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CENTRO DE ESTUDOS FIRVAL
MARCELO DE OLIVEIRA
MARINA YOSHIMI WAKUGAWA
SÍNDROME DA APNÉIA E HIPOPNÉIA OBSTRUTIVA DO
SONO E SUAS CORRELAÇÕES ENERGÉTICAS COM A
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
2010
CENTRO DE ESTUDOS FIRVAL
MARCELO DE OLIVEIRA
MARINA YOSHIMI WAKUGAWA
SÍNDROME DA APNÉIA E HIPOPNÉIA OBSTRUTIVA DO
SONO E SUAS CORRELAÇÕES ENERGÉTICAS COM A
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
Trabalho
de
conclusão
de
curso
apresentado ao Centro de Estudos
Firval, como exigência parcial para
obtenção do título de Especialização
em Acupuntura.
Orientador(a): Fernanda M. dos Santos
Co-Orientador(a): Miriam F. Leite Kajiya
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
2010
Oliveira, Marcelo; Wakugawa, Marina Yoshimi
Síndrome da Apnéia e Hipopnéia Obstrutiva do Sono e suas correlações
energéticas com a Hipertensão Arterial Sistêmica.
São José dos Campos, 2010.
54 páginas.
Orientador(a): Fernanda Mara dos Santos.
Co-orientador(a): Miriam de Fátima Leite Kajiya.
Monografia apresentada ao Centro de Estudos Firval para obtenção do título de
Especialização em Acupuntura.
Palavras-Chave: Apnéia Obstrutiva do Sono, Acupuntura, Hipertensão Arterial
Sistêmica.
1
FOLHA DE APROVAÇÃO
Síndrome da Apnéia e Hipopnéia Obstrutiva do Sono e suas correlações
energéticas com a Hipertensão Arterial Sistêmica.
Alunos: Marcelo de Oliveira e Marina Yoshimi Wakugawa
Orientador(a) Profª. Ft. Fernanda Mara dos Santos
Co-Orientador(a) Profª Ft. Miriam de Fátima Leite Kajiya
(
x
) Aprovado
(
) Reprovado
Pelos membros da Banca Examinadora da Faculdade de Educação,
Ciência e Tecnologia – UNISAUDE –, com conceito ................
São José dos Campos, 23 de novembro de 2010.
2
Dedicamos este trabalho primeiramente a Deus,
aos familiares, aos amigos, aos colegas de estudo e
aos nossos professores que sempre nos orientaram
com muita dedicação e paciência.
3
Agradecemos a todas as pessoas que nos
apoiaram para a realização deste trabalho.
À Profª. Fernanda pela paciência e
dedicação. Agradecemos à orientação.
À Profª. Miriam, pela amizade, atenção e
paciência, agradecemos principalmente por nos
inspirar a querer aprender mais e sempre.
À Profª. Aurinete, pela direção, atenção e
que gentilmente nos orientou com muita
dedicação.
Ao Profº. Carlos, pela atenção e ensinamentos
práticos sobre o diagnóstico na Medicina Chinesa.
Aos professores e colegas que nos dedicaram
o seu tempo mesmo à distância e aos pacientes
do ambulatório do Centro de Estudos Firval.
Aos familiares e amigos pela compreensão e
paciência e muito cafezinho.
4
EPÍGRAFE
“Abençoado
aquele
que
primeiramente
inventou o sono”. Ele cobre todo o homem
como uma manta. É carne para o faminto e
bebida para o sedento. É calor para o frio e frio
para o calor.
Faz o pastor igual ao monarca e o tolo igual ao
sábio. “Existe apenas uma característica
assombrosa nele: A sua semelhança com a
morte, Pois a diferença entre um homem morto
e um homem dormindo é muito pequena.”
Don Quixote
(Saavedra M. de Cervantes)
“Alguém só pode conseguir se livrar dos
fardos, superar as dificuldades, preservar o
estado natural das coisas, purificarem os
sopros ascender da grande multidão e atingir a
benevolência e a longa vida, conduzir os
débeis e os fracos, atingindo a tranqüilidade,
acompanhando os métodos usados pelos três
sábios.”
