FILOSOFIA F1
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FILOSOFIA F1
FILOSOFIA SESI – Serviço Social da Indústria Departamento Regional do Rio de Janeiro Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro Augusto Cesar Franco de Alencar Diretoria Geral do Sistema FIRJAN SESI / DR - Rio de Janeiro Maria Lucia Paulino Telles Diretora Superintendente Diretoria de Educação Andrea Marinho de Souza Franco Diretora Gerência de Educação Básica Hozana Cavalcante Meirelles Gerente FILOSOFIA Filosofia @ 2010 SESI - Rio de Janeiro Diretoria de Educação Gerência de Educação Básica Gerente de Educação Básica Coordenação Elaboração Leitor Crítico Revisão Pedagógica Revisão Ortográfica Revisão Editorial Projeto Gráfico Editoração Eletrônica Normalização bibliográfica Hozana Cavalcante Meirelles Andréa Amaral Franco Pinto Nadia Filomena Ribeiro da Silva Sergio Miguel Turcatto Carmen Lucia de Freitas Siqueira Jacqueline Gutierrez g-dés Ana Monteleone - Engenho & Arte g-dés Biblioteca do Sistema FIRJAN FICHA CATALOGRÁFICA Sistema FIRJAN Divisão de Normas e Documentação – Biblioteca S491e SESI.RJ Ensino médio : educação de jovens e adultos : filosofia Rio de Janeiro : SESI.RJ , 2010. 108 p. 1. Educação. 2. Educação de adultos. 3. Filosofia I. Título CDD 374.012 Propriedade do SESI do Rio de Janeiro. Reprodução total ou parcial, sob expressa autorização SESI - Rio de Janeiro GEB - Gerência de Educação Básica Rua Mariz e Barros, 678 – bloco 1 – 3º andar - Tijuca 20.270-903– Rio de Janeiro – RJ Tel.: (021) 2587-1379 (021) 2587-1394 Fax: (021) 2587-1324 SUMÁRIO Apresentação 7 Capítulo I O QUE É FILOSOFIA? 9 Capítulo II AS ORIGENS DO PENSAMENTO FILOSÓFICO-CIENTÍFICO: DO MUNDO DOS DEUSES AO MUNDO DOS HOMENS. 21 Capítulo III OS PRÉ-SOCRÁTICOS: A PREOCUPAÇÃO COM O COSMO E COM A NATUREZA. 33 Capítulo IV OS SOFISTAS: OS MESTRES DO DISCURSO 45 Capítulo V A FILOSOFIA SOCRÁTICA: “SÓ SEI QUE NADA SEI”. 53 Capítulo VI PLATÃO: O NASCIMENTO DA RAZÃO OCIDENTAL 63 Capítulo VII ARISTÓTELES: UMA CRÍTICA AO MESTRE E A SEUS ANTECESSORES 73 Capítulo VIII O HELENISMO: O PROBLEMA DA ÉTICA. 81 Capítulo IX AFINAL, PORQUE PENSAMOS COMO PENSAMOS? 91 Referências Bibliográficas 98 Gabaritos 101 APRESENTAÇÃO É preciso verificar. Nada nos engana tanto quanto a nossa opinião. (Leonardo da Vinci) Prezado(a) aluno(a), Sem dúvida, nós, seres humanos, por um motivo ou por outro, independentemente da idade, do sexo ou do lugar onde nascemos, já nos pegamos perguntando: por que a vida é assim? Por que uns nascem tão ricos e outros tão pobres? Por que existem as guerras? Será que o mundo vai acabar mesmo? Será que Deus existe mesmo? Será que existem seres extraterrestres? Afinal, uma máquina pode pensar? Será que o nosso destino depende realmente de sorte? Existe vida após a morte? Por que nascemos em determinados lugares ou em certas famílias? De fato, esses não são pensamentos originais ou raros.Ao contrário, muito mais do que imaginamos, pessoas comuns, de todas as idades, inclusive crianças, mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou de outra, por esse ou por aquele motivo, fazem a si mesmas algumas dessas perguntas. Geralmente, quando nos sentimos incomodados, inquietos, indecisos, preocupados com nosso futuro, sozinhos ou mesmo nos sentindo impotentes diante de alguma situação, nos colocamos a pensar e a questionar nossas concepções sobre a vida, sobre a morte, sobre o sentido de nossas existências, sobre a natureza etc. Alguns arriscam até a “filosofar”, isto é, arriscam a buscar e a correlacionar ideias que possam de alguma forma responder aos anseios e angústias provocados pelo “não saber”, pela fragilidade de nossas certezas e, principalmente, pelas limitações e provisoriedade do conhecimento humano. Vale ressaltar, caro aluno, que é justamente esse “não saber”, essa inquietude, esse incômodo que pode nos levar à busca pelo saber, isto é, a busca da sabedoria. De origem grega, a palavra filosofia, por definição, designa a afinidade e a amizade pela sabedoria. O filósofo, por assim dizer, não é aquele que “sabe tudo”, que é o “dono da verdade”, mas aquele que busca, por afinidade e com a lealdade de um amigo, à sabedoria, por intermédio do exercício do pensamento, da razão enfim. Assim, como o atleta exercita seus músculos, por meio de intensos treinamentos, a fim de superar seus limites e vencer desafios, o filósofo é aquele que exercita suas ideias pelos intensos questionamentos, a fim de superar e vencer os desafios e angústias gerados pelo encontro inevitável com o desconhecido, com a dúvida e com as perplexidades da existência humana. Não é raro o fato de afirmamos ideias, pensamentos e definições, muitas vezes sem saber o que significam e de onde vieram; nesse sentido, pensar o mundo, inclusive, pensá-lo na companhia de mestres como Platão, Sócrates e muitos outros, revela-se no direito feliz, amistoso e tranquilo de intervir em nosso próprio destino, além de firmar, sem dúvida, um compromisso de reconstrução e transformação com o nosso Tempo.Vamos lá, filosofar é preciso! CAPÍTULO 1 O QUE É A FILOSOFIA? CAPÍTULO 1 O que é a filosofia? O capítulo “O que é filosofia?” traz ao mesmo tempo uma desmistificação da filosofia como um campo fechado, erudito, para poucos e seletos especialistas, e um esclarecimento acerca dos muitos sentidos que tem para o senso comum e sua especificidade como disciplina acadêmica. Seja pela etimologia da palavra, seja procurando saber como se estabeleceram as especificidades dessa prática-pensamento no mundo ocidental, esta é certamente uma oportunidade que você tem para iniciar uma bela amizade com sophia (em grego), a sabedoria, e em sua companhia, empreender uma aventura sem volta pela beleza e infinito potencial criativo do mundo do pensamento. Desenho: Nádia Filomena. 12 FILOSOFIA Como fazem os detetives, vamos, por intermédio de “sinais” ou “ ”pistas”, investigar e tentar diagnosticar o motivo pelo qual a filosofia ganhou, ao longo do tempo, um sentido tão amplo, a ponto de se tornar um empreendimento tão enigmático, alvo de preconceitos e, por sua vez, inacessível para muitos. Sinais dos tempos: fala-se, por exemplo, que o vovô tem uma ótima filosofia de vida, que a filosofia de trabalho do gerente da loja é genial, ou até mesmo que o atual técnico da seleção brasileira de futebol trouxe uma nova “filosofia” para o time. Como podemos perceber nesses casos, a filosofia aparece associada a uma espécie de “saber”, de como a vida, o trabalho e o time da seleção brasileira de futebol devem ser conduzidos, indicando que há um “saber dirigir” implicado nessas filosofias. No entanto, ouvem-se por aí, também, expressões como filosofia oriental, filosofia indiana, filosofia chinesa etc. E nessas ocorrências parece que um sentido mais organizado se revela, um sentido de sistematização de pensamentos especulativos ou de meditações produzidas pelos povos oriental, indiano e chinês, respectivamente. Testemunhamos, ainda, nos dias atuais, uma oferta sem fim e diversificada de literatura sob a chancela de ”filosofia”, uma variedade bastante extravagante, na qual se apresentam, entre outras produções, tratados de autoajuda, manuais de práticas espirituais e livros de medicina alternativa. Já aqui detectamos um importante sinal: não podemos deixar de perceber que, embora diferentes em seus sentidos, todos esses usos da palavra filosofia descritos fazem referência a uma forma de “saber’ que não é um saber qualquer: não é, por exemplo, um “saber costurar”, ”saber andar de bicicleta”’, um “saber plantar” ou um “saber que um mergulho na água gelada após o almoço pode causar indigestão”, por mais importantes e indispensáveis que sejam esses saberes para a vida cotidiana. Desse modo, vemos que a “filosofia” tem, mesmo em seu sentido ampliado, uma ligação com um saber especial, que se percebe como relevante, em uma alusão a modos de pensar que fazem a diferença, embora menos úteis que um simples saber cotidiano ligado às produções de coisas que fazem parte de nossa experiência e sobrevivência diária. Cabe, então, nos indagarmos acerca da “filosofia” como componente da grade curricular que ora retorna como disciplina obrigatória para o ensino médio e é até “recomendada”, guardando as devidas proporções, para o ensino fundamental. É essa ”filosofia” acadêmica também que habilita, com o título de bacharel e/ ou licenciado, os que frequentam as faculdades de filosofia credenciadas pelo Ministério da Educação no Brasil e em vários países do mundo. É da filosofia como disciplina acadêmica, sua especificidade e em seu sentido estrito que trataremos doravante. Como veremos, é nesse caso que a filosofia de seu âmbito a filosofia do vovô, os livros de autoajuda, os textos de culturas milenares da cultura oriental etc. Vale lembrar que, quando se excluem do escopo da filosofia acadêmica tais produções, mesmo que ditas de “cunho filosófico”, não se está fazendo nenhum mau julgamento de tais abordagens, mas apenas tornando claros os pressupostos, princípios e metas da filosofia propriamente dita. 13 O que é a filosofia? Agora que você já sabe que a filosofia como disciplina tem uma especificidade, vamos nos voltar para o que nos mostra sua história no pensamento ocidental, buscando a princípio analisar o sentido etimológico ou originário da própria palavra, a fim de que possamos apurar o que marca, de forma diferencial e definitiva, a própria atividade filosófica. Philosophia é uma palavra grega (composta por philos = amigo; sophia = sabedoria), de modo que o filósofo seria o “amigo (ou amante) da sabedoria”. Tal significação remonta em sentido estrito a uma “forma de especular”, que se originou e, atingiu seu ápice, entre o povo grego e que se desenvolveu na civilização hoje culturalmente denominada de “mundo ocidental“. Esse “amigo da sabedoria”, a figura histórica do filósofo, longe de se constituir como o arquétipo do “sábio” ou “profeta”, aparece eternizada nas narrativas míticas ou religiosas como aquele que revela e detém a sabedoria, ao contrário, revela que há um jeito de se filosofar “à moda grega“. É um jeito que, por um lado, nos leva a buscar a verdade passível de ser descoberta pelo pensamento, para um conhecimento fundamentado da realidade (O que são as coisas? Por que são como que são? Qual o seu fim? etc.), e, por outro lado, nos remete para a sabedoria, não somente como ciência, mas como algo a ser vivido como sólidos referencias de nossa existência. Essa é uma boa pista para começarmos a entender que o exercício filosófico não é um mero exercício intelectual e contemplativo, mas um exercício de reflexão que se encontra inteiramente associado à ação e à transformação do éthos. O éthos é justamente o que os gregos denominavam de construção do “modo de estar” no mundo. Uma vez que compreendemos, a partir da etimologia do termo “filosofia”, que seu exercício nada tem de meramente especulativo e que tais reflexões são dispositivos que acionam o pensamento em frequente movimento de busca, precisamos saber o que dá origem a essa experiência. Recorremos, então, a Aristóteles (Metafísica, A982b), filósofo que indicou com precisão a experiência que, na verdade, dá origem ao pensar filosófico, qual seja, a que os gregos chamavam da experiência do thauma (exatamente a da admiração, a do espanto e a da perplexidade). Desenho: Nádia Filomena 14 FILOSOFIA O que é isso? Por que é assim? Como é possível que seja assim? Por conseguinte, eis o primeiro passo em direção à atividade filosófica: ser atingido pelo espanto e pela perplexidade; estranhar as coisas a ponto de renunciar a ilusão, a ingenuidade e, até, a comodidade das explicações normalmente estabelecidas pelo senso acrítico. Vale lembrar, a acomodação do homem comum entorpecido por suas heranças simbólicas, isto é, pelo homem que não questiona de jeito algum o que “aprendeu” e “assimilou” durante sua vida, para quem a tradição que lhe formou comporta as únicas concepções cabíveis e indubitáveis de orientação de seus pensamentos. Parece que esse sentimento de “admiração” diante das coisas levaram (e ainda levam!) os homens, como levaram os primeiros filósofos, em face das dificuldades mais óbvias, a avançar e enunciar problemas a respeito da natureza, do universo, da existência humana e, principalmente, a pensar e redimensionar a vida humana e suas criações comportamentais, ideológicas, políticas, econômicas, culturais etc. Cabe também esclarecer que a experiência do thauma nada tem a ver com revoltar-se contra a tradição (experiência muito comum entre os jovens – o velho embate entre gerações!), mas sim se refere ao direito de renovação do próprio pensamento, renovação responsável, crítica e aberta ao debate, seja com reflexões antigas, seja com novas ideias. Uma vez tocado pelo estranhamento ou perplexo diante de algo e, principalmente quando perturbado por questões do tipo: O que é isso? Por que é assim? Como é possível que seja assim? etc., o homem em geral se vê acometido por uma exigência de explicações, ávido por encontrar um sentido para sua experiência. Quando isso acontece, desde as culturas mais primitivas, pois esse movimento é próprio da condição humana, um arsenal de explicações e respostas é produzido. (É comum que tais respostas estejam contidas em mitos, lendas, histórias e narrativas religiosas que passam de geração em geração.) Da mesma forma que é comum a inquietação de alguns diante do estabelecido, outros passam a vida toda sem indagar-se ou espantar-se com o que está estabelecido pelo senso comum. Podemos até observar que muitos aceitam, sem muitas exigências, não somente explicações dadas pelo mito, bem como aceitam passivamente quaisquer outras explicações prontas e fornecidas pelo meio social em que vivem, pela cultura dominante. Enfim, encaram com naturalidade as explicações sobre o mundo que nos circunda, quer essas explicações se refiram ao mundo dos fenômenos físicos, quer ao âmbito das relações sociais, cujo sistema de organização, embora incomode com seus problemas de conduta, muitas vezes não chega a causar espanto em ninguém. É como se tudo fizesse parte da “ordem natural’” e inevitável das coisas. Como veremos no próximo capítulo, parece que a filosofia surgiu (pelo menos é a tese mais aceita pelos historiadores!) quando, por uma série de fatores complexos, as explicações e respostas dadas pelo mito e pela tradição não satisfizeram a certos homens gregos, os quais se mostraram, além de curiosos e perplexos, dispostos a não abrir mão da busca por explicações, pelos homens e no mundo dos homens, exigindo respostas que fossem além das fornecidas pelo senso comum. 