Meteorologista contesta o aquecimento da Terra

Transcrição

Meteorologista contesta o aquecimento da Terra
hipertexto
Carla Ruas/Hiper
Política
Navalhada
da Federal
na corrupção
brasileira
Famecos/ PUCRS. Porto Alegre, maio de 2007 – Ano 9 – Nº 55
Página 8
Receita de
ex-governadores
para o tratamento
do Estado febril
Página 8
Carla Ruas/Hiper
Eugênio Hackbart, da Metsul Meteorologia, prevê o resfriamento global dentro de 10 a 15 anos, contra projeções alarmistas da mídia
Moreira Sales esteve na PUC
Exclusivo
Piauí aposta
na narrativa
Meteorologista contesta
o aquecimento da Terra
Página 4
Quinteto Violado
em Porto Alegre
Página 11
Carla Ruas/Hiper
Conclamação
do Papa
aos jovens
latinos
Moradores reclamaram do ruído e dos vôs rasantes dos aviões C-130 Hércules
Treinamento da FAB em Canoas
Página 7
Arturo Mari/AFP
Em visita ao Brasil,
em maio, Bento XVI
exortou a juventude
a construir o
presente na família,
na escola, na
Universidade, no
trabalho, em todos
os círculos sociais
Página 3
Lula recepcionou o chefe supremo dos católicos
2 opinião
Porto Alegre, maio de 2007
Editorial
Crônica
Papa deixa no Brasil
semente de esperança
Entre os dias 9 e 13 de maio,
os brasileiros tiveram a chance de
conhecer mais de perto o Papa
Bento XVI. Com a difícil missão de
ser substituto do carismático João
Paulo II, Joseph Ratzinger era visto
como um homem sério, avesso às
expressões mais afetuosas. Depois
da visita ao Brasil, o Papa nascido na
Alemanha conquistou os fiéis brasileiros que desconfiavam do seu perfil
conservador e seu jeito reservado.
Mas, entre tantas qualidades que o
Papa pôde demonstrar à população,
uma que se destacou foi a coragem
com que enfrentou a questão da
violência no país.
Um esquema de segurança digno
de primeiro mundo foi montado
para preservar o Pontífice contra
qualquer ameaça. As medidas de
proteção, entretanto, não o isolaram
do carinho da população. Por decisão
própria, inúmeras vezes, Bento XVI
pediu para a segurança permitir a
aproximação de fiéis, mostrando
que gosta deste contato. Com certeza, os gestos de boa vontade e de
HIPERTEXTO
proximidade com o público devem
ter gerado muita apreensão aos responsáveis pela organização da visita.
A pergunta inevitável: será que o
Papa avalia bem os riscos que corre
em um país onde as balas perdidas
perseguem inocentes e a violência
ainda surpreende pela estupidez dos
fatos que gera?
Bento XVI mostrou conhecer
os problemas do maior país católico
do mundo. Entre assuntos polêmicos como a castidade, respeito ao
casamento, aborto, preservação do
ambiente; a violência gerada pelo
comércio das drogas foi outro tema
que mereceu a atenção do Papa, nos
cinco dias da visita.
Para os jovens, que representam
o futuro do país, o Papa pediu que
ajudassem a construir uma sociedade
mais justa e solidária porque, desta
forma, seria possível frear atos violentos que acontecem atualmente.
No discurso feito na Fazenda da
Esperança, um centro dedicado à
reabilitação de usuários de drogas,
o Papa mandou um recado para os
traficantes: “pensem no mal que
estão provocando a uma multidão
de jovens e de adultos de todos os
segmentos da sociedade: Deus vailhes exigir satisfações”.
O Papa é o personagem principal na hierarquia da Igreja Católica. Como um disseminador da
fé acredita que cidadãos melhores
são orientados pela religião. Quem
acredita em Deus não comete crimes contra seus irmãos. Apesar das
demonstrações de afeto e respeito
ao Papa, também se viu que muitas
das suas idéias e recomendações não
são observadas nem mesmo pelos
que se dizem fiéis à Igreja Católica.
Com certeza, não é o distanciamento
das igrejas e das religiões que explica
o desrespeito ao próximo, à vida e
à sociedade, traduzido em ações de
violência. Mas, bem que a figura e as
palavras do Papa poderiam tocar a
consciência de quem há muito desistiu de se salvar deste mundo e muito
menos do chamado reino dos Céus.
Tenhamos fé e esperança.
Lidiana de Moraes, editora
Pergunte à mãe
Tatiana Lemos
Todas as mães acham que seus
filhos são gênios. Se um bebê aprende a andar uma semana antes que os
filhos das amigas, é uma criança precoce. Se gosta de bater na mesa ou as
panelas, a mãe enxerga logo um dom
musical despertando no pequeno.
Desde cedo, já prevêem um futuro
brilhante e potencialidades:
– Ah, esse vai dar um grande
médico!
Nem todas as mães acertam no
prognóstico de sua prole. Mas imagine o que diriam as mães de grandes
gênios da humanidade. “Eu sabia,
Einstein sempre foi uma criança
diferente das outras. Com 12 anos
de idade, aprendeu por conta própria a Geometria Euclideana”, diria
a mãe do cientista. Provavelmente,
até os artistas incompreendidos na
sua época foram entendidos por
suas progenitoras. Nem todos nos
tornamos grandes cientistas, médicos notáveis e nem celebridades,
mas acreditamos, até certo ponto
da vida, que somos especiais, que
temos “uma estrela”, como diriam
nossas mães.
Podemos até não ter sido os
melhores alunos no colégio, tirado
notas baixas em matemática e nunca
conseguir levar a diante as aulas de
ballet ou natação quando pequenos,
mas certamente, algum dia, a nossa
vocação irá desabrochar, assim
como previam nossas mães. Pensamos até passar pela tão esperada
faculdade. Até descobrirmos que ser
“especial” não é assim tão simples.
Se somos seres talentosos e com
tantos potenciais dentro de casa, lá
fora nos dizem que o mercado está
cheio, que é preciso ser criativo,
empreendedor, multimídia, ecologicamente correto, especializado e,
ao mesmo tempo, saber um pouco
de tudo, e ter sorte.
Depois de descobrirmos tudo
isso, temos que deixar a faculdade e
enfrentar a idéia de que, talvez, não
tenhamos a tal estrela. A proximidade da formatura gera um conflito
filosófico, do tipo “de onde vim,
para onde vou”, e mais aquelas crises
que Freud explica: “Será que minha
mãe mentiu para mim?”. Há também
aqueles que radicalizam: “Se nada
der certo, largo tudo e viro hippie.
Dizem que tudo isso é normal.
E que o Luis Fernando Verissimo
nunca pensou em escrever, e Einstein só aprendeu a falar aos 3 anos
de idade. Ainda é tempo. A formatura não é o fim, e sim o começo.
Pergunte à sua mãe.
Como manter equilíbrio ambiental e econômico
Patrícia Lima
Em 1988, a Constituição Federal ressaltou a proteção ao meio
ambiente, salientando que o zoneamento ambiental é um instrumento
da política nacional para o setor.
Quase 20 anos depois, as preocupações com as questões ambientais
e ecológicas aumentaram, mas também mudaram. Ocupando espaço
na imprensa há alguns meses, o Zoneamento Ambiental é a delimitação
geográfica de áreas territoriais, com
o objetivo de estabelecer um limite
para a utilização da propriedade.
Permite que o proprietário possa
usar sua terra da maneira que lhe
convier, mas desde que respeite os
interesses coletivos, como a função
social e a conservação do meio
ambiente.
Aqui, no Estado, a polêmica que
existe sobre o cultivo de eucaliptos
vai além da questão ambiental, atingindo também os aspectos econômicos e sociais. Prós e contras giram
em torno do risco que a monocultura
de eucaliptos pode trazer para a
densidade e diversidade ecológica.
Ou seja, os prejuízos para a natureza
seriam mais graves a longo prazo do
que as vantagens econômicas a curto
prazo. Talvez, o número de empregos
diretos e indiretos que possam ser
gerados e a lucratividade não resulte
em ganhos reais, a longo prazo, para
as regiões que receberão as papeleiras,
devido aos possíveis desequilíbrios
futuros na natureza que teriam reflexos em atividades econômicas. Seria
necessário desenvolver estes projetos
de forma clara e cautelosa, para que
haja um equilíbrio, entre os interesses
das fábricas e da sociedade civil, sem
colocar em risco o meio ambiente.
As análises apontam economicamente a geração de empregos, serviços e impostos pelas empresas de
celulose, tornando-se uma alternativa
para o desenvolvimento econômico
Hipertexto
Jornal mensal da Faculdade de Comunicação
Social (Famecos) da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico, Porto
Alegre, RS, Brasil.
E-mail: [email protected]
Site: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hipertexto/ 045/ index.php
Reitor: Ir. Joaquim Clotet
Vice-reitor: Ir. Evilázio Teixeira
das regiões. O fato é que, se não houver cuidado e respeito às atitudes de
preservação a curto e médio prazos,
o ônus ecológico poderá ser maior do
que a lucratividade. Segundo especialistas, a monocultura de eucaliptos é
prejudicial para a densidade do solo,
além de afetar os recursos hídricos.
Uma das alternativas para reduzir
o impacto negativo do cultivo de
eucalipto é a plantação intercalada de
carvalhos e outras árvores.
Desde o começo do ano, as
empresas estavam proibidas de permanecer com o plantio de árvores
exóticas, tendo que respeitar decisão
da Fepam quanto ao zoneamento
ambiental. Se o zoneamento não for
respeitado, o plantio e a exploração
do eucalipto se estabelecem e promovem o crescimento econômico
das regiões, mas qual será o futuro?
O ganho imediato pode sustentar
o custo ambiental que sempre tem
amplo reflexos sociais e econômicos?
Já se sabe que são elevados os custos
para amenizar danos ambientais e
suas conseqüências, bem superiores
aos gastos iniciais de prevenção ou
de simples contenção na exploração.
O desenvolvimento sustentável pode
tornar mais lento o processo para se
alcançar os resultados, mas é mais seguro para todos, homem e natureza.
Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000
Diretora da Famecos: Mágda Cunha
Coordenadora/ Jornalismo: Cristiane
Finger
Produção dos Laboratórios de Jornalismo
Gráfico e de Fotografia.
Professores Responsáveis:
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e edição), Celso Schröder (arte e editoração
eletrônica) e Elson Sempé Pedroso (fotojornalismo).