Wang Bing
(Imperador Amarelo)
5
RESUMO
A Síndrome da Apnéia e Hipopnéia Obstrutiva do Sono (SAHOS) é um
distúrbio respiratório relacionado ao sono com a presença de roncos, aumento
do esforço respiratório como consequência do aumento da resistência das vias
aéreas superiores ao livre fluxo do ar inspirado e microdespertares noturnos,
provocados pela obstrução parcial (hipopnéias) ou total (apnéias) da passagem
deste fluxo de ar, por pelo menos 10 segundos, durante o sono. As apnéias
obstrutivas desencadeiam uma série de respostas mecânicas, hemodinâmicas,
químicas, neurais e inflamatórias com consequências cardiovasculares
significativas e sendo seu efeito sobre os mecanismos da hipertensão arterial
sistêmica (HAS) os mais claros e bem definidos. Estima-se que entre 35% e
50% dos pacientes hipertensos tenham SAHOS. Sua associação foi
inicialmente constatada por estudos epidemiológicos, inicialmente com
desenho do tipo caso-controle e, posteriormente, com a realização de cortes
prospectivas com seguimento prolongado dos pacientes com SAHOS. A
despeito dessas evidências que comprovam um possível papel da SAHOS na
HAS, tornou-se interessante a avaliar se o tratamento da SAHOS poderá gerar
algum benefício para o tratamento e controle da HAS, principalmente com a
utilização da acupuntura dentro dos conhecimentos das relações energéticas
dos Zang Fu, do Yin e Yang e dos Cinco Elementos na Medicina Tradicional
Chinesa, que sempre propõe um tratamento visando o bem-estar do indivíduo
com o enfoque para todo o organismo e não só para o microssistema
adoentado.
A realização deste trabalho permitiu concluir que sob a ótica da Medicina
Tradicional Chinesa e com vistas às relações energéticas do Yin e do Yang
estabelecidas dentro dos Zang Fu, torna-se a acupuntura um mecanismo
importante dentro do arsenal terapêutico para o tratamento e controle da HAS
através do equilíbrio energético da SAHOS, principalmente pela harmonização
dos mecanismos fisiológicos respiratórios e o alívio através deste aos sistemas
cardiovasculares. Contudo se faz necessário maiores estudos clínicos a cerca
dessas relações energéticas, para que, em um futuro próximo possamos ter um
entendimento mais sólido e consistente sobre tais interações.
Palavras-Chave: Apnéia Obstrutiva do Sono, Acupuntura, Hipertensão Arterial
Sistêmica.
6
ABSTRACT
The Obstructive Sleep Apnea – Hypopnea Syndrome (OSAHS) is a
respiratory disorder sleep related characterized by the occurrence of primary
snoring, increased upper airway resistance and sleep fragmentation caused by
partial (Hypopnea) or total (Apnea) airflow obstruction for periods of at least 10
seconds, during sleep.
The obstructive apnea triggers several responses such as mechanical,
hemodynamic, chemical, neural and inflammatory with significant
cardiovascular consequences, with clear and defined effects in the Systemic
Arterial Hypertension (SAH). It is estimated that between 35% and 50% of
patients diagnosed with hypertension have OSAHS, this association was initially
found by epidemiologic studies, initially with case control studies and later by
prospective studies following the case series overtime for patients diagnosed
with OSAHS. Despite these evidences, that possibly link OSAHS with SAH, it is
interesting to evaluate if the treatment of OSAHS can lead to a benefit to the
treatment and control of SAH, especially using Acupuncture within the
knowledge of the energetic relation of Zang Fu, Yin and Yang and The Five
Elements of Traditional Chinese Medicine, that always offer a treatment to
delivers well being to the patient with focus to the whole body and not only to
the affected area.
The conclusion achieved through this study was that the Traditional
Chinese Medicine and the of energetic relations of Yin and Yang established
within of Zang Fu makes the Acupuncture a important mechanism within of
therapeutic options for the treatment and control of SAH through the energetic
equilibrium of OSAHS, specially through the harmonization of the respiratory
physiologic mechanism and the cardiovascular system. Therefore further
clinical studies are needed in these energetic relations so that in a near future it
will be possible to have a better understand on such interactions.
Key words: Obstructive Sleep Apnea – Hypopnea Syndrome (OSAHS),
Acupuncture, Systemic Arterial Hypertension (SAH).
7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA
Figura 1:
PÁGINA
A capa original do Pickwick Paper,
por Robert Seymour. (Adaptado de Kryger, 1985).............. 15
Figura 2:
Os Setes Sábios do Bosque
na Medicina Tradicional Chinesa......................................... 27
Figura 3:
Mestre Qibo na Medicina Tradicional Chinesa.................... 28
8
LISTA DE TABELAS
TABELA
PÁGINA
Tabela 1: Estágios da Hipertensão Arterial Sistêmica.............................24
9
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AVC: Acidente Vascular Cerebral.
HAS: Hipertensão Arterial Sistêmica.
IAM: Infarto Agudo do Miocárdio.
ICC: Insuficiência Cardíaca Congestiva.
MTC: Medicina Tradicional Chinesa.
SAHOS: Síndrome da Apnéia e Hipopnéia Obstrutiva do Sono.
SNC: Sistema Nervoso Central.
