nevo de spitz

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NEVO DE SPITZ: RELATO DE CASO TÍPICO E
ABORDAGEM GUIADA POR DERMATOSCOPIA
Gabriela Itimura¹, Gardênia Viana da Silva ¹ Agnes Mayumi Nakano Oliveira¹, Sadamitsu Nakandakari¹ ,
Cleverson Teixeira Soares¹
¹ INSTITUTO LAURO DE SOUZA LIMA (ILSL)
RESUMO
INTRODUÇÃO: Os nevos de Spitz (NS), ou nevos de células fusiformes e/ou epitelióides, são um grupo especial de lesões melanocíticas benignas com características peculiares. Observouse que em 71% a 92% dos casos, os NS se apresentam como lesão pigmentada. A pigmentação, muitas vezes intensa, associada ao aparecimento súbito da lesão torna importante o
diagnóstico diferencial com melanoma maligno (MM). Relata-se um caso de NS com apresentação clínicoepidemiológica típica com enfoque nas particularidades dermatoscópicas e
histopatológicas. RELATO DE CASO: Paciente feminina, 11 anos, com mácula acastanhada no membro inferior esquerdo (MI) há 4 anos de crescimento rápido e alteração recente da cor. Ao
exame, apresentava placa hipercrômica com mais de duas tonalidades com área central esbranquiçada e borda circular levemente irregular em MI. À dermatoscopia, observava-se lesão
heterogênea com padrão global atípico. Possuía área superior hipercrômica lembrando véu azul acinzentado e área inferior também hipercrômica com tons de castanho a preto. Realizada
biópsia excisional, cujo anatomopatológico mostrou proliferação de melanócitos ao longo da junção dermoepidérmica com agregados de células melanocíticas epitelióides e fusiformes em
ninhos na profundidade dérmica com focos de migração pagetóide; compatível com nevo de Spitz composto. CONCLUSÕES: O NS é uma lesão incomum que corresponde a 1 % das lesões
melanocíticas excisadas cirurgicamente. O caso relatado exemplifica epidemiologia e clínica típicas do NS: lesão pigmentada em MI com aparecimento na primeira década de vida com área
central que tornou-se mais clara recentemente. Ressalta-se, ainda, que o padrão dermatoscópico atípico, como o deste trabalho, é o mais difícil de ser diferenciado do MM, por isso a maioria
dos estudos recomenda exérese dessas lesões. A conduta nos pacientes com NS carece de padronização na literatura, assim, relatos de casos como este visam fomentar novos estudos
multisistêmicos de acompanhamento longitudinal que reúnam clínica, dermatoscopia e histopatologia como ferramentas para definir o melhor seguimento para os pacientes com NS.
INTRODUÇÃO
O nevo de Spitz (NS), ou nevo de células fusiformes e/ou epitelióides,
constitui um grupo especial de lesões melanocíticas benignas com
características peculiares, tanto clínicas como dermatoscópicas e
histopatológicas. Foi descrito pela primeira vez em 1948 por Sophie Spitz
como melanoma da infância, sendo caracterizado por uma pápula ou
nódulo eritematoso, com crescimento rápido e localizado mais
frequentemente nas extremidades ou na face de crianças e adolescentes.
Recentemente, porém, observou-se que em 71% a 92% dos casos, os NS
se apresentam como lesão pigmentada. A pigmentação, muitas vezes
intensa, associada ao aparecimento súbito da lesão torna importante o
diagnóstico diferencial com melanoma. Neste contexto, surge a
dermatoscopia, elo entre o exame clínico e o anatomopatológico, como
método diagnóstico auxiliar importante cuja acurácia pode chegar a 93%.
Relata-se um caso de NS com apresentação clínicoepidemiológica típica
com enfoque nas particularidades dermatoscópicas e histopatológicas.
Tabela 1: Critérios diagnósticos do Complexo de Esclerose Tuberosa
Figura 3: Proliferação de melanócitos ao longo da junção dermoepidérmica com agregados de células
melanocíticas epitelióides e fusiformes em ninhos na profundidade dérmica com focos de migração
pagetóide
RELATO DO CASO
Paciente feminina, 11 anos, com mácula acastanhada no membro inferior
esquerdo há 4 anos de crescimento rápido e alteração recente da cor.
