Brazilian journal 18-B.p65 - Brazilian Journal of Food Technology
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Brazilian journal 18-B.p65 - Brazilian Journal of Food Technology
Caracterização Físico-química e Reológica de Chocolates Comerciais Tipo Cobertura Elaborados com Gorduras Alternativas Physical-chemical and Rheological Characterization of Chocolate Coverings Elaborated with Alternative Fats AUTORES AUTHORS Fernanda Zaratini VISSOTTO Valdecir LUCCAS Pesquisadores Científicos do CEREAL CHOCOTEC do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL) e-mail: [email protected] Neura BRAGAGNOLO Jane Menegaldo TURATTI Pesquisadores Científicos do CENTRO DE QUÍMICA DE ALIMENTOS E NUTRIÇÃO APLICADA do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL) Renato GRIMALDI Pesquisador Científico do LABORATÓRIO DE ÓLEOS E GORDURAS da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Marília Sansigolo de FIGUEIREDO Iniciação Científica Bolsa do Programa RHAE - CNPq RESUMO A escassez e o alto preço da manteiga de cacau de boa qualidade são problemas enfrentados pelos fabricantes de chocolate. Visando amenizar estes problemas, tem-se desenvolvido gorduras alternativas à manteiga de cacau, as quais podem ser utilizadas na substituição total ou parcial da manteiga de cacau. Neste trabalho foram feitas as caracterizações físico-químicas e reológicas de chocolates comerciais tipo cobertura elaborados com gorduras alternativas à manteiga de cacau (compounds). A percentagem de açúcares totais variou de 46,06% (marca C, meio-amargo) a 64,75% (marca B, branco), já a percentagem de açúcares redutores variou entre 0,97% (marca A, meio-amargo) a 6,42% (marca C, branco). Em geral, os compounds do tipo branco foram os que apresentaram maiores teores de açúcares redutores, devido à presença do leite em maior proporção, quando comparado aos outros tipos. As umidades (base úmida) variaram de 0,53% (marca C, ao leite) a 1,45% (marca A, ao leite), enquanto a percentagem de lipídeos variou de 29,45% (marca B, ao leite) a 34,09% (marca D, ao leite). Dentre todas as marcas analisadas, os compounds que apresentaram os maiores valores de ponto de fusão foram os do tipo meio-amargo (T=37,50°C-38,60°C), enquanto os menores valores foram encontrados nos compounds do tipo branco (T=33,60°C-37,70°C). Isto se deve à presença de gordura de leite nos compounds do tipo branco, que causou amolecimento do produto em função da diminuição do seu ponto de fusão. Entre as amostras analisadas, o índice de peróxidos máximo encontrado foi de 1,03 mEq/kg (marca B, ao leite), enquanto em duas marcas, A e C, não foi detectada a presença destes compostos. Observou-se também que os compounds estudados seguiram perfeitamente o modelo reológico de Casson, demonstrando um bom ajuste dos dados experimentais ao modelo testado. Os valores de limite de escoamento de Casson (τca) variaram de 1,60 Pa (marca B, tipo branco) a 13,95 Pa (marca A, meio-amargo) e os valores de viscosidade plástica de Casson (ηca) variaram de 1,12 Pa.s (marca D, ao leite) a 3,34 Pa.s (marca B, meio-amargo). SUMMARY PALAVRAS-CHAVE KEY WORDS Chocolate; Compound; Reologia; Casson / Chocolate; Compounds; Rheology; Casson. Braz. J. Food Technol., 2(1,2):139-148, 1999 The shortage and high price of cocoa butter create problems for chocolate makers. Seeking to relieve these problems, the industry has been developing alternative fats to replace the cocoa butter. These fats can be used in the total or partial substitution of cocoa butter. In this work the physical-chemical and rheological characterization of chocolate coverings elaborated with such alternative fats was carried out. The percent of total sugars varied from 46.06% (brand C, middle-bitter) to 64.75% (brand B, white); the percentage of reducing sugars varied from 0.97% (brand A, middle-bitter) to 6.42% (brand C, white). In general the compounds of the white type showed the greater values of reducing sugars, due to the presence of milk as compared to the other types. The moisture contents varied from 0.53% (brand C, milk) to 1.45% (brand A, milk), while the percentage of lipids varied from 29.45% (brand B, milk) to 34.09% (brand D, milk). In the brands analysed, the compounds presenting the highest melting points were of the middle-bitter type (T=37.50°C-38.60°C), whilst the lowest values were found in the compounds of the white type (T=33.60°C-37.70°C). This is due to the presence of milk fat in the compounds of the white type, which contributes to the decrease in the melting point of the fat of the product. Of the samples analysed, the maximum peroxide index found was 1.03 mEq/kg (brand B, milk) and in two brands, A and C, such substances were not detected. This work showed that the compounds studied behaved according to Cassons rheological model, demonstrating a good adjustment of the experimental data to the model tested. Cassons yield value (τca) varied from 1.60 Pa (brand B, white) to 13.95 Pa (brand A, middle-bitter) and the values of Cassons plastic viscosity (ηca) varied from 1.12 Pa.s (brand D, milk) to 3.34 Pa.s (brand B, middle-bitter). 