universidade federal da paraíba centro de ciências
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS PROPGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGÜÍSTICA – PROLING ENEIDA MARTINS DE OLIVEIRA A PRODUÇÃO TEXTUAL EM COMUNICAÇÃO SOCIAL: UMA PROPOSTA MULTIMODAL ORIENTADORA: Profª Drª Marianne Carvalho Bezerra Cavalcante João Pessoa, dezembro de 2009 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS PROPGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGÜÍSTICA – PROLING ENEIDA MARTINS DE OLIVEIRA A PRODUÇÃO TEXTUAL EM COMUNICAÇÃO SOCIAL: UMA PROPOSTA MULTIMODAL Tese apresentada ao Programa de PósGraduação em Lingüística da UFPB, como requisito parcial para obtenção do título de doutor em Lingüística. ORIENTADORA: PROFª DRª MARIANNE CARVALHO BEZERRA CAVALCANTE João Pessoa, dezembro de 2009 2 O48p Oliveira, Eneida Martins de. A produção textual em comunicação social: uma proposta multimodal / Eneida Martins de Oliveira.-- João Pessoa, 2009. 133f. Orientadora: Marianne Carvalho Bezerra Cavalcante Tese (Doutorado) - UFPB/PROLING 1. Linguística. 2. Letramento modal. 3. Sequência didática. 4. Multimodalidade. 5. Produção textual. UFPB/BC CDU: 801(043) 3 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS PROPGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGÜÍSTICA – PROLING ENEIDA MARTINS DE OLIVEIRA A PRODUÇÃO TEXTUAL EM COMUNICAÇÃO SOCIAL: UMA PROPOSTA MULTIMODAL Aprovada em ____/_____/_____ EXAMINADORES: ____________________________________________ Profª Drª Marianne Carvalho Bezerra Cavalcante PROLING/UFPB - Orientadora ____________________________________________ Profª Drª Cristina Teixeira Vieira de Melo PPGCOM/UFPE ___________________________________________ Profª Drª Elizabeth Marcuschi PPGL/UFPE ____________________________________________ Profª Drª Evangelina Maria Brito de Farias PROLING/UFPB ____________________________________________ Prof. Dr. Jan Edson Rodrigues-Leite PROLING/UFPB 4 DEDICATÓRIA Ao meu Pai Aos meus irmãos À minha mãe que já não está entre nós Ao meu irmão a quem Deus levou repentinamente e que, provavelmente, não entenderia a importância e o valor deste curso, mas, com certeza, teria um orgulho imenso de ter uma irmã doutora. 5 “Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos Mal rompe a manhã”. Carlos Drumond de Andrade 6 AGRADECIMENTOS A Deus, por me ter guiado e sustentado nos bons e maus momentos durante o trajeto deste curso. À minha orientadora Profª Marianne Cavalcante, pela segurança, paciência e confiança na orientação desta tese, tendo muitas que segurar a caneta e até mesmo a minha mão, para que eu pudesse prosseguir, nos momentos (e foram muitos) em que quase desistia de tudo. À Profª Marisa Bernardes, amiga de todas as horas, pela leitura criteriosa desta tese e pelas contribuições apresentadas. Ao PROLING por me ter me proporcionado a oportunidade de realizar esse curso e ao DLCV por permitir o afastamento. Aos alunos do Curso Comunicação Social, período 2007.2, Jornalismo e Radialismo, pela participação na pesquisa. A Isabelle, pela valiosa ajuda com as figuras que insistiam em mudar de lugar. Às amigas Gilca Maria Dias Vieira e Sônia Maria Bargetzi Nóbrega, da Assessoria Internacional da UFPB que, mesmo atarefadas com os trabalhos da Assessoria, prontificaram-se em fazer o Abstract e do Résumé. À amiga Dilma, pela constante presença, principalmente nos momentos mais difíceis pelos quais passei durante todo o período do curso. Aos meus sobrinhos, queridos e amados, por terem suportado todo o meu estresse, e todo o nervosismo e ainda continuarem do meu lado. Às minhas lindinhas Amanda e Laryssa por terem que conviver com a minha ausência muitas vezes. Ao amigo e irmão Samuel pela ajuda nas leituras em inglês. Aos amigos e irmãos da Igreja Presbiteriana de Cruz das Armas, especialmente ao Rev. Aldenísio Avelino de Souza, pela força e apoio material e espiritual. Aos amigos e primos Rita e Djilas, pelas orações e apoio nas horas difíceis. Aos demais amigos e ex-alunos que torceram por mim durante toda essa trajetória 7 RESUMO Nesta pesquisa propomo-nos a trabalhar o letramento multimodal em gêneros midiáticos numa proposta didática de leitura e produção textual com alunos dos Cursos de Graduação em Comunicação Social, cujos objetivos são: 1)desenvolver práticas de letramento multimodal, na produção textual,com os alunos do curso de graduação em Comunicação Social (jornalismo e radialismo); 2) construir com os alunos a noção de multimodalidade nos gêneros midiáticos (notícia, crônicas, e demais matérias jornalísticas, etc...); 3) desenvolver práticas de leitura e escrita significativa de textos multimodais em sala de aula, com base na proposta de Schneuwly e Dolz (2004); 4) avaliar esse processo de letramento multimodal, a partir das práticas de leitura e escrita desenvolvidas ao longo da pesquisa e dos textos produzidos pelos alunos. Exploramos o processo de produção textual, com alunos do curso mencionado, promovendo assim o letramento multimodal do produtor de texto, a partir de um trabalho com seqüências didáticas, conforme proposta por Schnewly & Dolz (2004). A fundamentação teórica explora o letramento e a multimodalidade, como base em autores tais como MARCUSCHI (2005), SOARES ( 2004), KLEIMAN (1995/2005); KRESS e van LEEUWEN (1996), DIONÍSIO (2005), VIEIRA (2007), ALMEIDA (2008). Na metodologia apresentamos a proposta de SCHNEWLY & DOLZ (2004), tecemos considerações sobre gêneros textuais, baseados em MARCUSCHI (2005), KLEIMANN (1995/2005) e descrevemos todo o processo de produção textual. A análise dos textos produzidos pelos 16 alunos selecionados mostra que esses textos, elaborados conforme a seqüência didática proposta, apresentaram peculiaridades no processo de elaboração, como a resistência dos alunos na reescrita, o que demonstra ser esta uma prática marginal à história de letramento dos sujeitos autores. Os textos analisados atenderam ao gênero textual escolhido pelo produtor, aos fatores de textualidade, pois são coesos, coerentes, evidenciam as marcas de autoria, em alguns deles vemos intertextualidade com outros textos conhecido. Com respeito à multimodalidade, os textos mostram o grau de letramento dos produtores na sua construção, adequados às funções da linguagem e aos princípios de composição propostos por KRESS & van LEEUWEN (1996) e adotados para esta análise. Nas considerações finais destacamos a contribuição da teoria e sua adequação à produção do texto multimodal, assim como aquilo que na teoria não se adequa nem se aplica a essa produção, como por exemplo, as questões relativas o valor informativo da esquerda e da direita, o dado e o novo, centro e margens, a importância das cores, apontando para possíveis mudanças que venham a contribuir para o processo de produção do texto multimodal no ensino superior. Palavras-chaves: seqüência didática, multimodalidade, produção textual 8 ABSTRACT The purpose of this research is to investigate multimodal literacy in media genres considering a didactic proposal to reading and text production with students from Undergraduate Social Communication Course. The targets are: 1) To develop practices of multimodal literacy through textual production with students from Undergraduate Social Communication Course (Journalism and Broadcast); 2) To build up students’ perception of multimodality in media genres such as: news, chronicles among other media genres, etc.); 3) to develop reading practices and significant writing skills of multimodal texts in classroom, which is based on Schneuwly and Dolz’s proposals (2004); 4) to evaluate the multimodal literacy process taking in consideration the reading and writing practices developed throughout the research as well as the texts produced by the students. We explored the process of textual production with students from the above mentioned course, thus promoting the multimodal literacy of the text producer, based on work with didactic sequences as proposed by Schnewly & Dolz (2004).The theoretical framework draws on literacy and modality explored by MARCUSCHI (2005), SOARES (2004), KLEIMAN (1995/2005); KRESS e van LEEUWEN (1996), DIONÍSIO (2005), VIEIRA (2007), ALMEIDA (2008). The methodological perspective is based on SCHNEWLY & DOLZ (2004) proposals. We discussed aspects about textual genre following MARCUSCHI (2005), KLEIMANN (1995/2005) described the whole textual production. The analysis of the texts produced by the 16 selected students following the didactic sequence proposed showed peculiarities in the process of text elaboration such as student’s resistance to rewrite, a marginal practice in the literacy history of subject/authors. The texts were in line with the genre chosen by the producer, with textual factors, for they were cohesive, coherent and evidenced the authorship marks. In some of them there occurred intertextuality using other known texts. Considering the concept of multimodality, the texts make it visible the level of literacy of text producers, responding to the language function as well as to composition principles proposed by KRESS & van LEEUWEN (1996) and explored in this analysis. Finally, we emphasized the contribution of the theory and its applicability to the multimodal textual production, as well as to that which does not fit the theory, neither to this production. For example, the related questions to given and new: the information value of left and write, center and margin, the colors importance of colors, pointing to possible changes which contribute to the multimodal textual production process in Higher Education. Kew words: didactic sequences, multimodality, textual production. 9 RÉSUMÉ Dans cette recherche, nous nous proposons à travailler la littéracie multimodale en genres médiatiques, avec une proposition didactique de lecture et de production textuelle avec des élèves du Cours de Communication Sociale. Les buts sont de :1) développer les pratiques de la littéracie multimodale par la production textuelle auprès des élèves du Cours de Communication Sociale (Journalisme et Radialisme); 2) Construire avec des élèves la notion de multimodalité dans les genres médiatiques (notes, chroniques et d’autres matières journalistiques, etc..); 3) développer des pratiques significatives de lecture et d’écriture de textes multimodaux en salle de classe, ayant pour base la proposition de Schneuwly et Dolz (2004); 4) évaluer ce processus de littéracie multimodale, à partir des pratiques de lecture et d’écriture développées tout le long de la recherche et des textes produits par des élèves. Nous exploitons le processus de la production textuelle avec des élèves du cours mentionné, pour mettre en relief, de cette façon, la littéracie multimodale du producteur du texte, à partir d’un travail de séquences didactiques, selon la proposition de Schnewly & Dolz (2004). Le fondement théorique exploite la littéracie et la multimodalité ayant pour base les auteurs : MARCUSHI (2005), SOARES (2004), KLEIMAN (1995/2005); KRESS et Van LEEUWEN (1996), DIONÍSIO (2005), VIEIRA (2007), ALMEIDA (2008). Dans la méthodologie, nous présentons la proposition de SCHNEWLY & DOLZ (2004), en formulant des observations sur les genres textuels, d’après MARCUSHI (2005), KLEIMAN (1995/2005), et en décrivant tout le processus de la production textuelle. L’analyse des textes produits par 16 élèves sélectionnés démontre que ces textes, élaborés selon une séquence didactique proposée, ont presenté des particularités dans le processus d’élaboration, comme la résistence à la réécriture par des élèves, ce qui indique une pratique marginale à l’histoire de la littéracie des sujets auteurs. Les textes analysés ont atteint au genre textuel choisi par le producteur, aux facteurs textuels puisqu’ils sont homogènes, cohérents, et démontrent des traits de l’auteur, en certains textes nous voyons l’intertextualité avec d’autres connus. Par rapport à la multimodalité, les textes revèlent le degré de la littéracie des producteurs dans sa construction, adéquats aux fonctions du langage et aux principes de composition proposés par KRESS & van LEEUWEN (1996), et appliqués à cette analyse. Dans les considérations finales, nous mettons l’accent sur la contribution de la théorie et son adéquation à la production du texte multimodal, aussi bien qu’à ce qui ne s’adapte pas à la théorie et ne s’applique pas à cette production comme, par exemple, les questions relatives à la valeur informative de gauche et de droite, le donné et le nouveau, centre et bords, l’importance des couleurs, visant à établir des possibles changements qui pourront contribuire au processus de la production du texte multimodal dans l’enseignement supérieur. Mots-clé: séquence didactique, multimodalité, production textuelle. 10 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – As metafunções Halliday, Kress e van Leeuwen................................ 32 Quadro 2 – Elementos da função composicional ................................................ . 35 Quadro 3 – Fluxograma do curso de jornalismo................................................... 51 Quadro 4 – Fluxograma do curso de Rádio e TV ................................................. 52 Quadro 5 – Gêneros do narrar .............................................................................. 61 Quadro 6 – Gêneros do Relatar ............................................................................ 65 Quadro 7 – Freqüência às oficinas ........................................................................ 67 Quadro 8- Demonstrativo da ocorrência dos fatores de textualidade ................ 86 Quadro 9 – Informatividade nos textos .............................................................. 119 11 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Gêneros do narrar ..................................................................................... 62 Gráfico 2 – Gêneros do relatar .................................................................................... 65 Gráfico 3 – Freqüência às oficinas ............................................................................ 68 12 SUMÁRIO Introdução .................................................................................... 11 I – Apropriando-se das teorias: letramento e multimodade ................. 15 Letramento do ensino fundamental e médio para o ensino superior . 15 1.1 – Das concepções de letramento ao letramento multimodal......... 15 1.2 – Multimodalide: A construção de uma gramática .................... 26 II – A construção de uma proposta metodológica.................................. 50 III – A produção multimodal: processo e análise .................................... 71 Considerações finais................................................................................ 121 Referências ...................................................................................... 127 Anexos .............................................................................................. 132 13 LISTA DE ANEXOS Anexo A ............................................................................................... 132 Textos originais (manuscritos) Anexo B .............................................................................................. 133 Textos originais (digitados) Anexo C ...... ...................................................................................... 134 Textos teórico-informativos .............................................................. Anexo D ............................................................................................. 135 Textos de gêneros textuais diversos 14 INTRODUÇÃO Considerando as dificuldades e problemas com que professores se deparam nos primeiros períodos dos cursos de graduação, com relação à leitura e produção textual dos alunos e considerando ainda as condições ou situações em que são trabalhadas essas práticas de leitura e de produção, na Universidade, propomo-nos a trabalhar o letramento multimodal em gêneros midiáticos numa proposta didática de leitura e produção textual com alunos dos Cursos de Graduação em Comunicação Social. O interesse na multimodalidade dá-se em virtude de os textos midiáticos, objeto de trabalho dos alunos de Comunicação Social, serem eminentemente multimodais e, pelo fato de não mais ser possível ignorar ou desconsiderar o estudo desses textos. Há já algum tempo, temos vivenciado uma mudança significativa na maneira de tratar os textos que circulam em nossa sociedade, principalmente aqueles veiculados pela mídia. As múltiplas linguagens encontradas nos textos verbais (fala e escrita) e nos não-verbais (imagens, sons, gestos, etc.) eram estudadas ou analisadas de maneira isolada e estanque, ou apenas uma dessas linguagens (a verbal) era valorizada no estudo do texto. Hoje, já não podemos mais ignorar essas linguagens não-verbais que, ao lado da linguagem verbal, compõem os textos atualmente produzidos e lidos socialmente. São imagens (fotos), gráficos e diagramas que, juntamente com alguns recursos de composição e impressão, como tipo de papel, cor, diagramação da página, formato das letras, integram-se aos gêneros textuais escritos, onde a escrita é apenas uma das maneiras de representar as mensagens. Dentro dessas mudanças destacamos a importância da leitura, da escrita, do letramento, considerados como práticas sociais e utilizados pelos membros de uma sociedade, como instrumento de inserção nessa mesma sociedade, independentemente da classe social a que pertençam e do seu nível de escolarização. Daí a necessidade de a escola rever a sua prática com relação à leitura e à escrita, levando em conta que estamos vivendo numa sociedade cada dia mais visual e, ainda ,que o letramento, (visual ou não), tem relação direta com a organização social das comunidades e, em conseqüência disso, com a organização dos gêneros textuais, e essas práticas devem servir para que o aluno, através delas, chegue à condição satisfatória de letramento para inserir-se na sociedade onde vive. Este trabalho nasce de um interesse que tem acompanhado toda a minha vida acadêmica, qual seja, o de melhorar a prática de leitura e, principalmente, o da produção textual dos alunos universitários, tentando suprir a lacuna que todos nós conhecemos, deixada pelo Ensino Fundamental e Médio. Nasce também, da inquietação e da preocupação que todos, ou quase todos os professores universitários temos com a produção textual dos seus alunos. 15 Sabemos que o ensino da língua portuguesa nas escolas de Ensino Fundamental e Médio, apesar das muitas pesquisas e trabalhos existentes a respeito, continua sendo realizado de forma compartimentalizada, fora e, muitas vezes, distante da realidade do aluno, do contexto onde ele vive, ignorando, inclusive, aquilo que ele já conhece quando entra para a escola. Ou seja, a escola continua preocupando-se apenas com a língua padrão, desconsiderando e desvalorizando a variedade lingüística falada pelo educando quando chega à escola, variedade essa com que ele se comunica no meio onde vive. Isso tem conseqüências sérias durante toda a sua vida. Encontramos, freqüentemente, na universidade, alunos que lêem mal e não sabem se expressar, quando solicitados para falar ou escrever alguma coisa. Com esse perfil chegam os nossos alunos à Universidade que, por ser um meio acadêmico, onde se produz o conhecimento, talvez o último por onde passem esses alunos, tem a tarefa de resgatar essas práticas, dar condições e criar situações que despertem o interesse do aluno pela leitura/escrita, incentivando-os à produção textual através da qual possam demonstrar a sua capacidade de reflexão e de criação, considerando ainda que essas práticas (a da leitura e escrita) são de fundamental importância na vida de futuros jornalistas, pois os textos que porventura escreverão no exercício de sua profissão não podem e não devem ser apenas informativos. Além de procurar persuadir o leitor, devem, também, levá-lo à reflexão. São necessárias atividades mais específicas que, trabalhadas com certa freqüência, resgatem essa prática e, na medida do possível, valendo-se dos recursos que estão à disposição de professores e alunos, através do letramento com textos multimodais que envolvem o uso da leitura e da escrita. O aluno, quando é motivado a produzir textos em gêneros textuais diversos, ele o faz e, com a freqüência dessas práticas, ele tende a melhorar a escritura dos seus textos, havendo uma notável progressão naquilo que ele produz. Neste sentido, serão priorizados os textos multimodais, tendo em vista a importância da multimodalidade para a Comunicação Social que, necessariamente, faz uso de linguagens várias. Os textos que serão aqui analisados foram produzidos pelos alunos, a partir do trabalho com seqüências didáticas (Schnewly & Dolz, 2004), revelando assim práticas de letramento de textos que fazem uso apenas da linguagem verbal até a produção de textos multimodais, com uso de múltiplas linguagens tais como: imagens, cores, formatos diferentes de letras e outros destaques em linguagem visual. Para a realização desse trabalho foram levantadas hipóteses e apresentados os objetivos a seguir: 16 HIPÓTESES a) O letramento multimodal é intrínseco à natureza dos textos. b) Os textos produzidos revelam que a multimodalidade já está presente no processo de produção c) As marcas multimodais evidenciam a subjetividade do produtor de texto OBJETIVOS Geral Desenvolver estratégias de letramento multimodal, através da produção textual (multimodal), junto aos alunos do curso de graduação em Comunicação Social (jornalismo e radialismo). Específicos a) Construir com os alunos a noção de multimodalidade nos gêneros midiáticos (notícia, crônicas, e demais matérias jornalísticas, etc...); b) desenvolver práticas de leitura e escrita significativa de textos multimodais em sala de aula, com base na proposta de Schneuwly e Dolz; c) avaliar esse processo de letramento multimodal, a partir das práticas de leitura e escrita desenvolvidas ao longo da pesquisa e dos textos produzidos pelos alunos.. O ineditismo deste trabalho caracteriza-se em estudar algo ainda não explorado: o letramento na perspectiva multimodal no ensino universitário , do ponto de vista da produção textual. A literatura consultada analisa textos prontos veiculados pela mídia, sem mencionar os aspectos relacionados ao processo de produção. No nosso caso, vamos explorar o processo de produção textual, no curso de Comunicação Social, promovendo assim o letramento multimodal do produtor de texto, a partir de um trabalho com seqüências didáticas. O avanço da tecnologia, a rapidez e o alcance das informações veiculadas pela internet não mais permitem que o estudo e análise dos textos multimodais sejam ignorados nos programas de língua portuguesa em qualquer grau de ensino. A produção do texto multimodal é possível, desde que trabalhada de forma a dar ao aluno as condições teóricopráticas de produção. A Seqüência Didática proposta por Schnewly & Dolz pode ser aplicada também no ensino universitário, fazendo-se algumas adaptações, respeitando-se as características de cada curso e o conhecimento já adquirido pelos alunos. O trabalho está divido em três capítulos. O capítulo I traz, em linhas gerais, as teorias que nortearam a pesquisa e análise dos dados, e está subdividido em letramento, na perspectiva 17 de autores como SOARES (2004), MARCUSCHI (2005) e KLEIMAN (1995/2005); multimodalidade, com base em KRESS e van LEEUWEN (1996), DIONÍSIO (2005), VIEIRA (2007), ALMEIDA (2008). No capítulo II, temos a metodologia onde são descritos e explicados todos os passos da pesquisa, com base na seqüência didática segundo a ótica de SCHNEUWLY & DOLZ (2004), desde a coleta dos dados até a análise do corpus, passando pelos critérios adotados para seleção dos textos que compõem o corpus. O capítulo III é dedicado à análise do corpus, onde procuramos verificar, com base na fundamentação teórica e nos critérios de seleção, o atendimento ao gênero; os aspectos multimodais encontrados nos textos e a seqüência didática das produções trabalhada nas oficinas. Após esse capítulo apresentamos as conclusões sobre o que foi analisado, as referências e os anexos. I - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A fundamentação teórica deste trabalho abordará aspectos relacionados ao letramento e sua relação com escrita, leitura, (fazendo referência ao letramento multimodal); à multimodalidade com base nos autores já citados anteriormente e outros que serão mencionados ao longo do texto 1.1 – LETRAMENTO – do ensino fundamental e médio para o ensino superior Os estudos e a produção acadêmica no Brasil, a respeito do tema letramento, têm crescido consideravelmente, procurando explorar os diversos aspectos e os problemas que envolvem o letramento, em cujas definições encontramos a dimensão individual e a dimensão social do fenômeno. SOARES (2004, p.66) afirma, sobre a definição de letramento, o seguinte: ... o conceito de letramento envolve, portanto, sutilezas e complexidades difíceis de serem contemplados em uma única definição. Isso explica por que as definições de letramento diferenciam-se e até antagonizam-se e contradizem-se: cada definição baseia-se em uma dimensão de letramento que privilegia. A prática do letramento envolve as práticas de leitura e escrita, também consideradas como práticas sociais. 18 A partir das definições dos vários autores consultados, como por exemplo, Ângela Kleiman, Magda Soares, Luiz Antonio Marcuschi, são destacados os tipos de letramento, identificando-se a relação entre o letramento, alfabetização, escolarização, oralidade e escrita, concluindo-se, como já dito acima, que a escola precisa rever a sua prática com relação à leitura e à escrita, atentando para o fato de que essas práticas devem servir para o que aluno, através delas, possa inserir-se na sociedade onde vive. Os estudos sobre letramento são, de certa forma, ainda recentes no Brasil, se considerarmos que é a partir da segunda metade dos anos 80 que essa palavra vai aparecer no discurso dos especialistas nas áreas da Educação e das Ciências Lingüísticas. Apresentando uma visão diferente da dos gramáticos cuja análise se volta para o código e, nessa perspectiva, origina-se o prescritivismo da norma lingüística culta, ou norma culta Kato, (1986, p. 7), usa pela primeira vez o termo, quando afirma ser a língua culta uma “conseqüência do letramento”. Nos estudos e pesquisas realizados, vamos encontrar conceitos de letramento, a distinção entre letramento e alfabetização, letramento, oralidade e escrita, por exemplo, até chegarmos aos mais recentes sobre o letramento digital. Ângela Kleiman organiza em 1995, o livro “Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita”, uma coletânea de trabalhos, resultados de pesquisa no Brasil, sob vários pontos de vista, usando vários tipos de evidência observando diferentes concepções do fenômeno do letramento. Os estudos que compõem o livro têm como traço comum o fato de ser o letramento considerado enquanto um conjunto de práticas sociais, “cujos modos específicos de funcionamento têm implicações importantes para as formas pelas quais os sujeitos envolvidos nessas práticas constroem relações de identidade e de poder”. Com relação ao letramento na escola, Soares (2004) chama a atenção para o fato de que no contexto escolar o letramento é muito mais um processo, do que um produto. As escolas podem usar o contínuo do letramento, para avaliar, de maneira progressiva a aquisição de habilidades e conhecimentos, de usos sociais da e culturais da leitura e da escrita, lembrando ainda que : “as escolas são instituições às quais a sociedade delega a responsabilidade de prover as novas gerações das habilidades, conhecimentos, crenças, valores e atitudes considerados essenciais à formação de todo e qualquer cidadão”.(p. 84) O sistema escolar, no entanto, em virtude de adotar um ensino fragmentado, onde o conhecimento, dividido em partes e avaliado periodicamente, em datas pré-determinadas, também fragmenta e reduz o múltiplo significado do letramento. O conceito de letramento então vai ser determinado “pelas habilidades e práticas adquiridas através de uma 19 escolarização burocraticamente organizada e traduzidas nos itens de testes e provas de leitura e escrita”. (Soares,2004, p. 85). Esse conceito reduzido de letramento traz como conseqüência, habilidades e práticas de letramento distantes daquelas que ocorrem fora do contexto escolar. Fazendo a distinção entre letramento, alfabetização e escolarização, Marcuschi (2005) define letramento como “um processo de aprendizagem social e histórica da leitura e da escrita em contextos informais e para usos utilitários, por isso é um conjunto de práticas”. (p. 21) A alfabetização pode se dar fora da escola (instituição escolar), como se deu na Suécia, nos fins do século XVII, quando 100% da sua população foi alfabetizada no ambiente familiar, com objetivos relacionados a práticas religiosas e atitudes de cidadania. A escolarização, essa sim, é uma prática formal e institucional de ensino que visa a uma formação integral do indivíduo, sendo que a alfabetização é apenas uma das atribuições/atividades da escola. A escola tem projetos educacionais amplos, ao passo que a alfabetização é uma habilidade restrita” (p.22). Porém, como todos nós conhecemos, a escola, da maneira como funciona hoje, ela fragmenta e reduz o múltiplo significado de letramento, já que selecionam algumas habilidades de leitura e escrita, que são avaliadas periodicamente através testes e provas padronizados e informais. A conseqüência disso é um conceito de letramento reduzido, determinado pela escola - o letramento escolar. Considerando que estamos vivendo numa sociedade que a cada dia se torna mais visual e, considerando ainda que o letramento, (visual ou não), tem relação direta com a organização social das comunidades e em conseqüência disso com a organização dos gêneros textuais, podemos inferir que, na escola, em qualquer nível, as atividades de leitura e escrita, são práticas de letramento que devem levar ao envolvimento de alunos e professores no seu contexto social. Ângela Kleiman e Maria de Lourdes M. Matencio lançam, em 2005, o livro “Letramento e Formação do Professor: práticas discursivas, representações e construção do saber”, onde discutem alguns projetos em andamento, que levam em conta a relevância do letramento como prática social de leitura e escrita na formação de professores, futuros educadores que, provavelmente, formarão outros professores. No capítulo intitulado “Uma perspectiva para o estudo do letramento: lições de um projeto em curso” de Vera Masagão Ribeiro a autora fala das práticas de letramento em 20 contextos não-escolares, procurando mostrar “as trajetórias de letramento de jovens moradores de bairros periféricos de São Paulo, engajados em iniciativas coletivas de ação comunitária e participação política” (p.17). Em “Desafios Metodológicos em pesquisas sobre letramento”, de Cláudia Lemos Vóvio e Ana Lúcia S. Souza são focalizados os desafios que os pesquisadores enfrentam para investigar as trajetórias acima citadas. Após falar sobre o objeto da investigação, as pesquisadoras apresentam o conceito de letramento por elas assumido e as conseqüências que isso traz para as pesquisas. E conceituam letramento afirmando que as pessoas teriam suas práticas de leitura e escrita delimitadas por configurações singulares, dependentes de suas histórias de vida, das práticas e atividades de que tomam parte em seu cotidiano, circunscritas aos grupos sociais a que pertencem e à atividade a que se dedicam e, de modo mais abrangente, ao contexto sócio-histórico que emoldura sua existência (p.44), considerando que é necessário estudar as práticas de uso da linguagem escrita próprias do âmbito de cada usuário, para que ele possa ter acesso à sua identidade como usuário da escrita. Disso, pode-se inferir que a prática do letramento se realiza nas situações concretas da vida, nas práticas sociais onde são exigidas a leitura e a escrita. A Escola é a instância de aprendizado, de “alfabetização” da leitura e escrita. O letramento é o uso desse aprendizado, nas práticas sociais. Essas instâncias de aprendizado são chamadas de agências de letramento. Dentre elas estão a escola, a família, a igreja, o lugar de trabalho. A escola, a mais importante delas, preocupa-se não com o letramento como prática social, mas com a alfabetização, um tipo de prática de letramento, “processo geralmente concebido em termos de uma competência individual necessária para o sucesso e promoção na escola” (KLEIMAN, 1995. p.20). As demais agências de letramento mostram orientações diferentes, mesmo porque os seus objetivos são também diferentes daqueles da escola. Na escola, considerada a mais importante agência de letramento como dito acima, está o professor, cuja identidade profissional, ou representação, pode ser orientada pelas práticas 21 sociais que visam à socialização profissional. Kleiman (2006) apresenta dois modos de representação do professor: como mediador e como agente de letramento. O professor como agente de letramento é aquele que vai ser o responsável pela “inserção dos alunos nas práticas de letramento em contexto escolar” (p.7). Ele atua como “... promotor das capacidades e recursos de seus alunos e suas redes comunicativas para que participem das práticas sociais de letramento, as práticas de uso da escrita situadas, das diversas instituições” (p. 7). A atividade escolar de elaboração de textos orais e escritos não se reduz a aprender o gênero em que o texto é produzido. É necessário ter uma razão para fazê-lo. Esse ensino que visa à prática social “caracteriza um tipo de atividade cujo motivo está na própria realização da atividade, ao alcançar seus objetivos, e não na produção textual, objetivo da atividade escolar” (p.8). Na escola, como normalmente continua acontecendo, a atividade de linguagem é o objetivo final, cuja funcionalidade cessa ao terminar a atividade. A autora destaca a importância de se voltar a atenção para os aspectos do trabalho do professor “ligados à mobilização dos recursos da comunidade para a realização de uma atividade social, ou seja, aqueles que são próprios das atividades de um agente de letramento” (p.8). Visto dessa forma, o professor é um agente social de letramento, cujas ações se refletem na autenticidade da prática escolar, onde as atividades de escrita vão além dos muros da escola e onde se promovem ações sociais coletivas de interação e mudanças. O que foi dito acima com relação à escola de ensino fundamental e médio é válido também para o ensino superior. Considerando que há diferentes graus de letramento, e que esse “distribui-se em graus de domínio que vão de um patamar mínimo a um máximo”1, (MARCUSCHI, 2005, p. 21), no ensino superior trabalha-se com um tipo de letramento mais sofisticado, relacionado às habilidades de leitura e escrita específicas do curso superior escolhido. Com o advento da Internet, pode-se dizer que está havendo uma revolução nas comunicações, no mundo inteiro. As novas tecnologias requerem dos indivíduos outras habilidades além do domínio do signo lingüístico, já que os textos da internet apresentam mais de uma linguagem, ou seja, são multimodais2. 1 Ver STREET, Brian. Social Literacies. Critical Approaches to Literacy in Development, Ethnography and Education. Harlow, Longman. 1995. 2 Textos em se apresentam várias linguagens, isto é, as múltiplas linguagens que utilizamos em situações de comunicação. 22 O letramento, como já foi dito anteriormente, é um conjunto de práticas que permitem ao indivíduo utilizá-las nas mais diversas situações da vida onde as práticas de leitura e escrita sejam exigidas. Considerando que estamos vivendo numa sociedade cada dia mais visual e, considerando ainda que o letramento, (visual ou não), tem relação direta com a organização social das comunidades e, em conseqüência disso, com a organização dos gêneros textuais, podemos inferir que, na escola, em qualquer nível, as atividades de leitura e escrita são práticas de letramento que devem levar ao envolvimento de alunos e professores no seu contexto social. O homem, desde os primeiros tempos sentiu a necessidade de utilizar-se de “registros gráficos” para transmitir os seus pensamentos e, assim, comunicar-se com os seus semelhantes. A esses registros chamamos de escrita, ou seja, um conjunto de sinais que são utilizados de forma organizada, construindo palavras e frases que façam sentido para a comunidade onde ela se insere. A escrita passou por um processo de evolução, desde imagens, frases, até palavras. Hoje, já não há nenhuma dúvida a respeito da importância da escrita nas sociedades modernas3, visto que ela está em toda parte. Tudo o que acontece em nossa vida, no nosso cotidiano, em qualquer situação, prescinde da escrita. Ela está presente mesmo na vida de todas as pessoas, nas mercadorias no supermercado, nos ônibus, nos nomes das ruas, nas placas indicativas. A escrita “permeia hoje quase todas as práticas sociais dos povos em que penetrou” (Marcuschi, 2005, p. 19). Ela é utilizada em contextos sociais básicos da vida, tais como: trabalho, escola, família, atividade intelectual. Definindo a escrita, Marcuschi (2005) diz-nos A escrita seria um modo de produção textual-discursiva para fins comunicativos com certas especificidades materiais e se caracterizaria por sua constituição gráfica, embora envolva também recursos de ordem pictórica e outros (situa-se no plano dos letramentos).... Trata-se de uma modalidade de uso da língua complementar à fala. (p.26). Pelo que vimos, a escrita não é simplesmente a representação ou a transcrição da fala, mas uma outra modalidade de uso da língua, que abrange todos os tipos de escrita, sejam alfabéticos ou não. 3 Não estamos aqui desqualificando a modalidade oral, destacamos o uso e a relevância que a escrita absorveu na sociedade contemporânea 23 Olson (1997) afirma que a escrita é um instrumento de precisão e poder. Sem dúvida, a escrita, assim como a leitura, são instrumentos de conquista, de poder. Marcuschi (2005,) traz um capítulo sobre oralidade e letramento, mostrando ser impossível investigar essas duas práticas sem referir-se ao papel delas na civilização contemporânea. Isso traz uma mudança de perspectiva no estudo dessas práticas, considerando-as como um conjunto de práticas sociais. Com essas noções mudam também os posicionamentos sobre oralidade e letramento, considerando-se que são os usos que constroem a língua e não o contrário, e são esses usos da língua que devem merecer a atenção do pesquisador, porque são eles que determinam a variação lingüística em todas as manifestações. Continuando, Marcuschi (2005) fala da importância da escrita afirmando que: “Numa sociedade como a nossa, a escrita, enquanto manifestação formal de diversos tipos de letramento, é mais do que uma tecnologia. Ela se tornou um bem social indispensável para o usuário enfrentar o dia-a-dia, seja nos centros urbanos ou na zona rural.” (p. 16) O autor destaca também os equívocos que existem com relação à oralidade e à escrita, afirmando o seguinte: ... sob o ponto de vista mais central da realidade humana, seria possível definir o homem como um ser que fala 4e não como um ser que escreve. Entretanto, isto não significa que a oralidade seja superior à escrita, nem traduz a convicção, hoje tão generalizada quanto equivocada, de que a escrita é derivada da fala.... (p. 17) A escrita e a oralidade, embora circulem no mesmo espaço, são diferentes, mas não opostas. A oralidade tem à sua disposição alguns fenômenos, tais como gestos, movimentos do corpo e dos olhos, entonação, mímicas, etc... que não podem ser reproduzidos na escrita, embora se diga que a escrita é representação da fala. Por sua vez, a escrita também apresenta fenômenos que lhe são peculiares e estão ausentes na fala, tais como: tamanho da letra, cores e formatos, elementos pictóricos, etc... representados graficamente5. 4 Grifos do autor 5 Esses fenômenos são considerados traços ou recursos multimodais no texto. 