10
SUMÁRIO
1. Introdução: ................................................................................................... 14
1.1 Histórico da SAHOS................................................................................15
1.2 SAHOS....................................................................................................16
1.3 Fisiopatologia, Quadro Clínico e Diagnóstico da SAHOS...................... 18
1.4 HAS.........................................................................................................21
1.5 Quadro Clínico da HAS...........................................................................22
1.6 Diagnóstico da HAS................................................................................24
1.7 Tratamento da HAS................................................................................25
2. Objetivo..........................................................................................................26
3. Revisão da Literatura.....................................................................................27
3.1 Medicina Tradicional Chinesa...................................................................27
3.1.1 Princípios de Medicina Interna do Imperador Amarelo.......................28
3.1.2 Teoria da Polaridade Universal e o Homem.......................................30
3.1.2.1 Teoria do Yin e Yang...............................................................30
3.1.2.2 Teoria dos Cinco Movimentos..................................................32
3.1.2.3 Teoria dos Zang Fu..................................................................34
3.1.3 Padrões de Síndromes.......................................................................36
3.1.4 Processo de Adoecimento na MTC....................................................37
3.1.4.1 Estágio Energético do Adoecimento........................................39
3.2 Inter-relação SAHOS-HAS na Medicina Ocidental...................................41
3.3 Identificação dos Padrões do Zang Fu para a SAHOS-HAS....................43
3.3.1 Alterações nos Padrões do Coração.................................................45
11
3.3.2 Alterações nos Padrões do Fígado...................................................47
3.3.3 Alterações nos Padrões do Rim........................................................49
4. Discussão .....................................................................................................50
5. Conclusão......................................................................................................51
6. Referências Bibliográficas.............................................................................52
12
1. INTRODUÇÃO
A Medicina Tradicional Chinesa durante toda sua história vêem se
desenvolvendo e superando gradualmente as patologias e seus agentes
perversos por meio da observação e experimentação das relações energéticas
dos sistemas Zang Fu e suas influências no equilíbrio do ser humano por meio
do fortalecimento de suas energias vitais Yin/Yang. A medicina ocidental com
sua visão restrita e parcial do ser humano e desconhecedora das relações
energéticas do homem esbarra em suas próprias limitações quando na
resolução de determinadas patologias de etiologias mais complexas e de
resoluções energéticas mais refinadas.
A Síndrome da Apnéia e Hipopnéia Obstrutiva do Sono (SAHOS)
consistiu-se em uma síndrome metabólica (FREIRE, 2004) exige uma
compreensão mais ampla de sua fisiopatologia e requer para sua resolução e
controle, um olhar mais apurado e elucidativo a fim de melhor compreender
suas relações orgânicas e energéticas com os problemas cardiocirculatórios,
em especial com a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) (FREIRE, 2004;
STROHL et al. 1994). Esta visão é melhor compreendida pela Medicina
Tradicional Chinesa (MTC), sendo esta a maior motivação para a proposição
de nosso trabalho, que baseia-se em elaborar uma relação energética entre a
SAHOS e HAS, alicerçadas na teoria dos Cinco Elementos, dos sistemas Zang
Fu e nos meridianos, procurando propor desta forma um padrão de tratamento,
pois em MTC padrões pré-definidos são muitas vezes fadados ao insucesso,
visto que as dinâmicas energéticas propõem uma análise mais pessoal e
própria de cada um de nossos pacientes, por que só através do pensar total da
integridade do ser humano será viável uma nova medicina.
13
1.1 Histórico da SAHOS
Figura 1 - A capa original do Pickwick Paper por Robert
Seymour. Adaptado de Kryger, 1985.
Em meados do século XIX, Charles Dickens, escritor famoso, publicou
“Os Escritos Póstumos de Pickwick” e sendo um excelente observador,
descreveu habilmente as características clássicas do que atualmente
denominamos de SAHOS. (FREIRE, 2004; YOUNG et al. 1993).
Em 1918, Sr. Willian Osler usou o termo “Pickwickian” para referir-se a
pacientes obesos e sonolentos. Em 1956 Dr.Burwell, usou o termo síndrome de
Pickwick para pacientes que apresentavam severa obesidade, hipersonolência
com insuficiência cardiorrespiratória. (YOUNG et al. 1993).
14
Na França, no ano de 1965, o Dr. Gastault et al, fizeram a importante
observação de que pacientes “Pickwickian” apresentavam repetidos episódios
de apnéia durante o sono e em 1969 o Dr. Kuhlo observou a importante
melhora nesses pacientes após traqueostomia, a partir de então, tem-se como
conceito de que a apnéia do sono ocorre como uma obstrução ou colapso da
via aérea durante o sono.
O Dr. Jhon Remmers, em 1968 elucidou através de suas pesquisas a
razão do colapso da via aérea superior durante o sono. Em 1981, os doutores
Sullivan, Berthon-Jones, Issa e Eves, da Universidade de Sidney, Austrália,
publicaram os resultados do uso do aparelho CPAP (Pressão Positiva Contínua
da Via Aérea) em portadores de SAHOS sendo este o método mais comum
para o tratamento desta doença (YOUNG et al. 1993).