ESTAGIÁRIOS:
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Moraes e Susy Sousa
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Repórteres: Bernardo Biavaschi, Brenda
Parmeggiani, Bruna Holler Petry, Bruna Longaray, Cecília Mombelli, Daniela da Silva Cenci,
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da Silva, Giovanna Milani, Guilherme Zauith,
Laion Espíndula, Lidiana de Moraes, Maíra
Fedatto, Márcia Milani Soares, Maria José Mendes da Silva, Mariana B. Soares, Patrícia Lima,
Rafael de Lemos Vigna, Sabrina P. Silveira,
Susy Sousa, Tatiana Feldens, Thais Silveira e
Vinícius Roratto Carvalho
Repórteres Fotográficos: Carla Ruas,Caroline
Bicocchi, Fernanda Fell, Giovana Milani, Juliana Freitas, Luciana Nunes, Manuela Kanan,
Ricardo Romanoff, Sabrina Feijó, Taidje Gut,
Thiago Marques e Vinicius Carvalho
HIPERTEXTO
Fraternidade 3
Porto Alegre, maio de 2007
Jovens vivem expectativa do encontro
com o Papa em Aparecida do Norte
E ouvem que a juventude latina é a esperança para a construção do futuro da Igreja Católica
Adriana Aguero*
O encontro com o Papa em Aparecida
do Norte, em 12 e 13 de maio, representou
para os católicos uma renovação, um momento de pausa para escutar as palavras do
chefe da Igreja Católica. O que um ancião
de 80 anos poderia transmitir aos jovens
da América Latina? Diante dos céticos,
o Papa conclamou os sul-americanos como
o Continente da Esperança. A juventude
latina será a Igreja do futuro, dos novos
tempos, representa a esperança da humanidade frente à envelhecida Europa. O
Papa exortou a não nos iludirmos com a
promessa do futuro, sendo construtores do
presente na família, na escola e na Universidade, no trabalho, enfim, em todos os
círculos sociais.
Participaram do encontro com o Papa
brasileiros, uruguaios, argentinos, paraguaios e chilenos que vieram de longe para
mostrar o seu afeto. Eram cerca de 150 mil
romeiros cantando o hino oficial de acolhida
ao Papa: “Bento, bendito que vem em nome
do Senhor! Bem-vindo, bem-vindo, nosso
povo te acolhe com amor!” A sensação de
pertencer a uma grande família foi o forte
sentimento de união. Cada movimento
expressava a sua peculiaridade por meio
das vestimentas, de diferentes formas de
louvor, mas buscando o mesmo fim. Era
a festa da diversidade na unidade. Assim
nos sentíamos pertencentes de uma única
Igreja. O Papa também exprimiu esse
sentimento dizendo: “Como é bom estarmos
aqui reunidos em nome de Cristo, na fé,
na fraternidade, na alegria, na paz, na
oração com Maria”. Nós, do Movimento
de Schoenstatt, de carisma mariano, nos
alegramos muito com a indicação do Papa
aos fiéis, após a oração do Rosário para que
permaneçam na “escola de Maria”.
No discurso, o Papa disse estar muito
feliz no nosso meio. E acrescentou: “O
Papa vos ama, vos saúda afetuosamente!
Reza por vós! E suplica ao Senhor as mais
preciosas bênçãos para os movimentos,
associações e as novas realidades eclesiais,
Luciana Nunes/ Hiper
expressão viva da perene juventude da
Igreja! Que sejais muito abençoados!
Alegro-me de modo especialíssimo convosco
e vos envio o meu abraço de paz.” As
palavras provocaram gritos da platéia e
palavras de amor e gratidão ao Papa. Foi
um momento de profunda acolhida, nada
lembrava a imagem do Papa como um
alemão, distante e frio. Joseph Ratzinger
também destacou a hospitalidade do povo
brasileiro, citando o Papa João Paulo II.
“Desde que aqui cheguei fui recebido com
muito carinho! Meu predecessor, João Paulo
II, referiu-se várias vezes à vossa simpatia
e espírito de acolhida fraterna. Ele tinha
toda razão!”.
Na noite de sábado, os peregrinos que
estavam acampados em frente ao Santuário
de Aparecida abriram seus sacos de dormir
para passar a madrugada à espera da
missa na manhã de domingo. Na noite
fria, dormimos ao relento no chão de pedra, sem teto, sem espaço para acomodar
o nosso corpo e nossas mochilas, mas a
sensação de despreendimento predominou.
Éramos milhares amotinados em sacos
no chão, como um grupo de refugiados de
guerra ou como retirantes nordestinos. Para
maioria, as horas de sono foram poucas.
No domingo, sob o sol forte de São Paulo
queimando nossos rostos durante a missa,
muitas pessoas passaram mal e foram
atendidas no posto de saúde, colocado na
entrada do Santuário. Apesar do cansaço,
das dores nos pés e pernas, da fome e sede,
o momento foi de inúmeras graças. Eu já
havia participado da Jornada Mundial
com o Papa em Colônia, na Alemanha,
em 2005, e tive a oportunidade de vê-lo a
poucos metros de distância em Roma, onde
participei de outros três encontros. Quis ir
a Aparecida para dar meu testemunho e
para incentivar outras jovens do Movimento de Schoenstatt a participarem. Do
Rio Grande do Sul, saíram dois ônibus
lotados do nosso movimento. Posso dizer
que o esforço valeu.
* Aluna do Jornalismo da Famecos e
integrante do Movimento Schoenstatt
Grupos que compareceram se sentiram recompensados pela atenção recebida de Bento XVI
turismo religioso movimenta capital da fé
Fernando Rotta Weigert
A cidade de Aparecida, localizada no Vale do Paraíba, interior de
São Paulo, é mundialmente famosa
devido ao Santuário de Nossa
Senhora da Conceição Aparecida,
a padroeira do Brasil. A visita de
Bento XVI levou de uma só vez
150 mil pessoas ao pequeno município distante 160 km da capital
(São Paulo).
Aparecida recebe visitantes que,
no último ano, foram estimados em
cerca de oito milhões. O número
de habitantes é de cerca 35 mil, em
área de 112 quilômetros quadrados.
As datas de maior movimento são
carnaval, Páscoa e, principalmente
12 de outubro, dia da Festa de Nossa
Senhora Aparecida, quando lotam
os 20 mil leitos de hotéis e pensões
do município. Há dois grandes
santuários, a Basílica Velha, símbolo
da cidade, construída no fim do
século 19 e a Basílica Nova, com
capacidade para 70 mil romeiros.
Em 1984, foi declarada Santuário
Nacional. Ainda existem 11 igrejas
espalhadas por Aparecida.
O mais curioso é a história do
surgimento da cidade. Em 1717,
três pessoas pescavam para servir
um banquete aos governadores de
Minas Gerais e São Paulo. Os três
pescaram a imagem de uma Santa,
no caso Nossa Senhora da Conceição Aparecida. O nome da cidade
surgiu da imagem que ficou 15 anos
na casa dos pescadores, onde as
pessoas se reuniam para rezar. Por
volta de 1745, foi construída a capela do Morro dos Coqueiros, para
abrigar a Santa. Com aumento no
número de fiéis que procuravam a
capela para rezar, fez-se necessário
outro local para abrigar a imagem.
Então, foi erguida a primeira Basílica. O município se emancipou
de Guaratinguetá, em 1928. O
número de fiéis que passam por lá
aumenta todos os anos. As Basílicas
estão constante em reformas. Os
romeiros fazem crescer hotelaria,
comércio e setor alimentício, tornando a cidade o maior centro de
peregrinação religiosa da América.
“Paciente acamado” recebe cuidado especiais
Márcia Simões
Atendimento na Vila Fátima
Vicenzo Pinto/AFP
O projeto de assistência ao paciente acamado na Vila Fátima auxilia
pessoas doentes que não têm mobilidade para ir ao Centro de Extensão
da Pontifícia Universidade Católica
(PUC) situado no Bairro Bom Jesus,
em Porto Alegre. Com sete áreas de
atuação, o projeto não é voltado só
ao tratamento médico, mas também
aos cuidados e à qualidade de vida do
enfermo no seu dia-a-dia.
A ação iniciou há mais de um
ano. Em 2006, foram 972 visitas
aos doentes na comunidade, uma
média de 2,6 por dia, já que uma
equipe presta atendimentos ao
mesmo paciente mais de uma vez
por dia, fazendo curativos, cuidando
a instalação e a retirada de soro e
outros procedimentos necessários
à pessoa acamada. Esse trabalho
envolve várias especialidades, tendo
a participação de alunos das Faculdades de Enfermagem, Fisioterapia,
Medicina, Nutrição, Odontologia,
Psicologia e Serviço Social. De acor-
do com a responsável pelo programa Patrícia Lichtenfels, médica de
família, o projeto é importante para
a comunidade, pois “muitas vezes
encontramos situações caóticas de
abandono e violência, e as vítimas
não têm condições de ir até o Centro, por isso vamos até elas”.
O diferencial do trabalho feito
na Vila Fátima é a abordagem. A
maioria dos enfermos está em fase
terminal ou estão em cadeira de rodas, por isso o acompanhamento é
de longo prazo. A preocupação com
o estado de saúde é tão relevante
quanto os cuidados que a pessoa
terá em casa, sem o auxílio médico.
“Treinar e motivar os familiares a
ajudar no tratamento são preceitos
do projeto de assistência ao paciente acamado, para evitar futuras
internações hospitalares. Devido
ao estado avançado das doenças, o
melhor mesmo é manter as pessoas
em casa, num ambiente familiar, já
que o hospital não pode mais fazer
a diferença”, explica a coordenadora
de Enfermagem, Marilda Bariviera.
4 ÚLTIMas
Porto Alegre, maio 2007
recortes
Tatiana Feldens
Liberdade de imprensa: Brasil em 90º lugar
A org anização
Freedom House, que
monitora a liberdade
de expressão no mundo, anuncia que, no
Brasil, há liberdade
“parcial” de imprensa. Em seu relatório
anual de 2007, o Brasil está na 90ª colocação no ranking sobre
o tema, ao lado do
Timor Leste. Na lista
liderada por Finlândia e Islândia, nações
como Alemanha, Irlanda e Estados Unidos compartilham
a 16ª colocação. A
avaliação é feita com
base no “ambiente
jurídico em que os
meios de comunicação operam, nas influências políticas na
atividade jornalística,
no acesso à informação e nas pressões
econômicas sobre o
conteúdo e a distribuição de notícias”.
O estudo “A liberdade de imprensa
em 2007”, publicado
na véspera do Dia
Mundial da Liberdade de Imprensa
(03/05), revela a deterioração da liberdade de expressão na
Venezuela, Argentina e Brasil, devido
à ação do Estado e
das condições de segurança. “Menos da
metade dos países latino-americanos têm
hoje imprensa livre,
o que reflete um declínio geral” nas condições de trabalho
para os jornalistas
da região nos últimos
cinco anos, diz o documento. A Freedom
House ressalta ainda
que “a percentagem
de países latino-americanos classificados
como tendo liberdade
de imprensa caiu de
60% para 48%” desde 2002.
