20 e 21/01/2011
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Pensamento do Dia Economistas analisam a Economia, o Brasil e o mundo, mundo, na mídia diária 20 e 21 01 2011 2011 ------------------------------------------------------------------Valor Econômico - 21/01/2011 Foram os pobres que causaram a crise? Simon Johnson Os EUA continuam cindidos por um acalorado debate sobre as causas da crise financeira em 2007-2009. Será o governo culpado e, em caso afirmativo, em que sentido? Em dezembro, a minoria republicana na Comissão de Investigação sobre a Crise Financeira (FCIC, em inglês), considerou uma narrativa discordante. De acordo com esse grupo, políticas governamentais equivocadas, visando ampliar a posse de casas próprias por pessoas relativamente pobres, induziu muita gente a assumir financiamentos de quitação incerta (subprime) que não conseguiriam honrar. Essa narrativa pode conquistar muita adesão, especialmente numa Câmara dos Deputados controlada pelos republicanos e na campanha para a eleição presidencial de 2012. Mas, embora os republicanos na FCIC escrevam com eloquência, têm eles alguma prova em apoio a suas afirmações? Terão sido os pobres nos EUA os responsáveis pela mais grave crise mundial em mais de uma geração? Não, de acordo com Daron Acemoglu, do MIT (e co-autor, comigo, na análise de outros tópicos), que apresentou suas conclusões na reunião anual da American Finance Association no início de janeiro. (Os slides estão em sua página no site do MIT). Acemoglu divide a narrativa republicana em três questões distintas. Em primeiro lugar, haverá evidências de que políticos americanos são sensíveis às preferências ou desejos do eleitorado de baixa renda? As evidências sobre esse ponto não são tão categóricas quanto se poderia desejar, mas o que temos - por exemplo, com base no trabalho de Larry Bartels, da Universidade de Princeton - sugere que nos últimos 50 anos praticamente toda a elite política americana deixou de compartilhar as preferências do eleitorado de baixa ou média renda. As opiniões dos ocupantes de cargos públicos aproximaram-se bem mais das comumente encontradas no topo da distribuição de renda. Existem várias teorias sobre por que essa mudança ocorreu. Em nosso livro "13 Bankers" (13 banqueiros), James Kwak e eu enfatizamos uma combinação do crescente papel do aumento das contribuições para campanhas - a "porta giratória" entre Wall Street e Washington - e, acima de tudo, uma mudança ideológica: a opinião de que financiar é bom e quanto mais financiamento sem restrições é melhor. Há um corolário evidente: as vozes e os interesses das pessoas relativamente pobres em nada contam na política americana. A avaliação de Acemoglu sobre resultados de pesquisas recentes sobre a atividade lobista é de que partes do setor privado desejavam que a regulamentação financeira fosse relaxada e empenharam-se arduamente, e gastaram muito dinheiro, para obter esse resultado. O impulso para criação do grande mercado subprime veio de dentro do setor privado: "inovações" implementadas por financiadoras habitacionais gigantes, como a Countrywide, a Ameriquest e muitas outras, apoiadas pelos grandes bancos de investimento. E, para sermos bastante claros, foram algumas das maiores instituições financeiras de Wall Street, e não mutuários não alavancados, que receberam generoso socorro governamental no rescaldo da crise. Acemoglu em seguida indaga se há indícios de que a distribuição de renda piorou nos EUA no final de 1990, induzindo os políticos a reagir afrouxando as rédeas dos empréstimos concedidos às pessoas que estavam ficando para trás. A renda nos EUA tornou-se, efetivamente, muito mais desigual nos últimos 40 anos, mas o "cronograma da desigualdade" não se encaixa, de modo algum, nessa história. Por exemplo, dos trabalhos que Acemoglu realizou com David Autor (também do MIT), sabemos que as rendas dos 10% mais ricos cresceram sensivelmente durante os anos 1980. As rendas semanais cresceram lentamente tanto para os 50% como para os 10% mais pobres na época, mas o extremo inferior da distribuição de renda na realidade avançou relativamente bem na segunda metade da década de 1990. Assim, ninguém estava em dificuldades maiores do que tinha estado no início de 2000, no período que conduziu à loucura do "subprime". Usando dados de Thomas Piketty e Emmanuel Saez, Acemoglu também ressalta que a dinâmica da distribuição de salarial no 1% de americanos com maior renda é outra. Como sugeriram Thomas Philippon e Ariell Reshef, o forte aumento do poder aquisitivo desse grupo parece mais interrelacionado com uma desregulamentação do setor financeiro (e, possivelmente, de outros setores). Em outras palavras, os grandes beneficiários de todo tipo de "inovações financeiras" durante as últimas três décadas não foram os pobres (nem mesmo a classe média), mas os ricos - as pessoas já muito bem remuneradas. Finalmente, Acemoglu analisa o papel do apoio do governo federal ao setor habitacional. Não há dúvida de que os EUA vêm há muito tempo aportando subsídios a mutuários que residem em seus imóveis financiados - principalmente mediante dedução de juros financeiros do imposto de renda. Mas nada, nesse subsídio, explica o momento em que ocorreu o "boom" no setor habitacional e os absurdos nos empréstimos para compra de casas. Os republicanos na FCIC apontam o dedo firmemente contra a Fannie Mae, Freddie Mac e outras empresas patrocinadas pelo governo que alimentaram os empréstimos para compra de moradias mediante garantias de vários tipos. Eles estão certos em dizer que Fannie e Freddie eram "grandes demais para (que o governo permitisse que viessem a) falir", o que lhes autorizou a tomar empréstimos mais baratos e assumir mais riscos com muito pequeno lastro de capital próprio para garantir sua exposição. Mas, embora Fannie e Freddie tenham se envolvido em hipotecas duvidosas (especialmente aquelas apelidadas de "Alt-A") e tivessem se envolvido em financiamentos com as financeiras originadoras diretas de empréstimos de quitação incerta, isso envolveu coisas relativamente pequenas - e, no fim do ciclo, (por exemplo, em 2004-2005). O principal sopro que inflou a bolha veio de toda a maquinaria de securitização de "bandeira privada" - que era exatamente isso: privada. Na verdade, como ressalta Acemoglu, os poderosos atores do