15
1.2 SAHOS
Os
eventos
obstrutivos
da
apnéia
e
hipopnéia
são
definidos
respectivamente, como cessação completa ou redução maior que 50% na
amplitude basal de medida válida de respiração durante o sono, com duração
igual ou superior a 10 segundos (REIMÃO; JOO, 1997). Considera-se também
como evento de hipopnéia a redução que não alcance 50%, mas que esteja
associada à redução na saturação da oxi-hemoglobina maior que 4% ao
despertar (FREIRE, 2004).
A SAHOS, (REIMÃO; JOO, 1997), é oito vezes mais frequente no sexo
masculino e a hipertensão arterial sistêmica (HAS) ocorre entre 40% a 60% dos
casos de SAHOS e muitos portadores procuram primeiro o atendimento em
clínicas de obesidade, de hipertensão, de neurologia ou de otorrinolaringologia,
sendo a SAHOS inicialmente ignorada pelo paciente e muitas vezes pelo
próprio profissional da saúde como causa primeira da HAS.
A prevalência da SAHOS na população geral é variável e dependem de
algumas características da amostra, como a idade, o gênero, a nacionalidade,
a metodologia aplicada e os critérios empregados para o diagnóstico. Ainda
segundo Freire (2004), estudos demonstraram que pacientes com SAHOS de
grau leve à moderado tiveram uma probabilidade 4,6 vezes maior de sofrer
mais que um acidente de trânsito, e os pacientes portadores de SAHOS grave
tiveram uma probabilidade sete vezes maior.
16
1.3 Fisiopatologia, Quadro Clínico e Diagnóstico da SAHOS
Estudos demonstraram que o principal mecanismo fisiopatológico da
SAHOS é o colapso das vias aéreas superiores durante o sono com
consequente hipoxemia e hipercapnia o que determina um grande esforço
respiratório para reverter essa condição (SMITH; SCHWARTZ, 2002; FREIRE,
2004). Este grande esforço respiratório leva a despertares freqüentes e o
indivíduo torna-se susceptível, devido ao ciclo repetitivo, a fadiga e a hipersonia
(NERY et al. 2001).
Um importante protagonista da fisiopatologia da SAHOS que pode
desencadear consequências cardiovasculares desastrosas é o estresse
oxidativo originado durante o evento repetitivo de apnéia-hipopnéia durante o
sono (FINDLEY et al. 1988), este fenômeno repetido inúmeras vezes, causa
injúrias de reperfusão em decorrência da formação dos deletérios radicais
livres.
A pressão sistólica, após um episódio de apnéia pode alcançar 200
mmHg em indivíduos cuja pressão arterial é normal durante a vigília (STROHL
et al. 1994; DRAGER, 2006). Na repetição frequente de esforço inspiratório
contra uma faringe ocluída durante o sono (apnéia obstrutiva) forma-se uma
pressão negativa no espaço pleural e à medida que a apnéia se prolonga,
acentua-se a hipoxemia e a hipercapnia que leva à vasoconstrição pulmonar
com hipertensão pulmonar transitória, este estímulo no sistema nervoso
simpático resulta na vasoconstrição sistêmica e consequente hipertensão
arterial (FREIRE, 2004; DRAGER, 2006).
Outros fatores individuais podem favorecer ou agravar a SAHOS:
obesidade abdominal, síndrome de resistência à insulina, dormir em decúbito
dorsal, presença de congestão nasal (rinites ou sinusites), excesso de cansaço
por privação do sono, aumento da idade (envelhecimento), consumo de drogas
(codeína e morfina), administração de hormônios (testosterona), fumo, ingestão
de bebidas alcoólicas ou medicamentos como ansiolíticos, hipnóticos e os
benzodiazepínicos que diminuem o tônus muscular das vias aéreas superiores
17
promovendo o risco de colabamento deste sistema e influenciam a capacidade
de despertar do cérebro, tornando a apnéia ainda mais demorada tendo como
conseqüência a diminuição dos níveis de oxigênio e aumento dos níveis de
dióxido de carbono (CARNEIRO et al. 2007).
Existem alguns fatores mecânicos que também são responsáveis pela
obstrução parcial ou total das vias aéreas superiores durante o sono. Essas
obstruções podem ser decorrentes de hipertrofia de amígdalas e adenóides,
tumores ou cistos na região da faringe, paralisia de cordas vocais, acromegalia,
micrognatia ou retrognatia mandibular, macroglossia, tireóide ectópica,
dismorfias faciais, anomalias ou deformidades do palato mole e do palato duro
e/ou de desvio do septo nasal (SILVA, 2002).