Longe do Sol e dos oito planetas
Há vida fora da Terra? Certamente, você já se fez a pergunta.
Em abril, cientistas europeus de
três centros de pesquisa – França,
Portugal e Suíça – anunciaram a
descoberta de um planeta fora
do sistema solar. Menor do que
a Terra e com temperaturas entre
os 0ºC e os 40ºC, o achado faz a
comunidade científica sonhar com
a possibilidade de encontrar vida
noutro planeta.
Ainda sem nome registrado,
o planeta está a 20,5 anos-luz da
Terra, na constelação de Libra,
gira em volta de uma estrela vermelha e aparenta ter condições
de ser habitável. Demora 13 dias
para completar a órbita e tem
cinco vezes a massa da Terra. A
NASA quer descobrir se no planeta existe vida realmente.
Ricardo Romanoff / Hiper
Suspeita de privatização no Araújo Viana
Interditado desde 2005, o
auditório Araújo Vianna volta a
debate com as suspeitas de irregularidades no projeto que prevê a
recuperação do local. Pela proposta da Prefeitura, o auditório terá
cobertura fixa, vedação acústica
e climatização, além de reformas
estruturais no palco, poltronas e
iluminação. O investimento, em
Parceria Público-Privada, deve
alcançar os R$ 7 milhões.
O vereador Marcelo Danéris
(PT) diz que há problemas no
edital de licitação da obra. Pelo
documento, a empresa vencedora poderá cercar o auditório
com grades, o que somente seria
permitido com a aprovação da
população através de plebiscito.
O vereador aponta como irregular
a possibilidade do permissionário
gerenciar o funcionamento do bar
do auditório, sem abertura de nova
licitação, e o fato de a empresa
vencedora ter o direito de utilizar
o espaço em 75% das datas anuais,
durante dez anos, ficando os dias
restantes reservados aos eventos
da Prefeitura. O secretário municipal de Cultura Sergius Gonzaga
defendeu a necessidade das obras,
mas prometeu reformular o edital
de licitação.
HIPERTEXTO
Piauí: geléia criativa
João Moreira Salles apresenta revista de estilo literário
Thiago Marques/ Hiper
Maria José Mendes da Silva
Para o documentarista João Moreira Salles histórias bem contadas
nunca saem de moda. Por isso, a
revista mensal Piauí, editada por ele
e lançada em outubro de 2006, não
dá prioridade à abordagem de temas
da atualidade. Esse e outros comentários Moreira Salles fez no auditório
da Famecos, dia 24 de abril, ao falar
sobre Jornalismo Literário. Idealizador da Piauí, o economista começou
sua carreira no cinema incentivado
pelo irmão mais jovem, o cineasta
Walter Salles Jr.
Essa raiz cinematográfica de
Moreira Salles confere à publicação
um caráter narrativo, construída
como ficção, mas que trata do mundo real. “Histórias bem contadas
nunca saem de moda”, afirmou ao
explicar que a Piauí busca tratar de
temas interessantes contados com
drama, tensão e que empreguem
um vocabulário rico. As matérias são
bastante extensas, pois “o texto tem
o tamanho que deve ter”.
Na palestra, contou que se sentia
órfão, uma vez que não encontrava
algo que o entusiasmasse nas bancas.
A partir dessa carência pessoal, idealizou a Piauí. Ele nega a inspiração
na tradição do jornalismo literário
anglo-saxão, da revista The New
Yorker e também rejeita qualquer
ambição de reformar o jornalismo
praticado no Brasil. “Existe excelente jornalismo e mau jornalismo,
nossa idéia é seduzir o leitor com
textos bem escritos”, assegurou.
Na contramão do estilo hard
news, da busca incessante pelo furo
jornalístico e dos chamados “ganchos” – datas, temas e fatos que
conectam e empregam sentido às
notícias – tão exigidos nas redações
de jornais, sites de notícias, rádios e
telejornais, a Piauí quer divertir, não
ser sisuda nem militante. “O Brasil
é uma zona, uma bagunça, é muita
pretensão querer colocar ordem no
país”, observou. Ele acredita – e
defende – que mais vale a descrição
e a forma do texto do que o assunto
em si. “A revista não trata de novos
temas, mas é uma nova maneira de
falar sobre velhos assuntos. Não
temos pressa e não ter pressa é
muito bom”.
De acordo com o documentarista, as matérias levam cerca de dois
meses de apuração, reflexão e produção. Os temas fogem ao padrão,
pois não têm a obrigação de seguir
o noticiário. Sem meias palavras,
Moreira Salles define o sistema da
redação da Piauí como anárquico,
sem seções estanques e com a combinação de jornalistas experientes
João Moreira Salles realizou palestra sobre a revista Piauí em abril
como Mario Sergio Conti e Danuza
Leão com jovens talentos como
Vanessa Barbara, Cecilia Giannetti e
Daniel Galera. Essa liberdade define
o regime de informalidade absoluta
com o qual a revista é feita. “Não
há nenhuma formalidade na escolha
das matérias, tampouco são feitas
reuniões de pauta”.
Miscelânea
O horóscopo da revista é feito
somente por céticos, e se o leitor
adivinhar quem é o autor, ganha
uma assinatura. O tom descontraído
permanece na idéia do Grande Concurso Literário que também é uma
das inovações da revista. O leitor que
melhor utilizar numa história a frase
solta, publicada na edição, tem seu
texto impresso na revista.
Moreira Salles disse que essa
miscelânea de interação com os
leitores, assuntos sérios, leves, engraçados e cuidados com a forma
compõem a essência da Piauí. “É
uma geléia, mas tem gente que gosta
de geléia”. A escolha do nome, explicou o diretor, foi pela sonoridade
das vogais que compõem a palavra
Piauí, tornando-a melodiosa.
Segundo o plaestrante, a informação está em crise. As notícias pela
internet e pelo celular dinamizaram
a leitura e as publicações impressas tiveram que se adaptar a essa
rapidez. A proposta dos jornais é
que se possa fazer uma leitura ágil.
Em oposição a toda essa rigidez, a
sensação de ineditismo e nostalgia
provocada pelo tamanho da Piauí,
igual ao da antiga revista Cruzeiro,
remete à percepção de diversificação
da prática jornalística. “Não é uma
revista que tenta homogeneizar o
texto, é muito autoral”, avalia Moreira Salles.
Como a maioria das publicações,
o modelo de negócios da revista
depende essencialmente de publicidade e de assinaturas. No site da
Piauí, o internauta pode encontrar a
sua reprodução.
Com relação à carreira paralelde
documentarista, ele avisa que, depois
que a revista estiver “nos trilhos”,
voltará a filmar.
A presença de João Moreira
Salles na Famecos é parte de um
conjunto de iniciativas que aprofundam e diversificam o ensino e a
prática do jornalismo, em particular
o gênero literário. A idéia partiu
dos professores da disciplina de
Jornalismo Literário, Bete Duarte e
Vitor Necchi.
HIPERTEXTO
Economia 5
Porto Alegre, maio de 2007
Taidje Gut/Hiper
Sindicato forte e mais
próximo dos jornalistas
Novo presidente pretende visitar as redações, aumentar o
número de sindicalizados e dar atenção às assessorias
Bruna Holler Petry
Piso salarial único, criação dos
núcleos de jornalistas da web, para
acompanhar a expansão do novo
mercado, e de saúde dos jornalistas
são algumas das iniciativas que o
novo presidente do Sindicato dos
Jornalistas Profissionais do Rio
Grande do Sul, José Nunes, 38 anos,
pretende adotar. Ele também quer
dar continuidade às propostas que
já faziam parte da gestão anterior
como a regulamentação da profissão
e a exigência do diploma.
A nova diretoria assumiu em 28
de março, mas a solenidade de posse
ocorreu somente em 19 de abril.
Apesar de chapa única, muitos jornalistas se expressaram e Nunes teve
700 votos, numa eleição considerada
a maior dos últimos dez anos. Talvez
isto tenha acontecido por ele ser o
primeiro presidente com atuação no
interior (reside e trabalha em São
Leopoldo), mas isto mostra também
que a entidade ainda atrai muitos
profissionais que buscam seus ideais.
Apesar disso, José Nunes explica que
“o Sindicato tem em média três mil
associados, mas infelizmente muitos estão inadimplentes. Na nossa
gestão queremos nos aproximar
mais do jornalista, visitar redações,
pois precisamos de uma base forte
para lutar pelos nossos interesses”.
Ele pretende criar um núcleo de
saúde para cuidar da integridade
física e mental dos profissionais,
devido aos problemas que atingem
os jornalistas.
A nova diretoria promete dar
atenção especial às assessorias de
imprensa. Atualmente, 70% dos jornalistas no Estado trabalham como
assessores. Dentro do Sindicato este
número representa quase 40% dos
profissionais filiados.
Nunes considera que, em muitos
casos, as empresas de assessoria
colocam muito “peso nas costas dos
jornalistas”. Segundo ele, “as empresas de assessoria colocam jornalistas
para exercer as funções dos relações
públicas e com as dificuldades dos
mercados os profissionais não podem negar. As assessorias deveriam
integrar as três áreas da comunicação, jornalistas, relações públicas e
publicitários, mas isto não aconte-
ce”. Nunes explicou ainda que por
este motivo, o Sindicato enfrenta a
concorrência com o Conselho de
Relações Públicas, por estes acharem
que assessoria de imprensa é função
do RP, enquanto, na verdade, é de
jornalista.
José Nunes, que já trabalhou no
Pioneiro e na Zero Hora, considera
excelente a entrada do Grupo Record no Estado: “Vai movimentar
o mercado de comunicação que
está estagnado. Além disso, deverão
surgir novas vagas, principalmente
na TV, mais investimentos nos veículos e aumentará a concorrência
entre eles”. As dificuldades que terá
pela frente não o assustam, pois está
consciente das responsabilidades de
ser líder de uma entidade diferenciada e com grande representatividade
política. “É uma honra para qualquer
jornalista estar à frente deste Sindicato. Com certeza vou precisar do
apoio de todos os jornalistas para
ter um bom desempenho”. Nunes
adiantou que pretende implantar
ainda o prêmio Jornalista Cidadão
de Fato para atrair e motivar os
profissionais da área.