139 Recebido / Received: 25/02/1999. Aprovado / Approved: 02/09/1999. F. Z. VISSOTTO et al. 1. INTRODUÇÃO O chocolate é definido como sendo uma suspensão de partículas sólidas não-gordurosas (por exemplo: açúcar e sólidos de cacau) em uma fase gordurosa contínua de manteiga de cacau. Sólidos de leite estão presentes no chocolate ao leite (CHEVALLEY, 1994). Atualmente um grande problema enfrentado pelos fabricantes de chocolate são os altos preços das matérias-primas, principalmente da manteiga de cacau, considerado o ingrediente mais caro da formulação. Aliado ao alto preço da manteiga de cacau de boa qualidade cabe acrescentar que a produção das amêndoas de cacau, no Brasil, registra queda acentuada devido à alta incidência da praga vassoura de bruxa. O Brasil, tendo sido no passado o maior produtor mundial de cacau, precisa hoje recorrer a importações para suprir a demanda interna do produto (O REGRA, 1998). Desta forma, torna-se necessária a busca de novas opções de matérias-primas que possibilitem a manutenção da qualidade dos produtos, de preferência reduzindo os gastos de produção. Vindo de encontro a esta demanda, diversas pesquisas têm sido direcionadas no sentido de se desenvolver gorduras alternativas para substituir parcial ou totalmente a manteiga de cacau, com grande diversificação de aplicações. Caldas que se solidificam em contato com o sorvete e fundem na boca, coberturas para recobrimento de produtos de confeitaria ou moldagem de bombons são alguns exemplos de produtos elaborados à base de gorduras alternativas à manteiga de cacau. Alguns países da Europa, dentre os quais cabe destacar a Inglaterra, a Suécia e a Dinamarca, possuem Legislações que permitem a adição de até 5% de gorduras alternativas ao produto, desde que estas estejam declaradas nos rótulos. Nestes países, mesmo com a presença destas gorduras, o produto continua sendo denominado de chocolate. No Mercado Comum Europeu o assunto está sendo bastante discutido, mesmo porque alguns países como Bélgica e Holanda não concordam com esta prática (FABRICANTES, 1996). No Brasil, com a atual Legislação vigente, não é permitido que se faça a substituição parcial da manteiga de cacau do produto por gorduras alternativas. Caso isso ocorra, o produto passa a ser denominado de chocolate tipo fantasia (ABIA, 1989). Por meio da revisão bibliográfica, observou-se que os temas de pesquisa, no Brasil, referentes às gorduras alternativas são diversificados. Existem programas computacionais desenvolvidos que permitem formular gorduras específicas para aplicação em diferentes tipos de alimentos e empregando-se diferentes fontes de matéria-prima (BLOCK et al., 1997). Existem trabalhos que caracterizam e comparam físico-quimicamente a manteiga de cacau e seus sucedâneos comerciais (LANNES, 1993, LANNES, 1996). Já entre os trabalhos de pesquisa que tratam do chocolate propriamente dito, elaborado com manteiga de cacau, o enfoque tem sido dado à caracterização físico-química, reológica e de textura ( LANNES, 1997, VISSOTTO, 1997). Tendo em vista as mudanças que estão ocorrendo nas formulações dos produtos de confeitaria em nosso país e a grande variedade de gorduras alternativas disponíveis para elaboração destes produtos, torna-se necessário a realização de estudos visando caracterizar os compounds hoje disponíveis no mercado. Braz. J. Food Technol., 2(1,2):139-148, 1999 Caracterização Físico-química e Reológica de Chocolates Comerciais Tipo Cobertura Elaborados com Gorduras Alternativas 1.1 Manteiga de cacau A manteiga de cacau é composta predominantemente (>75%) de triacilgliceróis simétricos com o ácido oléico na posição sn-2, sendo POP (palmítico-oléico-palmítico -14,4%), POS (palmítico-oléico-esteárico 33,7%) e SOS (esteárico-oléicoesteárico -23,3%), possuindo apenas traços de triacilgliceróis assiméticos (PPO, PSO E SSO). Contém aproximadamente 20% de triacilgliceróis que estão líquidos à temperatura ambiente e possui faixa de fusão de 32°C a 35°C e de amolecimento ao redor de 30°C a 32°C (LANNES, GIOIELLI, 1998). Em comparação com a manteiga de cacau produzida na Malásia e em Gana, a brasileira contém menores quantidades de triacilgliceróis monoinsaturados e maiores quantidades de outros triacilgliceróis insaturados. A curva de sólidos mostra que a brasileira é a mais mole, sendo que sua qualidade pode ser melhorada pelo método de fracionamento, obtendo-se estearina extremamente dura, a qual pode ser utilizada para melhorar a qualidade da manteiga de cacau mole por meio do processo de mistura ou blending (LANNES, GIOIELLI, 1998). 1.2 Gorduras alternativas à manteiga de cacau De acordo com LEISSNER et al. (1991), as gorduras alternativas podem ser divididas em dois grupos: gorduras que necessitam de temperagem e gorduras que não necessitam de temperagem. O primeiro grupo inclui as gorduras Equivalentes (Cocoa Butter Equivalents CBEs) e os Melhoradores (Cocoa Butter Improvers CBIs). As gorduras Equivalentes podem substituir parcial ou totalmente a manteiga de cacau na elaboração dos chocolates, sem influenciar em suas propriedades físico-químicas, já que contém quase os mesmos ácidos graxos e triacilgliceróis da manteiga de cacau. São gorduras não-hidrogenadas, obtidas por meio de três fontes principais de matérias-primas: óleo de shea (shea oil), manteiga de illipe (illipe butter) e óleo de palma (palm oil) (BECKETT, 1994, LANNES, GIOIELLI, 1998). A diferença entre as gorduras Equivalentes (CBEs) e os Melhoradores (CBIs) é que as últimas contêm um maior teor de StOSt (ácido esteárico, ácido oléico, ácido