15 O que é a filosofia? Se for preciso, então, encontrar respostas no “mundo dos homens”, é preciso também definir a tarefa da filosofia, a fim de que possamos entender como seriam dadas as explicações dos homens interessados nesse novo empreendimento intelectual. Para abdicar das respostas convencionais e, esse é o próximo passo em direção ao exercício filosófico, é necessário abrir mão das “soluções de ordem prática”, que embora sejam importantes para a vivência diária e útil do ponto de vista pragmático, não exigem provas e demonstrações mais fundamentais, o exercício rigoroso do pensamento que, como tal, não somente revolucionou (e ainda revoluciona!) e elaborou teorias da física, as quais, por exemplo, resultaram, no Ocidente, na tecnologia moderna e, ainda as grandes teorias no campo da biologia, da medicina, da política, da economia etc., que revolucionaram a visão tradicional da vida, dos homens e das instituições humanas. Toda essa produção intelectual, acertando às vezes e errando outras tantas, tem a ver com o tipo de pensamento desenvolvido no Ocidente, em outras palavras, tem a ver com a filosofia. Desenho: Nádia Filomena Em uma sociedade capitalista como a nossa, a maioria concebe o conhecimento como um “bem de consumo”, em outras palavras, para além dos ensinos fundamental e médio, o acesso ao ensino superior tornou-se condição para se garantir um “lugar ao sol” no mercado de trabalho. Com efeito, a aquisição de conhecimento em nível superior tornou-se quase que uma obrigação na vida dos jovens e é o mercado de trabalho que tem “regulado” a “vocação” profissional dos jovens. Nesse sentido, nos endereçamos à própria etimologia da palavra filosofia: ela nos revela que o papel do filósofo não é o de detentor de um saber superior, o sábio, o erudito, mas, daquele que, ao contrário, “busca” com modéstia, seriedade e, por que não dizer, com amor, a manutenção do direito ao questionamento, questionamento do que parece normal e óbvio aos olhos dos outros. Nada fica de fora de seu questionamento: nem Deus, nem o homem com suas ciências e instituições, inclusive, nem os sistemas filosóficos já aceitos e elaborados e o próprio direito do filósofo de questionar. Por conseguinte, a filosofia acaba sendo, de fato e de direito, um saber crítico sobre todas as coisas, e, não se pode esquecer desse detalhe, nem ela própria pode escapar de seu próprio questionamento. 16 FILOSOFIA O questionamento, de fato e de direito, na maioria das vezes é responsável por transformações possíveis e alterações recorrentes na comunidade humana e, consequentemente pela vida e destino do planeta. Por isso, podemos concluir que a filosofia é justamente a ciência a partir da qual nada permanece tal e qual é. Sendo assim, é só entrar na filosofia para compreender que já, na contramão da maioria, não pertencemos mais ao grupo dos “obcecados por segurança” e “avessos a mudanças”, mas, ao time dos que apostam com vontade e coragem, na beleza e capacidade de criação do pensamento humano. Como se você fosse um jornalista, descreva em poucas linhas algum ou alguns fatos contemporâneos que demonstrem em sua opinião a falta de discussão e reflexão, em nossa sociedade, sobre assuntos urgentes e fundamentais para a existência humana. O problema do acúmulo de “lixo eletrônico”. Fonte: http://www.imotion.com.br Cite aqui alguma reportagem sobre, por exemplo, a reprodução humana e comente sobre as consequências e possíveis efeitos desse fato científico nas atuais concepções sobre a vida. 17 O que é a filosofia? Polêmica também envolveu primeiro bebê de proveta Há 23 anos atrás, mais exatamente em 25 de julho de 1978, o nascimento do primeiro bebê de proveta levantou muitas das questões que retornam agora com a clonagem do primeiro embrião humano. Tendo em mente principalmente o futuro nada agradável imaginado por Aldous Huxley, em 1932, na ficção científica Admirável mundo novo, os temores de que alguma catástrofe biológica pudesse acontecer eram semelhantes aos de hoje. Bebês deformados, surgimento de uma nova subclasse geneticamente planejada, barrigas de aluguel foram algumas das imagens invocadas por cientistas, religiosos e jornalistas que repercutiram na mídia. Também fizeram parte nessa época interesses comerciais e de projeção pública de cientistas, médicos e empresários. A revista Manchete, uma das principais publicações semanais da década de 1970, acompanhou vivamente o nascimento e os primeiros dias da inglesa Louise Joy Brown, a primeira criança resultado de fertilização in vitro. Foi a Manchete quem comprou as fotos e reportagens exclusivas do Daily Mail, tabloide inglês que pagou a Lesley Brown, a mãe de proveta, 325 mil libras (ou 565 mil dólares) pelas primeiras imagens do bebê. Fonte: http://www.comciencia.br Antes de tudo, filosofar é ter a coragem de colocar a natureza de nossas concepções em debate e, neste sentido, qualquer pessoa, jovem ou adulta, sensível aos problemas da sociedade em que vive, pode se ver em pleno momento filosofante. Uma maneira de começarmos a nos“cuidar” é refletir sobre como agimos e pensamos, a fim de que possamos ‘tomar as rédeas de nosso destino’, para iniciar esse processo recomendo o que Theo Roos batizou de ‘vitaminas filosóficas’. Essas ‘vitaminas’ nada mais são do que um texto filosófico que nos ajudam a refletir e, assim, poder partir para um contato mais íntimo com a filosofia. Para saber mais: Livro Vitaminas Filosóficas. Theo Roos.. Rio de Janeiro: Editora Casa da Palavra, 2006. Dicas de navegação http: //emfilosofia.blogspot.com/ Duvida.net Estúdio@web 18 FILOSOFIA 1. Sabemos que o termo “filosofia” comporta um sentido amplo, diferente da filosofia como disciplina acadêmica. Assinale o tipo de produção referente ao sentido estrito da filosofia: (a) filosofia oriental (b) livro de autoajuda (c) livro de história do pensamento ocidental (d) manual de medicina alternativa 2. Aristóteles indicou a experiência que, segundo ele, dá origem ao pensar filosófico. Qual das expressões a seguir traduz, com precisão, tal experiência? (a) Thauma (espanto, admiração, perplexidade) (b) Philía (amizade, afinidade, a viva afeição) (c) Pathos (paixão, perturbação do ânimo, padecer) 3. Assinale a afirmação falsa: (a) O senso comum de nossa sociedade considera útil o que dá prestígio, poder e que tenha uma aplicação prática e imediata. Desse ponto de vista, a filosofia é totalmente inútil já que seu trabalho pressupõe a recusa ao ficar instalado, aceitando passivamente as ideias que já estão catalogadas há séculos, a manutenção das opiniões tendenciosas emitidas por hábito ou crenças. Inútil porque exige um tempo necessário, elaborado e processual inerente ao exercício filosófico, oposto ao propalado “tempo é dinheiro” das sociedades capitalistas contemporâneas. (b) O senso comum de nossa sociedade considera útil o que dá prestígio, poder e que tenha uma aplicação prática e imediata. Desse ponto de vista, a filosofia é totalmente útil já que seu trabalho e ensino pressupõem a erudição necessária à constituição de cidadãos com um grau de inteligência e intelectualidade mais alta, que possam com o conhecimento dos sistemas filosóficos modificar urgentemente o pensamento vigente nas sociedades contemporâneas. 4. Qual das seguintes alternativas lhe parece uma questão filosófica? (a) Quanto tempo vai durar a água disponível no planeta? (b) O que é o tempo? (c) Qual o efeito das queimadas no solo? (d) Quando as Américas foram descobertas? 19 O que é a filosofia? 5. O que melhor traduz o papel da filosofia propriamente dita? (a) Interpretar, explicar e responder definitivamente questões práticas de nosso cotidiano. (b) Buscar com modéstia e seriedade a manutenção do direito ao questionamento, do que parece normal e óbvio aos olhos dos outros. 6. Assinale a alternativa correta: (a) Como os livros de autoajuda ensinam a viver melhor, eles podem ser inseridos na produção acadêmica da filosófica. (b) Os prêmios oferecidos aos trabalhos monográficos de filosofia, geralmente, usam critérios acadêmicos para decidir quanto aos vencedores. 7. Marque a alternativa incorreta: (a) Filosofar é principalmente “saber ler e compreender” os mestres do passado, a fim de aplicar esse saber em prol de um mundo melhor, com mais compreensão entre os homens. (b) Filosofar é estranhar, problematizar, questionar criticamente temas fundamentais, a fim de que possamos esclarecer antigas concepções, em direção à renovação e ao novo pensamento. 8. Quando filosofamos... (a) ... estamos resolvendo problemas práticos, afinal filosofar é encontrar técnicas importantes para a ciência atual. (b) ... estamos ampliando nossa visão de mundo, exercitando a razão, para que o próprio pensamento se desenvolva e se renove. 9. Podemos dizer que o saber filosófico... (a) ... é uma ciência nova, que data do começo do século XX. (b) ... teve sua origem no período conhecido como medieval. (c) ... remonta à Grécia Antiga (século V a.C.). 10. 10. A figura do “filósofo” corresponde, por definição, à do “sábio” ou “profeta” do pensamento mágico-religioso. Sobre essa sentença, podemos dizer que ela é: (a) totalmente falsa. (b) verdadeira. (c) parcialmente falsa. 20 FILOSOFIA Glossário arquétipo: tipo simbólico, original e característico de um tipo humano ou inumano. etimologia: estudo da origem das palavras. exercício contemplativo: exercício intelectual que se ocupa somente com a contemplação (no caso, com a apreensão racional) de um objeto. herança simbólica: herança de significados, discursos e valores de uma cultura. ordem natural: ordem comum/predeterminada, “normal” ou entendida como essencial e obrigatória das coisas, geralmente não questionada. senso comum: saberes compartilhados pelas pessoas, geralmente sem compromisso com a razão crítica, constituído por crenças e hábitos. senso crítico: questionamento do que parece óbvio ou normal para a maioria das pessoas. CAPÍTULO 2 AS ORIGENS DO PENSAMENTO FILOSÓFICO-CIENTÍFICO: DO MUNDO DOS DEUSES AO MUNDO DOS HOMENS CAPÍTULO 2 As origens do pensamento filosófico-científico: do mundo dos deuses ao mundo dos homens T rataremos neste capítulo das origens do pensamento filosóficocientífico, em uma referência à passagem das explicações míticas, por isso, a alusão ao mundo dos deuses, as explicações produzidas pela razão humana, as quais possibilitaram a filosofia e a ciência como as conhecemos hoje. Igualmente, abordaremos um assunto que, embora muito antigo, ainda faz parte de nossas vidas: o mundo mítico, o mundo mágico-religioso, no qual não há questionamentos analíticos nem compromisso com a lógica dos sentidos humanos. Ao mesmo tempo, mostraremos como a história da filosofia começa na passagem da concepção de um mundo “governado” e “explicado” pelo “sobrenatural” para a concepção de “mundo natural”, no qual a ocorrência de seus fenômenos e a própria vida são acessíveis à razão humana. A identidade atual do ser humano (a partir da qual inferimos adjetivos, tais como:inteligente, evoluído, científico, culto etc.) comporta múltiplas expressões: a do homem que conhece, a do homem religioso, a do homem tecnológico etc., inclusive a do homem como espécie evoluída, classificado pela biologia tradicional como pertencente à classe dos mamíferos, do gênero Homo e da espécie sapiens. Nesse sentido, o atributo sapiens remete à capacidade humana de sapiência, em outras palavras, a capacidade do homem de conhecer e intervir, por intermédio de suas criações cognitivas e comportamentais, no mundo em que vive. Nem sempre, e isso podemos observar com facilidade, o homem dá explicações lógicas, racionais, tampouco práticas, aos problemas e enigmas que encontra durante sua existência. É fato assente que, ao longo da história da humanidade, o homem produziu, por um lado, muita ciência e tecnologia, as quais elevaram consideravelmente 24 FILOSOFIA a expectativa de vida, e, por meio do pensamento laico e da produção de tecnologia, transformou a qualidade da existência humana, aumentando o aproveitamento dos recursos naturais, facilitando meios de locomoção, aumentando a comunicação entre os povos etc. No entanto, por outro lado, tem ainda de se curvar aos inumeráveis enigmas e mistérios da vida e do mundo, que não cessam de pôr em xeque os limites de nossas concepções racionais e nossas expectativas de intervenção no destino de nossas existências. Muitas vezes, e isso é inevitável, nos deparamos com situações não somente inexplicáveis, como também incontroláveis por nossa razão. Por conseguinte, diante do desconhecido e dos limites da razão, apela-se recorrentemente ao mítico ou à manutenção, sem questionamento, das explicações convencionais. Aquiles é atingido no calcanhar. Eros ou Cupido. Fonte: http://aguerradetroia.wordpress.com. Quem nunca ouviu estas expressões: “aquilo era ‘meu calcanhar de Aquiles’”, ou “foram ‘flechados pelo cupido’” e, ainda, “o ‘complexo de Édipo’”, “esse trabalho foi uma ‘odisseia’”, “este é um ‘presente de grego’” (em uma referência ao Cavalo de Troia) etc.? Tais expressões refletem simbolicamente mitos de origem grega, muitos dos quais apenas citamos por hábito ou crença, sem termos a menor noção de sua origem e de suas fantásticas histórias. Segundo historiadores da filosofia, o pensamento filosófico-científico, o que hoje denominamos “pensamento ocidental”, nasce na Grécia arcaica, alcança seu ápice na Grécia clássica e se expande para além das fronteiras gregas no período chamado helenístico. Portanto, vamos agora empreender uma viagem no tempo rumo à Grécia antiga, a fim de que possamos descobrir as origens da forma de se “pensar como pensamos” e as heranças simbólicas e reflexivas que nos legaram os então chamados primeiros filósofos. 