Matéria entrevista - Luan

Transcrição

Matéria entrevista - Luan
Mario Vargas Llosa: vida, trajetória e
personalidade
Escritor peruano reforça vertente liberal e detecta uma América Latina desiludida com o
populismo.
Por Luan Medeiros
Foto: Ricardo Baptista
A
w
guerra do fim do mundo”. “Travessuras da menina má”. “Conversas na
catedral”. “Pantaleão e as visitadoras”.
Esses são apenas alguns títulos das
obras de Mario Vargas Llosa, escritor peruano, de
78 anos.
ww
Nascido em Arequipa, passou a infância entre as cidades Cochabamba
(na Bolívia), Piura e Lima (ambas no
Peru). Llosa iniciou a carreira literária e jornalística cedo, aos 16 anos, com a estreia
do drama “A Fuga do Inca”, de 1952. Logo em
seguida, ingressou na Universidade de São Marcos de Lima, onde estudou Literatura. Viajou para
e Televisão Francesas e foi professor no Queen
Mary College, de Londres.
Vargas Llosa publicou a primeira obra, “Os Chefes”, em 1959, com apenas 23 anos, e a novela
“A Cidade e os Cachorros”, em 1962, que o fez
ganhar prestígio entre os escritores que participaram do “boom” literário iberoamericano. Estabeleceu-se inicialmente em Paris e, logo após, em
Londres, de onde mudou para Washington e Porto
Rico.
A maturidade literária de Llosa chegou com a
publicação de “A Casa Verde”, em 1966, cuja
prosa mistura elementos como diálogo, descrição
e combinação de ações e tempos diversos. Esses
recursos também aparecem em “Os Cachorros”,
de 1967, e “Conversas na Catedral”, de 1969. Este,
um áspero retrato da ditadura peruana de Manuel
Odría.
Dentre suas novelas, destacam-se “Pantaleão e as
Visitadoras”, publicada em 1973; “Tia Julia e o
Escrivinhador”, em 1977; “A Guerra do Fim do
Mundo”, em 1981, onde são abordadas questões
sociais e religiosas iberoamericanas. Outra novela
de grande sucesso foi “Quem Matou Palomino
Moreno?”, de 1986, baseada em uma investigação
policial.
O trabalho do escritor como crítico literário
está refletido em seus ensaios García Márquez:
“História de um Deicídio” e “A Orgia Perpétua:
Flaubert” e “Madame Bovary”, de 1975.
Vargas Llosa também possui experiências políti- cas. Um exemplo disso foi a sua candidatura à
presidência do Peru, em 1990, pelo partido Frente
Democrática, quando foi derrotado por Aberto
Fujimori.
O escritor peruano acumula uma série de prêmios,
tais como: Príncipe das Astúrias das Letras, em
1986; Planeta, em 1993 e Cervantes, em 1995. Entretanto, o prêmio mais importante de sua carreira
foi o Nobel de Literatura, em 2010.
Em viagem ao Rio de Janeiro, onde participou de
um debate sobre as incertezas e desafios do século
XXI, promovido pelo Ibmec, em 18 de abril deste
ano, Mario Vargas Llosa conversou com a equipe
da agência CODE. Ele falou de suas expectativas
para o futuro da América Latina, destacando o
Brasil como o grande país precursor dessa parte do
continente.
Obras de Mario Vargas Llosa
Foto: Fan page Ibmec
A íntegra da entrevista concedida ao estudante de
Jornalismo, Luan Medeiros.
Luan Medeiros: Em uma época de muitas incertezas, quais são os desafios para o século XXI?
Mario Vargas Llosa: “Bom, o século XXI é o
século das grandes transformações nos âmbitos
político, econômico e científico.
Também teremos uma grande revolução no campo
audiovisual, pois novas tecnologias são criadas
no campo da informação em um curto espaço de
tempo. De maneira otimista, essas criações colaboram para diminuição da censura e da crítica. De
maneira negativa, podem trazer alguns riscos, pois
o excesso de informação pode gerar confusão por
parte de quem as assimila.
Já a cultura se beneficiou muito dessas mudanças.
Informações que antes só chegavam através da
palavra, hoje chegam por meio da imagem, tornando cada vez menores as fronteiras entre países.
Graças a essa integração, o campo do progresso e
do desenvolvimento econômico serão mais amistosos entre as nações.
A globalização é um fenômeno inevitável podendo
trazer não só muitos proveitos aos países, como
também grandes prejuízos. Estamos diante de
um mundo completamente novo e necessitamos
de uma grande imaginação para encontrarmos
soluções para problemas que nunca vivemos no
passado.”
LM: Sabemos que o Brasil é o maior país da
América Latina não somente em relação à economia, como também em território. Em sua opinião,
qual seria o papel dos outros países latinoamericanos sobre esse contexto que envolve o Brasil?
MVL: “Olhe, temos que considerar a América
Latina como uma comunidade. Essa integração
é fundamental para que exista uma forte corrente
contra o atraso, a discriminação e as grandes
desigualdades. Toda a América Latina deve se
alegrar de ver o Brasil desenvolvendo-se muito
rapidamente. O gigante enfim despertou!
É muito interessante para o Brasil a saída para
o Oceano Pacífico e para os países latinos que
ocupam essa área do continente terem uma forte
relação comercial com o Brasil. Dessa forma,
será mais fácil competir com os grandes países
da União Europeia, com os Estados Unidos, e,
recentemente, com a China e a Índia. Enquanto a
América Latina se mantiver unida, as possib- ilidades de se obter êxito serão muito maiores e
satisfatórias.”
LM: Em relação às políticas sociais, o senhor
acredita que os políticos latinoamericanos estão
dando as costas para esse contexto?
MVL: “Acredito que existam políticas sociais certas e erradas. Digamos que a pobreza e a desigualdade se combatem criando riquezas, emprego, e
não se combatem com populismo e demagogia. As
políticas sociais não podem ser paliativas. Devemos estimular ações que permitam desen- volver a
economia, que possam desenvolver assim a criação
de novos empregos.
Países que mantiverem o populismo e o centralismo serão reféns da receita já experimentada por
outros países. Acontecerão novamente catástrofes
políticas e econômicas. A minha impressão é a
de que o dinamismo acontece com os países que
optaram pela liberdade política e econômica, pois
hoje em dia, o populismo tornou-se totalmente
anacrônico ao nosso tempo.”
“A pobreza e a
desigualdade se
combatem criando
riquezas, emprego,
e não se combatem
com populismo e
demagogia”
“O século XXI
é o século das
grandes transformações”
“Toda a América
Latina deve se alegrar
de ver o Brasil desenvolvendo-se muito
rapidamente”