esteárico), aumentando o ponto de fusão e tornando a gordura mais dura (LUCCAS, 1998). Assim como o chocolate à base de manteiga de cacau, o obtido a partir das gorduras equivalentes deve ser temperado. No entanto, as temperaturas de temperagem são mais baixas quando comparadas às temperaturas de temperagem dos chocolates com manteiga de cacau. As gorduras pertencentes ao segundo grupo diferem completamente em termos de composição química da manteiga de cacau, mas conferem propriedades físicas similares ao chocolate. Não é necessária a etapa de temperagem, uma vez que essas gorduras cristalizam-se diretamente na forma polimórfica β quando resfriadas (LUCCAS, 1998). Podem ser divididas em dois subgrupos: não-láuricas e láuricas. As gorduras não-láuricas (Cocoa Butter Replacers CBRs) são obtidas a partir dos óleos de soja, colza, algodão e palma. Estes óleos são ricas fontes de ácido graxo palmítico (C16:0) e esteárico (C18:0), garantindo, portanto, boa miscibilidade com 140 F. Z. VISSOTTO et al. Caracterização Físico-química e Reológica de Chocolates Comerciais Tipo Cobertura Elaborados com Gorduras Alternativas a manteiga de cacau. Recomenda-se que sejam adicionados no máximo 20% de manteiga de cacau à fase gordurosa do produto. A boa miscibilidade desta gordura com a manteiga de cacau permite ao fabricante utilizar pó de cacau com alto teor de manteiga de cacau ou liquor de cacau em suas formulações, atribuindo um ótimo aroma ao produto final (LEISSNER et al., 1991). medição com cilindros coaxiais. Este espaço anular é formado entre o cilindro estacionário exterior e o rotativo interior (CHEVALLEY, 1994). Segundo CHEVALLEY (1974), a utilização de um reômetro rotativo de cilindros coaxiais faz necessária a inclusão da relação entre os raios dos cilindros interno e externo na equação (1), que passa a ser: As gorduras láuricas (Cocoa Butter Substitutes CBSs) são obtidas a partir do óleo de palma e coco, sendo o primeiro o mais utilizado. Estes óleos são fracionados e hidrogenados, podendo também ser obtidos por interesterificação. Estas gorduras possuem uma alta percentagem de ácido láurico (C12:0) em sua composição de ácidos graxos, sendo por tanto incompatíveis com a manteiga de cacau. Para a obtenção de compounds empregando estas gorduras é necessária a utilização de cacau em pó com no máximo 12% de gordura (LEISSNER et al., 1991, LUCCAS, 1998). Embora apresentem grande diferença química em relação à manteiga de cacau, as gorduras láuricas mostram propriedades físicas semelhantes a esta gordura, principalmente no que diz respeito à dureza, sensação na boca e transmissão de calor. (1+ a) Produtos elaborados com gordura láurica podem apresentar sabor desagradável devido à hidrólise e presença de ácido láurico livre. Esta hidrólise ocorre devido à enzima lipase, produzida por bactérias e leveduras, presentes por contaminação no cacau em pó ou no leite em pó. A lipase, na presença de umidade, produz a reação de hidrólise, com o aparecimento do sabor de sabão. Para que a reação de hidrólise não ocorra é necessário trabalhar com matérias-primas de boa qualidade e evitar a presença de umidade (BECKETT, 1994). Dn = [ 1 (1+ a) τ − 2 τca ηca ] (2) onde: Dn = taxa de deformação aparente (s-1) a = quociente dos raios dos cilindros interno e externo τ = tensão de cisalhamento na face externa do cilindro interno (Pa) Os dados obtidos do reômetro são plotados de forma que o termo (1+ a )√Dn fique na ordenada e o termo (1 + a )√τ fique na abscissa. Aos pontos experimentais ajustase, por regressão linear, uma reta com inclinação igual a 1/ηca e intersecção com a abcissa igual a 2√τca. A viscosidade plástica e o limite de escoamento de Casson da massa de cacau são influenciadas por fatores como: conteúdo de matéria graxa e umidade, presença de lecitina e outros emulsificantes, tempo de conchagem, grau de temperagem, tamanho de partícula, temperatura e outros. Alguns destes fatores estão relacionados com a própria composição do produto e outros referem-se a diferenças no processo de produção (CHEVALLEY, 1974). 1.3 Comportamento reológico O chocolate possui um comportamento reológico nãonewtoniano, sendo considerado um fluido pseudoplástico. A modelagem do comportamento reológico do chocolate fundido foi objeto de extensivas pesquisas. Já em 1958, STEINER, citado por CHEVALLEY (1974), sugeriu o uso da equação de Casson, caracterizando assim o produto como fluido de Casson. O modelo de Casson é definido pela equação reológica: D = 1 ( τ − η ca τ ca ) (1) onde: 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Matéria-prima Foram analisadas cinco marcas comerciais de chocolate cobertura fabricadas com gorduras alternativas à manteiga de cacau (compounds). As amostras foram adquiridas no mercado local e estão representadas neste trabalho, simbolicamente como coberturas A, B, C, D e E. Quatro marcas (A, B, C e D) apresentavam produtos do tipo ao leite, branco e meio-amargo e uma marca (E) apresentava apenas produtos do tipo ao leite. 