20 e 21/01/2011

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20 e 21/01/2011
Pensamento do Dia
Economistas analisam a Economia, o Brasil
e o mundo,
mundo, na mídia diária 20 e 21 01 2011
2011
------------------------------------------------------------------Valor Econômico - 21/01/2011
Foram os pobres que causaram a crise?
Simon Johnson
Os EUA continuam cindidos por um acalorado debate sobre as causas da crise financeira
em 2007-2009. Será o governo culpado e, em caso afirmativo, em que sentido?
Em dezembro, a minoria republicana na Comissão de Investigação sobre a Crise
Financeira (FCIC, em inglês), considerou uma narrativa discordante. De acordo com esse
grupo, políticas governamentais equivocadas, visando ampliar a posse de casas próprias
por pessoas relativamente pobres, induziu muita gente a assumir financiamentos de
quitação incerta (subprime) que não conseguiriam honrar.
Essa narrativa pode conquistar muita adesão, especialmente numa Câmara dos
Deputados controlada pelos republicanos e na campanha para a eleição presidencial de
2012. Mas, embora os republicanos na FCIC escrevam com eloquência, têm eles alguma
prova em apoio a suas afirmações? Terão sido os pobres nos EUA os responsáveis pela
mais grave crise mundial em mais de uma geração?
Não, de acordo com Daron Acemoglu, do MIT (e co-autor, comigo, na análise de outros
tópicos), que apresentou suas conclusões na reunião anual da American Finance
Association no início de janeiro. (Os slides estão em sua página no site do MIT).
Acemoglu divide a narrativa republicana em três questões distintas. Em primeiro lugar,
haverá evidências de que políticos americanos são sensíveis às preferências ou desejos
do eleitorado de baixa renda?
As evidências sobre esse ponto não são tão categóricas quanto se poderia desejar, mas o
que temos - por exemplo, com base no trabalho de Larry Bartels, da Universidade de
Princeton - sugere que nos últimos 50 anos praticamente toda a elite política americana
deixou de compartilhar as preferências do eleitorado de baixa ou média renda. As
opiniões dos ocupantes de cargos públicos aproximaram-se bem mais das comumente
encontradas no topo da distribuição de renda.
Existem várias teorias sobre por que essa mudança ocorreu. Em nosso livro "13 Bankers"
(13 banqueiros), James Kwak e eu enfatizamos uma combinação do crescente papel do
aumento das contribuições para campanhas - a "porta giratória" entre Wall Street e
Washington - e, acima de tudo, uma mudança ideológica: a opinião de que financiar é
bom e quanto mais financiamento sem restrições é melhor. Há um corolário evidente: as
vozes e os interesses das pessoas relativamente pobres em nada contam na política
americana.
A avaliação de Acemoglu sobre resultados de pesquisas recentes sobre a atividade lobista
é de que partes do setor privado desejavam que a regulamentação financeira fosse
relaxada e empenharam-se arduamente, e gastaram muito dinheiro, para obter esse
resultado. O impulso para criação do grande mercado subprime veio de dentro do setor
privado: "inovações" implementadas por financiadoras habitacionais gigantes, como a
Countrywide, a Ameriquest e muitas outras, apoiadas pelos grandes bancos de
investimento. E, para sermos bastante claros, foram algumas das maiores instituições
financeiras de Wall Street, e não mutuários não alavancados, que receberam generoso
socorro governamental no rescaldo da crise.
Acemoglu em seguida indaga se há indícios de que a distribuição de renda piorou nos
EUA no final de 1990, induzindo os políticos a reagir afrouxando as rédeas dos
empréstimos concedidos às pessoas que estavam ficando para trás. A renda nos EUA
tornou-se, efetivamente, muito mais desigual nos últimos 40 anos, mas o "cronograma
da desigualdade" não se encaixa, de modo algum, nessa história.
Por exemplo, dos trabalhos que Acemoglu realizou com David Autor (também do MIT),
sabemos que as rendas dos 10% mais ricos cresceram sensivelmente durante os anos
1980. As rendas semanais cresceram lentamente tanto para os 50% como para os 10%
mais pobres na época, mas o extremo inferior da distribuição de renda na realidade
avançou relativamente bem na segunda metade da década de 1990. Assim, ninguém
estava em dificuldades maiores do que tinha estado no início de 2000, no período que
conduziu à loucura do "subprime".
Usando dados de Thomas Piketty e Emmanuel Saez, Acemoglu também ressalta que a
dinâmica da distribuição de salarial no 1% de americanos com maior renda é outra.
Como sugeriram Thomas Philippon e Ariell Reshef, o forte aumento do poder aquisitivo
desse grupo parece mais interrelacionado com uma desregulamentação do setor
financeiro (e, possivelmente, de outros setores). Em outras palavras, os grandes
beneficiários de todo tipo de "inovações financeiras" durante as últimas três décadas não
foram os pobres (nem mesmo a classe média), mas os ricos - as pessoas já muito bem
remuneradas.
Finalmente, Acemoglu analisa o papel do apoio do governo federal ao setor habitacional.
Não há dúvida de que os EUA vêm há muito tempo aportando subsídios a mutuários que
residem em seus imóveis financiados - principalmente mediante dedução de juros
financeiros do imposto de renda. Mas nada, nesse subsídio, explica o momento em que
ocorreu o "boom" no setor habitacional e os absurdos nos empréstimos para compra de
casas.
Os republicanos na FCIC apontam o dedo firmemente contra a Fannie Mae, Freddie Mac e
outras empresas patrocinadas pelo governo que alimentaram os empréstimos para
compra de moradias mediante garantias de vários tipos. Eles estão certos em dizer que
Fannie e Freddie eram "grandes demais para (que o governo permitisse que viessem a)
falir", o que lhes autorizou a tomar empréstimos mais baratos e assumir mais riscos com muito pequeno lastro de capital próprio para garantir sua exposição.
Mas, embora Fannie e Freddie tenham se envolvido em hipotecas duvidosas
(especialmente aquelas apelidadas de "Alt-A") e tivessem se envolvido em
financiamentos com as financeiras originadoras diretas de empréstimos de quitação
incerta, isso envolveu coisas relativamente pequenas - e, no fim do ciclo, (por exemplo,
em 2004-2005). O principal sopro que inflou a bolha veio de toda a maquinaria de
securitização de "bandeira privada" - que era exatamente isso: privada. Na verdade,
como ressalta Acemoglu, os poderosos atores do setor privado tentaram
sistematicamente marginalizar Fannie e Freddie e excluir as duas instituições dos
segmentos de mercado em rápida expansão.
