Crítica e mística: poesia moderna e

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Crítica e mística: poesia moderna e
FAUSTINO
TEIXEIRA
(ORGANIZADOR)
CAMINHOS
DA MÍSTICA
Coleção Religião e Cultura
• As leis da natureza: conhecimento
humano e a ação divina - William R. Stoeger
• As linguagens da experiência religiosa: uma introdução à fenomenologia
Jose Severino Croatto
• Caminhos da mística - Faustino Teixeira (org.)
• Experiência religiosa e crítica social no cristianismo primitivo
Paulo Augusto cie Souza Nogueira
• Igreja Universal do Reino de Deus: os novos conquistadores
Ari Pedro Oro, André Corten e lean-Pierre Dozon
-
da fé -
• Introdução ao estudo comparado das religiões - Aldo Natale Terrin
• Nas teias da delicadeza: itinerários místicos - Faustino Teixeira (org.)
• No limiar do mistério: mística e religião - Fantino Teixeira
• O Islã e a política - Peter Antes
da religião -
Dados Internacionais de C a t a l o g a ç ã o na Publicação (C IP)
( C â m a r a Brasileira do Livro, SP. Brasil)
Caminhos da mistica / Kausl.no Teixeira (organizador).
SUMÁRIO
Sito Paulo :
Paulinas, 2012. - (Religião c cultura)
Vários autores.
Bibliografia.
ISBN 978-85-356-3074-9
1. Mistério
2. Misticismo - Estudos comparados
I. Teixeira. Faustino.
3. Religiões
Π. Sèrie.
.2-0210.
CDD-29M22
índices p a r a catálogo sistemático:
1. Mistica : Religião comparada
2. Mistica comparada : Religião
291.422
291.422
APRESENTAÇÃO
Faustino Teixeira
7
PREFACIO
Marco Lucchesi
13
N O SUBSOLO
Luiz Felipe Pondé
15
MÍSTICA EM PLOTINO
Direção-geral:
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Ruth Mitzuie Kluska
Ana Karina Roíirtgues Caetano
Felício Calegaro Xeto
Manuel Rebelato Miramontes
Marcus Reis Pinheiro
UNIO MYSTICA:
19
O QUE VEM DEPOIS? O VALE DA
PERPLEXIDADE EM
A LINGUAGEM DOS PÁSSAROS,
DE A I T A R
Carlos Frederico Barboza de Souza
MINNE:
O AMAGO VISCERAL DE DEUS
EM MECHTHILD VON MAGDEBURG
Maria José Caldeira do Amaral
1· e d i ç ã o - 2 0 1 2
51
MARGUERITE PO RETE, MÍSTICA E TEÓLOGA D O SÉCULO XIII
Ceci Baptista Mariani
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37
São Paulo, 2012
75
O EXTERIOR MAIS INTERIOR QUE O MAIS ÍNTIMO:
ECKHART E A BXCELÊNCIA DE MARTA
Adriana Andrade de Souza
113
SIMONE WEIL: UMA MÍSTICA PARA O SÉCULO XXI
Maria Clara Lucchetti Bingemer
135
TEILHARD DE CHARDIN E A DIAFANIA DE DEUS
NO UNIVERSO
Faustino Teixeira
165
A MISTICA JUDAICA REFLETIDA NA OBRA DE HESCHEL
APRESENTAÇÃO
Alexandre Leone
DIANTE DA REALIDADE CRUA DAS COISAS:
THOMAS MERTON E O "TRABALHO DE CELA"
Sibélius Cefas Pereira
A PORTADORA DE CRISTO NOS CAMPOS DO III REICH
Os diversos seminários de mística c o m p a r a d a realizados na
Mariana ¡anelli
c i d a d e d e Juiz d e Fora, n o S e m i n á r i o r e d e n t o r i s t a d a Floresta,
MÍSTICA, HERESIA E METAFISICA
vão-se f i r m a n d o c o m o u m canal privilegiado de reflexão e divul-
José Carlos Michelazzo
g a ç ã o d a s p e s q u i s a s s o b r e m í s t i c a r e a l i z a d a s n o Brasil. O pri-
CRÍTICA E MÍSTICA:
POESIA MODERNA E INSTAN TANEIDADE
Eduardo Guerreiro Β. Losso
m e i r o e v e n t o a c o n t e c e u e m s e t e m b r o d e 2001, n a o c a s i ã o m e s m a
d o t r á g i c o e p i s ó d i o d a s Torres G é m e a s . Foi o início d e u m a feliz
iniciativa q u e já b r i n d o u n o v e e d i ç õ e s . T r a t a - s e d e u m e s p a ç o
s i n g u l a r q u e v e m r e u n i n d o p e s q u i s a d o r e s d e Juiz d e Fora, São
Paulo, Rio d e Janeiro, Belo H o r i z o n t e e o u t r a s c i d a d e s m i n e i r a s .
