relatório especial - Desarrollando Ideas

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relatório especial - Desarrollando Ideas
RELATÓRIO ESPECIAL
Balanço político 2014, rumo
a uma mudança de ciclo
eleitoral na América Latina?
Madri, janeiro 2015
BARCELONA
BOGOTÁ
BUENOS AIRES
LIMA
LISBOA
MADRID
MÉXICO
PANAMÁ
QUITO
RIO J
SÃO PAULO
SANTIAGO
STO DOMINGO
BALANÇO POLÍTICO 2014, RUMO A UMA MUDANÇA
DE CICLO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA?
1. INTRODUÇÃO
2. HETEROGENEIDADE, MUDANÇA
E CONTINUIDADE NAS ELEIÇÕES
DE 2014
3. CONCLUSÕES
LLORENTE & CUENCA
1. INTRODUÇÃO
2014 foi um ano muito intenso, já que houve sete processos eleitorais
na América Latina que trouxeram grandes novidades e mudanças no
panorama político regional. As eleições presidenciais em Costa Rica,
El Salvador, Panamá e Colômbia durante a primeira metade de ano,
e em Brasil, Bolívia e Uruguai no final de 2014, abriram a porta a um
novo tempo eleitoral e político que nasce, por sua vez, dentro de um
contexto diferente nos âmbitos econômico (a região entrou em um
período de resfriamento) e social (aumento do mal-estar, dos protestos
e das mobilizações).
Este novo tempo eleitoral e político está marcado pela heterogeneidade, a volatilidade e a dificuldade de manter as hegemonias de determinados partidos e de certas lideranças que até agora pareciam
imbatíveis nas urnas, já que ganhavam com grande margem e relativa
facilidade nos diversos pleitos dos quais participavam. Quanto à heterogeneidade política que caracteriza a América Latina, esta se configurou em 2014 em vitórias de candidatos de direita (Juan Carlos Varela
no Panamá), de centro (Juan Manuel Santos na Colômbia), de centro-esquerda (Luis Guillermo Solís na Costa Rica, Dilma Rousseff no Brasil
e Tabaré Vázquez no Uruguai) e de esquerda (Salvador Sánchez Cerén
em El Salvador e Evo Morales na Bolívia).
No que se refere à volatilidade do voto, este fenômeno provocou que a reeleição e o continuísmo tenham se transformado em 2014 no desafio mais
difícil de se conseguir na América Latina, ao contrário do que ocorria há
poucos anos (reeleições de Hugo Chávez e do PLD dominicano em 2012 ou
de Rafael Correa e do chavismo com Nicolás Maduro em 2013). Na primeira metade de 2014, o partido de Ricardo Martinelli no Panamá e o PLN na
Costa Rica perderam o poder, enquanto a FMLN em El Salvador conseguiu
que seu candidato desse continuidade a sua permanência na presidência,
embora impondo-se à Arena por apenas seis mil votos de vantagem. Juan
Manuel Santos na Colômbia não só não conseguiu vencer no primeiro turno
(foi o segundo mais votado) como sofreu muito para conseguir a reeleição
no segundo. Nas eleições no Brasil, as mudanças foram constantes quanto
a tendências eleitorais e, se uma semana antes do pleito as pesquisas
apontavam um duelo entre Dilma Rousseff e Marina Silva no segundo turno, este acabou sendo um confronto entre Dilma e Aécio Neves.
Essa volatilidade e heterogeneidade políticas se alimentam, entre outras
coisas, da situação geral da América Latina, marcada pelo resfriamento
econômico (a região terá crescido 2,5% em 2014 após havê-lo feito em
anos precedentes acima de 4%). Essa queda, produto do menor cres-
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BALANÇO POLÍTICO 2014, RUMO A UMA MUDANÇA
DE CICLO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA?
“As emergentes classes
médias começaram a
se mobilizar para exigir
melhores serviços
públicos, um real
compromisso na luta
contra a corrupção
e mais segurança
popular”
cimento chinês e das dificuldades
econômicas internacionais, incide no mal-estar social que afeta
a região: as emergentes classes
médias começaram a se mobilizar para exigir melhores serviços
públicos, um real compromisso
na luta contra a corrupção e mais
segurança popular. Como declarou o analista político Daniel Zovatto, "as vitórias dos partidos de
governo, sobretudo em contextos
de reeleição consecutiva, apesar
continuar mantendo vantagem, já
não são tão fáceis de se conseguir
como no passado recente, e, por
isso, a necessidade de ir para um
segundo turno (e inclusive o risco
de perder) se tornou mais comum,
como ocorreu na reeleição de
Juan Manuel Santos na Colômbia e
na apertada vitória do governista
Sánchez Cerén em El Salvador".
2. HETEROGENEIDADE, MUDANÇA E CONTINUIDADE
NAS ELEIÇÕES DE 2014
COSTA RICA
2 de fevereiro
(primeiro turno)
EL SALVADOR
9 de março
(segundo turno)
COSTA RICA
6 de abril
(segundo turno)
PANAMÁ
4 de maio
Fonte: elaboração própria
Heterogeneidade,
volatilidade e a tensão recorrente entre
mudança e continuidade foram,
portanto, as tônicas que se sobressaíram no pleito em 2014
na América Latina. Esses eixos
marcaram as disputas nas urnas
tanto na primeira metade do ano
como na segunda.
Os heterogêneos processos eleitorais centro-americanos
A América Central abriu o calendário de eleições presidenciais
na América Latina em 2014. Costa Rica, El Salvador e Panamá
protagonizaram, entre fevereiro e maio, as três grandes elei-
ções na região. O primeiro turno
na Costa Rica e em El Salvador
aconteceram no dia 2 de fevereiro e, como em ambas foi preciso
um segundo turno, este aconteceu em El Salvador no dia 9 de
março, e na Costa Rica em 6 de
abril. Um mês depois, em 4 de
maio, chegou a vez do Panamá.
A tensão entre mudança-continuidade —característica dos
processos eleitorais em 2014—
esteve muito presente em Costa
Rica, El Salvador e Panamá. Se
até este ano o eleitorado (especialmente as classes médias
emergentes) parecia se inclinar, de forma majoritária, pelos oficialismos e por defender
os avanços econômicos e sociais
alcançados durante a década
dourada (2003-2013), nesta nova
conjuntura a situação começou
a mudar, já que as mudanças
sociais incidiram no panorama
político. Como afirma o analista
Patrício Navia para o caso chileno (embora sua reflexão possa
ser estendida a todo América Latina), "em um país onde a classe média é hoje mais ampla e
poderosa do que nunca em sua
história, tanto as elites como
os setores populares perderam
peso relativo (...) as elites se
sentem ameaçadas pela irrupção
de uma classe média que quer
distribuir melhor o poder. Por
sua vez, os governos já sabem
que não basta satisfazer as demandas dos setores populares.
Como dolorosamente descobriu
o ex-presidente Piñera em 2011,
se La Moneda alienar a crescente
classe média, os custos políticos
serão muito superiores do que os
de ignorar os setores populares".
