daqueles com preços relativos menores” (MENDONÇA et al. 2009; p. 140). Ou seja, esse efeito está relacionado com a capacidade do país em conseguir manter o preço de sua mercadoria em níveis competitivos ao longo do tempo. A análise de terceiro nível será omodelo utilizado nesse trabalho, por ser mais completa. Como apresentam Leamer e Stern (1970), mesmo com a limitação do modelo Constant-Market-Share ao considerar como competitividade a mudança relativa de preços entre os produtos exportados, o referido modelo ainda pode ser estrategicamente utilizado pelo governo e empresas privada para formulação de políticas públicas e decisão de produção dada à configuração do comercio internacional. Para efeito de emprego da metodologia Constant Market Share exige-se que sejam estipulados períodos de tempo definidos para análise do comportamento das exportações. Mendonça et al. (2009) em um trabalho sobre a competitividade da amêndoa da castanha de caju (ACC) definiu os tempos de 1990 a 1994; 1995 a 1999 e de 2000 a 2005, associados aos eventos macroeconômicos de abertura comercial, IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 929 estabilidade inflacionária no Brasil e a crise cambial. Essa pesquisa irá definir como tempo de estudo os seguintes períodos: 2003/2005: Nesse período ainda sente-se efeito da desregulamentação comercial internacional, dado a sua continuidade ainda durante o inicio dos anos 2000. 2005/2007: Nesse período houve contínuo crescimento da economia mundial. 2007/2009: Período marcado pela grande crise imobiliária dos Estados Unidos, que veio a causar efeitos em todo o mundo, em especial, nos países de alta renda da Europa e no próprio E.U.A. 2009/2011: Período de ligeira recuperação da economia mundial, após o período de crise. 3. ANÁLISE DOS RESULTADOS A análise dos resultados mostra que apesar do crescimento das exportações brasileiras de castanha de caju para o período analisado, a perda de competitividade da castanha brasileira fica evidente nos resultados dos índices, assim como, o efeito negativo da crise de 2008 sobre as suas exportações. A seguir, nas sessões 4.1, 4.2, 4.3 e 4.4 serão apresentados os resultados e as discussões dos indicadores de VCR, POS, DES e do modelo constant Market share, respectivamente. 3.1 Índice de vantagem comparativa revelada (VCR) Observando os resultados para o índice que avalia a vantagem comparativa de um país na produção de determinado produto (Gráfico 1), percebe-se que o Vietnã possui uma vantagem muito superior aos demais países analisados. Sua superioridade tem início em 2002 quando esse índice chega a 41,02, superando o índice da Índia no mesmo ano (31,75). A partir de então, tem-se uma elevação no ano seguinte (2003), o índice se estabiliza, e a partir de 2007 mostra uma tendência de queda constante, sendo um pouco mais forte entre 2010 e 2011, revelando um possível efeito da crise de 2008 sobre as suas exportações. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 930 Gráfico 1 – Índice de Vantagem Comparativa Revelada de Brasil, Índia, Nigéria, Costa do Marfim e Vietnã, no período de 2000 a2011 60,00 50,00 40,00 30,00 20,00 10,00 0,00 2011 Costa do Marfim 2010 2009 2008 2007 Nigéria 2006 2005 Índia 2004 2003 2002 2001 2000 Brasil Vietnã Fonte: Elaboração própria com base nos dados daFao (FAOSTAT, 2013). A índia, que dominava o mercado mundial da castanha de caju até o ano de 2001, antes de o Vietnã ganhar destaque no setor, apresenta tendência de queda em todo o período analisado, com leve estabilização em alguns anos, tendo uma vantagem no valor de 32,18 no primeiro ano da análise e 9,36 no último ano, mostrando uma redução de 70,91% em termos de vantagem comparativa durante período. O comportamento de vantagem comparativa da Índia indica que o país tem perdido, cada vez mais, as suas vantagens na exportação de castanha de caju em relação aos seus concorrentes, abrindo ainda mais espaço para a expansão do mercado vietnamita. Para a Nigéria, o índice calculado em 2000 apresentou o valor de 2,47, chegando a alcançar 3,40 em 2011, com um aumento de 37,65% de vantagem relativa. O referido país mostrou-se estável em termos de vantagem no setor a partir de 2002. No entanto, passa a apresentar redução no índice a partir de 2007, sugerindo também, assim como o Vietnã, um efeito da redução do comércio mundial devido à crise de consumo desencadeada a partir de 2008. Mesmo assim, conseguiu se recuperar em 2011, IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 931 expandindo em quase quatro vezes suas exportações, em comparação a 2010, o que poderia estar atrelado a recuperação do mercado mundial. No caso da Costa do Marfim, nos dois anos iniciais da análise, seu índice de vantagem comparativa revelada se mostrou maior que para Brasil e Nigéria, ficando atrás somente da Índia e do Vietnã. Entretanto, a Costa do Marfim consegue melhorar o seu índice no decorrer dos anos, inclusive no período de crise financeira global, chegando a superar a Índia também a partir de 2010. O resultado do VCR para a Costa do Marfim no ano 2000 foi de 7,92, dando um salto para 13,03 em 2011. Esses resultados mostram um ganho relativo expressivo deste país. O país que exibiu maior estabilidade em termos de VCR no setor durante o período analisado foi o Brasil, como pode ser observado no comportamento do índice para o país no Gráfico 1. Apesar disso, teve uma queda considerável no ano de 2008, se comparado ao ano anterior, com uma variação negativa na ordem de 38,86%, mantendo o índice, praticamente, estável nos anos subsequentes. Contudo, a sua estabilidade o manteve em nível de competitividade inferior aos seus principais concorrentes. Se comparado ao Vietnã, a diferença é extremamente visível e preocupante para o setor. O desempenho do Brasil ilustra talvez a falta de investimento do país em cadeias de produção que ajudem a melhorar as condições de produção, distribuição, transporte e infraestrutura do setor. Ou ainda investimentos regionais peculiares à vocação natural de cada região. Este critério poderia desenvolver vantagens comparativas, promovendo maior competitividade no mercado externo. Para Paula et al. (2012), a atuação de fatores internos de infraestrutura é fundamental, uma vez que, o seu mau desempenho pode gerar perdas que não são desejáveis para a competividade. O aumento dos custos de produção e seus respectivos preços, afetando negativamente a competividade do país no mercado internacional. 3.2 Índice de Posição Relativa no Mercado (POS) A análise do índice de Posição Relativa (Gráfico 2), permite observar que o Vietnã exibiu constantes avanços de posição no mercado, durante todo o período, exceto IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 932 2011. No acumulado o Vietnã alcançou um crescimento de 153,81% de 2000 até 2010. Levando em consideração a variação anual, as maiores variações do índice foram de 16,82 e 21,32 nos anos de 2009 e 2010, respectivamente. Esse desempenho relativo do Vietnã pode estar associado aos investimentos públicos realizados no primeiro quinquênio dos anos 2000 direcionados para modernização do setor (MENDONÇA et al., 2009). A Índia possuía a melhor posição relativa de mercado, entre os países durante os anos 2001 e 2002. A partir de então, houve constante redução desse índice para o país, sendo superado pelo Vietnã já em 2002, pelo Brasil em 2003 e pela Costa do Marfim em 2008, chegando a posições deficitárias em 2009 e 2011. Foi notada alguma recuperação no indicador de POS do país em 2010, mas distante dos patamares anteriores com uma nova recaída em 2011. Percebe-se então que a Índia perdeu muito em posição relativa para a concorrência, sendo um dos mais afetados possivelmente pela crise de 2008, no setor de castanha de caju. Gráfico 2 – Índice de Posição Relativa de Brasil, Índia, Nigéria, Costa do Marfim e Vietnã, no período de 2000 a 2011 25,00 20,00 15,00 10,00 5,00 0,00 2011 2010 Costa do Marfim 2009 2008 2007 Nigéria 2006 2005 Índia 2004 2003 Brasil 2002 2001 2000 -5,00 Vietnã Fonte: Elaboração própria com base nos dados daFao (FAOSTAT, 2013). IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 933 O país a mostrar maior estabilidade em sua posição no mercado, durante todo o período, foi a Nigéria, com a pior posição do ranking. O valor do índice para o país em 2000 foi 0,11 e em 2011 foi 0,21, portanto, uma variação positiva de 99,09%. Apesar desse grande percentual de aumento no índice, a mudança não é muito significativa. O país conseguiu manter-se estável, mesmo no período da crise, chegando a superar a Índia em 2009. Isso induz a interpretação que o setor de castanha de caju, desse país, não sofreu grandes efeitos da crise, mas também não desenvolveu qualquer estratégia com implicações significativas sobre a sua posição no mercado internacional de castanha de caju. A Costa do Marfim, assim como a Nigéria, conseguiu manter esse índice relativamente constante, porém, o primeiro obteve níveis bem superiores ao último, e apresentou melhoras durante o período, ficando atrás somente do Vietnã no ano de 2011. O ganho da Costa do Marfim, em termos de posição no mercado, pode ser explicado pelo extraordinário aumento de sua produção no período de 2003 a 2011 (FAOSTAT, 2013). O Brasil apresentou tendência de queda no índice de Posição Relativa durante o período, mesmo assim, consegue mantê-lo mais estável que a Índia, superando-a a partir de 2003. O valor do índice para o Brasil em 2000 foi 7,00 e no último ano estudado foi 2,11, uma queda de 65,71%. Entre 2007 e 2008 tem uma queda acentuada nesse índice, recuperando-o em 2009, mas com nova queda já no ano de 2011. O desempenho do Brasil, bem como o da Índia, nesse índice no período durante e após a crise, pode ser explicado pela grande expansão do Vietnã no mercado, principalmente após a crise de 2008, causando uma perda relativa de mercado para aqueles e, consequentemente, uma perda em suas posições de mercado, levando em consideração a estabilidade da Nigéria. “A rápida inserção do produto vietnamita no mercado, sobretudo a partir de 2000, limitou a expansão desses países [Brasil e Índia] no mercado externo” (MENDONÇA et al., 2009). 3.3 Indicador de desempenho (DES) IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 934 A avaliação dos resultados para o Indicador de Desempenho dos cinco maiores produtores de castanha de caju: Vietnã, Nigéria, Índia, Costa do Marfim e Brasil, calculado com base no mercado mundial do produto (Gráfico 3), nos permite dizer que todos tiveram alto grau de instabilidade em seu desempenho no mercado, salvo a exceção da Nigéria, possuindo momentos de baixas e altas bruscas. Não obstante, parte dessa instabilidade pode ser explicada pelo fato de se tratar do mercado de um único produto agrícola e que, portanto, está sujeito a fatores climáticos, condições naturais, pragas, entre outros fatores, que fogem do controle humano e, consequentemente, podem afetar o desempenho produtivo as exportações. O Vietnã aumentou seu desempenho no mercado mundial de castanha de caju entre 2002 e 2008 e entre 2010 e 2011, perdeu participação apenas nos anos de 2001 e 2009 com valores -31909,89 e -55624,20, respectivamente. Esse desempenho indica que o país, após ganhar destaque e se desenvolver nesse mercado, só perdeu participação relevante no período vulnerável à crise mundial. No caso da Índia, em metade dos anos estudados (2001, 2003, 2006, 2007, 2009 e 2010), obtiveram-se resultados que indicam queda de participação do país no mercado internacional de castanha de caju. Nos demais anos, houve uma ganho de participação do país. O ano de maior queda de participação no mercado mundial do produto foi em 2009, quando chega ao desempenho negativo de -73969,49. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 935 Gráfico 3 – Indicador de Desempenho de Brasil, Índia, Nigéria, Costa do Marfim e Vietnã no período de 2000 a 2010, em mil dólares 300,00 250,00 200,00 150,00 100,00 50,00 0,00 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 -50,00 -100,00 Brasil Índia Nigéria Costa do Marfim Vietnã Fonte: Elaboração própria com base nos dados daFao (FAOSTAT, 2013). O Brasil apresenta indicadores negativos de DES nos anos de 2001, 2002, 2008, 2010 e 2011, nos demais anos foram verificados ganhos de desempenho. No ano de 2003 o país teve aumento de participação no mercado mundial de castanha de caju, principalmente em relação à Índia. A perda de desempenho das exportações brasileiras em 2008 possivelmente tenha sido causada pela redução das importações do mundo, especialmente os Estados Unidos, principal destino das exportações brasileiras de castanha de caju. Além disso, a perda relativa de mercado da castanha brasileira está refletindo o ganho relativo de competitividade da Índia e Vietnã. Assim como nos demais indicadores, a Costa do Marfim apresenta melhora de desempenho durante o período analisado. Os indicadores negativos de desempenho aconteceram basicamente nos anos de 2001, 2003, 2006 e 2009. Nos demais anos da análise, os ganhos de desempenho superam com folga os anos de perda, com resultados positivos que chegam a mais de $ 50.000,00 no ano de 2011, quando a Costa do Marfim alcança o seu melhor desempenho de mercado. A Nigéria, assim como com a Posição Relativa, mostra um desempenho bastante estável. No ano de 2009, a Costa do Marfim IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 936 tem um dos seus piores desempenhos, assim como a Índia e o Vietnã. A partir de 2009 as únicas economias que ganham em desempenho foram Vietnã, Índia e Costa do Marfim, alcançando astrês primeiras colocações do ranking de desempenho. 3.4 Análise do Resultado do modelo Constant Market Share (CMS) 3.4.1 Primeiro período: desregulamentação comercial internacional (2003/2005) A partir da análise dos resultados obtidos através do Constant Market Sharepara o período 2003/2005 (Tabela 1), verificou-se que o efeito crescimento do mercado foi o único a exercer influência positiva sobre as exportações da castanha de caju. Isso indica uma situação de crescimento na economia mundial com manutenção da estrutura produtiva de caju do país. O crescimento externo provoca o crescimento de todos os mercados, via efeito transbordamento, inclusive o da castanha de caju. Segundo Mendonça et al. (2009), até 2005, esse efeito crescimento de mercado continua sob influência da abertura comercial, derivado da continuidade da expansão do comércio mundial. Apesar disso, esse não é um bom sinal, uma vez que, o crescimento do setor de caju foi dado apenas por fatores externos, sobre o qual o país não pode ter controle. Tabela 1 - Resultado Constant Market Share para a castanha de caju do Brasil, no período 2003/2005 Efeito Definição Resultado Crescimento do Mercado rV 5403642320 Composição da Pauta (ri-r)Vi -1108294227 Destino das Exportações (rij-ri)*Vij -34654992.5 Competitividade (Vij`-Vij-rij*Vij) -4218086169 Total V’-V ~42606931 Fonte: Elaboração própria com base nos dados doMDIC (ALICEWEB2, 2013). Os efeitos composição da pauta, destino das exportações e competitividade afetaram negativamente as exportações da castanha de caju. Com o primeiro efeito IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 937 (composição da pauta), percebeu-se que há uma redistribuição da pauta de exportações, desfavorável ao setor. No caso do efeito destino das exportações, entende-se que as exportações brasileiras da castanha de caju não estão bem direcionadas, no sentido de ter os melhores mercados de destino do produto no período. Por último, o terceiro efeito, mostra que o país, já no primeiro período de análise, perde competitividade e espaço no comercio internacional. Isso devido, entre outros fatores, a falta de capacidade em elaborar estratégias de concorrência, que lhe permita ampliar ou conservar sua posição no mercado. A Tabela 2 mostra a participação dos maiores produtores de Castanha de Caju no total das exportações do produto. Percebeu-se nesse período um claro crescimento na participação do Vietnã, e um declínio contínuo dos demais países observados, exceto a Costa do Marfim, que também consegue aumentar o seu percentual de participação nas exportações totais. O Brasil sai de uma participação de 12,86% na exportação mundial de castanha de caju no ano de 2003 para 5,45% em 2011. Já o Vietnã e a Costa do Marfim, aumentam de 24,73% e 3.39% em 2003, para 35,45% e 6,56% em 2011, respectivamente. Tabela 2 – Participação da produção nacional de castanha de caju no total das exportações do mundo, expresso em valores percentuais (%) Países 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Brasil 12.86 11.62 10.11 10.67 11.21 7.28 9.34 8.33 5.45 Índia 32.66 32.16 31.68 31.29 26.66 24.90 23.31 20.46 21.57 Nigéria 0.91 0.62 0.59 0.64 0.44 0.44 0.45 0.17 0.40 CostMarf 3.39 4.27 5.34 5.18 5.07 6.39 6.86 6.77 6.56 Vietnã 24.73 26.63 27.19 28.66 32.12 33.99 34.08 41.18 35.45 Fonte: Elaboração própria com base nos dados daFao (FAOSTAT, 2013). 3.4.2 Segundo período: Contínuo crescimento internacional (2005/2007) IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 938 Analisando os resultados do CMS para o segundo período (Tabela 3), constatouse que o único efeito a ter influência positiva sobre o mercado de castanha de caju brasileira foi novamente o crescimento do mercado mundial. Deste modo, tem-se que, o crescimento das exportações brasileiras ficou mais uma vez condicionada unicamente à expansão do mercado mundial. Os demais efeitos (composição da pauta, destino das exportações e competitividade), tiveram consequências negativas sobre as exportações do produto. Tabela 3 - Resultado Constant Market Share para a castanha de caju do Brasil, no período 2005/2007 Efeito Definição Resultado Crescimento do Mercado rV 6433914926 Composição da Pauta (ri-r)Vi -2676004162 Destino das Exportações (rij-ri)*Vij -445339236 Competitividade (Vij`-Vij-rij*Vij) -283004568 Total V’-V ~28084049.39 Fonte: Elaboração própria com base nos dados do MDIC (ALICEWEB2, 2013). Isso mostra o mau desempenho das exportações da castanha de caju do Brasil, no longo prazo, já que apenas fatores externos têm contribuído para a expansão do setor, expressando a restrita dinâmica interna de desenvolvimento e inovação do segmento. Os resultados dos CMS reforçam os resultados dos indicadores de competitividade de perda relativa de competitividade no longo prazo. A competitividade dos produtos no mercado internacional é fundamental para o desenvolvimento dos países. Contudo, a competitividade das commodities depende das políticas econômicas governamentais, com implicações diretas sobre a expansão do setor de negócios (PAULA et al. 2012). 3.4.3 Terceiro período: Início da crise financeira dos Estados Unidos (2007/2009) IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 939 Este foi o período em que se situou a maior crise mundial desde a Grande Depressão de 1929. Como esperado, o efeito crescimento do mercado afetou negativamente as exportações de castanha do caju brasileiro (Tabela 4), diferentemente dos períodos anteriores. Houve, de fato, uma contração do mercado mundial reduzindo de maneira generalizadas as exportações, inclusive a da castanha de caju brasileira, cujo principal destino era os Estados Unidos. Segundo Mattos (2009) apud Pereira et al. (2010), uma das principais consequências da crise de 2008 foi a queda das exportações e redução do preço no mercado mundial, em especial, para os produtos agrícolas. Os efeitos, destino das exportações e competitividade, também exerceram influencia negativa sobre as exportações do setor. Tabela 4 - Resultado Constant Market Share para a castanha de caju do Brasil, no período 2007/2009 Efeito Definição Resultado Crescimento do Mercado rV -2261744170 Composição da Pauta (ri-r)Vi 2890146651 Destino das Exportações (rij-ri)*Vij -342539281.7 Competitividade (Vij`-Vij-rij*Vij) -283004568 Total V’-V ~2858632 Fonte: Elaboração própria com base nos dados do MDIC (ALICEWEB2, 2013). A Tabela 5 mostra as exportações de castanha de caju do Brasil com destino para os Estados Unidos, reforçando o resultado identificado no modelo CMS ao exibir crescimento negativo das exportações para os Estados Unidos em 2008. Embora esse resultado ilustre uma forte retração das exportações para os Estados Unidos, o Brasil ainda destinava para os EUA 62,77% das exportações de castanha de caju. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 940 Tabela 5 – Exportação de castanha de caju do Brasil para os Estados Unidos no período de 2001 a 2011 Ano Valor das exportações Taxa de em US$ FOB crescimento Importância nas exportações totais de castanha de caju do Brasil 2001 87.900.736 78,31% 2002 78.614.015 -10.57% 74,77% 2003 107.524.058 36.77% 74,79% 2004 138.412.102 28.73% 74,26% 2005 124.811.440 -9.83% 66,70% 2006 135.390.552 8.48% 72,19% 2007 149.913.075 10.73% 66,57% 2008 125.027.178 -16.60% 63,77% 2009 152.451.031 21.93% 65,80% 2010 136.229.990 -10.64% 59,34% 2011 142.278.934 4.44% 62,77% Fonte: Elaboração própria com base nos dados do MDIC (ALICEWEB2, 2013). Nesse período, mesmo que estivesse sendo realizados esforços internos de modernização do setor exportador de castanha de caju, evidencia que não se observavanos períodos anteriores,a incerteza e instabilidade do mercado externo, inibiria os investimentos e a capacidade de expansão da competitividade. Desse modo, seja por falta de iniciativas internas ou pela instabilidade externa, fica claro o efeito negativo da competitividade sobre as exportações de castanha de caju. O único efeito positivo foi o da composição da pauta, que seria um resultado positivo para o Brasil se não fosse um período de retração das exportações nacionais, porque indicaria um aumento relativo das exportações de castanha de caju entre as exportações totais do país. Entretanto, acredita-se que a melhor explicação deste efeito positivo seja uma queda de exportação inferior a queda sofrida nos demais setores IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 941 exportadores, derivado da crise de consumo que se instala com a crise financeira internacional de 2008. 4.4.4 Quarto período: recuperação da economia mundial (2009/2011) O último período a ser analisado é marcado pela recuperação da economia mundial, e isto se verifica a partir do valor positivo do crescimento de mercado mundial sobre as exportações da castanha de caju (Tabela 6). Essa recuperação da economia mundial também surte resultados sobre a competitividade, dado o maior nível de confiança dos investidores e da população como um todo. Esse resultado pode ser verificado pelo valor positivo do residual de competitividade para o período 2009/2011, sobre as exportações brasileiras. Tabela 6 - Resultado Constant Market Share para a castanha de caju do Brasil, no período 2009/2011 Efeito Definição Resultado Crescimento do Mercado rV 10173810989 Composição da Pauta (ri-r)Vi -10653042796 Destino das Exportações (rij-ri)*Vij 276333207.3 Competitividade (Vij`-Vij-rij*Vij) 200869614 Total V’-V ~-2028986 Fonte: Elaboração própria com base nos dados do MDIC (ALICEWEB2, 2013). Outro efeito positivo sobre as exportações da castanha de caju brasileira foi o destino das exportações, fato que pode ser explicado pela recuperação das economias europeia e norte-americana que são os países-destino que concentram a grande maioria das exportações de castanha de caju brasileira. Essa concentração das exportações brasileiras de castanha de caju para os países europeus e norte-americanos, combinada a recuperação parcial das importações desses países (MDIC, 2013). IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 942 O efeito composição da pauta foi o único a exercer influência negativa sobre as exportações da castanha de caju brasileira. Acredita-se que após a crise, há uma nova redistribuição da pauta de exportações brasileira, aonde provavelmente, foi dada prioridade aos produtos que atendiam a demanda do mercado Chinês, cuja importância comercial para o Brasil supera a dos Estados Unidos já em 2009, como mostram as séries de exportações de destino disponíveis noIpeadata (2013). Dessa forma, a castanha de caju teria perdido espaço entre os esforços de produção para exportação entre as commodities brasileiras, dadas as prioridades de consumo da China. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O mercado mundial de castanha de caju se caracteriza pelas exigências quanto à qualidade do produto, dada à característica do mercado consumidor, sobretudo, dos Estados Unidos. As exportações brasileiras de castanha de caju têm como principais destinos os países da América do Norte e da Europa, e possuem grande importância para alguns estados do Nordeste do país. Os estados que compreendem a maior parcela da produção de caju nacional são: Piauí, Rio Grande do Norte e, principalmente, Ceará. Sua contribuição econômica e social é incontestável, em termos de geração de emprego e renda, bem como para geração de divisas. Porém, a castanha de caju brasileira tem perdido espaço e competitividade no mercado mundial. Em termos gerais, o Brasil aumentou o volume das exportações de castanha de caju, salvo o efeito da crise de 2008, com a redução das exportações no mercado mundial e a tímida recuperação em 2009. Verificou-se que o Vietnã e, mais recentemente, a Costa do Marfim vêm aumentando cada vez mais as suas exportações de castanha de caju, causando redução de mercado para o Brasil e demais concorrentes. Mesmo assim, acredita-se que seria possível promover a competitividade brasileira a partir de estímulos públicos e privados a pesquisas e desenvolvimento. Esses estímulos são fundamentais para que o crescimento do setor não fique condicionado, basicamente ao crescimento do mercado mundial. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 943 Todos os indicadores calculados demonstraram a perda de competitividade da castanha de caju brasileira com perda relativa de mercado. Os resultados do modelo CMS mostraram que o único efeito a ter resultados positivos sobre as exportações brasileiras de castanha de caju em quase todos os períodos analisados foi o efeito crescimento do mercado mundial, os demais efeitos analisados foram negativos em quase todos os períodos. Assim sendo, entende-se que o estímulo de competitividade aliado à diversificação do destino das exportações de caju contribuiria fortemente para sustentabilidade do setor. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, D. P. L. KHAN, A. S. LIMA, P. V. P. S. CARVALHO, E. B. S. A Competitividade Externa da Amêndoa da Castanha de Caju Brasileira no Período de 1990 a 2007. Fortaleza – Ceará, 2010. ALMEIDA, E. LIMA. P. S. SILVA, L. M. MAYORGA, R. D. LIMA, F. C. Competitividade das exportações mundiais de plantas vivas e produtos de floricultura. Revista Análise Econômica. Ano 25, n° 47, setembro, Porto Alegre, 2007. Centre de coopérationinternationaleenrechercheagronomiquepourledéveloppement. (CIRAD). ProducingAddedValuetoUnderutilizadCrops(PAVUC), 2006. Disponível em <http://www.cirad.fr/> acesso em 14/10/2013. COUTINHO, L. G.; FERRAZ, J. C. Estudo da competitividade da indústria brasileira. Sistema de indicadores de competitividade. Campinas: NICAMP/UFRJ/PDC/FUNCEX, 1993. (Mimeografado). CUNHA FILHO, M. H. 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IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 947 CONCESSÃO DOS SERVIÇOS DE ÁGUA E ESGOTO NO MUNICÍPIO DE MILAGRES: UMA ANÁLISE SOBRE OS IMPACTOS PARA A SOCIEDADE Suzana Coelho Bezerra16 Maria do Socorro dos Santos17 Eliete Pessoa de Araújo18 Milton Jarbas Rodrigues Chagas19 RESUMO Este estudo tem como foco realizar uma análise do impacto da concessão do serviço público de abastecimento e tratamento de água e esgoto no município de Milagres-Ceará, evidenciando as problemáticas sociais, assim como possíveis soluções apontadas pelo estudo desenvolvido, bem como, ser um instrumento de proposição de melhoria para a gestão na temática apresentada no decorrer do trabalho. Apresentamos ainda, um breve relato sobre o perfil da cidade de Milagres, expondo dados de censo demográfico da situação geográfica, e, extensão territorial, entre outros, no sentido de verificar a relação entre a situação socioeconômica, com as colisões oriundas desse processo de concessão de um serviço público de caráter essencial. Apresentamos sobre a Lei de Saneamento Básico promulgada em 2007, e a relação da proposta com os dados de desenvolvimento social, no âmbito da saúde, educação entre outros. Na metodologia Traz-se um breve arcabouço conceitual sobre a temática dos serviços públicos, bem como suas nuances positivas e negativas, partindo do pressuposto da concessão dessa utilidade de caráter publico. Como produto final se propõe como ferramenta de melhoria para a gestão pública municipal, incrementando ferramentas de participação social. Palavras-chaves: Saneamento Básico, Concessão, Serviços Públicos. 16 Graduanda no Curso Administração Pública e Social Federal do Cariri (UFCA) [email protected] Celular: (88) 9455-0494. 17 Graduanda no Curso Administração Pública e Social Federal do Cariri (UFCA) [email protected] Celular (88) 9926-9135. 18 Graduanda no Curso Administração Pública e Social Federal do Cariri (UFCA) [email protected] Celular: (88) 9615-1801. 19 Professor do Curso de Administração Pública da Universidade Federal do Cariri (UFCA) [email protected] Celular: (88) 9928-5074. E-mail: E-mail: E-mail: E-mail: IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 948 1. INTRODUÇÃO O presente estudo examina a proposta do projeto de lei municipal nº 1.191/12, de iniciativa do poder executivo do município de Milagres-Ceará, bem como, destrinchar as vantagens e desvantagens que a sua aplicação acarretará a população de abrangência.O projeto de lei no qual este trabalho encontra como referência trata da questão da distribuição e tratamento O referido artigo busca ainda, explanar o atual grau de satisfação das comunidades e a qualidade dos serviços prestados pelo poder público, levando em consideração a eficiência financeira, assim como os conceitos de eficácia e efetividade buscando também evidenciar o nível de aceitação que a população tem pela terceirização do serviço de saneamento básico, bem como os possíveis benefícios e desvantagens para a gestão municipal. Contudo, relataremos algumas legislações vigentes nas esferas estadual e federal que se relacionam com o contexto. O incentivo para realizar essa pesquisa, nasceu das discussões em sala de aula na disciplina de Finanças e Orçamento Público e a sua correlação com o projeto lei de concessão que nos instigou devido a sua repercussão na cidade de Milagres e principalmente o impacto orçamentário que isso gerou. Este trabalho se justifica pela relevância que uma politica pública de saneamento impacta no bem estar social, e a importância do seu planejamento, implantação e fiscalização sem interesses partidários ou individuais. Para uma melhor compreensão dessa dinâmica e o nível de empoderamento e envolvimento da sociedade com essa temática, foram totalizados 80 questionários, aplicados aos moradores dos bairros: Francisca do Socorro, Padre Cicero, Frei Damião, Centro e outros. Além da aplicação direta dos questionários, visando uma coleta de dados mais ampla, foi disponibilizado em uma rede social de um grupo especifico da cidade, uma enquete com o questionário online, na qual foram respondidos 73, oriundos de bairros diversificados. 1.1 PERFIL DO MUNÍCIPIO DE MILAGRES-CE O Município de Milagres está localizado ao sul do Ceará, na denominada região do Cariri. Esta região possui uma característica geográfica peculiar, em seu território situa-se a Chapada da Floresta Nacional do Cariri. Por essa peculiaridade há uma exigência maior aos municípios que compõem essa área, objetivando a preservação desse espaço ambiental e IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 949 cultural, além da sua localização geográfica privilegiada, visto que se encontra em um raio de distancia entre capitais considerado pequeno. Além da sede municipal, Milagre possui o distrito de Rosário, na qual é também percurso do Riacho dos Porcos. A população está estimada em 28.316 habitantes, da qual 13.556 residem na área urbana. Densidade demográfica de 49,08 hab/km², área territorial de 546,64 Km². A economia está baseada principalmente no setor comercial com 254 estabelecimentos comerciais; no setor industrial através da construção civil e da indústria de transformação; Segundo dados de 2010 do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará – IPECE. Possui ainda uma forte presença da agricultura. Em se tratando de infraestrutura, o município possuía 82,38% de ligações de água em 2006 e 70,57% dessas ligações em 2011, uma diferença de 11% no alcance de ligações de água às residências. Já em relação ao saneamento básico os dados são ainda mais alarmantes, uma vez que não consta nesses anos em referencia ligação residencial alguma a rede de saneamento básico, segundo o IPECE, dados de 2010. Com base nos dados anteriores percebe-se a importância do estudo de viabilidade do projeto de lei 1.191/12, para garantir a população milagrense o acesso a esse serviço público de grande relevância . 2. LEI DE SANEAMENTO BÁSICO: BREVE RELATO DOS SEUS ASPECTOS E RELAÇÃO COM O ORÇAMENTO O crescimento das cidades brasileiras principalmente nas últimas décadas é grandioso, entretanto sem ter um acompanhamento no que se refere a estrutura básica, assim causando mazelas como por exemplo: a exclusão social. Dentro desta contextualização ha cerca de 20 anos o saneamento básico luta por uma politica pública de longo prazo e que possa minimizar as dificuldades vivenciadas na modernidade. Não se pode esquecer que atrelado a essa questão da politica pública temos a contextualização do desenvolvimento, na tentativa de diferencia-lo de crescimento econômico. Seguindo essa linha deve-se acrescentar que “apesar das divergências existentes entre as concepções de desenvolvimento, elas não são excludentes. Na verdade, em alguns pontos, elas se completam” (SCATOLIN, 1989, p.24). A Constituição Federal de 1988 compreende a questão de saneamento básico como natureza ambiental considerada indispensável à vida digna da sua população. Diante de um cenário repleto de problemas sociais, principalmente nas áreas urbanas, gerado sobretudo pela IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 950 ausência de aplicação de recursos na área de saneamento, surtiu a necessidade uma legislação que regulasse detalhadamente esta politica. A definição clássica de saneamento explicita ser essa ação “o conjunto de medidas que visam a modificar as condições do meio ambiente, com a finalidade de prevenir doenças e promover a saúde” (MENEZES, 1984, p.26). Visando regulamentar a prestação do serviço de saneamento básico no país, a lei 11.445/07 sancionada no dia 21 de junho de 2007, veio estabelecer diretrizes nacionais para o saneamento básico e para a política federal de saneamento, entre outras questões, a respeito dos princípios fundamentais, do exercício da titularidade, da prestação regionalizada dos serviços públicos de saneamento básico, atividades de planejamento, da regulação, aspectos econômicos e sociais, aspectos técnicos, participação de órgãos colegiados no controle social e política federal de saneamento básico. A referida lei instituiu as competências quanto à coordenação e atuação dos diversos agentes envolvidos no planejamento e execução da política federal de saneamento básico no país. Em referência aos Municípios, já trata a carta Constitucional no seu Art. 30 delegando como competência Municipal, organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local. Com a inovação da Lei Complementar 11.445/07 reforçou e atribuiu a esfera municipal por exclusiva responsabilidade de organizar a prestação dos serviços de saneamento básico à população local, cabendo a eles elaborar a política e o plano de saneamento básico, incluindo a área urbana e rural. Essa responsabilidade inclui planejar e realizar avaliação contínua do serviço, seja o item oferecido pelo município ou por um delegado através da concessão. 3. O SANEAMENTO E SAÚDE Pode-se afirmar que a relação entre saúde e saneamento, não só foi uma das principais precursoras, como atualmente ainda reside no cerne da discussão sobre saúde e meio ambiente (HELLER, 1998). O saneamento é o controle de todos os fatores do meio físico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos nocivos sobre o bem estar físico, mental e social. Contudo, pode-se afirmar que corresponde o saneamento básico a um conjunto de políticas voltadas para melhorias das condições de vida da população, relacionadas à saúde humana. Como por IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 951 exemplo, estações de tratamento de água e esgoto, obras para escoamento da água da chuva, coleta de resíduos sólidos, e assim por diante. No Brasil, a rede de serviços de saneamento vem se expandindo, entretanto ainda não consegue atender as demandas, visto que o crescimento econômico, atrelado ao aumento da massa populacional é antagônico aos investimentos realizados no setor, ocasionando um risco ambiental, e principalmente a saúde da sociedade. 