25 As origens do pensamento filosófico-científico Fonte: http://aguerradetroia.wordpress.com De acordo com a periodização elaborada pela história do pensamento filosófico no Mundo Antigo, há quatro períodos: “mítico” ou “mágico-religioso” (de 1.200 a 800 a.C.); “arcaico” ou “pré-socrático” (do final do século VIII a.C. ao início do século V a. C.); “clássico” (do século V a.C. ao IV a.C.); e “helênico” (quando a Grécia passa para o domínio da Macedônia e depois para o domínio de Roma). Neste capítulo, abordaremos alguns aspectos do “mítico”, período em que os homens procuram interpretar e explicar os fatos de sua experiência, exclusivamente, pelos mitos, isto é, recorrendo ao sobrenatural e à “vontade dos deuses”. Há alguns pensadores da história do pensamento antigo que argumentam a favor da chamada “origem oriental” do pensamento filosófico, isto é, para eles, assim como para Heródoto e os filósofos Platão e Aristóteles, há reconhecidamente uma dívida intelectual dos gregos para com os orientais (os chamados bárbaros) e, também, não se pode deixar de considerar que, durante o helenismo, época em a Grécia estava sob o domínio, primeiro dos impérios de Alexandre e depois de Roma, estabeleceu-se uma aproximação entre “os gregos” e “os outros”, fato marcado, exemplarmente, por pensadores como Filo de Alexandria (pensador judaico) e Eusébio de Cesareia (padre cristão intelectualizado). De todo o modo, a tese mais aceita pelos historiadores é a de que a filosofia nasceu entre o final do século VII a.C. e o início do século VI a.C., nas colônias gregas da Ásia menor – especialmente as que formavam a Jônia. Agora vamos procurar saber como os homens gregos que viviam nesse momento faziam para entender o mundo à sua volta, nesse período anterior ao aparecimento da própria filosofia. Desenho: Nádia Filomena 26 FILOSOFIA Até o século VI a.C, portanto, a civilização grega era marcada por um modo de pensar e explicar o mundo e a vida por intermédio de causas sobrenaturais, ou melhor, pela interpretação que faziam do que deliberavam os deuses. Os gregos eram “politeístas”, o que significa a crença em vários deuses (Atenas, a deusa da justiça; Afrodite, a deusa do amor; Hades, o deus do inferno; Poseidôn, o deus dos mares; Zeus, o deus dos deuses; dentre outros), e cada um dos deuses “expressava” seus desígnios, determinando, de um modo ou de outro, o destino dos homens. O mito aparece, então, como o recurso ao qual o homem grego recorre, anteriormente ao séc. VI a.C, para explicar o mundo em que vivia. O deus guardião do oráculo http://aguerradetroia.wordpress.com Mistério de Elêusis: é a doutrina da vida universal, que se encerra no simbólico grão de trigo de Elêusis, que deve morrer e ser sepultado nas entranhas da terra, para que possa renascer como planta, à luz do dia, depois de abrir caminho pela escuridão em que germina http://aguerradetroia.wordpress.com. Como toda tradição de povos da Antiguidade, o povo grego também tinha sua própria visão de mundo. O termo grego mythos (mito) caracteriza um tipo especial de discurso, isto é, um discurso fictício ou imaginário, entendido como a “palavra proferida por um representante da divindade”. Por intermédio desse tipo de discurso, o povo de determinada tradição explica aspectos fundamentais da realidade, ou seja, a origem do mundo, como se dá o funcionamento dos fenômenos da natureza e, também os princípios e valores básicos de vida. O discurso mítico se dá, normalmente, por meio de lendas e narrativas, cujas autorias e origens cronológicas são desconhecidas, fazendo parte, então, da tradição cultural e folclórica. A transmissão do mito é oral, envolvendo histórias, “casos” e imagens e, configurando como parte de uma tradição cultural, o mito traduz a própria visão de mundo dos membros de determinada comunidade e a maneira como experimentam suas existências. Nesse sentido, o mito supõe, a priori, pensamentos dogmáticos, prescritivos e inquestionáveis. Por conseguinte, não há lugar, entre aqueles que o seguem, para buscas de justificativas, funda- 27 As origens do pensamento filosófico-científico mentos, críticas ou correções. Na verdade, é uma questão de “pertencimento” à determinada cultura: ou se aceita o mito (visão de mundo estabelecida) ou não se pertence a ela. Quanto à forma de explicar os fenômenos da natureza e ao que acontece aos homens, o mito prima pelo apelo ao mágico, ao sobrenatural e/ ou ao sagrado. Tudo no pensamento mítico é governado por uma realidade fora do mundo humano e natural, realidade sempre superior, cheia de mistérios e, para “fazer a ponte” entre esse mundo e o mundo dos homens, se estabelecem em cada comunidade os sacerdotes, iniciados, magos, bruxos, seres superdotados, incomuns etc. Esses são capazes de transmitir e interpretar a vontade dos deuses, mesmo que parcialmente. Os oráculos, os cultos, os rituais de magia e os sacrifícios religiosos são maneiras de se tentar alcançar benefícios, de agradecer, de aplacar a ira, além de formas de consultar e honrar os deuses. Entre os exemplos de religiões gregas, estão o orfismo e os mistérios de Elêusis. Desenho: Nádia Filomena Diógenes de Laércio (o primeiro “historiador” da filosofia de que se tem notícia), na verdade, o primeiro doxógrafo (o que reuniu e publicou a opinião dos filósofos antigos), foi quem defendeu o caráter absolutamente nativo e original da filosofia como um feito grego. Segundo Diógenes, nada nas culturas vizinhas e contemporâneas se comparam a ela. Para Martin Heidegger, filósofo contemporâneo, como para Diógenes de Laércio, a “filosofia fala grego”, o que significa que, de modo espontâneo e natural, os gregos são os pais da filosofia e ciência ocidentais, isto é, é a eles que se deve atribuir o “milagre” da criação do modo de pensar e de intervir sobre a realidade que ficou como uma herança para toda a posteridade ocidental, uma invenção nova e própria do Ocidente. A exposição de Hegel, filósofo alemão do século XIX, do surgimento da filosofia produziu uma corrente de historiadores da filosofia para os quais esse nascimento significa ruptura integral com a religião e os mitos. Nessa mesma linha de pensamento, Aristóteles, filósofo do período clássico do pensamento antigo (período ao qual fizemos referência no começo do capítulo), afirma ser Tales de Mileto (século VI a.C.) o primeiro a exprimir uma insatisfação com o tipo de explicação do real que encontramos no pensamento mítico, sendo esse pensador considerado o iniciador do pensamento filosófico-científico. Esse momento histórico de ruptura de uma “forma de pensar” a outra é reconhecidamente resultante de transformações significativas na socieda- 28 FILOSOFIA de grega da época, que se seculariza, tornando-se importante a atividade comercial dentre outros dados históricos como: escrita, o calendário, moeda e as navegações. Assim sendo, podemos dizer que o surgimento da filosofia nas colônias gregas da Jônia é bastante expressivo, já que ali se dava o maior contato com outras culturas, fazendo com que o pensamento tradicional grego (o mito que sustentava suas crenças, interpretações do mundo, valores etc.) fosse, junto com as práticas religiosas e, em face da diversidade cultural ora experimentada, postos à prova e relativizados. Doravante, o mito como explicação do real por intermédio de causas sobrenaturais será considerado insatisfatório, e os primeiros filósofos procurarão explicar a realidade natural por ela própria, donde deriva o termo “naturalismo” atribuído às primeiras escolas filosóficas. Para tal empreendimento, o novo pensamento filosófico mostrará características para romper com a narrativa mítica, como as noções de physis (natureza) e de causalidade (interpretação do real em termos naturais); noções que trataremos, dentre outras, no próximo capitulo. Agora que você consegue distinguir o pensamento mítico do filosóficocientífico, faça o exercício a seguir, justificando, ao final, as escolhas que fez.: 1º) Observe seus pensamentos e crenças pessoais e tente descobrir mitos que fazem parte de suas ideias no diaa-dia; Observe, no que dizem as pessoas com quem convive, inclusive em reportagens, novelas, músicas, discurso político etc., os mitos que sustentando os hábitos e as crenças da vida contemporânea. 29 As origens do pensamento filosófico-científico 2º) Analise a frase a seguir, veja se lhe parece falsa ou verdadeira e, em seguida justifique em poucas linhas sua resposta: “Hoje em dia, o pensamento científico se tornou um mito para muitas pessoas.” É característica do pensamento mítico a associação de imagens, cores, casos fantásticos às experiências difíceis de o homem compreender em sua vida cotidiana. Por isso, suas narrativas são sempre ricas em simbologias, afetando de modo intenso nossa sensibilidade. Pesquise e escolha na internet um mito grego, reproduza-o aqui resumidamente, comentando o que sentiu ao lê-lo. Dicas de navegação http: //emfilosofia.blogspot.com/ 1. Qual das seguintes expressões não representa uma herança do mundo mítico? (a) “Presente de grego”. (b) “Calcanhar de Aquiles”. (c) “Cama de gato”. 30 FILOSOFIA 2. No pensamento mítico, pode-se dizer que o “mito” aparece como: (a) uma mera ficção. (b) apenas parte do folclore. (c) uma concepção de mundo. 3. Das opções a seguir, diga qual delas constitui uma característica do pensamento mítico? (a) A transmissão por linguagem escrita. (b) A aceitação de um discurso mágico-religioso. (c) O tipo de linguagem antiga da razão filosófica. 4. Quais eram as vias de comunicação dos homens com os deuses? (a) As grandes navegações. (b) Os rituais religiosos, oráculos e sacerdotes. (c) Os ritos de adivinhação. 5. A transmissão das narrativas míticas se faz por meio: (a) da linguagem oral, passando de geração em geração. (b) da linguagem escrita, por meios impressos. (c) de mapas e papiros antigos. 6. Por que as narrativas apresentam autoria e cronologia indeterminadas? (a) Porque não há registro em linguagem escrita das narrativas míticas. (b) Porque tais narrativas não tinham uma autoria específica. (c) Porque os nomes dos autores das narrativas eram mantidos em segredo. 7. Qual das afirmações a seguir é correta sobre o pensamento mítico? (a) Os gregos acreditavam em um só Deus. (b) Os gregos buscavam em si mesmos explicações para os acontecimentos. (c) Os gregos era politeístas e recorriam aos deuses para explicar o real. 8. Um dos movimentos religiosos mais conhecidos do período mítico era o: (a) cristianismo. (b) orfismo. (c) hinduísmo. 31 As origens do pensamento filosófico-científico 9. No período mítico, os sacerdotes eram: (a) grandes guerreiros. (b) homens dotados de habilidades esportivas. (c) homens que interpretavam a vontade dos deuses. 10. Dos nomes a seguir, qual não representa um deus grego? (a) Atenas. (b) Zeus. (c) Aquário. 32 FILOSOFIA Glossário doxografia: registro ou compilação das opiniões dos filósofos. narrativas míticas: lendas e estórias fictícias e imaginárias. oráculo: instrumento (livros, cartas, mapas etc.) de consulta aos deuses. orfismo: movimento religioso constituído por seitas que celebravam um culto particular a Dionísio, julgando como fundador do movimento o poeta mítico Orfeu. CAPÍTULO 3 OS PRÉ-SOCRÁTICOS: A PREOCUPAÇÃO COM O COSMOS E COM A NATUREZA. CAPÍTULO 3 Os pré-socráticos: a preocupação com o cosmos e com a natureza. C omo vimos no capítulo anterior, romper com a narrativa mítica talvez tenha sido o maior desafio cultural de todos os tempos, já que os gregos tomaram para si a tarefa de interpretar o mundo racionalmente, sem ter nenhum conhecimento prévio acumulado e sem nenhum tipo de instrumentalização (como um método científico e instrumentos de observação e medida). As primeiras providências e contribuições dos primeiros filósofos para esse momento inaugural foram elaborar um conjunto de noções que tentam explicar racionalmente a realidade natural e que constituirão, como veremos, os conceitos básicos das teorias sobre a natureza que surgirão a partir de então. Foi assim que a filosofia e a ciência deram o “pontapé inicial” em nossa tradição cultural. Essas noções, além de instituírem o início de uma nova visão de mundo fisiólogos, termo atribuído aos que se ocupam com o saber do mundo da natureza), foram introduzidas pelos chamados “filósofos pré-socráticos”, denominação cronológica que se refere a esses filósofos que viveram antes de Sócrates (470-399 a.C). Sócrates é considerado um marco na filosofia não somente pela relevância de seu pensamento, mas também por ter trazido para a discussão filosófica questões da vida humana e social, o que não havia sido discutido por essas primeiras escolas, como veremos a seguir. 36 FILOSOFIA O objeto de investigação dos primeiros filósofos é o mundo natural, portanto, a natureza, em grego: physis, que quer dizer: “fazer surgir, fazer brotar, produzir”. A physis é imortal, e as coisas físicas são mortais. O mundo está em mudança, kinesis, termo grego que significa movimento, aquele que nos remete ao devir, definido por leis observáveis. Esses teóricos da natureza eram chamados de “fisiólogos”, na medida em que buscavam dar, com suas teorias, explicações causais dos processos naturais a partir de causas passíveis de serem encontradas na natureza, no mundo concreto, físico e não fora dele. Esse pressuposto habita todas as teorias doravante elaboradas por esses pensadores. Para tal projeto era preciso buscar uma conexão entre determinados fenômenos naturais, e, desse modo, constituiu-se a noção de causalidade, que pode ser definida como busca e estabelecimento de uma conexão causal entre fenômenos naturais. Assim, estabeleceu-se a forma básica de explicação científica, em outras palavras, explicitar um fato natural é relacionar um “efeito” a uma “causa” que o antecede e o determina. Por conseguinte, explicitar um fenômeno natural passou a ser a reconstituição do nexo causal existente entre os fenômenos ditos da natureza, na medida em que um fenômeno pode ser tomado como efeito de uma causa. É a aposta na existência desse nexo que dá inteligibilidade à realidade que se quer investigar e observar. A noção de causalidade, embora básica e importante para as explicações racionais do real, trouxe o seguinte problema: cada fenômeno poderia ser tomado como efeito de uma nova causa, que, por sua vez, seria efeito de uma causa anterior, e, assim sucessivamente, em um processo sem fim. Esse processo é chamado em filosofia de caráter regressivo da explicação causal ou problema do regresso ao infinito. Isso tornaria a explicação, no final das contas, inexplicável, um mistério inalcançável. Para resolver essa questão, era preciso se estabelecer uma causa primeira ou um conjunto de princípios que pudesse servir como ponto de partida para todo o processo de explicação racional, fato que levou esses filósofos a postular a noção de elemento primordial, em grego arqué, que viria a resolver o problema do regresso ao infinito. Trata-se realmente de um princípio básico que permeie toda a realidade, que de certa forma a unifique, e que ao mesmo tempo seja um elemento natural. Arqué significa o que está à frente. É o fundamento, a origem, o que está no princípio, no começo de modo absoluto. Significa, assim, ponto de partida de um caminho, o fundamento das ações e ponto final a que elas se dirigem ou retornam. Por exemplo, quando digo que ajo pelo princípio da verdade, quero dizer que a verdade, e não a mentira, não somente é o que fundamenta minhas ações, mas também aquilo que constitui a essência delas, o ponto de partida delas e o ponto final a que elas chegam. 