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BALANÇO POLÍTICO 2014, RUMO A UMA MUDANÇA
DE CICLO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA?
“Para o eleitorado,
de perfil muito classe
média, a estabilidade do
período Arias-Chinchila
(2006-2014) já não
compensava”
Infografia: Rádio América
De uma forma ou outra, isso é o
que ocorreu na Costa Rica, onde
partidos como o Partido Ação Cidadã (PAC) e, em menor medida,
a Frente Ampla, cresceram significativamente com suas respectivas propostas de mudança frente
à aposta continuísta do Partido
Libertação Nacional (PLN), no
poder desde 2006. O candidato
Luis Guillermo Solís, do centro-esquerdista PAC, com 30,64%,
e o do governante PLN, Johnny
Araya, com 29,71%, foram os
mais votados no primeiro turno.
Em terceiro lugar ficou o candidato do esquerdista Partido Frente Ampla, José María Villalta,
com um apoio de 17%, enquanto
Otto Guevara, do direitista Movimento Libertário, alcançou 11%.
Após o segundo turno, Solís, um
historiador de 53 anos, obteve a
cadeira presidencial, quebrando
oito anos de hegemonia do PLN,
a dos governos de Óscar Arias e
Laura Chinchilla (2006-2014).
Solís recebeu 77,88% dos votos,
enquanto seu adversário, o candidato do governista PLN, Johnny
Araya, obteve 22,12%, com uma
abstenção de 43% (a mais ele-
vada nos últimos 60 anos). Um
segundo turno que teve características inéditas já que Araya renunciou a fazer campanha (mas
manteve sua candidatura porque
a constituição não permite retirá-la) após ver, através de diversas pesquisas, seus poucas possibilidades de vitória.
Na realidade, Araya e sua aposta
continuísta se viram ultrapassados pelo heterogêneo voto a favor da mudança encarnada não
só pelo social-democrata Solís
(30%), mas também pela esquerdista Frente Ampla (17%) e o
neoliberal Movimento Libertário
(11%). Com posturas ideológicas
diametralmente opostas, todos
concordavam em pôr fim ao predomínio do PLN, o que explica
que tanto nas pesquisas prévias
ao pleito para o segundo turno
como nos próprios resultados
das eleições os votos se concentrassem em torno do candidato
do PAC, superando amplamente
o respaldo obtido pelo PLN. Para
o eleitorado, de perfil muito
classe média, a estabilidade do
período Arias-Chinchila (20062014) já não compensava, pois
os governos do PLN não conseguiram responder, nem se adaptar à nova agenda apresentada
por esse eleitorado emergente.
Uma agenda centrada em melhores serviços públicos e uma
administração mais ágil e com
menos corrupção.
Em El Salvador, o candidato do
continuísmo, Salvador Sánchez
Cerén, do esquerdista FMLN, foi
o mais votado no primeiro turno,
mas não conseguiu 50% mais um
dos votos (Sánchez Cerén somou
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BALANÇO POLÍTICO 2014, RUMO A UMA MUDANÇA
DE CICLO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA?
“Além de ser
heterogênea, a
região oscila entre
a mudança e a
continuidade”
48,9%, e Norman Quijano, da direitista Arena, ficou a dez pontos,
com 38,9%), por isso teve que ser
realizada um segundo turno. Na
disputa final, realizada em 9 de
março, Sánchez Cerén venceu
por uma apertada margem, de
apenas 0,22 ponto (6.400 votos),
o candidato da Arena, que conseguiu agrupar em torno de sua
figura os votos anti-FMLN, tanto
os de centro (os que em primeiro
turno votaram no ex-presidente
Tony Saca) como os de direita —
Arena— contrários à continuidade da ex-guerrilha no poder.
Neste caso, a polarização histórica que o país vive desde os
anos 80-90 (FMLN vs Arena) e o
próprio desgaste do governo de
Mauricio Funes (sobretudo pelo
baixo crescimento econômico do
país e o problema perene da insegurança) provocaram esse resultado tão apertado e o fato de
o voto anticomunista se agrupar
em torno da candidatura da centro-direitista Arena:
Este pleito —e o do Panamá de 4
de maio— mostrou que a América Latina, em geral, e América
Central, em particular, são en-
tidades complexas e muito heterogêneas também desde um
ponto de vista político.
Nos cinco primeiros meses de
2014 foi possível assistir ao triunfo de um candidato de esquerda
(ex-guerrilheiro) como Salvador
Sánchez Cerén em El Salvador, à
vitória de um representante da
centro-esquerda ("social-democrata") como Luis Guillermo Solís
na Costa Rica e à ascensão de um
partido de direita no Panamá,
que tinha como presidenciável
Juan Carlos Varela. Houve surpresa neste país, já que as pesquisas apontavam como favorito
José Domingo Arias, o homem
apoiado pelo presidente Martinelli, dentro de um triplo empate técnico com as opções de Varela e a esquerdista de Navarro.
No final, ganhou o opositor Juan
Carlos Varela, liderando a aliança conformada pelos opositores
partidos Panamenhista (PPa) e
Popular (PP), e o fez por quase
sete pontos de diferença —muito mais do que o previsto— sobre o governista José Domingo
Arias (Mudança Democrática e
Movimento Liberal Republicano
Nacionalista), com 31,39%; e dez
sobre o opositor Juan Carlos Navarro (Partido Revolucionário Democrático) com 28,15%.
Além de ser heterogênea, a região oscila entre a mudança e a
continuidade movida por classes
médias ascendentes que cresceram na época de bonança, mas
que agora possuem novas agendas (demandam melhores serviços
públicos, mais segurança e maior
combate contra a corrupção).
Fonte: El Diario de Hoy
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BALANÇO POLÍTICO 2014, RUMO A UMA MUDANÇA
DE CICLO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA?
“Os desejos de
mudança se deram de
forma muito acentuada,
inclusive onde houve
continuidade”
ELEIÇÕES
ELEIÇÕES LEGISLATIVAS
(9 DE MARÇO)
A região que votou continuidade
em El Salvador, ao voltar a confiar no FMLN (força que já chegou ao poder com Mauricio Funes
em 2009) votou pela mudança,
no entanto, na Costa Rica, ao
apostar pelo PAC (um partido
de pouco mais de uma década
de vida, que jamais tinha levado um candidato próprio à presidência). Também votou pela
mudança no Panamá, embora
neste caso para ratificar um dos
partidos tradicionais e históricos do país, o panamenhista ou
arnulfista. Uma força que, pelas
mãos de seu lendário caudilho
(Arnulfo Arias), chegou ao poder
RESULTADOS
Câmara:
Partido da U 16,05%
Partido Liberal 14,13%
Partido Conservador 13,17%
Centro Democrático 9,47%
Mudança Radical 7,74%
Aliança Verde 3,35%
Polo Democrático 2,89%
Senado:
Partido da U 15,58%
Centro Democrático 14,29%
Partido Conservador 13,58%
Partido Liberal 12,22%
Mudança Radical 6,96%
Aliança Verde 3,94%
Polo Democrático 3,78%
PRIMEIRO TURNO DAS ELEIÇÕES
PRESIDENCIAIS
(27 DE MAIO)
Óscar Iván Zuluaga 29,25%
Juan Manuel Santos 25,69%
Marta Lucía Ramírez 15,52%
Clara López 15,23%
Enrique Peñalosa 8,3%
Voto en blanco 5,99%
Abstenção 59,9%
SEGUNDO TURNO DAS ELEIÇÕES
PRESIDENCIAIS
(15 DE JUNIO)
Juan Manuel Santos 7.839.342 (50,95%)
Óscar Iván Zuluaga 6.917.001 (45%)
Abstenção 52,11%
em 1941, 1951 e 1968 e que, desde o retorno da democracia, em
1989, conquistou a presidência
em 1989, 1999 e agora em 2014.
