O mito da caverna

Transcrição

O mito da caverna
O mito da caverna
Por Platão
Dois
dos
mais
importantes
filósofos
da
era
pré-socrática: Heráclito
de
Éfeso e Parmênides de Eléia, tinham concepções antagônicas a respeito da existência. E Platão, conclui
que ambos estavam certos...
Heráclito viveu entre os séculos VI e V A.C ,tinha um caráter desconcentrado e um
temperamento esquivo e desdenhoso. Escreveu um livro intitulado "Sobre a natureza", da qual
chegaram até nós inúmeros fragmentos, talvez constituídos de uma série de aforismos e
intencionalmente elaborado de modo obscuro e num estilo que recorda as sentenças oraculares, "para
que dele se aproximassem somente aqueles que o podiam" e o vulgo se mantivesse distante. E o fez
para evitar a depreciação e a desilusão daqueles que, lendo coisas aparentemente fáceis, acreditam
estar entendendo aquilo que, no entanto, não entendem. Por isso foi denominado "Heráclito o
Obscuro". A base da filosofia de Heráclito é que "tudo se move", "tudo escorre", nada é permanente,
imóvel e fixo, tudo muda e se transforma , sem exceção: "Não se pode descer duas vezes o mesmo
rio". É claro o sentido desse fragmento: O rio é "aparentemente" sempre o mesmo, mas "na realidade"
é constituído por águas sempre novas e diferentes, que sobrevêm e se dispersam. Por isso, não se pode
descer duas vezes a mesma água do rio, precisamente porque ao descer pela segunda vez já se trata de
outra água que sobreveio. E também porque, nós próprio mudamos: No momento em completamos
uma imersão no rio, já nos tomamos diferentes de como éramos quando nos movemos para nele
imergir. Por isto, tudo está destinado a caracteriza-se por uma contínua passagem de um contrário ao
outro: As coisas frias esquentam, as quentes esfriam, o vivo morre, mas do que está morto, renasce
outra vida... O perene correr de todas as coisas e o devir universal revelam-se como harmonia de
contrários: "A doença torna doce a saúde, a fome torna doce a saciedade e o cansaço torna doce o
repouso. Não se conheceria sequer o nome da justiça, se ela não fosse ofendida."
Embora não haja certeza absoluta, pensa-se que Parmênides nasceu em Eléia em 515
a. C., e tenha morrido a 450 a. C., nessa mesma cidade, onde viveu. Eléia era uma cidade grega situada
na costa da Campânia, no sul da Itália. Da sua obra escrita, em forma de poema, restam-nos apenas 154
TEXTO EXTRAÍDO DO SITE WWW.PAIANTONIO.COM.BR
fragmentos. Para além dela, só se tem conhecimento de um conjunto de leis, deixado aos cidadãos de
Eléia, que os magistrados dessa cidade consideravam de grande valor. O ser é. O não-ser não é.Como
Parmênides justifica esse seu grande princípio? A argumentação é muito simples, tudo aquilo que
alguém pensa e diz; é. Não se pode pensar (e, portanto dizer) se não pensando (e, portanto dizendo)
aquilo que é. Pensar o nada significa não dizer nada Por isso, o nada é impensável e indizível. Assim
pensar e ser coincidem. Parmênides aponta para o principio de não-contradição, ou seja, afirma a
impossibilidade e que os contrários coexistam ao mesmo tempo. E os dois contrários supremos são
precisamente o "ser" e o "não ser": Havendo ser, é necessário que não haja o não-ser. O ser é imutável
e imóvel, não tem um passado, pois o passado é aquilo que não é mais e não futuro porque o futuro é
aquilo que ainda não é, sendo portanto um "presente" eterno, sem início nem fim.
Platão nasceu em Atenas, aproximadamente em 428 a.C, um ano após a morte do
estadista ateniense Péricles. Era filho de Ariston e de Perictione. Seu nome verdadeiro era Aristoclés e
Platão, na verdade, era seu apelido. Consta que sua mãe descendia de Sólon. Inicialmente, foi discípulo
do filósofo Crátilo, que seguia o pensamento de Heráclito de Éfeso. Ainda em sua juventude, Platão
encontrou Sócrates e a influência desse filósofo foi determinante para o conjunto do pensamento