Os critérios para o diagnóstico da SAHOS incluem (NERY et al. 2001;
BURGER et al. 2004):
a. Ronco;
b. Sonolência diurna excessiva inexplicável por outras causas;
c. Asfixia ou respiração difícil durante o sono, despertares noturnos
recorrentes, sensação de sono não restaurador, fadiga diurna e/ou
dificuldades de concentração;
d. Cinco ou mais apnéias e/ou hipopnéias e/ou despertares relacionados a
esforços respiratórios por hora de sono, demonstradas por monitoração
durante toda a noite.
A SAHOS é subdividida em três graus de acometimento: leve, moderado
e grave. No grau leve os sintomas produzem discreta alteração da função
social ou ocupacional e na polissonografia o índice de apnéia e hipopnéia (IAH)
é maior que 5 e menor ou igual a 15 eventos por hora, no moderado, com
algumas alterações mais evidentes na função social ou ocupacional, está
associada a leve arritmias cardíacas e o IAH é maior que 15 e menor ou igual
a 30 eventos por hora e no grave que apresenta marcada alteração na função
18
social ou ocupacional, sendo associada a sintomas de insuficiência cardíaca ou
coronariana e tendo o IAH com valor acima de 30 eventos por hora (BURGER
et al. 2004; SILVA, 2002).
O diagnóstico da SAHOS é realizado através das informações obtidas
pelo quadro clínico apresentado pelo paciente e confirmado com a
polissonografia, através da qual também se obtém o grau de severidade desta.
Segundo os estudos realizados por Freire (2004), a polissonografia dos
pacientes com SAHOS, em geral, mostra um aumento do estágio 1 do sono
não paradoxal e uma redução dos estágios 3 e 4 do sono não paradoxal e do
sono paradoxal ou fase REM (Rápidos Movimentos dos Olhos) do sono.
Guyton; Hall (2006), explica que a maior parte do sono durante a noite
consiste em ondas cerebrais lentas ou sono não paradoxal, associado à
diminuição do tônus vascular periférico e redução do metabolismo basal,
caracterizando-se por 4 fases distintas e o sono REM ou sono paradoxal que
esta associado a sonhos intensos e alterações irregulares da freqüência
cardíaca, da freqüência respiratória e intensa atividade cerebral.
Através do diagnóstico diferencial são identificadas algumas doenças:
Síndrome da Hipoventilação-Obesidade, Síndrome da Resistência da Via
Aérea Superior, Hipoventilação Alveolar Central Idiopática, Narcolepsia,
Síndrome de Movimentos Periódicos das Pernas e Hipersonolência Idiopática
do Sistema Nervoso Central (SNC). Estas patologias podem apresentar um ou
mais sintomas comuns à SAHOS e, portanto, podem simular ser uma SAHOS
(YOUNG et al. 1993).
19
1.4 HAS
A
hipertensão
arterial
sistêmica
(HAS)
é
uma
das
principais
determinantes da morbidade e mortalidade cardiovasculares. Apesar dos
progressos na prevenção, diagnóstico, tratamento e controle da HAS, ela ainda
é um importante problema de saúde pública.
Quando a pressão arterial média é maior que o limite superior da faixa
aceita de normalidade (110 mmHg) em condições de repouso é considerada
hipertensiva, isto ocorre quando a pressão sangüínea diastólica é superior que
90 mmHg e a sistólica superior a 135 mmHg (GUYTON; HALL, 2006).
Os primeiros estudos brasileiros sobre prevalência de hipertensão
arterial sistêmica (HAS) surgiram no final da década de 1970, sob a forma de
teses ou dissertações, em resumos de apresentações em congressos, e uns
poucos trabalhos publicados em periódicos (NEDER; BORGES, 2006).
A presença da HAS representa um problema de saúde comum e de
risco por sua constituição ser quase sempre de modo assintomático até uma
fase tardia de sua evolução, podendo desenvolver complicações tais como:
AVC, IAM, angina pectoris, ICC, aneurisma cerebral, retinopatia e insuficiência
renal. A HAS é o fator mais importante de risco para o desenvolvimento de
arteriosclerose (COTRAN et al. 2000).
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) afeta tanto a função quanto a
estrutura dos vasos sanguíneos e em grande parte as pequenas artérias
musculares e arteríolas (COTRAN et al. 2000; GUYTON; HALL, 2006).
20
1.5 Quadro Clínico da HAS
A HAS pode ser classificada como primária de origem multifatorial ou
como secundária de causas específicas (COTRAN et al. 2000).
A HAS primária não apresenta uma causa aparente é multifatorial e
responde pela grande maioria dos casos (mais de 90%). Vários aspectos
contribuem para o seu aparecimento tais como idade (desde a infância e com
maior incidência em idosos), sexo (homens antes dos 50 anos e mulheres
acima de 50 anos), obesidade, etnia (afro descendentes tem maior incidência),
sedentarismo, fatores sócio-econômicos, consumo excessivo de sal e histórico
familiar.