24 Oralidade e escrita são práticas e usos da língua com características próprias, mas não suficientemente opostas para caracterizar dois sistemas lingüísticos nem uma dicotomia. Ambas permitem a construção de textos coesos e coerentes, ambas permitem a elaboração de raciocínios abstratos e exposições formais e informais, variações estilísticas, sociais, dialetais e assim por diante. (MARCUSCHI, 2005, p.17). Como podemos observar, oralidade e escrita se equivalem, visto que são modalidades de expressão da língua. Continuando em suas considerações a respeito do assunto, Marcuschi (2005) afirma que uma das tarefas mais urgentes é esclarecer a natureza das práticas sociais que envolvem o uso da língua, porque são essas práticas que determinam o lugar, o papel e o grau de relevância da oralidade e das práticas de letramento na sociedade. Para o autor, “o letramento envolve as mais diversas práticas da escrita (nas suas variadas formas) na sociedade e pode ir desde uma apropriação mínima da escrita, tal como o indivíduo que é analfabeto, mas letrado na medida em que identifica o valor do dinheiro, identifica o ônibus que deve tomar, consegue fazer cálculos complexos, sabe distinguir as mercadorias pelas marcas etc., mas não escreve cartas nem lê jornal regularmente, até uma apropriação , como no caso do indivíduo que desenvolve tratados de Filosofia e Matemática ou escreve romances. Letrado é o indivíduo que participa de formas significativas de eventos de letramento e não apenas aquele que faz um uso formal da escrita.” (p. 25) As escolas, instituições a quem a sociedade delegou a tarefa de ensinar a ler e escrever devem trabalhar essas práticas não isoladamente ou fora do contexto do educando, como tem sido feito, pelo menos na maioria delas, mas é preciso conscientizar-se de que essas práticas devem servir para inserir esse educando na sociedade onde ele vive, e levá-lo às práticas de letramento, inclusive ao letramento multimodal, pois, de acordo com o que já foi dito acima, o indivíduo considerado letrado tem contato com outras linguagens que não somente a verbal, sendo capaz de entendê-las e usá-las no seu cotidiano. 25 A leitura de todo e qualquer texto é um mecanismo dinâmico que objetiva inteirar o educando ao seu meio social, levando-o a descobrir e encontrar caminhos alternativos, respostas a suas interpelações, e, sobretudo, tornando-o num elemento patrocinador das mudanças exigidas pela sociedade. A leitura deve dar margens que possibilitem ao educando ter uma ampla visão de mundo. “A significação de um texto não se encerra nele mesmo”. (SILVA, 1986, p.59). Na vasta bibliografia que se tem sobre leitura (SILVA, (1985, 1986), GERALDI, (1985), LAJOLO, (1982), ZILBERMAN, (1982), SOARES, (2004), KOCH, (1989), KLEIMAN), (1985, 2005, 2006) encontramos diversos conceitos e concepções de leitura que, de uma forma ou de outra estão vinculados ao ensino da leitura nas nossas escolas de ensino fundamental e médio. Lajolo, (1982) diz que ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É, a partir de um texto, ser capaz de atribuir-lhe significação, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista. (p. 59). Ler, então, de acordo com esse conceito, é um processo de interação, em que o leitor, ele próprio dialoga com o autor, questiona, relaciona o texto lido a outros textos e, ativando o seu conhecimento prévio, as suas experiências, atribui significados ao texto lido, produzindo assim o seu próprio texto. Esse processo não “joga fora” aquilo que o leitor já adquiriu ao longo de sua vida, não “despreza” a sua “leitura de mundo”. Assim, ele (o leitor/aluno) pode sentir que não é, apenas, um mero repetidor das idéias do autor do texto, ou do professor na sala de aula, mas, pode, ele mesmo, dirigir sua própria aprendizagem. Geraldi (1985) afirma ser a leitura “um processo de interlocução entre leitor/autor mediado pelo texto” (p.80), onde o leitor, não passivo, torna-se um agente na busca de significações, de sentidos para o texto lido, através do qual ele (o leitor) encontra-se com o autor. Muito freqüentemente, a leitura é trabalhada (ensinada) apenas como a decodificação da palavra escrita, prática essa que forma leitores passivos, não modificando em nada a visão de mundo do aluno/leitor. Dessa forma, a leitura torna-se mecânica, automatizada, não exigindo que o leitor reflita sobre o que está lendo, nem tão pouco questione alguma coisa. 26 Para responder às perguntas da “interpretação”, basta dar uma rápida olhada no texto e procurar as palavras ou frases que, já prontas, respondem às questões formuladas. Em séries mais adiantadas encontramos as “famosas fichas de leitura” onde apenas se copiam dos textos as respostas que o autor escolheu para a sua “interpretação”. As questões levantadas, na maioria das vezes, subestimam a capacidade de compreensão do aluno/leitor, pois desprezam todo e qualquer questionamento que ele possa fazer, produzindo, assim, leitores passivos, sem nenhum espaço para a crítica ou o questionamento. Nessa prática, os textos não são discutidos e o professor, na maioria das vezes, não se dá ao trabalho de verificar se podem existir respostas diferentes, aceitando como corretas apenas aquelas já previamente escolhidas pelo autor do texto. Outra prática encontrada em nossas escolas é a da leitura como avaliação, em que o professor tem por preocupação medir a capacidade de leitura do aluno, reduzindo essa prática à leitura em voz alta, sob o pretexto de verificar se o aluno está entendendo ou não. Sabemos também que esse tipo de leitura geralmente é feito partindo-se o texto em pequenos pedaços (parágrafos), não dando ao aluno a possibilidade de mostrar o seu entendimento do texto, acrescendo-se a isso que o aluno sabe de antemão que estará sendo avaliado e, predomina nesse caso, a visão do professor. Ainda utilizando essa prática, vamos encontrar a leitura sendo usada apenas como pretexto para o estudo sistemático da gramática, como por exemplo, ditongos, tritongo, dígrafos etc... Nessas duas práticas apresentadas, não há nenhuma motivação para que o aluno se torne um leitor, muito menos um leitor crítico, consciente. Podemos dizer que elas encontram-se numa concepção autoritária de leitura. A leitura da palavra não pode e não deve ser considerada como apenas mais um elemento dentro do ensino da língua; ele deve ser um instrumento de conquista, um “ato libertador” que torne as pessoas mais autênticas, mais conscientes, mais críticas, conduzindo-as à participação em todos os setores da vida. A prática de leitura que se torna urgente em nossos dias é aquela que permita ao leitor fazer uma leitura crítica do mundo onde vive, aquela que construa leitores questionadores, conscientes e críticos. A leitura é o caminho que dá ao homem uma visão ampla de mundo e, sobretudo, o poder de raciocinar livremente, aceitando ou não as normas do sistema sócio-políticoeconômico. É um instrumento que possibilita ao homem condições de se posicionar diante das diversas situações que surgem ao longo de sua vida. Graças ao avanço das novas tecnologias digitais, uma nova prática de letramento se institui: o letramento multimodal, pois temos usado, com bastante freqüência, textos 27 multimodais na produção de significados. Entretanto, as imagens são ainda vistas como um meio de comunicação menos especializado que o verbal, já que a escola menospreza a leitura de textos visuais, o que termina por produzir “iletrados visuais”, no dizer de Kress e van Leeuwen (1996). Daí, a necessidade do letramento visual. A GDV proposta pelos autores acima surge, então, como uma ferramenta para auxiliar a análise de textos visuais, servindo para a construção e análise crítica desses textos. A partir da GDV pode-se verificar as diversas maneiras de representação do texto não verbal. E, sobre isso, Vieira (2007, p. 24), afirma que “Pressionado pelas mudanças, o letramento hoje não se refere, apenas, às habilidades de leitura e de escrita. O letramento típico da pós- modernidade agrega ao texto escrito inúmeros recursos gráficos, cores e, principalmente, imagens. Passa a exigir do sujeito letrado habilidades interpretativas básicas que devem atender às necessidades da vida diária...” Essas habilidades textuais hoje à medida em que acompanham os avanços da tecnologia, devem levar os sujeitos do letramento à prática simultânea de diferentes letramentos. Ainda segundo a autora, “Por essa razão, as práticas textuais compõem-se de diferentes linguagens semióticas, que pode abrigar a fala e a escrita, a comunicação visual e sonora, além de utilizarem os recursos computacionais e tecnológicos, cujo desempenho dos autores deve ser competente tanto na produção como na interpretação de textos de diferentes gêneros discursivos.” (p. 24) Infere-se daí que as práticas de letramento, sejam visuais ou verbais, concretizam-se através dos gêneros discursivos (textuais). Os textos multimodais são carregados de valores ideológicos e, assim sendo, as práticas de letramento devem levar o sujeito desse letramento a uma postura de discernimento, de questionamento, de consciência crítica frente às imagens lidas. A esse respeito Vieira (2007, p. 26) comenta sobre o fato de os professores não se preocuparem ainda com dar aos seus alunos (sujeitos do discurso), os instrumentos necessários para que eles possam viver “essa nova cultura multimodal que valoriza sobremaneira a imagem”. Os alunos precisam saber como funcionam os textos multimodais, como interagem as imagens e a linguagem verbal num mesmo texto. E, além, de 28 conhecer o funcionamento desses textos, essa nova forma de letramento pode torná-los mais conscientes de suas escolhas, como afirma Rocha (2004, p.73) Levar os alunos a reconhecerem esses modos de manobra da ideologia e introduzi-los em formas arrojadas de letramento é fortalecê-los para que se tornem sujeitos conscientes, críticos, emancipados para uma participação cidadã e, assim, tornarem-se aptos a fazer suas escolhas. ” Por essa razão, a escola precisa estar atenta ao uso crescente dos textos não-verbais e textos multimodais6, procurando proporcionar aos alunos as condições necessárias para que eles cheguem ao letramento multimodal. É muito importante que o leitor esteja apto a ler essas múltiplas linguagens que lhe são apresentadas, sendo capaz, portanto, de atribuir sentidos ao que lê, capaz de utilizar essa prática de leitura em situações cotidianas da sua vida. No item a seguir trataremos da multimodalidade, à luz do que propõem Kress e van Leeuwen (2006), destacando alguns dos pontos principais da GDV, apoiando-nos na opinião e comentários de outros autores que já trabalham com a multimodalidade no Brasil. 1.2 - MULTIMODALIDADE Vivemos em uma época em que a linguagem visual (imagens, gestos, cores, música), trazida pelas novas tecnologias, tem se manifestado de forma intensa em nossa comunicação, colocando-nos diante de pelo menos dois códigos, o verbal e o não-verbal. Há, portanto, a necessidade de conhecer os códigos, de analisá-los, como partes de um mesmo texto. A multimodalidade está presente nas interações orais de que participamos (conversa espontânea, bate-papo virtual) ou na leitura que fazemos de um texto impresso, manuscrito ou na tela do computador. Em conseqüência disso, [...] os gêneros textuais falados e escritos são também multimodais, porque, quando falamos ou escrevemos textos, usamos, no mínimo, dois modos de representação: palavras e gestos, palavras e entonações, palavras e imagens, 6 Textos não verbais são aqueles que se utilizam de outras linguagens que não a verbal, por exemplo, gestos, imagens, cores, etc... Textos multimodais são aqueles cujos significados são ralizados por mais de uma linguagem, ou código semiótico 29 palavras e tipografia, palavras e sorrisos, palavras e animações, etc. (DIONISIO, 2005a, p.178). Em todas as situações comunicativas nós utilizamos os nossos conhecimentos para organizar, de forma harmônica, todos os recursos verbais e visuais existentes nas interações comunicativas. A multimodalidade encontra-se, portanto, nas múltiplas linguagens que utilizamos em situações de comunicação. Quando falamos, por exemplo, utilizamos, além da fala, gestos, movimentos com a cabeça, entoações, etc... que vão ajudar a construir o sentido do texto que estamos falando, indicando-nos se fazemos uma crítica, um elogio, se ironizamos, entre outros. Na escrita usamos a multimodalidade quando temos o texto verbal (escrito) incorporado a uma imagem ou outra linguagem visual, como desenhos, fotografias, pinturas, caricaturas. Esses aspectos visuais estão atrelados à própria disposição gráfica do texto no papel. Os estudos sobre a multimodalidade ainda recentes, têm como representantes Dionísio (2005), Vieira [et al.], 2007, Almeida (org.), 2008, entre outros, que fundamentam seus estudos na Gramática do Design Visual proposta por KRESS e van LEEUWEN (1996). DIONÍSIO, (2005), define multimodalidade como “um traço constitutivo do discurso oral e escrito”( p.161) e justifica o seu posicionamento levando em conta as novas formas, ou a diversidade que a escrita vem apresentando na mídia, em razão do desenvolvimento tecnológico. Por isso, a nossa maneira habitual de ler um texto está sendo revista, está sendo re-elaborada constantemente. Dois anos antes, os estudos da linguagem visual já eram tema nas escolas de ensino fundamental e médio, sob o nome de cultura visual, conforme nos mostra a reportagem de capa da Revista Nova Escola, de abril de 2003. O texto em questão começa afirmando que, “ao desvendar o universo visual de seu cotidiano, o aluno vai conhecer melhor a si mesmo, compreender sua cultura e ampliá-la com a de outros tempos e lugares.” (GENTILE, 2003, p. 45). As imagens que vemos cotidianamente estão repletas de informações sobre a nossa cultura e o nosso mundo e, sendo assim, o aprender a ler essa linguagem visual dá-nos condições de conhecer melhor a sociedade em que vivemos, a cultura de cada época e ter contato com a cultura de outros povos. Como se percebe, apesar de não nomeada, a multimodalidade já era discutida por alguns educadores. Argumentando sobre o seu conceito de multimodalidade, Dionísio parte dos seguintes pressupostos: 1. “as ações sociais são fenômenos multimodais; 30 2. os gêneros textuais orais e escritos são multimodais; 3. o grau de informatividade visual dos gênero textuais da escrita se processa num contínuo; e 4. há novas formas de interação entre o leitor e o texto, resultantes da estreita relação entre o discurso e as inovações tecnológicas.(2005a, p. 161) A multimodalidade dos gêneros textuais explica-se, pela multimodalidade das ações sociais, porque, [...] quando falamos ou escrevemos um texto, estamos usando no mínimo dois modos de representação: palavras e gestos, palavras e entonações, palavras e imagens, palavras e tipografias, palavras e sorrisos, palavras e animações etc.. (DIONISIO, 2005a, p. 161-162). É nos gêneros textuais que se materializam as ações individuais e sociais que são manifestações culturais, realizadas através da linguagem. Com relação à premissa de que todos os gêneros textuais escritos e falados são multimodais, a autora chama a atenção para a diferença de níveis de “manifestação da organização multimodal”. Há que se considerar também o grau de informatividade visual dos gêneros textuais escritos, que vai do “menos visualmente informativo ao mais visualmente informativo”. Falando sobre as formas de interação leitor/texto, Dionísio destaca a variedades de recursos tecnológicos que estão a serviço da comunicação humana, na atualidade, permitindo “não só a criação de uma infinidade de manipulação gráfica em computadores, mas também a rápida propagação da informação, e conseqüentemente de novas formas de apresentação da escrita”. (DIONISIO, 2005, p.169) . Hoje, com o avanço da tecnologia, recebemos uma grande quantidade de informação veiculada pelos diferentes meios de comunicação que se utilizam de várias linguagens para transmitirem as suas informações. Em decorrência desse fato, tem crescido o interesse pela multimodalidade dos meios lingüísticos. Conforme (DELPHINO), 2006, p.1), “A história da escrita demonstra que as sociedades humanas usaram, ao longo do tempo, vários modos de representação, cada qual com um potencial representacional, com um valor específico em contextos particulares sociais”. 31 Os jornais e revistas, como meios de informação intrinsecamente relacionados com a tecnologia, também têm avançado. Eles utilizam pelo menos duas linguagens em seus textos: a visual e a verbal. Nos estudos realizados com esse gênero textual, constata-se que o recurso visual/gráfico, imagens e recursos de composição destacam-se em detrimento do estritamente verbal, de forma a promover a mescla das duas modalidades escritas – verbal e visual/gráfica. Para fundamentar os estudos da linguagem visual – imagens, textos multimodais Kress e van Leeuwen (1996), partindo da Lingüística Sistêmico Funcional, considerando a linguagem como uma prática social, propõem a Gramática do Design Visual, com o objetivo de subsidiar a análise sistemática das estruturas visuais e outros códigos semióticos. Levam em conta o fato de as análises até então enfocarem o léxico das imagens, no campo denotativo e conotativo ou iconográfico ou significante dos elementos nas imagens. Enfatizam o contexto social, cultural e político – toda a linguagem visual utilizada pelo autor do texto está necessariamente ligada ao social, ao cultural. A escolha das imagens, cores, etc... é determinada social ou culturalmente, assim como os seus significados. A GVD descreve a forma como pessoas, lugares e coisas combinam ou se ordenam numa composição de maior ou menor complexidade ou extensão, assim como a gramática normativa, na linguagem, descreve as regras que combinam os elementos formais para compor palavras. À semelhança da gramática tradicional da língua a GVD é quase um manual de análise do texto visual midiático, com regras utilizadas para essas análises que podem não se aplicar integralmente à produção de textos multimodais (visual/verbal), visto não contemplar o processo de produção do texto. “Tal como as estruturas lingüísticas, as estruturas visuais apontam às interpretações particulares da experiência e formas da interação social O que é expresso na língua com a escolha entre classes de palavras diferentes, estruturas de uma oração, pode, em comunicações visuais, ser expresso através da escolha entre usos diferentes da cor ou estruturas composicionais diferentes. E isso afetará o significado. Expressar algo verbalmente ou visualmente, faz alguma diferença”. (Kress & van Leeuwen, 1996, p.2). 7 7 For instance, what is expressed in language trough the choice between differently Word classes and clause structures, may, in visual communication, be expressed trough the choice between different uses of colour or different compositional structures. And this affect meaning. Expressing something verbally or visually makes a difference. 32 Essa afirmativa baseia-se no pressuposto que, assim como a linguagem verbal, a linguagem visual tem sintaxe própria, onde os elementos são organizados em estruturas visuais para comunicar um todo coerente até então associado à análise crítica dos textos verbais. Os autores, apoiando-se nas funções da linguagem propostas por Halliday, apresentam três funções para a linguagem visual, (renomeadas e com significados diferentes) que utilizam na construção dos sentidos na linguagem visual. Para Halliday, a noção de função refere-se ao papel desempenhado pela linguagem na vida dos indivíduos – é, portanto, uma função social. Tem várias finalidades. A multiplicidade funcional da linguagem reflete-se na organização interna da língua. As várias necessidades a que a língua serve são reveladas pela estrutura lingüística. Kress & van Leeuwen, assim como Halliday também enfatizam a função social da linguagem, considerando os contextos social e cultural como influenciadores das escolhas feitas pelos produtores de textos. Sobre a relação estabelecida pelos autores acima com respeito às metafunções, FERREIRA, ( 2007, p. 330), diz o seguinte: Extrapolando o trabalho de Halliday (1978.1985) em SFG e nas três metafunções já descritas, Kress e van Leeuwen (1996) desenvolveram sua GVD, em que eles reconhecem que, como a língua, as imagens igualmente realizam as metafunções ideacional, interpessoal e textual (& de KRESS; VAN LEEUWEN, 1996, P. 40; UNSWORTH, 2001, P. 18 A única diferença é em termos dos sistemas aplicados por cada maneira de cumprir essas metafunções e, obviamente, os materiais empregados. (...) em GVD, cada metafunção é realizada por um sistema visual específico. A função ideacional é realizada pelo sistema de representação, a metafunção interpessoal é realizada pelo sistema interativo e a metafunção textual é realizada pelo sistema de composição.8 Dessa forma, na GVD, cada metafunção é realizada por um sistema visual específico, tendo-se então os sistemas de representação, interativo e de composição. O quadro a seguir mostra a correspondência entre as funções de Halliday e Kress e van Leeuwen apresentando o modo como são usadas pelos autores. 8 Extrapolating from Halliday’s (1978,1985) work on SFG and the three metafunctions already described, Kress and van Leeuwen (1996) developed their GVD, in which they recognise that, like language, images also realise the ideational, interpersonal and textual metafunctions (KRESS & VAN LEEUWEN, 1996, p. 40; UNSWORTH, 2001, p. 18). The only difference is in terms of the systems applied by each mode to fulfil such metafunctions and, obviously, the materials employed4.(…). Again, in the GVD, each metafunction is realised by a specific visual system. The ideational function is realised by the Representational system, the interpersonal metafunction is realised by the Interactive system, and the textual metafunction is realised by the Compositional system. 33 HALLIDAY a linguagem KRESS e van LEEUWEN serve, em relacionada com a natureza primeiro lugar, à expressão do dos eventos representados conteúdo. Por meio dessa nas imagens, tais como função, o falante e o ouvinte participantes incorporam na língua a sua figuras, lugares, objetos e Ideaciona experiência do mundo real, Representati l incluindo nessas experiências va e os pessoas que aparecem nas imagens), e processos (narrativo conceitual as suas reações, cognições, percepções (ícone, atos lingüísticos – falar e entender. a linguagem é usada pelo representa a natureza das falante na participação do relações evento de fala – expressa construídas pela imagem, em Interpessoa julgamento pessoal, atitudes, l relações entre o falante e o dirigida ouvinte. Essa função serve ao leitor). estabelecimento manutenção Interativa sociointeracionais relação àquele a quem é a mensagem (o e dos papéis sociais que são peculiares à linguagem. Textual relativa à criação do texto, apresenta as significações considerado construídas pela imagem e, como uma unidade operacional. Através Composicion dessa função as unidades al lingüísticas são para compor um todo coerente, integra os elementos das funções contextualizadas, no co-texto representacional e interativa. e na situação. O texto é (não menciona, no entanto, produzido por um emissor e aspectos reconhecido por um leitor, o produção do texto). relativos à que torna possível o discurso. Essa função refere-se à organização interna da frase e ao seu significado como mensagem e à relação que estabelece com o contexto Quadro 1 As metafunções Halliday/Kress e van Leeuwen Referindo-se à correspondência das metafunções entre o modo verbal (Halliday) e o visual (Kress e van Leeuwen), esses autores alertam para o seguinte: Temos de chamar a atenção para que, embora estruturas verbais e estruturas visuais possam ser usadas para expressar significados retirados de uma fonte cultural comum, os dois modos não são meios simplesmente alternativos de 34 representar “a mesma coisa”. É mais fácil enfatizar a semelhança ou a diferença entre os dois modos (KRESS & VAN LEEUWEN, 1996, p.76)9 São essas diferenças e semelhanças que não permitem ser essas estruturas meios alternativos de representação da mesma coisa. As estruturas verbais representam aquilo que pode ser realizado na linguagem verbal e as estruturas visuais representam o que pode realizado através de imagens. Explicando as metafunções de Kresse e van Leeuwen, Bressane, (2006, p. 73) diz, referindo-se à metafunção ideacional/representativa, que para esses autores ... a representação é um processo no qual os produtores de signos buscam produzir uma representação de algum objeto ou entidade, física ou semiótica, guiados por interesses provenientes de sua história cultural, social e psicológica .... o interesse guia a seleção de aspectos a serem tomados como característica desse objeto representado. Ou seja, não é o objeto que é representado totalmente, mas apenas parte dele, aquilo que é selecionado como seus aspectos característicos representados da maneira como vê o produtor do texto (sign-maker). A consciência desse processo de seleção, que leva à escolha dos aspectos do objeto representado que são relevantes e adequados a um contexto específico, é indispensável para que o produtor tenha domínio sobre a imagem Na função representativa de Kress & van Leeuwen os eventos são representados por participantes – representados e interativos e por processos – narrativo e conceitual. Os participantes representados, os que são o assunto da comunicação, envolvem pessoas, lugares, objetos, figuras, ícones, que aparecem no texto multimodal, ou seja, aquilo ou aqueles sobre quem falamos. São o centro de todos os elementos e imagens. Os participantes interativos são aqueles que estão fora do texto (extra texto), porém são os que realizam o ato de comunicação – o falante e ouvinte, o que produz o texto e o que lê esse texto. Nesse aspecto as duas funções diferem, pois, para Halliday, é através da função ideacional que o falante e ouvinte incorporam na língua sua experiência. O processo narrativo revela ações e eventos e apresenta vetores através dos quais os participantes se conectam. 9 We have draw attention to the fact that, while both visual structures and verbal structures can be used to express meaning draw from a common cultural source the two modes are not simply alternative means of representing “the same thing”. It is easy to overemphasize either the similarity or the difference between the two modes. (p.76) 35 No processo conceitual não há a presença de vetores. “Os participantes são representados por objetos apenas conectados entre si” (BRESSANE, 2006, p. 74). A principal diferença entre os dois processos – narrativo e conceitual - segundo BRESSANE (2006) Está na presença do vetor e na conseqüente indicação ou não de direcionamento, o que implica a representação de alguma ação, já que os processos conceituais são da esfera do ser, enquanto os processos narrativos são da esfera do fazer. (p. 74) A presença ou ausência do vetor é, pois, fundamental para a identificação e diferenciação dos dois processos. A função interativa proposta por Kress & van Leeuwen está centrada no leitor, na percepção que ele tem da imagem e na relação construída por essa imagem entre produtor e leitor. BRESSANE (2006) afirma que esses autores “acreditam que qualquer sistema semiótico deve ser capaz de projetar as relações entre o produtor de um signo e o receptor desse signo, entre o produtor de uma imagem, aquele que a vê e o objeto representado” (p.76). Com relação à função composicional Kress & van Leeuwen (1996) apresentam três princípios de composição que são sistemas inter-relacionados, com os quais a composição relaciona os sentidos representacionais e interativos nos textos. Aplicam-se, segundo os autores, a materiais visuais que combinam texto e imagem, portanto, ao texto multimodal. São eles: 1. Valor informativo 2. Saliência. 3. Framing. A localização dos elementos (dos participantes e dos sintagmas que os conectam uns aos outros e ao espectador) lhes confere valores informativos específicos relacionados às várias “zonas” da imagem: esquerda e direita, parte superior e parte inferior, centro e margem.; Os elementos (participantes e sintagmas representacionais e interativos) são dispostos para atrair a atenção do espectador em diferentes graus, realizando-se através de certos fatores como o posicionamento em primeiro ou em segundo plano, o tamanho relativo, os contrastes quanto ao tom (ou à cor), diferenças quanto à nitidez, etc.; A presença ou ausência de estratégias de framing (realizadas através de elementos que formam linhas divisórias ou mesmo através das próprias linhas do frame, isto é, do enquadramento da figura) desconecta ou conecta elementos da imagem, indicando que, em algum sentido, eles dependem ou não uns dos outros. (MOZDZENSKI, 2006, p.5) Quadro 2 Elementos da função composicional 36 Esses três princípios de composição se aplicam não apenas a simples figuras,... mas também a materiais visuais complexos que combinam texto e imagem – e talvez outros elementos gráficos –, e que estejam numa página ou na televisão ou ainda na tela de computador. Na análise desses textos complexos ou multimodais (e qualquer texto cujos sentidos são produzidos através de mais de um código semiótico é multimodal), a questão a ser levantada é se os produtos dos vários códigos deveriam ser analisados separadamente ou de modo integrado; se os sentidos do todo deveriam ser tratados como a soma dos sentidos das partes; ou se as partes deveriam ser observadas interagindo entre si e produzindo efeitos umas sobre as outras (MOZDZENSK, 2006, p. 3-4) Os princípios são apresentados para orientar as análises dos textos multimodais, questionando-se o modo como devem ser analisados esses vários códigos, se de forma integrada ou separadamente, considerando-se a soma dos sentidos das partes ou a interação das partes entre si. Na análise do texto multimodal, de acordo com o que foi dito acima, devemos considerar que a imagem não é uma ilustração do texto verbal, nem este é mais importante que a imagem. Devemos “tratar o texto verbal e o visual como elementos completamente discretos10. Procuramos tornar possível que se olhe para toda a página como um texto integrado.” (MOZDZENSK, 2006, p. 4). É importante salientar nessa análise, alguns elementos mencionados nos princípios acima, que servirão de orientação ao leitor, ajudando-o a interpretar e encontrar os significados do texto. Trataremos a seguir, dos princípios de composição. 1. VALOR INFORMATIVO Nesse princípio os autores dão destaque especial para a localização dos elementos (participantes, sintagmas, observador) no texto, atribuindo-lhes valor de informações específicas ligadas às várias “zonas” da imagem. E, com relação a informações “velhas” e “novas” o Dado e Novo comentados abaixo. O DADO E O NOVO: O VALOR INFORMATIVO DA DIREITA E DA ESQUERDA 10 Por “elementos discretos” os autores entendem aqueles elementos consituídos por unidades distintas, descontínuas – nota do autor 37 O Dado e do Novo, ou do valor informativo da direita e da esquerda explica-se pela “disposição dos elementos na composição dos modos semióticos” (FERRAZ, 2007, p.139 ) e constitui-se fator de valorização da informação: o que está à esquerda é o “dado”, aquilo que é conhecido do leitor, que lhe é familiar, consensual; à direita localiza-se o “novo” , algo que ainda não é conhecido do leitor, com o qual ele pode não concordar e que, por isso, necessita de uma maior atenção. Esse funcionamento de esquerda e direita está relacionada ao sistema de escrita ocidental, em que tanto a leitura quanto a escrita são feitas da esquerda para a direita. Não se refere, a nosso ver, à localização espacial das informações no texto, pois, vale salientar, que nem sempre os textos reais seguem essa orientação. Defendemos a hipótese de que qualquer que seja esse lugar onde apareça a informação, a leitura é que será sempre feita da esquerda para a direita. Ilustramos isso em nossa análise (Cap. III, p.103). A hipótese acima baseia-se no seguinte questionamento: a) é possível, no texto verbal, estabelecer essa marca separando os dois lados? b) no texto visual, como separar na imagem, direita e esquerda? c) como seria a classificação, nos casos em que a informação nova está extratexto? Nos textos em é possível visualizar ou identificar o Dado e o Novo, nessa perspectiva de direita e esquerda, podemos considerar o Novo como anáfora11, visto ser algo que se refere ao que já foi dito no texto, ou seja, o Dado. Mas, como explicar, ou analisar a catáfora?12 d) no caso da produção textual, o autor produz primeiramente o texto verbal para, a partir dele, construir o visual. Onde ficam o Dado e Novo? No texto verbal (Dado) e no visual (Novo)? E se a imagem já for conhecida do leitor? (Ver texto 15, p. 103 da análise). A leitura do texto verbal faz-se da esquerda para a direita (no mundo ocidental). Mas, no texto visual, o leitor lê, ou apropria-se da imagem como um todo, não em partes. O que é Novo para um leitor, pode não o ser para outro. Isso depende do grau de letramento desse leitor e do acesso às diversas modalidades textuais. Explicando essa estrutura do Dado e do Novo Kress e van Leeuwen (1996) afirmam: A estrutura Dado-Novo não se aplica apenas ao que poderíamos convencionalmente denominar de texto único. Como já mencionamos, as revistas podem ter uma propaganda na página esquerda e um artigo jornalístico na página direita seguinte, considerando dessa forma os anúncios como o Dado comercial da publicação e sugerindo que a revista é principalmente lida seu 11 anáfora – termos que servem para retomar outros (PALTÂO & FIORIN, 2001, p. 371) 12 catáfora – termos que antecipam, anunciam outros (idem) 38 material editorial, pela informação sobre o “mundo real” que oferece. (MOZDZENSKI, 2006,p. 12)13. O que é importante salientar, além da localização espacial da informação no texto, é que o Dado precisa ser apresentado como algo que o leitor já conhece, algo que já lhe é familiar, consensual, e o Novo é aquilo que deve ser apresentado como alguma coisa ainda desconhecida do leitor e, por esse motivo, necessita de especial atenção, como afirmam os autores Em termos gerais, o sentido do Novo é, portanto, “problemático”, “contestável”, “a informação em debate”; enquanto o Dado é apresentado como consenso, que dispensa explicações. Essa estrutura é ideológica no sentido de que pode não corresponder ao caso do produtor ou do consumidor real da imagem ou do layout: o ponto importante é que a informação é apresentada como se tivesse esse status ou esse valor para o leitor, e que os leitores devem lê-la dentro dessa estrutura, mesmo se essa avaliação for depois rejeitada por algum leitor em particular. (MOZDZENSK p. 8). Essa estrutura do DADO e do NOVO encontra-se tanto nos textos multimodais que utilizam imagens e texto verbal, como vimos, quanto em filmes e na televisão. Devemos salientar que, conforme dito na citação acima, a leitura dentro da estrutura proposta pode ser rejeitada pelo leitor, o que, a nosso ver, respalda a hipótese que defendemos acima. Ainda nesse princípio os autores apresentam outros valores informativos tais como: O IDEAL E O REAL: O VALOR INFORMATIVO DA PARTE SUPERIOR E DA PARTE INFERIOR, Esse princípio é exemplificado através de anúncios, geralmente estruturados no eixo vertical, onde a seção superior permite ver a “promessa do produto”, enquanto a seção inferior apresenta o próprio produto, com informações reais desse produto, que ajudam o leitor a encontrá-lo e adquiri-lo. Na parte superior encontra-se o ideal e na parte inferior o real. 13 Original: The Given-New structure does not only apply to what we would conventionally regard as a single text. As we have suggested, magazines may have an advertisement on the left page and a feature article on the adjoining right page, so treating advertisements as the commercial Given of the magazine, and suggesting that the magazine is principally read for the editorial material, for the information about the ‘real world’ which it offers. 39 O texto abaixo, que caracteriza a propagando de um remédio com poderes mágicos, é exemplo que contém esse valor informativo da parte superior e da parte inferior. O anúncio está estruturado no eixo vertical, apresentando na parte superior a imagem de um moço – chamado de Farrista - cujas qualidades são descritas no texto verbal onde aparece também a ‘promessa do produto’ que resolverá os problemas causados pelos excessos do Farrista. Na seção inferior do anúncio é apresentado o produto, com as informações reais e indispensáveis ao leitor, sobre a qualidade do produto, a forma como deve usá-lo (posologia), além de informações também essenciais a outros leitores que não se encontram na situação do Farrista. Essas informações têm o objetivo de persuadir o leitor a comprar e fazer uso do medicamento. ideal real (Platão & Fiorin, 2001, p. 108) O VALOR INFORMATIVO DO CENTRO E DA MARGEM De acordo com esse princípio, a informação estrutura-se nessa dimensão do centro e da margem. Segundo os autores, os desenhos de crianças são as manifestações mais características dessa estrutura. Os autores afirmam que Na visualização ocidental contemporânea, a composição central é relativamente incomum, embora aqui também possam existir mudanças em marcha. A maioria das composições polariza elementos como Dado e Novo e/ou como Ideal e Real. Mas [......] a composição central desempenha um importante papel na imaginação. (MOZDZENSK p.24). Nesse caso, é preciso que na composição, algo se apresente como centro, como núcleo da informação, subordinando a si os outros elementos. Vejamos o exemplo a seguir. 40 margem centro Revista Época nº 423, 26/6/2006, p. 12 – imagem 114 Essa é a imagem principal da reportagem que tem como título: Mulher, e defensora dos gays e é mostrada num quadro onde aparece a figura de uma mulher elegante, com vestes clericais, falando de um púlpito. A sua fisionomia, com um ar de sorriso, demonstra confiança e transmite segurança, e é esse o foco principal da imagem, o centro da imagem. Como pano de fundo, em segundo plano, na margem superior, há uma grande cruz e por trás uma cortina de cores diferentes, o que leva o leitor a inferir que aquele local é uma igreja. Esses detalhes, juntamente com o púlpito, na margem inferior da fotografia, constituem-se no Dado, aquela conhecida do leitor, o que lhe permite fazer inferências a respeito do lugar de onde fala a mulher. Ainda na margem inferior, à direita, um pequeno texto verbal explicativo da imagem. O Novo trazido ao leitor está no centro da imagem, a figura da mulher cujos traços, descritos acima, ajudam a construir o seu perfil, para exercer as funções a ela atribuídas, bem como para proferir um discurso expondo o seu posicionamento sobre um tema polêmico para grande parte da sociedade e, principalmente, para a Igreja o que justifica o título da reportagem. 2. SALIÊNCIA Na saliência os elementos (participantes e sintagmas visuais representacionais ou interativos) são dispostos para chamar a atenção do leitor ou do espectador em diferentes graus que vão da saliência mínima à saliência máxima. Realizam-se através de fatores tais como a localização ou disposição dos personagens no primeiro ou no segundo plano, o tamanho relativo de representantes, os contrastes de tons e cores, as diferenças de brilho (nitidez). A saliência pode gerar relações de hierarquia, quando dá ênfase a alguns elementos destacando- 14 Esta imagem, bem como as demais utilizadas neste capítulo foram objeto de trabalhos apresentados pela autora em Congressos e Seminários. Informações completas vide referências. 41 os como mais merecedores de atenção que outros, como afirmam Kress & van Leeuwen (1996, p. 212) ... a composição de uma imagem ou de uma página também envolve diferentes graus de saliência com relação aos seus elementos. Independentemente de onde estejam posicionados, a saliência pode criar uma hierarquia de importância entre os elementos, selecionando algum como o mais importante, como o merecedor de maior atenção que os demais. (MOZDZENSK p.30). Essa hierarquia, essa importância maior dada aos elementos faz com que eles chamem mais a atenção do leitor/espectador e é construída pelo contraste das cores – saturadas e suaves, pelo brilho, superposição, contraste tonal, posicionamento no campo visual, perspectiva – objetos em primeiro plano são mais salientes que objetos em segundo plano. No caso da saliência, as cores têm uma função muito importante na hierarquia entre os elementos, como vimos acima e, por essa razão, é necessário falar um pouco sobre essa função que as cores exercem no texto visual. A IMPORTÂNCIA DAS CORES As cores têm um papel fundamental na composição visual. No texto devemos analisá-las, procurando verificar o que representam simbolicamente. A simbologia das cores é conhecida de todos nós, por exemplo, o branco representa paz, espiritualidade, pureza; o vermelho simboliza sangue (vida ou morte), guerra, e é também, ainda hoje, bandeira de regimes políticos; o preto simboliza o luto, a viuvez, a escuridão. Toda essa simbologia tem um significado que é situado culturalmente. No texto, porém, a escolha das cores depende não apenas do contexto cultural e da simbologia, mas, principalmente, do grau de letramento do produtor do texto e está intencionalmente relacionada ao texto verbal. Com referência ao uso das cores no texto, Taylor (1989, p.3) argumenta que ... não há base para a demarcação física da cor em categorias discretas. Esse ponto de vista é aceito pelo fato de que as línguas diferem muito consideravelmente, ambos levam em conta o número de termos de cor que possuem e a gama denotacional destes termos15. 