a busca do belo em si através de belos corpos: sócrates e a arte
Transcrição
a busca do belo em si através de belos corpos: sócrates e a arte
Revista Aproximação – Edição extraordinária – N° 5 A BUSCA DO BELO EM SI ATRAVÉS DE BELOS CORPOS: SÓCRATES E A ARTE ERÓTICA Nayara Dias Scrimim Graduanda em Filosofia da UNICAMP “Por que honras, sagrado Sócrates, Sempre esse jovem? Não conheces nada maior? Por que o fitam com amor, como aos deuses, os teus olhos?” Aquele que pensou o mais fundo ama o mais vivaz, Aquele que encarou o mundo entende a juventude altiva E enfim frequentemente os sábios curvam-se aos belos. (Hölderlin) Resumo: O presente texto se propõe a examinar a trajetória de Sócrates nos momentos em que o filósofo faz uso da dialética sedutora de Eros. Em busca da Ideia de Belo em si, Sócrates parte do sensível – conquistando belos jovens – para alcançar o inteligível. Para o desenvolvimento desse estudo abordamos apenas os diálogos em que Sócrates desfruta da arte da sedução, a saber: Lísis, Alcibiades I e Cármides. Neles, Sócrates se dedica à prática da sedução de belos corpos. Usamos também o Diálogo Banquete no qual Sócrates expôs os motivos que o levaram a tal prática. Assim, analisamos o motivo que levou Sócrates a partir do sensível e buscar o inteligível, bem como de que maneira isso é narrado nos diálogos de Platão. Nossa metodologia é baseada na leitura segundo a ordem da lexis (ação de dizer inserida nos próprios diálogos). Palavras-chave: Dialética Erótica. Eidos. Eros. Abstract: The present study aims at examining the moments in Socrates' trajectory that present an erotic aspect of his dialectic. That happens when, to pursue the Idea of Beauty itself, Socrates establishes a seductive relationship with beauty to achieve the intelligible as well. To develop this study we use the dialogues in which Socrates practiced the art of seduction, the Dialogues are Lisis, Alcibiades I e Charmides. In these texts, Socrates dedicates himself to the seduction of beautiful bodies through his dialectic. We also use the Dialogue Symposium, where upon the philosopher exposes reasons that led to the seductive art. Moreover, we analyze the consequences of Socratic dialectic, thereby, if Socrates managed to overcome the first stage towards the Idea of Beauty Itself and if he managed to transmit this knowledge to his disciples and interlocutors. Keywords: Beauty Idea. Dialectic Erotic. Eros. 5 Revista Aproximação – Edição extraordinária – N° 5 O presente artigo se propõe a examinar a trajetória de Sócrates nos momentos em que o filósofo faz uso da dialética sedutora de Eros. O que ocorreria quando, ao buscar a ideia de Belo em si, Sócrates parte do sensível, estabelecendo uma relação sedutora com a beleza dos corpos, para alcançar o inteligível. Para o desenvolvimento deste estudo abordamos apenas os diálogos em que Sócrates pratica a arte da sedução1, a saber, os diálogos: Lísis, Alcibiades I e Cármides. Neles, Sócrates se dedica à arte da sedução de belos corpos para erotizar o seu não-saber. Usamos também o diálogo Banquete no qual Sócrates expôs os motivos que o levaram a tal arte. Assim, analisamos o motivo que levou Sócrates a buscar o inteligível a partir do sensível, bem como de que maneira isso é narrado nos diálogos de Platão. Além disso, analisamos quais os resultados da dialética socrática, ou seja, se Sócrates consegue ultrapassar esse primeiro estágio rumo à Ideia de Belo em si e se consegue transmitir esse conhecimento para seus discípulos e interlocutores. Nossa metodologia é baseada na leitura segundo a ordem da lexis (ação de dizer inserida nos próprios diálogos), tal como é utilizada por nosso orientador. Esse método nos permite apresentar uma nova maneira de interpretação dos diálogos platônicos, distanciando-nos da tradição neoplatônica que, em certo sentido, ainda é a predominante na maioria dos comentadores. Ler os diálogos de Platão sob a luz das teses de Benoit nos revela um texto muito diferente. Com efeito, Platão é um dos autores mais caros à história da filosofia e também um dos mais difíceis de se interpretar. A dificuldade inicial, parece-nos, é que Platão nos deixara diálogos nos quais o próprio autor, quando na maioria das vezes está ausente, tem sempre um papel muito secundário. Nesse sentido, a estética e a filosofia da arte podem ajudar a solucionar problemas interpretativos em torno do pensamento de Platão. A partir das teses do professor Hector Benoit, buscamos enveredar uma nova perspectiva para o pensamento de Platão, levando em consideração a forma sensível de exposição, a saber, os diálogos. Uma das conclusões a que chega Benoit é que os diálogos, lidos enquanto diálogos, revelam, imanentemente à sua própria forma, o conteúdo conceitual do pensamento de Platão, qual seja, a morte da metafísica e o retorno à Grécia arcaica: 1 Evidentemente, o amor aos belos corpos é um momento inicial nessa trajetória em busca do inteligível. Portanto, trata-se do primeiro degrau em direção a seu objetivo, o inteligível. 