As p e s q u i s a s são s u r p r e e n d e n t e s e i n o v a d o r a s , t r a z e n d o f o c o s
o r i g i n a i s d e a b o r d a g e m e a p o n t a n d o pistas i n u s i t a d a s p a r a a
reflexão sobre a mística. O u t r o traço singular é a composição do
g r u p o . São p e s q u i s a d o r e s q u e c o b r e m u m c a m p o p r o f i s s i o n a l
d i v e r s i f i c a d o : filosofia, teologia, h i s t ó r i a , letras e p s i c a n á l i s e . O s
seminários refletem igualmente o crescimento das linhas e projetos d e p e s q u i s a s o b r e o t e m a e m d e t e r m i n a d o s p r o g r a m a s d e
p ó s - g r a d u a ç ã o e m c u r s o n o Brasil, c o m o na U n i v e r s i d a d e Federal d e Juiz d e Fora (Ciência d a Religião), P o n t i f í c i a U n i v e r s i d a d e
Católica de São P a u l o (Ciências d a Religião), U n i v e r s i d a d e Federal F l u m i n e n s e (Filosofia) e P o n t i f í c i a U n i v e r s i d a d e Católica d o
Rio d e Janeiro (Teologia). O s f r u t o s d a s p e s q u i s a s nesse c a m p o
começam a surgir de forma inovadora nas dissertações de mest r a d o e teses d e d o u t o r a d o , c o m o d e v i d o r e c o n h e c i m e n t o n o
âmbito acadêmico.
CRÌTICA E MISTICA:
POESIA M O D E R N A E
INSTANTANEIDADE
E D U A R D O G U E R R E I R O Β. L O S S O *
N a g r a n d e m a i o r i a d o s artigos e livros de diversas áreas
h u m a n a s que leio, escritos p o r p e n s a d o r e s c u j o objeto de e s t u d o
não é a mística,
m a s q u e u s a m o t e r m o f r e q u e n t e m e n t e , na m a i o -
ria d a s vezes o adjetivo, m a s t a m b é m o s u b s t a n t i v o ( a m b o s c o m
significado equivalente), o b s e r v o u m a c o n s t a n t e : eles e n t e n d e m
o s u b s t a n t i v o e o adjetivo c o m o m a n i f e s t a ç ã o de u m f e n ò m e n o
P r é - M o d e r n o , p r i m i t i v o . Se n ã o pré-civilizado, ao m e n o s ilusório, f a n t a s m á t i c o . Q u a n d o se referem à religião cristã, m a r c a d a
pela racionalidade teológica, e n t e n d e m sua mística ou c o m o u m
resíduo mítico, o u c o m o signo de q u e m e s m o o f u n d a m e n t o
metafísico da teologia recai na ilusão, na crença de u m a t r a n s cendência n ã o m a i s aceitável pela M o d e r n i d a d e laica. Isso significa que, n o s casos m a i s e x t r e m o s , a m í s t i c a é r e d u z i d a ao m i t o
e a teologia é r e d u z i d a à mística. T u d o p a s s a a fazer p a r t e de
u m m e s m o saco de velharias religiosas. M o v i d o s pela u r g ê n c i a
Professor a d j u n t o de Teoria da l iteratura da UFRural-RJ, estuda a mística
secularizada na literatura m o d e r n a . Organizou o livro Diferencia
minoritaria
en Latinoamérica (Zürich: Georg Olms, 2008). Fez parte da organização d o
colóquio franco-alemão "Nostalgie et le rêve e u r o p é e n ' em Paris, em 2006.
2 8 2
E D U A R D O G U E R R E I R O Β.
CRÍTICA E MÍSTICA
da repulsa crítica a qualquer indício de religião, toda religião
Contudo, q u a n d o me e n c o n t r o 110 meio de estudiosos de religião, há sempre clareza em problematizar o e n r a i z a m e n t o d o s
místicos n u m escrito sagrado e ao m e s m o t e m p o o b s e r v a r os
conflitos entre místicos e ortodoxos. 1 O místico seja visto c o m o
parte da mesma cultura e d o u t r i n a canònica, seja visto c o m o
herético é em geral tratado c o m o u m m o d o de p e n s a r d i s t i n t o
de teologías oficiais, de filosofias de f u n d a m e n t a ç ã o lógica :
e participante da literatura mais a v a n ç a d a de sua época, q u e
encontra papel ativo na aurora das literaturas nacionais,· b e m
ao alvorecer da subjetividade
moderna, 4 devido aos seus relatos pessoais,' e de sua desagregação e dispersão, devido à experiência de a r r e b a t a m e n t o e seus
correspondentes textos paradoxais.