setor privado tentaram sistematicamente marginalizar Fannie e Freddie e excluir as duas instituições dos segmentos de mercado em rápida expansão. Os republicanos na FCIC têm razão em colocar o governo no centro do que deu errado. Mas esse não foi um caso de regulamentação excessiva e demasiadamente abrangente. Ao contrário, 30 anos de desregulamentação financeira, viabilizada pela captura dos corações e mentes dos legisladores e dos políticos dos dois partidos, deram a uma pequena elite do setor privado - principalmente em Wall Street - quase todos os benefícios da bolha habitacional. Os eventos adversos foram empurrando para o resto da sociedade, especialmente os relativamente incultos e mal pagos, que agora perdeu suas casas, seus empregos, suas esperanças para seus filhos - ou todas as alternativas. Essas pessoas não provocaram a crise. Mas estão pagando por ela. Simon Johnson foi ex-economista chefe do FMI, é co-fundador de um importante blog de economia, www.BaselineScenario.com blog, professor na Escola Sloan de Administração e Negócios, do MIT, e membro sênior do Instituto Peterson para Economia Internacional. Seu livro, "13 Bankers", em coautoria com James Kwak, está agora disponível em versão de livro de bolso. ---------------------------------O Estado de S.Paulo - 21/01/2011 Sobrecarga fiscal e visão de futuro Rogério L. F. Werneck A preservação do atual regime fiscal, que há mais de 15 anos vem exigindo aumento sem fim da carga tributária, põe em risco a sustentação do dinamismo da economia brasileira. Se não for possível conter a expansão do gasto público dos três níveis de governo, o aprofundamento requerido da extração fiscal acabará por sufocar aos poucos o crescimento econômico do País. São conclusões que advêm da análise agregada dos dados. Mas essa perspectiva do problema pode e deve ser complementada por visões mais específicas, microeconomicamente, de como a sobrecarga fiscal, que hoje recai sobre a economia brasileira, conspira contra o futuro do Brasil. Estima-se que a carga tributária bruta esteja hoje em torno de 35% do PIB. Mas isso é apenas uma média. Há segmentos da economia que arcam com taxação muito mais pesada. A carga fiscal que recai, por exemplo, sobre serviços de telecomunicação e certos produtos importados é muito maior. E deixa patente a deplorável visão de futuro que permanece entranhada no sistema tributário brasileiro. No Rio de Janeiro, o ICMS onera os serviços de comunicação em quase 43% (alíquota "por fora"). Em São Paulo, em 33,3%. E ainda há de se ter em conta todos os outros tributos que incidem sobre o setor de telecomunicações e acabam repassados, em boa parte, às tarifas. Em 2005, a carga tributária do setor, estimada com base nas contas nacionais, correspondia a mais de 57% do valor dos serviços. É curioso que, nesse quadro de absurda sobrecarga fiscal, o governo ainda esteja em busca da razão primordial pela qual a disseminação do acesso à internet em banda larga avançou tão pouco até agora. É lamentável que o País esteja entrando na segunda década do século 21 com tributação tão escorchante de serviços de telecomunicação, tendo em vista sua crescente importância econômica e social. Desde a Constituição de 1988, quando passaram a cobrar ICMS sobre tais serviços, os Estados vêm mantendo uma extração fiscal extremada no setor, tirando o melhor proveito possível das exíguas possibilidades de sonegação que lhe são inerentes. No tempo em que telefone era considerado "coisa de rico", ainda havia quem se dispusesse a arguir que essa taxação tão pesada estaria contribuindo para tornar a carga tributária menos regressiva. Mas já não há mais qualquer espaço para esse tipo de argumento. O quadro mudou da água para o vinho desde a segunda metade dos anos 90. Na esteira da privatização, o acesso ao telefone vem sendo universalizado. Há hoje mais de 190 milhões de aparelhos celulares no País, 82% pré-pagos. É sobre o povão, portanto, que boa parte da sobrecarga fiscal vem recaindo. Por outro lado, as comunicações passaram a abranger uma gama de serviços muito mais complexos que vão muito além da velha telefonia. O que se vê agora é o País taxando pesadamente seu futuro. A mesma visão de futuro equivocada e arcaica que permanece entranhada na tributação das telecomunicações fica também evidenciada na taxação de certos produtos importados. Basta ver o que vem ocorrendo com dois produtos emblemáticos das novas tendências tecnológicas na área de informática. Os chamados tablets, como o iPad, da Apple, e os leitores de livros digitais, como o Kindle, da Amazon. Um levantamento recente constatou que, entre 20 países pesquisados, é no Brasil que o iPad é mais caro (O Globo, 9/1/2011). Após a incidência de seis tributos, o produto chega ao consumidor brasileiro 84% mais caro do que nos EUA. Já o Kindle, que nos EUA custa US$ 189, pode ser entregue no Brasil se o cliente estiver disposto a arcar com um frete de US$ 20,98 e encargos fiscais que a própria Amazon estima em nada menos que US$ 199,73. O que perfaz um total de US$ 409,71. São níveis de tributação completamente injustificáveis, fora de qualquer padrão de razoabilidade, advindos de um juggernaut arrecadador que avança como autômato, alheio ao processo de modernização do País. ECONOMISTA, DOUTOR PELA UNIVERSIDADE HARVARD, É PROFESSOR TITULAR DO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC-RIO. -----------------------------------------Estadão Online – 20/01/2010 O crescimento na década de 2000 Paul Krugman Postei uma nota muito rápida sobre como julgar a expansão entre 2000 e 2007, agora que sabemos que houve uma bolha imobiliária e de endividamento insustentável. Minha opinião foi que isso não quer dizer que o crescimento foi de algum modo falsificado; a produção real de bens e serviços de fato aumentou, mesmo que o legado desse crescimento tenha sido uma dívida que criou os problemas macroeconômicos atuais. Charles Steindel enviou-me um e-mail para lembrar que ele fez uma avaliação quantitativa a respeito. Na sua análise, ele questionou o quanto as nossas estimativas de um crescimento real foram afetadas se considerarmos a possibilidade de que: a) o que Wall Street estava fazendo não era realmente produtivo; b) grande parte das construções acabou sendo menos útil do que o esperado (por exemplo, as cidades fantasma na periferia das