6 Revista Aproximação – Edição extraordinária – N° 5 Platão (já velho ateniense), tomando finalmente a palavra, realizou nas Leis a superação da fragmentação das temporalidades, lançando-nos no caminho luminoso de um retorno para além de Sócrates, de Parmênides e do começo da filosofia grega, um retorno à experiência poética de uma physis originária, onde (no futuro, talvez próximo) seremos purificados, definitivamente, da meta-física(BENOIT, H. 2004, v. 4 p. 163). Sem dúvida, a tese de Benoit é polêmica porque contesta toda uma tradição de interpretação dos textos platônicos. Entretanto, essa tese é muito convincente, sobretudo pelo seu método de investigação. Uma premissa fundamental para aceitarmos as conclusões de Benoit é o estudo e a sistematização das temporalidades. Para Benoit, são quatro as temporalidades das obras de Platão: a léxis, a nóesis, a gênesise a poíesis. E, como dito anteriormente, nos fundamentamos na temporalidade da léxis. A léxis expressa a ação de dizer, ou seja, demonstra a cena dramática dos diálogos – é uma temporalidade deliberada pelo autor dos diálogos. A partir dessa ação de dizer, podemos encadear os diálogos e oferecer uma nova disposição para os mesmos (diatáxis). Ao ignorar esta temporalidade da léxis, eliminando a sua materialidade, pensamos que se alteraria a própria temporalidade conceitual da obra de Platão e de qualquer obra filosófica ou teórica. Benoit aponta inúmeros elementos nos próprios diálogos para justificar a léxis e, consequentemente, a diatáxis (disposição dos diálogos de acordo com a ação dramática). Muitas vezes são as idades dos personagens, os dados históricos referidos no próprio texto e a menção de cenas dramáticas de diálogos anteriores. Com essa metodologia de ler os diálogos enquanto diálogos, atentando para toda cena dramática de cada texto e os organizando com um elo intrínseco e imanente a eles mesmos, pode-se chegar a uma interpretação original e atípica da filosofia de Platão. No diálogo Banquete, Sócrates, dizendo-se sábio nas questões do amor, narra aos seus interlocutores um fato ocorrido em sua juventude2 que mudou completamente sua trajetória3. Conta que, aproximadamente em 440 a.C., a sacerdotisa Diotima4 lhe revelou a dialética demoníaca de Eros5. Segundo ela, Eros não é nem deus nem mortal, 2 Ele tinha por volta de trinta anos. Para melhor compreender a trajetória socrática, ver: A tetralogia dramática do pensar, Hector Benoit. 4 Acredita-se que esta sacerdotisa, com seus poderes mágicos, retardou por dez anos uma peste que viria a acontecer em Atenas. 5 BENOIT, H. 2004, v. 2 p.48: ―Afinal, ali onde o lógos silencia, onde se agravam as desventuras da sua dialética, surgem sempre no caminho de Sócrates, como veremos outras vezes, os deuses, as sacerdotisas, 3 7 Revista Aproximação – Edição extraordinária – N° 5 mas algo intermediário aos dois, um daimon. Diotima, ao narrar a gênese mítica de Eros, fala sobre a sua natureza e justifica por que ele é provido de beleza e sabedoria e, simultaneamente, carente de ambos: isso se dá ao fato deste daimon ser filho tanto da Pobreza quanto do Recurso. Por ser filho da Pobreza, o demoníaco poderia acomodar-se com o nada saber, mas sua origem no Recurso o faz inquietar-se com este saber que não se sabe. Essa inquietação é também característica daquele que ama, sentimento provocado por Eros, quando estamos próximos a quem desejamos ou a um belo corpo. A sacerdotisa apresenta o percurso6 que deve ser seguido para alcançar, por meio do sensível, o inteligível. Mostra ao jovem Sócrates que a arte erótica vai além das volições carnais e da mera reprodução, visando a imortalidade, o desejo de ser para sempre, característico de todo ser mortal. Afirma que as coisas do Amor abrigam também um saber esotérico: um mapa de ascensão em direção às Ideias em si, pois, o desejo mais intenso de Eros é atingir uma beleza além dos corpos e olhos sensíveis. O maior desejo deste demônio é voltado para a ideia em si e por si do belo, coisa que só se admira com os olhos da alma. O primeiro momento do percurso traçado por Diotimaé o de amar os belos