A INSERÇÃO DE FANFICTIONS NO AMBIENTE ESCOLAR: UMA
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A INSERÇÃO DE FANFICTIONS NO AMBIENTE ESCOLAR: UMA
IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 A INSERÇÃO DE FANFICTIONS NO AMBIENTE ESCOLAR: UMA PROPOSTA DE SEQÜÊNCIA DIDÁTICA Gisleine de Oliveira TENÓRIO (UEL) Introdução Recorte da monografia “De fãs a produtores de textos: sequência didática com fanfictions”, este artigo apresenta a pesquisa que se propôs levar para o ambiente escolar uma prática de letramento digital ao desenvolver uma sequência didática a partir do gênero fanfiction. Apresenta-se também as reflexões os resultados obtidos com a aplicação desta sequência didática visando a inserção dos alunos no letramento digital. Com a evolução tecnológica, vários meios de comunicação surgiram e fazem parte das nossas relações cotidianas. As tecnologias da informação transformam as formas de as pessoas se socializarem, trabalharem, e também geram novos recursos e novas formas de aprendizagem. Cada vez mais cresce o número de pessoas que as utilizam e esse constante compartilhamento e, principalmente, produção de conteúdos on-line. Facebook, blogs, twitter, wikipédia, entre outros trazem diversas possibilidades de usos que apontam a necessidade da reflexão a respeito de como a linguagem vem sendo utilizada nesses meios. Desta forma é papel fundamental do professor, como pesquisador de conteúdos, que ele se adapte a esta nova forma de interação e a valorize inserindo-a em seu conteúdo didático. O aluno deve ser competente ao participar das práticas discursivas às quais for inserido, por isso, as atividades de Língua Portuguesa feitas pelo professor devem desenvolver e aprimorar, no aluno, a capacidade de utilizar os conhecimentos linguísticos e interagir por meio de diversos gêneros textuais e discursivos. O ambiente virtual possibilita que as pessoas se expressem e se interajam, conectando-se, muitas vezes, por interesses em comum. Pode-se citar como exemplo a facilidade atual em se encontrar fãs de determinados livros em ambientes digitais como o facebook, partir de uma página ou um grupo criado ocorre a interação entre eles. Antes, IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 essa interação era feita por meio de cartas, reuniões entre fã-clubes e produções de fanzines. Agora, basta um clique para que essa interação ocorra. Um dos “passatempos” desses fãs é o fanfiction, definido como uma ficção criada por fãs com base na obra original, que hoje pode ser facilmente encontrado em sites destinados à publicação desses textos. Este gênero digital que está em crescente produção e que desperta nos leitores a vontade de participar produzindo seu próprio texto a respeito da obra. Desta forma, a fanfiction se torna uma ótima ferramenta para se trabalhar os conteúdos de Língua Portuguesa, despertando no aluno a vontade de ler e se tornar produtor de textos. Este trabalho intenta demonstra uma opção de trabalho com a fanfiction no ambiente escolar, apresentando aspectos relacionados ao cotidiano do aluno e que possam servir como ferramenta pedagógica no ensino de Língua Portuguesa ao incentivar a produção textual dos alunos, tendo em vista que no ambiente escolar vários alunos apresentam dificuldade em produzir textos, principalmente nas propostas de redação. Os professores devem ser atentos às novas práticas de interação sociais para que os alunos se sintam atraídos a aprender e vejam a aplicabilidade daquele conteúdo em seu cotidiano. Isto resulta m um melhor desempenho tanto do profissional em relação aos conteúdos didáticos apresentados nos documentos que fundamentam a educação e também dos alunos em suas práticas textuais. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre gêneros textuais, enfatizando o gênero digital, ressaltou-se a importância do letramento para o desenvolvimento das atividades em sala de aula, enfocando o letramento digital, realizou-se a elaboração de uma sequência didática que envolve o gênero digital fanfiction e demonstrou-se a aplicação da sequência didática e os resultados deste experimento. Visou-se atingir os eguintes objetivos:demonstrar a importância de utilizar gêneros textuais digitais em sala de aula como ferramenta de produção textual; apresentar uma proposta de sequência didática que englobe o letramento digital por meio do gênero