Nunes quer criar núcleo para cuidar da saúde dos profissionais
Negro continua longe dos cargos de chefia
Thais Silveira
“O que falta é um Martin Luther
King para vocês, senão terão de
esperar muito tempo”. A frase é do
jornalista afro-americano Bob Butler
que esteve palestrando em Porto
Alegre, no dia 20 de abril. O comentário serviu para assinalar que nunca
houve uma liderança brasileira que
representasse a negritude e mostrasse sua força política para promover
mudanças. Butler considera importante que os negros ocupem cargos
Sabrina Feijó/Hiper
Butler sugere mais indignação
de chefia e estejam representados
nas empresas de mídia, como saída
para maior visibilidade da população
negra. O evento foi promovido pelo
Núcleo de Jornalistas Afro-Brasileiros do Sindicato dos Jornalistas
Profissionais do Rio Grande do Sul
(SJPRS).
O jornalista esclareceu que, nos
Estados Unidos, a libertação dos escravos aconteceu em 1863, quando o
presidente Abrahan Lincoln assinou
a Proclamação de Emancipação. No
Brasil, em 13 de maio de 1888, a
Princesa Isabel assinou a Lei Áurea,
que decretava o fim da escravidão. A
“liberdade” ficou apenas no papel,
e até hoje os negros brasileiros enfrentam a discriminação.
A luta pela liberdade nos Estados
Unidos estava apenas começando.
Negros e brancos ainda tinham
escolas separadas, assim como os
vagões de trem, lugares nos ônibus,
máquinas para tomar Coca-Ccla e
salas-de-espera. O estopim para a
indignação da comunidade negra
americana foi a morte do garoto
Emmett Till, em 1955, linchado por
um grupo de racistas, no Mississipi.
Surgiram movimentos e protestos
anti-racismo e em agosto de 1963
um ato mudou a história: a Marcha
pelos Direitos Civis. A conquista
veio um ano depois, com a assinatura da Lei dos Direitos Civis, que
erradicava a discriminação do país.
No Brasil, o preconceito sempre existiu de forma mais velada
e o negro por muito tempo teve
sua imagem relacionada apenas ao
esporte, samba, páginas policiais ou
serviçais nas novelas. O jornalista
do Diário Gaúcho, Renato Dornelles, afirma que a pouca presença
de negros na mídia é um reflexo
da sociedade: “Da mesma forma
que a taxa de desemprego entre
negros é proporcionalmente maior,
assim a participação de negros em
funções que exigem escolaridade
maior também é proporcionalmente
menor, a participação na mídia ainda
é menor”.
Uma pesquisa divulgada pela
Fundação Palmares a partir do es-
tudo do cineasta Joel Zito Araújo,
“Onde está o negro na TV Pública”, concluiu que mais de 90% dos
apresentadores e jornalistas das
TVs públicas não são negros nem
índios, parcela que mais representa
a população brasileira. A jornalista
e militante do Movimento Negro,
Vera Daisy Barcelos, aponta qual
deveria ser o papel do negro na
comunicação: “O papel do negro
como comunicador é perceber que
a imprensa brasileira deixa a desejar
no que diz respeito às questões
sociais”.
Butler aponta a pressão econômica para que as mudanças aconteçam.
Como exemplo, citou o caso de Don
Imus, apresentador da Rádio CBS,
que foi demitido por ter chamado
as jogadoras de uma equipe de basquete universitário de “prostitutas de
cabelo pixaim”. Vários anunciantes
boicotaram o locutor. Todas estas
pessoas que pressionaram economicamente eram negras que ocupavam
cargos de chefia e puderam expressar sua indignação.
Reação ao
separatismo
A falta de apoio da mídia no
Fórum Social Mundial 2002, fez
surgir o Núcleo de Jornalistas AfroBrasileiros. Jeanice Ramos, uma das
integrantes do Núcleo, defende a
reação da população negra ao separatismo que existe na sociedade:
“Vamos procurar formas de marcar
presença e melhorar nossas condições de trabalho”. Ainda ressalta a
necessidade das ações afirmativas
(bolsas de estudo, cotas): “Também
temos uma idéia de cotas nas redações, tudo é válido”.
Jeanice valoriza o dia de Zumbi
dos Palmares, 20 de novembro, e
questiona a comemoração do dia
13 de maio: ”Como o negro não era
mais uma moeda, foi descartado, e
isso fez com ele se distanciasse da
sociedade. O negro merece uma
reparação”. O Núcleo se reúne
na terça-feira, às 10h, na sede do
Sindicato dos Jornalistas do Rio
Grande do Sul. São desenvolvidos
seminários, palestras, e participação
nas Cojiras- Comissão de Jornalistas
pela Igualdade Racial.
6 eSpecial
Porto Alegre, maio de 2007
H IPERTEXTO
Em quinze anos, o Planeta
Meteorologista gaúcho diz que aquecimento é apenas uma fase, contrariando tese de que
Mariana Baierle Soares e
Michele Rolim
“No futuro, em 10 ou 15
anos o mundo estará preocupado
com o resfriamento da Terra”,
prevê o biólogo e meteorologista
Eugênio Hackbart, da Metsul
Meteorologia – antiga Rede de
Estações de Climatologia Urbana
de São Leopoldo. Contrariando as
previsões de aquecimento global
– como da Organização das Nações
Unidas (ONU) alertando que 30%
das espécies serão extintas, relatório
divulgado neste mês -, ele as considera
“alarmistas” e “catastróficas”. Para
Hackbart, o fenômeno que está
sendo discutido agora nada mais
é do que um aquecimento natural
deste período.
O aquecimento é da atmosfera
e não do continente, argumenta.
Caso contrário, se deveria analisar o
magma incandescente (o centro da
Terra), que chega a uma temperatura
de até oito mil graus. “O grande
fator de aquecimento da atmosfera
é a atividade solar”, garante. A teoria
da MetSul Meteorologia é de que o
aumento de calor ou de frio acontece
de forma cíclica, ou seja, ciclos de
resfriamento e de aquecimento se
alternam na história da Terra.
“Na década de 70, a grande
discussão era a preocupação com o
congelamento do Planeta”, lembra
o meteorologista. Inclusive, em
julho de 1974, O Estado de São
Paulo divulgou que o mundo se
encaminhava para uma nova era
glacial, diz mostrando o jornal.
“Nós estávamos justamente num
período de resfriamento do Planeta,
na verdade, chegava ao fim esse
processo”. Ou seja, “o aquecimento
discutido, analisado e apresentado
agora nada mais é do que um
aquecimento natural deste período
e que se fez presente nas décadas de
30 e 40”, sustenta Hackbart.
O sol, com seu ciclo constante
de aproximadamente 11 anos, e o
Oceano Pacífico, com tendências
predominantes que duram de 20 a 30
anos (Oscilação Decadal do Pacífico),
determinam o comportamento
da temperatura no Planeta. Nas
fases frias, como observadas no
começo do século 20 (anos 50
e 60), o planeta se resfria e, nas
quentes (anos 30 e 40 e décadas de
80 e 90), observa-se o aquecimento.
“Isso é possível de se observar
pelos gráficos e registros históricos
que temos dos últimos cinco, seis
ciclos”. Na MetSul Meteorologia é
realizado acompanhamento diário
das temperaturas máxima e mínima,
umidade relativa do ar, velocidade
dos ventos, pressão atmosférica,
velocidade e direção dos ventos e
condições climáticas desde 1987.
“Os gráficos que os institutos têm
disponíveis, com mais de cem anos
– em 1850 os Estados Unidos
já tinham registros regulares –,
registram exatamente esses ciclos
de aquecimento e resfriamento”,
explica.
Hackbart refuta a tese de que
o inverno hoje não é mais tão
frio como antigamente, conforme
está no senso comum. “Se há
comprovação de que temos ciclos
climáticos, era previsível que, nessa
época, teríamos o aquecimento
da atmosfera. É natural. Há 60
anos poderíamos dizer isso porque
os ciclos são regulares”, garante
Hackbart.
Por isso, o acompanhamento
meteorológico ao longo das décadas
é importante. “Infelizmente, a
utilização da meteorologia é muito
imediata. A mesma população que
acompanha a previsão do tempo
para saber se vai chover, não utiliza
os dados da meteorologia para seu
negócio. Para ele, a formulação
de tendências climáticas é
extremamente útil ao planejamento
das empresas e do setor rural. A
tecnologia hoje existente já permite
antecipar cenários de seis meses a
um ano, indicando risco de estiagem
ou chuva excessiva.
Atividade humana
O meteorologista Solismar
Damé Prestes, do 8º Distrito de
Meteorologia, pondera que o
aquecimento se dá devido a dois
fatores: à questão natural, sempre
ocorreu aquecimento no Planeta, e
devido ao efeito do homem. “Mas
o quanto cada um dos fatores
contribui para o aquecimento,
não temos como quantificar”,
acrescenta.
Eugênio Hackbart não
considera correto afirmar que 90%
do aquecimento é causado pela
atividade humana, como o Painel
Intergovernamental de Mudanças
Climáticas da ONU (IPCC). “Que
o Planeta está aquecendo, está. Nós
não negamos isso. O que está em
discussão são causas”, afirma. Ele
concorda que o homem maltrata
e envenena o Planeta – “e isso é
absolutamente condenável” -, mas
concluir que o aquecimento da
atmosfera é conseqüência quase
integral da atividade humana é
“altamente discutível”, pois se trata
de “uma questão natural do próprio
ciclo que vivemos hoje, assim como
aconteceu em séculos anteriores,
ciclos bem definidos de 25, 30 anos”,
defende Hackbart.
Hoje essa questão se tornou
uma “neurose”, diz. Alega que em
aquecimento anteriores, o Planeta
e as espécies não desapareceram,
ocorrendo o resfriamento posterior.
Os recordes de calor no Rio Grande
do Sul são dos anos 1917 e 1943. “Se
a população se guiar por tudo que
está sendo sublinhado pela mídia
como verdadeiro, perderá todas as
esperanças. Mas se analisarmos o
retrospecto histórico, veremos que
não é bem assim”.
Carla Ruas/Hiper
“Qualquer calor de 35 graus é atribuído ao aquecimento global. Não é por aí”, explica Hackbart
HIPERTEXTO
Especial 7
Porto Alegre, maio de 2007
estará resfriando Canoas altera
aviação
rota de Hércules
é constante o aumento da temperatura da Terra
O aumento e a intensidade
dos fenômenos climáticos, como
furacões, não são evidências de
interferência humana no clima. “Os
maiores especialistas do mundo em
ciclones concordam que os intensos
furacões de 2004 e 2005 que atingiram os Estados Unidos tiveram
como causa principal um ciclo natural de aquecimento do Atlântico
Norte”, postula ele.
Hackbart também não compartilha da hipótese levantada de
que o aquecimento é constante e
irreversível. “Sequer se projeta a
possibilidade de que daqui 10 ou 15
anos se observe novo resfriamento”.