platônico. Após a morte do mestre, Platão começa a viajar. Vai a Mégara e ao sul da Itália, onde
encontra o filósofo pitagórico Arquitas de Tarento. Vai também a Siracusa, na Sicília e ao norte da África.
É por esta época que começa a escrever seus primeiros diálogos. Em 387 a.C., funda em Atenas sua
própria escola filosófica: a Academia. Dedica-se ao ensino por longo período até que, em 367 a.C.,
Platão parte para Siracusa com a esperança de lá implantar seus ideais políticos. Dionísio I, o tirano local
havia morrido e com a sucessão de Dionísio II, havia chance para mudanças na política local. A viagem
de Platão, contudo, foi inútil. Nenhuma mudança fora possível. Decepcionado, o filósofo retorna para
Atenas. Em seus últimos anos, Platão continua a filosofar. Reconsidera e reelabora posições anteriores e
se ocupa com novos problemas também. Sua última obra, as Leis, trata da preocupação fundamental de
toda sua vida: a política. Seu mais famoso discípulo foi o filósofo Aristóteles.
Na juventude, Platão tinha uma característica mais socrática e na maturidade
desenvolveu a sua própria concepção, conseguindo conciliar as diferenças "do ser" e "do ser não é".
Platão concluiu que Heráclito estava certo em considerar que nada é perfeito, bem como nada é
permanente. Por sua vez, também concluiu que Parmênides também estava certo, quando afirmava
que o ser é imutável e imóvel, pois o passado é aquilo que não é mais e o futuro porque o futuro é
aquilo que ainda não é.
A concepção de Platão baseava-se na TEORIA DA REMINISCÊNCIA (Teoria da
Lembrança).
TEXTO EXTRAÍDO DO SITE WWW.PAIANTONIO.COM.BR
Platão divide a realidade em duas partes: MUNDO SENSÍVEL (percebido pelos sentidos físicos:
visão, audição, olfato, degustação e tato) e o MUNDO DAS IDÉIAS (plano metafísico). Passou a
considerar a diferença e aco-existência do "É" e do "ESTAR SENDO". Para Platão, no mundo das idéias
encontra-se a imutabilidade, o perfeito, o modelo ou seja, a VERDADE ABSOLUTA; já no mundo sensível,
tudo muda e nada é perfeito dentro da máxima do "ESTAR SENDO", A VERDADE RELATIVA.
Para sua afirmação, Platão considera que haja essa relação, a existência da "alma", que
nos trás a lembrança do MUNDO DAS IDÉIAS.
Para exemplificar esta concepção, Platão escreve no livro VII – República - , um diálogo
entre Sócrates e GLAUCON ficou conhecido como o "Mito da Caverna"...
SÓCRATES - Figúrate agora o estado da natureza humana, em relação á ciência e à
ignorância, sob a forma alegórica que passo a fazer. Imagina os homens encerrados em
morada subterrânea e cavernosa que dá entrada livre à luz em tôda extensão. Aí, desde a
infância, têm os homens o pescoço e as pernas presos de modo que permanecem imóveis e
só vêem os objetos que lhes estão diante. Presos pelas cadeias, não podem voltar o rosto.
Atrás deles, a certa disância e altura, um fogo cuja luz os alumia; entre o fogo e os cativos
imagina um caminho escarpado, ao longo do qual um pequeno muro parecido com os
tabiques que os pelotiqueiros põem entre si e os espectadores para ocultar-lhes as molas
dos bonecos maravilhosos que lhes exibem.
GLAUCON - Imagino tudo isso.
SÓCRATES - Supõem ainda homens que passam ao longo dêste muro, com figuras e
objetos que se elevam acima dêle, figuras de homens e animais de tôda a espécie, talhados
em pedra ou madeira. Entre os que carregam tais objetos, uns se entretêm em comversa,
outros guardam em silêncio.
GLAUCON - Simgilar quadro e não menos singulares cativos!
SÓCRATES - Pois são nossa imagem perfeita. Mas, dize-me: assim colocados, poderão ver
de si mesmos e de seus companheiros algo mais que as sombras projetadas, à claridade do
fogo, na parede que lhes fica fronteira?
GLAUCON - Não, uma vez que são forçados a ter imóveis a cabeça durante toda a vida.