37 Os pré-socráticos O mundo natural e o espaço celeste, para o homem grego dessa época, estão associados às ideias de ordem, beleza e harmonia. No sentido de exprimir tal ideia, lançaram mão do termo cosmo (kosmos), para tratar a realidade ordenada de acordo com princípios racionais. Entendido como cosmo, a realidade opõe-se ao caos, que seria a ideia de desordem, o estado da matéria antes de sua organização. Para esses filósofos, a ordem do cosmos é uma ordem racional, isto é, a realidade é regida por leis e princípios racionais, daí o pressuposto de uma possível correspondência entre a razão humana e a racionalidade do real, ou seja, daí se torna possível fazer ciência (explicar o cosmo racionalmente). É importante também que se definisse o “discurso” filosófico-científico, principalmente para que se diferenciasse do discurso mítico, a narrativa que recorre ao sobrenatural na descrição do real. Para o discurso dos primeiros filósofos, o termo grego logos, que significa “explicação onde razões são dadas”, é adotado como o discurso que explica o real por meio de causas naturais. As “razões” são fruto do entendimento e razão humanos, portanto, do discurso racional, argumentativo, crítico e aberto ao debate. Em suma, é o logos que torna possível um discurso racional e explicativo sobre o real. Um dos aspectos mais importantes que marcou esse “novo” modo de pensar foi a atitude crítica, isto é, não uma mera crítica ou oposição ao pensamento estabelecido até então, mas a introdução argumentativa, diga-se de passagem, do questionamento, da dúvida e da possibilidade inalienável de reformulação das teorias ora elaboradas. Resumidamente, o caráter crítico do pensamento filosófico-científico foi e, jamais deixará de ser, a condição para o desenvolvimento, transformação e ampliação do conhecimento humano. A partir da consideração das divergências, se justificadas, explicadas e fundamentadas por seus autores, o debate frequente retira a filosofia do campo da doxa (opinião sem qualquer fundamento objetivo e racional), bem como posiciona a filosofia de forma sempre aberta a reformulações, opondo-se, definitivamente, ao pensamento dogmático (aquele que é imposto, sagrado, totalmente avesso ao questionamento). As obras dos pré-socráticos, embora tenham se perdido na Antiguidade, chegaram até nós por meios indiretos, quais sejam por intermédio da doxografia e dos fragmentos. A doxografia versa sobre sínteses dos pensamentos desses filósofos e comentários a eles, elaborados por autores de períodos posteriores. Os fragmentos são citações de passagens dos próprios filósofos encontradas em obras posteriores. Vamos, então, conhecer mais de perto as escolas dessa época e seus principais representantes. 38 FILOSOFIA Escola jônica: os filósofos naturais da Jônia. Seu Interesse e principal preocupação consistiam na especulação sobre o elemento primordial da physis, a arqué, desenvolvendo teorias sobre a natureza. Representantes: Tales de Mileto, considerado o primeiro filósofo. Formulou a doutrina da água como elemento primordial, como princípio explicativo para todo o processo natural. Anaximandro: discípulo de Tales. Propôs o apeiron (o ilimitado) como primeiro princípio e parece ter sido o primeiro a utilizar a noção de arque nesse sentido. Anaxímenes: Elegeu o pneuma (o ar) como arqué. Heráclito do Éfeso: parece ser o principal representante da corrente de pensadores pré-socráticos que sustentavam a concepção segundo a qual a realidade natural se caracteriza pelo movimento. Por Tales da cidade de Mile- isso, os representantes dessa corrente eram to, primeiro filósofo. chamados de mobilistas. Fonte: http://aguerradetroia.wordEscola italiana: filósofos naturais ou press.com. imigrantes habitantes da Magna Grécia, colônia grega que hoje corresponde ao território que representa o sul da Itália. Interesse por uma visão de mundo mais abstrata e menos naturalista, esboçando os primeiros estudos da lógica e da metafísica, ou seja, com que está além da physis e não pode ser tratado em termos de dados empíricos, enfim, coisas que só podem ser concebidas pelo pensamento racional. Vale aqui lembrar que esse é um dos maiores desafios colocados pelo exercício filosófico, isto é, aprender a abstrair, a compreender que temos concepções independentemente da experiência. Por exemplo: quando formamos uma concepção racional sobre os perigos de se enfiar o dedo no ventilador, simplesmente, e, a partir dessa concepção, não colocamos o dedo, literalmente no ventilador, essa experiência passa a ser apenas, objeto do pensamento. Outro exemplo: para reconhecermos empiricamente algo como sal de cozinha, precisamos ver, provar, cheirar etc., no entanto, quando dizemos que NaCl (cloreto de sódio) corresponde ao sal de cozinha estamos nos referindo a algo que é exclusivamente objeto do pensamento, sujeito a leis racionais elaboradas pela química e pela física, que não pode ser tratado empiricamente. 39 Os pré-socráticos Representantes: Pitágoras de Samos: a escola inaugurada por Pitágoras subsistiu praticamente por dez séculos. Seu pensamento desenvolveu a doutrina segundo a qual o número é o elemento básico explicativo da realidade, podendo-se constatar uma proporção em todo o cosmo, o que garantiria a harmonia e o equilíbrio do real a ser explicado. Essa concepção do número reverbera na de tetractys (gruFonte: Jorge Claro po dos quatro) que consiste nos primeiros algarismos (1, 2, 3, 4), que somam dez e podem ser dispostos em forma triangular, simbolizando a relação perfeita. Parmênides de Eleia: Parmênides concebia a existência de uma realidade única, insurgindo-se assim, contra o pensamento dos mobilistas. Postulando que o movimento é apenas aparente, como um aspecto superficial das coisas, Parmênides argumentava que devemos buscar pelo pensamento a essência da realidade, aquilo que permanece e escapa às mudanças. Para esse filósofo, se formos além da experiência sensível, descobriremos que a verdadeira realidade é única, imóvel e indivisível. Filósofos importantes da segunda fase do pensamento pré-socrático De maneira geral, eles valorizavam o entendimento do mundo natural como múltiplo e dinâmico. Principais representantes: Anaxágoras de Clazômena: concebia a realidade como composta de uma multiplicidade infinita de elementos, as homeomerias. Demócrito: autor do atomismo, isto é, da doutrina que sustenta que a realidade consiste em átomos e no vazio; os átomos, se atraindo e se repelindo, geram os fenômenos naturais e o movimento. Sua teoria antecipa de forma fantástica a física atômica contemporânea. Empédocles de Agridento: autor da teoria dos quatro elementos (água, terra, fogo e ar). Essa doutrina chegou até os pensadores do século XV d.C. 40 FILOSOFIA Você seria capaz de identificar nas intuições dos filósofos pré-socráticos as noções e os princípios que são importantes para a ciência até os dias de hoje? Relacione-os, a seguir, indicando onde podemos encontrá-los. No mito para explicar a origem do Universo, os gregos primitivos contavam que, no começo, havia Cronos – o Tempo, senhor do Universo, casado com Reia. Tendo sido avisado de que um dos seus filhos iria destroná-lo, decidiu comer todos os seus descendentes. Quando Reia estava para parir, simulou o parto e ofertou a seu marido, como Fonte: http://filosofiaevertigem.wordpress.com. alimento, uma pedra enrolada em um cueiro. Escondida em uma caverna, deu à luz Zeus. Com o tempo, os filhos eliminaram Cronos e partilharam, por intermédio de uma peleja, o Universo da seguinte maneira: Zeus ganhou os céus; Poseidôn, os mares; e, o perdedor Hades, ficou com os infernos. Do monte Olimpo (montanha mais alta da Grécia), sob o comando do supremo Zeus, era atribuída a uma família de deuses a criação e o funcionamento de todo o Universo. 41 Os pré-socráticos Fonte: Jorge Claro. Os estudos contemporâneos da física têm muito a dizer sobre a formação do Universo e são capazes de reconstituir sua história por bilhões de anos. No entanto, quando se chega ao começo de tudo, parece que a coisa fica “filosófica”. Pesquise na internet as explicações mais atualizadas sobre a origem do Universo e, mesmo sabendo que, no final, tudo fica “filosófico”, procure comparar a explicação atual com o logos diferente do mythos dos gregos primitivos. 1. O problema do regresso ao infinito aparece para os gregos por meio da: (a) multiplicidade dos deuses gregos. (b) guerra e dos grandes combates. (c) explicação causal dos fenômenos naturais. 2. Por que dizemos que os primeiros filósofos acabam recaindo no pensamento mítico? (a) Porque recaem na especulação da causa primeira. (b) Porque ouvem o chamado dos deuses. (c) Porque consideram um retrocesso a nova forma de pensar. 3. Tales, Anaximandro e Anaxímenes eram conhecidos como: (a) “Trio de Mileto”. (b) “Herdeiros do Vento”. (c) “Acadêmicos”. 4. Os primeiros filósofos eram conhecidos como “fisiólogos” porque: (a) se interessavam pelos deuses. (b) se interessavam pela physis. (c) porque se interessavam pelo discurso. 42 FILOSOFIA 5. Sobre o mobilismo de Heráclito, pode-se afirmar que: (a) tudo é movimento. (b) o Ser é eterno. (c) a realidade é constituída de átomos. 6. Sobre a visão monista de Parmênides, pode-se afirmar que: (a) a realidade é constituída de quatro elementos fundamentais. (b) a verdadeira realidade é uma e imutável. (c) a verdadeira realidade é o movimento. 7. Sobre o atomismo de Demócrito, não é correto afirmar que: (a) o átomo é indivisível e a realidade é uma pluralidade de átomos. (b) o movimento nasce da atração e repulsão dos átomos. (c) os átomos são substâncias divisíveis ao infinito. 8. Sobre a doutrina dos quatro elementos de Empédocles, pode-se afirmar que: (a) o movimento nasce da atração dos átomos. (b) o movimento nasce do eterno conflito entre os opostos. (c) o movimento nasce da combinação de terra, ar, fogo e água. 9. Para Anaxágoras, a realidade era composta por uma multiplicidade de elementos denominados de: (a) átomos. (b) homeomerias. (c) apeíron. 10. Pitágoras é comumente lembrado por ter o seu nome associado à: (a) matemática. (b) biologia. (c) química. 43 Os pré-socráticos Glossário cosmo: sinônimo de ordem, organização, beleza e harmonia. fisiólogos: como eram conhecidos os primeiros filósofos. kinesis: movimento. logos: sinônimo de racionalidade ou discurso racional. metafísica: indica a ciência suprema e anterior a todas as demais por ter como objeto o fundamento último de todas as coisas. ontologia: investigação racional sobre o Ser. physis: fazer surgir, fazer brotar, produzir. CAPÍTULO 4 OS SOFISTAS: OS MESTRES DO DISCURSO CAPÍTULO 4 Os sofistas: os mestres do discurso D esde o começo de nossos estudos, procuramos entender o surgimento da filosofia principalmente como fato cultural, isto é, buscando compreendê-la como resultante de determinado contexto sociocultural. Esse surgimento, como já sabemos, se associa Fonte: Jorge Claro. ao começo da estabilização da sociedade grega e neste capítulo que agora trataremos é fundamental que levemos em conta o fato de que nos referimos a uma sociedade que começa a se preocupar com seus próprios negócios e, que tem, evidentemente, o desejo de equilibrar e encontrar consensos em meio a diferentes tendências, em meio a diferentes interesses existentes. Objetivamente isso representa a quebra de privilégios da oligarquia até então dominante, bem como o desenvolvimento da secularização daquela sociedade. O pensamento de Sócrates e de seus contemporâneos, os sofistas, compartilha o interesse por questões ético-políticas, mais especificamente pela questão do homem como “cidadão”, o cidadão da polis, que vai se organizar no sistema que conhecemos como democracia. O pensamento de Sócrates se desenvolve contra ao dos sofistas e, inclusive, como crítica ao pensamento político da época. Vale lembrar que a política visa ao bem comum e a ética visa cuidar da casa e à democracia, na verdade, se traduz na possibilidade de elaboração de leis 46 FILOSOFIA que atendam a todos, leis que possam resolver diferenças, desacordos existentes, em nome do interesse comum. Para que a razão se sobrepusesse à força, foi necessária a criação das assembleias públicas, onde se deliberavam, por intermédio do debate e do voto dos cidadãos, os destinos da cidade. Os sofistas surgem nesse momento, no momento de passagem da oligarquia para a democracia. Mestres muitas vezes itinerantes ocupam-se em ensinar as chamadas “artes do discurso”: a retórica e a oratória, na medida em que ser livre significa poder falar bem publicamente, defendendo direitos e interesses. Essa atividade dos sofistas ensina mais uma prática muito requisitada na época, diga-se de passagem do que uma doutrina específica, em comum entre eles. É a determinada forma de preparar o cidadão para a vida pública que se torna um ensinamento específico, o qual puderam “negociar” com os cidadãos da época. Os sofistas mais conhecidos foram Górgias, Protágoras e Isócrates