Os relatórios divulgados pelo Painel
Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC) e a Organização
Meteorológica Mundial (OMM) nem
mesmo mencionam essa possibilidade, critica. Ele alerta para responsabilidade na divulgação destes
relatórios sobre o estado emocional e
psicológico da humanidade. Defende a necessidade de tornar o Planeta
mais saudável, menos agredido. “Por
outro lado, sabemos que a atmosfera
tem grande capacidade de renovação.
Apesar de toda essa barbaridade, da
agressão, ela tem mecanismos de
recuperação”.
Solismar Prestes, do 8º Distrito
de Meteorologia, não compactua
das idéias de Hackbart. Assinala
que, desde 1995, se observa o aquecimento mais intenso e gradual do
globo terrestre e não visualiza um
possível resfriamento. Acredita que
o aquecimento hoje pode ser visto
Carla Ruas / Hiper
Dois aviões de carga C-130 Hércules e 15 militares da Força Aérea
Brasileira (FAB) do Rio de Janeiro
chegaram a Canoas no início de
maio para treinar instrutores. A opção pelo treinamento do Esquadrão
Gordo no Estado se deveu às boas
condições de tráfego aéreo e relevo
no período de outono.
Porém, a FAB não contava com
a reação dos moradores, principalmente os situados próximos à Base
Aérea, que reclamaram do barulho
e do perigo dos vôos baixos das
aeronaves na região. Para explicar à
comunidade as razões do aumento
do movimento, a FAB decidiu
convidar jornalistas para conhecer
o treinamento e as aeronaves Hércules. No dia 11 último, repórteres
e fotógrafos sobrevoaram Canoas e
Porto Alegre e assistiram à simulação de pouso no Aeroporto Salgado
Filho. A aeronave escolhida para o
vôo da imprensa foi a C-130 Hércules. Dois aviões deste modelo foram
trazidos do Rio especialmente para
treinar instrutores do 1º Esquadrão
do 1º Grupo de Transporte, o Esquadrão Gordo. Desde o inicio dos
exercícios, em 2 de maio, o número
de decolagens aumentou consideravelmente. O coronel Marcos Aurélio
Santos Martins, responsável pelo
esquadrão, informou que eram oito
vôos diários, com duração de quase
uma hora.
Apesar dos vôos baixos, o coronel assegurou que não havia risco.
“Para integrar o esquadrão é necessário ter cinco anos de formação,
fora os anos de Instrução básica”,
esclarece. Além disso, o avião C-130
Hércules é considerado resistente,
já que é utilizado em missões humanitárias, de transporte logístico,
lançamento de pára-quedistas e
reabastecimento em vôo. Comporta 18 toneladas de carga ou até 90
passageiros. O Esquadrão Gordo
participou das buscas dos destroços
do Boeing 737 da Gol, no dia 29 de
setembro de 2006 e das ações do
Mundo
Poluição agride meio ambiente e provoca alterações no clima
de forma positiva para a humanidade. A partir do aumento de calor,
o mundo passou a se preocupar
com fontes renováveis de energia e
biocombustivel. “Se não ocorresse
isso, talvez a humanidade fosse
depender sempre do petróleo”,
exemplifica. Hackbart contesta dizendo que a influência da atividade
solar na temperatura planetária está
comprovada em estudos da Nasa e
por outros centros de meteorologia
do mundo, acrescentando que o
aquecimento do planeta teve início
ainda no século 19, com o término
da pequena idade do gelo, quando
os níveis de emissão de poluentes
eram irrisórios.
“Há interesses por trás da tese de
aquecimento global”, diz geógrafo
Há interesses políticos e
econômicos por trás da questão
científica do aquecimento global
na visão do geógrafo Marcos Iob
Boldrini, formado pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. “A
ONU é um órgão que advoga
aquecimento global. Então, quem
está articulado a ela acaba, de certa
forma, ficando amarrado a esse
consenso”.
Boldrini afirma que
“movimentos aparentemente de
massa, assim como os órgãos
ambientais, são claramente grupos
ligados à esquerda, ideologicamente
definidos”.
Por trás do discurso de que
o mundo está aquecendo, está
implícita uma critica ao capitalismo,
que utiliza mal os recursos do
Planeta. Boldrini também contesta
Carla Ruas
a crença de que os Estados Unidos
é o maior culpado do aquecimento
da Ter ra. “É um movimento
antiamericano. Na verdade, o vilão
do momento é o maior poluidor
da atmosfera e de uso de dejetos,
mas também é o país que produz as
soluções mais viáveis contra isso”.
Para o biólogo e meteorologista
Eugênio Hackbart, as notícias
alarmantes são também uma forma
de ameaça e pressão. “Já que a
Amazônia vai desaparecer, por que a
gente não tira o máximo de madeira
de lá? Para não apodrecer”, ironiza
o meteorologista.
No site da MetSul Meteorologia
(www.metsul.com), Hackbar t
diz, no início de 2007, o mundo
foi bombardeado por notícias e
previsões alarmantes a respeito do
aquecimento global. Uma matéria
do jornal inglês The Independent
suscitava a previsão de que o ano seria
o mais quente da história, utilizando
como fonte a unidade de Pesquisa
sobre o Clima da Universidade de
East Anglia. A reportagem não
informava que, na década de 70,
a mesma universidade assinou um
trabalho intitulado “Há 30 anos a
Terra se esfria”, fornecendo dados
correntes e históricos que levaram
à conclusão sobre um resfriamento
global.
O problema está nas pessoas que
transmitem o conhecimento, explica
Boldrini. “Em um debate sobre
o aquecimento global, se alguém
da imprensa pega só um lado da
questão e coloca isso na TV Globo,
líder de audiência, para o povo leigo
que não tem conhecimento, é uma
verdade absoluta”.
Sarkozi alinha França à
Europa conservadora
Fernando Rotta Weigert
Com a posse do conservador
Nicolas Sarkozi na presidência da
França, eleito no início de maio, o
continente europeu reforça o perfil
neoliberal. Ele venceu com 53,06%
dos votos a candidata de esquerda
Ségolène Royal que fez 46,94%. Sua
foi campanha baseada em propostas
simples, defendendo o trabalho
como valor absoluto. Sarkozi é uma
aposta ainda desconhecida, pois não
tem um grande histórico político.
Com ele na presidência, a França
reafirma a tendência mais conservadora da Europa indicada pelos
últimos governos da Alemanha e
da Inglaterra.
O novo presidente diz que para
haver crescimento econômico devem ser retidos os gastos públicos.
Na campanha defendeu baixar de
60% para 50% a alíquota máxima
de imposto de renda, cortar pensão
dos desempregados que recusarem
três ofertas sucessivas de emprego e
limitar direto de greve, entre outros
projetos econômicos.
Um dos campos mais complicados da política francesa é a imigração. Em 2005, houve manifestações
violentas, com a queima de mais
de mil carros, feitas por filhos de
imigrantes árabes e negros, devido
à morte de dois jovens, pela polícia,
na periferia de Paris. O plano de
seu governo prevê a criação do Ministério da Imigração e Identidade
Nacional para implantar uma política que pretende a identificação dos
imigrantes com os ideais franceses,
reduzir o ingresso ilegal e promover
o “seletivo”, preferindo estrangeiros
qualificados. O novo ministério foi
rotulado pela oposição como “ministério da discriminação”.
Na política externa, postou-se
radicalmente contra. O presidente
eleito deseja maior aproximação
com EUA, porém alerta que não
haverá total concordância com a
linha de pensamento norte-americana, mas a abertura de um amplo
espaço para discussão. O fato é que mais uma vez a política do país se mostrou polarizada
entre esquerda e direita, como o
acontece desde a Revolução Francesa. Segundo o mais polêmico filósofo francês Bernard-Henri Lévy,
essa eleição indicou que a esquerda
deve se reinventar e Sarkozi, ao
absorver o discurso extremamente
nacionalista da Frente Nacional partido de extrema direita eliminado
no primeiro turno - pode ter caído
em uma armadilha. Agora é preciso
habilidade para não ceder ao discurso autoritário.
8 POLÍTICA
Porto Alegre, maio de 2007
HIPERTEXTO
Taidje Gut / Hiper
Um estado de crise
Ex-governadores comentam sobre os problemas do
paradoxo gaúcho: um estado rico com governo pobre
Fabiana Klein
O estado brasileiro que apresenta o melhor Índice de Desenvolvimento Humano (segundo a
ONU), uma das maiores rendas per
capita, além de ser um dos grandes
exportadores do país, é também um
estado em crise financeira. Enquanto a economia está diversificada em
um grande parque industrial e na
força do agribusiness, o setor público
gaúcho se mostra debilitado por uma
enorme dívida.
Na condição privilegiada de exgovernantes do estado, Jair Soares,
Alceu Collares e Antonio Britto
analisam este quadro. Eles admitem
que suas realizações ficaram aquém
dos seus desejos, que tentaram e
esbarraram em forças que não puderam controlar. Entre comentários
solidários e críticos concordam: o
que precisa ser feito deve envolver
as forças da sociedade, e não apenas
por um ou outro governo.
“Tenho pena do próximo governador” (Jair antes da eleição)
Contatar hoje com Jair Soares
é fácil. Alguns telefonemas e duas
horas depois: ele próprio liga para o
meu celular. A entrevista é agendada
para dali a dois dias. O encontro foi
pela manhã, na residência que fica
na Zona Sul. Sem formalidades, me
convida para segui-lo, entramos na
casa e nos sentamos na primeira
sala em uma mesa de madeira. Jair é
austero nos seus modos e fala com
educação, tem jeito de gente que
faz, acho que só não lavou o carro
ele mesmo porque tinha que me dar
a entrevista. Delegou a função para
o jardineiro.
“A gravidade da crise atual me
faz sentir solidariedade para com a
nova governante”, diz Jair Soares.“A
Constituição de 1988, com todos os
benefícios que passaram a ser prestados pelo Estado; a Lei de Responsabilidade Fiscal, com todas as suas
restrições, o fim da inflação – que
permitia ao governante reduzir os
custos de suas dividas, esses fatores
tornou o ato de governar algo dificílimo atualmente”, observa.
Com voz pausada, ele dita números, se declara um executivo que
passou para a vida pública. “Não
aumentei a dívida do Rio Grande em
meu governo. No governo Rigotto,
a dívida já era de R$ 3 bilhões, sem
correção, e de 4,5 bilhões corrigidos.
Além disso, o governador usou R$
1 bilhão de depósitos judiciais. Este
dinheiro tem que ser devolvido.
Como a governadora irá solucionar
algo desse tamanho em um estado
ainda deficitário?”
O estado não pode gastar mais
do que 60% da receita com pessoal.
O estado tem ainda que gastar 35%
do que arrecada com educação, 12%
com a saúde. Faltam as despesas de
custeio e o percentual comprometido com a União, de 18% da receita.