Relatava que a lesão era pruriginosa e sangrava pelo ato de coçar. Referia
que o avô paterno teve câncer de pele. Ao exame, apresentava placa
hipercrômica com mais de duas tonalidades acastanhadas a enegrecidas
com área central esbranquiçada e borda circular levemente irregular em
membro inferior esquerdo (FIGURA 1). À dermatoscopia, observava-se
lesão heterogênea com padrão global atípico. Possuía área superior
hipercrômica lembrando véu azul acinzentado e área inferior também
hipercrômica com tons de castanho a preto; apresentava ainda área central
hipocrômica (FIGURA 2). Realizada biópsia excisional, cujo
anatomopatológico mostrou proliferação de melanócitos ao longo da junção
dermoepidérmica com agregados de células melanocíticas epitelióides e
fusiformes em ninhos na profundidade dérmica com focos de migração
pagetóide; compatível com nevo de Spitz composto sendo que as margens
estavam livres de comprometimento névico (FIGURA 3 e 4). Paciente
mantém acompanhamento no serviço com retorno anual.
Figura 1: Placa hipercrômica com mais de duas tonalidades acastanhadas a enegrecidas com área
central esbranquiçada e borda circular levemente irregular em membro inferior esquerdo
Figura 4: Proliferação de melanócitos ao longo da junção dermoepidérmica com agregados de células
melanocíticas epitelióides e fusiformes em ninhos na profundidade dérmica com focos de migração
pagetóide
DISCUSSÃO
O NS é uma lesão incomum que corresponde a 1 % das lesões
melanocíticas excisadas cirurgicamente. Clinicamente, é benigna, indolente,
geralmente adquirida, acastanhada e simétrica. É mais observado em
crianças e jovens e é rara em pacientes idosos, levantando a hipótese de
regressão das lesões com a idade. Manifesta-se, sobretudo, na face e nas
extremidades, com diâmetro menor que um centímetro. Assim, o caso
relatado exemplifica epidemiologia e clínica típicas do NS por trata-se de
lesão pigmentada em membro inferior com aparecimento na primeira década
de vida com área central que tornou-se mais clara ao longo dos últimos
meses. Quanto à dermatoscopia do NS são descritos três padrões distintos.
O padrão mais relevante é o estrelar (“starburst”), que ocorre em 53% dos
casos e caracteriza-se pela presença de múltiplas estrias pigmentadas e/ou
glóbulos grandes, castanhos ou pretos, distribuídos simetricamente na
periferia da lesão com aspecto radiado. O segundo padrão é o globular, que
ocorre em 22% dos casos, com a presença de pigmentação central regular
acastanhada ou acinzentada e glóbulos acastanhados na periferia. Já o
terceiro padrão, responsável por 25% dos casos, é o atípico. Este se
caracteriza por distribuição desigual ou ausência de estruturas, presença de
áreas com pigmentação irregular difusa, véu azul esbranquiçado e pode,
ainda, conter estrias radiadas na periferia e padrão vascular pontuado.
Ressalta-se que o padrão dermatoscópico atípico, exemplificado neste
trabalho, é o mais difícil de ser diferenciado do melanoma maligno, por isso a
maioria dos estudos recomenda exérese dessas lesões com exame
anatomopatológico. Na histopatologia do NS encontram-se melanócitos
grandes com aspecto epitelióide ou fusiforme, com ou sem atipia nuclear e
citoplasma abundante de diferentes morfologias, dispostos em ninhos. Os
NS, histopatologicamente, são classificados como juncionais, intradérmicos
ou, mais comumente, compostos. O caso relatado corresponde ao padrão
composto com proliferação de melanócitos ao longo da junção
dermoepidérmica, agregados de células melanocíticas fusiformes e
epitelióides formando ninhos na profundidade da derme. Apresenta, ainda,
particularidades que apontam para NS com atipias como o aspecto
pagetóide e a presença de inclusões nucleares (FIGURAS 3 e 4). A conduta
nos pacientes com NS carece de padronização na literatura, assim, relatos
de casos como este visam fomentar novos estudos multisistêmicos de
acompanhamento longitudinal que reúnam clínica, dermatoscopia e
histopatologia como ferramentas para definir o melhor seguimento para os
pacientes com NS.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Figura 2: À dermatoscopia, observava-se lesão heterogênea com padrão global atípico. Possuía área
superior hipercrômica lembrando véu azul acinzentado e área inferior também hipercrômica com tons
de castanho a preto; apresentava ainda área central hipocrômica.
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