áreas urbanas). O que ele conclui é que, mesmo admitindo os pressupostos de que ocorreram operações financeiras fraudulentas e desperdício de investimentos, isso influiu muito pouco nas estimativas de crescimento. No aspecto financeiro, o raciocínio é que nós medimos o crescimento pela produção de bens e serviços finais, e as operações financeiras são um produto intermediário: assim, se você acha que Wall Street estava esbanjando recursos, isso significa que o crescimento atual foi criado mais pelas fábricas, etc. e não pelo Goldman Sachs, como se estimava anteriormente. Do lado da habitação, o argumento é que a construção de residências, mesmo que tivesse atingido índices muito altos, nunca foi superior a 6% do PIB. Portanto, mesmo que você ache que uma grande parte da construção observada no final do boom imobiliário tinha muito pouca utilidade, ela na verdade contribuiu para uma redução muito pequena do crescimento no decorrer do período todo. Enquanto isso, Mike Konczal chama a atenção para o novo trabalho do Federal Reserve de San Francisco sobre o papel do endividamento das famílias na crise, reforçando ainda mais o argumento de que a situação financeira apertada das famílias está no cerne do nosso problema. Realmente. O que isso significa, contudo, não é que a economia não conseguiria e não deveria ser mais produtiva; mas que devemos insistir mais em políticas fiscal e monetária não ortodoxas. Uma nota sobre a demanda agregada e a oferta agregada Paul Krugman Uma nota breve: algo sempre presente nos comentários é a noção de que, como tivemos uma bolha em que algumas pessoas se endividaram demais, o crescimento econômico de 2000-2007 não foi “real” – que foi um produto da nossa imaginação. Isso é confundir demanda com oferta. Nós produzimos de fato todos os produtos e serviços contabilizados no PIB; e conseguimos isso porque tínhamos trabalhadores de boa vontade, um estoque de capital suficiente, a tecnologia certa, e assim por diante. A verdade é que parte dos gastos que criaram a demanda por esses produtos e serviços foi por meio de financiamentos da dívida feita, e esses devedores não podem continuar gastando da maneira como faziam. Mas não significa que a capacidade deixou de existir; quer dizer apenas que, se quisermos manter a capacidade em uso, alguém tem de gastar. Em outras palavras, o crescimento não foi uma ilusão ou uma fraude, mas necessitamos adotar medidas para sustentar a demanda agregada. E, sim, tenho um modelo. --------------------------------------- Valor Econômico - 21/01/2011 Desperdício de oportunidades Claudia Safatle O Brasil já está perdendo os efeitos do bônus demográfico sobre o crescimento econômico, fenômeno que deu enorme contribuição ao "milagre asiático" entre 1960 e 1990, alerta a próxima carta do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV). Estimativas do economista Regis Bonelli indicam que a mudança da estrutura demográfica do país contribuiu com um crescimento do PIB per capita de 0,4 ponto percentual entre 1981 e 1999; entre 1999 e 2009 essa colaboração caiu para 0,3 ponto, conforme cálculos feitos sobre a parte relativa à oferta de trabalho. A tendência é que os ganhos advindos da mudança na estrutura demográfica continuem em processo de redução, sem que o país tenha se apropriado de um dos grandes prêmios dessa fase: o aumento da poupança doméstica. Numa abordagem econômica, com enfoque no crescimento da renda per capita, o bônus demográfico decorre do crescimento da População em Idade Ativa (PIA) superior ao da população total do país, que leva o produto per capita a uma expansão independente dos ganhos de produtividade. Ela se distingue do enfoque dos demógrafos, que identificam o bônus quando a PIA (formada por pessoas entre 15 e 64 anos) chega na casa dos 55% da população total. Por essa ótica, os benefícios da demografia se estenderiam até 2050. Pela avaliação dos economistas do Ibre, a janela do bônus que amplia a oferta de trabalho e a poupança está aberta desde 1970 e se fecha em 2025. "Ao contrário do que muitos pensam, o Brasil não está em pleno bônus demográfico, mas sim usufruindo a parte final desse processo", diz a carta. Os benefícios e as oportunidades que se abrem para o país durante essa fase foram tratados nesse espaço, ontem, por Ribamar Oliveira, a partir de um estudo de três pesquisadores. Eles acreditam que o país entrou na fase de uma estrutura etária da população que se caracteriza como bônus desde 2000 e viverá esse período até 2030. Bônus demográfico não gera aumento da poupança "O Bônus Demográfico Brasileiro Está em sua Fase Final", título da carta, traz mais elementos para um debate que deveria estar na pauta dos gestores públicos, pois a redução do ritmo de crescimento da população diminui o peso das crianças e jovens e eleva o dos idosos, resultando em impactos importantes sobre a educação, saúde, transportes públicos, infraestrutura urbana, entre outras políticas públicas. O crescimento econômico tende a acelerar-se durante o bônus demográfico por dois fatores: maior oferta de trabalho e de capital, essa última decorrente da elevação da poupança interna. A população que trabalha e, portanto, poupa, é superior à de crianças e velhos. Nos países em rápido crescimento, a poupança dos trabalhadores se dá sobre rendas bem maiores do que a "despoupança" dos que se aposentam. É exatamente aí que a contribuição da transição demográfica tem sido muito pequena no caso brasileiro. Uma parte substancial da população brasileira não cumpre o ciclo clássico de poupar para a velhice, por ser desnecessário. Trata-se de uma parcela da população que terá na aposentadoria renda igual ou até superior à da vida ativa, diz Luiz Guilherme Schymura, diretor do Ibre. Cerca de dois terços dos beneficiários do INSS ganham um salário mínimo, que há anos vem tendo aumento acima da inflação. O funcionalismo público recebe aposentadoria integral, ou muito próxima do integral, e tem reajustes equivalentes aos dos funcionários da ativa. Os países do leste da Ásia apresentaram crescimento médio de 6,1% do PIB entre 1960 e 1990. Lá, os ganhos decorrentes da mudança demográfica foram responsáveis por até 1,9 ponto percentual do crescimento anual no período. Desse percentual, 1,1 ponto decorreu do aumento da poupança, 0,6 ponto da maior oferta de trabalho e 0,2 ponto da