“Não é preciso ser matemático para
perceber que os números ultrapassam todas as possibilidades de
arrecadação”, ironiza
receita de Jair
l Resolver o problema estrutural. Sem isso não há um novo jeito
de governar;
l Apertar a fiscalização do
ICMS e IPVA;
l Cobrar a dívida ativa, de R$
15 bilhões;
l Aparelhar o Fisco;
l Controlar os incentivos a
serem concedidos e auditar os incentivos em vigor;
l Cobrar de verdade os créditos
que o estado tem com a União.
“Yeda Crusius ainda não tem um
programa” (Alceu Collares)
Com agenda disponível, o exgovernador Alceu Collares marca
a entrevista para o dia seguinte, às
10h30min. Na porta da residência
também na Zona Sul, depois de
escutar o som de uma campainha
solene, quem me recebe é uma serviçal de uniforme de catálogo, cinza
com detalhes em branco, avental e
tiara na cabeça. Collares me espera
no escritório. Pergunta se tenho
problema de tempo. “Posso começar
do começo?” No meio da entrevista,
espia meu bloco e pergunta: quando
é que tu vais fazer a pergunta onde
vou poder falar mal dela?
A crítica ao atual governo é
direta. “O que é esse novo jeito de
governar? Somente ela sabe”. Para
o ex-governante, existe apenas um
jeito de governar “com as pessoas, usando os recursos públicos
da melhor maneira possível, para
o maior número de pessoas, em
especial as que mais precisam”.
Saudoso do trabalhismo, Collares se
mostra descrente do atual governo
do Rio Grande. “Ao nem tentar
mudar a Lei Kandir, a governadora
Yeda desarma uma possibilidade
de equacionamento das contas do
estado”. O que espera da gestão
da nova governadora? “Ela vai ter
uma indigestão”, afirma Collares,
desapontado com o que entende
como loteamento da coisa pública
“como no Governo Lula”. “Um
governo deve ser coeso. O atual
tem 11 partidos na sua composição,
além de um vice-governador incontrolável”. O ex-governador diz que
assumiu com enormes dividas, que
negociou, e com desafios. Ao final
Passada a navalha no ministério
PF descobre esquema que envolve nove partidos políticos
Brenda Parmeggiani
Na manhã do dia 17 de maio, a
Polícia Federal deflagrou a Operação
Navalha. O objetivo: cumprir 48
mandados de prisão preventiva e 84
de busca e apreensão, sob a acusação
de fraudar licitações e direcionar verbas públicas. Na operação, 47 pessoas foram presas. O ministro de Minas
e Energia, Silas Rondeau (PMDB),
pediu demissão cinco dias depois.
Ele é suspeito de receber R$100 mil
de propina da Construtora Gautama. Nelson Hubner, secretárioexecutivo, assumiu interinamente a
pasta. Na carta a Lula, escreveu que
deixou o cargo para se defender das
acusações “descabidas e injustas”.
R$170 milhões de recursos teriam
sido desviados.
Nove legendas estariam envolvi-
das: Luiz Carlos Caetano (PT-BA),
Delcídio Amaral (PT-MS), José
Reinaldo Tavares (PSB-MA), Pedro
Corrêa (PP), Jackson Lagoas (PDTMA), Teotônio Vilela (PSDB-AL),
Adeilson Bezerra (PSDB), Nilson
Leitão (PSDB), Paulo Magalhães
(Democratas-BA), Ivan Paixão (PPSSE), Humberto Michiles (PR-AM),
Pedro Passos (PMDB), além do exministro Silas Rondeau (PMDB).
A situação financeira é complicada no Palácio Piratini
do governo, declara ter deixado o
maior crescimento do PIB gaúcho
em quatro anos: 23,43%. Distante
do segundo lugar do governo Olívio
Dutra, com 11% em quatro anos,
nos números de Collares.
receita de Collares
Não ao loteamento de cargos;
Coesão entre os integrantes do
governo;
l Reforma tributária;
l Reformulação da estrutura da
dívida;
l Não vender ações do Banrisul.
l
l
“Os projetos são superiores
aos recursos” (Antonio Britto)
Receptivo ao pedido de entrevista, Antonio Britto solicitou as
perguntas por e-mail. O retorno veio
duas semanas depois. “Morrendo
de vergonha, te digo que estive fora
os últimos dias, depois peguei uma
virose, um inferno. Se ainda tens interesse e paciência, estou às ordens.
Respondo por e-mail, falamos por
telefone ou marcamos uma hora
amanhã ou sexta. Desculpe”.Britto
estava audivelmente resfriado.
O ex-governardor Antonio
Britto está atento ao quadro atual,
mas não critica as medidas da governadora Yeda Crusius. “Quem
já ocupou o cargo conhece a sua
complexidade”, diz. “E governar o
Rio Grande significa governar um
povo que tem grandes expectativas
em relação ao governo”.
Atender a estas demandas se
tornou cada vez mais uma tarefa
difícil ou impossível, segundo Britto.
“A Lei de Responsabilidade Fiscal
redefiniu o que o governo pode
ou não fazer. Assumir dívidas com
o setor privado era um recurso
utilizado, que hoje não está mais
à disposição da governadora. As
demandas aumentam, os recursos
não acompanham. A missão se torna
quase impossível”.
Apesar de atuar no setor privado, que cobra resultados em prazos
curtos, o ex-governador não mostra
interesse em analisar as ações da
governadora nestes meses iniciais.
“Um governo é melhor avaliado no
futuro, quando se pode perceber
as suas qualidades. Quatro anos é
pouco tempo.”
receita de Britto
Ao comparar a crise do estado
a uma doença grave, na qual a
sociedade precisa aceitar as dores
para chegar a uma cura, Britto cita
os casos que considera de sucesso
encontrados no Brasil de hoje.
l “A solução é enfrentar a crise de
maneira conjunta, sociedade e governo, como está sendo feito pelos
estados de Minas Gerais, São Paulo
e Bahia, independentemente dos
partidos governantes”.
l
Rigotto, Simon
e Olívio Dutra
Outros ex-governadores foram
contatados para esta reportagem.
Rigotto não quis responder. A
assessora prometeu encaminhar as
perguntas, adiantando que “ele não
responde nada que se refira a atual
governadora Yeda”. Uma semana
depois, após o envio de outro email
reiterando o pedido, “peço-te desculpas, mas não poderemos atender
a tua solicitação, pois o ex-governador Rigotto está com muitos compromissos fora do Estado”.
Com o senador Pedro Simon
foi impossível agendar por que,
segundo a assessoria, tinha muitos
compromissos, inclusive, outros
pedidos de entrevistas feitos antes
deste. A assessora de Olívio Dutra
pediu desculpas, “ele queria muito
responder e participar, mas está
embarcando para Brasília”.
HIPERTEXTO
Segurança 9
Porto Alegre, maio de 2007
Violência urbana, solução difícil
Em pesquisa realizada pelo instituto Datafolha, a falta de segurança foi eleita maior preocupação
e o resultado se justifica: somente no mês passado, foram quase 200 mortes no Estado
Nicolas Gambin/ Hiper
Rafael Vigna
No mês de abril, 181 pessoas
foram assassinadas no Rio Grande
do Sul. Em Porto Alegre e na Região
Metropolitana, a morte violenta chegou a 66 casos. Em apenas quatro
dias, no feriado de Páscoa, aconteceram 24 homicídios na Capital.
Em 30 dias, morreram, no Estado,
o equivalente a uma sala de cinema
de shopping center com lotação
esgotada. Este filme é repetido, uma
trágica história, cuja causa e solução
parecem ainda distantes, embora o
Rio Grande do Sul entre os estados
brasileiros, seja um dos que apresenta índice menor de assassinatos.
A falta de segurança é o principal problema social identificado
em uma recente pesquisa realizada
pelo instituto Datafolha. Eleita por
31% dos entrevistados, a violência
supera – pela primeira vez em quatro
anos – o medo do desemprego e o
descaso com a saúde pública. Outra
pesquisa de opinião, a CNT/Sensus,
divulgada no início de abril, revela
que 81,5% dos entrevistados são
favoráveis à redução da maioridade
penal para 16 anos e 49% são adeptos da pena de morte como formas
de redução da violência urbana.
Mas quais são as verdadeiras causas
e origens deste mal que preocupa
a população? O que fazer para diminuir medo e vítimas da violência
urbana? Há quem peça um maior
policiamento nas ruas e punições
severas aos “bandidos”. Será essa a
fórmula para combater a questão?
O professor de Sociologia Jurídica e Criminologia da PUCRS
Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo
discorda dos “sensos comuns” que
emergem a cada discussão na mídia
e faz um alerta para os “paradoxos”
que algumas medidas podem proporcionar. Para ele, policiamento
ostensivo, redução da maioridade
penal, maior autonomia para os estados e punições mais duras não são
soluções. “Mal estruturadas algumas
ações podem ajudar a agravar o problema”, avisa o professor.
Entre 2000 e 2006, no estado de
São Paulo, os investimentos em modernização dos serviços, compra de
equipamentos, tecnologia de ponta
e treinamento de policiais levaram à
redução efetiva de crimes. Recursos
aplicados no sistema penitenciário
não acompanharam a tendência de
modernização da polícia. Como resultado, em São Paulo, estão cerca de
200 mil presos, equivalente a metade
da população carcerária do Brasil,
que chega a 400 mil presidiários.
“Nessas condições não é novidade
que apareça uma facção criminosa
como o Primeiro Comando da Capital (PCC)”, explica Ghiringhelli.
São Paulo é responsável por outro paradoxo na segurança pública.
Uma pesquisa do Núcleo de Estudos
de Violência (NEV) da USP conclui
que apenas 50% dos crimes geram
um boletim de ocorrência ou denúncias junto à polícia. Desses, 8% são
investigados através de um inquérito
Sociedade na mira: o contrabando de armas mune os criminosos para a batalha contra a polícia
criminal. 2% dessas ocorrências chegam ao sistema judiciário, que aplica
penas ou condenações em somente
1% dos casos. A justificativa para o
baixo índice de condenação, segundo o NEV, é e a falta de capacitação
investigativa da polícia que opera como uma espécie de cartório para
registro de ocorrências.
Estimativas do Banco Mundial
indicam que gastos com sistema
prisional, atendimento às vítimas e
outras variáveis da violência custam
Tudo começa pela desigualdade
Para a análise da violência urbana do país, a situação do Rio de
Janeiro mostra de maneira ampliada
os principais fatores que originam o
problema no Brasil. È o que pensa
o professor de Comunicação e Cultura da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ) e autor do livro
Sociedade Mídia e Violência (Ed.
Sulina, 2002), Muniz Sodré.