fanfiction e verificar a receptividade e a capacidade de desenvolvimento desta proposta por parte dos professores e dos alunos. IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 1. Meios virtuais e a interação social Com o surgimento do ciberespaço, que é definido por Lévy (1999, p. 92) como “o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores”, novas ferramentas de comunicação e troca de informações foram surgindo. Abriu-se mais um meio de comunicação para que as pessoas pudessem interagir com as outras sobre seus interesses comuns. Como afirma Lévy (1999, p. 100) o ciberespaço torna-se uma forma de contatar pessoas não mais em função do seu nome, ou de sua disposição geográfica, mas a partir dos seus centros de interesses. Este ambiente virtual possibilita uma interação mais aberta entre produtor e consumidor, onde as pessoas podem emitir informações e batalham para participar ativamente de sua cultura. Para Jenkins (2009), os produtores e consumidores não ocupam papéis separados, são todos participantes em interação. Isso faz parte de uma transformação cultural a que Jenkins (2009, p.29) chama de cultura da convergência, sendo esta o “fluxo de conteúdos através de múltiplos suportes midiáticos, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam”. Desta maneira, entende-se que o ciberespaço é um ambiente onde as pessoas interagem por interesse, facilitando assim a interação entre os fãs de determinado livro / produto. Antigamente, havia um meio específico para que os fãs pudessem trocar informações a respeito sobre suas obras ou seriados favoritos que foi denominado fanzine palavra formada pela contração dos termos ingleses fanatic e magazine, que em português pode ser traduzido como revista de fã. Mas, esse meio de divulgação era restrito, poucos fãs conseguiam ter acesso pelo custo e pelo trabalho de se fazer fanzines com grande tiragem. Os fanzines tinham como principal foco a divulgação de informações e a criação de espaços para debates sobre aspectos da ficção científica (e, posteriormente, outros temas, como histórias em quadrinhos, seriados, livros, etc.). O principal aspecto de um fanzine, contudo, era o fato de ser feito de fãs para fãs, sem que ninguém ganhasse nada com isso. Por essa razão, era comum que os fanzines fossem distribuídos gratuitamente ou a IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 preço de custo e que seus colaboradores não recebessem nada por artigos, textos ou ilustrações. (LUIZ, 2009, p.3) Nos fanzines existiam um espaço dedicado às pessoas poderem escrever suas próprias histórias baseadas nos textos originais, as chamadas fanfictions. A fanfiction surgiu da necessidade dos leitores/espectadores de uma obra, seja ela literária, cinematográfica, televisiva, história em quadrinhos, animes, entre outras obras de ficção, desenvolverem um enredo que tenha relação com a obra original, mas que possa ter o olhar deste leitor, ou seja, que ele possa modificá-lo e interagir com aquilo que o autor da obra original já tenha escrito. A partir do ciberespaço estes fãs puderam divulgar suas produções através de sites específicos. Muitas fanzines saíram do papel e foram para o ambiente digital, diminuindo custos de publicação, facilitando o acesso ao seu conteúdo e, consequentemente, ampliando o número de leitores. Dentro desse ambiente digital, as fanfictions ganharam seu espaço, começaram a ser publicadas em sites específicos. Esses sites, como por exemplo o Nyah! Fanfiction, um dos principais portais sobre o tema no Brasil, oportuniza a interação entre outros fãs que podem opinar sobre o texto publicado, dialogando com o autor. Desta forma, o escritor de fanfiction demonstra-se participar do ciberespaço utilizando o computador para realizar práticas de leitura e, primordialmente, a escrita em meio virtual. Aqueles que comentam sobre o enredo e a forma como a fanfiction foi escrita ou estruturada, também se apresenta um sujeito ativo, pois é participante desta interação cibernética. 