melhoria da educação. Ou seja, o bônus demográfico garantiu entre 20% e 30% da taxa de crescimento do produto durante o milagre asiático. "No Brasil, em vez de pensarmos nos nossos netos, nós nos locupletamos desse prêmio", comenta Schymura. Não há qualquer sinal de que os gestores públicos e os políticos estejam ensaiando alguma ação para ainda aproveitar plenamente os benefícios dessa fase da transição demográfica, nem para preparar o país para arcar com o envelhecimento da população. Alguns segundos após o anúncio da elevação da taxa Selic pelo Copom, os computadores das redações foram invadidos por notas à imprensa dos mais diversos segmentos da sociedade. Das confederações da indústria e do comércio, das federações, das centrais sindicais. Todos condenando a elevação da taxa como inoportuna, precipitada ou, ainda, caracterizando-a como uma medida da agenda dos derrotados que pode abortar o crescimento. É um procedimento que se repete após todas as reuniões do comitê quando este eleva os juros. São simples notas de repúdio. Não dizem o que o governo deveria fazer numa situação como a de agora, quando a inflação já está em 6% ao ano. Não reconhecem o aumento dos preços como o maior inimigo dos mais pobres, nem admitem a desorganização da economia em regimes de inflação alta. Os setores que condenam o aumento dos juros como instrumento para combater a elevação da inflação são, não raro, os mesmos que censuram o corte dos gastos públicos. Claudia Safatle é diretora adjunta de Redação e escreve às sextas-feiras ------------------------------O Globo – 20/01/2011 Dilema do prisioneiro Miriam Leitão O Banco Central subiu os juros em 0,5% na primeira reunião do governo Dilma. Isso aprofunda a baixa do dólar, motivo de queixa dos exportadores e dos produtores brasileiros. Se não subisse os juros, o BC estaria dando um sinal de que a inflação pode continuar subindo num momento em que ela se aproxima do teto da meta. O câmbio é a única pressão deflacionista na economia. A inflação hoje é alimentada pelos preços internacionais de commodities, pela demanda aquecida, pelos gastos do governo. As importações favorecidas pelo dólar baixo ajudam a atender à demanda e atenuar a alta dos preços. Mesmo que a valorização do real seja um efeito colateral — em certa medida até indesejado — é o que tem evitado a alta maior da inflação no Brasil. O Banco Central está nesse dilema do prisioneiro, ou, mais popularmente falando, na situação de se correr, o bicho pega, se ficar, o bicho come, nesse conflito entre juros e câmbio. Num texto publicado ontem no "Financial Times", o jornal registrou que o Brasil tem o segundo maior juros do mundo, perdendo apenas para a Croácia. O economista Kenneth Rogoff disse que não precisa ser PhD em economia para saber que a redução dos juros seria um longo empurrão para o investimento brasileiro, mas politicamente o país estaria congelado no dilema de como reduzir o tamanho do governo. Poucos tinham dúvida de que o Banco Central fosse subir os juros nesta reunião, mas a dúvida que ainda persiste é qual é o tamanho do ciclo de alta dos juros? Outra dúvida é: até que ponto o novo governo aguentará a elevação dos juros? Se o governo reduzisse os gastos de forma mais efetiva, o Banco Central não estaria sozinho em sua tarefa e poderia diminuir a intensidade do ciclo de alta. Mas o fato é que: apesar de todas as promessas de corte, congelamento prévio de despesas, pedidos para revisão do custeio, o governo ainda não cortou coisa alguma, de um orçamento que já chegou inflado e depois de um ano em que o setor público gastou de forma descontrolada. O objetivo principal do Banco Central é conter a piora das expectativas e esfriar a atividade econômica, para que o aumento de preços das matérias-primas não seja repassado para o resto da economia. É o que os economistas chamam de efeitos de segunda ordem. Funciona mais ou menos assim: um prestador de serviços vai ao supermercado e percebe que o salário dele compra menos itens que em meses anteriores. Como ele tem muitos clientes, decide aumentar o preço do seu serviço. Já os clientes, sentem que a renda está crescendo e não se importam em pagar mais caro. Dessa forma, a inflação que começou nos alimentos se espalha. O boletim Focus sobe por seis semanas seguidas a projeção de inflação para este ano. Desta vez, foi de 5,35% para 5,47%, quase 1 ponto acima do centro da meta. Ao mesmo tempo, a demanda continua forte, sustentada pelo aumento da renda, pelo mercado de trabalho que bate recordes, pela oferta de crédito. O Bradesco estima que a oferta de crédito ainda crescerá 15% este ano, mesmo com todas as medidas macroprudenciais anunciadas pelo Banco Central. O dilema não está só no dólar, que prejudica nossa indústria exportadora. O aumento dos juros também pode afetar mais à frente o comércio, que vendeu muitos itens a prazo. Subir demais a taxa de juros pode afetar o emprego e provocar um aumento na inadimplência. Para Fábio Silveira, da RC consultores, não havia mais tempo para o Banco Central esperar: — Temos inflação demais no Brasil: de commodities, de contratos, de serviços. O BC precisa esfriar a demanda agregada, já que não pode atuar sobre o preço das commodities. Essa é a única maneira dele evitar um aumento generalizado. Se a demanda continuar forte, haverá repasse porque as pessoas continuarão comprando — explicou. Luis Otávio Leal, do Banco ABC Brasil, acha que a inflação brasileira tem um agravante: o gargalo de mão-de-obra, resultado do forte crescimento dos últimos anos e do baixo investimento em educação e qualificação de profissionais. — Ao contrário de outras inflações, que tinha a Utilização da Capacidade Ociosa como referência, agora temos um problema de falta mão-de-obra. Antes, era só importar máquinas e fazer investimento que se ampliava a produção. Agora, é mais difícil, porque não se importa mão-de-obra com facilidade, não só pela distância, mas também por aspectos culturais, do próprio idioma. O treinamento também é mais demorado. Leva mais tempo qualificar do que comprar máquina — afirmou. Na verdade, a inflação neste momento não tem um único fator. Tem vários. É a pressão no mercado de trabalho, aumento de consumo, elevação dos gastos do governo, inflação de alimentos, matérias-primas e energia. Nem todas as variáveis respondem à pressão dos juros, mas