de Atenas, sendo os dois primeiros eternizados por Platão em seus diálogos Protágoras e Górgias. Esta máxima de Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas (...)” expressa e sintetiza duas ideias-chave da sofística, quais sejam o humanismo e o relativismo. O humanismo na medida em que concebe “o homem” como critério da realidade, como capaz, por meio de sua habilidade intelectual e eloquência, de “dirigir” a opinião geral, com base no poder de persuasão, com o objetivo de produzir consenso em relação às questões políticas. Górgias, considerado um dos maiores oradores gregos e mestre da retórica da época, defende no fragmento a seguir que a “verdade” do conhecimento é relativa, ou seja, está mais associada ao que pode ser defendido e provado sobre ela, portanto circunstancial, do que a um sentido estável e definitivo. Para Górgias, “Nada existe que possa ser conhecido; se pudesse ser conhecido não poderia ser comunicado, se pudesse ser comunicado não poderia ser compreendido.” Para esses pensadores relativistas, tudo o que dispomos é o logos, o discurso racional, e mesmo que não tenhamos acesso definitivo à essência ou natureza verdadeira das coisas, podemos ser persuasivos e nos posicionarmos a favor ou contra determinada posição, sendo ambas as posturas absolutamente defensáveis. Não podemos nos esquecer de que os sofistas contribuíram de maneira inestimável para os estudos da linguagem grega. Preocupados com o discurso “perfeito” e “irretocável”, eles se ocuparam com estudos da lín- 47 Os sofistas: os mestres do discurso gua grega, inclusive, dando partida a estudos sistematizados dessa matéria. Pode-se sem dúvida afirmar que, desse modo, o interesse suscitado pela retórica e pela oratória engendrou o desenvolvimento, a partir de então, dos estudos da gramática e poética gregas. Certamente tem alguma coisa no ensino médio que você acha que não funciona bem, como, por exemplo, muitos alunos não gostam do tipo de avaliação (provas) que fazem. Tente tomar algo como o “tipo de avaliação” que você tem feito e argumente a favor de um outro tipo de avaliação e, em seguida, procure argumentos que vão de encontro (são contrários) aos seus Fonte: http://estudiorafelipe.blogspot.com. argumentos. Dica: recorra aos motivos que têm sido apresentados a você pelos professores e direção da escola, pais, manuais de educação etc., para que se convença que é necessário esse tipo de avaliação. Esse é um exercício de se ver “os dois lados da coisa”, independentemente de “crenças” ou “hábitos”. Tanto em um caso como no outro, tente caprichar na argumentação e se desvencilhar de opiniões subjetivas que tem a respeito dessa questão. Você vai experimentar e conhecer “o poder do discurso”, vendo que o que conta, no final das contas, é a defesa ‘bem feita’ de uma tese ou idéia, por Fonte:http://www.samshiraishi.com/ mais absurda que seja às vezes. 48 FILOSOFIA Filmes Advogado do diabo. A obra mostra o “poder do discurso”, na produção de “verdades” encomendadas pelas performances profissionais. Faz-nos perceber que o rumo que damos a nossa vida e às nossas escolhas depende mais do que temos afirmado sem questionamento e autocrítica do que de nossas escolhas refletidas e verdadeiras. Ano de lançamento: 1997 (EUA). Direção: Taylor Hackford. Tempo de duração: 145 minutos. Janela da alma. O filme mostra que nossa visão de mundo não se resume ao que queremos ver e ao que está dentro das possibilidades habituais da cultura em que vivemos. Gênero: documentário. Ano de lançamento: 2002 (Brasil). Direção: João Jardim e Walter Carvalho. Tempo de duração: 73 minutos. 1. Sobre os sofistas, não é correto afirmar que eles: (a) eram educadores itinerantes. (b) eram educadores por profissão. (c) eram líderes religiosos. 2. Os sofistas eram conhecidos como: (a) “mestres do discurso”. (b) “os milésios”. (c) “os pitagóricos”. 3. Os sofistas eram especialistas na arte de ensinar: (a) práticas esportivas. (b) oratória e retórica. (c) artes de combate. 49 Os sofistas: os mestres do discurso 4. A retórica consiste em: (a) uma técnica de construção. (b) uma técnica de esportes. (c) uma técnica discursiva de argumentação. 5. Os sofistas surgem no momento da: (a) consolidação da democracia ateniense. (b) intensificação da guerra com Esparta. (c) consolidação da oligarquia em Atenas. 6. Quais dos seguintes nomes representam sofistas renomados: (a) Pitágoras e Sócrates. (b) Empédocles e Anaximandro. (c) Protágoras e Górgias. 7. Sobre o humanismo dos sofistas, pode-se afirmar que: (a) a realidade é determinada pela vontade dos deuses. (b) o homem é a medida de todas as coisas. (c) a realidade é independente dos homens. 8. Para os sofistas, o sentido dos acontecimentos varia de acordo com: (a) a vontade dos deuses. (b) o discurso proferido pelos homens. (c) a sorte ou o azar. 9. Sobre o relativismo dos sofistas, pode-se afirmar que: (a) é necessário o conhecimento de uma verdade única. (b) a verdade é relativa ao discurso proferido pelo homem. (c) somente os deuses podem determinar a verdade. 10. Podemos dizer que, para os sofistas, tudo se reduz: (a) ao conhecimento verdadeiro. (b) às convenções e às opiniões. (c) à vontade dos deuses. 50 FILOSOFIA Glossário democracia: forma de organização política na qual a soberania é exercida pelo povo ou por seus representantes. doxa: é a opinião que é dita sobre algo tal como parece ser para alguém. oligarquia: forma de organização política na qual a soberania é exercida por alguns e não por todos. oratória: arte de proferir belos discursos ou de proferir discursos eloquentes. retórica: técnica de argumentação para convencer ou persuadir. CAPÍTULO 5 A FILOSOFIA SOCRÁTICA: “SÓ SEI QUE NADA SEI” CAPÍTULO 5 A filosofia socrática: “Só sei que nada sei” U ma das questões mais polêmicas, dentre outras, trazidas pelos sofistas foi, sobretudo, o fato de eles terem sido capazes de provar que há uma cisão irremediável entre physis e nómos. Nómos opõe-se a physis: nómos é o que é por convenção, pelo arbítrio e decisão humana; enquanto physis é o que é por natureza, por si mesmo, independentemente da vontade do homem. Para os sofistas, tudo é pelo nómos, tudo é por convenção. Bem, se tudo é “por convenção”, não faz sentido buscar o conhecimento verdadeiro. Observe o texto a seguir. “Conhecimento e verdade são conceitos diferentes. Mas também solidários. Nenhum conhecimento é a verdade; mas um conhecimento que não fosse verdadeiro de todo nem sequer o seria (seria um delírio, um erro, uma ilusão...). Nenhum conhecimento é absoluto; mas só é conhecimento – e não somente opinião ou crença – pela parte de absoluto e/ou verdadeiro que comporta. ”. André Conte-Sponville Pensemos, por exemplo, no movimento dos planetas do sistema solar. Ninguém pode conhecer esse movimento completamente, de maneira total e absoluta. Mas sabemos que esse movimento existe e pode ser explicado por teorias que, inclusive, mudam com o tempo. O fato de que tudo é incerto (ou mesmo que quase tudo se transforme com o tempo!) não é razão para se deixar de se procurar a verdade. Decerto que é entre o saber absoluto e a ignorância total é que há espaço para o conhecimento. Nesse sentido, o sofista “sabe tudo” e 54 FILOSOFIA transmite pensamentos e ideias prontas, sem crítica; Sócrates diz nada saber e, posicionando-se sempre como interlocutor, orienta o debate em busca da verdade, que está no interior de cada um. Platão, seu eminente discípulo, relata em seus Diálogos, que o objetivo de Sócrates era purificar a alma de sua ignorância. Vamos conhecer essa figura emblemática que marcou a história da filosofia. Sócrates foi uma estranha exceção em um século em que a produção literária era extremamente valorizada e, até mesmo, exuberante: Sócrates nada escreveu. No entanto, os vários relatos dos que o conheceram dizem que ele era um homem dedicado ao conhecimento de si e que exortava as pessoas a cuidarem de suas almas. Provocando nos outros perguntas sobre si próprios, conversando nas praças, nas reuniões de amigos ou com quem se interessasse por seus questionamentos etc., criou uma posteridade filosófica sem limites, e tudo que sabemos sobre Sócrates depende de fontes indiretas escritas depois de sua morte. Desenho: NádiaFilomena. Sócrates nasceu em Atenas (469-399 a.C.) em uma família modesta. Era considerado um homem pobre, embora tenha constituído família. Cidadão ateniense convicto dedicou sua vida ao que considerava os “interesses” da cidade. Aos 70 anos de idade, a pátria o “recompensou” executando-o com base em acusações de impiedade e corrupção de jovens. Você deve estar querendo saber que história é essa de “só sei que nada sei”, não é? Pois bem, explico-me: conta-se que um amigo de Sócrates, chamado Querefon, perguntou ao oráculo se existia alguém mais sábio do que Sócrates, e o oráculo respondeu, imediatamente e sem margem de dúvidas, que “não”. O próprio Sócrates não tinha consciência de ser um sábio e decidiu investigar a significação da resposta do oráculo junto aos ate- 55 A filosofia socrática: “Só sei que nada sei” nienses que se achavam detentores de conhecimento, ou melhor, detentores de mais conhecimento que os demais cidadãos. Poetas, políticos e muitos outros cidadãos se submeteram a seu questionamento, e Sócrates foi levado a admitir que todas as pretensões ao conhecimento superior desses cidadãos eram infundadas. Desse modo, tornou-se claro para Sócrates que sua superioridade proferida pelo deus do oráculo baseava-se no fato de ele, Sócrates, admitir, honestamente, a sua própria ignorância. A inserção fundamental de Sócrates na história da filosofia torna-se mais evidente quando comparada à dos sofistas. Como esses, ele acreditava na educação, mas na educação que conduzia à autoeducação; a educação que levasse os cidadãos a pensarem por si mesmos. Assim, o filósofo ensinava aos que o admiravam e seguiam uma atitude nova e crítica na vida. Segundo Platão, na Apologia, Sócrates deixa claro sua concepção de filosofia: “Nunca abandonarei o hábito de filosofar. Continuarei a exortar abertamente as pessoas que encontrar, usando minha linguagem habitual: “Meu caro senhor: você é um ateniense, um cidadão da maior e mais famosa de todas as cidades por sua sabedoria e poder. Você não se envergonha de estar preocupado com seu dinheiro e sua maneira de aumentá-lo, e com sua reputação e sua honra, em vez de ter cuidado e preocupação com o conhecimento do bem e da verdade e com a maneira de melhorar sua alma?” E se algum cidadão responder que tem esses cuidados, não o deixarei sair, ao contrário, interrogá-lo-ei e o refutarei.” (Coleção “Os pensadores”, Apologia de Sócrates/Platão, Nova Cultural, São Paulo, março de 1999). Por conta do que afirmou o oráculo, Sócrates sentia-se obrigado a tentar sistematicamente a fazer as pessoas a perceberem suas concepções sobre as coisas importantes da vida, preocupado sempre com a verdade e com o cuidado com a alma. O método socrático obedecia a alguns passos rigorosos: (i) induzia os ouvintes a dizer-lhe o que pensavam; (ii) objetivava estabelecer, com suas indagações, um entendimento da terminologia moral usada, como amizade, justiça, coragem etc.; (iii) induzia sempre alguém presente a falar o que pensava sobre tais palavras; (iv) considerando as respostas dadas como provisórias, Sócrates as submetia a uma análise crítica, na verdade, a uma análise conceitual; e (v) Sócrates, não raramente, desenvolvia argumentos para demonstrar tais definições ou hipóteses, levando a consequências incoerentes. Independentemente do resultado, Sócrates ficava satisfeito, pois essa era a melhor maneira, para ele, de livrar os cidadãos de opiniões e crenças falsas. 56 FILOSOFIA A mãe de Sócrates era parteira, e ele, em uma alusão ao ofício da mãe, que ajudava as mulheres a dar à luz os corpos, por sua vez, ajudava a dar à luz as ideias verdadeiras, contidas na alma dos homens. Assim, Sócrates caracteriza seu método como maiêutica, que significa, literalmente, a arte de fazer o parto. A título de conclusões, para Sócrates, o papel do filósofo não é transmitir um saber pronto e acabado, mas fazer seus interlocutores, por meio da dialética (problematizando crenças e ideias habituais) e do diálogo, dar à luz suas próprias ideias. Por fim, os sofistas por não se prestarem a ensinar o caminho para o conhecimento, para a verdade única e resultante desse conhecimento (atitude oposta do verdadeiro educador, como era considerado Sócrates), serão considerados por Platão e Aristóteles, eminentes pensadores do período clássico, em sequência à morte do mestre, como não filósofos. Fonte: http://marcelcartoon.zip.net/. Na democracia ateniense, o governo era exercido pelos cidadãos reunidos na assembleia. No entanto, eram considerados cidadãos somente os homens livres e nascidos na cidade. Sem cidadania, estrangeiros, mulheres e escravos estavam excluídos desse processo político. Portanto, podemos deduzir que, naquela democracia (que significa “governo do povo”), o governo, na verdade, era exercido não pelo demos (povo), mas por uma parcela da população, os cidadãos. 57 A filosofia socrática: “Só sei que nada sei” Analisando criticamente, a maneira de Sócrates, a definição da palavra democracia e, em poucas linhas, observando a contradição entre a palavra que define o regime político da época e a sua versão prática e ética, conhecemos mais claramente as características do tempo-histórico a que estamos nos referindo. Faça a mesma análise da democracia no Brasil, em 2009, citando as contradições que consegue detectar entre o termo e a prática da democracia no Brasil do século XXI. Para saber mais sobre esse importante filósofo: Livro Apologia de Sócrates. Coleção “Os pensadores”. Volume: Sócrates. São Paulo: Nova Cultural. 1996. Dica de navegação http://emfilosofia.blogspot.com/. 1. Sócrates transmitia seus ensinamentos em: (a) escolas. (b) praças públicas. (c) igrejas. 58 FILOSOFIA 2. Sócrates transmitia seus ensinamentos por linguagem: (a) escrita. (b) oral. (c) escrita e oral. 3. Com o aparecimento de Sócrates, inicia-se o período: (a) mítico. (b) pré-socrático. (c) clássico. 4. A dialética consiste em um método de: (a) questionamento incessante acerca da definição de uma ideia. (b) interpretação da vontade divina. (c) preparação para os esportes. 