2.2 Propriedades reológicas D = taxa de deformação (s ) -1 ηCA = viscosidade plástica de Casson (Pa.s) τ = tensão de cisalhamento (Pa) τCA = limite de escoamento de Casson (Pa) A viscosidade do chocolate é medida com um reômetro rotativo de cilindros coaxiais, com pequeno espaço entre eles e com velocidades variáveis. O princípio da medida é o cisalhamento da substância no espaço anular do sistema de Braz. J. Food Technol., 2(1,2):139-148, 1999 As propriedades reológicas foram determinadas utilizando-se o reômetro programável, marca Brookfield, modelo RVDVIII, e seguindo o método de análises VISCOSITÉ (1973). O reômetro dispunha de adaptador de pequenas amostras para acondicionar o compound fundido e o spindle utilizado era do tipo cilíndrico (especificação: S15). Um banho termostático da marca Brookfield foi acoplado ao adaptador de pequenas amostras com o objetivo de manter a temperatura do produto constante e igual a 40°C, durante os experimentos. 141 F. Z. VISSOTTO et al. As amostras foram inicialmente colocadas em recipientes de vidro com tampa e fundidas em estufa. Posteriormente as amostras foram acondicionadas no adaptador de pequenas amostras. As rotações do spindle foram estabelecidas conforme programação desenvolvida para o reômetro (Quadro 1) e as leituras de tensão de cisalhamento correspondentes armazenadas na memória do equipamento. Com os resultados obtidos foram construídas curvas correlacionando a taxa de deformação e a tensão de cisalhamento, conforme explicitado no método VISCOSITÉ (1973) e os parâmetros de Casson calculados por meio de ajuste por regressão linear. Foram feitas três determinações para cada amostra analisada. QUADRO 1. Programa desenvolvido para o Reômetro Brookfield modelo RVDVIII. Tempo Rotação (rpm) 3min 3min 3s 6s 15s 30s 60s 30s 15s 6s 3s 5 50 100 50 20 10 50 10 20 50 100 Caracterização Físico-química e Reológica de Chocolates Comerciais Tipo Cobertura Elaborados com Gorduras Alternativas 2.3 Avaliações físico-químicas A caracterização físico-química do produto foi feita conforme metodologias oficiais, citadas a seguir: • Umidade - Método Oficial de Análise da AOAC 977.10 (1998). • Conteúdo de Gordura - Método Oficial de Análise da AOAC 963.15 (1998). • Conteúdo de Proteínas - Método Oficial de Análise da AOAC 939.02 (1998). • Composição de Açúcares Redutores e Totais - Método de Munson & Walker da AOAC (1998). • Cinzas Método Oficial de Análise da AOAC 972.15 (1998). • Índice de Peróxidos - Método Oficial de Análise da AOCS Cd 8-53 (97) (1998). • Ponto de Fusão da Manteiga de Cacau - Método Oficial da AOCS Cc 3-25 (97) (1998). • Teor de Ácidos Graxos Livres - Método Oficial de Análise da AOCS Ca 5a-40 (97) (1998). • Composição em Ácidos Graxos (Cromatografia Gasosa) Método Oficial da AOCS Ce-1e (97) (1998). • Curva de Sólidos RMN Método Oficial da AOCS Cd 16-81 (97) (1998). • pH - Método Oficial de Análise da AOAC 970.21 (1998). Todas as análises de caracterização físico-química foram realizadas em duplicata. O primeiro passo do programa desenvolvido (3min a 5rpm) teve por finalidade proporcionar uma maior uniformização da temperatura da amostra. Já o segundo passo (3min a 50rpm) teve como finalidade o pré-cisalhamento da amostra. Por meio de testes preliminares constatou-se que esta prática permitia uma melhor reprodutibilidade dos dados experimentais. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados da caracterização físico-química das diferentes marcas de compounds são apresentados nos Quadros 2A e 2B: QUADRO 2A. Caracterização físico-química dos compounds marcas A e B. Compound A Determinações Umidade (%) Cinzas (%) Proteína (Nx6,25) (%) Lipídios totais (%) Açúcares totais (%) Açúcares redutores (%) Ácidos graxos livres (%) Índice de peróxidos (mEq/kg) Ponto de fusão (°C) Carboidratos totais** (%) Calorias*** (cal/100g) pH Compound B Ao leite Branco Meio Amargo Ao leite Branco Meio Amargo 1,45 1,68 7,12 31,11 51,37 5,36 0,11 N.D.* 34,00 58,64 543,00 6,91 1,37 1,35 5,70 32,03 58,65 5,93 0,07 N.D.* 33,60 59,55 549,00 7,07 0,85 0,93 4,16 31,47 54,15 0,97 0,11 N.D.* 35,40 62,59 550,00 5,67 0,74 0,68 3,15 29,45 62,34 1,89 0,26 1,03 38,00 65,98 541,00 6,13 0,82 0,78 3,55 31,74 64,75 3,83 0,19 0,47 37,70 63,11 552,00 7,04 0,52 0,96 4,17 29,64 56,94 1,20 0,26 0,60 38,60 64,64 542,00 6,14 * N.D.= Não Detectado. ** Os carboidratos totais foram calculados por diferença: 100 - (% umidade + % cinzas + % proteína bruta + % lipídios totais) (HOLLAND et al., 1994). *** O valor calórico da amostra foi calculada pela soma das porcentagens de proteína bruta e carboidratos totais multiplicados pelo fator 4 (cal/g) somado ao teor de lipídios totais multiplicados pelo fator 9 (cal/g) (HOLLAND et al., 1994). Braz. J. Food Technol., 2(1,2):139-148, 1999 142 F. Z. VISSOTTO et al. Caracterização Físico-química e Reológica de Chocolates Comerciais Tipo Cobertura Elaborados com Gorduras Alternativas QUADRO 2B. Caracterização físico-química dos compounds C, D e E. Determinações Umidade (%) Cinzas (%) Proteína (Nx6,25) (%) Lipídios totais (%) Açúcares totais (%) Açúcares redutores (%) Ácidos graxos livres (%) Índice de peróxidos (mEq/kg) Ponto de fusão (°C) Carboidratos totais** (%) Calorias*** (cal/100g) pH Compound C Compound D Compound E Ao leite Branco Meio Amargo Ao leite Branco Meio Amargo Ao leite 0,53 0,88 4,82 30,24 61,06 2,08 0,25 N.D.* 36,80 63,53 545,00 6,32 0,76 1,53 6,69 33,53 55,59 6,42 0,24 N.D.* 36,00 57,49 558,00 7,04 0,67 1,52 8,31 32,75 46,06 1,66 0,34 N.D.* 37,50 56,75 555,00 5,10 0,84 1,00 2,74 34,09 63,62 1,01 0,59 0,57 38,20 61,33 563,00 6,00 1,11 1,01 5,15 32,73 64,47 5,68 0,36 0,78 37,50 60,00 555,00 6,80 1,26 1,14 5,12 32,25 51,76 1,41 0,87 0,71 38,30 60,23 552,00 5,30 0,84 1,10 4,55 32,15 53,12 2,84 0,27 0,35 35,50 61,36 553,00 6,80 * N.D.