CERTEAU, Michel de. La fable mystique. Paris: Gallimard, 1982. Sobre a
origem social dos místicos ocidentais, p. 36-44; sobre a heresia, p. 30. Já n o
século XIII iniciou-se a separação entre mística e instituição (p. 115), para
em seguida trabalhar para seu retorno no seio da Igreja e da tradição (p.
117). ELLIOTT, Dyan. Proving Woman; Female Spirituality a n d Inquisitional Culture in the Later Middle Ages. Princeton, N.J.: Princeton University
Press, 2004. Sobre a diferenciação prática e discursiva entre s a n t i d a d e e
heresia, ver p. 119-179.
OTTO, Rudolf. Mystique d'Orient et mystique d'Occident. Distinction et unité. Paris: Payot, 1996. Ver a tentativa de Otto de estabelecer u m a "Lógica
mística'', feita de paradoxos, em oposição à "Lógica natural" (p. 56), caracterizada precisamente pela "exclusão de axiomas lógicos" (p. 64).
AUERBACH, Erich. Introdução aos estudos literários. São Paulo: Cultrix,
1972. p. 181. CERTEAU, La fable mystique, p. 103-104.
CUR l'EAU, La fable mystique. Sobre distinção de textos místicos na e n t r a d a
da Modernidade, p. 28. Mesmo Boileau já reconhecia os místicos c o m o
modernos (CERTEAU, La fable mystique, p. 152).
É o que Certeau chama de "privatização" d o discurso (CERTEAU,
mystique, p. 119).
2 8 3
Sem p r e t e n d e r e x p o r u m a história rigorosa d o r e d u c i o n i s m o
d o t e r m o , p a r e c e q u e o e m p r e g o feito n o clássico capítulo sobre
parece ser mística e toda mística, mito.
como ligado simultaneamente
Losso
o fetiche da m e r c a d o r i a n o Livro P r i m e i r o d o Capital
d e Karl
M a r x é decisivo nesse sentido.
O caráter místico da mercadoria não provém, portanto, de
seu valor de uso. Ele não provém, tampouco, do conteúdo das
determinações de valor. 6 Não é mais nada que determinada
relação social entre os próprios homens que para eles aqui
assume a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas.
For isso, para encontrar uma analogia, temos de nos deslocar à
região nebulosa do mundo da religião.7 O reflexo religioso do
mundo real somente pode desaparecer quando as circunstâncias cotidianas, da vida prática, representarem para os homens
relações transparentes e racionais entre si e com a natureza. A
figura do processo social da vida, isto é, do processo da produção material, apenas se desprenderá do seu místico véu nebuloso quando, como produto de homens livremente socializados, ela ficar sob seu controle consciente e planejado. 8
S e g u n d o M a r x , a a b s t r a ç ã o d o valor d e uso e a a d o ç ã o d o
valor de troca p a r a avaliar o t r a b a l h o p r o d u z i d o cristalizado n o
preço d a m e r c a d o r i a p r o d u z e m u m efeito f a n t a s m á t i c o d e q u e
as m e r c a d o r i a s existem p o r si só, pela sua simples diferença de
preço e a sua c o n s e q u e n t e valorização artificial. O fetiche, m a i s
evidente nos p r o d u t o s m a i s cobiçados, passa a i m p r e g n a r toda
a e s t r u t u r a mercadológica baseada n o valor de troca e obriga
o filósofo a o b s e r v a r u m a analogia c o m "a região nebulosa d o
MARX, Karl. O capital. Crítica da economia política. São Paulo: Nova Cultural, 1996. v. 1, livro primeiro: "O processo de p r o d u ç ã o d o capital", t. l , p . 197.
La fable
Ibid., p. 198.
Ibid., p. 205.
EDUARDO GUERREIRO Β. LOSSO
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2 8 5
CRÌTICA E MÌSTICA
mundo da religião" O valor m a i s objetivo d a s coisas m a i s obje-
a sua crítica à religião reduzisse a c o m p l e x i d a d e d o p r ó p r i o f e n ô -
tivas possíveis, na e c o n o m i a capitalista, está enfeitiçado pelo
m e n o religioso 1 ' e, e m certos aspectos, r e d u z i u m a i s d o que a
fantasma da religião, aqui caracterizada c o m o m i s t i f i c a ç ã o irra-
p r ó p r i a teologia de sua é p o c a .
cional. Para sair desse feitiço (a raiz da palavra "fetiche" está na
Hoje os marxistas que e s t u d a m religião ou estruturas religio-
palavra portuguesa "feitiço"), é necessário o t r a b a l h o de desmis-
sas na M o d e r n i d a d e usam tais categorias de M a r x com a cons-
tificação de u m materialismo dialético racional, que explicará a
ciência desses avanços e t e r m i n a m por abstrair o equívoco dessa
fonte da ilusão fetichista nas relações de p r o d u ç ã o sociais.