15 This view is supported by the fact that languages differ very considerably, both whit regard to the number of colour terms they possess, and with regard to the denotational range of these terms. P. 3 42 Isto é, as cores são as mesmas em qualquer lugar, porém, em cada língua há um número considerável de termos para nomear as cores, termos esses que diferem também quanto ao aspecto denotacional. Essa vasta gama de cores visíveis constitui um continuum tridimensional, definido pelos parâmetros de comprimento de onda de tonalidade da luz refletida, luminosidade (a quantidade de luz refletida), e saturação (liberdade de diluição com branco).p.316 Essa afirmativa respalda o que diz Cardoso (2008 p. 68/69) com relação à função da cor como marcador da modalidade naturalista (representação visual) a cor apresenta três escalas; a) cores saturadas – escala que vai da saturação inteira da cor até a ausência total de cores; b) cores diversificadas – escala que vai de uma diversificada série de cores até a monocromia; c)cores modalizadas – escala que vai do uso de diversos tons de uma cor (cores moduladas) até o uso de uma só cor (cores não moduladas). Essas escalas de cores aparecem nas imagens que compõem o texto multimodal, embora nem sempre recorramos a elas, na análise dos aspectos visuais desses textos. Na perspectiva de Taylor (1989), Não há uma gradação de continuidade da cor de um extremo ao outro. Ou seja em qualquer ponto é apenas uma pequena diferença nas cores imediatamente adjacentes a ambos A gradação continua que existe na natureza é representada em um idioma por uma série de categorias discretas p.517 Essas pequenas diferenças nas cores são representadas em cada língua por termos específicos que as identificam. As tonalidades e os diversos matizes de uma cor no texto multimodal são fatores que realizam os contrastes que chamam a atenção do leitor (espectador), em diferentes graus, como explicado no princípio da saliência. 16 17 There is a continuum gradation of color from one end to the other. That is at any point is only a small difference in colors immediately adjacent to both sides….The continuum gradation of color which exist in nature is represented in a language by a series of discrete categories 43 Isso justifica o caráter distintivo da cor na leitura do texto multimodal, por exemplo, diante da imagem de dois copos com líqüidos de cores distintas, é possível diferenciar o conteúdo de cada copo em função da cor apresentada, como se pode ver nas imagens abaixo: (OLIVEIRA, 2007, p tangerina tomate uva couve morango cenoura Revista Saúde, n° 278, outubro 2006, p. 14-16 imagem 218 onde é possível identificar o tipo de suco que cada copo contém, pela cor do próprio suco, comprovando assim o importante papel das cores na leitura e análise do texto multimodal. O texto verbal, neste caso, traz as informações nutricionais de cada suco. O terceiro princípio de composição apresentado por Kress & van Leeuwen é o framing, (estruturação, enquadramento), que apresentamos a seguir. 3. FRAMING ( ESTRUTURAÇÃO, ENQUADRAMENTO) Esse princípio apresenta a disposição dos modos semióticos no texto, como fator de composição de significados. Refere-se também à presença ou ausência de recursos estruturais conectando ou desconectando os objetos ou elementos da imagem. Quando essas estruturas ou recursos estão presentes, os elementos são desconectados, visualmente separados de outros, através de espaço vazio entre os elementos, descontinuidade de cor. Quando há ausência dessas estruturas, os elementos são ligados em um fluxo contínuo, através de cores e formas semelhantes, de recursos de enquadramento, vetores. Com respeito a esse princípio Kress & van Leeuwan (1996, p. 214/215) afirmam 18 Ver referência 44 [....] os elementos ou grupos de elementos são também desconectados, separados uns dos outros, ou conectados, todos juntos reunidos. E o framing visual é também uma questão de gradação: os elementos da composição podem estar mais fortemente ou mais fracamente enquadrados. Quanto mais forte o framing de um elemento, mais ele é apresentado como uma unidade separada da informação. .(MOZDZENSK, 2006, p. 33). O framing é, portanto, responsável por uma estruturação fraca da imagem, quando os seus elementos estão conectados e, quando há a desconexão, dizemos que há uma conexão forte. A presença do framing também indica individualidade, diferenciação, enquanto sua ausência indica, ou enfatiza a identidade grupal. .(MOZDZENSK p. 33). A imagem que apresentamos a seguir exemplifica o framing. Destacam-se dois planos, o que nos permite perceber que o enfoque da reportagem, pelo destaque da foto em primeiro plano, está nos passageiros prejudicados pela crise da empresa, apesar das promessas e planos anunciados pelo governo e pelos dirigentes da companhia para socorrê-los. A foto mostra um aglomerado de pessoas desnorteadas, sem saber para onde ir ou a quem recorrer. Num segundo plano, ao lado dessa foto está uma outra, de tamanho bem menor, mostrando os aviões parados, estacionados em um outro aeroporto. Essas imagens se destacam, chamam a atenção do leitor que, em primeiro lugar lê o visual, para depois ler o verbal. Dependendo do interesse do leitor, os planos podem se inverter, o que está em primeiro passa a segundo e vice-versa. Imagem desconectada Revista Época nº 423, 26/6/2006, p.28 imaem 319 Procuramos mostrar alguns dos principais pontos da Gramática do Design Visual, com destaque para os princípios de composição. Pudemos observar que, à semelhança da 19 Ver referência 45 Gramática Tradicional, esses princípios funcionam como regras que se aplicam ou se tenta aplicar à análise de textos considerados multimodais, isto é, têm caráter meramente aplicativo, como demonstram alguns dos autores consultados (Rocha, 2007; Ferraz, 2007; Almeida e Fernandes, 2008; Souza e Aquino, 2008; Cardoso, 2008; Delphino, 2006, entre outros), que em suas análises procuraram mostrar a aplicação dos princípios propostos por Kress & van Leeuwen a textos da mídia, alguns dos quais utilizados em salas de aula de língua portuguesa. Referindo-se ao funcionamento aplicativo e remetendo a uma certa ingenuidade quanto à análise, BUZATO (2007) faz a seguinte crítica : Felizmente, outros autores procuram abordar a relação entre o verbal e o visual de forma menos ingênua e mais centrada na heterogeneidade constitutiva dos discursos digitais assim como na sua imbricação com os processos sistêmicos de produção e/ou transformação do social que tais discursos realizam e representam. (p.115). INFORMATIVIDADE NOS TEXTOS VISUAIS Com relação ao aspecto da disposição espacial do texto, MOZDZENSK, (2004), diz que essa disposição, seja numa página ou numa tela do computador, constitui-se um dos primeiros recursos acessados pelo leitor na construção de sentidos. A modalidade escrita, em particular, exige um determinado arranjo textual e tipográfico que fornece pistas visuais relativas à organização verbal do texto, contribuindo para o processamento de leitura (p.95). São vários, portanto, os recursos encontrados numa composição que estão à nossa disposição para serem usados na construção dos sentidos dos textos. O autor apresenta a opinião de Bernhardt (2004) de que os textos são dispostos num continuum onde encontramos, num extremo textos visualmente pouco informativos e no outro texto que apresentam alto grau de informação, são os textos visualmente muito informativos. Neles encontramos espaços em branco, ilustrações, variação no formato da letras, símbolos não alfabéticos, ou indícios visuais. Essa noção de continuum é representada por MOZDZENSK (2004), através da figura a seguir: 46 Figura 4: Contínuo da informatividade visual dos textos MOZDZENSK, 2004, p. 95 A figura exemplifica bem o que foi dito acima. De um lado temos o texto + verbal e – visual (visualmente pouco informativo) e do outro lado temos o – verbal e + visual (visualmente muito informativo). OUTROS RECURSOS TIPOGRÁFICOS Mostraremos agora algumas considerações sobre os recursos tipográficos utilizados na composição desse texto multimodal. São recursos de composição que têm por finalidade o destaque de elementos no texto. Mostrando esses recursos NIEMEYER (2AB, 2003) diz que ..... há usos específicos da tipografia para destacar alguns elementos – seja para chamar a atenção para seu conteúdo , separar ou organizar as várias partes que compõem o texto ou para dinamizar o layout (p. 68). A autora apresenta os seguintes recursos: a) Capitular – quando se dá ênfase ao início de um capítulo ou seção do texto. Consiste no aumento do corpo da letra inicial do 1° parágrafo. Essa letra pode ficar fora do corpo do texto – capitular ascendente - ou alinhada ao texto – capitular descendente; b) Versalete – quando todos os caracteres são usados em caixa alta, havendo, portanto, diferença de altura entre os que representam maiúsculas e minúsculas; c) Identação e recuo – identação ou entrada é o espaço em branco no início do parágrafo, conhecido como tabulação. É mais comum à esquerda, na primeira linha do parágrafo; recuo é o inverso da identação, quando o espaço em branco ocorre a partir da segunda linha do parágrafo, ficando a primeira linha alinhada à esquerda; d) Outros elementos tipográficos – empregados como guias de leitura Na produção dos textos multimodais podemos lançar mão de todos esses recursos que estejam à nossa disposição, sabendo usá-los de forma a constituir sentido no texto. Uma coisa que já está se tornando freqüente é a preocupação de professores em inserir, em suas salas de aula, gêneros textuais diversos e recursos tecnológicos modernos. Os 47 livros didáticos também estão usando cada vez mais essa diversidade de gêneros, recorrendo, inclusive, a textos publicitários, jornais, etc.. A preocupação que surge é de natureza teóricometodológica, ou seja, como essas informações estão relacionadas e como são veiculadas através de palavras e imagens? Quais são as orientações que os livros didáticos apresentam para a leitura dessas formas de representação de conhecimentos? Torna-se necessário, portanto, que o professor esteja atento para o fato de que para trabalhar com todo esse aparato, são apresentadas diferentes especificações de multimodalidade e são exigidos, em conseqüência, diferentes letramentos. Encerrando este capítulo chamo a atenção do leitor para a análise do corpus desta tese que se fundamenta nos princípios da GVD, mas leva em conta a materialidade do processo de produção dos textos multimodais. 48 II – METODOLOGIA O objetivo deste trabalho é o de unir a multimodalidade com a seqüência didática, como prática de letramento para os alunos do ensino universitário. O trabalho com o texto multimodal pode e deve ser feito em qualquer curso do ensino superior. O curso de Comunicação Social foi escolhido para a nossa pesquisa, por ser um curso em que a multimodalidade está presente de forma bastante acentuada, já que gêneros textuais, tais como: notícia, reportagem, editorial, trabalhados nas várias disciplinas utilizam múltiplas linguagens, mais especificamente imagens, tratamento gráfico e palavras. O corpus utilizado para análise é constituído de textos produzidos por alunos do 2º período do curso de Comunicação – Jornalismo e Radialismo, matriculados na disciplina Língua Portuguesa II, Redação e Expressão Oral. Esses textos foram produzidos ao longo das doze oficinas realizadas semanalmente com duração de três horas/aula, cada. A turma é composta por 47 alunos, dos quais freqüentam com certa regularidade, aproximadamente, 45 alunos. Desses, participaram do projeto 44 alunos (os que freqüentavam com mais regularidade). O perfil do aluno de Jornalismo é o seguinte: FLUXOGRAMA DE JORNALISMO 2º Período 3º Período 4º Período 5º Período 6º Período 7º Período 8º Período Port. I Port. II Port. III 3 Lab. Telecine 10 Lab. Peq. Meios 10 Projetos 3 Lab. Radio Jornal 10 OPTE 5 Lab. Jorn. Impresso 14 4 Int. à Sociologia 4 PERO TREPJ 6 6 Legis. Ética Jorn. 4 Comun. Compar. 5 Comun. Comunit. 4 Realidade Regional 5 OPTC ou OPTE 4 Int. à Comunic. 5 Teoria da Comun. I 5 Teoria da Comun. II 5 OPTC OPTE OPTE OPTC . 4 4 4 4 E X P E R I M E N T A I S Filosofia I TMPC . OPTC OPTC OPTE 4 Foto Jornalismo 5 4 4 4 Realidade Brasileira 5 Língua Estran. I 5 º Período 4 9º Período . . Educação Física 2 Quadro 3 – fluxograma do curso de jornalismo 49 Como se observa no fluxograma apresentado acima, no segundo período do curso ele já tem cursado, primeiro período, as disciplinas de introdução à sociologia, filosofia, comunicação, além de realidade brasileira e língua portuguesa I. No segundo período, juntamente com língua portuguesa II, disciplina utilizada para realização da pesquisa, o aluno cursa teoria da comunicação, foto jornalismo, língua estrangeira preparação de revisão de originais, provas e vídeo texto, o que explica o seu conhecimento prévio e a sua agilidade para pesquisar os temas propostos nas oficinas. Os alunos de Rádio e TV têm perfil semelhante aos de jornalismo e cursam as mesmas disciplinas, nos dois primeiros períodos, conforme se verifica no fluxograma abaixo: FLUXOGRAMA DE RADIO E TV º Período 2º Período 3º Período Português I Português II Português III Português IV Roteiro Português IV Roteiro II CMC 05 CMC 03 CMC 03 CME 04 Introdução à Comunicação Língua Estrangeira CMC 05 CMC 05 Com. e Realid. SócioPolíticaEconômica Regional CMC 05 Com. e Realid. SócioPolíticaEconômica Brasileira CMC 05 Sociologia CMC 04 4º Período 5º Período 6º Período 7º Período Optativa E CME 04 Administ. Empresa Radiodifusão CME 04 Elementos de Linguagem Musical Sonoplastia CME 05 Tecnologia em Rádio/TV Comunicação Comunitária Optativa C CME 04 CMC 04 OPTC 04 TMPC Estética Som/Imagem Jornalismo Eletrônico Rádio/TV Legislação e Ética Radialismo Optativa E CMC 07 CME 04 CME 04 CME 04 OPTE 04 Optativa E Direção de Programas de TV - I CME 06 Direção de Programas de TV - I CME 06 Optativa C Direção de Programas de Rádio - I CME 06 Direção de Programas de Rádio - II CME 06 Optativa C Optativa E 8º Período OPTE 04 Projetos OPTE 04 Teoria da Teoria da Comunicação Comunicação I II CMC 05 CMC 05 OPTE 04 Filosofia Fotografia I Fotografia II Comunicação Coparada CMC 04 CME 04 CME 04 CMC 05 E X P E R I M E N T A I S OPTC 04 OPTC 04 Educação Física Optativa C LE 02 OPTC 04 Quadro 4 – fluxograma de Rádio e TV Esses alunos também demonstraram, através das atividades das oficinas, o conhecimento já adquirido anteriormente e sua disposição para buscar, por iniciativa própria, as informações necessárias e pertinentes à produção que estavam realizando. Para a produção textual, seguindo as orientações teóricas que embasam a proposta, procuramos responder às questões referidas em (Schneuwly e Dolz (2004:p. 99): 50 1. qual gênero a ser abordado? – textos narrativos 2. a quem se dirige a produção? - alunos do ensino superior – 2º período do Curso de Comunicação (jornalismo e radialismo) da UFPB, matriculados na disciplina Língua Portuguesa II – Redação e Expressão Oral, oferecida pelo DLCV; 3. que forma assumirá a produção? – oral e escrita; 4. quem participará da produção? – alunos e pesquisadora. Como estratégias para coleta de dados foram usadas, além do acompanhamento in loco das oficinas, houve a gravação de uma oficina e filmagem de outra oficina. Na transcrição desse material pode-se verificar a participação efetiva dos alunos, tanto com respeito à produção, quanto às informações teóricas. O trabalho com a seqüência didática é feito em torno dos gêneros textuais, e, por essa razão, faz-se necessário tecermos algumas considerações a respeito. A princípio, há que se fazer referência à importante contribuição de Baktin em seu livro Estética da Criação Verbal, em cujas teses a respeito dos Gêneros do Discurso são discutidos também os Gêneros Textuais em suas formas de interação nas diversas áreas das atividades sociais. Essa contribuição consiste em chamar atenção para o caráter mediador e organizador do uso que fazemos da linguagem, como se pode ver nas suas palavras: Os gêneros do discurso organizam o nosso discurso quase da mesma forma que o organizam as formas gramaticais (sintáticas). Nós aprendemos a moldar o nosso discurso em formas de gênero e, quando ouvimos o discurso alheio, já adivinhamos o seu gênero pelas primeiras palavras, adivinhamos um determinado volume (....), uma determinada construção composicional, prevemos o fim, isto é, desde o início temos a sensação do conjunto do discurso que em seguida apenas se diferencia no processo da fala. (BAKTIN, 2003, p. 283) Relacionados com essas concepções estão os estudos de gêneros textuais e tipos textuais, tais como propostos por Marcuschi (2002, p. 22), que considera tipo textual “a 51 construção teórica definida pela natureza lingüística de sua composição...” Os tipos textuais, segundo o autor, abrangem poucas categorias, como narração, argumentação, exposição, injunção. São definidos por “propriedades lingüísticas intrínsecas; constituem seqüências lingüísticas ou seqüência de enunciados e não são textos empíricos” (p.23). A expressão gênero textual é usada como uma noção propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. (p. 22,23). Os gêneros textuais são, portanto, “realizações lingüísticas concretas definidas por propriedades sócio-comunicativas; constituem textos empiricamente realizados cumprindo funções em situações comunicativas” (p. 23) Os gêneros textuais, em número bem maior que os tipos textuais, referem-se aos textos materializados e seriam: telefonema, sermão, carta, receita culinária, resenha, edital de concurso, notícia jornalística, romance, reportagem jornalística, aula expositiva, bate-papo virtual, entre outros. Mostrando como se analisa e trata os gêneros textuais, o mesmo autor diz que ... seria bom ter em mente a questão da relação oralidade e escrita no contexto dos gêneros textuais, pois, como sabemos, os gêneros distribuem-se pelas duas modalidades num contínuo, desse os mais informais aos mais formais e em todos os contextos e situações da vida cotidiana. (p. 33). Ainda com respeito à questão da produção textual, Marcuschi, (2003, p.15), afirma: Usando de uma imagem, diria que, do ponto de vista sócio-interativo, produzir um texto assemelha-se a jogar um jogo. Antes de um jogo temos um conjunto de regras ....... e uma série de atores .... cada qual com seus papéis e funções.... Mas o jogo só se dá no decorrer do jogo. ......todos devem jogar o mesmo jogo, pois do contrário não haverá jogo algum..... Assim se dá com os textos. Produtores e receptores de texto (ouvinte/leitor – falante/escritor) todos devem 52 olaborar para um mesmo fim e dento de um conjunto de normas iguais. Os usuários da língua, ao produzirem textos, estão enunciando conteúdos e sugerindo sentidos que devem ser constituídos, inferidos, determinados mutuamente. A produção textual, assim como um jogo, não é uma atividade unilateral. Envolve decisões conjuntas. Isso caracteriza de maneira bastante essencial a produção textual como uma atividade sócio-interativa. O autor ainda chama a atenção para a questão da relação oralidade e escrita no contexto dos gêneros textuais, vez que ... os gêneros distribuem-se pelas duas modalidades num contínuo, desde os mais informais aos mais formais e em todos os contextos e situações da vida cotidiana (MARCUSCHI, 2002, p. 33) Considerando esse ponto de vista, a produção textual em sala de aula não pode ser um ato isolado do aluno, mas requer também a participação do professor. Nesse sentido, a proposta de Schneuwly e Dolz (2004) apresentada a seguir busca essa interação. Esses autores definem o trabalho com seqüências didáticas, como “um conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito” (p.97). A seqüência didática tem o objetivo de auxiliar o aluno a dominar melhor um gênero de texto, o que permitirá que ele escreva ou fale de maneira mais adequada numa determinada situação de comunicação. Esse trabalho escolar “será realizado, evidentemente, sobre gêneros que o aluno não domina ou o faz de maneira insuficiente; sobre aqueles dificilmente acessíveis, espontaneamente, pela maioria dos alunos;”(p.97). Os autores apresentam a estrutura base de uma seqüência didática representada pelo esquema que segue: ESQUEMA DA SEQÜÊNCIA DIDÁTICA APRESENTAÇÃO PRODUÇÃO Módulo Módulo PRODUÇÃO DA SITUAÇÃO Módulo INCIAL 1 2 n FINAL (Schneuwly & Dolz, 2004,p.98) 53 A apresentação da situação traz para os alunos, de forma detalhada, a tarefa que deverão realizar, tendo por finalidade expor a eles um projeto de comunicação que será realizado na produção final. É esse o momento em que “a turma constrói uma representação da situação de comunicação e da atividade de linguagem a ser executada”. (p.95) A proposta é a de um projeto coletivo de produção de um gênero oral ou escrito, dentro de uma determinada situação de comunicação na qual devem agir e quando é discutido o gênero a ser produzido, para quem se destina a produção, qual a forma que assumirá essa produção - gravação em áudio e vídeo, representação em sala de aula, etc... – e quem participará da produção. A seguir são discutidos os conteúdos a serem produzidos e os gêneros em que serão apresentados. A produção inicial é o próximo passo da seqüência, em que os alunos elaboram um primeiro texto, oral ou escrito, no qual revelam as representações que têm dessa atividade. Nessa etapa o professor terá “condições de avaliar o que os alunos trazem de conhecimento prévio acerca do gênero proposto, além de possibilitar ajustes em relação à seqüência escolhida e às dificuldades da turma” (Cavalcante & Marcuschi B., 2005, p. 136) Nos módulos são trabalhados os problemas que aparecem na produção inicial e é o momento em que são dados aos alunos os instrumentos necessários para a superação desses problemas e em que se dá a apropriação de novos saberes sobre o gênero em questão. A produção final, que permite colocar em prática as noções e instrumentos trabalhados nos módulos, encerra a seqüência didática. É essa produção que dá subsídios ao professor para avaliar a aprendizagem e propor nova seqüência didática possibilitando aos alunos progredirem no trabalho com gêneros. Toda essa seqüência, como dizem os próprio autores, aplica-se tanto ao trabalho com a expressão escrita quanto naquele com a expressão oral. Justificam essa afirmação dizendo que “isso decorre do simples fato de que o objeto de trabalho que funda o procedimento, ou seja, o gênero, é a forma que assume, necessariamente, toda comunicação, seja qual for a modalidade utilizada”. (SCHNEUWLY & DOLZ, 2004, p. 111/12). Os autores falam ainda a respeito da escolha de gêneros para o ensino fundamental, considerando esta uma difícil questão. Daí propõem sejam os gêneros agrupados com base em três critérios: domínio social da comunicação a que pertencem; capacidades de linguagem envolvidas na produção e compreensão desses gêneros e sua tipologia geral. De acordo com os domínios sociais de comunicação esses agrupamentos seriam da ordem do NARRAR, da ordem do RELATAR, da ordem do ARGUMENTAR, da ordem do EXPOR e da ordem do DESCREVER AÇÔES. 54 Em nossas oficinas foram utilizados os gêneros da ordem do NARRAR onde se encontram os gêneros cujo domínio é o da cultura literária ficcional, caracterizados pela mimesis da ação através da criação, da intriga no domínio do verossímil.. Exemplos: contos de fada, fábulas, lendas, narrativas de aventura, de enigma, ficção científica, crônica literária, romance, entre outros. (SCHNEUWLY & DOLZ, 2004, p. 21) e da ordem do RELATAR, que comporta os gêneros pertencentes ao domínio social da memorização e documentação das experiências humanas, situando-as no tempo. Exemplos: relato de experiências vividas, diários íntimos, diários de viagem, notícias, reportagens, crônicas jornalísticas, relatos históricos, biografias, autobiografias, testemunhos etc. (idem) A escolha dessas duas ordens de gênero deu-se em razão da maior proximidade com a realidade dos alunos e com a sua experiência vivenciada ao longo do curso. Os gêneros do NARRAR e do RELATAR fazem parte do cotidiano acadêmico dos alunos pesquisados, das suas práticas de escrita no contexto escolar. Nesse sentido, MARCUSCHI, B. e CAVALCANTE (200..) apresentam as características básicas das redações escolares, em relação aos gêneros textuais, considerando o espaço onde elas ocorrem e a substituição da função sócio-comunicativa pela pedagógica. Para elas as redações escolares, em virtude do seu caráter circular, são denominadas de endógenas, “pois se originam e se esgotam nelas mesmas” (p. 5) e miméticas “pois imitam gêneros de circulação social, sem todavia conseguirem preservar a função sócio-comunicativa do espaço original, que é substituída pela função pedagógica” (p. 6). As autoras ainda esclarecem: No que se refere à redação endógena, as limitações das condições de recepção estão evidentes, pois o único interlocutor autorizado é o educador. Já a redação mimética, construída, sobretudo, a partir da introdução do estudo dos gêneros textuais no contexto pedagógico, disseminou a relevância de serem considerados outros interlocutores do texto (além do professor), bem como a análise crítica da redação, decorrendo daí a incorporação da revisão e da refacção como etapas inerentes ao processo de escrita (p.7). Nas nossas oficinas foram vivenciadas essas etapas de revisão e refacção e os textos produzidos, conforme a escolha do gênero textual, apresentam tanto o caráter endógeno quanto o mimético. Essa idéia de agrupamento dos gêneros encontra-se também em Bronckart quando trata da arquitetura textual. Ele os coloca em dois conjuntos de discurso: os da ordem do NARRAR 55 (situado em outro lugar, que deve ser avaliado e interpretado pelos leitores) e os da ordem do EXPOR (não são narrados, mas mostrados ou expostos).(BRONCKART, 2006, p. 151). Na seqüência didática que trabalhamos, conforme dito acima, escolhemos gêneros da ordem do NARRAR, tais como: conto, lenda, narrativa de aventura, fábula. Na ordem do RELATAR os gêneros escolhidos foram: crônica, noticia, relato de experiência. A seqüência didática, vivenciada ao longo das doze oficinas, foi desenvolvida da seguinte maneira: a) produção inicial – texto produzido pelo aluno a partir do seu conhecimento prévio; b) seqüência (1) – caracterização do gênero texto produzido, identificação e/ou inserção das propriedades (características) desse gênero; leitura de textos multimodais; leitura de textos do gênero escolhido pelo aluno; c) seqüência (2) – elaboração de roteiro para produção do texto final; (refacção do texto inicial); d) produção final – texto final produzido pelo aluno e comparado com a produção inicial. A aplicação dessa proposta realizou-se conforme descrevemos a seguir. Os encontros com os alunos serão chamados de oficinas. As oficinas correspondem, portanto, aos passos da seqüência didática, conforme esquema à pagina 57. Salientamos que as três primeiras oficinas foram preparatórias para a produção textual que começa a ser descrita na oficina 4. Oficina 1 - duração 3 horas/aula - 46 alunos Nesta primeira oficina a professora20 responsável pela disciplina apresentou a pesquisadora que trazia para a turma uma proposta de trabalho, com a finalidade de constituir um corpus para análise em uma tese de doutoramento. Distribuiu aos alunos algumas tarefas que deveriam ser entregues no final do período para atribuição das notas da disciplina. A pesquisadora apresentou o seu projeto de doutorado e a proposta de trabalho com a turma. Em virtude de tratar-se de algo novo para os alunos, houve a necessidade de trabalhar os conceitos de gênero textual, multimodalidade e letramento, utilizando-se para isso, textos de trabalhos apresentados pela pesquisadora, em seminários e congressos e também textos teóricos que embasaram essa prática. Além desses, foram trabalhados também os textos: 1) SOARES, Magda. Letramento: um tema em três tempos; MARCUSCHI, Luiz Antonio. Gêneros Textuais; DIONÍSIO, Ângela Paiva. Multimodalidade e multiletramento. 20 Durante a realização das oficinas a professora responsável pela disciplina esteve, por duas vezes, com a turma e, ao final, solicitou que os alunos escrevessem um relatório sobre as atividades da disciplina, verificando-se que a maioria escreveu, em vez de relatório, relato de experiência, gênero vivenciado nas oficinas. 56 Nesse momento foi lido e discutido o texto de Soares, (2004), com as principais noções a respeito de letramento e sua relação com escolarização, alfabetização, letramento digital, entre outros. Oficina 2 - duração 3 horas/aula - 46 alunos Continuando a apresentação dos textos teóricos, nesta oficina foi lido e discutido o texto de Marcuschi (2002), com as noções de gêneros textuais e identificação, principalmente, aqueles gêneros a serem trabalhos na proposta, ou seja os gêneros do narrar: conto ou lenda, narrativa de aventura e narrativa científica. O material usado nesta oficina, explicativo das características dos gêneros encontra-se no anexo (1). Oficina 3 - duração 3 horas/aula - 46 alunos A terceira oficina foi dedicada à leitura e discussão do texto de Dionísio (2005), que traz as noções básicas sobre o texto multimodal, suas características, sua estrutura. Foi ainda apresentada, por escrito, a proposta do projeto (abaixo), após o que cada aluno escolheu o gênero com que iria trabalhar, fazendo um esboço com as idéias que dariam suporte à produção do texto inicial. Proposta elaborada a partir das respostas às questões acima colocadas. GÊNEROS A SEREM TRABALHADOS EM SALA DE AULA conto maravilhoso (ou lenda) Do NARRAR narrativa de aventura escolher um subgênero Narrativa científica relato de experiência vivida Do RELATAR relato de viagem a turma seria divida em grupos cada grupo trabalharia um desses Notícia temas, em forma de seminário ou crônica esportiva painel (seria a avaliação) Oficina 4 - duração 3 horas/aula - 46 alunos 57 Esta oficina, como mencionado anteriormente, inicia a seqüência didática propriamente dita, com a produção do texto inicial, dos gêneros do NARRAR. Cada aluno escolhia um dos subgêneros21 sugeridos na proposta do projeto apresentado na oficina 1, fazia um esboço do que pretendia escrever a partir do seu conhecimento prévio. E, com base nas idéias já esboçadas, escrevia a sua produção inicial. Para começar a escrever o texto, o aluno baseava-se no esboço feito anteriormente (oficina 3) e, alguns deles, além do esboço, elencavam as principais características do gênero com que iriam trabalhar. Apesar de na proposta não ser sugerido o subgênero fábula, um aluno escolheu esse subgênero para sua produção, não havendo nenhuma objeção por parte da pesquisadora. Após a escolha desses subgêneros, foi-nos possível elaborar o seguinte quadro, com gráfico demonstrativo: QUADRO 5– GÊNEROS DO NARRAR GÊNEROS NARRAR SUBGÊNEROS OPÇÃO % 28 63,6 Lenda 03 6,8 Narrativa de aventura 12 27,2 Narrativa científica 0 0,0 Fábula 01 2,2 Conto Maravilhoso:22 (ou lenda) Total 44 Quadro 5 – Gêneros do narrar GRÁFICO 1 – GÊNEROS DO NARRAR 21 Chamamos de subgêneros, os gêneros de cada ordem NARRAR e RELATAR 22 Nessa proposta levada aos alunos há o subgênero Conto Maravilhoso, que designa o conto infantil, tal como estava na proposta de Schneuwly e Dolz (2004). No entanto, o aluno poderia escrever um outro conto, não havendo, necessariamente, a obrigatoriedade de escrever um conto infantil. Essa a razão de alguns alunos nomearem os seus textos de conto maravilhoso. 58 Gêneros do narrar OPÇÃO Fábula Narrativa científica Narrativa de aventura Lenda Conto Maravilhoso (ou lenda) % Subgêneros Gráfico I – gêneros do narrar O gráfico demonstra, na coluna azul, o número de alunos que escolheu escrever um determinado subgênero e, na coluna vermelha, o percentual a que corresponde esse número em relação ao total de alunos participantes das oficinas. Observa-se que a maioria escolheu o subgênero conto, seguido de narrativa de aventura, lenda23 e, em último lugar, fábula24. Os textos produzidos pelos alunos eram colocados em pastas individuais, etiquetadas, permitindo-lhes, assim, verificar o progresso nos textos por eles produzidos. Esses textos eram avaliados pela pesquisadora e colocados de volta na pasta. Os alunos podiam, a partir dessas avaliações, refazer os textos. Eles questionavam as correções e, havia alguns alunos que nem sempre aceitavam as considerações da pesquisadora e, por isso, não refaziam os textos. Oficina 5 - duração 3 horas/aula - 37 alunos O passo seguinte foi a leitura de textos de gêneros narrativos diversos, para identificação de características e diferenças e comparação com a produção inicial, para uma possível reescritura desse texto. Foram lidos os seguintes textos, (cópia em anexo): contos: O Patinho Feio (parafraseado), A Tartaruga e o Leopardo, O Macaco e a Banana, A Conta; lenda: Curupira, Mula sem Cabeça; fábula: O corvo e o pavão, A Raposa e a Cegonha, A Cigarra e a Formiga; narrativa de aventura: Apolo, Sete Dias de Tempestade. Oficina 6 - duração 3 horas/aula - 32 alunos 23 O subgênero lenda não foi contemplado na análise do corpus, devido ao critério de seleção adotado: estar presente AM todas as oficinas. No entanto, trazemos em anexo, os gêneros produzidos. 24 idem 59 Nesta oficina, após a leitura dos textos citados na oficina anterior, cada aluno retomou o seu texto inicial, para fazer as modificações necessárias e produzir o texto final, inserindo neste, a linguagem visual ou gráfica a fim de caracterizá-lo como textos multimodais. Para inserção dessas outras linguagens, os alunos fizeram uso do computador, devido à facilidade que as novas tecnologias oferecem. Nesse momento, eles usaram a sua criatividade, o conhecimento adquirido e elaborado durante todo o processo de produção, acrescentando-se a isso o letramento social de cada um. (ver cap. I, p. 18, desta tese). Oficina 7 - duração 3 horas/aula - 36 alunos Esta oficina foi dedicada à leitura dos textos produzidos, num total de trinta e seis25. Os alunos, em dupla, leram os textos uns dos outros, fazendo comentários a respeito do texto lido, identificando, inclusive, as características do gênero produzido. Por esses comentários, é possível perceber que eles assimilaram bem as noções de gêneros textuais, pois nomearam os gêneros dos textos lidos, destacando as suas características. Quanto à linguagem visual/gráfica, a maioria demonstrou haver compreendido o que é essa linguagem, o que ela significa e como se processa a sua inserção nos textos por eles produzidos. O próximo passo foi o de proceder às considerações sugeridas pelos colegas. Oficina 8 - duração 3 horas/aula - 40 alunos Nesta oficina os alunos apresentaram oralmente o seu próprio trabalho, falando sobre as modificações ou diferenças entre a produção inicial e a produção final, destacando as marcas de multimodalidade inseridas no texto final. Foi uma apresentação rápida,visto que o texto já havia sido comentado na oficina anterior. Depois de realizada a avaliação de todos os textos, pela professora pesquisadora, os alunos reescreveram os textos para entrega da versão final. A avaliação a que nos referimos aqui é a avaliação formativa, tal como empregada por Marcuschi, (2004, p. 79), que nos diz o seguinte: ... a tônica da avaliação formativa não se situa na contagem ou não dos erros, na atribuição ou não de notas, na adoção ou não de conceitos, na elaboração ou não de provas, no desenvolvimento de um ou vários exercícios, mas no significado atribuído a essas e outras atividades, bem como nas informações 25 Foram produzidos quarenta e seis textos, porém, nessa oficina, somente trinta e seis alunos compareceram. 60 que a partir delas são detalhadamente elaboradas a respeito da aprendizagem do educando. Isto significa dizer que a avaliação dever contribuir para o processo de aprendizagem do aluno, ajudando-o na construção do seu conhecimento. Oficina 9 - duração 3 horas/aula - 41 alunos Terminada a seqüência com os textos do NARRAR, passamos à segunda seqüência com os textos do RELATAR, seguindo os mesmos passos das produções anteriores. Nesta produção os alunos poderiam optar por trabalhar de modo individual ou em grupo. Vinte e um alunos fizeram opção pelo trabalho em grupo. Após escolhido o subgênero e definido se o trabalho seria em grupo ou individual, os alunos elaboram o esboço do que gostariam de escrever, e começaram a produção inicial. A escolha pode ser mostrada no quadro e gráfico abaixo: QUADRO 6 – GÊNEROS DO RELATAR GÊNEROS SUBGÊNEROS OPÇÃO % RELATAR Relato de experiência vivida 07 15,5 Relato de uma viagem 0 0,0 Notícia 30 66,6 Crônica esportiva 1 2,2 Crônica 07 15,5 Total 45 Quadro 6 – gêneros do relatar GRÁFICO 2 – GÊNEROS DO RELATAR Gêneros do Relatar Crônica Crônica esportiva Notícia Relato de uma viagem Relato de experiênci a vivida OPÇÃO % Subgêneros Gráfico 2 – gêneros do relatar 61 Oficina 10 - duração 3 horas/aula - 23 alunos À semelhança do que ocorreu com o gráfico anterior, na coluna azul, o número de alunos e escolha do subgênero e, na coluna vermelha, o percentual a que corresponde esse número em relação ao total de alunos participantes das oficinas. Nestes gêneros do relatar, a maioria escolheu o subgênero notícia (peculiar ao seu curso), seguido de crônica, relato de experiência e crônica esportiva. Terminada a produção inicial foram feitas leituras de textos dos gêneros produzidos, (crônica, relato de experiência...) e de textos de suporte teórico. (em anexo). Oficina 11 - duração 3 horas/aula - 45 alunos Durante essa oficina houve a reescritura do texto inicial, resultando na produção final. Para inserção das linguagens multimodais, procedeu-se como na oficina 6, ou seja, os alunos levaram os seus textos, concluindo-os em casa, utilizando-se dos recursos oferecidos pela tecnologia à disposição no computador. Oficina 12 - duração 3 horas/aula - 46 alunos Esta oficina foi reservada à apresentação oral dos trabalhos, à semelhança da oficina 8, encerrando a participação da pesquisadora junto àquela turma. Concluídas as oficinas e de posse dos textos produzidos pelos alunos, elaboramos alguns critérios para seleção dos textos que vão compor o corpus. A seguir elencamos esses critérios. Critérios de seleção dos textos para análise Para a seleção dos textos que constituirão o corpus desta tese foram adotados os seguintes critérios:. 1. Participação do aluno em todas as etapas do processo O primeiro critério adotado para a seleção dos textos foi o da participação do aluno em todas as etapas do processo de produção desses textos (a seq6uência didática), o que implica freqüência a todas as oficinas realizadas e produção conforme orientação dada nas oficinas. No quadro a seguir temos um demonstrativo dessa participação. 