= Não Detectado. ** Os carboidratos totais foram calculados por diferença: 100 - (% umidade + % cinzas + % proteína bruta + % lipídios totais) (HOLLAND et al., 1994). *** O valor calórico da amostra foi calculada pela soma das porcentagens de proteína bruta e carboidratos totais multiplicados pelo fator 4 (cal/g) somado ao teor de lipídios totais multiplicados pelo fator 9 (cal/g) (HOLLAND et al., 1994). Como não existe legislação específica para compounds no Brasil, os dados de caracterização físico-química das amostras analisadas foram comparados com valores referentes à legislação para chocolate (BRASIL, 1978). Os principais açúcares que fazem parte da composição dos compounds são: sacarose, lactose, glicose e maltose. A sacarose é um açúcar não-redutor e a lactose, a maltose e a glicose são açúcares redutores. Observando-se os Quadros 2A e 2B é possível concluir que a percentagem de açúcares totais variou de 46,06% (compound marca C, meio-amargo) a 64,75% (compound marca B, branco), portanto inferior a 68%, valor máximo permitido por legislação para chocolate (BRASIL, 1978). A sacarose é um ingrediente adicionado em todos os tipos de compounds analisados; desta forma, os produtos analisados apresentaram uma alta percentagem de açúcares não-redutores. Já a percentagem de açúcares redutores variou de 0,97% (compound marca A, meio-amargo) a 6,42% (compound marca C, branco). Em geral, o compound do tipo branco é o que apresentou maior quantidade de açúcares redutores, devido à presença da lactose e maltose do leite, ingrediente presente em maior proporção na formulação deste tipo de produto. O compound meio-amargo é o que apresentou menor teor de açúcares redutores, uma vez que possui maior percentagem de massa de cacau em relação aos demais tipos de compounds e não se incorpora a sua formulação o leite. O compound ao leite apresentou valores intermediários de açúcares redutores devido à presença de lactose e maltose (provenientes do leite), além da glicose. A partir dos resultados obtidos e expressos nos Quadros 2A e 2B, observou-se que, dentre os tipos de compounds analisados, apenas as marcas A e C apresentaram índices de peróxidos não detectados. Com base nestes resultados pode-se concluir que as gorduras empregadas na fabricação dos produtos destas marcas é de boa qualidade, uma vez que este parâmetro está diretamente relacionado com a qualidade da gordura utilizada no processamento. As umidades das amostras analisadas variaram de 0,53% (compound marca C, ao leite) a 1,45% (compound marca A, ao Braz. J. Food Technol., 2(1,2):139-148, 1999 leite). Estes valores estão abaixo dos limites estabelecidos pelos padrões de identidade e qualidade para chocolate, que permitem no máximo 3% de umidade (BRASIL, 1978). O conteúdo de cinzas variou de 0,68% (compound marca B, ao leite) a 1,68% (compound marca A, ao leite), sendo que todas as amostras analisadas estão dentro dos limites da legislação vigente para chocolate: máximo de 2,5% (BRASIL, 1978). A percentagem de lipídeos variou de 29,45% (compound marca B, ao leite) a 34,09% (compound marca D, ao leite). A legislação estabelece que o chocolate deve ter no mínimo 20% de lipídeos (BRASIL, 1978). Dentre todas as marcas analisadas, os compounds que apresentaram os maiores pontos de fusão foram do tipo meioamargo, enquanto os menores valores foram obtidos nos compounds do tipo branco. As gorduras contidas na formulação do compound tipo branco correspondem à gordura (hidrogenada, fracionada ou interesterificada) mais a gordura do leite. É sabido que a presença de maiores quantidades de gordura de leite em produtos tipo chocolate diminui o ponto de fusão (TIMMS, 1980). Os valores de pH foram mais próximos ao neutro (pH = 7,0) para os compounds do tipo branco, para todas as amostras analisadas, devido à maior quantidade de leite em suas formulações. Já o tipo meio-amargo foi o que apresentou menores valores de pH (variação de 5,10 a 6,14), devido à presença de maior quantidade de liquor ou cacau em pó em suas formulações se comparado com os tipos ao leite e branco. Com relação à quantidade calórica, cabe destacar que os compounds, assim como os chocolates (VISSOTTO et al., 1997), são alimentos com altas taxas calóricas, devido à grande quantidade de carboidratos e lipídeos presentes. Os resultados obtidos também mostram que os diferentes tipos de compounds, de modo geral, possuem quantidades calóricas por 100g de produto relativamente próximas. A composição percentual em ácidos graxos das amostras analisadas está representada nos Quadros 3A e 3B. 143 F. Z. VISSOTTO et al. Caracterização Físico-química e Reológica de Chocolates Comerciais Tipo Cobertura Elaborados com Gorduras Alternativas QUADRO 3A. Composição percentual em ácidos graxos das amostras de compounds das marcas A e B. Compound A Ácido graxo C 8:0 C 10:0 C 12:0 C 14:0 C 16:0 C 18:0 C 18:1 T** C 18:1 C 18:2 C 20:0 Saturados*** Insaturados Compound B Ao leite Branco Meio Amargo Ao leite Branco Meio Amargo (%) (%) (%) (%) (%) (%) 1,30 2,10 48,10 20,90 10,70 14,80 0,40 1,20 0,30 0,20 98,50 1,50 1,30 2,20 49,50 21,40 10,10 13,40 0,90 0,70 0,30 0,10 98,80 1,00 1,80 2,10 36,10 13,60 12,20 28,10 2,10 3,10 0,50 0,30 96,00 3,60 N.D. * N.D. * 0,50 1,00 23,80 8,00 34,90 26,80 1,60 0,20 63,20 28,40 1,30 2,60 37,80 15,80 10,90 22,70 2,50 3,30 1,60 0,20 93,60 4,90 N.D. * N.D. * 0,10 0,50 20,20 11,60 29,70 30,00 1,50 0,30 62,10 31,50 * N.D.