Destaque AE 025 ESTADO ISLÂMICO O Minotauro do Ocidente

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Destaque AE 025 ESTADO ISLÂMICO O Minotauro do Ocidente
Destaque AE 025
27/07/2016
ESTADO ISLÂMICO
O Minotauro do Ocidente
Em uma analogia à mitologia grega, o Ocidente paga agora a conta do
descumprimento de um acordo muito relevante feito com o Oriente num
passado bastante distante.
Segundo a mitologia grega, em troca da ratificação do seu reinado na ilha de
Creta, Minos havia pedido ao Deus dos mares, Poseidon, que lhe enviasse um
sinal da aprovação de seu reinado.
Poseidon, então, enviou um touro branco, que deveria ser sacrificado em seu
nome. Mas o touro era muito bonito, a ponto de Minos não querer matá-lo. Foi
quando sacrificou um de seus animais no intento de enganar Poseidon.
Quando o Deus dos mares descobriu a traição, pediu à Afrodite que o castigasse,
fazendo com que sua esposa se apaixonasse pelo touro. A união resultou no
nascimento do Minotauro, ser com cabeça e cauda de touro e o corpo de
homem.
Essa analogia serve como uma luva aos acordos firmados entre Ocidente (leiase: Estado Unidos, Inglaterra, França, entre outros) e Oriente, neste caso em
particular, com as monarquias sunitas liderada pela Arábia Saudita.
O acordo era o de que as instituições impostas no Ocidente seriam tão eficazes
no Oriente quanto foram até agora (ainda que com muitas ressalvas) nos
Estados Unidos, por exemplo.
Na impossibilidade de compreender o contexto em que estão inseridos os
países do Oriente Médio, os Estados Unidos tentaram impor, à força –
movimento de praxe da principal economia do mundo – as suas acepções,
prometendo que diante de tais imposições os problemas de insegurança e
conflitos seculares da região seriam mitigados ou até mesmo extinguidos.
Diante das promessas e dos acordos mais promíscuos possíveis, o Oriente se viu
inundado pela onda democratizadora do Ocidente, recebendo imigrantes à
revelia de boa parte da população local. Tudo isso, no imaginário da resolução
de problemas de ideologia religiosa, política e econômica.
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Acontece que, para realizar esses movimentos, o Ocidente teve que fazer
acordos sempre com uma das partes envolvidas nas disputas, neste caso, com
as monarquias sunitas.
A invasão do Afeganistão não resolveu o problema vindo da Al-Qaeda e da sua
filial Al-Nusra, do mesmo modo que a invasão do Iraque não resolveu os
problemas da população sunita iraquiana.
Ambos os movimentos foram justamente o que fortaleceram e possibilitaram o
crescimento acelerado do ISIL ou ISIS (Islamic State of Iraq and the Levant), o
autoproclamado califado Estado Islâmico (EI).
O imbróglio no Oriente Médio é tão substancial que Estados Unidos e demais
aliados ligados à “Guerra ao Terror” já não sabem bem o que fazer. O Estado
Islâmico é um grupo de predominância religiosa sunita, mesmo grupo da Arábia
Saudita, país cuja relação com os Estados Unidos é bastante estreita.
O autoproclamado Estado Islâmico não é um simples grupo de psicopatas,
importante lembrar. É um grupo religioso com crenças cuidadosamente
pensadas, entre elas a de que será ele o agente do apocalipse que se aproxima.
O EI interessa aos países cuja maioria é sunita por conta da opressão contra os
xiitas como Irã, Paquistão e Iraque e, à medida que as ferramentas de ataque
vão diminuindo, maior é a adesão ao grupo radical, ISIL.
Ataques aéreos feitos por França e Estados Unidos normalmente causam mortes
entre civis sunitas, o que eleva de maneira substancial o alistamento dos jovens
junto ao Estado Islâmico.
Na verdade, não lhes resta mais nenhuma alternativa. Ser xiita num país cuja
maioria é sunita é impossível por conta da repressão do próprio governo;
quando o governo cai vira um caos por conta das forças do Ocidente; resta,
portanto, a luta armada.