corpos sensíveis e engendrar neles a superação da mortalidade7. Estes corpos belos causam uma inquietude naquele que sabe que não sabe e o lançam, assim, no movimento inicial à procura do belo. Desse modo, para atingir seu objetivo de alcançar a ideia de belo em si, Sócrates irá à conquista de belos corpos e, para isso, fará uso do saber que nada sabe8 contra eles. Como consequência, os jovens, que antes pensavam possuir algum saber, são agora tidos como incoerentes, pois, ao final do diálogo, afirmam o contrário do que haviam os adivinhos, os encantamentos, as verdades atópicas reveladas. Sempre ali onde a dialética conceitual fracassa, onde as determinações tornam-se intransponíveis, irrompem os intermediários demoníacos, e são estes que impulsionam Sócrates para diante. Estes entes demoníacos tornar-se-ão parte integrante da dialética socrática.‖ 6 Conferir este percurso em: Banquete 209 e – 211c 7 BENOIT, H. 2004, v. 2 p. 51: ―O único meio que possui o ser finito para atingir a realização do desejo da imortalidade é engendrar um novo ser. Para substituir o seu próprio ser efêmero que se deteriora pelo tempo inexorável, o mortal engendra um novo ser através da união sexual com o ser amado. Assim, satisfazendo o desejo de Eros, "toda existência mortal se salva a si própria; e mesmo não sendo jamais totalmente idêntica a si própria, como é a existência divina, faz que isto que se perde, e que seu envelhecimento arruinou, deixe atrás de si outro ser novo, semelhante ao que se foi‖(Banquete 208a8-b2). 8 Segundo a Pythia, do oráculo de Delfos, Sócrates é o homem mais sábio de todos, visto que, tem consciência de que nada sabe. Assim, o ateniense, dizendo que nada sabe, pede para que seus interlocutores definam certos conceitos, fazendo com que caiam em contradição, mostrando-lhes que nada sabem. 8 Revista Aproximação – Edição extraordinária – N° 5 dito no início. Destarte, os belos jovens são envergonhados publicamente e, rebaixados, reconhecem o seu não saber, ficando admirados com Sócrates e sendo assim seduzidos por ele. O método de sedução socrática pode ser encontrado em três diálogos: Lísis, Alcibiades I e Cármides. O primeiro9 em que observamos o uso da dialética erótica é o Lísis, um diálogo aporético, no qual se discute a definição de amizade – porém, a finalidade inicial é demonstrar a Hipotáles como ele deve proceder para conquistar o seu amado (Lísis). Sócrates diz a Hipotáles que não é necessário que este diga se está apaixonado ou não, pois o filósofo julga possuir um grande dom divino, e diz perceber que Hipotáles está. É inútil que me digas se amas ou não; eu sei que tu amas e que estás nos primeiros passos na rota do amor [...]. Para todas as outras coisas, sou medíocre e de poucos recursos; mas está em mim uma espécie de dom dos deuses e sei reconhecer ao primeiro olhar aquele que ama ou é amado 10. Hipotáles, enamorado pelo jovem Lísis, faz versos e cantos em homenagem ao seu amado. Mas, infelizmente, não é correspondido. Sócrates então o adverte que não se deve agir desse modo para conquistar o jovem, pois quanto mais os jovens se veem celebrados e elogiados, mais se tornam orgulhosos e difíceis. Elogiar o amado antes de tê-lo seduzido, compara Sócrates, é como um caçador que começasse a sua caçada assustando a sua presa e tornando assim a sua caça mais difícil. O apaixonado Hipotálespede então, para aquele que se diz perito nas coisas do amor, que o aconselhe a como agir para ser agradável ao que se ama. Sócrates se propõe a mostrar na prática o que o apaixonado deve fazer. O sábio na arte erótica vai então conversar com Lísis, e a temática discutida, a saber, a definição de amizade, é secundária11. Por meio de suas interrogações, pouco a pouco, Sócrates vai cercando o inocente Lísis, até que o jovem, reconhecendo o seu não saber e a sua necessidade de aprender, vai humildemente concordando com todas as consequências das perguntas socráticas – sendo, então, humilhado por Sócrates. Satisfeito com o resultado da conversa, Sócrates confessa ter sentido vontade de dizer em voz alta a Hipotáles, o qual assistia a conversa escondido entre os outros 9 Este é o primeiro diálogo segundo a ordem da lexis, que Sócrates faz uso da dialética erótica. PLATÃO. Lísis, 204 b – c. 11 Pois é apenas um pretexto para a demonstração da técnica de sedução de Sócrates. 