Documentos relacionados

Jorge Mario Vargas Llosa

Jorge Mario Vargas Llosa Nobel de Literatura de 2010. Escritor peruano, nasceu em 28 de Março de 1936, em Arequipa, no Peru. O seu empenho em relação a mudanças sociais é evidente nos seus romances, peças e ensaios. O escr...

Leia mais

Boletim N.º 15

Boletim N.º 15 Filho único nascido numa família de classe média, estudou no Colégio Militar Leôncio Prado, em La Perla, como aluno interno, experiência que servirá de tema do seu primeiro livro, “La ciudad y los ...

Leia mais

Entrevista Mario Vargas Llosa: Elogio ao liberalismo

Entrevista Mario Vargas Llosa: Elogio ao liberalismo Valor: Ao analisar o quadro atual com uma lente psicológica, pode-se dizer que o brasileiro tem vivido um desamparo. Parece não haver lideranças capazes para agir diante da complexidade dos problem...

Leia mais

A literatura latino-americana, entre o fantástico e a crítica

A literatura latino-americana, entre o fantástico e a crítica movimento intelectual de primeira ordem. Foram elas que criaram as utopias. Abria-se, enfim, um horizonte para o homem europeu, confinado na terra plana e imóvel entre o céu e o inferno. Havia do o...

Leia mais