edição nº6 / 2012 - Revista Ruminantes

Transcrição

edição nº6 / 2012 - Revista Ruminantes
PROVISTRESS
Plano alimentar
Nº Dias
Peso(kg)
0-7
12-16
PROVILAMB 2
ÁGUA
45
22-25
PROVILAMB 3
PROVILAMB 23
FORRAGEM
65
30-35
SOBREVIVER EM
TEMPOS DE CRISE
P
artindo do pressuposto de que as empresas com
fins lucrativos, por mais bem classificadas face
ao interesse público, terão no futuro que contar
apenas consigo próprias para a sua sobrevivência, sem
quaisquer apoios, o editorial da presente edição sugere
um parecer, em nossa intenção construtivo, sobre a situação das que se encontram em vias de insolvência ou
podem para lá caminhar.
Na nossa vida profissional, por vezes encalhamos com
determinados entraves que complicam, atrasam e acabam
por prejudicar o nosso negócio, quando no fundo muitas
vezes se trata de problemas de lana caprina, de resolução
fácil, se os encararmos com a cabeça fria onde o bom senso
torna o que é difícil facilitado —, em vez de passarmos a
vida a queixar-nos, o que leva à acumulação de cargas negativas e com elas a um stress que nos tira a alegria de
viver e a força necessária para encontrar medidas acertadas
para poder continuar. E porque não, pensarmos na forma de
trabalho do vizinho que, começando do nada, com o
mesmo número de cabeças tem uma empresa sem dívidas
e consegue sobreviver apesar da crise?
Hoje em dia, em explorações como as que se destinam
à produção de carne e/ou leite, tão sujeitas à imprevisibilidade do clima e de outros fatores externos não controláveis, não nos podemos dar ao luxo de falhar naquilo que
depende só de nós. Como princípio básico que deve reger
toda e qualquer gestão da criação de gado, o mesmo deve
seguir no sentido do essencial para a obtenção de um custo
de produção sustentado em termos quantitativos e qualitativos. Para tanto, devemos tentar que a prática da gestão
da exploração seja apoiada em todo o suporte científico e
técnico de que nos pudermos socorrer; e que, efetivamente,
esse suporte seja posto em prática (cumprimento de planos
de vacinação, programas alimentares, adubações das culturas, etc.).
A correta atuação no que respeita a todos os passos inerentes à criação dos animais, desde o plano alimentar, sanitário até à sua comercialização e distribuição, deve respeitar
prioritariamente o investimento em termos de custo/benefí-
cio, onde muitas vezes os ganhos residem na eliminação de
desperdícios. As despesas devem ser atentamente estimadas
com a aquisição correta da maquinaria e equipamentos com
a melhor relação do custo hora/utilização/benefício comparativamente com o trabalho pago a terceiros, com os ordenados de empregados fixos face aos sazonais e vice-versa, e
assim sucessiva e constantemente no que respeita a todos os
gastos obrigatórios da exploração.
No tocante à comercialização, fazemos um enfoque especial, na medida em que o “golo” de todas as empresas
tem por mira o lucro; o qual, como toda a gente avisada
sabe mas nunca é demais recordar, só resulta quando o
montante das despesas, subtraído ao montante das vendas,
é igual a um número positivo que seja compensatório.
E, por fim, comungando com a sábia regra “um negócio só
é bom quando é interessante para as duas partes”, expressamos a nossa surpresa e contestação por não haver uma lei que
proíba que a carne e o leite estejam ao abrigo do dumping,
quando já é vedado a todos os demais comerciantes vender
produtos abaixo dos custos de produção ou de revenda.
A menção do parágrafo anterior, que infelizmente traduz
o que já está a acontecer a criadores de gado, para além do
prejuízo causado envolve também consigo um universo de
credores prejudicados, bancos, empresas fornecedoras, trabalhadores, de entre outros, que no fundo acaba por fazer
parte e agravar a crise que atravessamos.
Depois do que vimos e admirámos, pela TV, sobre o patriotismo demonstrado durante o recente campeonato da
Europa, onde um batalhão de portugueses, que consome
carne e leite, se deslocou à Polónia é à Ucrânia, de avião,
de carro e até de bicicleta, com dinheiro próprio ou empenhados, para o pagamento de hotéis com preços fabulosos,
esperamos que, com um igual amor à Pátria e por muito
menos dinheiro, vá passar a registar-se uma procura preferencial, em todos os estabelecimentos, de alimentos produzidos em Portugal.x
N.G.
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
3
ÍNDICE
FICHA TÉCNICA
ACTUALIDADES
EQUIPAMENTOS
Pedido reforço dos apoios ao setor lácteo.................6
A cetose poderá custar 27.600 euros/ano
por cada 100 vacas..................................................6
França alcança a maior produção de leite
dos últimos 24 anos .................................................6
Produtores do Reino Unido esperam aumentar
a sua produção de leite............................................6
A alimentação da população em 2050 .......................7
Alltech lança programa para recém licenciados.........8
Produtores não aprovam substituição de raças.........8
Vitamina D contra a mastite das vacas .....................8
Concurso Nacional da Raça Bovina Limousine .........8
BEM-ESTAR ANIMAL
A peeira - fonte de fraco rendimento
e de muito sofrimento............................................48
CONHEÇA A LEI:
Servidão de água: o ato de pedir “emprestado”
ao vizinho do lado .................................................64
ECONOMIA
OBSERVATÓRIO
Breves comentários e previsões sobre o mercado
de matérias-primas: Colheita recorde de milho
no horizonte...........................................................34
Perspectiva do mercado leiteiro: Crescimento recorde
na produção mundial em 2011.............................36
ENTREVISTAS
Transição da ordenha convencional para
automática - Factores críticos de sucesso............58
Harvest Lab - Um laboratório à disposição do
agricultor................................................................62
EDIÇÃO Nº6
JULHO | AGOSTO | SETEMBRO 2012
DIRECTORA
FEIRAS
Francisca Gusmão
Calendário de feiras .................................................66
| [email protected]
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO
PRODUÇÃO
Será o arraçoamento único o caminho certo? .........12
Optigen - A solução alternativa para baixar custos
na alimentação ......................................................16
A dieta de bovinos de leite mediante a fase
do seu ciclo produtivo ...........................................20
Raças de carne - Que raça escolher para melhorar
o meu efectivo?.....................................................22
Valorização da silagem de milho..............................26
Micotoxinas e sua influência na incidência de
doenças metabólicas em ruminantes....................28
Optimizar custos de produção..................................32
Produção nacional de carne de bovino: Novas
Oportunidades e Desafios.....................................38
Engorda de borregos - Programa alimentar
sem palha..............................................................40
Enfocar na qualidade do pasto
economiza dinheiro ...............................................42
Stress do calor..........................................................46
Veterinário em campo:
Biosegurança e controlo reprodutivo - Vale a pena
na actual conjuntura do negócio do leite? ............52
Maneio neonatal - Saúde do vitelo (parte 1)............54
Preparar o Unifeed (TMR) - Que ingredientes
adicionar primeiro?................................................56
Produção de leite na Herdade da Fonte Insonsa ....10
Como rentabilizar a exploração de leite...................14
Ana Vieira; André Preto; António Cannas;
Carlos Flecha; Daniel Oliveira; David
Catita; Diogo Camarate; George Stilwell;
IACA; Inês Ajuda; Ivo Carregosa; Jerónimo
Pinto; João Salvador; Joos van Acht; José
Manuel Torrado; Luís Marques; Luís
Queirós; Luís Veiga; Manuel Ortigão;
Noelia Silva-del-Rio; Odino Almeida; Paulo
Costa e Sousa; Pedro Castelo; Radka
Borutova; Roland Winter; Samantha Cassi;
Sofia Ramada.
AGRADECIMENTOS
Dário Guerreiro;
Leandro Pires;
Pedro Vigoroux.
PUBLICIDADE
Américo Rodrigues, Catarina Gusmão
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DESIGN E PRE-IMPRESSÃO
Ana Botelho, Patrícia Pereira
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ASSINATURAS
João Correia
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IMPRESSÃO
RUMINARTE
EQUIPAMENTOS
Rum nantes
A arte no campo .......................................................67
Novidades de equipamentos..............................44, 60
Peres - SocTip
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2135-114 Samora Correia
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Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
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ACTUALIDADES
MUNDO
Pedido reforço dos apoios ao setor lácteo
Na reunião do Conselho de Ministros da Agricultura, realizada em Junho passado, no Luxemburgo, as delegações da Polónia e da
Lituânia reiteraram a sua petição para que a
Comissão Europeia tome medidas para ajudar
o setor lácteo. A Polónia já havia levantado esta
questão na reunião do Conselho de Abril, insistindo que os preços da manteiga, do leite em pó
desnatado e do leite na origem não pararam de
descer desde o início do ano.
O ministro espanhol da Agricultura, Miguel Arias
Cañete, apoiou estas petições de aumento das me-
didas de apoio, bem como de manutenção do regime de quotas leiteiras. De acordo com Arias Cañete verifica-se uma descida de preços muito
importante, que não pode ser qualificada como sazonal, havendo elementos estruturais que requerem, da parte da Comissão, que sejam de imediato
colocadas em marcha as ajudas e reimplementadas
as restituições à exportação, para além da consolidação de outras medidas de mercado que incentivem o crescimento dos preços.
Para além de Espanha, outros países apoiaram as
propostas da Polónia e da Lituânia, a saber: Bél-
gica, Hungria, Letónia, Eslovénia, Portugal, Grécia e Bulgária.
A Comissão Europeia insistiu que conhece perfeitamente a situação em que se encontra o setor lácteo, já que faz o seu acompanhamento continuado.
Tem previsto voltar a este tema na reunião do Conselho de Julho e declarou estar na disposição de
ativar as medidas apropriadas, para além das medidas de armazenamento privado já em aplicação,
quando considere necessário. x
A cetose poderá custar 27.600 euros/ano por cada 100 vacas
Os produtores de gado bovino poderão estar
a perder até 27.600 euros/ano por cada 100
vacas de leite devido à elevada presença de
cetose, de acordo com as declarações de Dick
Esslemont, especialista em doenças metabólicas, no recente Congreso Mundial de Buiatria
decorrido em Lisboa.
Dick Esslemont afirmou que os custos diretos
e indiretos das cetoses geram um custo acrescido de 0,034 euros por litro de leite produzido.
Os custos diretos incluem o aumento da mãode-obra veterinária e pecuária, um maior uso
de medicamentos, o desaproveitamento do
leite e a quebra de produção. Uma correta gestão e administração pode reduzir a incidência
de cetose, e um tratamento apropriado pode reduzi-la, concluiu Esslemont. x
França alcança a maior produção de leite dos últimos 24 anos
Na campanha 2011/12, as entregas acumuladas
de leite em França superaram os 24.000 milhões
de litros de leite, ou seja, mais 4% que na campanha anterior. O volume de entregas é o mais
alto desde 1988. Não obstante, as entregas de
leite vão manter-se 3% abaixo da quota, estabelecida em 25,5 milhões de ton. Observou-se
que a diferença entre entregas e quotas diminuiu, embora tivesse vindo a aumentar desde
2008/09.
No conjunto da UE, as entregas de leite na campanha 2011/12 deverão ultrapassar em cerca de 2% as
da campanha precedente. Estima-se que 6 estadosmembros, entre os quais a Alemanha, Holanda e
Irlanda ultrapassem a sua quota.
A revista La France Agricole publicou no mês passado uma notícia acerca desta situação que referia,
segundo a organização agrária daquele país, Coordination Rurale, o crescimento de 4% na recolha
de leite em França pressagia uma “nova crise do
leite”, pelo que a referida organização reclama
“medidas urgentes de regulação da produção, à escala europeia”. Segundo a mesma fonte de informação, um comunicado da Organisation des
Producteurs de Lait referiu que “Ao desejar produzir mais e mais para satisfazer mercados não rentáveis ou para tentar contrariar as importações de
leite dos nossos vizinhos europeus, é inevitável verificar que a fileira leiteira está cada vez mais desestabilizada. Recolher um pouco mais de leite,
mas pagar a totalidade dos 24 mil milhões de litros
muito mais barato aos produtores pode ser um novo
negócio bastante rentável para algumas empresas,
mas fatal para numerosos produtores. A regulação
dos volumes é uma necessidade e passa pelo reagrupamento dos produtores, de forma totalmente
independente dos transformadores. E isso só pode
ser feito se realizado a uma escala europeia e através da criação de uma agência de regulação”. ‘’É
urgente reduzir a produção leiteira. Se a França e a
Europa pretendem efetivamente uma nova crise no
setor [...], é fundamental que os nossos responsáveis políticos entendam de imediato os sinais de
alarme e ativem as medidas de urgência visando a
regulação da produção à escala europeia”. x
Produtores do Reino Unido esperam aumentar a sua produção de leite
Cada ano que passa reduz-se o numero de
produtores de leite, não só em Espanha mas
também no resto da UE. Contudo, os que
ficam têm mais confiança no setor, pelo
menos é assim no Reino Unido. O inquérito
que anualmente é realizado pelo Conselho Lácteo do Reino Unido demonstrou que em 2012,
cerca de 36% dos produtores tem previsto aumentar a sua produção nos próximos 2 anos,
em comparação com apenas 31% que pensava
6
fazê-lo em 2011. Além disso o questionário
deste ano mostra que o aumento previsto da
produção é o maior registado na história do inquérito, que se faz desde 2004.
Por outro lado, caiu a percentagem de produtores que têm previsto abandonar o setor.
Enquanto que em 2011 pensavam fazê-lo cerca
de 13% dos produtores, em 2012 só cerca de
7%. Estes dados equivaleriam a que em 2011,
e durante os dois anos seguintes 2,2 produtores
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
deixaria o setor por dia, enquanto que em 2012
seria só 1,2 produtores/dia os que abandonariam o setor. Na obstante, há que ter em conta,
que em 2012 menos de um terço dos produtores tem o leite com única fonte de rendimento.
A grande maioria dos inquiridos sentem-se
muito confiantes ou extremamente confiantes
com o futuro do setor. Um 38% dos inquiridos
esperam investir na sua exploração, no mínimo
60.000 euros nos próximos 5 anos. x
MUNDO
ACTUALIDADES
A alimentação da população em 2050
28° Simpósio Internacional de Saúde e Nutrição Animal Alltech
A cidade de Lexington, em Kentucky, EUA
recebeu, em maio passado, o 28 ° Simpósio Internacional de Saúde e Nutrição Animal da Alltech. Cerca de 3 mil pessoas de mais de 90
países estiveram presentes no evento que contou com 13 sessões.
Na abertura do evento, Pearse Lyons, presidente e fundador da Alltech, entregou a Medalha
de Excelência ao ex-governador de Kentucky e
fundador do restaurante KFC, Mr. John Y. Brown
Junior. A Alltech oferece esta medalha em reconhecimento às pessoas que se destacaram na área
da pesquisa ou da agroindústria. Num segundo
momento, Karl Dawson, Diretor Global de Pesquisa e do Centro de Nutrigenómica da Alltech,
comentou o investimento da empresa de 3 mil
milhões de dólares para sequenciar o genoma humano. Os efeitos da nutrição animal no gene humano também foram comentados.
Durante o simpósio ocorreu também a entrega
do troféu aos vencedores do Prémio Alltech
Jovem Cientista, conhecido pelo seu nome em inglês “Alltech Young Scientist”.
O encerramento oficial deste encontro contou,
ainda com as palestras de Ronan Power, Diretor
do Centro de Nutrigenómica e Nutrição Animal
Aplicada da Alltech, que abordou o combate as
doenças desde as células; de Mark Lyons, vicepresidente da Alltech, sobre o mercado chinês,
segundo ele, um dos países repleto de oportunidades e que seguramente será a maior economia
do mundo; e de Catherine Keogh, vice-presidente
de marketing da Alltech, que discursou sobre
como a empresa está construindo uma grande
marca no agronegócio e a influência das redes sociais, que podem trabalhar em prol da agricultura.
Um dos principais temas abordados no congresso foi a alimentação da população. Estimase que até 2050 nove mil milhões de pessoas
habitem o planeta, o que será um desafio para
toda a cadeia alimentar. Quatro representantes de
influência na indústria discutiram o tema: Tom
Arnold, CEO, Concern da Irlanda; Sean Rickard,
palestrante senior em economia, Cranfield Universidade, do Reino Unido; Dr. Marcus Vinicius
Pratini de Moraes, ex-ministro da agricultura do
Brasil; e Tom Dorr, CEO do Conselho de Grãos
em Washington DC, EUA.
Neste debate a água foi abordada e destacada
como um recurso limitado que afeta diretamente
a produção agrícola e agropecuária. Outro assunto
em destaque foi a relevância do controle sanitário, assim como a intervenção da Organização Internacional de Comércio (OIC) em filtrar e
aprovar as regulamentações locais, ao que se refere as barreiras comerciais, com determinados
produtos em situações de contaminação, como
por exemplo a vaca louca.
Patrini destacou a importância da redução do
protecionismo para a liberdade da agricultura.
“A redução do nível regulatório na área de meio
ambiente é necessária para que a agricultura se
desenvolva ao ponto de ser possível alimentar 9
mil milhõess de pessoas no futuro” disse. Já
Sean Rickard reforçou que o futuro da alimentação está nas mãos dos grandes produtores de
grãos e que os pequenos e médios terão que criar
cooperativas e se unir para poder competir num
futuro próximo. x
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ACTUALIDADES
MUNDO
Alltech lança programa para recém licenciados
A Alltech anunciou uma nova iniciativa
educacional para recém-licenciados. O Alltech Graduate Development Program, recentemente anunciado por Pearse Lyons,
fundador e presidente da empresa, oferece
20 oportunidades para estudantes de graduação e pós-graduação.
Consiste em 12 meses de experiência profissional num dos escritórios da empresa, pelo
mundo, onde os participantes irão aprender
como o agronegócio internacional funciona,
acumulando experiências em gestão que certamente enriquecerão as suas carreiras futuras.
As oportunidades abrangem várias áreas da
empresa, incluindo aquacultura, algas, ciências
agrárias, marketing, financeira, operação, regulamentar, tecnologia de fermentação e 'life
sciences', o novo campo de pesquisa e desen-
Produtores não aprovam substituição de raças
Ao contrário do que defendem os investigadores
da Universidade dos Açores, os produtores de leite
da Região não acreditam que seja benéfica a introdução de novas raças de bovinos. Com o desaparecimento do sistema de quotas leiteiras em
2015, a comunidade científica sugere a substituição da raça Holstein por vacas que produzam
menos leite mas de melhor qualidade.
O presidente da Federação Agrícola dos Açores,
Jorge Rita, diz que a introdução de novas raças
deve ser ponderada e analisada de forma transversal, não acreditando na necessidade dessa introdução para aumentar a qualidade do leite.
O dirigente agrícola afirma que qualquer redução na
produção leiteira teria impactos negativos no setor e
que a introdução de vacas Jersey (animais que produzem um leite mais rico em proteína) na Região
não tem tido sucesso por variadas razões, desta-
Vitamina D contra a mastite das vacas
Investigadores do Serviço de Investigação
Agrária dos EUA descobriram que a vitamina D poderia oferecer um tratamento alternativo ao uso de antibióticos para
combater a mastite. Em estudo está a capacidade que uma forma natural da vitamina
D (a feromona designada 25-hidroxivitamina D) tem de alterar a resposta do sistema
imunitário da vaca, face ao agente patogénico Streptococcus uberis que pode causar
a mastite.
Os resultados das investigações indicam que
são necessários níveis precisos da vitamina D
na corrente sanguínea para prevenir afeções
tais como o raquitismo ou o enfraquecimentos
dos ossos. São necessários níveis mais elevados da vitamina para ter um correto funcionamento do sistema imunitário. A feromona
25-hidroxivitamina D está presente no sangue,
mas não existe muita vitamina desta no leite.
No estudo, as vacas receberam a vitamina D
por injeção, diretamente no quarto afetado da
glândula mamária. Seguidamente, os cientistas recolheram dados sobre o consumo de
ração pelas vacas, o número de bactérias no
leite, a produção de leite, os níveis da vitamina no sangue e a temperatura corporal de
todas as vacas. Observaram uma redução sig-
Concurso Nacional da Raça Bovina Limousine
Como acontece anualmente, terá lugar nos próximos dias 20 a 22 de Julho, em S. Teotónio,
Odemira, o Concurso Nacional da Raça Bovina
Limousine. Este evento, o mais importante da
raça a nível nacional, é realizado na FACECO,
e contará com a presença de mais de uma centena de animais dos melhores criadores a nível
nacional.
No primeiro dia, 20 de Julho, sexta-feira, será
realizado o julgamento das fêmeas, seguindo-se no
dia 21, sábado, o julgamento dos machos, culminando este evento com os campeonatos gerais, no
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Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
volvimento da Alltech.
O programa executivo de 12 meses começa no
centro de biociências da Empresa em Dunboyne,
na Irlanda e tem continuação num dos 128 escritórios espalhados por todo o mundo.
Para mais informações sobre o programa por
favor visite:
http://www.alltech.com/about/careers/alltech-graduate-program x
cando o facto de a combinação de volumes produzidos e quantitativos de matéria útil obtidos ser
muito mais favorável no caso da raça Holstein.
Jorge Rita recordou ainda que alterações profundas na fileira do leite na região teriam um forte impacto nos produtores e seus rendimentos, mas
também junto da indústria que se preparou e investiu visando transformar os atuais volumes de
leite produzidos na região. x
nificativa nas contagens de bactérias e menos
sintomas clínicos de infeção grave nas vacas
tratadas com a vitamina D, comparativamente
com as vacas que não receberam qualquer tratamento. Na fase recente da infeção, enquanto
que a vitamina D reduziu os números de bactérias, também favoreceu a produção mais
elevada de leite.
Estes resultados sugerem que a vitamina D poderá ajudar a reduzir o uso de antibióticos para
tratar a mastite. Para além disto, a vitamina D
tem o potencial de reduzir outras enfermidades
virais ou bacterianas, tais como infeções do
trato respiratório. x
dia 22 de Julho, domingo.
O Júri do Concurso Nacional Limousine virá expressamente de França para julgar os animais a concurso, estando geralmente presentes comitivas de
França, Espanha e da região autónoma dos Açores,
onde a raça tem crescido continuamente, à semelhança do que acontece no continente.
A proximidade deste evento da Costa Alentejana, e as suas belezas naturais acrescenta ainda
mais um motivo de interesse para visitar o Concurso e a região. x
ENTREVISTA
Produção de leite
na Herdade da Fonte Insonsa
Com o desaparecimento da cultura do tabaco, os
agricultores da Beira Baixa — região onde estava
localizada cerca de 60% da plantação a nível nacional
— tiveram que procurar alternativas.
Outrora produtor de tabaco, José Manuel Torrado,
proprietário da Herdade da Fonte Insonsa, gere agora o
seu negócio de produção de leite de cabra e ovelha e
faz queijo de cabra em queijaria própria.
A exploração tem 220 hectares, dos quais cerca de 100 ha são
de prados permanentes, a maioria de regadio. Ocupa 18 ha com
triticale e 6 ha com cevada. O efectivo da exploração é composto
por um rebanho de 850 ovelhas de leite cruzadas e um rebanho de
cabras, de 350 Murcianas puras.
O leite de ovelha produzido na exploração é para venda e o leite
de cabra para produção de queijo – marca Queijo da Fonte.
Quais as opções que considera na altura de instalar um prado
para pequenos ruminantes de leite?
Na escolha das variedades a utilizar, contamos com o aconselhamento técnico da empresa que nos fornece as sementes com
base na sua experiência nesta região. Utilizamos sempre uma mistura de gramíneas e trevos com o melhor equilíbrio nutricional,
maximizando a produção de nutrientes. Ao arraçoamento obtido
são “adicionados” os nutrientes que faltam no prado para a produção de leite desejada.