2. Multiletramentos na escola: novos recursos para a prática docente Diversas foram as transformações sociais e históricas, como o advento da imprensa, a criação do telefone, a invenção do computador, surgimento da internet e das novas tecnologias de comunicação entre elas: telefone celular, MP3, Ipad, tablet. Todos esses exemplos trouxeram para a sociedade novas formas de comunicação e interação e exigiram da sociedade novas adaptações. IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 Bakhtin (1982) afirma que os gêneros são “formas relativamente estáveis de enunciados”, por estar em constante modificação as quais são fruto das transformações das atividades sociais. Os gêneros sofrem adaptações a partir das mudanças culturais, sociais e históricas que suprem as novas necessidades de comunicação dos sujeitos. Assim, com a evolução da sociedade, muitos dos gêneros textuais antigos se transformaram e novos gêneros surgem. Marcuschi (2008, p. 155) corrobora que “os gêneros textuais são os textos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por composições funcionais são formas textuais escritas ou orais bastante estáveis, histórica e socialmente situadas”. O professor dever estar atento às práticas pedagógicas que desenvolvam ações coerentes com a sociedade em que vivem, contextualizando o ensino, este profissional deve, também, cultivar a reflexão e a criatividade do aluno e que utilizem os instrumentos de comunicação para a educação. Sabe-se que os alunos estão em constante interação social por meio dos gêneros textuais advindos das novas tecnologias, por isso é interessante o professor inserir esses gêneros digitais em sala de aula. Silva e Mercado (2011, p. 2) sintetizam o pensamento de Marcuschi, afirmando que o gênero digital possibilita o trabalho da oralidade e da escrita bem como os gêneros textuais tradicionais utilizados na escola, pois se apresentam como uma evolução destes. E define, ainda, como gênero digital todo o aparato textual em que é possível, eletronicamente, utilizar-se da escrita de forma interativa ou dinamizada. Para isso, os professores devem desenvolver novas posturas dentro de sala de aula a fim de que esses gêneros digitais sejam utilizados como aliados no ensino e aprendizagem. Cabe especificamente aos professores de Língua Portuguesa que eles conheçam essas tecnologias e que possam utilizá-las no ambiente escolar a fim de desenvolver no aluno capacidades que visem o ler e o escrever, seja ele dentro ou fora do ambiente digital. Isso tudo se resume ao processo de letramento. Para Kleiman (1995, p. 21) “as práticas de letramento, no plural, são social e culturalmente determinadas e como tal, os significados específicos que a escrita assume para um grupo social dependem dos contextos IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 e instituições em que ela foi adquirida”, ou seja, o indivíduo é capaz de internalizar as práticas de leitura e escrita que permeiam o ambiente em que ele vive por participar de eventos de letramento de determinado(s) gênero(s). Nota-se que ao utilizar a palavra letramento, a autora diz que ele é plural, entendese, então que existem diversas práticas de letramento as quais são aprendidas de acordo com as necessidades sociais e culturais do sujeito. Rojo complementa a definição de Kleiman trazendo a concepção de multiletramentos e define: „multiletramento‟, aqui, significa que compreender e produzir textos não se restringe ao trato do verbal oral e escrito, mas à capacidade de colocarse em relação às diversas modalidades de linguagens – oral, escrita, imagem, imagem em movimento, gráficos, infográficos etc. – para delas tirar sentido”(2004, p. 31). Esta visão engloba os textos que são híbridos, muitas vezes provenientes do meio digital, os quais podem se relacionar com imagens, sons e a linguagem escrita/falada. Por isso é de suma importância que o professor possa letrar seus alunos para as interações sociais e de comunicação que ocorrem no ambiente digital, ou seja, é preciso desenvolver nos alunos o letramento digital. Para Soares (2002, p. 153) “letramento digital é um certo estado ou condição que adquirem os que se apropriam da nova tecnologia digital e exercem práticas de leitura e de escrita na tela, diferente do estado ou condição – do letramento – dos que exercem práticas de leitura e de escrita no papel”. Antonio Carlos Xavier complementa que O letramento digital implica realizar práticas de leitura e escrita diferentes das formas tradicionais de letramento e alfabetização. Ser letrado digital pressupõe assumir mudanças nos modos de ler e escrever os códigos e sinais verbais e não-verbais, como imagens e desenhos, se compararmos às formas de leitura e escrita feitas no