Os republicanos na FCIC têm razão em colocar o governo no centro do que deu errado.
Mas esse não foi um caso de regulamentação excessiva e demasiadamente abrangente.
Ao contrário, 30 anos de desregulamentação financeira, viabilizada pela captura dos
corações e mentes dos legisladores e dos políticos dos dois partidos, deram a uma
pequena elite do setor privado - principalmente em Wall Street - quase todos os
benefícios da bolha habitacional.
Os eventos adversos foram empurrando para o resto da sociedade, especialmente os
relativamente incultos e mal pagos, que agora perdeu suas casas, seus empregos, suas
esperanças para seus filhos - ou todas as alternativas. Essas pessoas não provocaram a
crise. Mas estão pagando por ela.
Simon Johnson foi ex-economista chefe do FMI, é co-fundador de um
importante blog de economia, www.BaselineScenario.com blog, professor na
Escola Sloan de Administração e Negócios, do MIT, e membro sênior do
Instituto Peterson para Economia Internacional. Seu livro, "13 Bankers", em coautoria com James Kwak, está agora disponível em versão de livro de bolso.
---------------------------------O Estado de S.Paulo - 21/01/2011
Sobrecarga fiscal e visão de futuro
Rogério L. F. Werneck
A preservação do atual regime fiscal, que há mais de 15 anos vem exigindo aumento
sem fim da carga tributária, põe em risco a sustentação do dinamismo da economia
brasileira. Se não for possível conter a expansão do gasto público dos três níveis de
governo, o aprofundamento requerido da extração fiscal acabará por sufocar aos poucos
o crescimento econômico do País. São conclusões que advêm da análise agregada dos
dados. Mas essa perspectiva do problema pode e deve ser complementada por visões
mais específicas, microeconomicamente, de como a sobrecarga fiscal, que hoje recai
sobre a economia brasileira, conspira contra o futuro do Brasil.
Estima-se que a carga tributária bruta esteja hoje em torno de 35% do PIB. Mas isso é
apenas uma média. Há segmentos da economia que arcam com taxação muito mais
pesada. A carga fiscal que recai, por exemplo, sobre serviços de telecomunicação e
certos produtos importados é muito maior. E deixa patente a deplorável visão de futuro
que permanece entranhada no sistema tributário brasileiro.
No Rio de Janeiro, o ICMS onera os serviços de comunicação em quase 43% (alíquota
"por fora"). Em São Paulo, em 33,3%. E ainda há de se ter em conta todos os outros
tributos que incidem sobre o setor de telecomunicações e acabam repassados, em boa
parte, às tarifas. Em 2005, a carga tributária do setor, estimada com base nas contas
nacionais, correspondia a mais de 57% do valor dos serviços.
É curioso que, nesse quadro de absurda sobrecarga fiscal, o governo ainda esteja em
busca da razão primordial pela qual a disseminação do acesso à internet em banda larga
avançou tão pouco até agora. É lamentável que o País esteja entrando na segunda
década do século 21 com tributação tão escorchante de serviços de telecomunicação,
tendo em vista sua crescente importância econômica e social.
Desde a Constituição de 1988, quando passaram a cobrar ICMS sobre tais serviços, os
Estados vêm mantendo uma extração fiscal extremada no setor, tirando o melhor
proveito possível das exíguas possibilidades de sonegação que lhe são inerentes. No
tempo em que telefone era considerado "coisa de rico", ainda havia quem se dispusesse
a arguir que essa taxação tão pesada estaria contribuindo para tornar a carga tributária
menos regressiva. Mas já não há mais qualquer espaço para esse tipo de argumento.
O quadro mudou da água para o vinho desde a segunda metade dos anos 90. Na esteira
da privatização, o acesso ao telefone vem sendo universalizado. Há hoje mais de 190
milhões de aparelhos celulares no País, 82% pré-pagos. É sobre o povão, portanto, que
boa parte da sobrecarga fiscal vem recaindo. Por outro lado, as comunicações passaram
a abranger uma gama de serviços muito mais complexos que vão muito além da velha
telefonia. O que se vê agora é o País taxando pesadamente seu futuro.
A mesma visão de futuro equivocada e arcaica que permanece entranhada na tributação
das telecomunicações fica também evidenciada na taxação de certos produtos
importados. Basta ver o que vem ocorrendo com dois produtos emblemáticos das novas
tendências tecnológicas na área de informática. Os chamados tablets, como o iPad, da
Apple, e os leitores de livros digitais, como o Kindle, da Amazon.
Um levantamento recente constatou que, entre 20 países pesquisados, é no Brasil que o
iPad é mais caro (O Globo, 9/1/2011). Após a incidência de seis tributos, o produto
chega ao consumidor brasileiro 84% mais caro do que nos EUA. Já o Kindle, que nos EUA
custa US$ 189, pode ser entregue no Brasil se o cliente estiver disposto a arcar com um
frete de US$ 20,98 e encargos fiscais que a própria Amazon estima em nada menos que
US$ 199,73. O que perfaz um total de US$ 409,71. São níveis de tributação
completamente injustificáveis, fora de qualquer padrão de razoabilidade, advindos de um
juggernaut arrecadador que avança como autômato, alheio ao processo de modernização
do País.
ECONOMISTA, DOUTOR PELA UNIVERSIDADE HARVARD, É PROFESSOR TITULAR
DO DEPARTAMENTO DE
ECONOMIA DA PUC-RIO.
-----------------------------------------Estadão Online – 20/01/2010
O crescimento na década de 2000
Paul Krugman
Postei uma nota muito rápida sobre como julgar a expansão entre 2000 e 2007, agora
que sabemos que houve uma bolha imobiliária e de endividamento insustentável. Minha
opinião foi que isso não quer dizer que o crescimento foi de algum modo falsificado; a
produção real de bens e serviços de fato aumentou, mesmo que o legado desse
crescimento tenha sido uma dívida que criou os problemas macroeconômicos atuais.
Charles Steindel enviou-me um e-mail para lembrar que ele fez uma avaliação
quantitativa a respeito. Na sua análise, ele questionou o quanto as nossas estimativas de
um crescimento real foram afetadas se considerarmos a possibilidade de que: a) o que
Wall Street estava fazendo não era realmente produtivo; b) grande parte das
construções acabou sendo menos útil do que o esperado (por exemplo, as cidades
fantasma na periferia das áreas urbanas).