Utiliza prados anuais ou permanentes?
A maioria são prados permanentes de regadio e sequeiro. Alguns hectares (poucos) estão com anuais, Speedmix, mas basicamente porque dá jeito ao maneio da exploração. Por exemplo, este
ano, devido à seca, estamos a fazer 20 hectares de sorgo para
fenar, como fonte de fibra e, claro, na busca de encher os palheiros que estão vazios.
Que análises de solos faz?
As análises ao solo estão a cargo da empresa fornecedora de sementes; em função do resultado das análises, são-nos sugeridas
as correcções a fazer. As análises mais frequentes para a implantação de um prado são o pH, o azoto, o fósforo e potássio, embora o pH seja o factor a que damos mais ênfase.
Como faz o acompanhamento técnico das culturas?
Maioritariamente é feito pelos técnicos das empresas privadas
que são nossos fornecedores, neste caso, os dos fertilizantes. Por
regra fazemos um acordo de compra de produtos e serviços. Os
nossos fornecedores são nossos “parceiros”, e sempre que solicitado, aparecem. Se quero ter a certeza se devo fazer alguma correcção ao solo, se devo fazer um corte, se o maneio do prado está
a ser o adequado ou se vejo alguma coisa de anormal, recorro ao
seu aconselhamento.
Como faz a optimização da alimentação do rebanho, ou seja
quem calcula o ‘gap’ de nutrientes em falta e como procede
para supri-lo?
O seguimento da alimentação é feito actualmente pelo médico
veterinário José Caiado, com uma visita mensal e pelo engenheiro
zootécnico João Mateus. São eles que fazem o balanço entre aquilo
que temos na propriedade e o que temos que comprar, com o objectivo de maximizar a utilização daquilo que produzimos e reduzir a quantidade de “nutrientes” que compramos fora. Por exemplo,
para facilitar o maneio, o eng.º João Mateus criou um concentrado
único na sala de ordenha para as ovelhas e cabras.
José Manuel Torrado, proprietário da Herdade da Fonte Insonsa
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Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
ENTREVISTA
O facto de fabricar queijo condiciona a escolha das pastagens
e forragens que utiliza?
Sim, as forragens são escolhidas para se conseguir uma alimentação variada, natural e saudável, que confiram características de
paladar e sabor único ao Queijo da Fonte. A pastagem verde fornece
ácidos gordos polinsaturados na alimentação dos animais, o que
permite a produção de um leite e de um queijo mais saudáveis.
“Existem ameaças muito sérias à produção de
leite e queijo dos pequenos ruminantes, como o
uso de leite em pó no fabrico de queijo, o leite
fresco importado de Espanha a baixo preço,
para além de continuarmos com grandes
dificuldades de mão-de-obra para as ordenhas.”
No que diz respeito ás forragens, qual a importância, do ponto
de vista económico, da exploração estar implantada numa zona
de regadio?
Estando numa zona de regadio e tendo pastagem todo o ano,
temos uma alimentação mais uniforme, regular, constante, evitando assim a compra de forragens fora da exploração, que poderiam não obedecer aos critérios exigentes que temos para a nossa
própria produção de forragens. Tanto na composição como no timing do corte. Ou seja, mais que uma questão económica, é uma
questão da qualidade do produto final.
Qual a vantagem e desvantagem de fazer leite no Verão?
No Verão existe menos leite no mercado, e isso, ainda que possa
não representar vender o leite mais caro, garante, a quem o possa
produzir, o escoamento garantido para o resto do ano.
No meu caso, o custo acrescido de produção nesta altura é compensatório, uma vez que as parições mais bem sucedidas são precisamente as de Junho/Julho, altura do ano em que o índice de
mortalidade nas crias é muito baixo por não existirem diarreias.
Para além disto, no Verão consigo mais €1/kg peso vivo na venda
dos borregos e cabritos do que em Fevereiro/Março em que o
preço ronda €2,5/kg. Ou seja, os custos extra de produzir no Verão
são compensados pelo aumento de produtividade e pelo preço de
venda dos produtos.
A silagem é uma opção na sua exploração? Porquê?
Não temos usado silagem até agora, mas estamos equipados
para o fazer. O maneio alimentar que estamos a usar dá-nos confiança e qualidade no produto final, e como temos grande quantidade de prados, com possibilidade de pastoreio todo ano, até agora
não se colocou a questão de fazer e utilizar silagem.
Em que medida é que o actual negócio constitui uma alternativa
rentável à cultura do tabaco que fazia anteriormente nesta exploração?
O tabaco foi efectivamente uma cultura que trouxe à nossa região riqueza, inovação e mesmo qualidade de vida para as populações residentes na envolvência às áreas de cultivo. Com o
previsível fim desta cultura, concentrámos os nossos esforços
no efectivo pecuário que entretanto tínhamos adquirido e, para
aumentar a rentabilidade da exploração, fizemos a queijaria. De
qualquer forma, a rentabilidade do nosso negócio quebrou significativamente quando comparada com a cultura do tabaco. Em
parte talvez pela subida dos fertilizantes, dos combustíveis…
Que decisões de gestão/maneio na exploração pensa tomar ou
tomou, na situação actual em que o preço do leite é relativamente baixo para os actuais custos de alimentação?
Construímos uma queijaria que já labora à 3 anos, para aumentar o valor acrescentado pelo menos no leite produzido que conseguimos transformar. Por outro lado, tentamos produzir forragens
com a máxima qualidade para baixar/optimizar os consumos/custos de concentrado. De resto, e como política da casa, estamos
sempre a tentar melhorar os índices produtivos dos rebanhos.
Qual a sua opinião em relação ao futuro da produção de leite e
queijo dos pequenos ruminantes?
Existem ameaças muito sérias a este sector, como o uso de leite
em pó no fabrico de queijo, o leite fresco importado de Espanha
a baixo preço, para além de continuarmos com grandes dificuldades de mão-de-obra para as ordenhas. Somos obrigados a formar estrangeiros cujos conhecimentos nesta área são nulos. Temos
também a dificultar-nos o negócio os elevados preços dos combustíveis e fertilizantes. x
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
11
PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
Será o arraçoamento único
o caminho certo?
Luís Veiga,
Engº Zootécnico, REAGRO SA
Pedro Castelo,
Engº Agrónomo, REAGRO SA
[email protected]
O sector do leite atravessa um período de alguma
incerteza em relação a muitos aspectos relacionados
com a produção e o mercado. É neste contexto de
dúvidas para os produtores de leite, que se torna
fundamental pensar na forma de produzir procurando
reduzir os custos de uma forma racional sem
comprometer os níveis de produção. Nessa óptica
várias alterações podem ser equacionadas. Iremos
neste artigo apenas relacionar o sistema de
arraçoamento único com outro em que se utilizam
dois lotes diferentes (alta produção e baixa produção)
mais adequados às necessidades nutricionais dos
animais para a fase em que se encontram.
As vacas actualmente possuem grande potencial produtivo e, no
nosso entender, o caminho futuro deverá ser maximizar as produções e longevidade dos animais. Obviamente que isto deverá
ser feito de forma coerente e sustentada. Para além disto, o facto
de se privilegiarem arraçoamentos únicos (isto é, o mesmo lote
para todos os animais) não permite às vacas em início de lactação exprimirem todo o seu potencial comprometendo de
forma irreversível a sua produção anual. Por outro lado, com
este sistema as vacas em final de lactação ingerem um arraçoamento com um nível energético, proteico, mineral e vitamínico superior às suas necessidades, representando um
elevado desperdício económico.
Trabalhar com dois lotes (alta e baixa produção) é mais difícil,
quer do ponto de vista técnico quer do ponto de vista prático. Apresentamos dois sistemas de produção distintos, um em que se utiliza
apenas um arraçoamento – Lote Único – comparado com outro sistema em que são utilizados dois arraçoamentos distintos (Alta e
Baixa Produção). Neste último caso, o lote de alta produção é formulado para vacas em início de lactação com produções médias diárias superiores a 35 litros e/ou dias de lactação inferiores a 120 dias.
No entanto, é possível permanecer neste lote com mais de 180 dias
de lactação desde que produzam mais de 35 litros. Enquanto o Lote
12
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
[email protected]
Tabela 1
Custo p/ Animal/
Dia= 4,85 €
Matéria-Prima
Silagem de Milho
PB8 AMD30
Feno Azevém
PB8
Silagem Azevém
PB11
Farinha VL
Única
Total
Custo p/ Animal/
Dia= 5,78 €
Matéria-Prima
Silagem de Milho
PB8 AMD30
Feno Azevém
PB8
Silagem Azevém
PB11
Farinha VL
Altas
Total
Custo p/ Animal/
Dia= 4,28 €
Matéria-Prima
Silagem de Milho
PB8 AMD30
Feno Azevém
PB8
Silagem Azevém
PB11
Farinha VL
Altas
Total
LOTE ÚNICO
(108 €/ton MB)
Preço
(€/ton)
Quantidade
Distribuida
Kg
MB
MS
MS
(229 €/ton MS)
Caracteristicas Nutricionais (/Kg MS)
UFL
PDIN PDIE PDIA
g
g
g
Ca
g
P
g
50
27,00
8,72 31,00 0,90 52,00 66,00 18,00 2,20 1,80
110
3,00
2,70 90,00 0,62 55,00 70,00 24,00 3,90 2,20
35
5,60
1,97 35,00 0,85 74,00 68,00 20,00 4,60 2,60
330
9,00
44,60
7,96 88,44 1,09 196,93 170,63 120,11 14,48 7,23
21,35 47,05 0,93 109,39 106,36 62,81 7,30 3,98
LOTE ALTA PRODUÇÃO
(250 €/ton MS)
(122€/ton MB)
Quantidade
Preço Distribuida
Kg
(€/ton)
MB
MS
MS
Caracteristicas Nutricionais (/Kg MS)
UFL
PDIN
g
PDIE
g
PDIA
g
Ca
g
P
g
50
28,00
8,68 31,00 0,90 52,00 66,00 18,00 2,20 1,80
110
3,20
2,88 90,00 0,62 55,00 70,00 24,00 3,90 2,20
35
5,00
1,75 35,00 0,85 74,00 68,00 20,00 4,60 2,60
11,00
9,69 88,12 1,16 204,05 179,59 126,20 15,49 7,32
350
47,20 23,00 48,74 0,97 118,12 114,52 64,50 8,20 4,24
LOTE BAIXA PRODUÇÃO
(102 €/ton MB)
Quantidade
Preço Distribuida
Kg
(€/ton)
MB
MS
(219 €/ton MS)
MS
Caracteristicas Nutricionais (/Kg MS)
UFL
PDIN
g
PDIE
g
PDIA
g
Ca
g
P
g
50
26,00
8,06 31,00 0,90 52,00 66,00 18,00 2,20 1,80
100
3,30
2,96 90,00 0,62 55,00 70,00 24,00 3,90 2,20
35
5,00
1,75 35,00 0,85 74,00 68,00 20,00 4,60 2,60
7,50
6,65 88,61 1,07 196,84 168,89 120,17 14,84 7,26
326
41,80 19,42 46,47 0,91 103,99 101,99 54,05 7,00 3,80
ALIMENTAÇÃO
de Baixa Produção é indicado para vacas com produções inferiores
a 35 litros e numa fase mais adiantada na lactação.
De acordo com os nossos parâmetros nutricionais, os arraçoamentos descritos anteriormente (tabela 1) foram formulados utilizando silagens e feno de azevém comuns em Portugal. Para o
alimento concentrado considerámos valores de mercado para as
matérias-primas com custos de fabrico teóricos.
No que ao balanço proteico diz respeito (tabela 2), verificamos que no Lote Único as vacas em início de lactação estão em
carência, resultando numa penalização das performances leiteiras, enquanto no final de lactação ingerem em excesso. Ainda
em relação à proteína digestível por dia (PDD – quantidade total
aportada por dia de proteínas degradáveis a nível ruminal), no
início de lactação o valor deve-se situar entre 2,2 e 2,5 Kg/dia.
Como podemos observar na tabela 2, no sistema Lote Único as
vacas no arranque de lactação estão em défice, resultando numa
potencial diminuição quer da matéria azotada degradável, quer
da síntese microbiana.
Relativamente à energia, como sabemos, no início de lactação a capacidade de ingestão das vacas é reduzida e insuficiente para satisfazerem as suas necessidades, por isso, quanto
menor for o nível energético da ração maior será esse défice.
Para além disto, em caso de hipoglicémia uma parte dos ácidos
aminados presentes no sangue podem ser mobilizados via fígado
Tabela 2
Balanço Azotado
PL por PDIN
PL por PDIE
Arraçoamento
Litros
39,11
37,78
Custo Concentrado
118,12
103,99
PDIA
g/Kg MS
57,66
64,5
54,05
DT
% MS
60,78
62,72
% PDIE
1,82
1,8
1,85
Proteina Digestível p/ dia
Kg/dia
6,78
2,02
UFL
Amido + Açucar
Glucidos Rápidos
GTD
Matéria Gorda Bruta
6,8
2,31
6,73
1,8
€/animal
4,85
€/1000 L
Custo Total/1000 L
5,78
4,28
150,47
136,93
157,3
Custo Concentrado/1000 L €/1000 L
92,92
91,95
90,66
Margem Bruta/1000 L
169,53
183,07
162,7
€/animal
2,97
€/animal
Margem bruta
3,86
5,42
€/1000 L
2,45
7,69
4,39
Gráfico 1 - Curvas de produção Lote Único vs 2 lotes
50,0
45,0
40,0
Tabela 3
PL por UFL
14,8
61,81
% PDIE
Balanço Energético
16,5
101,99
%
LYSDI/PDIE
METDI/PDIE
15,6
114,52
Arraçoamento
Unidade Lote Único Alta Produção Baixa Produção
Unidade
Litros
35,0
30,0
Litros
Proteina Bruta
Análise Económica
Custo Total
33,53
109,39
106,36
*- PLpotencial = PLMáxima Potencial X [ 1,047 – (0,69 X e -0,9 X Semana lactação) – (0,0127 X Semana lactação) – (0,5 X e -0,12 X ( 45 – Semana gestação))]
34,37
g/Kg MS
g/Kg MS
Para finalizar, a análise económica (tabela 4) torna-se imprescindível para se poder comparar as diferenças entre estes dois sistemas de produção. Além das vantagens técnicas de um lote
adequado para cada fase, podemos observar que a margem por
1000 litros produzidos é significativamente superior no início de
lactação, altura em que as vacas libertam uma maior margem. O
gráfico 1 compara duas curvas de lactação utilizando a equação* do
INRA (instituto superior de pesquisa agronómica, França) para produção potencial de multíparas referentes aos níveis máximos de
produção permitidos com os arraçoamentos descritos na tabela 1.
Assim, considerando o leite pago a 0,32 €/litro, o valor de produção com o sistema Lote Único é de 2412 € por lactação enquanto
utilizando dois lotes alimentares o valor é de 3129 €. x
50,11
48,31
PDIN
PDIE
para a síntese de glucose (neoglucogénese a partir de ácidos aminados). Este fenómeno pode conduzir a uma diminuição da síntese
de proteínas ao nível do úbere e por consequência a uma diminuição do TP (teor proteico) no leite. Assim, com o lote de alta
produção é possível reduzir esse défice através de um arraçoamento mais energético (tabela 3). Para além destas limitações, a
perda de condição corporal em arranque de lactação tem uma
correlação directa com a fertilidade, ou seja, quanto menor
for a perda de peso maior será a taxa de sucesso da inseminação, sendo este um aspecto muito importante.
Tabela 4
Unidade Lote Único Alta Produção Baixa Produção
Litros
PRODUÇÃO
Arraçoamento
Lote Único Alta Produção Baixa Produção
32,34
42,15
27,42
% MS
27,72
29
25
% MS
51,33
UFL/Kg MS
% MS
% MS
0,93
0,97
0,91
14,29
14,19
13,43
2,84
3,16
3,13
51,67
50,97
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
1
2
Row 2
3
4
Row 8
5
6
7
Meses de lactação
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
8
9
10
11
13
ENTREVISTA
Como rentabilizar
a exploração de leite
Num cenário em que se perspectiva a descida do preço do leite ao longo do ano
e a continuação do preço elevado dos alimentos (concentrados e forragens), que
medidas de gestão recomenda ou está a implementar na sua exploração?
Luís Marques - Consultor em vacas de leite
“Em tempos difíceis, há que tomar as decisões
certas na produção de leite”
Com a escalada dos preços das matérias primas para o fabrico de
rações e com o preço pago à produção de leite a baixar, o produtor confronta-se com uma situação complicada a nível económico.
O que tenho verificado, na prática, é uma tendência do produtor para administrar menos quantidade de concentrado às vacas,
quantidade essa insuficiente para cobrir as necessidades nutricionais. Esta atitude não é seguramente a opção mais correcta. A genética actualmente existente nas explorações é bastante apurada,
podemos mesmo orgulhar-nos porque estamos no pelotão da
frente em relação a este assunto. Porém, este apuramento genético
tem a sua parte negativa, ou seja, os animais deixaram de ser tão
resistentes quando submetidos a condições menos favoráveis. Vejamos, a maior parte dos problemas existentes nas vacas verificam-se após o parto até ao pico da lactação (mais ou menos 60
dias após o parto), e ocorrem por vários motivos, sendo um deles
o balanço energético negativo devido à baixa capacidade de ingestão por um lado e às grandes exigências nutricionais por outro.
Se administrarmos menos nutrientes, as performances de produção vão seguramente agravar-se e os picos de lactação vão seguramente ficar abaixo dos estábulos com planos alimentares bem
elaborados. Animais mal alimentados têm também uma maior incidência de problemas na fertilidade e saúde animal em geral. Estas
situações acarretam um agravamento financeiro da exploração.
14
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
Assim, o que proponho nestas situações não é diminuir a
ração, mas sim:
- eliminar animais que estão no estábulo e que não aportam rentabilidade, como sejam vacas com mamites crónicas, animais que
se arrastam com problemas de fertilidade há bastante tempo, animais que já passaram a sua idade produtiva e nos quais se verifica
um declínio na sua performance. Concluindo, no estábulo a selecção tem de ser mais apertada, os animais devem ser muito bem
alimentados consoante as suas necessidades e, seguramente, ao
potencializarmos a produção o retorno económico é superior.
- encontrar todos os meses o custo de produção de um litro de leite
em termos alimentares, retirando daí conclusões.
- no que se refere às forragens, estudar a possibilidade de incorporar novas culturas na exploração. A silagem de milho continua
a ser a rainha das forragens, seguida da silagem de erva. Existem
cada vez mais produtores a iniciarem a produção de luzerna, pelo
seu interesse essencialmente como fonte de proteína. Já a beterraba forrageira, que é produzida em muitos países e que se adapta
muito bem nos nossos terrenos, é uma excelente fonte de açucares
(energia), interessante para incorporar nos planos alimentares das
vacas, e pouco vista em Portugal.
Comente estes assuntos com os seus técnicos assistentes e adapte
as melhores soluções à sua exploração.
ENTREVISTA
Jos van Acht
Produtor de leite, com uma vacaria
com um total de 620 vacas
“O mais importante é fazer as forragens
na nossa exploração ou próximo”.
Parece-me claro que um dos pontos importantes para fazer face
a períodos difíceis será melhorar o efectivo, eliminando os animais
com menos potencial genético e os animais com problemas. Nós
estamos muito longe da situação óptima, estamos no Interior, onde
as temperaturas são muito altas, e não estamos a controlar todos os
factores, como seja o bem-estar animal. Isso resulta num refugo
obrigatório de 28%, devido a vacas com problemas de fertilidade,
patas, úberes. Num futuro próximo, esperamos conseguir aumentar o efectivo em 200 vacas e, como não queremos comprar mais
animais no exterior, como fizemos até ao final de 2009, estamos a
inseminar as novilhas com sémen sexado e a aproveitar todas as
vacas que fiquem prenhas e que não apresentem problemas. De
qualquer forma, no futuro e como, aliás, já começa a acontecer,
vamos tentar não aumentar a taxa de refugo, mas torná-lo parcialmente voluntário, ao vender as vacas de menor potencial leiteiro.
Para além disto, continuamos a utilizar a mesma quantidade de
concentrados por vaca e dia e estamos a tentar, cada vez mais, melhorar a qualidade e quantidade de forragem. Em termos de despesa/custo do litro de leite, algumas coisas são importantes e
podem ser feitas, como seja comprar matérias primas para misturar na exploração, eliminando alguns custos de transporte e fabrico.
Mas o mais importante é, como nos encontramos numa zona de
regadio (Caia-Elvas), conseguirmos fazer as forragens na nossa
2º Dia do Azevém
No passado dia 24 Abril realizou-se o 2º
dia do Azevém, organizado pela empresa Barenbrug, empresa produtora e
comercializadora de sementes, e pela
Forte, Lda., distribuidora em Portugal
de tractores e equipamentos das marcas
Fendt, Kverneland e McHale. Esta demostração decorreu na Herdade do
Casão, em Montemor-o-Novo.
Do programa fez parte a apresentação
da empresa Barenbrug pelo Export Manager, Martin Dekker, que referiu que a
produção de sementes de forragens da
empresa tem lugar em diferentes países,
em que 85% das terras de produção estão
na Europa e América do Norte e que é for-
exploração ou nas proximidades, em terras alugadas, conseguindo
pôr as silagens no silo de forma mais barata do que uma vacaria
que necessite de ir buscá-las a grandes distâncias.
Outras coisas que ajudam, e que estamos a tentar fazer, são:
usar as melhores variedades de sementes para produzir a maior
quantidade e a melhor qualidade de forragens possível, ou utilizar
os melhores inoculantes de silagem do mercado para aumentar a
digestibilidade das silagens e assim obter um melhor aproveitamento em termos de energia e proteína por parte das vacas, pois
quanto mais nutrientes conseguirmos fornecer às vacas a partir
das nossas forragens, menores serão os custos com matérias primas compradas ao exterior. x
necedor de campos de futebol do Europeu
da Polónia /Ucrânia. Martin Dekker, apresentou, para além do produto estrela –
Barspecta II, o novo azevém mistura Prota Plus, mistura de gramíneas e leguminosas especialmente desenvolvida para
Portugal, e que graças à presença do trevo
faz elevar o nível proteico da forragem,
factor muito importante, pois o preço actual das matérias primas proteicas está a
níveis muito altos.
A empresa Probimor, Lda através de
Marta Guerreiro, apresentou as Medidas
de Apoio à Instalação de Pastagens Biodiversas, no âmbito do projecto Terraprima
e as Medidas de Combate e Mitigação da
Seca 2012.
Já no campo, assistiu-se a uma demonstração, explicada pelo responsável
da Forte - João Lopes, das máquinas presentes, nas operações de corte e enfardamento do azevém. x
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
15
PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
Optigen
A solução alternativa
para baixar custos na alimentação
Serviços Técnicos Alltech
A produção animal vive à escala global, um enorme
desafio à sua rentabilidade motivada pela forte subida
dos preços das matérias-primas utilizadas na
alimentação. Com os conhecimentos de que se dispõe
hoje, não se vislumbra a possibilidade do regresso dos
preços aos níveis médios históricos do passado.
Os preços das matérias-primas energéticas e
especialmente das fontes proteicas como a “soja”
continuam a manter uma tendência de forte subida.
O bagaço de soja (44% PB) ultrapassa, neste
momento, a marca psicológica dos 400 euros/tonelada.
Este facto tem também impacto direto nas alternativas
proteicas à soja, caso da colza, girassol, destilados de
cereais, que seguem a mesma tendência.