10 9 Revista Aproximação – Edição extraordinária – N° 5 ouvintes, que este é o modo que se deve falar com o ser amado, rebaixando-o e humilhando-o, e não o lisonjeando como o apaixonado fazia erradamente: ―é assim, Hipotáles, que é preciso tratar com os que amamos, diminuindo-os e rebaixando-os, e não como tu fazes, lisonjeando-os e vergando aos seus caprichos―12. Sócrates, portanto, segue o percurso traçado pela sacerdotisa, buscando ir além do amor sensível dos corpos, até chegar ao amor da beleza da alma e partir para o segundo degrau de ascensão às ideias em si, a saber: a busca pelas belas ações. No diálogo Alcibíades I, podemos observar novamente o comportamento de Sócrates como o de um sedutor. Nesta obra, Sócrates faz uso do mesmo recurso utilizado com Lísis para seduzir o vaidoso e ambicioso jovem. Através de sua dialética, o filósofo conduz Alcibíades à contradição e, humilhado, o jovem percebe sua incoerência e concorda:―pelos deuses, Sócrates, já não sei mais o que falo, encontro-me numa situação esquisita; quando me interrogas, ora sou de uma opinião, ora de outra13‖. Neste diálogo, contudo, Sócrates vai além do processo de humilhação e sedução. Promete ao jovem que não irá abandoná-lo, mesmo quando a beleza não estiver mais presente em seu corpo. Isso porque, para o sedutor, quando se ama apenas o corpo, este amor se afasta quando o amado perde a juventude. A partir desse momento o filósofo não mais deseja depreciar o jovem, mas se declarar sinceramente a ele: ...sou eu justamente aquele que não te abandona, aquele que permanece quando o corpo perde a sua flor e quando os outros se afastam [...] não houve e não há ninguém, acredito, que tenha sido ou que esteja apaixonado por Alcibíades, o filho de Clínias, salvo um só homem, e este amante desejado é Sócrates, filho de Sofronisco e Fenarete 14. Desse modo, no diálogo com Alcibíades, Sócrates ultrapassa mais uma etapa do caminho traçado por Diotima. Ele vai além de sua dialética e avança em direção ao seu objetivo, o que ocorre quando, ao contemplar na alma de Alcibíades a sua própria, o filósofo alcança o saber de si: seu primeiro saber positivo (133). Assim, supera não só aquele saber negativo (saber que não sabe), mas também a dialética da mera sedução, pois ficou confiante de ter inserido um saber na alma de seu 12 PLATÃO. Lísis, 210e. PLATÃO, Alcibiades Primeiro, 116e. 14 IDEM, 131 d-e. 13 10 Revista Aproximação – Edição extraordinária – N° 5 jovem interlocutor15, já que Alcibíades prometera agora seguir sempre os passos de Sócrates em todos os lugares e caminhos. Alcibíades, então, torna-se um verdadeiro discípulo, estando disposto a tentar com Sócrates a difícil escalada até a Ideia suprema do Belo em si e por si. A ascensão de Sócrates pode ser observada no elogio feito por Alcibíades ao filósofo no Banquete. Este discípulo narra como Sócrates já não parecia afetado pelas coisas sensíveis, uma vez que Sócrates não cedera às provocações carnais de Alcibíades, até mesmo quando os dois estavam dividindo um mesmo leito: Estendi-me por sob o manto deste homem, e abraçado com estas duas mãos a este ser verdadeiramente divino e admirável fiquei deitado a noite toda. Nem também isto, ó Sócrates, irás dizer que estou falseando. Ora, não obstante tais esforços meus, tanto mais este homem cresceu e desprezou minha juventude, ludibriou-a, insultou-a e justamente naquilo que eu pensava ser alguma coisa, senhores juízes; sois com efeito juízes da sobranceria de Sócrates – pois ficai sabendo, pelos deuses e pelas deusas, quando me levantei com Sócrates, foi após um sono e nada mais extraordinário do que se eu tivesse dormido com meu pai ou um irmão mais velho16. Outro indício da ascensão de Sócrates rumo às Ideias é o fato, também narrado por Alcibíades, de que aquele superara todos os seus companheiros na Batalha de Potideia em 432a.C. Segundo Alcibíades, o filósofo era capaz de enfrentar a fome, o cansaço, o frio, o sono e até mesmo os efeitos do álcool todos esses elementos pareciam não lhe afetar. Foi também nesta batalha que Sócrates lutara vigorosamente e invencivelmente, salvando seus companheiros feridos (Banquete 219 e – 221c). No entanto, é no Diálogo com Cármides que o percurso de Sócrates parece correr riscos, já que a beleza do jovem é tão admirável que faz com que todos ajam tolamente. Sócrates parece ficar encantado com o corpo do belo jovem. O que fica claro na seguinte citação: Cármides sentou entre mim e Crítias. Nesse instante, amigos, fiquei atrapalhado e me vi abandonado da confiança habitual, com que contava para conversar naturalmente com ele [...]