equivalência terminologica redutora ao usá-los para a crítica de
A tese é valiosa e está na base do que ha de melhor na crí-
fenômenos regressivos da sociedade industrial, c o m o é o caso da
tica social do marxismo ocidental do século XX. Ela m o s t r a o
indústria cultural. C o n t u d o , outros reproduzem o equívoco inicial
quanto o senso c o m u m cotidiano e o sistema capitalista laico são
m a r x i a n o bem depois das conquistas dos estudos históricos, socio-
subterraneamente dependentes de estruturas religiosas sem n e m
lógicos e antropológicos. Convido um estudioso de religião atento
desconfiar delas. A riqueza dessa tese é inesgotável até hoje e f u n -
a constatar c o m o é fácil observar a diferença entre u m e outro.
damentou esforços de compreender o quanto instituições e estru-
P a r a isso, v e j a m o s m a i s u m exemplo, t a m b é m e x t r e m a m e n t e
turas modernas carregam a marca de estruturas rituais e míticas.
i n f l u e n t e , de u m d o s clássicos dos e s t u d o s d e teoria da literatura,
Contudo, observa-se que os termos mistério, mística, fetiche,
o livro de M i k h a i l B a k h t i n sobre o escritor F r a n ç o i s Rabelais,
fantasma e religião são totalmente equivalentes, t o d o s p a r e c e m
que lhe p e r m i t e a b o r d a r aspectos decisivos da c u l t u r a p o p u l a r
referir-se a u m mesmo p a t a m a r fenomenològico. O r a , s a b e m o s
da Idade M é d i a e d o R e n a s c i m e n t o que se colocam f r o n t a l m e n t e
que a chamada mística do x a m a n i s m o não tem n a d a a ver c o m
c o n t r a a repressão religiosa.
a mística especulativa cristã, ou a cabala judaica, ou o s u f i s m o
árabe. Uma mística de base mítica não tem a b s o l u t a m e n t e n a d a
em c o m u m nem com a tradição judaica profética da proibição das imagens (Bildverbot) nem com a teologia negativa da
tradição de Plotino e Dionísio Areopagita, que n e g a m n ã o só
imagens, mas t a m b é m qualquer atributo divino, isto é, contri-
O homem medieval sentia no riso, com uma acuidade particular, a vitória sobre o medo, não somente como uma vitória
sobre o terror místico ("terror divino") e o medo que inspiravam as forças da natureza, mas antes de tudo como uma vitória
sobre o medo moral que acorrentava, oprimia e obscurecia a
buíram precisamente para a negação mais radical do culto às
imagens. Nos estudos de religião levados a cabo m e s m o pela origem da sociologia em D u r k h e i m e Max Weber, há u m esforço de
diferenciação qualitativa das religiões em diferentes civilizações
e estágios histórico-culturais. C o m a antropologia, o questionamento dessas categorias é ainda mais avançado. U m a ànsia
marxiana de contrapor-se à teologia de certo m o d o fez com que
BENNETT, lane. C o m m o d i t y Fetishism and C o m m o d i t y E n c h a n t m e n t .
Theory ά Event, Volume 5, Issue 1, p. 8-10, 2001. A crítica da autora de
u m a c o m p r e e n s ã o preconceituosa d o a n i m i s m o em M a r x é interessante,
b e m c o m o o q u e s t i o n a m e n t o d o s pressupostos da desmistificação, m a s a
a f i r m a ç ã o de u m "encanto m o d e r n o " da m e r c a d o r i a contra a teoria crítica é
suspeita, c o m p r e e n d e n d o mal a necessidade da crítica da i n d ú s t r i a cultural
hoje. De qualquer m o d o , seu a r g u m e n t o ignora a validade da mística para
experiências de e n c a n t a m e n t o .
286
EDUARDO GUERREIRO Β
CRÍTICA E MISTICA
consciência do homem, o medo de tudo que era sagrado e interdito ("tabu" e "maná"), o medo do poder divino e humano, dos
mandamentos e proibições autoritárias, da morte e dos castigos
de além-túmulo, do inferno, de tudo que era mais temível que a
terra. Ao derrotar esse medo, o riso esclarecia a consciência do
homem, revelava-lhe um novo mundo. Na verdade, essa vitória
efêmera só durava o período da festa e era logo seguida por dias
ordinários de medo e de opressão; mas graças aos clarões que
a consciência humana assim entrevia, ela podia formar para si
uma verdade diferente, não oficial, sobre o m u n d o e o homem,
que preparava a nova autoconsciência do Renascimento. 10
losso
287
Percebe-se q u e e m M a r x e e m B a k h t i n h á p r o c e d i m e n t o s
c o m u n s : o u s o i n d i s c r i m i n a d o d o a d j e t i v o " m í s t i c a " p a r a design a r c r e n d i c e s p o p u l a r e s q u e i l u d e m as pessoas, i m p o s s i b i l i t a m o
exercício d a r a z ã o e m a n c i p a t ó r i a e r e p r i m e m desejos q u e satisf a z e m o h o m e m . E m B a k h t i n , o riso, a festa d o c a r n a v a l m e d i e val e a s u a d e c o r r e n t e p r o f a n a ç ã o literária p r o d u z e m d e s m i s t i ficações e f i c a z e s d a c r e n ç a e d o i m a g i n á r i o "místico". " M í s t i c a "
s e m p r e se refere, p o r t a n t o , ao p l a n o
mítico-fantasmagórico,
produzindo crendice, superstição e alucinações.