PROTEÍNA SOLÚVEL
A proteína solúvel é a fração proteica que é mais rapidamente solubilizada no líquido ruminal, logo mais rapidamente disponível para
ser usada pelas bactérias ruminais, especialmente as que digerem a
fibra das forragens. Ela é fundamental para uma boa eficiência ruminal. Muitas vezes a alimentação de vacas leiteiras e novilhos tem
um nível de proteína solúvel inferior ao que seria necessário, pois
existem poucas matérias-primas disponíveis no mercado (caso do
corn gluten feed) para cumprir com este requisito nutricional. Segundo estudos realizados pela universidade da Pensilvânia (gráfico
abaixo), a quantidade de amónia no rúmen oscila ao longo do dia,
comprovando que é essencial assegurar uma concentração superior
a 12 mg/dL para maximizar a performance das bactérias celulolíticas (Swabb et al. 2005). Abaixo do nível acima indicado, o azoto,
elemento essencial para o metabolismo, é um fator limitante e consequentemente a atividade bacteriana no rúmen diminui.
Conseguir cumprir o requerimento em proteína solúvel fica
muitas vezes dependente da utilização de ureia, produto que nas
quantidades necessárias pode comportar riscos e que muitas vezes
os produtores pecuários não gostam de ver fornecido na alimentação dos seus animais.
Face a este desafio, alternativas à utilização de fontes
proteicas vegetais continuam a ser equacionadas no
sentido de controlar os custos da alimentação, mas
igualmente a formular dietas mais equilibradas nas
diferentes frações proteicas e na relação
forragem/concentrado da sua matéria-seca (MS),
assegurando assim uma melhor eficiência alimentar e
uma melhoria do retorno económico para o produtor.
20
sem libertação controlada de ureia
com a libertação controlada de ureia
18
16
16
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
14
12
Concentração de requisitos de amoníaco necessária para as bactérias do rúmen
Concentração de amónia
na ausência de libertação
controlada ureia
0
2
4
6
9
alimentação a.m.
0
flexão
2
flexão
4
flexão
6
12
Tempo após a ingestão
15
flexão
A deficiência de amoníaco,
na ausência de libertação
controlada ureia
flexão
8
flexão
10
alimentação a.m.
É evidente que em ruminantes é fundamental trabalhar na melhoria da eficiência ruminal, pois a complexidade da microbiologia do rúmen oferece ainda um elevado potencial de
melhoramento. Na realidade, no sentido de melhorar a digestão
em ruminantes, é essencial um enfoque no aumento da população
microbiana que representa em si a fonte de proteína que irá ser
utilizada pelo animal na produção e manutenção dos requerimentos fisiológicos e produtivos do animal.
O objetivo fundamental é identificar estratégias nutricionais que
possam maximizar a sincronização das frações de proteína e energia de uma forma a disponibilizar os nutrientes ideais para o aumento da produção de proteína microbiana no rúmen com impacto
na digestibilidade da dieta.
Amoníaco no rúmen mg / dl
EFICIÊNCIA RUMINAL
22
24
PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
FONTE DE NPN DE LIBERTAÇÃO LENTA – OPTIGEN:
VANTAGENS
Face a este problema e com o objetivo de maximizar a capacidade fermentativa das bactérias ruminais, a Universidade de Cornell, EUA, desenvolveu uma tecnologia inovadora que permitiu
otimizar a quantidade de proteína solúvel constante no rúmen através do uso de uma fonte de azoto não proteico de libertação lenta,
com aplicação tanto em animais de leite, como de carne.
A tecnologia utilizada de microencapsulação e a densimetria
específica permitem um ritmo de degradação muito idêntico
àquele que observa na digestão ruminal do bagaço de soja (Fig.1).
Este facto permite ao nutricionista, mediante reformulação da
dieta, uma menor utilização de fontes vegetais ricas em proteína
solúvel como a “soja” proporcionando uma fonte de azoto constante indispensável à população bacteriana, melhorar a sincronização da fração proteica com as fontes de energia da dieta e evitar
picos elevados de amoníaco no rúmen e valores elevados de ureia
no sangue que são prejudiciais à saúde e fertilidade.
Vacas Leiteiras
Novilhos de Engorda
Diminuição do uso da “soja” nas dietas. Um kilo
de Optigen corresponde em termos proteicos a
cerca de 6 kilos de bagaço de soja 44%;
Melhoria da síntese proteica microbiana;
Aumento da digestibilidade dos alimentos
fonte de fibra como é o caso das forragens;
Menor quantidade de proteína necessária
para produzir um kilo de carne;
Maximização da ingestão das forragens com
menor uso de concentrados;
Redução de 1% no teor de proteína bruta
das fórmulas destinadas ao fabrico de alimentos compostos para novilhos em crescimento e engorda;
Aumento da síntese de proteína microbiana,
logo menor necessidade de fontes proteicas
bypass em vacas de alta produção;
Menor consumo de alimento;
Diversos estudos científicos realizados em diferentes países permitem observar um aumento de produção de 1,2 litros de leite por dia;
Melhoria geral dos parâmetros produtivos
confirmada por um melhor Ganho Médio diário e Índice de Conversão alimentar.
A melhoria da digestibilidade da dieta (confirmado pela observação física das fezes)
melhora a eficiência alimentar e disponibiliza
mais energia, cujos efeitos benéficos têm
sido observados em vacas no pico de lactação através de uma melhoria da condição
corporal.
APLICAÇÃO PRÁTICA
Os resultados e benefícios para o produtor têm sido observados
tanto em Portugal como em Espanha, onde numerosos centros de
engorda de novilhos têm comprovado não apenas os melhores resultados zootécnicos como também menos problemas associados
a timpanismo e fezes melhor digeridas que resultam de uma função ruminal mais estável e saudável. Tais resultados são observados tanto em novilhos alimentados com o uso de carros Unifeed
como nos que são alimentados a ração e palha.
Em vacas leiteiras, o Optigen não apenas liberta o espaço necessário para o uso de mais silagem de milho (acima dos 30 kilos
como hoje pretendem muitos produtores) e/ou outras forragens
necessárias à diminuição dos custos da alimentação, como fornece a proteína solúvel indispensável ao bom aproveitamento ruminal da silagem expresso em maior produção de leite.
Em novilhos de engorda, o Optigen igualmente liberta espaço
para uso de mais forragens como assegura condições para a melhor digestão fibrolítica da palha. O seu uso eficiente em novilhos
ficou mais uma vez recentemente demonstrado por um estudo
controlado realizado em Itália, que permitiu obter um ganho extra
de 40 euros por animal.
CONCLUSÃO
No atual contexto económico e face ao aumento do preço das
matérias primas, nomeadamente das fontes proteicas como o bagaço de soja que contribuem para o agravamento dos preços das
dietas em Portugal, o Optigen representa uma alternativa segura
fornecendo aos animais uma fonte de nitrogénio solúvel necessário ao rendimento e eficiência das dietas utilizadas tanto em vacas
como em novilhos sem os riscos associados à utilização de ureia.
Pelas razões técnicas e económicas acima expostas, é uma solução adequada para o produtor, respondendo aos desafios económicos colocados à manutenção da rentabilidade e viabilidade da
Pecuária Nacional. x
(Bibliografia disponível por solicitação)
Figura 1
Curva de libertação do Azoto: Optigen, bagaço de soja e Ureia
120
% nitrogênio libertado
100
80
60
40
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
Bagaço de soja
Ureia
20
0
18
Optigen II
0
10
20
Tempo (horas)
30
40
Pioneer® disponibiliza aos agricultores portugueses produtos e serviços que
lhes possibilitam tirar o maior rendimento possível das suas explorações agrícolas.
Ao disponibilizar sementes que são o resultado de um esforço constante na área da
investigação e desenvolvimento, adaptados às diversas particularidades das regiões
agrícolas, comprovando os resultados no terreno, contribui para a rentabilização das
culturas.
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DuPont Agriculture & Nutrition
Campo Pequeno, 48 - 6º ESQ. • 1000-081 Lisboa - PORTUGAL • TEL.: 21 799 80 30 • FAX: 21 799 80 50
PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
A dieta de bovinos de leite
mediante a fase do seu ciclo produtivo
A formulação de dietas para bovinos de leite baseada
na fase do ciclo produtivo é um conceito que foi
introduzido no início da década de 80, e que está
centrado nas modificações da dieta baseadas na
relação entre as alterações da produção de leite,
capacidade de ingestão e peso metabólico, ao longo do
ciclo de lactação da vaca. Foi sem dúvida um passo
evolutivo, e possível, à medida que a dimensão das
explorações foi aumentando e a possibilidade de
dividir em grupos os animais, mediante a fase do ciclo
produtivo, foi também sendo maior.
Nos últimos anos, o conhecimento das alterações fisiológicas
que ocorrem desde o pré-parto até ao fim da lactação tem sido
bastante aprofundado, e alguns artigos de elevado interesse, nomeadamente de Investigadores da Universidade de Michigan (Michigan State University), acerca da Teoria de Oxidação Hepática
(TOH), têm revelado alguns indicadores interessantes acerca das
modificações necessárias na dieta, ao longo do ciclo produtivo.
Temos focado, nos últimos artigos, os factores determinantes
na digestibilidade do amido, e de que forma podemos avaliar a
taxa de digestão dos mesmos a nível ruminal. No seguimento dos
mesmos, tentaremos agora debater que tipo de “amidos”, mais
“rápidos” ou “lentos”, serão necessários em cada uma das fases
mais importantes da lactação da vaca.
INGESTÃO
Geralmente, pensamos na capacidade de ingestão como uma
função do peso metabólico, produção de leite requerida, condições climatológicas, frequência de alimentação, tamanho da partícula, tempos de retenção ruminal, e velocidade de fermentação
do amido e da fibra.
20
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
Recentemente, novas aproximações ao tema, como a Teoria da
Oxidação Hepática (TOH), têm revelado e trazido à discussão vários factores que necessitam de ser considerados para maximizar
a ingestão em bovinos de leite.
A TOH sugere que a oxidação dos ácidos gordos, propionato,
lactato e aminoácidos, no fígado, é um factor muito importante e
condicionante da capacidade de ingestão.
Os sinais fisiológicos que controlam a ingestão alteram-se,
desde o período de transição no parto, até ao período final da lactação. Parece que durante a fase de transição o controle da ingestão é altamente influenciado pela oxidação hepática dos ácidos
gordos não esterificados (NEFA), pela distensão ruminal durante
o pico de lactação, e pela produção de propionato nos animais em
fase final de lactação (Allen e Bradford, 2009a). Estes factores
poderão contribuir para formular dietas que optimizem ainda mais
a ingestão de alimento.
TRANSIÇÃO PARA INÍCIO DE LACTAÇÃO
Os níveis elevados de Ácidos Gordos não esterificados (NEFA),
provenientes da mobilização de gordura corporal, deprimem a ingestão durante o período de transição. Por esse facto, uma forma
de maximizar a ingestão passa por controlar a mobilização de reservas corporais, durante o período de transição e início de lactação. A concentração de insulina plasmática e a sensibilidade dos
tecidos à mesma diminui várias semanas pré-parto, o que contribui para o aumento da mobilização de gordura corporal. Apesar da
baixa capacidade de ingestão, este facto ajuda a vaca em transição
a manter constante a concentração de glucose plasmática.
A concentração de insulina plasmática e a sensibilidade dos tecidos à mesma mantém-se baixa durante o início da lactação, elevando os níveis de NEFA. O período de tempo em que os NEFA
se mantêm elevados depende do animal e da taxa de mobilização
ALIMENTAÇÃO
de gordura e de remoção da mesma pelo fígado e glândula mamária. A utilização dos NEFA pela glândula mamária é importante para diminuir os níveis dos mesmos.
No entanto, a elevada oxidação dos NEFA no fígado reduz a ingestão de alimento, aumenta o potencial para fígado gordo e aumenta a exportação de corpos cetónicos, quando a capacidade
oxidativa do fígado não é total (Alan e Bradford, 2009a). A ingestão
de alimento limitada pelos níveis elevados de NEFA atrasa o aumento da concentração plasmática de glucose, resultando em produção de leite reduzida, devido à produção limitada de lactose. Por
esse facto, é desejável aumentar a concentração de glucose no início de lactação, porque estimula a produção de insulina no pâncreas.
A decisão de limitar a fermentescibilidade do amido pode aumentar a ingestão de Matéria Seca no início de lactação. O propionato, principal produto da digestão do amido, é absorvido a
taxas elevadas e rapidamente transportado para o fígado para produzir glucose. Se o propionato for absorvido mais rapidamente
do que é utilizado para produzir glucose, será oxidado, produzindo ATP e emitindo um sinal de saciedade ao cérebro. Tipicamente este facto não é um problema em vacas em início de
lactação, devido ao facto do fígado, nesta fase, aumentar significativamente de dimensão. No entanto, o propionato também estimula a oxidação da Acetil CoA, que tipicamente se apresenta em
quantidades elevadas nesta fase, devido à oxidação parcial dos
NEFA, e isso pode resultar também num aumento da produção de
ATP, emitindo a mesma mensagem de saciedade ao cérebro (Allen
e Bradford, 2009a).
A necessidade de propionato para produzir glucose, estimular a
insulina, reduzir a mobilização das reservas corporais e aumentar
a ingestão terá de ser balanceada com o seu potencial de emitir sinais de saciedade ao cérebro devido à produção de ATP, explicado
acima. Alterar então a fermentescibilidade do amido nesta fase
parece ser uma estratégia mais desejável do que substituir amido
por fonte de fibra digestível.
Nesta fase então, por fim, o nutricionista poderá considerar
estas opções, segundo Allen e Bradford, 2009a:
- Não deverá ser administrada na dieta fontes de gordura suplementar, visto que a limitação de ingestão pelos altos níveis de NEFA é já uma realidade;
- Manipular a dimensão da partícula do grão ou utilizar farinha de milho em detrimento de pastone, de forma a limitar
a digestão do amido a nível ruminal, passando este a ser digerido no intestino, com a consequente produção directa de
glucose;
- Utilizar outros precursores da glucose com menor efeito estimulante da Acetil CoA, como o glicerol ou frutose.
PICO DE LACTAÇÃO
À medida que as vacas se aproximam do pico de lactação, a
concentração plasmática mais elevada de glucose estimula a produção de insulina, reduzindo a lipólise e as concentrações de
NEFA e Acetil CoA. A redução desta e a maior necessidade de
produção de glucose reduz a oxidação hepática e os sinais de saciedade para o cérebro.´
Nesta fase a Oxidação Hepática não é um factor determinante
na ingestão. O foco agora deverá estar na qualidade da Fibra Neu-
PRODUÇÃO
tro Detergente (NDF) das forragens, nomeadamente na concentração, digestibilidade e fragilidade, de forma a formularmos dietas com tempos de retenção baixos e elevada fermentescibilidade
da fibra. Durante esta fase, a formulação da dieta deverá:
- Se possível, diminuir a concentração de silagem de erva em
detrimento de silagem de leguminosas, que têm tempos de
retenção mais baixos;
- Maximizar a utilização de silagem de milho, cuja fibra é digerida rapidamente no rúmen;
- Utilizar fontes de amido altamente fermentescível, no sentido de maximizar a ingestão de energia e promover a produção de proteína microbiana;
- Limitar a ingestão de gorduras insaturadas, que pode reduzir a motilidade ruminal.
FIM DE LACTAÇÃO
À medida que as necessidades de energia diminuem após o pico
de lactação, o impacto da distensão ruminal é menor, e a ingestão
é novamente regulada pela Oxidação Hepática.
As vacas, no fim de lactação, são mais sensíveis à insulina, derivam mais energia para adipose, requerem menos glucose e são
mais susceptíveis à depressão de gordura no leite.
As dietas administradas nesta fase deverão:
- Manter a condição corporal próxima do 3;
- Conter forragens com maior tempo de retenção;
- Conter fontes de amido menos fermentescível;
- Conter fontes de fibra não forrageira para ajudar a diluir a
concentração de amido;
- Limitar as gorduras insaturadas em animais já susceptíveis
à depressão de gordura no leite.
CONCLUSÃO
A ingestão é influenciada por diversos factores,
como ambientais, fisiológicos e ligados à dieta administrada. Temos agora uma ideia mais clara de
como podemos ajustar a dieta à fase fisiológica da
vaca de leite, podendo dessa forma optimizar a produção de leite a um custo o mais baixo possível.
Referências: Allen, M.S., e B.J. Bradford, 2009a. Strategies to
optimize feed intake in lactating cows. WDCS Advances in Dairy
Technology. 21:161-172.
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Nós estamos sempre por perto.
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Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
21
PRODUÇÃO
GENÉTICA
Raças de carne
Que raça escolher para melhorar
o meu efectivo?
Em bovinos de carne, os cruzamentos são
frequentemente utilizados com o objectivo de
aumentar a produtividade, concentrando num
único indivíduo características
economicamente interessantes presentes em
duas ou mais raças distintas, por meio da
complementaridade.
O cruzamento entre mães de raças autóctones e pais
exóticos, muito frequente em Portugal, permite dispor,
com o mínimo de investimento, de filhos adaptados às
condições difíceis de regime extensivo com velocida-
des de crescimento superiores, melhores índices de
conversão, etc., que as verificadas na raça autóctone.
Claro que cabe ao produtor definir em que quer melhorar o seu efectivo, seja no rendimento da carcaça, na
facilidade dos partos, na adaptação da carcaça às exigências do mercado, etc.
Nesta “mesa redonda” apresentamos os argumentos
de três produtores de linhas puras, para a escolha duma
destas três raças, Angus/Charolês/Limousine, como
raça melhoradora de um efectivo. Ou seja, aquilo que
um produtor poderá esperar quando cruzar o seu efectivo com uma destas três raças.
Roland Winter, produtor da raça Aberdeen-Angus
“Tudo começou em 1992, quando vim para Portugal com os cavalos Quarto de Milha. Dois anos depois, comprei as primeiras vacas de outras raças
apenas com o intuito de treinar os cavalos. Em 1998,
importei as primeiras Aberdeen Angus, já conhecia a
raça desde 1975 que na Suíça é a nº1. A partir daí, o
efectivo começou a crescer com várias importações
de Inglaterra, Irlanda e Dinamarca, até chegar ao que
tenho hoje, mais ou menos 90 vacas divididas em 3
rebanhos, um deles de 17 Vermelhas. Para além
disso, tenho investido para melhorar a genética do
meu rebanho usando a técnica de inseminação artificial e construí um subcentro de sémen para disponibilizar sémen de Angus de excelentes linhas ao
mercado nacional.”
A raça que eu escolheria para melhorar um efectivo
bovino seria, sem dúvida, a raça Aberdeen Angus.
Apesar de estar agora a dar os seus primeiros passos em Portugal, hoje tem o maior efectivo mundial
em bovinos de carne, sendo a raça preferida para a
selecção e criação de gado nos principais países produtores (ex: EUA, Argentina ou Austrália), porque a
sua adaptabilidade aos mais variados climas e condições de maneio é extraordinária.
Considero que a raça Aberdeen-Angus é “multifuncional”, por que as suas características raciais respondem às várias necessidades dos produtores. A sua
facilidade no parto (peso médio de 35kg) faz-se com
que seja a eleita no cruzamento industrial em raças
de carne e leiteiras. No caso particular das raças exóticas exploradas em Portugal, o facto da Angus ser
precoce trás vantagem no cruzamento para se au-
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Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
mentar o vigor híbrido para a produção O seu temperamento dócil e a dominância mocha facilitam o
maneio e a segurança na exploração o que se traduz
numa maior eficiência reprodutiva.
Na linha materna, a raça também evidência as suas
vantagens, pois sendo uma raça precoce significa
estar sexualmente activa muito cedo, o que permite
colocar as novilhas à cobrição com 15 meses para
virem a parir com 2 anos. Sendo assim, a manutenção
de boa condição corporal após o parto resulta num
mais rápido retorno ao cio e à cobrição (i.e. antes dos
83 dias) conseguindo-se facilmente obter um vitelo a
cada 365 dias. Aliada à excelente capacidade aleitante, é fácil perceber que durante a vida útil produtiva existe uma optimização do número de animais
por vaca. Faço o desmame por volta do 6/7meses
com pesos médios que rondam os 280kg.
O facto de ser uma raça precoce também indica
uma eficiente conversão de forragem em peso e um
GENÉTICA
acabamento mais rápido, pois inicia a deposição de
gordura de cobertura e intramuscular (marmoreado)
mais cedo. Assim, faz mais sentido falar em rendimento por área de produção (kg/ha) do que por animal (kg de carcaça).
A padronização conferida pelas características da
qualidade da carcaça e da carne, faz com seja a raça
mais conhecida no mundo e onde o nome ANGUS
reflecte qualidade da carne. A qualidade da carne, é
porventura a característica que a torna mais conhecida e lhe vale o rótulo da “melhor carne do mundo”
e por isso tem impulsionado a criação de regimes de
PRODUÇÃO
certificação com base no genótipo Angus.
Isto significa colocar ao dispor da produção, da comercialização e do consumidor uma carne diferenciada onde a qualidade sensorial está em primeiro
lugar. Sendo assim, o retorno das mais-valias ao seleccionador e ao produtor de carne são maiores. Este
facto já se verifica em Portugal, onde a procura de
reprodutores não pára de aumentar e onde o cruzado
já está a valer pelo menos 4,20€/kg de carcaça. À
parte das virtudes raciais, o espaço e os mercados a
conquistar dão-me cada vez mais segurança na escolha que fiz - a raça Aberdeen-Angus.
David Catita, produtor de Limousine
A escolha de uma raça melhoradora para um efectivo bovino deve ser consciente e baseada em dados
concretos, uma vez que, como tudo na agricultura, os
processos de transformação são lentos, assim como a
recuperação de eventuais opções de mudança que
não tenham resultado como esperado.
Os aspectos fulcrais para o sucesso de um efectivo
pecuário são claros.
Em primeiro lugar, os animais devem ser de fácil
adaptação e boa rusticidade, para possibilitar a demonstração das suas qualidades. Neste contexto, a
raça Limousine ocupa uma posição cimeira, adaptando-se facilmente a todas as regiões de Portugal,
de norte a sul e do litoral ao interior. É actualmente a
raça pura com maior número de touros puros em produção no panorama nacional, com mais animais que
todas as outras somadas, ficando claro a sua enorme
adaptação às condições nacionais.
Em segundo lugar, e considerando a necessidade de
redução de perdas e de custos com os recursos humanos afectos às explorações, importa garantir que as
vacas não apresentem dificuldades no momento do
parto, fase esta que concentra mais de 70% das mortes de uma exploração. A facilidade de partos da raça
Limousine é enorme, sendo uma das suas maiores
qualidades e que transmite à descendência, com animais entre 35 kg e 45 kg à nascença e com reprodutores seleccionados há décadas pela grande dimensão
da bacia, aspecto fulcral para a facilidade de partos.
Em terceiro lugar, importa garantir que a raça seleccionada apresente rapidez de crescimento aliada
ao rendimento de carcaça, onde a raça Limousine
apresenta valores de excelência, com pesos médios
ao desmame acima dos 280 kg e com rendimentos de
carcaça acima dos 62%, devido ao osso fino e à elevada proporção de carne de qualidade na carcaça,
com reduzido desperdício.
A raça Limousine é ainda uma raça melhoradora
com elevada fertilidade, com boas qualidades mater-
nais de cuidados com as crias e elevada produção leiteira, sendo estes aspectos importantes numa fase de
aperfeiçoamento produtivo de um efectivo.
A minha exploração — Fonte Corcho — localizase em Serpa, sendo constituída essencialmente por
montado de azinho e olival. A dureza do solo, a necessidade de reduzir problemas e a opção por ter os
partos concentrados no Outono fez-me escolher a
raça Limousine, e actualmente todo o investimento
realizado tem sido muito compensador.
A minha experiência com outras raças resultou em
problemas de parto, no caso de raças mais ossudas, e
em vacas muito frias, com baixa fertilidade e com necessidades energéticas de arrefecimento muito elevadas, nas raças originárias de climas frios.