SÓCRATES - E dos obejetos que lhes ficam por detrás, poderão ver outra coisa que não as
sombras?
GLAUCON - Não.
SÓCRATES - Ora, supondo-se que pudessem conversar, não te parece que, ao falar das
sombras que vêem, lhes dariam os nomes que elas representam?
GLAUCON - Sem dúvida.
SÓRATES - E, se, no fundo da caverna, um eco lhes repetisse as palavras dos que passam,
não julgariam certo que os sons fôssem articulados pelas sombras dos objetos?
GLAUCON - Claro que sim.
TEXTO EXTRAÍDO DO SITE WWW.PAIANTONIO.COM.BR
SÓCRATES - Em suma, não creriam que houvesse nada de real e verdadeiro fora das
figuras que desfilaram.
GLAUCON - Necessáriamente.
SÓCRATES - Vejamos agora o que aconteceria, se se livrassem a um tempo das cadeias e do
êrro em que laboravam. Imaginemos um dêstes cativos desatado, obrigado a levantar-se
de repente, a volver a cabeça, a andar, a olhar firmemente para a luz. Não poderia fazer
tudo isso sem grande pena; a luz, sôbre ser-lhe dolorosa, o deslumbraria, impedindo-lhe
de discernir os objetos cuja sombra antes via.
Que te parece agora que êle responderia a quem lhe dissesse que até então só havia visto
fantasmas, porém que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, via
com mais perfeição? Supõem agora que, apontando-lhe alguém as figuras que lhe
desfilavam ante os olhos, o obrigasse a dizer o que eram. Não te parece que, na sua grande
confusão, se persuadiria de que o que antes via era mais real e verdadeiro que os objetos
ora contemplados?
GLAUCON - Sem dúvida nenhuma.
SÓCRATES - Obrigado a fitar o fogo, não desviaria os olhos doloridos para as sombras que
poderia ver sem dor? Não as consideraria realmente mais visiveis que os objetos ora
mostrados?
GLAUCON - Certamente.
SÓCRATES - Se o tirassem depois dali, fazendo-o subir pelo caminho áspero e escarpado,
para só o liberar quando estivesse lá fora, à plena luz do sol, não é de crer que daria gritos
lamentosos e brados de cólera? Chegando à luz do dia, olhos deslumbrados pelo esplendor
ambiente, ser-lhe ia possível discernir os objetos que o comum dos homens têm por sêrem
reais?
GLAUCON - A princípio nada veria.
SÓCRATES - Precisaria de algum tempo para se afazer à claridade da região superior.
Primeiramente, só dicerniria bem as sombras, depois, as imagens dos homens e outros
sêres refletidos nas águas; finalmente erguendo os olhos para a lua e as estrelas,
contemplaria mais facilmente os astros da noite que o pleno resplendor do dia.
GLAUCON - Não há dúvida.
SÓCRATES - Mas, ao cabo de tudo, estaria, decerto, em estado de ver o próprio sol,
primeiro refletido na água e nos outros objetos, depois visto em si mesmo e no seu próprio
lugar, tal qual é.
GLAUCON - Fora de dúvida.
SÓCRATES - Refletindo depois sôbre a natureza dêste astro, compreenderia que é o que
produz as estações e o ano, o que tudo governa no mundo visível e, de certo modo, a causa
de tudo o que êle e seus companheiros viam na caverna.
GLAUCON - É claro que gradualmente chegaria a tôdas essas conclusões.
SÓCRATES - Recordando-se então de sua primeira morada, de seus companheiros de
escravidão e da idéia que lá se tinha da sabedoria, não se daria os parabéns pela mudança
sofrida, lamentando ao mesmo tempo a sorte dos que lá ficaram?
TEXTO EXTRAÍDO DO SITE WWW.PAIANTONIO.COM.BR
GLAUCON - Evidentemente.
SÓCRATES - Se na caverna houvesse elogios, honras e recompensas para quem melhor e
mais prontamente distinguisse a sombra dos objetos, que se recordasse com mais precisão
dos que precediam, seguiam ou marchavam juntos, sendo, por isso mesmo, o mais hábil
em lhes predizer a aparição, cuidas que o homem de que falamos tivesse inveja dos que no
cativeiro eram os mais poderosos e honrados? Não preferiria mil vêzes, como o heói de
Homero, levar a vida de um pobre lavrador e sofrer tudo no mundo a voltar às primeiras