62 QUADRO 7 – FREQÜÊNCIA ÀS OFICINAS Aluno Oficinas data 01 Oficina 06 07 04/3 11/3 02 29/1 03 12/2 04 19/2 05 26/2 X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X F X F X X X X X % 08 25/3 09 01/4 10 08/4 11 15/4 12 22/4 X X F X X F F X X X X X X X X X X X X X X F X X X X X F F X F X X X X X X X X X X X X X X X X X 91,6 100 91,6 91,6 91,6 83,3 83,3 100 100 100 100 91,6 100 91,6 100 91,6 100 75,0 83,3 83,3 91,6 83,3 83,3 100 100 75,0 100 100 91,6 75,0 75,0 100 91,6 91,6 100 100 75,0 83,3 83,3 91,6 75,0 75,0 83,3 100 91,6 83,3 a1 a2 a3 a4 a5 a6 a7 a8 22/1 X X X X X X X X a9 a10 a11 a12 a13 a14 a15 a16 a17 a18 a19 a20 a21 a22 a23 a24 a25 a26 a27 a28 a29 a30 X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X F F F X F F X X F X X F F X X X X X X X X X X X X X X X X X F X X X X X X X X X X X X X X F X X F X X X X X X X F X X X X X X X X X F X X X X X X X X X X X X X X X F X F X F X F X X F X F X X F X X X F X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X a31 a32 a33 a34 a35 a36 a37 a38 a39 a40 a41 a42 a43 a44 a45 a46 X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X F F X X F X F X X X X X F F F X X X F X X X X X X X X X F X X X F X X X X F F X X F X X X X X X X F X X X X F X F X X X F F F F F F F X X F X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Quadro 7 – freqüência às oficinas Os números marcados correspondem aos alunos cujos textos foram selecionados para análise, observando-se os critérios estabelecidos. Como se pode observar, dos quarenta e seis alunos que participaram das oficinas, a maioria teve freqüência acima de setenta e cinco por cento e, destes, dezesseis tiveram cem por cento de freqüência, como demonstrado no gráfico abaixo. Serão os textos produzidos pelos que tiveram freqüência integral que constituirão o corpus para análise. Utilizaremos a 63 nomenclatura de identificação dos alunos como mostrada no quadro 3 acima (a1, a2, a3,...) para fazer referência aos autores, quando apresentarmos os seus textos na análise do corpus. GRÁFICO 3 – FREQÜÊNCIA ÀS OFICINAS Freqüência às oficinas Freqüência Falta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 alunos Gráfico 3 – freqüência àsoficinas 2. presença da multimodalidade nos textos... com uso de estratégias diversas Um segundo critério adotado para a seleção do corpus foi o da inserção das marcas de multimodalidade na produção final dos textos, quando os alunos usaram diversas estratégias, tais como: imagens, tipos gráficos diferentes, palavras e frases coloridas, destaques de fala de personagens e narrador, letra capitulada, etc. para tornar os textos multimodais. Nessa etapa do processo, os alunos puderam utilizar-se do computador, para inserção dessa linguagem visual, pela maior facilidade que isso lhe proporcionava. Nesse momento da inserção os alunos usaram a sua criatividade e originalidade, influenciados pelo contexto social de cada um. Com essa metodologia foi feita a coleta dos dados que constituem o corpus a ser analisado neste trabalho, conforme se pode ver no capítulo a segui 64 III – ANÁLISE DO CORPUS Este capítulo, dedicado à análise do corpus, contemplará itens relacionados à adequação ao gênero escolhido pelo aluno, observando-se também os fatores de textualidade, em seus aspectos de coesão e coerência textuais, e a autoria dos textos com base nos critérios apresentados quando da realização das oficinas. Com relação à seqüência didática observamos a) produção inicial dos alunos verificando-se a pertinência das idéias, a adequação ao gênero, a seqüência lógica; b) segunda produção com as modificações efetuadas na reescritura dos textos, organização textual, avaliação lingüística, vozes presentes no texto e c) produção final momento da apresentação final do trabalho com a inserção da linguagem visual/gráfica. Como já foi explicado no capítulo anterior, p. 69, o texto multimodal aparece somente na produção final, quando o aluno, já havendo cumprido as etapas anteriores da seqüência didática, escreve a versão final do seu texto para ser apresentado em sala e entregue à professora, encerrando assim a sua participação mo processo. A análise dos textos selecionados será feita à luz dos fundamentos da Gramática do Design Visual, proposta por Kress & van Leeuwen (1996), no que diz respeito aos princípios de composição e às funções da linguagem, levando em conta a materialidade do processo de produção dos textos multimodais e os critérios adotados para essa análise, conforme podemos ver na seqüência. Gênero e textualidade: ilustrando o objeto Os textos produzidos durante as oficinas atenderam aos gêneros propostos, tanto os gêneros do narrar, quanto os gêneros do relatar. Foram levadas em consideração as características desses gêneros, conforme a escolha de cada subgênero. Os textos produzidos são narrativos cujos elementos básicos são: o fato, o tempo, o lugar, personagens, causas, modo, conseqüências, ressaltando-se, nesses textos, aquelas características específicas do subgênero escolhido. Gêneros do narrar Conto 65 Como já foi dito na Metodologia (Cap. II p. 62, nota ), embora a proposta de trabalho levada aos alunos contemplasse apenas o conto maravilhoso, foi-lhes dada também a opção de escreverem outros contos, como por exemplo, o conto popular, mesmo que algumas marcas do conto maravilhoso, como mistério, suspense, personagens do reino animal estejam presentes nesses seus textos. De acordo com Megale (1999), O conto popular é um relato oral e tradicional de contornos verossímeis e também ocorrendo dentro do maravilhoso e do sobrenatural. Pode mencionar fatos possíveis como também referir-se a animais dotados de qualidades humanas e episódios com abstração histórico-geográfica. ... O conto ainda documenta a sobrevivência, o registro de usos, costumes e fórmulas jurídicas esquecidas no tempo. A moral de uma época distante continua imóvel no conto que ouvimos nos nossos dias. Com relação ao conto maravilhoso, Machado (1994) diz que as leis que dominam as situações, nesse conto, são totalmente diferentes daquelas que dominam o mundo real, mesmo havendo tendência ao predomínio de bosques e florestas. E acrescenta .... esse é o mundo habitado pelos seres maravilhosos: fadas, magos, bruxas, anões, gigantes, gênios, nereidas, gnomos, ogros, dragões, duendes e outros seres criados pela natureza. Todos eles convivem com naturalidade e nada do que lhes ocorre é considerado estranho. ... Com base nessas definições apresentamos a seguir, as produções dos alunos acompanhadas de comentários.26 Apresentaremos a seguir um texto de cada um dos gêneros escolhidos. Do gênero do narrar serão contemplados contos, narrativas de aventura e do gênero do relatar, crônica, notícia e relato de experiência. Texto 1 - a 44 26 Os textos mostrados aqui foram reduzidos por questão de funcionalidade. Eles estão na íntegra, no anexo 66 Mistérios de um vale Há cerca de 700 anos d.C. um pequeno território entre as extintas províncias de Tocris e Planoalti, dominadas pelo também extinto Reino de Filipéia, foi dominado por um populoso grupo de camponeses fugitivos de um reino ao sul. Tratavase de pessoas fortes e corajosas, mas com dignidade ferida devido a inúmeras humilhações sofridas por parentes e amigos no regime do reino que de lá fugiam. Até que decidiram acabar com tudo isso e recomeçar. Passaram por noites e dias a caminhar em busca de um local que pudesse acolher a todos da grande caravana, até que encontraram um grande vale, rico de belezas naturais e uma fauna invejável, privilegiado por sua geografia e seus aspectos climáticos. E foi lá onde se estabeleceram. O novo povoado iniciou-se com uma grande organização, onde a cada família ou grupo, eram dadas algumas atribuições, cada um trabalhando de forma específica visando ma futuro progresso. E foi em um desses grupos, que o pequeno Oven e a linda camponesa Diane ainda crianças se conheceram, ela desde pequena com um singelo e angelical sorriso, um olhar misterioso e não podendo esquecer, seus lindos e longos cabelos negros, deixando-se levar pelas ondulações perfeitas de seu corpo esculpido a dedo. Diane e Oven por serem criados juntos, acabaram tornando-se melhores amigos, trocavam confidências, experiências, aventuras, desentendimentos em· casa, em fim tudo que ocorria no dia-dia de cada um. O tempo passava, eles cresciam, e chegou um momento em que a menina Diane já era jovem mulher nesse momento ela resolveu contar um grande segredo que guardou consigo durante alguns anos. Convidou seu amigo para um passeio no bosque e foi então que revelou que quando sua família fugia do antigo reino no qual viviam, um feiticeiro aliado ao rei, amaldiçoou a sua mãe que na época ainda estava grávida, fazendo com que a doce Diane todos os dias das 00:00hrs (meia noite) às 05:00hrs (cinco da manhã), se transformaria em uma frágil e delicada rosa. Oven por sua vez, começou a refletir e enxergar o quanto a bela Diane era especial, o quanto aquela encantadora garota era frágil e forte ao mesmo tempo e isso o cativou mais e mais a cada dia. O tempo foi passando, até que o pequeno Oven, começaria a realmente perceber que sentia algo a mais pela sua amiga, se ia dormir, ao fechar os olhos era a linda Diane que lhe vinha em seus pensamentos, em seus sonhos. Mas infelizmente quando veio perceber tudo isso o garoto Oven não tinha tantas oportunidades de dizer tudo isso para sua amada amiga, pois sempre estava a servir seus familiares, trabalhava muito para ajudar em casa e no fim do dia dizia estar muito cansado para ir procurá-Ia. Certo dia sua mãe resolveu que o garoto Oven teria que ir ver alguns de seus parentes, que já não o fazia há muito tempo. Diane foi se despedir do seu amigo sem saber de tudo que passava no coração do mesmo. E assim com a partida do seu melhor amigo, Diane se viu solitária, não tinha com quem mais conversar, até que seus primos Grida e Rilton foram se aproximando por ver sua prima cada dia mais triste. Começando assim um novo ciclo de amizades para aquela garota, começaram a explorar as belezas do vale juntos, conversar, sair e tudo que uma amizade possa proporcionar. Depois de um tempo, seu primo Rilton lembrou-se que um grande amigo estaria pra chegar, e convidou Diane e Grida para irem recebê-lo juntamente com ele. As meninas foram com ele ficar a espera do seu amigo, até que a pequena Grida, não menos bela que a Diane, porém bem baixinha, mas com um coração imenso, enxergou um garoto caminhando em sua direção na linha do horizonte, autêntica como é, chamou atenção dos outros para que pudessem observar e assim Rilton pudesse reconhecer se era seu amigo ou não. Ao se aproximar Rilton correu para lhe dar um abraço, sim, era seu amigo, entretanto ele se desviou por estar totalmente compenetrado no olhar tão carinhoso e misterioso da doce Diane, ela por sua vez se encantou com o sorriso do garoto para muitos não fazia sentido, mas era algo angelical, algo que despertou nela um sentimento maior do que tudo que já havia sentido. O garoto ao chegar a sua frente, curva-se e encosta seus lábios em suas macias mãos, de imediato Grida e Rilton percebem o que está acontecendo, afinal, não foi difícil de enxergar o brilho no olhar de cada um dos dois. Os quatro passaram algum tempo a conversar, até que anoiteceu e as duas garotas tiverem que ir para suas casas. O dia posterior seria o da chegada do garoto Oven, o qual Diane sabia pois ele havia enviado um mensageiro avisando de sua volta a sua amada amiga, entretanto, com tantos novos acontecimentos, a jovem esqueceu de receber seu amigo, Oven ficou a esperar por sua amiga, sabia que algo teria acontecido, pois toda vez que partia e chegava, sua melhor amiga sempre ali estava. Preocupado, achou seu também amigo Rilton e questionou sobre Diane, sem demora acabou falando tudo que estava a sentir pela sua amiga, que tudo já havia ultrapassado os limites da amizade e não sabia mais o que fazer. Foi então que Rilton resolveu contar tudo a Oven, desde a maior aproximação com sua prima Diane, à vinda do seu amigo e o que havia acontecido na recepção do mesmo. Desde então o silêncio foi a única coisa que se via do garoto Oven, às vezes juntamente com seu silêncio, a queda de uma lágrima em encontro a solo e nada mais. Do pobre Oven não poderia saber o que iria fazer, mas no mínimo foi à coisa mais errada que poderia ter sido feita. Em um momento de ira, ele foi a busca do tal homem que fez com que a Diane se apaixonasse, quando o encontrou, foi logo falando tudo que sabia sobre ela, afinal, ele queria ser o íntimo, causando ciúmes no outro rapaz, porém foi tudo em vão. Até que resolveu contar o que havia de mais íntimo e teria certeza que a jovem Diane não contaria para mais ninguém, foi então 67 onde revelou a maldição da qual ela sofria e sem esperar qualquer reação do rapaz Oven partiu em lágrimas. Nunca mais se teve notícias do menino Oven, muitos dizem que ficou a espera da garota Diane à frente do bosque onde ela revelou o seu segredo, porém por anos muitos não passavam por aquele lugar com medo de ser assombrado. E enquanto a Diane, se soube que no dia depois dessa revelação ao rapaz, ela teria recebido incontáveis flores, orquídeas, margaridas e rosas juntamente com um pedido de casamento do único homem que fez seus olhos brilharem e nunca mais viu seu amigo Oven e muito menos entendeu o motivo de ter contado tudo ao seu amado. Esse conto mostra características presentes no conto maravilhoso, como o mistério que envolve a personagem principal, Diane, que se transforma em rosa, à meia-noite e Oven, o único amigo que sabia do seu segredo e que o guardou por muito tempo. Há também certo suspense com a chegada do amigo do primo de Diane e o seu envolvimento com ele à primeira vista e depois com o desaparecimento da moça que se “encantava” no bosque que passou a ser mal-assombrado. Ao longo da leitura percebe-se uma intertextualidade com a conhecida lenda do lobisomem, em que um homem transforma-se em animal, à meia-noite, assustando as pessoas. No dia seguinte ele volta ao normal. A transformação de Diane é bem mais leve e não chega a assustar. Narrativa de aventura A narrativa de aventura caracteriza-se, principalmente, pela ação, elemento fundamental nesse tipo de narrativa. O protagonista da narrativa de aventura, normalmente, é um valente e audaz herói que vive as mais incríveis e surpreendentes situações. O aventureiro não se abate diante de desafios sucessivos, pelo contrário, envolve-se em uma seqüência de peripécias para escapar do perigo. (www.cmsm.ensino.eb.br) A viagem, na aventura, é cheia de obstáculos e perigos que desafiam a astúcia e a coragem do aventureiro. Essa viagem é feita para e por lugares exóticos, ilhas distantes, desertos, onde o viajante aventureiro enfrenta piratas, animais ferozes, estranhas criaturas e convive com povos desconhecidos, hostis ou amigáveis, de hábitos muitas vezes estranhos à cultura do herói. Com base na definição acima e outras informações dadas em aula, os alunos produziram alguns textos que atendem ao subgênero narrativa de aventura. Texto 2 - a 15 A aventura na Mata do Buraquinho Em um dia muito ensolarado, as 5 amigas: Violeta, Orquídea, Vitória Régia,Rosa e Margarida decidiram fazer seu trabalho de campo na Mata do Buraquinho, porém não sabiam que ia ser um dia inesquecível. 68 Assim que chegaram lá, depararam-se com uma onça faminta, que correu com rapidez em direção às suas novas presas. Correr, correr e correr foi o verbo utilizado pelas jovens estudantes de biologia. Após livrar-se do felino, pensaram que estavam fora de perigo quando Orquídea, a caçula do grupo, caiu em um despenhadeiro. As outras companheiras ficaram em pânico mas logo fizeram uma "teresa" (corda improvisada) para resgatar a menina. Com sua pesquisa atrasada, o grupo não desistiu e persistiu à procura de espécies raras do nosso ecossistema. Nessa busca incessante, Violeta se distrai ao olhar pela lupa insetos pequeninos e é picada por uma cobra, que por felicidade do destino, não é venenosa. Após estudarem algumas espécies raras, Rosa convoca as meninas para fazerem um "pit-stop" para o almoço. Depois do almoço, Vitória Régia decide deitar-se um pouco para descansar enquanto o resto do grupo termina a refeição. Sonolenta, a estudante deita-se em cima de espécies raríssima de urtigas. Sem ter o que fazer, as companheiras tentam acalma-la, soprando a queimadura para aliviar a ardência. Decididas de que os estudos práticos de biologia não iam dar certo, as meninas decidem voltar para casa imediatamente, quando, de repente, o tempo fecha e começa a chover intensamente. A chuva não pára, o desespero começa a tomar conta das garotas que só agora percebem que estão presas na Mata do Buraquinho. O tempo passa e o entardecer chega ao som do choro das estudantes, que já não têm tanta força para gritar em busca de socorro. Sorte. Tudo o que elas precisam agora é de sorte. E elas terão. Com o passar das horas o guarda-florestal da Mata do Buraquinho se dá conta de que as futuras biólogas ainda estão lá dentro e decide chamar reforços para ajudar no resgate. Os guardas-florestais resgatam as jovens sãs e salvas e as levam para seus lares. Após um dia frustrado em suas pesquisas acadêmicas, tudo o que elas querem agora é o aconchego de seus pais e uma boa noite de sono. No dia da apresentação do seminário, as meninas têm uma surpresa inesperada: o trabalho de toda a turma foi cancelado! As meninas ficam desoladas, mas acabaram se conformando já que não haviam feito o trabalho. Nessa narrativa o autor escolheu como espaço da história, um lugar real, ou seja, um parque ecológico existente em João Pessoa e conhecido dos prováveis leitores do seu texto. As características da narrativa de aventura estão presentes no suspense que enreda toda a aventura, nos animais encontrados ao longo do caminho, na coragem dos personagens ao enfrentarem os obstáculos, no despenhadeiro, em algumas plantas, na chuva que atrapalha a volta para casa. Merece destaque ainda a identificação dos personagens, com nomes de flores, algumas certamente cultivadas na Mata do Buraquinho (o parque ecológico), onde se passa a aventura. 69 Gêneros do relatar Notícia27 A notícia, um subgênero do relatar, expressa um fato de interesse público, num texto objetivo e sintético. A notícia difere da reportagem, pois, enquanto aquela relata uma série de fatos a partir de outro fato mais importante, esta faz um “levantamento de um assunto conforme ângulo preestabelecido” ((Lage, 2002, p.16). Texto 3 - a 13 Homem-Morcego é visto na mansão Wayne O justiceiro mascarado conhecido como Batman foi visto nos arredores da mansão do empresário Bruce Wayne na noite desta Terça - Feira. O repórter Chuck Smegma foi testemunha do fato e nos relatou que avistou um vulto contornando a casa e rapidamente desaparecendo nos fundos. O Sr. Wayne não declarou nada sobre o assunto mas prometeu esclarecer tudo em uma coletiva de imprensa convocada para a próxima Quinta-Feira. Não é a primeira vez que o nome dos Wayne é ligado a figura do morcego. Há quase dois anos, na festa de 50 anos das Industrias Wayne, após um ataque do maníaco conhecido como Coringa aos convidados, um dos presentes afirma que o empresário desapareceu para, em seguida, ser substituído por Batman. Como nada foi provado e o homem que presenciou o acontecido sumiu, o caso foi arquivado. O Comissário Gordon falou que as devidas providências serão tomadas. O Homem-Morcego, que nunca foi uma unanimidade, tem a desaprovação das autoridades que o consideram excessivamente violento. Agora a a identidade dele pode finalmente ser revelada. No texto acima o autor toma um seriado infantil da televisão e o transforma em notícia, trazendo o episódio para a realidade atual, quando menciona a entrevista na próxima quinta-feira. Sobre essa questão, de se transformar um gênero em outro, MARCUSCHI (2005) diz-nos o seguinte: “um gênero dá origem a outro e assim se consolidam novas formas com novas funções de acordo com as atividades que vão surgindo” (p. 22) Esse fenômeno é chamado de transmutação dos gêneros, segundo a visão de BAKHTIN (2003), ou seja, um gênero é assimilado por outro, gerando um novo gênero. Crônica De acordo com SÁ (1987), a crônica é tanto um gênero jornalístico quanto literário. Não 27 O subgênero notícia já era de domínio dos alunos, visto que eles já a haviam trabalhado em outras disciplinas do curso. 70 tem a densidade específica do conto, mas há a liberdade do cronista. A crônica “... conservou a marca de um registro circunstancial feito por um narrador-repórter que relata um fato... a muitos leitores que formam um público determinado” (p.7) Texto 4 - a 36 A BATALHA DOS AFLITOS Um dos jogos mais emocionante da história do futebol brasileiro. Grêmio x Náutico. O confronto era valido pelo quadrangular final da serie B. Jogo realizado no estádio dos aflitos em Recife no dia 26 de setembro de 2005. O Grêmio sucumbiu a serie b em 2004 quando terminou o campeonato brasileiro serie na ultima colocação. O Náutico há tempos que disputava uma vaga na elite do futebol Aos 28 min do primeiro tempo, Fabrício Carvalho Cruza, a zaga do Grêmio no afasta e o zagueiro Domingos do grêmio comete pênalti sobre o atacante do Náutico. O próprio Fabrício Carvalho cobra e manda a bola na trave. Susto para a torcida do Grêmio e o jogo segue sem gols o que garantia a volta do Grêmio a elite do futebol. Aos 27 min do segundo tempo, Escalona lateral do Grêmio, põe a mão na bola na intermediaria da grande área e é expulso aos 38 min pênalti par o náutico. Os jogadores do Grêmio se revoltam, começa um tumulto, a policia é chamada o jogo fica parado pelo menos uns 25 min. Enfim depois do tumulto a calma se estabeleceu. O pênalti foi cobrado e o goleiro Galato, do Grêmio defendeu, na seqüência Anderson, meia do Grêmio conduz a bola até a intermediaria da área do Náutico, sofre a falta, cobra e prossegue e faz o gol... incrivelmente. Aqui nesse texto o autor escreve uma crônica esportiva, considerando os acontecimentos do momento, com relação ao campeonato brasileiro. Todos os elementos são reais, os times são reais, o jogo acontece num estádio que realmente existe e cujo nome dá o título do texto. Traz as características da crônica, conforme conceituada acima. Relato de experiência O relato de experiência, segundo Schneuwly & Dolz (2004, p.121), é uma narrativa situada no tempo, pertencente ao domínio social da documentação e memorização das ações humanas e representada pelo discurso de experiências vividas. Texto 5 - a 35 71 O açude sangrou! Todos os anos era a mesma coisa: São João, Natal, Ano Novo e Carnaval, eu e meu irmão sempre passávamos férias na Fazenda Olho d'água, localizada no Cariri Paraibano, onde moravam minha tia e seu esposo, um antigo fazendeiro. Titia não teve filhos, por isso sempre a consideramos nossa segunda mãe. Essa região do Cariri sempre foi conhecida como a mais seca da Paraíba, mesmo com as poucas chuvas que presenciei, dava pra notar a alegria dos animais e a festa que a natureza fazia com suas cores verdes e vivas. Mas eu nunca havia visto o açude sangrar e os rios correrem. Sempre escutei histórias da tia, do tio e de pessoas mais antigas do sítio sobre as cachoeiras que se formavam quando o açude passava do seu limite. Sonhava todas as noites com um grande temporal, com aquelas cachoeiras lavando todo o mato seco com sua força, com o banho naquelas águas caindo sobre minha cabeça, com a felicidade natural das plantas e dos animais. Mas no período das chuvas a gente nunca estava na fazenda Certo dia quando o sol estava se pondo, uma grande ventania tomou conta da região, estava se preparando para chover. Começamos a ajeitar tudo, destampamos a goteira da cisterna, fechamos as janelas e colocamos as galinhas no chiqueiro. Uns poucos pingos foram surgindo, mas não foram muito fortes, só molharam um pouco a terra seca, duraram apenas alguns minutos, isso aconteceu durante três dias. Eu me encontrava numa grande ansiedade, parecia que o dia estava próximo. No quarto dia amanhecera nublado e assim passou ã manhã t:. à tarde, todo o céu estava escuro, não se via nenhuma estrela. Fomos assistir à novela na velha televisão preta e branca que era ligada na bateria, pois na época não havia energia elétrica, a luz era no candeeiro. Começamos a jantar, quando de repente os pingos batiam no telhado, eram tão fortes que a terra vermelha da telha caía aos poucos sobre nossos pratos. Deixamos de comer e corremos para o terreiro. Iniciava-se o maior temporal que eu já tinha visto e choveu por toda a madrugada. Nessa noite não sonhei, pois meu grande sonho estava sendo realizado. Queria acordar o mais rápido possível para poder ver aquele grande espetáculo. Quando acordei, minha tia gritou com muita empolgação e emoção: -O açude sangrou! Eu nem quis saber do café da manhã, saí correndo pro açude. Os passarinhos cantavam de felicidade, parecia dia de festa, pois não existe algo mais fascinante do que o amanhecer no campo depois de uma noite de inteira de chuva. Quando cheguei meu irmão já estava lá com meu tio, os dois se encontravam parados olhando com grande admiração àquela bela encenação da natureza. Meus passos foram diminuindo quando vi, nunca imaginei que fosse daquele jeito, era muito mais bonito do que no sonho. O barulho das águas correndo, a formação daquelas lindas cachoeiras, tudo era maravilhoso. Minha vontade era de pular naquelas águas, a titia me segurou, pois a correnteza era muito forte e não dava pra entrar. Ficamos quase uma hora assistindo àquele mega evento natural. Só à tardinha é que o nível e a força das águas baixaram, tomei o tão sonhado banho de cachoeira, não 72 pensava nem em comer, queria passar o di a todo contemplando aquela beleza. Aquilo foi um alimento pra minha alma. Ainda hoje quando tenho notícias de chuvas por lá fico muito feliz. Foi a experiência mais emocionante da minha vida. As férias diminuíram bastante, mas as poucas vezes que posso vou à fazenda e a emoção é a mesma de voltar aquele lindo lugar que considero o meu segundo lar. Essa narrativa relata uma experiência vivida pelo autor, durante a sua infância e adolescência. Como acontece com outros textos aqui analisados, o autor apropria-se de fatos que estão sendo veiculados na mídia, no caso, as chuvas em abundância, as enchentes e alagamentos em conseqüência disso, e relaciona esses fatos à experiência por ele vivida há algum tempo atrás. E, neste caso, também há apropriação das imagens apresentadas na mídia, em tempo real, são imagens reais do lugar e dos fatos que estão sendo relatados. São esses fatos que o fazem relembrar as experiências da sua infância, naquele lugar (interior da Paraíba). Mostramos dois textos do gênero do narrar e três do gênero do relatar. Os textos selecionados que não forem analisados, estarão nos anexos, para conhecimento dos leitores. Verificamos também fatores de textualidade, tais como coesão, coerência, seqüência lógica, adequação ao tema, autoria, cujos conceitos, a seguir, baseiam-se, principalmente, em KOCK & TRAVAGLIA. (1993) Coesão Um texto não é uma unidade construída por uma soma de sentenças, mas pelo encadeamento semântico delas, criando, assim, uma trama semântica a que damos o nome de textualidade. O encadeamento semântico que produz a textualidade se chama coesão. Podemos definir, mais especificamente, a coesão, dizendo que se trata de uma maneira de recuperar, em uma sentença B, um termo presente em uma sentença A. Dá-se o nome de coesão textual à ligação, à relação, à conexão entre as palavras, expressão ou frases de um texto. Essa coesão manifesta-se por elementos formais (elementos gramaticais) que assinalam o vínculo entre os componentes do texto. Pode-se dizer ainda que a coesão é o encadeamento semântico que produz a textualidade 73 Há dois principais mecanismos de coesão: a) Coesão por retomada ou por antecipação b) Coesão por encadeamento de segmentos textuais c) Aqui também alguns elementos coesivos são indicados pelas setas As setas indicam alguns dos elementos coesivos usados pelo autor. Texto 6 - a 17 O abraço Tudo parecia tranqüilo naquele sábado onde dois amigos caminhavam mata adentro em busca de diversão. O entardecer chegava e os garotos não encontravam a trilha que os traria de volta. Com o passar dos minutos tudo ficava mais assustador. O fato de a noite chegar deixara os garotos em pânico. Afinal, eles não estavam preparados para passarem a noite ao relento vulneráveis aos desafios da floresta. A neblina aumentava e com ela o frio os fazia tremer. Um dos garotos percebeu que uma velha gruta estava logo ali a sua frente e decidiram se abrigar pois já estavam exaustos e a sensação de frio adentrava seus corpos na mesma intensidade que a escuridão da noite chegava. Dentro da úmida e sombria gruta tudo ia ficando mais caótico, um dos garotos sugeriu um abraço, pois os corpos unidos os manteriam aquecidos. Nesse segundo a mágica aconteceu. Aquele abraço fez acordar milhões de sentimentos diferentes que nunca antes aqueles dois haviam sentido. Aquele abraço em meio ao clima de medo e impotência fez o novo acontecer. Tudo que antes parecia sujo, longe de suas realidades e impossível acabou se transformando num amor dosado a novos toques e desejos surreais. Toque, gosto, respiração, mãos, lábios, língua, olhos e só Deus como testemunha. Texto 7 - a - 28 Ruínas e Felicidade sob um calor Adquirido As paredes já rachavam de tanto calor. A diferença absurda entre as temperaturas da alta madrugada e as do meio-dia ensolarado dilatava e retraía as barras de ferro até extremos da sua composição molecular. O calor que fazia naqueles últimos dias era mais que INSUPORTÁVEL; era DESUMANO; a mais leve brisa era temida porque mo vi men ta va o ar já em ALTA TEMPERATURA, e era preferível ficar quieto Parado Inerte Qualquer movimento parecia alastrar a QUENTURA do vilarejo. O único movimento indispensável era aquele desenhado em busca de ÁGUA: andar quilos-metro em direção a um rio, a um açude, a uma lagoa, a uma poça qualquer - mesmo que o rosto queimasse em brasa com o vento ousado; ou levantar-se da cadeira ou da rede atrás de um copo d'ÁGUA, ou melhor, uma GRANDE GARRAFA. Já não se praticava mais a sesta, pois os colchões ao fim da tarde se encontravam encharcados, e era necessário cerca de 7sete7sete7sete7 homens para dobrá-lo todo e retirar dele toda a ÁGUAsalgada expelida pelos poros humanos absorvida naquele pedaço de dia. As lamentações eram muitas, ou melhor, nem lamentações mais havia, porque os moradores daquela localidade evitavam (até falar), a fim de economizar suor e evitar uma maior necessidade de ÁGUA. Havia ainda aqueles que 74 lamb-lambiam seu próprio suor, como gatos em seu banho salivar periódico, fosse para evitar o desperdício de ÁGUA, fosse porque as ÁGUAS estivessem longe e não se quisessem empreender movimentos em sua busca. Entretanto a gelidez da madrugada também não dava trégua. A partir das 8 da noite, quando o sol já havia se posto por completo, era obrigado que se movimentasse, pois o frio que se mo vi men ta va era fatal aos inertes. Aproveitava-se aquele momento para se empreenderem os movimentos evitados durante o dia: cozinhavase, andava-se, corria-se, limpava-se a casa e construíam-se outras, procurava-se por ÁGUA, comia-se e bebia-se muito! Ate que o fri-i-i-i-igilar dos músculos não permitisse mais a realização dessas atividades; a temperatura, que no início da noite era de 15°C, descia gra du al men te até -5ºC, -10°C no auge da madrugada, e o trrrrrrremor dos músculos passava para os ossos, e daí passava para o corpo todo, que trrrrrrrrrrrrremia por completo. No início da manhã, às 9h, quando o calor já alcançava os 37°C, as articulações-articulações-articulações acordavam roxas, sem exceção, porque os ossos pareciam fri-i-i-i-igilar sozinhos e era inevitável que bat-essem entre si, e se violentassem, e que se agredissem, em movimentos contrários e conflitantes, constantes e temidos. No estopim do calor, calor no enrijecer das ALTAS TEMPERATURAS, a loucura tomava a cabeça das pessoas sob o sol nada misericordioso, e elas, impregnadas, lavadas, encharcadas, afogadas em SUOR arrancavam suas roupas sem piedade, e se deixavam NUS, se livravam de PUDOR e se enchiam de libido! Os olhares se encontravam por entre o embaçante vapor quentíssimo que exalava do solo escaldante, e se reconheciam num desejo Mútuo... .. triplo....quádruplo.....poligâmico......numa filia i-ne-vi-tá-vel, e se lançavam ao sexo como se lançariam num lago gelado e FUNDO. Buscavam satisfazer aquele desejo insaciável no corpo do outro, ou nos corpos dos outros, em movimentos des-meDIdos e arqueJANtes, contatos bruscos entre corpos escaldantes, e que não sabiam mais o limite entre o cansaço e a estafa, pois o calor lhes retirava qualquer consciência do que faziam. E lamb-lambiam os suores uns dos outros, e todo o vilarejo se desprendia em atitudes sexuais e lancinantes. Num calor de quase 60ºC, já não se sabia mais o que era moral, consciência ou limitações da espécie humana! E assim foram vivendo diuturnamente entre extremos impressionantes de temperatura, que aumentavam e diminuíam a cada temporada. Não havia mais estações, parecia que aquele pedaço de terra apresentava-se disposto ao etemaetemaetemaetemamente... Adaptaram-se e acostumaram todos os seus hábitos e festas e cerimônias àquele regime que já alcançava a normalidade entre eles, de modo que a 3a geração desde o aparecimento daquele calor INIMAGINÁ VEL possuía imunidades especiais, diferentes de qualquer outro humano, de qualquer local da esfera terrestre. Com-viviam amigos do SOL , e a ele se devotavam como a um Deus, mas sem submissão; era amizade, uma relação amigável. Entretanto, algo que SURPREENDEU acabou por aterrorizar toda a cidade, na iminente possibilidade de anular todas aquelas 10-cadas de adaptações e costumes desenhados em função das ALTÍSSIMAS e baixíssimas TEMPERaturas: uma nuvem, forte e cheia, cheia escura e es-TRÜNNNN-dante, uma chuva que poderia cair a qualquer momento, acabando com todo o calor dos anos anteriores. Corria-se toda por a parte alardeava-se, GRITAVA-SE, porque não era uma simples chuva; Eram GOTAS que traziam em si a derrrota do tipo de vida que haviam construído, conquistado, alcançado com muito suor de seus rostos. Passaram a odiar, a inculcar a IRA e o temor por aquele fenômeno repentino, aquela novidade 75 aparentemente inevitável. Arquitutotitetaram planos, e pensaram artimanhas, e acabaram por desenvolver uma tática. E entre magias e atos de bruxaria fabulosos conseguiram espantar a grandiosa nuvem, nuvem e suas gotas suaves, mas sedentas por cair, expulsando-as do céu comumente azul c1aríssimo. Haviam se acostumado ao CALOR, e era com o CALOR que queriam, desejavam viver. ATÉ O ÚLTIMO DOS SEUS DIAS. ATÉ QUE TODAS AS CASAS CAÍSSEM EM RUÍNAS. ATÉ QUE SEUS CORPOS SUBLIMASSEM EM ALTA FERVURA. E QUE TUDO SE ACABASSE EM ALTAS TEMPERATURAS! Coerência Segundo Kock e Travaglia, (1999), “a coerência tem a ver com a ‘boa formação’ do texto, mas num sentido que não tem nada a ver com qualquer idéia assemelhada à noção de gramaticalidade usada no nível da frase, sendo mais ligada, talvez, a uma boa formação em termos de interlocução comunicativa” (p.11). A coerência se estabelece, pois, na interação, na interlocução, numa situação comunicativa entre dois falantes (usuários). É a coerência que faz com que o texto faça sentido para o leitor. É um princípio que permite a interpretação do texto. Podemos dizer que texto coerente é aquele em que todas as partes se encaixam de maneira complementar, não permitindo que haja nada destoante, ilógico, contraditório, etc... é um texto que tem unidade, ou, como dizem Platão & Fiorin (2001 p. 393) “A coerência significa, pois, conexão, união estreita entre várias partes, relação entre idéias que se harmonizam, ausência de contradição. É ela que distingue um texto de um aglomerado de frases”. Analisando, desse ponto de vista, os textos selecionados, podemos dizer que todos são textos coesos e coerentes, pois há neles, relação entre as partes, encadeamento semântico, conexão entre as palavras e expressões, não há contradições, são textos bem formados que fazem sentido para o leitor. Isso se deve, em parte, ao processo de construção desses textos, como detalhado no capítulo II , na metodologia e, em parte, ao grau de letramento dos alunos. O texto a seguir apresenta-se coerente, pois todas as partes se encaixam, não há nada destoante,há uma seqüência lógica, não mostra contradições. A seqüência lógica é mostrada a cada parágrafo, com as ações que acontecem numa seqüência temporal, exceção ao primeiro parágrafo que reporta ao final do conto. Os outros parágrafos retornam no tempo, mostrando a seqüência do desenrolar da história. As setas sinalizadoras no texto indicam alguns desses elementos responsáveis pela coerência do texto. Texto 8 - – a- 11 76 Gólgota de uma benção Dois de abril de 1988. São 19h30min. Escuta-se um grito da sala de parto, um grito de alívio e também de tristeza e melancolia, para Francisco. Jéssica e Francisco se conheciam desde o ginásio, se interessaram logo a primeira vista um pelo outro, e pouco tempo depois começaram a namorar. Juntos eles descobriram os segredos que os seus corpos escondiam, A inevitável paixão de adolescente logo evoluiu para um tórrido e maduro amor, um amor que parecia infinito e que era invejado por todos que os conheciam. Eles não conseguiam mais se desgrudar um momento sequer, não sabiam o que era viver um sem o outro, aliás, para eles, não havia vida se ficassem afastados. O casamento foi só uma questão de tempo. E com o passar deste, a vontade de ter um filho, um descendente, que viria direto das entranhas, um fruto do grande amor que sentiam, aumentava progressivamente.. . Esse pequeno presente de Deus era tão esperado que já tinha até nome: Abel seria a designação do primeiro primogênito masculino e Maria do feminino, devido à forte crença que os dois tinham no catolicismo. Há um ano, Francisco e Jéssica foram ao médico para saber o que/havia de errado com eles, pois já fazia 5 anos que eles estavam casados e praticavam todo dia a concepção de um descendente, que se recusava a chegar. Depois de vários exames, o médico afirma que eles não têm nada de errado, que são completamente saudáveis. O médico diz ao casal para ter paciência, pois ainda são jovens e têm muito tempo para receber essa benção. O profissional continua dizendo que se eles ainda não tinham uma criança era porque não tinha chegado o tempo, visto que de nenhum problema os dois sofriam. Francisco estava apreensivo do outro lado da parede, visto que seu filho estava nascendo, seu pequeno Abel. Finalmente, depois de quase 6 anos praticando a feitura deste, ele e sua esposa tinham conseguido o que almejavam desde o início do tórrido romance. Mas aquela hora ainda guardava muitas surpresas para Francisco. Quando você ganha algo bom, ganha também, algum dia, um infortúnio. Para Francisco, eram ambos na mesma hora Era 19h25min quando um dos médicos sai da sala de parto para avisar ao felizardo, e agora também miserável, que eles estavam tendo complicações para realizar o parto. - Caro Francisco, sinto vir informar ao senhor que sua esposa não está muito bem. Na hora que estávamos retirando a criança, sua mulher começou a perder bastante sangue e não estamos conseguindo conter a hemorragia - disse o médico. - Não posso acreditar! Isso não pode estar acontecendo... - Francisco pára de falar abruptamente e começa a se debulhar em lágrimas. Ele não podia acreditar como aquela benção, aquele presente de Deus, que ele esperou a vida toda, pudesse ser, pelo menos naquele instante, a sua maior desgraça. O portador de todo o infortúnio que tinha acabado de se abater sobre ele. - Senhor Francisco, por favor, acalme-se. Eu ainda tenho de lhe falar sobre seu filho. prossegue o médico. Francisco pára de chorar e com cara de espanto pergunta: - Meu Filho? O que aconteceu, Doutor? O que ele tem? Ele não está morrendo, né? - Não, ele não está morrendo. Ele vai viver, mas... - tenta continuar o médico, sendo mais uma vez interrompido. - Mas o quê? Diga logo! - grita Francisco. - Vou falar, mas mantenha a calma. Bem, seu filho demorou a responder a alguns estímulos. Ficamos espantados e fizemos alguns exames rápidos, dos quais percebemos uma deficiência congênita. Ele vai precisar de uma atenção especial do senhor e também de muito carinho e paciência de sua parte. Subitamente, a porta onde Jéssica e o bebê da bênção desafortunada estavam se abre, sai outro médico, com o aspecto mais triste que o primeiro, e dá a notícia que mudaria de vez a vida de Francisco. O médico olha para seu colega de trabalho e vai se virando até seus olhos encontrarem os de Francisco e, com o olhar mórbido, finalmente diz: - Ela não resistiu. 