Com a raça Limousine os problemas de parto são
praticamente inexistentes, abaixo de 4%, e os GMD
rondam os 1200 gramas/dia. Em termos de índices
de conversão, os valores variam entre os 4 e os 5 kg
MS/kg PV, e os animais atingem valores de peso vivo
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
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23
PRODUÇÃO
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GENÉTICA
acima dos 650 kg com cerca de 14 meses.
O escoamento dos animais tem sido fácil, uma vez
que se trata de animais muito procurados e valoriza-
dos, com um dos valores mais elevados do mercado
de engorda, em virtude das suas elevadas performances de crescimento.”
João Salvador, produtor de Charolês
A Quinta dos Gamos, situada em pleno coração do
Ribatejo, foi fundada em 1985, no lugar de Foros de
Almada, no concelho de Benavente. Dispõe de uma
área de 50 hectares de regadio, com prados de pastagens permanentes semeados criteriosamente, com
vista a alimentar as vacas e todo o gado bovino que
nela pastam de forma eficaz, sabido que uma boa alimentação, um bom maneio e uma genética adequada,
a par de outros factores, contribuem de forma decisiva para produzir animais de qualidade.
A produção da casa assenta, essencialmente, na cria
de bovinos das raças Charolesa e Alentejana e ainda
no cruzamento industrial das duas raças, tirando assim
partido das potencialidades de ambas. A Charolesa é
a número um em produção de carne, e um criador de
vacas é essencialmente um produtor de carne.
Na herdade temos uma vacada alentejana pura,
aquela que eu considero ser a melhor raça autóctone,
e uma vacada charolesa pura, que é aquela que em
termos mundiais será a melhor produtora de carne.
Comparando o crescimento destes animais puros,
posso afirmar que os Charoleses têm um crescimento
diário superior em 40% à raça alentejana. O ganho
médio diário do Charolês chega a ser durante largos
períodos superior a 2 kg por dia, e com 12 meses de
vida chega aos 650 kg pv.
O futuro da carne passa por produzir qualidade, e
esta depende de vários factores, entre eles da genética. É muito importante saber escolher o reprodutor
adequado à exploração para onde vai “trabalhar” e
ter uma alimentação adequada. Sem uma boa alimentação, não se tira proveito da genética. O rendimento de carcaça é sempre superior aos 60%,
chegando nalguns casos perto dos 70%. A experiência diz-me que ao fim de um ano de vida, com a
mesma alimentação e maneio, um charolês pesa sempre mais 10 a 15% do que a Limousine.
“Por vezes, diz-se que as vacas cruzadas com charolês parem mal! Todos os animais parem bem e mal.
O charolês, por norma, dá animais pesados apesar de
haver linhas que dão animais mais leves, e as nossas
raças autóctones são normalmente pequenas e nem
sempre bem alimentadas, não tendo capacidade, nem
bacia nem ventre para gerar um bezerro que à nascença possa pesar mais de 40 Kg. Por isso, têm algumas dificuldades. Mas se estivermos atentos aos
partos e virmos que alguma vaca está para parir e
com dificuldades, devemos puxá-la à manga e ajudar
no parto. Nada que não se passe com as mulheres,
todas elas são ajudadas. A verdade é que, quando as
mulheres deixaram de parir debaixo das árvores ou
em casa, a mortalidade baixou. Porque não aplicar os
nossos conhecimentos aos animais?
De qualquer forma, o grande problema é o desajustamento do perfil da vaca ao charolês. A maioria
dos produtores, quando quer comprar charolês, opta
pelo melhor, o maior; quando aquilo que deveria ser
feito com qualquer raça seria comprar um reprodutor
que se ajustasse ao perfil das vacas do comprador. Eu
tenho vacas alentejanas cruzadas com charolês e não
tenho problemas de parto. A razão deve-se a ter metido um touro com características mais esqueléticas
do que musculosas que fazem bezerros com 35/40 kg
à nascença. O sucesso dum reprodutor é também a
adaptabilidade à região para onde vai; comprando em
Portugal, a adaptação é sempre mais rápida, de qualquer forma é muito importante criar condições de
tranquilidade e bem estar para que ele se adapte rapidamente. x
Contactos das Associações:
• www.charoles.com.pt • www.limousineportugal.com • www.aberdeen-angus.pt
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Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
Valorização da Silagem
de Milho
Departamento Técnico Comercial Timac Agro \ Vitas Portugal
O objetivo da conservação de forragens é
preservar ao máximo as qualidades das
forragens verdes no momento da colheita,
assegurando um alimento apetente e com
elevado valor nutritivo.
A ensilagem de forragens verdes permite
obter bons resultados, desde que se cumpram
determinadas regras na colheita e na
realização do silo.
A silagem consiste na conservação de uma forragem
com alto conteúdo em humidade, mediante acidificação do meio, produzida por fermentação láctica. Pretende-se então incentivar a fermentação láctica para
que, o mais rapidamente possível, se produza ácido
láctico com o objetivo de baixar o pH para níveis onde
a atividade bacteriana cesse, de modo a atingir a estabilidade do silo.
Durante o processo de ensilagem, verificam-se vários tipos de perdas, que põem em causa a qualidade
nutricional do produto final, a silagem. Como consequência, o seu valor alimentar diminui, refletindo-se
isso na performance dos animais.
Verifica-se que as fermentações indesejáveis são responsáveis por uma grande parte das perdas na silagem.
Sabendo que as fermentações lácticas são aquelas
que nos interessam aumentar no processo de ensilagem, pois contribuem para uma rápida estabilização
do silo, com valores de pH que impedem o desenvolvimento dos microrganismos indesejáveis, será de todo
o interesse acelerar o seu início.
Assim, podemos dizer que os objetivos para obtermos uma silagem de qualidade são, por um lado, atingir rapidamente o pH de estabilidade e por outro,
termos o maior número possível de bactérias lácticas.
Aumentar o nº de bactérias lácticas por tonelada
de forragem verde, permite:
• Acelerar o início da fermentação láctica
• Menor consumo dos nutrientes da forragem verde
• Redução das perdas do valor nutritivo da silagem
• Maior estabilidade e duração da silagem
• Melhor qualidade da silagem
Um inoculante biológico favorece um rápido aumento do número de bactérias lácticas por tonelada de
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Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
erva verde, acelerando o processo fermentativo, conseguindo-se por isso uma diminuição mais rápida do
pH e uma maior formação de ácido láctico. Devido à
redução das fermentações indesejáveis nas fases iniciais do processo de ensilagem, favorece-se a conservação das qualidades nutritivas da forragem verde.
Com um menor consumo dos nutrientes da forragem
verde obtemos, assim, uma silagem de melhor qualidade alimentar.
Para atingir este objetivo a Vitas Portugal, através
dos diversos departamentos de investigação do Grupo
Roullier, desenvolveu um inoculante biológico, o SIL
APRILIS PRO.
O SIL APRILIS PRO foi desenvolvido através de
uma seleção meticulosa de fermentos lácticos, propiónicos e enzimáticos provenientes de pesquisa biotecnológica aplicada de estirpes isoladas da flora natural
da silagem e que foram selecionadas devido à sua performance acidificante e capacidade de adaptação.
Devido às suas características, SIL APRILIS PRO:
• Permite maior preservação do valor nutritivo da silagem;
• Reduz as perdas de matéria seca;
• Evita o desenvolvimento de bactérias indesejáveis;
• Reduz o desenvolvimento de fungos;
• Aumenta a estabilidade do silo após a abertura
A Vitas Portugal continua a defender uma busca permanente de novas e mais adequadas soluções para os
nossos clientes. Para mais informações e esclarecimentos, não hesite em contactar o técnico Vitas mais
próximo de si.
PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
Micotoxinas e sua influência
na incidência de doenças metabólicas em ruminantes
Radka Borutova, Gestora de Produto, BIOMIN Holding GmbH
[email protected]
Detectar quando as micotoxinas estão a prejudicar a saúde
e as performances é extremamente difícil.
Algumas micotoxinas, como a Zearalenona, afectam principalmente
a reprodução e são relativamente fáceis de identificar.
Elevados níveis de micotoxinas podem causar intoxicações
agudas e alterações dramáticas na produção de leite e saúde animal... Infelizmente a situação mais comum e mais difícil de identificar acontece quando o alimento contem baixas doses de
micotoxinas e os efeitos para a saúde são sub-clínicos. A presença
de micotoxinas na ração está muitas vezes relacionada com o aumento de doenças metabólicas como cetoses, retenção placentária, torção do abomaso, mastites, metrites, manqueira, aumento
das células somáticas e diminuição da produção leiteira.
As micotoxicoses diminuem o rendimento devido à baixa de
produção de leite e sua qualidade e aumentando os custos em terapias inadequadas.
As micotoxinas podem ser o agente primário de problemas agudos de saúde ou produção em vacas, mas usualmente são um factor que contribuem para problemas crónicos incluindo maior
incidência de doenças, redução da performance reprodutiva.
A sua acção é exercida através de quatro mecanismos primários:
(1) redução do consumo ou recusa, (2) redução na absorção dos nutrientes e desequilíbrio metabólico; (3) alterações do sistema endócrino e exócrino; e (4) supressão imunitária. O reconhecimento do
impacto das micotoxinas, na produção animal tem sido limitado
pela dificuldade de diagnóstico. Os sintomas são muitas vezes inespecíficos e os seus efeitos progressivos tornam o diagnóstico difícil ou impossível devido à complexidade e diversidade de sintomas.
MASTITES, METRITES
Mastite é a inflamação da glândula mamária por definição. As
mastites ocorrem como resposta primária a uma infecção bacteriana intramamária, mas que poderá ser também devida a fungos,
algas ou Mycoplasma. Os traumas físicos, térmicos ou químicos
predispõem a glândula mamária à infecção. A ocorrência da mamite depende da interacção do agente com factores ambientais
(Zhao and Lacasse, 2007).
Metrite é a inflamação das camadas musculares do útero e do en-
dométrio. Os factores de risco para o aparecimento de metrite pós
parto são: retenção placentária, distócia, aborto, prolapso uterino,
febre do leite, má higiene no parto, Cetosis etc. (Palmer, 2003).
Resultados de uma exploração com 3200 vacas, 3000 novilhas
e 400 vitelos mostram que o decréscimo médio em mastites e metrites após o uso de Mycofix® Plus (15 – 30 g/vaca/dia) foi de 0.3
% e -32.5 %, respectivamente (Figura 1 e 2). A contaminação de
TMR era 800 ppb de deoxynivalenol e 38 ppb de zearalenona.
Figura 1 – Incidência do total de mastites durante 158 dias.
Figura 2 – Incidência do total de mastites durante 151 dias.
O campo verde representa a presença de Mycofix®Plus na ração
y = -0,2459x + 10027
R² = 0,6723
y = -0,2459x + 10027
R² = 0,6723
28
40
30
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
30.04.2011
23.04.2011
16.04.2011
09.04.2011
02.04.2011
26.03.2011
19.03.2011
Incidência de mastites no total
09.03.2011
26.02.2011
19.02.2011
Durante o uso de Mycofix®Plus
12.02.2011
09.02.2011
29.01.2011
22.01.2011
08.01.2011
07.05.2011
30.04.2011
23.04.2011
Linear (Incidência de mastites no total)
0
15.01.2011
Antes do uso do Mycofix®Plus
10
12.03.2011
20
16.04.2011
09.04.2011
02.04.2011
26.03.2011
19.03.2011
12.03.2011
09.03.2011
26.02.2011
Incidência de mastites no total
y = -0,2183x + 8897,6
R² = 0,3883
50
Durante o uso de Mycofix®Plus
19.02.2011
12.02.2011
09.02.2011
29.01.2011
22.01.2011
15.01.2011
08.01.2011
01.01.2011
Antes do uso do Mycofix®Plus
60
01.01.2011
70
60
50
40
30
20
10
0
O campo verde representa a presença de Mycofix®Plus na ração
Linear (Incidência de mastites no total)
ALIMENTAÇÃO
CÉLULAS SOMÁTICAS (SCC)
A contagem de células somáticas em amostras do tanque do leite
são um bom indicador da saúde do úbere. As células somáticas no
leite são principalmente glóbulos brancos produzidos pela vaca
para destruir as bactérias causadoras de mamite que entram no
úbere e para reparar tecido lesado. Estas células estão sempre presentes no leite mas quando existe invasão do úbere por microorganismos ou se a mama é lesionada, o número de SCC aumenta.
As lesões tecidulares e o aumento das SCC resultantes de mamites podem bloquear os ductos galactóforos da mama, resultando
em baixa produção de leite quando as células produtoras de leite,
situadas acima da lesão, são destruídas. Uma estimativa das perdas,
derivada de contagem de SCC é apresentada na Tabela 1. Segundo
esta, manadas com contagens acima de 500.000 SCC podem conduzir entre 8 a 20 % de quebras de produção devido à presença de
Tabela 1 – Perdas estimadasde leite relacionadas
com contagens de élulas somáticas
Contagem SCC
100,000
200,000
300,000
400,000
500,000
600,000
700,000
800,000
900,000
1.000,000
Stiles and Rodenburg, 1996
Perdas Produção Leite (%)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
LAMINITES
Outro aspecto a tomar em conta é a alta incidência de laminites
nas vacarias com alimentos contaminados por micotoxinas. Laminites só por si causam graves prejuízos económicos, devido à baixa
produção de leite, disturbios reprodutivos, aumento de refugos e de
custos com tratamentos.
Num estudo conduzido em 2010 por Pirestani e Toghyani ficou
provado que o aumento dos níveis de aflatoxina (de 13.01 a 110.63
ppb) no arraçoamento, era responsável pelo aumento da Aflatoxina
M1 em amostras de leite. Também se verificou que estes níveis causaram problemas reprodutivos por retenção placentária.
A prevalência das laminites foi significativamente afectada pelo
nível de aflatoxina (P ≤ 0.05) no leite. Concluiu-se que existia uma
forte relação entre os níveis de aflatoxinas e laminites e retenção
placentária.
Existiu uma relação significativa entre aflatoxinas e laminites
(Tabela 2). Isto pode ter sido devido à aflatoxina e o seu efeito na
LAMINA do casco, ao solo de má qualidade, deficiências nutricionais e mau maneio. Em comparações entre animais normais e
CONCLUSÃO
É bem conhecido que todas as micotoxinas suprimem o sistema
imunitário e impedem o normal funcionamento do rúmen, mesmo
a níveis que não causem sintomas metabólicos ou fisiológicos,
É importante saber que as micotoxinas diminuem o consumo
30
Ruminantes •Julho | Agosto | Setembro • 2012
mamites sub-clínicas (www.omafra.gov).
O máximo permitido por lei de SCC, nos Estados Unidos, são
750.000/ml. Este limite é alto comparativamente a outros limites
internacionais. A Nova Zelândia e a Austrália, têm como a Europa, limites de 400.000/ml e o Canadá de 500.000/ml.
Noutro teste avaliámos o uso de Mycofix® Plus numa vacaria
com ocorrência de múltiplas micotoxinas. As SCC, antes da utilização de Mycofix® Plus, eram muito elevadas, reflectindo os elevados
problemas de mastite nas vacas. A adição de 25 g/vaca/dia de Mycofix® Plus ao alimento diminuíram os efeitos negativos da contaminação por 1025 ppb B-trichothecenes (nivalenol, deoxynivalenol,
15 acetyl-deoxynivalenol) e 120 ppb zearalenona. A inclusão de
Mycofix® Plus no alimento, reduziu as SCC significativamente (Figura 3).
Figura 3 - Contagem de células somáticas no leite a granel
(o período de controle antes de Mycofix®Plus)
600
500
400
Durante o uso de Mycofix®Plus
300
200
100
0
06.02.2006
21.02.2006
08.03.2006
23.03.2006
07.04.2006
22.04.2006
05.05.2006
22.05.2006
05.06.2006
21.06.2006
05.07.2006
21.07.2006
05.08.2006
20.08.2006
04.09.2006
19.09.2006
04.10.2006
19.10.2006
03.11.2006
18.11.2006
03.12.2006
18.12.2006
02.01.2007
17.01.2007
01.02.2007
15.02.2007
03.03.2007
18.03.2007
02.04.2007
17.04.2007
PRODUÇÃO
Tabela 2 – Correlação entre aflatoxina e laminite
em vacarias
Aflatoxina
Exploração A (13.01 ppb Afla)
Exploração B (110.63 ppb Afla)
Correlações
M1
0.022
0.432*
B1
0.112
0.425
B2
n.d.
0.323
* Significativo a partir ≤ 0.05; n.d. = não detectado
G1
-0.011
0.389
G2
-0.011
n.d.
Total
-0.112
0.425
com laminites verificou-se, nestes últimos, um ligeiro aumento
no intervalo entre parto e a primeira inseminação.
Esta diferença pode estar relacionada com a dor causada pela laminite devido a micotoxinas que, por causa da redução do consumo,
conduz a menor ingestão de energia, desequilíbrio hormonal e nutricional (Ozsoy‘s et al., 2005; Sood and Nanda, 2006).
Korosteleva et al. (2009) observaram que 500 ppb de deoxynivalenol
pode reduzir a actividade fagocitária e neutrofila, e consequentemente
determinar sintomas sérios, quando mastites e laminite estão presentes.
Laminite é o mais predominante sintoma de intoxicação por Alkaloides de Ergot alem de baixo ganho de peso e agaláxia. (Whitlow, 1993).
de alimento o que conduz à diminuição de produção de leite, uma
alimentação adequada e equilibrada, em conjunto com um programa de controlo de micotoxinas, são a chave para a óptima performance na produção animal.
Lutrell Pure –
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E tudo se reduz a leite
Tecadi, Lda.
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E-Mail: [email protected] • www.tecadi.pt
PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
Optimizar custos de produção
A Tecadi propõe aos produtores de leite ”reduzir os efeitos
da crise, optimizando os custos de produção”
Manuel Ortigão , Eng.º Zootécnico, Tecadi
Técnico - Comercial Zona Norte e Açores
[email protected]
Nos passados dias 18 e 19 de
Abril, a Tecadi organizou em
Vairão (Vila do Conde) e
Bunheiro (Murtosa),
respectivamente, 2 colóquios
subordinados ao tema
”Reduzir os efeitos da crise,
optimizando os custos de
produção” e que serviram
para as apresentações do
LUTRELL (um produto
BASF) e do COMBI CLA,
contendo ambos ómega 6,
destinados a melhorar a
fertilidade das vacas leiteiras
bem como a sua produção.
Estes colóquios contaram com a
presença de 25 pessoas cada um,
entre produtores de leite, nutricionistas e médicos veterinários. Por
parte da Tecadi estiveram presentes
os Eng.ºs Luís Ferraz, Paula Ventura e Manuel Ortigão e a Dra. Mafalda Ferraz.
32
O Eng.º Luís Ferraz, sócio-gerente da Tecadi deu as boas-vindas
e fez uma breve apresentação da
empresa, destacando que nos seus
15 anos de vida a Tecadi tem vindo
a crescer de forma regular e sustentada, quer no mercado nacional,
quer na exportação. Referiu que a
Tecadi representa em Portugal empresas de referência mundial nas
áreas da Química Fina e Nutrição
Animal, como a BASF, LALLEMAND, HAMLET PROTEIN, etc.
além de desenvolver diversas marcas próprias. A Tecadi possui a certificação ISO 9001-2008 reconhecida
pela APCER.
O Eng.º Jorge Gallardo da BASF
fez uma apresentação breve da
Companhia líder mundial da indústria química, que emprega cerca de
110.000 pessoas em 370 locais de
produção e que facturou em 2011
mais de 73 mil milhões de euros.
Na sua apresentação destacou a
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
BASF Nutrition & Health com a
qual a Tecadi colabora.
Seguidamente a Engª Silvia
Schmid (BASF) fez a apresentação
do LUTRELL, seus resultados técnicos e experiências. Apresentou o
princípio activo do produto, o ácido
linoleico conjugado (CLA) protegido da degradação no rúmen e seu
modo de actuação. Mostrou a importância de um produto destinado
ao periparto das vacas que contrarie
o balanço energético negativo deste
período da vida dos animais. Mostrou que dessa forma se consegue
ajudar o metabolismo, reduzindo a
gordura hepática e melhorando a
disponibilidade de glucose no pósparto. As vacas alimentadas com
Lutrell apresentam melhor condição corporal, menor incidência de
cetoses e outros problemas metabólicos e melhor fertilidade, consubstanciada numa menor taxa de
não retorno, num encurtamento do
ALIMENTAÇÃO
intervalo entre partos e num menor
refugo de vacas por problemas de
fertilidade. A produção de leite é
significativamente aumentada, havendo a registar também uma ligeira redução do teor butiroso do
leite. São reduzidos os custos com
medicamentos. Apresentou resultados de Centros de Investigação e de
ensaios de campo.
O Eng.º Manuel Ortigão, técnico-comercial da Tecadi na zona
Norte e Açores, apresentou alguns
dos resultados preliminares de um
ano de ensaios com LUTRELL em
Portugal.
PRODUÇÃO
com a redução dos dias open, tendo
sido atribuído um valor de 3€ por
cada dia open a menos. Em 3 das
explorações a empresa compradora
do leite não valoriza o teor butiroso;
no entanto, para efeitos de avaliação económica do ensaio, considerámos como se houvesse penalização pela ligeira redução da gordura.
O retorno médio ponderado do
investimento nessas explorações foi
de 6:1 considerando a penalização
pela quebra do teor butiroso; de 7:1
não havendo essa penalização
(Quadro 1).
Num trabalho científico ainda
não publicado (U.A.) foi realçado o
facto de serem mais elevados os níveis de progesterona no sangue das
vacas alimentadas com Lutrell
comparativamente ao controlo.
Em diversos ensaios de campo,
alguns dos quais em explorações
com robot de ordenha, foram recolhidos os dados dos referidos robots
bem como dos contrastes leiteiros,
dos relatórios do nutricionista, do
médico veterinário assistente e do
programa Bovinfor.
Houve a preocupação de fazer a
avaliação económica dos resultados
obtidos com a produção de leite e
Quadro 1. Uso prático de Combi CLA e Lutrell
Resumo dos resultados de 5 explorações em Portugal (2011 -2012), num total de 385 vacas em lactação
(média ponderada dos valores obtidos).
Produção (L)
Diferença na Gordura (%) (*)
Diferença na Proteína (%) (**)
Redução do intervalo entre partos (3€/dia open)
Refugo por infertilidade (***)
Despesa c/ Lutrell e ou Combi CLA
Benefício Líquido (com penalização da gordura)
+ 3,18 L
- 0,11
n.s.
-16 dias open
(101 dias)
Retorno do Investimento
(incluindo teor butiroso)
Retorno do Investimento
(não incluindo teor butiroso)
Benefício Líquido (sem penalização da gordura)
Total p/ mês
Total p/ ano
p/ vaca ano
- 1166€
- 13992€
- 36€
+ 11760€
n.s.
+ 1540€
- 1773€
+ 141120€
n.s.
+ 18480€
- 21276€
+ 367€
n.s.
+ 48€
- 55€
+ 10361€
+ 124332€
+ 323€
+ 11527€
+ 138324€
+ 359€
ROI
ROI
(*) Em 3 das explorações o comprador do leite não valoriza o teor butiroso, mas aqui calculamos como se houvesse penalização.
(**) n.s. - Diferenças não significativas.
(***) Valor ainda não calculado mas que consideramos que corresponde a uma redução do refugo de 30 a 50% com Lutrell.
6:1
7:1
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
33
ECONOMIA
OBSERVATÓRIO
Breves comentários e previsões
sobre o mercado de matérias-primas
Paulo Costa e Sousa
Engº. Agrónomo - Director Comercial da Louis Dreyfus Commodities - Portugal
Nota: Os preços e os cenários previstos para a evolução dos mercados de matériasprimas estão sujeitos a muitos imponderáveis e exprimem apenas opiniões profissionais
à luz do melhor conhecimento num determinado momento. Assim, a Revista Ruminantes
não garante a confirmação e/ou o cumprimento dos preços e previsões feitas sobre os
preços das matérias-primas sujeitas à analise do Observatório dos Mercados, não
constituindo assim ofertas de compra ou de venda.