Na HAS Secundária, os casos apresentam uma causa específica e
correspondem
à
comprometimentos
minoria
renais
dos
casos
(menos
(arteriosclerose
ou
de
10%).
displasia
Apresentam
fibromuscular),
comprometimentos endócrinos, devido ao excesso na produção de hormônios
ou devido ao uso de Feocromocitoma (uma droga que eleva o batimento
cardíaco). Alguns comprometimentos cardiovasculares são decorrentes do
consumo excessivo de álcool, nicotina e/ou drogas ilícitas como a cocaína e
seus derivados. Nos comprometimentos neurológicos encontramos como
causa a SAHOS (COTRAN et al. 2000; FREIRE, 2004).
A grande maioria das pessoas com HAS não apresentam sinais e
sintomas e estes só se tornarão sintomáticos por uma elevação persistente da
pressão arterial (NEDER; BORGES, 2006),
Tanto na Medicina Chinesa como na Medicina Ocidental, a dor de
cabeça e a enxaqueca são meramente sintomas que se apresentam como
manifestações de síndromes de base, segundo ROSS (1995). Além destes, na
hipertensão arterial também é comum encontrarmos os sintomas e sinais
como: sangramento no nariz, tonturas, rubor facial, cansaço, náuseas e
21
vômitos, dispnéias e visão borrada provocados pelo comprometimento
cerebral, ocular, cardíaco e renal.
A associação da HAS com outros fatores de riscos cardiovasculares
como obesidade abdominal, diabetes mellitus e as dislipidemias do colesterol e
suas frações é um achado freqüente, demonstrando um mecanismo comum
entre essas doenças, sendo estas associações à característica principal da
síndrome metabólica (FERREIRA, 2009).
22
1.6 Diagnóstico da HAS
Muitas vezes o diagnóstico da HAS se faz através de complicações
cardiovasculares e somente quando esta se encontra em níveis elevados
(tabela 1) (FERREIRA, 2009):
Tabela 1 : Estágios da Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS)
Pressão
Pressão
Sistólica
Diastólica
< 130 mmHg
< de 85 mmHg
130 e 139 mmHg
85 e 89 mmHg
140 e 159 mmHg
90 e 99 mmHg
160 e 179 mmHg
100 e 109 mmHg
Hipertensão alta
180 e 209 mmHg
110 e 119 mmHg
Estágio 4:
Maior ou igual a
Maior ou igual a
210 mmHg
120 mmHg
NÍVEL
Pressão
Arterial
Normal
PA Normal Alta
Estágio 1:
Hipertensão leve
Estágio 2:
Hipertensão moderada
Estágio 3:
Hipertensão severa
23
1.7 Tratamentos da HAS
Devem ser metas dos profissionais de saúde a identificação precoce e a
abordagem adequada dos fatores de risco para o desenvolvimento da HAS,
principalmente na população de alto risco. Entre as medidas preventivas,
destacam-se a adoção de hábitos alimentares saudáveis, prática de atividade
física, abandono do tabagismo, controle do estresse emocional e tratamento da
SAHOS, sendo este último o objeto principal do presente estudo, pois, recentes
pesquisas clínicas vêem comprovando a associação causal entre a SAHOS e a
HAS, já que os pacientes portadores da SAHOS possuem 30% a mais de
riscos de desenvolver a HAS (FREIRE, 2004).
É importante ressaltar que estes não são métodos de tratamento, e sim
medidas preventivas que podem ser adotadas, por uma equipe multidisciplinar,
com o intuito de incorporar ações educativas e preventivas sobre a hipertensão
arterial sistêmica.
24
2. Objetivo
A SAHOS e suas influências sobre outros sistemas orgânicos têm se
mostrado verdadeiro, sua relação interclínica com a HAS mostra-se bem
definida e estudada (FREIRE, 2004) e sua epidemiologia nos conduz a
olharmos de maneira mais detalhada suas implicações e principalmente suas
complicações.
O objetivo de nosso trabalho foi estudar através de um levantamento
bibliográfico e revisão da literatura científica disponível, as hipóteses de uma
inter-relação mecânica e principalmente energética entre a SAHOS e a HAS.
Procuramos em nossa monografia apresentar a inter-relação energética
existentes entre a SAHOS e a HAS sob a ótica da MTC, demonstrando desta
forma a importância dos sistemas Zang Fu, da interatividade das energias Yin e
Yang dentro dos Cinco Elementos e o funcionamento dos meridianos no
tratamento e controle destas patologias de etiologia complexa e sequelas
severas.
25
3. Revisão da Literatura
3.1 MedicinaTradicional Chinesa
A Medicina Tradicional Chinesa constitui um vasto campo de
conhecimento, de origem e de concepção filosófica, abrangendo vários setores
ligados à saúde e à doença. Suas concepções são voltadas, segundo
Yamamura (2004), muito mais ao estudo dos fatores causadores da doença, à
sua maneira de tratar, conforme os estágios da evolução do processo de
adoecer e principalmente às formas preventivas através de toda a essência da
filosofia chinesa no qual será abordado a seguir.