77 Autoria A questão da autoria é outro fator importante na produção de textos. Esse tema é tratado por alguns autores como: Foucault (2002), Orlandi (1987), Backtin (2003), Chartier (2001). Para Foucault (2002 p.34), a noção de autor é pensada a partir da relação do texto com o autor, ou seja, “como o texto aponta para essa figura que lhe é exterior e anterior, pelo menos em aparência” Foucault, 2002 (p.34), o autor é identificado pelo texto, nessa relação que existe entre eles. Em todos os textos selecionados existem as marcas da autoria. Essa relação do texto com o autor está presente no tratamento diferente que cada autor dá ao seu texto, demonstrando assim o seu grau de letramento. Vejamos o exemplo:28 Texto 9 – a 27 A ação do medo sobre a dignidade N uma conceituada Universidade do Estado do Rio de Janeiro, trabalhava como professor de estatística o senhor Pedro Furtado Magalhães, conhecido e querido por todos os alunos e funcionários pela sua agradável forma de tratar as pessoas. Certa vez, ao entrar no gabinete antigo da biblioteca procura de um livro para a conclusão de seu projeto, Pedro começa a escutar sussurros de conversas que entravam por uma pequena janela localizada bem no alto do lado esquerdo da sala, curioso, o professor sobe em uma mesa ali presente. Ao ouvir o assunto do qual se tratava a conversa, este ficou pasmo, pois referia-se a um plano de assalto ao Banco Central do Estado organizado por alunos que ele mesmo conhecia e que agora descobre que são participantes de uma máfia. Envolvido pelo medo de ser descoberto, Pedro move-se rapidamente para descer da mesa sem ser percebido, no entanto, desgastada pelo tempo, a perna da mesa não suporta o peso e se rompe derrubando o professor e causando um enorme barulho o qual chama a atenção do grupo que estava na sala ao lado. Rapidamente, os bandidos entram na sala e encontram Pedro no chão e aflito com a situação. Os participantes da máfia eram em cinco, dois colocaram a arma sobre a cabeça de Pedro, outros dois seguraram seus braços e um, certamente o chefe, começou a fazer perguntas ao professor. Pedra negou ter escutado algo, mas eles, provavelmente, não acreditaram e ameaçaram matá-lo. Pedro em desespero jurou ficar em silêncio, mas isso não seria uma garantia suficiente para convencê-los. O chefe da máfia que se chamava Carlinhos, olhou para o professor e disse que ele teria que fazer uma escolha, ou morrer ou participar do crime junto com eles. Pedro não acreditava em que situação de repente sua vida havia entrado, de homem digno à bandido. Sobre a mira de um revólver, logicamente, o professor aceitou participar do plano que deveria ser posto em prática naquela tarde. Os bandidos levaram o professor consigo até o esconderijo para articularem como seria a ação ·criminosa. Tomado por um nervosismo impiedoso, Pedro não parava de pensar em seu trabalho, na sua família e na vergonha que iria passar, mas o medo da morte falava mais alto. Chegada a hora da prática do crime, Pedro e outro dos bandidos ficaram com a tarefa de entrar no banco e render todos lá dentro, os outros três cuidavam da segurança, enquanto Carlinhos pegava todo o dinheiro do caixa. Só que antes de acionarem o assalto, um dos seguranças suspeitou e ligou para a polícia. Com a entrada dos policiais os assaltantes entraram em pânico e saíram atirando pela porta dos fundos causando um verdadeiro tumulto dentro do banco e Pedro, com sua dignidade, tentava ajudar as pessoas. Ao ver a polícia emergiu em Pedro uma súbita sensação de alívio, pois também era vítima de tudo aquilo. Pedra se dirigiu aos policiais com a arma para entregá-las, mas, confundido com um bandido, o policial atira no professor achando que o mesmo estava reagindo à ação policial. Pedro caiu no chão ensangüentado e é levado as pressas para o hospital onde teve que se submeter a uma cirurgia de risco, mas que felizmente, acaba bem e consegue explicar todo o fato. 28 Continuamos usando as setas para indicar as marcas de autoria 78 No conto acima, as marcas da autoria, a presença do autor permeiam todo o texto, nas estruturas utilizadas, na forma como o autor conduz a narrativa, na repetição enfática de algumas palavras, por exemplo: Pedro (linhas 4, 8,11,12) professor (linhas1, 5, 13); nos detalhes de descrição do local, como em uma pequena janela localizada bem no alto do lado esquerdo da sala (linha 4), ... desgastada pelo tempo, a perna da mesa não suporta o peso e se rompe ... (linha 9); no emprego do pronome relativo qual como no exemplo: ... um enorme barulho o qual chama .... (linha 10); do demonstrativo mesmo, no exemplo: ... achando que o mesmo ... (linha 31); do diminutivo com nome próprio: Carlinhos (linhas 16,23) e no uso de recursos gráficos como características multimodais. Os textos analisados neste trabalho demonstram a maturidade e o grau de letramento dos autores. No que diz respeito ao gênero textual, todos atendem às características do gênero escolhido, evidenciando, dessa forma, que ao escolher o gênero a ser trabalhado, o aluno tinha consciência de sua escolha e, no esboço do texto, já mostrava isso, como vimos nos textos Mistérios de um vale (p.73), A aventura na Mata do Buraquinho (p. 75), Homem morcego é visto na mansão Wayne (p. 76),A batalha dos Aflitos (p.77) e O açude sangrou (p. 78)u. Com respeito aos fatores de textualidade, os textos podem ser considerados coesos, pois apresentam ligação, conexão entre as partes, entre as palavras, frases, expressões. Isso fica evidente com o emprego de conectores que caracterizam a coesão por retomada ou antecipação, tais como: adjetivos, pronomes demonstrativos, pessoais, relativos, incluindo o emprego inadequado de qual e onde, geralmente presente em textos universitários, mas que não comprometem a coesão do texto produzido. Quanto à coesão por encadeamento de segmentos textuais, os textos utilizam ainda operadores discursivos, tais como: então, e assim, portanto, dessa forma, etc.., o que foi demonstrado nos textos O abraço (p. 80) e Ruínas e Felicidade sob um calor Adquirido (p. 80/81). Quanto à coerência, podemos afirmar que os textos também se apresentam coerentes, visto que neles encontramos seqüência lógica, ausência de contradições, são respeitadas as implicações lógicas entre as partes da narrativa, já que se tratam de textos narrativos, há conexão entre as partes, verificando-se também a coerência argumentativa, no caso em que os personagens envolvem-se em assuntos polêmicos.Isso foi mostrado no texto Gólgota de uma bênção (p. 83). Podemos observar ainda a intertextualidade de alguns textos com narrativas conhecidas do leitor, como lendas, contos infantis, narrativas de experiência, acontecimentos da mídia, como nos textos Caçador salva criança da morte (p. 76), O abraço(p. 80) As marcas da autoria são evidentes em todos os textos, pela forma como cada autor conduz a sua narrativa, pelo tratamento diferente que cada um dá ao seu texto, pelas estruturas 79 gramaticais utilizadas. Em cada texto encontramos repetição enfática de algumas palavras, emprego bastante freqüente de adjetivos na identificação de participantes representados, descrição detalhadas do espaço onde ocorrem algumas ações, emprego de diversas manifestações multimodais, como imagens, cores, recursos gráficos/tipográficos, conforme já demonstramos acima. O quadro a seguir mostra a relevância desses fatores nos textos selecionados para análise: Gêneros quantidade Fatores de Textualidade (%) atendimento ao Intertextuacoesão coerência autoria lidade gênero Conto 10 100 100 100 100 20,0 Narrativa de aventura 04 100 100 100 100 0,0 Notícia 08 100 100 100 100 62,5 Crônica 02 100 100 100 100 100 Relato de experiência 02 100 100 100 100 50 Quadro 8- demonstrativo da ocorrência dos fatores de textualidade Seqüência Didática Apresentaremos neste tópico, as produções textuais dos alunos selecionadas para este corpus, na ordem em que foram produzidas, seguindo a proposta da seqüência didática, como relacionada abaixo: 1. produção inicial a partir do conhecimento prévio do aluno; 2. segunda produção depois da leitura de textos teóricos; 3. produção final com as marcas de multimodalidade, após avaliação da pesquisadora e do aluno Procuraremos mostrar as principais características de cada gênero mostrado a seguir.29 • produção inicial – pertinência das idéias, adequação ao gênero, seqüência lógica,; Texto 10 - a 35 29 Todos os textos estão apresentados numa versão compacta no corpo da tese, porém, eles se encontram em tamanhão original no anexo 80 (esboço) Temos acima, conforme orientado na oficina 3, o esboço feito pelo aluno para guiá-lo na produção inicial. Na oficina 6, o aluno produz a versão inicial do texto, mostrada abaixo, onde observamos que há pertinência das idéias, seqüência lógica e adequação ao gênero. (produção inicial) 81 Texto 11– a 44 (esboço e produção inicial) Nesse conto há também um pequeno esboço, onde se vêem as idéias que o texto deve conter, e o autor procura segui-lo, adequando-o ao gênero escolhido, onde há seqüência lógica, e pertinência das idéias. Devemos observar ainda que esboço e produção inicial são escritos na mesma folha. Na escritura do texto o autor tem algumas incertezas e dúvidas, marcadas pela rasura e substituição de algumas palavras, como indicam as setas. 82 Texto 12 – a 2 (produção inicial) Nessa narrativa de aventura o autor não faz nenhum esboço, mas escreve-a quase completa. Apenas algumas modificações são necessárias na versão final. Há também aqui todos os elementos requeridos na produção inicial. Texto 13 - a 25 (esboço) (produção inicial) 83 O texto acima se propõe a ser notícia, mas transita entre a notícia e a reportagem, desviando-se um pouco do gênero escolhido, porém, sem prejuízos à produção. No esboço são colocados os tópicos a serem considerados na produção inicial, feita no segundo passo da seqüência, conforme descrito na Metodologia. Ao final do texto, o autor posta uma observação, para a professora, sobre o que ainda vai inserido no texto para que esteja concluído. Texto 14 - a 9 (esboço e produção inicial) 84 Nessa crônica, esboço e produção inicial estão na mesma folha, como no texto 23, p. 88/89. As idéias e o roteiro do texto estão no esboço observando-se na produção inicial, poucas dúvidas e incertezas, mostradas pela substituição de palavras como indicas pelas setas. Consideramos que os textos aqui apresentados mostram que esses dois passos ou etapas da seqüência didática foram realizados com êxito e evidenciam o aprendizado e o grau de letramento do aluno, validando, portanto, a proposta por Schnewly & Dolz. • modificações efetuadas na reescritura dos textos - segunda etapa da produção Nessa etapa da produção, houve alguma resistência por parte de alguns alunos em reescrever os textos. Eles não viam a necessidade de fazer essa reescritura, já que poderiam fazê-la na produção final. Essa é a razão de não apresentarmos a segunda produção na seqüência da primeira. Vale salientar que essa postura, de certa forma já era esperada, e justifica-se pelo fato de, historicamente, a escola não privilegiar a reescrita de textos. Texto 15 – a 8 (2ª produção) 85 Nesse relato de experiência verificamos que há pouca coisa a ser modificada, do ponto de vista da ortografia, coesão, coerência. O autor faz as modificações sugeridas na produção final. Texto 16 - a 11 (2ª produção) 86 Aqui o autor reescreve o texto na segunda produção e podemos ver que, mesmo assim, ainda há reescrita de algumas palavras e dúvidas quanto ao uso de certas estruturas. São colocadas opções que ele define na produção final. Com relação a essa etapa da seqüência, a segunda produção, é necessário repensar a proposta e adequá-la ao nível de escolaridade do aluno e ao seu grau de letramento. • produção final – inserção dos elementos multimodais, apresentação final do trabalho. A produção final, diferentemente das outras etapas de produção, como já explicado na metodologia foi feita utilizando os recursos do computador, fora da sala de aula, pela facilidade na inserção dos elementos visuais e gráficos. O aluno, após digitar o texto com as várias linguagens apresentava-o em sala, para os demais colegas e o entregava à professora, encerrando assim a sua participação na pesquisa. Texto 17 – a 8 (produção final) Herbert nasceu em João Pessoa, mas devido à vida militar de seu pai, o brigadeiro Hermano Viana, mudou-se ainda criança para Brasília, onde conheceu Bi Ribeiro. Ao se mudarem para o Rio fundaram os Paralamas (mas alguns consideram os Paralamas parte da "turma de Brasília", como Capital Inicial e Legião Urbana) com o amigo Vital Dias na bateria. Após substituírem Vital por João Barone, Herbert compôs a música "Vital e Sua Moto", em homenagem ao amigo, a qual se tomou o primeiro sucesso dos Paralamas e que renderia o contrato com a EMI. Depois de 10 anos de sucesso da banda, Herbert gravou o disco-solo Ê Batumarê (1992). Mais dois seriam gravados, Santorini Blues (1997) e O Som do Sim (2000), cheio de participações como Cássia Eller, Nana Caymmi, Sandra de Sá e Marcos Valle. Herbert namorou por anos Paula Toller, do Kid Abelha, e posteriormente casou com a inglesa Lucy Needham, com quem teve os filhos Luca, Hope e Phoebe. Herbert desde cedo gostou de pilotar helicópteros e ultraleves. Em 2001, Herbert passou pelo momento mais crítico de sua vida. No dia 4 de fevereiro, sofreu um acidente aéreo em Mangaratiba, RJ, quando o ultraleve que pilotava caiu no mar, na baía de Angra dos Reis. No acidente, Lucy morreu e Herbert ficou internado durante 44 dias, parte deles em estado de coma. A partir dai, começou uma grande história de recuperação, determinação e vontade. Os fãs do rock nacional ainda estavam abalados com a perda de grandes representantes do gênero na década de 90 como Cazuza e Renato Russo, e por isso fizeram plantão enfrente ao hospital onde o léder dos Paralamas do Sucesso estava internado. O músico ficou paraplégico e perdeu parte da memória depois do acidente, porém, em um processo de recuperação gradual, retomou sua carreira, acompanhado de seu indispensável violão que lhe deu forças para continuar. Voltou aos palcos, e já tendo gravado três álbuns após o acidente: Longo Caminho (2002, preparado antes do acidente), Uns Dias ao Vivo (2004, ao vivo) e Hoje (2005, primeiro de inéditas). 87 Esse relato, comentado na página 103, utiliza como marcas de multimodalidade uma imagem (foto) e alguns recursos gráficos como o itálico, para destacar as obras do personagem e as aspas que põem em destaque algumas frases do texto. Texto 18 – a 8 (produção final) O animal do homem branco Época do Brasil colonial, e um dos maiores Senhores de engenho morava em uma das maiores casas, o que significava grande poder na sociedade. Era ganancioso, queria de tudo e com EXAGEROS! Queria uma casa repleta de animais para ser maltratados, e entre eles, o "bicho" mais submetido de todos, o que lhe dava mais dinheiro com o tráfico (atividade comercial até então mais lucrativa), o "bicho" negro. Apenas um dos animais não sofria humilhações, um velho papagaio deixado pelo seu pai antes de morrer, o acompanhara sempre. Esse era o animal do homem branco. O animal do homem branco delirava com as rixas de galo. O animal do homem branco caçoava dos cavalos, burros e bois ao imitar seus gemidos de dor, sede e cansaço. O animal do homem branco assistia com fervor todas as mazelas feitas com os escravos. Ficava agitado ao vê-Ios trabalhando no engenho. O animal do homem branco parecia não ter uma única pena quando algum negro apanhava até a morte. O animal do homem branco seguiu bem os passos dos seus antepassados. Todo seu comportamento e vontades eram hereditários. Porém, uma coisa pode trazer consolo a toda essa história: Saber que o animal do homem branco apenas repetia tudo que lhe fora ensinado, irracionalmente, afinal, ele era só um papagaio. Nesse conto são utilizados recursos gráficos como negrito, que chama a atenção para algumas palavras e frases, o itálico, pondo em evidência a frase que dá título ao texto, repetida várias vezes, fazendo-se compreender na última frase quando o animal do homem branco é nomeado, justificando, assim, as atitudes mostradas pela repetição da frase. A produção final é outra etapa da seqüência didática realizada com sucesso e validada pelos textos produzidos. Passamos agora à análise multimodal, conforme já dito no início deste capítulo (p.71) conforme a proposta da GDV de Kress & van Leeuwen (1996). Consideraremos os aspectos relacionados às funções da linguagem aos princípios de composição. A multimodalidade em foco – detendo-se no objeto Com relação à análise multimodal dos textos selecionados, destacaremos, como mencionado acima, as funções representativa e interativa da linguagem, e os princípios de composição conforme mostrado na fundamentação teórica, (cap. II p. 33, 36). 88 • Função representativa Essa função da linguagem está relacionada à natureza dos eventos representados nas imagens – participantes representados e interativos- e processos – narrativo e conceitual. Quanto aos participantes representados (pessoas, objetos, lugares, em uma cláusula (modo verbal) ou em uma imagem (modo visual), todos os textos analisados enquadram-se nessa categoria, pois em todos eles há pessoas, objetos, lugares, em uma cláusula (modo verbal), há imagens ou recursos de composição e encontramos também os participantes interativos, já que foram produzidos para um determinado leitor – o professor e os próprios colegas. Texto 19 - a 13 O Engano Mortal Esta é uma história bizarra, uma história para aqueles que possuem uma mente aberta e também para os de coração forte. Aconteceu em uma noite calma e fria, em uma casa simples em um bairro escuro. Morava nela Seu Funéreo Tumulino, homem muito querido e respeitado, sempre simpático e amável com todos. Estava ele sentado acompanhando o jornal noturno quando batem à sua porta. Como era um ser de poucos temores, abriu sem questionar. Deu de cara com um indivíduo esquisito, vestido a rigor, indefinível se era homem ou mulher. Ele então se apresentou com uma voz suave e ritmada: - Boa Noite! Sr. Funéreo Tumulino? - Pois sim. - Eu sou a morte. A criatura deu um passo à frente e foi possível vê-lo com mais clareza. Era pálido e esquálido, com um nariz fino. Seu Funéreo riu. - A morte? Meu amigo, você está no Brasil, "Haloween" só nos Estados Unidos! - Toda vez é essa mesma ladainha! Seu Funéreo, vou provar para o senhor que eu sou a morte e hoje vim buscá-lo. Olhe para a sua televisão. Seu Funéreo olhou e a imagem estava parada, como se passassem os seus programas prediletos. - Isso não prova nada, apenas que você deve ter um controle remoto universal. - Nossa! Estão ficando cada vez piores de convencer! Tudo Bem! Vou agora utilizar meu maior truque. Ela foi até uma árvore enorme, cheia de frutos e tocou no seu tronco. Em questão de milésimos os frutos caíram e ela secou. Seu Funéreo deixou escapar uma lágrima. 89 - Caramba! Mas por quê? Eu estou em casa, não corro risco algum! - Seu Funéreo! O senhor sabe que sofre de problemas cardíacos e não pode ficar comendo esses salgadinhos todos. Um dia eu teria que vir aqui. - É verdade. Mas eu tenho me exercitado muito e fiz uma cirurgia. Achei que estava normal. A morte fez aparecer uma televisão pequena. - Qual é o próximo passo? Para onde eu vou? E o que raios essa TV faz aqui? - Bom, primeiro o senhor vai rever sua vida inteira em um segundo... - Puxa Vida! Então isso acontece mesmo? - Acontece. Depois o senhor vai ser julgado para definir se vai para o céu ou inferno e, por último, o senhor irá passar a eternidade no lugar que foi sentenciado. Agora é hora de rever os melhores momentos da sua vida. Ele acompanhou tudo em silêncio, cada momento que passava na tela trazia uma sensação de arrependimento por aquilo que ele não fizera. Mas, de repente, apareceram imagens dele com uma mulher desconhecida e uma criança. - Peraí! Eu não tenho mulher nem filho. - Como é? - Essas imagens tão erradas, eu não tenho mulher, nunca me casei. - Essa não! O editor novo deve ter errado a pessoa. Espere um momento! A morte saiu da sala, demorou muito e voltou, sem jeito, ao aposento. - Bem, Seu Funéreo, seu dia ainda não é hoje. O editor novo misturou tudo, quem vai morrer é o seu vizinho. - Ufa! Graças a Deus! - Graças a Ele mesmo! Sua vida vai voltar a ser como era e o senhor não vai lembrar de nada que aconteceu hoje. Assim, Funéreo abriu os olhos na sala da casa pensando ter cochilado. Ele não sabe mas foi o único homem a encontrar a morte duas vezes. No conto acima, os participantes representados são os personagens: Senhor Funéreo Tumulino, a Morte, a mulher e acriança nas imagens do televisor; o local : a casa simples; os objetos: o televisor; e, no modo visual, as imagens: da morte, com a foice na mão e da casa, parecendo um castelo sombrio e mal-assombrado, trazendo assim o suspense e o mistério ao texto. Os participantes interativos são os leitores, principalmente o professor pesquisador para quem foi produzido o texto e o próprio autor. São eles que realizam o ato de comunicação. O processo nesse texto, assim como em todos os outros, é narrativo, já que trabalhamos esse gênero narrativo (narrar e relatar). Texto 20 – a – 10 Estórias de Chico Lá pelas bandas de São José, tinha um “caba” contador de estórias chamado Chico Rapé, que tinha esse nome, porque sempre que ia contar suas mentiras, epa, estórias,ele tinha o costume de fumar seu rapé,era só começar a contar uma estória, que o pegava e lá ia fumar.E este é só mais um de seus relatos,o qual tive a oportunidade de ouvir... Voltávamos de uma pelada, suados, sedentos por uma boa cerveja gelada, fomos lá pro bar como sempre fazemos, e quem estava lá? Ele mesmo, Chico, E como de costume também, começou a contar vantagem. A gente foi falando com ele, ele respondendo, e então ele disse que assistiu a um pedaço de nossa partida, e disse que ninguém ali jogava nada. Como todo mundo já o conhece, ninguém, claro, levou muito a sério e começamos a brincar com ele dizendo que ele que não jogava nada, ele foi se arretando e falou: -Ah, é!? Pois agora eu vô contar um estória pra vocês! -Iiiiiiiiiiih, lá vem as mintira dele... Ele se aproximou, sentou com a gente, deu uma tragada e começou... 90 -Quando eu era novin, eu jogava num time Sport de São Sebá... Quando foi interrompido: -E que djabo de cidade é essa que eu nunca uvi fala? -É que ela se acabou na Guerra do Cururu... mas essa é ota estória, homi! Escute essa! ... E continuou: -E num era São Sebá!?? -Ah é! É que eu joguei em tanto time grande que até eu me confundo... Mas me deixe fàlá, homi! ! Eu jogava no Sport de São Sebá, era final do campeonato do interior contra o Nacional de Patos, eu tava cum uma pereba aqui no dedo, mas tive que jogá! Eu era o Jogador mais importante do time, né? Começa o jogo, lá nuns 15 minuto, Jorge do oto time,o miserave, sabendo de meu estado, faiz uma falta bem no pé que tava ruim,aí piorô mais ainda! Saía tanto sangue que a meia ficô todinha vremeia! Mas eu tinha que continuar! E continuei, tava jogando bem demais, diblava um, oto, robava bola, num dexava um passá! Até que no finalziinho do 10 tempo,eu peguei a bola láá da defesa, saí diblando o Nacional todinho e fiz o gol! Goooooooll !Era todo mundo gritando!"Êêêê Chico!Chicoo!"Terminou 1º tempo,tudo uma beleeza. Aí 2º tempo, a gente sigurando o placar, sigurando o placar, e ia conseguindo;até que nos 49 minutos do 2º teempo!O goleiro, João Mãozudo, se bate com o atacante do Nacional, e o danado do juiz dá pênalti e expulsa João!! -Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhh!! A essas alturas, já estávamos todos compenetrados na sua estória, como sempre acontecia, porque verdade ou não,uma coisa é certa, Chico com suas estórias sempre prendiam a atenção de todos. E ele nota isso,fica se sentindo todo,e aí é que se empolga pra continuar a contar... -Aaah, calma! Vocês ainda não sabem do melhor! Não sabem do melhor! Adivinha quem foi chamado pra ficar no gol no lugar dele!?? -Iiih, Chico! Precisa nem falar! -Este mesmo que vos fala! E lá ia eu, colocar a luva, momento de tensão total, a esperança de 50 mil pessoas do estádio ali nas minhas mãos! É bem verdade que estádio nenhum do interior tem essa capacidade, muito menos na época da estória, e também, nunca que o estádio inteiro estaria torcendo pra um time só,mas como eu disse,a estória ia ficando cada vez mais interessante, e ninguém ligava mais se era verdade ou mentira!Então voltando à fala dele... -Era eu e o batedor, o batedor e eu, e quem ia bater era Serginho Bomba, devido à bomba que era o chute de sua esquerda. Já tinha gente chorando no time, perdendo as esperança já, e na hora inda começo a cair um toró no estádio, até raio caía! Hora da cobrança, o juiz apita, Serginho passa um tempinho, começa a dar a carreira pra cobrar o pênalti! Só que tinha uma coisa que ele não tinha notado... -O quê Chico!? – diziamos nervosos e empolgados com aquele momento da estória -A chuteira dele não tava bem amarrada. E na hora que ele chutou a bola, foi a bola prum lado a chutera pro outro!! -Hahahahahaha! – nós riamos -Nãão! Vocês ainda não sabem! Naquela tensão do momento, e num é que eu pulei pra pegar ela!?? E consegui pegar... -Hahahahahahahahaha,Chico!Que frango,hein!?O cara chuta prum lado, tu pula pro outro pra pegar a chuteira!Hahahahaha -Aaaaaahhh,aí é que vocês se enganam!Eu num ia deixar aquela entrar não! Pulei prum lado pra pegar a chuteira, e peguei! Sendo que ANTES que a bola entrasse no gol, eu olhei pra ela, pulei pra cima dela e consegui espalmar pra fora!! O juíz apitou o fim do jogo e o Sport ganhou pela décima vez seguida o Campeonato do Interior!' -Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhh Chico!!! Conta outra!!Hahahahahahaha, só esse doido mermo... -Quê!?Verdade, homi!!Ahh!Cês num acreditam em mim, também vô pra outro canto, que me respeitem! E lá ia ele,óbvio que ele sabia que não íamos acreditar em sua estória, nem ali no bar,nem onde quer que ele fosse contar as suas, mas e quem disse que era pra acreditar?E a graça era essa, todos preferem ouvir suas fantasias de vez em quando a estar sempre preso à realidade. Nesse texto temos como participantes representados no modo verbal os personagens: o Chico Rapé, “caba” contador de histórias, o narrador que se inclui na história, o time de futebol Sport de São Sebá, o Nacional de Patos, os jogadores Jorge, Serginho Bomba, o goleiro João Mãozudo, o juiz; o local da narrativa é um bar onde o Chico conta as suas histórias e, como objeto, temos a bola do jogo. No modo visual não há imagens, porém, à semelhança de textos aqui analisados há os recursos gráficos e de composição, como por exemplo, alongamento da vogal nas exclamações, dupla interrogação, reticências, maiúsculas no meio das frases. 91 Participantes interativos são, como no texto anterior, os leitores, os próprios colegas, pois os textos foram lidos em sala, após a produção final, o professor pesquisador e o próprio autor. Texto 21 - a – 28 PREGUIÇA EM PERIGO NAS RUAS DA CAPITAL À procura de seu habitat, habitat animal quase sofre acidente na BR. Foi capturada e levada de volta a seu habitat natural, natural no consciência de um nobre motorista. último sábado, uma preguiça [bocejo] originária da O homem, de aproximadamente 40 anos, parou o mata dos arredores do campus da Universidade Federal veículo, mesmo com o FORTE MOVIMENTO no da Paraíba, em João Pessoa. O animal encontrava-se local, fechando todo o tráfego. Desceu do carro, pegou em perigo, atravessando lennnnntamennnnnte ruas de com carinho a preguiça grande tráfego da capital, no bairro dos Bancários. nos braços, como a uma criança perdida dos pais Vítima do desmatamento dos últimos 20 anos na precisando de ajuda, e a levou até a árvore mais cidade, a preguiça [bocejo] parecia aTÔNiTA, sem próxima, localizada no início de uma outra reserva da saber ao certo os limites de seu lar. Quando foi vista, mata. "Ela tentava atravessar de uma mata a outra. cruzava uma das vias principais que ligam o bairro da Acho que tentava encontrar seu lugar.", relatou uma zona sul – VIAPRINCIPAL - campus, após ter senhora-a-meu lado no ônibus. O ato acabou em pa-pa- aparentemente atravessado a rodovia próxima ao local papa-pa-pa-pa-pa-palmas de alegria, orgulho e e uma outra rua, sendo quase vítima de atropelamento. congratulação de jovens que se encontravam num O que salvou o animal silvestre foi a carro logo atrás. "A consciência ambiental ainda existe!", disse emocionado um deles. Na notícia acima, à semelhança do texto anterior, destacamos o modo visual dos participantes representados, através dos recursos gráficos, fontes diferentes, negrito, sublinhado, repetição de sílabas, palavras e frases de várias cores e, no modo verbal, os participantes são: a preguiça, o motorista que a salva, a senhora sentada no ônibus, a via principal próxima à UFPB, onde a preguiça foi encontrada e o narrador. Os participantes interativos são, como no texto anterior, leitores (colegas), professor e autor. Função interativa Essa função está centrada no leitor, na maneira como ele percebe a imagem e na relação que é construída através dessa imagem entre o produtor e o leitor do texto. Representa a natureza das relações sócio-interacionais. A função interativa está presente nos textos analisados neste trabalho, mostrando as relações que se estabelecem entre o produtor do texto e os seus leitores, mesmo que esse texto 92 tenha sido produzido para determinados leitores – colegas e professor -. Sabemos que a produção textual deve ultrapassar os limites da sala de aula, porém, no caso deste processo de letramento multimodal no ensino superior, a sala de aula funciona como lugar privilegiado de vivência /experimentação. Desta forma, alunos e professor-pesquisador são leitores privilegiados nesse processo; Princípios de composição Esses princípios relacionam-se à função composicional e aplicam-se aos textos multimodais. São eles: valor informativo, saliência e framing, que mostraremos a seguir. Na nossa análise, estamos considerando as partes interagindo entre si e produzindo efeitos umas sobre as outras (cap. II, p. 36). • Valor informativo Como já foi dito anteriormente (p. 37), nesse princípio o destaque é para a localização dos elementos no texto que confere a esses elementos valores informativos específicos, relacionados às várias zonas da imagem. Temos então os seguintes valores: • O dado e o novo: o valor informativo da direita e da esquerda O dado e o novo constituem-se fator de valorização da informação. O dado é a informação já conhecida do leitor (o participante interativo) e o novo é aquilo que o leitor ainda não conhece – a informação que lhe está sendo apresentada. Vejamos os exemplos: Texto 22- a 35 30 30 dado Neste e nos próximos textos usados balões para indicar o dado facilita a identificação. dado e o novo novo , por serem caixas de texto, 93 Um engano à meia-noite novo Numa noite fria e chuvosa de quinta-feira, cheia de relâmpagos e trovões, o trim-trim do telefone assusta a madrugada de uma estudante de filosofia na grande cidade de Fortaleza chamada Suzany Lopes. Ela residia num pequeno apartamento com duas amigas da faculdade, situado no centro da capital cearense. Começava a Semana Santa, suas companheiras tinham ido ao interior passar o feriado com a família. Suzy, como era chamada carinhosamente pelos seus amigos, preferiu ficar e adiantar alguns estudos. Após horas estudando, acabou dormindo na sala, cercada de livros e apostilas. Como morava próximo à Catedral de Nossa Senhora da Assunção, padroeira de Fortaleza, ia começar a via sacra à meianoite. Suzany acorda assustada com o telefone tocando e ao mesmo tempo milhares de fiéis passavam pela rua com várias luzes de vela e fogos de artifício. A garota corre pra atender telefone, uma voz estranha diz: novo dado - Boa noite Suzy! Chegou a hora de acertarmos as contas - Quem está falando? Que brincadeira é essa? - Não se faça de desentendida, sei que está sozinha em casa. Muito nervosa, Suzy desliga o telefone e fica se perguntando como sabiam seu nome e que estava sozinha. Andando de um lado para o outro de repente batem a porta, o toque-toque a faz tremer: -Quem é? -Suzany, sou eu, seu Manoel o porteiro, a senhorita esqueceu seu gatinho lá fora, ele estava na chuva, o coitadinho. dado novo Com grande alívio ela abre a porta, pega o bichinho, enxuga-o e outra vez insiste o telefone: -Sou eu outra vez, se não abrir vou colocar a porta a baixo, pensa que vai me enganar outra vez, sei que seu marido viajou. -Mas não sou casada, moro com amigas. -Espera! Você não é Suzy Alexander, dançarina da boate "mil e uma noites"? -Não, sou uma estudante. -Ah, desculpe-me foi um engano. O telefone é desligado, mas a garota não conseguiu mais dormir, pois nunca tinha passado por uma situação constrangedora e assustadora daquele tipo. Quando as meninas chegaram, Suzy estava em estado de choque, mas ao mesmo tempo aliviada, ela contou toda a aventura do engano e suas amigas riram sem parar e colocaram um novo apelido nela... "a dançarina das mil e um noites". No caso dessa narrativa, o dado e o novo são encontrado tanto no texto verbal , quanto no visual. As informações já conhecidas do leitor, o dado, encontram-se, por exemplo, nas ações do personagem Suzy que fica em casa sozinha, à noite, (cenário propício ao medo), o 94 telefone que toca, as pessoas que passam na procissão; o novo, está em algumas imagens, de uma noite sombria, escura, das dançarinas e também no diálogo ao telefone, que vai revelando aos poucos todo o engano. Nesse texto, o dado, representado pelas imagens está localizado à esquerda e o novo à direita, como propõem Kress & van Leeuwen (1996), porém, no texto verbal , tanto o dado quanto o novo aparecem na seqüência do texto, não separados em esquerda e direita. (ver p. 36). dado Texto 23 - a 36 (sem título) Há muito que Tom morava ali, era uma velha pensão suja e mal-cheirosa. Ele não trabalhava recebia uma ajuda de seus familiares. Tom estava ali pelos estudos, ele sempre sonhou em fazer novas amizades tudo bem que fora parar numa pensão, num subúrbio, mas ali também tinha tipos humanos. Contudo, desde que chegara não conheceu seus vizinhos do lado. A porta estava sempre fechada, uma vez ou outra ele escutava barulho de garrafas quebrando e sussurros, mas era só. O quarto não tinha janela os pontos de luz no corredor davam uma impressão de filme de terror trash. Pagara mais caro por aquele quarto, não por que ele fosse mais limpo ou organizado. Não. Havia uma linha telefônica; único quarto com esse capricho. Talvez seja essa a explicação por ele não ter morrido de tédio. Num dia de sábado, mais quente que o normal, tom precisava se comunicar urgentemente com alguém. Resolveu então falar com quem trabalha conversando: a telefonista - companhia telefônica boa tarde! novo - oi como vai... - posso ajudar Senhor? - pode... Quer dizer... não ou melhor... Não que eu precise ajudar mas... - a companhia telefônica agradece a sua ligação... - não, não desliga ... - tum, tum, (desligou). Tom tenta mais uma vez... Companhia telefônica boa tarde! - oi sou eu ... - você de novo! - olha não desliga, não é trote, eu só quero falar um pouco com alguém. - olha Senhor Se quiser posso lhe informar o numero de algum terapeuta, psicólogo ou coisa parecida ... - na, não... Quero conversar com você... É que vivemos num mundo de tanta incomunicabilidade, tanta falsidade que é difícil arrumar alguém que fale coisas verdadeiras pra gente... - entendo Sr. Mas eu agora estou trabalhando e se o Sr. Não precisa dos meus serviços creio que não devo ficar jogando conversa fora... (e desligou novamente) Aquelas palavras foram chocante mas Tom viu de uma outra forma. Ele gostou do que ouviu; sentiu sinceridade nas palavras da moça... E por incrível que pareça ele se apaixonou por ela. novo E as coisas seguiram assim sempre ele ligava e ela o tratava mal ou simplesmente com desdém. Certo dia Tom estava entediado até disso também e num devido sábado, saiu par arejar a cabeça. Sentou-se num bar e não pediu nada apenas ficou olhando o movimento. Nesse texto as informações já conhecidas do leitor, o dado, apresentam-se logo no primeiro parágrafo: a pensão (suja e mal-cheirosa), num subúrbio, o quarto sem conforto, o barulho vindo dos vizinhos que Tom não conhecia; o novo aparece nos demais parágrafos, nos diálogos com a telefonista e nas reações de Tom no final do texto. Essas informações, dado e 95 novo, aparecem na seqüência do texto, visto que predomina o texto verbal. Não há imagens, mas recursos estilísticos como onomatopéia, (linha 17) recursos gráficos – travessão, reticências, letra maiúscula no meio do parágrafo. Ainda com relação ao dado e novo, há um relato de experiência, entre os textos selecionados, cuja informação já conhecida do leitor, o dado, está no próprio texto verbal e também no visual, representada por uma imagem que se localiza espacialmente no lado direito do texto. Isso não é consonante com o princípio do dado e do novo, porém, não compromete o sentido do texto, como se pode ver no a seguir. Texto 24 - a- 8 (sem título) Herbert nasceu em João Pessoa, mas devido à vida militar de seu pai, o brigadeiro Hermano Viana, mudou-se ainda criança para Brasília, onde conheceu Bi Ribeiro. Ao se mudarem para o Rio fundaram os Paralamas (mas alguns consideram os Paralamas parte da "turma de Brasília", como Capital Inicial e Legião Urbana) com o amigo Vital Dias na bateria. Após substituírem Vital por João Barone, Herbert compôs a música "Vital e Sua Moto", em homenagem ao amigo, a qual se tomou o primeiro sucesso dos Paralamas e que renderia o contrato com a EMI. Depois de 10 anos de sucesso da banda, Herbert gravou o disco-solo Ê Batumarê (1992). Mais dois seriam gravados, Santorini Blues (1997) e O Som do Sim (2000), cheio de participações como Cássia Eller, Nana Caymmi, Sandra de Sá e Marcos Valle. Herbert namorou por anos Paula Toller, do Kid Abelha, e posteriormente casou com a inglesa Lucy Needham, com quem teve os filhos Luca, Hope e Phoebe. Herbert desde cedo gostou de pilotar helicópteros e ultraleves. Em 2001, Herbert passou pelo momento mais crítico de sua vida. No dia 4 de fevereiro, sofreu um acidente aéreo em Mangaratiba, RJ, quando o ultraleve que pilotava caiu no mar, na baía de Angra dos Reis. No acidente, Lucy morreu e Herbert ficou internado durante 44 dias, parte deles em estado de coma. A partir dai, começou uma grande história de recuperação, determinação e vontade. Os fãs do rock nacional ainda estavam abalados com a perda de grandes representantes do gênero na década de 90 como Cazuza e Renato Russo, e por isso fizeram plantão enfrente ao hospital onde o líder dos Paralamas do Sucesso estava internado. O músico ficou paraplégico e perdeu parte da memória depois do acidente, porém, em um processo de recuperação gradual, retomou sua carreira, acompanhado de seu indispensável violão que lhe ''deu forças para continuar”. Voltou aos palcos, já tendo gravado três álbuns após o acidente: Longo Caminho (2002, preparado antes do acidente), Uns Dias ao Vivo (2004, ao vivo) e Hoje (2005, primeiro de inéditas). novo Como podemos ver, a imagem do personagem principal da notícia, única imagem do texto, está localizada no lado direito, quase no final do texto, representa o dado, pois o personagem é um artista conhecido do público leitor. O novo, no texto verbal, aparece em poucos momentos, no final do texto, já que os acontecimentos relatados foram amplamente divulgados pela imprensa, visto ser o personagem um homem público. • o ideal e o real: o valor informativo da parte superior e da parte inferior Esse princípio, já mencionado no cap. II p. 40, geralmente aprece em anúncios, estruturados no eixo vertical, onde a parte superior faz um apelo emocional e mostra a 96 dado “promessa do produto”, enquanto a parte inferior traz as informações relativas ao produto, com o objetivo de persuadir o leitor. Em outros contextos, os valores podem ser diferentes. Num texto podemos ter o verbal na parte superior e o visual na parte inferior, neste caso, o que está na parte superior é o ideal e o que está na parte inferior é o real. No exemplo a seguir, temos o visual na parte superior, o ideal, e o verbal está na parte inferior, o real, à semelhança de um anúncio publicitário. Texto 25 - a 25 TRANSPOSiÇÃO: SOLUÇÃO OU PROBLEMA? ideal Raimundo é um menino de seis anos que vive com os pais e quatro irmãos em uma cidadezinha no interior do Rio Grande do Norte. A recente seca deixou sua família com um problema: a fome. A pequena horta de milho e feijão que eles cultivavam foi destruída, obrigando-os a comer palma, um cacto de gosto horrível e repleto de espinhos, que, normalmente, serve para alimentar o gado. Quando a situação piora, os pais colocam os meninos para correr atrás de calangos. A história descrita nas linhas acima é verídica. E o pior é que, neste exato momento, milhares de Raimundos estão experimentando o desespero da fome no Nordeste. Desde o reinado de Dom Pedro 11 já havia a preocupação de resolver o problema da seca com um projeto de transposição de parte das águas do Rio São Francisco para as regiões mais áridas. De lá r e a l para cá, muitos outros planos foram apresentados, mas nunca concretizados. Recentemente, o presidente Luís Inácio Lula da Silva retomou o projeto de transposição e iniciou suas obras, o que tem gerado muita polêmica. O Governo e aliados vêem na transposição a única alternativa para sanar o problema da seca no Nordeste, enquanto opositores e ambientalistas defendem que a mudança de fluxo das águas, antes de um amplo processo de revitalização do rio, trará danos irreparáveis ao ecossistema da região. O "Velho Chico", objeto de toda essa discussão, é o maior rio totalmente brasileiro. Nasce em Minas Gerais e deságua no Oceano Atlântico, entre os estados de Alagoas e Sergipe, totalizando 2.800 km de extensão. A maior parte da população do Vale do São Francisco encontra-se nas proximidades de suas margens, já que são áreas bastante propícias para a agricultura. O Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional consiste no desvio de cerca de 1,4% da vazão total do rio, como forma de assegurar água às populações que sofrem com os períodos de escassez de chuva no semi-árido. Para tal, prevê a construção de dois canais: O Eixo Leste, que beneficiará os estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, e o Eixo Norte, que atenderá aos estados de Pernambuco e Paraíba. O orçamento total do projeto é de, aproximadamente, R$ 4,5 bilhões, e, simultaneamente a essas obras, serão realizadas ações de revitalização do rio. Para o Governo, a obra era inadiável. Mas não faltaram opiniões contrárias. Os opositores afirmam que os idealizadores r do projeto querem fazer chegar água às torneiras da população a todo custo, sem se preocupar com o impacto ambiental que será causado ao rio. O São Francisco já é vítima da poluição causada por agrotóxicos usados em plantações nas suas margens, despejo de e esgotos domésticos e industriais, além de desmatamentos e queimadas, que provocam o assoreamento do rio e uma perda significativa da qualidade da água e de sua área de navegação. Ambientalistas afirmam que, com os problemas que já enfrenta, o rio a não suportará ceder parte do volume de suas águas. Um dos principais nomes da oposição ao projeto é o frei Luís Cappio, da Bahia, que esteve em greve de fome por duas l vezes. Em 2007, o frei chegou a passar 23 dias sem comer, como protesto e forma de realizar mais discussões sobre a obra. O Governo, entretanto, não cedeu às exigências e iniciou os trabalhos do Eixo Norte. Antes, em 2005, após o fim de sua primeira greve de fome, o frei Cappio já havia criticado a forma de divulgação do projeto: "O endereçamento das águas não é para aqueles que 97 realmente necessitam e isso gera uma confusão muito grande, porque a propaganda do atual projeto de transposição é uma propaganda enganosa, dizendo que vai dar água para quem tem sede. É apelativa e não é verdadeira". Com isso, o frei evidenciou outro problema da transposição: o projeto prevê beneficiar diretamente apenas 5% do sem i-árido; as águas passarão muito distante das áreas onde o quadro da seca é mais grave, não possibilitando a melhora das condições de vida do sertão, como afirma o governo. Dessa maneira, percebe-se que a discussão sobre o projeto de transposição das águas do São Francisco é bem maior do que se possa imaginar num primeiro momento. Será que famílias como a de Raimundo, citada no início do texto, terão acesso a esse benefício? E, caso tenham, será que, a longo prazo, isso não acarretará danos irreparáveis ao rio? É necessário que a sociedade faça um rigoroso levantamento sobre a sustentabilidade da transposição, para que, mais tarde, não surjam problemas ainda maiores. O texto situa-se entre a notícia e a reportagem, porque além de relatar o fato,- a transposição das águas do rio São Francisco - algo bastante polemizado, à época, em todo o país e, principalmente, no nordeste, traz alguns comentários a respeito desse fato, apropriandose do que está sendo amplamente divulgado na mídia. Mesmo não sendo um anúncio publicitário, o texto exemplifica bem o valor informativo da parte superior e da parte inferior. A imagem, na parte superior do texto permite ver a “promessa do produto”, o rio São Francisco, a embarcação navegando, as terras ao redor, cujas informações, opiniões, críticas vêm na parte inferior, no texto verbal. Este representa o real, enquanto a imagem representa o ideal. • o valor informativo do centro e a margem De acordo com este princípio, a informação é estruturada nessa dimensão do centro e da margem. É necessário, portanto que na composição, algo seja apresentado como centro, ou núcleo da informação, a que são subordinados os outros elementos. Os textos que seguem preenchem esses requisitos, visto que as imagens, (o visual), centralizadas na página e anteriores ao texto verbal, são também o centro das informações, porque é a partir dessas imagens que se constrói esse texto verbal, ou seja, a elas estão subordinados os demais elementos. Diferentemente das imagens anteriores, a última imagem de cada texto está posterior ao texto escrito, contudo, continua sendo o centro das informações ali contidas, representando o passado, a época dos avós. Texto 26 – a 9 É Proibido 'Bulir'" centro Quem nunca foi tachado de nerd, baleia, viadinho, quatro-olhos, cabeção, prego, dentre outras alcunhas, que atire a primeira borracha! Pois é. Situações como essas, inevitáveis na vida de qualquer criança ou adolescente em período escolar, agora estão recebendo um novo título (em Inglês, por sinal!): BULLYING. 