Eu p o d e r i a citar v á r i o s o u t r o s t e ó r i c o s d o século X X m u i t o
influentes que caem exatamente no m e s m o problema,
mas
Esse exemplo retirado do livro, s o m a d o a a l g u n s o u t r o s rela-
esses d o i s casos são e x e m p l a r e s e r e p r e s e n t a m b e m a t e n d ê n c i a
tivos à mística, a f i r m a o p o d e r esclarecedor d o riso, a a t i v i d a d e
geral. N ã o é o caso, a q u i , d e a n a l i s a r os teóricos i m p o r t a n t e s da
consciente e e m p r e e n d e d o r a d o h o m e m (valores b u r g u e s e s d o
m í s t i c a e f u n d a m e n t a r u m u s o m a i s a d e q u a d o , o q u e já fiz na
Renascimento) e a p r o f a n a ç ã o c ô m i c a e grotesca, p r ó p r i a d a
m i n h a tese. 12 O q u e n o s interessa é a p o n t a r q u e os críticos d a
literatura, que regem a carnavalização de Rabelais. B a k h t i n
religião o p e r a r a m o q u e é c o m u m e n t e c h a m a d o d e u m a d e s m i s -
contrapõe essas qualidades e m a n c i p a d o r a s ao 1 m u n d o velho e
t i f i c a ç ã o n ã o só d a religião, m a s t a m b é m d a s f o r m a s d e a b s t r a -
agonizante" 11 da religião medieval (as q u a i s ele liga, a m e u ver
ção ottto-tcológica d a m e t a f í s i c a . P o d e m o s d i z e r q u e a o p e r a ç ã o
erradamente, a noções da antropologia c o m o " t a b u " e " m a n á " ,
d e desmistificação
de Marcel Mauss et alii), cujas características negativas associa-
m a t e r i a l i s t a , seja m a r x i s t a , seja positivista. N o caso da p r i m e i r a ,
das à mística são: o m e d o moral d o s a g r a d o e d o interdito, a f a n -
d i r e t a m e n t e ligada à a n á l i s e m a r x i a n a t a n t o d a m i s t i f i c a ç ã o da
tasmagoria das visões "místicas" e a simbologia d o s n ú m e r o s ,
íilosofia hegeliana q u a n t o d o s p r o c e s s o s e c o n ô m i c o s d o capi-
baseada n u m a operação de mistificação ilusória.
tal, q u e p r o d u z e m a falsa consciência 1 3 ) é a essência d a a t i v i d a d e
(categoria i n t r i n s e c a m e n t e ligada à crítica
crítica m o d e r n a , seja d e base m a r x i s t a , h e r m e n ê u t i c a ontológica
ou d e s c o n s t r u c i o n i s t a . A teoria m o d e r n a d e s m i s t i f i c a d i f e r e n t e s
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no
Renascimento;
o contexto de François Rabelais. São Paulo: Huciteç, 1987. p. 78. Ver o u tros exemplos em que o personagem Panurge é acossado por "fantasmas
místicos na p. 150; a consciência da "força p u r a m e n t e h u m a n a , material
e corporal" vence os terrores místicos", p. 259; e a profanação satírica dos
números contra a a utilização simbólica, metafísica e mística dos n ú m e ros", p. 408-409.
BAKHTIN, A cultura popular na Idade Média e no Renascimentop.
259.
manifestações de mistificação: crendices populares Pré-Moder-
12
LOSSÜ, E d u a r d o G u e r r e i r o Brito. Teologia negativa e Theodor Adorno. A
secularizarlo
da mística tia arte moderna. Rio de Janeiro: U F RJ/Faculdade
de Letras, 2007. p. 231-259.
FOULKES, A. Peter. Literature
p. 55-70.
and Propaganda.
London: M e t h u e n , 1983.
288
EDUARDO GUERREIRO Β.
CRÍTICA E MÍSTICA
Losso
283
nas, estereotipos m o d e r n o s da mídia, e s t r u t u r a s sociais, cultu-
os q u e p e n s a m q u e o lado místico desses artistas e filósofos é o
e econômicas, filosofias metafísicas tradicionais e pressu-
seu p o n t o fraco, algo q u e os d i m i n u i e q u e eles p o d e r i a m pres-
rais
postos metafísicos de outras teorias m o d e r n a s .