O crime organizado – principal
fonte de violência urbana – é fruto da
desigualdade social e de um descaso
histórico, argumenta Sodré. A população carente nos morros passou a
constituir “uma verdadeira sociedade
paralela”, onde existe um “plano de
carreira” das estruturas da criminalidade e do tráfico de drogas.
Com o consumo e a venda da
cocaína concentrados nos morros,
surgiram as estruturas de poder paralelo. Como a porta de entrada para o
contrabando de armas é a mesma da
droga, os traficantes tiveram contato
com armamentos de guerrilha, para
fazer frente à policia.
Muniz Sodré avalia que alguns
aspectos observados na Colômbia
– país em guerra civil há mais de 30
anos – fazem parte da realidade do
Rio de Janeiro. É o caso das milícias
armadas e os grupos de extermínio.
Formadas em grande parte por policiais, as milícias tomam o poder dos
traficantes e instituem uma taxa de
segurança a ser paga pelos moradores. A favela fica livre do tráfico, mas
a opressão continua ativa.
Os grupos de extermínio, também constituídos por policiais, agem
para realizar “verdadeiras limpezas”:
nvadem os morros e promovem
assassinatos de maneira indiscriminada. Essa situação, conforme
Sodré, contribui para a manutenção
de um sistema cíclico de violência e
intolerância que atinge toda a socie-
dade e produz índices superiores a
60 homicídios a cada 100 mil habitantes. Paralelo ao desenvolvimento
do narcotráfico, há um crescimento
das desigualdades e isolamento das
comunidades nos subúrbios. “Muitas
vezes a violência se apresenta como
uma resposta ao descaso histórico,
em que essas populações foram
submetidas”, analisa Muniz Sodré.
Ele ainda identifica questões pendentes: “Para combater a violência
é necessário ter vontade política.
Esse é um fator determinante, mas,
infelizmente, é difícil identificá-la nos
governantes. Sempre que alguém se
dispõe a mexer em problemas estruturais, como a corrupção na policia
é massacrado pela opinião publica
e derrubado pelas forças políticas”,
referindo-se ao subsecretario de
segurança do governo de Anthony
Garotinho, entre 1999 a 2000, o antropólogo Luis Eduardo Soares.
aos cofres públicos cerca de 28
bilhões de dólares por ano, o que
representa em torno de 6,4% do
Produto Interno Bruto (PIB). Pelos
cálculos do Banco Interamericano
de Desenvolvimento (BID), os
custos da violência chegam a 84 bilhões de dólares por ano. Em investimentos estrangeiros, o país deixa
de arrecadar em torno de 7 bilhões
por ano. Em países que investem na
prevenção contra a violência – como
Canadá, Austrália e Japão – a soma
dos gastos com a violência não chega a 1% do PIB anual. O professor
Ghiringhelli chama atenção para a
necessidade de um “novo olhar”:
- “Discutir penas mais longas e
policiamento efetivo, sem falar em
prevenção ao crime e nos custos
para o Estado não resolverá o problema da violência urbana no país.
Está na hora de abandonarmos os
sensos comuns e as soluções imediatas para começarmos a debater
prevenção à longo prazo”.
prevenção nos
CÍRCULOS RESTAURATIVOS
Círculos Restaurativos são
exemplo dos projetos pilotos de
prevenção à violência em funcionamento no Brasil. É o que
aponta a coordenadora do Núcleo
de Estudos Contra a Violência da
Faculdade de Serviço Social da PUCRS, Patrícia Grossi. Baseados em
programas canadenses, eles promovem a reintegração de menores
infratores a suas comunidades.
Segundo Partícia, “a experiência é inovadora e os resultados
bastante positivos”. Em alguns
casos, as vítimas que participam
dos Círculos ficam sensibilizadas e
até mesmo os agressores sentem-se
assim. “A experiência mostra resultados animadores na prevenção
de reincidência dos adolescentes
infratores”, comemora.
Programas governamentais
de prevenção à violência são uma
realidade recente. A coordenadora
de pós-graduação da Faculdade de
Serviço Social da PUCRS, Maria
Isabel Bellini, diz que “há uma
enorme eficiência na elaboração de
projetos, mas quando é o momento de colocá-los em prática ainda
estamos atrasados”.
O psiquiatra judiciário, Montserrat Martins também constata
“Uma distância entre o discurso
e o senso prático”. Para ele, a prevenção da violência passa por uma
reestruturação de valores éticos e
morais da sociedade: “Não existe
prevenção, nem solução para a
violência, enquanto não houver
uma mudança de mentalidade de
toda a sociedade”.
10 ESPORTE
Porto Alegre, maio de 2007
Elson Sempé Pedroso/Hiper
Grêmio
bicampeão
gaúcho
Goleada de 4 x 1 garante título gaúcho
à equipe tricolor e Juventude é vice
Márcia Simões
Domingo, 16h, final do Gauchão,
decisão em Porto Alegre. Isso não é
nenhuma novidade em se tratando de
futebol no Rio Grande do Sul. Dois
grandes times: de um lado o Grêmio,
o melhor clube na competição, do
outro, o Juventude, acreditando
na conquista do segundo título
regional. Estádio Olímpico lotado,
mais de 47 mil torcedores, que não
deixaram de cantar um só minuto.
Assim foi a final que deu ao time da
Capital o bicampeonato.
Neste dia, as ruas de Porto
Alegre amanheceram pintadas de
azul, preto e branco. Mesmo sem a
participação do Inter, desclassificado
ainda na primeira fase, a mobilização
tanto de ambas as torcidas era
enorme.
O Grêmio era candidato favorito
ao título, tanto pela campanha
quanto pelos últimos resultados,
o que se confirmou durante a
O tricolor é campeão gaúcho pela segunda vez consecutiva
partida. O Juventude não teve
tempo de buscar a vitória. Logo
aos 15 minutos da primeira etapa,
Tcheco abriu o placar, consolidado
no segundo tempo com os gols de
Diego Souza, Tcheco, novamente,
e Lúcio. A supremacia da equipe
gremista foi tamanha que ainda
desperdiçou um pênalti e chutou
duas bolas na trave e, mesmo assim,
a goleada não foi comprometida.
O time de Caxias ainda marcou
no final do jogo, mas de nada
adiantou, já que naquele momento
o único placar que interessava era
um empate em 4 a 4.
Assim que o árbitro Carlos
Simon apitou o final da partida foi
a vez da torcida fazer a festa com os
jogadores. Mesmo aqueles que não
estavam relacionados para o jogo,
como Lucas e Amoroso, desceram
ao campo para comemorar com
os companheiros. Enquanto o
pódio era montado no gramado, os
gremistas entoavam cânticos e, é
claro, provocações ao rival.
Lauro, capitão do Juventude,
retornou a campo para receber o
troféu de vice e, em seguida, Tcheco
ergueu a taça de campeão gaúcho
2007. A celebração só foi encerrada
após a volta olímpica. Depois da
festa no estádio, os jogadores e
comissão técnica jantaram numa
churrascaria e centenas de torcedores
foram, como de costume, para a
Avenida Goethe, comemorar o
bicampeonato gaúcho.
Vinícius Carvalho / Hiper
Pan-Americano
Patinador gaúcho busca
a segunda vitória no Rio
Bernardo Biavaschi
Aos 21 anos, Stürmer busca mais uma medalha
HIPERTEXTO
Consciente de seu favoritismo, o
gaúcho de Lajeado Marcel Stürmer
irá aos jogos Pan-Americanos do Rio
de Janeiro em busca de sua segunda
medalha de ouro na competição,
em julho.
O patinador de 21 anos
surpreendeu ao conquistar o lugar
mais alto do pódio no Pan de Santo
Domingo em 2003, já que era o mais
jovem da sua modalidade e o menos
experiente entre os competidores.
Com a responsabilidade de
manter o título de melhor patinador
das Américas, o brasileiro juntou-se
ao paulista Max Coelho dos Santos
e montou uma coreografia especial,
incluindo movimentos novos que
homenageiam o Brasil e outros
esportes disputados no Pan. “Irei
apresentar uma coreografia feita
especialmente para essa competição.
Serão quatro minutos de muita
batucada, bossa nova e samba,
emoção total.”
Segundo Marcel, seus principais
adversários no caminho do ouro
são o argentino Daniel Arriola e
o americano Joshua Roads. Os
três têm se revezado na conquista
de medalhas de ouro nas últimas
competições que participaram. O
Estados Unidos é um dos países
com maior tradição no gelo.
Marcel começou na patinação
aos seis anos de idade em sua
cidade natal. Suas primeiras aulas
de patinação foram com patins
emprestados, pois seus pais acharam
que o interesse do filho pelo esporte
seria algo passageiro.
O atleta passou, então, a crescer
dentro do cenário da patinação e,
em 2001, conquistou o campeonato
brasileiro júnior e uma vaga na
disputa do Pré-Pan. O início da
carreira foi difícil, e o apoio veio de
casa. “Não recebia ajuda nenhuma
e meus pais, com muito esforço,
foram meus grandes apoiadores.”
A consagração do atleta viria
em 2003, com o ouro em Santo
Domingo e o bronze no mundial,
disputado em Buenos Aires no
mesmo ano. Hoje o atleta acumula
em torno de 100 medalhas e é o
quinto melhor patinador do mundo
na categoria sênior.
Apesar de um dos melhores
atletas do mundo na modalidade
ser brasileiro, a patinação artística
ainda não é muito conhecida
no país e, consequentemente,
recebe poucos incentivos. Por isso,
Marcel foi treinar nos Estados
Unidos durante alguns anos, a
convite de uma técnica. “Foi um
período maravilhoso e de muito
aprendizado. Voltei somente
porque, depois de um tempo, eu
não rendia mais. Um atleta precisa
estar bem mentalmente e a saudade
das pessoas que gosto era mais
forte que tudo. Atualmente pago
um preço alto por esta decisão,
nem mesmo na minha cidade natal
encontro apoio algum.”
Ele revela que a conseqüência
mais importante do ouro em Santo
Domingo foi a conquista de um
patrocinador. “Foi a melhor coisa
que aconteceu. Se não tivesse
apoio, talvez eu não estaria indo ao
Rio de Janeiro”.
Recentemente voltou ao Brasil,
após um mês e meio treinando na
Califórnia bancado pelo Comitê
Olímpico Brasileiro.
HIPERTEXTO
VARIEDADES 11
Porto Alegre, maio de 2007
Música
Carla Ruas / Hiper
Múltiplos sons do
Quinteto Violado
Com muita criatividade o grupo, reunido há quase 30 anos, mistura popular, erudito e elementos da natureza em música instrumental
Música
brasileira em
primeiro lugar
O grupo despontou no
cenário nacional após o fim
do movimento tropicalista em
1971, com a trajetória já registrada em livro, vídeo e Cds
lançados no Brasil e exterior.