. Olhei para dentro das vestes de Cármides e me senti abrasado e fora de mim, tendo então compreendido quão sábio fora Cídias em matéria de amor, por haver aconselhado alguém, com referência a um belo jovem: ―Cuidado deve ter a corça tímida do leão não se aproxime, para presa dele não vir a ser‖. Eu de mim, já me julgava nas garras 15 Não se engendrara no corpo de Alcibíades algo físico, não se realizara mera posse ou sedução do corpo, mas sim, se engendrara um saber em sua alma. Isso que Sócrates engendra na alma de Alcibíades é o amor à Ideia em si de Belo. 16 PLATÃO. Banquete, 219 c - e. 11 Revista Aproximação – Edição extraordinária – N° 5 de semelhante fera17. Desse modo, Sócrates não se encontrava totalmente livre das coisas sensíveis. Todavia, aos poucos irá retomar a autoridade de si e se voltará apenas para a alma do belo Cármides. Conseguindo prosseguir na conversa e fazendo o que lhe era de costume, a saber: humilhar e envergonhar o belo jovem com sua dialética e com isso seduzi-lo, Sócrates promete dar um encantamento ao jovem para que melhore suas dores de cabeça. Mas, antes de curar o corpo, é necessário cuidar da alma. Segundo o filósofo, a alma é tratada com certas fórmulas de magia e essas fórmulas são os belos argumentos. Esses argumentos geram na alma sabedoria18. Quando a alma possui essa sabedoria e a conserva, torna-se mais fácil atingir a saúde tanto na cabeça como no corpo inteiro. Devido a isso, Sócrates pede para Cármides provar se é sábio e para que ele defina o que é a sabedoria. O jovem afirma que não sabe o que responder e com isso a dialética socrática se efetiva, assim como acontecera com os outros jovens: a partir da vergonha e da aceitação de que não sabe: ―por Zeus Sócrates, não sei se possuo ou se não possuo a temperança. E como poderia sabê-lo, se até vós mesmos, como acabas de declarar, não conseguis determinar sua natureza?19‖. Como vimos no diálogo com Alcibíades, Sócrates prossegue na sua trajetória em ascensão às Ideias, pois, como já ultrapassara esta etapa de sedução, não havia necessidade de novamente praticá-la. Mas, para alcançar seu objetivo, deveria seguir o caminho traçado por Diotima, praticando belas ações, como fizera em Potidéia. Todavia, o filósofo mais uma vez utiliza o não saber e a humilhação para seduzir o jovem Cármides, e, ao que parece, faz isto desnecessariamente. De acordo com a Tetralogia Dramática do Pensar20 ―o não saber socrático já se transformara em saber de si, saber positivo, que permitia não mais seduzir jovens, mas sim, convencer a estes e aos seus tutores de que Sócrates era sábio‖. No entanto, ao final desse diálogo, Sócrates afirma que não conseguira obter nenhum resultado com a discussão, pois não soube conduzir a investigação21. Contudo, o filósofo agira com o 17 PLATÃO. Cármides,155 c – e. Alguns tradutores, como Carlos Alberto Nunes, traduzem este termo por temperança. 19 PLATÃO. Cármides, 176 a-b. 20 BENOIT, H. 2004, v. 2 p.71. 21 PLATÃO. Cármides,175e. 18 12 Revista Aproximação – Edição extraordinária – N° 5 jovem Cármides do mesmo modo que fizera com Lísis e Alcibíades, humilhando e provando que nada sabe. Essa atitude, aparentemente, demonstra que Sócrates seduz o jovem Cármides apenas pela mera sedução e não mais com o objetivo anteriormente proposto, pois, agindo dessa maneira, o filósofo recua em sua trajetória rumo às Ideias, a qual já estava no estágio das belas ações. Desse modo, Sócrates recua no caminho traçado por Diotima, seduzindo mais um jovem. Teria Sócrates desistido de sua intenção de chegar à Ideia de Belo ou apenas se atordoara com a beleza física de Cármides? O jovem Carmides, assim como Alcibíades e Lísis, ao final do diálogo, promete seguir os mesmos caminhos de Sócrates. Quais seriam as consequências da sedução desses jovens? Conseguiu Sócrates fazer com que eles tenham seguido seus passos e chegado à Ideia de Belo em si? Para responder estas questões é preciso prosseguir no diálogo Banquete,onde podemos observar o resultado da sedução socrática na conduta e no discurso de Alcibíades. Isso porque, nesse simpósio, Alcibíades, já adulto, entra na casa de Agatão gritando e completamente embriagado (esse comportamento vai contra as expectativas de Sócrates). Depois de carregado para perto do anfitrião da festa, Alcibíades se espanta com a presença de Sócrates e pergunta ao filósofo se ele está espreitando-o novamente, como costumava fazer (desse modo, Alcibíades expõe as atitudes sedutoras de Sócrates para com ele em sua juventude). Sócrates, então, pede para que Agatão o defenda dos ciúmes de Alcibíades, que lhe causara muitos danos, ou que faça a reconciliação entre ambos: Agatão vê se me defendes! Que o amor deste homem se me tornou um não pequeno problema. Desde aquele