Quando não se sabe quem é o senhor que se segue
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Quando não se sabe quem é o senhor que se segue
ID: 50592514 03-11-2013 Tiragem: 38650 Pág: 24 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 27,07 x 30,12 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 3 Quando não se sabe quem é o senhor que se segue A Microsoft contratou uma empresa de busca de talento executivo para a difícil tarefa de substituir o presidente executivo. O que se faz quando se procura alguém para o topo? Gestão João Pedro Pereira Foi uma surpresa quando a Microsoft anunciou, em Agosto, a decisão de substituir o CEO, Steve Ballmer. O executivo está na companhia quase desde a fundação (entrou em 1980 e foi o 30.º funcionário), é presidente executivo desde 2000 e reforçou os poderes quando, em 2006, Gates se afastou para se dedicar à filantropia. É a segunda figura mais importante na história da multinacional. Ballmer é conhecido pela inteligência (uma entrevista da Business Week relata como desfiou, de memória e por ordem, a cotação das empresas mais valiosas do mundo), pela impulsividade (a Internet está recheada de vídeos de Ballmer aos gritos e aos saltos) e pela dedicação à empresa — um vídeo que acabou publicado online mostra-o a chorar e a agradecer a uma plateia de funcionários, num evento de despedida, ao som da canção I Had the Time of My Life. A subida de Ballmer a CEO, substituindo Gates, foi planeada, naquilo a que as empresas chamam um plano de sucessão. Nestes casos, o próximo executivo a ocupar o lugar no topo está identificado, é preparado para a função e a ascensão tende a ser naturalmente aceite pelos outros executivos. Muitas vezes, essa pessoa foi contratada para um cargo abaixo já com a ideia de que pudesse vir a ser candidato ao lugar cimeiro. Ter um plano de sucessão é a melhor opção, dizem os especialistas entrevistados pelo PÚBLICO. Porém, o caso de Ballmer parece estar longe de ter sido planeado. O negócio da Microsoft teve alguns tropeções recentes — como os tablets Surface e o sistema operativo Windows 8 — e o gigante da tecnologia está a acusar as dores de adaptação a uma era póscomputadores pessoais. O anúncio do afastamento (Ballmer está em funções até haver um sucessor) foi acompanhado pela informação de que o substituto seria procurado ao longo dos meses seguintes, num prazo que pode ir até um ano. Para essa busca, a Microsoft contratou a Heidricks & Struggle, uma das maiores empresas de procura de executivos do mundo, que foi responsável pela contratação de Eric Schmidt para CEO do Google, há 13 anos. “O comité especial está a trabalhar com a Heidrick & Struggles Internacional Inc, uma empresa líder no recrutamento de executivos, e vai considerar tanto candidatos internos como externos”, lê-se na nota oficial da Microsoft. A Heidrick & Struggles não respondeu a um pedido para falar sobre processos de recrutamento. Dentro ou fora? Fazer uma promoção interna ou recrutar fora da empresa são duas vias para encontrar um líder. “Idealmente, o CEO deve vir de dentro. Uma pessoa que é promovida dentro da empresa é porque é boa”, observa Fernando Neves de Almeida, sócio da Boyden, uma das empresas de recrutamento e de procura de talento executivo ouvidas pelo PÚBLICO. “Se a empresa estiver bem, é alguém que conhece a casa.” Mas sublinha que a situação “é diferente quando as coisas não estão a andar bem”. Porém, se uma empresa já optou por avaliar candidatos de fora, normalmente é daí que acaba por vir o executivo escolhido, nota por seu lado José Bancaleiro, sócio da Stanton Chase. “Quando uma empresa faz uma pesquisa externa, tende para o externo. Significa que já olhou internamente” e não encontrou quem estivesse à altura. As empresas “estão cada vez mais preocupadas com o desenvolvimento dos seus talentos”, observa ainda Nuno Troni, director executivo da Michael Page. E dá o exemplo do PSI-20, o índice das maiores 20 empresas na bolsa de Lisboa, onde “a maior parte dos CEO foram recrutados internamente”. Um executivo promovido “já conhece a empresa, os processos, o mercado, conhece tudo”. Mas também tem desvantagens: “Não