O problema que e n c o n t r a m o s a p a r t i r daí é que, e m p r i m e i r o
lugar, a maioria dos teóricos que p r a t i c a m essa crítica desconhece os estudos de mística e ignora a diferença básica e n t r e
cindir, s e m p r e o b s e r v o que os que p e n s a m assim s i m p l e s m e n t e
n ã o e s t u d a r a m n e m p e n s a r a m a f u n d o a questão: eu diria que é
nessa " f r a q u e z a " que está a sua força, p a r a f r a s e a n d o Paulo (cf.
2 C o r 12,9).
místicas "primitivas" (das quais os a n t r o p ó l o g o s t e r i a m m u i t o a
O místico inverte o princípio d e d o m i n a ç ã o da n a t u r e z a e
dizer em sua defesa) e místicas de g r a n d e s civilizações (são as que
p r e t e n d e , p o r meio da ascese, u m t r a b a l h o ativo n o núcleo da
nos interessam: judaica, cristã, árabe, h i n d u , japonesa etc.), c u j o
experiência. Se t o d a s as v a n t a g e n s materiais p r e t e n d e m satisfa-
conteúdo teórico e prático é e x t r e m a m e n t e a v a n ç a d o e m t e r m o s
zer o c o n f o r t o , o místico n ã o p r o c u r a a posse de bens, m a s q u e r
filosóficos, literários e ascéticos. Em s e g u n d o lugar, esquece que
t r a n s f o r m a r a experiência c o m a m e d i t a ç ã o da e t e r n i d a d e n o
a mística ocidental tradicional, por conter u m caráter subversivo
i n s t a n t e , isto é, n o c e r n e de nossa f r a q u e z a m o r t a l , o místico
em relação a ortodoxias, ainda que não deixe de f u n d a m e n t a r - s e
q u e r e n c o n t r a r u m i n s t a n t e de júbilo i m o r t a l . M u i t o s místicos
numa religião, contém o maior potencial e m a n c i p a t ó r i o e crítico
i n s i s t i r a m n o topos da e t e r n i d a d e n o instante. Cito u m místico e
de sua época, 14 por isso m e s m o seus efeitos p r o p a g a r a m - s e na
p o e t a pietista a l e m ã o c h a m a d o G e r h a r d Tersteegen (1697-1769),
quintessência de boa parte da filosofia da M o d e r n i d a d e ( p e n s o
n u m a t r a d u ç ã o livre m i n h a :
aqui no idealismo alemão, Schopenhauer, Nietzsche, Bataille,
Heidegger, Benjamin, Adorno, Bloch...) e mais a i n d a na m a i o r
parte dos grandes nomes da literatura da M o d e r n i d a d e (só para
ficar na poesia, há mística, nada mais nada m e n o s , nos três
maiores: Baudelaire, Rimbaud e Mallarmé), o n d e se p o d e dizer
que há uma verdadeira mística própria da a r t e moderna. 1 5 Para
14
ADORNO, Theodor W. Band 16. Musikalische Schriften 1: Klangfiguren. II:
Quasi una fantasia. III: Musikalische Schriften. P r a n k f u r t am Main: Suhrkamp, 1978. p. 463. A D O R N O , Theodor W. Band 20,2: Vermischte Schriften
IL Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1978 - c o m e n t á r i o sobre a ligação entre
mística e esclarecimento em Gerschom Scholem, p. 481. Para u m estudo da
relação entre Adorno e mística: LOSSO, Teologia negativa e Theodor Adorno..., p. 174-303.
É na Alemanha que esta discussão está em seu estágio mais avançado, a
meu ver. Quem preparou o terreno para ela foi a antologia de textos tradicionais e modernos de Hans Dieter Z I M M E R M A N N Rationalität
und
O instante divino
Mergulha no silencioso agora, o instante divino
Calmo, querido e memorável, nem adiante nem atrás!
Kntão abandona-te a Deus profundamente e a Ele te inclina
E espera com paciência, até que ele mesmo se mostre! 16
Mystik ( F r a n k f u r t am Main: Insel. 1981). Mas o livro que estabeleceu u m a
p r i m e i r a tese é de M a r t i n a W A G N E R - E G E L H A A F Mystik der Moderne;
die visionäre Ästhetik der d e u t s c h e n Literatur im 20. J a h r h u n d e r t (Stuttgart: Metzler, 1989). SPÖRL, Uwe. Gottlose Mystik in der deutschen
Literatur um die Jahrhundertwende.