No caso do Panamá, se deu uma
situação especial, pois o panamenhismo foi em 2009 em aliança com a Mudança Democrática
de Ricardo Martinelli (Varela foi
seu vice-presidente), mas ambos
acabaram rompendo essa aliança
política em 2011.
Além disso, os desejos de mudança se deram de forma muito
acentuada, inclusive onde houve
continuidade, como pôde ser notado com clareza em El Salvador:
Sánchez Cerén só se impôs por 6
mil votos, e a Arena esteve muito
perto de tirar do poder a FMLN,
já que conseguiu atrair, no segundo turno contra o FMLN, mais de
400 mil votos novos, absorvendo
os que penderam no primeiro
turno pela opção centrista liderada por Tony Saca. Isso fez com
que o partido direitista acabasse
perdendo por apenas 6 mil cédulas de diferença. Se no primeiro
turno a distância foi de 10 pontos
(48% vs 38% a favor de Sánchez
Cerén), na segunda votação as
distâncias diminuíram até o mínimo (50,11% para Sánchez Cerén
e 49,89% para Norman Quijano),
mostrando assim um país muito
dividido e polarizado.
O disputado pleito na Colômbia
Da mesma forma, a volatilidade (a
incerteza e imprevisibilidade dos
resultados) foi outra das características mais sobressalentes nas
eleições colombianas de maio, assim como nas de Brasil e Uruguai
em outubro.
Elaboração própria com dados do Conselho Nacional Eleitoral
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BALANÇO POLÍTICO 2014, RUMO A UMA MUDANÇA
DE CICLO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA?
“O uribismo
protagonizou a
grande surpresa
não só por forçar o
segundo turno, mas
por superar em votos
Santos no primeiro”
No caso das colombianas, houve
eleições legislativas em março,
primeiro turno presidencial em
maio e segundo em junho. Um
processo com um alto componente de imprevisibilidade quanto ao
resultado final, cuja expectativa
se alargou durante meio ano.
A surpresa e depois o resultado
apertado deram uma característica
muito emocionante e imprevisível
às eleições presidenciais colombianas. O uribismo (e seu candidato
presidencial Óscar Iván Zuluaga)
foi progressivamente emergindo e
se fortalecendo primeiro no pleito legislativo de março e depois
se transformou, ao longo de abril,
em uma opção muito viável para
as eleições presidenciais de maio.
Aproveitou-se da inesperada estagnação de Juan Manuel Santos nas
pesquisas e superou os que se perfilavam como rivais do presidente
(sobretudo os verdes, liderados por
Enrique Peñalosa).
O uribismo protagonizou a grande
surpresa não só por forçar o segundo turno, mas por superar em
votos Santos no primeiro:
O segundo turno foi um duelo
muito áspero e duro, em muitos
momentos imprevisível, que polarizou o país entre uribismo e anti-uribismo. Um confronto que teve
como saldo uma difícil reeleição
do presidente Santos. Após 15 dias
de uma campanha pouco edificante (cheia de insultos e acusações),
que mensagem deixou para a Colômbia? Basicamente que o país
estava partido entre uribistas e anti-uribistas, como foi mostrado em
uma azeda polêmica em torno do
processo de paz com as Farc. Além
disso, embora a rivalidade entre
Santos e Zuluaga seja política,
revelou-se também uma animosidade muito mais profunda e pessoal entre o atual presidente e seu
antecessor, Álvaro Uribe (padrinho
da candidatura de Zuluaga). Santos chegou a qualificar Uribe como
"ultradireitista": "Agora vemos um
setor da população, esse centro
democrático que no fundo é uma
extrema direita, que está voltando a algo que eu não imaginava:
uns rapazes com camisas pretas
tentando sabotar minhas aparições na campanha"...
... e Uribe fez duras acusações
contra seu sucessor: "Em Ocaña
me diziam que a Catatumbo voltaram a coca e as Farc. Hoje, o
dendezeiro sai, e a coca volta por
permissão, por licença do presidente Santos às Farc".
Os cinco pontos de diferença no
final a favor de Santos foram produto de um grande esforço de
mobilização do voto por parte dos
santistas nas zonas controladas
por líderes locais do Partido Liberal, especialmente nos litorais
Atlântico e Pacífico, enquanto o
Fonte: diario El País
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BALANÇO POLÍTICO 2014, RUMO A UMA MUDANÇA
DE CICLO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA?
“No Brasil, os
resultados foram
condicionados por uma
campanha eleitoral,
no primeiro turno, que
foi uma verdadeira
montanha-russa”
voto urbano, que vinha reivindicando mudanças e transformações, se inclinou em boa parte a
favor de Zuluaga. A aliança para
o segundo turno entre Santos e a
esquerda favoreceu que parte do
voto urbano pendesse para o lado
do presidente:
Os vaivéns nas eleições brasileiras
Os ingredientes que marcaram o
pleito na Colômbia também foram vividos no Brasil meses depois: incerteza nos resultados,
perda de apoio por parte do governo, emergência de um voto de
protesto e de desencanto da classe média.
No Brasil, os resultados foram
condicionados por uma campanha
eleitoral, no primeiro turno, que
foi uma verdadeira montanha-russa, cheia de surpresas e que se
dividiu em três fases. Fases marcadas pela incerteza e por tendências que se concretizaram em
constantes mudanças de intenções
de voto. A campanha eleitoral não
começou, na realidade, até a final
da Copa do Mundo de futebol, em
11 de julho, um sucesso de organização, com pouca incidência dos
protestos, e um profundo fracasso
esportivo para a seleção brasileira
(algo que por fim mostrou não ter
tido nenhuma influência na campanha eleitoral).
Portanto, a campanha, que começou em meados de julho e que
terminou no início de outubro,
atravessou esses diversas períodos nos quais foi se forjando o
resultado que acabou ocorrendo
no primeiro turno, realizado em
um domingo, 5 de outubro.