O que ele conclui é que, mesmo admitindo os pressupostos de que ocorreram operações
financeiras fraudulentas e desperdício de investimentos, isso influiu muito pouco nas
estimativas de crescimento. No aspecto financeiro, o raciocínio é que nós medimos o
crescimento pela produção de bens e serviços finais, e as operações financeiras são um
produto intermediário: assim, se você acha que Wall Street estava esbanjando recursos,
isso significa que o crescimento atual foi criado mais pelas fábricas, etc. e não pelo
Goldman Sachs, como se estimava anteriormente.
Do lado da habitação, o argumento é que a construção de residências, mesmo que
tivesse atingido índices muito altos, nunca foi superior a 6% do PIB. Portanto, mesmo
que você ache que uma grande parte da construção observada no final do boom
imobiliário tinha muito pouca utilidade, ela na verdade contribuiu para uma redução
muito pequena do crescimento no decorrer do período todo.
Enquanto isso, Mike Konczal chama a atenção para o novo trabalho do Federal Reserve
de San Francisco sobre o papel do endividamento das famílias na crise, reforçando ainda
mais o argumento de que a situação financeira apertada das famílias está no cerne do
nosso problema. Realmente.
O que isso significa, contudo, não é que a economia não conseguiria e não deveria ser
mais produtiva; mas que devemos insistir mais em políticas fiscal e monetária não
ortodoxas.
Uma nota sobre a demanda agregada e a
oferta agregada
Paul Krugman
Uma nota breve: algo sempre presente nos comentários é a noção de que, como tivemos
uma bolha em que algumas pessoas se endividaram demais, o crescimento econômico de
2000-2007 não foi “real” – que foi um produto da nossa imaginação.
Isso é confundir demanda com oferta.
Nós produzimos de fato todos os produtos e serviços contabilizados no PIB; e
conseguimos isso porque tínhamos trabalhadores de boa vontade, um estoque de capital
suficiente, a tecnologia certa, e assim por diante.
A verdade é que parte dos gastos que criaram a demanda por esses produtos e serviços
foi por meio de financiamentos da dívida feita, e esses devedores não podem continuar
gastando da maneira como faziam. Mas não significa que a capacidade deixou de existir;
quer dizer apenas que, se quisermos manter a capacidade em uso, alguém tem de
gastar. Em outras palavras, o crescimento não foi uma ilusão ou uma fraude, mas
necessitamos adotar medidas para sustentar a demanda agregada.
E, sim, tenho um modelo.
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Valor Econômico - 21/01/2011
Desperdício de oportunidades
Claudia Safatle
O Brasil já está perdendo os efeitos do bônus demográfico sobre o crescimento
econômico, fenômeno que deu enorme contribuição ao "milagre asiático" entre 1960 e
1990, alerta a próxima carta do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV). Estimativas
do economista Regis Bonelli indicam que a mudança da estrutura demográfica do país
contribuiu com um crescimento do PIB per capita de 0,4 ponto percentual entre 1981 e
1999; entre 1999 e 2009 essa colaboração caiu para 0,3 ponto, conforme cálculos feitos
sobre a parte relativa à oferta de trabalho.
A tendência é que os ganhos advindos da mudança na estrutura demográfica continuem
em processo de redução, sem que o país tenha se apropriado de um dos grandes
prêmios dessa fase: o aumento da poupança doméstica.
Numa abordagem econômica, com enfoque no crescimento da renda per capita, o bônus
demográfico decorre do crescimento da População em Idade Ativa (PIA) superior ao da
população total do país, que leva o produto per capita a uma expansão independente dos
ganhos de produtividade. Ela se distingue do enfoque dos demógrafos, que identificam o
bônus quando a PIA (formada por pessoas entre 15 e 64 anos) chega na casa dos 55%
da população total.
Por essa ótica, os benefícios da demografia se estenderiam até 2050. Pela avaliação dos
economistas do Ibre, a janela do bônus que amplia a oferta de trabalho e a poupança
está aberta desde 1970 e se fecha em 2025. "Ao contrário do que muitos pensam, o
Brasil não está em pleno bônus demográfico, mas sim usufruindo a parte final desse
processo", diz a carta.
Os benefícios e as oportunidades que se abrem para o país durante essa fase foram
tratados nesse espaço, ontem, por Ribamar Oliveira, a partir de um estudo de três
pesquisadores. Eles acreditam que o país entrou na fase de uma estrutura etária da
população que se caracteriza como bônus desde 2000 e viverá esse período até 2030.
Bônus demográfico não gera aumento da poupança
"O Bônus Demográfico Brasileiro Está em sua Fase Final", título da carta, traz mais
elementos para um debate que deveria estar na pauta dos gestores públicos, pois a
redução do ritmo de crescimento da população diminui o peso das crianças e jovens e
eleva o dos idosos, resultando em impactos importantes sobre a educação, saúde,
transportes públicos, infraestrutura urbana, entre outras políticas públicas.
O crescimento econômico tende a acelerar-se durante o bônus demográfico por dois
fatores: maior oferta de trabalho e de capital, essa última decorrente da elevação da
poupança interna. A população que trabalha e, portanto, poupa, é superior à de crianças
e velhos. Nos países em rápido crescimento, a poupança dos trabalhadores se dá sobre
rendas bem maiores do que a "despoupança" dos que se aposentam.
É exatamente aí que a contribuição da transição demográfica tem sido muito pequena no
caso brasileiro. Uma parte substancial da população brasileira não cumpre o ciclo clássico
de poupar para a velhice, por ser desnecessário. Trata-se de uma parcela da população
que terá na aposentadoria renda igual ou até superior à da vida ativa, diz Luiz Guilherme
Schymura, diretor do Ibre.
Cerca de dois terços dos beneficiários do INSS ganham um salário mínimo, que há anos
vem tendo aumento acima da inflação. O funcionalismo público recebe aposentadoria
integral, ou muito próxima do integral, e tem reajustes equivalentes aos dos funcionários
da ativa.
Os países do leste da Ásia apresentaram crescimento médio de 6,1% do PIB entre 1960
e 1990. Lá, os ganhos decorrentes da mudança demográfica foram responsáveis por até
1,9 ponto percentual do crescimento anual no período. Desse percentual, 1,1 ponto
decorreu do aumento da poupança, 0,6 ponto da maior oferta de trabalho e 0,2 ponto da
melhoria da educação. Ou seja, o bônus demográfico garantiu entre 20% e 30% da taxa
de crescimento do produto durante o milagre asiático.