livro, até porque o suporte sobre o qual estão os textos digitais é a tela, também digital. (XAVIER, 2007, p. 2) IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 Estar letrado digitalmente é incorporar as práticas desenvolvidas por meio do computador no cotidiano e desenvolver habilidades e competências próprias do ambiente digital, se tornar sujeito ativo e, inclusive, crítico sobre os conteúdos e maneiras de utilização dos instrumentos disponibilizados pelo ciberespaço. A elaboração de um currículo educacional que proporcione uma interação entre o sujeito da aprendizagem e seu contexto social, visando priorizar demandas a serem atendidas, bem como as dificuldades cotidianas – que muitas vezes se relaciona com a utilização de computadores, problemas a serem solucionados, objetivos e ações sociais para serem desenvolvidos, permite à educação como um todo formar cidadãos reflexivos e engajados para com o seu contexto social. Se o docente conseguir desenvolver as capacidades cognitivas dos alunos através de métodos de ensino que são determinados por meio da combinação de objetivos e conteúdos, sendo estes relacionados à realidade dos alunos e visando priorizar demandas a serem atendidas, bem como as dificuldades cotidianas – que muitas vezes se relaciona com a utilização de computadores, problemas a serem solucionados, objetivos e ações sociais para serem desenvolvidos, ele poderá capacitar os alunos a serem cidadãos reflexivos e ativos na sociedade a qual pertencem. 3. O gênero fanfiction como ferramenta didática Os Parâmetros que regem a Educação brasileira, escrito na década de 90, afirma que o trabalho em sala de aula deve ser pautado nos gêneros textuais. Este documento também fundamenta a prática docente afirmando que os professores devem organizar atividades que procurem recriar na sala de aula situações enunciativas de outros espaços que não o escolar, considerando-se sua especificidade e a inevitável transposição didática que o conteúdo sofrerá; saber que a escola é um espaço de interação social onde práticas sociais de linguagem acontecem e se circunstanciam, assumindo características bastante específicas em função de sua finalidade: o ensino. (BRASIL, 1998, p.22) Baseando-se nisto, o gênero fanfiction foi escolhido para que se pudesse aproximar da realidade do aluno, pois trata-se de uma prática de leitura e escrita no ambiente virtual, ambiente muito utilizado pela faixa-etária dos alunos, sabe-se que este ambiente possibilita IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 grande interação e pode ampliar a capacidade de aprendizagem dos alunos. Os Parâmetros Curriculares Naional complementam que Um outro aspecto interessante é a possibilidade de, estando conectado com alguma rede, poder ensinar os textos produzidos a leitores reais, ou interagir com outros colegas, também via rede ampliando as possibilidades de interlocução por meio da escrita e permitindo acesso online ao conhecimento acumulado pela sociedade (BRASIL, 1998, p. 91). Desta forma, propicia-se aos alunos o contato com o meio digital, e consequentemente, essas atividades geram indivíduos letrados digitalmente. Esta foi a intenção ao criar uma sequencia didática que englobasse o universo da rede mundial de computadores e o conteúdo curricular de Língua Portuguesa dos anos referentes aos sujeitos que se refere à sequência narrativa, respeitando os anos referentes aos sujeitos participantes desta pesquisa (alunos do 6º e 7º ano do ensino fundamental). O estudo foi realizado em uma escola particular do município de Londrina – PR que atende alunos das séries iniciais e Ensino Fundamental I e II, funcionando nos dois turnos: manhã e tarde. Nesta escola a pesquisadora desempenha a função de Auxiliar de Biblioteca. Para realizar o estudo, foi solicitada autorização da Direção da escola, bem como da professora regente. A seleção dos alunos foi feita por meio de questionários. Foi necessário aplicar dois questionários. O primeiro tratou-se de uma pesquisa a fim de constatar se os alunos já conheciam o gênero fanfiction constatou-se que os alunos tem pouco conhecimento sobre o tema. Apesar de dizerem que conhecem o termo fanfiction, poucos deles afirmam terem tido algum contato com esse gênero textual, sendo este contato feito majoritariamente através da internet. Há pouca produção deste gênero pelos alunos entrevistados, mas