98 poder, o grande e o centro pequeno O fenômeno, antes internacional, conseguiu atingir até cidades pequenas e relativamente calmas como JOÃO PESSOA, PESSOA onde moro desde quando nasci. Lembro-me como se fosse ontem dos meus saudosos anos de colégio. As brincadeiras de corda, de elástico, de baralho, os esconde-esconde, as tias legais que sempre estavam preocupadas conosco, a merenda trazida de casa e compartilhada com os amigos; tudo parecia mais fácil naqueles tempos. alegria, centro descontração, união Apesar das poucas preocupações e responsabilidades que carregava, sempre havia aqueles garotos maiores, geralmente os últimos da classe, metidos a VALENTÕES,que pareciam possuir como único objetivo na escola azucrinar a vida dos VALENTÕES coleguinhas mais tímidos e, aparentemente, mais fracos. Mas isso servia, muitas vezes, para me fortalecer e me ajudar a perceber que ainda enfrentaria muitos obstáculos na vida. A convivência com pessoas desagradáveis ou até mesmo estúpidas seria um deles. Então, como é que os governos pretendem criar programas de combate ao bullyíng se este nada mais é do que uma experiência TRISTE, mas edificante na vida de qualquer estudante? Se aqueles garotos ameaçaram o ambiente escolar deles por conta de meras zoações de companheiros de sala, deve ser porque sofrem de algum tipo de problema emocional grave. Portanto, merecem tratamento adequado para tal. O que não podemos fazer é tomar a exceção pela regra, como se todos fossem agir como eles agiram. dominante discriminado centro Assistindo a uma das reportagens sobre um caso de bullying numa escola pública da capital, pude acompanhar o depoimento de um garoto que se dizia vítima do fenômeno. Ele utilizou como justificativa para seus atos a inspiração que o acometeu ao ver um filme norte-americano no qual dois adolescentes atiram em seus colegas e professores, na biblioteca da escola onde estudam, e depois se matam. Visto isso, será que o problema está mesmo na falta de punição aos alunos que xingam seus colegas ou na influência que eles vêm recebendo da mídia? Ou, ainda, o cerne da questão não seria exatamente a própria deficiência na educação, que além de não conseguir mais impor limites aos jovens de hoje, ainda reflete na péssima utilização dos conteúdos veiculados pela mídia? poder político Bem, o que eu posso afirmar é que muitos políticos estão aproveitando esta bela oportunidade de posarem como heróis da trama quando, na verdade, não conseguem se preocupar com nada além dos seus próprios umbigos - e bolsos, claro! Afora isso, o Brasil já tem problemas demais na pendura para estar se preocupando com filhinho-de-papai mimado que não sabe se defender e, ao invés de apenas ir reclamar na coordenação, resolve, por conta própria, amedrontar uma cidade inteira, aterrorizando até mesmo sua própria família. 99 Fico pensando, às vezes, o que seria dessas crianças e adolescentes que se dizem vítimas de bullying se tivessem nascido na época dos meu avós, quando os estudantes não possuíam vez nem voz e a PALMATÓRIA comia solta. autoritarismo centro Nesse texto, como em outros já vistos anteriormente, o autor apropria-se de algo que está sendo veiculado pela mídia, na época de produção do texto – casos de bullyng em algumas escolas no Brasil - e constrói o seu texto buscando semelhanças e diferenças no passado, já que o fato em questão, não é tão recente como anunciado. Chama a atenção também, o uso do vocábulo bulir, em lugar daquele em inglês que aparece nos textos da mídia. A palavra bulir está sendo utilizada com o mesmo sentido de bullyng, Há semelhança de forma e significado, o que nos sugere uma figura de linguagem (construção) chamada paronomásia, que consiste em aproximar palavras de som parecido, quer com significado semelhante, quer com significado diverso. Entre essas palavras pode existir parentesco etimológico ou apenas uma semelhança casual. Merecem destaque ainda, a imagem de número 4, em que o aluno discriminado ou perseguido está localizado à esquerda do texto, enquanto o grupo dominante, que persegue, está sempre à direita, e a imagem de número 6, que representa o autoritarismo de uma época em que a educação era bem diferente da atual e as escolas usavam métodos “muito convincentes”, hoje reprovados pela psicopedagogia.. Texto 27– a 9 Conto Maravilhoso: Rosas e Espinhos centro Eram três e meia da manhã e eu ainda não havia conseguido pregar os olhos. Não sei se por causa das férias ou se porque pressentira que algo fosse acontecer naquela madrugada. O telefone tocou. Um súbito calafrio percorreu o meu corpo dos pés a cabeça. A esta hora, só pode ser tragédia, pensava eu. Minha mãe atendeu. Pelo tom da sua' voz, descobri que minhas suspeitas se confirmavam. Consegui ouvir, ainda na cama, ela falando que ia avisar ao meu pai, mas o fato, em si, eu não sabia, até então. Quando o telefone foi colocado de volta a base, eu me levantei e fui ao encontro da minha mãe, para tentar descobrir o que se passava. Não conseguia esconder o medo do que iria ouvir, mas precisava saber. O mistério fora revelado: ERA UMA PRIMA MINHA QUE HAVIA LIGADO, EM PRANTOS, PARA INFORMAR A MORTE DA NOSSA AVÓ PATERNA. Não posso negar, que aquilo, de certa forma, já era de esperar. Afinal, ela já era uma senhora de idade avançada e estava mal, no hospital, havia algum tempo. 100 centro Fazia dois anos que não via a minha avó, devido a desentendimentos resultantes da separação dos meus pais. Apesar de toda a insistência da minha mãe para que fosse visitá-la no hospital, eu sempre relutava, e acabei adiando, adiando, até o dia em que me dei conta de que não mais podia me encontrar com ela, pois Sua existência deixara de fazer parte deste mundo.Na verdade, sempre a vi como uma mulher forte, guerreira, que viveria, no mínimo, uns cem anos. Não esperava mesmo que ela fosse partir naquele momento. E, então percebi que havíamos esperado demais, que meu orgulho e minha covardia impediram-me de restituir o laço de amizade que havia entre nós. Logo ela que me abrigou inúmeras vezes em seu lar enquanto meus pais trabalhavam ou tinha algum outro compromisso! Logo ela que me mostrou, sem palavras, a garra que tinha, a força, a perseverança! Ela, mãe de seis filhos, esposa há quase meio século do mesmo homem, que abdicou dos seus estudos para se dedicar integralmente à família! Dura, às vezes, mas quando necessário. Não queria ter de ver seus netos passando pelas mesmas dificuldades que havia enfrentado. Toda minha infância passou-se na sua casa. Lembro-me das tardes no das plantinhas do quintal, regadas com tanto zelo, dos seus animais de estimação, das revistas que eu gostava de ler, dos bolos e biscoitos que só ela sabia fazer. Tudo aquilo tinha se acabado. Sentia com se minha infância tivesse sido enterrada, naquela tarde chuvosa, dentro do ataúde, junto a ela. centro Já não tinha mais contato com meu pai havia dois anos, também. Tive todas as oportunidades para falar com minha avó durante este período, mas o tempo passou. Havia perdido-a definitivamente. E eu não me perdoaria se isso se repetisse com meu pai. Foi então que, naquele fim de tarde escuro e tempestuoso, quando todos acompanhavam o caixão ser depositado na pedra, em meio a lágrimas, tristeza e dor, meu pai aproximou-se de mim e avisou a alguém que, antes de ir embora, precisava falar com sua filha. Sua filha! Fazia já tanto tempo que não ouvia isso... Tive de ver com meus próprios olhos se era mesmo comigo. Então, ele veio em minha direção e eu recebi um LONGO ABRAÇO QUE VALIA POR MILHÕES DE PEDIDOS DE PERDÃO. Apenas nos abraçamos e choramos, depois de dois anos de resistência. Depois daquele dia, meu pai eu passamos a nos tratar pacificamente, apesar do pouco contato. Mas, isso já foi uma grande VITÓRIA da qual me orgulho muito. No entanto, é triste chegar à conclusão de que uma vida teve de ser sacrificada para que eu pudesse compreender o quão valiosa e efêmera é a centro Como no texto anterior, aqui também as imagens estão centralizadas na página e são o centro das informações a partir das quais é construído o texto verbal, conforme já dissemos na página 96. A última imagem, porém, está depois do texto verbal, concluindo o texto, articulando-se com o que afirma o autor na última frase. Esse conto apresenta certo suspense, logo no início, quando o narrador aguarda a notícia dada pelo telefonema e sente medo do que vai ouvir logo depois. Ele alterna o fato acontecido com as suas lembranças da avó, da briga 101 com o pai, voltando para a realidade que acontece naquele momento de tristeza, - a reconciliação com pai, a simbologia do abraço e a conclusão a que chega em seguida, resumida na última frase.. • Saliência De acordo com esse princípio, os elementos do texto são dispostos de modo a chamar a atenção do leitor em diferentes graus de saliência. A saliência gera uma hierarquia, quando destaca alguns elementos que merecem mais atenção do que outros.Caracterizam a saliência, além da disposição dos personagens em primeiro ou segundo plano, os contrastes de tons e cores, saturadas e suaves, o brilho (nitidez). As cores têm um papel muito importante na saliência, na hierarquia entre os elementos. Vejamos um exemplo: Texto 28– a 25 SEGREDOS (Para ser lido ao som de Radiohead) saliência saliência cores saturadas cores suaves imagem 1 imagem 2 "É preciso arrancar alegria ao futuro. Nesta vida morrer não é difícil. O difícil é a vida e seu ofício.” (Maiakovski). Clarissa disse adeus e atravessou a rua. Depois, veio a hesitação: não sabia aonde ir. Nunca sabia. Pensou naqueles grandes olhos de reprovação, e na parede amarela com todos aqueles discos e livros que não respondiam às suas perguntas... Não, voltar para casa não. A rua era, curiosamente, mais segura. Pouco mais que duas da manhã, e, quando percebeu, pé diante de outro pé já haviam se encarregado de levá-Ia a algum lugar. Os pés doíam, pareciam esmagados por um par de mãos imundas e raivosas. Vestida com uma saia roxa de tule e tafetá, cabelos curtos ondulados, com mínimas flores pingadas cá e acolá - e não fosse pelo Ali Star sujo quebrando o tom onírico da cena -, Clarissa parecia uma princesa. Melhor: parecia uma fada, recém-saída de uma história infantil - uma fada desencantada. Na esquina, duas pessoas ouviam rádio dentro de um carro. "Você parece tão cansada e infeliz", sentenciava a baladinha triste e ao mesmo tempo doce. Entre seus passos na rua, janelas embaçadas, lixo, bares cheios de gente conversando alto, falando mal dos outros e tentando esquecer-se de si mesma. Clarissa lembrou-se do fiasco da festa. Dos exageros de Cristina. Da ausência de Fernando. Por onde andaria Fernando? Sempre em silêncio, meditando, com aquele semblante cândido, frágil e distante, fosse a hora que fosse. E Cristina bebeu a noite inteira. Levantou a blusa, gritou obscenidades pela janela. Consumia sôfrega cada gota de vida. Não tinha medo, não tinha vergonha. Incrível como duas pessoas tão diferentes permanecem juntas por tanto tempo. A lei de atração dos opostos. Parou um pouco, olhou para os céus. Os pés latejantes. Não havia estrelas, e, por causa disso, sobreveio o pensamento em 102 Fernando, há dois dias: pés imersos n'água, dedos enrugados, minúsculas pedras arremessadas, formando círculos concêntricos que se abriam, se abriam, se abriam até atingir o tamanho do próprio lago. Clarissa sentara-se ao seu lado, cúmplice, e os dois não disseram uma só palavra durante a tarde inteira. Contemplaram a infalibilidade das coisas, compreendo-se sem que precisassem verbalizar. Como dois animais impedidos de emitir até grunhidos. Como mímicos. Como mudos. Ou como raios de sol. Souberam ali que ela iria morrer, e esperaram, de mãos dadas, escondidos um no ombro do outro, pela Lua e pelas estrelas que não vieram -, até ficarem na mais completa escuridão. Tivera a impressão de vê-lo chorar. Uma lágrima apenas, descendo tímida e cristalina pela face branca. Depois achou que foi só impressão, porque, ao segundo olhar, já não havia qualquer vestígio. Pela primeira vez, em quatro anos, olharam-se nos olhos. Um lampejo apenas, é verdade, porque o olhar do rapaz era sempre esguelhado - pudico até. Mas tivera quase certeza: Fernando tinha olhos de anjo. Clarissa não resistiu à idéia de gritar como uma louca naquela rua agora deserta. Grita, grita, grita porque sabe que é tarde demais e que vai morrer. Grita porque quer uma espécie de formalização daquela confusão que reina por dentro; embora não haja surpresa ou desespero algum. Paradoxal o fato de ela gritar enquanto não está abalada? Clarissa era sempre assim, paradoxal... Antes, na sala do apartamento, foram os olhos desafiadores da felina: - Bijou, é melhor morrer de vodka que de tédio! Clarissa duvidou se Cristina sabia que citava literatura russa. Riu. É uma espécie de vitória não saber. Mas foi logo surpreendida: - Maiakovski, bijou. Eu sei. - Morro e não te descubro... Nenhum de vocês. Pensou como era estranho conhecermos tão pouco nossos amigos. A gargalhada solta, viva, e a voz de bêbada interromperam seus pensamentos: - Venha cá, brinde comigo. Confraternizemos a resistência à ordem do mundo! Vamos, bijou, viva! Pelo menos uma vez! E caiu por cima de Clarissa, que desabou junto, no sofá, tentando sustentá-la. Pensou se suprimir-se daquele jeito era viver, e se aquela não era a pior forma de conformismo. Olhou para Cristina com pena, e depois arrependeu-se de ter tido tal sentimento. Porque ambas sabiam que a vida não girava em torno de conformismo, ou de resistência. Nesse conto, vemos em destaque as imagens que precedem o texto verbal e que refletem momentos da narrativa. As imagens contrastam as cores saturadas (1ª imagem) e suaves (2ª imagem), criando a hierarquia entre o visual e o verbal, pois o visual está em primeiro plano. Vemos também brilho e nitidez que marcam essas imagens, na roupa que veste o personagem, destacando-se ainda a vara de condão utilizada pelas fadas, já que o personagem principal “parecia uma fada” – linha 8. Além do visual, imagens em destaque, o autor, pensando no leitor, usa o som como efeito multimodal, quando recomenda, logo acima das imagens, que o texto deve ser lido ao som de Radiohead.31 A importância das cores Conforme já dissemos na página 43, as cores, na composição visual, têm um papel muito importante no texto multimodal. Tanto nas imagens, quanto nos recursos gráficos utilizados, as cores sempre representam algo que contribui para o sentido dos textos. A análise das cores, numa composição visual, deve considerar a sua representação simbólica, cujo 31 Radiohead – banda inglesa de rock alternativo 103 significado é determinado culturalmente. A escolha das cores, como já foi dito, não depende apenas da simbologia e do contexto cultural, mas do grau de letramento do produtor do texto, pois a escolha não é aleatória, ela é consciente e relacionada intencionalmente ao texto verbal32. Texto 29 – a 9 É Proibido 'Bulir'" Quem nunca foi tachado de nerd, baleia, viadinho, quatro-olhos, cabeção, prego, dentre outras alcunhas, que atire a primeira borracha! Pois é. Situações como essas, inevitáveis na vida de qualquer criança ou adolescente em período escolar, agora estão recebendo um novo título (em Inglês, por sinal!): BULLYING. O fenômeno, antes internacional, conseguiu atingir até cidades pequenas e relativamente calmas como JOÃO PESSOA, PESSOA onde moro desde quando nasci. Lembro-me como se fosse ontem dos meus saudosos anos de colégio. As brincadeiras de corda, de elástico, de baralho, os esconde-esconde, as tias legais que sempre estavam preocupadas conosco, a merenda trazida de casa e compartilhada com os amigos; tudo parecia mais fácil naqueles tempos. Apesar das poucas preocupações e responsabilidades que carregava, sempre havia aqueles garotos maiores, geralmente os últimos da classe, metidos a VALENTÕES,que pareciam possuir como único objetivo na escola azucrinar a vida dos coleguinhas VALENTÕES mais tímidos e, aparentemente, mais fracos. Mas isso servia, muitas vezes, para me fortalecer e me ajudar a perceber que ainda enfrentaria muitos obstáculos na vida. A convivência com pessoas desagradáveis ou até mesmo estúpidas seria um deles. Então, como é que os governos pretendem criar programas de combate ao bullyíng se este nada mais é do que uma experiência TRISTE, mas edificante na vida de qualquer estudante? Se aqueles garotos ameaçaram o ambiente escolar deles por conta de meras zoações de companheiros de sala, deve ser porque sofrem de algum tipo de problema emocional grave. Portanto, merecem tratamento adequado para tal. O que não podemos fazer é tomar a exceção pela regra, como se todos fossem agir como eles agiram. Assistindo a uma das reportagens sobre um caso de bullying numa escola pública da capital, pude acompanhar o depoimento de um garoto que se dizia vítima do fenômeno. Ele utilizou como justificativa para seus atos a inspiração que o acometeu ao ver um filme norte-americano no qual dois adolescentes atiram em seus colegas e professores, na biblioteca da escola onde estudam, e depois se matam. Visto isso, será que o problema está mesmo na falta de punição aos alunos que xingam seus colegas ou na influência que eles vêm recebendo da mídia? Ou, ainda, o cerne da questão não seria exatamente a própria deficiência na educação, que além de não conseguir mais impor limites aos jovens de hoje, ainda reflete na péssima utilização dos conteúdos veiculados pela mídia? 32 Os exemplos trazem textos já utilizados em outro momento, devido a riqueza de cores neles encontrada. 104 Bem, o que eu posso afirmar é que muitos políticos estão aproveitando esta bela oportunidade de posarem como heróis da trama quando, na verdade, não conseguem se preocupar com nada além dos seus próprios umbigos - e bolsos, claro! Afora isso, o Brasil já tem problemas demais na pendura para estar se preocupando com filhinho-de-papai mimado que não sabe se defender e, ao invés de apenas ir reclamar na coordenação, resolve, por conta própria, amedrontar uma cidade inteira, aterrorizando até mesmo sua própria família. Fico pensando, às vezes, o que seria dessas crianças e adolescentes que se dizem vítimas de bullying se tivessem nascido na época dos meu avós, quando os estudantes não possuíam vez nem voz e a PALMATÓRIA comia solta. passado Nesse texto as cores estão bem definidas. O vermelho representando a proibição, na primeira imagem, caracterizada pelo sinal de trânsito e a repressão, na palavra palmatória no final do texto. A segunda imagem, representando o bullying (o dominante e o dominado), aparece em azul forte e cinza. A palavra João Pessoa em verde escuro está relacionada ao fato de ser esta cidade considerada ‘cidade verde’, em virtude da grande quantidade de árvores e plantas (significado cultural). As crianças em roda, num colorido acentuado, demonstram alegria, descontração, em épocas passadas, na escola. Outras palavras ou frases são marcadas com cores fortes, como valentões (3° parágrafo), outras em cores mais suaves, como saudosos, tristes (2° e 3° parágrafos), heróis da trama (5° parágrafo). A última imagem aparece em cores bem leves, quase desbotadas, representado também a escola do passado, em oposição aos acontecimentos relatados no texto. Texto 30 a – 11 Caçador salva criança da morte No fim da tarde de ontem, idosa foi morta em sua residência. A sua neta, Chapeuzinho, que ia tinha ido visitá-la naquela tarde, gritava por socorro, quando foi atacada pelo lobo. O caçador, que passava pelo bairro escuro, foi em socorro da criança. Chapeuzinho ia visitar sua avó para lhe entregar uma cesta de doces. Mas, se o Caçador não estivesse passando na hora em que Chapeuzinho gritou, uma simples visita poderia ter se tomado uma grande tragédia. Segundo o Caçador, o bairro não tem policiamento nenhum e é muito escuro. Ele continua, "não tem como andar tranqüilo por aqui e muita gente já sofreu algum tipo de violência". A delegacia estava fechada na hora do ato, mas saía vozes do local, disse alguns 105 moradores. Eles também disseram que a delegacia só abriu quando os carros da imprensa chegaram. O delegado disse que a delegacia permanece fechada devido à escassez de policiais e que a situação só vai ser resolvida quando o governo mandar a quantidade de policial necessária para regularizar a situação. A cor vermelha simboliza sangue (vida ou morte), guerra. O texto fala de vida, de morte e de luta, do caçador contra o lobo. O vermelho aqui se relaciona não apenas com a simbologia da cor, mas com todo o relato, já que o autor está falando de ‘Chapeuzinho Vermelho’ personagem de história infantil, embora ele a nomeie simplesmente de Chapeuzinho. Nas imagens também aparece a cor vermelha na capa e capuz da criança, tal como no conto infantil. Já o caçador tem uma camisa em verde-claro e uma calça jeans, simbolizando, aqui, um momento atual (diferente daquele do conto original). Podemos ver aqui que as cores não são escolhidas aleatoriamente, mas a sua simbologia situada contextualmente. Texto 31 – a 2 O preço de uma aventura U m grupo de quatro estudantes de Biologia, vindos da Califórnia (EUA), decidiu passar férias em uma tribo dentro da floresta amazônica. Eles desejavam conhecer a biodiversidade do lugar, viver emoções, e voltar com boas informações para incrementar seus trabalhos acadêmicos. Durante a manhã do primeiro dia na tribo, os amigos puderam conhecer os costumes e as tradições dos índios. Participaram de atividades junto com eles e tomaram conhecimento do cotidiano tão diferenciado daquele povo. No meio da tarde, Peter e July se afastaram dos seus outros dois amigos e saíram a fim de fazer uma pequena trilha pela floresta. Eles adoravam aventuras e estavam ansiosos para ver as belezas naturais da selva. Ao longo da trilha, avistaram uma deslumbrante cachoeira. Entraram naquelas águas cristalinas e passaram horas se divertindo como duas "criancinhas". O tempo passou e eles nem perceberam, o sol já havia ido embora e a escuridão tomava conta do ambiente. Os estudantes ficaram bastante amedrontados, juntaram rapidamente seus pertences, e começaram a caminhada de volta a tribo. Mas, devido à penumbra que estava sobre o local, eles não conseguiram achar o caminho da trilha e, acabaram perdidos na floresta. Passaram a noite na selva, mal conseguiram dormir, estavam muito desejosos de que a luz pudesse chegar novamente e com ela a possibilidade de voltar para a tribo. Amanheceu, os estudantes reiniciaram a caminhada. Em vão, quanto mais andavam, mais perdidos ficavam. E 106 iniciava-se mais uma noite; a fome, a sede, e o cansaço tomavam conta de July e Peter. Porém, mais uma surpresinha esperava por eles enquanto cochilavam de baixo de uma árvore. Escutaram um ruído desconhecido, até que o barulho foi se aproximando e eles perceberam que era um bicho. Não demorou muito para avistarem um tigre bem do lado deles. July entrou em pânico. --- Ai minha nossa, se ficarmos aqui vamos ser devorados vivos, vamos correr Peter, rápido, vamos. Disse July, já se levantando e puxando o amigo. --- Não July, fique quieta! Se corrermos será pior, é melhor ficarmos aqui como se estivéssemos “mortos" que ele não fará nada conosco. July, meio relutante, obedeceu a Peter. Por sorte, o animal, que provavelmente não estava faminto, deu umas voltinhas e foi embora. Depois de todo esse alvoroço os estudantes não pregaram mais o olho. Chegou mais um dia, já era o terceiro de Peter e July na floresta. Já não tinham quase forças para andar, os pés estavam cheios de calo, o corpo coberto por feridas e visivelmente desidratado. A garota pensava em desistir, em se entregar a própria sorte, mas Peter a encorajava, dizia que sabia que eles iriam sair dali vivos, bastava ter fé! E enquanto ele olhava fixamente para o céu, orando fervorosamente ele pedia ao Pai Celeste que os livrassem da morte. Nesse instante eles escutaram um estrondoso barulho. ---Peter, é o helicóptero do resgate, estamos salvos! Oh que alegria, mal posso acreditar. ---É sim July, e eles nos viram, seremos resgatados. Obrigada meu Pai. E então os aventureiros chegaram sãos e salvos na tribo. Puderam encontrar seus outros dois amigos, e abraçá-las fortemente como nunca haviam feito antes. Todos se emocionaram em um misto de sentimentos; riam, choravam, pulavam. No dia seguinte os estudantes alçaram vôo rumo a suas casas; com certeza, muito diferente de quando saíram de lá. Voltaram não só conhecendo as belezas da floresta amazônica, mas também seus perigos e armadilhas. Aprenderam a valorizar bem mais a vida, e não arriscá-la por meros desejos de aventuras. Nesse texto as cores aparecem nas duas imagens localizadas no meio e no final do texto. A 1° imagem, representando a floresta Amazônica traz a cor verde escuro, porém suave, aparecendo ao fundo, bem discreto, o céu representado pela cor azul. A última imagem traz as mesmas cores verde e azul, também em tons suaves, mostrando uma montanha e ao fundo o mar azul. O autor intercala a narração com dois diálogos, marcados pela fonte em azul. Predominam, pois essas duas cores no texto, por escolha intencional do autor. A simbologia das cores aqui está determinada pelo contexto cultural - região amazônica, mata fechada, lugares pouco iluminados, de difícil acesso, e textual – a aventura e os problemas encontrados pelos aventureiros. • Framing (estruturação, enquadramento) 107 Esse princípio trata da disposição dos modos semióticos no texto, como fator de composição de significados, referindo-se também à presença/ausência de recursos estruturais que conectam ou desconectam os elementos da imagem – recursos presentes, elementos desconectados, separados visualmente de outros; recursos ausentes, elementos conectados, ligados num fluxo contínuo, através de cores e formas semelhantes. (pag. 46/47 desta tese). Apresentamos a seguir um texto que exemplifica o framing. Texto 32 – a 17 Imagem desconectada O retorno da rainha Ninguém esperava por isso: Três anos depois, dois casamentos, dois filhos, sem cabelo, sem calcinha e 4 entradas em clínicas de reabilitação Britney Spears, rainha do pop, está de volta com um novo álbum curiosamente intitulado de Blackout. O álbum vendeu 1,3 milhões de copias só na primeira semana devolvendo a Britney o título de maior nome da indústria fonográfica. O álbum com 12 faixas traz uma nova e ardente Britney. Ela que perdeu o pouco da vergonha que ainda tinha junto com a guarda dos filhos abre o álbum com um sussurrante: "É a Britney vadia". O já multiplatinado álbum é uma combinação de mega produtores com letras e batidas perfeita No texto destacam-se dois planos. No primeiro plano a imagem em tamanho maior que as demais está relacionada ao título do texto, mostrando a “rainha”33 no seu retorno aos palcos, num momento de glória, de fama. No segundo plano estão as imagens do álbum Blackout apresentado ao público e objeto do texto verbal. O destaque, portanto, é para a imagem da artista, mencionada no primeiro parágrafo do texto. • Informatividade nos textos visuais Quanto à questão da informatividade, conforme explicitado na página 48, são vários os recursos que podem ser usados na construção dos sentidos de um texto. Dispostos num continuum, segundo MOZDZENSK, 2004) p. 48 desta tese, os textos apresentam-se como visualmente pouco informativos e visualmente muito informativos, em extremos, onde temos 33 Imagem do clipping da artista 108 de um lado o texto + verbal e – visual e do outro o texto – verbal e + visual. No continuum a seguir procuramos demonstrar essa informatividade nos textos analisados neste trabalho. - visual conto + visual a 8, a 27, a 17, a 44 a 9, a 10 a 13 narrativa de aventura notícia a 24 a 11 a 11, a 25 a 15 a 2 a 22 a 28 a2 a 35 a 25 crônica a 11 a 17 a13 a 10 a 36 relato de experiência a8 a9 a 35 Para organizar os textos no continuum levamos em consideração os aspectos visuais/gráficos elencados nos textos, a saber: presença de imagens (fotografias, ilustrações, desenhos); uso de cores nas fontes de escrita; recursos tipográficos diversos, tais como negrito, itálico, sublinhado, alongamento de vogal, de consoante, alongamento de sinais de pontuação. Dessa forma, consideramos textos + visuais aqueles que apresentam diversidade e intensidade nos elementos elencados, tais como a 35, a 9 (crônica), a 10 (notícia), a 11 (conto), etc... e – visuais os que apresentam o uso destes elementos de modo pontual como a 8 (conto), a 27, a 24, etc... Em todo o processo de produção do texto multimodal que analisamos no corpus desta tese fica evidente, a importância do trabalho com a seqüência didática e a sua influência na prática de produção de textos, permitindo ao aluno envolver-se com os gêneros textuais, na sua prática diária de escritura de textos. É necessário que sejam observadas as características e peculiaridades de cada curso e de cada educando. No ensino superior, onde aplicamos a proposta, há que se observar a experiência escolar do aluno, o seu conhecimento prévio e o seu grau de letramento. Com respeito à multimodalidade podemos afirmar que a teoria da Gramática do Design Visual vem preencher uma lacuna nos estudos e análise dos textos multimodais, tão presentes no nosso cotidiano. Porém, tal como acontece com a gramática das línguas, a GDV não deve ser vista enquanto universal, uma vez que o modo de utilização de seus elementos/princípios depende das marcas enunciativas, identitárias de seus produtores efetivos e seus leitores efetivos e virtuais. 109 CONSIDERAÇÕES FINAIS Hoje recebemos uma grande quantidade de informação veiculada pelos diferentes meios de comunicação que se utilizam de várias linguagens para transmitirem as suas informações. Em decorrência desse fato, tem crescido o interesse pela multimodalidade nos meios lingüísticos. Na sociedade contemporânea, os jornais e revistas, como meios de informação, estão intrinsecamente relacionados com a tecnologia. Eles utilizam pelo menos duas linguagens em seus textos, a visual e a verbal. Em nossa tese, constatamos nos estudos realizados, que o recurso visual/gráfico, imagens e recursos de composição destacam-se em detrimento do estritamente verbal, de forma a promover a mescla das duas modalidades escritas – verbal e visual/gráfica. O letramento visual, neste caso, deu-se gradativamente, ao longo da seqüência didática que ensejou a produção textual considerando o contexto social e cultural do aluno, pois, segundo Kress e van Leeuwen (1996: 2), toda a linguagem visual utilizada pelo autor do texto, está necessariamente ligada ao social, ao cultural. A escolha das imagens, cores ou outros recursos de composição não é feita aleatoriamente, mas é determinada social e/ou culturalmente. Nosso objetivo com este trabalho foi o de construir/produzir o texto multimodal com alunos do curso de comunicação da UFPB, observando os princípios de composição quais sejam, o valor da informação, a saliência e o framing, bem como as funções da linguagem visual, a representativa, a interativa e a composicional, propostos por Kress & van Leeuwen (1996) em Reading images: the grammar of visual design. Os autores, apoiados em Halliday, enfatizam a função social da linguagem, considerando que os contextos social e cultural influenciam as escolhas feitas pelos produtores de textos. A escolha do trabalho e dos alunos para a pesquisa justifica-se pela necessidade de compreender o processo de construção textual multimodal, com alunos do Curso de Comunicação Social, que na sua formação profissional trabalham e trabalharão essencialmente com os gêneros multimodais por excelência. Mostramos ao longo desta tese que o trabalho com a seqüência didática, uma espécie de roteiro metodológico, utilizado para a coleta dos dados, funciona também no ensino universitário, feitas algumas adaptações e que o trabalho com o texto multimodal já é uma realidade que não pode mais ser ignorada nem esquecida. Os textos produzidos em sala de aula, através da seqüência didática, priorizando os gêneros textuais, propiciaram revelar a forma de organização do texto multimodal, numa prática de letramento visual e aprimoramento do letramento verbal. Essa seqüência didática 110 deu ao aluno as condições para a produção do texto, dentro do processo sugerido em sala de aula. Da proposta de Schneuwly e Dolz que procuramos trabalhar integralmente, merecem atenção alguns aspectos que precisam ser adaptados no caso do trabalho com alunos do ensino superior. O primeiro deles diz respeito ao segundo passo da seqüência- módulos, em que são dados ao aluno os instrumentos indispensáveis à solução dos possíveis problemas encontrados na produção inicial, tais como textos teóricos e exemplos do gênero escolhido. Esse momento da seqüência torna-se ineficaz, até mesmo desnecessário, tendo em vista que, com relação à produção inicial, poucos são os problemas encontrados, (com algumas exceções), como se pode ver nos originais manuscritos (anexo A), e que, os próprios alunos, pela experiência que já possuem no curso encarregaram-se de buscar essas informações e efetuar as modificações necessárias. O segundo aspecto a ser revisto nessas condições é a reescritura do texto. Pela proposta de Schneuwly e Dolz o texto deve ser reescrito mais de uma vez até chegar à produção final. No nosso caso, isso somente foi necessário apenas uma vez, pois, tendo em vista o conhecimento já adquirido pelo aluno, ele cerca-se de alguns cuidados na hora de produzir um texto e, como dissemos anteriormente, há resistência à reescrita de textos. A produção final deu-se com a primeira reescritura, logo após a revisão pela pesquisadora. Depois disso, o texto foi concluído após a inserção dos aspectos multimodais, utilizando os recursos do computador. Os demais passos da seqüência foram trabalhados sem dificuldades e tiveram uma boa aceitação. Com relação aos aspectos multimodais, mostramos algumas das contribuições da GDV à análise dos textos multimodais. Uma delas é que, da mesma maneira que a gramática normativa, na linguagem, descreve as regras que combinam os elementos formais para compor palavras, a gramática visual descrever a forma como pessoas, lugares e coisas combinam ou se ordenam numa composição de maior ou menor complexidade ou extensão, Assim como gramática da língua, a GVD é quase um manual de análise do texto visual midiático, com regras utilizadas para essas análises que podem não se aplicar integralmente à produção de textos multimodais (visual/verbal), visto não contemplar o processo de produção do texto. A leitura do texto verbal, segundo a GDV, faz-se da esquerda para a direita (no mundo ocidental). A n osso ver, isso, não se aplica a todos os textos, não em toda a sua dimensão. Quando lemos algo, como por exemplo, um anúncio de venda ou aluguel de um imóvel, nos classificados de um jornal, a nossa primeira leitura é vertical, procurando aquilo que nos interessa, o bairro onde queremos alugar ou comprar. Encontrado o anúncio, aí sim, a leitura 111 pode ser feita da esquerda para a direita. No texto visual, o leitor lê, ou apropria-se da imagem como um todo e não por partes. No caso de um texto multimodal com imagens, o leitor busca em primeiro lugar a imagem, independente de sua localização (esquerda ou direita) no texto. A noção de Dado e Novo não é a mesma para todos os leitores. O que é Novo para um leitor, pode não o ser para outro. E, como a linguagem visual/verbal é determinada pelo contexto cultural e social, essa noção depende do grau de letramento do leitor e do seu acesso às diversas modalidades textuais. Esse funcionamento de esquerda e direita está relacionada ao sistema de escrita ocidental, em que tanto a leitura quanto a escrita são feitas da esquerda para a direita. Não se refere, a nosso ver, à localização espacial das informações no texto, pois, vale salientar, que nem sempre os textos reais seguem essa orientação. Defendemos a hipótese de que independente do lugar onde se localize a informação no texto, o leitor saberá identificar o Dado e o Novo, fazendo a sua leitura da esquerda para a direita. Ilustramos isso em nossa análise (Cap. III, p. 103). A hipótese acima baseia-se em alguns questionamentos, tais como: é possível, no texto verbal, estabelecer essa marca separando os dois lados? No texto visual, como separar na imagem, direita e esquerda? Como seria a classificação, nos casos em que a informação nova está extratexto? Quando todas as informações estão no texto, torna-se mais fácil identificar o Dado e o Novo nessa perspectiva de direita e esquerda, mas, como explicar como explicar essa categoria quando as informações não estiverem no texto? Na produção textual, apesar de o autor escrever o texto verbal em primeiro lugar, as imagens já estavam presentes em sua mente, na composição textual. E, nesse caso, onde ficam o Dado e Novo? No texto verbal (Dado) e no visual (Novo)? E se a imagem já for conhecida do leitor? (Ver texto 15, p. 93 da análise). São ainda valores informativos, o ideal e o real: o valor informativo da parte superior e da parte inferior, que geralmente aprece em anúncios, estruturados no eixo vertical, onde, na parte superior encontramos um apelo emocional mostrando a “promessa do produto” e na parte inferior temos as informações relativas ao produto, objetivando persuadir o leitor. Exemplificamos com o texto 25 , página 104. Outros princípios apresentados pela GDV, são a Saliência e o Framing. Na saliência os elementos do texto são dispostos de maneira a chamar a atenção do leitor. Os elementos em destaque geram uma hierarquia. Além da disposição dos personagens em primeiro ou segundo plano, a saliência é caracterizada pelos contrastes de tons e cores, saturadas e suaves, o brilho (nitidez). Encontramos em nosso corpus o texto 28, p. 109/110. O Framing trata da disposição dos modos semióticos no texto, referindo-se também à presença/ausência de recursos estruturais que conectam ou desconectam os elementos da 112 imagem. Esses elementos estão ligados num fluxo contínuo, através de cores e formas semelhantes. O nosso exemplo é o texto 32, p. 116. Assim como os textos verbal e visual, as cores, que assumem um importantíssimo papel no texto multimodal, também são determinadas culturalmente, assumindo assim sentidos diferentes em cada região ou cultura. Devemos analisá-las no texto, procurando verificar o que representam simbolicamente, simbologia essa já conhecida de todos nós, cujo um significado é situado culturalmente. No entanto, no texto, a escolha das cores depende, principalmente, do grau de letramento do produtor do texto e está intencionalmente relacionada ao texto verbal. Cada língua possui um número considerável de termos para nomear as cores e suas modalidades, ou tons, que podem ser apresentados em escalas que vão desde as cores saturadas, passando pelas cores diversificadas e modalizadas, até o uso de uma só cor. Essas escalas de cores aparecem nas imagens que compõem o texto multimodal, como se pode ver no texto 29, p.111 desta tese. Outra contribuição da GDV é a de analisar o texto multimodal – linguagem visual e verbal - como partes integradas do mesmo texto, mostrando que a linguagem verbal, imagens, fotos, gráficos e outros recursos são igualmente importantes na composição do sentido do texto. A GDV permite ainda, a possibilidade, considerando a necessidade imposta pela tecnologia e pela mídia, de se trabalhar esse texto multimodal, analisando não apenas textos já prontos e selecionados para essa finalidade, mas também de construir esse texto multimodal, levando em conta o processo de produção. . Quanto aos textos já prontos veiculados pelas diversas mídias, a análise leva a explorar alguns aspectos desse texto. Porém, no que diz respeito à produção/construção do texto multimodal, devemos considerar o grau de letramento dos alunos autores, a conscientização do aluno ao produzir o texto multimodal e inserir nele os elementos multimodais, escolhidos em consonância com o texto verbal e não aleatoriamente, ou seja, as imagens, fotos, gráficos, compõem, juntamente com o verbal, o sentido desse texto. Quanto aos textos analisados nesta tese, foi possível observar que a construção multimodal dá-se simultaneamente com a escritura do texto verbal. Os elementos multimodais já estão presentes desde o início da produção, isto é, verbal e visual estão intrinsecamente relacionados. Quanto à informatividade, vimos que há textos + visualmente informativos e outros – visualmente informativos. Nesses últimos, o autor utiliza recursos gráficos e tipográficos, fontes coloridas, e sinais gráficos, considerados elementos multimodais, estabelecendo, assim, uma relação com a oralidade. 