"No Brasil, em vez de pensarmos nos nossos netos, nós nos locupletamos desse prêmio",
comenta Schymura. Não há qualquer sinal de que os gestores públicos e os políticos
estejam ensaiando alguma ação para ainda aproveitar plenamente os benefícios dessa
fase da transição demográfica, nem para preparar o país para arcar com o
envelhecimento da população.
Alguns segundos após o anúncio da elevação da taxa Selic pelo Copom, os computadores
das redações foram invadidos por notas à imprensa dos mais diversos segmentos da
sociedade. Das confederações da indústria e do comércio, das federações, das centrais
sindicais. Todos condenando a elevação da taxa como inoportuna, precipitada ou, ainda,
caracterizando-a como uma medida da agenda dos derrotados que pode abortar o
crescimento. É um procedimento que se repete após todas as reuniões do comitê quando
este eleva os juros.
São simples notas de repúdio. Não dizem o que o governo deveria fazer numa situação
como a de agora, quando a inflação já está em 6% ao ano. Não reconhecem o aumento
dos preços como o maior inimigo dos mais pobres, nem admitem a desorganização da
economia em regimes de inflação alta. Os setores que condenam o aumento dos juros
como instrumento para combater a elevação da inflação são, não raro, os mesmos que
censuram o corte dos gastos públicos.
Claudia Safatle é diretora adjunta de Redação e escreve às sextas-feiras
------------------------------O Globo – 20/01/2011
Dilema do prisioneiro
Miriam Leitão
O Banco Central subiu os juros em 0,5% na primeira reunião do governo Dilma. Isso
aprofunda a baixa do dólar, motivo de queixa dos exportadores e dos produtores
brasileiros. Se não subisse os juros, o BC estaria dando um sinal de que a inflação pode
continuar subindo num momento em que ela se aproxima do teto da meta. O câmbio é a
única pressão deflacionista na economia.
A inflação hoje é alimentada pelos preços internacionais de commodities, pela demanda
aquecida, pelos gastos do governo. As importações favorecidas pelo dólar baixo ajudam
a atender à demanda e atenuar a alta dos preços. Mesmo que a valorização do real seja
um efeito colateral — em certa medida até indesejado — é o que tem evitado a alta
maior da inflação no Brasil.
O Banco Central está nesse dilema do prisioneiro, ou, mais popularmente falando, na
situação de se correr, o bicho pega, se ficar, o bicho come, nesse conflito entre juros e
câmbio. Num texto publicado ontem no "Financial Times", o jornal registrou que o Brasil
tem o segundo maior juros do mundo, perdendo apenas para a Croácia. O economista
Kenneth Rogoff disse que não precisa ser PhD em economia para saber que a redução
dos juros seria um longo empurrão para o investimento brasileiro, mas politicamente o
país estaria congelado no dilema de como reduzir o tamanho do governo.
Poucos tinham dúvida de que o Banco Central fosse subir os juros nesta reunião, mas a
dúvida que ainda persiste é qual é o tamanho do ciclo de alta dos juros? Outra dúvida é:
até que ponto o novo governo aguentará a elevação dos juros? Se o governo reduzisse
os gastos de forma mais efetiva, o Banco Central não estaria sozinho em sua tarefa e
poderia diminuir a intensidade do ciclo de alta. Mas o fato é que: apesar de todas as
promessas de corte, congelamento prévio de despesas, pedidos para revisão do custeio,
o governo ainda não cortou coisa alguma, de um orçamento que já chegou inflado e
depois de um ano em que o setor público gastou de forma descontrolada.
O objetivo principal do Banco Central é conter a piora das expectativas e esfriar a
atividade econômica, para que o aumento de preços das matérias-primas não seja
repassado para o resto da economia. É o que os economistas chamam de efeitos de
segunda ordem. Funciona mais ou menos assim: um prestador de serviços vai ao
supermercado e percebe que o salário dele compra menos itens que em meses
anteriores. Como ele tem muitos clientes, decide aumentar o preço do seu serviço. Já os
clientes, sentem que a renda está crescendo e não se importam em pagar mais caro.
Dessa forma, a inflação que começou nos alimentos se espalha.
O boletim Focus sobe por seis semanas seguidas a projeção de inflação para este ano.
Desta vez, foi de 5,35% para 5,47%, quase 1 ponto acima do centro da meta. Ao mesmo
tempo, a demanda continua forte, sustentada pelo aumento da renda, pelo mercado de
trabalho que bate recordes, pela oferta de crédito. O Bradesco estima que a oferta de
crédito ainda crescerá 15% este ano, mesmo com todas as medidas macroprudenciais
anunciadas pelo Banco Central.
O dilema não está só no dólar, que prejudica nossa indústria exportadora. O aumento
dos juros também pode afetar mais à frente o comércio, que vendeu muitos itens a
prazo. Subir demais a taxa de juros pode afetar o emprego e provocar um aumento na
inadimplência.
Para Fábio Silveira, da RC consultores, não havia mais tempo para o Banco Central
esperar:
— Temos inflação demais no Brasil: de commodities, de contratos, de serviços. O BC
precisa esfriar a demanda agregada, já que não pode atuar sobre o preço das
commodities. Essa é a única maneira dele evitar um aumento generalizado. Se a
demanda continuar forte, haverá repasse porque as pessoas continuarão comprando —
explicou.
Luis Otávio Leal, do Banco ABC Brasil, acha que a inflação brasileira tem um agravante:
o gargalo de mão-de-obra, resultado do forte crescimento dos últimos anos e do baixo
investimento em educação e qualificação de profissionais.
— Ao contrário de outras inflações, que tinha a Utilização da Capacidade Ociosa como
referência, agora temos um problema de falta mão-de-obra. Antes, era só importar
máquinas e fazer investimento que se ampliava a produção. Agora, é mais difícil, porque
não se importa mão-de-obra com facilidade, não só pela distância, mas também por
aspectos culturais, do próprio idioma. O treinamento também é mais demorado. Leva
mais tempo qualificar do que comprar máquina — afirmou.
Na verdade, a inflação neste momento não tem um único fator. Tem vários. É a pressão
no mercado de trabalho, aumento de consumo, elevação dos gastos do governo, inflação
de alimentos, matérias-primas e energia. Nem todas as variáveis respondem à pressão
dos juros, mas certamente a batalha das expectativas começou a ser vencida ontem com
essa dose amarga do remédio de sempre.