• 1ª Etapa (julho-agosto de
2014): No início de agosto, parecia claro que Dilma
Rousseff tinha um teto eleitoral (de 40%) e uma ampla
distância em relação ao segundo colocado (Aécio Neves rondava os 20%). O terceiro na disputa, Eduardo
Campos, que levava Marina
Silva como companheira de
chapa, estava estagnado em
torno de 10%. Esse panorama
indicava um segundo turno
no qual provavelmente Dilma enfrentaria Aécio e no
qual a presidente aparecia
como clara favorita:
Mas em 13 de agosto todo este
cenário mudou de forma radical devido à morte, em um
Fonte: diario El País
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BALANÇO POLÍTICO 2014, RUMO A UMA MUDANÇA
DE CICLO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA?
Pesquisa de agosto de 2014. Infografia elaborada pela Folha de S.Paulo.
acidente de avião, de Campos. O acaso transformou a
campanha (muito mais que o
desastre na Copa, como tinha
sido especulado) e introduziu
um elemento de incerteza
inexistente até esse instante. Campos foi substituído
por sua vice, Marina Silva,
quem revolucionou a campanha. Em duas semanas, ela
tirou Aécio Neves, do PSDB,
do segundo lugar (quando
era o favorito para disputar o
segundo turno com Dilma) e
cresceu rapidamente em um
curto período de tempo: se
Campos rondava os 10% em
intenções de voto, Marina
chegou a 21% logo após ser
proclamada candidata, e em
projeções de segundo turno
aparecia até na frente de Dilma, por 47% a 43%.
• 2ª Etapa (agosto-primeira metade de setembro de
2014): No final de agosto,
em pesquisa do Datafolha,
Dilma e Marina estavam empatadas em torno de 34%, e
a ecologista e candidata do
PSB continuava ganhando
no segundo turno, com uma
diferença de 6% a 9%.
Pesquisa da segunda metade de agosto de 2014. Infografia elaborada pela Folha de S.Paulo.
Essa progressão ascendente de Marina Silva foi interrompida quando Aécio Neves
e Dilma Rousseff entraram
no corpo a corpo da campanha, fazendo duros ataques
à nova candidata, que até
esse momento tinham tentado ignorar pensando que
se tratava de um fenômeno
passageiro e conjuntural.
Pesquisa Datafolha do fim de agosto. Infografia elaborada pela Folha de S.Paulo
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BALANÇO POLÍTICO 2014, RUMO A UMA MUDANÇA
DE CICLO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA?
• 3ª Etapa (segunda metade
de setembro-outubro de
2014): O resultado foi que o
crescimento de Marina minguou faltando duas semanas
para o pleito, e suas intenções de voto caíram para
25%, ficando a 15 pontos
percentuais de Dilma (40%),
e com Aécio Neves (que retomou a tendência ascendente
que apresentava antes da
morte de Campos) colado em
seus calcanhares. A máquina
de mobilização de votos do
PT e de demolição da adver-
Pesquisa Datafolha do fim de agosto. Infografia elaborada pela Folha de S.Paulo
sária tinha entrado em jogo.
Esse fator, junto com as inconsistências programáticas
(como suas hesitações em
temas como o aborto), e sua
fragilidade como líder (desatou a chorar em algumas
ocasiões durante a campanha) acabaram afundando
Marina Silva:
A máquina do PT tinha começado, de forma muito
eficiente, a destruir o fenômeno Marina e, como afirma
o analista político Fernando
Bizarro, na publicação ConDistintosAcentos, "quando
Marina teve que enfrentar as
intempéries de uma campanha eleitoral, a falta de profundidade de suas propostas
e a heterogeneidade dos interesses que ela representa
se mostraram tóxicas para
a manutenção do apoio inicialmente recebido".
No dia 5 de outubro, o mesmo das eleições, Aécio já
aparecia na frente de Marina, indicando o que era mais
uma evidência do quão voláteis foram as intenções de
voto durante a campanha:
Por fim, Dilma Rousseff acabou sendo a mais votada no
primeiro turno, com 41% dos
votos, seguida por Aécio Neves, com 33%, e Marina, que
caiu para 21%, quando 15 dias
antes rondava a casa dos 30%.
Fonte: jornal Folha de S.Paulo
Essa montanha-russa que foi
a campanha eleitoral evidenciava que o Brasil é um país
em plena transição social e
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BALANÇO POLÍTICO 2014, RUMO A UMA MUDANÇA
DE CICLO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA?
“Brasil é um país em
plena transição social
e política (e em breve
econômica)”
Fonte: Folha de S.Paulo
política (e em breve econômica), no qual as fidelidades
partidárias, e determinadas
lideranças, são cada vez mais
voláteis e circunstanciais.
• 4ª Etapa (outubro de 2014):
O começo da campanha para
o segundo turno foi marcado pela alta nas intenções
de voto de Aécio, que conseguiu o apoio explícito de
Marina Silva e do partido que
a respaldou, o PSB. Também
lhe concedeu apoio o Partido
Popular Socialista (PPS), que
integrou a coalizão de Marina. Além disso, ficaram a seu
lado Eduardo Jorge, do Parti-
do Verde (PV), e o pastor Everaldo Dias, do Partido Social
Cristão (PSC), que receberam, entre ambos, 1,36% dos
votos. Além disso, as primeiras pesquisas apontavam que
existia um empate técnico
entre Dilma e Aécio no segundo turno, mas com vantagem
para o ex-governador de Minas Gerais.
Segundo o Ibope, em meados
de outubro, o candidato do
PSDB obteria 46% dos votos no
segundo turno, e Dilma, 44%.
E segundo o Datafolha, Aécio,
levando-se em conta os votos
válidos, obteria 51% contra
Infografia elaborada pelo jornal Folha de S.Paulo
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BALANÇO POLÍTICO 2014, RUMO A UMA MUDANÇA
DE CICLO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA?
49% da candidata do PT. Uma
tendência que começou a se
reverter na última semana de
outubro, quando Dilma apareceu em primeiro nas intenções de voto.
“A política na América
Latina atravessou em
2014 um período de
grande volatilidade
e incerteza nas
diversas eleições que
aconteceram
na região”
Por fim se repetiu, em parte,
a história do primeiro turno.
Na última parte da campanha, a máquina do PT empurrou Dilma para o primeiro
lugar, enquanto Aécio Neves
ficava abaixo de 50%. Era, outra vez, a constatação da volatilidade nas tendências.
Como aponta o analista Daniel Zovatto, "no Brasil e
na Colômbia, prevaleceu no
eleitorado o medo de perder
os grandes avanços sociais
conseguidos na última dé-
cada. É certo que existe um
desejo de mudança e que o
eleitorado brindou com os
candidatos que propunham
romper com o status quo
(Marina Silva, Aécio Neves e
Luis Lacalle Pou). No entanto, na hora da verdade, prevaleceram uma postura mais
"conservadora" e o medo de
apostar em alternativas sobre as quais pairava a dúvida
sobre se preservariam o progresso social obtido nos últimos anos. Os vários e generosos programas sociais são
uma poderosa arma clientelar que geram lealdade política e benefícios eleitorais
para os oficialismos".