certamente a batalha das expectativas começou a ser vencida ontem com essa dose amarga do remédio de sempre. Muita gente duvidava que o Banco Central teria autonomia para decidir sobre a alta dos juros. A mudança no comando parecia indicar um BC mais dócil aos reclamos da Fazenda de que essa inflação é passageira e que os juros não deveriam subir. Alexandre Tombini avisou, logo que foi escolhido, que recebeu a incumbência de manter a inflação na meta. No discurso de posse, a presidente definiu inflação como "praga". Ontem, o BC mostrou que sim, pode subir juros. Falta agora acionar a outra arma, mais poderosa e com menos efeitos colaterais para reduzir a inflação: o corte de gastos públicos. -------------------------------------O Estado de S.Paulo – 21/01/2011 E vem mais Celso Ming Do primeiro Copom ninguém esquece, nem Dilma nem Tombini. Tampouco o esquecerá o ministro Mantega. Não disse ele que será preciso controlar as despesas públicas para abrir espaço para a queda dos juros? Se os juros subiram em vez de cair (e se subiram tudo o que subiram), é porque o Banco Central ainda não encontrou o espaço a ser aberto pela política fiscal. Por enquanto, só aconteceram promessas de austeridade. Os inconformados de sempre estão ainda mais inconformados. Entra governo, sai governo, queixam-se, e o Banco Central continua fazendo o jogo dos rendeiros e dos banqueiros, reforçando a condição de campeão mundial dos juros altos. Mas se o Brasil é campeão dos juros é também porque é campeão da inflação. Maneira de dizer, porque há juros mais altos (em menor número de casos) e inflação mais alta do que a do Brasil (em maior número). Outro grupo de descontentes argumenta que o presente surto de inflação é comandado pelo mercado internacional e tem como foco a alta das commodities. Querem, a partir daí, concluir que aperto na oferta interna de dinheiro (alta dos juros) não conserta estrago que vem de fora. Mas, se a alta das commodities fosse mesmo causa relevante, a inflação global seria muito maior do que é. Nos Estados Unidos e na média da área do euro, a inflação é de 1,6% ao ano; na Inglaterra, de 1,9%; na Coreia do Sul, de 3,0%; e no México, de 4,1%. (No Brasil foi para 5,9% e tende a subir.) A inflação brasileira tem várias causas, mas, no momento, apenas uma é a principal: o tamanho das despesas públicas, que cria renda e turbina o consumo em ritmo superior ao da reposição de mercadorias e serviços. E a esticada de preços dos alimentos e das matérias-primas também tem de ser atacada, pelo menos em seus efeitos secundários. O comunicado divulgado após a reunião do Copom deixou claro que este foi o início de um processo de ajuste. Ou seja, pode-se esperar por reforço da dose nos próximos meses. O tamanho final da operação depende das proporções do choque de austeridade que o governo estiver disposto a colocar em prática e do desempenho de causas coadjuvantes. O comunicado diz que o ataque à inflação vai contar com os efeitos das ações macroprudenciais. Não ficou claro se o Copom se referiu às decisões já tomadas pelo Banco Central (aumento do compulsório dos bancos e restrições ao crédito) ou se pretende ampliá-las. É dúvida para ser dirimida com a leitura da ata da reunião do Copom a ser editada na próxima quinta-feira. A alta dos juros, que não vai parar por aí, não ajuda na obtenção de outro objetivo do governo, que é o de conter a valorização do real (queda do dólar). As próprias empresas brasileiras recorrerão ainda mais ao endividamento externo, bem mais barato do que o interno, para suprir-se de recursos para investimento e capital de giro. Ou seja, não se trata de entrada de capitais especulativos. Neste início de ano, as empresas brasileiras contrataram US$ 2,7 bilhões por meio da colocação de títulos. Só a Petrobrás vai puxar de fora outros US$ 6 bilhões. São dólares entrando em profusão, cuja conversão para reais tende a achatar o câmbio, tirar competitividade da indústria, etc. CONFIRA Este aí é o ritmo do crescimento econômico da China nos últimos 7 anos. O avanço chinês. A surpresa não foi o forte crescimento da China, num ano (2010) em que o mundo rico ficou prostrado pela crise. A surpresa foi o crescimento maior do que o esperado. Afora a surpresa, uma preocupação, que derrubou as bolsas nos pregões de quinta-feira: a inflação da China também ficou mais alta, em 3,3%. O pressuposto é o de que o governo de Pequim seja obrigado a conter o avanço do PIB de 2011 e reduzir o volume de negócios com o resto do mundo. ----------------------------------------- Folha de S.Paulo - 20/01/2011 Crescer, comprar, inflar Vinicius Torres Freire A INFLAÇÃO anda zanzando perto dos 6% no Brasil. Aumentos médios anuais de preços de 6% não parecem, por si só, desorganizar economias. Aliás, nem de longe parece ser o caso. Mas a inflação está alta demais? Quais os fatores que podem fazer o IPCA saltar além dos 6%? O que é "demais"? A meta de inflação definida para o BC é de 4,5%, com tolerância de dois pontos para cima e para baixo. A inflação presente está, pois, na casa da tolerância, digamos. Mas essa casa está além do mais ameaçada de enchente e de transbordamentos de preços. Por quê? 1) A economia brasileira é ainda muito indexada. Inflações passadas contaminam facilmente as do futuro. Além do mais, ainda somos "mentalmente indexados". Os preços estão subindo 5%, 6% na média (para nem mencionar os índices de atacado rodando a mais de 10%)? Reajustemos os nossos em 10% no ano que vem, para arredondar. Enfim, como dizem os economistas, as expectativas de inflação se deterioram. Trocando em miúdos, quase ninguém está achando que a inflação vai diminuir, e se aproveita a oportunidade de reajustar preços, pois, por assim dizer, há "dinheiro sobrando" para aceitar pedidos ou imposições de aumentos; 2) No que diz respeito a oferta e demanda, não estamos vivendo uma situação de choques ou anormalidades passageiras. A taxa de juros real, embora indecente, está no degrau mais baixo, em termos históricos. Há crédito barato sobrando no BNDES e no mercado internacional. O gasto contratado do governo é alto e dificilmente será achatado no curto prazo. Juros e gastos faz tempo aquecem a dita demanda. O desemprego está baixo, num nível desconhecidamente baixo. A capacidade produtiva está apertada. O deficit externo cresce, sinal de consumo excessivo. Todos