a maioria demonstrou interesse em ler este gênero No segundo questionário abordou-se questões a respeito das produções literárias de que os alunos se consideravam fãs e descobriu-se a diversidade de obras literárias as quais os alunos se consideravam fãs. Optou-se por desenvolver atividades com os alunos utilizando o modelo da sequência didática proposta por Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004) a qual tem uma IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 estrutura específica que engloba a apresentação da situação, a primeira produção, os módulos e a produção final. Os módulos puderam se organizar da seguinte forma: a) Quanto à dificuldade de escrita dos elementos da narrativa: descrição física e psicológica de personagem, descrição de ambiente físico; tempo, espaço, clímax e desfecho; discurso direto e indireto. b) Quanto à dificuldade de escrita dos elementos pré-textuais: notas iniciais, finais; sinopse. O quadro abaixo sintetiza a organização da sequência didática, a partir da teoria apresentada por Dolz, Noverraz e Schnnewly (2004, p. 98). Este quadro serve de parâmetro para a construção da sequência didática que será realizada neste estudo. Apresentação da situação Produção Inicial Módulo 1 Módulo Módulo n Produção final 2 ... Quadro1: Organização da sequência didática. A sequência didática relatada abaixo foi elaborada de acordo com o nível escolar dos participantes da oficina e também com a intenção de apresentar a eles um gênero digital, inserindo-os em uma prática de letramento digital e teve a intenção de realizar atividades que desenvolvessem competências discursivas, linguísticas e linguísticodiscursivas. Pensando na estrutura da fanfiction, foram elaborados módulos que apresentaram as seguintes características do gênero: conhecendo o gênero sinopse, elementos da fanfiction, elementos da narrativa, produção final. Decidiu-se iniciar com um gênero que faz parte das notas (a sinopse) e depois trabalhou-se o elemento que os alunos tinham menos familiaridade (as notas). Assim, os alunos poderiam perceber as diferenças das notas IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 presentes no gênero em questão de outras notas existentes, já que esse foi a parte do gênero mais questionada ao longo da apresentação inicial do gênero. Depois partimos para a sequência narrativa, já que na primeira produção os alunos demonstraram ter um bom conhecimento sobre ela e seria necessário abordar poucos aspectos. Para uma melhor aprendizagem, os alunos desenvolveram atividades em conjunto, Dillenbourg apud Torres e Irala (2007, p.70) define a aprendizagem colaborativa como a “situação de aprendizagem na qual duas ou mais pessoas aprendem ou tentam aprender algo juntas”. No caso da fanfiction, além dos alunos poderem ler os textos dos alunos, comentarem e opinarem durante o processo de escrita nos módulos, houve também a criação de um blog. Essa atividade colaborativa foi muito interessante, cada aluno escolheu um detalhe: cor, fonte, barras, gadgets. Eles tiveram que entrar em um consenso diversas vezes, alguns queriam cores mais sóbrias, outros mais alegres e as dúvidas em como editar as partes do blog surgiam: “professora, pode modificar o tamanho das colunas?” “professora como faz para mudar a cor da letra?” “professora, a fonte pode ser essa?”... Queriam saber como modificava o formato, posição e tamanho das colunas, se era possível colocar imagens de fundo etc. A cada visualização daquilo que eles haviam modificado, existia também o medo de estragar ou deletar o blog. Por isso, a todo momento eles nos chamavam e faziam as seguintes perguntas: “professora, pode apertar salvar?”, “se a gente clicar aqui (botão editar), deleta o que a gente já fez antes?”, perguntavam também se podiam apertar os botões salvar e visualizar sem estragar nada do layout. Esses comportamentos demonstram que os alunos parecem não estar acostumados com esse suporte digital, que o acesso a blogs não é algo cotidiano e sim, totalmente novo para eles. Percebemos que, no ambiente escolar, o acesso a blogs e outros sites que não dispõem de ferramentas de pesquisa como o google, não são do conhecimento dos alunos. Para que os alunos pudessem conhecer esse suporte, decidimos que eles explorariam as abas do blog sozinhos. Kleiman afirma que a escola deve propiciar formas de aprendizado de