tempo, com efeito, em que o amei, não mais me é permitido dirigir nem o olhar nem a palavra a nenhum belo jovem, senão este homem, enciumado e invejoso, faz coisas extraordinárias, insultame e mal consegue conter a sua violência. Vê então se também agora não vai ele fazer alguma coisa, e reconcilia-nos; ou se ele tentar a violência, defendeme, pois eu da sua fúria e da sua paixão amorosa muito me arreceio22. Alcibíades responde que não há reconciliação entre eles, e que depois castigará Sócrates. Com esta resposta, podemos perceber que aquele amor, supostamente engendrado por Sócrates, não dera os frutos esperados. Mais à frente no diálogo, Alcibíades manifesta seus sentimentos em relação a Sócrates: ―eu pelo menos, senhores, 22 PLATÃO. Banquete, 213c-d. 13 Revista Aproximação – Edição extraordinária – N° 5 se não fosse de todo parecer que estou embriagado, eu vos contaria, sob juramento, o que eu sofri sob o efeito dos discursos deste homem, e sofro ainda agora23‖. Enquanto todos os convivas proferiram discursos sobre Eros, Alcibíades, com a desculpa de estar embriagado, proferira um discurso não sobre Eros, mas sobre o próprio Sócrates. Seria este o castigo prometido por Alcibíades? Sócrates então parece receoso com relação ao tal discurso que Alcibíades está prestes a fazer e pergunta ao embriagado o que ele pretende dizer (este receio de Sócrates já demonstra uma certa desconfiança do filósofo de que talvez tenha falhado com seu antigo discípulo). Alcibíades responde que dirá apenas a verdade, e que Sócrates pode interrompê-lo caso diga algo que não corresponda com a verdade. Como vimos anteriormente, o elogio de Alcibíades, narra as experiências24 que ele tivera com Sócrates. Sobre o método de sedução socrático, fica evidente que produzia o efeito que o filósofo desejava: provar o não saber e humilhar os jovens: ―e senti diante deste homem, somente diante dele, o que ninguém imaginaria haver em mim, o envergonhar-me de quem quer que seja; ora, eu, é diante deste homem somente que me envergonho25‖. Tais citações revelam-nos que os efeitos da sedução do filósofo foram intensos e duradouros. Seria isso uma prova de que Sócrates conseguira engendrar algo na alma desses jovens? No início do diálogo Alcibíades I, Sócrates dialoga com o jovem sobre política, ambição e poder, bem como o conceito de justiça. [Sócrates] Assim, o que precisas alcançar não é o poder absoluto para fazeres o que bem entenderes contigo ou com a cidade, porém justiça e sabedoria [...]. Portanto, meu querido Alcibíades, se queres ser feliz, não tens de conquistar um grande império para ti ou para a república, mas de adquirir a virtude! [Alcibíades] Desde hoje vou dedicar-me à justiça26. O personagem histórico Alcibíades pode ser bem conhecido no retrato que Plutarco dele constrói em Vidas paralelas27. Ali temos todos os principais ingredientes que dele fazem uma figura ímpar: a beleza extraordinária, a impetuosidade, a violência, o gosto pelas coisas boas e belas, os grandes feitos, a popularidade e o caráter duvidoso. A vida de Alcibíades é uma prova de que ele não almejava as coisas inteligíveis, sendo 23 IDEM,215d-e. Inclusive a resistência de Sócrates diante do belo corpo do jovem Alcibíades e as suas belas ações na Batalha de Potideia – que vimos anteriormente. 25 PLATÃO. Banquete, 216 b. 26 PLATÃO. Alcibíades Primeiro, 134c – 135e. 27 PLUTARCO. Vidas Paralelas Alcibíades e Coriolano. 24 14 Revista Aproximação – Edição extraordinária – N° 5 sua vida movida por ambição e intemperança. Comandou a política de Atenas, foi condenado à morte e ao exílio, foi herói e traidor, tudo isso faz parte da biografia desse ateniense, que é contrário ao que Sócrates julgara engendrar nele. Pelo visto, nada fora introduzido na alma do rapaz, pois ele não seguira o caminho da justiça e da temperança. Portanto, o que restou daquela conversa foi apenas a frustração de um amor carnal não correspondido. Ao final de seu discurso no Banquete, Alcibíades acusa Sócrates de inverter os polos amorosos: o belo jovem de amado se transformava em amante e Sócrates se transformava de amante em amado. Quanto ao que, pelo contrário lhe recrimino, eu o pus de permeio e disse os insultos que me fez. E na verdade não foi só comigo que ele os fez, mas com outros, os quais ele engana fazendo-se de amoroso, enquanto é antes na posição de bem-amado que ele mesmo fica, em vez de amante 28. Sócrates mais uma vez tenta desviar das acusações de Alcibíades, mudando os rumos da conversa e dando a entender que seu antigo discípulo apenas está enciumado, tentando