Muita gente duvidava que o Banco Central teria autonomia para decidir sobre a alta dos
juros. A mudança no comando parecia indicar um BC mais dócil aos reclamos da Fazenda
de que essa inflação é passageira e que os juros não deveriam subir. Alexandre Tombini
avisou, logo que foi escolhido, que recebeu a incumbência de manter a inflação na meta.
No discurso de posse, a presidente definiu inflação como "praga". Ontem, o BC mostrou
que sim, pode subir juros. Falta agora acionar a outra arma, mais poderosa e com menos
efeitos colaterais para reduzir a inflação: o corte de gastos públicos.
-------------------------------------O Estado de S.Paulo – 21/01/2011
E vem mais
Celso Ming
Do primeiro Copom ninguém esquece, nem Dilma nem Tombini.
Tampouco o esquecerá o ministro Mantega. Não disse ele que será preciso controlar as
despesas públicas para abrir espaço para a queda dos juros?
Se os juros subiram em vez de cair (e se subiram tudo o que subiram), é porque o Banco
Central ainda não encontrou o espaço a ser aberto pela política fiscal. Por enquanto, só
aconteceram promessas de austeridade.
Os inconformados de sempre estão ainda mais inconformados. Entra governo, sai
governo, queixam-se, e o Banco Central continua fazendo o jogo dos rendeiros e dos
banqueiros, reforçando a condição de campeão mundial dos juros altos.
Mas se o Brasil é campeão dos juros é também porque é campeão da inflação. Maneira
de dizer, porque há juros mais altos (em menor número de casos) e inflação mais alta do
que a do Brasil (em maior número).
Outro grupo de descontentes argumenta que o presente surto de inflação é comandado
pelo mercado internacional e tem como foco a alta das commodities. Querem, a partir
daí, concluir que aperto na oferta interna de dinheiro (alta dos juros) não conserta
estrago que vem de fora. Mas, se a alta das commodities fosse mesmo causa relevante,
a inflação global seria muito maior do que é. Nos Estados Unidos e na média da área do
euro, a inflação é de 1,6% ao ano; na Inglaterra, de 1,9%; na Coreia do Sul, de 3,0%; e
no México, de 4,1%. (No Brasil foi para 5,9% e tende a subir.)
A inflação brasileira tem várias causas, mas, no momento, apenas uma é a principal: o
tamanho das despesas públicas, que cria renda e turbina o consumo em ritmo superior
ao da reposição de mercadorias e serviços. E a esticada de preços dos alimentos e das
matérias-primas também tem de ser atacada, pelo menos em seus efeitos secundários.
O comunicado divulgado após a reunião do Copom deixou claro que este foi o início de
um processo de ajuste. Ou seja, pode-se esperar por reforço da dose nos próximos
meses. O tamanho final da operação depende das proporções do choque de austeridade
que o governo estiver disposto a colocar em prática e do desempenho de causas
coadjuvantes.
O comunicado diz que o ataque à inflação vai contar com os efeitos das ações
macroprudenciais. Não ficou claro se o Copom se referiu às decisões já tomadas pelo
Banco Central (aumento do compulsório dos bancos e restrições ao crédito) ou se
pretende ampliá-las. É dúvida para ser dirimida com a leitura da ata da reunião do
Copom a ser editada na próxima quinta-feira.
A alta dos juros, que não vai parar por aí, não ajuda na obtenção de outro objetivo do
governo, que é o de conter a valorização do real (queda do dólar). As próprias empresas
brasileiras recorrerão ainda mais ao endividamento externo, bem mais barato do que o
interno, para suprir-se de recursos para investimento e capital de giro. Ou seja, não se
trata de entrada de capitais especulativos. Neste início de ano, as empresas brasileiras
contrataram US$ 2,7 bilhões por meio da colocação de títulos. Só a Petrobrás vai puxar
de fora outros US$ 6 bilhões. São dólares entrando em profusão, cuja conversão para
reais tende a achatar o câmbio, tirar competitividade da indústria, etc.
CONFIRA
Este aí é o ritmo do crescimento econômico da China nos últimos 7 anos.
O avanço chinês. A surpresa não foi o forte crescimento da China, num ano (2010) em
que o mundo rico ficou prostrado pela crise. A surpresa foi o crescimento maior do que o
esperado. Afora a surpresa, uma preocupação, que derrubou as bolsas nos pregões de
quinta-feira: a inflação da China também ficou mais alta, em 3,3%. O pressuposto é o de
que o governo de Pequim seja obrigado a conter o avanço do PIB de 2011 e reduzir o
volume de negócios com o resto do mundo.
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Folha de S.Paulo - 20/01/2011
Crescer, comprar, inflar
Vinicius Torres Freire
A INFLAÇÃO anda zanzando perto dos 6% no Brasil. Aumentos médios anuais de preços
de 6% não parecem, por si só, desorganizar economias. Aliás, nem de longe parece ser o
caso. Mas a inflação está alta demais? Quais os fatores que podem fazer o IPCA saltar
além dos 6%? O que é "demais"?
A meta de inflação definida para o BC é de 4,5%, com tolerância de dois pontos para
cima e para baixo. A inflação presente está, pois, na casa da tolerância, digamos. Mas
essa casa está além do mais ameaçada de enchente e de transbordamentos de preços.
Por quê?
1) A economia brasileira é ainda muito indexada. Inflações passadas contaminam
facilmente as do futuro. Além do mais, ainda somos "mentalmente indexados". Os preços
estão subindo 5%, 6% na média (para nem mencionar os índices de atacado rodando a
mais de 10%)? Reajustemos os nossos em 10% no ano que vem, para arredondar.