A exceção boliviana
A política na América Latina atravessou em 2014 um período de
grande volatilidade e incerteza nas
diversas eleições que aconteceram
na região. Ocorreu, como se pôde
comprovar nas linhas anteriores,
em El Salvador e na Colômbia na
primeira metade do ano e no Brasil e no Uruguai na segunda. Mas
essa incerteza e essa volatilidade
não ocorreram na Bolívia, onde
Evo Morales foi reeleito para o
período 2015-2020 com 61% dos
votos e uma distância de mais de
35 pontos sobre seu principal rival,
Samuel Doria Medina, que acabou
com 24% dos votos. A contundente
vitória eleitoral veio acompanhada
de uma confirmação da hegemonia do Movimento ao Socialismo,
o partido de Morales, de um ponto
de vista geográfico: foi o mais votado em todos os departamentos,
menos em Beni, e o MAS se impôs
em 8 dos 9 departamentos. Mesmo
Infografia elaborada pela El País
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BALANÇO POLÍTICO 2014, RUMO A UMA MUDANÇA
DE CICLO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA?
“Esses resultados de
2014, confirmaram
a forte hegemonia
masista e evista na
Bolívia, que não parece
decair com o passar
dos anos”
perdendo em Beni, Morales subiu lá
de 37,66% para 43%. Também esse
predomínio se deu de um ponto de
vista legislativo, onde o "masismo"
conquistou em 2014 dois terços do
legislativo, o que lhe permitiu mudar a Constituição sem necessidade
de pactuar com a oposição.
Os resultados eleitorais
O resultado da eleição de 12 de
outubro não deixou margem para
dúvidas, já que Morales se impôs
em oito dos nove departamentos,
incluindo Santa Cruz de la Sierra.
Embora nas principais circunscrições andinas sua candidatura tenha sofrido retrocessos significativos, sempre superou ou rondou
60% dos votos:
Além deste triunfo contundente
de Morales, a jornada eleitoral foi
marcada, uma vez fechados os colégios, por graves falhas técnicas
que atrasaram o conhecimento
dos resultados oficiais durante três
dias. Nesse tempo, os únicos dados
indubitáveis eram as estimativas de
boca de urna realizadas na noite de
domingo, as quais davam a vitória a
Morales por mais de 60% dos votos.
Foi, portanto, uma vitória contundente que já anunciava o próximo
passo e a força de Evo Morales:
seguir em direção à conquista de
todo o poder local nas eleições
departamentais de 2015. Com os
resultados das eleições em 2014
(e embora as eleições em âmbitos
sub-nacionais tenham outro tipo
de dinâmica), o MAS conquistou
a vitória por mais de 50% dos votos em todos os departamentos,
exceto Beni (onde só alcançou
41%) e em Santa Cruz, onde, de
qualquer forma, foi a força mais
votada, com 49,07%:
Mas, por que a Bolívia representa
uma exceção quanto à hegemonia
da administração governante em
comparação com as dificuldades
pelas quais atravessam outros governoss na região?
Esses resultados de 2014, como os
de 2005 (quando Evo Morales recebeu 54% dos votos) e os de 2009
(quando obteve 64%) confirmaram a forte hegemonia masista e
evista na Bolívia, que não parece
decair com o passar dos anos (o
apoio a Morales diminuiu apenas
quatro pontos entre 2009 e 2014
e continua acima de 60%). Uma
hegemonia que se explica pelo
colapso do sistema de partidos
vigente desde 1982 e pelo auge
econômico que proporcionou ao
governo Morales receitas suficientes para pôr em prática uma ambiciosa política social.
Dados e infografia do TSE da Bolívia
13
BALANÇO POLÍTICO 2014, RUMO A UMA MUDANÇA
DE CICLO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA?
Fonte e infografia: La Razón
Após a nacionalização dos hidrocarbonetos em 2006, a arrecadação do Estado alcançou US$ 2,3
bilhões. Em 2005, ela era de apenas US$ 526 milhões, 334,6% de
aumento. A nacionalização dos hidrocarbonetos, além disso, gerou
receitas nos últimos sete anos de
US$ 19 bilhões, comparados com
os US$ 3,3 bilhões do quinquênio
precedente. Essas novas receitas
explicam as políticas redistributivas que permitiram que quase um
terço da população boliviana (3,2
milhões de pessoas) receba um
bônus de assistência social e ajuda
econômica direta do Estado (seja
através do bônus Juancito Pinto, para os estudantes; da Renda
Dignidade, para os idosos; ou do
bônus Juana Azurduy de Padilla,
destinado às mulheres grávidas e
crianças menores de dois anos).
Essa expansão econômica (o
país cresce acima de 4% desde
2010) e o excedente de receita
explicam, além disso, como um
regime que esteve a ponto de
entrar em colapso entre 2006 e
2009 e levar o país a um conflito civil acabou se consolidando
muito firmemente:
Reforçado e relegitimado com sua
nova reeleição de 2014, Evo Morales encara um quinquênio que
será marcado por três variáveis:
• Do ponto de vista político,
tudo vai girar em torno de
se Morales tentará ou não a
reeleição em 2020. A constituição de 2009 não a permite, e o presidente boliviano
declarou que não tem desejo
de continuar no cargo.
Infografia elaborada pelo jornal La Razón
14
BALANÇO POLÍTICO 2014, RUMO A UMA MUDANÇA
DE CICLO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA?
“O futuro da Bolívia
e de seu atual
regime depende da
decisão final que Evo
Morales tomar, dada a
‘evodependência’ de
seu partido”
Mas o certo é que o projeto masista e evista não tem
um herdeiro ou afilhado político claro, e a dependência
do MAS e do regime da figura carismática e de grande
simbolismo encarnada por
Evo Morales provoca que,
sem sua liderança, o projeto
construído desde 2006 pode
entrar em colapso e desaparecer. Além disso, os exemplos regionais (a reeleição de
Hugo Chávez, Rafael Correa,
Daniel Ortega...) fazem com
que se fortaleçam as dúvidas
em torno de um Evo Morales
fora da política em 2020 e dedicado a administrar um restaurante (como chegou a afirmar). O futuro da Bolívia e de
seu atual regime depende da
decisão final que Evo Morales
tomar, dada a "evodependência" de seu partido.
• No campo econômico, apesar de Evo Morales manter
um discurso anti-imperialista
e de reivindicação anticolonialista, seu modo de atuar
desde 2009 é de caráter desenvolvimentista, em aliança
estreita com a elite empresarial. Especialmente com o
departamento de Santa Cruz,
tradicionalmente opositor a
sua gestão, mas onde nestas
eleições ele ganhou com vasta margem, com quase 50%
dos votos.