Figura: Os Setes Sábios do Bosque.
Figura 2: Os Setes Sábios do Bosque
na Medicina Tradicional Chinesa
26
3.1.1 Princípios de Medicina Interna do Imperador Amarelo
Título Original: Yellow Empero´s canon of internal medicine ou Nei Ching
Su Wen foi organizado por Ban Gu, da Dinastia Han, em 18 rolos divididos em
duas principais seções, sendo 9 rolos de Su Wen ou “Questões Fáceis” e
outros 9 rolos em Ling Shu ou “Questões Difíceis”, ou “Eixo Espiritual”. O
conteúdo deste livro permanece preservado como um tesouro para toda a
humanidade.
Em Su Wen ou “Questões Fáceis” (WANG, 2001), desenvolve-se uma
discussão entre o Imperador Amarelo, Huang Ti, e o seu Ministro e Mestre
Taoísta, Qibo, quase que exclusivamente em conceitos filosóficos, sobre a
importância de toda a teoria que alicerça a MTC, principalmente as três teorias
básicas: a teoria do Yin e do Yang, a teoria dos Cinco Movimentos e a teoria
dos Zang Fu (órgãos e vísceras). Yamamura (2004) expõe também as bases
filosóficas da MTC, em que os princípios da manutenção da saúde e as causas
do adoecimento são dissertados de uma forma concisa e explicativa, fazendo
deste mais uma tese em saúde e doença, do que um tratado de medicina como
conhecemos segundo Freire (2004).
Figura 3: Mestre Qibo na Medicina Tradicional Chinesa
“O Imperador Amarelo, de grande antiguidade, quando
nasceu já era brilhante e sábio, era eficaz em se preservar
quando criança tinha uma maneira modesta de proceder e uma
lisura de caráter quando cresceu. Em sua juventude, era
honesto e possuía uma grande habilidade em distinguir o certo
do errado. Quando chegou à idade correta, tornou-se
Imperador”.
27
O Imperador Amarelo perguntou ao mestre Taoísta Qibo:
“Fiquei sabendo que nos tempos antigos as pessoas
todas podiam viver por bem mais do que cem anos, mas as
pessoas atualmente são diferentes; qual a razão?”
Qibo respondeu:
“Aqueles que nos tempos antigos conheciam a maneira
de conservar uma boa saúde, sempre nortearam seu
comportamento do dia-a-dia de acordo com a natureza.
Seguiam o princípio do Yin e do Yang e eram capazes de
modular sua vida diária em harmonia, de forma a recuperar a
essência e a energia vital. Dessa forma eram capazes de viver
até uma idade avançada. Mas hoje em dia, as pessoas não
compreendem a importância de economizar sua energia e
gastam de forma selvagem fazendo o que lhes apraz. Por esse
motivo, se tornam decrépitas quando têm somente cinqüenta.”
Para ilustrar, descreveremos a seguir, sobre os princípios da
manutenção da saúde e as causas do adoecimento seguindo as bases
filosóficas da primeira seção do Nei Ching Su Wen segundo WANG (2001),
dentro das teorias do Yin e do Yang, dos Cinco Movimentos e dos Zang-Fu.
28
3.1.2 Teoria da Polaridade Universal e o Homem
A polaridade da energia universal do homem é a responsável por seu
equilíbrio dinâmico para a preservação de sua saúde física, mental e espiritual.
Esta polaridade interage dentro do homem dentro de três teorias: do Yin e do
Yang, dos Cinco Elementos e dos Zang Fu (YAMAMURA 2004).
3.1.2.1 Teoria do Yin e do Yang
“O conceito chinês do Yin e do Yang representa qualidades opostas, mas
complementares.”
Cada coisa ou fenômeno poderia existir por si mesmo ou pelo seu
oposto. Além disso, o yin contém a semente do yang, de tal maneira que ele
pode se transformar em yang e vice-versa. A mais antiga origem do fenômeno
do Yin e do Yang deve ter sido causada pela observação dos camponeses
sobre a alternância cíclica entre o dia (Yang) e a noite (Yin), e de como um
interfere no outro, ou seja, como o dia cede lugar à noite e vice-versa
(MACIOCIA, 2007).
O
Questões
Simples,
Su
Wen
(WANG,
2001),
relaciona
a
correspondência sobre a fisiologia dentro das atividades isoladas e o
funcionamento mútuo do Yin e do Yang e o Imperador Amarelo diz:
[...] o céu é Yang e que a terra é Yin, que o sol é Yang e
que a lua é Yin[...} que o homem corresponde às alterações do
Yin e do Yang nas quatro estações[...]
E o Ministro Qibo acrescentou:
“Yin ou Yang é apenas um nome que não tem forma.