COLHEITA RECORDE DE MILHO NO HORIZONTE
Neste momento parece vislumbrar-se algum raio de esperança na
próxima campanha de cereais. De cereais, não, de milho, uma vez que
os cereais praganosos fortemente prejudicados pelo Inverno rigoroso
não terão uma colheita muito brilhante, mesmo longe disso.
Assim sendo, a indústria europeia põe todas as suas
esperanças numa só ficha, a colheita recorde de milho
que se espera. Que se espera nos EUA, que se espera
na Ucrânia e que se espera na UE.
O acréscimo nas áreas semeadas bem como a ressementeira de algumas superfícies de cereais praganosos com milho, fizeram com que o hemisfério Norte
tivesse uma das maiores áreas semeadas de sempre.
No entanto, se bem que até agora não haja nenhum
motivo particular de sobressalto a história desta colheita ainda terá muitos capítulos por ler, a disponibilidade hídrica ou as temperaturas na floração são
sempre causas de melhores ou piores resultados que
poderão mudar todo o figurino de produção.
Em relação ao consumo, além da importância vital
que a situação macroeconómica pode ter nos seus padrões, um ponto adicional poderá ser importante.
Num ano em que o trigo poderá ser uma matéria
prima com um preço superior ao milho, a sua substituição massiva por este deverá ocorrer. Não no
caso português que já premeia o milho na sua formulação habitual, mas países como a Espanha, a Itália ou
os países do Norte da Europa, que premeiam cevadas
e trigos habitualmente, poderão encontrar-se com um
diferencial amplo destes cereais em relação ao milho,
o que fará inevitavelmente aumentar o seu consumo
pondo um travão à sua queda acentuada mesmo que a
produção se verifique abundante.
34
Ruminantes •Julho | Agosto | Setembro • 2012
Vindo isto a acontecer e comparando com o
mesmo período do ano passado, tudo aponta para
uns preços mais favoráveis para a indústria (e consequentemente menos elevados à produção) estando
ainda por ver qual será realmente a sua produção final,
qual será o diferencial para o trigo e como é que este
diferencial afectará positivamente o consumo de
milho, uma vez que os dados da colheita de cereais
praganosos já se vislumbram com cortes em relação
ao ano anterior.
No caso das proteínas, a palavra de ordem parece mesmo ser total incerteza e total volatilidade,
já que vemos os preços mudar 15 euros “da manhã
para a tarde”, o que pode transformar a compra num
verdadeiro exercício de sorte.
Em termos gerais, não parece haver nada particularmente baixista até à colheita americana de Setembro/Outubro, mas a paz tambem não é de modo algum
garantida para depois.
Mais uma vez, as proteínas parecem querer encaminhar-se para um novo patamar de preços; tal
como passaram do patamar de 300 euros para o patamar 400 euros, assim parecem dirigir-se em termos
gerais para paragens mais altas, donde que cada baixa
que apareça um pouco mais acentuada que o normal
pode constituir uma boa oportunidade de compra. x
ECONOMIA
»
EVOLUÇÃO DO PREÇO MÉDIO DE ALIMENTOS COMPOSTOS PARA ANIMAIS (em Euros/Tonelada)
Novilhos de engorda
€/ton
€/ton
Borregos de engorda
Meses
Meses
Vacas leiteiras em produção
€/ton
€/ton
Ovelhas leiteiras em produção
Meses
Meses
EVOLUÇÃO DO PREÇO MÉDIO DE MATÉRIAS-PRIMAS (em Euros/Tonelada)
€/ton
Bagaço de colza
€/ton
Cevada
»Fonte: IACA
€/ton
Bagaço de soja
€/ton
Milho
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
»Fonte: IACA
35
ECONOMIA
OBSERVATÓRIO
Perspectiva do mercado leiteiro
Fontes: IFCN, LTO, SIMA
CRESCIMENTO RECORDE NA PRODUÇÃO MUNDIAL EM 2011
Fonte: IFCN
Conjuntura
A produção mundial de leite mundial no
ano de 2011 cresceu em 3,2% ou em 22,6
milhões de toneladas relativamente a 2010
(dados de produção de leite de vaca e de búfala, corrigido para 4% de gordura e 3,3% de
proteína), de acordo com dados divulgados
na 13ª Dairy Conference do International
Farm Comparison Group (IFCN), realizada
em Junho passado em Kiel, na Alemanha.
Esse crescimento foi maior do que o verificado em 2010 (16,3 milhões de toneladas)
e também maior do que o crescimento recorde anterior, registado em 2005/2006. Para
colocar o valor de 22,6 milhões de toneladas
em perspectiva, basta referir que o mesmo é
superior à produção anual de leite da Nova
Zelândia.
Os principais factores impulsionadores
desse crescimento têm sido os preços favoráveis do leite e as condições climatéricas.
Para além disso, o aumento do teor de gordura do leite nos Estados Unidos teve também algum impacto. Uma redução na
produção de leite foi observada na Rússia,
na Ucrânia, na Bielorrússia e no Irão.
Principais países
que impulsionaram o crescimento
(em milhões de toneladas de leite, 2011 vs 2010)
1
Índia
5,9
2
UE-27
3,0
3
EUA
2,2
4
Nova Zelândia
2,1
5
Paquistão
1,3
6
Argentina
1,2
7
Brasil
1,2
8
China
0,7
Custos de produção e resultados
económicos das explorações em 2011
Resultados preliminares das comparações
do IFCN indicam que o aumento nos custos
da alimentação animal em 2011 (+38,5%) levaram ao aumento do custo de produção do
leite. O aumento no custo foi mais forte em
sistemas de produção de leite de alto rendimento. Para além disso, um amplo número
de países emergentes, como a China, a Índia
e o Brasil, mostraram aumento nos custos
motivados pelo aumento dos níveis dos salários. Em termos de rentabilidade das explorações leiteiras, o ano de 2011 mostrou
bons resultados, à medida que na maioria
dos países o preço do leite aumentou mais
do que os custos.
Previsões para a produção
de leite em 2012 e 2013
Na Dairy Conference do IFCN, vários investigadores previram o crescimento da produção de leite em 2012 e 2013 para os seus
países. A experiência da conferência do ano
passado mostrou uma qualidade muito boa
de previsão. O IFCN previu um crescimento
na produção de leite, em 2011, de 22,5 milhões de toneladas e este ficou muito pró-
ximo das 22,6 milhões de toneladas. A previsão do IFCN para este ano é baseada no
nível de preço do leite (0,40 dólares/quilo) e
considerando o actual nível de preços da alimentação animal. Assim e baseado nisso, o
IFCN espera que a produção de leite cresça
entre 20 e 22 milhões de toneladas, em 2012
e em 2013, respectivamente.
Preços mundiais do leite
e seus impulsionadores
Em Maio de 2012, o preço mundial do
leite (baseado no preço para o leite em pó
desnatado e para a manteiga) caiu para um
nível de 0,35 dólares/quilo. Este preço está
a afectar o preço do leite ao produtor em
quase todos os países do mundo e é motivado por um equilíbrio entre a oferta mundial e a procura. Isso significa que uma
mudança na produção e no consumo de leite
em cada região do mundo tem um impacto.
O mapa-mundo abaixo mostra em que regiões se verificou um excedente ou um déficit em 2010. O actual baixo nível do preço
do leite é resultado de um forte crescimento
na oferta de leite em importantes regiões
com excedentes, a qual foi maior do que
o crescimento da procura em regiões deficitárias.
Excedente e déficit de leite, por regiões, em 2010
Excedente (milhões de toneladas)
Déficit (milhões de tonedas)
36
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
ECONOMIA
Fonte: LTO
PREÇO DO LEITE STANDARDIZADO (1)
Preço do leite
(€/100 Kg)
ABril 2012
média
últimos 12
meses (4)
Alois Muller
32.46
34.66
Nordmilch
31.20
33,57
Países
Companhia
Bélgica
Milcobel
Alemanha
Humana Milchunion eG
Dinamarca
Finlândia
França
29.55
Arla Foods
Irlanda
Itália
Holanda
E. U. A.
35.15
39.35
43.83
Danone
31.77
34.84
Bongrain CLE (Basse Normandie)
Sodiaal
30.33
30.00
31.87
34.66
34.43
34.41
Dairy Crest (Davidstow)
32.30
33.10
Glanbia
30.94
34.05
First Milk
Kerry
29.77
31.00
30.18
33.50
Granarolo (North)
41.64
41.04
Friesland Campina
30.51
36.99
DOC Kaas
Preço médio do leite - ABril
Nova Zelândia
32.19
33,70
Hãmeenlinnan Osuusmeijeri
Lactalis (Pays de la Loire)
Inglaterra
31.05
33.22
Fonterra
(2)
31.09
32.18
30.07
29.41
36.41
35.16
30.20
32.77
(1) Preços sem IVA, pagos ao produtor; Preço do leite de diferentes empresas
leiteiras para 4,2% de MG e 3,4 de teor proteico • (2) Média aritmética
(3) Ajustado para 4,2% gordura, 3,4% proteina e contagem de células somáticas
249,999/ml • (4) Inclui o pagamento suplementar mais recente
Últimos preços disponíveis ao fecho desta edição: 30 de Junho de 2012
Preço médio do leite em Abril 2012
(€0.90 /100 Kg menos que em Abril de 2011)
38
36
34
32
Fonte: LTO, Junho 2012
30
28
26
Dez
Nov
Out
Set
Ago
Jul
Jun
Mai
Abr
Mar
22
Fev
24
Jan
No período de 30 meses de Novembro de 2009 a Abril de 2012,
os preços no mercado mundial mantiveram-se estáveis num intervalo entre 0,40 e 0,50 dólares por quilo de leite. Nesse período, o
crescimento da procura foi um pouco mais forte do que o crescimento na oferta e os volumes que faltaram foram supridos por stocks.
Agora, os preços relativamente altos do leite criaram uma situação
onde a oferta de leite é maior que a procura. Como resultado, o preço
do leite caiu para menos de 0,40 dólares/quilo.
A volatilidade do preço futuro a nível mundial dependerá bastante
da constituição de stocks estratégicos e da transmissão de indicações
dos preços mundiais aos produtores de leite e consumidores. Se essa
transmissão for rápida, o que significa que os preços aos produtores
e consumidores acompanham os preços mundiais, a volatilidade será
baixa. No caso de baixos preços mundiais, os produtores de leite recebem a indicação para produzir menos. Os preços aos consumidores cairão, o que levará a um aumento no consumo de leite. Ambos
ajudam a trazer a oferta e a procura a um novo equilíbrio.
Se a transmissão não ocorrer ou se for lenta, a volatilidade será
muito maior, uma vez que os produtores e os consumidores não recebam a indicação dos preços.
Existe uma série de sinais de que a indústria láctea está a enfrentar uma baixa transmissão do preço do leite, especialmente em períodos em que os preços declinam. Nesse cenário, os preços mundiais
do leite podem ser cíclicos, como é muito comum nos mercados de
gado bovino e suíno. Se esse for o caso, a questão principal é quanto
durará o ciclo de uma altura para a outra. No passado, esse tempo foi
de 3 a 3,5 anos até que os preços mundiais alcançassem níveis muito
altos no final de 2008 e começo de 2011. Uma vez que esse é o comprimento do ciclo, a fase de elevados preços mundiais de leite deverá
ocorrer em 2014.
€ /100 kg
Os preços no mercado mundial
e a sua volatilidade no futuro
O preço médio calculado do leite das entregas efectuadas em Junho de 2012
é de €32.18 por 100 Kg de leite standard. Este valor representa uma descida
de 2,7% comparativamente com Abril de 2011 (- €0,90). Comparado com
Abril de 2011, o preço médio de Abril teve um decréscimo de € 0,9.
» Portugal
LEITE À PRODUÇÃO
Preços Médios Mensais de Janeiro a Abril 2012
Leite Adquirido a Produtores Individuais
Fonte: SIMA
meses
eur / Kg
teor médio de
matéria gorda (%)
teor proteico (%)
ABR‘11
MAI’11
JUN’11
JUL’11
AGO’11
SET’11
OUT’11
NOV’11
DEZ’11
JAN’12
FEV’12
MAR’12
ABR’12
0.311
0.309
0.310
0.310
0.311
0.322
0.324
0.325
0.324
0.324
0.322
0.315
0.318
3.69
3.63
3.65
3.67
3.73
3.79
3.81
3.86
3.84
3.81
3.83
3.74
3.75
3.20
3.18
3.18
3.19
3.21
3.24
3.22
3.30
3.28
3.26
3.25
3.25
3.24
ABR‘11
MAI’11
JUN’11
JUL’11
AGO’11
SET’11
OUT’11
NOV’11
DEZ’11
JAN’12
FEV’12
MAR’12
ABR’12
0.295
0.297
0.295
0.292
0.296
0.314
0.318
0.321
0.315
0.312
0.311
0.296
0.296
3.67
3.67
3.66
3.72
3.76
3.91
3.91
3.93
3.78
3.67
3.63
3.63
3.61
3.24
3.22
3.18
3.13
3.10
3.19
3.24
3.28
3.20
3.16
3.17
3.20
3.20
Continente
AçoreS
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
37
PRODUÇÃO
Produção nacional
de carne de bovino
Novas Oportunidades e Desafios
A ANEB, Associação Nacional dos Engordadores de Bovinos realizou, em final
de Março, uma reunião sob o tema Novas Oportunidades e Desafios para a Produção
Nacional de Carne. Este evento teve lugar em Vila Franca de Xira e contou com
a presença do secretário de estado, José Diogo Albuquerque.
Sob a coordenação de Jerónimo Pinto, presidente da Direcção da ANEB,
foram debatidos vários desafios que se colocam ao sector, nomeadamente a volatilidade
das matérias primas, o REAP, a nova PAC 2014 e a Mercosul.
INTERVENÇÕES
Martin Pamiseux, da Oxybiotop, explicou o processo de funcionamento e as vantagens de uma gestão e valorização de
efluentes pecuários baseadas em novas tecnologias.
André Preto, da MSD, abordou o tema do
maneio sanitário em explorações de engorda
de bovinos. Os riscos sanitários, segundo referiu, podem ter diversas proveniências: a origem dos animais (avaliar performances
produtivas e sanitárias); o tipo de desmame
(com 45 dias pós-desmame a percentagem do
custo com tratamentos representa 9% contra
os 27% de 14 dias de permanência pós-desmame); o transporte (não se relaciona os km
percorridos com os tratamentos realizados,
apenas com o peso; uma hora de transporte
representa uma quebra de 2% do peso); as instalações (é importante ter uma relação correcta entre a dimensão do pavilhão e a carga
animal); e as doenças infecciosas – pneumonias e clostrideos (a maior parte das vezes está
mais do que um agente envolvido).
Relativamente aos custos de uma engorda,
referiu estarem ligados com os seguintes
“mandamentos”: Instalações – Selecção de
origens dos animais – Maneio dos animais –
Aposta na prevenção (boas práticas – vacinação, desparasitação) – Privilégio da eficácia do tratamento (uso correcto dos
antibióticos) – Produção com eficiência e
rentabilidade.
38
David Gouveia, do Gabinete de Planeamento e Políticas do MAMAOT*, apresentou uma caracterização do sector, falou da
estratégia e instrumentos disponíveis, assim
como da reforma da PAC. Referiu ainda que
o consumo de carne de bovino tem vindo a
aumentar, ainda que ligeiramente; que a produção de carne não tem acompanhado o aumento de consumo, mas baixado; e que o
efectivo de vacas aleitantes tem-se mantido,
ao contrário do das vacas leiteiras que tem
descido.
As perspectivas, a seu ver, são de aumento
da produção na UE27 e no mundo em geral.
Disse ainda que se prevê uma redução das
exportações e uma maior competição mundial; que os preços altos da matérias primas
para alimentação animal deverão manter-se.
E que a comunidade europeia irá assumir-se
como um ‘driver’ pelo lado da importação
da maioria das matérias primas agro-alimentares, ou seja, deixará de ter o papel de
“fazedor de preços no mercado mundial” e
passará a ser cada vez mais um operador de
preços.
Este responsável referiu também que o
objectivo deste governo é reduzir o défice
da balança comercial, substituindo as importações por produção portuguesa. As tendências do consumo de carne de bovino
apontam para uma procura cada vez mais
exigente e sofisticada e para um crescimento
em termos de valor e não de volume. E a
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
nova realidade de um mercado global leva a
que se trabalhe em ganhos de escala e de
produtividade (concentração da oferta com
organização de produtores e organização das
fileiras em Interprofissionais), na diferenciação e no papel dos operadores (produzir
para o mercado - organização sectorial).
Quanto à reforma da PAC, adiantou que
nada está decidido mas que haverá quase seguramente ajudas directas e medidas de mercado, estas últimas orientadas à melhoria da
posição negocial da produção e da rede de
segurança.
Eunice Silva, do Clube de Produtores do
Continente, que existe desde 1998, disse na
sua intervenção que o clube leva o melhor de
Portugal ao consumidor e que tem como objectivos o crescimento, a partilha e a inovação. O Clube conta actualmente com 244
membros e 2974 produtores e é certificado.
Tem também um centro de processamento
de carnes e o seu mais recente desenvolvimento é o projecto IGP Açores em skinpack
(www.clubedeprodutores.continente.pt ).
Na sua intervenção, Jerónimo Pinto concluiu que a associação tem a “obrigação” de
defender, valorizar e promover a carne bovina nacional. E focou temas importantes
como a promoção do “sabor do nosso saber”,
os contactos com a distribuição e a valorização da produção nacional acrescentando
PRODUÇÃO
valor, inovando. Como salientou, “No fundo
a carne tem que saber bem e fazer bem.”
José Diogo Albuquerque, Secretário de
Estado da Agricultura, referiu-se à importância de Portugal ser auto-suficiente; à concentração da oferta (países fortes têm sempre
comercialização através de agrupamentos de
produtores); e à cadeia alimentar (que funcione com maior repartição das margens e
coerência, trabalho que está a ser realizado
pelo ministério). Em relação à PAC fez saber
que, por enquanto apenas existem propostas
que vão ser discutidas, e que Portugal tem
propostas alternativas. Terminou dizendo
que a gestão do risco – seguros agrícolas – é
um assunto que está em revisão e que já se
estão a fazer apólices com “fonte comunitária”. Terminou dizendo que “os agricultores
são também para ajudar a nossa economia,
não são só para produzir alimentos”. x
*MAMAOT - Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
39
PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
Engorda de Borregos
Programa alimentar “sem palha”
Carlos Flecha, Provimi Iberia - Departamento de ruminantes
[email protected]
A produção de carne de borrego tem vindo a concentrar-se, cada vez mais, em
grandes explorações da especialidade, com sistemas intensivos altamente
profissionalizados, preocupados em maximizar a eficácia e em minimizar os custos.
Nestas explorações, o programa alimentar “sem palha”, permite diminuir o peso da
mão-de-obra, a dependência de factores externos e rentabilizar as infraestruturas
sem colocar em causa a segurança alimentar e os resultados zootécnicos.
SISTEMAS INTENSIVOS – APONTAMENTOS
Maneio - recepção dos Animais
- Separar os borregos em função do peso e sexo;
- Separar animais que se encontrem doentes;
- Apenas introduzir nas engordas animais saudáveis e que saibam comer;
- Administrar electrólitos;
Tratamentos profiláticos
- Rações com antiparasitários;
- Reforço vit E e Selénio (sistema imunitário)
- Vacinação conforme programa da exploração (enterotoxémia,
pasteurela, ...)
Instalações – indicações gerais
- Limpas, desinfectadas e com boa cama;
- Lotes de 75 a 100 animais;
- Densidade 2 animais por m2;
- Volume mínimo de ar 1 a 1,5 m3 por animal;
- Manjedoura 1 m por cada 20 animais;
- Bebedouro 1 m por 100 borregos, 1 ponto por cada 25/30 animais,
os melhores são os de nível constante;
- Ventilação estática e dinâmica.
40
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
ANÁTOMO-FISIOLOGIA
DOS OVINOS ALGUNS FUNDAMENTOS
Nos ovinos adultos, só as partículas com diâmetro inferior a
2 mm podem passar através do orifício retículo-omasal. Nos borregos têm que ser inferiores a 1mm.
Compartimentos gástricos
4
1
30%
3
70%
Borrego
1
2
4
1- rumen, 2 - reticulum, 3 - omasum, 4 - abomasum
7%
80%
3 2
Ovelha Adulta
São duas as vias que permitem o esvaziamento do conteúdo ruminal:
- A absorção e eructação do substrato alimentar resultante da fermentação microbiana (fração não lenhificada);
- A evacuação das partículas não degradadas para os compartimentos posteriores.
ALIMENTAÇÃO
A saliva é segregada durante a ingestão e a ruminação dos alimentos. Um borrego pode segregar até 5 litros/dia de saliva, o que
constitui cerca de metade da capacidade de um adulto (10 l/dia).
A saliva é rica em substâncias tampão ( bicarbonatos e fosfatos)
e o seu pH é ligeiramente alcalino (8,2).
No peso do conteúdo ruminal, a água representa cerca de 80%.
É proveniente dos alimentos, da água de bebida e, principalmente,
da saliva.
O tempo de mastigação dos concentrados moídos é baixo, assim,
a produção de saliva é menor.
Em contrapartida os grãos secos dos cereais são bem mastigados pelos pequenos ruminantes .
Verificamos que, nos sistemas de alimentação ad libitum de borregos, a ingestão da dieta diária processa-se em cerca de uma dezena de “comidas”.
BASES DO PROGRAMA ALIMENTAR “SEM PALHA”:
PRODUÇÃO
ENSAIOS COMPARATIVOS – RESULTADOS
DE CAMPO EM EXPLORAÇÃO INDUSTRIAL
Condições gerais
Número de ensaios = 3: Primavera; Verão; Inverno.
Número de lotes por ensaio = 3: GR/CP (granulado+palha);
GR/SP (granulado, sem palha); GI/SP (granulado+cereal integral,
sem palha).
Peso vivo médio de entrada no ensaio: Primavera = 17,2
kg/borrego; Verão = 19,5 kg/borrego; Inverno = 18,2 kg/borrego.
Peso vivo médio de saída = 25 kg/borrego.
Quadro resumo
GMD
CMD
IC
GMD
CMD
IC
GMD
CMD
IC
CUSTO
PRIMAVERA
GR/CP
172
807
4,7
VERÃO
107
497
4,6
INVERNO
301
1160
3,9
GR/CP
1,26
GR/SP
173
728
4,1
GI/SP
181
547
3
116
494
4,2
118
515
4,3
249
960
3,8
GR/SP
1,18
264
1090
4,1
GE/SP
1,05
GMD (ganho médio diário); CMD (consumo médio diário); IC (índice de conversão)
CONCLUSÕES
Administrar um alimento composto completo com uma formulação adequada ás necessidades nutricionais dos animais e uma
apresentação física cuidada:
- 40 a 50% de cereal integral;
- 50 a 60% de concentrado sob a forma de granulado de alta qualidade.
A administração de palha ou feno nos comedouros não é necessária.
JUSTIFICAÇÃO FISIOLÓGICA:
- O tamanho do orifício retículo-omasal do borrego permite a
retenção do grão do cereal no rúmen e assim possibilita a sua
ruminação e mastigação.
- O pericárdio confere ao grão de cereal uma acentuada resistência à degradação ruminal, provocando a sua maceração, com o
respectivo aumento de tamanho (inchado) – efeito forragem.
- Os grãos inteiros são mastigados e ensalivados em pequenas
quantidades (bolos alimentares pequenos) fornecendo ao
rúmen o amido em pequenas quantidades. O ritmo é marcado
pela mastigação do cereal (125-150 movimentos por minuto).