Ele mantém assim um discurso "revolucionário" ("Ganhou
a dignidade e a soberania do
povo boliviano, e (o triunfo)
está dedicado a todos os povos
do mundo que lutam contra o
imperialismo"), mas o caminho
que vai seguir neste quinquênio será, ainda mais notadamente, desenvolvimentista, já
que pretende dar um impulso
à industrialização do gás, do
lítio e do ferro. Segundo Morales, "a meta está claríssima,
não continuar exportando a
matéria-prima em ferro, mas
sim exportá-la (industrializada) para a construção".
Mas promover essa industrialização requer investimentos
que o Estado boliviano não
pode, por si só, realizar, devendo então buscá-los no
exterior (Rússia ou China)
ou também atraindo outros
capitais estrangeiros. Nesse sentido, as relações com
grandes corporações como a
Repsol YPF, mesmo após as
estatizações, acabaram sendo excelentes. De fato, suas
tradicionais nacionalizações
nos dias 1º de maio talvez
continuem a ocorrer, mas
não vão afetar esses grandes
consórcios internacionais. Em
2013, o próprio Evo assim se
manifestou: "às empresas que
investem, quero dizer que
está garantido o investimento, mas também recuperar
seu investimento e que têm
direito às utilidades".
De qualquer forma, certas
dúvidas se mantêm sobre a
viabilidade do modelo econômico no qual o regime se
sustenta e recebeu nestes
últimos anos um alto crescimento econômico. Agora que
a região entra em um período
de resfriamento, que pode
15
BALANÇO POLÍTICO 2014, RUMO A UMA MUDANÇA
DE CICLO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA?
“As eleições
uruguaias fecharam
o ano eleitoral na
América Latina
e, em si próprias,
resumiram todas
as dinâmicas que
caracterizaram a
região ao longo
de 2014”
acabar afetando a Bolívia,
não parece tão viável a política monetária baseada em
congelar o câmbio, no crescimento da dívida interna,
na forte expansão dos gastos públicos ou no aumento
substancial de trabalhadores
nas empresas estatais.
• A terceira dinâmica que vai
marcar este quinquênio vai
ser a da própria natureza do
regime.
O acúmulo de poder conseguido por Evo Morales nestas
eleições, nas quais conseguiu
dois terços do legislativo e
que terminaram com a oposição muito golpeada, estende
dúvidas sobre a capacidade
de fiscalização que essa oposição fragilizada terá no Legislativo. E, nesse sentido,
tudo parece indicar que neste quinquênio não será interrompido o caminho do governo liderado por Evo Morales
em direção à construção de
um sistema altamente clientelista, personalista e escassamente institucionalizado.
Como afirma o ex-presidente boliviano Carlos Mesa, "o
estado de direito está seriamente debilitado, um enfraquecimento que tem a ver
com uma profunda desinstitucionalização em todas as
ordens, que está disfarçada
pela força pessoal, pelo poder de convocação e a legitimidade de origem do presidente, que concentra tudo
nele próprio. É tempo de lhe
perguntar se acredita de ver-
dade que esse culto à personalidade (multiplicado em
suas imagens em todo o país)
e sua onipresença na imprensa estatal e paraestatal, são
saudáveis para seu projeto
histórico e para sua própria
conexão com a realidade".
As eleições uruguaias
As eleições uruguaias fecharam
o ano eleitoral na América Latina e, em si próprias, resumiram
todas as dinâmicas que caracterizaram a região ao longo de
2014, especialmente na região
sul-americana:
• A Frente Ampla (no poder
desde 2005) ganhou, como
se impuseram os partidos
que ocupam a presidência
em Colômbia, Brasil, Bolívia
e El Salvador.
• A esquerda triunfou, neste
caso a esquerda moderada
e reformista encarnada por
Tabaré Vázquez, da mesma
forma que venceu a esquerda em El Salvador e Bolívia e
a centro-esquerda na Costa
Rica e no Brasil, e o centro
(Santos) apoiado pela esquerda na Colômbia.
• Foi, além disso, uma vitória no segundo turno, como
ocorreu em Colômbia, Brasil,
Costa Rica e El Salvador.
• Além disso, a oposição uruguaia, apesar de com menos
força que nos casos colombiano e brasileiro, encarnou
o voto dos setores emergentes, que reivindicam melho-
16
BALANÇO POLÍTICO 2014, RUMO A UMA MUDANÇA
DE CICLO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA?
res serviços públicos, cansaço
com a hegemonia do governo
e certo mal-estar com a crescente pressão fiscal.
A campanha para o primeiro e o
segundo turno nas eleições presidenciais do Uruguai foi o dia e
a noite deste processo eleitoral.
Se a emoção e a incerteza predominaram na primeira votação, o
aborrecimento e a falta de tensão
abriram o caminho para o segundo turno. Luis Lacalle Pou, o candidato do Partido Nacional, foi
o responsável por transformar a
campanha para o pleito de 26 de
outubro em um duelo apaixonante com o candidato da governista
Frente Ampla, Tabaré Vázquez.
Sua ascensão nas pesquisas parecia ameaçar a reeleição de Vázquez e se transformou no grande
fator de agitação da campanha
entre julho e outubro por sua
mensagem revigorada e suas propostas atraentes e renovadoras.
Fonte e infografia: jornal El País
No entanto, os resultados das
eleições de 26 de outubro frus-
traram quase toda emoção: Tabaré Vázquez ficou às portas da
reeleição ao conseguir 47,8% dos
votos, enquanto a soma de brancos (Lacalle Pou, 31%) e colorados (Pedro Bordaberry, 13%) não
foi suficiente para derrotar a
Frente Ampla.
Além disso, essa perda de emoção se viu confirmada quando
apareceram as primeiras pesquisas para o segundo turno: o
ex-presidente Tabaré Vázquez
(2005-2010) mantinha sua ampla
vantagem a menos de três semanas do segundo turno no Uruguai.
Os resultados finais após as eleições de 30 de novembro confirmaram estas pesquisas: Tabaré
Vázquez venceu Lacalle Pou por
mais de 12 pontos de vantagem.
Com 100% dos votos apurados,
a chapa integrada por Tabaré
Vázquez e Raúl Sendic recebeu
53,6% deles (1.226.105 votos),
contra 41,1% (939.074) de Lacalle Pou e Jorge Larrañaga, do
Partido Nacional (Blanco).
3. CONCLUSÕES
Dados e infografia: Factum
O ano de 2014 acabou sendo muito importante do ponto de vista
eleitoral na América Latina. Importante pelo que aconteceu e
também pelo que se anuncia para
as próximas eleições: foi se confirmando que a região pode estar
às portas de uma mudança de seu
ciclo político-eleitoral, o qual estaria germinando e é produto, por
sua vez, das mudanças sociais e
econômicas ocorridas ao longo da
última década. Todo esse coquetel
fez com que as hegemonias políti-
17
BALANÇO POLÍTICO 2014, RUMO A UMA MUDANÇA
DE CICLO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA?