ilusões e viver a vida que antes vivia?
GLAUCON - Não há dúvida de que suportaria tôda a espécie de sofrimentos de preferência
a viver da maneira antiga.
SÓCRATES - Atenção ainda para êste ponto. Supõe que nosso homem volte ainda para a
caverna e vá assentar-se em seu primitivo lugar. Nesta passagem súbita da pura luz à
obscuridade, não lhe ficariam os olhos como submersos em trevas?
GLAUCON - Certamente.
SÓCRATES - Se, enquanto tivesse a vista confusa -- porque bastante tempo se passaria
antes que os olhos se afizessem de novo à obscuridade -- tivesse êle de dar opnião sôbre as
sombras e a este respeito entrasse em discução com os companheiros ainda presos em
cadeias, não é certo que os faria rir? Não lhe diriam que, por ter subido à região superior,
cegara, que não valera apena o esfôrço, e que assim, se alguém quisesse fazer com êles o
mesmo e dar-lhes a liberdade, mereceria ser agarrado e morto?
GLAUCON - Por certo que o fariam.
SÓCRATES - Pois agora, meu caro GLAUCON, é só aplicar com tôda a exatidão esta imagem
da caverna a tudo o que antes haviamos dito. O antro subterrâneo é o mundo visível. O
fogo que o ilumia é a luz do sol. O cativo que sobe à região superior e a contempla é a alma
que se eleva ao mundo inteligível. Ou, antes, já que o queres saber, é êste, pelo menos, o
meu modo de pensar, que só Deus sabe se é verdadeiro. Quanto a mim, a coisa é como
passo a dizer-te. Nos extremos limites do mundo inteligível está a idéia do bem, a qual só
com muito esforço se pode conhecer, mas que, conhecida, se impõe à razão como causa
universal de tudo o que é belo e bom, criadora da luz e do sol no mundo visível, autora da
inteligência e da verdade no mundo invisível, e sôbre a qual, por isso mesmo, cumpre ter
os olhos fixos para agir com sabedoria nos negócios particulares e públicos.
Resumindo, Platão conclui sobre os dois mundos:
TEXTO EXTRAÍDO DO SITE WWW.PAIANTONIO.COM.BR
MUNDO VISÍVEL - SENSÍVEL
FÍSICO
MUNDO INVISÍVEL - INSENSÍVEL
METAFÍSICO
A sua geografia limita-se ao espaço sombrio da
caverna
É todo universo fora da caverna, o espaço composto
pelo ar e pela terra inteira
Caracteriza-se pela escuridão, é um mundo de Dominado pela claridade exuberante de Hélio, o Sol
sombras, de lusco-fusco, de imagens imprecisas que tudo ilumina com seus raios esplendorosos,
(ídolos)
permitindo a rápida identificação de tudo, alcançandose assim a ciência (gnose) e o conhecimento
(episteme)
Nele o homem se encontra encadeado,
constrangido a olhar só para a parede na sua
frente, ficando com a mente embotada,
preocupando-se apenas com as coisas
mesquinhas do seu dia-a-dia
Plenitude do homem liberto da opressiva caverna,
podendo investigar e inquirir tudo ao seu redor
conhecendo enfim as formas perfeitas
Homem dominado pelas sensações e pelos
sentidos mais primários
Homem orientado pela inteligência (nous) e pela razão
(logos)
Em situação de desconhecimento e ignorância
(agnosis)
Em condições de cultivar a sabedoria e a busca pela
verdade e pelo ideal da junção do bem com o belo
(kalogathia)
Condição em que se encontra o homem comum Condição do filósofo
Com votos de profunda paz nos seus pensamentos, irradiante alegria
nos seus sentimentos e harmonia nas suas ações,
com prosperidade, força e minha benção.
THASHAMARA
O eterno aprendiz.
TEXTO EXTRAÍDO DO SITE WWW.PAIANTONIO.COM.BR

Documentos relacionados

O Mito da Caverna1

O Mito da Caverna1 Caracteriza-se pela escuridão, é um mundo de sombras, de lusco-fusco, de imagens imprecisas (ídolos)

Leia mais

A dualidade entre o mundo sensível e inteligível em Platão

A dualidade entre o mundo sensível e inteligível em Platão SÓCRATES - Se, enquanto tivesse a vista confusa -- porque bastante tempo se passaria antes que os olhos se afizessem de novo à obscuridade -- tivesse ele de dar opinião sobre as sombras e a este re...

Leia mais