4. SERVIÇOS PÚBLICOS Incube como dever do Estado, a execução de atividades que busquem atender de forma direta, ou indireta por meio do seu poder de delegação, as necessidades voltadas para o bem estar da população, através de serviços que busquem suprir de forma satisfatória demandas sociais essenciais. Dentro da perspectiva de serviços públicos Melo (2002), avalia o termo como: (...) toda atividade de oferecimento de utilidade ou comodidade material destinada à satisfação da coletividade em geral, mas fruível singularmente pelos administrados, que o Estado assume como pertinente a seus deveres e presta por si mesmo ou por quem lhe faça as vezes, sob um regime de Direito Público – portanto, consagrador de prerrogativas de supremacia e de restrições especiais-, instituído pelo Estado em favor dos interesses definidos como público. Carvalho, (2001), diz que “toda atividade prestada pelo Estado ou por seus delegados, basicamente sob regime de direito público, com vistas à satisfação de necessidades essenciais e secundárias da coletividade”. No tocante ao Serviço Público torna-se indispensável o conhecimento e compreensão dos princípios que os rege definidos em lei, visando uma melhor adequação e regularização para o seu comprimento. Pela doutrina são princípios que devem acompanhar os serviços públicos visando atender as necessidades do usuário: a permanência, generalidade, eficiência, modicidade e cortesia. Se algum desses requisitos for violado, é dever da Administração Pública através do poder de coesão intervir para restabelecer ou regular o funcionamento do serviço. Para Munro (1994), a prestação de serviços realizada pelo poder público ainda mantém em foco a própria existência do serviço, deixando sua qualidade relegada a um segundo plano. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 952 A Lei nº 8.987/95 no seu art. 6º, § 1º estabelece que “serviço adequado é aquele que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas”. 5. CONCESSÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS Compreende-se por concessão de serviço público a delegação de suas funções sem haja perca de sua competência coerciva e fiscalizatória para as entidades públicas e privadas. A Constituição Federal já expressa de forma clara no seu artigo 175 o direito do poder público fazer jus a transferência do exercício. Art. 175 CF, “incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos”. Dispõe a Lei Federal nº 8.987/95, sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos, em seu art. 2º Inciso II, conceitua a concessão de serviço púbico: (...) a delegação de sua prestação, feita pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado; Ressalva ainda o Inciso III: concessão de serviço público precedida da execução de obra pública: a construção, total ou parcial, conservação, reforma, ampliação ou melhoramento de quaisquer obras de interesse público, delegada pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para a sua realização, por sua conta e risco, de forma que o investimento da concessionária seja remunerado e amortizado mediante a exploração do serviço ou da obra por prazo determinado; Já o Código de Defesa do Consumidor instituído pela Lei nº 8.078/90 traz um respaldo legal para a sociedade, sobre a eficiência e qualidade dos serviços a serem ofertados, cabendo sanção e pena caso haja descumprimento. Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 953 Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código. A lei Federal 8.987/95 reforça no Art. 6 que “toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato”. Seguindo essa linha de pensamento a contextualização do que é serviço público envolve a definição de dois termos, sendo o primeiro “serviços” e seguida “público”. Para Mello (2004), serviço público é toda atividade de oferecimento de utilidade ou comodidade fruível preponderantemente pelos administrados, prestada pela Administração Pública ou por quem lhe faça as vezes, sob um regime de direito público instituído em favor de interesses definidos como próprios pelo ordenamento jurídico. Contudo, fica claro que o Estado, seja ele representado em qualquer ente federativo, possui expresso respaldo em lei de delegar a prestação de serviços públicos para organizações públicas e privadas, porém a função do planejamento, regulação e fiscalização dos serviços continuam sendo obrigações do poder públicos, sendo proibida a incumbência dessa função ao concessionário, visando uma melhor qualidade e efetividade dos serviços. 6. PROJETO DE LEI MUNICIPAL 1.191/12 E A PARTICIPAÇÃO POPULAR O projeto de Lei 1.191/12 dispõe sobre o regime de concessão dos serviços públicos de água e esgoto do município de Milagres, assim como os seus vieses para a sociedade do município, vale salientar que em Milagres já existe a prestação do referido serviço, na região central da cidade, através de concessão pública, sendo a CAGECE – Companhia de Água e Esgoto do Ceará, responsável pela prestação dos serviços. De acordo com a referida lei constitui o objeto de concessão a prestação dos serviços de água e esgoto, do sistema próprio de abastecimento do município, existente na zona rural, nos bairros: Francisca do Socorro, Padre Cicero, Frei Damião e Distrito do Rosário. Os referidos bairros atualmente contam com a prestação de serviços do governo municipal, na IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 954 qual todos desfrutam de água encanada, oriundas de poços profundos, porém, a população não recebe o serviço de esgoto, estando os mesmos a céu aberto e em condições precárias. No âmbito nacional a lei que regulamenta a prestação destes serviços estabelece diretrizes que devem ser cumpridas, independentemente de qual forma o serviço será prestado, seja ela diretamente ou por meio de concessão. Faz-se necessário caso haja aprovação do referido projeto a elaboração de planos de acompanhamento, visando a avaliação e possíveis melhorias no projeto, incentivando a correção de desvios que poderiam ocorrer durante o processo. É importante frisar que para que o projeto seja considerado oportuno se faz necessário a participação em todas as instância, seja pela gestão pública, seja pela sociedade, seja pelo 3º setor. A participação social foi inserida no arcabouço das politicas públicas brasileiras de diversas formas, entretanto a mais forte delas é a constituição de 1988, instituindo o arcabouço jurídico que permitiu à consolidação do regime democrático no Brasil. A institucionalização da participação social no Brasil, principalmente através dos Conselhos Gestores, representa um avanço na democratização, não somente em relação aos serviços, mas também nas práticas políticas, ampliando o poder de intervenção da população nos rumos da coisa pública, impondo maior responsabilidade pública aos governos e à sociedade (Gerschman, 1995; Carvalho, 1998). O governo Federal visualizando a importância do saneamento básico para a sociedade e colocando em pauta como uma política pública emergencial determina que a partir de 2015, só terá acesso aos recursos da União, para serviços de saneamento básico, o município que tiver elaborado o seu Plano de Saneamento Básico e instituído o controle social por meio de órgão colegiado de caráter consultivo (decreto nº 7.217/2010 – Art. 26, § 2º e Art. 34, § 6º). Com o crescimento populacional da cidade, as inúmeras demandas por serviços de qualidade e a pressão por condições de infraestrutura adequada que comportem os requisitos exigidos pela lei, o município não dispõe de capacidade técnica e estrutural para propiciar condições necessárias para uma maior qualidade de vida e satisfação dos moradores, tendo a opção de recorrer à criação de uma autarquia ou autorizar através do contrato de concessão a IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 955 transferência para prestação de tais serviços. Em um momento de uso de ferramentas jurídicas, percebe-se claramente que a referida proposta não fere os princípios constitucionais, ou qualquer outro item do referencial jurídico brasileiro. 7 –METODOLOGIA Como forma de delineamento da metodologia utiliza-se em primeiro plano uma pesquisa bibliográfica fundamentada em estudiosos da temática de serviços públicos, sendo esta prestação nas mais diversas formas. Cervo e Bervian trazem que; A pesquisa bibliográfica constitui parte da pesquisa descritiva ou experimental, quando é feita com intuito de recolher informações e conhecimentos prévios acerca de um problema para o qual se procura respostas acerca de uma hipótese que se quer experimentar. (CERVO E BERVIAN, 2002, p.65). Em seguida, utilizamos a pesquisa de campo de natureza quantitativa por meio de questionário estruturado permitindo, de acordo com Sampieri (2006 p. 15), “a investigação quantitativa nos oferece a possibilidade de gerenciar os resultados de maneira mais ampla, concede-nos controle sobre os fenômenos e um ponto de vista de contagem e magnitudes em relação a eles”. Aplicando essas duas técnicas metodológicas pode-se analisar as vertentes que perpassam sobre a questão da concessão dos serviços públicos, assim como verificar o grau de receptividade por parte da sociedade civil. 7. ANÁLISE/DISCUSSÃO DOS DADOS COLETADOS Após a coleta e tabulação dos dados, sendo resultado dessas análise uma série de gráficos, podemos dele extrair algumas informações, como por exemplo: mais de 53% dos entrevistados são moradores dos bairros Francisca do Socorro e Padre Cicero, quais estão inseridos no projeto lei de serviço de água e esgoto. Essa amostra contou com uma participação de ambos os sexos, sendo 48,5% feminino e 51,5% masculino, 39,4 % cursou o ensino fundamental incompleto. 100% dos entrevistados tem acesso ao serviço IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 956 de água na qual, 60,6% reconhece o município como executor desse serviço e a grande maioria encontram-se satisfeitos com o serviço de água. A maior parte da população não conta com serviço de esgoto e 69,7%, acreditam que não existe saneamento básico no seu bairro. A grande maioria dos entrevistados acha importante a existência de serviços de água e esgoto de qualidade e 87,9% considera que um local sem condições de saneamento adequado pode ocasionar danos saúde. A maior parte dos entrevistados estaria disposto a pagar uma taxa para usufruir desses serviços com qualidade e também afirmam que a administração pública local não prioriza o saneamento básico no seu bairro. Os dados acima citados podem ser consultados pelo leitor nos anexos ao fim deste artigo. 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS Percebemos que nos últimos anos o saneamento básico ganhou notória atenção e contornos jurídicos que regulam as ações dos entes federados. O poder público reconheceu a grande importância desse serviço para o desenvolvimento de uma sociedade saudável e sustentável. A prioridade e destinação de recursos para esta área gera uma política pública preventiva, em consequências minimizando os efeitos nocivos que afetam a saúde da população, e assim, economizando recursos, empregados na saúde curativa. Com o crescimento das cidades, a centralização da execução dos serviços públicos pelo poder público pode resultar em dificuldades para a gestão municipal, tendo em vista a crescente demanda da sociedade por novos serviços e melhoria da qualidade dos serviços já existentes. A possibilidade de delegação de alguns serviços, como no caso do saneamento básico, torna-se viável, cabendo à gestão pública o papel de planejar essa política junto à sociedade e profissionais especialistas e também fiscalizar se os mesmos estão sendo ofertados com qualidade para a população. Foi verificado que o Município de Milagres não dispõe do serviço de tratamento de esgoto, na qual se encontra em desconformidade com a lei federal de saneamento. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 957 Apesar de sua população reconhecer a importância desse serviço para o bem estar social, estando insatisfeitas com a atual situação, visualizando que a administração municipal não consegue dar o devido suporte as demandas de saneamento local. Deve-se ressaltar que não é simples definir, mesmo em termos operacionais, um conceito de participação popular na administração pública. Devido a uma série de fatores como, por exemplo a descrença politica, levam a reduzir a percepção da real importância da participação comunitária, que infelizmente no caso da cidade de milagres está aquém do necessário. Nesse caso acaba-se por deixar nas mãos do poder público e da iniciativa privada a responsabilidade por gerir os serviços públicos essenciais. REFERÊNCIAS ARAGÃO, Alexandre Santos de. O Conceito de Serviços Públicos no Direito Constitucional Brasileiro. Salvador – Bahia:Revista Eletrônica de Direito Administrativo Eletronico. Nº17, 2009. BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 14ª ed. São Paulo: Malheiros, 2002. BRASIL, CONSTITUIÇÃO (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. BRASIL. Casa Civil: Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei 8 .987/95. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8987cons.htm> Acesso em: 05 de Jun. 2014. CARRAZZA, Roque Antonio. Disponível em: <http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=150> Acesso em: 05 de Jun. de 2014. CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 24ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Iuris, 2011. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 958 CERVO, Amando Luiz, Bervian, Pedro Alano. Metodologia cientifica. 5ª ed. – São Paulo Pearson prenticeHael, 2002. HELLER, L. Relação entre saúde e saneamento na perspectiva do desenvolvimento. Ciênc. e Saúde Col., 3(2):73-84, 1998 GERSCHMAN, S. A democracia inconclusa um estudo da reforma sanitária brasileira. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1995. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/> Acesso em: 05 de Jun. de 2014. INSTITUTO DE PESQUISA E ESTRATÉGIA ECONÔMICA DO CEARÁ . Perfil Básico Municipal. Disponível em: <http://www.ipece.ce.gov.br/publicacoes/perfil_basico/pbm-2011/Milagres.pdf> Acesso em: 05 de Jun. 2014. MENEZES, Luiz Carlos C. Considerações sobre saneamento básico, saúde pública e qualidadede vida. Revista Engenharia Sanitária e Ambiental, Rio de Janeiro, v.23, n.1, p.26-34, jan/mar. 1984. MELLO, Celso Antônio. (2004). Curso de direito administrativo. São Paulo, Malheiros Editores. MINISTÉRIO DAS CIDADES. Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento Básico. Disponível em: < http://www.snis.gov.br /> Acesso em: 03 de Jun. de 2014. MUNRO, A.C.M. 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IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 960 Anexo B – Representa Graficamente a Faixa etária da população . Anexo C – Representa Graficamente o Sexo. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 961 Anexo D – Representa Graficamente ograu de escolaridade Anexo E – Representa Graficamente a opinião sobre a existência ou não de serviço de água no bairro. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 962 Anexo F – Representa Graficamente a opinião sobre a existência ou não de serviço de esgoto no bairro. Anexo G – Representa Graficamente por quem é prestado o serviço de água e esgoto municipal. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 963 Anexo H – Representa Graficamente se o cidadão está satisfeito ou não com o serviço de água prestado Anexo I – Representa Graficamente se o cidadão está satisfeito ou não com o serviço prestado IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 964 Anexo J – Representa Graficamente se o serviço de saneamento é adequado. . Anexo L – Representa Graficamente a opinião a pessoal sobre a qualidade dos serviços de água e esgoto IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 965 Anexo M – Representa Graficamente a percepção sobre a relação entre saneamento básico e saúde Anexo N – Representa Graficamente a aceitação do pagamento da taxa pelo serviço IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 966 Anexo O – Representa Graficamente a percepção sobre a atuação do governo municipal no serviço de saneamento básico. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 967 ESTRATÉGIAS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO LOCAL: UMA ANÁLISE DO PLANO DA AÇÃO INTEGRADA DE INVESTIMENTOS PARA A ZEIS ILHA DE DEUS, RECIFE-PE. Marcelo Acioly dos Santos FREIRE20 2.Felipe Machado de MORAES21 RESUMO: O estudo sobre as estratégias governamentais de desenvolvimento local a partir de uma análise do Plano da Ação Integrada de Investimentos para a ZEIS Ilha de Deus, Recife-PE pretende apresentar as condições praticadas para desenvolver ações articuladas entre o poder público, organizações da sociedade civil e organizações comunitárias da Ilha de Deus com vistas à utilização, de forma estratégica, dos recursos disponíveis para o desenvolvimento local sustentável que visem à transformação da qualidade de vida da população, considerando as dimensões social, econômica e ambiental. Palavras-chave: Desenvolvimento Local; Políticas Públicas; Ilha de Deus. 1. INTRODUÇÃO Ilha de Deus é uma comunidade ribeirinha situada em meio ao Parque dos Manguezais, uma das maiores áreas de mangue em Zona Urbana do Brasil e um dos últimos resquícios desse ecossistema na Cidade do Recife. Historicamente, a ocupação populacional da Ilha de Deus iniciou-se nos anos de 1950, principalmente por famílias de pescadores. (LEROY & SILVESTRE, 2004). Trata-se de uma área rodeada por densa urbanização localizada na extremidade norte do manguezal que compõe a reserva estuarina do Pina, na confluência dos rios Pina, Jordão e Tejipió. 20 Graduando de Ciências Econômicas da UFRPE. Tel. (81) 9883.4477. E-mail: [email protected] 21 Economista. Especialista em Direitos Humanos. Msc. em Sociologia. Professor do Departamento de Direito e Pedagogia da Faculdade dos Guararapes – FG. Professor do Curso de Pós-graduação em Gestão de Projetos Sociais da Faculdade Filosofia do Recife – FAFIRE. Tel. (81) 9978.3149. E-mail: [email protected] IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 968 Situada no bairro da Imbiribeira, Zona Sul do Recife, a Ilha de Deus é uma das 65 Zonas Especiais de Interesse Social - ZEIS nomeadas na cidade do Recife no início de 1998. Na regionalização do planejamento do Recife, está inserida na Região PolíticoAdministrativa – RPA 06, entre os bairros da Imbiribeira e Boa Viagem. Seu reconhecimento enquanto ZEIS - assim como dos outros assentamentos precários – pressupôs o cumprimento de requisitos tais como o uso predominantemente habitacional; população com renda familiar média igual ou inferior a 03 (três) salários mínimos; carência ou ausência de serviços de infra-estrutura básica; e, fundamentalmente, possibilidade de urbanização. Em maio de 2007, a comunidade passou a receber as primeiras intervenções do Governo do Estado de Pernambuco por intermédio da Secretaria de Planejamento e Gestão – SEPLAG – que contratou a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da Universidade Federal de Pernambuco – FADE para elaborar o Plano da Ação Integrada de Investimentos para a ZEIS Ilha de Deus. Em 2009, a Empresa Diagonal – Transformação de Territórios é contratada para dar início à sua execução e monitoramento sendo a Gerenciadora das ações integradas para a Ilha de Deus. O Plano inicialmente consiste em apresentar estratégias de desenvolvimento local sustentável, autogestão dos Equipamentos Sociais diante do processo de urbanização da ZEIS de modo a viabilizar a realocação das famílias, garantindo a permanência das mesmas - ou de grande parcela destas - no próprio território. Compreende ainda a abertura e a consolidação de sistema viário, implantação de infraestrutura completa, construção das novas moradias, construção e reforma de equipamentos sociais, promoção de melhorias habitacionais e de regularização fundiária (FADE; SEPLAG, 2007). Em relação aos aspectos sociais, vale destacar a melhoria de qualidade de vida da população por meio da ampliação do acesso à educação formal, ampliação de oportunidades de emprego e renda, bem como aos serviços de saúde e assistência social; promoção de ações sócio-educativas com vistas às estratégias de desenvolvimento local, à conservação e ao uso adequado das novas habitações e dos equipamentos públicos e IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 969 comunitários; constituição de grupos locais voltados ao acompanhamento das obras, à organização comunitária e à preservação do meio-ambiente e o fortalecimento das instituições existentes. Desta forma, resulta que o objetivo principal deste trabalho é analisar a trajetória de conquistas e desafios de uma política pública na área de planejamento e gestão do território urbano para a superação da extrema pobreza, evidenciando as metodologias participativas e intersetoriais alinhadas às estratégias de desenvolvimento local na ZEIS Ilha de Deus. 2. DESENVOLVIMENTO LOCAL A discussão sobre desenvolvimento emergiu como vertente da teoria do crescimento econômico, campo da macroeconomia que investiga os fatores que influenciam a dinâmica do crescimento da riqueza de um país no médio e longo prazo. Entretanto, a vigência dos modelos econômicos focalizados na acumulação de capital como fator primordial, ceterisparibus, para o crescimento sustentado no longo prazo caíram por terra diante das evidências empíricas e postulados teóricos. A necessidade de explicar a trajetória de progresso das nações através de um novo arranjo de variáveis ensejou uma concepção multidimensional intitulada desenvolvimento, no qual fatores como a saúde, a educação, a liberdade política, a territorialidade, o acesso aos direitos humanos e a preservação do meio ambiente ampliam e transcendem o repertório de discussão (JONES, 2000; LIMA, 2009). A filosofia do desenvolvimento assume a responsabilidade do sistema produtivo com os recursos naturais e com a distribuição mais igualitária da riqueza, envolvendo, com isso, uma série de fatores interconectados que ultrapassam, mas não desagregam os indicadores econômicos. Assim, considera-se que, o processo de desenvolvimento está relacionado a uma trajetória de decisões e acontecimentos ocorrendo, simultaneamente, em diferentes escalas: global, nacional e local, atentas para um desenvolvimento economicamente viável, socialmente justo, ambientalmente sustentável, politicamente ético e culturalmente aceito. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 970 É consenso entre especialistas e governantes que a escala local possui condições mais favoráveis para implantação das estratégias de desenvolvimento, por uma razão elementar: os obstáculos são mais bem identificados e, portanto, a solução apropriada é mais fácil de ser encontrada. Em outras palavras, o custo de implantação de soluções é menor e, para um dado orçamento, o impacto social pode ser ampliado. Nesse sentido, em nosso trabalho, o escopo do desenvolvimento local se refere à construção da capacidade econômica do território por intermédio de ações, programas e projetos de formação e atração, geração e retenção de investimentos, aumento do estoque de capital humano (incremento da renda, da produtividade e aumento do número de postos de trabalho) e fomento ao empreendedorismo e acesso ao crédito (BIRD, 2006; FERNANDES E SANT’ANNA, 2002). Pela sua natureza, o planejamento e a gestão para o alcance das metas do desenvolvimento local requerem o uso de ferramentas metodológicas integradas e participativas, onde o governo local e parceiros públicos e privados atuam em conjunto. Esta configuração de um aparato estatal fomentando um ambiente favorável aos negócios está alinhada à discussão vigente da intervenção estatal no processo de emancipação social e superação das condições de extrema pobreza. (CATTANI E FERRARINI, 2010; FERNANDES E SAMPAIO, 2006). 3. PLANEJAMENTO E GESTÃO PARTICIPATIVO A nova matriz de governança pública adotada nos governos federais, estaduais e municipais integram os esforços para multiplicar os benefícios das políticas públicas de redução do nível de desigualdade de renda no país. Vale salientar que essa linha política é apenas um componente de um escopo mais amplo, que é o das políticas emancipatórias, cujos benefícios e modelo de gestão coadunam com as hipóteses e pressupostos do conceito de desenvolvimento local. Portanto, a literatura pesquisada considera relevante a hipótese de que a autonomia de uma comunidade local é fortemente influenciada não apenas por seu poder de compra, mas também pela IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 971 capacidade dos indivíduos e grupos de indivíduos manifestarem seu papel de atores do desenvolvimento. (FERNANDES E SAMPAIO, 2006). As perspectivas metodológicas de planejamento e gestão participativa se enquadram nas estratégias de desenvolvimento local, porque combinam as competências de planejamento, monitoramento e avaliação à competência tradicional de execução praticada pelas comunidades-alvo nas políticas públicas. Nesse sentido, cabe ressaltar a existência de um compêndio de boas práticas de gestão e planejamento participativo. Dessa forma, a análise documental dos estudos de caso pesquisados contribuiu para compilar o conjunto de diretrizes componentes dessa ferramenta metodológica de políticas públicas. Os casos estudados situaram-se nos estados de Rio Grande do Sul (CATTANI E FERRARINI, 2010), Santa Catarina (FERNANDES E SAMPAIO, 2006), Manaus (COSTA NETO et al, 2010) e São Paulo (CERATI et al, 2011). As diretrizes ficam assim estabelecidas: (i) Participação:O diagnóstico por parte da comunidade revela as capacidades locais, identificando suas forças e fraquezas. E o planejamento e avaliação permitem corrigir as falhas e potencializar as virtudes de cada comunidade. A orientação deve ser voltada para a transformação das boas ideias em ações efetivas, para que haja resultados nas matérias que dizem respeito à comunidade; (ii) Integração: Políticas similares operando em paralelo na mesma comunidade resultam desperdícios de recursos financeiros e humanos e dispêndios de energia. A estratégia para otimizar esses recursos é articular as políticas, programas e projetos entre todas as esferas públicas através de um modelo de gestão que concentre as informações e coordene o escopo de atividades para o resultado satisfatório; (iii) Intersetorialidade: Todas as iniciativas analisadas foram sensíveis para a concepção multidimensional das adversidades vivenciadas pela comunidade. Não basta ter a refeição diária se não existe esgotamento sanitário; não é IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 972 válido ter acesso a serviços odontológicos, se as famílias vivem na dependência química. A idéia é que problemas multidimensionais requerem ações integradas; (iv) Sustentabilidade: É preciso fomentar a autonomia da comunidade, para encarar os desafios após o término do programa. O desafio da autonomia das comunidades é alcançar a viabilidade financeira dos negócios locais, possuir práticas socialmente justas e estabelecer relações com o ecossistema ambientalmente corretas. 4. METODOLOGIA O presente estudo está dividido em 02 (duas etapas) e se qualifica como teóricoempírico em função da condução metodológica, cujo desenvolvimento da pesquisa é preponderantemente qualitativo, embora reserve informações quantitativas do projeto de Ação Integrada de Investimentos. Nesse sentido, a etapa inicial da pesquisa realizou uma ampla pesquisa bibliográfica sobre os conceitos e práticas do Desenvolvimento Local e do Planejamento e Gestão Participativo, a fim de ampliar o debate, conceituar o modelo de desenvolvimento e de participação no processo social, visualizar nitidamente suas características, vantagens, desvantagens e principais conclusões dos casos analisados. Para executar isso, o método de pesquisa de caso alargado problematizado por SANTOS (1983: 11-12) possui o enquadramento mais adequado para analisar a situação, porque segundo o autor seu método: “(...) opõe à generalização positivista, pela quantidade e pela uniformização, a generalização pela qualidade e pela exemplaridade. Em vez de fixar a quantidade de casos (observações) adequada, o método de caso alargado escolhe um caso ou um número limitado de casos em que se condensam com particular incidência os vetores estruturais mais importantes das economias interaccionais dos diferentes participantes numa dada prática social sectorial. Em vez de reduzir os casos às variáveis que os normalizam e tornam mecanicamente semelhantes, procura analisar, com o máximo de detalhe descritivo, a complexidade do caso, com vista a captar o que há nele de diferente ou mesmo de único. (...) o método de caso alargado propõe o salto da imaginação sociológica entre o mais detalhado e minucioso e o mais geral e indeterminado. (...) Por isso, privilegia o registro das praticas IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 973 lingüísticas em que, em grande medida, se manifestam as economias interaccionais e se delimitam as regiões de significação”. (SANTOS, 1983: 11-12) A segunda etapa de pesquisa, de caráter empírico, se refere à análise da Ação Integrada de Investimentos na ZEIS Ilha de Deus, descrevendo o escopo do projeto e ressaltando a estrutura de gestão inovadora no planejamento e execução de políticas públicas no Estado de Pernambuco e como referência para novas determinações de desenvolvimento. Os dados secundários foram extraídos da observação participante e dos relatórios técnicos divulgados pela Secretaria de Planejamento e Gestão do Governo do Estado de Pernambuco (SEPLAG). Portanto, a opção metodológica adotada para o trabalho empírico se refere a observação participante, que possibilita a construção da compreensão do pesquisador sobre os valores da realidade estudada, estabelecendo uma troca de saberes e confiança mutua. Segundo THIOLLENT (1985), para a observação participante, é imprescindível que o investigador mantenha um estado de “atenção flutuante”, sempre vigilante dos conceitos e práticas em que a pesquisa se determina para não correr o risco de promoções de questionamentos forçados. Em vista disso, o exercício qualitativo de identificar os desafios e oportunidades às aplicações de políticas públicas participativas as implicações e resultados quantitativos para o Desenvolvimento Local a partir da experiência da ZEIS Ilha de Deus dinamizará a proposta de pesquisa para uma investigação/ação das formas de construção da autonomia, cidadania e emancipação com as quais as atuais políticas públicas assumem um papel em prol da sustentabilidade local, no contexto urbano. 5. AÇÃO INTEGRADA DE INVESTIMENTOS PARA Á ZEIS ILHA DE DEUS A Ilha de Deus é uma comunidade ribeirinha cuja população é de 1.152 habitantes (FADE, 2007), situada em meio ao Parque dos Manguezais, uma das maiores áreas de mangue em Zona Urbana do Brasil e um dos últimos resquícios desse ecossistema na Cidade do Recife. Trata-se de uma área rodeada por densa urbanização localizada na extremidade norte do manguezal que compõe a reserva estuarina do Pina, IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 974 na confluência dos rios Pina, Jordão eTejipió. Situada no bairro da Imbiribeira, Zona Sul do Recife, a Ilha de Deus está entre as 65 Zonas Especiais de Interesse Social ZEIS nomeadas na cidade até o início de 1998. Na regionalização do planejamento do Recife, está inserida na Região Político-Administrativa – RPA 06, entre os bairros da Imbiribeira e Boa Viagem (Vide Figura 01). FIGURA 01 – LOCALIZAÇÃO DA ILHA DE DEUS BRASIL RECIFE Fonte: Secretaria de Planejamento e Gestão do Governo de Pernambuco (SEPLAG). Datada da década de 1950, a ocupação do território ZEIS Ilha de Deus originada da estrutura desativada da Estação Rádio Pina (Território Militar) evoluiu desde então IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 975 desordenadamente, sustentada da atividade pesqueira artesanal exploratória (principalmente de peixes de pequeno porte, catação de moluscos - marisco, sururu caranguejo e carcinicultura). No atual cenário, a base produtiva do território ainda pertence ao setor primário, visto que aproximadamente 70% dos moradores têm na cadeia produtiva da pesca sua principal atividade (destaque para a extração de sururu e marisco e aquicultura familiar de camarão). Sob esse aspecto, o diagnóstico do contexto social do território, aplicado em 2007 pela FADE, apresenta as insuficiências genéricas àquelas comunidades urbanas e peri-urbanas que sobrevivem da produção de alimentos, tais como: i) Baixo nível de escolaridade, dado que 55% dos habitantes com idade escolar tinham no máximo quatro anos de estudos associado a uma taxa de 10% de analfabetismo; ii) Baixa capacidade de inclusão produtiva, em que persistem condições de subemprego e ausência de profissionalização, os quais impedem a autonomia dos habitantes da ilha e os distanciam da trajetória de desenvolvimento local; iii) Alto índice de poluição e degradação ambiental, dada a infraestrutura de escoamento dos dejetos residenciais e industriais confluírem para a área e também o reduzido nível de consciência ambiental da comunidade; iv) oferta deficiente dos serviços públicos (iluminação pública, abastecimento e saneamento d’água, limpeza urbana, policiamento, manutenção das vias públicas, serviços de postagem). No intento de superar as condições de extrema pobreza da comunidade e desenvolver um projeto piloto de desenvolvimento humano, econômico e local, o Governo do Estado de Pernambuco debutou em 2007 o Plano de Ação Integrada de Investimentos para a ZEIS Ilha de Deus que: (i) integra as políticas habitacionais, ambientais, sociais e de desenvolvimento econômico; (ii) reuni um conjunto de secretarias, empresas privadas, instituições do sistema “S” e organizações da sociedade civil, para otimizar os benefícios. De acordo com a SEPLAG, o valor total estimado de investimentos já ultrapassa o montante de R$ 50 milhões, financiados desde 2007 em sua maior parcela pelo Governo e em torno de 20% pelo Banco Mundial. Nesse sentido, o referido Plano envolve dois projetos, a saber: IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 976 5.1. PROJETO FÍSICO DE URBANIZAÇÃO Em consonância com as informações divulgadas pela SEPLAG, o projeto físico (ver FIGURA 02) compreendeu: a reconstrução de 350 unidades habitacionais em várias tipologias (conferidas de acordo com tamanho da família, necessidades comerciais, etc); a pavimentação das vias; reestruturação da única ponte via de acesso, reforma dos equipamentos comunitários (ONGs, posto de saúde, escola municipal, núcleo de segurança comunitária, praças, decks e quiosques); instalação da infraestrutura urbana (saneamento, abastecimento d’água e iluminação pública) além da reestruturação hídrica via abertura de um canal. A estratégia de construção dispôs da ampla participação da comunidade no desenho da nova Ilha de Deus e no arranjo residencial de cada morador, através de reuniões e oficinas freqüentes com a população e o Estado, através da Diagonal – Transformação de Territórios, empresa gerenciadora do projeto que possui uma base técnica - escritório vizinho à ZEIS Ilha de Deus. Cabe ressaltar que o Projeto Físico foi operacionalizado por um serviço terceirizado de empresas do setor privado da construção civil que apresentou, em termos relativos, mais de 80% da estrutura de custos totais do projeto. Outro benefício, ainda que de caráter temporário, e alinhamento com o conceito de Desenvolvimento Econômico Local (SWINBURN, G; GOGA, S; MURPHY, F, 2006) foi gerado via emprego e renda de cerca de um décimo da população da própria comunidade nas atividades operacionais do projeto físico . IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 977 FIGURA 02: ESCOPO DO PROJETO FÍSICO DA ILHA DE DEUS Àrea Piloto Àrea 01 Àrea 02 Fonte: À esquerda, SEPLAG (2009); À direita, Google Earth TM, Escala 50 m para 1 cm (2014) . IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do CaririURCA, Crato Ceará-Brasil 978 5.2. PROJETO DE SUSTENTABILIDADE Instituições das mais distintas finalidades e missões econômicas devem considerar a visão multidimensional sobre os clientes/beneficiários e a comunidade, principalmente quando se trata de projetos de incentivo ao desenvolvimento humano. Esse tema é especialmente tratado no Plano de Ação, já que os debates, no Brasil e no mundo, sobre superação das condições de extrema pobreza consagraram a definição de estratégias e soluções capazes de incorporar as múltiplas dimensões da pobreza sobre a vida social, no sistema capitalista (CATTANI E FERRARINI, 2010). A lógica parte do princípio de que o abastecimento de água não vale se as crianças sofrem de algumas doenças, em virtude da falta de saneamento. Não adianta ter luz, se a ponte de acesso à Ilha de Deus não é segura. Na mesma relevância não é sustentavelmente vantajoso para uma política pública de desenvolvimento local adotar uma estratégia de foco em políticas assistenciais no médio e longo prazo. Assim, a necessidade de autonomia econômica é outro elemento norteador do Plano de Ação Integrada de Investimentos para promover o Desenvolvimento Econômico Local, a chave-mestra para a abordagem multidimensional, como afirma SWINBURN (2010): “A vantagem econômica das áreas urbanas depende consideravelmente daqualidade do governo e da administração urbana, bem como das políticas que afetam a disponibilidade, ou não, de eletricidade, transporte, telecomunicações, saneamento e espaços urbanos a serem desenvolvidas.” (SWINBURN, G; GOGA, S; MURPHY, F, 2006: 3) Na execução do papel fundamental do Governo, como postula SWINBURN (2010), que é de criar através das ferramentas de negócios um ambiente externo favorável para o desenvolvimento e o sucesso das iniciativas produtivas, o Estado de Pernambuco direciona esforços para a construção de equipamentos públicos com estrutura de capital físico adequado a instalar projetos de qualificação profissional, empreendedorismo e negócios sociais com vistas a promover e desenvolver: 1) a inclusão produtiva; e 2) a autogestão dos equipamentos sociais visando a cultura da gestão da qualidade e da competitividade dentro do novo ambiente da comunidade. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 979 As principais vocações econômicas diagnosticadas, além da pesca artesanal e aquicultura familiar, foram à panificação e a confeitaria, produção artesanal de vassouras, artesanato, mídia, rádio comunitária, e comunicação visual, culinária, setor da cultura popular. A estrutura de gestão compartilhada desses equipamentos inclui a participação das organizações do terceiro setor na execução e planejamento dos convênios e parcerias (ver Quadro 01 e 02): QUADRO 01 – EQUIPAMENTOS SOCIAIS / PROJETOS DE SUSTENTABILIDADE Equipamentos (ES) Sociais Situação do ES ‘ 1. CENTRO EDUCACIONAL (concluído POPULAR SABER e VIVER entregue) Atendimento: +/-270 pessoas. Ações / Atividades (Serviços e Produtos): Centro de Formação em Panificação e Pastelaria / Padaria Comunitária Vassouraria Cultura popular / Curso de Dança e Teatro Biblioteca Comunitária Reforço Escolar Escolinha de Futebol Artesanato Creche Saber Viver (Capacidade de atendimento: 75 crianças). EMA – Educação Meio Ambiente. Escola de Remo e Fabricação de pequenas embarcações Desenvolvimento Social, Cultural, Educação Formativa e Saúde Rádio Comunitária Boca da Ilha. Núcleo de áudio visual / Fotografia e Cinema. 2. AÇÃO Concluído COMUNITÁRIA e entregue CARANGUEJO UÇÁ. Programa TRILHA - Teatro de Rua da Ilha Biblioteca Viva Caranguejo Uçá. Grupos Culturais (música, percussão, grafitagem). Programa Teça no Mangue Programa: Prudência Ecológica 3. UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA – USF - Ilha de Deus. Concluído Atende semanalmente +/- 200 e entregue usuários. 4. ESCOLA MUNICIPAL CAPELA SANTO ANTÔNIO Concluído Brechó Cultural Serviços de médicos generalista, enfermeiro, auxiliar de enfermagem, auxiliar de consultório dentário, e agentes comunitários de saúde. Atendimento médico, puericultura, vacinação, exames de laboratório, visitas domiciliares e ações preventivas, para os moradores da comunidade. Serviços de Educação Infantil (alfabetização), Ensino Fundamental I e Educação de Jovens e Adultos. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 980 Capacidade de atendimento: 350 estudantes e entregue 5. ESPAÇO DAS PESCADEIRAS (Associação de Marisqueiras) 6. CENTRO DE DESENVOLVIMENTO INTEGRAL VIDA II (Grupo de Jovens) Atendimento: 270 pessoas. Geração de Trabalho e Renda através da produção e comercialização do Em andamento Artesanato e da cultura popular local. Reforço Escolar Em andamento Inclusão Digital Música e Artes Artesanato (em MDF) QUADRO 02 – NOVOS EQUIPAMENTOS SOCIAIS Equipamentos Situação Sociais (ES) do ES 1. UNIDADE DE Ações / Atividades (Serviços e Produtos): a) Estruturar a tradição de produção na cadeia produtiva da pesca; b) Fortalecer a atividade pesqueira na Ilha de Deus. DE PESCADOS Em c) Depuradora de molusco. – UBP. andamento Artesanato - Tratamento adequado BENEFICIAMENTO 2. ESCOLA DE REMO / FÁBRICA DE Concluído BARCOS e e entregue NÚCLEO DE SEGURANÇA COMUNITÁRIA a) Escola de Remo / Projeto Remando para o Futuro. b) Formação, desporto e práticas ludo-pedagógico para as atividades de Remo); b) Fortalecer a atividade pesqueira através de cursos de profissionalização em construção e manutenção de barcos e artefatos de pesca artesanal, utilizando profissionais locais. Outra iniciativa relevante para a promoção da sustentabilidade da Ilha de Deus é o projeto dos grupos de Poupança Comunitária, que são sistemas de micro finanças (finanças solidárias, Banco Popular) modelados para oferecer serviços de poupança e crédito popular para comunidades com baixo rendimento, visando melhorar assim as condições socioeconômicas das pessoas como também sua capacidade de assegurar uma melhor sustentabilidade para as pessoas e suas famílias. 6. ESTRATÉGIAS DE EXECUÇÃO DO PROJETO IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 981 1ª FASE – A fase inicial ficou responsável pela preparação e condução dos moradores para o início da intervenção física. A gerenciadora (Diagonal Transformação de Territórios) constituiu um cadastro de todas as famílias, imóveis residenciais e comerciais, equipamentos públicos e espaços de convívio social. Promoveu e acompanhou, então, a ação de retirada gradual e realocação provisória das famílias, subsidiando com concessão de auxílio-moradia e indenização das famílias decididas a não continuar vivendo no local. A obra inicial foi a construção da ponte de acesso, seguido da Área Piloto, com 27 moradias, colocando a reconstrução das 129 casas da Área 1 e as 116 unidades habitacionais, as 78 unidades do conjunto habitacional e as 19 habitações surgidas a partir de demandas posteriores, na ordem respectiva. 2ª FASE – Esta etapa foi realizada no contexto de pós-ocupação, e teve seu plano de trabalho pautada nas oficinas, cursos e palestras para adaptação à nova realidade de vida dos habitantes, cujo conteúdo difundiu noções de preservação do espaço, das casas e dos equipamentos públicos afora atividades de reconstrução do convívio social dos indivíduos, para desenvolver o capital social, isto é o estoque de normas que promovem confiança e reciprocidade no processo de desenvolvimento econômico local. 3ª FASE – Etapa de construção e reforma dos equipamentos sociais, cuja meta é dinamizar a economia local e promover a geração de emprego e renda de acordo com as vocações econômicas da comunidade, através de iniciativas para reverter as condições de extrema pobreza. 4ª FASE – A meta principal da etapa final do projeto é conclusão das obras físicas e a autossuficiência econômica e financeira das atividades produtivas executadas nos equipamentos sociais. Por isso, o direcionamento dessa política pública ultrapassa os modelos tradicionais de intervenção por que entende que a autonomia é alcançada quando a comunidade desenvolve uma estratégia de governança participativa e incentivadora de iniciativas empreendedoras e de inovação de produtos, negócios, processos e serviços. Dessa forma, a construção de um modelo de gestão voltado à transformação do território deve ser delineada por múltiplos fatores, dentre os quais são decisivos: a convergência de objetivos; o entendimento por todos os atores das questões e desafios envolvidos; a criação de laços de IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 982 confiança por meio de um processo de gestão ético, transparente e democrático, que conduza à equidade, racionalidade e eficiência na tomada de decisões; e a construção de um sentido de identidade e uma unidade de atuação harmônica de corresponsabilidade. 7. RESULTADOS Os conceitos e estratégias de planejamento e gestão participativos foram úteis para a transformação do território da ZEIS Ilha de Deus e inserção na trajetória do desenvolvimento econômico local, uma nova perspectiva que coaduna o crescimento e o desenvolvimento econômico ao escopo local. A partir de 2014, o projeto entra na transição da 3ª para a 4ª etapa, em que pese à conclusão de 94 unidades habitacionais. Com base nas informações disponibilizadas pela SEPLAG, o Projeto Urbanístico entregou a ponte que é a única via de acesso terrestre à Ilha, intitulada “Vitória das Mulheres” com 216,20 metros. Os resultados físicos dos projetos habitacionais já alcançam 74,5% das obras concluídas, o que significa a entrega de 275 das 369 unidades habitacionais programadas, sendo 150 unidades habitacionais duplex com dois quartos para o grupo de famílias com até 6 pessoas, 27 unidades habitacionais térreas com dois quartos para grupos de famílias com até 6 pessoas e que pelo menos um tinha necessidades de acessibilidade (idosos ou necessidades especiais), 4 unidades habitacionais térreas com 3 quartos para grupos de famílias com até 10 pessoas e que pelo menos um tinha necessidades de acessibilidade (idosos ou necessidades especiais), 16 unidades habitacionais mistas, que contemplou a moradia e o espaço para desenvolvimento de comércio. Ainda no Conjunto Habitacional localizado próximo à Ilha de Deus, foram entregues 78 unidades habitacionais duplex com três quartos para o grupo de famílias que optaram em residir do lado do continente (Ver FIGURA 03). IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 983 FIGURA 03 E 04: CONJUNTO HABITACIONAL – VILA DA IMBIRIBEIRA. Fonte: Secretaria de Planejamento e Gestão de Pernambuco- SEPLAG A oferta dos serviços públicos foi incrementada nos seguintes quesitos: a) saneamento e abastecimento d’água, com a construção de 02 (duas) estações elevatórias de esgoto, uma torre piezométrica de água conectada a rede de abastecimento da Companhia Pernambucana de Saneamento (COMPESA) e 02 (dois) emissários de esgoto; b )iluminação pública, com a instalação de postes e da rede elétrica com tarifa social; c) limpeza urbana, execução da coleta de lixo periódica e manutenção das vias públicas de acesso; d) Segurança, com a criação de um núcleo de monitoramentoda Política Militar; e) educação, creche, escola municipal; f) Saúde, criação do posto de saúde Unidade de Saúde da Família. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 984 FIGURA 05: FOTO EM JUNHO DE 2012 - CASAS ENTREGUES EM DEZEMBRO 2010. Fonte: Secretaria de Planejamento e Gestão de Pernambuco- SEPLAG As entregas físicas para o projeto de desenvolvimento econômico local foram concluídas com as obras de construção e reconstrução dos Equipamentos Sociais: Caranguejo-Uçá, Centro Educacional Popular Saber Viver, Escola de Remo, Unidade de Beneficiamento de Pescado e Centro Vida II. Ações de resgate ambiental foram significativas para contribuir com a conciliação entre o homem e os recursos naturais, os resultados consolidados foram à replantação de 20.100 mudas de espécies nativas da região (aproximadamente na extensão de 1,7 hectare). Os principais obstáculos encontrados na gestão do Plano de Ação foram os seguintes: a) Necessidade de escalonamento na execução das obras civis visto que, durante o tempo em que foram realizadas as intervenções em cada uma das Áreas, foi necessário remover provisoriamente a população do local, enquanto a outra parte da comunidade permanecia em suas residências. Essas dificuldades foram superadas com a concessão de auxílio moradia aos habitantes provisoriamente realocados, além da realização de reuniões periódicas com a comunidade que não foi realocada, visando informar sobre o andamento das IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 985 obras, conscientizando-as quanto à não circulação nos canteiros e o esclarecimento de duvidas; b) Atrasos nas obras devido à opção de contratar moradores da própria comunidade como operários. Essa abordagem, apesar de fazer parte da estratégia de incluir a comunidade do Projeto, trouxe problemas oriundos da falta de qualificação dessa mão de obra para a construção civil. Para minimizar esse problema foi realizada articulação junto à construtora e à Secretaria de Trabalho, Qualificação e Empreendedorismo (STQE) para qualificação da mão de obra; c) Por ser uma intervenção realizada em uma ilha, a logística foi complexa. A ponte construída só suporta passagem de carros de pequeno e médio portes. O transporte dos materiais e máquinas necessários às obras dependia do regime de marés e era realizado por balsas e pequenas embarcações. Com isso, os custos gerais foram mais elevados do que em outros projetos de habitação/urbanização. Para minimizar esse problema, foram adotadas ações como a dragagem de canais para navegação das balsas e a otimização do transporte nos horários de marés. Portanto, o Plano de Ação Integrada de Investimentos é o resultado de um exercício de planejamento inovador, voltado para as novas determinações de desenvolvimento, que trouxe benefícios e oportunidades consolidados para superar as condições emergenciais de extrema pobreza no curto prazo, visando a garantia, no médio e longo prazo, da autonomia e a sustentabilidade financeira e econômica através da incubação e aceleração das iniciativas empreendedoras. 10. CONCLUSÕES Segundo JONES (2000): “Uma diferença crítica entre a astronomia e economia, obviamente, é que o ‘universo’ econômico pode ser potencialmente recriado pela política econômica. Diferentemente do relojoeiro que fabrica um relógio e então o deixa funcionando, os formuladores da política econômica estão sempre moldando a trajetória do crescimento e do desenvolvimento.” (JONES, 2000: 3) IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 986 Nesse caso, a principal conclusão é que a política pública de transformação do território aplicada nos projetos do Plano de Ação Integrada de Investimentos permitiu aos politic-makersdelinear a trajetória da ZEIS Ilha de Deus para o caminho do crescimento e do desenvolvimento econômico e humano. O aspecto mais relevante, sem dúvida, foram o rompimento do círculo vicioso da pobreza através de um planejamento e gestão integrado e intersetorial com uma abordagem metodológica multidimensional e participativa. Esses quatro valores, são antes os pilares deste modelo de intervenção territorial, do que diretrizes políticas globais a serem fielmente replicadas em outros espaços sem considerar as peculiaridades locais. O trabalho não pretende encerrar o debate, e sim fomentá-lo. A estratégia de desenvolvimento local já entregou mais de dois terços das habitações, incluindo uma ampla gama de equipamentos públicos (educação, saúde, segurança) e equipamentos sociais (Espaços das Organizações Não Governamentais) além da expansãona oferta de serviços públicos de iluminação, abastecimento e saneamento d’água, limpeza urbana, policiamento, manutenção das vias públicas, serviços de postagem. Esse modelo de intervenção não havia sido experimentado outrora no Estado, por isso considera-se que o modelo inovador de gestão, em que os projetos com foco no desenvolvimento humano e sustentabilidade ambiental são executados em caráter colaborativo, via debate e eleição da comunidade. A metodologia de reassentamento foi outro elemento relevante, diferente das práticas dos sorteios dos programas tradicionais de habitação, o projeto físico integrado ao social optou junto à comunidade manter a identidade com o espaço original que resultou na escolha das moradias observando os laços de vizinhança, local de origem e condições de vulnerabilidade na moradia provisória. O modelo também se mostra inovador na medida em que, no escopo das obras e serviços ofertados pelo Poder Público às comunidades, foram contempladas também, a montagem de incubadoras ou aceleradoras na própria comunidade, voltados para a transferência de tecnologia em atividades produtivas já desenvolvidas no local, incrementando o desenvolvimento econômico da comunidade, o impulso à produção local, o desenvolvimento da gestão dos negócios e a colocação dos produtos no mercado. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 987 Em consonância com esse aspecto a proposta de pesquisa pretendeu, portanto, ampliar o debate sobre as formas de (re)conhecer políticas públicas com foco no Desenvolvimento Local e, principalmente, socializar essas experiências como ferramenta e colaboração na troca de saberes entre a consolidação de outras políticas públicas, outras organizações de assessoria, gestores públicos e, principalmente, submeter à apreciação dos (atores) interessados no tema na esperança da colaboração para o aperfeiçoamento de estudos (comparados) futuros sobre a temática dos sistemas alternativos de produção. Dessa forma, esperamos poder contribuir humildemente para ampliar o conhecimento e o debate em torno das transformações sociais que as políticas públicas com foco no Desenvolvimento Local Sustentável vem fazendo em muitas partes do Brasil, aqui apresentando uma análise mais aprofundada dos aspectos atuais e atuantes voltados para a realidade da Ação Integrada de Investimentos para a ZEIS Ilha de Deus, cidade do Recife – Pernambuco, nordeste do Brasil. REFERÊNCIAS ALVIM, Angélica A. T. Benatti Alvim; KATO, Volia R. C.; BRUNA, Gilda Collet (2012). “Políticas urbanas e ambientais em áreas protegidas: percurso para uma integração possível”, in Política pública, rede social e território. Rio de Janeiro: Letra Capital. ACSELRAD, H. (2003); Sustentabilidade e Desenvolvimento: modelos, processos e relações .In: Série Cadernos de Debate Brasil Sustentável e Democrático, n. 4, Rio de Janeiro: FASE. CATTANI, Antônio David (Org.) (2003). A outra economia. Porto Alegre: Ed. Veraz, 306p. 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FADE/GOVERNO DE PERNAMBUCO/PCR (2007). Pesquisa sobre a Ilha de Deus realizada pelo Governo de Pernambuco e Prefeitura do Recife em 2007. FERNANDES, Valdir; SAMPAIO, Carlos A. C (2006). Formulação de estratégias de desenvolvimento baseado no conhecimento local. RAE-eletrônica, São Paulo, v. 5, n. 2, Art. 11. JONES, Charles I (2000). Introdução à teoria do crescimento econômico. 13 ed. Rio de Janeiro: Elsevier. LEROY, J.P: SILVESTRE, D.R. Plataforma Brasileira de Direitos Humanos Econômicos, Sociais e Culturais. Populações litorâneas ameaçadas: carcinicultura, pesca industrial, turismo, empreendimentos públicos e poluição [S.I.] Relatório Nacional para o Direito ao Meio Ambiente, 2004. SANTOS, BOAVENTURA DE SOUSA (org.) (2005). Produzir para viver – os caminhos da produção não capitalista. Coleção Reinventar a Emancipação Social: para novos manifestos. Ed. Civilização Brasileira, 2ª Edição, Rio de Janeiro. SANTOS, BOAVENTURA DE SOUSA.; MENESES, M. P.; NUNES, J. A. 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Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 990 ESTRUTURAÇÃO DE UM PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO PARA APLICAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA AMAZÔNIA PARAENSE André Cutrim Carvalho22 Maurício Aguiar Serra23 José Maria Ferreira Jardim da Silveira24 Auristela Correa Castro25 RESUMO :O presente artigo procura justificar o estabelecimento de taxas hipotéticas de crescimento do PIB da economia do Estado do Pará, também conhecida como Amazônia Paraense, para os próximos anos, e o montante do investimento necessário para levar adiante a implementação de um projeto estadual de desenvolvimento sustentável. Para inserção desse projeto de desenvolvimento sustentável, ao mesmo tempo sócio-econômico e sócio-ambiental, é preciso romper com o arcaico círculo vicioso da pobreza e da destruição da natureza, substituindo pelo círculo virtuoso do crescimento com distribuição de renda e preservação ambiental. Os resultados obtidos através do método de simulação determinística, usando o modelo de Harrod-Domar, pode identificar que deduzindo o produto da economia, o investimento e a variação estoque de capital, é possível determinar a soma dos gastos em consumo e investimento privado e público, entre 2007-2010, dentro das restrições orçamentárias do Amazônia Paraense, portanto, para a economia paraense crescer, e mudar a sua estrutura produtiva, deve investir nos setores econômicos que possuem potencial para formar Arranjos Produtivos Locais de base sustentável. Palavras-chave: crescimento do PIB; desenvolvimento sustentável; modelo de Harrod-Domar. ABSTRACT: This articleseeks to justifythe establishmentof hypotheticalgrowth rates oftheeconomyof the State ofPará, also known asthe Amazon of ParáGDPin the coming years, andthe amount of investmentneeded tocarry out implementationofa statewideproject of sustainabledevelopment.Toinsertthissustainable development projectat the sametimesocio-economic and socio-environmental, it is necessary to breakwiththe archaicvicious circle of povertyand the destructionof nature, substituting thevirtuous circleof growth withincome distribution andenvironmental preservation. The results obtainedby the method ofdeterministicsimulation, using 22 Prof. Dr. FACECON/UFPA. E-mail: [email protected]; Telefone: 91-32468712 e 91-81434797 Prof. Dr.IE/UNICAMP. E-mail: [email protected] 24 Prof. Dr. IE/UNICAMP. E-mail: [email protected] 25 Esp. PCEDR/UFOPA. E-mail: [email protected] 23 IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 991 theHarrod-Domarmodel, whichcan identifythe productby deductingthe economy, investment andcapitalstockvariation, it is possible to determinethe sumof consumer spendingand private investmentandpublicbetween2007-2010, within thebudget constraintsof theAmazonPará, thereforeParáeconomytogrow,and changeits production structureshould investin economic sectorsthathave the potentialto formclusters of smallsustainablebasis. Keywords: GDP growth, sustainable development, modelHarrod-Domar. INTRODUÇÃO O ano de 2010 inaugurou uma nova etapa na política e na administração pública da história do Amazônia Paraense. Essa afirmativa decorre do fato observado em relação ao aumento do grau de insatisfação com o descaso dos governos anteriores com grande parcela da população paraense que continuou marginalizada e alheia a um progresso que passava distante dela. A sociedade paraense, ao eleger o novo governo, deu um claro recado com os seus votos: queremos emprego, segurança social, educação, saúde, qualidade de vida, transportes urbanos com mais qualidade, energia, saneamento e, principalmente, preservação inteligente dos nossos recursos naturais e ambientais. A fase de maior pujança do desenvolvimento da economia brasileira e da Amazônia, sobretudo nas fases históricas da industrialização tardia, ocorreu quando o Estado fez uso do planejamento estratégico de longo prazo. Mas, desde os anos 80, as experiências ortodoxas e heterodoxas desastrosas no combate a inflação levaram ao esquecimento do planejamento estratégico. Na verdade, chegou-se a confundir os planos de estabilizações com planos de desenvolvimento, isto porque a ideologia liberal inculcou na elite brasileira que bastava estabilizar os preços da economia para que as forças do mercado promovessem o crescimento econômico. Ledo engano, a economia brasileira, por razões históricas, não pode prescindir ainda do Estado. Destacada a importância do planejamento estratégico como um processo, e não apenas como um plano de desenvolvimento percebe-se, então, que a elaboração de um plano de desenvolvimento estratégico deve-se partir de uma determinada taxa hipotética de crescimento da economia que se deseja transformar de acordo com os anseios da sociedade. O estabelecimento de taxas de crescimento econômico para determinada economia, e a IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 992 necessidade da antecipação da taxa de investimento desejável, requer algum tipo de exercício prospectivo que leve em conta o futuro. Para atender os objetivos, este artigo foi organizado em quatro seções: na primeira, discutem-se os princípios do planejamento estratégico de longo prazo; na segunda, discorre-se sobre os aspectos históricos e conceituais do desenvolvimento sustentável, além das estratégias de sustentabilidade que devem ser adotadas no longo prazo para a economia paraense; na terceira apresenta-se o modelo de crescimento macroeconômico de longo prazo de Harrod-Domar; por fim, explica-se a metodologia utilizada para se formular as metas dos investimentos, bem como os resultados finais. 1. PRINCÍPIOS DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DE LONGO PRAZO É claro que é importante avaliar algumas variantes do crescimento do PIB, mas em cada uma delas a taxa de crescimento tem uma magnitude. Ademais, é preciso adotar algumas hipóteses sobre a estrutura de consumo de massa almejada e sobre a relação entre o consumo e o investimento não-produtivo. Tais hipóteses são importantes porque estabelecem, grosso modo, a divisão do PIB, pelo lado dos gastos, em investimento produtivo, investimento em capital social básico, gastos governamentais, consumo, aumento dos estoques e as exportações líquidas. O estabelecimento macroeconômico dessas variáveis, em grande parte, redefine a estrutura setorial pelo lado da demanda agregada, com destaque para o consumo e o investimento produtivo. Em grande parte, e não no seu todo, porque a estrutura setorial almejada de uma economia depende também das seguintes opções: i) escolha das alternativas tecnológicas com determinado efeito produtivo, por exemplo, a difícil opção entre investir numa grande usina hidrelétrica ou numa usina termoelétrica; ii) escolha de orientações do comércio exterior. Ambos os tipos de escolhas implicam em lidar com incertezas quanto ao futuro, escolhas estas que devem ser realizadas com base em investigações sobre a eficiência do investimento. Com isto se quer dizer que o significado de estratégia implica em tomadas de decisões cruciais e de escolhas de investimentos que não podem ser revistas sem altos custos. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 993 A projeção almejada de uma mudança estrutural do produto macroeconômico de uma economia requer um plano estratégico que considere: a) taxa de crescimento; b) estrutura de consumo e sua relação com o investimento; e c) eficiência dos métodos de produção alternativos e da orientação do comércio exterior. Pelo exposto, percebe-se que é inapropriado o método de iniciar o planejamento estratégico a partir de taxas de crescimento dos setores específicos de uma economia. De fato, as taxas de crescimento dos setores produtivos específicos de uma economia determinam a taxa de crescimento da economia como um todo, ou seja, o PIB de uma dada economia é igual à soma do produto líquido de todos os setores dessa economia. Afinal, para fins do planejamento estratégico, não se pode assegura com certeza que as taxas previstas de crescimento dos PIB’s setoriais no plano, ex ante, poderão ser iguais as taxas reais de crescimento dos setores, ex post. Essas condições de escassez ou excessos, que podem aparecer no futuro, poderão ser mitigadas se for levado na devida conta, no planejamento estratégico de longo prazo, o princípio do realismo do plano durante as fases de elaboração e implementação dos planos de médio e curto prazo – os planos plurianuais e anuais. O fato de a produção industrial crescer a uma taxa mais rápida do que a taxa de produção agrícola ou vice-versa resulta das seguintes causas: a) ao se ampliar o nível de vida de uma sociedade, o consumo de massa dos produtos indústrias cresce mais rápido do que o consumo dos bens agrícolas; b) quando se trata de economias subdesenvolvidas, seja nacionais ou regionais, frequentemente ocorrem à substituição de bens finais importados por bens finais produzidos dentro da economia que teve sua estrutura produtiva transformada pela indução do planejamento estratégico; e, c) por fim, quando se deseja acelerar o crescimento do PIB de uma economia, a participação relativa do investimento produtivo aumenta, o que acaba causando um aumento da participação do setor industrial no PIB. Consequentemente, a recorrência ao planejamento estratégico visando à mudança da estrutura produtiva de uma economia agrária de base artesanal, para uma economia urbana de base industrial, não deve ser concebida pela destruição da primeira, mas, ao contrário, pelo seu fortalecimento tecnológico capaz de permitir a elevação da produtividade do setor IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 994 agrícola. Para isso, entretanto, deve-se buscar sempre a ação transformadora da indústria. Não obstante, não é o processo de industrialização da economia urbana e rural que deverá determinar a concepção do plano de desenvolvimento estratégico, mas, ao contrário, as exigências das ações transformadoras do plano de desenvolvimento estratégico de longo prazo, o elemento imperativo, o postulado da industrialização e da agroindustrialização de uma economia. Neste particular, é importante observar o princípio da eficiência dos investimentos planejados se quer obter uma determinada taxa de crescimento do PIB de uma economia com o suporte dos gastos de investimentos, mas sem se descuidar do equilíbrio do balanço da força de trabalho e do balanço do comércio exterior, principalmente naquelas economias onde o mercado de trabalho pode colapsar por excesso ou escassez de mão-de-obra. Não se deve esquecer que quanto menor for o volume dos gastos do investimento produtivo indutor do aumento da renda, maior será a parte desse aumento da renda que poderá ser destinada ao consumo de massa e ao investimento em capital social básico. É importante frisar, entretanto, que os gastos de investimentos em geral provocam um duplo efeito numa economia o qual se manifesta por intermédio do efeito multiplicador – com o aumento da demanda agregada e, portanto, da renda – e do efeito acelerador que se manifestaatravés do aumento da capacidade produtiva. Além disso, como é o investimento produtivo o principal impulsionador do nível da renda agregada, o aumento desta contribui para o aumento da poupança. Portanto, não faz sentido social algum poupar força de trabalho por meio da introdução de uma cara e sofisticada tecnologia intensiva de capital, numa economia que ainda usa uma tecnologia de base artesanal – ainda que tal substituição venha elevar a produtividade da força de trabalho – se puder obter o mesmo resultado com alguma adaptação da tecnologia intensiva de trabalho. A escolha correta da melhor tecnologia deve ser indicada não necessariamente pela compra dos mais caros e sofisticados equipamentos importados das economias avançadas, mas pelo cálculo da eficiência do investimento. De fato, vale lembrar que uma produção barata depende não apenas da poupança da força de trabalho, como é próprio das tecnologias intensivas de capital e poupadoras de mão- IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 995 de-obra, mas também dos gastos de investimentos, pois uma economia carente de financiamento dos investimentos não pode arriscar desestabilizar o equilíbrio existente da força de trabalho. Afinal, pode-se conseguir, por intermédio do plano estratégico, modernizar os estabelecimentos existentes – sem destruir as estruturas existentes e sem desperdiçar ou expulsar a força de trabalho do campo para a cidade – e ainda ampliar a capacidade produtiva com gastos de investimentos relativamente pequenos. A questão da eficiência do investimento também está associada ao equilíbrio no balanço do comércio exterior: tanto dos investimentos pró-exportações quanto daqueles destinados às substituições de importações. O aumento extremado dos gastos de investimentos em algum setor – por exemplo em infraestrutura portuária e logística – visando melhorar o desempenho das exportações de produtos de baixo valor agregado pode contribuir à elevação da taxa de crescimento do PIB, porém pode elevar as importações a um ponto tal que pode romper com sensível equilíbrio do comércio exterior. Deste modo, mais uma vez, é posto o problema das decisões cruciais, pois se os produtos exportados são de elevado valor agregado e/ou de bens altamente perecíveis, aí sim vale a pena realizar os investimentos na ampliação e modernização da infraestrutura portuária e na logística. Todavia, se esse não for o caso, então a criatividade inovadora por investimentos adequados e mais baratos, talvez seja a solução mais socialmente correta. Por isso, o planejador deve ficar atento ao princípio do realismo do plano estratégico que consiste em elaborá-lo de tal modo que o risco de sua implementação não seja tão grande no futuro. A segurança da implementação de um plano estratégico remete para a necessidade da economia manter alguma reserva estratégica, em forma de superávits no balanço de pagamento e também nas finanças públicas, para assim evitar alguma surpresa futura sobre a moeda por parte de algum grande especulador ou problemas de financiamento dos investimentos por meio de dívida pública.Além disso, manter reservas em divisas ou nas contas públicas é conveniente devido as possíveis oscilações abruptas de curto prazo no comércio exterior ou na receita tributária. Há que se ter, portanto, uma preocupação não só com o investimento, mas também com o consumo. Quanto maior a taxa de crescimento do produto de uma dada economia, tanto IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 996 maior será o investimento. Como o investimento afeta positivamente a renda da economia, é certo que aumentando a renda e a propensão a consumir, o nível dos gastos de consumo irá também crescer e melhorar o nível de vida das pessoas. Mas se, no longo prazo, uma maior taxa de crescimento do investimento atua positivamente sobre o produto da economia; no curto prazo o aumento crescente da taxa de investimento pode comprometer o consumo de massa no presente em relação ao consumo no futuro. Daí porque é difícil a decisão a respeito da taxa de crescimento da renda nacional ou regional de uma economia, pois taxas muito altas almejadas de crescimento econômico podem ser tão irrealistas a ponto de comprometer a base dos planos otimistas, mas irrealistas. Apesar disso, desde que se evite o desperdício inconsequente e se cuide da eficiência do investimento dentro do princípio do realismo do plano, pode-se manter uma taxa de investimento a um nível moderadamente alto. Por tudo isso, a estratégia de desenvolvimento de longo prazo pressupõe decisões cruciais quanto à escolha dos setores produtivos, cadeias produtivas, arranjos produtivos locais (APLs) e regiões geoeconômicas onde o esforço pró-desenvolvimento socioeconômico deverá ser concentrado devido à limitação de recursos para assumir projetos grandiosos. Na economia paraense, quiçá seja mais prudente hoje se partir de algum ordenamento setorialterritorial para deslanchar um projeto de desenvolvimento sustentável. 2. ASPECTOS HISTÓRICOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Na década de 70, o debate em torno dos danos causados pelo crescimento econômico sobre o meio ambiente biofísico acabou relegando, para um segundo plano: os problemas socioeconômicos dos países em desenvolvimento e da periferia. De fato, diversos autores como Hardin (1968); Ehrlich (1986); Meadows (1972, 1992) observaram que a discussão sobre o meio ambiente gravitou em torno de dois problemas básicos: o primeiro, diz respeito à escassez dos recursos naturais e energéticos, e o segundo problema está relacionado com a explosão demográfica. Neste contexto, os defensores da “teoria do crescimento zero” procuravam demonstrar a interdependência da economia global e a insustentabilidade da “teoria do IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 997 crescimento sem limites” em face do risco de um possível esgotamento dos recursos naturais e energéticos, das dificuldades da produção de alimentos em escala suficiente para abastecer os centros urbanos e dos impactos irreversíveis da indústria e da agricultura moderna sobre o meio ambiente. Desta forma, uma longa trajetória histórica foi percorrida para a tomada de consciência em escala mundial sobre os grandes problemas do meio ambiente. De acordo com Sachs (1994, p. 29), o renomado Relatório de Founex, resultante da reunião convocada pela ONU como parte da preparação para a Conferência das Nações unidas sobre o Meio Ambiente de 1972, foi muito importante para a constituição de uma agenda sobre meio ambiente e desenvolvimento, na medida em que a polarização entre meio ambiente, representado pelo economicismo neoclássico de visão estreita, foi rejeitada. A polarização das questões sobre o meio ambiente e desenvolvimento, entre países centrais e periféricos, levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a realizar, em 1972, uma conferencia sobre o tema “Meio Ambiente e Desenvolvimento” na cidade de Estocolmo, na Suécia. Apesar das divergências entre os participantes do evento, o Relatório da Conferêcia de Estocolmo conseguiu estabelecer as bases metodológicas para se pensar os grandes problemas ambientais do mundo numa perspectiva global. Além do mais, tal relatório enfatizou a ideia da possibilidade da harmonização entre desenvolvimento e meio ambiente. Mesmo assim, apesar do reconhecimento de vivermos numa “Aldeia Global”, prevaleceu a política do “salve-se quem puder” na medida em que os países desenvolvidos adotaram uma postura individualista em que cada nação deveria levar adiante a sua própria política nacional para resolver os seus problemas internos. Com as crises do petróleo, no período de 1973 e 1974 e 1979 a 1980, têm-se uma alta generalizada dos preços das commodities minerais e agrícolas e dos produtos derivados do petróleo que vão alterar a postura individualista dos países desenvolvidos, pois estes passaram a levar a sério as previsões neomalthusianas do Relatório do Clube de Roma relativas à disponibilidade, acesso e controle dos recursos naturais básicos tão necessários à dinâmica do crescimento das economias dos países do “Primeiro Mundo”. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 998 No Simpósio de Cocoyoc26, no México em 1974, sobre Modelos de Utilização de Recursos, Meio Ambiente e Estratégias de Desenvolvimento, nota-se uma mudança de postura em torno da discussão das questões ambientais. De fato, a partir daí passa-se a reconhecer explicitamente que os grandes problemas ambientais urbanos e de destruição dos recursos naturais são causados, principalmente, pelos países industrializados do centro. Com isso, as propostas de política ambiental ganharam um contorno internacional na medida em que os países desenvolvidos passaram a aceitar o fato de que os problemas ambientais tinham de ser atacados através de ações conjuntas envolvendo todos os países da comunidade mundial. De fato, dentre as propostas, para os países em desenvolvimento, preconizava-se o combate à pobreza social, o aumento do fluxo do comércio exterior, a renegociação da dívida externa e a transferência da tecnologia. Contudo, essas ações não tomaram o curso desejado pelos países em desenvolvimento e essas propostas transformaramse em “letras mortas”. Na realidade, aos países desenvolvidos interessava apenas retirar suas economia da recessão e buscar uma saída para a continuação do pagamento da dívida externa por parte dos países em desenvolvimento. De acordo com Turner (1987), por volta do início da década de 80, num ambiente da segunda grande alta dos preços do petróleo, de uma recessão da economia mundial, do agravamento das dívidas dos países do terceiro mundo e do recrudescimento da Guerra Fria, tem-se a retomada da discussão da questão ambiental numa perspectiva global. É, justamente, tal “preocupação” que leva a criação e publicação do Relatório Final da Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNMAD), encomendado pela ONU a um grupo de especialistas. Este documento desenvolvido pela Comissão Brundland, ficou conhecido como Relatório Brundland ou o “Nosso Futuro Comum”, que qualificou melhor as características da hodierna crise ambiental e conferiu uma visão global dos problemas do meio ambiente. O relatório afirma que o inadequado uso e manejo dos recursos naturais e do meio ambiente no 26 A declaração de Cocoyoc é o resultado da reunião da UNCTAD (United NationsConferenceon Trade andDevelopment) e da UNEP (United NationsEnvironmentProgramme) IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 999 mundo têm uma forte relação com as desigualdades sociais no que tange à distribuição dos benefícios do desenvolvimento. Além disso, analisando o meio ambiente a um nível elevado de abstração, e não o reduzindo apenas o meio biofísico, o referido relatório consegue incorporar os meios econômicos e sociais com o intuito de popularizar o termo desenvolvimento sustentável, transformando em um conceito múltiplo dimensional, envolvendo um processo interativo das relações homem-homem, natureza-natureza e homem-sociedade, porém, com dificuldades operacionais para que seja formulado teórica e empiricamente. Os Relatórios de Brandt Comission (1980) e o The Global 2000 toPresident (1980) merecem destaque por já enfocarem a questão ambiental numa visão global, na qual são reveladas as grandes apreensões com o futuro da humanidade. Contudo, diferentemente do Relatório do Clube de Roma, as preocupações identificadas, quanto à explosão demográfica, esgotamento dos recursos naturais e destruição do meio ambiente, passaram a ser vistas nesses documentos oficiais como possíveis de serem enfrentadas pelo avanço do progresso da ciência e da tecnologia. 2.1. Desenvolvimento sustentável e suas definições Apesar do reconhecimento da complexidade e da gravidade dos desafios econômicos, sociais e ambientais, com que a humanidade se depara nos dias atuais, os documentos oficiais sobre meio ambiente e desenvolvimento – desde o Relatório Founex, passando pela Declaração de Estocolmo, pela Declaração de Cocoyoc, pelo Relatório Brundland, pela Declaração da ECO-92, até a Agenda 21 – passaram uma mensagem bastante otimista, ao contrário do Relatório do Clube de Roma, sobre a necessidade e a possibilidade de se planejar e implementar estratégias ambientalmente adequadas à um novo padrão ou estilo de desenvolvimento econômico, com justiça social e prudência ecológica, inicialmente denominado de ecodesenvolvimento por Sachs (1986) e que mais tarde foi batizado com a expressão desenvolvimento sustentável. Segundo o CMMAD (1988, p. 46), o “desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1000 atenderem a suas próprias necessidades”. Este genérico conceito de “Desenvolvimento Sustentável” contém dois pressupostos-básicos: i) o “conceito de “necessidades”, sobretudo as necessidades essenciais dos pobres do mundo, os quais devem receber a máxima prioridade; e ii) a noção de “limitações” que o estágio da tecnologia e da organização social impõem ao meio ambiente, impedindo-o de atender as necessidades presentes e futuras”. Neste sentido amplo, o conceito de desenvolvimento sustentável não se resume apenas a dimensão biofísica, mas incorpora as dimensões políticas, econômicas, tecnológicas, sociais e culturais, onde não pode haver desenvolvimento sustentável, nos países desenvolvidos ou nos países em desenvolvimento, enquanto as populações carentes não tiverem suas necessidades sociais básicas – sobretudo alimento, vestuário, habitação, emprego e lazer – plenamente atendidas. Talvez por isso mesmo é que nos países em desenvolvimento, onde predomina a miséria, a pobreza e a injustiça social, existe sempre a possibilidade de crises ecológicas, políticas, econômicas e sociais. Por certo, é importante que ocorram mudanças nas ações das instituições governamentais e não governamentais, bem como nas agencias internacionais promotoras do desenvolvimento socioeconômico. Para tal, a democracia é uma peça fundamental, para qualquer nação, na medida em que permite que o desenvolvimento socioeconômico, sobretudo dos países em desenvolvimento, possa ocorrer tanto pelo aumento da produção e do consumo de bens e serviços, quanto pela inserção de inovações tecnológicas capazes de harmonizar o aumento de produtividade com preservação ambiental. O desenvolvimento sustentável pressupõe um processo de mudança radical no qual espera-se que a exploração dos recursos naturais, a direção dos investimentos, a orientação tecnológica e as mudanças institucionais articulem-se de forma a atender às necessidades sociais e aspirações humanas das gerações presentes e futuras. Mas, para levar adiante tal intenção, não se deve olvidar que as nações ricas estão bem mais equipadas, com recursos financeiros e tecnológicos, do que as nações em desenvolvimento. Por isso mesmo, os países em desenvolvimento são os que mais sofrem com a deterioração dos seus ecossistemas, com a extinção das suas espécies vegetais e animais e, também, com o esgotamento precoce dos seus IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1001 recursos minerais, já que na hipótese do esgotamento ou destruição antecipada destes, o processo de industrialização desses países torna-se mais difícil e oneroso. Para Ignacy Sachs (2008), a questão do desenvolvimento envolve um “acordo” entre o Norte e o Sul em prol de “uma transição planetária para o Desenvolvimento Sustentável”, cujo conteúdo seria: a) estabelecer estratégias nacionais diferenciadas, mas complementares, no norte (mudando padrões de consumo e estilo de vida, reduzindo a dependência quanto a combustíveis de origem fóssil e diminuindo a “pegada” da minoria rica); b) no Sul, estratégias de desenvolvimento endógeno e inclusivas (em vez de transplante de modelos do Norte), propiciando um salto para uma civilização moderna, sustentável, com base na biomassa, “especialmente adequada aos países tropicais”; c) um acordo Norte/Sul a respeito do desenvolvimento sustentável, aumentando substancialmente o fluxo real de recursos do Norte para o Sul (por meio de ajuda), estimulando simultaneamente as economias em crise do Norte; d) um sistema internacional de impostos (sobre energia, pedágios para o uso de oceanos e espaço aéreos, e algum tipo de taxação sobre transações financeiras); por fim e) o gerenciamento das áreas globais de uso comum. Cabe ponderar que em muitos trabalhos, Sachs, frequentemente usa o conceito de ecodesenvolvimento e desenvolvimento sustentável como sinônimo. Sobre o conceito de ecodesenvolvimento, Romeiro (1999) discute que o progresso técnico efetivamente relativiza os limites ambientais, mas não os elimina e que o crescimento econômico é condição necessária, mas não suficiente para a eliminação da pobreza e disparidades sociais. O tempo joga a favor de uma atenuação da clivagem, de uma certa convergência entre as duas posições,numa certa medida, esta convergência se explica pelos efeitos contraditórios do progresso técnico e científico induzido pelo aumento da magnitude da pressão do sistema econômico sobre o meio ambiente: por um lado, a compreensão da ameaça de seus impactos ambientais globais fica mais clara (embora controvertida) – efeito estufa, destruição da camada de Ozônio, por outro, o aumento da eficiência na prospecção e na utilização dos recursos naturais, reduziu seus preços, desautorizando as previsões catastróficas do Clube de Roma. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1002 Deste modo, é evidente que existe um gap entre a “intenção e o gesto” para que o conceito de desenvolvimento sustentável, aceito como uma nova estratégia de desenvolvimento venha realmente a se constituir num novo paradigma do desenvolvimento e tenha embasamento teórico suficiente para sua aplicabilidade. Sendo que o próprio Relatório Brundland reconhece que é preciso que o mundo crie logo estratégias que permitam às nações substituírem seus atuais processos de crescimento, frequentemente destrutivos, pelo desenvolvimento sustentável. 2.2. Estratégia de desenvolvimento sustentável de longo prazo Percebe-se, portanto, que o desenvolvimento sustentável pressupõe um processo de mudança radical no qual se espera que a exploração dos recursos naturais, a direção dos investimentos, a orientação tecnológica e as mudanças institucionais articulem-se de forma a atender às necessidades sociais e aspirações humanas das gerações presentes e futuras, porém, para levar adiante tal intenção, não se deve olvidar que as nações ricas estão bem mais equipadas, com recursos financeiros e tecnológicos, do que as nações em desenvolvimento. Por isso mesmo, os países em desenvolvimento são os que mais sofrem com a deterioração dos seus ecossistemas, com a extinção das suas espécies vegetais e animais e, também, com o esgotamento precoce dos seus recursos minerais, já que na hipótese do esgotamento ou destruição antecipada destes, o processo de industrialização desses países torna-se mais difícil e oneroso. Como não poderia deixar de ser, o projeto de desenvolvimento sustentável da economia do Pará tem como referência inspiradora à Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR) sob o comando do governo federal, já que num regime federativo há que pensar o desenvolvimento numa perspectiva da integração nacional das regiões que fazem parte da geografia da nação brasileira, da mesma forma que no nível estadual o planejamento estratégico do desenvolvimento, sob o comando dos governos estaduais, tem que buscar a integração estadual das sub-regiões que conformam os territórios dos estados. Entretanto, as especificidades históricas, geográficas e ecológicas do Pará impõem alguma especificidade no que tange a estratégia de desenvolvimento que contemple a IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1003 dimensão sócio-econômica e a dimensão sócio-ambiental. Neste sentido, um projeto nacional de desenvolvimento inter-regional e intra-regional requer uma aproximação da integração federal-estadual nos seguintes termos: a) Atuação articulada da estratégia estadual com a estratégia nacional; b) Atuação articulada da estratégia estadual com os interesses das subregiões que formam a geografia do Amazônia Paraense; c) Atuação estratégica definida a partir da coexistência de duas economias identificadas no espaço delimitado pelo macrozoneamento ecológico-econômico (MZEE). A economia do Amazônia Paraense não é uma economia autárquica. Sendo assim, o seu crescimento econômico depende, em parte, da dinâmica de crescimento da economia brasileira e da economia mundial. Logo, é importante tanto o aumento do ritmo de crescimento da economia brasileira quanto o apoio do governo federal utilizando o poderoso poder compra de suas empresas estatais e destinando seus gastos de investimentos para a economia paraense. 2.3. Macro-estratégias setoriais e territoriais A estratégia de desenvolvimento sustentável de longo prazo da economia paraense supõe um círculo virtuoso do crescimento econômico sustentado e sustentável por duas economias diferenciadas a partir do Macrozoneamento Ecológico-Econômico (MZEE) do Estado do Pará. A Amazônia Paraense possui um território de 1.247.689,6 km2, sendo que da área total paraense, 65% (810.998,18 km2), correspondem a zona de conservação ambiental; e os 35% (436.691,33 km2) restantes corresponde à zona de consolidação e expansão da economia do Pará. No âmbito da economia paraense, e tendo em conta a estratégia do enfoque do desenvolvimento sustentável, têm-se as seguintes macro-estratégias: a) Estimular a formação de cadeias produtivas por processos de horizontalização, verticalização e aglomeração da produção agropecuária, industrial, agroindustrial, mineral e agroflorestal; b) Promover o desenvolvimento do turismo rural e urbano; c) Desenvolver e difundir inovações tecnológicas alternativas compatíveis com o paradigma do desenvolvimento sustentável. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1004 Nos limites da zona de conservação ambiental, 4% (32.439,93 km2), será transformada em zona de consolidação e expansão de atividades produtivas, pois nela habitam comunidades indígenas e quilombolas que realizam atividades agroextrativas e produzem bens agropecuários nos padrões dos modos de produção pré-capitalistas. Já na zona de consolidação e expansão, delimitadas geograficamente pelo MZEE, estão às atividades produtoras rurais. Nesta área de consolidação e expansão, distinguem-se as atividades que produzem dentro dos padrões do modo de produção capitalista; e outras atividades, como a agricultura e a pecuária familiar, que produzem dentro de um padrão não-capitalista alternativo. A gestão setorial-territorial das duas zonas requer estratégias diferenciadas de desenvolvimento, já que elas guardam particularidades que exigem tratamento diferenciado. O grande desafio deve ser levar adiante um projeto de desenvolvimento estratégico de longo prazo que contemple a economia desses dois ambientes socioambientais. Na zona de consolidação e expansão, o esforço do governo estadual deverá ser orientado por dois objetivos: I) Diversificar e modernizar a matriz produtiva existente através: a) Do aumento do valor agregado dos produtos de base rural através da modernização da base produtiva e da verticalização agroindustrial das cadeias produtivas; b) Da promoção do desenvolvimento do turismo rural e urbano; c) Do estímulo para a formação de cadeias produtivas da indústria em geral, sobretudo da indústria mineral, por meio do processo de verticalização industrial; d) Do Apoio ao agronegócio diferenciado e regulado que respeite os limites do ecossistema; II) Apoiar as iniciativas de diversificação de produtos exportáveis de maior valor agregado III) Ampliar o mercado de consumo de massa com através: a) Apoio ao desenvolvimento da agricultura familiar na geração de alimentos; b) Apoio à formação de arranjos produtivos locais como prioridade da política industrial e de inovações tecnológicas. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1005 Na zona conservação ambiental a presença da nova economia socioambiental deverá receber todo o apoio do governo estadual com vistas a sua inserção na economia paraense através: a) Da produção de uma economia do excedente articulada ao resta da economia paraense; b) Da valorização dos produtos agroextrativos da natureza e da produção de alimentos e outros produtos agropecuários cultivados dentro da filosofia de conservação e proteção dos biomas e dos ecossistemas; c) Do aumento da oferta dos serviços públicos e sociais de qualidade com vistas a superar os limites dos baixos indicadores existentes. 2.4. Premissas do planejamento estratégico de longo prazo O projeto desenvolvimento estadual de desenvolvimento sustentável têm como principal objetivo à mudança da arcaica estrutura extrativa de baixo valor agregado, sem que isso implique em sua destruição, para uma moderna estrutura produtiva de produtora de mercadorias de alto valor agregado. Para isso, três premissas básicas servem para balizar o planejamento estratégico: a) a integração entre o macrozoneamento e o desenvolvimento sustentável da economia do Pará; b) p padrão de ocupação da terra e o projeto de desenvolvimento sustentável do Amazônia Paraense; c) definição das prioridades dos investimentos em determinados setores e territórios. Tendo esses aspectos como referência do planejamento estratégico de longo prazo, para realizar o exercício de prospecção, a título experimental, das taxas de crescimento do produto e do investimento para os próximos anos, passa se a explicitar o modelo macroeconômico de crescimento econômico que será utilizado para determinar a necessidade do volume de investimento para que a economia do Pará cresça com distribuição de renda e preservação ambiental. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1006 3. MODELO MACROECONÔMICO DE CRESCIMENTO DE LONGO PRAZO Neste trabalho, pretende-se utilizar um modelo pós-keynesiano. A suposição implícita e de que a expansão sustentada dos investimentos líquidos torna-se necessária para manter o aumento da renda e do emprego na economia, tendo em vista o crescimento da população. O objetivo dos modelos de crescimento econômico de longo prazo de inspiração keynesiana é de determinar a taxa de crescimento do produto compatível com o pleno emprego num ambiente sem inflação ou deflação. Neste sentido, três modelos foram desenhados por Harrod (1956), Kalecki (1968), Domar (1985). Assim, diferentemente dos modelos neoclássicos de crescimento, os modelos pós-keynesianos de crescimento econômico valorizam a importância estratégica do investimento para aumento da renda numa economia. 3.1. O modelo de crescimento Domar O modelo de crescimento de Domar (1985, p. 308) fundamenta-se no pressuposto de que a expansão continua dos gastos de investimentos, acompanhado por um aumento do estoque de moeda, é importante para se manter o nível de pleno emprego. O autor argumenta ainda que o aumento dos gastos de investimento seja mais eficiente do que os gastos de consumo porque não apenas geram renda pelo efeito multiplicador, como também aumentam a capacidade produtiva pelo efeito acelerador. O problema do crescimento, portanto, se resume em determinar uma taxa ideal de crescimento do investimento que possa manter o nível de pleno emprego, como lembra o próprio Domar (1956, p. 305-308) e Souza (1999, p. 155-159). Chamando de a relação entre a variação anual do produto real gerado por uma nova unidade de capital, que é o inverso da razão K/Y, e considerando essa relação constante, temse: Y S Y .I (1). Em que: Y S Y = oferta agregada = nível máximo potencial da renda ou do produto; I = investimento. Vamos supor que a capacidade produtiva ( Y S ) não possa aumentar de um valor I , mas sim de um valor I, com I < I , sendo a produtividade potencial social média do investimento, como destaca Adelman (1972) e Souza (1999, p.160-161). O valor refere-se à IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1007 taxa de mudança da capacidade potencial de produção do produto associada a determinado nível de investimento, tal que: Y . Donde Y ..I (2) I A equação (2) é uma descrição abrangente do lado da oferta agregada da economia. Disso implica que os fatores de produção, que não o capital e a tecnologia, são constantes. O nível verdadeiro do produto em qualquer ponto do tempo é determinado pelo processo do 1 multiplicador simples, tal que: Y D Y .I (3). Em termo de taxa de variação, a equação (3) s 1 1 pode ser escrita assim: Y D Y .I ou Y .I (4). Supondo que a economia esteja s s em equilíbrio em nível, ou seja, que a oferta agregada fosse igual à demanda agregada, o que significa igual às equações (2) e (4), tal que: Y Y , I 1 .I (5). s Nestas condições, pode-se supor que a oferta agregada ou produto potencial aumente de uma quantidade I, enquanto a demanda agregada crescerá em função do nível de investimento, tal que: Y D Y0 1 .I (6), em que: Y D = demanda agregada; Y0 = é a 1 b parcela da demanda agregada que independe do investimento; k = 1/1- b =1/s = é o multiplicador, o qual depende da propensão marginal a consumir (b) ou da propensão marginal a poupar. Nesse aspecto, autores como: Domar (1956) e Paz e Rodriguez (1972) observam que uma variação do investimento ( I ) produz um efeito multiplicador (k = 1/s) na demanda agregada, tal que: 1 Y D I s (7) Dada a propensão marginal a poupar de uma economia – em que propensão marginal a poupar é igual à propensão média a poupar, o que implica que a função consumo é linear e passa pela origem – a equação (5) implica em dizer que, para que uma economia cresça em pleno emprego, é necessário que a oferta agregada e a demanda agregada cresçam à mesma taxa, ou que a demanda agregada esgote a capacidade produtiva, ou seja: IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1008 1 I .I .I (8) ou ainda: s (9) . s I Segundo Jones (1979) através da equação (9), para que o crescimento de uma economia se realize com pleno emprego, os investimentos precisam crescer a uma taxa constante, dada por s, período a período. De fato, se s e são considerados constantes, a taxa de crescimento do investimento, que vai conservar o produto real igual ao produto máximo potencial, deverá ser uma taxa de investimento constante, I . I Integrando-se ambos os membros da equação (7), tem-se: dyd 1 dI . Resolvendo: s 1 Y D I (10) e dividindo-se a equação (7) pela equação (10), tem-se: s Y I (11) . Y I No modelo de Domar, nota-se que o crescimento com pleno emprego exige que tanto o produto quanto o investimento cresçam a uma taxa constante período após período, tal que: Y I .s (12). O parâmetro s depende tanto da propensão a poupar (s) quanto da Y I produtividade potencial social média do investimento (). Este último constitui uma aproximação do inverso da relação capital-produto (v) do modelo de Harrod que será visto a seguir. Portanto, quanto maior for a produtividade média do potencial social do investimento I e da taxa de poupança, tanto maior deverão ser a taxa de acumulação de capital e a taxa I Y de crescimento do produto para manter a economia no nível de pleno emprego, e vice Y versa. A manutenção do pleno emprego no longo prazo é possível, mas exige uma taxa de crescimento do investimento e do produto, tal que essas taxas coincidam com a taxa de IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1009 crescimento garantida. Entretanto, ocorrendo divergências entre as taxas de crescimento do investimento e do produto, manifestam-se o desemprego ou a inflação, logo a ocorrência de flutuações cíclicas torna-se uma possibilidade real nas economias de mercado. 3.2. Modelo de crescimento de Harrod O modelo de crescimento de Harrod apresenta três pressupostos básicos: a possibilidade de crescimento econômico em estado estável a pleno emprego; a improbabilidade de crescimento em estado estável a pleno emprego; e a instabilidade da taxa garantida. Além disso, o modelo de Harrod mostra-se mais complexo de que o modelo de Domar, por incluir as expectativas empresariais em função do investimento, colocando possíveis divergências entre as taxas reais de crescimento e as taxas de crescimento necessárias para garantir o crescimento do produto com pleno emprego. Harrod (1956) distingue entre poupança e investimento em termos ex ante e ex post. A poupança ex post é, por suposto, sempre igual ao investimento, S = I, e a poupança ex ante aparece como uma função da renda corrente do final do período t, que pode ser assim escrita: S t sYt (13). No modelo de Harrod, o problema consiste em saber o que determina o investimento ex ante, ou seja, o que influência o investimento planejamento (Ip) do empresário e também quais são as condições de realização do pleno emprego no longo prazo. Denominando o investimento planejado líquido (Ip), como dado pela variação do estoque de capital ( K ) num período de tempo, tal que possa ser assim escrito: Kt Kt 1 K I p (14). Na versão do modelo de Harrod (1956), a variação do estoque de capital é determinada por uma proporção constante (v) da variação do produto num dado período de tempo, tal como: K t K t 1 v(Yt Yt 1 ) ; K v(Yt Yt 1 ) . Em que: Ip v(Yt Yt 1 ) (15). A equação (15) toma apenas o investimento líquido, desconsiderando o investimento autônomo, de forma a captar o desejo de investimentos dos empresários, quando tomam suas decisões, como uma proporção da variação entre o produto final no tempo t e o produto final no tempo t-1. É claro que tal formulação pode gerar desvios da taxa de crescimento econômico de equilíbrio e isso pode IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1010 desencadear pressões inflacionárias ou deflacionárias, sustentam Harrod (1956); Jones (1979) e Souza (1999). De qualquer modo, a equação (15) sugere que quanto maior for a taxa de crescimento do produto, tanto maior será a expansão do estoque de capital (K). O próprio Harrod (1956) lembra que a equação (15) pressupõe a possibilidade de várias taxas de crescimento do produto e do estoque capital compatíveis com o coeficiente v constante. Contudo, para que a economia evolua no pleno emprego, ou seja, utilize plenamente a capacidade produtiva, é preciso uma taxa específica de crescimento do produto (Y) e do estoque de capital (K) chamada de taxa garantida de crescimento. A taxa garantida de crescimento, enquanto a taxa suficiente para esgotar a capacidade produtiva, supõe a igualdade entre o investimentoex post ( I t ) e o investimento ex ante ( I P ), bem como entre a poupança ex post e ( S t ) e a poupança ex ante ( Sp ), tal que: I p I t S p St sYt (16) . Nestas condições, pode-se agora igualar as equações (6) e (8), tal que: sYt v(Yt Yt 1 ) (17) ..::.. Yt Yt 1 s Y s ..::.. Yt v Yt v (18) A equação (18) é conhecida como a equação fundamental de Harrod, pois mostra que a taxa de crescimento econômico com pleno emprego no longo prazo depende da propensão a poupar e da relação capital-produto. A constante v mede a relação capital-produto, ou seja, a quantidade de capital necessária para gerar uma unidade de produto que capta o efeito acelerador representado pela variação do estoque de capital provocado pela variação do produto ou renda, e o efeito acelerador representa as expectativas dos empresários quanto aos seus negócios, e pelo efeito acelerador, o investimento não depende do nível do produto, mas da taxa de variação do produto. Qualquer variação do produto acelera a demanda por bens de capital, assim, quanto maior for a taxa de crescimento da economia, tanto maior será o ritmo de acumulação de capital. Por sua vez, o investimento é uma função da taxa de juros e do estoque de capital, IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1011 mas que, para simplificar, não serão incorporadas no modelo. Portanto, pela equação (18), para que o crescimento econômico se realize com pleno emprego, a taxa de crescimento do produto deverá crescer a uma taxa garantida s/v, uma taxa de crescimento específica com a qual todas as variáveis ficam ajustadas sem excesso ou escassez. Por integração da equação (18) pode-se expressar o nível do produto no tempo t, tal s s que: Lny(t ) dt (19) ..::.. Lny(t ) t Z , sendo Z = constante da integração. Além disso, v v s s Y (t ) exp t Z (20) ..::. Y (t ) exp Z exp t (21). Para o nível do produto no início do v v período, tem-se: s Y (0) Y (0) exp t , onde Y(0) denota um determinado nível inicial do produto. v Fica nítido que os modelos crescimento econômico de longo prazo de Harrod e Domar partem de uma base comum – a Teoria de John Maynard Keynes – e chegam a conclusões bem semelhantes: tanto a taxa de crescimento do produto quanto dos investimentos dependem, diretamente, da propensão a poupar e, inversamente, da relação capital-produto. No caso do modelo de Domar, mais por razões de natureza tecnológica (impossibilidade técnica de utilização plena de toda capacidade produtiva) do que problemas de rigidez dos preços dos fatores como no modelo de Harrod. O ponto essencial dos modelos de crescimento de longo prazo, inspirados na teoria keynesiana, é que o emprego depende da taxa de crescimento da renda ou produto e este da taxa de investimento e da propensão a poupar. Para Paz e Rodriguez (1972), quando ocorrem modificações nos parâmetros propensão a poupar (s) e na relação capital-produto (v), a hipótese de crescimento econômico com pleno emprego deixa de ser válida, pois mudanças nesses parâmetros alteram as taxas de investimento e de crescimento garantida e real do produto. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1012 4. SIMULAÇÃO EXPERIMENTAL DA APLICAÇÃO DO MODELO HARRODDOMAR O termo simulação é uma solução matemática de um dado conjunto simultâneo de equações em diferenças para uma equação reduzida, logo, um modelo de simulação é formado por um sistema de equações, tal como apresentado na seção anterior. A opção por uma simulação determinística e não por modelos econométricos de base estocástica, devida a ausência de dados em séries temporais, deve-se ao fato de que essa escolha se justa melhor ao propósito do “exercício experimental” de aplicação do modelo de Harrod-Domar. Para isso, assumiram-se determinadas hipóteses fortes visando realizar as projeções das variáveis macroeconômicas da economia paraense, para o período 2007-2010, tendo como ano base 2004. O mote central desta pesquisa foi realizar um exercício macroeconômico para verificar o comportamento de algumas variáveis no tempo, sob a hipótese da economia se mover no pleno emprego. As hipóteses assumidas para o caso da economia do Estado do Pará foram: a) Uma economia aberta e com governo do tipo Y = C + I + G + NX ; b) O ponto de partida é uma economia com um nível do produto(Y) no pleno emprego e um dado estoque de capital (K); c) Os ajustes econômicos ocorrem sem grandes defasagens; d) as variáveis macroeconômicas utilizadas foram: consumo das famílias (C), investimento privado (I), investimento público (G) e as exportações líquidas (NX); e) A propensão média a poupar de 0,2 é igual à propensão marginal a poupar , isto significa que a função consumo é linear e passa pela origem; f) A propensão marginal a consumir é de 0,8; g) A relação capital-produto, v = 2; h) foram deixados de fora os estoques de matérias-primas e insumos intermediários; i) Por fim, assume-se que o nível geral de preços permanece invariável. Com base nessas hipóteses e nas equações do modelo macroeconômico de HarrodDomar, montou-se a Tabela 1 que apresenta o comportamento final das variáveis agregadas com destaque para os gastos de consumo das famílias, de investimentos privados e os gastos governamentais. A taxa de crescimento do produto da economia do Pará em 2004 serviu de base para os esses cálculos. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1013 Em geral, há uma tendência natural de se querer acelerar o desenvolvimento de uma economia qualquer. Porém, há um número de fatores limitantes que deverão ser tomados em consideração. Desses fatores, o mais evidente é o fato de que quanto mais alta a taxa de crescimento, maior será a participação do investimento produtivo no produto da economia. Isto significa que quanto maior for o aumento da renda do estado, maior será o investimento necessário para se obtiver esse incremento sem considerarmos o excesso da capacidade produtiva. Tabela 1: Resultados da simulação da aplicação do modelo de Harrod-Domar para a economia da Amazônia Paraense Anos K Y Yr C I G NX 20731399 5182850 632441 7649987 2004 68393353 34196676 34196676 H=Yr- Y 0 2005 74208643 37104322 37104322 0 21041070 5768512 768343 9526397 2006 2007 80745498 87709498 40372749 43854749 40372749 43854749 0 0 26297213 22969153 5941567 6119814 1022433 1229714 13053103 13536068 2008 2009 95059026 103429596 47529513 51714798 47529513 51714798 0 0 24946072 27608577 6481356 6935051 1889214 2105527 14212871 15065643 56235087 56235087 0 29773781 7455179 2885888 2010 112470173 Fonte: SEPOF; BASA; ADA, e BNDES, Caixa Econômica. Valor dado em R$ 1.000,00. 16120238 No entanto, uma participação relativamente maior do investimento produtivo na renda estadual poderá afetar desfavoravelmente o consumo e os investimentos em capital social, se a fonte de financiamento dos investimentos públicos vier ocorrer através do aumento dos impostos ou por meio do endividamento público. A saída, portanto, seria a busca e uma parceria público-privada, como sugere Cruz e Pommeret (2006). Ademais, a um elevado nível da taxa de crescimento do produto, em geral, o saldo positivo do comércio exterior pode ser revertido pelo aumento da demanda por insumos intermediários e bens de capital produzidos fora da economia. Na construção de um plano estratégico de longo prazo, a escolha de uma taxa de crescimento alta à luz da experiência passada e à luz da experiência de outros estados, a exemplo do Ceará, Bahia e Minas Gerais, é apenas uma variante preliminar. Ainda assim, IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1014 deliberadamente, escolheram-se as taxas mais elevadas porque poderão ser reduzidas na etapa seguinte do teste preliminar. Quanto ao coeficiente capital-produto – que relaciona a variação do estoque de capital com a variação do produto – este foi derivado com base na experiência passada e de outros estados. De qualquer maneira, é impossível se conseguir para fins de estimação, neste momento, mais do que uma razoável aproximação porque o coeficiente de capital depende, em grande parte, da estrutura do aumento da produção a qual pode diferir consideravelmente tanto da existente no passado quanto das experiências de outros estados da federação. Assim, deduzindo-se do produto da economia, o investimento e a variação estoque de capital, foi possível determinar a soma dos gastos em consumo e investimento privado e público, entre 2007-2010, dentro das restrições orçamentárias do estado. Pelo visto, a economia paraense, para crescer e mudar a sua estrutura produtiva deve investir nos setores econômicos que possuem potencial para formar APLs. Analisando-se os dados da Tabela 2, nota-se que o crescimento do PIB da economia do Pará, acompanhado da mudança produtiva pretendida, requer gastos com investimentos produtivos da ordem de R$ 35 bilhões. Deste valor, R$ 27 bilhões correspondem a cota dos investimentos privados e R$ 8 bilhões a dos investimentos públicos, para os próximos quatro anos. Tabela 2: Participação relativa do PIB_Pará em relação ao PIB_Brasil (%) Anos 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 PIB-PA (R$ bilhões) 34 37 40 44 48 52 56 PIB-BR (R$ bilhões) 1770 1940 2012 2103 2208 2318 2434 PIB-PA/PIB-BR ( % ) 1,9 1,9 2,0 2,1 2,2 2,2 2,3 Fonte: IBGE. O problema crucial da economia do Pará é: como prover os recursos necessários para financiar os gastos de investimentos para acelerar a expansão da capacidade produtiva IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1015 indispensável para o rápido crescimento do produto ou renda da economia do estado? Na verdade, a persistir nos próximos anos os fundamentos macroeconômicos que estão sinalizando para um novo ciclo expansivo da economia brasileira e mundial, então é possível afirmar que são boas as chances da economia do Pará crescer a uma taxa de crescimento do seu PIB superior a taxa de crescimento da economia do país. Se isso ocorrer, os resultados das projeções calculadas às variáveis macroeconômicas da economia do Pará assegurarão um suave aumento da participação do PIB do Amazônia Paraense em relação ao PIB do Brasil. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nota-se que a economia política do desenvolvimento sustentável busca conciliar crescimento econômico, política econômica e meio ambiente. No entanto, é de bom alvitre não se confundir desenvolvimento econômico sustentado com desenvolvimento econômico sustentável, já que este último não se reduz apenas a crescimento, e sustentabilidade não quer dizer somente manutenção do crescimento, mas, a interação e iteração entre o uso racional dos recursos naturais renováveis do meio ambiente e a necessidade do crescimento econômico auto-sustentado, que talvez seja a principal questão econômica dos dias atuais. Assim, a proposição de que é necessário e possível intervir e direcionar o processo de desenvolvimento econômico de modo a conciliar eficiência econômica, equidade social e prudência ecológica, passa a ter uma aceitação generalizada. Entretanto, como era previsível, as divergências continuam principalmente no que concerne aos mecanismos dessa intervenção, as quais estão relacionadas principalmente ao entendimento do inevitável trade of entre crescimento econômico e meio ambiente. Além disso, na atual conjuntura, a abordagem da sustentabilidade como única alternativa aceitável do desenvolvimento regional do futuro e o conceito de conservação produtiva compete com a ideologia de desenvolvimento extremamente destrutivo por parte de algumas empresas. Isso pode ser observado, por exemplo, na região Norte, onde por muitos anos, a exploração de recursos naturais na Amazônia foi fortemente impregnada de abusos e realizada, frequentemente, de forma ilegal, onde se observa que crescentes tensões sociais colaboram para a irradiação de violentos conflitos. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1016 Para que a economia paraense aproveite esse novo ciclo de crescimento da economia mundial é preciso levar em consideração alguns gargalhos existentes. Nesse sentido, é bom explicitar, de forma sumária, três obstáculos que um plano de desenvolvimento de longo prazo deve enfrentar: 1) é possível que o investimento privado previsto não se efetive a taxa desejável pelo Estado-planejador; 2) poderá haver deficiência de recursos materiais para produzir o incremento adicional de bens de investimentos na escala exigida pelo plano; e, 3) mesmo que essas duas dificuldades sejam superadas, haverá o problema do suprimento adequado de mercadorias essenciais de consumo de massa para cobrir o aumento da demanda de bens assalariados, sobretudo de alimentos, decorrente do aumento do emprego que antever, a não ser que o Estado-planejador recorra às economias geradoras de excedente – a exemplo das economias comunitárias camponesas e indígenas. É evidente que um elevado nível de investimento privado não é fácil de conseguir, mas, pode-se supor que, toda vez que o investimento privado fracasse ou se recuse a colaborar, o governo poderia se antecipar para que o investimento total previsto alcance o nível desejado. Além disso, os investimentos privados da indústria de construção civil deverão ser significativos nos próximos quatro anos, afinal, o aumento da taxa investimento privado e público é importante à elevação do nível de emprego e da renda. Por sua vez, o aumento da renda agregada exercerá uma forte pressão por bens de consumo assalariado, sobretudo os alimentos, cujos preços poderão se elevar se a economia rural tradicional – produtora de alimentos – não for conectada com a economia moderna de forma que se possa ter, de um lado, um consumo de massa de alimentos e, de outro, um “mercado externo”, no sentido da Rosa Luxemburgo, para os bens e serviços da economia moderna. Esses problemas, contudo, poderão ser manejáveis se forem considerados em termos de um planejamento estratégico e participativo de longo prazo, ao invés de uma acelerada taxa de expansão da capacidade produtiva no curto prazo. Ademais, num plano prospectivo de longo prazo, pode-se rever o ritmo da taxa de crescimento do investimento em relação ao produto, bem como o crescimento gradual da produção dos bens de consumo de massa. Por fim, cabe mencionar o problema do financiamento dos investimentos. Neste caso, o principal problema do desenvolvimento é o da adequação do aumento da produção IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1017 agrícola a necessidade de crédito bancário. A chave do financiamento de um crescimento mais acelerado é a remoção dos obstáculos à expansão da agricultura, sobretudo os ligados à propriedade da terra e o estado de dominação dos micros e pequenos agricultores familiares pelo capital mercantil representado pelo capital comercial e usurário que lhes antecipam dinheiro. REFERÊNCIAS ADELMAN, I..Teorias do desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro, Forense, 1972. ALLEN, R.G. Theorié macroéconomique.une etude mathématique.Paris, A. Colin, 1969. BRANDT COMISSION.North – South: A programme for survival. Apud: Turner, R.K. Sustainable Global Futures, Cammon Interest, Interdependency, Complexity and Global Possibilities, Futures, 19(5), p. 574-582, 1987. COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO - CNMAD. Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: FGV, 1988. CRUZ, B. O.; POMMERET, A. Public capital and private investiment, a real option approach.Texto para Discussão N. 1177. Brasília, IPEA, 2006. DOMAR, E. Expansão e emprego. 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Como forma de tornar isso possível, utilizamos a matriz FOFA e a construção de cenários econômicos com pontos positivos e negativos das atividades a serem desenvolvidas no município. Os resultados do planejamento identificaram áreas com potencialidades para o turismo e para a agricultura bem como indicaram o desenvolvimento na produção agrícola como fator do desenvolvimento articulado com as atividades turísticas. Palavras-chave: Ordenamento Territorial, Agricultura, Turismo Introdução A Microrregião do entorno de Brasília é composta por 20 municípios, com 1.164.835 habitantes segundo estimativas de 2014 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE -. Na porção oeste localiza-se o município de Santo Antônio do Descoberto, com 69.000 habitantes e densidade demográfica de 66,99 hab/km (IBGE, 2014). É a porção do território goiano na qual foi construída a represa de Corumbá IV e que tem o município de Santo Antônio do Descoberto com a maior extensão de áreas cobertas por águas e com potencial para o turismo e agricultura irrigada. Este município está localizado às margens a BR 060, uma das principais rodovias que corta o município e que tem um fluxo alto de veículos devido ser o principal eixo de ligação entre as zonas metropolitanas Universidade Federal de Goiás. Instituto de Estudos Socioambientais – IESA. Doutorado em Geografia (63) 92184365. [email protected] 28 Universidade Federal de Goiás. Instituto de Estudos Socioambientais – IESA. Doutorado em Geografia [email protected] 27 IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1020 de Brasília e Goiânia. A sede do município fica fora do eixo desta rodovia, fato é apresentado pela administração local como uma problemática para o desenvolvimento do município. Por meio de um diagnóstico realizado no município foi possível identificar algumas questões que se apresentaram como fundamentais para a formulação de uma proposta de ordenamento territorial para o município, cujo principal objetivo era subsidiar o processo de Desenvolvimento Territorial por meio do desenvolvimento do turismo e da agricultura e, como objetivos complementares, o crescimento econômico de forma sustentável, indicação de áreas com possíveis usos para fins turísticos nas margens do Lago de Corumbá IV, no mesmo município geração de emprego e renda para as comunidades locais e a conservação do meio ambiente e da cultura local. Partiu-se do princípio de que o ordenamento territorial é um ato de gestão do planejamento das ocupações, um incentivo para a faculdade de aproveitamento das infraestruturas existentes e o assegurar da prevenção de recursos. Ele deve harmonizar e coordenar as várias atividades existentes num determinado território, fomentando e garantindo uma política para o desenvolvimento económico local, a exploração dos recursos turísticos e a proteção do espaço (THÉRY, 2006). Métodos de investigação Foram desenvolvidos estudos de campo e de gabinete. As pesquisas em gabinete voltaram-se para o estudo do Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno do Reservatório de Corumbá IV Pacuera -, para os dados do Portal Cidade, do Sistema IBGE de Recuperação Automática -SIDRA e dados estatísticos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –IBGE - e, ainda, para a confecção dos mapas de uso do solo e subsidiários da proposta em tela. Na pesquisa de campo foram mapeadas as áreas de potencialidades turísticas e sua ocupação, com objetivo de realizar um diagnóstico da produção agrícola local. Foram identificadas as paisagens de acordo com a beleza cênica ou elementos naturais que apresentaram particularidades paisagísticas para visitação e apreciação. Também se diagnosticou possíveis fatores impactantes ambientais e culturais que pudessem surgir com o desenvolvimento turístico na região. Foram aplicados questionários semiestruturados com questões que objetivaram identificar as oportunidades e ameaças do projeto Campolet - trata-se de uma alusão ao Outlet, que significa mercado que vende produtos a varejo, no qual os produtores vendem seus produtos diretamente ao público - e de desenvolvimento turístico aos moradores ao longo da estrada Barraca da Serra e nas margens do Lago Corumbá IV. Também foram feitas visitas in loco, oportunidades em que se conversou com empresários que já exercem atividade comercial com base no turismo que, entende-se, IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1021 serem atores primordiais no projeto. Os questionários, pré-elaborados, foram aplicados com objetivo de captar maiores informações e, no que tange ao inventário de oferta turística, foi aplicado o questionário disponibilizado pelo Ministério do Turismo para tal fim. Os dados foram analisados com técnicas da matriz FOFA na proposta de planejamento estratégico para o município, cuja leitura permitiu construir cenários para a implantação dos projetos e possíveis desenvolvimentos e problemas que podem advir com a sua implantação. A ocupação do município A mineração em Goiás teve na mão de obra escrava sua base de extração e no período Colonial a presença de escravos no território goiano sempre foi marcante, cujas trajetórias seguiam o caminho de Vila Boa aos garimpos do norte da província, seguidos pelos donos de escravos, homens que possuíam minas. Em uma de suas viagens de retorno do norte, no ano de 1725, Antônio Pereira Lisboa voltava de uma mineração mal sucedida com os seus escravos para Vila Boa - Goiás - e, ao sentar para descansar, alguns escravos afirmaram ter visto uma imagem de 50 centímetros em um tronco de uma árvore; era de Santo Antônio do Descoberto. Temendo serem punidos caso deixassem a imagem, pegaram-na e a levaram para o seu senhor, que decretou dia de festa. Aquela data a partir de então seria de descanso (IBGE, 2014). Em 1728 foi construída uma igreja para abrigar a imagem de Santo Antônio e, na década de 1750, novos garimpos foram abertos no rio Descoberto, o que criou uma aglomeração de pessoas no lugar. A festa do santo cresceu com a aglomeração de pessoas, cujas romarias eram contempladas com festas a Santo Antônio e, à época, duravam 12 dias, mas perdeu o seu apogeu com a introdução das Cavalhadas e, hoje, é apenas comemorada em um dia, 13 de junho. O povoado de Santo Antônio dos Montes Claros, nome que vem do garimpo de Montes Claros, que era decorrente do reflexo do nascer do sol pela manhã sobre a serra, foi distrito de Luziânia até 1982, e emancipado no dia 19 de maio de 1982. O município passou, então, a se chamar Santo Antônio do Descoberto, uma junção que faz referência ao santo e ao rio Descoberto (SANTO ANTONIO DO DESCOBERTO, 2014). A dinâmica do Centro Urbano IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1022 O município possui uma população que em sua maioria se concentra na área urbana e, com um crescimento sem planejamento, não há uma distribuição ordenada dos loteamentos na cidade, cujo centro possui uma dinâmica comercial que necessita de uma organização espacial, principalmente para atender as novas demandas populacionais. O centro comercial se articula com os bairros por vias expressas e pelo transporte coletivo, cujo terminal rodoviário se localiza na área central, o terminal de passageiros intraurbano. Além disso, há conexões que se articulam com cidades satélites e com a própria capital Federal. Há, também, aglomeração de comércios na área central, formando um centro comercial, pouco expressivo e, a isso, some-se o fato de que a produção industrial do município não agrega valor aos produtos, e embora haja atividades artesanais no município de tecelagem e tapeçaria, não chegam a ter número expressivo e são praticadas por alguns artesãos que preservam as práticas familiares. A distância entre o perímetro urbano e a rodovia GO-060, de cerca de 4 Km, faz com que não haja conexão entre a cidade e as centenas de veículos que circulam entre Goiânia e Brasília, resultando em uma perda de um mercado potencial de consumidores. Quem se dirige à cidade deve ir até Samambaia - DF - e depois retornar 15 quilômetros, colocando a cidade em uma localização que é vista pela população como um fator negativo para o desenvolvimento do município. Este processo reflete na dinâmica da cidade, formando uma função de cidade dormitório, uma vez que parte de sua população trabalha em Brasília. O setor de serviço é o principal no PIB/VA do município, seguido pela indústria e pela agricultura respectivamente. Considerando as médias de cidades com mesmo número de habitantes no Brasil, o PIB/VA tem um valor dentro da média, assim como se pode constatar no gráfico a seguir. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1023 Gráfico 01: Produto Interno Bruto (Valor Adicionado) Fonte: IBGE, 2013. De acordo com dados do IBGE, para o ano de 2011, foram contadas 533 unidades de empresas atuantes, somando 4.675 pessoas assalariadas. Contudo, é um número que preocupa, pois se se comparar com os anos de 2010, 2009 e 2008, houve um fechamento em torno de 100 empresas atuantes, o que representa a perda de posto de trabalho. No que tange ao aumento da renda do trabalhador, este teve 0,2 pontos a mais, passando de 1,8 salário para 2 salários mínimos. Há, porém, um esforço para se fortalecer as empresas atuantes no município, que se traduz em incentivos tais como a isenção do pagamento de IPTU e doação de terreno para implantação de empreendimentos no município (IBGE, 2012). Proposta de Ordenamento territorial para o município A noção de planejamento estratégico possui dois fatores importantes: o primeiro de como alcançar os objetivos propostos, e o segundo, as ações que serão priorizadas de acordo com o grau de relevância no cumprimento do planejamento. Objetiva-se um número estratégico de ações que permita alcançar boa parte dos objetivos ligados diretamente as metas. O Ordenamento Territorial proposto para o município teve como base o desenvolvimento territorial na produção agrícola e no turismo organizado da seguinte maneira: IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1024 Desenvolvimento Territorial Turismo Produção Agrícola Agricultura familiar. Projeto Orla: Praias; Piscicultura; Turismo Rural; Projeto Campolet: comercialização Turismo Cultural. Figura 1: Organograma do projeto SAD. Fonte: Elaboração própria Os projetos do Campolet voltados para o turismo foram sustentados em estratégias que permitissem articular o desenvolvimento numa escala de curto, médio e longos prazos. A estratégia de desenvolvimento do município consiste na capacidade de identificar as ações ou meios que permitam alcançar os resultados no menor tempo e com o maior aproveitamento. Para tornar isso possível, buscou-se um nexo entre o território e o ambiente com vantagens competitivas, com dinâmica, flexibilidade e condições de se adaptar às transformações. Para o diagnóstico foi feito um mapa a partir da base disponibilizada pelo IBGE/SIDRA e com ancoragem no zoneamento proposto no Pacuera. As comunidades, a cidade e os meios de circulação foram levados em consideração, pois um ordenamento territorial deve privilegiar o desenvolvimento do município em sua zona rural e urbana. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1025 Mapa 01: Ordenamento Territorial de Santo Antônio do Descoberto vigente em 2013. Base de dados: Pacuera e IBGE, acessado em 2013. Organização: Eliseu Pereira de Brito. Conforme o Pacuera, há indicação de duas áreas destinadas à instalação de comércio bem como de áreas lacustres para atividades turísticas e uma extensa área às margens do lago para preservação da cultura tradicional. No mapa anterior pode ser visto que as áreas destinadas ao comércio e serviço estão ao longo da estrada Barraca da Serra, pontos estratégicos por já existir nestes locais diversos comércios. Na Zona de Ocupação Comércio e Serviços - ZOCS -, os comerciantes alegaram falta de apoio para trabalhar, e um dos aspectos levantados relaciona-se à falta de segurança no local, que conta com constantes assaltos, e à burocracia em liberar alvará para funcionamento do comércio na zona rural. Como proposta IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1026 para tornar mais atrativa a ZOCS sugere-se que seja asfaltada a estrada Barraca da Serra para melhorar o policiamento no local, garantindo, assim, segurança aos comerciantes. Porém, a proposta de asfaltamento desta estrada não é consenso entre os habitantes de sua margem, dado que alguns alegam que a benfeitoria mudaria a paisagem rural e, inclusive, poderia trazer criminalidades para o lugar. As Zonas Lacustres, conforme definidas pelo Pacuera, podem ser utilizadas para aproveitamento turístico. O planejamento de atividades turísticas deve considerar o município como um todo, envolvendo a comunidade de Santo Antonio do Descoberto no processo. Criar uma orla desarticulada da cidade é inviabilizar o projeto, uma vez que este beneficiará um outro público, a se constituir, e não a população do município. A ligação entre a cidade e a praia deveria ser por estradas asfaltadas, o que permitiria a população da cidade se sentir integrada ao projeto por meio do lazer e, também, se colocaria como possibilidade de atrair a instalação de microempresas ligadas à gastronomia, à hotelaria e a serviços de guia. Nas áreas da comunidade de Santa Rosa e Pontezinha, o Pacuera propõe que tenham áreas destinadas para preservação da cultura tradicional, bem como áreas reservadas para potencializar a agricultura familiar, objetivando, desse modo, a permanência da população no local. Porém, nestas áreas está ocorrendo um processo de parcelamento das propriedades, proliferando as chácaras de veraneio. O turismo deve ser pensando como uma atividade a mais para o município, articulado, porém, com outras atividades, como é o caso da agricultura. Uma das formas de fortalecer as atividades agrícolas nas áreas de preservação da cultura tradicional se dá por meio de incentivos técnicos/financeiros e de infraestrutura franqueados aos agricultores, tais como a pavimentação das estradas para facilitar o escoamento da produção. O Campolet, proposto pela Prefeitura, apresenta como uma alternativa para o desenvolvimento da produção agrícola a sua comercialização em uma feira permanente às margens da BR 060. Como geralmente os outlets se localizam nas saídas das grandes cidades ou regiões metropolitanas, no caso em tela, ao usar o prefixo campo,Campolet significaria um mercado de produtos agrícolas. Na proposta do deste é necessário frisar que o projeto foi iniciado com um plano de incentivo à formação de pequenos agricultores no plantio de IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1027 folhagem, verdura e frutas, cujo arranque se deu com a organização da comunidade em associação ou cooperativas e na criação do espaço para pudessem comercializar seus produtos em um local às margens da BR 060 diretamente com o consumidor. Na concepção de mudanças a serem realizadas para tornar o município mais atrativo, os seguintes pontos deveriam ser levados em consideração: 1) o local deve contemplar espaço organizado para folhagens, verduras e frutas, cereais, produtos tradicionais da roça e artesanais, peixes e lazer; 2) deve ter restaurantes para atender às necessidades dos trabalhadores no local e das pessoas que passam pela rodovia; 3) no resultado das entrevistas aplicadas em outubro de 2013, no município, o projeto foi recebido como uma oportunidade para se ter uma fonte de renda própria e, assim, para o seu sucesso, os moradores consideraram importante que o Poder Público Municipal conceda incentivos à inovação tecnológica na produção, à irrigação e à armazenagem dos produtos; 4) é importante promover o fortalecimento da cooperativa existente no município, para que os produtores se organizem conjuntamente e consigam meios para inovar a sua produção; 5) a proposta do Campolet deve atrelar-se à política de incentivo ao pequeno agricultor; e 6) uma forma de tornar o projeto viável é criar um cinturão verde na zona de preservação da cultura local. O projeto turístico deve está atrelado ao desenvolvimento agrícola, o que proporcionará uma melhor organização da economia do município. Não pode ser implantado, é importante sublinhar, como fator isolado para o desenvolvimento do município por não incorporar a maior parte da população que habita a zona rural e a reduzida articulação com a população urbana do município. O desenvolvimento do turismo no município deve aproveitar a orla do lago de Corumbá IV com suas unidades de paisagem propícias para desenvolver tais atividades, mas não deve, contudo, ser o único local, uma vez que não beneficiará diretamente a população da cidade. É preciso pensar o turismo como um todo no município, e uma forma de identificar esta atividade é implantando o turismo rural atrelado ao turismo cultural, posto que a cidade é histórica em Goiás. Os festejos, a igreja e a historia do lugar são uma atratividade para as pessoas com potencial de visitarem a cidade. Por sua vez, a orla deve ser composta de praias com finalidades diferentes, diversificando, assim, a oferta de atrativos no lugar. Os nomes destas praias devem IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1028 contemplar a história do município, articulando, deste modo, seu atrativoaos atrativos cultural e rural. É necessário, também, criar cursos preparatórios e informar a população quanto ao projeto com o fim de prepará-los para receber os turistas. O envolvimento da população local, como se pode ver, é fundamental para o êxito do projeto, pois propicia sua aceitação como viável para a vida das comunidades. A instalação da orla às margens do lago garantirá o acesso ao lago pela população, diferentemente do que ocorre atualmente, pois o que se observa é que há uma apropriação desses espaços com casa de veraneio e com cercas que impedem as pessoas de acessá-lo. As praias, no entanto, devem garantir que a população tenha acesso ao lago. Quanto ao público esperado, identifica-se, pelo menos no primeiro momento, que será moradores de Brasília e cidades satélites com perfil de classe média, o que torna a oferta de serviço de hospedagem e restaurantes necessária para atender este púbico. Estratégia FOFA Como técnica de planejamento é importante compreender quais são os fatores internos e externos que viabilizam ou inviabilizam o projeto, levando em consideração a proposta da Matriz FOFA: Fortalezas: descrevem aquelas situações que afetam positivamente o cumprimento do objetivo definido e que podem ser controladas diretamente; Fraquezas: são aquelas situações que afetam negativamente o cumprimento do objetivo e que também podem ser controladas diretamente; Oportunidades: entendidas como situações positivas que afetam o cumprimento do objetivo, mas que não são controláveis, ou seja, são externas à capacidade direta de gestão; Ameaças: são fatores também externos que afetam negativamente o cumprimento do objetivo. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1029 As fortalezas, as fraquezas, as oportunidades e as ameaças foram obtidas no diagnóstico, o que permitiu o cruzamento dos fatores definidos, assim como se pode visualizar no quadro 1, que segue. Objetivo Desenvolvimento turístico Desenvolvimento Agrícola Ordenamento territorial Fortalezas Paisagens Cênicas do Lago de Corumbá IV; Fazenda com formas de vida tradicionais; História da cidade; População com poder aquisitivo próximo ao local; O município está localizado no entorno da Capital Federal; Município com vontade política de propor um novo rearranjo econômico do território. Comunidades rurais organizadas; Potenciamento da associatividade dos pequenos produtores como fornecedores dos produtos; Local para vender produtos agrícolas na BR 060; Autoridade local comprometida com o fomento produtivo; Ordenar o território com Oportunidades Parceria com a Universidade Federal de Goiás; Economia nacional em expansão. Fraquezas Falta de ligação entre a cidade e a possível orla; Casas e cercas impedindo o acesso ao lago; Inexperiência com as atividades turísticas pela população local. Ameaças Restrição para a formação de praias artificiais na margem do lago por ser área de unidade de conservação; Crescente demanda por casa de veraneio no entorno do Distrito Federal. Aproveitamento dos fluxos de pessoas que passam pela BR 060; Possível parceria com a UFG para técnicas agrícolas; Fundos de Investimento do Governo Federal para a agricultura familiar. Produção não organizada no município; Indivíduos sem prática no campo; Desconfiança quanto a investimentos financeiros pelos produtores; Expansão das monoculturas no município; Parceria com a Universidade Federal de Goiás; Ordenamento territorial possível de Déficit financeiro na arrecadação do município. Inexistência do capital privado no projeto. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1030 aproveitamento de seus potenciais agrícola e turístico como forma de crescimento econômico. ser implantado. Quadro 01: Matriz FOFA de Santo Antonio do Descoberto. Fonte: Elaboração própria. O projeto precisa ser pensado numa escala de aplicação de curto, médio e longo prazos, para que antes de se chegar ao objetivo se possa ainda ter melhorias pelo caminho. Para garantir o melhor desenvolvimento da proposta, deve-se criar o cenário que, por sua vez, visa constatar os usos praticados e formular uma situação desejada. Com a FOFA é possível propor alternativas de futuro para um melhor uso do espaço. Não se trabalha, contudo, com previsões, mas com possibilidades que podem vir acontecer e, para delinear cenários, deve-se, portanto, conhecer a situação atual, estabelecer tendências - supondo-se que nenhuma medida estará sendo tomada -, e estimar a situação desejada a ser alcançada com a implantação de ações de curto, médio e longo prazos. Assim, os desejos municipais poderão ser alcançados e com sucessos. Considerações finais Brandão (2008) afirmou que o território tem importância na reprodução social e deve ser pensado de modo a articular as estruturas com decisões sociais e a sociedade, por seu turno, articulada nos contextos estruturais nos microprocessos e macro e microdecisões, analisando-se, para tanto, os conflitos existentes. Do planejamento à sua implantação há fatores políticos e econômicos que precisam ser levados em consideração para efetivá-lo. A modernização de uma região e a preservação de uma história de uma cidade foram fatores conflitantes que se encontrou em campo. Uma cidade do período colonial com sua igreja e sua memória sendo destruída para dar lugar a nova lógica de uso do espaço. Em contrapartida, há marcas de uma temporalidade que não é a lógica da Capital Federal, como a produção artesanal de alguns fazendeiros do município. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1031 Indicar o valor do uso do espaço foi um resultado que se obteve com o diagnóstico. Sua potencialidade inter-relacionada com as estratégias de desenvolvimento na agricultura e no uso do lago de Corumbá IV pode indicar caminhos para a integração da população com a riqueza potencial do município, como é o caso das praias e do turismo rural e o fortalecimento da agricultura familiar pelo projeto Campolet às margens da BR 060. O fortalecimento das políticas para o desenvolvimento no município foi entendido como uma maneira de possibilitar investimentos na cidade, produzindo, assim, um crescimento em sua economia. A cidade dormitório pode, então, passar a ter novas funcionalidades e a oferecer produtos turísticos e agrícolas para um mercado consumidor atrativo financeiramente, que é o de Brasília. Referencia BRANDÃO, Carlos. Desenvolvimento, Territórios e Escalas Espaciais: levar na devida conta as contradições da economia política e da geografia critica para construir a abordagem interdisciplinar. In: RIBEIRO, Maria Teresa Franco e MILANI, Carlos R. S. (Orgs). Compreendendo a complexidade sócio-espacial contemporânea: o território como categoria de diálogo interdisciplinar. Salvador: UFBA, 2008. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Zoneamento EcológicoEconômico da área do Entorno do Distrito Federal em Goiás. Goiânia, 1994. _____. Ministério do Meio Ambiente. 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WALM ENGENHARIA E TECNOLOGIA AMBIENTAL LTDA. (Org.). PACUERA: Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno do Reservatório da UHE Corumbá IV. Brasília, 2011. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1033 FONES: (88) 3572-1209 / 9702-9481 E-MAIL: [email protected] IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1034 O SANEAMENTO BÁSICO COMO ELEMENTO ESSENCIAL NA PROMOÇÃO DO DIREITO À CIDADE LÍGIA MARIA SILVA MELO DE CASIMIRO29 RESUMO: O saneamento básico é um dos componentes do plexo de serviços e bens à disposição dos cidadãos que podem lhes garantir o acesso ao direito à cidade. Está previsto como conjunto de serviços a ser prestado pelo Poder Público pela Lei n. 11.445/2007, no ensejo de uma obrigatória política pública de planejamento que deve prever investimentos de infraestrutura e mobiliário urbano a partir da definição de seu plano diretor. Os serviços de saneamento básico têm importância fundamental e essencial para a promoção da dignidade da pessoa humana, vinculado ao direito à cidade e às suas funções sociais designadas como habitar, circular, trabalhar e ter lazer. Na promoção de tal serviço público encontra-se a materialização do conceito de moradia adequada. Palavras chave: Direito à Cidade. Planejamento. Moradia Adequada. Saneamento Básico. ServiçoPúblico. SUMMARY:Sanitation is one of the components of the plexus of goods and services to citizens that can guarantee them access to the right to the city. Is provided as a set of services to be provided by the Government by Law n. 11445/2007, in occasion of a public policy of mandatory planning that must include infrastructure investments and urban furniture from the definition of its master plan. The sanitation services are fundamental and essential to the promotion of human dignity, linked to the right to the city and its social functions designated as live, move, work and have leisure. Is the materialization of the concept of adequate housing in the promotion of such public service. Keywords: Right to the City. Planning. Adequate Housing. Sanitation. Public Service. 1 Introdução O saneamento básico faz parte da infra-estrutura urbana como um elemento essencial a estar presente no território urbano, fazendo parte tanto da rede de serviços públicos que dão efetividade aos direitos fundamentais sociais quanto do setor industrial para a provisão de bens e interesse públicos na cidade. 29 Ligia Maria Silva Melo de Casimiro, mestre em Direito do Estado pela PUC/SP, doutoranda pelo Dinter PUC/PR/URCA/CE em Direito Econômico e Socioambiental, professora do curso de graduação e pós graduação da FAP, Juazeiro do Norte, CE, e professora do curso de pós graduação do Instituto Romeu Felipe Bacellar, em Curitiba, PR. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1035 Embora não esteja expressamente descrito na Constituição de 1988 como um direito fundamental, o saneamento básico se compõe de um conjunto de serviços indispensáveis à concretização de direitos como a moradia adequada e à saúde pública, proteção ao meio ambiente, aos recursos hídricos, impactando na vida urbana de tal forma que o planejamento municipal, estadual e regional não pode abster-se de sua inclusão. Nessa perspectiva é que se analisa o saneamento básico como elemento essencial para o acesso ao Direito à Cidade. 2 Direito à cidade e planejamento urbano A cidade pode ser compreendida como um sistema de elementos com a finalidade de garantir subsistência, proteção e satisfação ao ser humano. Pode ser vista ainda como a configuração de uma associação de pessoas que se relacionam em função de seus interesses, na busca por viver bem.30 Em sendo assim, as necessidades básicas dos grupos residentes em cidades foram se configurando naquilo que ficou definido como funções sociais da cidade, permitindo identificar sob tal prisma o direito à cidade. As funções sociais da cidade foram inicialmente listadas durante o IV Congresso Internacional de Arquitetura Moderna em 1933, em Atenas. Em tal encontro foi elaborado um texto conhecido como Carta de Atenas, onde em seu item 77 restavam indicadas as seguintes funções urbanas elementares: habitação, trabalho, recreação e circulação no espaço urbano.31 No ano de 1998 uma nova Carta de Atenas foi apresentada a comunidade internacional e adotada pelo Conselho Europeu de Urbanistas, prospectando as cidades europeias para o século XXI, em que, como reforça Thiago Marrara32, o conceito central seria a ideia da cidade coerente. Ainda que sua definição esteja mais próxima da realidade europeia, no Brasil as diretrizes urbanísticas também indicam a mesma ideia de cidade. Antes de abordar as previsões legais sobre o direito à cidade e a sua função social no Brasil, retoma-se a ideia de cidade coerente da nova Carta de Atenas, destacando que é 30 A cidade reúne pessoas que necessitam estar em sociedade, agregando-se e humanizando-se, convivendo umas com as outras na busca segura pela tentativa da realização de seus anseios. ELIAS, Norbert. A Sociedade dos indivíduos. SCHROTER, Michael (org.); RIBEIRO, Vera (trad.); Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. p.72-75. 31 SILVA, José Afonso da.Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 29-30. 32 MARRARA, Thiago. Bens Públicos: Domínio Urbano: Infra-estruturas. Belo Horizonte: Fórum, 2007, p. 248. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1036 possível compreende-lo no formato da urbessustentável que se pretende desenvolvida e acessível a todos, coerente com a previsão de direitos fundamentais do ser humano. Dentre os itens contidos na ideia de cidade coerente estão o planejamento, a ser encampado pelo poder público, atento aos recursos ambientais não renováveis, às questões que envolvem atividade econômica, mobilidade, à promoção do senso de comunidade pela ocupação dos espaços, dentre outros, bem como atentos à saúde e segurança da população.33 É possível dizer que as diretrizes da nova Carta de Atenas direcionam para um desdobramento do alcance das funções da cidade para garantir o bem-estar social, indicando que a cidade coerente deve enfrentar as questões que impedem o usufruto das várias dimensões de direitos fundamentais que devem estar acessíveis na urbe, como a superação de problemas ligados à saúde pública, de alcance coletivo e individual, e que acarretam fragilização da vida como a mortalidade infantil, por exemplo.34 No ordenamento jurídico brasileiro é possível afirmar que o direito à cidade se firma com a incorporação das diretrizes indicadas pelas Cartas de Atenas, de 1933 e 1998, a partir de prescrições constitucionais e infraconstitucionais tais como o artigo 182, caput, o artigo 225 da Constituição Federal de 1988 e a Lei 10.257/2001, o Estatuto da Cidade. As cidades brasileiras estão balizadas por definições legais que direcionam juridicamente o uso e a ocupação de seu território, definindo a presença e a importância das funções sociais da cidade, bem como a oferta de bens e serviços que atendam aos interesses e necessidades da população para o alcance do bem-estar e sadia qualidade de vida.35 A legislação brasileira impõe uma série de ações a serem executadas pelo Poder Público, envolvendo a presença de serviços públicos, infra-estruturas e mobiliários urbanos36, KANASHIRO, Milena. Da antiga à nova Carta de Atenas − em busca de um paradigma espacial de sustentabilidade. Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 9, p. 33-37, jan./jun. Curitiba: Editora UFPR, 2004, p. 35. 34 KANASHIRO, Milena. Da antiga à nova Carta de Atenas − em busca de um paradigma espacial de sustentabilidade. Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 9, p. 33-37, jan./jun. Curitiba: Editora UFPR, 2004, p. 36-37. 35 SANT´ANNA, Mariana Senna. Planejamento urbano e qualidade de vida – Da Constituição Federal ao plano diretor. In: DALLARI, Adilson; DI SARNO, Daniela Campos Libório. Direito Urbanístico e ambiental. Belo Horizonte: Fórum, 2007, p. 52. 36 MARRARA, Thiago. Bens Públicos: Domínio Urbano: Infra-estruturas. Belo Horizonte: Fórum, 2007, p. 242. 33 IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1037 a partir de planos municipais, estaduais e até regionais, tendo o Plano Diretor como maior referência, dado a importância descrita pelo texto constitucional no artigo 182. A cidade está no centro dos debates sobre o direito ao desenvolvimento e o direito à autodeterminação, devido à sua importância econômica, social e cultural, seja em âmbito metropolitano, regional, nacional ou internacional. O espaço citadino deve oferecer ao cidadão condições e oportunidades equânimes independente de suas características sociais, econômicas, culturais e religiosas, o que envolve investimentos e intervenções que garantam o acesso a bens, recursos, serviços e oportunidades para todos37. Trata-se do direito à cidade. Sendo assim, os ajustes para que a cidade funcione, promova acesso a direitos se dá, essencialmente, por meio da urbanização e (ou) urbanificaçã38, transformação ou readequação do território, tendo o planejamento como referencia. As ações interventivas, públicas e privadas, devem encarar a cidade como um organismo que não existe dissociado das necessidades de seus habitantes, pois representa para os indivíduos um conjunto de valores materiais e imateriais a compor e sedimentar a ideia de bem estar social propalada na Constituição Federal de 1988. Maria Garcia39 aduz que a cidade “é a casa, o País, o mundo: é o âmbito político de uma existência que se inicia, decorre e termina localmente; portanto, também em âmbito subjetivo, individual, pessoal”. Sua abordagem de cunho filosófico traduz o valor que o território urbano tem para o indivíduo. O Direito à Cidade, portanto, compreende o acesso universal aos serviços e equipamentos urbanos, à terra urbana, à moradia, ao meio ambiente sadio, ao lazer, transporte, 37 OSÓRIO, Letícia Marques. Direito à cidade como direito humano coletivo. In: FERNANDES, Edésio; ALFONSIN, Betânia. Direito Urbanístico: estudos brasileiros e internacionais. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 196-197. 38 Os termos urbanizar e urbanificar significam, na ideia de José Afonso da Silva, respectivamente: processo pelo qual a população urbana cresce em proporção superior à população rural; processo deliberado de correção da urbanização, consistente na renovação urbana. SILVA, José Afonso da.Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 26-27. 39 GARCIA, Maria. A Cidade e o Estado. Políticas públicas e o espaço urbano. In: GARCIA (org.). A Cidade e seu Estatuto. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2005. p. 27-28. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1038 saneamento, à participação no planejamento da cidade, à educação e saúde, garante o direito à cidadania.40 Para que a cidade consiga exercer suas funções, é preciso incorporar uma nova concepção de atuação pública baseada em planejamento, gestão democrática e promoção da justiça social, reconhecendo a presença de todos os habitantes incluindo-os como destinatários da justa distribuição de bens e serviços urbanos. O planejamento não é mais uma opção do administrador, que deve fazê-lo no exercício da sua função vinculada à execução de ações em prol do interesse público.41 O balizamento das ações a serem desenvolvidas na urbe necessita ser concebido e promovido pela atuação pública integrada e global, propiciando a realização do acesso à terra urbana estruturada, que garanta a sustentabilidade com o meio ambiente pelo saneamento, enfrentando as causas da insalubridade que tanto maltratam a população hipossuficiente, perpetuando a desigualdade social. O planejamento tornou-se um processo institucionalizado com fundamentos jurídicos na Constituição Federal de 1988, obrigatório aos que exercem a função pública executiva. Sem planejamento, o Município não consegue identificar e aplicar recursos públicos, bem como não elabora seu plano diretor, previsto no capítulo da Política Urbana, artigo 182, caput, como obrigatório para cidades com mais de 20.000 habitantes. O planejamento urbanístico, traduzido em normas técnicas, tem a função de transformar a realidade existente,42 ao definir os objetivos da atuação pública. O Plano Diretor é o instrumento básico de política de desenvolvimento e expansão urbana que definirá a função social da propriedade em cada localidade. Esse instrumento é parte de um processo de planejamento municipal que deve ocorrer com a máxima participação 40 SAULE JUNIOR, Nelson. A proteção jurídica da moradia nos assentamentos irregulares. Porto Alegre: Sergio Antônio Fabris, 2004. p. 212. 41 MELO, Lígia. Direito à Moradia no Brasil – Política Urbana e acesso por meio da regularização fundiária. Belo Horizonte: Fórum, 2010, p.59. 42 SILVA, José Afonso da.Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2006. p.95. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1039 dos cidadãos, atrelando as diretrizes do Estatuto da Cidade à realidade do Município a que pertence.43 Para a concretização do direito à cidade, planejar as ações públicas que resultarão em planos de atuação interventiva substanciados por regras jurídicas é essencial, já que o poder público só pode agir com base em previsões legais. Segundo José Afonso da Silva, o planejamento urbanístico é, para além de um fenômeno técnico, um processo de criação de normas jurídicas. 44 Diante da previsão do direito à cidade na Constituição Federal e no artigo 2º do Estatuto da Cidade e sua interligação com direitos fundamentais, impõe-se necessário a atuação planejada para sua concretização. Tem-se que a falta de saneamento básico implicaria, diretamente, na violação do direito, por exemplo, à alimentação, dado o risco de contaminação dos alimentos, tendo em vista a inexistência de água tratada e de coleta de esgoto e de lixo. 45 Para que tais serviços estejam à disposição da população é preciso planejamento e a implementação de planos setoriais vinculados ao plano diretor municipal. Para que a provisão de serviços chegue ao cidadão é preciso que o planejamento avance em sua materialização, que os planos estejam verdadeiramente conectados a políticas públicas,46 como mediadores principais das escolhas para a realização dos objetivos previstos na Constituição de 1988. O planejamento é ferramenta fundamental na elaboração de políticas públicas voltadas a questão urbana. Passando do planejamento à materialização do acesso aos direitos tem-se a fixação do plano, que estabelece objetivos e metas para modificação da realidade vigente, 47 atuação pública que deve envolver investimentos em infra-estrutura e mobiliário urbano para 43 SUNDFELD, Carlos Ari. Fundamentos constitucionais do Estatuto da Cidade. In: DALLARI; FERRAZ (Org.). Estatuto da Cidade: comentários à lei 10.257/01. São Paulo: Ed. Malheiros, 2005. p.52. 44 SILVA, José Afonso da.Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2006. p.95. 45 SAULE JÚNIOR, Nelson. A Proteção jurídica da moradia nos assentamentos irregulares. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2004. p.168. 46 LUFT, Rosangela Marina. Políticas Públicas Urbanas – premissas e condições para a efetivação do direito à cidade. Belo Horizonte: Fórum, 2011, p. 153. 47 OLIVEIRA, José Roberto Pimenta. O planejamento do Serviço Público de Saneamento Básico na Lei n. 11.445/2007 e no decreto n. 7.217/2010. In. OLIVEIRA, José Roberto Pimenta; DAL POZZO, Augusto Neves (Coord.). Estudos sobre o marco regulatório de saneamento básico no Brasil. Belo Horizonte: Fórum, 2011, p. 240. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1040 comportar e abrigar a gama de serviços que devem estar à disposição do cidadão configurando a cidade funcional. Para melhor abordar o assunto, Thiago Marrara48 entende que seria importante fazer a distinção entre aquilo que se cunhou chamar indistintamente de infra-estrutura e aquilo que pode ser identificado como mobiliário urbano, já que os equipamentos que se alocam para garantir o funcionamento de serviços públicos estão agrupados juridicamente sob o conceito de mobiliário urbano. O termo indicado se refere "ao conjunto de objetos agrupados pela relevância econômica que apresentam para a prestação de qualquer serviço ou atividade." 49 A importância em fazer tal distinção estaria exatamente em identificar aquilo que compete ao poder público ofertar à população e aquilo que se refere ao uso e ocupação privada do território urbano, para que o controle e a regulação sejam feitos de maneira a garantir desenvolvimento sustentável e melhoria do bem-estar social. O que compete ao poder público no tocante à urbanificação e urbanização trata-se de exercício da função pública,50 devendo observar critérios de planejamento, escolhas, organização e oferta aos destinatários citadinos. Para esse trabalho interessa apontar que os serviços de saneamento básico prescindem de mobiliário urbano condizente com as necessidades locais, vinculados efetivamente ao planejamento urbano e ao plano diretor municipal. No que toca a sua interface com a infraestrutura, o saneamento básico recebe os reflexos do grau de intervenção privada, sua observância às normas urbanísticas e o controle efetuado pela gestão municipal. No ano de 2010 foi sancionado o decreto n. 7.217/2010 que regulamentou a Lei federal citada definindo as ações, atividades, atores e institutos presentes e necessários para a eficácia da Política de Saneamento Básico, apontando para a necessidade impositiva de planejamento, traçado pela Constituição como dever de planejar, que passa pelo planejamento 48 MARRARA, Thiago. Bens Públicos: Domínio Urbano: Infra-estruturas. Belo Horizonte: Fórum, 2007, p.241243. 49 MARRARA, Thiago. Bens Públicos: Domínio Urbano: Infra-estruturas. Belo Horizonte: Fórum, 2007, p. 242. 50 SUNDFELD, Carlos Ari. Fundamentos constitucionais do Estatuto da Cidade. In: DALLARI; FERRAZ (Org.). Estatuto da Cidade: comentários à lei 10.257/01.São Paulo: Ed. Malheiros, 2005.p.54. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1041 orçamentário e financeiro, urbano, bem como pelo dever de elaboração de planos setoriais e globais que envolvem a prestação de serviços públicos. Na perspectiva do direito à cidade, o saneamento básico tem relação definitiva com as funções que a mesma exerce na vida do cidadão. Se cabe ao Poder Público a prestação e o acesso a determinados serviços, bem como o implemento de uma série de ações, planejar é parte desse processo. Antes, é o início de tal processo.51 3 A essencialidade do Saneamento Básico A Lei Nacional de Saneamento Básico – LNSB, Lei Federal n. 11.445/2007, com mais de seis anos de existência, solicita reflexões sobre sua (in) observância diante da grave desigualdade no acesso aos serviços de saneamento no Brasil. Tendo em vista a intrínseca ligação entre o saneamento e os direitos fundamentais, pensar em cidades em que nem todos os serviços, infra-estruturas e instalações operacionais estão disponíveis para promover vida sadia é reconhecer que a presença do poder público, ou de quem lhe faça as vezes, se dá de maneira injusta e desigual, descumprindo seu dever de agir na promoção da justiça material. A essencialidade das ações que dão conteúdo ao que se intitula saneamento básico decorre de seus reflexos na vida de cada cidadão. O direito à saúde, previsto no artigo 6º e 196 da Constituição Federal se apresenta como uma condição a ser alcançada por todos, envolvendo ações e serviços de prevenção e de atuação profilática. O que implica falar em atuação positiva e (ou) ações de abstenção, negativas, que por acaso obstaculizem ou impeçam o acesso a tal condição.52 Para além de tais reflexos categorizados como aspectos sociais elementares, é preciso considerar que a norma jurídica definiu formal e materialmente sua importância haja vista 51 OLIVEIRA, José Roberto Pimenta. O planejamento do Serviço Público de Saneamento Básico na Lei n. 11.445/2007 e no decreto n. 7.217/2010. In. OLIVEIRA, José Roberto Pimenta; DAL POZZO, Augusto Neves (Coord.). Estudos sobre o marco regulatório de saneamento básico no Brasil. Belo Horizonte: Fórum, 2011, p. 228. 52 ALMEIDA, Luciana Dayoub Ranieri de. O Saneamento Básico como elemento essencial do Direito ao Desenvolvimento e a correlata orientação da Lei 11.445 de 2007. In. OLIVEIRA, José Roberto Pimenta; DAL POZZO, Augusto Neves (Coord.). Estudos sobre o marco regulatório de saneamento básico no Brasil. Belo Horizonte: Fórum, 2011, p. 78. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1042 prever como princípios fundamentais a universalização do acesso e sua integralidade nas ações de abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo de resíduos sólidos e manejo de águas pluviais urbanas, eficiência e sustentabilidade econômica, transparência das ações, controle social, segurança, qualidade e regularidade, integração das infraestruturas e serviços dos recursos hídricos. Sob tal perspectiva, os direitos fundamentais sociais compõem o conteúdo da qualidade intrínseca ao ser humano, a sua dignidade.53 E ainda que a dignidade não seja algo a ser concedido ao ser humano, pois com ele já nasce, é necessário apontar que ela se concretiza e depende, em muitas das vezes, das ações positivas e negativas do Estado. A ausência de água potável, de limpeza urbana, esgotamento sanitário, impõe sofrimento e indignidade ao ser humano, excluindo do acesso à saúde, pois a fragiliza. Tais serviços incluem-se no núcleo do mínimo vital, nas palavras do Ingo Sarlet, 54 pois indispensáveis à sobrevivência do ser humano. A diferença com o vocábulo mínimo existencial, segundo o autor, é que aquele trata de sobrevivência, a esse trata-se de falar da garantia da sobrevida, dos aspectos que contribuem para que o ser humano avance em desenvolvimento. No texto constitucional, no artigo 21, inciso XX, encontra-se o comando que impõe à União o poder de definição de diretrizes para o desenvolvimento urbano, incluindo a habitação, o saneamento básico e os transportes urbanos. A vinculação com o direito à cidade encontra-se cada vez mais delineada, restando à materialização de tais previsões. No que diz respeito à promoção da dignidade da pessoa humana a partir das ações que identificam o saneamento básico, reforça-se que a mesma não perde força diante do argumento da impossibilidade material da universalização de tais serviços, traduzida na defesa da dependência financeira de viabilização - o argumento da reserva do 53 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002, p. 83. 54 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002, p. 90. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1043 (financeiramente) possível -, bem como da impossibilidade de determinação de um conteúdo definitivo a partir de normas constitucionais por si só.55 A obrigação de provisão dos direitos vinculados ao saneamento recai sobre Estados e Municípios, estando vinculada a um custo dependente das condições financeiras e econômicas do Poder Público. A Lei 11.445/2007, no artigo 29, prevê que o saneamento básico se trata de um serviço público a ser prestado com sustentabilidade econômico-financeira assegurada por remuneração, preferencialmente, na forma de tarifas e outros preços públicos.56 Tais serviços promovem o acesso a direitos que se encontram no rol de direitos econômicos e sociais, sendo possível a sua fungibilidade em prestação financeira, que não seja essa impeditiva do acesso aos direitos. O Estado brasileiro, para prestar serviços e promover acesso a direitos por meio de ações prestacionais deve planejar-se, tendo a Administração Pública o dever de agir nesse sentido. Falar de planejamento para a Administração Pública é falar em atuação política que resultará em políticas públicas de desenvolvimento, bem como em investimentos estruturantes para o aumento do espectro do atendimento às necessidades da população, um paralelo evidente entre planejamento, processo de formulação política e concretização do acesso a direitos.57 Com a determinação do dever de planejar imposta constitucionalmente,58 a falta de conexão entre a estrutura administrativa e a formulação de políticas públicas pode gerar uma série de impeditivos para a concretização dos objetivos que devem ser alcançados pelo Estado. 55 NOVAIS, Jorge Reis. Direitos Sociais: Teoria Jurídica dos Direitos Sociais enquanto direito fundamentais. Coimbra: Editora Coimbra S.A., 2010, p. 87. 56 PICININ, Juliana. A remuneração dos serviços públicos de saneamento básico. In.: PICININ, Juliana; FORTINI, Cristiana (Org.). Saneamento básico: estudos e pareceres à luz da Lei n. 11.445/2007. Belo Horizonte: Fórum,2009, p. 190-191. 57 BUCCI, Maria Paula Dallari (org.). Políticas Públicas: reflexões sobre o conceito jurídico. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 39. 58 O dever de planejar encontra seu fundamento na Constituição Federal de 1988, nos artigos 21, IX e XVIII; 30, VIII; 48, IV; 49, IX; 74, I; 84, XI; 165; 174, parágrafo 1º; 182, caput, dentre outros. Bem como em legislações infraconstitucionais, em especial a Lei 10.257 de 200, artigos 2º; 4º; 39 e 40. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1044 Como componente dessa construção pública que envolve pensar as ações, articular ideias idênticas e diferentes, interesses os mais diversos, fatores econômicos e financeiros, participação popular, é preciso lembrar que as decisões políticas são em sua essência manifestações de poder. Manifestações essas que solicitam uma estrutura estatal complexa e institucionalmente adequada ao que se pretende construir, tal seja oferta de serviços de saneamento básico. Para Eros Grau o planejamento, que necessita de compreensão sobre as funções distintas que exerce para o Estado, seria uma forma racional de previsão de comportamentos, econômicos e sociais futuros, pela formulação de objetivos e definição de meios de ação coordenados explicitamente. Reforça a ideia de que o planejamento citado pela Constituição, no artigo 174, parágrafo 1º, trata-se de planejamento do desenvolvimento econômico, considerado econômico e social.59 Com a consagração dos direitos fundamentais sociais60 e a concepção de um modelo jurídico de Estado atuante e transformador da realidade social, os bens e interesses considerados inerentes à condição humana passam de descrição meramente formal para um patamar de consagrada importância na atuação estatal. Tais direitos são, não só protegidos juridicamente, como também devem ser promovidos por um conjunto de ações materializadas pela atividade administrativa do Estado, dadas a sua essencialidade na realização do bem– estar social, portanto na concretização do direito à cidade. Com a entrada em vigor da Lei n. 11.445/2007 surge uma nova moldura jurídica sobre o assunto, fortalecendo a concepção material do direito à cidade. A política de saneamento não pode ocorrer dissociada de outras políticas tais como a de desenvolvimento urbano, de investimentos no setor industrial, o que envolve políticas nacionais, estaduais, regionais e locais de planejamento urbano, a serem articuladas em um sistema de cooperação, envolvendo 59 GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988. São Paulo: Malheiros, 2010, p.309-310. TORRES, Ricardo Lobo. A metamorfose dos Direitos Sociais em Mínimo Existencial. In: Direitos Fundamentais Sociais: Estudos de Direito Constitucional, Internacional e Comparado. Ingo W. Sarlet (org.). Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 3-5. 60 IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1045 tanto a prestação de serviços públicos quanto a potencial atividade econômica a ser explorada pela iniciativa privada e regulada pelo Poder Público.61 Para a concretização dos direitos fundamentais, verifica-se a necessária associação de elementos normativos e diretrizes políticas descritas nos comandos constitucionais, entrelaçando a atuação institucional às políticas públicas. 62 Dessa forma, o agir administrativo, quando da prestação de serviços de saneamento está vinculado à significativa complexidade, não só pelo seu peso econômico, mas também pela sua essencialidade.63 Dando sequência a tal ideia é que se faz a associação em que a atuação prestacional do Estado é um mecanismo para a realização do direito à cidade, que traz em seu rol a moradia adequada. O dever de agir para ofertar o acesso ao direito à cidade está definido nas competências formais que cabem a cada ente federativo, com contornos mais nítidos a partir das diretrizes legais sobre as várias tarefas que envolvem a gestão urbana, dentre elas o saneamento básico. O dever de prestar o serviço público de saneamento básico sabe-se, tem ligação com a sua titularidade, podendo ser prestado pela Administração Pública direta ou indiretamente, por meio de consórcios públicos ou por meio de concessão. Cabendo, portanto, ao titular, por dever de ofício a definição da forma de prestação do serviço, seja direta ou indireta, a ser regulada, fiscalizada e controlada na medida do que a norma impõe, garantindo gradativamente o acesso aos bens e serviços que lhe compete fornecer à sociedade dada a sua indispensabilidade.64 4 Aspectos que envolvem o saneamento básico e o direito à cidade 61 DEMOLINER, Karine Silva. Água e Saneamento Básico: regimes jurídicos e marcos regulatórios no ordenamento brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2008, p.148. 62 MARRARA, Thiago. Bens Públicos: Domínio Urbano: Infra-estruturas. Belo Horizonte: Fórum, 2007, p.262. 63 GABARDO, Emerson; RAZUC, Nahima Peron Coelho. As diretrizes de reversão e transição no caso de extinção das delegações de serviços públicos de saneamento básico. In: PICININ, Juliana; FORTINI, Cristiana (org.). Saneamento básico: estudos e pareceres à luz da Lei n. 11.445/2007. Belo Horizonte: Fórum,2009, p.219. 64 GROTTI, Dinorá Adelaide Musetti. A Evolução Jurídica do Serviço Público de Saneamento Básico. In. OLIVEIRA, José Roberto Pimenta; DAL POZZO, Augusto Neves (Coord.). Estudos sobre o marco regulatório de saneamento básico no Brasil. Belo Horizonte: Fórum, 2011, p36. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1046 O Estado traçado pela Constituição de 1988 recebeu a incumbência de diminuir a injustiça social, sob a indicação da necessária intervenção na sociedade e do dever de promoção do acesso aos direitos fundamentais. O que se extrai da leitura do artigo 3º do texto constitucional é a relação entre a existência do Estado, seus fins e a proposta de eliminação das desigualdades sociais com o objetivo de promover uma transformação social.65 Dentre as funções da cidade está o acesso à moradia adequada. Segundo o Comentário Geral nº 4, do Comitê dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais das Nações Unidas 66 sobre as condições que identificam o que deve ser a moradia adequada está previsto uma composição de serviços que garantam vida saudável, disponibilidade de serviços materiais, benefícios e infraestrutura tais como acesso à água potável, energia, iluminação, instalações sanitárias, serviços de emergência; gastos suportáveis que incluem a possibilidade de satisfação das necessidades básicas acessíveis ao seu proporcional nível de renda; habitabilidade, o que inclui proteção contra fatores que possam prejudicar a saúde e fazer proliferar doenças. Observa-se no texto apresentado pela ONU, aspectos componentes da concepção da habitabilidade relacionados com as condições de existência e sobrevivência do ser humano, as quais, em parte, dependem de um conjunto básico de serviços públicos. Aqui cabe destacar a compreensão sobre a noção jurídica dos intitulados serviços de saneamento básico. Para Dinorá MusettiGrotti, os serviços de saneamento básico são serviços públicos, cabendo compreensão diversa, apenas, em situações previstas por lei própria. Para a autora a concepção dada pela Lei 11.445/2007 expressa substratos orgânicos e objetivos,67 bem como a Constituição de 1988, ainda que não tenha elegido um conceito para tal 65 BERCOVICI, Gilberto. Desigualdades Regionais, Estado e Constituição. São Paulo: Max Limonad, 2003. p.294. 66 SAULE JÚNIOR, Nelson. A Proteção jurídica da moradia nos assentamentos irregulares. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2004, p.103. 67 Para a autora a noção objetiva do serviço público é definida pela índole da necessidade, não importando se o serviço foi prestado pelo Estado ou pelos particulares. Quanto ao critério orgânico, o classifica de forma ampla, como toda atividade desempenhada pelo Poder Público, caracterizando o serviço público de acordo com o ente que o realiza. GROTTI, Dinorá Adelaide Musetti. O Serviço Público e a Constituição Brasileira de 1988. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 43-47. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1047 nomenclatura, acolhe o saneamento como uma atividade de titularidade do Poder Público, o que reforça seu entendimento.68 Celso Antônio Bandeira de Mello sustenta que o serviço público consiste em atividades do Estado que têm por objetivo atender a coletividade em geral. 69 Analisa o serviço público como atividade a ser exercida pelo Estado ou por quem com ele contratou para tal, incluindo utilidade e comodidade como referências que se encaixam na compreensão do que representa os serviços de saneamento. No mesmo sentido Marçal Justen Filho entende o serviço público como “uma atividade pública administrativa de satisfação concreta de necessidades individuais ou transindividuais, materiais ou imateriais, vinculadas diretamente a um direito fundamental, destinada a pessoas indeterminadas e executada sob regime de direito público”.70 O jurista destaca em suas ideias o caráter de essencialidade dado à noção de serviço público, quando aborda a vinculação a direitos fundamentais e corrobora o pensamento dos autores anteriormente citados quanto à submissão ao regime de direito público. Destaca-se ainda a compreensão de Alexandre Santos Aragão sobre o tema, o qual entende ser o serviço público "uma atividade econômica lato senso, titularizada pelo Estado em decorrência de seu intenso interesse público, podendo ser explorada por particulares mediante delegação do Poder Público".·. Por outro viés, Emerson Gabardo entende o serviço público como atividade econômica em sentido estrito. Ainda, defende que é no processo de reforma administrativa gerencial, na década de 1990, que há um rompimento dos limites entre os regimes público e privado, permitindo juridicamente que os serviços públicos possam ser regidos por um Regime de 68 GROTTI, Dinorá Adelaide Musetti. A Evolução Jurídica do Serviço Público de Saneamento Básico. In. OLIVEIRA, José Roberto Pimenta; DAL POZZO, Augusto Neves (Coord.). Estudos sobre o marco regulatório de saneamento básico no Brasil. Belo Horizonte: Fórum, 2011, p. 32-34. 69 Conceituando o serviço público como toda atividade de oferecimento de utilidade ou comodidade material destinada à satisfação da coletividade em geral, mas fruível singularmente pelos administrados, que o Estado assume como pertinente a seus deveres e presta por si mesmo ou por quem lhe faça as vezes, sob um regime de Direito Público – portanto, consagrador de prerrogativas de supremacia e de restrições especiais –, instituído em favor dos interesses definidos como públicos no sistema normativo. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2010, p. 671. 70 JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Saraiva 2005, p. 478. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1048 Direito Privado.71 O autor, ao defender tal ideia, propõe que a análise sobre a definição de um regime jurídico para a o serviço público, ainda tão polêmica, se afaste da afirmação de um regime geral para a possibilidade de vê-lo de forma setorial adotando, pois, o critério material como referência. As provocações feitas pelo autor são instigantes não, especificamente, pela adoção do entendimento de que o serviço público é atividade econômica em sentido estrito, mas por sugerir uma reflexão necessária sobre o tema do serviço público, incluindo a possibilidade de identificar-se o serviço público a partir da noção de finalidade pública administrativa, mesmo compreendendo tratar-se de ideia "inapropriada para a realidade brasileira".72 No que toca aos aspectos envolvendo o saneamento básico o resgate da noção de serviço público e seu tratamento pela doutrina mais abalizada faz-se necessária tendo em vista a própria denominação dada pela Lei 11.445/2007. Diante das concepções doutrinárias sobre o conceito ou a noção de serviço público para dai abarcar o saneamento, categorizá-lo e inclui-lo como elemento fundamental no acesso ao direito à cidade, o que se afere é que ambas as concepções podem reconhecer ao saneamento básico o caráter da essencialidade. O entendimento baseia-se na definição constitucional do modelo de Estado brasileiro, social e democrático, de postura ativa e interventiva, em que as ações e mobiliário investido para a concepção dos serviços de saneamento têm caráter de indispensabilidade a fim de atender necessidades sociais, econômicas, humanas, para o desenvolvimento do país. Tal desenvolvimento passa pela ordenação das cidades, território onde vivem, trabalham, circulam todos os indivíduos, de todos os segmentos sociais. 5 Considerações finais As previsões normativas sobre o serviço de saneamento impõem dever de universalização do acesso e ampliação progressiva, integralidade e segurança, regionalização, transparência nas ações, eficiência, regularidade, continuidade, controle social, integração às 71 72 GABARDO, Emerson. Interesse Público e Subsidiariedade. Belo Horizonte: Fórum, 2009, p.130-131. GABARDO, Emerson. Interesse Público e Subsidiariedade. Belo Horizonte: Fórum, 2009, p. 134-135. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1049 políticas públicas que envolvem as de desenvolvimento urbano, de habitação, de combate à pobreza, proteção ambiental, promoção da saúde, dentre outros.73 Para tanto, o plano diretor, instrumento básico de política de desenvolvimento e expansão urbana, 74 deve conter previsões de intervenção e concepções relativas ao saneamento. O Plano Diretor, que deverá refletir as reais condições e necessidades do Município, incluindo zona urbana e rural, tem que prever ações interventivas cabíveis por meio dos instrumentos jurídicos e urbanísticos correspondentes, para que a política pública de saneamento se materialize, promovendo avanços na disposição dos serviços. No Estado Democrático e Social de Direito, Poder Legislativo, políticas públicas e função administrativa se relacionam de maneira íntima e constante, conectando a sociedade às ações estatais. O planejamento, traço característico da atuação administrativa eficiente, impessoal, proba, tem papel preponderante na promoção e proteção dos direitos.75 Trata-se também de técnica76 pela qual a ação administrativa do Estado de desenvolve cumprindo um desenho em que estão estabelecidas as diretrizes espaciais, temporais e de conteúdo, habilitando a Administração a cumprir o previsto no texto normativo constitucional e infraconstitucional, obedecendo ao devido processo legal. O decreto n. 7.217/2010, em seu artigo 39, inciso I, eleva o planejamento à condição de essencialidade, em que os projetos para a operacionalização dos serviços de saneamento básico constituem termo de validade dos contratos declarando, ainda, no artigo 26, parágrafo 2º, que a partir de 2014 a existência de plano de saneamento básico, elaborado pelo titular dos serviços será condição de acesso a recursos orçamentários da União. 73 GROTTI, Dinorá Adelaide Musetti. A Evolução Jurídica do Serviço Público de Saneamento Básico. In. OLIVEIRA, José Roberto Pimenta; DAL POZZO, Augusto Neves (Coord.). Estudos sobre o marco regulatório de saneamento básico no Brasil. Belo Horizonte: Fórum, 2011, p.36-37. 74 SILVA, José Afonso da.Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 132. 75 OLIVEIRA, José Roberto Pimenta. O planejamento do Serviço Público de Saneamento Básico na Lei n. 11.445/2007 e no decreto n. 7.217/2010. In. OLIVEIRA, José Roberto Pimenta; DAL POZZO, Augusto Neves (Coord.). Estudos sobre o marco regulatório de saneamento básico no Brasil. Belo Horizonte: Fórum, 2011, p. 228-229. 76 OLIVEIRA, José Roberto Pimenta. O planejamento do Serviço Público de Saneamento Básico na Lei n. 11.445/2007 e no decreto n. 7.217/2010. In. OLIVEIRA, José Roberto Pimenta; DAL POZZO, Augusto Neves (Coord.). Estudos sobre o marco regulatório de saneamento básico no Brasil. Belo Horizonte: Fórum, 2011, p.224. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1050 Sem o planejamento adequado a cidade coerente, funcional fragiliza-se, se torna injusta, desigual, marcadamente informal, a negar aos seus moradores o acesso a uma vida sadia e segura. Sendo assim, a eleição de prioridades de acordo com as demandas locais e regionais deve estar articulada e interligada com a promoção e acesso à moradia adequada, o que envolve abastecimento de água, o esgotamento sanitário, manejo de resíduos sólidos, drenagem urbana, proteção ambiental. A promoção de tal serviço, portanto, promove à igualdade, o acesso à cidadania, fortalece a democracia, é elementar para o desenvolvimento humano, pois oferta bens que materializam o bem estar dos indivíduos e a manutenção e equilíbrio social. O rol de atividades que identificam o saneamento básico identifica, também, o acesso à cidade sustentável. O Estatuto da Cidade, Lei n. 10.257/2001, desdobra os comandos constitucionais para o desenvolvimento urbano pleno, fortalecendo a concepção do planejamento e de que a cidade se configura nas funções que exerce na vida do cidadão urbano. A busca pela vida na cidade é a busca por mais e melhor qualidade de vida, a ser usufruída de maneira legítima e igualitária por todos, ainda que a realidade seja mais dura e diversa do que o que se deseja encontrar. Para Daniela Libório, a ideia de função social da cidade que tanto insistimos em ressaltar, estaria ligada à concepção da urbe dada pela população local, ou seja, pelos indivíduos que nela habitam e se reúnem, devendo-se respeitar as suas necessidades, sua vocação, questões que determinam o seu desenvolvimento, comumente, em razão da moradia.77 É nessa perspectiva que se enquadra o saneamento básico, dentre os quesitos essenciais e elementares que compõem a materialização do direito à cidade pela moradia adequada, demonstrando que a sua ausência representa o impedimento da fruição de vários direitos constitucionalmente conquistados. O direito de morar adequadamente, direito humano reconhecido pela Constituição de 1988 como um direito fundamental social, está descrito como primeira função social a ser exercida na cidade. A falta de moradia adequada impede a 77 DI SARNO, Daniela Campos Libório. Elementos de Direito Urbanístico. Barueri: Manole, 2004. p. 16. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1051 saúde e o bem-estar de todos os membros de um grupo social, esteja ele representado por uma família ou por pessoas individualmente, gerando uma série de prejuízos vitais.78 Se a prestação do serviço público de saneamento é um dever dada a determinação legal sobre sua existência,79 as previsões sobre aquilo que promove (aspectos sociais) e como deve ser prestado (aspectos jurídicos), bem como o seu significado no rol de funções da cidade (aspectos sócio jurídicos), definem que sua ausência não pode ser compreendida senão como descumprimento do dever de agir administrativo. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Luciana Dayoub Ranieri de. O Saneamento Básico como elemento essencial do Direito ao Desenvolvimento e a correlata orientação da Lei 11.445 de 2007. In. OLIVEIRA, José Roberto Pimenta; DAL POZZO, Augusto Neves (Coord.). Estudos sobre o marco regulatório de saneamento básico no Brasil. Belo Horizonte: Fórum, 2011. BERCOVICI, Gilberto. 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Estudos sobre o marco regulatório de saneamento básico no Brasil. Belo Horizonte: Fórum, 2011, p.244. 