= Não Detectado. **T = Trans. *** De acordo com a portaria n° 27, de 13 de janeiro de 1998, da Vigilância Sanitária, do Ministério da Saúde, os ácidos graxos Trans estão sendo computados no cálculo dos ácidos graxos saturados. QUADRO 3B. Composição percentual em ácidos graxos das amostras de compounds das marcas C, D e E. Ácido graxo Compound C Compound D Ao leite Branco Meio Ao leite Branco Meio Ao leite (%) (%) Amargo (%) (%) Amargo (%) (%) C 8:0 C 10:0 C 12:0 C 14:0 C 15:0 C 16:0 N.I.** C 17:0 C 18:0 C 18:1 T*** C 18:1 C 18:2 T*** C 18:2 C 18:3 C 20:0 Saturados**** Insaturados Compound E 1,90 2,40 38,60 13,40 N.D.* 11,20 N.D.* N.D.* 15,70 7,00 7,20 0,10 2,10 0,20 0,20 90,50 9,50 1,70 1,90 36,10 13,70 N.D.* 11,50 N.D.* N.D.* 28,70 3,10 2,30 N.D.* 0,60 N.D.* 0,30 97,00 2,90 1,70 2,10 34,10 11,80 N.D.* 13,20 N.D.* N.D.* 15,80 7,40 10,10 0,20 3,10 0,30 0,20 86,50 13,50 (%) 1,60 2,00 34,40 13,30 0,10 12,20 N.D.* N.D.* 19,40 7,20 7,90 0,30 1,30 N.D.* 0,30 90,80 7,50 * N.D.= Não Detectado **N.I. = Não Identificado ***T = Trans 0,90 1,00 15,90 6,50 N.D.* 20,00 0,30 0,10 12,20 23,80 15,20 2,60 1,10 0,10 0,30 83,30 16,40 1,40 1,30 26,80 9,80 N.D.* 16,40 N.D.* 0,10 15,00 12,60 14,70 0,50 1,10 N.D.* 0,30 84,20 15,80 1,40 1,70 30,90 12,40 0,10 13,20 0,10 0,10 29,60 1,60 7,10 0,20 1,10 0,40 0,10 91,30 8,60 **** De acordo com a portaria n° 27, de 13 de janeiro de 1998, da Vigilância Sanitária, do Ministério da Saúde, os ácidos graxos Trans estão sendo computados no cálculo dos ácidos graxos saturados. Braz. J. Food Technol., 2(1,2):139-148, 1999 144 F. Z. VISSOTTO et al. De forma geral, o compound marca A foi o que apresentou os menores valores de ácidos graxos trans nos três tipos de cobertura (ao leite, branco e meio-amargo), seguindo assim mais de perto as tendências internacionais de minimização de ácidos graxos trans em produtos vegetais gordurosos. Nesta marca, observa-se que os tipos ao leite e branco foram elaborados com gordura fracionada, enquanto o tipo meioamargo utilizou a gordura vegetal hidrogenada. No Quadro 4A estão representados os teores de sólidos em função da temperatura para os compounds estudados neste trabalho. Com base nestes dados foram ainda traçadas curvas correlacionando a percentagem da gordura sólida com a temperatura (Figuras 1, 2 e 3), permitindo comparar os produtos analisados entre si e com a manteiga de cacau. No Quadro 4B estão representados os teores de sólidos em função da temperatura para a manteiga de cacau. 1 0 0 .0 0 M a rc a A M a rc a B M a rc a C 8 0 .0 0 M a rc a D M a rc a E Teor de Sólidos (%) M a n te ig a d e C a c a u 6 0 .0 0 4 0 .0 0 2 0 .0 0 0 .0 0 1 0 .0 0 2 0 .0 0 3 0 .0 0 4 0 .0 0 5 0 .0 0 T e m p e ra tu ra (C ) FIGURA 1. Curvas de sólidos das diferentes marcas de compounds tipo ao leite e manteiga de cacau. 1 0 0 .0 0 M a rc a A M a rc a B M a rc a C 8 0 .0 0 M a rc a D M a n te ig a d e C a c a u Teor de Sólidos (%) Com relação à composição em ácidos graxos (Quadros 3A e 3B), obser va-se que entre as amostras houve uma grande incidência de ácido láurico (C 12:0), o que indica que os produtos foram desenvolvidos com gorduras láuricas. Os valores de ácido láurico chegaram a 49,5% (compound marca A, branco), com exceção do compound B, recaindo para esta marca também os maiores valores de ácidos graxos trans, indicando, portanto, alto grau de hidrogenação da gordura utilizada. Cabe destacar que embora o compound B apresente alto teor de ácido graxo trans (C 18:1T), o seu ponto de fusão (38°C) ficou próximo do das demais amostras. Isto se explica em função da própria composição em ácidos graxos do compound B. Caracterização Físico-química e Reológica de Chocolates Comerciais Tipo Cobertura Elaborados com Gorduras Alternativas 6 0 .0 0 4 0 .0 0 2 0 .0 0 QUADRO 4A. Teores de sólidos (por RMN pulsante) em função da temperatura para as diferentes marcas de compounds estudadas. 10,00 21,10 26,70 33,00 37,80 45,00 90,00 91,58 83,72 69,97 81,67 61,96 70,20 76,49 83,72 78,38 74,05 68,68 79,97 74,44 79,00 54,44 36,47 59,21 38,29 35,02 54,72 54,44 45,48 38,35 32,23 50,91 57,40 64,07 47,42 25,35 53,16 32,68 26,57 47,47 47,42 34,30 29,63 22,09 44,76 6,90 7,21 22,81 10,82 33,37 16,73 5,92 16,09 22,81 9,17 13,76 8,32 20,61 0,25 0,10 1,49 4,20 3,39 3,76 2,57 1,73 1,49 2,65 5,06 2,51 2,05 0,00 0,00 0,30 0,19 0,21 0,00 0,04 0,18 0,30 0,08 0,16 0,00 0,08 A ao leite A branco A meio-amargo B ao leite B branco B meio-amargo C ao leite C branco C meio-amargo D ao leite D branco D meio-amargo E ao leite QUADRO 4B. Teores de sólidos (por RMN pulsante) em função da temperatura para manteiga de cacau (TIMMS, PAREKH, 1980). 1 0 .0 0 2 0 .0 0 3 0 .0 0 4 0 .0 0 5 0 .0 0 T e m p e ra tu ra (C ) FIGURA 2. Curvas de sólidos das diferentes marcas de compounds tipo branco e manteiga de cacau. 1 0 0 .0 0 M a rc a A M a rc a B M a rc a C 8 0 .0 0 M a rc a D M a n te ig a d e C a c a u Teor de Sólidos (%) Temperaturas (°C) Amostras 0 .0 0 6 0 .0 0 4 0 .0 0 2 0 .0 0 0 .0 0 1 0 .0 0 Teor de Sólidos Manteiga de Cacau Temperaturas (°C) 2 0 .0 0 3 0 .0 0 4 0 .0 0 5 0 .0 0 T e m p e ra tu r a (C ) 10,00 20,00 25,00 30,00 32,50 35,00 40,00 83,40 75,30 67,80 33,40 8,10 0,40 0,00 Braz. J. Food Technol., 2(1,2):139-148, 1999 FIGURA 3. Curvas de sólidos das diferentes marcas de compounds tipo meio-amargo e manteiga de cacau. 