5. A dialética socrática tem como fim levar o interlocutor: (a) a reconhecer a verdade. (b) a reconhecer sua própria sabedoria. (c) a reconhecer sua própria ignorância. 6. A maiêutica significa literalmente: (a) a arte de lutar. (b) a arte de fazer o parto. (c) a arte de argumentar. 7. Das frases seguintes, qual não está relacionada à filosofia de Sócrates: (a) só sei que nada sei. (b) conhece-te a ti mesmo. (c) ser e pensar são a mesma coisa. 8. Sócrates é condenado à morte sob a alegação de: (a) blasfemar contra os deuses e perverter a juventude ateniense. (b) roubar e matar os cidadãos de Atenas. (c) promover a guerra entre povos amigos. 59 A filosofia socrática: “Só sei que nada sei” 9. O discípulo mais renomado de Sócrates foi: (a) Anaximandro. (b) Platão. (c) Tales. 10. Sobre Sócrates, não se pode afirmar que: (a) era natural de Atenas. (b) não se ocupava com as questões da cidade. (c) morreu por ser coerente com suas ideias. 60 FILOSOFIA Glossário ágora: praça pública. dialética: método socrático de promover o questionamento incessante acerca da definição de uma ideia com o intuito de levar o interlocutor a reconhecer sua própria ignorância. episteme: conhecimento, traduzido para o latim por scientia (ciência). ignorância: ausência de saber racional sobre o assunto, podendo ser considerado como ironia. maiêutica: “parto” das ideias. política: gestão não violenta dos conflitos, das alianças e das relações de força entre indivíduos de uma sociedade. CAPÍTULO 6 PLATÃO: O NASCIMENTO DA RAZÃO OCIDENTAL CAPÍTULO 6 Platão: o nascimento da razão ocidental N ão há quem não se interesse pela beleza, não é? Seja por uma bela mulher, seja por um belo poema, seja por um belo carro ou uma bela paisagem. O que percebemos de saída é que o “belo”, embora apareça como algo presente em todos esses objetos de admiração, mostra, por isso, que tem algo de imutável, presente em cada um desses objetos para que possamos reconhecê-los como “belos”. Ao mesmo tempo, é algo que varia de acordo com nossa experiência sensível, isto é, algo mutável, que pode variar ao sabor dos gostos, do tempo e das circunstâncias. Platão, o filósofo sobre o qual trataremos neste capítulo, enfrentou o ceticismo de sua época, acreditando firmemente na possibilidade do conhecimento real. Por isso, ele é considerado o “pai da razão ocidental”. Para o filósofo, como veremos a seguir, o objeto do conhecimento deve ser uma coisa invariável, e deve ser percebido e tratado diretamente pelo pensamento. Vamos tentar, doravante, acompanhar os passos de Platão em direção a essas condições, as quais, segundo ele mesmo ensina, são condições irrevogáveis do conhecimento verdadeiro. Afinal, pergunta Platão, na esteira de seu mestre Sócrates: o que é o ”belo”? Qual a razão de algo ser ”belo”? Para Platão, como veremos neste capítulo, se há algo realmente imutável e eterno, somente esse algo pode ser conhecido; não pode haver ciência das coisas sujeitas a mudanças Montagem: Nádia Filomena perpétuas (ora são, ora não são!). 64 FILOSOFIA Platão (427-347 a.C.) era um aristocrata ateniense. A vida de Platão transcorreu em uma época em que a liberdade política vigente gerou franco desenvolvimento econômico e cultural. Embora perdurassem lutas entre democratas, aristocratas e oligarcas, a democracia se estabeleceu e se afirmou como regime político dessa cidade-Estado. Descendente de família tradicional, Platão conhecia bem os bastidores da cena política e era natural que dela pretendesse participar. Mas, com a condenação e morte de Sócrates, ele aprende uma triste lição: sua cidade, apesar de democrática, afastava-se largamente desse ideal, já que um homem justo como Sócrates não pôde ali continuar vivendo, sendo impiedosamente condenado à morte por Atenas, a cidade com cujos destinos o mestre sempre se ocupou. O sentido de fazer política, para Platão, tornou-se o de construir essa cidadeideal e digna; e a filosofia passou a ser a procura dos fundamentos teóricos desse possível projeto político, então almejado pelo filósofo. Em 387 a.C. Platão, funda a Academia, a primeira instituição permanente de ensino e pesquisa no Ocidente. Além de visar a investigações científicas e filosóficas, a academia platônica se empenhava também na preparação de atuações políticas baseadas na busca da verdade e da justiça. Pode-se dizer que a filosofia de Platão é a primeira grande síntese do pensamento antigo, integrando vários filósofos anteriores, como Parmênides e Heráclito. A matemática, para Platão é a base do pensamento filosófico, tanto que, no pórtico da Academia encontrava-se escrito: “Aqui não entre quem não souber geometria”. Ao contrário dos primeiros filósofos, a obra de Platão escrita e publicada ainda existe; bastante extensa por sinal, atravessou os séculos e é ainda muito estudada. Os historiadores geralmente classificam-na em partes: • Diálogos socráticos: resguardam a memória de Sócrates e os temas morais defendidos pelo mestre. Por exemplo, Alcibíades, Górgias. • Diálogos da maturidade: Platão vai se tornando cada vez mais independente do pensamento de Sócrates e escreve importantes obras como República, Banquete, Parmênides, dentre outras. • Diálogos da velhice: última formulação do pensamento platônico: Sofistas, Timeu, Leis e outras. Nos diálogos socráticos, há um confronto recorrente de opiniões. Sócrates quer com isso despertar naquele que opina a consciência de que ele 65 Platão: o nascimento da razão ocidental não sabe. Quando esse último se convence, e se revela a fim de prosseguir, é incentivado pelo filósofo a buscar no conhecimento de si mesmo suas ideias próprias e mais fundamentais. Sócrates aparece nos primeiros diálogos de Platão como aquele capaz de desmascarar falsos sábios e suas ideias inconsistentes, sem se preocupar com soluções finais dos problemas. À propósito de soluções de problemas, Platão, com sua dialética e seu método dos geômetras, afirma que o diálogo deve ir além do embate de opiniões e tornar-se um embate entre teses; um método que vá do plano das opiniões, no sentido ascendente, até as formas mais seguras do conhecimento, rumo à verdade. Platão procura, por exemplo, a situação atual do universo e dos seres por meio de causas que não estão no tempo, em outras palavras, por meio de causas que explicam sempre por que cada coisa é o que é. Assim, adota um método, ou modo explicativo, típico da matemática: o método dos geômetras. Cria-se, nesse esquema, uma sequência de hipóteses que, embora sejam interdependentes, busquem uma final que, deixando de ser hipótese, se basta a si mesma, sustentando todas as outras. Em uma crítica ao que se concebe como “conhecimento sensível” (conhecimento pelos sentidos), Platão reconhece que, fatalmente, esse nos enreda nas malhas do relativismo (em uma alusão aos sofistas, verdadeiros ilusionistas para o filósofo), isto é, fornecem-nos apenas evidências individuais e passageiras. Assim, apoiado no método dos geômetras, elabora sua Teoria das Ideias, ou essências, em uma referência a “formas”, “ideias” ou “essências”, que seriam, além de incorpóreas, imutáveis, modelos eternos das coisas sensíveis. Cadeiras! Cadeiras! Cadeiras! Cadeiras! Fonte: http://www.fotosearch.com.br/fotos-imagens/cadeira.html Explicação da “essência da cadeira”, em forma de desenhos... Eis aqui uma cadeira, aqui outra, eis aqui outra cadeira... (as cadeiras “empíricas” variam no tempo, espaço e forma, mas a essência da cadeira é sempre a mesma, fora do tempo e do espaço. A essência é única, pois é o que qualquer cadeira, em qualquer tempo ou lugar, tem de ser para ser cadeira. É nesse sentido que o “ser cadeira” é único, atemporal e imutável. Então, não apreendemos “o que é uma cadeira (aquilo que ela é) pelos sentidos, mas como objeto do pensamento e, assim, porque é ‘inteligível’, podemos alcançá-la pelo intelecto”. 66 FILOSOFIA Mas como, poderíamos perguntar, nós, seres que existimos no tempo e no espaço (somos espaço-temporais), mortais e limitados por esses mesmos sentidos, poderíamos conhecer a essência das coisas, isto é, conhecer as essências incorpóreas e que estão fora do tempo e do espaço de nossa experiência? Bem, argumenta Platão, é necessário, então, supor que o corpo abriga uma alma, uma forma pura e imortal. Essa alma, por sua vez, já teria contemplado as essências, antes de se prender ao corpo provisoriamente. Mas presa e unida ao corpo, como em uma espécie de prisão, a alma esquece aquele conhecimento anterior. Os sentidos, contra-argumenta, apreendem objetos que são, na verdade, cópias imperfeitas das essências que a alma apreende e, é isso que faz com que ela vá se lembrando das “essências” ou “ideias”. Por conseguinte, o conhecimento é, na verdade, reconhecimento, retorno à origem ao que verdadeiramente as coisas “são”. O conhecimento assim é feito passo a passo, percorrendo etapas que vão do mundo sensível ao mundo inteligível das ideias. Fonte: http://www.diaadia.pr.gov.br Vale também lembrar que a escalada do conhecimento permite ao filósofo atingir as essências eternas; e, ligando determinadas essências, é possível se chegar a essências mais gerais. Assim, anuncia Platão na República, pode-se, em fim, contemplar o absoluto, uma superessência, a qual denominou o Bem, que seria a fonte de toda a luz, fazendo com que objetos sejam conhecidos, como se fosse à luz do sol. 67 Platão: o nascimento da razão ocidental O platonismo muito influenciou a construção da teologia, da mística e da filosofia cristã. Esta última, especialmente no cristianismo primitivo da Idade Média (com filósofos cristãos como Santo Anselmo e Santo Agostinho), foi feita com base no platonismo. Pesquise com professores de sociologia, história, familiares ou mesmo com seus colegas, sobre os dogmas e princípios da religião predominante na cultura ocidental, em cujos preceitos podemos reconhecer, de alguma forma, o pensamento de Platão. O fato de que para Platão o conhecimento do mundo físico exige a utilização de recursos matemáticos inspira a criação da física-matemática, a partir do período histórico chamado Humanismo renascentista ou Renascimento. A partir daí, uma grande corrente de pensadores se apoia na matemática e vê na razão matemática o modelo da razão, até os dias de hoje. Portanto, navegue na internet e descubra a grande influência de Platão na filosofia e ciência ocidentais. Dicas de navegação http://www.suapesquisa.com/renascimento/. www.youtube.com: vídeo Mito da Caverna. 68 FILOSOFIA 1. Platão transmite o ensinamento socrático por meio de: (a) tratados. (b) diálogos. (c) compêndios. 2. Após a morte de Sócrates, Platão passa a ensinar a filosofia em: (a) espaço público. (b) templos religiosos. (c) uma escola. 3. Como se chamava a escola fundada por Platão? (a) Academia. (b) Liceu. (c) Delfos. 4. A teoria das ideias de Platão afirma-nos a existência de um: (a) dualismo entre mundo sensível e mundo das ideias. (b) de um monismo (uma única realidade). (c) de uma pluralidade de mundos. 5. Para Platão, qual das ciências abaixo era uma inspiração para a filosofia? (a) biologia. (b) química. (c) matemática. 6. Para Platão, os sofistas eram: (a) conhecedores da verdade. (b) líderes religiosos. (c) verdadeiros ilusionistas. 69 Platão: o nascimento da razão ocidental 7. Por que dizemos que a filosofia de Platão é uma filosofia “contemplativa”? (a) Porque para ele a verdade deveria ser alcançada pela experiência sensível. (b) Porque para ele a verdade deveria ser alcançada pela vontade dos deuses. (c) Porque para ele a verdade deveria ser buscada pela contemplação das ideias. 8. Que obras correspondem aos diálogos da maturidade de Platão: (a) Alcibíades, Górgias. (b) República, Banquete. (c) Sofistas, Timeu. 9. Sobre o Mundo das Ideias, pode-se afirmar que: (a) as ideias com suas essências são imutáveis e eternas. (b) as ideias com suas essências são mutáveis e temporais. (c) as ideias com suas essências são mutáveis e eternas. 10. Para Platão, a experiência sensível fornece-nos: (a) o conhecimento verdadeiro. (b) o conhecimento dos deuses. (c) um conhecimento vago e ilusório. 