113 Devemos ainda, com a seriedade que o trabalho exige, verificar a adequação da teoria à análise dos textos produzidos, considerando o processo de criação desses textos, independente da metodologia utilizada para orientar essa produção. A partir de tudo o que já dissemos, a nossa perspectivas para o futuro é a de dar continuidade a essa pesquisa, desenvolvendo projetos nessa área, envolvendo alunos dos Cursos de Comunicação Social, Letras e outros que se interessem por trabalhar esse tema. É também nossa meta propor que os estudos do texto multimodal façam parte dos programas de Língua Portuguesa, principalmente nos dois cursos especificados acima, porque, como já dissemos anteriormente, os textos multimodais já fazem parte do nosso cotidiano, não se podendo mais ignorá-los. O material coletado para esta pesquisa ficará à disposição para outros estudos que possam surgir no âmbito da análise do discurso, gêneros textuais, seqüência didática e outros que desejem explorar o conteúdo dessas produções, já a análise proposta pela GDV contempla os elementos formais do texto. Por fim, podemos considerar o nosso trabalho como inédito, em virtude de havermos trabalhado o processo de construção consciente do texto multimodal, à luz das propostas da GDV, utilizando a metodologia da seqüência didática. A literatura existente nessa área trabalha, na sua maioria, trabalha com textos já prontos, especialmente os da mídia (propaganda, publicidade), escolhidos com essa finalidade. 114 REFERÊNCIAS AQUINO, Lucélio Dantas de e SOUZA, Medianeira. A multimodalidade no gênero blog. In: ALMEIDA, Danielle Barbosa Lins de (org). Perspectiva em análise visual: do fotojornalismo ao blog. João Pessoa, Editora da UFPB, 2008 BRESSANE, Taïs Bittencourt da Rocha. 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Porto Alegre, Mercado Aberto, 1982. 118 ANEXOS 119 ANEXO A Textos Originais (manuscritos) 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 151 152 153 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 ANEXO B Textos originais (digitados) 164 Mistérios de um vale c) b) Há cerca de 700 anos d.C. um pequeno território entre as extintas províncias de Tocris e Planoalti, dominadas pelo também extinto Reino de Filipéia, foi dominado por um populoso grupo de camponeses fugitivos de um reino ao sul. Tratava-se de pessoas fortes e corajosas, mas com dignidade ferida devido a inúmeras humilhações sofridas por parentes e amigos no regime do reino que de lá fugiam. Até que decidiram acabar com tudo isso e recomeçar. Passaram por noites e dias a caminhar em busca de um local que pudesse acolher a todos da grande caravana, até que encontraram um grande vale, rico de belezas naturais e uma fauna invejável, privilegiado por sua geografia e seus aspectos climáticos. E foi lá onde se estabeleceram, o novo povoado iniciou-se com uma grande organização, onde a cada família ou grupo, eram Ihes dado algumas atribuições, cada um trabalhando de forma específica visando ma futuro progresso. E foi em um desses grupos, que o pequeno Oven e a linda camponesa Diane ainda crianças se conheceram, ela desde pequena com um singelo e angelical sorriso, um olhar misterioso e não podendo esquecer, seus lindos e longos cabelos negros, deixando-se levar pelas ondulações perfeitas de seu corpo esculpido a dedo. Diane e Oven por serem criados juntos, acabaram tornando-se melhores amigos, trocavam confidências, experiências, aventuras, desentendimentos em· casa, em fim tudo que ocorria no dia-dia de cada um. O tempo passava, eles cresciam, e chegou um momento em que a menina Diane já era jovem mulher nesse momento ela resolveu contar um grande segredo que guardou consigo durante alguns anos, convidou seu amigo para um passeio no bosque e foi então que revelou que quando sua família fugia do antigo reino no qual viviam, um feiticeiro aliado ao rei, amaldiçoou a sua mãe que na época ainda estava grávida, fazendo com que a doce Diane todos os dias das 00:00hrs (meia noite) às 05:00hrs (cinco da manhã), se transformaria em uma frágil e delicada rosa. Oven por sua vez, começou a refletir e enxergar o quanto à bela Diane era especial, o quanto aquela encantadora garota era frágil e forte ao mesmo tempo e isso o cativou mais e mais a cada dia. O tempo foi passando, até que o pequeno Oven, começaria a realmente perceber que sentia algo a mais pela sua amiga, se ia dormir, ao fechar os olhos era a linda Diane que lhe vinha em seus pensamentos, em seus sonhos. Mas infelizmente quando veio perceber tudo isso o garoto Oven não tinha tantas oportunidades de dizer tudo isso para sua amada amiga, pois sempre estava a servir seus familiares, trabalhava muito para ajudar em casa e no fim do dia dizia estar muito cansado para ir procurá-Ia. Certo dia sua mãe resolveu que o garoto Oven teria que ir ver alguns de seus parentes, que já não o fazia há muito tempo. Diane foi se despedir do seu amigo sem saber de tudo que passava no coração do mesmo. E assim com a partida do seu melhor amigo, Diane se viu solitária, não tinha com quem mais conversar, até que seus primos Grida e Rilton foram se aproximando por ver sua prima cada dia mais triste. Começando assim um novo ciclo de amizades para aquela garota, começaram a explorar as belezas do vale juntos, conversar, sair e tudo que uma amizade possa proporcionar. a) Depois de um tempo, seu primo Rilton lembrou-se que um grande amigo estaria pra chegar, e convidou Diane e Grida para ir recebê-lo juntamente com ele. As meninas foram com ele ficar a espera do seu amigo, até que a pequena Grida, não menos bela que a Diane, Porém bem baixinha, mas com um coração imenso, enxergou um garoto caminhando em sua direção na linha do horizonte, autêntica como é, chamou atenção dos outros para que pudessem observar e assim Rilton pudesse reconhecer se era seu amigo ou não. Ao se aproximar Rilton correu para lhe dar um abraço, sim, era l/ seu amigo, entretanto ele se desviou por estar totalmente compenetrado no olhar tão carinhoso e misterioso da doce Diane, ela por sua vez se encantou com o sorriso do garoto para muitos não fazia sentido, mas era algo angelical, algo que despertou nela um sentimento maior do que tudo que já havia sentido. O garoto ao chegar a sua frente, curva-se e encosta seus lábios em suas macias ! 165 mãos, de imediato Grida e Rilton percebem o que está acontecendo, afinal, não foi difícil de enxergar o brilho no olhar de cada um dos dois. Os quatro passaram algum tempo a conversar, até que anoiteceu e as duas garotas tiverem que ir para suas casas. O dia posterior seria o da chegada do garoto Oven, no qual Diane sabia pois ele havia enviado um mensageiro avisando de sua volta a sua amada amiga, entretanto com tantos novos acontecimentos, a jovem esqueceu de receber seu amigo, Oven ficou a esperar por sua amiga, sabia que algo teria acontecido, pois toda vez que partia e chegava, sua melhor amiga sempre ali estava, preocupado, achou seu também amigo Rilton e questionou sobre Diane, sem demora acabou falando tudo que estava a sentir pela sua amiga, que tudo já havia ultrapassado os limites da amizade e não sabia mais o que fazer, foi então que Rilton resolveu contar tudo a Oven, desde a maior aproximação com sua prima Diane, à vinda do seu amigo e o que havia acontecido na recepção do mesmo. Desde então o silêncio foi a única coisa que se via do garoto Oven, às vezes juntamente com seu silêncio, a queda de uma lágrima em encontro a solo e nada mais. Do pobre Oven não poderia saber o que iria fazer, mas no mínimo foi à coisa mais errada que poderia ter sido feita. Em um momento de ira, ele foi a busca do tal homem que fez com que a Diane se apaixonasse, quando o encontrou, foi logo falando tudo que sabia sobre ela, afinal, ele queria ser o íntimo, causando ciúmes no outro rapaz, porém foi tudo em vão. Até que resolveu contar o que havia de mais íntimo e teria certeza que a jovem Diane não contaria para mais ninguém, foi então onde revelou a maldição de qual ela sofria e sem esperar qualquer reação do rapaz Oven partiu em lágrimas. Nunca mais se teve notícias do menino Oven, muitos dizem que ficou a espera da garota Diane à frente do bosque onde ela revelou o seu segredo, porém por anos muitos não passavam por aquele lugar com medo de ser assombrado. E enquanto a Diane, se soube que no dia depois dessa revelação ao rapaz, ela teria recebido incontáveis flores, orquídeas, margaridas e rosas juntamente com um pedido de casamento do único homem que fez seus olhos brilharem e nunca mais viu seu amigo Oven e muito menos entendeu o motivo de ter contado tudo ao seu amado. 166 d) A aventura na Mata do Buraquinho Em um dia muito ensolarado, as 5 amigas: Violeta, Orquídea, Vitória Régia,Rosa e Margarida decidiram fazer seu trabalho de campo na Mata do Buraquinho, porém não sabiam que ia ser um dia inesquecível. Assim que chegaram lá, depararam-se com uma onça faminta, que correu com rapidez em direção às suas novas presas. Correr, correr e correr foi o verbo utilizado pelas jovens estudantes de biologia. Após livrar-se do felino, pensaram que estavam fora de perigo quando Orquídea, a caçula do grupo, caiu em um despenhadeiro. As outras companheiras ficaram em pânico mas logo fizeram uma "teresa" (corda improvisada) para resgatar a menina. Com sua pesquisa atrasada, o grupo não desistiu e persistiu à procura de espécies raras do nosso ecossistema. Nessa busca incessante, Violeta se distrai ao olhar pela lupa insetos pequeninos e é picada por uma cobra, que por felicidade do destino, não é venenosa. Após estudarem algumas espécies raras, Rosa convoca as meninas para fazerem um "pit-stop" para o almoço. Depois do almoço, Vitória Régia decide deitar-se um pouco para descansar enquanto o resto do grupo termina a refeição. Sonolenta, a estudante deita-se em cima de espécies raríssima de urtigas. Sem ter o que fazer, as companheiras tentam acalma-la, soprando a queimadura para aliviar a ardência. Decididas de que os estudos práticos de biologia não iam dar certo, as meninas decidem voltar para casa imediatamente, quando, de repente, o tempo fecha e começa a chover intensamente. A chuva não pára, o desespero começa a tomar conta das garotas que só agora percebem que estão presas na Mata do Buraquinho. O tempo passa e o entardecer chega ao som do choro das estudantes, que já não têm tanta força para gritar em busca de socorro. Sorte. Tudo o que elas precisam agora é de sorte. E elas terão. Com o passar das horas o guarda-florestal da Mata do Buraquinho se dá conta de que as futuras biólogas ainda estão lá dentro e decide chamar reforços para ajudar no resgate. Os guardas-florestais resgatam as jovens sãs e salvas e as levam para seus lares. Após um dia frustrado em suas pesquisas acadêmicas, tudo o que elas querem agora é o aconchego de seus pais e uma boa noite de sono. No dia da apresentação do seminário, as meninas têm uma surpresa inesperada: o trabalho de toda a turma foi cancelado! As meninas ficam desoladas, mas acabaram se conformando já que não haviam feito o trabalho. 167 UFPB CCHLA DECOM Comunicação Social - Jornalismo Notícia Homem-Morcego é visto na mansão Wayne O justiceiro mascarado conhecido como Batman foi visto nos arredores da mansão do empresário Bruce Wayne na noite desta Terça - Feira. O repórter Chuck Smegma foi testemunha do fato e nos relatou que avistou um vulto contornando a casa e rapidamente desaparecendo nos fundos. O Sr. Wayne não declarou nada sobre o assunto mas prometeu esclarecer tudo em uma coletiva de imprensa convocada para a próxima Quinta-Feira. Não é a primeira vez que o nome dos Wayne é ligado a figura do morcego. Há quase dois anos, na festa de 50 anos das Industrias Wayne, após um ataque do maníaco conhecido como Coringa aos convidados, um dos presentes afirma que o empresário desapareceu para, em seguida, ser substituído por Batman. Como nada foi provado e o homem que presenciou o acontecido sumiu, o caso foi arquivado. O Comissário Gordon falou que as devidas providências serão tomadas. O Homem-Morcego, que nunca foi uma unanimidade, tem a desaprovação das autoridades que o consideram excessivamente violento. Agora a identidade dele pode finalmente ser revelada. 168 e) f) UNIVERSIDADE FEDERA DA P ARAIBA CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES VERNACULAS DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO PORTUGUES II - profª ENEIDA PRODUÇÃO TEXTUAL FINAL - CRÔNICA ESPORTIVA A BATALHA DOS AFLITOS Um dos jogos mais emocionante da história do futebol brasileiro. Grêmio x Náutico. O confronto era valido pelo quadrangular final da serie B. Jogo realizado no estádio dos aflitos em Recife no dia 26 de setembro de 2005. O Grêmio sucumbiu a serie b em 2004 quando terminou o campeonato brasileiro serie na ultima colocação. O Náutico há tempos que disputava uma vaga na elite do futebol Aos 28 min do primeiro tempo, Fabrício Carvalho Cruza, a zaga do Grêmio no afasta e o zagueiro Domingos do grêmio comete pênalti sobre o atacante do Náutico. O próprio Fabrício Carvalho cobra e manda a bola na trave. Susto para a torcida do Grêmio e o jogo segue sem gols o que garantia a volta do Grêmio a elite do futebol. Aos 27 min do segundo tempo, Escalona lateral do Grêmio, põe a mão na bola na intermediaria da grande área e é expulso aos 38 min pênalti para o náutico. Os jogadores do Grêmio se revoltam, começa um tumulto, a policia é chamada o jogo fica parado pelo menos uns 25 min. Enfim depois do tumulto a calma se estabeleceu. O pênalti foi cobrado e o goleiro Galato, do Grêmio defendeu, na sequência Anderson, meia do Grêmio conduz a bola até a intermediaria da área do Náutico, sofre a falta, cobra e prossegue e faz o gol... incrivelmente. 169 UNIVERSIDADE FEIUINVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO DISCIPLINA: LÍNGUA PORTUGUESA II PROFESSORA: ENEIDA CURSO: COMUNICAÇÃO SOCIAL (RÁDIO E TV) O açude sangrou! Todos os anos era a mesma coisa: São João, Natal, Ano Novo e Carnaval, eu e meu irmão sempre passávamos férias na Fazenda Olho d'água, localizada no Cariri Paraibano, onde moravam minha tia e seu esposo, um antigo fazendeiro. Titia não teve filhos, por isso sempre a consideramos nossa segunda mãe. Essa região do Cariri sempre foi conhecida como a mais seca da Paraíba, mesmo com as poucas chuvas que presenciei, dava pra notar a alegria dos animais e a festa que a natureza fazia com suas cores verdes e vivas. Mas eu nunca havia visto o açude sangrar e os rios correrem. Sempre escutei histórias da tia, do tio e de pessoas mais antigas do sítio sobre as cachoeiras que se formavam quando o açude passava do seu limite. 170 Certo dia quando o sol estava se pondo, uma grande ventania tomou conta da região, estava se preparando para chover. Começamos a ajeitar tudo, destampamos a goteira da cisterna, fechamos as janelas e colocamos as galinhas no chiqueiro. Uns poucos pingos foram surgindo, mas não foram muito fortes, só molharam um pouco a terra seca, duraram apenas alguns minutos, isso aconteceu durante três dias. Eu me encontrava numa grande ansiedade, parecia que o dia estava próximo. No quarto dia amanhecera nublado e assim passou ã manhã t:. à tarde, todo o céu estava escuro, não se via nenhuma estrela. Fomos assistir à novela na velha televisão preta e branca que era ligada na bateria, pois na época não havia energia elétrica, a luz era no candeeiro. Começamos a jantar, quando de repente os pingos batiam no telhado, eram tão fortes que a terra vermelha da telha caía aos poucos sobre nossos pratos. Deixamos de comer e corremos para o terreiro. Iniciava-se o maior temporal que eu já tinha visto e choveu por toda a madrugada. Nessa noite não sonhei, pois meu grande sonho estava sendo realizado. Queria acordar o mais rápido possível para poder ver aquele grande espetáculo. Quando acordei, minha tia gritou com muita empolgação e emoção: -O açude sangrou! Sonhava todas as noites com um grande temporal, com aquelas cachoeiras lavando todo o mato seco com sua força, com o banho naquelas águas caindo sobre minha cabeça, com a felicidade natural das plantas e dos animais. Mas no período das chuvas a gente nunca estava na fazenda. 171 Eu nem quis saber do café da manhã, saí correndo pro açude. Os passarinhos cantavam de felicidade, parecia dia de festa, pois não existe algo mais fascinante do que o amanhecer no campo depois de uma noite de inteira de chuva. Quando cheguei meu irmão já estava lá com meu tio, os dois se encontravam parados olhando com grande admiração àquela bela encenação da natureza. Meus passos foram diminuindo quando vi, nunca imaginei que fosse daquele jeito, era muito mais bonito do que no sonho. O barulho das águas correndo, a formação daquelas lindas cachoeiras, tudo era maravilhoso. Minha vontade era de pular naquelas águas, a titia me segurou, pois a correnteza era muito forte e não dava pra entrar. Ficamos quase uma hora assistindo àquele mega evento natural. Só à tardinha é que o nível e a força das águas baixaram, tomei o tão sonhado banho de cachoeira, não g) h) pensava nem em comer, queria passar o dia todo contemplando aquela beleza. Aquilo foi um alimento pra minha alma. Ainda hoje quando tenho notícias de chuvas por lá fico muito feliz. Foi a experiência mais emocionante da minha vida. As férias diminuíram bastante, mas as poucas vezes que posso vou à fazenda e a emoção é a mesma de voltar aquele lindo lugar que considero o meu segundo lar. 172 Universidade Federal da Paraíba Português II Professora: Eneida o abraço Tudo parecia tranquilo naquele sábado onde dois amigos caminhavam mata adentro em busca de diversão. O entardecer chegava e os garotos não encontravam a trilha que os traria de volta. Com o passar dos minutos tudo ficava mais assustador. O fato de a noite chegar deixara os garotos em pânico. Afinal, eles não estavam preparados para passarem a noite ao relento vulneráveis aos desafios da floresta. A neblina aumentava e com ela o frio os fazia tremer. Um dos garotos percebeu que uma velha gruta estava logo ali a sua frente e decidiram se abrigar pois já estavam exaustos e a sensação de frio adentrava seus corpos na mesma intensidade que a escuridão da noite chegava. Dentro da úmida e sombria gruta tudo ia ficando mais caótico, um dos garotos sugeriu um abraço, pois os corpos unidos os manteriam aquecidos. Nesse segundo a mágica aconteceu. Aquele abraço fez acordar milhões de sentimentos diferentes que nunca antes aqueles dois haviam sentido. Aquele abraço em meio ao clima de medo e impotência fez o novo acontecer. Tudo que antes parecia sujo, longe de suas realidades e impossível acabou se transformando num amor dosado a novos toques e desejos surreais. Toque, gosto, respiração, mãos, lábios, língua, olhos e só Deus como testemunha. 173 Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes Departamento de Comunicação Social Habilitação: Jornalismo Língua Portuguesa II Período: 2007.1 Profª.: Eneida Conto Maravilhoso Tema: Calor, ambientes quentes; conseqüências Ruínas e Felicidade sob um calor Adquirido As paredes já rachavam de tanto calor. A diferença absurda entre as temperaturas da alta madrugada e as do meio-dia ensolarado dilatava e retraía as barras de ferro até extremos da sua composição molecular. O calor que fazia naqueles últimos dias era mais que INSUPORTÁVEL; era DESUMANO; a mais leve brisa era temida porque mo vi men ta va o ar já em ALTA TEMPERATURA, e era preferível ficar quieto Parado Inerte Qualquer movimento parecia alastrar a QUENTURA do vilarejo. O único movimento indispensável era aquele desenhado em busca de ÁGUA: andar quilos-metro em direção a um rio, a um açude, a uma lagoa, a uma poça qualquer - mesmo que o rosto queimasse em brasa com o vento ousado; ou levantar-se da cadeira ou da rede atrás de um copo d'ÁGUA, ou melhor, uma GRANDE GARRAFA. Já não se praticava mais a sesta, pois os colchões ao fim da tarde se encontravam enchxarcados, e era necessário cerca de 7sete7sete7sete7 homens para dobrá-lo todo e retirar dele toda a ÁGUAsalgada expelida pelos poros humanos absorvida naquele pedaço de dia. As lamentações eram muitas, ou melhor, nem lamentações mais havia, porque os moradores daquela localidade evitavam (até falar), a fim de economizar suor e evitar uma maior necessidade de ÁGUA. Havia ainda aqueles que lamb-lambiam seu próprio suor, como gatos em seu banho salivar periódico, fosse para evitar o desperdício de ÁGUA, fosse porque as ÁGUAS estivessem longe e não se quisessem empreender movimentos em sua busca. Entretanto a gelidez da madrugada também não dava trégua. A partir das 8 da noite, quando o sol já havia se posto por completo, era obrigado que se movimentasse, pois o frio que se mo vi men ta va era fatal aos inertes. Aproveitava-se aquele momento para se empreenderem os movimentos evitados durante o dia: cozinhava-se, andava-se, corria-se, limpava-se a casa e construíamse outras, procurava-se por ÁGUA, comia-se e bebia-se - muito! Ate que o fri-i-i-iigilar dos músculos não permitisse mais a realização dessas atividades; a temperatura, que no início da noite era de 15°C, descia gra du al men te até -5ºC, -10°C no auge da madrugada, e o trrrrrrremor dos músculos passava para os ossos, e daí passava para o corpo todo, que trrrrrrrrrrrrremia por completo. No início da 174 manhã, às 9h, quando o calor já alcançava os 37°C, as articulações-articulações-articulações acordavam roxas, sem exceção, porque os ossos pareciam fri-i-i-i-igilar sozinhos e era inevitável que bat-essem entre si, e se violentassem, e que se agredissem, em movimentos contrários e conflitantes, constantes e temidos. No estopim do calor, calor no enrijecer das ALTAS TEMPERATURAS, a loucura tomava a cabeça das pessoas sob o sol nada misericordioso, e elas, impregnadas, lavadas, encharcadas, afogadas em SUOR arrancavam suas roupas sem piedade, e se deixavam NUS, se livravam de PUDOR e se enchiam de libido! Os olhares se encontravam por entre o embaçante vapor quentíssimo que exalava do solo escaldante, e se reconheciam num desejo Mútuo...triplo....quádruplo.....poligâmico......numa filia i-ne-vi-tá-vel, e se lançavam ao como se lançariam num lago gelado e FUNDO. Buscavam satisfazer aquele desejo insaciável no corpo do outro, ou nos corpos dos outros, em movimentos des-meDIdos e ar-queJANtes, contatos bruscos entre corpos escaldantes, e que não sabiam mais o limite entre o cansaço e a estafa, pois o calor lhes retirava qualquer consciência do que faziam. E lamb-lambiam os suores uns dos outros, e todo o vilarejo se desprendia em atitudes sexuais e lancinates. Num calor de quase 60ºC, já não se sabia mais o que era moral, consciência ou limitações da espécie humana! E assim foram vivendo diuturnamente entre extremos impressionantes de sexo temperatura, que aumentavam e diminuíam a cada temporada. Não havia mais estações, parecia que aquele pedaço de terra apresentava-se disposto ao etemaetemaetemaetemamente... Adaptaram-se e acostumaram todos os seus hábitos e festas e cerimônias àquele regime que já alcançava a normalidade entre eles, de modo que a 3a geração desde o aparecimento daquele calor INIMAGINÁ VEL possuía imunidades especiais, diferentes de qualquer outro humano, de qualquer local da esfera terrestre. Comviviam amigos do SOL , e a ele se devotavam como a um Deus, mas sem submissão; era amizade, uma relação amigável. Entretanto, algo que SURPREENDEU acabou por aterrorizar toda a cidade, na iminente possibilidade de anular todas aquelas 10-cadas de adaptações e costumes desenhados em função das ALTÍSSIMAS e baixíssimas TEMPERaturas: uma nuvem, forte e cheia, escura e es-TRÜNNNN-dante, uma chuva que poderia cair a qualquer momento, acabando com todo o calor dos anos anteriores. Corria-se toda por a parte alardeava-se, GRITAVA-SE, porque não era uma simples chuva; Eram GOTAS que traziam em si a derrrota do tipo de vida que haviam construído, conquistado, alcançado com muito suor de seus rostos. Passaram a odiar, a inculcar a IRA e o temor por aquele fenômeno repentino, aquela novidade aparentemente inevitável. Arquitutotitetaram planos, e pensaram artimanhas, e acabaram por desenvolver uma tática. E entre magias e atos de bruxaria fabulosos conseguiram espantar a grandiosa grandiosa nuvem, nuvem e suas gotas suaves, mas sedentas por 175 cair, expulsando-as do céu comumente azul c1aríssimo. Haviam se acostumado ao CALOR, e era com o CALOR que queriam, desejavam viver. ATÉ O ÚLTIMO DOS SEUS DIAS. ATÉ QUE TODAS AS CASAS CAÍSSEM EM RUÍNAS. ATÉ QUE SEUS CORPOS SUBLIMASSEM EM ALTA FERVURA.E QUE TUDO SE ACABASSE EM ALTAS TEMPERATURAS! 176 Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Humanas Letras e Artes Departamento de Comunicação Comunicação SocialJornalismo Professora: Eneida Martins Disciplina: Língua Portuguesa II Gólgota de uma benção Dois de abril de 1988. São 19h30min. Escuta-se um grito da sala de parto, um grito de alívio e esperança, mas também de tristeza e melancolia, para Francisco. Jéssica Francisco se conheciam desde o ginásio, se interessaram logo a primeira vista um pelo outro, e pouco tempo depois começaram a namorar. Juntos eles descobriram os segredos que os seus corpos escondiam, A inevitável paixão de adolescente logo evoluiu para um tórrido e maduro amor, um amor que parecia infinito e que era invejado por todos que os conheciam. Eles não conseguiam mais se desgrudar um momento sequer, não sabiam o que era viver um sem o outro, aliás, para eles, não havia vida se ficassem afastados. O casamento foi só uma questão de tempo. E com o passar deste, a vontade de ter um filho, um descendente, que viria direto das entranhas, um fruto do grande amor que sentiam, aumentava progressivamente.. . Esse pequeno presente de Deus era tão esperado que já tinha até nome: Abel seria a designação do primeiro primogênito masculino e Maria do feminino, devido à forte crença que os dois tinham no catolicismo. Há um ano, Francisco e Jéssica foram ao médico para saber o que/havia de errado com eles, pois já fazia 5 anos que eles estavam casados e praticavam todo dia a concepção de um descendente, que se recusava a chegar. Depois de vários exames, o médico afirma que eles não têm nada de errado, que são completamente saudáveis. O médico diz ao casal para ter paciência, pois ainda são jovens e têm muito tempo para receber essa benção. O profissional continua dizendo que se eles ainda não tinham uma criança era porque não tinha chegado o tempo, visto que de nenhum problema os dois sofriam. 177 Francisco estava apreensivo do outro lado da parede, visto que seu filho estava nascendo, seu pequeno Abel. Finalmente, depois de quase 6 anos praticando a feitura deste, ele e sua esposa tinham conseguido o que almejavam desde o início do tórrido romance. Mas aquela hora ainda guardava muitas surpresas para Francisco. Quando você ganha algo bom, ganha também, algum dia, um infortúnio. Para Francisco, eram ambos na mesma hora. Era 19h25min quando um dos médicos sai da sala de parto para avisar ao felizardo, e agora também miserável, que eles estavam tendo complicações para realizar o parto. - Caro Francisco, sinto vir informar ao senhor que sua esposa não está muito bem. Na hora que estávamos retirando a criança, sua mulher começou a perder bastante sangue e não estamos conseguindo conter a hemorragia - disse o médico. - Não posso acreditar! Isso não pode estar acontecendo... - Francisco pára de falar abruptamente e começa a se debulhar em lágrimas. Ele não podia acreditar como aquela benção, aquele presente de Deus, que ele esperou a vida toda, pudesse ser, pelo menos naquele instante, a sua maior desgraça. O portador de todo o infortúnio que tinha acabado de se abater sobre ele. - Senhor Francisco, por favor, acalme-se. Eu ainda tenho de lhe falar sobre seu filho. 178 prossegue o médico. i)Francisco pára de chorar e com cara de espanto pergunta: - Meu Filho? O que aconteceu, Doutor? O que ele tem? Ele não está morrendo, né? - Não, ele não está morrendo. Ele vai viver, mas... - tenta continuar o médico, sendo mais uma vez interrompido. - Mas o quê? Diga logo! - grita Francisco. - Vou falar, mas mantenha a calma. Bem, seu filho demorou a responder a alguns estímulos. Ficamos espantados e fizemos alguns exames rápidos, dos quais percebemos uma deficiência congênita. Ele vai precisar de uma atenção especial do senhor e também de muito carinho e paciência de sua parte. Subitamente, a porta onde Jéssica e o bebê da bênção desafortunada estavam se abre, sai outro médico, com o aspecto mais triste que o primeiro, e dá a notícia que mudaria de vez a vida de Francisco. O médico olha para seu colega de trabalho e vai se virando até seus olhos encontrarem os de Francisco e, com o olhar mórbido, finalmente diz: - Ela não resistiu. j) k) 179 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CCHLA DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO CURSO: JORNALISMO Disciplina: Língua Portuguesa II A ação do medo sobre a dignidade N uma conceituada Universidade do Estado do Rio de Janeiro, trabalhava como professor de estatística o senhor Pedro Furtado Magalhães, conhecido e querido por todos os alunos e funcionários pela sua agradável forma de tratar as pessoas. Certa vez, ao entrar no gabinete antigo da biblioteca procura de um livro para a conclusão de seu projeto, Pedro começa a escutar sussurros de conversas que entravam por uma pequena janela localizada bem no alto do lado esquerdo da sala, curioso, o professor sobe em uma mesa ali presente. Ao ouvir o assunto do qual se tratava a conversa, este ficou pasmo, pois referia-se a um plano de assalto ao Banco Central do Estado organizado por alunos que ele mesmo conhecia e que agora descobre que são participantes de uma máfia. Envolvido pelo medo de ser descoberto, Pedro move-se rapidamente para descer da mesa sem ser percebido, no entanto, desgastada pelo tempo, a perna da mesa não suporta o peso e se rompe derrubando o professor e causando um enorme barulho o qual chama a atenção do grupo que estava na sala ao lado. Rapidamente, os bandidos entram na sala e encontram Pedro no chão e aflito com a situação. Os participantes da máfia eram em cinco, dois colocaram a arma sobre a cabeça de Pedra, outros dois seguraram seus braços e um, certamente o chefe, começou a fazer perguntas ao professor. Pedra negou ter escutado algo, mas eles, provavelmente, não acreditaram e ameaçaram matá-lo. Pedro em desespero jurou ficar em silêncio, mas isso não seria uma garantia suficiente para convencê-los. O chefe da máfia que se chamava Carlinhos, olhou para o professor e disse que ele teria que fazer uma escolha, ou morrer ou participar do crime junto com eles. Pedro não acreditava em que situação de repente sua vida havia entrado, de homem digno à bandido. Sobre a mira de um revólver, logicamente, o professor aceitou participar do plano que deveria ser posto em prática naquela tarde. Os bandidos levaram o professor consigo até o esconderijo para articularem como seria a ação ·criminosa. Tomado por um nervosismo impiedoso. Pedro não parava de pensar em seu trabalho, na sua família e na passar, mas o medo da morte falava mais alto. Chegada a hora da prática do crime, Pedro e outro dos bandidos ficaram com a tarefa de entrar no banco e render todos lá dentro, os outros três cuidavam da segurança, enquanto Carlinhos pegava todo o dinheiro do caixa. Só que antes de acionarem o assalto, um dos seguranças suspeitou e ligou para a polícia. Com a entrada dos policiais os assaltantes entraram em pânico e saíram atirando pela porta dos fundos causando um verdadeiro tumulto dentro do banco e Pedro, com sua dignidade, tentava ajudar as pessoas. Ao ver a polícia emergiu em Pedra uma súbita sensação de alívio, pois também era vítima de tudo aquilo. Pedra se dirigiu aos policiais com a arma para entregá-las, mas, confundido com um bandido, o policial atira no professor achando que o mesmo estava reagindo à ação policial. Pedro caiu no chão ensangüentado e é levado as pressas para o hospital onde teve que se submeter a uma cirurgia de risco, mas que felizmente, acaba bem e consegue explicar todol)o fato. 180 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO E TURISMO LINGUA PORTUGUESA I - PERÍODO: 2007.2 m) Herbert nasceu em João Pessoa, mas devido à vida militar de seu pai, o brigadeiro Hermano Viana, mudou-se ainda criança para Brasília, onde conheceu Bi Ribeiro. Ao se mudarem para o Rio fundaram os Paralamas (mas alguns consideram os Paralamas parte da "turma de Brasília", como Capital Inicial e Legião Urbana) com o amigo Vital Dias na bateria. Após substituírem Vital por João Barone, Herbert compôs a música "Vital e Sua Moto", em homenagem ao amigo, a qual se tomou o primeiro sucesso dos Paralamas e que renderia o contrato com a EMI. Depois de 10 anos de sucesso da banda, Herbert gravou o disco-solo Ê Batumarê (1992). Mais dois seriam gravados, Santorini Blues (1997) e O Som do Sim (2000), cheio de participações como Cássia Eller, Nana Caymmi, Sandra de Sá e Marcos Valle. Herbert namorou por anos Paula Toller, do Kid Abelha, e posteriormente casou com a inglesa Lucy Needham, com quem teve os filhos Luca, Hope e Phoebe. Herbert desde cedo gostou de pilotar helicópteros e ultraleves. Em 2001, Herbert passou pelo momento mais crítico de sua vida. No dia 4 de fevereiro, sofreu um acidente aéreo em Mangaratiba, RJ, quando o ultraleve que pilotava caiu no mar, na baía de Angra dos Reis. No acidente, Lucy morreu e Herbert ficou internado durante 44 dias, parte deles em estado de coma. A partir dai, começou uma grande história de recuperação, determinação e vontade. Os fans do rock nacional ainda estavam abalados com a perda de grandes representantes do gênero na década de 90 como Cazuza e Renato Russo, e por isso fizeram plantão enfrente ao hospital onde o léder dos Paralamas do Sucesso estava internado. O músico ficou paraplégico e perdeu parte da memória depois do acidente, porém, em um processo de recuperação gradual, retomou sua carreira, acompanhado de seu indispensável violão que lhe ''teu forças para continuar. Voltou aos palcos, e já tendo gravado três álbuns após o acidente: Longo Caminho (2002, preparado antes do acidente), Uns Dias ao Vivo (2004, ao vivo) e Hoje (2005, primeiro de inéditas). 181 UFPB CCHLA DECOM Comunicação Social - Jornalismo Português II O Engano Mortal n) Esta é uma história bizarra, uma história para aqueles que possuem uma mente aberta e também para os de coração forte. Aconteceu em uma noite calma e fria, em uma casa simples em um bairro escuro. Morava nela Seu Funéreo Tumulino, homem muito querido e respeitado, sempre simpático e amável com todos. Estava ele sentado acompanhando o jornal noturno quando batem à sua porta. Como era um ser de poucos temores, abriu sem questionar. Deu de cara com um indivíduo esquisito, vestido a rigor, indefinível se era homem ou mulher. Ele então se apresentou com uma voz suave e ritmada: - Boa Noite! Sr. Funéreo Tumulino? - Pois sim. - Eu sou a morte. A criatura deu um passo à frente e foi possível vê-lo com mais clareza. Era pálido e esquálido, com um nariz fino. Seu Funéreo riu. - A morte? Meu amigo, você está no Brasil, "Haloween" só nos Estados Unidos! 