“A região pode estar às
portas de uma mudança
de seu ciclo políticoeleitoral, o qual
estaria germinando e é
produto, por sua vez,
das mudanças sociais e
econômicas ocorridas
ao longo da
última década”
cas ficassem em risco, e possivelmente estarão ainda mais no futuro próximo: a reeleição de Juan
Manuel Santos esteve perto de não
ocorrer, e as hegemonias do PT no
Brasil, da FMLN em El Salvador e
da Frente Ampla no Uruguai estiveram sob ameaça. Na Costa Rica,
acabou o predomínio do PLN.
O que pode estar ocorrendo? Na
realidade, em 2014 confluíram
uma série de dinâmicas de caráter
conjuntural e geral que explicam,
em grande parte, a atual situação
e preanunciam o que pode vir:
• Em primeiro lugar, em muitos
países se assiste a um progressivo esgotamento de determinadas hegemonias políticas.
É o caso do predomínio do PLN
na Costa Rica (2006-2014), do
lulismo no Brasil (no poder
desde 2003 e que obteve em
2014 o pior resultado desde
2002), ou o da Frente Ampla
uruguaia (que vai completar,
em 2020, 15 anos à frente do
país). Ocorre, de forma similar, com o chavismo na Venezuela, força predominante
desde 1999, ou o kirchnerismo na Argentina, que ocupa a
Casa Rosada desde 2003.
• Os partidos no poder seguem
vencendo nas urnas, embora suas vitórias se mostrem
muito mais difíceis de repetir no futuro.
Nesse sentido, os casos mais
emblemáticos foram os de
Juan Manuel Santos que, antes
de conseguir a reeleição, ficou
atrás da principal referência
opositora, o uribista Óscar Iván
Zuluaga; e o caso de Salvador
Sánchez Cerén, que no segundo turno venceu por apenas
seis mil votos.
Um exemplo paradigmático
foi o ocorrido no Brasil. Os
resultados do segundo turno
apontaram como vencedora a
candidata do PT, que se impôs por pouco mais de três
pontos: foi o pior resultado
do partido fundado por Lula
desde 2002.
O PT conseguiu derrotar o PSDB
em 2002, 2006 e 2010: Lula
venceu José Serra em 2002 por
mais de 22 pontos, e Geraldo
Alckmin em 2006 por mais de
20, enquanto Dilma fez o mesmo com Serra em 2010 por
quase 12 pontos de vantagem.
Contra Aécio Neves, em 2014,
as diferenças ficaram reduzidas a apenas 3 pontos:
De qualquer forma, as reeleições consecutivas (como as
ocorridas neste ano em Colômbia, Brasil e Bolívia) continuam a ser uma forte tendência: todos os presidentes
sul-americanos que tentaram
a reeleição imediata entre
1978 e 2014 a conseguiram. Os
dois únicos exemplos de presidentes que queriam permanecer no poder e não conseguiram são dois líderes de fora do
cenário sul-americano: Daniel
Ortega em 1990 na Nicarágua
e Hipólito Mejía em 2004 na
República Dominicana.
18
BALANÇO POLÍTICO 2014, RUMO A UMA MUDANÇA
DE CICLO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA?
“É cada vez mais
evidente que os
partidos governistas
têm muito trabalho
para ganhar as eleições
com comodidade”
Fonte: jornal El País
Todos os partidos governistas
levaram a melhor nas eleições
que aconteceram em 2014 na
América do Sul. Juan Manuel
Santos venceu na Colômbia,
Evo Morales na Bolívia, Dilma
Rousseff no Brasil e Tabaré Vázquez no Uruguai. O que acontece com as oposições que criam
tantas expectativas e acabam
derrotadas uma após a outra
nos pleitos sul-americanos?
Curiosamente, quando tudo indicava que as oposições tinham
a possibilidade de derrotar os
governistas (pelo menos em
Colômbia, Brasil e Uruguai),
todas foram vencidas. Quando
parecia que essas oposições
captavam o mal-estar popular,
sobretudo da classe médias, na
hora da verdade, as urnas lhes
deram as costas.nas les han
dado la espalda.
Como afirma Daniel Zovatto,
"é cada vez mais evidente que
os partidos governistas têm
muito trabalho para ganhar
as eleições com comodidade
(como ocorreu em El Salvador,
na Colômbia e voltou a acontecer no Brasil). Mas também
é certo que para as oposições
também não parece fácil derrotar os governistas (fracassaram neste ano em El Salvador, Colômbia, Bolívia, Brasil
e, provavelmente, também
no Uruguai). O eleitorado parece estar optando não tanto pela mudança, entendida
como alternância, mas pela
mudança na continuidade, reelegendo os governistas, mas
ao mesmo tempo lhes enviando uma mensagem de insatisfação com a atual situação".
Apesar de todos os fracassos
opositores, tudo indica que
nada será igual. As hegemonias esmagadoras, salvo
exceções como a de Evo Morales, vão ser uma avis rara.
A ascensão da oposição na
América do Sul veio para ficar
(forçaram, em três dos quatro casos, o segundo turno), e
2014 foi a primeira passagem
de um fenômeno emergente.
Em palavras do analista Julio
Burdman, "a reeleição de Dilma Rousseff no Brasil, e antes a de Morales na Bolívia,
conspiram contra a tese do
"momentum" opositor... Váz-
19
BALANÇO POLÍTICO 2014, RUMO A UMA MUDANÇA
DE CICLO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA?
“As classes médias
emergentes, que
cresceram nestes
anos de bonança e
estabilidade política,
agora pedem outras
coisas: melhoras nos
serviços públicos
(saúde, transporte
público e educação),
maior segurança e
menos corrupção”
quez, junto com Bachelet e
Lula, faz parte de uma geração de presidentes sul-americanos de longa duração que
continuam ocupando o centro
das cenas políticas. Dentro de
alguns anos, por isso mesmo,
certamente a demanda geracional será um issue mais poderoso; ainda está verde".
• Além de desgaste, essas hegemonias partidárias perderam
conexão com a sociedade em
uma dupla frente:
»»
Por um lado, com as novas
gerações que não viram
outra coisa no poder, por
exemplo, que não fosse o
PT no Brasil ou a Frente
Ampla no Uruguai e que
chegam agora à maioridade para votar. A diretora
da empresa de consultoria uruguaia Cifra, Mariana Pomiés, o explica assim para o caso uruguaio:
"Dito futebolisticamente,
a categoria de base da
Frente Ampla eram os jovens, e o que nós vínhamos vendo principalmente no último ano é uma
mudança nessa predisposição natural dos jovens a
votar na Frente Ampla".
»»
Por outro lado, as classes
médias emergentes, que
cresceram nestes anos de
bonança e estabilidade política, agora pedem outras
coisas: melhoras nos serviços públicos (saúde, transporte público e educação),
maior segurança e menos
corrupção. Uma agenda re-
novada, diante da qual os
partidos no poder não estão sabendo, no momento,
reagir de forma adequada.