forma colaborativa, desta maneira o aluno poderá trocar conhecimentos com os colegas, IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 transferindo e adaptando os conhecimentos adquiridos fora da escola para a prática dentro do ambiente escolar participando de um evento de letramento, isto é, um momento no qual se dá a compreensão de textos escritos, essa compreensão é manifestada pela fala. Um evento de letramento inclui atividades que têm as características de outras atividades da vida social: envolve mais de um participante e os envolvidos têm diferentes saberes, que são mobilizados na medida adequada, no momento necessário, em prol de interesses, intenções e objetivos individuais e de metas comuns. Daí ser um evento essencialmente colaborativo. (KLEIMAN, 2005, p.23) Os alunos pediram ajuda para inserir a imagem e os vídeos em seus textos porque eles nunca haviam feito. Instruiu-se os alunos a inserirem os complementos como imagens e vídeos, para que eles incrementassem o texto. Os resultados podem ser observados no endereço: criandofanfictions.blogspot.com. Considerações finais Existe, ainda dificuldades dos professores laborarem atividades que envolvam o cotidiano dos alunos, muitas vezes, não se sabe por onde iniciar o trabalho e até subestimam a sua capacidade dizendo que não conseguem ou que os alunos já sabem tudo do ciberespaço e que não há nada de novo para acrescentar para eles. Mas, ao analisar os gêneros digitais, no caso específico o fanfiction, percebe-se que ainda há muito o que demonstrar e ensinar para os alunos e que estes não são letrados digitalmente, apesar de serem considerados a “geração da internet”. Com o primeiro questionário, isto ficou nítido, pois apesar do fanfiction ser um gênero com grande produção on-line, poucos entrevistados o conheciam. Um trabalho que apresenta novas possibilidades de escrita e interação na internet, permite que os alunos se aproximem e conheçam novos gêneros, assim ao desenvolver a oficina de fanfiction, os alunos demonstraram gostar da oficina ministrada, pois tiveram contato com outro tipo de literatura, textos escritos por pessoas diversas que tem um interesse em comum e o transformam em um texto, muitas vezes, criativo. Também IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 visitavam sites sobre fanfiction fora do horário da oficina e comentavam depois com o professor e com os outros alunos da escola. Quanto aos textos produzidos pelos alunos, constatou-se grande facilidade em produzir os elementos narrativos inseridos nos textos de cada momento da oficina, bem como os elementos específicos do gênero fanfiction como as notas do autor e da história. Houve uma internalização do conceito de fanfiction – produção de fã para fã -, pois alguns alunos mudaram o tema da produção inicial alegando que eram “mais fãs” de determinado livro, cantor, novela, do que o que havia escrito anteriormente. Eles se mostraram muito interessados com a possiblidade de criar um blog, onde eles puderam utilizar os recursos disponíveis de formatação de plano de fundo, colunas, texto, entre outros, modificar as características, publicar seus textos e inserir músicas, vídeos e imagens. Os participantes da oficina foram receptivos à proposta apresentada e a desenvolveram com êxito, deixando a desejar somente no momento da divulgação do blog. Essa dificuldade em divulgação do blog, pode ter ocorrido por vergonha de expor seus textos entre os amigos, ou também porque os alunos não incorporaram o blog como algo do cotidiano deles, um elemento necessário para a divulgação e por isso a prática de letramento não foi eficaz. Seria interessante que os próprios pesquisadores interferissem neste momento e divulgassem o blog a todos os alunos da escola, prática que não ocorreu. Se essa divulgação tivesse ocorrido, poderíamos identificar a interação entre leitor e autor do texto. Referências BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1982. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 DOLZ, J.; NOVERRAZ, M.; SCHNEUWLY, B. Sequências didáticas para o oral e a escrita: apresentação de um procedimento. In: SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas, São Paulo: Mercado das Letras, 2004. JENKINS, Henry. Cultura da convergência: a colisão entre os velhos e novos meios de comunicação. 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