Paderborn: Schöningh, 1997. A bibliografìa
está s e m p r e crescendo, m a s esses i n t r o d u z e m a questão. Para u m r e s u m o
e avaliação da mistica na M o d e r n i d a d e , ver LOSSO, Teologia negativa e
Theodor Adorno..., p. 281-298.
T E R S T E E G E N , G e r h a r d . Geistliches Blumengärtiein.
Stuttgart: J. F. Steinkopf, 1956. p. 54: "Der göttliche Augenblick / Senk dich ins stille N u n , den
göttlich η Augenblick, / Sanft, lieblich u n d gedenk nicht vorwärts noch
EDUARDO GUERREIRO Β
2 9 0
Losso
2 9 1
CRITICA L MISTICA
O que esse pequeno p o e m a deixa e m estado de mistério
Meister Eckhart nos esclarece:
Muitas vezes já disse que há uma força na alma, a que não
tange nem o tempo nem a carne; ela flui do espírito e permanece no espírito e é toda inteiramente espiritual. Nela, Deus é
tão florescente e verdejante em toda a alegria e em toda glória,
como ele é em si mesmo. [...] Digamos que um homem possuísse
todo um reino ou toda a riqueza da terra, mas que a doasse
puramente por e para Deus e se tornasse um dos homens mais
pobres, vivendo nalgum canto da terra, e que Deus então lhe
desse tanto a sofrer como jamais o permitiu a um homem e a
tudo isso esse homem sofresse até sua morte; e se Deus lhe deixasse, por uma única vez, apenas num lance de olho, ver como
ele é nessa força: sua alegria seria tão grande que todo esse
sofrer e toda essa pobreza teriam sido ainda pouco demais. Sim,
mesmo que Deus depois nunca mais lhe desse o reino do céu,
teria, porém, recebido uma recompensa grande demais, por
tudo quanto sofrera; pois Deus é nessa força como no eterno
instante. Se o espírito estivesse unido com Deus todo o tempo
nessa força, o homem não poderia envelhecer; pois o instante
em que ele criou o primeiro homem, o instante em que há de
perecer o último homem e o instante em que eu estou falando,
agora, são iguais em Deus e nada mais do que um instante. 17
lugar, q u e o p r i m e i r o g r a n d e p e n s a d o r d o conceito de M o d e r n i d a d e foi u m poeta: C h a r l e s Baudelaire. Foi ele q u e escreveu as
s e g u i n t e s frases: "A M o d e r n i d a d e é o transitório, o efémero, o
c o n t i n g e n t e , é a m e t a d e d a arte, s e n d o a o u t r a m e t a d e o e t e r n o
e o imutável" 1 8 e " E m p o u c a s palavras, p a r a q u e toda M o d e r n i d a d e seja d i g n a de t o r n a r - s e A n t i g u i d a d e , é necessário q u e dela
se extraia a beleza misteriosa q u e a vida h u m a n a i n v o l u n t a r i a m e n t e lhe confere". 1 ' Isso q u e r dizer que a origem d o conceito
de M o d e r n i d a d e poética, ao se c o n t r a p o r ao culto bolorento d o
p a s s a d o (feito pelos p i n t o r e s da é p o c a de Baudelaire), está e m
extrair, n a s palavras d e E c k h a r t , a força d o e t e r n o da efemerid a d e e c o n t i n g ê n c i a d o instante, de m o d o que a f r a q u e z a d o instante c o n t é m sua e t e r n i d a d e .
A p a r t i r daí p o d e m o s d e s c o r t i n a r vários p o e m a s m o d e r n o s .
Recolho exemplos de M u r i l o M e n d e s : " P a s s e a m o s nas a l a m e d a s
d o lustre. / C a d a i n s t a n t e a s s u m e u m século"; 20 " D o s telhados
abstratos / Vejo os limites da pele, / Assisto crescerem os cabelos
dos m i n u t o s / N o instante da eternidade"; 2 1 "A poesia da eternid a d e esclarecendo, c o m p l e t a n d o e a m p l i a n d o a poesia do t e m p o
[...] O s poetas r e c o n d u z i r ã o o h o m e m a Deus. E s u b m e t e r ã o os
chefes t e m p o r a i s à o r d e m da caridade"; 2 2 "A e t e r n i d a d e n ã o m e
será u m simples refúgio; já sou eterno". 2 3
A linguagem desses dois místicos parece ser d e m a s i a d a mente religiosa aos olhos modernos? Por mais diferenças q u e
BAUDFI AIRE, Charles. A modernidade
e Terra, 1988. p. 174.
existam entre poetas m o d e r n o s e místicos, as conexões são mais
surpreendentes do que se pensa. Basta lembrar, e m p r i m e i r o
zurück! / So überlaß dich Gott, dich innig in ihn neige / Und warte in Geduld, bis er sich selbst dir zeige!"
ECK HART, Meister. Sermões alemães; sermões 1 a 60. Petrópolis: Vozes,
2006. v. 1, p. 48-49.
