Entrevista com Lia Sophia

Transcrição

Entrevista com Lia Sophia
Entrevista com a cantora Lia Sophia
POUCAS E BOAS DA MARI - Lia, você é nascida na Guiana Francesa e cresceu em Macapá em
uma família de músicos, convivendo com diversos estilos musicais – do gospel ao brega, do
bolero ao zouk e ritmos da Região Norte. Mas somente em Belém, quando foi cursar
Psicologia, que você teve contato com as canções de João Gilberto e Marisa Monte e sua
carreira seguiu esse caminho, o da MPB. O que a MPB despertou em você?
LIA SOPHIA - Minhas influências são bem diversas, algumas tardias e outras que convivo desde
a infância. Durante a infância eu vivi dois “momentos” musicais, o da igreja evangélica, onde
aprendi a cantar, louvando a Deus, onde foram as minhas primeiras apresentações diante de
grandes públicos, e outro momento em casa, na companhia dos meus pais, que sempre
ouviram muito brega, bolero, guitarrada, zouk, cúmbia, merengue, lambada… Só fui conhecer
a MPB (bossa nova) na adolescência, aos 17 anos, quando vim de Macapá pra Belém pra fazer
faculdade. Em casa não se ouvia MPB, os meus pais diziam que dava sono, que era um música
chata (rs). Eles sempre gostaram muito de dançar! Nessa época eu estava estudando bastante
o violão, e quando ouvi as músicas de João Gilberto eu não entendi nada!! (rs) Eram acordes
com os quais eu nunca tinha entrado em contato antes. Fiquei apaixonada pelas dissonâncias e
pela maneira como ele tocava. Devorei cada lição que aprendi com esse disco! Com o disco da
Marisa Monte não foi diferente, descobri uma maneira de fazer poesia, de dizer o que eu
pensava de forma simples e moderna, sem ser piegas. Esses discos despertaram em mim uma
vontade de fazer música, escrever e tocar as minhas músicas. Foi o que comecei a fazer, e
várias dessas composições fazem parte do meu primeiro disco que se chama “LIVRE”.
PBM - O Brasil é um país extenso e a música tem suas transformações por Estados, apesar de
não existir fronteira para ela. No Estado do Pará, os ritmos que fazem sucesso são o forró, o
brega, por exemplo. Foi complicado firmar sua música nesse ambiente onde esses ritmos são
mais fortalecidos?
L.S. - Não. O brega faz parte da minha formação musical, sempre ouvi brega. Não me vejo
distante desse universo. No Pará se produz e se escuta música de todo tipo, rock, samba,
choro, erudito, pop, carimbo… O brega é um momento de toda uma cena fervente no Estado.
Fora as peculiaridades de cada região dentro do Estado (enorme territorialmente). Então tem
público pra tudo que se produz aqui. O forró, por exemplo, nem tem tanta força dentro do
Estado. O sertanejo tem muita força na Região Sul do Pará, por ser formada em sua maioria
por uma população oriunda do Centro-Oeste do país. O carimbó, por exemplo é muito forte na
Região do Salgado... e assim por diante.
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PBM - Livre, seu primeiro disco, expressa bem o nome recebido. Você com a artista plástica
Eliane Moura, escreveram e cantaram poemas surgidos de histórias verdadeiras e de
outras inventadas. Esse processo criativo nasceu com o propósito de lançar seu primeiro
trabalho ou foi a partir dele que você decidiu lançá-lo?
L.S. - O processo criativo surgiu a partir do contato com a MPB, eu já vinha descobrindo uma
maneira de escrever minhas músicas e de como cantá-las, então quando tive acesso as coisas
que a Eliane escrevia, comecei, de imediato a cantá-las. Surgiram várias canções a partir de um
caderninho com poesias da Eliane. Muitas nunca foram gravadas, algumas eu nem lembro
mais, mas essa parceria foi muito importante nesse início de descobrimento de todo esse
processo criativo. O disco veio bem depois. Eu já estava cantando em bares e teatros, e já
tinha um público que frequentava os meus shows e que começou a pedir um disco pra ouvir
em casa. Foi assim que surgiu a ideia de fazer o álbum. Então gravei algumas parcerias minhas
com Eliane Moura.
PBM - Já em Castelo de Luz, seu segundo disco, você mostrou todas as duas facetas
cantando, compondo, tocando, arranjando e co-produzindo o disco. Castelo de Luz foi como
despir Lia Sophia?
L.S. - Esse é um projeto muito especial pra mim. Por tudo isso que você falou. Esse é um disco
autoral, onde realmente meti a mão na massa em todas as etapas, desde o repertório,
gravação, mixagem, até a capa. No “Livre” não tive essa experiência, por escolha minha
mesmo, não me achava preparada pra isso. Depois do “Castelo de Luz”, no “Amor Amor” já foi
mais fácil. E agora estou pré-produzindo as minhas músicas em casa, num estúdio que armei
pra “brincar”, as coisas estão ficando mais sérias do que havia planejado. (rs) Acabo de compor
alguma coisa, já vou correndo fazer um arranjo e gravá-lo. Faço guitarra, baixo, teclado,
programações… quando vejo, já estou com um caminho traçado pra música.