70 FILOSOFIA Glossário alegoria: imagem utilizada, especificamente, para simbolizar um tema discutido. ceticismo: corrente de pensadores cujas reflexões os levam a duvidar da possibilidade de aquisição de qualquer conhecimento. diálogos: reprodução na obra de Platão das conversações e interpelações de Sócrates, sobre variados temas tratados pelo filósofo. essência: estrutura fundamental e invisível de um objeto, o que o torna aquilo que é. eternidade: ausência de tempo, as coisas eternas estão fora do tempo. reminiscência: lembranças, recordações. CAPÍTULO 7 ARISTÓTELES: UMA CRÍTICA AO MESTRE E A SEUS ANTECESSORES CAPÍTULO 7 Aristóteles: uma crítica ao mestre e a seus antecessores P odemos dizer que Aristóteles foi o precursor da ciência ocidental, pois se conta que, afinado às pesquisas, ele postulava a necessidade de organizar coleções de material como base para a investigação sistematizada de qualquer espécie, incluindo nas coleções que elaborou muitos manuscritos, mapas, listas descritivas e exemplares de espécimes animais. Vou lhes apresentar Aristóteles neste capítulo, principalmente como o fundador do Liceu escola que ficou tão importante e famosa na história da filosofia quanto à Academia de Platão. Embora tenha se baseado no modelo da Academia, parece que o Liceu de Aristóteles constituía-se mais como uma instituição de pesquisa; apoiada, inclusive, por Alexandre, o grande, que então ocupava o trono da Macedônia. Desenho: Nádia Filomena 74 FILOSOFIA Aristóteles (384-322 a.C.) nasceu na cidadezinha de Estagira e era filho de uma família rica. Foi para Atenas aos 17 anos de idade estudar na Academia de Platão, onde permaneceu como estudante, durante 20 anos. Após a morte de Platão, em 325 a.C, fundou o Liceu, escola onde se desenvolveram as primeiras e importantes pesquisas de Aristóteles e seus discípulos. Inicialmente discípulo de Platão, Aristóteles rompe com os ensinamentos do mestre depois de sua morte e, desenvolvendo seu próprio sistema filosófico, rejeita a teoria das ideias e o dualismo de Platão. Veja as palavras de Aristóteles: “Se nada percebêssemos, não poderíamos aprender ou entender nada.” As palavras de Aristóteles parecem indicar que, ao contrário do que pensava Platão, ele acreditava firmemente que a percepção pelos sentidos estava na base do conhecimento. Platão, como vimos no capítulo anterior, não confiava nos sentidos por serem fonte de ilusão. Já Aristóteles pensava que indivíduos dotados de sensibilidade seriam capazes não somente de perceber fatos particulares acerca dos objetos reais, mas também de distinguir aspectos do mundo exterior. Mas o pensamento racional, que ele denominava “espírito”, tem de entrar em jogo caso deva resultar em conhecimento. Em relação à percepção, Aristóteles parecia acreditar naquela história de se “ter experiência” das coisas. Por exemplo, após muitas observações, umas atrás das outras, acabamos inferindo regras gerais. Embora essa seja uma forma de conhecimento rudimentar e incapaz de explicar cientificamente qualquer fenômeno, pode ser considerada um caminho que “pode levar” ao conhecimento de algo. Aristóteles também considerava a intuição um aspecto importante na ordenação da experiência científica. (Intuições como a que teve Darwin, observando gerações de animais, do princípio de seleção natural.) A pesquisa exemplar para Aristóteles tinha por base a observação rigorosa e interessada, refinada pela generalização; sempre, segundo ensinava a seus discípulos, não se pode deixar de ampliar a experiência com consultas, inclusive a especialistas e, por que não, a opiniões sérias e respeitáveis, pois, percebendo o consenso entre todos os dados recolhidos, o pesquisador pode basear-se em discernimento autêntico. Assim sendo, podemos dizer que Aristóteles adotou uma abordagem empírica do conhecimento, ou método indutivo, voltado para a observação sistemática da experiência sensível. Vejamos, então, a base conceitual do conhecimento para Aristóteles. Aristóteles parte da concepção de realidade segundo a qual o que existe é a substância individual, o indivíduo material concreto. Este, então, seria o constituinte último da realidade, e essa seria composta de um conjunto de indivíduos materiais concretos. Os indivíduos, por sua vez, afirma Aristóteles, são compostos de matéria (hylé) e forma (eidos). A matéria é 75 Aristóteles: uma crítica ao mestre e a seus antecessores o princípio de individuação e a forma, a maneira, como, em cada um dos indivíduos, a matéria se organiza. Matéria e forma são, entretanto, indissociáveis, constituindo uma unidade – o indivíduo. É o intelecto humano que, pela abstração (uso do raciocínio), separa matéria e forma, no processo de conhecimento da realidade. Dentre as características das substâncias individuais, a essência (ousia) é aquilo que faz com que a coisa seja o que é, uma unidade invariável que serve de suporte aos predicados. Por outro lado, os acidentes são as características mutáveis e variáveis das coisas, que explicam a mudança, embora não afetem a natureza essencial do objeto. Por exemplo: Sócrates é um ser humano (designa sua essência), e Sócrates é calvo (característica acidental), pois nem sempre Sócrates foi calvo. Para Aristóteles, é preciso também explicar a mudança e a transformação do ser – interpretação ontológica em Heráclito e Lógica e Parmênides — e, nesse sentido faz a distinção entre ato e potência. Para o filósofo, uma coisa pode ser múltipla ou una, por exemplo, a semente é, em ato, semente, mas contém, em potência, a árvore. Assim, Aristóteles explica que a filosofia surgiu da curiosidade e perplexidade em relação ao mundo, e que o conhecimento capaz de satisfazer tal sentimento é desejado por sua própria causa. Os primeiros filósofos foram em busca de uma explicação racional da origem das coisas, e essa explicação deve ser causal, o que torna a filosofia a busca do conhecimento das causas últimas das coisas. Para Aristóteles, há quatro tipos de causas, quais sejam, causa material, causa eficiente, causa formal e causa final. Por conseguinte, essas causas são os princípios determinantes da origem, existência e inteligibilidade de qualquer objeto do conhecimento. Resumidamente, a causa material de um objeto refere-se a seus constituintes corpóreos, a partir dos quais existem e que estão presentes nela com um produto (do que é feito x?); sua causa eficiente consiste na fonte primária de mudança, o agente de transformação da coisa (por que x é x?); o que faz com que, por exemplo, uma semente se transforme em árvore; sua causa formal é o modelo/forma, que faz com que a coisa seja o que é (o que é x?); e, por último, a causa final, que trata do objetivo e da finalidade da coisa (para que serve x?). Pesquisador avesso ao acaso e afirmando a importância do método observacional, Aristóteles professa em seus estudos que a natureza apresenta ordem e regularidade, e, se existe, deve ter um propósito (telos). Perseguindo esse objetivo, parece que o mais influente filósofo natural da história criou obras importantíssimas, 76 FILOSOFIA tratando de temas e questões que até os dias de hoje são discutidas, seja adotando seu pensamento como pressuposto e fundamento, seja discutindo-o. As obras mais conhecidas de Aristóteles são: Metafísica, Política, Poética, Ética a Nicomaco, Órganon. No mundo atual, há um domínio da cultura massificada, principalmente pelos meios de comunicação (televisão, rádio, internet etc.). Reflita se ainda há lugar para esse “espanto”, “curiosidade”, de que nos fala Aristóteles e que é entendido como fundamental para a origem do filosofar. Descreva a seguir suas considerações sobre o assunto. Livro Aristóteles. Coleção “Os pensadores”. Volume: Aristóteles. Abril Cultural. São Paulo, 1973. Obs.: embora seja antiga, essa coleção é bastante encontrada em sebos pela cidade. Pesquise nos sites a seguir informações sobre a educação e cultura filosóficas contemporâneas. Dicas de navegação http://www.suapesquisa.com/. www.youtube.com. 77 Aristóteles: uma crítica ao mestre e a seus antecessores 1. Sobre Aristóteles, não se pode afirmar que ele : (a) foi para Atenas estudar aos 17 anos de idade. (b) nasceu em Estagira na Macedônia. (c) foi um importante sofista. 2. Inicialmente, Aristóteles foi discípulo de: (a) Protágoras. (b) Tales. (c) Platão. 3. A escola fundada por Aristóteles chamava-se: (a) Academia. (b) Liceu. (c) Delfos. 4. Para Aristóteles, é correto afirmar que: (a) devemos nos afastar da percepção sensível. (b) devemos nos apoiar na percepção sensível. (c) a percepção sensível é indiferente para o conhecimento. 5. Aristóteles parte da concepção de realidade segundo a qual o que existe é: (a) a substância individual (indivíduo material concreto). (b) o mundo sensível e o mundo das ideias. (c) o Ser uno e imutável. 6. Para Aristóteles, cada substância contém: (a) matéria e forma. (b) corpo e alma. (c) nenhuma das opções anteriores. 78 FILOSOFIA 7. Sobre a distinção entre essência e acidente, pode-se afirmar que: (a) a essência é aquilo que não é necessário à substância. (b) o acidental é aquilo que é necessário à substância. (c) a essência é o que é necessário, e o acidente é aquilo que é contingente (acidental). 8. Qual das afirmativas a seguir não se pode tomar como exemplo da distinção entre ato e potência? (a) A semente é semente em ato e árvore em potencial. (b) A lagarta é lagarta em ato e borboleta em potencial. (c) O vaso é vaso em ato e borboleta em potencial. 9. Sobre a potência, pode-se afirmar que: (a) a potência é a forma que a substância exibe no aqui e agora. (b) a potência é o conjunto de formas que a substância ainda não atualizou, mas poderá vir a atualizar. (c) a potência é a forma que a substância não traz consigo, mas poderá no futuro trazer. 10. A “causa eficiente” é referente a qual das perguntas a seguir? (a) O que é x? (b) Para que serve x? (c) Por que x é x? Glossário contingência: características que fazem parte dos objetos mas que são mutáveis e variáveis. necessidade: conjunto de características essenciais de um objeto, que ele não pode deixar de tê-las, caso contrário, deixa de ser o que é. substância: o indivíduo material concreto, o constituinte último da realidade. Constitui-se de matéria e forma. telos: finalidade. Para Aristóteles, tudo na realidade tem uma finalidade. virtual: característica presente nos objetos em estado de potência, por exemplo, a árvore “existe” virtualmente em sua semente. CAPÍTULO 8 O HELENISMO: O PROBLEMA DA ÉTICA CAPÍTULO 8 O helenismo: o problema da ética C hegamos ao “período helenístico”, considerado pelos historiadores como período final da filosofia antiga. Nessas alturas, você já compreenderá “como tudo começou”. Esse período se refere ao momento histórico em que a Grécia, primeiramente submetida ao domínio macedônico (Felipe e Alexandre), passa ao domínio de Roma, tornando-se colônia de um império regional. Nesse momento, os deuses antigos e as tradições encontram-se abaladas em face das rivalidades da alta política do poder. O povo precisava de novos códigos e credos para viver. Essa necessidade foi em grande parte atendida pelo surgimento destes grandes sistemas de pensamento: o estoicismo, o epicurismo e o ceticismo. Mapa do Império Romano 82 FILOSOFIA O estoicismo e o epicurismo eram, basicamente, sistemas de pensamento que tiveram origem em Atenas, no início do século III a.C. Ambos se tornaram muito influentes nos círculos romanos, e, como eram, essencialmente, sistemas éticos, voltavam-se aos indivíduos, proporcionando a seus adeptos preceitos, valores e prescrições para ordenar e dirigir a vida privada, já que o público desapareceu com a anexação do território grego ao macedônico. Já o ceticismo desenvolveuse, em parte, como crítica às opiniões dogmáticas professadas por estoicos e epicuristas, embora prometesse paz de espírito àqueles que não concordassem com os ensinamentos e ideias, então, circulantes, considerados inatingíveis. Zenão de Cicio (336-263 a.C.), ao fim do século IV a.C., funda em Atenas a escola estoica. A escola ganhou essa denominação pelo fato de seu fundador ter o costume de discursar em um pórtico (stoá) chamado Pintado, e o nome “estoico” deriva disso. Por ser muito benquisto e respeitado, Zenão formou uma escola que perdurou até 260 d.C. Professando uma doutrina na qual a razão predominava e a emoção deveria ser suprimida, o estoicismo deu ao sábio estoico a fama emblemática daquele “que não se deixa perturbar pelo triunfo ou pelo desastre”. Os estoicos mais antigos foram considerados lógicos argutos, e os trabalhos que desenvolveram são até hoje objeto de interesse e estudos de especialistas. Para o estoicista, o que torna um objeto compreensível é a presença da “limpidez” na impressão por ele gerada. A compreensão fundada na percepção clara do objeto externo proporciona, segundo Zenão, o critério da verdade para se atingir o conhecimento seguro. Esse proeminente pensador do mundo antigo ensinava uma visão de mundo materialista, professando que todas as coisas realmente existentes são corpóreas, embora o mundo seja o produto de um princípio ativo ao qual se denominava, dentre outros, Deus ou Espírito. Para essa corrente de pensamento, Deus não estava fora do mundo se impondo e controlando tudo, mas dentro dele, como parte dele e o cosmo, como entidade viva na qual cada parte está interligada com as outras; tudo, enfim, é controlado pelo espírito divino e racional, que age no mundo e por intermédio dele. Daí a ideia tão difundida de que o homem é um microcosmo no macrocosmo, parte do universo na natureza. Para que a felicidade e a conduta ética sejam asseguradas, deve-se estar de acordo com a natureza, exemplarmente harmônica e equilibrada. Do ponto de vista ético, o estoico afirmava a “boa ação”, como aquela que está de acordo com a natureza. As virtudes estoicas principais são: a inteligência, a coragem e a justiça. Tais virtudes garantiriam, reciprocamente, conhecer o bem e o mal, saber o que é temível e o que não é, e, por fim, saber dar a cada um o que lhe é devido. Nessa linha, os estoicos ensinavam, também, que devemos aceitar as consequências de nossas ações, bem como o curso inevitável dos acontecimentos. O verdadeiro sábio é ca- 83 O helenismo: o problema da ética paz dessa felicidade (eudaimonia), resultante da ausência de perturbação (ataraxia), a qual, embora difícil de se atingir, deve ser buscada e desejada. Os estoicos mais conhecidos foram Crísipo, Sêneca, Epíteto e o imperador romano Marco Aurélio. EPICURO EPICTETO Fonte: www.consciencia.org. Epicuro (324-271 a.C.) fundou a escola que levou seu nome em Atenas em 306 a.C. Sua obra ficou conhecida com a ‘filosofia do Jardim’, pois Epicuro se reunia com muita frequência com seus discípulos no jardim em uma propriedade fora da cidade, como dizia, longe do caos da vida na cidade. Os epicuristas foram grandes defensores da física materialista, atomista e mobilista. A teoria do conhecimento epicurista valoriza a experiência imediata, introduzindo a ideia de prolepsis, que significa a conservação dos elementos dessa experiência, os quais servem de pontos de partida para conhecimentos posteriores. A ética de Epicuro também postulava a eudaimonia obtida pela ataraxia, porém, diferente dos estoicos quanto ao caminho para se chegar a essa felicidade. Valorizavam a inteligência prática e, nesse sentido, não há, para o epicurista, conflito entre razão e paixão. A amizade verdadeira deve existir entre aqueles que a ele se juntavam e ser um fator de “proteção” contra aqueles que ele identificava como papagaios de tiranos e bajuladores de filósofos consagrados. O prazer (hedoné) é algo desejável, espontâneo e natural. O hedonismo (concepção de vida totalmente devotada aos prazeres) tornou-se, erroneamente, marca do pensamento epicurismo por conta de interpretações indevidas dessa corrente do pensamento helenístico. No Renascimento, período ao qual nos referimos no capítulo sobre Platão, o interesse pela ética e pela física epicuristas será retomado como alternativa ao pensamento medieval dominante nesse momento, ampliando os horizontes para o Humanismo e a ciência natural ora nascente. “Cético”, termo introduzido por Pirro de Elida (365-275 a.C.), significa “questionador” ou “examinador”. O termo, por sua vez, define os pensadores que adotavam uma atitude crítica e independente em face das opiniões e doutrinas aceitas na época. Essa é a definição de cético e não o que se acredita no senso comum, como “aquele que não acredita em nada”. O ceticismo, embora já tivesse aparecido antes no pensamento grego, surgiu como uma corrente filosófica bastante sintonizada com o início do helenismo; o começo da filosofia helenística foi um período de grandes transformações sociais e políticos. Esse foi um período de dogmatismo e construção de sistemas que sofreriam reavaliações 84 FILOSOFIA constantes, radicais e destrutivas. Forças emergiam na época contra o platonismo e o aristotelismo, gerando muitas dúvidas e tensões, incluindo também nesse rol os sistemas éticos. O caminho seguido pelos céticos nesse contexto foi o de adotar uma atitude neutra, suspendendo o juízo em relação à veracidade das doutrinas, afirmando sempre que a certeza dogmática é inatingível. O ceticismo como uma tradição da dúvida constante e sistemática é amplamente exposto na obra Sexto Empírico, florescendo por volta do ano 200 d.C. Para Epicuro, a filosofia é a arte do bem viver, como se fosse uma “medicina da alma”. E, como um médico da alma, ele receita quatro “remédios” que devem estar sempre à mão: 1. Da divindade não precisamos ter medo. Chega desse medo dos deuses! 