os indicadores apontam que estamos numa vulgar situação de demanda demasiada e de crescimento não inflacionário no limite, ao menos no curto prazo; 3) O câmbio já deu sua contribuição ao controle de preços. O real não vai (nem deveria) se valorizar o bastante de modo a contribuir para segurar os preços de produtos "comercializáveis" (sujeitos à influência do comércio internacional); 4) Preços muito importantes, como o das commodities, não param de subir: trata-se de combustíveis, comida, minérios, metais e até fibras de tecidos (algodão). Muitos desses preços voltaram ao nível maníaco de setembro de 2008, antes da crise, sendo a exceção mais gritante, por ora, a do petróleo. Mas os preços continuam subindo -a economia mundial está mais animada, há choques climáticos a turbinar vários preços e, enfim, dinheiro a juro baixíssimo para especular com índices de commodities. Isto posto, diga-se, porém, que não há sinal de problema grave à vista, de "descontrole inflacionário" e outras loucuras que se ouve vez e outra. Mas a administração da economia vai ser mais enjoada na primeira metade do governo Dilma, como já se dizia desde o final do ano passado (embora o risco de nova tragédia mundial tenha diminuído muito). Vai ser interessante ver como o governo Dilma Rousseff vai se virar para entregar um crescimento de 6% ao ano, como o prometido na primeira reunião ministerial. Até agora, não apareceram planos coerentes para mostrar como isso vai ser possível. ------------------------------------- ECONOMIA E OUTRAS NOTÍCIAS O Globo - 20/01/2011 BC de Dilma aumenta juros para conter inflação de Lula Na primeira reunião do Comitê de Política Monetária do governo Dilma, o Banco Central elevou os juros de 10,75% para 11,25%, a maior taxa dos últimos dois anos, numa tentativa de conter a inflação herdada da Era Lula. O mercado já prevê que o aumento de preços em 2011 será de 5,42%, distante do centro da meta oficial de inflação, de 4,5%. A decisão unânime do BC foi seguida de um aviso de que estava sendo iniciado um ciclo de alta de juros no Brasil, país com a maior taxa do mundo. Segundo economistas, o governo deveria fazer um corte maior nos gastos, para evitar juros mais altos. Dose de juros contra inflação SOB PRESSÃO Banco Central eleva taxa básica para 11,25% ao ano, maior nível desde março de 2009, e indica novos aumentos Patrícia Duarte A primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do governo da presidente Dilma Rousseff e sob a batuta de Alexandre Tombini, realizada ontem, não vai agradar ao consumidor brasileiro. Em decisão unânime, a taxa básica de juros do país passou de 10,75% para 11,25% ao ano, o maior patamar desde março de 2009, encarecendo a concessão de crédito. A elevação - a primeira em seis meses, para conter a inflação em alta herdada do governo Lula - era amplamente esperada pelos agentes econômicos. Por isso, esperam mais aumentos daqui para a frente, pelo menos até abril. No comunicado após a reunião de ontem, que durou quase quatro horas, o Copom afirmou que está começando um ciclo de alta dos juros. Mas o ciclo talvez não seja tão intenso quanto parte do mercado passou a achar esta semana. Isso porque o texto da nota oficial indicou que, para o Banco Central (BC), o aperto na política monetária começou em dezembro, quando foram elevados compulsórios e baixadas medidas para frear o crédito. Em nota, o colegiado informou que a elevação de ontem deu "início a um processo de ajuste da taxa básica de juros, cujos efeitos, somados aos de ações macroprudenciais, contribuirão para que a inflação convirja para a trajetória de metas". - O recado é o de que o aperto não deve ser composto de muitas altas de juros. O Copom colocou um pouco de água na fervura - afirmou o economista-chefe do WestLB, Roberto Padovani, que acredita em mais duas altas de meio ponto percentual em março e abril, para 12,25% ao ano, mesmo patamar projetado por boa parte do mercado. Ao elevar a Selic, o Copom também encarece as taxas de juros cobradas dos empréstimos às famílias e empresas, inibindo o consumo. Dessa maneira, retira boa parte da pressão inflacionária, que é o objetivo do BC. O mercado, pela pesquisa Focus da autoridade monetária, prevê o IPCA - índice que orienta o sistema de metas de inflação - este ano a 5,42%. Há um mês, projetava 5,29%, mostrando que, cada vez mais, as estimativas se distanciam do centro da meta de inflação do governo, de 4,5%. O economista-chefe da Máxima Asset Management, Elson Teles, também concorda que o ciclo de aumentos da Selic pode ser um pouco menor, chegando a 12,25% anuais. Ele lembrou que, em dezembro passado, o BC retirou R$61 bilhões no mercado por meio de compulsórios bancários - parcela dos recursos dos bancos que fica presa na autoridade monetária, sem remuneração - e definiu medidas restritivas na concessão de crédito de longo prazo voltado para consumo de bens duráveis, como automóveis. Decisão significa maior pressão sobre o câmbio Muitos entenderam que, na prática, o novo ciclo de aperto monetário do BC teve início naquele momento. - Espera-se ainda que o governo faça um esforço fiscal maior este ano, também reduzindo a demanda - acrescentou Teles, referindo-se ao superávit primário, que é a economia feita pelo setor público para pagamento de juros e que, na avaliação do próprio BC, deve corresponder a um ponto percentual do PIB em 2011. Tombini repetiu ontem o movimento feito pelo seu antecessor, Henrique Meirelles, que, quando assumiu a autoridade monetária em 2003, no início do governo Luiz Inácio Lula da Silva, elevou a Selic em meio ponto. Mas, daquela vez, ela foi para 25,50%, em meio a uma crise de confiança que assolava o país, bastante diferente do momento atual. A fonte de pressão mais importante para a inflação, dizem analistas, são as commodities (matérias-primas), como alimentos, cujas cotações são definidas no mercado internacional. Além disso, pesa o ritmo de crescimento do país, que em 2010 estima-se ter sido de 7,5%, com a demanda mais forte que a oferta. - Não estamos vendo apenas piora da inflação corrente, mas também nas expectativas. O Copom acertou - afirmou o economista do banco Santander Cristiano Souza, para quem a taxa poderá fechar o ano a 13%. Mas, ao mesmo tempo em que controla a inflação, a elevação da Selic, e a expectativa de que essa tendência