145 Caracterização Físico-química e Reológica de Chocolates Comerciais Tipo Cobertura Elaborados com Gorduras Alternativas F. Z. VISSOTTO et al. Por meio da análise dos dados apresentados nos Quadros 4A e 4B e Figuras 1, 2 e 3 é possível concluir que existe uma discrepância entre os teores de sólidos das amostras analisadas, entre si e com a manteiga de cacau, para temperaturas próximas. Assim, observa-se que a 21,10°C encontra-se um teor de sólidos de 79% para a amostra marca A ( tipo branco), enquanto a amostra marca D (tipo meio-amargo), apresenta um valor de 32,23%. No caso da manteiga de cacau observa-se que a temperatura de 20°C o teor de sólidos é de 75,30%. Da mesma forma a 26,70°C, que é uma temperatura bastante importante para referência, visto que esta é uma temperatura média ambiente da maioria das regiões do Brasil, a amostra A (tipo branco) apresenta teor de sólidos de 64,07%, já para a amostra D (tipo meio-amargo) encontra-se um valor de 22,09%. Na temperatura de 25 °C, o teor de sólidos da manteiga de cacau é de 67,80%. À temperatura de 33 ° C, que corresponde a uma temperatura bastante usual durante o ano nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, observam-se valores de 33,37% de sólidos para a amostra marca B (tipo branco) e 5,92% para a amostra marca C (tipo ao leite). A manteiga de cacau na temperatura de 32,50°C apresenta teor de sólidos de 8,10%. Para estas regiões, é mais adequada a comercialização de compounds com maiores teores de sólidos, evitando-se, assim, o amolecimento do produto nos pontos de venda, comprometendo e depreciando sua aparência. A 37,80°C, que é a temperatura mais próxima do ponto de fusão dos compounds, encontram-se amostras ainda com altos teores de sólidos, como a marca D (tipo branco) com 5,06% de sólidos e também a marca B (tipo ao leite) com 4,20% de sólidos. Isto representa um fator negativo, já que a 37 ° C (temperatura corpória do ser humano em condições normais), o produto deverá estar totalmente fundido na boca. A presença de sólidos em temperaturas superiores a 37°C causa uma sensação desagradável (residual ceroso) durante a degustação da amostra, tornando o produto pouco atraente ao consumidor. Cabe destacar que na temperatura de 35°C o teor de sólidos da manteiga de cacau é bastante baixo, ou seja, 0,40%, enquanto na temperatura de 40°C não existem sólidos presentes, conforme pode ser observado pelo Quadro 4B. Pela observação das Figuras 1, 2 e 3 é possível constatar que as gorduras presentes na cobertura marca A, principalmente do tipo ao leite e branco, apresentam um perfil de sólidos mais próximo ao da manteiga de cacau. Em ambos os casos o produto apresenta boa dureza em temperaturas inferiores a 25°C, boa resistência ao calor em temperaturas entre 25°C e 30°C e um patamar descendente na faixa de fusão (27 ° C a 33 ° C), responsável por um bom desprendimento de flavor e sensação de frio durante a degustação, quando comparado com a manteiga de cacau. Nos demais casos, as amostras analisadas apresentaram propriedades físicas inferiores no que se refere, principalmente, ao patamar da faixa de fusão. Dados de tensão de cisalhamento versus taxa de deformação foram plotados e a partir dos pontos experimentais obtidos, realizou-se um ajuste por meio de regressão linear (Figuras 4, 5 e 6). Os parâmetros de Casson foram então determinados. Os coeficientes de correlação dos ajustes apresentaram variação na terceira casa decimal, demonstrando Braz. J. Food Technol., 2(1,2):139-148, 1999 um bom ajuste dos dados experimentais com o modelo de Casson. Os dados de limite de escoamento de Casson (τca) e a viscosidade plástica de Casson (ηca) médios dos compounds tipo cobertura obtidos estão representados no Quadro 5A. QUADRO 5A. Parâmetros reológicos médios* dos compounds tipo cobertura. Marca A B C D E Ao Leite Branco Meio-Amargo τCa (Pa) ηca (Pa.s) τCa (Pa) ηca (Pa.s) τCa (Pa) ηca (Pa.s) 4,85 9,62 10,48 7,25 5,17 1,62 2,05 1,54 1,12 1,32 4,46 1,60 2,47 1,09 - 1,91 1,65 1,26 1,39 - 13,95 9,29 7,38 7,11 - 1,51 3,34 1,70 1,92 - * Média aritmética de três repetições. Não foram localizados na literatura pertinente à Reologia valores de limite de escoamento de Casson (τca) e viscosidade plástica de Casson (ηca) referentes a chocolates elaborados com gorduras alternativas à manteiga de cacau. Desta forma, no Quadro 5B estão representados os dados de limite de escoamento de Casson (τca) e a viscosidade plástica de Casson (η ca) médios para chocolates tipo cobertura obtidos por VISSOTTO et al. (1997). QUADRO 5B. Parâmetros reológicos médios* dos chocolates tipo cobertura. Marca Ao Leite τCa (Pa) ηca (Pa.s) Branco τCa (Pa) Meio-Amargo ηca (Pa.s) τCa (Pa) ηca (Pa.s) F 5,25 1,39 8,44 1,90 10,08 1,53 G 10,33 2,72 25,72 4,48 13,49 2,61 H 9,32 2,32 18,29 2,82 15,91 1,83 I 9,40 2,43 15,00 2,25 15,26 5,56 * Média aritmética de três repetições. Pela observação do Quadro 5A é possível notar que o limite de escoamento de Casson ( τca) para os compounds tipo cobertura, para todas as marcas e tipos analisados, variou de 1,60 Pa (marca B, branco) a 13,95 Pa (marca A, meio-amargo). Já a viscosidade plástica de Casson ( η ca) variou de 1,12 