2. Não há dor na morte. A morte é um nada, porque a morte é a privação da sensibilidade que nos faz experimentar tanto o bem como o mal. 3. O bom é fácil de realizar. Quem sacia suas necessidades pode competir com Zeus em matéria de alegria. 4. O ruim é fácil de suportar. As dores provocadas pelo atroz sofrimento estão em um nível tão alto que não pode mais piorar! E a paz vêm junta. Converse com seus companheiros, professores ou parentes sobre os quatro “remédios” de Epicuro e faça uma lista de atitudes que levariam você a uma vida mais feliz. 85 O helenismo: o problema da ética Para saber mais Livros Epicuro : Antologia de textos, col. “Os Pensadores”, São Paulo. Abril Cultural, 1973. Pirro: Vida e doutrinas dos filósofos ilustres, de Diógenes de Laércio. Trad. Mário da Gama Kury. Brasília: EdUnB, 1987. 1. Do ponto de vista histórico, pode-se afirmar que helenismo é o: (a) período de origem da civilização grega. (b) período de apogeu da civilização grega. (c) período no qual os gregos foram dominados por outros povos. 2. Que característica a seguir não se aplica à filosofia do período helenístico? (a) Preocupação central com a ética. (b) Desenvolve, excepcionalmente, teorias sobre a natureza. (c) Preocupação em atingir a eudaimonia (felicidade). 3. Para os helênicos, a ação ética prima: (a) pela virtude. (b) pelo vício. (c) por nenhuma das duas. 4. O hábito é ético e tem como fim: (a) a felicidade. (b) a intranquilidade. (c) o conflito. 86 FILOSOFIA 5. Para os epicuristas, o princípio ético consiste na prática: (a) da ação racional e sistemática. (b) do exercício da suspensão de juízo. (c) da obtenção comedida do prazer em detrimento da dor. 6. Sobre os epicuristas, pode-se afirmar que eles valorizam: (a) o conflito entre os homens. (b) a amizade entre os homens. (c) a exclusão entre os homens. 7. O estoicismo foi fundado por: (a) Protágoras. (b) Sócrates. (c) Zenão. 8. Para os estoicos, o que deve se sobrepor na ação ética? (a) A razão à emoção. (b) O prazer à razão. (c) A emoção à razão. 9. O precursor do ceticismo antigo foi: (a) Empédocles. (b) Górgias. (c) Pirro. 10. Para os céticos, devemos: (a) afirmar a verdade. (b) negar a verdade. (c) suspender o juízo em relação à verdade. 87 O helenismo: o problema da ética Glossário ataraxia: estado de tranquilidade, ausência de perturbação. critério: “padrão de julgamento”,”aferição de conhecimento”, utilizado para apurar a validade de percepções ou sentimentos. doxa: opinião. ética: aspectos humanos relativos ao caráter e/ ou hábitos (éthos), Assuntos discutidos no estudo sistemático da conduta humana.(sistemas éticos). ortodoxia: crença ou opinião considerada por seus adeptos “a correta”, a única opinião “certa”. CAPÍTULO 9 AFINAL, PORQUE PENSAMOS COMO PENSAMOS? CAPÍTULO 9 Afinal, porque pensamos como pensamos? E ste capítulo pode lhe parecer uma repetição do primeiro, afinal, os dois parecem tratar do mesmo tema. Entretanto, em filosofia há um procedimento chamado recapitulação, no qual podemos repassar pelos caminhos que trilhamos, articulando-os e nos certificando se conseguimos uma “bagagem” significativa para continuarmos nossa viagem pela história do pensamento ocidental e, assim, começarmos a poder responder a pergunta: Afinal, por que pensamos como pensamos? Nadia Filomena 92 FILOSOFIA Muitos questionamentos filosóficos foram levantados com os primeiros filósofos (os pré-socráticos). A razão emerge e se firma com instrumento para a aquisição de conhecimento, apesar de, ao mesmo tempo, se descobrir que há dificuldades no campo do pensamento nunca antes imaginado. Os sofistas chamaram a atenção para a distinção entre natureza e cultura, e parece que, até hoje, temos dificuldades em admitir uma ponte entre esses dois lados da questão, dificuldade que separa e nos impede muitas vezes de encontrar consenso para problemas do mundo atual que tanto nos afligem. A obra de Platão, como vimos, quer estabelecer a união entre physis e nómos, quer com seus princípios, na verdade, a lei humana, como a physis, baseada no imutável, absoluto e eterno. Aristóteles reivindicou o “espanto” como condição da filosofia e conseguiu um grupo de pesquisadores atentos, os quais dedicavam seu tempo à observação da natureza e da vida. Bem, parece que, hoje, enredados com as questões de sobrevivência, em um mercado extremamente competitivo, no qual tudo corre “a toque de caixa”, será que conseguiremos, ainda, filosofar? Os helênicos, por sua vez, nos mostram algo que para nós anda muito complicado: o cuidado com o éthos, isto é, com a construção de nosso “modo de estar no mundo” e, por isso, se preocupar com questões éticas. Os helênicos sustentavam a ideia de que a felicidade é possível a partir do “cuidado com a alma”; o cuidado diretamente relacionado com um tempo afinado à construção de princípios individuais, que nos levam à tranquilidade. No entanto, a inquietude provocada por tais questionamentos não foi, nem é, suficiente para provocar em nós um verdadeiro encontro com a filosofia. Para tal, precisamos resgatar primeiramente o que o filósofo francês Alain Badiou denominou desejo de filosofia. Para o filósofo, quatro componentes são essenciais ao desejo de filosofia, quais sejam: (i) a atenção, representando a função crítica da filosofia que recusa o ficar instalado, satisfeito, acomodado, aceitando passivamente as ideias que já estão catalogadas há séculos; (ii) a lógica, que nada mais é que o desejo de uma razão coerente, de racionalidade, diferente das opiniões tendenciosas emitidas por hábito ou crenças; (iii) o universal, a filosofia é para todos, no sentido em que recusa o que é particular, fechado, grupal; e, por fim, (iv) a aposta, o gosto pelo encontro e pelo acaso, pelo engajamento e, principalmente, pela aventura de se transformar a cada descoberta de uma ideia. Todos esses elementos estão presentes na história desses pensadores que vimos até aqui e outros que ainda veremos. Resta-nos saber se estamos tocados pelo thauma; efeito dessa viagem que acabamos de empreender, interessados, verdadeiramente, pela questão: por que nós ocidentais pensamos como pensamos? 93 Afinal, porque pensamos como pensamos? Nadia Filomena Não é difícil concluir que, em face desse mundo, normalmente avesso ao desejo de filosofia, quando “filosofamos”, apostamos em uma contraconduta, isto é, conceder ao “filosofar” a dimensão, hoje tão necessária, de um movimento de resistência àquela história de que “a gente se vira como pode com aquilo que fizeram de nossas cabeças”, com o objetivo principal de tentar compreender as ideias que têm sustentado o modo como temos visto o mundo e seu destino. Assim talvez possamos fazer com que “as coisas sejam diferentes”, tomando para cada um de nós a responsabilidade de pensar e criar saídas, alternativas e bifurcações para os impasses científicos, morais e culturais, dentre outros, que aparecem, aos borbotões, na vida contemporânea. 94 FILOSOFIA 1. Tente se lembrar de temas e questões que mais lhe pareceram próximas. Descreva que tipo de “lembranças” ou “efeitos” mudou sua forma de compreender o mundo em que vivemos hoje. 2. Esta a seguir é a história resumida do “Cavalo de Troia”, que foi objeto de um recente filme. A partir dessa história, procure entender o porquê do dito “presente de grego”, procurando analisar, na vida cotidiana, esse tipo de situação. “Finalmente, os gregos descobriram uma estratégia com um cavalo de madeira cheio de soldados armados. Ele foi construído e deixado em frente aos portões de Troia. Os gregos, então, foram embora para Tenedos, fingindo estar abandonando o campo de batalha. Odisseu foi à cidade, disfarçado. Hécuba, a esposa de Príamo, o colocou para fora da cidade, depois de informada sobre tudo. Um soldado grego ficou para trás, quando eles foram embora, e fingiu para os troianos que havia desertado por saber de informações comprometedoras sobre Odisseu (Ulisses). Ele disse aos troianos que o cavalo era uma oferenda para Poseidôn e que os gregos o haviam construído tão grande para que não pudesse ser levado para dentro dos portões da cidade. Assim, os soldados gregos entraram em Troia, vencendo a guerra dentro da casa de seus inimigos.” Reprodução atual de como deve ter sido construído o Cavalo de Troia. Fonte: http://aguerradetroia.wordpress.com 95 Afinal, porque pensamos como pensamos? Livros Sêneca. A Vida Feliz. Ed. Martins Fontes: Rio de Janeiro. Conte-Sponville, A. Pequeno Tratado das Grandes Virtudes. Martins Fontes: Rio de Janeiro. Revista Discutindo filosofia, ed. Escala Educacional. Dicas de navegação www.discutindofilosofia.com.br. [email protected]. 1. A perplexidade e o espanto correspondem à noção de: (a) sophia. (b) arqué. (c) thauma. 2. A filosofia se fundamenta: (a) na razão. (b) na crença. (c) na emoção. 3. Que característica se opõe ao exercício filosófico? (a) a inquietação. (b) a acomodação. (c) a curiosidade. 4. Ser “amigo da sabedoria” significa: (a) ser modesto e duvidar do que parece “normal”. (b) ser dogmático e defender opiniões rígidas. (c) não aceitar críticas relativas à filosofia acadêmica. 96 FILOSOFIA 5. Fazer uso da razão filosófica significa: (a) buscar explicações onde “razões” são dadas às coisas. (b) ser bom em retórica e oratória. (c) tentar imitar o pensamento de Platão e de Aristóteles. 6. “Os primeiros filósofos, mais especificamente os pré-socráticos, se ocuparam com a ética e os bons costumes do povo grego.” (a) Essa afirmativa é falsa. (b) Essa afirmativa é verdadeira. 7. Qual das seguintes questões está totalmente excluída do pensar filosófico? (a) Deus existe? (b) Quais são os dez mandamentos da lei de Deus, transmitidos por Moisés? (c) Um embrião, em estágio subsequente à união óvuloespermatozoide, já pode ser considerado um ser humano? 9. Quando se estuda filosofia, ... (a) ... se adquirem pensamentos definitivos para resolver problemas práticos. (b) ... parece que as perguntas não cessam de nos estimular a questionar mais. (c) ... aprendemos, definitivamente, o que é certo e o que é errado cientificamente. 10. Sobre os temas filosóficos tratados no pensamento antigo, podese afirmar que: (a) desapareceram totalmente. (b) muitos ficaram em aberto e são hoje retomados pelos filósofos contemporâneos. (c) são considerados irrelevantes, nada tendo a ver com problemas contemporâneos. 97 Afinal, porque pensamos como pensamos? Glossário atenção/concentração: “ficar ligado”; atitude que dispensamos aos objetos pelos quais nos interessamos. Se há interesse (gosto), há atenção. autonomia: conquista do autogoverno. lógica: coerência naquilo que se diz, exclui o “dizer por dizer” ou o “é assim porque sempre foi assim”. universal: o que é para todos, direito de todos. 98 FILOSOFIA Referências Bibliográficas Badiou, Alain. Para uma nova teoria do sujeito: conferências brasileiras. Rio de Janeiro: Editora. Relume Dumará, 2002. Rezende, Antonio (org.). Curso de filosofia. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar, 1992. Marcondes, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. . Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar, 1997. Mondolfo, Rodolfo. O Pensamento Antigo. São Paulo: Mestre Jou, 1971. Chauí, Marilena. Introdução à História da Filosofia I: dos pré-socráticos à Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras; 2002 Grimal, Pierre. Dicionário da Mitologia Grega e Romana. Rio de Janeiro: Bretrand Brasil, 1993. Luce, J.V. Curso de Filosofia Grega. Do séc. VI a.C ao séc. III d.C. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1992. Morente, M.G. Fundamentos de Filosofia: Lições Preliminares. São Paulo: Mestre Jou, 1980. Platão. Coleção “Os pensadores”. Vol.: Platão. São Paulo: Nova Cultural. 1996. Aristóteles. Coleção “Os pensadores”. Vol.: Aristóteles. São Paulo: Nova Cultural. 1996. Reale, Giovanni. Aristóteles. São Paulo: Ed. Loyola. 2007. Graeser, A. & Erler,M. (orgs.) Filósofos da Antiguidade. São Leopoldo (RS): Ed. Unisinos, 2005. Kohan, Walter.O. (org.). Políticas do Ensino de Filosofia. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2004. GABARITOS CAPÍTULO 1 Memórias de viagem 1. c 2. a 3. b 4. b 5. b 6. b 7. a 8. b 9. c 10. a 100 FILOSOFIA CAPÍTULO 2 Memórias de viagem 1. c 2. c 3. b 4. b 5. a 6. a 7. c 8. b 9. c 10. c CAPÍTULO 3 Memórias de viagem 1. c 2. a 3. a 4. b 5. a 6. b 7. c 8. c 101 GABARITO 9. b 10. a CAPÍTULO 4 Memórias de viagem 1. c 2. a 3. b 4. c 5. a 6. c 7. b 8. b 9. b 10. b CAPÍTULO 5 Memórias de viagem 1. b 2. b 3. c 4. a 5. c 102 FILOSOFIA 6. b 7. c 8. a 9. b 10. b CAPÍTULO 6 Memórias de viagem 1. b 2. c 3. a 4. a 5. c 6. c 7. c 8. b 9. a 10. c 103 GABARITO CAPÍTULO 7 Memórias de viagem 1. b 2. c 3. a 4. a 5. c 6. c 7. c 8. b 9. a 10. c CAPÍTULO 8 Memórias de viagem 1. c 2. c 3. b 4. b 5. a 6. a 7. c 8. c 104 FILOSOFIA 9. b 10. c CAPÍTULO 9 Memórias de viagem 1. c 2. b 3. a 4. a 5. c 6. b 7. c 8. a 9. c 10. c