78 IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1052 DI SARNO, Daniela Campos Libório. Elementos de Direito Urbanístico. Barueri: Manole, 2004. ELIAS, Norbert. A Sociedade dos indivíduos. SCHROTER, Michael (org.); RIBEIRO, Vera (trad.); Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. GABARDO, Emerson. Interesse Público e Subsidiariedade. Belo Horizonte: Fórum, 2009. __________________; RAZUC, Nahima Peron Coelho. As diretrizes de reversão e transição no caso de extinção das delegações de serviços públicos de saneamento básico. In: PICININ, Juliana; FORTINI, Cristiana (org.). Saneamento básico: estudos e pareceres à luz da Lei n. 11.445/2007. Belo Horizonte: Fórum,2009. GARCIA, Maria. A Cidade e o Estado. Políticas públicas e o espaço urbano. In: GARCIA (org.). A Cidade e seu Estatuto. 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O propósito deste artigo é uma análise reflexiva sobre o processo de regionalização e regionalidade caririense articulado com o conceito de redes para um desenvolvimento regional sustentável. Metodologicamente buscamos na literatura os dados estudados que resultou em percepções não otimistas, como ausência de governança nas políticas públicas, urbanização sem planejamento, Globalização e suas consequências, conflitos territorial com interesses econômicos predominando, falta de diálogo com comum interesse regional e necessidade urgente de pensar o desenvolvimento sustentável para a região que cresce rapidamente. A sociedade, o mercado e o Estado precisam incorporar uma agenda para o desenvolvimento regional que garanta o desenvolvimento sustentável. PALAVRAS CHAVES: Desenvolvimento Regional, Redes, Regionalização e Regionalidade. Inicialmente propomos falar em localização no espaço e qualidade de vida, na atualidade é imprescindível para qualquer sociedade localizada em um território urbano ou rural ter as condições saudáveis para o seu desenvolvimento. Com a industrialização, urbanização e crescimento demográfico em diversas partes do planeta essas condições que poderiam garantir uma vida mais sustentável estão ameaçadas, com cada vez mais regiões enfrentando diversos problemas como escassez de recursos naturais, desigualdades sociais e concentração das riquezas geradas nas redes financeiras globais. A Região Metropolitana do Cariri cearense, principalmente Juazeiro do Norte, Barbalha e Crato é um território que se localiza dentro do semiárido nordestino, cercada pela chapada do Araripe, reserva florestal, o 80 Mestrando em Desenvolvimento Regional Sustentável-PRODER da Universidade Federal do Cariri, Bolsista CAPES/CNPq. [email protected] IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1056 que garante para a região um clima e vegetação diferenciada além de fontes naturais de água, um dos motivos de povoamento acelerado. Outro motivo que acelerou o crescimento demográfico foi os fatos históricos e religiosos envolvendo as figuras do Padre Cícero e da Beata Maria de Araújo que em 1989 uma hóstia foi dada pelo padre a beata e em comunhão está partícula transformou-se em sangue, onde atribuíram um milagre, o que gerou o surgimento de um catolicismo popular e um enorme fluxo de romarias e peregrinações que acontecem até hoje, como cidade mais urbanizada, em plena verticalização territorial, com maior comercio, e expansão de setores como educação e indústria, Juazeiro do Norte vai ganhando porte de metrópole e essa metropolização vai acarretando um conjunto de problemas típicos processo e comum em outras metrópoles brasileiras. Um processo natural e histórico de regionalização da Região do Cariri foi se configurando ao longo de sua formação, caracterizada por uma cultura fortemente atrelada as tradições populares, festas, movimentos de resistência, religiosidade popular, romarias, coronelismo e cangaço; com a instituição da metropolização, e com as políticas públicas esse forjamento de regionalização ganha novos sentidos e outros significados são amplamente percebidos em um discurso de modernidade, crescimento, desenvolvimento ou qualquer iniciativa que garante uma economia atuante e que se reverta em lucro para os financiadores de projetos desenvolvimentista do Cariri. O que acontece e a predominância do poder econômico querendo ditar os rumos de uma globalização local e enfrentando as resistências que se articulam nesse conflito de regionalização, como destacamos no diálogo de Haesbaert: Um primeiro pressuposto é o de que “regionalizar” significa, de saída, assumir a natureza regional, hoje, ao mesmo tempo como condicionado e condicionante em relação aos chamados processos globalizadores – ou melhor, como seu constituinte indissociável – a ponto de, muitas vezes, regionalização e globalização se tornarem dinâmicas tão imbricadas e complementares que passam a ser, na prática, indiscerníveis, muitos apelando para neologismos como “glocalização” para entender a complexidade desses processos. Mas a globalização, como bem sabemos, está longe de ser um consenso, em primeiro lugar por não representar um processo uniforme e, neste sentido, não ser propriamente “global”. Muitos pesquisadores preferem mesmo utilizar o termo sempre no plural, “globalizações” distinguindo aí suas múltiplas dimensões, a enorme desigualdade com que é IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1057 produzida/difundida e seus diferentes sujeitos – tanto no sentido daqueles que prioritariamente a promovem e a desencadeiam, quanto daqueles que a ela basicamente encontram-se subordinados. (HAESBAERT, 2010). Essa regionalização que acontece como processo constante de articulações e rearticulações dos sujeitos localizados dentro do espaço territorial e que aqui diferenciamos do processo de globalização, ou seja, processos que são globalizações que existentemente busca uma uniformização e homogeneização da região Metropolitana do Cariri, deixando suas consequências. São muitos os projetos globalizantes e globalizações constantes para a Região Metropolitana do Cariri, as políticas públicas carentes de maior participação popular são em sua maioria voltadas para um progresso globalizador, que não respeita a identidade da região, a regionalidade construída socialmente. Muitas obras públicas ou concessões para a iniciativa de mercado são justificadas apenas como obras necessárias a demanda de crescimento da região. Surge uma verticalização urbana emergente, e horizontalmente o crescimento vai se expandindo, nessa dinâmica encontramos obras que pretendem a homogeneização da Região Metropolitana do Cariri, como conjuntos habitacionais, centros comerciais e prédios públicos todos padronizados, são muitas as iniciativas que não respeitam a regionalidade, que não estão dentro de uma racionalidade sustentável, apenas contempla a economia de mercado. O que preocupa e saber é que a maioria das regiões metropolitanas brasileiras segue o mesmo processo de globalização, sendo reforçado pelo mercado e uma necessidade criada pela mídia, pesquisadores como Sennett e Bauman, chama a atenção para essas cidades que cresceram nessa lógica globalizante: E ele mesmo pinta um quadro assustador do estrago causado às “vidas de pessoas reais em nome da realização de algum plano abstrato de desenvolvimento ou renovação”. Sempre que foi empreendida a execução de tais planos, as tentativas de “homogeneizar” o espaço urbano, de torna-lo “lógico” “funcional” ou “legível” redundaram na desintegração das redes protetoras tecidas pelos laços humanos, na experiência. (BAUMAN, 1999). Pensar como está se constituindo a regionalidade do Cariri e logo o sujeito caririense pode revelar o conjunto de elementos dessa identidade regional, coisas que a globalização vai IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1058 omitindo na sua dinâmica homogeinizadora, esses elementos de identidade muitos deles não são nem reconhecidos pelo sujeito caririense ou vai sendo esquecido no tempo e no espaço. A Região Metropolitana do Cariri, com sua identidade cultural compõem-se de redes que são importantes para sua regionalidade, lugar que simbolicamente é marcado pelo sagrado, a memória viva dos artigos índios cariris ao catolicismo popular de Padre Ibiapina, Padre Cícero, Beata Maria de Araújo, Beato José Lourenço, as romarias e devoções populares, santidades não oficiais e diversas manifestações religiosas. O cangaço com os cangaceiros caririenses conhecidos como os Marcelinos que foram executados no “alto do leitão” (estrada vicinal conhecida antigamente como estrada da feira, na bifurcação de Crato, Juazeiro e Barbalha) sem julgamento em 1928 por ação militar do governo do estado na época, Coronelismo, sempre foi lugar de coronéis com suas dinâmicas sociais e políticas, as tradições em festas populares, mestres da tradição oral, produção artística dos artesãos, literatura de cordel entre outros elementos do imaginário, um patrimônio material e imaterial que são significativos nesse processo de regionalização, e que a globalização tenta desarticular em busca de uma homogeneização, quanto a isso Bauman alerta: Numa localidade homogênea é extremamente difícil adquirir as qualidades de caráter e habilidades necessárias para lidar com a diferença humana e situações de incerteza; e na ausência dessas habilidades e qualidades é facílimo temer o outro, simplesmente por ser outro – talvez bizarro e diferente, mas primeiro e sobretudo não familiar, não imediatamente compreensível, não inteiramente sondado, imprevisível. (BAUMAN, 1999). A Região Metropolitana do Cariri com toda sua diversidade tem enfrentado um grande desafio nessa urbanização globalizante, tem resistido, e a vida urbana só pode ganhar significado sustentável se não for um projeto uniforme e homogêneo. A identidade de uma região se caracteriza nas relações dos sujeitos da região com a sua cultura, ou seja, envolve identificação, como ressalta Haesbaert: A “identidade de uma região” se refere “ás características de natureza, cultura e dos habitantes que distinguem ou, de fato, podem ser usadas nos discursos da ciência, da política, do ativismo cultural ou da economia para distinguir a região frente as demais”, através de classificações que excluem determinados elementos e incluem outros, expressando assim “o poder de delimitar, IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1059 nomear e simbolizar o espaço e grupos de pessoas” (PAASI, 2002b: 140). Por outro lado, a “identidade” ou “consciência” regional – ou, se quisermos, também, num certo sentido, regionalidade – envolve a identificação dos habitantes com sua região, tanto dentro quanto fora dela. Participam na sua construção ativistas sociais, instituições e organizações. (HAESBAERT, 2010). Dentro dessa regionalização enquanto processo em construção e dessa regionalidade enquanto identidade e identificação dos sujeitos caririenses com seu lugar, está surgindo cada vez mais um debate sobre desenvolvimento regional e sustentabilidade, sendo ampliado o conceito de desenvolvimento sustentável, redes e territórios, no que diz respeito a um conjunto de atores que protagonizam dentro da Região Metropolitana do Cariri e ideia de pensar uma sociedade sustentável, cada sujeito que desenvolve uma relação dentro do espaço territorial contribuindo com ações individuais ou coletivas sustentáveis está diretamente contribuindo com esse projeto de ampliar e fortalecer uma sociedade caririense culturalmente sustentável, essa ação identificamos como protagonismo sustentável e cada protagonista sustentável é um sujeito com regionalidade consciente. O campo de atuação do protagonista sustentável é o seu território, a localização do espaço social e ambiental, cuja ação sustentável tem fundamentalmente a ideia do local para o global e assim a cultura é uma base forte nesse processo, a identidade local, os aspectos simbólicos, a diversidade e os conhecimentos acumulados culturalmente do lugar onde tem protagonismo sustentável são valores significativos. Hassan Zaoual e sua teorização sobre territórios, sítio, do homo sitio apresenta um pensamento muito coerente com a cultura de um lugar, o território como espaço único, com suas crenças, valores, tradições e saberes que são construídos ao longo do processo histórico de um povo, nesse sentido Zaoual diz que os modelos econômicos transportados de outra realidade para um sítio ou não se adaptam ou causa grande prejuízo. A ideia de homo situs que Zaoual defende tem semelhança com o protagonista sustentável que estamos abordando, para ele: O homo situs é um homem concreto que combina vários imperativos ao mesmo tempo. Devido ao peso do sítio sobre seu comportamento, o homo situs tem ética, identidade e racionalidade que ele constrói in situ. É um IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1060 homem concreto que sabe o que faz, não é um “idiota cultural”. Opera com base na racionalidade situada e compósita, cuja análise requer modelos mais complexos do que aquele que apresenta a racionalidade econômica ordinária. (ZAOUAL, 2006) Podemos pensar o protagonista sustentável com relação e semelhança do homo situs, nas ações sustentáveis que confronta os modelos econômicos insustentáveis, a globalização que busca desarticular as redes culturais e simbólicas de uma região, esse imperativo ético em cooperar com ações afirmativas locais que reflete numa perspectiva global, faz do protagonista sustentável um ser de racionalidade situada, situado com sua regionalidade sustentável. Precisamos de mais ativismo sustentável que protagonize um debate ainda maior com a população da Região Metropolitana do Cariri, pois o momento é oportuno para as discussões sobre essa regionalização que se realiza e é mais presente na urbanização, modificação do espaço, aglomerados comerciais e industriais, ocupações indevidas e insustentáveis, aumento no consumo e produção de lixo, aterro sanitário e mobilidade urbana entre uma complexidade de demandas com esse crescimento emergente, certamente tudo vai sendo modificado rapidamente e como consequência podemos perder traços da identidade e da memória local, o patrimônio histórico cultural, os locais de memória religiosa, o patrimônio ambiental entre outros símbolos da nossa regionalidade. Basta comparar a Região Metropolitana do Cariri com outras regiões metropolitana que já tiveram o seu processo de crescimento e incharam causando grande prejuízo a memória do lugar. A Região Metropolitana de Fortaleza com a industrialização e verticalização urbana foi prejudicada em muito a qualidade de vida dos habitantes, sem contar nas percas de identidades culturais e patrimônios históricos que deram lugar ao progresso, dentro de uma globalização imposta e uma regionalização insustentável e sem planejamento, com políticas publicas sem governança e imediatas ações de governo que tem como finalidade última realizar os projetos de campanha política sem a participação democrática. Queremos também pensar a Região Metropolitana do Cariri localizando-a dentro do conceito de redes, que tem sua significação dentro do contexto de comunicação e interação social, principalmente dentro da globalização; a rede Cariri ganha um conceituação que IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1061 exemplifica essa dinâmica de articulação e rearticulação constante da regionalização do Cariri, ou da rede cariri. Segundo Enne rede é: Uma rede seria, portanto, uma construção social de relações de grandezas distintas, mas que possibilitariam o contato entre diversos elementos que iriam gerar sua composição (por exemplo, parentesco, vizinhança, laços políticos, dentre outros). Esse conceito de rede poderia ser aplicado para diversos estudos sociais, sendo útil. (ENNE, 2004) As diversas redes que formam a rede Cariri com os sujeitos interagindo vão socialmente configurando uma regionalização e com todos os conflitos dessas articulações deve prevalecer o entendimento de que é necessário pensar o desenvolvimento regional com sustentabilidade, não é interessante uma globalização e nem possível uma globalização total e sendo assim a resistência deve ser mais consciente, não é interessante somente o progresso econômico como única finalidade para crescer, pelo contrário, precisamos de desenvolvimento e que seja articulado com toda a rede Cariri, com pleno senso crítico de reinventar uma nova regionalização com sustentabilidade para consolidarmos uma regionalidade sustentável. Não podemos deixar de reafirmar que na rede Cariri muitos elementos simbólicos da cultura local, das tradições, dos lugares de memória e da história não são contemplados dentro da lógica do crescimento urbano acelerado e sem planejamento, sem políticas publicas que contemple uma governança participativa o que temos é cada vez mais interferência nessa identidade cultural da rede Cariri. Queremos aqui destacar um potencial roteiro da memória da rede Cariri, que consta de um conjunto de lugares onde aconteceram fatos históricos que ainda hoje estão muito vivo na memória do sujeito caririense, compreendendo as cidades de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha que são conurbadas, esse roteiro é um potencial para o turismo cientifico cultural, ambiental e religioso e ainda necessário para o tombamento do patrimônio material e imaterial da rede Cariri, temos no sitio Mata dos Araçás zona rural de Barbalha o cemitério “alto do Leitão” onde estão sepultados os corpos dos cangaceiros caririenses, que foram executados em um dos episódios mais dramáticos do cangaço nordestino: IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1062 Cenário emblemático do monumento dos Fuzilados do Leitão em Barbalha; o famoso Alto do Leitão. Ali, há poucos quilômetros do centro de uma das mais acolhedoras cidades do cariri, "à beira da Estrada Real" que ligava Barbalha a Crato, aconteceu a covarde chacina do grupo do cangaceiro Lua Branca, último dos irmãos Marcelinos, pelo Sargento José Antônio da policia do Ceará. O Massacre do Alto do Leitão foi sem dúvidas um dos mais marcantes episódios do cangaço na região do Cariri. No dia 05 de janeiro de 1928 o último dos irmãos Marcelinos; nesta época seus dois irmãos: Bom de Veras e João 22 já haviam sido eliminados; conhecido por Lua Branca, seria barbaramente assassinado pelo grupo do sargento José Antônio, quando supostamente eram transferidos pela "Estrada da Feira", de Barbalha para cadeia do Crato e dali para Fortaleza. Na oportunidade o mais novo dos Marcelinos era morto, ao lado dos companheiros JoãoeJoaquim Gomes, Pedro Miranda e Manoel Toalha. Naquele dia os presos foram tirados da casa de detenção, cadeia de Barbalha com o destino ao Crato, o trajeto era feito por uma antiga estrada usada pelos almocreves que transportavam alimentos e outros gêneros oriundos da Serra do Araripe e das redondezas, para a feira do Crato. Cerca de alguns quilômetros do centro de Barbalha, o inesperado; O sargento José Antônio e seus homens; ordenou que parassem e de posse de enxadas e pás começassem a cavar covas rasas à beira do caminho. O desespero e a coragem do grupo acabou tornando a chacina ainda mais dramática. Uns conseguiram com coragem cavar e esperar o desfecho provável... Outros não conseguiram e tentaram correr em fuga, todos tiveram o mesmo fim: Morte e sepultamento nas covas cavadas pelos próprios presos. A antiga "Estrada da Feira" ainda guarda suas marcas por entre as cercas e o que restou da caatinga bruta desses lados do sertão cearense. (CARIRI CANGAÇO, 2013) IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1063 Alto do Leitão: Fonte Cariri Cangaço Bem próximo ao Alto do Leitão, ainda em Barbalha tem a capela de São Sebastião, onde o Padre Cícero celebrou missa, quando esteve proibido pelo bispo Dom Joaquim de celebrar na cidade de Juazeiro, logo após que a igreja condenou o milagre da hóstia, protagonizados pelo padre e a beata Maria de Araujo e principal motivo das romarias. Na localização do alto do leitão, avista-se o bairro Lagoa Seca em Juazeiro, em Crato o monumento a Fátima que recentemente foi edificado e tem se a visão da chapada do Araripe, sendo possível visualizar o distrito do Caldas. Estivemos pesquisando esse possível roteiro turístico que se traduz numa rede de significados da história e memória da rede Cariri, estrategicamente a localização poderia a vir ser um parque temático, com fácil acesso equidistante das três cidades, pois caso não seja pensado um desenvolvimento sustentável para o lugar tudo pode desaparecer pelo acelerado crescimento e especulação do mercado imobiliário que já avança próximo do alto do leitão. O Alto do Leitão, a capela de São Sebastião, A chapada do Araripe, o Balneário do Caldas, o Monumento de Nossa Senhora de Fátima, formam uma rede de lugares associados a IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1064 personagens da História, que se articula com outras redes culturais, sociais, econômicas e comerciais e como essa interligação reticular está constantemente se articulando e se reinventando com várias outras redes dentro da rede Cariri. Consideramos finalmente que a Região Metropolitana do Cariri, ou rede Cariri, tem sido um território de contrastes entre essa globalização incitada pelo crescimento econômico e urbanização padrão, a regionalidade caririense inventada e reinventa constantemente dentro do processo de regionalização que acirra um conflito entre a identidade local e os ideais globalizantes e o olhar para o futuro, compreendendo uma postura sobre sustentabilidade, onde a atuação política dos sujeitos sustentáveis busca protagonizar essa necessidade de uma região planejada com sustentabilidade. A sociedade, o mercado e o Estado precisam incorporar uma agenda para o desenvolvimento regional que garanta o desenvolvimento sustentável na rede Cariri, ou seja, na Região Metropolitana do Cariri. REFERÊNCIAS ARIÈS, Paul: A Simplicidade voluntária contra o mito da abundancia. São Paulo. Loyola, 2013. BAUMAN, Zigmunt. Globalização: As consequências humanas. Rio de Janeiro: Zahar, 1999. BURSZTYN, Marcel (org.) Ciência, ética e sustentabilidade. São Paulo: Cortez, 2001. CHACON, Suely Salgueiro. O Sertanejo e o caminho da s águas: políticas públicas, modernidade e sustentabilidade no semi-árido. Fortaleza: BNB, 2007. Série Teses e Dissertações. Vol. 8. ENNE, Ana Lúcia. Conceito de rede e as sociedades contemporâneas: Comunicação e Informação, V7, n°2: pág. 264-273-jul./dez.2004. HAESBAERT, Rogério. Região, regionalização e regionalidade: questões contemporâneas. ANTARES, n° 3 – Jan/jun 2010. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. 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Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1066 RELAÇÃO ENTRE DESIGUALDADE DE RENDA E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO BRASIL, 1995-2012 Janaina Cabral da Silva81 Jair Andrade Araujo82 Andréa Ferreira da Silva83 Joyciane Coelho Vasconcelos84 Resumo: O escopo deste trabalho detém-se a verificar, nos estados do Brasil, a correlação existente entre a desigualdade de renda e o crescimento econômico sob a hipótese do U-invertido de Kuznets no período de 1995 a 2012. A suposição do U-invertido – hipótese de Kuznets (1955) – alude, no curto prazo, que há uma conexão positiva entre a desigualdade de renda e o nível de renda per capita. Já no longo prazo, percebe-se uma relação de U-invertido, pois há uma inversão desta relação. A usabilidade de dois tipos de indicadores da desigualdade de renda, o coeficiente de Gini e o índice de Theil, juntamente com a econometria dos dados em painel dinâmico, faz parte deste trabalho para testar, empiricamente, a relação entre a desigualdade de renda e o crescimento econômico. Dentre outros resultados, conclui-se que a hipótese de Kuznets é confirmada nos estados brasileiros. Palavras-chave: Curva de Kuznets; Desigualdade; Crescimento Econômico Abstract: The scope of this study aims at verifying the correlation between income inequality and economic growth in the states of Brazil under the assumption of Kuznets’ inverted-U, comprising the period from 1995 to 2012. The assumption of the inverted-U – Kuznets’ hypothesis (1955) – alludes that there is a positive connection between income inequality and the level of per capita income in short term. However, if a long term is considered, one can notice an inverted-U relationship, because there is an inversion of this relationship. The usability of the two types of indicators of income inequality, the Gini and the theil coefficient, along with the data econometrics in dynamic panel, is part of this study in order to test mpirically the relationship between income inequality and economic growth. Among other results, it is concluded that the Kuznets’ hypothesis is confirmed in the Brazilian states. 81 Economista. Mestranda em Economia Rural (MAER) - Campus do Pici/UFC.Fortaleza/Ceará. E-mail: [email protected]. Fone: 85 9773-4161 82 Prof. Dr. Adjunto do Curso de Mestrado em Economia Rural (MAER) - Campus doPici/UFC. Fortaleza/Ceará. E-mail: [email protected]. Fone: 85 9174-7491 83 Economista. Mestranda em Economia Rural (MAER) - Campus do Pici/UFC. Fortaleza/Ceará. E-mail: [email protected]. Fone: 88 9729-0750 84 Economista. Mestranda em Economia Rural (MAER) - Campus do Pici/UFC. Fortaleza/Ceará. E-mail: [email protected]. Fone: 88 9924-0854 IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1067 Keywords: Kuznets’ Curve; Inequality; Economic Growth. 1 INTRODUÇÃO Os debates acerca da relação entre crescimento econômico e desigualdade de renda tomaram mais espaço nas discussões econômicas, em 1950, por meio dos trabalhos pioneiros de Simon Kuznets. Desde então, vários outros estudos e métodos foram preparados com o intuito de mensurar a desigualdade de renda, tanto para os países desenvolvidos como, também, para os países em desenvolvimento. Em 1955, Simon Kuznets elaborou um referencial teórico com base na análise do processo de mudança de economias agrícolas para industrialização na Inglaterra, Alemanha e nos países do Reino Unido. Esta teoria assegura que o processo de desenvolvimento econômico deveria gerar um período inicial de concentração de renda no instante em que a migração de pessoas e recursos passasse a ocorrer da agricultura para as áreas urbanas e industrializadas, contudo, essa tendência se reverteria a medida que o processo de migração fosse atenuando. Tal acontecimento se dá pela diferença de rendas da população entre os dois setores que podem ser estudados por meio da renda per capita média industrial, da participação da renda setorial em relação à renda total e da desigualdade nas participações populacionais que tendem a serem superiores no setor urbano em relação ao rural (SALVATO et. al., 2006 e BARRETO, NETO e TEBALDI, 2001) Kuznets (1955), debate acerca da distribuição de renda no intuito de descobrir se a desigualdade na distribuição de renda eleva ou decresce no decorrer do crescimento econômico de um país e os fatores que a determinam em longo prazo e se sua origem poderia estar ligada ao crescimento econômico. A correlação e reflexão existente entre o crescimento econômico e a desigualdade de renda é uma temática de suma importância na história do pensamento econômico, apesar de ser, no entanto, um elemento de controvérsias. Estudos como o de Deininger e Squire (1996, 1998), Ravallion e Chen (1997), Easterly (1999) e Dollar e Kraay (2002) acenam que o crescimento econômico não está relacionado a altos níveis de desigualdade de renda. Em IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1068 contrapartida, Alesina e Rodrick (1994) e Alesina e Perotti (1996), aludem que a desigualdade de renda está relacionada com o crescimento econômico. A hipótese de Kuznets, U-invertido, foi testado, também, por alguns autores que utilizaram dados alusivos ao Brasil, tais como os trabalhos de Barros e Gomes (2007), Júnior et al. (2007), Bêrni, Marquetti e Kloeckner (2002) e Salvatoet al. (2006). As estimativas indicadas variam de acordo com diferentes rendas per capita em sua forma linear e quadrática, utilizando o índice de Gini e L de Theil para mensurar a desigualdade de renda em todos os métodos econométricos. Diante disto, o objetivo central do presente artigo é verificar, nos estados do Brasil, a correlação existente entre a desigualdade de renda e o crescimento econômico sob a hipótese do U-invertido de Kuznets no período de 1995 a 2012, uma vez que, mesmo a desigualdade na distribuição de renda no país sendo considerada um problema grave, causador do aumento da pobreza e da criminalidade, o Brasil tem estado entre as nações com melhores índices econômicos. Sendo assim, todas as unidades federativas do Brasil, incluindo o Distrito Federal, no período compreendido entre 1995 e 2012, serão utilizadas como base de dados neste trabalho, acoplando, em sua análise, as informações da desigualdade de renda – índice de Gini e L de Theil –, renda domiciliar per capita, anos de estudo e expectativas de vida que uma pessoa tem ao nascer. Sendo esta, base de dados, construída a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNADs, disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE e da base de dados do IPEADATA. Embora este trabalho possua um assunto comumente discutido, em âmbito acadêmico, a evolução da desigualdade no Brasil torna-se importante devido aos paradoxos que o próprio modelo de crescimento econômico, neste adotado, implica. Diferente dos artigos que outrora trabalharam com esta temática, opta-se aqui por fazer uso de um modelo dinâmico para dados em painel, desenvolvidos por Arellano e Bond (1991), Arellano e Bover (1995) e Blundel e Bond (1998). Desta forma, este estudo, além dessa introdução, estrutura-se em mais cinco seções. Na próxima, será exposto o referencial teórico e empírico que dá fundamento a problematização aqui sugerida, contando com o artigo de Kuznets (1955) e a revisão de IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1069 literatura produzida sobre esta temática. A seção três, define e discute a base de dados. Sequencialmente, a quarta seção, apresenta o modelo econométrico e os métodos de estimação utilizados. Em seguida, há uma análise dos resultados obtidos da estimação do modelo econométrico – seção cinco. E, por fim, completando a estrutura deste trabalho, a sexta seção, conclui de forma singular a exposição das considerações finais. 2 PROPOSTA DE KUZNETS Utilizando-se como referência o próprio artigo de Kuznets – um clássico de 1955 – e esquadrinhando-se em sua teoria os principais elementos que subsidiou, posteriormente, a formulação da hipótese do U-invertido, seguir-se-á um resumo da proposta de Kuznets, bem como uma breve revisão da literatura. 2.1 “Economic Ghowth and Income Inequality”, o artigo O exemplar artigo “EconomicGhowthandIncomeInequality”, de Simon Kuznets, retrata a relação entre a desigualdade de renda e o crescimento econômico. Kuznets (1955) destrincha seu trabalho de forma singular e fazendo apologia ao caráter e as consequências das mudanças de longo prazo na distribuição de renda. Para o autor, há pelo menos dois grupos de força para o desenvolvimento dos países no longo prazo que induzem ao crescimento da desigualdade na distribuição da renda – distribuição de renda da estrutura industrial e concentração de poupança nas faixas de renda mais elevadas. Por decorrência do processo de industrialização e urbanização, a migração rural, procurando melhores condições de vida, aconteceu de forma significativa. Com isso, para se analisar a distribuição de renda da população em sua totalidade, torna-se imprescindível compreender o método de como a renda, nas cidades e no campo, é compartilhada, uma vez que a desigualdade da distribuição e a renda per capita média rural são usualmente menores que a urbana, principalmente pela decorrência de menor produtividade intrínseca as atividades de cada meio. Ao considerar a desigualdade na distribuição de poupança sendo mais elevada que na distribuição das rendas pessoais e dos ativos, a poupança acaba se limitando aos grupos mais IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1070 ricos da sociedade, tendo como consequência, ceterisparibus, uma concentração de uma proporção crescente de rendimentos nas mãos dos grupos de renda mais elevados. Ainda em sua obra, Kuznets (1955) propõe alguns questionamentos acerca da distribuição de renda, a saber: Será que a desigualdade na distribuição de renda eleva ou decresce no decorrer do crescimento econômico de um país? Quais são os fatores que determinam a desigualdade de renda no longo prazo? Tais questionamentos, em linhas gerais, comprovaram a sua preocupação com o grau de desigualdade na distribuição de renda, cuja origem poderia estar associada ao crescimento econômico. Segundo as ideias do autor, as questões supracitas são amplas em um campo de estudo que tem sido assolado por poucas definições, escassez incomum de dados e as pressões de opiniões fortemente defendidas. Ressalta, ainda, que embora não se possa evitar completamente as dificuldades resultantes,pode-se auxiliar nas especificações características das distribuiçõesdo tamanho da renda que se deseja examinar e os movimentos que se espera explicar. As proeminências empíricas, do estudo de Kuznets, recomendam que a diminuição da desigualdade nos países desenvolvidos ocorra, tão somente, nas últimas fases do processo de crescimento e em função dos seus benefícios. A sociedade materializa-se com um maior acesso as redes de saúde e educação, induzindo, como decorrência, a um aumento da produtividade, o que acabam disponibilizando os efeitos da rápida industrialização e urbanização. Discorre, também, que conforme as economias experimentam o crescimento, o acesso à educação é capaz de fornecer melhores oportunidades, diminuir as desigualdades e as parcelas mais pobres da população tornando-os mais politizados e capazes de modificar as políticas do governo. As consequências do deslocamento da revolução agrária para a industrial, juntamente com a elevação populacional, mediante ao rápido declínio nas taxas de mortalidade e manutenção, ou até mesmo, ampliação da taxa de natalidade provoca um aumento da desigualdade logo nos períodos inicias. A taxa de crescimento da população de acordo com Kuznets pode ser considerada em parte como causa e em parte como efeito do longo movimento da desigualdade de renda. Além do mais, vale ressaltar que, nesta fase, incide a IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1071 preponderância de fatores que beneficiam o mantimento ou elevação dos grupos retentores do capital, na medida em que sua posição é alentada pelos ganhos advindos das novas indústrias. Mediante contextualização acima, pode-se assumir um modelo de dinâmica da desigualdade, dependente de um regime específico de crescimento capaz de caracterizar a estrutura secular da distribuição de renda, em que a desigualdade se acentua nos momentos iniciais do crescimento econômico, consolida por um período e diminui nas últimas fases. Esse padrão temporal é ajustado à população mais pobres, porém, os resultados adquiridos mencionam que o processo de diminuição da desigualdade, analisado nos países desenvolvidos é marcado pela parte crescente da trajetória da desigualdade ao longo do tempo – simulada por ele na curva de U-invertido. Vários estudos e métodos foram preparados com o objetivo de explorar a natureza da relação entre distribuição de renda e crescimento, tanto para países desenvolvidos, como para países em desenvolvimento. No intuito de explanar a proposta deste trabalho, a próxima seção de deterá na revisão de literatura dos trabalhos outrora elaborados sobre a proposta de Kuznets, revelando suas fundamentações teóricas, bem como as evidências empíricas encontradas. 2.2 Revisão da Literatura De acordo com Kuznets (1955), é de suma importância o estudo acerca da tendência secular da estrutura da renda, bem como dos fatores que a determinam, avaliando as características e procedências das alterações de longo prazo, uma vez que qualquer percepção adquirida por observação nas mudanças dos agregados de algum país, ao longo do tempo, será válida se explicadas em termos de movimentos das partilhas dos variados grupos da população, podendo ser mensuradas por meio de percentis, decis ou quintis. Em EconomicGrowthandIncomeInequality, Simon Kuznets (1955) quanto à dinâmica da distribuição de renda ao longo dos processos de industrialização e urbanização, ilustrou sua teoria a partir de um modelo de economia dualista, trabalhando com um setor não agrícola e outro agrícola, objetivando analisar a relação entre desigualdade de renda e o crescimento IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1072 econômico. Conjecturava-se que a desigualdade de renda aumentaria no curto prazo e, com o crescimento econômico, reduziria – configurando um U-invertido. Permutando a população de um setor para outro, tradicional agrícola para o moderno industrializado, elevaria a desigualdade de renda, uma vez que este setor mais dinâmico é, também, mais rico e mais desigual. Tal fenômeno se dá pela diferença de rendas da população entre os dois setores que podem ser analisadas por meio da renda per capita média industrial, da participação da renda setorial em relação à renda total e da desigualdade nas participações populacionais que tendem a ser superiores no setor urbano em relação ao rural (SALVATO et. al., 2006 e BARRETO, NETO e TEBALDI, 2001). Em relação aos dados, Kuznets (1955) atenta para as classificações em distintas categorias de renda com diversas dimensões e aos percalços decorrentes da carência de dados para longos períodos. Para o estudo dessa dinâmica, o autor, ao utilizar séries temporais dos Estados Unidos, Reino Unido e uma limitada amostra para a Alemanha (Prússia e Saxônia), sugere que uma distribuição de renda relativa, estimada pela incidência de renda anual entre as classes, revelou um movimento de igualdade maior na década de 1920, apresentando-se, também, evidências no período que antecedeu ao da I Guerra Mundial. Fora percebido que nos Estados Unidos, a aproximação das rendas em meio aos diferentes grupos aconteceu entre a crise de 1929 e o Pós-Segunda Guerra Mundial. O mesmo acontecimento foi notado na Inglaterra, entre 1910 e 1947, em decorrência do empobrecimento das camadas mais ricas, enquanto a quantia de renda dos mais pobres se manteve constante até o ano de 1919, se elevando no período compreendido entre os anos de 1929 a 1947. Já na Prússia, foi constatado um movimento crescente da desigualdade de 1875 a 1913 e na Saxônia, a variação foi mínima nos anos entre 1880 e 1913. Contudo, na Alemanha, como um todo, foi constatado que a desigualdade caiu consideravelmente entre 1913 e 1920. Para Kuznets (1955), a Primeira Guerra Mundial e os níveis altos da inflação teriam colaborado para tal e, assim, regressando, entretanto ao antigo patamar durante a grande depressão de 1929. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1073 Após a publicação dos trabalhos desbravadores de Simon Kuznets nos anos de 1950 e 1960, as discussões sobre a relação entre nível de renda per capita e desigualdade de renda apresentaram maior repercussão no debate econômico. Desde então, variados estudos e métodos foram elaborados com o objetivo de medir a desigualdade de renda, tanto para países desenvolvidos como para países em desenvolvimento (TAQUES e MAZZUTTI, 2010). Fields (2002) assegura que a literatura adotou duas segmentações com os estudos de Kuznets, onde uma tende para os modelos que analisam o formato de U-invertido – a partir do nível de desenvolvimento econômico – e outra que utiliza bases empíricas para corroborar, ou não, com a proposta de Kuznets. No intuito de testar a hipótese do U invertido, realizaram-se diversas estimativas. Os métodos de cross-section e séries de tempo foram vastamente usados nos estudos das décadas seguintes à sugestão de Kuznets, mas suas limitações não deixaram de ser apontadas por outros autores. Como alternativa, a estimativa em dados de painel tem sido amplamente utilizada e apresenta resultados estatisticamente mais significantes (TAQUES e MAZZUTTI, 2010). Fields e Jakubson (1994), ao escolher dados de países desenvolvidos e em desenvolvimento, assumem que certos países podem estar acima ou abaixo da média da curva de Kuznets. Logo, a linha central poderia ser estimada por meio da metodologia de efeitos fixos. Diversificados resultados dos autores divergiram, isso a partir do método econométrico utilizado, podendo a diferença ser explicada por meio da observação dos resultados entre países e em um único país. A maioria dos estudos empíricos que englobam grupos de países desenvolvidos e em desenvolvimento, na literatura internacional, faz menção e é favorável a hipótese de Kuznets, ainda que utilizadas metodologias diferenciadas. Sendo assim, Kravis (1960), Oshima (1962), Adelman e Morris (1974), Paukert (1973), Ahluwalia (1976a), Robinson (1976), Ram (1989), Perotti (1993), Dawson (1997), e Ogwang (2000) e Sylvester (2000), representam um grupo de estudos fundamentados em dados de corte transversal (cross-section) e que reportam evidências favoráveis à hipótese em questão. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1074 Hsing e Smith (1994), utilizando dados de séries temporais para a economia americana, não rejeitam a hipótese de Kuznets. O mesmo ocorre nos estudos de Forbes (2000), Deininger e Squire (1998), Barro (2000) e Thornton (2001) ao valer-se de dados em painel. Já Fields e Jakubson (1994), são um dos principais trabalhos que não apoia a hipótese do U-invertido, sendo baseado em estimativas para o painel com efeitos fixos. Em esfera nacional, existem trabalhos que, também, parecem evidenciar o comportamento do U-invertido recomendado por Kuznets. Utilizando dados do Valor Adicionado Fiscal (VAF) e do índicede Theil,Bêrni, Marquetti e Kloeckner (2002) evidenciam a existência de uma curva de Kuznets para o setor industrial e o de serviços do Rio grande do Sul em 1991, mas não obtém resultados, estatisticamente, relevantes para o setor agropecuário. Empregando dados em painel para os municípios do Rio Grande do Sul, Bagolin, Gabe e Pontual (2003), também legitimam a relação do U-invertido entre a renda per capita e índice de Theil, considerando o período de 1970, 1980 e 1991. Jacinto e Tejada (2004) lançaram mão de dados cross-section e em painel para as cidades do Nordeste brasileiro, analisando os anos de 1970 e 1991, encontrando, também, evidências da referida curva. Salvatoet al. (2006), abordando os anos de 1991 e 2000, também, levantam evidências de que para os municípios de Minas Gerais, a correlação entre desigualdade de renda e desenvolvimento econômico estar em conforme com a teoria de Kuznets. Porto Júnior et al. (2007), em suas estimativas para cross-section, a renda per capita linear e quadrática foram utilizadas como medidas, objetivando captar alterações direcionais na distribuição da renda de acordo com a sua elevação. Os autores verificaram que para dados em painel, no Rio Grande do Sul, a estimação com efeitos fixos alude que o desenvolvimento inicial foi superado e que a desigualdade de renda não é mais tão elevada, comparando-a com o Paraná. 2.3 Relação entre Desigualdade e Crescimento Econômico Tendo em vista um maior entendimento quanto a compreensão da relação existente entre a desigualdade e o crescimento econômico, esta subseção esboça um panorama geral da IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1075 forma como a literatura econômica trata o enfoque da desigualdade de renda afetando o crescimento econômico. Nos mais variados estudos, a relação da desigualdade versus crescimento econômico tem sido analisada de forma a considerar as causalidades que há entre essas variáveis. Vários debates associados a estas, tem sido abrangente no tocante a temas de como a desigualdade é gerada e como se reproduz por meio do tempo, ou, ainda, como a desigualdade e o processo de desenvolvimento econômico se relacionam. Segundo a visão de Diniz (2005), sucede uma relação de dupla causalidade entre as variáveis em questão. O crescimento econômico pode ser acatado como um processo pelo qual a renda per capita de uma dada sociedade se ergue. Ao passo em que ocorre, mudanças estruturais quantitativas e qualitativas o acompanham. O economista Amartya Sen (2000), alude que o crescimento econômico pode contribuir tanto para elevação das rendas como possibilitar o financiamento da seguridade social e a intervenção governamental ativa de tal forma que sua contribuição deve ser julgada não apenas pelo incremento das rendas, mas, também, pela expansão dos serviços sociais que este possibilita. Há várias maneiras pelas quais o crescimento econômico pode influenciar o bem-estar e a distribuição de renda. De acordo com seu artigo, Kuznets (1955), mostra que a evolução secular da distribuição da renda no curso do desenvolvimento tem o formato de um Uinvertido. Logo, o crescimento econômico levaria, inicialmente, a um período de aprofundamento da desigualdade, porém, tenderia a se reduzir ao longo do período de desenvolvimento econômico secular. Conforme Cinca (2011), o crescimento econômico mensurado por meios do Produto Interno Bruto (PIB), ao ignorar o modo que a renda gerada se distribui, não é um bom indicativo do bem estar econômico em determinada sociedade. Assim sendo, a partilha dos benefícios do crescimento econômico está diretamente relacionada com as características socioeconômicas e industriais do país. Salama e Destremau (1999) asseguram que quanto menos desigual for uma determinada sociedade, mais elevado será o crescimento, mais igualitário será a partilha dos benefícios na sociedade e maior será sua eficácia na redução da pobreza. A princípio, a IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1076 eficiência do crescimento depende de sua amplitude e duração e, do “tamanho” da pobreza, isto é, quão distante da linha de pobreza está o rendimento médio dos pobres e a distribuição entre os mesmos. Portanto, pode-se dizer que há uma relação intrínseca entre crescimento e desigualdade. Para alguns autores, a desigualdade pode instigar o crescimento, mas, para outros, a desigualdade poderia esfria-lo e para um terceiro grupo de estudiosos, este último não tem nenhum impacto sobre a desigualdade. Barros e Mendonça (1997) e Barros et al. (2007), ressaltaram que, no Brasil, reduções no grau de pobreza requerem o crescimento econômico ou o decréscimo do grau de desigualdade. Fazendo-se um estudo acerca dos estados brasileiros, Castelar (2007) faz uma análise da relação crescimento e desigualdade entre anos de 1985 e 2002 em um painel que ao empregar o método Arellano e Bond de dois estágios, se deparam com a desigualdade de renda afetando negativamente o crescimento econômico. Desta forma, corroborando a hipótese de convergência, na qual valores iniciais baixos de renda ou do produto eleva o crescimento. Já os autores Ferreira e Cruz (2010), por meio de um modelo com efeito threshold, examinam a existência de clubes de convergências na desigualdade de renda dos municípios do Brasil entre os anos de 1991 a 2000. Segundo os autores, encontraram-se seis clubes de convergência em que os fatores que geraram o arrefecimento da desigualdade na distribuição de renda no país, operaram de forma assimétrica nos municípios no período analisado. Entretanto, no processo de convergência, a renda do trabalho revelou-se de forma mais significativa para a diminuição da desigualdade do que a renda proveniente das transferências governamentais. No Brasil, entre os anos 2001 e 2004, a desigualdade de renda familiar per capita caiu de forma contínua e substancial, alcançando seu menor nível nos últimos trinta anos. Essa desconcentração levou a uma expressiva redução da pobreza e da extrema pobreza. Em contra ponto, o país se encontra entre os mais desiguais do mundo (IPEA, 2006). Segundo Barros et al. (2007), o declínio na desigualdade no Brasil, analisado entre 2001 e 2005, mostra que o grau de desigualdade de renda no país caiu de forma acentuada e IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1077 contínua, atingindo em 2005 o nível mais baixo dos últimos 30 anos.De acordo com autor, o coeficiente de Gini se atenuou em cerca de 5%, e a razão entre a renda dos 20% mais ricos e a dos 20% mais pobres, mais de 20%. Tal redução na desigualdade contribuiu para diminuir, substancialmente, a pobreza e melhorar as condições de vida da população mais pobre. Mesmo em um período de relativa estagnação da renda per capita. Vale ressaltar que, apesar desse declínio, a desigualdade no país continua extremamente elevada, cerca de 90% dos países apresentam um grau de desigualdade inferior ao do Brasil. Berni (2007), em seu estudo, diz que a diminuição da desigualdade de renda no Brasil é acompanhada de uma característica importante, onde se verifica que a diminuição na concentração de renda brasileira não é somente benéfica por si só, mas, também, pela ampliação da renda das pessoas mais pobres. Para o país, a renda domiciliar per capita dos 10% mais pobres se elevou em 29,01%, enquanto a renda domiciliar nacional retrocedeu 1,74% em termos reais. Quando se considera, em nível nacional, a razão entre a renda dos 10% mais ricos sobre os 40% mais pobres, pode-se observar que esta razão baixa de 23,96, em 1995, para 19,56 no ano de 2005. A Tabela 1 apresenta a mensuração do grau de desigualdade na distribuição da renda domiciliar per capita média85, entre os anos de 1995 e 2012 no Brasil, por meio do coeficiente de Gini86. Sendo exposto, também, a razão dos 20% mais ricos e dos 20% mais pobres 87, bem como a razão entre os 10% mais ricos e os 40% mais pobres88. 85 Renda domiciliar per capita ; Renda média mensal da população em R$ 2012. Mede o grau de desigualdade na distribuição da renda domiciliar per capita entre os indivíduos. Seu valor pode variar teoricamente desde 0, quando não há desigualdade, até 1, quando a desigualdade é máxima. 87 É uma medida do grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita. Compara a renda média dos indivíduos pertencentes ao dois décimos mais ricos da distribuição com a renda média dos indivíduos pertencentes aos dois décimos mais pobres da mesma distribuição.. 88 É uma medida do grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita. Compara a renda média dos indivíduos pertencentes ao décimo mais rico da distribuição com a renda média dos indivíduos pertencentes aos quatro décimos mais pobres da mesma distribuição. 86 IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1078 Tabela 1 – Concentração de Renda no Brasil (1995-2012) Renda Razão 20% mais domiciliar per ricos e 20% mais capita média pobres 1995 0.601 689,31 27,73 1996 0.602 702,81 29,66 1997 0.602 702,06 29,05 1998 0.600 709,38 27,78 1999 0.594 669,78 26,45 2000 0.595 674,81 26,87 2001 0.596 679,83 27,30 2002 0.589 679,91 25,02 2003 0.583 640,46 24,68 2004 0.572 654,63 22,42 2005 0.570 693,88 21,68 2006 0.563 758,42 20,83 2007 0.556 778,35 20,71 2008 0.546 816,35 19,23 2009 0.543 838,22 19,00 2010 0.537 864,66 18,47 2011 0.532 891,10 17,95 2012 0.530 961,65 17,33 Fonte: elaborado pelo autor utilizando dados do IPEADATA Ano Gini Razão 10% mais ricos e 40% mais pobres 23,96 24,53 24,48 23,92 22,95 23,11 23,26 22,19 21,41 19,93 19,56 18,72 18,12 17,02 16,67 16,16 15,65 15,42 No ano de 1995, o índice de Gini no Brasil foi aproximadamente 0,601, caindo para 0,530 em de 2012, o que significou uma redução de 0,071 pontos. Desta forma, percebe-se uma diminuição da desigualdade de renda no Brasil para este período. A Tabela 1 mostra que a renda apropriada pelos 10% mais ricos no Brasil, em 1995, representava 23,96 vezes a renda apropriada pelos 40% mais pobres. No ano de 2012, os ricos ganhavam 15,4 vezes o total dos indivíduos pobres. Verifica-se também que os indicadores (20-20+)apresentaram uma redução acentuada durante esse períodoque passou de 27,73, para 17,33. As informações na Tabela 1 mostram que no período 1995 a 2012, de forma contundente, ocorreu redução contínua na desigualdade no Brasil. No entanto, ainda existe uma intensa concentração de renda que acompanha a sociedade brasileira ao longo de décadas. Por exemplo, mesmo com sucessivas reduções, o índice de ginié de 0,530 em 2012, revelando um país extremamentedesigual. Em resumo, os dados expostos na Tabela 1 desenha IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1079 a injusta realidade da inaceitável desigualdade de renda no Brasil. Verifica-se que ocorreu diminuição contínua da concentração de renda, porém, o país ainda possui elevada desigualdade de renda. 3 BASE DE DADOS O subsídio deste trabalho, para avaliar a relação entre a desigualdade de renda e crescimento econômico, foram obtidos nas PNADs e extraídos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEADATA – e se referem a todos os estados do Brasil mais o Distrito Federal, configurando um painel balanceado que abrange os anos de 1995 a 2012. Segundo Vanhoudt (2000), os estudos que possuem um alcance mundial comprometem a comparabilidade dos dados, haja vista que as metodologias de pesquisa e coleta de dados são desenvolvidas de forma singular em cada país. Sendo assim, este trabalho é detentor de uma vantagem ao fazer uso da utilização de variáveis que tem a mesma metodologia de cálculo em cada Unidade da Federação e que possibilita uma aferição mais concisa dos indicadores e a comparabilidade dos dados. O coeficiente de Gini, utilizado como medida de desigualdade, é proveniente da renda domiciliar per capita. Este índice é frequentemente usado para expressar o grau de desigualdade de rendae pode ser associado à chamada curva de Lorenz, deliberada pelo conjunto de pontos que, a partir das rendas ordenadas de forma crescente, relacionam a proporção acumulada de pessoas e a proporção acumulada da renda. Tanto o índice de Gini como o de Theil foram empregados para observar a evolução da desigualdade em cada estado brasileiro, bem como a robustez dos resultados econométricos. A renda domiciliar per capita média da população foi utilizada como medida do nível de crescimento econômico, sendo as séries destas variáveis calculadas a partir das respostas à pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios, PNAD/IBGE89. 89 A PNAD não foi realizada nos anos 2000 e 2010. Para preencher essa lacuna, consideraram-se as médias aritméticas das variáveis dos anos que os antecedem e o posterior. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1080 Como variável explicativa, será utilizadaa educação corresponde à média de anos de estudo dos residentes nos diferentes estados do Brasil, construída a partir das informações da PNAD e a expectativa de vida dos indivíduos ao nascerem obtidos no IBGE. 4 METODOLOGIA 4.1 Especificaçãoeconométrica do modelo No intuito de averiguar a correlação existente entre a desigualdade de renda e seus determinantes, em forma de painel dinâmico, empregam-se os estimadores do método de momentos generalizado (MMG-sistema) elaborados nos trabalhos de Arellano e Bond (1991); Arellano e Bover (1995) e Blundell e Bond(1998). Neste trabalho, analisou-se o comportamento da desigualdade dos 27 (vinte e sete) estados brasileiros relacionados com a renda, a educação e quanto a expectativa de vida dos indivíduos desde o ano de 1995 a 2012. O modelo supõe que o quadro de desigualdade de renda corrente tende a se perpetuar e/ou influenciar o desempenho da desigualdade no futuro.A relação que há entre a desigualdade de renda e o crescimento econômico é analisada por meio do modelo de regressão, para dados em painel, com o seguinte formato: [ yit ] 0 1[ yit 1 ] 2 [ yit 2 ] 3 [rendait ] 4 [renda² it ] (1) 5 [eduit ] 6 [exp it ] i it Em que, a variável dependente yit é a medida de desigualdade de renda (o coeficiente de Gini ou índice de Theil); rendait é renda per capita; eduit são os anos médios de estudo dos indivíduos; exp it é a expectativa de vida dos indivíduos; i são os efeitos fixos não observáveis dos indivíduos e it representa os distúrbios aleatórios. O subscrito i representa o estado e t o período de tempo. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1081 Este modelo, de acordo com Ahn e Schmidt (1995), tem as seguintes hipóteses: E[ i ] E[ it ] E[ i it ] 0 e E[ it is ] 0 , parai=1,2,.....,N e t s . Existe, também, a hipótese padrão relativa às condiçõesiniciais yit 1 : E[ y it 1 it ] 0 para i=1,2,....,Ne t=1,2,.....,T. Arellano e Bond (1991), em seu trabalho, observa a ocorrência de dois problemas econométricos ao estimar o modelo por meio de técnicas de estimação tradicionais. Primeiro, devido à presença dos efeitos não observáveis dos indivíduos, i , juntamente com a variável dependente defasada, yit 1 , no lado direito da equação. Nesse caso, omitir os efeitos fixos individuais no modelo dinâmico em painel torna os estimadores de mínimos quadrados ordinários (MQO) enviesados e inconsistentes. Entretanto, o estimadorWITHIN GROUPS, que corrige para presença de efeitos fixos, gera uma estimativa de 1 enviesada para baixo em painéis com a dimensão temporal pequena. Segundo, devido à provável endogeneidade das variáveis explicativas. Nesse caso, endogeneidade no lado direito da equação (2) deve ser tratada para evitar um possível viés gerado por problema de simultaneidade. Uma das formas de resolver esses problemas, segundo Arellano e Bond (1991), é propondo o estimador do método dos momentos generalizado-diferenciado (MMGdiferenciado), o qual consiste na eliminação dos efeitos fixos por meio da primeira diferença da equação (1). Assim, tem-se: [ y it ] 1 [ y it 1 ] 2 [ y it 2 ] 3 [rendait ] 4 [renda² it ] 5 [eduit ] (2) 6 [exp it ] it em que, para qualquer variável yit , yit yit yit 1 . Nota-se que na equação (2), y it 1 e it são correlacionados e, assim sendo, estimadores de MQO para seus coeficientes serão enviesados e inconsistentes. Logo, faz-se necessário empregar variáveis instrumentais para y it 1 . IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1082 A adoção das hipóteses naequação (1), aludem que as condições de momentos E[yit s it ] 0 , para t=3,4,....T e s 2, são válidas. Arellano e Bond (1991), baseados nesses momentos, indicam aplicar y it s , para t=3,4,....T es 2, como instrumentos para equação (2). As outras variáveis explicativas podem ser consideradas como: (a) estritamente exógena, se não é correlacionada com os termos de erro passados, presente e futuros; (b) fracamente exógena, se é correlacionada apenas com valores passados do termo de erro e; (c) endógena, se é correlacionada com os termos de erro passados, presente e futuros. No segundo caso, os valores da variável defasada em um ou mais períodos são instrumentos válidos na estimação da equação (2) e, no último caso, os valores defasados em dois ou mais períodos são instrumentos válidos na estimação dessa equação. De acordo com Arellano e Bover (1995) e Blundell e Bond (1998), tais instrumentos são fracos quando as variáveis dependentes e explicativas exibem forte persistência e/ou a variância relativa dos efeitos fixos aumenta. Desta forma, produz um estimador MMGdiferenciado não consistente e enviesado para painéis com T pequeno. Desta forma, Arellano e Bover (1995) e Blundell e Bond (1998), recomendam um sistema que combina o conjunto de equações em diferença, equação (2), com o conjunto de equações em nível, equação (1), para reduzir esse problema de viés.Este sistema é designado como método dos momentos generalizado-sistema (MMG-sistema). Para as equações em diferenças, o conjunto de instrumentos é o mesmo outrora supracitado. Para regressão em nível, os instrumentos apropriados são as diferenças defasadas das respectivas variáveis. Por exemplo, assumindo que as diferenças das variáveis explicativas não são correlacionadas com os efeitos fixos individuais (para t=3,4,....T) e E[yi 2 vi ] 0 , parai= 1,2,3,...,N.Então, as variáveis explicativas em diferenças e y it 1 , caso elas sejam exógenas ou fracamente exógenas, são instrumentos válidos para equação em nível. O mesmo ocorre se elas são endógenas, mas com os instrumentos sendo as variáveis explicativas em diferenças defasadas de um período e y it 1 . IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1083 As estimativas do MMG-sistema, expostas na próxima seção, derivam da estimação com estimador corrigido pelo método de Windmeijer (2005) para evitar que o respectivo estimador das variâncias subestime as verdadeiras variâncias em amostra finita.Sendo assim, o estimador empregado foi sugerido por Arellano e Bond (1991) em dois passos. Na primeira etapa, conjetura-se que os termos de erro são independentes e homocedásticos nos estados e ao longo do tempo. Já no segundo estágio, os resíduos contraídos na primeira etapa são usados para construir uma estimativa consistente da matriz de variância-covariância, relaxando, assim, as hipóteses de independência e homocedasticidade.O estimador do segundo estágio é assintoticamente mais eficiente em relação ao estimador da primeira etapa. 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES Esta seção apresenta e discute os resultados obtidos da estimação do modelo econométrico apresentado na seção 4 (quatro) que relaciona a desigualdade de renda, medida pelo índice de Gini e de Theil, e seus determinantes.Além dos resultados das estimações obtidas por MQO e WITHIN GROUPS, apresentam-se, também, as estimações por meio do método MMG-sistema. Como discutido, anteriormente, esse método resulta de uma extensão do estimador original de Arellano e Bond (1991), proposta em Arellano e Bover (1995) e desenvolvida em Blundell e Bond (1998). Observa-se que na coluna [a], da Tabela 3, os valores dos coeficientes estimados da variável giniit 1 e giniit 1 por MQO são, de fato, maiores do que os valores estimados na coluna [b] para essa mesma variável por WITHIN GROUPS. Sendo assim, se os instrumentos utilizados forem adequados, os valores dos coeficientes dessa variável estimados por MMGsistema devem ficar situados entre os limites dos coeficientes estimados pelos dois métodos anteriores. Os valores obtidos por MMG-sistema para essa variável na coluna [c], mostra que essa característica é satisfeita, indicando, assim, que o viés causado pela presença de variáveis endógenas no lado direito da regressão e efeitos fixos não observáveis foram corrigidos por MMG-sistema. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1084 Os níveis de defasagem para ajuste do modelo são representados pelos termos giniit 1 e giniit 2 na primeira e segunda linha da Tabela 3. As variáveis defasadas são significativas do ponto de vista estatístico, sendo significativos a 1% para os valores da coluna [a] e [c] que indica um ajustamento correto para um padrão de comportamento dinâmico das variáveis estimadas. Dentre os vários modelos estimados, optou-se pelo modelo indicado na coluna [c] da Tabela 3, onde foi utilizada como variável endógena, a variável dependente giniit defasada em um período e a variável eduit . Já as demais variáveis explicativas, foram consideradas fracamente exógenas. Os testes realizados, no modelo MMG-sistema, mostram que as propriedades estatísticas são aceitáveis. O teste de Hansen, que testa se os instrumentos utilizados requeridos por este modelo são válidos, é satisfeito. Incluem-se, ainda, os testes estatísticos de Arellano e Bond (1991) para avaliar a existência de autocorrelação de primeira e segunda ordem. Nota-se, que a ausência de autocorrelação de segunda ordem é essencial para a consistência do estimador MMG-sistema e o teste confirma a não rejeição de autocorrelação de primeira ordem, embora se rejeite a hipótese de autocorrelação de segunda ordem. Tabela 3 – Resultados dos Modelos de Regressão para o Gini (1995-2012) MQO [a] WITHIN GROUPS [b] MMG – sistema [c] Coefic. Valor-p Coefic. Valor-p Coefic. Valor-p giniit 1 0.62514 (13,10) 0,000 0,43865 (8,61) 0,000 0,59264 (19,41) 0,000 giniit 2 0,17388 (3,70) 0,00004 (2,21) -5,24e-09 (-0,43) -0.00394 (-2,91) -0,00334 (-5,46) 0,34284 (7,03) 0,000 0,07815 (1,58) 0,00009 (2,80) -4,08e-08 (-2,49) -0,00819 (-4,20) -0,00556 (-5,23) 0,67208 (8,14) 0,115 0,18445 (6,39) 0,00007 (3,54) -2,43e-08 (-2,48) -0,00171 (-1,75) -0,00491 (-10,05) 0,44349 (9,22) 0,000 rendait renda² it eduit exp it Const. 0,028 0,666 0,004 0,000 0,000 0,005 0,013 0,000 0,000 0,000 0,002 0,020 0,092 0,000 0,000 IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1085 F(6,425) = 282,08 Prob> F = 0,000 R² = 0,7993 Nº de obs: 432 F(6,399) = 134,1 Prob>F = 0,000 F (6, 26) = 674,46 Prob> F = 0,000 Nº de obs: 432 Nº de grupos: 27 Nº de obs: 432 Nº de grupos: 27 Nº de instrum: 22 0,002 H0: Ausência de Autocorrelação nos resíduos Valor-p de primeira ordem: H0: Ausência de Autocorrelação nos resíduos Valor-p 0,046 de segunda ordem: Teste de Hansen: Prob> chi2 0,272 Obs.: (i) Os valores em parênteses são os desvios padrões corrigidos pelo método de Windmeijer (2005); (ii) Os valores para o teste de Hansen são os valores-p para a hipótese nula de que os instrumentos são válidos. (iii) Utilizaram-se como instrumentos no MMG-sistema as variáveis explicativas em diferenças defasadas. Fonte: obtenção dos resultados pelo autor. Na coluna [a] da Tabela 3 todas as variáveis apresentam sinais significativos conforme esperado. O modelo foi estimado por MQO que, ao defasar a variável Gini em 2 períodos, passou de um total de 486 para 432 observações, englobando todos os estados brasileiros entre 1995 e 2012. Na coluna [c], da Tabela 3 do modelo MMG-sistema, o coeficiente da variável dependente defasada em um período apresentou um valor altamente significativo e, relativamente, mais baixo do que o estimador MQO, confirmando a expectativa da persistência da desigualdade de renda no Brasil para o período analisado. Verifica-se a existência de uma relação negativa entre desigualdade e os anos médios de estudos, significativa em todos os modelos estimados, colunas [a], [b] e [c], com os respectivos valores: -0,00334, -0,00819 e -0,00171. Desta forma, embora os valores não sejam tão expressivos, corrobora com diversos autores como Shultz (1961), Enreberg e Smith (2000), que afirmam que o aumento no número de estudos dos indivíduos desenvolve habilidades e conhecimentos, elevando a produtividade. Istopermite as pessoas adquirir salários mais elevados, diminuindo as desigualdades de renda e pobreza. Observa-se ainda na coluna [c] da Tabela 3, uma relação negativa e significativa entre a expectativa de vida e a desigualdade de renda, onde se apresenta, aproximadamente, um valor estimado de -0,0049. A renda domiciliar per capita média da população, bem como a sua forma quadrática, nas regressões estimadas, foi utilizada como medida do nível de crescimento econômico. IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1086 A fim de ratificar os resultados discutidos anteriormente, fora aplicado a mesma metodologia para o índice de Theil, em que a Tabela 4 revela que para o modelo MMGsistema, coluna [c], percebe-se que há uma relação negativa, -0,02893,e significativa em 1% entre a desigualdade e os anos médios de estudos. Validando, portanto, o resultado encontrado para esta relação ao fazer uso do índice de Gini neste trabalho e com a literatura já mencionada na seção 2. Detendo-se ainda à regressão feita por MMG – sistema na Tabela 4 que utiliza o índice de Theil como medida de desigualdade, observa-se que, também, há uma relação significativa a 1% com valores e sinais esperados para a expectativa de vida em relação a desigualdade de renda no país. Evidenciando mais uma vez que um aumento na expectativa dos indivíduos reduz o quadro da desigualdade de renda no Brasil. A coluna [c] da Tabela 4 mostra que a relação da variável explicativa que representa uma medida de crescimento econômico, a renda domiciliar per capita em sua forma quadrática, possui sua relação inversa com o índice de Theil, confirmando a mesma tendência encontrada no modelo anterior na Tabela 3. Ressalta-se que para Sen (2000), a mensuração do desenvolvimento econômico deve levar em conta as variáveis socioeconômicas como, o acesso à educação, a disponibilidade de serviços de saneamento, de saúde e a expectativa de vida. As variáveis unicamente relacionadas à renda seriam insuficientes para medir o nível de desenvolvimento econômico. Tabela 4 – Resultados dos Modelos de Regressão para Theil (1995-2012) MQO [a] WITHIN GROUPS [b] MMG – sistema [c] Coefic. Valor-p Coefic. Valor-p Coefic. Valor-p theilk ,it 1 0,51652 (9,35) 0,000 0,37029 (6,34) 0,000 0,44279 (11,48) 0,000 theilit 2 0,12323 (2,30) 0,00012 (1,43) 1,36e-08 (0,29) -0,02125 (-4,06) 0,022 0,01937 (0,34) 0,00045 (3,55) -1,70e-07 (-2,69) -0,03402 (-4,52) 0,737 0,05404 (2,47) 0,00037 (6,36) -1.05e-07 (-3,77) -0,02893 (-9,17) 0,020 rendait renda² it eduit 0,155 0,771 0,000 0,000 0,007 0,000 0,000 0,001 0,000 IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1087 exp it Const. -0,01104 0,000 (-4,86) 1,06458 0,000 (6,78) F(6,425) = 141,26 Prob> F = 0,000 R² = 0,6660 Nº de obs: 432 -0,01580 0,000 (-3,93) 1,52577 0,000 (5,71) F(6,399) = 54,34 Prob>F = 0,000 Nº de obs: 432 Nº de grupos: 27 -0,01910 0,000 (-9,41) 1,67150 0,000 (9,96) F (6, 26) = 8504,98 Prob> F = 0,000 Nº de obs: 432 Nº de grupos: 27 Nº de instrum: 26 0,016 H0: Ausência de Autocorrelação nos resíduos Valor-p de primeira ordem: H0: Ausência de Autocorrelação nos resíduos Valor-p 0,659 de segunda ordem: Teste de Hansen: Prob> chi2 0,379 Obs.: (i) Os valores em parênteses são os desvios padrões corrigidos pelo método de Windmeijer (2005); (ii) Os valores para o teste de Hansen são os valores-p para a hipótese nula de que os instrumentos são válidos. (iii) Utilizaram-se como instrumentos no MMG-sistema as variáveis explicativas em diferenças defasadas. Fonte: obtenção dos resultados pelo autor. Assim sendo, os resultados obtidos na Tabela 4 seguiram a mesma tendência da Tabela 3, em que para as regressões com o coeficiente de Theil, o MMG-sistema apresenta valores com sinais esperados e estatisticamente significantes para todas as variáveis. Logo, as condições de concavidade são atendidas para este índice de desigualdade e indicam que não se pode rejeitar a existência de uma curva no formato de U invertido. A escolha de dois indicadores de desigualdade de renda (índice de Gini e de Theil) e a linearização das variáveistevecomo intuito prover maior robustez aos modelos estimados. Pode se dizer que tal objetivo foi auferido, visto que as estimações realizadas, em sua maioria, convergiram para o resultado almejado.Na abordagem estática do modelo MMG-sistema, coluna [c] da Tabela 4, os sinais dos coeficientes que foram significantes estão de acordo com o esperado. Em ordem decrescente, a desigualdade mensurada por meio do índice de Theil é mais sensível à média de anos de estudo (-0,02893), anos médio da expectativa de vida (0,01910) e renda (-1.05e-07). Os resultados dos modelos estimados, tanto para o índice de Gini quanto para o de Theil, apontam que o crescimento econômico reduz a desigualdade de renda. Desta forma, como outrora discutido, considera-se no conceito menos restritivo, que no curto prazo há uma IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1088 conexão positiva entre a desigualdade de renda e o nível de renda per capita. Já no longo prazo, percebe-se uma relação de U-invertido, pois há uma inversão desta relação. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A procura de uma resposta para a indagação da hipótese de Kuznets sobre o andamento da desigualdade de renda nos países em desenvolvimento, este estudo propôs o uso da metodologia de dados em painel, empregando o método dos momentos generalizados em sistema (MMG-Sistema) que o diferencia dos demais trabalhos outrora publicados. Com este método, foi possível amenizar problemas econométricos que afetam a maioria dos trabalhos nesta área, como a endogeneidade das variáveis explicativas. Ao analisar o comportamento da desigualdade, medidas pelos coeficientes de Gini e de Theil, em todos os estados brasileiros relacionados com a renda domiciliar per capita média da população e, também, em sua forma quadrática, as regressões estimadas obtiveram valores e sinais esperados e estatisticamente significantes para o MMG-sistema, ratificando que há uma conexão positiva entre a desigualdade de renda e o nível de renda per capita no curto prazo, porém, no longo prazo acontece uma inversão desta relação. Não obstante, a expectativa de vida também apresentou uma relação inversa e significativa em relação ao Gini e ao coeficiente de Theil. Sendo assim, havendo um aumento na expectativa de vida dos indivíduos, consequentemente, terá uma diminuição da desigualdade de renda. Em se tratando dos anos médios de estudo, a educação assim como as demais variáveis analisadas, possui um efeito positivo em detrimento a desigualdade de renda, pois uma elevação no número de estudos dos indivíduos proporciona qualificação, desenvolve habilidades e conhecimentos que pode aumentar a produtividade e, por conseguinte os salários. Logo, aumenta-se a renda e diminuem-se as desigualdades de renda e a pobreza. As evidências empíricas encontradas em ambos os coeficientes de desigualdade utilizados, sugerem que a relação entre desigualdade de renda e desenvolvimento econômico para o Brasil no período analisado, segue o padrão de U-invertido tal como proposto por Kuznets em seus estudos. Logo, este trabalho, entra em consonância com a literatura dos autores que corroboram com a hipótese de Simon Kuznets (1955), onde a desigualdade de IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 1089 renda no Brasil aumenta nos primeiros estágios do desenvolvimento econômico e nas etapas mais avançadas do crescimento, a desigualdade tende a cair. REFERÊNCIAS ADELMAN, I.; MORRIS, C. Economic growth and social equity in developing countries. Stanford, California: Stanford University Press, 1974. AHN, S. C.; SCHIMDT, P. Efficient estimation of models for dynamic panel data.Journal of Econometrics, v. 68, p. 5-28, 1995. AHLUWALIA, M. S. Income distribution and development: some stylized facts.American economic review, v. 66, n. 2, p. 128-135, 1976a. ALESINA, A; RODRIK, D. Distributive politics and economic growth.The Quartely Journal of Economics, v. 119, n. 2, 1994. ALESINA, A; PEROTTI, R. 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