Pa.s (marca D, ao leite) a 3,34 Pa.s (marca B, meio-amargo). Por meio do Quadro 5B constata-se que o limite de escoamento de Casson ( τ ca ) para os chocolates tipo cobertura para todas as marcas e tipos estudados por VISSOTTO et al. (1997), variou de 5,25 Pa (marca F, ao leite) a 25,72 Pa (marca G, branco). Com referência à viscosidade plástica de Casson ( ηca), este parâmetro apresenta valores entre 1,39 Pa.s (marca F, ao leite) e 5,56 Pa.s (marca I, meioamargo). Conclui-se, portanto, que os compounds tipo cobertura assumem menores valores tanto para o limite de escoamento de Casson (τca) como para a viscosidade plástica de Casson (ηca), quando comparados com os chocolates tipo cobertura. Este fato justifica a vasta aplicação dos compounds como coberturas 146 F. Z. VISSOTTO et al. 16.00 M a rc a A - A ju ste p o r R e g re s s ã o L in e a r (R 2 = 0 ,9 9 9 9 ) M a rc a B - A ju ste p o r R e g re s s ã o L in e a r (R 2 = 0 ,9 9 9 8 ) M a rc a C - A ju s te p o r R e g re ss ã o L in e a r (R 2 = 0 ,9 9 8 9 ) M a rc a D - A ju ste p o r R e g re s sã o L in e a r (R 2 = 0 ,9 9 9 9 ) -1/2 ] 1 2 .0 0 D n [S Por intermédio das Figuras 4, 5 e 6 é possível observar os reogramas para os compounds dos tipos ao leite, branco e meio-amargo para as marcas A, B, C, D e E. 1 6 .0 0 8 .0 0 (1 + a ) para sorvetes, pão de mel, biscoitos e demais produtos de confeitaria. Os menores valores de limite de escoamento de Casson (τca) implicam numa maior facilidade para começar o escoamento do fluido nas dosadoras e os menores valores de viscosidade plástica de Casson ( ηca) implicam na melhora do processo de recobrimento, levando à formação de uma camada de espessura adequada. Caracterização Físico-química e Reológica de Chocolates Comerciais Tipo Cobertura Elaborados com Gorduras Alternativas 4 .0 0 M a rca A - A ju ste p o r R e g re ss ã o Lin e ar (R 2 = 0 ,9 9 9 6 ) M a rc a B - A jus te p or R eg re s sã o L ine a r (R 2 = 0 ,99 9 5 ) M arc a C - A ju s te p o r R E g re s sã o L in e a r (R 2 = 0 ,9 9 9 9 ) M a rca D - A ju s te p o r R e g re s sã o L in e a r (R 2 = 0 ,9 9 8 4 ) 5 .0 0 1 0 .0 0 Dn [S (1 + a ) 2 5 .0 0 [P a ] 8.00 4. CONCLUSÕES 5.00 1 0.00 15.0 0 20.00 25 .00 [ P a 1/2 ] (1 + a ) FIGURA 4. Reogramas das diferentes marcas de compounds do tipo ao leite (T = 40°C). Os dados de caracterização físico-química dos chocolates comerciais tipo cobertura elaborados com gorduras alternativas à manteiga de cacau (compounds) analisados estão dentro da legislação brasileira vigente para chocolate. Os compounds do tipo branco, para todas as marcas estudadas, apresentaram os menores valores de ponto de fusão, quando comparados com compounds do tipo ao leite e meio-amargo. Confirma-se, portanto, como já observado em outros trabalhos, que a presença de maiores quantidades de leite em chocolate diminui o ponto de fusão do produto. Os compounds elaborados com gordura fracionada (marca A, tipos ao leite e branco) foram os que apresentaram os menores valores de ácidos graxos trans, seguindo de perto tendências internacionais de minimização de ácidos graxos trans em produtos vegetais gordurosos. 1 6 .0 0 M a rc a A - A ju s te p o r R e g re s s ã o L in e a r (R 2 = 0 ,9 9 9 9 ) M a rc a B - A ju s te p o r R e g re s s ã o L in e a r (R 2 = 0 ,9 9 9 4 ) M a rc a C - A ju s te p o r R e g re s s ã o L in e a r (R 2 = 0 ,9 9 8 7 ) M a rc a D - A ju s te p o r R e g re s s ã o L in e a r (R 2 = 0 ,9 9 9 9 ) 1 2 .0 0 -1/2 ] 2 0 .0 0 1/2 FIGURA 6. Reogramas das diferentes marcas de compounds do tipo meio-amargo (T = 40°C). 4.00 Os compounds elaborados com gordura fracionada (marca A, tipos ao leite e branco) apresentaram perfil de sólidos bastante semelhante ao da manteiga de cacau. Dn [S (1 + a ) 1 5 .0 0 (1 + a ) -1/2 ] M a rca E - A ju ste p o r R e g re ss ã o Lin e ar (R 2 = 0,9 9 9 1 ) 12.00 8 .0 0 Os compounds seguem o modelo reológico de Casson, podendo ser representados por meio dos parâmetros limite de escoamento de Casson (τ ca ) e viscosidade plástica de Casson (ηca). 4 .0 0 5 .0 0 1 0 .0 0 1 5 .0 0 (1 + a ) 2 0 .0 0 2 5 .0 0 [ P a 1/2 ] FIGURA 5. Reogramas das diferentes marcas de compounds do tipo branco (T = 40°C). Braz. J. Food Technol., 2(1,2):139-148, 1999 Os compounds tipo cobertura apresentaram menores valores de limite de escoamento de Casson e viscosidade de Casson, quando comparados com os chocolates tipo cobertura elaborados com manteiga de cacau. Este fato justifica a vantagem, em termos de processo, do uso dos compounds para recobrimento de sorvetes, pão de mel, biscoitos e outros produtos de confeitaria. 147 F. Z. VISSOTTO et al. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABIA. Compêndio da Legislação de Alimentos, Atos do Ministério da Saúde. São Paulo: Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA). Revisão 3, 1989, BECKETT, S.T. Industrial Chocolate Manufacture and Use. 2.ed. England: Clays Ltd, 1994, 408p. BLOCK, J.M., BARRERA-ARELLANO, D., FIGUEIREDO; M.F., GOMIDE, F.A.C. Blending process optimization into special fat formulation by neural networks. JAOCS, 74(12):1537-1541, 1997. BRASIL, Leis, Decretos, etc. Resolução número 12/78 da Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos. Diário Oficial, Brasília, 24 de julho de 1978. Seção I, parte 1, p. 11499-11527. 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