- Cada mastigação do bolo ruminal produz saliva e desse modo,
água e substâncias tampão (bicarbonato e fosfato).
- Esta forma de aportar o amido ensalivado possibilita a que não
existam acidoses.
- Ao utilizar, nas condições do alimento já aqui referidas, o grão
inteiro como substituto da forragem, podemos prescindir do
uso da palha na engorda intensiva de borregos.
O sistema baseado num alimento composto completo - concentrado sob a forma de granulado + cereal integral sem administração de palha garante que:
- Os resultados zootécnicos são atingidos;
- A palha não é necessária, a mão-de-obra fica com mais disponibilidade para realizar outras tarefas;
- O empate de capital em palha armazenada deixa de existir;
- Há uma ingestão mais lenta e uma maior ruminação com redução da incidência de acidoses (perdas e mortalidades);
- O custo de produção fica mais baixo e os resultados da exploração melhores.
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
41
PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
Enfocar na qualidade do pasto
economiza dinheiro
PREÇOS DOS ALIMENTOS A UM NÍVEL ELEVADO!
A elevada procura de matérias-primas dos países em desenvolvimento e um aumento da produção de biocombustíveis são apontados como as principais razões dos elevados preços dos
alimentos. O mercado mundial dos produtos de base tem enfrentado uma enorme mudança nos últimos cinco anos e os preços
estão estruturalmente mais elevados do que previamente. Como a
produção de lacticínios ainda está muito dependente de concentrados (grãos, soja) estes desenvolvimentos levam a custos mais
elevados para a produção de leite. Com a expectável volatilidade
dos preços do leite a partir de 2015, isto significa que é incerta a
rentabilidade estável da produção agrária.
Preços do mercado mundial (€/ton)
Barenbrug
FOCO NA QUALIDADE DA FORRAGEM
A melhor maneira de diminuir os custos do concentrado sem
perder produção de leite é aumentando a qualidade da forragem.
As forragens com teor de açúcar e NDF-digestibilidade maiores
são mais saborosas e conduzem a uma ingestão maior de energia
total e de proteínas. Existe uma grande diferença entre as explorações agrícolas no que diz respeito à quantidade de leite que é
42
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
350
300
250
200
150
100
50
0
200
2
200
3
trigo
200
4
200
5
200
milho
6
200
7
200
8
200
9
farelo de soja
201
0
1
201
produzido a partir de forragem. Explorações agrícolas com uma
qualidade forrageira muito boa são capazes de produzir 60% de
todo o seu leite a partir de forragem. No entanto, se a qualidade
da forragem cai, esta proporção pode diminuir para 40% ou
menos. Um exemplo do impacto económico é mostrado na tabela.
Numa situação em que pode ser produzido mais 5% de leite a
ALIMENTAÇÃO
PRODUÇÃO
partir de forragem, pode economizar-se 1 kg de concentrado
por vaca e por dia. Com os preços actuais dos alimentos, isto
diminui os custos totais de alimentação em €0,80 por 100 kg
de leite. Numa exploração agrícola com 1 milhão de kg de
leite, isto significa uma economia de cerca de €8.000 euros.
Situação padrão
(exemplo):
5% mais leite
a partir de forragem:
Ração alimentícia:
• Ingestão de forragem aumenta 3-4%
13 kg DM da forragem (silagem, feno, milho) • Mais energia e proteína da forragem
8,0 Kg concentrados (16% CP; € 0,22/kg) • Diminui: 1,0 Kg concentrado ↓
Custos dos concentrados:
€ 12.00 / 100 Kg leite
Custos dos concentrados:
€ 11,2 / 100 Kg leite
Menores custos da alimentação € 0,80 / 100 kg leite
Por uma produção de leite igual de 30 kg de leite (4,0% gordura/3,45% proteína)
MAIS LEITE A PARTIR DAS MELHORES VARIEDADES
O primeiro passo para obter mais leite a partir de forragem,
é começar com as melhores variedades para as suas pastagens.
As variedades Barenbrug não são apenas seleccionadas pelas
excelentes colheitas que permitem, mas também porque são
sinónimo de qualidade. Isso significa que são ricas em açúcares e que têm um elevado nível de digestibilidade e de proteína. As variedades Westerwoldicum Barspectra II e Bartigra
provaram ser muito bem sucedidas no Sul da Europa. Estas variedades produzem mais folhas e têm um teor significativamente maior de matéria seca na planta. Disso resulta que
proporcionam um rendimento extremamente elevado por hectare. Além disso, uma grande resistência à doença e à ferrugem da copa garantem que é muito saborosa.
Preços do mercado mundial (€/ton)
11000
10500
1000
9500
9000
Variedades padrão
Westerworld
Barspectra II /
Bartigra
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
43
EQUIPAMENTOS
Novidades de equipamento
A nova gama Fendt 300 Vario
Principais melhoramentos introduzidos
- Todos os elementos de comando encontram-se incorporados centralmente na coluna
de direcção e na consola lateral direita. Novo
neste segmento de potência é também o computador de bordo, que mostra informação importante sobre as medições de superfície e de
tempo. O Variostick reúne numa única alavanca, a alavanca de velocidades principal, a
de grupos, os grupos sob carga e o controlo das
velocidades super-lentas.
A nova gama 300 Vario da Fendt foi aumentada com um novo modelo de topo, o Vario 313 com uma potência máxima de 135 hp, e
agora cobre a faixa de potência dos 95 aos 135 hp. Os novos tratores 300 Vario são alimentados por um motor Deutz de 4.04 litros, 4
cilindros com tecnologia de quatro válvulas e um sistema de injeção
1.600 bar common rail de alta pressão.
A nova série Fendt 300 Vario incorpora a nova tecnologia SCR
para o cumprimento com a norma de emissões Euro 3b (Tier IV interim), presente nas séries 700, 800 e 900 Vario. A transmissão é
Vario ML 75, de elevada eficácia e permite o ajustamento infinitamente variável da velocidade desde 20 metros/hora até 40 km/hora,
tornando esta gama adaptada a uma série de aplicações, desde as culturas especializadas, culturas em linha, operações em campo aberto
até ao trabalho diário na exploração.
O sistema de gestão do trator TMS é agora standard na Série 300.
44
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
- Em combinação com o carregador frontal
Fendt Cargo, disponível em vários modelos, o
300 Vario é ideal para desempenhar operações
de carga em edifícios e estábulos graças também à sua grande manobrabilidade.
- A remodelação dos travões permitiu aumentar o peso total
das 8 toneladas do modelo predecessor para 8,5 toneladas.
Graças a um peso em vazio reduzido de 4.230 kg (309 Vario),
consegue-se uma carga útil de até 4.270 kg e uma relação
peso/potência de apenas 33 kg/CV (313 Vario).
- No sistema hidráulico reformou-se sobretudo o elevador
traseiro que apresenta agora uma força de elevação de cerca de
seis toneladas (5.960 daN), mais meia tonelada do que no modelo anterior.
- Novo melhoramento no raio de viragem: a combinação de
um comprimento de 4,15 m, uma bitola de 2,35 m e um ângulo
de viragem de 52 graus permite obter um raio de viragem de apenas 4,2 metros e, desta forma, uma ótima manobrabilidade. x
EQUIPAMENTOS
Eficiência de refrigeração para pequenas
explorações leiteiras
Independentemente do tamanho da exploração,
a qualidade do leite é melhor quanto mais rápida
é a sua refrigeração. A GEA Farm Technologies
lançou no mercado uma nova série de tanques de
refrigeração — designada PCool — específica
para explorações pequenas e pontos de recolha.
Com capacidades entre 320 e 1950 litros, é muito
simples de utilizar e dispõe de eficiente potência
frigorífica e excelentes propriedades isoladoras.
Os tanques refrigeradores PCool oferecem a
potência frigorífica perfeita com um mínimo consumo energético. Os evaporadores STI de aço
inoxidável conseguem uma ótima transferência
térmica. Estão desenhados de forma a que o refrigerante se distribui de forma perfeita por toda
a superfície. O retorno do óleo ao evaporador garante uma lubrificação adequada, alta fiabilidade
e uma longa vida. Os tanques de refrigeração são
isolados com espuma de poliuretano livre de
CFC. Assim, os produtores também podem refrigerar e armazenar perfeitamente pequenas quantidades de leite com baixo consumo de energia.
Como a temperatura entre ordenhas aumenta
muito pouco, mantém-se a qualidade do leite.
O poder de refrigeração é monitorizado e controlado por um dispositivo eletrónico A4 com um
ecrã digital. As unidades de refrigeração e os agitadores pré-ajustados de fábrica arrefecem o leite
de forma rápida e fiável com baixo consumo de
energia. Durante a primeira ordenha, atrasa-se automaticamente o início do arrefecimento. Para
medir com precisão o volume de leite, todos os
tanques de leite PCool são calibrados com uma
sonda de nível de aço inoxidável.x
Nova tecnologia John Deere Kernelstar de processamento
de maçarocas em ensiladoras automotrizes
A John Deere anunciou que continuará a melhorar o seu nível de competência no sector de
biomassa e alimentação para o gado através da
aquisição duma inovadora tecnologia de processamento de grão/forragem para ensiladoras automotrizes. Os correspondentes direitos de
propriedade intelectual foram adquiridos pela empresa CAWI, que tinha comercializado previamente esta solução sob o nome MasterCracker.
O conceito KernelStar baseia-se num design
patenteado de disco "chanfrado" que permite um
tratamento mais intensivo do grão, em comparação com o design convencional de rolo cilíndrico
ou outros designs de disco presentes no mercado.
"Além de um melhoramento no processamento
do grão, pode conseguir-se uma redução significativa das partículas de comprimento excessivo,
assim como uma redução do consumo energético
dos componentes", explicou Richard Halsall,
chefe da divisão de marketing de ensiladoras automotrizes. O novo design aplica discos entrelaçados perfilados, o que aumenta a superfície e
melhora assim o processamento da colheita. "A
forma especial patenteada dos discos proporciona-lhes uma largura efetiva de processamento
quase três vezes maior que a do processador de
grão tipo convencional com rolo standard", acrescentou Halsall.
Este ano será anunciada a integração total do
conceito nas ensiladoras automotrizes John Deere
como uma opção instalada de fábrica; entretanto,
podem adquirir-se kits que permitem adaptar as
ensiladoras automotrizes. Este novo componente
integra-se perfeitamente num número de soluções
para ensiladoras automotrizes John Deere de
ponta no sector, entre as que se contam inovadoras soluções para frentes de corte, o cilindro recortador DuraDrum e o galardoado sensor de
humidade e composição HarvestLab". x
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
45
PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
Stress do calor
Jerónimo Pinto, Engenheiro Agrónomo, Eurocereal SA
[email protected]
O calor dos dias quentes do verão provoca STRESS
térmico nas vacas leiteiras, com forte impacto na sua
eficácia metabólica e nos seus resultados produtivos /
reprodutivos.
46.7
45.0
O animal entra em stress quando a temperatura ambiente ultrapassa o limite superior da sua zona de conforto térmico (23-25ºC),
sobretudo quando a humidade relativa do ar for mais elevada.
COMO MINIMIZAR O STRESS DO CALOR ?
A vaca, sendo um animal homeotérmico, tem de manter relativamente constante a sua temperatura corporal (38ºC - 39ºC) para assegurar o seu normal metabolismo.
Em situações de excesso de calor ambiental, o animal tem que
ser ajudado a maximizar os seus processos de termo-regulação da
temperatura corporal, para perder calor por várias vias:
por irradiação - à medida que aumenta a temperatura ambiental,
diminui a diferença térmica entre o animal e o ambiente, reduzindo-se a quantidade de calor que o animal pode perder por irradiação - donde a necessidade de os animais poderem dispor de
zonas frescas, sombreadas e bem ventiladas.
por evaporação - a dissipação de calor por evaporação do suor é
um processo relativamente pouco eficaz na vaca leiteira, pois
esta dispõe de menos glândulas sudoríparas que outras espécies.
Para maximizar o arrefecimento por evaporação, existem sistemas de humidificação associada a ventilação.
46
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
Fatal
43.3
41.7
40.0
38.3
Temperatura
Quando a soma da temperatura ambiente + humidade relativa
do ar supera o valor de 100, o animal entra em stress de calor,
reduz a ingestão alimentar e baixa a produção leiteira e a eficácia reprodutiva, aumentando o risco de ocorrência de vários
problemas metabólicos.
A intensidade e a gravidade do stress do calor sobre os animais
são dadas internacionalmente pelo Índice de Temperatura-Humidade (THI) - segundo o qual mesmo temperaturas de apenas 22ºC23ºC já podem ser causa de stress se a humidade relativa do ar for
muito elevada (>80%).
A 25ºC de temperatura ambiente e humidade relativa (HR) do
ar superior a 75%, a temperatura corporal das vacas atinje 40ºC –
como se os animais estivessem com febre.
A 37ºC (que muitas vezes ocorrem em instalações mal ventiladas),
o stress sofrido pelos animais varia entre grave (25% humidade),
muito grave (50% humidade), até poder ser fatal (>80% humidade).
Influência do calor como factor
de “stress” nas vacas leiteiras
Muito Grave
36.7
35.0
33.3
Stress Grave
31.7
30.0
Stress Ligeiro
28.3
26.7
25.0
Sem Stress
23.3
21.7
0
10
20
30
40
50
60
% Humidade Relativa
70
80
90
100
por respiração - há perda de calor por respiração se o ar inspirado
for mais fresco que o expirado.
Se a humidade do ar expirado for superior à do inspirado, é
maior a perda de calor através da respiração.
A redução da temperatura e da humidade ambientais aumenta a
eficácia da perda de calor por esta via.
consumo de água fresca - sendo fresca, a água de bebida baixa
a temperatura do tracto digestivo (boca, esófago, rumen e abomaso), além de repor o equilíbrio hídrico das perdas por sudação e respiração.
redução da actividade e da ingestão alimentar - dado que a actividade muscular, o metabolismo basal e a fermentação ruminal originam a produção de calor, nos períodos mais quentes a
vaca “defende-se” reduzindo a sua actividade muscular e sobretudo a ingestão de alimentos mais fibrosos (cuja digestão
aumenta as contracções das paredes do rúmen e o calor resultante da sua fermentação ruminal).
ALIMENTAÇÃO
É necessário formular arraçoamentos específicos para o período do verão, ajustar o maneio alimentar e evitar que os animais
possam seleccionar e rejeitar os componentes mais “fibrosos” da
alimentação.
Stress do Calor - Factores determinantes
Ambiente
Animal
• Temperatura
• Estrutura social
• Ventilação
• Condição corporal
• Humidade
• Sombra
• Produção leiteira
• Estado de saúde
Alimentação
• Nº refeições por dia
• Balanço nutricional
• Natureza da fibra
• Qualidade das forragens
• Humidade arraçoamento
• Palatabilidade alimentos
• ÁGUA fresca e limpa
Tendo em vista minimizar os efeitos do stress do calor em vacas
leiteiras, as estratégias a adoptar durante o verão deverão incidir
simultaneamente sobre:
1 - as condições ambientais
2 - o maneio alimentar
3 - a composição da alimentação
PRODUÇÃO
2 - MANEIO DA ALIMENTAÇÃO
O impacto que o stress do calor tem na produção leiteira resulta
sobretudo da redução na ingestão alimentar.
Sobretudo nas épocas mais quentes, é necessário redobrar a atenção às estratégias de maneio que se sabe serem mais determinantes
para maximizar a ingestão alimentar:
• reduzir a dominância social e a competição alimentar
• disponibilizar alimentação fresca quando as vacas saem da ordenha
• disponibilizar alimentação nos períodos mais frescos do dia (incluindo a noite)
• limpar frequentemente a manjedoura dos restos acumulados
• vacas primíparas e recém-paridas separadas das restantes
• disponibilizar suficiente espaço de manjedoura para todas as vacas
• aumentar a frequência de administrações diárias da alimentação
• proceder à alimentação por grupos / fases de produção
• ajustar o cálculo do arraçoamento às condições ambientais...
Chama-se especialmente a atenção dos utilizadores de sistemas
de alimentação automática para a necessidade de, durante o tempo
quente, redobrar o controlo da descarga dos seus silos, dada a maior
possibilidade de a ração (especialmente se for farinada) ficar agarrada às paredes dos silos e poder não chegar aos animais.
1 - CONDIÇÕES AMBIENTAIS
Zonas de Sombra
Vasta experiência tem demonstrado que a existência de sombra
sobretudo nas áreas de alimentação e repouso minimiza significativamente a redução da ingestão alimentar / produção leiteira
durante o tempo quente do verão.
Ventilação
Instalações bem projectadas devem dispor de sistemas de ventilação estática devidamente dimensionados para promover a necessária circulação e renovação do ar. Porém, no verão, esta
ventilação estática pode ter que ser reforçada com ventilação dinâmica/forçada (ventiladores) - quase sempre sobre a manjedoura
de forma a que, nas épocas quentes, a zona de alimentação seja
mais fresca e confortável para incitar os animais a maior consumo.
É importante realçar que o tipo de ventilador adequado para
explorações leiteiras é distinto dos doutras espécies.
Refrescamento
O sobreaquecimento das instalações pode ser reduzido mediante a pintura de branco ou metalização da superfície externa
das coberturas, o seu isolamento térmico interno e/ou a utilização
de aspersores sobre as coberturas.
A opção por sistemas de humidificação deve ser bem estudada,
dada a relação temperatura - humidade.
A nebulização (“humidity fog”) e a micro-aspersão (“finespray” ou “mist”) refrescam o ambiente em situações de baixa humidade relativa do ar. A aspersão (“sprinkling”) molha os animais
com alta humidade relativa do ar.
Quando bem seleccionados e utilizados, estes sistemas podem
ser muito eficazes no refrescamento do ambiente.
3 - COMPOSIÇÃO DA ALIMENTAÇÃO
Com o aumento da temperatura ambiente aumentam as necessidades nutricionais de manutenção e, ao mesmo tempo, reduzTemperatura ºC
20
25
30
35
40
Necessidades Manutenção
—
+4%
+ 11 %
+ 20 %
+ 32 %
Ingestão Alimentar
—
-7%
- 23 %
- 40 %
- 56 %
se a capacidade de ingestão alimentar, nas seguintes proporções:
Assim, o arraçoamento a utilizar nas épocas mais quentes tem
de ser quantitativa e qualitativamente distinto dos utilizados
noutras épocas do ano.
Nos arraçoamentos de verão deve ter-se como objectivos prioritários:
1 - Aumentar a ingestão alimentar:
• aumentar a frequência de administrações diárias
• utilizar forragens de melhor qualidade
• usar alimentos com melhor palatabilidade
• balancear muito bem o arraçoamento-total
2 - Aumentar a concentração nutricional do arraçoamento:
• aumentar a concentração energética
• aumentar proteina “by-pass”
• melhorar a qualidade e digestibilidade da fibra
• incluir “buffers”, niacina, leveduras, gordura protegida, etc.
• reforçar os níveis de Vitaminas A e E e de minerais
especialmente Potássio (K), Sódio (Na) e Magnésio (Mg)
3 - Assegurar total disponibilidade e a máxima qualidade da
água de bebida (uma vaca consome 2-4 litros de água por kg de
mat.seca + 3-5 litros/ kg leite produzido). x
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2011
47
BEM ESTAR ANIMAL
A peeira - fonte de fraco
rendimento e de muito sofrimento
George Stilwell, Inês Ajuda, Ana Vieira , AWIN – Animal Welfare Indicators
Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa
[email protected]
A peeira é uma doença infecciosa que afecta o espaço interdigital e as unhas
de pequenos ruminantes, e especialmente as dos ovinos. Pode causar dor
intensa, relutância ao movimento, perda de apetite e emagrecimento (>10%).
Por estas razões deve ser considerada uma forte ameaça ao bem-estar animal
e ao sucesso económico das explorações.
CAUSAS, TIPOS, SINAIS E EVOLUÇÃO DA DOENÇA
A peeira (foot rot, em inglês) pode surgir sob diversas formas –
desde a que é designada de benigna, até à forma extensa com necrose profunda dos tecidos. O agente primário, e determinante
desta doença podal, é a bactéria Dichelobacter nodosus, ao qual se
associa normalmente a bactéria ubiquitária Fusobacterium necrophorum, e possivelmente alguns outros microorganismos como
Treponema spp.. A gravidade das lesões depende essencialmente
da estirpe de D. nodosus presente, a que corresponde capacidades
diversas de digerir a queratina e tecido conjuntivo sub-cutâneo.
Se bem que a doença apenas surja quando as duas bactérias referidas se associam e complementam, é também verdade que nas
explorações onde não há D. nodosus não se verifica a existência
de peeira. Tendo em conta que F. necrophorum se desenvolve e
sobrevive bem em praticamente todo o lado, é claro que, para se
entender como a peeira se transmite, se combate e se previne, é essencial ter a noção das características da bactéria D. nodosus. Talvez surpreendente para alguns é o facto desta bactéria ser muito
pouco resistente no ambiente, ou seja, a manutenção da doença
no rebanho passa pela presença de portadores, mesmo que sem
sinais clínicos muito evidentes. A esta característica adiciona-se o
facto de se tratar de uma bactéria anaeróbica estrita (apenas se desenvolve em ambientes sem oxigénio).
As condições propícias à sobrevivência do agente D. nodosus
são: temperaturas acima dos 10º C e uma humidade relativa alta,
o que corresponde, no nosso clima, aos meses da Primavera e do
Outono. Mesmo quando se estabelece o contexto perfeito, a sobrevivência da bactéria fora do animal não ultrapassa os 7-10 dias,
o que significa que a erradicação através de vazio sanitário das
pastagens e parques até não é muito problemática. A bactéria é
também sensível à maioria dos desinfectantes e à secura sendo,
por isso, relativamente fácil garantir a sua eliminação dos estábulos através da remoção das camas, lavagem com desinfectantes e
manutenção do piso exposto ao ar e sol durante umas semanas.
As estirpes mais benignas de D. nodosus geralmente apenas causam um “escaldão” do espaço interdigital, que se caracteriza por
pele avermelhada, húmida, sem cheiro e causando pouca dor e co-
48
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
A peeira é uma das doenças que mais ameaça o bem-estar de ovinos. A dor intensa
é muitas vezes identificada pela posição dos animais (e.g. andar de “joelhos”)
Dependendo da estirpe de Dichelobacter nodosus as lesões podem ir de simples escoriações a necrose profunda dos tecidos das extremidades
xeira. As situações mais graves dependem da associação de três factores: presença de uma estirpe maligna de D. nodosus, uma ferida
ou simplesmente uma punção da pele da zona interdigital e a actuação de F. necrophorum. Esta última irá facilitar a penetração e
proporcionar e ambiente óptimo (sem oxigénio) para a primeira se
desenvolver, multiplicar e digerir os tecidos profundos do casco.
BEM ESTAR ANIMAL
Nestes últimos casos o espaço interdigital está coberto de crostas,
sob as quais se observa tecido necrosado com um cheiro pútrido, e
o próprio estojo córneo (unha) poderá estar separado do tecido vivo
de crescimento por material infectado e necrosado. Em situações extremas a infecção pode atingir estruturas muito fundas da extremidade podal. A peeira pode afectar uma ou mais patas e causa dor
muito intensa que se manifesta por graus crescentes de coxeira, incluindo o não apoio da pata afectada, andar de “joelhos” ou
mesmo a prostração.
O TRATAMENTO E PREVENÇÃO DA PEEIRA
Como já se referiu, os caprinos parecem ser menos susceptíveis
a esta doença quando comparado com os ovinos, e mesmo dentro
desta última espécie existem raças com graus diferentes de predisposição às formas graves de peeira. Neste momento, uma das
equipas do nosso projecto AWIN procura perceber o porquê desta
diferença através da identificação dos genes envolvidos. A esperança será a de conseguir criar, através de selecção genética, animais com estruturas podais mais resistentes à penetração e acção
das duas bactérias.