Enfim, como dizem os economistas, as expectativas de inflação se deterioram. Trocando
em miúdos, quase ninguém está achando que a inflação vai diminuir, e se aproveita a
oportunidade de reajustar preços, pois, por assim dizer, há "dinheiro sobrando" para
aceitar pedidos ou imposições de aumentos;
2) No que diz respeito a oferta e demanda, não estamos vivendo uma situação de
choques ou anormalidades passageiras. A taxa de juros real, embora indecente, está no
degrau mais baixo, em termos históricos. Há crédito barato sobrando no BNDES e no
mercado internacional. O gasto contratado do governo é alto e dificilmente será achatado
no curto prazo. Juros e gastos faz tempo aquecem a dita demanda. O desemprego está
baixo, num nível desconhecidamente baixo. A capacidade produtiva está apertada. O
deficit externo cresce, sinal de consumo excessivo. Todos os indicadores apontam que
estamos numa vulgar situação de demanda demasiada e de crescimento não inflacionário
no limite, ao menos no curto prazo;
3) O câmbio já deu sua contribuição ao controle de preços. O real não vai (nem deveria)
se valorizar o bastante de modo a contribuir para segurar os preços de produtos
"comercializáveis" (sujeitos à influência do comércio internacional);
4) Preços muito importantes, como o das commodities, não param de subir: trata-se de
combustíveis, comida, minérios, metais e até fibras de tecidos (algodão). Muitos desses
preços voltaram ao nível maníaco de setembro de 2008, antes da crise, sendo a exceção
mais gritante, por ora, a do petróleo. Mas os preços continuam subindo -a economia
mundial está mais animada, há choques climáticos a turbinar vários preços e, enfim,
dinheiro a juro baixíssimo para especular com índices de commodities.
Isto posto, diga-se, porém, que não há sinal de problema grave à vista, de "descontrole
inflacionário" e outras loucuras que se ouve vez e outra. Mas a administração da
economia vai ser mais enjoada na primeira metade do governo Dilma, como já se dizia
desde o final do ano passado (embora o risco de nova tragédia mundial tenha diminuído
muito). Vai ser interessante ver como o governo Dilma Rousseff vai se virar para
entregar um crescimento de 6% ao ano, como o prometido na primeira reunião
ministerial. Até agora, não apareceram planos coerentes para mostrar como isso vai ser
possível.
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ECONOMIA E OUTRAS NOTÍCIAS
O Globo - 20/01/2011
BC de Dilma aumenta juros para conter
inflação de Lula
Na primeira reunião do Comitê de Política Monetária do governo Dilma, o Banco Central
elevou os juros de 10,75% para 11,25%, a maior taxa dos últimos dois anos, numa
tentativa de conter a inflação herdada da Era Lula. O mercado já prevê que o aumento
de preços em 2011 será de 5,42%, distante do centro da meta oficial de inflação, de
4,5%. A decisão unânime do BC foi seguida de um aviso de que estava sendo iniciado
um ciclo de alta de juros no Brasil, país com a maior taxa do mundo. Segundo
economistas, o governo deveria fazer um corte maior nos gastos, para evitar juros mais
altos.
Dose de juros contra inflação
SOB PRESSÃO
Banco Central eleva taxa básica para 11,25% ao ano, maior nível desde março
de 2009, e indica novos aumentos
Patrícia Duarte
A primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do governo da presidente
Dilma Rousseff e sob a batuta de Alexandre Tombini, realizada ontem, não vai agradar
ao consumidor brasileiro. Em decisão unânime, a taxa básica de juros do país passou de
10,75% para 11,25% ao ano, o maior patamar desde março de 2009, encarecendo a
concessão de crédito. A elevação - a primeira em seis meses, para conter a inflação em
alta herdada do governo Lula - era amplamente esperada pelos agentes econômicos. Por
isso, esperam mais aumentos daqui para a frente, pelo menos até abril.
No comunicado após a reunião de ontem, que durou quase quatro horas, o Copom
afirmou que está começando um ciclo de alta dos juros. Mas o ciclo talvez não seja tão
intenso quanto parte do mercado passou a achar esta semana. Isso porque o texto da
nota oficial indicou que, para o Banco Central (BC), o aperto na política monetária
começou em dezembro, quando foram elevados compulsórios e baixadas medidas para
frear o crédito.
Em nota, o colegiado informou que a elevação de ontem deu "início a um processo de
ajuste da taxa básica de juros, cujos efeitos, somados aos de ações macroprudenciais,
contribuirão para que a inflação convirja para a trajetória de metas".
- O recado é o de que o aperto não deve ser composto de muitas altas de juros. O
Copom colocou um pouco de água na fervura - afirmou o economista-chefe do WestLB,
Roberto Padovani, que acredita em mais duas altas de meio ponto percentual em março
e abril, para 12,25% ao ano, mesmo patamar projetado por boa parte do mercado.
Ao elevar a Selic, o Copom também encarece as taxas de juros cobradas dos
empréstimos às famílias e empresas, inibindo o consumo. Dessa maneira, retira boa
parte da pressão inflacionária, que é o objetivo do BC. O mercado, pela pesquisa Focus
da autoridade monetária, prevê o IPCA - índice que orienta o sistema de metas de
inflação - este ano a 5,42%. Há um mês, projetava 5,29%, mostrando que, cada vez
mais, as estimativas se distanciam do centro da meta de inflação do governo, de 4,5%.
O economista-chefe da Máxima Asset Management, Elson Teles, também concorda que o
ciclo de aumentos da Selic pode ser um pouco menor, chegando a 12,25% anuais. Ele
lembrou que, em dezembro passado, o BC retirou R$61 bilhões no mercado por meio de
compulsórios bancários - parcela dos recursos dos bancos que fica presa na autoridade
monetária, sem remuneração - e definiu medidas restritivas na concessão de crédito de
longo prazo voltado para consumo de bens duráveis, como automóveis.
Decisão significa maior pressão sobre o câmbio
Muitos entenderam que, na prática, o novo ciclo de aperto monetário do BC teve início
naquele momento.
- Espera-se ainda que o governo faça um esforço fiscal maior este ano, também
reduzindo a demanda - acrescentou Teles, referindo-se ao superávit primário, que é a
economia feita pelo setor público para pagamento de juros e que, na avaliação do próprio
BC, deve corresponder a um ponto percentual do PIB em 2011.
Tombini repetiu ontem o movimento feito pelo seu antecessor, Henrique Meirelles, que,
quando assumiu a autoridade monetária em 2003, no início do governo Luiz Inácio Lula
da Silva, elevou a Selic em meio ponto. Mas, daquela vez, ela foi para 25,50%, em meio
a uma crise de confiança que assolava o país, bastante diferente do momento atual.
A fonte de pressão mais importante para a inflação, dizem analistas, são as commodities
(matérias-primas), como alimentos, cujas cotações são definidas no mercado
internacional. Além disso, pesa o ritmo de crescimento do país, que em 2010 estima-se
ter sido de 7,5%, com a demanda mais forte que a oferta.
- Não estamos vendo apenas piora da inflação corrente, mas também nas expectativas.
O Copom acertou - afirmou o economista do banco Santander Cristiano Souza, para
quem a taxa poderá fechar o ano a 13%.