afastá-lo de Agatão. Nesta passagem, o filósofo pede para que o anfitrião da festa (Agatão) não se indisponha com ele e que se recline perto dele. Não estaria Sócrates tentando conter seu insucesso nas atitudes tomadas para com Alcibíades? Então, Alcibíades diz: ―eis aí – comentou Alcibíades – a cena de costume: Sócrates presente, impossível a um outro conquistar os belos! Ainda agora, como ele soube facilmente encontrar uma palavra persuasiva, com o que este belo se vai pôr ao seu lado29‖. O amante de Sócrates nos coloca mais uma dúvida sobre a ascensão de seu amado na direção das Ideias. Estaria realmente o filósofo ligado ao belo inteligível? O sentido de belo empregado por Alcibíades ao se referir a Agatão diz respeito diretamente à Ideia de Belo em si? A resposta para tais questões, certamente, seria não, pois Alcibíades nos deixa claro seu juízo sobre as intenções de Sócrates, a saber: conquistar os belos apenas pelo prazer da persuasão. 28 29 PLATÃO. Banquete, 222 a – b. IDEM, 223 a – b. 15 Revista Aproximação – Edição extraordinária – N° 5 O agressivo discurso de Alcibíades se contrapõe ao comedido discurso de Sócrates, pois temos retratos de duas concepções amorosas antagônicas. Enquanto Sócrates louva Eros e defende um amor ideal, Alcibíades se detém ao amor físico. Desta forma, são discursos imiscíveis, já que estão em posições diferentes: o da descrição idealística do amor e o do discurso implicado do sujeito em suas próprias experiências e desejos. Uma coisa é certa: a sabedoria socrática, ainda que talvez existente, estava presa todavia às experiências individuais de Sócrates e aprisionada na vivência do saber de si, por isso mesmo, era ainda subjetiva como um sonho. A ascensão socrática ainda que tivesse ocorrido, ainda que através dela houvessem sido vislumbradas as Ideias, teria permanecido interna, subjetiva, e assim intransmissível. Se, como Odisseu, Sócrates, após mais de trinta anos de aventuras, talvez, chegara a Ítaca –as Ideias em si, ainda restava lutar pelo pleno reconhecimento de seu saber (BENOIT, H. 2004, v. 2 p.104). Desse modo, concordamos que Sócrates, aparentemente, não conseguira alcançar seu intento objetivamente, pois nada engendrara na alma desse jovem. Entretanto, segundo a citação acima, talvez o filósofo tenha ascendido rumo às Ideias subjetivamente. Possivelmente o próprio Sócrates tenha se dado conta disso, já que, no Banquete, ao perceber que Alcibíades não rendera frutos, o filósofo mudou sua postura, pois notou que não atingira seu alvo de forma objetiva. A partir desse momento, então, o filósofo não mais age como um sedutor de jovens. Uma prova disso é o diálogo Teeteto. Nesse diálogo, ocorrido em 399 a.C., Sócrates dialoga novamente com um jovem, que, ao contrário dos outros seduzidos anteriormente, não possuía muitos atrativos físicos. No entanto, apresentava uma incrível facilidade em aprender, além de ser dócil e corajoso. O que fica evidente quando Sócrates pergunta a Teodoro, se havia algum jovem que se destacava entre os demais. E este lhe responde: Se se tratasse de um belo rapaz, teria medo de manifestar-me, para não pensarem que eu o fazia como apaixonado. Porém a verdade — sem querer ofender-te — é que ele não é nada belo; parece-se contigo em ter o nariz chato e os olhos saltados, aliás em grau menos acentuado. Por isso, falo sem o menor constrangimento. Sabe, pois, que no meio de tantos jovens que até agora conheci — e não têm conta os com que já tenho conversado — não encontrei nenhum com tão maravilhosa natureza. A facilidade de aprender como apenas se encontraria em mais alguém, uma docilidade única, 16 Revista Aproximação – Edição extraordinária – N° 5 associada a singular valentia são qualidades que nunca imaginei pudessem existir ou que ainda venhamos a encontrar30. O que nos chama a atenção nesse diálogo é que, curiosamente, Sócrates não se utiliza de seu método de sedução e não humilha o jovem Teeteto, apesar de deixar o jovem confuso e em aporia. Desta vez, porém, Sócrates se apresenta ao jovem como sendo igual à sua mãe, uma parteira. [Sócrates] E nunca ouviste falar, meu gracejador, que eu sou filho de uma parteira famosa e imponente, Fanerete? [Teeteto] Sim, já ouvi. [Sócrates] Então, já te contaram também que eu exerço essa mesma arte? [Teeteto] Isso, nunca. [Sócrates] — Pois fica sabendo que é verdade; porém não me traias; ninguém sabe que eu conheço semelhante arte, e por não o saberem, em suas referências à minha pessoa não aludem a esse ponto; dizem apenas que eu sou o homem mais esquisito, do mundo e que lanço confusão no espírito dos outros. A esse respeito já ouviste dizerem alguma coisa? 