Até termos essa população mais resistente, temos de dar prioridade a outras formas de combate e profilaxia. Como se referiu
a bactéria determinante é pouco resistente no ambiente e é nessa
fragilidade que se deve basear os programas de erradicação da
doença. Quatro factos tornam esta abordagem, aparentemente
simples, numa actuação bem mais complicada:
i) os poucos conhecimentos dos produtores sobre a origem e
propagação da doença, leva-os a “saltar”, circundar ou simplesmente ignorar aspectos fundamentais do controlo da peeira;
ii) animais com pouco sinais de doença mantêm e espalham a
bactéria, perpetuando a infecção do ambiente e logo dos coabitantes;
iii) a dificuldade em se manter pastagens e parques sob vazio durante cerca de 15 dias, ou o facto da transumância obrigar os rebanhos indemnes a passar regularmente por locais frequentados por
animais infectados;
iv) a relutância de alguns produtores em eliminar do rebanho
certos animais que por serem incuráveis, ou portadores crónicos,
nunca deveriam ser retidos.
Se se conseguir ultrapassar estes entraves é possível eliminar a
doença, mas para tal é preciso empenho e alguma paciência, já
que o programa demorará algum tempo a ser concluído e os resultados poderão não ser muito evidentes no início.
A primeira fase do programa passa pela observação cuidadosa de
todas as patas de todos os animais e a separação em grupos infectados e não-infectados. O primeiro grupo obviamente que tem de
estar confinado a pastagens e parques não infectados e deverá passar por um pedilúvio (pelo menos) uma vez por semana. Os animais infectados devem ser tratados (corte de cascos, tratamento
antimicrobiano local e, eventualmente, sistémico) e as suas patas
devem passar pelo pedilúvio (não o mesmo do grupo não infectado)
todos os dias. Pouco a pouco, os animais do grupo infectado serão
transferidos para o grupo saudável, ou refugados, no caso de se verificar que os tratamentos não estão a controlar a infecção. A vigi-
50
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
A resistência da bactéria D. nodosus aumenta em condições de calor e
humidade, que podem ser proporcionadas por camas húmidas e elevada
densidade nos parques.
lância tem de ser continuada e apenas poderão ser passados para o
primeiro grupo aqueles animais que seguramente não são portadores assintomáticos. Este programa deverá ser orientado e acompanhado por um médico-veterinário que será aquele mais capaz de
distinguir graus de infecções e promover o tratamento adequado.
A vacinação pode ser vista como uma opção, mas devido aos
efeitos secundários e à fraca resposta imunitária de alguns animais, apenas deverá ser utilizada em rebanhos com uma elevadíssima prevalência de peeira e apenas até à redução desta para
níveis baixos.
O momento do ano para iniciar um programa de erradicação da
peeira depende de uma série de circunstâncias. Se bem que pareça
ser preferível avançar no tempo seco (verão) ou frio (inverno), o que
pode acontecer é ser mais difícil detectar os portadores nestas alturas. Também a fase reprodutiva e produtiva dos animais e a disponibilidade de pasto condicionam e limitam a possibilidade de dividir
o rebanho nos tais grupos e de mantê-los separados sem recorrer à
transumância.
O tratamento dos animais afectados varia com a gravidade do
caso: as infecções benignas são tratadas apenas com antimicrobiano tópico (e.g. aerossol) ou através de pedilúvios; enquanto
que os casos malignos implicam o corte das unhas, limpeza e lavagem das lesões, aplicação local de antimicrobianos e, nos casos
de infecções profundas, antibiótico injectável. Sendo que a dor é
um componente importantíssimo desta doença, é lógico pensar
que a administração de analgésicos será benéfica não só para salvaguardar o bem-estar, mas também para evitar quebras importantes de produção e perda de condição corporal. A exequibilidade
e o interesse económico do combate à dor em pequenos ruminantes com coxeiras está também a ser alvo de investigação pela
nossa equipa do AWIN.
Finalmente, uma palavra sobre bio-segurança. Não faz sentido enveredar por um programa deste tipo se este não for acompanhado e
procedido por fortes medidas de bio-segurança. Por exemplo, animais comprados devem ser bem examinados e, se possível, mantidos em quarentena durante uma a duas semanas. Será escusado dizer
que esta mesma medida deve ser obrigatória em qualquer rebanho
que não esteja afectado pela peeira, pois, como já se disse, apenas a
ausência do D. nodosus poderá garantir a ausência da doença. x
»
PRODUÇÃO
SAÚDE ANIMAL
Biosegurança
e controlo reprodutivo
Vale a pena na actual conjuntura
do negócio do leite?
Entrevista pela Revista Ruminantes
Daniel Dias de Oliveira
[email protected]
Daniel Dias de Oliveira tirou o mestrado integrado em Medicina
Veterinária pela Escola Universitária Vasco da Gama em 2011.
Exerce actividade profissional no distrito de Braga.
Acha que a biossegurança numa exploração leiteira é importante
nos dias que correm?
As medidas de biossegurança devem-se basear no seguinte princípio: “A prevenção é melhor do que a cura". Prevenir a introdução e disseminação de agentes patogénicos nas explorações, de
forma a assegurar o bem-estar dos efectivos bovinos, assim como
a saúde pública, contribuindo para garantir a segurança dos produtos de origem animal. Um dos principais benefícios da implementação do plano de biossegurança é a redução dos custos
resultantes das doenças e um aumento da produtividade. Como
"cada caso é um caso", cada exploração agrícola deve desenvolver, em colaboração com o seu Médico Veterinário, um plano flexível e prático de biossegurança adaptado as suas exigências.
tectar a viabilidade do embrião; 3 - Determinar o sexo fetal; 4 Compreender e avaliar a dinâmica folicular; 5 - Identificar alterações uterinas e ováricas;
O uso da ecografia transrectal é uma técnica mais dispendiosa
e implica mais conhecimentos e experiência por parte do operador, no entanto apresenta inúmeras vantagens, tornando-se viável, aumentando a eficiência do controlo reprodutivo numa
exploração de bovinos de leite. x
Aconselha a fazer controlo reprodutivo? O que se pode ganhar
com isso?
Na conjuntura atual, para uma exploração ser rentável tem de
maximizar todos os factores que influenciam positivamente a
saúde dos seus animais e, consequentemente a produção de leite.
O controlo reprodutivo surge como um dos "pilares" fundamentais nas explorações de vacas leiteiras, pois permite "acompanhar"
o animal desde o momento do parto até que este é confirmado
como gestante, tendo como principal objetivo situar o intervalo
parto-concepção à volta dos 120 dias em leite. Este facto é importante porque quanto mais tarde a vaca é inseminada ou fica
gestante, maior o número de dias em lactação e menor a produção
de leite/vaca/dia.
Quais as mais valias de fazer diagnósticos de gestação por ecografia?
Na prática bovina, a ultrassonografia tornou-se num meio de
diagnóstico muito importante para avaliar o sistema reprodutivo
feminino. Apresenta as seguintes vantagens:
1 - Realizar um diagnóstico de gestação mais precoce; 2 - De-
52
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
Ecografia
• ao 30º do
diaembrião
de gestação
• ao 55º dia de gestação
PRODUÇÃO
SAÚDE ANIMAL
Maneio Neonatal
Saúde do vitelo - parte I
André Pires Preto, Médico Veterinário,
Serviços Técnicos MSD Saúde Animal
[email protected]
A recria de jovens é a fonte de
rejuvenescimento da exploração, quer ela seja
de aptidão leiteira, quer de aptidão cárnica,
sendo que muitas vezes é o “parente-pobre”
da exploração, pois é vista como um
“sorvedouro” de recursos e trabalho. No caso
das explorações leiteiras, a importação de
animais já recriados era a solução para a
entrada de animais, no entanto, como a
experiência ditou, também foi ponto de
entrada de várias doenças produtivas como o
BVD, IBR, mastites, micoplasmas, entre
outras.
Esta problemática é bastante complexa e pode ser dividida por duas fases, relativamente ao maneio que pode
ser feito com a mãe, e os fatores referentes ao vitelo/vitela. Neste aspeto dividimos o artigo em duas partes.
O maneio de bovinos leiteiros é muito diferente do
maneio dos bovinos de aptidão cárnica, sendo que
neste conjunto de artigos, é assinalado em que aptidão
o fator descrito é importante.
1 – Biossegurança (CL)
3 – Condição corporal (CL)
Sendo já um tema recorrente, a biossegurança pressupõe que o estatuto sanitário da exploração deve ser
mantido num nível elevado, sendo que a presença de
algumas patologias, como o BVD e a Neosporose,
podem condicionar o aparecimento de vitelos com alterações imunitárias, ou congenitamente mais fracos.
2 – Evitar distócias (CL)
As dístócias representam a principal causa do atraso
de toma de colostro em vitelos, principalmente em explorações de carne.
Os fetos que estejam em sofrimento durante o parto
sofrem hipoxia (redução dos níveis de oxigenação),
sendo que como consequência estes animais são
menos eficientes na absorção do colostro.
Neste aspeto específico a escolha dos machos que
possuam facilidade de partos, é um dos passos que
deve ter tido em conta, além da seleção de fêmeas que
possuam uma boa estrutura dos ossos da pélvis, logo
capacidade de parição.
54
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
Sigla
C
L
Aptidão cárnica –
Exploração normalmente em extensivo
Aptidão leiteira –
Exploração intensiva
A condição corporal condiciona os dois lados da interação mãe-feto (como pode observar na imagem 1).
Na exploração de carne, a capacidade do produtor
em acompanhar o estado reprodutivo é menor, devido
a vários fatores:
¥ Época de cobrição – a indefinição da data de cobrição – desconhecimento da data de parto;
¥ Nutrição – no seguimento do ponto anterior, condiciona o acompanhamento nutricional adaptado ao estadio reprodutivo do animal.
Baixa
Condição corporal
Efeito no neonato Efeito na vaca
Excessivo
Efeito no neonato Efeito na vaca
• Falta de peso
ao nascimento
• Distócia por
debilidade
• Vitelos com
elevado peso
ao nascimento
• Falta
de vitalidade
• Baixa qualidade
colostral
• Vitalidade
do vitelo
• Baixa produção
leiteira
• Distócia
• Problemas
metabólicos
peri-parto
Tabela descritiva das consequências que as diferentes condições
corporais podem ter na interacção neonato-vaca.
SAÚDE ANIMAL
4 – Período de secagem (LC)
As vacas secas pertencem a mais um grupo dos
que merecem menor atenção na exploração, pois não
contribuem diretamente para a entrada de capital na
exploração. Mas o período seco possui uma importância fundamental para a recuperação/preparação da
glândula mamária, para a produção de colostro e posteriormente de leite. Já Newman em 1991, entre outros investigadores, verificaram a redução da duração
do período seco e a quantidade de colostro produzida
(que pode chegar a -2,2kg caso o período de seca
passe dos 60 para os 45 dias). Além do mais, o período seco, é a altura em que é possível curar determinadas ocorrências de mastites, facto sobejamente
conhecido pelos profissionais do leite (produtores e
5 – Qualidade do colostro (CL)
A qualidade colostral depende, dos pontos que foram
focados anteriormente, bem como a exposição aos
agentes infeciosos presentes na exploração. É do conhecimento comum, que o colostro de vacas multípara
é mais rico em anticorpos que o colostro de novilhas
ou vacas de 2ºparto (ver imagem 2). Aquando da utilização de uma mistura de colostro (não esquecer a temática da biossegurança, principalmente em relação à
paratuberculose), podemos estar a reduzir a qualidade
global do colostro. Como boa prática de maneio podemos aumentar artificialmente essa qualidade colostral,
estimulando artificialmente a resposta imunitária dos
animais, pelo menos em relação aos agentes mais passiveis de provocar diarreias neonatais, e cuja imunidade possa ser estimulada, nomeadamente E.coli,
rotavírus e coronavírus. Mas este procedimento implica uma estimulação numa determinada janela de vacinação, que é bastante específica, pois a produção de
anticorpos e migração destes para o ubere obedece a timings muito estreitos (até 15 dias antes do parto).
Sendo esta janela de oportunidade bastante estreita,
devem ser feitas escolhas adequadas em relação às características da vacina, e aos seus momentos de aplicação em conjunção com o maneio da época de
parições, sendo que este último fator, nas explorações
de leite está mais facilitado.
No entanto, convém lembrar, que a resposta imunitária também está dependente de outros fatores como
a carga parasitária, principalmente em animais em ex-
alimentadas com alimento muito rico até muito tarde.
O ajuste da condição corporal antes da seca (bovinos
de leite), e antes dos 7 meses de gestação (bovinos de
carne), deve ser avaliado e posto em prática, condicionando a lactação futura e possíveis problemas metabólicos.
seus médicos veterinários), mas nas raças de carne
existem referências a uma taxa de incidência de mastites de 30 a 65% (Paape et al, 2000).
O correto maneio da vaca seca:
• Registo de mastites;
• Tratamento de secagem;
• Tempo de recuperação- principalmente no caso
de explorações leiteiras;
• Política de refugo de animais que tenham tido
episódios anteriores de mastite.
Estas são medidas que quando bem delineadas e
devidamente executadas dão origem a resultados
positivos, nos dois tipos de exploração, além da mudança dos animais para os parques/cercas de parição
para acompanhamento cuidadoso do parto.
tensivo, implicando um maneio correto dos animais.
A abordagem à exploração e a preparação do parto
deve contar com quem realmente conhece a exploração e o seu maneio - o produtor, mas devendo o papel
do médico veterinário ser tido em conta, não só na última fase do “problema” – o parto – mas sim na preparação de tudo o que ele implica.
Estes cinco (5) passos, podem ser considerados para
a avaliação e melhoramento dos procedimentos, no
que concerne aos cuidados a ter ao nível da mãe. No
próximo número da revista Ruminantes, contamos colocar a parte II do artigo, que descreve quais os pontos
críticos ao nível do vitelo/vitela.
9
Qualidade do colostro (% de lg)
Nas vacas de leite a data de parto prevista é conhecida,
sendo que ao nível do maneio, é determinante no acompanhamento nutricional, no entanto, por vezes em algumas explorações encontramos vacas que ao parto
possuem uma condição corporal demasiado elevada, devido a curvas de lactação muito persistentes, logo vacas
PRODUÇÃO
Qualidade do colostro
Variação com o número de partos
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Primeiro
Segundo
Terceiro
Número do parto
Quarto ou mais
Variação da qualidade do colostro com o aumento do número
de partos (Adaptado de Gonzales, 2001)
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
55
PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
Preparar o Unifeed (TMR)
Que ingredientes adicionar primeiro?
Noelia Silva-del-Río, Universidade da Califórnia e Milkproduction.com
Para perceber qual a ordem correcta para
adicionar os ingredientes no reboque
misturador, é necessário ter em consideração
as propriedades fisicas dos ingredientes que
afectam a mistura, tais como o tamanho,
forma, densidade, capacidade de absorção de
água (higroscopia), electricidade estática e
aderência.
HUMIDADE DOS INGREDIENTES
Ingredientes secos de partícula pequena fixar-se-ão
em ingredientes com altos niveis de humidade, tais
como a silagem ou o melaço.
Assim, é importante misturar adequadamente os ingredientes secos antes de adicionar os húmidos. Desta
forma, imagine que está a fazer um bolo em sua casa.
Primeiro, irá adicionar a farinha, dado ser o ingrediente
que utilizará em maior quantidade e por se tratar de um
ingrediente seco. Adicionada a farinha, possivelmente
adicionará açucar e finalmente levedura ou outro ingrediente seco utilizado em pequenas quantidades. Por
último, serão adicionados os ingredientes ditos “pegajosos”, tal como por exemplo o óleo ou os ovos.
DENSIDADE DOS INGREDIENTES
Ingredientes mais pesados irão afundar-se, ingredientes mais leves irão flutuar. A silagem de milho é
33% mais densa que a silagem de luzerna, e o mineral
misturado pode ser 2 ou 3 vezes mais denso do que
matérias primas proteicas) ou a mistura de grãos. Ingredientes com baixa densidade e partículas de comprimento longo, tal como o feno, devem ser
adicionados primeiro, seguidos de ingredientes com
alta densidade e partículas de baixo comprimento, que
se afundarão.
As diferentes propriedades físicas dos ingredientes
incluídos na ração da vaca fazem com que seja muito
difícil obter uma ração uniformemente misturada, especialmente usando o sem-fim de design simples da
maioria dos unifeeds. Muitos produtores de leite usam
alimentos provindos de fábricas de rações ou preparam eles próprios as suas misturas de forma a assegurar que os cereais, matérias primas proteicas,
56
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
subprodutos, minerais, e premixes são misturados correctamente. É interessante verificar que, num estudo
conduzido para avaliar a uniformidade da mistura de
alimentos fabricados em fábricas, concluiu-se que apenas 50% das amostras tinham um coeficiente de variação (CV) aceitável de menos de 10%; no entanto,
20% das amostras tinham um CV acima dos 30%.
Comparando o equipamento usado nas explorações vs
o utilizado nas fábricas de ração, podemos assumir que
os “concentrados” produzidos nas explorações são
ainda menos uniformes que os produzidos nas fábricas. As implicações dos “concentrados” com alto CV
são o facto de as vacas possivelmente não comerem a
mesma proporção de ingredientes em cada porção que
comem, e alguns ingredientes caros (i.e. minerais pesados) poderem não estar uniformemente distribuídos ao
longo do comedouro.
ALIMENTAÇÃO
PRODUÇÃO
Misturar forragens com cereais moídos, misturas proteicas, subproductos, minerais e premixes é um desafio
ainda maior. Dependendo da marca e do tipo de unifeed,
o fabricante recomendará uma ordem de “ingredientes
mais apetecíveis” por forma a preparar a mistura (TMR).
Carros misturadores verticais permitem a incorporação
de feno não processado, que deve ser adicionado como
primeiro ingrediente devendo, no entanto, o tempo de
mistura ser cuidadosamente controlado para assegurar
que o comprimento das partículas não é excessivamente
reduzido. Embora alguns modelos de unifeeds de mistura
horizontal de sem-fim equipados com facas também permitam a incorporação de feno não processado, a uniformidade da mistura será melhor quando este tenha sido
processado anteriormente.
Caso não existam especificações do fabricante
disponíveis, deverá ser considerado o seguinte
protocolo:
1º. Feno longo que necessita de ser processado.
2º. No caso de não ser pretendido um processamento de
forragens (feno ou silagem) subsequente, adicionar em
primeiro lugar os grãos ou concentrados seguidos dos
ingredientes que serão incorporados em pequenas
quantidades, tais como os minerais e as vitaminas.
3º. Forragens que não necessitam de ser processados.
4º. Líquidos devem ser os últimos ingredientes.
No entanto, apenas depois de conduzir várias tentativas
na produção de misturas em explorações, com diferentes
sequências no adicionar dos ingredientes, podemos chegar à conclusão de qual a ordem de ingredientes mais desejável por forma a obter uma ração uniformemente
misturada.
Um produtor de leite colocou-me a seguinte questão:
“Todo o meu feno está picado. Se adicionar o feno como
primeiro ingrediente no TMR, este ficará demasiado processado. No entanto, se o adicionar como último ingrediente, flutuará e não será misturado. O que devo fazer?”
Os problemas da mistura de feno descritos
pelo produtor de leite podem ser resolvidos da
seguinte forma:
- Diminuindo a acção cortante do misturador, retirando
facas. No entanto, se o misturador for usado para preparar outras rações, talvez esta não seja uma solução
prática.
- Aumentando a densidade do feno, através de:
1) embebê-lo em água ou melaço, ou
2) pré-misturá-lo com ingredientes húmidos, tal
como a silagem.
- Preparando uma pré-mistura com todos os ingredientes TMR com excepção do feno. Adicionando assim o
feno como primeiro ingrediente e depois então a prémistura. x
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
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EQUIPAMENTOS
Transição da ordenha
convencional para automática
Factores críticos de sucesso
Ivo Carregosa e Odino Almeida, ALTEIROS – Equipamentos e tecnologias Lda.
Os sistemas de ordenha tradicionais estão a dar lugar
a sistemas de ordenha automático, mais conhecidos
como robots de ordenha.
Hoje em dia, esta tecnologia adquiriu um grau de
maturidade tal que o ritmo de conversão para estes sistemas aumenta muito de ano para ano um pouco por
todo o mundo.
A gestão de uma exploração com ordenha automática difere significativamente da gestão das explorações tradicionais: novos parâmetros a controlar, outra
forma de proceder no maneio e diferentes rotinas de
trabalho.
O objectivo deste trabalho é divulgar alguns dados
sobre a produção e qualidade do leite num estudo recente (EUA), definindo alguns factores chave do sucesso para uma boa transição entre o sistema
convencional e o automatizado.
Os primeiros estudos sobre sistemas de ordenha automática na Europa (AMS) mostraram um aumento da
contagem de células somáticas nos tanques (BTSCC)
e dificuldades para os agricultores se adaptarem à gestão das novas rotinas (Rasmussen et al., 2002).
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Desde essa altura, a tecnologia e a gestão da informação dos AMS evoluíram bastante, melhorando consideravelmente com a sua introdução plena nos EUA e
em alguns países da Europa, nomeadamente Portugal
(2004). O apoio à gestão da exploração melhorou de
forma a assistir os produtores durante a fase de transição, da ordenha convencional para a ordenha automatizada.
O estudo acerca do qual apresentamos aqui alguns
resultados foi efectuado através de inquéritos na Internet a um grupo de cerca de sessenta produtores de leite
que começaram a utilizar o AMS - Lely Astronaut®
entre Janeiro 2008 e Janeiro de 2011. As questões
foram colocadas por categorias:
1) Configuração da exploração (tamanho do rebanho / tipo de estábulo / Balanço alimentar / estabulação livre e relação de camas / tipo de cama /
limpeza das camas);
2) Resultados 3 meses antes e 1 ano depois da introdução do AMS: (produção / nºordenhas / SCC
/ PI / DIM / Reprodução / Taxa de abate e razões
/ uso de BST;
EQUIPAMENTOS
3) Intensidade de apoio à gestão de exploração durante a transição para o AMS;
4) Recomendação dos utilizadores para outros que venham a começar no futuro.
No total, responderam cerca de 58% dos produtores
convidados que indicaram as principais alterações no desempenho da sua exploração antes e depois do arranque
do sistema automático de ordenha:
a) a produção diária de leite aumentou significativamente em todas elas, tendo a média de subida entre
todas as participantes no inquérito sido de 5%. Rebanhos ordenhados duas vezes por dia sem o uso
de BST aumentaram a sua produção de leite em
10%. Cinco rebanhos pararam de utilizar BST durante o período de transição para o AMS. A idade e
o tipo de exploração não tiveram efeitos significativos na produção de leite;
b) o BTSCC e PI não foram significativamente diferentes, o que é um resultado melhor do que em estudos anteriores, que mostraram uma diminuição
da qualidade do leite depois da introdução dos
AMS. (Rasmussen et al., 2002);
c) a melhoria do BTSCC durante a transição para o
AMS está dependente do nível de SCC antes do arranque: explorações com alta SCC (>250k) antes
da AMS reduziram significativamente; explorações
com um nível nomal de BTSCC (<250k) antes da
instalação dos robots não se alteraram significativamente (Figura 1).
Figura 1: Mudança OS SCC (x1000), após AMS Startup
400
300
200
100
0
-100
-200
-300
-400
0
100
200
SCC antes da instalação
300
400
R2 = 0.3427
500
600
d) os resultados da reprodução melhoraram no primeiro ano após o arranque do AMS. A média de
dias para o primeiro parto, dias para a concepção e
intervalo entre partos baixou significativamente: 4, -7 e –9 dias respectivamente (T-Test: 0,037,0,14
e 0,002 resp.).
e) as taxas de refugo não se alteraram significativamente, mas explorações com taxas altas antes, melhoraram no primeiro ano após o arranque do AMS.