182 - Toda vez é essa mesma ladainha! Seu Funéreo, vou provar para o senhor que eu sou a morte e hoje vim buscá-lo. Olhe para a sua televisão. Seu Funéreo olhou e a imagem estava parada, como se pausassem os seus programas prediletos. - Isso não prova nada, apenas que você deve ter um controle remoto universal. - Nossa! Estão ficando cada vez piores de convencer! Tudo Bem! Vou agora utilizar meu maior truque. Ela foi até uma árvore enorme, cheia de frutos e tocou no seu tronco. Em questão de milésimos os frutos caíram e ela secou. Seu Funéreo deixou escapar uma lágrima. - Caramba! Mas por quê? Eu estou em casa, não corro risco algum! - Seu Funéreo! O senhor sabe que sofre de problemas cardíacos e não pode ficar comendo esses salgadinhos todos. Um dia eu teria que vir aqui. - É verdade. Mas eu tenho me exercitado muito e fiz uma cirurgia. Achei que estava normal. A morte fez aparecer uma televisão pequena. - Qual é o próximo passo? Para onde eu vou? E o que raios essa TV faz aqui? - Bom, primeiro o senhor vai rever sua vida inteira em um segundo... - Puxa Vida! Então isso acontece mesmo? - Acontece. Depois o senhor vai ser julgado para definir se vai para o céu ou inferno e, por último, o senhor irá passar a eternidade no lugar que foi sentenciado. Agora é hora de rever os melhores momentos da sua vida. Ele acompanhou tudo em silêncio, cada momento que passava na tela trazia uma sensação de arrependimento por aquilo que ele não fizera. Mas, de repente, apareceram imagens dele com uma mulher desconhecida e uma criança. - Peraí! Eu não tenho mulher nem filho. - Como é? - Essas imagens tão erradas, eu não tenho mulher, nunca me casei. - Essa não! O editor novo deve ter errado a pessoa. Espere um momento! A morte saiu da sala, demorou muito e voltou, sem jeito, ao aposento. - Bem, Seu Funéreo, seu dia ainda não é hoje. O editor novo misturou tudo, quem vai morrer é o seu vizinho. - Ufa! Graças a Deus! - Graças a Ele mesmo! Sua vida vai voltar a ser como era e o senhor não vai lembrar de nada que aconteceu hoje. Assim, Funéreo abriu os olhos na sala da casa pensando ter cochilado. Ele não sabe mas foi o único homem a encontrar a morte duas vezes. o) 183 UFPB CCHLA DECOM Português Estórias de Chico Lá pelas bandas de São José, tinha um “caba” contador de estórias chamado Chico Rapé, que tinha esse nome, porque sempre que ia contar suas mentiras, epa, estórias,ele tinha o costume de fumar seu rapé,era só começar a contar uma estória, que o pegava e lá ia fumar.E este é só mais um de seus relatos,o qual tive a oportunidade de ouvir... Voltávamos de uma pelada, suados, sedentos por uma boa cerveja gelada, fomos lá pro bar como sempre fazemos, e quem estava lá? Ele mesmo, Chico, E como de costume também, começou a contar vantagem. A gente foi falando com ele, ele respondendo, e então ele disse que assistiu a um pedaço de nossa partida, e disse que ninguém ali jogava nada. Como todo mundo já o conhece, ninguém, claro, levou muito a sério e começamos a brincar com ele dizendo que ele que não jogava nada, ele foi se arretando e falou: -Ah, é!? Pois agora eu vô contar um estória pra vocês! -Iiiiiiiiiiih, lá vem as mintira dele... Ele se aproximou, sentou com a gente, deu uma tragada e começou... -Quando eu era novin, eu jogava num time Sport de São Sebá... Quando foi interrompido: -E que djabo de cidade é essa que eu nunca uvi fala? -É que ela se acabou na Guerra do Cururu... mas essa é ota estória, homi! Escute essa! ... E continuou: -E num era São Sebá!?? -Ah é! É que eu joguei em tanto time grande que até eu me confundo... Mas me deixe fàlá, homi! ! Eu jogava no Sport de São Sebá, era final do campeonato do interior contra o Nacional de Patos, eu tava cum uma pereba aqui no dedo, mas tive que jogá! Eu era o Jogador mais importante do time, né? Começa o jogo, lá nuns 15 minuto, Jorge do oto time,o miserave, sabendo de meu estado, faiz uma falta bem no pé que tava ruim,aí piorô mais ainda! Saía tanto sangue que a meia ficô todinha vremeia! Mas eu tinha que continuar! E continuei, tava jogando bem demais, diblava um, oto, robava bola, num dexava um passá! Até que no finalziinho do 10 tempo,eu peguei a bola láá da defesa, saí diblando o Nacional todinho e fiz o gol! Goooooooll !Era todo mundo gritando!"Êêêê Chico!Chicoo!"Terminou 1º tempo,tudo uma beleeza. Aí 2º tempo, a gente sigurando o placar, sigurando o placar, e ia conseguindo;até que nos 49 minutos do 2º teempo!O goleiro, João Mãozudo, se bate com o atacante do Nacional, e o danado do juiz dá pênalti e expulsa João!! -Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhh!! A essas alturas, já estávamos todos compenetrados na sua estória, como sempre acontecia, porque verdade ou não,uma coisa é certa, Chico com suas estórias sempre prendiam a atenção de todos. E ele 184 nota isso,fica se sentindo todo,e aí é que se empolga pra continuar a contar... -Aaah, calma! Vocês ainda não sabem do melhor! Não sabem do melhor! Adivinha quem foi chamado pra ficar no gol no lugar dele!?? -Iiih, Chico! Precisa nem falar! -Este mesmo que vos fala! E lá ia eu, colocar a luva, momento de tensão total, a esperança de 50 mil pessoas do estádio ali nas minhas mãos! É bem verdade que estádio nenhum do interior tem essa capacidade, muito menos na época da estória, e também, nunca que o estádio inteiro estaria torcendo pra um time só,mas como eu disse,a estória ia ficando cada vez mais interessante, e ninguém ligava mais se era verdade ou mentira!Então voltando à fala dele... -Era eu e o batedor, o batedor e eu, e quem ia bater era Serginho Bomba, devido à bomba que era o chute de sua esquerda. Já tinha gente chorando no time, perdendo as esperança já, e na hora inda começo a cair um toró no estádio, até raio caía! Hora da cobrança, o juiz apita, Serginho passa um tempinho, começa a dar a carreira pra cobrar o pênalti! Só que tinha uma coisa que ele não tinha notado... -O quê Chico!? – diziamos nervosos e empolgados com aquele momento da estória -A chuteira dele não tava bem amarrada. E na hora que ele chutou a bola, foi a bola prum lado a chutera pro outro!! -Hahahahahaha! – nós riamos -Nãão! Vocês ainda não sabem! Naquela tensão do momento, e num é que eu pulei pra pegar ela!?? E consegui pegar... -Hahahahahahahahaha,Chico!Que frango,hein!?O cara chuta prum lado, tu pula pro outro pra pegar a chuteira!Hahahahaha -Aaaaaahhh,aí é que vocês se enganam!Eu num ia deixar aquela entrar não! Pulei prum p) lado pra pegar a chuteira, e peguei! Sendo que ANTES que a bola entrasse no gol, eu olhei pra ela, pulei pra cima dela e consegui espalmar pra fora!! O juíz apitou o fim do jogo e o Sport ganhou pela décima vez seguida o Campeonato do Interior!' -Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhh Chico!!! Conta outra!!Hahahahahahaha, só esse doido mermo... -Quê!?Verdade, homi!!Ahh!Cês num acreditam em mim, também vô pra outro canto, que me respeitem! E lá ia ele,óbvio que ele sabia que não íamos acreditar em sua estória, nem ali no bar,nem onde quer que ele fosse contar as suas, mas e quem disse que era pra acreditar?E a graça era essa, todos preferem ouvir suas fantasias de vez em quando a estar sempre preso à realidade. 185 q) Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes Departamento de Comunicação Social Hab.: Jornalismo Período 2007.1 Língua Portuguesa II Profl.: Eneida Ato de Relatar Notícia PREGUIÇA EM PERIGO NAS RUAS DA CAPITAL À procura de seu habitat, animal quase sofre acidente na BR. Foi capturada e levada de volta a seu habitat natural, no último sábado, uma preguiça [bocejo] originária da mata dos arredores do campus da Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa. O animal encontrava-se em perigo, atravessando lennnnntamennnnnte ruas de grande tráfego da capital, no bairro dos Bancários. Vítima do desmatamento dos últimos 20 anos na cidade, a preguiça [bocejo] parecia aTÔNiTA, sem saber ao certo os limites de seu lar. Quando foi vista, cruzava uma das vias principais que ligam o bairro da zona sul – VIAPRINCIPAL - campus, após ter aparentemente atravessado a rodovia próxima ao local e uma outra rua, sendo quase vítima de atropelamento. O que salvou o animal silvestre foi a consciência de um nobre motorista. O homem, de aproximadamente 40 anos, parou o veículo, mesmo com o FORTE MOVIMENTO no local, fechando todo o tráfego. Desceu do carro, pegou com carinho a preguiça nos braços, como a uma criança perdida dos pais precisando de ajuda, e a levou até a árvore mais próxima, localizada no início de uma outra reserva da mata. "Ela tentava atravessar de uma mata a outra. Acho que tentava encontrar seu lugar.", relatou uma senhora-a-meu lado no ônibus. O ato acabou em pa-pa-papa-papa-pa-pa-palmas de alegria, orgulho e congratulação de jovens que se encontravam num carro logo atrás. "A consciência ambiental ainda existe!", disse emocionado um deles. RAS E ARTES DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃOUNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA 186 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO DISCIPLINA: PORTUGUÊS INSTRUMENTAL CURSO: COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO: RÁDIO E TV REESTRUTURA DO TEXTO COM O USO DE ASPECTOS MULTIMODAIS Um engano à meia-noite Numa noite fria e chuvosa de quinta-feira, cheia de relâmpagos e trovões, o trim-trim do telefone assusta a madrugada de uma estudante de filosofia na grande cidade de Fortaleza chamada Suzany Lopes. Ela residia num pequeno apartamento com duas amigas da faculdade, situado no centro da capital cearense. Começava a Semana Santa, suas companheiras tinham ido ao 187 interior passar o feriado com a família. Suzy, como era chamada carinhosamente pelos seus amigos, preferiu ficar e adiantar alguns estudos. Após horas estudando, acabou dormindo na sala, cercada de livros e apostilas. Como morava próximo à Catedral de Nossa Senhora da Assunção, padroeira de Fortaleza, ia começar a via sacra à meia-noite. Suzany acorda assustada com o telefone tocando e ao mesmo tempo milhares de fiéis passavam pela rua com várias luzes de vela e fogos de artifício. A garota corre pra atender telefone, uma voz estranha diz: s) r) t) - Boa noite Suzy! Cegou a hora de acertarmos as contas ... - Quem está falando? Que brincadeira é essa? - Não se faça de desentendida, sei que está sozinha em casa. Muito nervosa, Suzy desliga o telefone e fica se perguntando como sabiam seu nome e que estava sozinha. Andando de um lado para o outro de repente batem a porta, o toque-toque a faz tremer: -Quem é? -Suzany, sou eu, seu Manoel o porteiro, a senhorita esqueceu seu gatinho lá fora, ele estava na chuva, o coitadinho! Com grande alívio ela abre a porta, pega o bichinho, enxuga-o e outra vez insiste o telefone: -Sou eu outra vez, se não abrir vou colocar a porta a baixo, pensa que vai me enganar outra vez, sei que seu marido viajou. -Mas não sou casada, moro com amigas. -Espera! Você não é Suzy Alexander, dançarina da boate "mil e uma noites"? -Não, sou uma estudante. -Ah, desculpe-me foi um engano. O telefone é desligado, mas a garota não conseguiu mais dormir, pois nunca tinha passado por uma situação constrangedora e assustadora daquele tipo. Quando as meninas chegaram, Suzy estava em estado de choque, mas ao mesmo tempo aliviada, ela contou toda a aventura do engano e suas amigas riram sem parar e colocaram um novo apelido nela... "a dançarina das mil e um noites". 188 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAíBA CENTRO DE CIENCIAS HUMAS LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES VERNÃCULAS DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO LíNGUA PORTUGUESA 11 profª. Eneida Produção textual - gênero conto Há muito que tom morava ali, era uma velha pensão suja e mal-cheirosa. Ele não trabalhava recebia uma ajuda de seus familiares. Tom estava ali pelos estudos, ele sempre sonhou em fazer novas amizades tudo bem que fora parar numa pensão, num subúrbio, mas ali também tinha tipos humanos. Contudo, desde que chegara não conheceu seus vizinhos do lado. A porta estava sempre fechada, uma vez ou outra ele escutava barulho de garrafas quebrando e sussurros, mas era só. O quarto não tinha janela os pontos de luz no corredor davam uma impressão de filme de terror trash. Para mas caro por aquele quarto, não por que ele fosse mais limpo ou organizado. Não. Havia uma linha telefônica; único quarto com esse capricho. Talvez seja essa a explicação pos ele não ter morrido de tédio. Num dia de sábado, mais quente que o normal, tom precisava se comunicar urgentemente com alguém. Resolveu então falar com quem trabalha conversando: a telefonista - companhia telefônica boa tarde! - oi como vai... - posso ajudar Senhor? - pode... Quer dizer... não ou melhor... Não que eu precise ajudar mas... - a companhia telefônica agradece a sua ligação... - não, não desliga ... - tum, tum, (desligou). Tom tenta mais uma vez... Companhia telefônica boa tarde! - oi sou eu ... - você de novo! - olha não desliga, não é trote, eu só quero falar um pouco com alguém. - olha Senhor Se quiser posso lhe informar o numero de algum terapeuta, psicólogo ou coisa parecida ... - na, não... Quero conversar com você... É que vivemos num mundo de tanta incomunicabilidade, tanta falsidade que é difícil arrumar alguém que fale coisas verdadeiras pra gente... - entendo Sr. Mas eu agora estou trabalhando e se o Sr. Não precisa dos meus serviços creio que não devo ficar jogando conversa fora... (e desligou novamente) Aquelas palavras foram chocante mas Tom viu de uma outra forma. Ele gostou do que ouviu; sentiu sinceridade nas palavras da moça... E por incrível que pareça ele se apaixonou por ela. E as coisas seguiram assim sempre ele ligava e ela o tratava mal ou simplesmente com desdém. Certo dia Tom estava entediado ate disso também e num devido sábado, saiu par arejar a cabeça. Sentou-se num bar e não pediu nada apenas ficou olhando o movimento. 189 Foi de lá que ele avistou uma moça com o seu celular caindo do bolso e correu para ajudar - moça olha seu celular caiu. - nossa obrigada, nem percebi, quanta gentileza a sua ... É difícil encontrar gente assim como você hoje em dia ... - que nada eu gosto de ajudar as pessoas... É só prestar atenção nos detalhes - é nem me fale em detalhes... Você que eu dei um fora num cara que simplesmente se declarou pra mim? - puxa, e eu levei um fora um dia desses... - acho que nos devemos começar a prestar atenção nas coisas pequenas... Talvez lá more a nossa felicidade ... -é isso vamos voltar ao passado e rever os erros cometidos... e se possível começar de novo - é isso... Ok. Olha foi um prazer conversar contigo... -igualmente, ate outro dia... -ate! Tom gostou daquela conversa, porém ele jamais faria o que havia combinado com a moça... Não teria coragem para isso... Porem na segunda pela manhã toca o telefone e era ela ... A telefonista - oi Tom você esta olha me perdoe pelo passado ... Podemos sair qualquer dia desses? 190 u) UFPB - Universidade Federal da Paraíba CCHLA - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes DECOM - Departamento de Comunicação Social Disciplina: Língua Portuguesa II Professora: Maria de Fátima Almeida I Eneida Martins de Oliveira PRODUÇÃO TEXTUAL TRANSPOSiÇÃO: SOLUÇÃO OU PROBLEMA? Raimundo é um menino de seis anos que vive com os pais e quatro irmãos em uma cidadezinha no interior do Rio Grande do Norte. A recente seca deixou sua família com um problema: a fome. A pequena horta de milho e feijão que eles cultivavam foi destruída, obrigando-os a comer palma, um cacto de gosto horrível e repleto de espinhos, que, normalmente, serve para alimentar o gado. Quando a situação piora, os pais colocam os meninos para correr atrás de calangos. A história descrita nas linhas acima é verídica. E o pior é que, neste exato momento, milhares de Raimundos estão experimentando o desespero da fome no Nordeste. Desde o reinado de Dom Pedro 11 já havia a preocupação de resolver o problema da seca com um projeto de transposição de parte das águas do Rio São Francisco para as regiões mais áridas. De lá para cá, muitos outros planos foram apresentados, mas nunca concretizados. Recentemente, o presidente Luís Inácio Lula da Silva retomou o projeto de transposição e iniciou suas obras, o que tem gerado muita polêmica. O Governo e aliados vêem na transposição a única alternativa para sanar o problema da seca no Nordeste, enquanto opositores e ambientalistas defendem que a mudança de fluxo das águas, antes de um amplo processo de revitalização do rio, trará danos irreparáveis ao ecossistema da região. O "Velho Chico", objeto de toda essa discussão, é o maior rio totalmente brasileiro. Nasce em Minas Gerais e deságua no Oceano Atlântico, entre os estados de Alagoas e Sergipe, totalizando 2.800 km de extensão. A maior parte da população do Vale do São Francisco encontra-se nas proximidades de suas margens, já que são áreas bastante propícias para a agricultura. O Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do 191 Nordeste Setentrional consiste no desvio de cerca de 1,4% da vazão total do rio, como forma de assegurar água às populações que sofrem com os períodos de escassez de chuva no semi-árido. Para tal, prevê a construção de dois canais: O Eixo Leste, que beneficiará os estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, e o Eixo Norte, que atenderá aos estados de Pernambuco e Paraíba. O orçamento total do projeto é de, aproximadamente, R$ 4,5 bilhões, e, simultaneamente a essas obras, serão realizadas ações de revitalização do rio. Para o Governo, a obra era inadiável. Mas não faltaram opiniões contrárias. Os opositores afirmam que os idealizadores do projeto querem fazer chegar água às torneiras da população a todo custo, sem se preocupar com o impacto ambiental que será causado ao rio. O São Francisco já é vítima da poluição causada por agrotóxicos usados em plantações nas suas margens, despejo de esgotos domésticos e industriais, além de desmatamentos e queimadas, que provocam o assoreamento do rio e uma perda significativa da qualidade da água e de sua área de navegação. Ambientalistas afirmam que, com os problemas que já enfrenta, o rio não suportará ceder parte do volume de suas águas. Um dos principais nomes da oposição ao projeto é o frei Luís Cappio, da Bahia, que esteve em greve de fome por duas vezes. Em 2007, o frei chegou a passar 23 dias sem comer, como protesto e forma de realizar mais discussões sobre a obra. O Governo, entretanto, não cedeu às exigências e iniciou os trabalhos do Eixo Norte. Antes, em 2005, após o fim de sua primeira greve de fome, o frei Cappio já havia criticado a forma de divulgação do projeto: "O endereçamento das águas não é para aqueles que realmente necessitam e isso gera uma confusão muito grande, porque a propaganda do atual projeto de transposição é uma propaganda enganosa, dizendo que vai dar água para quem tem sede. É apelativa e não é verdadeira". Com isso, o frei evidenciou outro problema da transposição: o projeto prevê beneficiar diretamente apenas 5% do sem i-árido; as águas passarão muito distante das áreas onde o quadro da seca é mais grave, não possibilitando a melhora das condições de vida do sertão, como afirma o governo. . Dessa maneira, percebe-se que a discussão sobre o projeto de transposição das águas do São Francisco é bem maior do que se possa imaginar num primeiro momento. Será que famílias como a de Raimundo, citada no início do texto, terão acesso a esse benefício? E, caso tenham, será que, a longo prazo, isso não acarretará danos irreparáveis ao rio? É necessário que a sociedade faça um rigoroso levantamento sobre a sustentabilidade da transposição, para que, mais tarde, não surjam problemas ainda maiores. 192 UNIVERSIDADE FEDERAL DA P ARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO E TURISMO João Pessoa, 08/04/2008 JORNALISMO Disciplina: Língua Portuguesa 11 Professora: Eneida " É Proibido 'Bulir'" Quem nunca foi tachado de nerd, baleia, viadinho, quatro-olhos, cabeção, prego, dentre outras alcunhas, que atire a primeira borracha! Pois é. Situações como essas, inevitáveis na vida de qualquer criança ou adolescente em período escolar, agora estão recebendo um novo título (em Inglês, por sinal!): BULLYING. 193 O fenômeno, antes internacional, conseguiu atingir até cidades pequenas e relativamente calmas como JOÃO PESSOA, PESSOA onde moro desde quando nasci. Lembro-me como se fosse ontem dos meus saudosos anos de colégio. As brincadeiras de corda, de elástico, de baralho, os esconde-esconde, as tias legais que sempre estavam preocupadas conosco, a merenda trazida de casa e compartilhada com os amigos; tudo parecia mais fácil naqueles tempos. Apesar das poucas preocupações e responsabilidades que carregava, sempre havia aqueles garotos maiores, geralmente os últimos da classe, metidos a VALENTÕES,que pareciam possuir como único objetivo na escola VALENTÕES azucrinar a vida dos coleguinhas mais tímidos e, aparentemente, mais fracos. Mas isso servia, muitas vezes, para me fortalecer e me ajudar a perceber que ainda enfrentaria muitos obstáculos na vida. A convivência com pessoas desagradáveis ou até mesmo estúpidas seria um deles. Então, como é que os governos pretendem criar programas de combate ao bullyíng se este nada mais é do que uma experiência TRISTE, mas edificante na vida de qualquer estudante? Se aqueles garotos ameaçaram o ambiente escolar deles por conta de meras zoações de companheiros de sala, deve ser porque sofrem de algum tipo de problema emocional grave. Portanto, merecem tratamento adequado para tal. O que não podemos fazer é tomar a exceção pela regra, como se todos fossem agir como eles agiram. v) Assistindo a uma das reportagens sobre um caso de bullying numa escola pública da capital, pude acompanhar o depoimento de um garoto que se dizia vítima do fenômeno. 194 Ele utilizou como justificativa para seus atos a inspiração que o acometeu ao ver um filme norte-americano no qual dois adolescentes atiram em seus colegas e professores, na biblioteca da escola onde estudam, e depois se matam. Visto isso, será que o problema está mesmo na falta de punição aos alunos que xingam seus colegas ou na influência que eles vêm recebendo da mídia? Ou, ainda, o cerne da questão não seria exatamente a própria deficiência na educação, que além de não conseguir mais impor limites aos jovens de hoje, ainda reflete na péssima utilização dos conteúdos veiculados pela mídia? Bem, o que eu posso afirmar é que muitos políticos estão aproveitando esta bela oportunidade de posarem como heróis da trama quando, na verdade, não conseguem se preocupar com nada além dos seus próprios umbigos - e bolsos, claro! Afora isso, o Brasil já tem problemas demais na pendura para estar se preocupando com filhinho-de-papai mimado que não sabe se defender e, ao invés de apenas ir reclamar na coordenação, resolve, por conta própria, amedrontar uma cidade inteira, aterrorizando até mesmo sua própria família. Fico pensando, às vezes, o que seria dessas crianças e adolescentes que se dizem vítimas de bullying se tivessem nascido na época dos meu avós, quando os estudantes não possuíam vez nem voz e a PALMATÓRIA comia solta. 195 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO E TURISMO JORNALISMO Disciplina: Língua Portuguesa II Conto Maravilhoso: Rosas e Espinhos Eram três e meia da manhã e eu ainda não havia conseguido pregar os olhos. Não sei se por causa das férias ou se porque pressentira que algo fosse acontecer naquela madrugada. O telefone tocou. Um súbito calafrio percorreu o meu corpo dos pés a cabeça. A esta hora, só pode ser tragédia, pensava eu. Minha mãe atendeu. Pelo tom da sua' voz, descobri que minhas suspeitas se confirmavam. Consegui ouvir, ainda na cama, ela falando que ia avisar ao meu pai, mas o fato, em si, eu não sabia, até então. Quando o telefone foi colocado de volta a base, eu me levantei e fui ao encontro da minha mãe, para tentar descobrir o que se passava. Não conseguia esconder o medo do que iria ouvir, mas precisava saber. O mistério fora revelado: ERA UMA PRIMA MINHA QUE HAVIA LIGADO, EM PRANTOS, PARA INFORMAR A MORTE DA NOSSA AVÓ PATERNA. Não posso negar, que aquilo, de certa forma, já era de esperar. Afinal, ela já era uma senhora de idade avançada e estava mal, no hospital, havia algum tempo. Fazia dois anos que não via a minha avó, devido a desentendimentos resultantes da separação dos meus pais. Apesar de toda a insistência da minha mãe para que fosse visitá-la no hospital, eu sempre relutava, e acabei adiando, adiando, até o dia em que me dei conta de que não mais podia me encontrar com ela, pois Sua existência deixara de fazer parte deste mundo.Na verdade, sempre a vi como uma mulher forte, guerreira, que viveria, no mínimo, uns cem anos. Não esperava mesmo que ela fosse partir naquele momento. E, então percebi que havíamos esperado demais, que meu orgulho e minha covardia impediram-me de restituir o laço de amizade que havia entre nós. Logo ela que me abrigou inúmeras vezes em seu lar enquanto meus pais trabalhavam ou tinha algum outro 196 compromisso! Logo ela que me mostrou, sem palavras, a garra que tinha, a força, a perseverança! Ela, mãe de seis filhos, esposa há quase meio século do mesmo homem, que abdicou dos seus estudos para se dedicar integralmente à família! Dura, às vezes, mas quando necessário. Não queria ter de ver seus netos passando pelas mesmas dificuldades que havia enfrentado. Toda minha infância passou-se na sua casa. Lembro-me das tardes no das plantinhas do quintal, regadas com tanto zelo, dos seus animais de estimação, das revistas que eu gostava de ler, dos bolos e biscoitos que só ela sabia fazer. Tudo aquilo tinha se acabado. Sentia com se minha infância tivesse sido enterrada, naquela tarde chuvosa, dentro do ataúde, junto a ela. Já não tinha mais contato com meu pai havia dois anos, também. Tive todas as oportunidades para falar com minha avó durante este período, mas o tempo passou. Havia perdido-a definitivamente. E eu não me perdoaria se isso se repetisse com, meu pai. Foi então que, naquele fim de tarde escuro e tempestuoso, quando todos acompanhavam o caixão ser depositado na pedra, em meio a lágrimas, tristeza e dor, meu pai aproximou-se de mim e avisou a alguém que, antes de ir embora, precisava falar com sua filha. Sua filha! Fazia já tanto tempo que não ouvia isso... Tive de ver com meus próprios olhos se era mesmo comigo. Então, ele veio em minha direção e eu recebi um LONGO ABRAÇO QUE VALIA POR MILHÕES DE PEDIDOS DE PERDÃO. Apenas nos abraçamos e choramos, depois de dois anos de resistência. Depois daquele dia, meu pai eu passamos a nos tratar pacificamente, apesar do pouco contato. Mas, isso já foi uma grande VITÓRIA da qual me orgulho muito. No entanto, é triste chegar à conclusão de que uma vida teve de ser sacrificada para que eu pudesse compreender o quão valiosa e efêmera é a 197 w) UFPB - Universidade Federal da Paraíba CCHLA - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes DECOM - Departamento de Comunicação Social Disciplina: Língua Portuguesa II Professora: Maria de Fátima Almeida I Eneida Martins de Oliveira PRODUÇÃO TEXTUAL • Gênero escolhido: Conto (Sem título ainda e necessitando de aprofundamento das idéias) Clarissa disse adeus e atravessou a rua. Depois, como de costume, a hesitação: não sabia aonde ir. Nunca sabia. Pensou naqueles grandes olhos de reprovação, e na parede amarela com todos aqueles discos e livros que não respondiam às suas perguntas... Não, voltar para casa não. A rua era curiosamente mais segura. Pouco mais que duas da manhã e, quando percebeu, pé diante de outro pé já haviam se encarregado de levá-Ia a algum lugar. Os pés doiam, pareciam esmagados por um par de mãos imundas e raivosas. Vestida com uma saia roxa de tule e tafetá, cabelos curtos ondulados, com mínimas flores pingadas cá e acolá - e não fosse pelo Ali Star sujo quebrando o tom onírico da cena -, Clarissa parecia uma princesa. Melhor: parecia uma fada, recém-saída de uma história infantil - uma fada desencantada. Na esquina, duas pessoas ouviam rádio dentro de um carro. Baladinha triste e ao mesmo tempo doce, daquele tipo que ela mais gostava. Entre seus passos na rua, janelas embaçadas, lixo, bares cheios de gente conversando alto, falando mal dos outros e tentando esquecer-se de si mesmo. Clarissa lembrou-se do fiasco da festa. Dos exageros de Cristina. Da ausência de Fernando. Onde andaria Fernando? Sempre em silêncio, meditando, fosse a hora que fosse. E Cristina bebeu a noite inteira. Levantou a blusa, gritou obscenidades pela janela. Incrível como duas pessoas tão diferentes permanecem por tanto tempo juntas. A lei de atração dos opostos. Parou um pouco, olhou para os céus. Os pés latejantes. Não havia estrelas, e por causa disso sobreveio o pensamento em Fernando, há dois dias: pés imersos n'água, dedos enrugados, minúsculas pedras arremessadas, formando círculos 198 concêntricos que se abriam, se abriam, se abriam até atingir o tamanho do próprio lago. Clarissa sentara-se ao seu lado, cúmplice, e os dois não disseram uma só palavra durante a tarde inteira. Contemplaram a infalibilidade das coisas, compreendo-se sem que precisassem verbalizar. Como dois animais impedidos de emitir até grunhidos. Como mímicos. Como mudos. Ou como raios de sol. Esperaram, de mãos dadas, escondidos um no ombro do outro, pela Lua e pelas estrelas - que não vieram -, até ficarem na mais completa escuridão. Tivera a impressão de vê-Io chorar. Uma lágrima apenas, descendo tímida e cristalina pela face branca. Depois achou que foi só impressão, porque, no segundo olhar, já não havia qualquer vestígio. Pela primeira vez, em sete anos, olharam-se nos olhos. Um Iampejo apenas, é verdade, porque o olhar do rapaz era sempre esguelhado - pudico até. Mas tivera quase certeza: Fernando tinha olhos de anjo. Não resiste à idéia de gritar como uma louca naquela rua agora deserta. Grita, grita, grita porque descobre que é tarde demais e que vai morrer. Grita porque quer uma espécie de formalização daquela confusão que reina por dentro. Embora não haja surpresa ou desespero algum. Paradoxal o fato de ela gritar enquanto não está abalada? Clarissa era sempre assim, paradoxal... (...) - Bijou, é melhor morrer de vodka que de tédio! Clarissa duvidou, enquanto desabava no sofá tentando sustentar Cristina, se ela sabia que citava literatura russa. Riu. É uma espécie de vitória não saber. Mas foi logo surpreendida: - Mai-a-kóóóvski, bijou. Eu sei! Clarissa, sem reação: - Morro e não te descubro ... Nenhum de vocês. (...) E morreu, afinal. Morreu sem saber que naquela mesma noite Cristina descobriria que nunca amou, injetaria três vezes mais heroína do que um touro poderia suportar e morreria mais de tristeza que de qualquer outra coisa ... Morreu sem tempo nem forças para virar o corpo, enquanto lhe golpeavam com aquele objeto frio e pontudo quinze vezes no mesmo lugar. E, caso tivesse restado forças para tal, Clarissa morreria vendo grandes olhos vermelhos cheios de fúria e ódio que não, que não, que definitivamente não eram olhos de anjo... x) y) 199 Universidade Federal da Paraíba Centro de ciências humanas, letras e artes Departamento de comunicação Jornalismo Língua Portuguesa II Profª: Eneida Gênero textual: Notícia Caçador salva criança da morte No fim da tarde de ontem, idosa foi morta em sua residência. A sua neta, Chapeuzinho, que ia tinha ido visitá-la naquela tarde, gritava por socorro, quando foi atacada pelo lobo. O caçador, que passava pelo bairro escuro, foi em socorro da criança. Chapeuzinho ia visitar sua avó para lhe entregar uma cesta de doces. Mas, se o Caçador não estivesse passando na hora em que Chapeuzinho gritou, uma simples visita poderia ter se tomado uma grande tragédia. Segundo o Caçador, o bairro não tem policiamento nenhum e é muito escuro. Ele continua, "não tem como andar tranqüilo por aqui e muita gente já sofreu algum tipo de violência". A delegacia estava fechada na hora do ato, mas saía vozes do local, disse alguns moradores. Eles também disseram que a delegacia só abriu quando os carros da imprensa chegaram. O delegado disse que a delegacia permanece fechada devido à escassez de policiais e que a situação só vai ser resolvida quando o governo mandar a quantidade de policial necessária para regularizar a situação. 200 Universidade Federal da Paraíba Centro de ciências humanas, Letras e Artes Departamento de comunicação Disciplina: Português II Produção Textual: Narrativa de aventura z) aa) U m grupo de quatro estudantes de Biologia, vindos da Califórnia (EUA), decidiu passar férias em uma tribo dentro da floresta amazônica. Eles desejavam conhecer a biodiversidade do lugar, viver emoções, e voltar com boas informações para incrementar seus trabalhos acadêmicos. Durante a manhã do primeiro dia na tribo, os amigos puderam conhecer os costumes e as tradições dos índios. Participaram de atividades junto com eles e tomaram conhecimento do cotidiano tão diferenciado daquele povo. No meio da tarde, Peter e July se afastaram dos seus outros dois amigos e saíram a fim de fazer uma pequena trilha pela floresta. Eles adoravam aventuras e estavam ansiosos para ver as belezas naturais da selva. Ao longo da trilha, avistaram uma deslumbrante cachoeira. Entraram naquelas águas cristalinas e passaram horas se divertindo como duas "criancinhas". 201 O tempo passou e eles nem perceberam, o sol já havia ido embora e a escuridão tomava conta do ambiente. Os estudantes ficaram bastante amedrontados, juntaram rapidamente seus pertences, e começaram a caminhada de volta a tribo. Mas, devido à penumbra que estava sobre o local, eles não conseguiram achar o caminho da trilha e, acabaram perdidos na floresta. Passaram a noite na selva, mal conseguiram dormir, estavam muito desejosos de que a luz pudesse chegar novamente e com ela a possibilidade de voltar para a tribo. Amanheceu, os estudantes reiniciaram a caminhada. Em vão, quanto mais andavam, mais perdidos ficavam. E iniciava-se mais uma noite; a fome, a sede, e o cansaço tomavam conta de July e Peter. Porém, mais uma surpresinha esperava por eles enquanto cochilavam de baixo de uma árvore. Escutaram um ruído desconhecido, até que o barulho foi se aproximando e eles perceberam que era um bicho. Não demorou muito para avistarem um tigre bem do lado deles. July entrou em pânico. --- Ai minha nossa, se ficarmos aqui vamos ser devorados vivos, vamos correr Peter, rápido, vamos. Disse July, já se levantando e puxando o amigo. --- Não July, fique quetal Se corrermos será pior, é melhor ficarmos aqui como se estivéssemos “mortos" que ele não fará nada conosco. July, meio relutante, obedeceu a Peter. Por sorte, o animal, que provavelmente não estava faminto, deu umas voltinhas e foi embora. Depois de todo esse alvoroço os estudantes não pregaram mais o olho. Chegou mais um dia, já era o terceiro de Peter e July na floresta. Já não tinham quase forças para andar, os pés estavam cheios de calo, o corpo coberto por feridas e visivelmente desidratado. A garota pensava em desistir, em se entregar a própria sorte, mas Peter a encorajava, dizia que sabia que eles iriam sair dali vivos, bastava ter fé! E enquanto ele olhava fixamente para o céu, orando fervorosamente ele pedia ao Pai Celeste que os livrassem da morte. Nesse instante eles escutaram um estrondoso barulho. ---Peter, é o helicóptero do resgate, estamos salvos! Oh que alegria, mal posso acreditar. ---É sim July, e eles nos viram, seremos resgatados. Obrigada meu Pai. E então os aventureiros chegaram sãos e salvos na tribo. Puderam encontrar seus bb) outros dois amigos, e abraçá-Ias fortemente como nunca 202 haviam feito antes. Todos se emocionaram em um misto de sentimentos; riam, choravam, pulavam. No dia seguinte os estudantes alçaram vôo rumo a suas casas; com certeza, muito diferente de quando saíram de lá. Voltaram não só conhecendo as belezas da floresta amazônica, mas também seus perigos e armadilhas. Aprenderam a valorizar bem mais a vida, e não arriscá-Ia por meros desejos de aventuras. cc) 203 Universidade Federal da Paraíba Disciplina: Português II Professora: Eneida Gênero: Notícia O retorno da rainha Ninguém esperava por isso: Três anos depois, dois casamentos, dois filhos, sem cabelo, sem calcinha e 4 entradas em clínicas de reabilitação Britney Spears, rainha do pop, está de volta com um novo álbum curiosamente intitulado de Blackout. O álbum vendeu 1,3 milhões de copias só na primeira semana devolvendo a Britney o título de maior nome da indústria fonográfica. O álbum com 12 faixas traz uma nova e ardente Britney. Ela que perdeu o pouco da vergonha que ainda tinha junto com a guarda dos filhos abre o álbum com um sussurrante: "É a Britney vadia". O já multiplatinado álbum é uma combinação de mega produtores com letras e batidas perfeitas. 204 ANEXO C Textos teórico-informativos 205 206 207 208 209 210 211 212 213 214 215 ANEXO D Textos de gêneros diversos 216 217 218 219 220 221 222 A conta 5. Dois casais de amigos. Acabam de jantar num bom restaurante. Um dos homens faz sinal para o garçom. - Companheiro ... Faz o tradicional gesto de escrever no ar com uma caneta fantasma. -A conta. __ - Deixa comigo - diz o outro homem, levando a mão ao bolso de trás para pegar a carteira. O outro o detém. - Pare. Não se mexa. A conta é minha. - De maneira nenhuma. - Sim, senhor. Faço questão. - Que esperança. Pago eu. - Pago eu e está acabado. Quando chega o garçom, o outro dá um pulo e pega a conta da sua mão. - Epa, dá aqui. - Não dou. Eu é que pago. @ - Não banque o idiota. Me dá essa conta. -Não dou. I / o 223 6. - Quer fazer o favor ? -Não amola. As mulheres se divertem com a discussão. Uma delas sugere: - Quem sabe a gente racha? - Não. Fui eu que pedi a conta, eu é que pago. Dá aqui. -Não dou. - Se você tocar nessa carteira ... [ ... ] O outro olha em volta. Todo o restaurante parou para acompanhar a briga. - Vocês são testemunhas. Eu tentei transigir e ... O outro aproveita e mergulha para pegar a conta. Os dois se engalfinham. Caem por cima da mesa. As mulheres gritam. O garçom tenta apartar. Vem o gerente. - Senhores, por favor! As pessoas erguem-se de suas mesas e se achatam contra as paredes. Os dois rolam pelo chão. Quando, finalmente, são separados, o que pegou a conta do garçom levanta-se com a conta ainda na mão, triunfante. Com a outra mão pega uma cadeira e ameaça os que o cercam. - Para trás. Para trás. O outro está bufando. - Me dá essa conta! - Vem buscar! [ ... ] O gerente dirige-se para o telefone. [... ] Os dois entram na cozinha, agarrados. As duas mulheres vão atrás, implorando para que parem. Eles trocam socos e pontapés. [ ... ] Chega a polícia. Luis Femando Verissimo. Festa de criança. São Paulo, Ática, 2000 224 Sete dias de tempestade O domingo terminou sem -- que pudesse tocar nos remos. Fiz uma tentativa de ir ao trabalho logo cedo; mas ondas desencontradas que vinham estourando de toda parte indicavam ser mais prudente passar o fim de semana em casa. Paciência. Poderia descansar um pouco e, quem sabe, começar a organizar a bagunça instalada nas sacolas e nos pequenos compartimentos do barco que ainda não tinham sido visitados. Parecia difícil ter que permanecer o dia todo encerrado num espaço onde mal podia me sentar e onde a cada hora precisava abrir os respiros para permitir a entrada de ar; mas, estranhamente, eu me sentia bem ali. Ainda que o mar parecesse uma pedreira em febril atividade, completamente cinza, com explosões sucessivas e britadeiras ensurdecedoras que não paravam, dessa vez o vento soprava firme [ ... ] e me jogava em direção favorável. Sabia que mesmo sem remar deveria avançar durante o mau tempo e, meio em dúvida, decidi pela primeira vez recolher a âncora de mar. Havia o risco de, sem ela, ser surpreendido por uma onda de lado e capotar, mas resolvi arriscar. [ ... ] Não havia por que insistir em enfrentar a violência do mar. O barômetro, desde a véspera bastante baixo, continuava lentamente 7. 225 a descer e indicava que tão cedo as condições meteorológicas não melhorariam. Eu estava sendo ultrapassado por um centro de baixa pressão. Entendi que de nada adiantaria medir braços com Amyr Klink transmitindo a sua posição aos radioamadores dos dois lados do oceano. algo maior que as minhas forças, e que, em vez de teimar com o tempo e correr o risco de quebrar o barco, deveria ser paciente e saber aguardar o momento certo de continuar em frente. Negociando com o mau tempo, sem perder de vista meu objetivo, haveria de atravessar aquela situação. Assim, mais um dia deitado em meu compartimento de espera se anunciava. O que eu nunca poderia supor é que essa espera seria tão longa. Pois exatamente sete dias se passaram até que pudesse voltar a remar; sete dias em que fiquei trancado na cabine, sacudido por ondas enormes, flutuando em meio à espuma revolta do mar. Fechado. Sem poder sair. Simplesmente esperando. Ouvindo ondas que vinham arrebentando de longe sem saber se me alcançariam, ou sendo surpreendido por golpes de mar que à noite surgiam do nada. Situação de aspecto tenebroso, uma verdadeira tragédia! Pois não foi. É engraçado, mas confesso que sinto saudades daquela semana. Pode paa recer incrível, mas poucas vezes na minha vida fui tão feliz. c 8. Amyr Klink. Cem dias entre céu e mar. 32~ ed. São Paulo, Cia. das Letras, 1997. 84 Depois de pernoitar na quietude da praia da Espera, chega em Salvador, BA. 226