31 O filósofo pede para que o jovem reflita sobre o que se passa com as parteiras. Segundo ele, elas são aquelas que se tornaram estéreis por causa da idade e não aquelas que são completamente estéreis, pois não poderiam praticar algo que não tivessem experiência. Portanto, as parteiras são as que um dia engendraram, mas que não mais engendram devido à idade avançada. Desse modo, podemos concluir que Sócrates acredita ter engendrado algo em alguém na sua juventude32. Estaria Sócrates, nesse momento, se referindo a seu passado, quando ainda era um sedutor? Acreditara ele ter engendrado algo na alma do belo e ambicioso Alcibíades? De fato, a velhice de Sócrates o impedia de tentar inserir algo na alma do jovem, pois, ao decorrer do diálogo, percebemos que o filósofo não age do mesmo modo que o fizera com os outros jovens. Se, por um lado, esta atitude de Sócrates de se comparar com uma parteirapode ser considerada uma prova de que não mais usara da sedução dos jovens, por outro lado, será que o fato de Teeteto não ser um belo jovem não contribuiu para esta não-sedução de Sócrates? Já que a arte erótica pressupunha a sedução de belos corpos. Os indícios de que Sócrates teria sido um sedutor de jovens são muitos, uma vez que Diotima em sua revelação indicou a ele que seduzisse belos corpos com o intuito de esse ser o primeiro degrau em direção às Ideias de Belo. Porém, no diálogo com 30 PLATÃO. Teeteto, 144 a- b. IDEM, 143d-e. 32 Este diálogo, segundo a temporalidade da lexis,é de 399a.C. Nele, Sócrates possuía cerca de setenta anos. 31 17 Revista Aproximação – Edição extraordinária – N° 5 Cármides, vimos que Sócrates não mais precisaria usar da arte da sedução, pois, já havia superado este degrau no percurso rumo às Idéias de Belo em si. Assim, o fato de Sócrates não ter seduzido Teeteto talvez não seja uma prova de que aquele abandonara a arte da sedução. A partir dos resultados obtidos, temos que Sócrates em algum momento de sua vida se utilizara de um impiedoso artifício para seduzir e encantar os belos jovens e, através disso, alcançar o inteligível. Todavia, vimos que o filosofo em questão não alcançou seu alvo de forma objetiva, pois, apesar de julgar tê-lo feito com Alcibíades, o comportamento deste no Banquete demonstra claramente que a tarefa de Sócrates não fora realizada com êxito. BIBLIOGRAFIA BENOIT, Alcides Hector. A procura provisória da universalidade. Dissertação (mestrado em filosofia) – Faculdade de filosofia, letras e ciências humanas, Universidade de São Paulo. São Paulo, 1982. ________. A tetralogia dramática do pensar. Tese (livre docência) – Instituto de filosofia e ciências humanas, Unicamp. Campinas, 2004. Nos quatro volumes: Livro primeiro – A odisseia dialógica de Platão: Em busca da odisséia dialógica: aquestão metodológica das temporalidades: reencontrando a materialidade da léxis; Livro segundo – A odisseia dialógica de Platão: as aventuras e desventuras dadialética socrática; Livro terceiro – A odisseia dialógica de Platão: do novo Édipo ao saber da morte; Livro quarto – A odisseia dialógica de Platão: do retorno de Dionísio a physis. _________. Platão e Nietzsche: a trama dramática da metafísica. São Paulo: Letras Clássicas, USP, n. 2, pp. 115-126. 1998. 18 Revista Aproximação – Edição extraordinária – N° 5 DELEUZE, G. Platão e o Simulacro. In: Lógica do Sentido. 4ª edição. São Paulo: Perspectiva, 2000. HÖLDERLIN, F. Poemas. Prefácio, seleção e tradução de Paulo Quintela. 3.ed. Lisboa: Relógio D’Água, 1991. NARCY, M. Bons ou maus demônios? (a propósito do Lísis de Platão). Trad. Sílvio Rosa Filho. - Discurso - Universidade de São Paulo, 1999. PLATÃO. Alcibíades I e II.Tradução de F. L. Vieira de Almeida. Lisboa: Editorial Inquérito,s/d. ________. Apologia de Sócrates, Cármides, Líside, Eutífrone, Protágoras, Górgias. Tradução de Carlos Alberto Nunes. São Paulo: Edições Melhoramentos, s/d. ________. Lísis. Tradução: Francisco de Oliveira. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1995. ________. OS PENSADORES. O Banquete. Trad: J. Cavalcante de Souza – 5ª edição – São Paulo: Nova Cultural, 1991. ________. Teeteto. Tradução Carlos Alberto Nunes, Belém-PA: UFPA ,1973. PLUTARCO. Vidas Paralelas – Alcibíades e Coriolano. Trad. Maria do Céu Fialho e Nuno Simões Rodrigues. Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos: Coimbra, 2010. ROMILLY, J. Alcibíades ou Dos Perigos da Ambição. Trad. Roberto Cortes de Lacerda. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. 19