Explorações com boas taxas de refugo antes do
AMS mantiveram-se constantes (Figura 2).
Figura 2: Variações das taxas de abate vs taxas de
refugo antes de AMS
30
20
10
0
-10
-20
0
10
20
Taxas de reforma antes da instalação
30
R2 = 0.3427
40
f) as razões para o refugo dos animais mudaram no
primeiro ano do AMS: Taxas de refugo por infertilidade e idade baixaram (-11% e -4,1% resp.) e as
taxas de refugo por ordenha lenta e colocação dos
tetos aumentaram (+5,3% e +9,3%).
g) outros aspectos da gestão da exploração mostraram
algumas alterações depois do arranque, tais como:
1) Quanto maior a densidade de vacas (vacas / estabulação livre) maior o aumento de SCC, 2)
Menor relação camas / vacas mostrou um aumento
de SCC, e 3) Maior densidade de vacas, maior intervalo até ao primeiro parto.
h) a longevidade dos animais não é fácil de medir dado
o intervalo de tempo desde a introdução dos AMS.
Mas é muito provável que o efeito total sobre os resultados anteriormente apresentados contribuam
para uma maior longevidade dos animais.
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Os Sistemas AMS têm diversos sensores adicionais
que medem um grande conjunto de dados sobre os animais, em conjunto com as diversas ferramentas e software disponíveis permitem aos produtores serem
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
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EQUIPAMENTOS
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proactivos em vez de reactivos, sendo assim possível
resolver os problemas antes de estes surgiram. Isto é,
permite actuar na prevenção de muitas situações que
num sistema convencional de ordenha apenas se poderia agir de forma curativa.
Bons resultados não são conseguidos apenas por máquinas mas sim associados á aplicação de boas práticas
de gestão e maneio das vacas.
Os produtores entrevistados deram recomendações a
futuros utilizadores de AMS, incluindo: “Mudar a gestão diária, utilize as ferramentas informativas.”,
“Tenha um nutricionista experiente em AMS, porque a
alimentação é um factor chave para o sucesso do sistema AMS.”, “Visite outras explorações robotizadas e
aprenda com elas.”, “Prepare-se, tenha tempo para
ouvir os especialistas da Lely, pois eles têm experiência” e “Prepare o rebanho para a transição: saúde, alimentação, patas e conforto animal”. x
Referências:
• Rasmussen, M.D., M. Bjerring, P. Justesen and L. Jepsen 2002. Milk quality on Danish farms with automatic milking systems.
J Dairy Sci. 85:2689-2878.
• Ben Smink, Peter Kool e Rik van der Tol. Lely USA Inc., Pella IA, USA. Lely Industries N.V., Maassluis, the Netherlands
Novidades de equipamento
DETEÇÃO DE CIOS MAIS EFICAZ
A Nedap Agri lançou no mercado um sistema de deteção de
cios, que veio alargar a sua gama de
produtos Lactivator: o Lactivator Real-Time.
“Este sistema fornece uma
informação em tempo real
sobre o momento ótimo de
inseminação de uma vaca”,
anunciou a empresa. O raio
da antena é de 50 metros. Este
sistema deteta igualmente
“qualquer diminuição de actividade permitindo detectar
potenciais problemas de
saúde nos animais”. O Lactivator Real-Time só está disponível na versão bracelete. x
www.nedap-lactivator.com
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PREVISÕES PRECISAS SOBRE A INGESTÃO
O software de arraçoamento Rumineo aumenta a sua precisão em relação à estimativa de ingestão e de produção de
leite. Uma pesquisa realizada no primeiro semestre de 2011
em 29 explorações (sistemas milho e sistemas feno) permitiu comparar a ingestão real com a ingestão estimada pelo
software. “Observou-se 200 g por vaca e por dia de diferença
para as rações à base de milho e 90 gr MS para as rações à
base de feno, observa a equipa ruminantes Prisma. É menos
de 1% de erro!”
A previsão do Rumineo permite estimar a produção leiteira real com 0,5 l de desvio para dietas á base de silagem
de milho, e com 0,6 l para dietas à base de feno. O desvio
médio entre a produção leiteira real e a previsão Rumineo é
de 1,7%. Ele era de 3,7% em 2001, calculado numa anterior pesquisa feita com a mesma metodologia.x
www.typex.fr/actualites/prisma-un-nouveau-logiciel-rumineo
EQUIPAMENTOS
ALIMENTAÇÃO AUTOMATIZADA,
FLEXÍVEL E FRESCA
O Lely Vector é a mais recente inovação da Lely no
campo da ordenha automática.
Este sistema de alimentação automático garante um fornecimento constante de alimentos de uma forma flexível,
24 horas por dia, 7 dias por semana. O processo é totalmente automatizado e garante a flexibilidade ideal para
criadores de gado que utilizam o sistema, permitindo definir e ajustar a estratégia de alimentação para diferentes grupos de animais.
Funcionamento:
Os alimentos são armazenados numa cozinha, uma área
aberta sem quaisquer obstáculos, em que todos os tipos de alimentos podem ser armazenados, cada um no seu próprio
local. Dependendo do tamanho deste compartimento, o alimento pode ser armazenado durante um período de até três
dias, permitindo aos criadores de gado e às suas famílias desfrutarem de mais tempo livre.
Uma tenaz para captura dos alimentos move-se sobre a
cozinha para selecionar os alimentos e colocá-los no robot
de mistura e alimentação. A tenaz de captura varre toda a
área de armazenamento dos alimentos selecionados para
uma alimentação específica e recolhe os alimentos a partir
do ponto mais alto.
Um distribuidor de concentrados monitoriza as quantidades de ração que podem ser estabelecidas e medidas com
a máxima precisão. Além disso, pequenas quantidades de
sais minerais e aditivos podem ser misturados com os concentrados. Um interface do usuário com ecrã tátil é usado
para definir o plano alimentar e a cozinha. É também possível programar as dietas consoante os diferentes grupos de
animais e exibir uma variedade de relatórios.
O sensor de nível de alimentação é uma prova de força
tecnológica. O robot sabe exatamente que quantidade de alimento existe na manjedoura e determina quando e onde é
necessário alimento, sem ser exigida qualquer intervenção
do produtor. Como existe um fornecimento contínuo de alimentos, não é necessário fazer grandes quantidades, portanto a alimentação é sempre fresca. x
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EQUIPAMENTOS
Harvest Lab
Um laboratório à disposição do agricultor
Diogo Camarate Campos, John Deere Ibérica, S.A.
[email protected]
A tecnologia HarvesLab da John Deere permite, pela primeira vez, a detecção exacta dos
constituintes dos materiais forrageiros, tanto no momento da recolha como no silo.
O pilar maestro desta tecnologia é o sensor HarvestLab que utiliza a tecnologia do
Infravermelho Próximo (NIR) para medir o nível de presença de certos constituintes das plantas
e pode tanto ser usado em campo, montado numa picadora de forragem, como de maneira
independente, em modo estacionário, conseguindo-se os resultados em questão de segundos.
Análise dos constituintes das plantas através
da tecnologia de Infravermelho Próximo
A tecnologia NIR demonstrou, durante os últimos
30 anos, ser o método ideal para a avaliação da qualidade dos produtos agrícolas. De modo a cumprir com
as exigências dos clientes, a John Deere desenvolveu
o sensor HarvestLab em cooperação com a empresa
Zeiss. Graças a esta tecnologia, é agora possível realizar análises precisas de constituintes, para além da matéria seca, tais como açúcares, amido, proteína e
ADF/NDF, numa questão de segundos. Estes dados
62
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
podem ser obtidos em tempo real durante o trabalho
de recolha do material em campo, estando totalmente
integrados com os sistemas de agricultura de precisão,
permitindo assim criar mapas detalhados duma exploração ou mesmo duma parcela específica. Através
desta informação, é possível tomar decisões agronómicas in situ, como pode ser a decisão de aplicação de
diferentes doses de fertilizante numa dada parcela.
EQUIPAMENTOS
Porquê a detecção dos constituintes
do material forrageiro?
Segundo questionários efectuados, nalgumas regiões, menos de 10% dos agricultores efectua análises
de amostras do produto recolhido, sendo que noutras
regiões, até 50% dos agricultores realiza análises uma
vez por ano.
Como resultado destes questionários nota-se que,
mesmo para aqueles que efectuam um maior número
de análises, não existe a possibilidade de adaptar diariamente a alimentação de acordo com a qualidade real
do alimento.
Aplicação agronómica
A aplicação desta tecnologia persegue diferentes objectivos-chave, focados especialmente na melhoria da
rentabilidade das explorações pecuárias. Alguns pontos a destacar são:
• análise e detecção de valores nutritivos do alimento
produzido na exploração;
• determinação exacta do valor comercial da forragem através da análise constante dos constituintes
(normalmente a comercialização baseia-se em dois
valores: peso e percentagem de matéria-seca);
• cálculo do conteúdo energético disponível no silo
e da qualidade dos diferentes nutrientes;
• alta frequência de medições para evitar erros nas
amostras, conseguindo-se até 17 medições por segundo.
Fundamento técnico
Com base num elevado número de análises, os fotodiodos InGaAS demonstraram ser os mais precisos,
sendo que detectam Comprimentos de Onda dentro
da gama de Infravermelhos Próximos (entre 950 e
1530nm).
A informação de cada uma das moléculas pode ser
detectada pelo sensor depois de se ter armazenado o
respectivo gráfico de calibração (criado a partir de centenas de análises diferentes).
A energia de luz do sensor HarvestLab atravessa, é
reflectida ou absorvida, sendo que em casos normais a
Comprimento de onda
5000
200
106
Nº onda 10
Micro
onda
Longo
IR
2500
4000
800
12500
400
25000
Médio Próximo Visível
IR
IR
170
60000
Ultra
violeta
20
5*105
Vacum
UV
penetração é inferior a 1mm. Dum modo mais claro, o
sensor detecta um espectro, comparando-o com os
dados armazenados nos respectivos gráficos de calibração e, no momento que detecte uma equivalência,
obtém-se o valor correspondente.
Fonte de Luz
De
tec
tor
Amostra
Figura 2: Medição NIR
Vantagens técnicas
Alguns dos benefícios que se podem obter pela utilização desta tecnologia são:
• uma análise rápida que permite medições eficazes,
comparativamente com as medições em laboratório;
• a adaptação a condições variáveis, graças aos tempos de análise consideravelmente reduzidos;
• ter uma noção muito concreta do conteúdo recolhido, durante a colheita ou ao terminar a tarefa;
• o aumento da produção láctea ou a obtenção de
biogás estão directamente relacionados com a percentagem de elementos presentes na silagem, pelo
que é necessário conhecer na perfeição a sua quantidade no material forrageiro;
• o controlo preciso da adição de inoculante à silagem em função dos conteúdos de açúcar, para uma
preparação óptima do produto da forragem picada,
para fazer frente à fermentação láctea;
• a possibilidade de aumentar a rentabilidade na produção de leite/carne/bioenergia;
• optimização do consumo de alimentos compostos,
sendo possível determinar as dosagens directamente com base na informação dos nutrientes presentes na forragem;
• fácil utilização.
nm
cm-1
Raio-X
Molecular
Rotação
Tons de
Transições eletrônicas
vibrações
Vibração moleculares p - Systems Elétrons não Elétrons
vinculativos de ligação
Figura 1: Base da tecnologia NIR
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CONHEÇA A LEI
Servidão de Água:
O ato de pedir “emprestado”
ao vizinho do lado
Drª Sofia Ramada, licenciada em direito
www.fladvoga.com
Sendo a água um bem limitado e de grande importância, a sua utilização coloca frequentemente uma
série de questões que não passam despercebidas.
Uma das mais importantes no contexto jurídico é sem
dúvida a servidão de água que se caracteriza pela possibilidade de se aproveitar a água de um determinado
solo ou prédio de outrem (dito serviente), na estrita me-
dida das necessidades do beneficiário (dito solo/prédio
dominante), e mediante o pagamento de uma indemnização ao proprietário do prédio ou solo serviente.
Na verdade, quando o proprietário de um dado solo
ou prédio não tiver nem conseguir obter água suficiente para a irrigação do mesmo, pode aproveitar as
águas dos prédios vizinhos, pagando o seu justo valor.
COMO OPERA LEGALMENTE ESTE APROVEITAMENTO DE ÁGUA ALHEIA?
A lei permite que a servidão de água surja por contrato, testamento, usucapião e a destinação do pai de
família, podendo ainda ser imposto por decisão judicial
ou administrativa.
No caso da constituição por contrato, o proprietário do prédio sem irrigação negoceia directamente a obtenção de água com o proprietário do prédio por onde
a irrigação irá ser exercida, podendo as partes estipular
ou não um preço. Obtido o acordo, é necessário, para
que a servidão seja válida, formaliza-lo por escritura
pública ou por documento particular autenticado.
A servidão por destinação do pai de família surge,
por exemplo, quando o dono de dois prédios transmite
um deles a outra pessoa que irá usufruir da água do
outro. Esta operação assenta numa manifestação de
vontade do vendedor, devendo verificar-se sinais visíveis e permanentes como a existência de tubos condutores de água à superfície ou subterrâneos, ou de um
poço comum aos dois prédios utilizado por ambos os
proprietários, desde momento anterior à transmissão da
propriedade do prédio. Esses sinais devem durar durante o período de utilização de água do prédio vizinho
e não levantar dúvidas quanto à sua concreta existência.
Já a usucapião ocorre quando, durante um período
que pode variar entre quinze ou vinte anos, alguém
captou água num prédio vizinho, de forma contínua e
à vista de toda a gente, sem qualquer tipo de oposição
e, para esse efeito, efectuou obras visíveis e perma-
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Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
nentes no local onde existia a fonte ou nascente.
As servidões que se constituem por usucapião ou por
destinação do pai de família são as que mais problemas
levantam na prática, em virtude da exigência de sinais
explícitos e continuados de exploração de um dado prédio para a obtenção de água. Estes sinais têm que ser
perceptíveis à vista de qualquer pessoa, dos donos dos
prédios envolvidos ou terceiros, que passe no local e
não devem originar qualquer tipo de incertezas sobre a
relação de servidão entre os prédios envolvidos.
A servidão nasce por meio de testamento quando o
autor do mesmo constitui sobre um determinado prédio que pertence à respectiva herança uma servidão de
água a favor de prédio de terceiro ou de prédio por ele
deixado a terceiro.
Interessa ainda referir as servidões de aqueduto e
escoamento que têm forte aplicação no domínio industrial e agrícola.
Na servidão de aqueduto, permite-se a construção
de uma infra-estrutura que transporte a água para o
prédio “carenciado” através do prédio serviente. Esta
deverá assumir a forma, natureza e direcção mais convenientes para o solo “carenciado” mas também a
menos dispendiosa para o prédio serviente, devendo o
dono do prédio “carenciado” indemnizar o dono do
prédio serviente pelos prejuízos que a obra provoque.
Ocorrendo uma infiltração ou erupção de águas ou a
deterioração das obras feitas no aqueduto, o proprie-
CONHEÇA A LEI
tário do prédio serviente tem ainda, a todo o tempo, o
direito de ser indemnizado do respectivo prejuízo.
Existindo uma servidão de aqueduto, a Lei permite a
constituição forçada de uma servidão de escoamento
COMO TERMINA A RELAÇÃO DE SERVIDÃO?
A lei prevê as seguintes possibilidades: a) pela reunião dos dois prédios, serviente e “carenciado”, dito
dominante, na mesma pessoa; b) pelo não uso da
água durante vinte anos, qualquer que seja o motivo; c) pela renúncia; d) pela aquisição, por usucapião, da liberdade do prédio e ainda e) pelo
decurso do prazo, se a servidão tiver sido constituída temporariamente.
Salientemos os casos em que as servidões se extinguem por renúncia, por não uso durante vinte anos
e por usucapião.
No caso de renúncia, o dono do prédio beneficiado
pela servidão, desiste da servidão de água devendo
essa desistência ser feita por escritura pública ou documento particular autenticado.
Em relação à extinção por não uso durante vinte
anos, há que ter em atenção que este prazo tem sempre
de ser respeitado. Quer se trate de uma situação de não
uso por impossibilidade permanente e irremediável,
como é o caso de a nascente secar ou ser dado outro destino ao edifício onde estava a fábrica a que tinha acesso
o dono do prédio dominante para captar a água, ou se
trate de impossibilidade temporária, por exemplo, em
que a água utilizada passe a ser imprópria para consumo
e em que através de um processo químico ou por eliminação da fonte de contaminação esta se pode tornar potável, decorridos os 20 anos a servidão extingue-se.
quando, através de obra para fins agrícolas ou industriais, nasçam águas em algum prédio ou para ele sejam
conduzidas de outro prédio, havendo direito a indemnização do eventual prejuízo para o prédio serviente.
A extinção das servidões adquiridas por usucapião,
e só a estas nos referimos, podem terminar pela aquisição da liberdade do prédio, isto é, o que se verifica
quando o proprietário do prédio serviente manifesta a
sua oposição ao exercício da servidão; as servidões
assim adquiridas podem também ser extintas pelo tribunal, a requerimento do proprietário do prédio serviente, uma vez demonstrada a sua desnecessidade em
relação ao prédio dominante. O que se entende por
desnecessidade? Será toda a falta de justificação para
a manutenção de um encargo para o prédio serviente,
atenta a inutilidade ou escassa utilidade da existência
de servidão para o prédio dominante. Esta avaliação
deverá ser feita pela ponderação das circunstâncias
concretas de cada caso, sendo que os elementos necessários à avaliação da desnecessidade têm de ser fornecidos por quem pretende a extinção.
Como nota final deve referir-se que os proprietários
de quintas muradas, quintais, jardins ou terreiros adjacentes a prédios urbanos estão isentos da servidão de
água, podendo em contrapartida adquirir o prédio “carecido” pelo seu justo valor sendo que, inexistindo
acordo quanto ao “justo valor”, o preço será fixado judicialmente; e, no caso de serem dois ou mais os proprietários interessados, abrir-se-á licitação entre eles,
revertendo o excesso para o vendedor.
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FEIRAS
Não deixe de visitar...
19 A 22 DE JULHO
4 A 6 SETEMBRO
5 E 6 DE SETEMBRO
IX FEIRA AGRÍCOLA DO LEITE
AGROLEITE
Póvoa de Varzim - Portugal
De 19 a 22 de Julho, decorrerá em S.
Pedro de Rates, Póvoa de Varzim, mais
uma edição da Agroleite — a IX Feira Agrícola do Leite. Esta feira, promovida e organizada pela LEICAR – Associação dos
Produtores de Leite e Carne, tem edição
anual e apresenta uma mostra significativa
das empresas ligadas ao setor presentes
nesta região, a par com concursos de animais, funcionando como um ponto de encontro para os profissionais das fileiras do
leite e da carne.
www.leicar.pt
11 A 14 SETEMBRO
SPACE
Le Creusot - França
O salão profissional e internacional para
todos os intervenientes do mundo dos criadores de gado, terá lugar de 11 a 14 de setembro, no Parc-Expo de Rennes, França.O
salão reúne uma oferta completa para todos
os intervenientes no setor bovino (leite e
carne), porcino, avícola, cunícola e ovino. Os
setores mais representados pelos expositores em 2011 foram: Alimentação animal: 507;
Equipamentos de criação animal: 369; Instalações e equipamentos: 261; Genética e
inseminação artificial: 253; Manutenção, elevação, carga e transporte: 187 – Saúde animal: 134. Em 2011 marcaram presença
1300 expositores, dos quais 340 internacionais, com mais de 60 mil metros de superfície de exposição; e mais de 108 mil
visitantes. Cerca de 750 animais rigorosamente selecionados estiveram expostos no
Salão.
www.space.fr
INNOV-AGRI
Outarville, Orléans - França
A terra já está a ser preparada para acomodar cerca de 300 expositores e os mais
de 90.000 visitantes, entre agricultores,
cerealistas, criadores de gado, empresários, consultores e distribuidores que visitarão esta feira ao ar livre. No total são
160 hectares dedicados a exposições, demonstrações de equipamentos e campos
de ensaio de culturas.O Innov-Agri é também o local ideal para se atualizar em matérias relacionadas com o sector agrícola
através de conferências.
www.ia.innovagri.com
3 A 5 DE OUTUBRO
SOMMET DE L’ÉLEVAGE
Clermont-Ferrand - França
De 3 a 5 de Outubro, no Centro de Exposições Grande Halle D’Auvergne, em Clermont-Ferrand, França, terá lugar a
exposição Sommet de l’Elevage, que representa uma das principais feiras europeias dedicadas aos profissionais da
criação de gado: Blonde d’Aquitaine (raça
de carne) e Abondance (raça leiteira). Na
categoria dos ovinos, as raças de Suffolk e
Blanche do Maciço Central serão igualmente avaliadas em concursos nacionais.
Na exposição de 2012, estarão presentes,
no total, mais de 2 mil animais e quase 70
raças. São esperados para esta edição
1.300 expositores e 80 mil visitantes, incluindo 3.500 visitantes internacionais,
para um evento repleto de seminários, e
das mais recentes inovações tecnológicas
e atividades relacionadas com a indústria.
www.sommet-elevage.fr
13 A 16 DE NOVEMBRO
EUROTIER
Hannover - Alemanha
A EuroTier - Exposição Internacional da DLG
de Produção Animal e Técnicas de Gestão –
vai ser o ponto de convergência dos profissionais da produção animal, de 13 a 16 de novembro. No Parque de Exposições de Hannover, Alemanha, a EuroTier apresentará uma
vez mais as novas tendências e inovações nos setores de criação animal — bovinos, suinos, caprinos e aves, bem como em bioenergia e a aquicultura, gestão e prestação de
serviços. São separados 1.900 expositores e 140 mil visitantes, naquele que é considerado
como uma das feiras mais importantes dedicada à produção animal, na Europa.
www.eurotier.com
66
Ruminantes • Julho | Agosto | Setembro • 2012
AGROGLOBAL
Valada do Ribatejo - Portugal
Em Setembro próximo, nos dias 5 e 6
(entre as 9h30m e as 18h), irá realizar-se
a 3ª edição da Agroglobal, a Feira do milho
e das grandes culturas. Mais uma vez, na
Lezíria do Tejo, em campos cultivados e
preparados para o efeito, teremos a maior
reunião de empresas e instituições ligadas
ao agronegócio do nosso país, permitindo
a todos os profissionais do setor um amplo
debate sobre os produtos e soluções hoje
disponíveis para todas as áreas da atividade agrícola.
www.agroglobal.com.pt
25 A 28 DE OUTUBRO
FEIRA DE CREMONA
Cremona - Itália
A feira internacional de vacas de leite de
Cremona celebra a sua 67ª edição este
ano. A última edição reuniu 847 expositores, dos quais 17% estrangeiros, 56 convenções e seminários e mais de 75 mil
visitantes. Reconhecida pela sua especialização na fileira do leite, esta grande
feira continua a representar uma excelente oportunidade de encontro e de troca
de informações e experiências para todos
os profissionais deste sector.
www.cremonafiere.it
7 A 11 DE NOVEMBRO
EIMA
A Feira de máquinas e equipamentos agrícolas de Bolonha, uma das mais importantes da Europa do setor, vai realizar-se em
novembro próximo, entre os dias 7 e 11.
Com uma superfície de exposição de mais
de 103 mil m2 e cerca de 1.600 expositores, esta grande exposição de equipamentos, serviços e soluções, que atualmente se
realiza a cada dois anos, é local de visita
obrigatório para quem precisa de ficar a par
das novidades em mecanização aplicada
aos mais diversos setores da agricultura e
da agro-pecuária, floresta e componentes.
www.eima.it

Documentos relacionados