PBM - No final de 2008, você regravou grandes sucessos da música brega da Região Norte
para compor seu terceiro disco, Amor Amor. Esse trabalho foi resultado de uma pesquisa de
quase dois anos. Em seu site, Amor Amor está definido como projeto corajoso. Por quê?
Corajoso no sentido do tempo de trabalho ou da aceitação do mesmo pelos seus fãs?
L.S. - Em 2010, eu lancei o álbum Amor Amor após dois anos de pesquisas sobre o vasto
diversificado universo da música brega da região Norte. O que resultou em releituras de
grandes clássicos das décadas de 80 e 90, sucessos que marcaram gerações e hoje são muito
ouvidos nas Aparelhagens dos chamados Bailes da Saudade que acontecem na periferia de
Belém, e são conhecidos como “Flash Brega”. Esse disco foi muito bem recebido por aqui, já
que são canções que foram ouvidas pelos nossos pais, avós, e que fizeram parte da infância de
muita gente, como da minha. Esteticamente, fiz o caminho contrário ao ritmo brega nas
releituras, enfatizando o lado pop das canções. Dizendo aos preconceituosos de plantão que se
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essas canções fossem cantadas em bossa, em baladas, em pop/rock, elas seriam bem
recebidas. E foi o que aconteceu! Chegaram muitos comentários a mim do tipo: “eu detesto
brega, mas adoro esse disco”. Mas só pra contrariar, no show de lançamento desse álbum,
cantei as minhas próprias músicas (de outros trabalhos) em tecnobrega, zouk… e não como
são no arranjo original. Tudo isso foi uma maneira de homenagear compositores bregas que
tanto fizeram pela nossa música e penso ser um eixo central da nossa cultura, mas que tanto
são negados. É claro que foi corajoso nos dois sentidos. Foi bem trabalhosa a pesquisa e a
produção, além do preconceito com o qual eu tive contato durante todo o processo e mesmo
depois do disco lançado. Mas vejo que o sucesso foi maior!! (rs)
PBM - Lia, sua canção Ai Menina está na trilha sonora da novelaAmor Eterno Amor, da Rede
Globo. Estar em trilhas sonoras é uma ótima forma de divulgação de trabalho. Você acha que
ainda é o melhor meio de divulgação ou a internet já pode ser considera a melhor?
L.S. - A internet é o meio gratuito mais importante pra divulgação de trabalhos de artistas
novos. A minha música talvez nunca tivesse sido ouvida ou encontrada pela equipe de
produção da novela se não fosse pela internet, afinal essa música ainda não foi gravada em cd.
O que existia, fora a exposição dela na internet, eram mil cópias de um cd DEMO que alguns
jornalistas e produtores tiveram acesso. Mas é inegável a visibilidade que a novela trouxe para
o meu trabalho. Tenho recebido mensagens de todo o Brasil, com elogios e perguntas sobre a
música e o disco que virá. Estou muito feliz com a repercussão, e vejo que tenho muito
trabalho pela frente!! (rs)
PBM - Você está preparando o quarto trabalho para esse ano. Conte-nos um pouco sobre
ele. Seguirá o estilo de seus outros discos?
L.S. - Estamos ensaiando o repertório com a banda, definindo os arranjos, os timbres, para
quando chegarmos no estúdio a coisa ficar mais fácil. O repertório será 60% de músicas
minhas, mas também tem uma música do Mestre Curica (Beleza da Noite) e uma de
Almirzinho Gabriel (Clarão da Lua). Devo receber como convidados especiais neste disco,
grandes guitarristas como Mestre Vieira, Felipe Cordeiro e Félix Robato. A ideia é mostrar toda
a latinidade amazônica de maneira moderna misturando várias influências rítmicas do
carimbó, da guitarrada, do zouk com pitadas de elementos eletrônicos. Este trabalho foi
disponibilizado como um EP Virtual chamado “Salto Mortal”, contendo três músicas, nas
minhas redes sociais e distribuído como material de divulgação para jornalistas e produtores,e
já recebeu elogios importantes como os de Nelson Motta que já até cunhou o termo
“Carimbop” para o meu som. Dentre as minhas composições estarão “Ai menina”, que faz
parte da trilha sonora da novela global “Amor Eterno Amor” e Amor de Promoção, da qual
estamos preparando um clipe ainda para este primeiro semestre. O álbum terá a produção
musical de Carlos Miranda. E espero que o disco esteja pronto em julho e possamos lança-lo
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no segundo semestre. É um disco diferente dos outros, aquela “pitada” de percussão que
existia nos outros aqui vai se tornar um punhado! (rs)
PBM - Já pensou em gravar um disco com ritmos da Guiana Francesa, sua terra natal?
L.S. - Só com ritmos de lá não! Mas eles estarão bem marcados neste disco que estou
preparando. Afinal, a minha musicalidade toda é influenciada por eles.
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