O analista Álvaro Vargas
Llosa explica que "essa
classe média emergente,
que a estatística classifica
como "classe C" no Brasil,
se desiludiu com o governo... Não é difícil entender o que acontece. Essa
classe média começa a
advertir que, como na Cinderela, o encantamento
pode acabar à meia-noite,
e tudo pode voltar à medíocre realidade. O Brasil
não cresce há quatro anos
e, se as coisas continuarem
assim, o incipiente sinal
de aumento do desemprego após tantos anos de
emprego abundante pode
ganhar a força de uma tendência. Além disso, essas
famílias ―acrescenta Vargas Llosa― estão bastante
endividadas e já dedicam
uma grande porcentagem
de suas receitas a saldar
esses créditos. Por fim, a
expectativa que sua nova
condição despertou nelas
no que diz respeito aos
serviços públicos se chocou
com um Estado terrivelmente de terceiro mundo,
muito afastado do sonho
dos fulgurantes Bric de
poucos anos atrás".
• A região continua a ser politicamente heterogênea
As eleições de 2014 em Costa Rica, El Salvador, Panamá,
20
BALANÇO POLÍTICO 2014, RUMO A UMA MUDANÇA
DE CICLO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA?
“2014 pode ser
contemplado como o
primeiro ano de uma
mudança de ciclo. Um
novo ciclo político
que se abre e que se
caracterizaria pela
volatilidade eleitoral e
o enfraquecimento das
hegemonias partidárias
e personalistas”
Colômbia, Brasil, Bolívia e
Uruguai mostraram uma região, do ponto de vista político, social e econômico,
muito heterogênea. As diferentes esquerdas triunfaram
em quatro das cinco eleições
sul-americanas que aconteceram nos últimos 12 meses, e
em cinco das sete realizadas
na América Latina. A reeleição de Juan Manuel Santos na
Colômbia foi a única exceção
a essa tendência regional.
Isso contrasta com o ocorrido
na América Central e México,
onde há maior heterogeneidade entre vitórias da esquerda
(como a da FMLN em El Salvador), centro-esquerda (PAC na
Costa Rica), centro-direita e
direita ( Partido Panamenhista de Juan Carlos Varela).
• Em quinto lugar, a economia
não acompanhou nesta conjuntura de 2014 os partidos
governistas. O enfraquecimento que afeta a região começa a ser percebido, talvez
se faça mais claramente em
2015, e isso não contribui
para dar continuidade, nem
para sustentar os projetos
dos diferentes partidos no
poder. O baixo crescimento
econômico, que pode conti-
VITÓRIAS DA ESQUERDA EM
2014
Salvador Sánchez Cerén (El Salvador)
Evo Morales (Bolivia)
Dilma Rousseff (Brasil)
VITÓRIAS DA CENTRO-ESQUERDA Luis Guillermo Solís (Costa Rica)
EM 2014
Tabaré Vázquez (Uruguai)
VITÓRIAS DA CENTRO-DIREITA
EM 2014
Juan Manuel Santos (Colômbia)
Juan Carlos Varela (Panamá)
nuar nos próximos anos, terá
uma consequência direta sobre o aumento do mal-estar
popular e os vaivéns nas intenções de voto.
Na realidade, devido a todos
estes ingredientes analisados,
pode se considerar que 2014
pode ser contemplado como o
primeiro ano de uma mudança
de ciclo. Um novo ciclo político que se abre e que se caracterizaria pela volatilidade
eleitoral e o enfraquecimento
das hegemonias partidárias e
personalistas. Tudo isso dentro
de uma economia menos pujante, em certas ocasiões até
imersa em crise (Venezuela e
Argentina), e uma sociedade
mais heterogênea, na qual vão
aflorar várias contradições e
um mal-estar latente e, sobretudo, crescente. Tudo indica
que pode estar se formando
um tempo de maior volatilidade, produto das mudanças
sociais (aumento dos protestos
e a insatisfação da classe média emergente) e econômicas
(arrefecimento mundial). Uma
volatilidade que vai ter como
consequência direta as longas
hegemonias políticas serem
muito mais difícil de manter.
Em 2015, por exemplo, será
mais difícil de manter o predomínio kirchnerista e, sobretudo, que ocorram vitórias arrasadoras como as de Cristina
Kirchner em 2007 e 2011.
Na realidade, assiste-se a
uma conjuntura na qual a
região se encontra em plena
transição. Uma tripla transição que é:
Fonte: elaboração própria
21
BALANÇO POLÍTICO 2014, RUMO A UMA MUDANÇA
DE CICLO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA?
“A opinião pública
reivindica mudanças,
mas não existe uma
clara agenda de
para onde se deseja
caminhar”
»»
Social, pela urgência das
classes médias, as quais
tiveram
alteradas
as
agendas, as políticas públicas e até as próprias
relações sociais.
»»
Política, provocada também pelas mudanças e
tensões que os sistemas
de partidos sofrem e pelos problemas dos próprios regimes políticos
para canalizar essas novas reivindicações.
»»
Econômica, devido ao fim
da década de auge e crescimento que a América Latina viveu baseada nos altos preços das exportações
de commodities.
Además, en un contexto de
Além disso, em um contexto
de arrefecimento econômico,
aumento de expectativas e
reivindicações sociais, as fidelidades partidárias e a determinadas lideranças são cada
vez mais voláteis. A opinião
pública reivindica mudanças,
mas não existe uma clara
agenda de para onde se deseja
caminhar. Como explica Juan
Arias no jornal El País para o
caso do Brasil, "74% dos brasileiros pedem uma mudança,
segundo o Instituto Datafolha, mas ao mesmo tempo se
movimentam entre dois sentimentos: o desejo de algo que
melhore suas vidas, já que
não lhes basta o obtido nestes
12 anos, e o medo de que essa
mudança os faça perder o que
já foi conquistado, sobretudo
por parte dos que são mais
pobres e mais se beneficiaram
das ajudas sociais dos governos do PT. Eles representam a
grande maioria dos eleitores
da candidata Rousseff".
Definitivamente,
amanhece uma América Latina mais
difícil de governar porque
a região está entrando em
uma nova etapa econômica
e social de sua história (muito mais complexa, de menor crescimento e maiores
tensões e reivindicações das
emergentes classes médias
e dos setores populares). E
tudo isso tem consequências
diretas sobre os sistemas de
partidos e a governabilidade
dos países da região, já que
põe a toda prova a capacidade dos governos para canalizar adequadamente as pressões sociais e impulsionar
políticas públicas que encontrem um consenso generalizado entre os cidadãos.
22
A LLORENTE & CUENCA é a primeira consultoria de Comunicação da Espanha, Portugal e América Latina. Conta com 17 sócios e 330 profissionais que prestam
serviços de consultoria estratégica a empresas de todos os setores de atividades, com operações voltadas para o mundo que fala espanhol e português.
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Seu desenvolvimento internacional levou a LLORENTE & CUENCA a ocupar, em 2014, a posição 55.ª do Ranking Global das empresas de comunicação mais
importantes do mundo, produzido anualmente pela publicação The Holmes Report.
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