Com inspiração na cultura
regional, o grupo traçou um
novo caminho para a Música
Popular Brasileira. E mesmo
contrariando os modismos da
indústria cultural, o Quinteto
desperta o interesse de platéias
variadas
Além de se dedicar aos
shows, excursões internacionais,
festivais e discos, em 1997, o
grupo criou a Fundação Quinteto Violado, que promove e
incentiva o desenvolvimento da
cultura do Nordeste do Brasil.
A proposta da entidade
é executar projetos culturais,
promovendo o intercâmbio
de experiências no Brasil e no
exterior através de convênios
com instituições particulares ou
governamentais.
Carla Ruas / Hiper
Thais Silveira
Quando a criatividade e talento
de cinco músicos se unem a um multi-instrumentista, que está entre os
mais respeitados do país, o resultado
não poderia ser diferente: arquibancada lotada. Foi o que aconteceu no
Teatro Bruno Kiefer, na apresentação do grupo Quinteto Violado e
Carlos Malta, no dia 25 de abril.
Teve dueto de flauta e teclado,
solo de bateria e até uma nova leitura do frevo latino. Uma mistura
perfeita que animou tanto jovens
quanto adultos, diversidade em que
se constituía a platéia. Por ser uma
apresentação única em Porto Alegre,
muita gente teve que ficar do lado
Concurso de
artigos na PUCRS
O Projeto Solidariedade da
PUCRS abriu, dia 21 de maio, a
Semana da Solidariedade. O evento,
que ocorre anualmente, lançou o
Concurso de Artigo Fraternidade e
Amazônia, promovido pelo Centro
de Pastoral e Solidariedade. Alunos
de graduação da PUC, interessados
em concorrer, poderão se inscrever
até dia 18 de junho na Pastoral e
os artigos devem ser entregues de 6
a 10 de agosto. As inscrições serão
recebidas na avenida Ipiranga, 6681,
prédio 17, sala 101, no horário das
9h às 11h e das 14h às 17h. Demais
informações através do site: http://
www.pucrs.br/orgaos/pastoral. Professores da PUC julgarão artigos.
de fora. Entre o povo, uma fã pernambucana, conterrânea do grupo,
se surpreendeu:
– Mas é o Quinteto Violado!
Não dá para perder – insistia ansiosa
para assistir ao show.
Ciano, Dudu, Marcelo Melo,
Toinho Alves e Roberto Medeiros
estão juntos há quase 30 anos. Com
o projeto Circular Brasil, eles têm,
inclusive, a oportunidade de tocar
com Cláudio Malta. Essa iniciativa
existe desde 2006 e tem o objetivo
de promover a diversidade da música
instrumental com elementos regionais aplicados.
Inspirados nos ritmos e sons
da natureza e com um repertório
que mescla o erudito e o popular,
20 anos de
concertos
No vigésimo ano de uma exitosa parceria com a Companhia
Zaffari, o Coral e a Orquestra
Filarmônica da PUCRS realizaram
concerto em homenagem ao Dia
das Mães em 1º de maio.
Sob regência do maestro Frederico Gerling Júnior e com a
participação do cantor Aguinaldo
Rayol, da Companhia de Danças
Cadica e do Ballet Concerto foram
apresentadas obras dos compositores Bellini, Braguinha, de Falla,
Curtis, Villa Lobos e Bizer. A apresentação foi no estacionamento
superior do Bourbon Shopping
Ipiranga.
o Quinteto e Carlos Malta deram
um show de performances orquestradas, com muita energia em Porto
Alegre.
Dentro do teatro, uma moça se
destacava devido a sua empolgação.
A pergunta foi inevitável:
– E aí, gostou do show?
O sotaque da resposta já a entregou na hora:
– Cê acredita? Tô arrepiada até
agora! – exclamou a também pernambucana Daviana Barros, que mora há
pouco tempo na Capital, mas conhece
o trabalho do grupo há anos. Segundo
ela, o evento não foi muito divulgado
aqui no Estado, onde o Quinteto não
é tão conhecido, mas em Pernambuco
eles são muito valorizados.
Carlos Malta, outra atração da única apresentação no Estado
Comida chinesa: farta e apimentada
Rafael Lopes Codonho
O calendário registra oito meses
desde minha chegada à China. Diferente do Natal, quando nas ruas
podiam ser vistos ornamentos em
vermelho e branco e os chineses
ensaiavam uma comemoração restrita aos jovens, a Páscoa passou em
branco e sem ovos de chocolate.
Quando o grupo de intercambistas chineses chegou na PUCRS, em
agosto de 2005, eles demonstravam
insatisfação com restaurantes brasileiros de comida chinesa, alegando
que os pratos chineses eram diferentes do que se via em Porto Alegre.
Na época, a avaliação me pareceu
exagerada, um patriotismo exacer-
bado. Afinal, diversos proprietários
desses restaurantes, principalmente
os de pequeno porte, eram nascidos
na China.
Após cansativo vôo de 22 horas,
a primeira refeição no Oriente foi em
um restaurante da culinária típica do
sul da China, da província de Hunan,
onde Mao Tsé-Tung nasceu. Restaurantes de médio e grande porte têm
salas de jantar reservadas, com grandes mesas redondas para jantares de
negócios ou reuniões de família. O
cardápio era todo em chinês, diferente de diversos restaurantes que,
pela grande clientela composta por
estrangeiros, apresentam versão em
inglês. Com auxílio de chineses, os
pratos foram pedidos e ao serem
provados causaram um grande
choque. Amplamente utilizada na
culinária chinesa, a pimenta está
presente em grande quantidade em
restaurantes mais tradicionais. Desde
o primeiro mês no país, uma frase é
muito útil: “Wo bu yao lade”, não
ponha pimenta na comida.
Os chineses conservam algo
considerado por eles de grande valor e que causa estranhamento aos
recém-chegados ao país: a fartura.
Costuma-se pedir diversos pratos
em restaurantes à la carte, sendo que
alguns deles permanecem intocados.
A conscientização sobre desperdício
inexiste. O hábito faz parte do status
social, na tentativa de demonstrar
poder aquisitivo.
12 ponto final
Porto Alegre, maio de 2007
H IPERTEXTO
Fotos Vinícius Carvalho/Hiper
Um século de poesia,
mocotó e feijoada
Ancorado no Mercado Público desde 1907,
o Bar Naval comemora 100 anos de história
Guilherme Zauith
Em 1961, um português da pequena cidade
de Águeda comprou o tradicional botequim
do movimentado Mercado Público de Porto
Alegre. De propriedade do filho do fundador,
o italiano Ângelo Crivellara, o Bar Naval foi
adquirido pelo português por dois milhões de
cruzeiros da época. “Trabalhei dois anos para
pagar as prestações”, lembra João Fernandes
da Costa, atual proprietário. O nome Naval
deriva dos estivadores do Cais. “Porto lembra
mar, que lembra marinha, que lembra naval”,
explica “Seu João”, como é conhecido.
Baixinho e bem humorado, o lusitano de
77 anos anda de um lado para o outro sem
parar. “Lupicínio Rodrigues (músico) e Glênio Peres (jornalista e vereador) vinham aqui,
muitas personalidades freqüentam o bar, mas
trato todo mundo igual.
As pessoas se sentem em casa”, diz enquanto mostra as inúmeras fotos que cobrem
as paredes do lugar. Pé direito alto e teto rebuscado, o estreito bar está sempre apinhado
de gente. Seja no balcão ao lado da estufa de
bolinhos e pastéis, ou em meio à decoração de
placas, chapéus e adesivos.
Da mobília original, seu João conta que
trocou o piso de azulejos e as mesas, “mas
as portas do Naval são originais. Completam
100 anos também”. Num pequeno tablado de
madeira, entre o balcão e caixas de bebidas
empilhadas, fica encostada a mesa conhecida
como “muro das lamentações”. O Esconderijo
de velhos freqüentadores, repleto cinzeiros e
copos que se negam a esvaziar. “Todos são
conhecidos. Viemos há mais de dez anos para
beber e conversar”, conta um dos fregueses.
“Essa aqui é a mesa dos sem. Sem mulher,
dinheiro e casa”, brinca outro lamuriador.
Um cliente com copo de conhaque na mão
e cigarro no canto da boca revela que come-
O tradicional ponto culinário buscou no cais do porto a inspiração para o nome
Paulo, garçom e poeta
çou a freqüentar o Naval na companhia do
pai. “Ele era estivador no cais, me trazia para
beber guaraná depois do trabalho”. O mesmo
relata Denis Feijó, 36, sentado no lado oposto.
“Vinha nos finais de semana almoçar com o
pai. Hoje trago meu filho de três anos”.
O Naval é famoso também pelas particularidades gastronômicas. Quem comanda a
cozinha é Ivete dos Santos, 60 anos de idade e
20 “de casa”. Ela mexe no panelão de 50 litros
e adiciona os ingredientes do “violento mocotó”, servido apenas no inverno. “Vai de tudo.
Bucho e pata de boi, feijão-branco, pimenta...”
informa sem dar muitos detalhes, enquanto
comanda as ajudantes Maria e Jussara. Dona
Ivete chega a preparar 60 cumbucas com a
especialidade por dia.
Paulo Darcy de Souza, o Paulo Naval, é conhecido como poeta do mercado. Ele enfatiza: “O bar
completa 100 anos de idade, em plena atividade”.
Com a bandeja repleta de copos chope, “são 100
litros por dia”, conta que escreveu o livro O garçom
O proprietário João da Costa e a foto do fundado do Naval, Ângelo Crivellara
e o cliente no balcão do Naval., hoje esgotado. Brincalhão, o garçom poeta diz que chegou “às 9 horas
do dia 9 de janeiro de 1957” e nunca mais saiu.
Paulo Naval atualmente gerencia o local e serve
os clientes, ajudado por Mauro, outro garçom. O
filho do poeta trabalha atrás do balcão. “Fico no
caixa e tiro o chope”, comenta Luciano Oliveira,
de 32 anos.
O Mercado Público, segundo Fortunato
Garcia Machado, presidente da Associação
Comercial do local, tem 138 anos. “Foi fundado em 1869, sofreu dois incêndios e uma
enchente quase fatal em 1942”.
Fortunato, que trabalha na banca Bang
Bang, especializada em revistas antigas de
quadrinhos, destaca que o “prédio é tombado
pela prefeitura, tem 109 lojas que oferecem
variados tipos de produtos, desde erva mate,
até carnes e queijos selecionados. É um ponto
turístico e comercial, ao mesmo tempo”. O Bar
Naval fica no número 91/93 do Mercado Público, no Largo Glênio Peres, centro de Porto
Alegre. Funciona das 8 h às 20 horas, todos os
dias, exceto domingos e feriados.

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