O ISIL conseguiu vitórias substanciais desde a tomada da segunda maior cidade
do Iraque, Mossul, com quase 2 milhões de habitantes. Atualmente conta com o
comando de uma vasta área com grande potencial de extração de petróleo.
Mesmo que o Ocidente imprima derrotas significativas ao grupo, cada vez mais
jovens chegam dispostos a lutar pela causa do Estado Islâmico. Cabe lembrar
que o califado é uma ramificação mais brutal que a Al-Qaeda e a Al-Nusra
(grupos que, inclusive, já condenaram a ferocidade com que o ISIL atua).
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O Ocidente prometeu segurança aos cidadãos da América e Europa pari passu a
resolução de conflitos religiosos no Oriente Médio. Contudo, criou mais
insegurança para o mundo todo, acentuou e potencializou os conflitos do
Oriente Médio e agora se vê num nó geopolítico que nem eles sabem como
desatar.
Com o recrudescimento do Estado Islâmico o grupo terá cada vez mais a
prerrogativa de agir de acordo com seus próprios princípios e sua moral – atípica
até mesmo aos olhos de alguns de seus correligionários –, e que é aguçada a
cada nova tentativa fracassada de agressão por parte do Ocidente.
Em suma, o califado é obra do próprio Ocidente que, na intenção de
desestabilizar o mundo árabe pelos seus interesses escusos, não entregou o
desenvolvimento prometido das instituições e hoje tem de lidar com o alto risco
de uma nova guerra de proporções internacionais.
E é curioso perceber como a possível arrogância (ou será vista grossa?) do
Ocidente não lhes permite perceber o que está por trás disso tudo.
Em dezembro de 2014, por exemplo, o New York Times publicou declarações
confidenciais do major Michael K. Nagata, o comandante de Operações Especiais
dos Estados Unidos no Médio Oriente, em que este admitia que não conseguia
perceber o autoproclamado Estado Islâmico (EI).
“Não conseguimos derrotar a ideia [por trás do movimento]”, disse. “Nem sequer
conseguimos perceber a ideia.” Nos últimos anos, o Presidente Barack Obama se
referiu várias vezes ao Estado Islâmico ora como “não islâmico”, ora como “a
equipa de novatos” da Al-Qaeda. Tais comentários revelam a “confusão” sobre o
grupo e podem ter contribuído para erros de estratégia grosseiros.
Economicamente falando, os impactos imediatos sobre a economia mundial são
bastantes relevantes. Atentados terroristas deixam países inteiros em estado
letárgico (vide o Estado de Emergência na França).
Além disso, o preço do barril do petróleo pode, a qualquer momento, subir
exponencialmente por conta da situação geopolítica em que se encontra uma
das regiões que mais extrai petróleo no planeta.
De todo modo, enquanto considerações finais, nossa contribuição é direta.
A teoria econômica, especialmente a parte “renegada” pelo mainstream,
considera que quando se esgota o espaço para valorização do capital, no limite,
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o capital precisa ser destruído, ocorrem rearranjos e reestruturações e um novo
ciclo se inicia.
Essa “destruição de capital” na maioria das vezes é feita literalmente. Desde 2008
(para alguns desde a década de 1970, mas essa é outra história), o mundo passa
por intensos problemas econômicos.
A crise dos subprime, os quantitative easing (afrouxamento quantitativo), as taxas
de juros negativas, dentre outros pontos, são reflexos desses problemas do
processo de valorização do capital.
Paralelamente, vemos um mundo politicamente perdido, dividido, e
recrudescendo ações que visam a proteção de suas áreas nacionais tão afetadas
pela globalização.
Ainda nessa seara, o Estado Islâmico se fortalece. A cada novo bombardeio, mais
jovens se alistam. A cada ataque, sua influência se amplia. E com o avanço de
grupos ultraconservadores no mundo desenvolvido, as perspectivas de algo
ainda mais trágico à frente se fortalecem.
EQUIPE
André Prado
Diretor Geral
[email protected]
André Galhardo Fernandes
Economista-chefe
[email protected]
Franklin Lacerda
Diretor de Estudos Econômicos
[email protected]
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