traz uma abordagem nova, uma visão diferente.” E uma visão diferente é necessária quando o negócio não está bem. Além disto, refere Troni, Steve Ballmer substituiu Bill Gates numa sucessão planeada, que é a melhor prática para as empresas um CEO promovido internamente “pode ter anticorpos”, entre os quais outros colegas de trabalho com a ambição de ocupar aquele lugar. Por outro lado, Mariana Branquinho, sócia da Hedrick & Struggle em Portugal (empresa afiliada do grupo internacional que está a trabalhar com a Microsoft) lembra que há empresas que, a partir de um nível de hierarquia, têm a regra de olhar sempre para candidatos externos, para avaliar todas as possibilidades. O melhor é relativo Não é uma regra absoluta, mas o processo de procura de um executivo de topo demora, tipicamente, entre dois e quatro meses. A empresa de recrutamento começa por identificar potenciais candidatos. E, nesta fa- se, há muitas variáveis a considerar. Não há um perfil único. “Escolher o melhor é sempre relativo”, diz Mariana Branquinho. “Depende da missão que vai desempenhar.” Por exemplo, uma empresa que queira fazer uma reestruturação, procura alguém que tenha sido bem-sucedido nessa tarefa. Cumprida a missão, o CEO pode até ser mandado embora. A procura também tende a ser alargada e não focada apenas em pessoas do sector. O candidato certo pode ser um académico, ou estar numa empresa de uma área diferente, ou até estar numa companhia muito mais pequena. “O CEO da sexagésima empresa naquela área pode estar a ter uma grande performance”, observa José Bancaleiro, comparando estes casos àqueles em que um clu- be grande contrata um treinador de uma equipa pequena que tenha tido bons resultados. Ou, exemplifica ainda, uma farmacêutica pode querer alguém da área do grande consumo, se essa for a evolução previsível do negócio. Dinheiro depois Quando se procura talento ao nível do topo, os potenciais candidatos são contactados por um dos sócios da empresa de recrutamento. Muitas vezes de forma informal. “Conhecemos a pessoa ou alguém a conhece por nós”, explica José Bancaleiro. O cenário escolhido para o encontro com o potencial CEO varia. Há quem convide as pessoas para um almoço e há quem opte por uma reunião privada. Depende dos casos e da priva- ID: 50592514 03-11-2013 Tiragem: 38650 Pág: 25 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 11,19 x 26,29 cm² Âmbito: Informação Geral RICK WILKING/REUTERS cidade de que o candidato precise. Já perto do final do processo de escolha, as empresas de recrutamento acabam por indicar dois ou três nomes. A decisão final é de quem contrata e as conversas entre empregador e candidato são cruciais. “No final, a escolha é muito por questões pessoais. Pela empatia que se criou”, diz Fernando Neves de Almeida. Dois dos profissionais ouvidos pelo PÚBLICO compararam este processo a um namoro, seguido de um eventual casamento: é preciso que a empresa goste do candidato e que o candidato esteja interessado no projecto. O dinheiro vem depois. “Só faz sentido partir para a negociação de condições se as duas partes estão perfeitamente alinhadas”, diz Mariana Branquinho. Para evitar desgaste entre as duas partes, a negociação do pacote financeiro é muitas vezes mediada pela empresa de recrutamento. No caso dos CEO, explica a sócia da Heidrick & Struggle, o difícil é definir o modelo de compensação: que parte do salário é fixa e que parte é variável, quais os objectivos que dão direito a bónus e quando é que estes são atribuídos. Depois, é “pôr números” no modelo acordado. “Em cargos muito seniores, todo este processo é levado com muito cuidado”, sublinha Mariana Branquinho. Mas o objectivo não é fechar um contrato. “O sucesso não é quando se puser uma pessoa na Microsoft. É daqui a uns anos, quando as acções começarem a subir e se vir que a pessoa fez um bom trabalho.” Corte: 2 de 3 ID: 50592514 03-11-2013 Tiragem: 38650 Pág: 56 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 5,10 x 3,54 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 3 de 3 Como é que a Microsoft procura o seu presidente? A companhia contratou uma empresa de busca de talento executivo p24/25