Mas, ao mesmo tempo em que controla a inflação, a elevação da Selic, e a expectativa
de que essa tendência continuará nos próximos encontros do Copom, pode trazer
consequências para o câmbio, atraindo mais investidores estrangeiros para ganhar
dinheiro aplicando em juros, o que alimenta a valorização do real frente ao dólar. Tudo o
que o governo não deseja.
A elevação da Selic foi duramente criticada por empresários e dirigentes sindicais. Um
mau começo, foi como resumiu a decisão o presidente da Federação das Indústrias de
São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. Segundo ele, a alta de 0,5 ponto foi um erro, pois vai
elevar em R$200 bilhões a conta de juros do governo.
- Isso é um absurdo. Com esse dinheiro poderíamos viabilizar a construção de mais de
390 mil casas pelo programa Minha Casa, Minha Vida, ou dois terços de todo o
orçamento anual do Bolsa-Família - disse Skaf.
O gerente-executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco,
disse que o aumento foi precipitado e compromete o crescimento do país. De acordo com
ele, os efeitos das medidas de contenção do crédito adotadas em dezembro ainda não
foram plenamente observados.
Já para o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical, não há
justificativa para manter juros tão altos no país.
COLABOROU: Ronaldo D"Ercole
-------------------------------Folha de S.Paulo - 20/01/2011
Pressão inflacionária faz BC de Dilma
estrear com alta de juro
Na primeira reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central no governo Dilma,
a taxa básica de juros subiu 0,5 ponto percentual, para 11,25%, refletindo as
preocupações com a evolução da inflação.
O índice oficial fechou o ano passado perto de 6%, o maior em seis anos, acima do
centro da meta de 4,5% fixada pelo governo. Com a elevação, os juros básicos
retornaram para o patamar de março de 2009.
Banco Central de Dilma estreia com aumento da taxa de juros
Copom eleva Selic em 0,5 ponto, para 11,25% ao ano, a fim de tentar frear
consumo e inflação
BC diz que alta é "início de processo de ajuste da taxa"; para mercado, juros
vão subir nas próximas duas reuniões
EDUARDO CUCOLO
DE BRASÍLIA
O Banco Central aumentou ontem a taxa básica de juros (Selic) de 10,75% para 11,25%
ao ano, na primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) no governo
Dilma Rousseff.
Essa foi também a estreia de Alexandre Tombini no comando do Copom. Assim como
seus dois antecessores, Armínio Fraga e Henrique Meirelles, Tombini aumenta os juros
logo após assumir a presidência do BC.
A alta era esperada pela maior parte do mercado e dá continuidade ao trabalho iniciado
em 2010 pelo governo para frear o consumo e segurar a inflação.
No comunicado divulgado após a decisão, que foi unânime, o BC diz que a alta dá "início
a um processo de ajuste da taxa básica de juros", que, somado às medidas já
anunciadas, contribui para que a inflação retorne para a meta.
Em dezembro, o BC anunciou restrições a financiamentos com prazo superior a 24 meses
e retirou da economia a última parte do dinheiro injetado na crise de 2008.
O governo promete para fevereiro corte no Orçamento que pode chegar a R$ 50 bilhões,
outra medida para segurar a demanda e os preços.
Sem o corte, o aumento dos juros será maior, o que contribui, por exemplo, para atrair
mais dólares para o país e derrubar a cotação da moeda norte-americana.
A expectativa do mercado é que o juro voltará a subir nas duas próximas reuniões do
Copom, em 2 de março e 20 de abril, para encerrar o ano em 12,25%. Só voltaria a cair
em 2012.
ACIMA DA META
A inflação (IPCA) fechou 2010 em 5,9%, maior patamar em seis anos, acima da meta de
4,5% fixada pelo governo. As previsões do BC mostram que, com o aumento dos juros, a
inflação termina o ano em 4,8% e atinge a meta no fim de 2012.
A taxa básica determina o custo do dinheiro para os bancos e serve de base para os
juros dos empréstimos a empresas e consumidores, cuja taxa média está hoje próxima
de 35% ao ano.
Com esse aumento, os juros voltaram ao patamar em que estavam em março de 2009.
Naquele ano, por causa da crise, chegariam ao menor nível da história (8,75%).
Com a recuperação da economia e a alta dos alimentos, que puxaram a inflação, a taxa
voltou a subir em 2010.
O Brasil permanece no topo do ranking das economias com as maiores taxas reais do
mundo. O indicador, que é a diferença entre a taxa básica e a inflação projetada para 12
meses, está em 5,48%.
--------------------------------------Correio Braziliense - 20/01/2011
Começou o arrocho
Juros sobem para 11,25% ao ano. Os bancos e o comércio devem reajustar suas
taxas a partir de hoje.
Contra a inflação, juros nas alturas
Comitê de Política Monetária (Copom) sobe a taxa básica (Selic) em 0,5 ponto
percentual, para 11,25% ao ano. Banco Central sinaliza que a escalada terá
continuidade
Gabriel Caprioli
Na primeira reunião do governo Dilma Rousseff, o Comitê de Política Monetária (Copom)
deu início a um ciclo de arrocho que promete ser longo. Marcando a estreia do novo
presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, o colegiado de diretores decidiu ontem
elevar a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano. A
medida, já esperada por grande parte dos analistas, visa conter a inflação, que no ano
passado fechou em 5,91%, e que, em 2011, mantém fôlego total, ameaçando o poder de
compra dos brasileiros.
Depois de permanecer por mais de seis meses em 10,75%, a Selic retorna ao mesmo
nível de março de 2009. O remédio é amargo, porém, necessário, justificou o BC em
nota oficial: “O Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 11,25% ao
ano, sem viés, dando início a um processo de ajuste da taxa básica de juros, cujos
efeitos, somados aos de ações macroprudenciais, contribuirão para que a inflação
convirja para a trajetória de metas”. O aperto não deverá avançar muito além daquilo
que o mercado projeta para as três primeiras reuniões do ano — um avanço de 1,5 ponto
percentual. O principal recado do BC será dado na próxima semana, com a publicação da
ata da reunião de ontem.
Roberto Padovani, estrategista-chefe do Banco West LB, disse que o movimento do
Copom pode ser traduzido com facilidade. “Entendo que ele quis dizer exatamente isso:
que não passará muito do 1,5 ponto e que será cauteloso no ciclo de elevação. Podemos
tirar a conclusão ainda de que ele manterá nas próximas reuniões o ritmo de 0,5 p.p”,
explicou.
Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, no entanto, o
cenário de inflação em alta pode obrigar a autoridade monetária a pesar ainda mais a
mão nas próximas decisões. “Dados os fatores como estão, com alimentos influenciando
negativamente e sem muitas esperanças de que os choques diminuam em horizonte
mais curto de tempo, pode ser que 1,5 ponto no primeiro semestre seja insuficiente e
force novas altas”, avaliou. No ano passado, os preços de itens alimentícios sofreram
reajuste médio de 10,39% e representaram nada menos do que 68% de toda a inflação
do país.
Apesar de significativa, a alta da Selic, sozinha, tende a não ser suficiente para frear o
consumo. Se quiser inibir o ímpeto das famílias em comprar, o governo terá de lançar
mão de mais ferramentas macroeconômicas. A Pesquisa Mensal de Comércio (PMC),
elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrou expansão
de 9,9% no volume de vendas em novembro do ano passado, em relação ao mesmo
período anterior. Na mesma comparação, o montante de crédito concedido a pessoas
físicas avançou 20,8%, enquanto para as empresas o bolo cresceu 20,9%, conforme
registrou o Banco Central.
Expectativa
Com tantos sinais nebulosos pela frente, alguns economistas advertem que ainda é cedo,
mesmo para o Banco Central, para determinar o ajuste total da Selic. Durante o primeiro
trimestre do ano, a postura do colegiado deve ser observada com lupa. “O avanço
provável de 1,5 ponto percentual que esperamos nas três primeiras reuniões do ano é
uma conta sujeita a chuvas e trovoadas. Ainda há muita incerteza em relação a quanto o
cenário internacional aumenta as pressões e também no que diz respeito ao mercado
doméstico. Essa dúvida vai permanecer, de certa forma, até o primeiro relatório
trimestral de inflação”, disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima
Gonçalves. Parte dos analistas acredita que a Selic encerre o ano em 13,75%, antes de
estacionar novamente.
Além das incertezas em relação ao repique de preços, pesam sobre a decisão tomada
pelo Copom os instrumentos de política monetária aplicados pelo Banco Central no fim do
ano passado — como a retirada de R$ 61 bilhões do mercado. A drenagem foi feita por
meio da ampliação do recolhimento compulsório exigido dos bancos. Fora de circulação,
o dinheiro retido contribui para a elevação de juros por parte das instituições financeiras,
que cobram mais para emprestar, uma vez que estão com menos disponibilidade de
recursos. As taxas mais altas desestimulam o consumidor a tomar novos financiamentos,
suavizando as pressões sobre os preços.
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O Estado de S.Paulo - 20/01/2011
BC de Dilma aumenta juros na 1ª reunião e
indica novas altas
O Comitê de Política Monetária do Banco Central, em sua primeira reunião sob o governo
de Dilma Rousseff, anunciou aumento de 0,5 ponto porcentual nos juros básicos, para
1l,25% - patamar de março de 2009, em meio à crise internacional. O Copom salientou
que apenas deu "início ao processo de ajuste da taxa", indicando novas altas. O controle
da inflação se sobrepôs à vontade política de iniciar o mandato de Dilma com uma
redução dos juros. O aumento foi acertado com Dilma, que se convenceu de que este é o
momento para conter os preços, relata Beatriz Abreu. Para o mercado, a medida terá
pouco impacto nas operações de crédito, que já praticam juros mais altos.
BC eleva juro e indica novas altas
Na primeira reunião no governo de Dilma Rousseff, Copom aumenta taxa básica
de juro em 0,5 ponto porcentual para 11,25% ao ano
Fabio Graner - O Estado de S.Paulo
Na primeira reunião do governo de Dilma Rousseff, o Comitê de Política Monetária
(Copom), comandado por Alexandre Tombini, decidiu elevar a taxa básica (Selic) em 0,5
ponto porcentual, para 11,25% ao ano. Com o movimento, a Selic retoma o patamar de
11,25%, vigente em março de 2009, quando a política monetária estava em pleno
processo de flexibilização por conta da crise internacional.
A decisão do colegiado foi unânime, após reunião que durou mais de três horas e meia. O
comunicado do Copom destacou que a medida marca o início do processo de alta da
Selic, "cujos efeitos, somados aos das ações macroprudenciais, contribuirão para que a
inflação convirja para a trajetória de metas".
A decisão reflete a necessidade de se interromper o movimento de elevação das
expectativas inflacionárias para este ano, que, segundo a pesquisa Focus, já apontam o
IPCA em 5,42%, acima do centro da meta de 4,5%. Vale lembrar que o índice oficial
fechou o ano passado em 5,91%, o maior nível desde 2004.
A elevação dos juros ontem interrompe uma sequência de três manutenções seguidas na
Selic (nas reuniões de setembro, outubro e dezembro) em 10,75% ao ano. Apesar de o
Banco Central reconhecer em seus documentos mais recentes que parte relevante da alta
da inflação decorre de choques de oferta, principalmente de alimentos, a decisão do
Copom revela o temor de que essas altas de preços possam contaminar o restante da
economia, em função de uma demanda interna aquecida. Além disso, busca transmitir
um sinal de força do novo presidente da autoridade monetária, que ainda precisa
consolidar uma reputação de que não vai transigir com a busca de manter a inflação na
meta.
A elevação dos juros, de fato, dá sequência ao processo de aperto monetário iniciado em
dezembro, com a elevação dos depósitos compulsórios e do aperto das condições de
crédito. Segundo cálculos de analistas de mercado e do próprio governo, tais medidas
seriam equivalentes a uma elevação de 0,5 a 1 ponto porcentual na taxa Selic.
Para o economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto, com a demanda interna
aquecida, elevação nos preços do setor de serviços e a piora das expectativas
inflacionárias, o processo de elevação dos juros se torna necessário. "As ações
prudenciais já tomadas não substituem política de juros e também a política fiscal, sobre
a qual ainda há ceticismo."
O estrategista-chefe do Banco WestLB, Roberto Padovani, considera que a combinação
de choques de oferta, economia aquecida e o fato de se estar começando um novo
governo - em que, sem autonomia formal, o BC precisa consolidar sua reputação - levam
ao processo de alta da Selic. "Não acho que a economia esteja superaquecida, mas está
aquecida. Não dá para dizer que a economia está fraca. Ela está rodando próximo do
potencial. Em economia que sofre choques com esse nível de atividade, a situação
complica."

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