19
de Baudelaire.
Rio de Janeiro: Paz
Ibid., p. 175.
M E N D E S , Murilo. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Ed. Nova Aguilar, 1994. p. 430.
21
Ibid., p. 332.
22
Ibid., p. 760-761.
23
Ibid., p. 761.
2 9 2
E D U A R D O G U E R R E I R O Β. L O S S O
CRÍTICA E MÍSTICA
De todos os exemplos do topos f o c a d o , o m a i s i m p r e s s i o nante é esse: "A e t e r n i d a d e será u m t e m p o i n f i n i t o - ou antes,
2 8 3
p o e t a s m o d e r n o s t a n t o f i z e r a m , a p o n t o de, e m c e r t o s a s p e c t o s ,
c o n f u n d i r e m - s e c o m eles.
u m estado infinito?" 2 4 Nele fica e x p o s t o q u e a a p a r e n t e a m b i ç ã o
S e g u n d o : p a r a e n t e n d e r as a m b i ç õ e s e as singelezas m a i s r a d i -
desmedida do poeta de p r e t e n d e r s u b s t i t u i r os chefes d o m u n d o
cais d a poesia m o d e r n a , c o m sua b a u d e l a i r i a n a "beleza e x t r a -
pelos poetas, de considerar-se eterno, de e s t a r o p e r a n d o a " p o e -
vagante", é preciso m e r g u l h a r na m í s t i c a , pois a m í s t i c a é u m
sia da eternidade", toda essa p r e p o t ê n c i a m o s t r a q u e a a m b i ç ã o
fenómeno, c o m o a f i r m o u Certeau, ao m e s m o tempo estranho e
de ser poderoso dá-se s o m e n t e na fraqueza,
essencial: 2 a e s t r a n h a e s s e n c i a l i d a d e d a m í s t i c a , c o m seu gosto
experiência,
na delicadeza
da
d e p e n d e n t e de estados de consciência. O q u e o
poeta, com sua mística, anseia é p o r u m e s t a d o i n f i n i t o d e sensação de eternidade, e não t o r n a r - s e u m ser e t e r n o . D r u m m o n d :
"E que mais, vida eterna, m e planejas? / O q u e se d e s a t o u n u m
só m o m e n t o / não cabe no infinito, e é f u g a e v e n t o ' / ' O e s t a d o
infinito, de tão eterno, n ã o cabe d o infinito, e foge p a r a a vaga
fragilidade do instante. A e s t r a n h a conclusão a q u e c h e g u e i c o m
o famoso imperativo de R i m b a u d u é preciso ser a b s o l u t a m e n t e
moderno", b e m ao c o n t r á r i o d o jargão da d e s m i s t i f i c a ç ã o , é a
seguinte: para ser absolutamente
mente
moderno
é preciso ser
minima-
místico.
pelo p a r a d o x o e pela coincidentia
dialé-
Terceiro: o q u e p o d e m o s c h a m a r d e m í s t i c a m o d e r n a está,
e m b o a p a r t e d e sua m e l h o r s a f r a , na poesia m o d e r n a . E se a
poesia m o d e r n a é t ã o crítica, d i s s o n a n t e e d e c e p c i o n a n t e p a r a a
b u r g u e s i a , é p o r q u e ela é f r u t o d e u m m o d o d e viver e s t r a n h o ,
d i f e r e n t e , q u e critica n a s o c i e d a d e m o d e r n a o seu l a m e n t á v e l
d e s p r e z o pela p o t e n c i a l i d a d e o c u l t a e i n f i n i t a d a e x p e r i ê n c i a . A
r a i z d o gesto crítico n a poesia m o d e r n a está, p o r t a n t o , n a capac i d a d e , mística,
é crítica, então. Ela relativiza o êxtase ou os e s t i g m a s c o m o
u m signo que se torna u m a m i r a g e m caso se os fixe >l ( t r a d u ção minha). 2 6 Em outras palavras: a mística é d e s m i t i f i c a d o r a .
A melhor sugestão que se p o d e d a r àqueles q u e p r o f e s s a m o
discurso da desmisficação é que, p r i m e i r o , para desmistificar, é
preciso aprender muito com os místicos, p r e c i s a m e n t e c o m o os
Ibid., p. 869.
ANDRADE, Carlos D r u m m o n d de. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 2002. p. 421.
CERTEAU, Michel de. Le lieu de l'autre; histoire religieuse et mystique. Paris: Gallimard, 2005. p. 333.
isto é,pela
tica, é a chave d e sua o c u l t a e e n i g m á t i c a M o d e r n i d a d e .
Certeau a f i r m o u que a mística é 'realista, e n g a j a d a [...] Ela
24
oppositorum,
Ibid., p. 329.
de extração m á x i m a de vitalidade no instante.