continuará nos próximos encontros do Copom, pode trazer consequências para o câmbio, atraindo mais investidores estrangeiros para ganhar dinheiro aplicando em juros, o que alimenta a valorização do real frente ao dólar. Tudo o que o governo não deseja. A elevação da Selic foi duramente criticada por empresários e dirigentes sindicais. Um mau começo, foi como resumiu a decisão o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. Segundo ele, a alta de 0,5 ponto foi um erro, pois vai elevar em R$200 bilhões a conta de juros do governo. - Isso é um absurdo. Com esse dinheiro poderíamos viabilizar a construção de mais de 390 mil casas pelo programa Minha Casa, Minha Vida, ou dois terços de todo o orçamento anual do Bolsa-Família - disse Skaf. O gerente-executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, disse que o aumento foi precipitado e compromete o crescimento do país. De acordo com ele, os efeitos das medidas de contenção do crédito adotadas em dezembro ainda não foram plenamente observados. Já para o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical, não há justificativa para manter juros tão altos no país. COLABOROU: Ronaldo D"Ercole -------------------------------Folha de S.Paulo - 20/01/2011 Pressão inflacionária faz BC de Dilma estrear com alta de juro Na primeira reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central no governo Dilma, a taxa básica de juros subiu 0,5 ponto percentual, para 11,25%, refletindo as preocupações com a evolução da inflação. O índice oficial fechou o ano passado perto de 6%, o maior em seis anos, acima do centro da meta de 4,5% fixada pelo governo. Com a elevação, os juros básicos retornaram para o patamar de março de 2009. Banco Central de Dilma estreia com aumento da taxa de juros Copom eleva Selic em 0,5 ponto, para 11,25% ao ano, a fim de tentar frear consumo e inflação BC diz que alta é "início de processo de ajuste da taxa"; para mercado, juros vão subir nas próximas duas reuniões EDUARDO CUCOLO DE BRASÍLIA O Banco Central aumentou ontem a taxa básica de juros (Selic) de 10,75% para 11,25% ao ano, na primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) no governo Dilma Rousseff. Essa foi também a estreia de Alexandre Tombini no comando do Copom. Assim como seus dois antecessores, Armínio Fraga e Henrique Meirelles, Tombini aumenta os juros logo após assumir a presidência do BC. A alta era esperada pela maior parte do mercado e dá continuidade ao trabalho iniciado em 2010 pelo governo para frear o consumo e segurar a inflação. No comunicado divulgado após a decisão, que foi unânime, o BC diz que a alta dá "início a um processo de ajuste da taxa básica de juros", que, somado às medidas já anunciadas, contribui para que a inflação retorne para a meta. Em dezembro, o BC anunciou restrições a financiamentos com prazo superior a 24 meses e retirou da economia a última parte do dinheiro injetado na crise de 2008. O governo promete para fevereiro corte no Orçamento que pode chegar a R$ 50 bilhões, outra medida para segurar a demanda e os preços. Sem o corte, o aumento dos juros será maior, o que contribui, por exemplo, para atrair mais dólares para o país e derrubar a cotação da moeda norte-americana. A expectativa do mercado é que o juro voltará a subir nas duas próximas reuniões do Copom, em 2 de março e 20 de abril, para encerrar o ano em 12,25%. Só voltaria a cair em 2012. ACIMA DA META A inflação (IPCA) fechou 2010 em 5,9%, maior patamar em seis anos, acima da meta de 4,5% fixada pelo governo. As previsões do BC mostram que, com o aumento dos juros, a inflação termina o ano em 4,8% e atinge a meta no fim de 2012. A taxa básica determina o custo do dinheiro para os bancos e serve de base para os juros dos empréstimos a empresas e consumidores, cuja taxa média está hoje próxima de 35% ao ano. Com esse aumento, os juros voltaram ao patamar em que estavam em março de 2009. Naquele ano, por causa da crise, chegariam ao menor nível da história (8,75%). Com a recuperação da economia e a alta dos alimentos, que puxaram a inflação, a taxa voltou a subir em 2010. O Brasil permanece no topo do ranking das economias com as maiores taxas reais do mundo. O indicador, que é a diferença entre a taxa básica e a inflação projetada para 12 meses, está em 5,48%. --------------------------------------Correio Braziliense - 20/01/2011 Começou o arrocho Juros sobem para 11,25% ao ano. Os bancos e o comércio devem reajustar suas taxas a partir de hoje. Contra a inflação, juros nas alturas Comitê de Política Monetária (Copom) sobe a taxa básica (Selic) em 0,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano. Banco Central sinaliza que a escalada terá continuidade Gabriel Caprioli Na primeira reunião do governo Dilma Rousseff, o Comitê de Política Monetária (Copom) deu início a um ciclo de arrocho que promete ser longo. Marcando a estreia do novo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, o colegiado de diretores decidiu ontem elevar a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano. A medida, já esperada por grande parte dos analistas, visa conter a inflação, que no ano passado fechou em 5,91%, e que, em 2011, mantém fôlego total, ameaçando o poder de compra dos brasileiros. Depois de permanecer por mais de seis meses em 10,75%, a Selic retorna ao mesmo nível de março de 2009. O remédio é amargo, porém, necessário, justificou o BC em nota oficial: “O Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 11,25% ao ano, sem viés, dando início a um processo de ajuste da taxa básica de juros, cujos efeitos, somados aos de ações macroprudenciais, contribuirão para que a inflação convirja para a trajetória de metas”. O aperto não deverá avançar muito além daquilo que o mercado projeta para as três primeiras reuniões do ano — um avanço de 1,5 ponto percentual. O principal recado do BC será dado na próxima semana, com a publicação da ata da reunião de ontem. Roberto Padovani, estrategista-chefe do Banco West LB, disse que o movimento do Copom pode ser traduzido com facilidade. “Entendo que ele quis dizer exatamente isso: que não passará muito do 1,5 ponto e que será cauteloso no ciclo de elevação. Podemos tirar a conclusão ainda de que ele manterá nas próximas reuniões o ritmo de 0,5 p.p”, explicou. Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, no entanto, o cenário de inflação em alta pode obrigar a autoridade monetária a pesar ainda mais a mão nas próximas decisões. “Dados os fatores como estão, com alimentos influenciando negativamente e sem muitas esperanças de que os choques diminuam em horizonte mais curto de tempo, pode ser que 1,5 ponto no primeiro semestre seja insuficiente e force novas altas”, avaliou. No ano passado, os preços de itens alimentícios sofreram reajuste médio de 10,39% e representaram nada menos do que 68% de toda a inflação do país. Apesar de significativa, a alta da Selic, sozinha, tende a não ser suficiente para frear o consumo. Se quiser inibir o ímpeto das famílias em comprar, o governo terá de lançar mão de mais ferramentas macroeconômicas. A Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrou expansão de 9,9% no volume de vendas em novembro do ano passado, em relação ao mesmo período anterior. Na mesma comparação, o montante de crédito concedido a pessoas físicas avançou 20,8%, enquanto para as empresas o bolo cresceu 20,9%, conforme registrou o Banco Central. Expectativa Com tantos sinais nebulosos pela frente, alguns economistas advertem que ainda é cedo, mesmo para o Banco Central, para determinar o ajuste total da Selic. Durante o primeiro trimestre do ano, a postura do colegiado deve ser observada com lupa. “O avanço provável de 1,5 ponto percentual que esperamos nas três primeiras reuniões do ano é uma conta sujeita a chuvas e trovoadas. Ainda há muita incerteza em relação a quanto o cenário internacional aumenta as pressões e também no que diz respeito ao mercado doméstico. Essa dúvida vai permanecer, de certa forma, até o primeiro relatório trimestral de inflação”, disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. Parte dos analistas acredita que a Selic encerre o ano em 13,75%, antes de estacionar novamente. Além das incertezas em relação ao repique de preços, pesam sobre a decisão tomada pelo Copom os instrumentos de política monetária aplicados pelo Banco Central no fim do ano passado — como a retirada de R$ 61 bilhões do mercado. A drenagem foi feita por meio da ampliação do recolhimento compulsório exigido dos bancos. Fora de circulação, o dinheiro retido contribui para a elevação de juros por parte das instituições financeiras, que cobram mais para emprestar, uma vez que estão com menos disponibilidade de recursos. As taxas mais altas desestimulam o consumidor a tomar novos financiamentos, suavizando as pressões sobre os preços. ----------------------------------- O Estado de S.Paulo - 20/01/2011 BC de Dilma aumenta juros na 1ª reunião e indica novas altas O Comitê de Política Monetária do Banco Central, em sua primeira reunião sob o governo de Dilma Rousseff, anunciou aumento de 0,5 ponto porcentual nos juros básicos, para 1l,25% - patamar de março de 2009, em meio à crise internacional. O Copom salientou que apenas deu "início ao processo de ajuste da taxa", indicando novas altas. O controle da inflação se sobrepôs à vontade política de iniciar o mandato de Dilma com uma redução dos juros. O aumento foi acertado com Dilma, que se convenceu de que este é o momento para conter os preços, relata Beatriz Abreu. Para o mercado, a medida terá pouco impacto nas operações de crédito, que já praticam juros mais altos. BC eleva juro e indica novas altas Na primeira reunião no governo de Dilma Rousseff, Copom aumenta taxa básica de juro em 0,5 ponto porcentual para 11,25% ao ano Fabio Graner - O Estado de S.Paulo Na primeira reunião do governo de Dilma Rousseff, o Comitê de Política Monetária (Copom), comandado por Alexandre Tombini, decidiu elevar a taxa básica (Selic) em 0,5 ponto porcentual, para 11,25% ao ano. Com o movimento, a Selic retoma o patamar de 11,25%, vigente em março de 2009, quando a política monetária estava em pleno processo de flexibilização por conta da crise internacional. A decisão do colegiado foi unânime, após reunião que durou mais de três horas e meia. O comunicado do Copom destacou que a medida marca o início do processo de alta da Selic, "cujos efeitos, somados aos das ações macroprudenciais, contribuirão para que a inflação convirja para a trajetória de metas". A decisão reflete a necessidade de se interromper o movimento de elevação das expectativas inflacionárias para este ano, que, segundo a pesquisa Focus, já apontam o IPCA em 5,42%, acima do centro da meta de 4,5%. Vale lembrar que o índice oficial fechou o ano passado em 5,91%, o maior nível desde 2004. A elevação dos juros ontem interrompe uma sequência de três manutenções seguidas na Selic (nas reuniões de setembro, outubro e dezembro) em 10,75% ao ano. Apesar de o Banco Central reconhecer em seus documentos mais recentes que parte relevante da alta da inflação decorre de choques de oferta, principalmente de alimentos, a decisão do Copom revela o temor de que essas altas de preços possam contaminar o restante da economia, em função de uma demanda interna aquecida. Além disso, busca transmitir um sinal de força do novo presidente da autoridade monetária, que ainda precisa consolidar uma reputação de que não vai transigir com a busca de manter a inflação na meta. A elevação dos juros, de fato, dá sequência ao processo de aperto monetário iniciado em dezembro, com a elevação dos depósitos compulsórios e do aperto das condições de crédito. Segundo cálculos de analistas de mercado e do próprio governo, tais medidas seriam equivalentes a uma elevação de 0,5 a 1 ponto porcentual na taxa Selic. Para o economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto, com a demanda interna aquecida, elevação nos preços do setor de serviços e a piora das expectativas inflacionárias, o processo de elevação dos juros se torna necessário. "As ações prudenciais já tomadas não substituem política de juros e também a política fiscal, sobre a qual ainda há ceticismo." O estrategista-chefe do Banco WestLB, Roberto Padovani, considera que a combinação de choques de oferta, economia aquecida e o fato de se estar começando um novo governo - em que, sem autonomia formal, o BC precisa consolidar sua reputação - levam ao processo de alta da Selic. "Não acho que a economia esteja superaquecida, mas está aquecida. Não dá para dizer que a economia está fraca. Ela está rodando próximo do potencial. Em economia que sofre choques com esse nível de atividade, a situação complica."