Pode ser aplicado a tudo [...] embora sua alteração seja infinita,
o processo do desenvolvimento do Yin e do Yang é a união do
oposto das coisas que vão se desenvolver, sendo um só [...]. O
Yang serve para espalhar a energia saudável [...] o Yin para se
encarregar da vitalidade...”
29
Segundo Maciocia (2007), a inter-relação do Yin e do Yang na Medicina
Chinesa é dividida em quatro princípios, sendo o primeiro princípio sobre a
oposição de Yin e Yang que é refletida nas estruturas opostas Yin e Yang do
corpo humano, ou seja, todos os sinais e sintomas na medicina chinesa podem
ser reduzidos ao caráter elementar e básico de Yin e Yang. No entanto, o Yin e
Yang são opostos, mas também mutuamente dependentes, eles não podem
existir isoladamente e todos os processos fisiológicos são resultados da
oposição e da interdependência de Yin e Yang. Sendo assim, as funções dos
órgãos
internos
na
medicina
chinesa
mostram
muito
claramente
a
interdependência de Yin e Yang, sendo este o segundo princípio. O terceiro
princípio visa o consumo mútuo de Yin e Yang, que é refletido tanto do ponto
de vista fisiológico em um estado constante de mudança, mantendo o equilíbrio
das funções fisiológicas do organismo, quanto do ponto de vista patológico,
onde o Yin ou o Yang podem aumentar além do seu limite normal e levar ao
consumo de sua qualidade oposta. O quarto princípio exemplifica por meio da
natureza, tais como, o dia não pode transformar-se em noite a qualquer
momento, mas somente quando atinge seu ponto de esgotamento, ou seja, a
intertransformação
de
Yin
e
Yang
é
determinada
pelo
estágio
de
desenvolvimento e pelas condições internas e a compreensão de tal
transformação é importante para a prevenção de doenças.
30
3.1.2.2 Teoria dos Cinco Movimentos
A Água (Shui), o Fogo (Hou), a Madeira (Mu), o Metal (Jing) e a Terra
(Tu) simbolizam cinco direções diferentes de movimento dos fenômenos
naturais e os cinco movimentos encontram aplicações importantes na medicina
(MACIOCIA, 2007). A teoria chinesa sobre a fisiologia energética do corpo
humano identifica cinco órgãos essenciais que representam as características
dos Cinco Movimentos dentro do ser humano. Assim, os cinco Órgãos e as
seis Vísceras estão relacionados com os Cinco Movimentos (YAMAMURA,
2004).
A concepção dos Cinco Movimentos baseia-se na evolução dos
fenômenos naturais. A mais antiga origem do fenômeno está relacionado as
influências agrárias da sociedade chinesa. O Sol simboliza o movimento fogo,
os instrumentos de trabalho simbolizam o movimento metal, os movimentos da
água e da terra são fundamentais para o plantio e a colheita simboliza o
movimento madeira. Os vários aspectos que compõem a natureza geram
(Princípio da Geração) e dominam (Princípio da Dominância) uns aos outros
(YAMAMURA, 2004). Há também uma inter-relação entre ambas as
seqüências e consequentemente é sempre mantido um equilíbrio de
autocontrole (MACIOCIA, 2007).
O sistema de correspondências dos Cinco Elementos proporciona um
modelo de relação que é amplamente utilizado no diagnóstico, baseado
sobretudo, na correspondência entre os elementos e o odor, a cor, o sabor e o
som. O Clássico das Dificuldades (Nan Jing) diz no capítulo 61 descrito em
Maciocia (2007):
“Pela observação podem-se distinguir as cinco cores,
identificando-se a doença; pela audição podem-se distinguir os
cinco sons, identificando-se a doença; por meio da anamnese
podem-se distinguir os cinco sabores, identificando-se a
doença.”
31
Em Questões Simples, Su Wen (WANG, 2001), constam-se os trechos
filosóficos:
“O céu provê o ser humano com cinco energias (a do
vento penetra no fígado, a do calor no coração, a da úmida no
baço, a da seca no pulmão e a do frio nos rins) e a terra provê
o ser humano com os cinco sabores (o sabor ácido penetra no
fígado, o amargo no coração, o doce no baço, o picante no
pulmão e o salgado nos rins). As cinco energias que provêm do
céu penetram no corpo através do nariz e são armazenadas no
coração e no pulmão; como o coração se associa ao sangue e
aos vasos, as energias irão nutrir a compleição com uma cor
refinada, e como o pulmão se associa à voz, as energias irão
fazer com que a voz fique alta e clara. Os cinco sabores dos
alimentos da terra penetram no corpo para nutrir as energias
das cinco vísceras e o espírito e a energia do homem se
tornarão viçosos naturalmente.”
Em condições de desarmonia energética entre o Yang e o Yin, as interrelações dos Cinco Movimentos determinam o agravamento da doença através
do princípio de dominância excessiva e de contradominância (um movimento
volta-se contra o que normalmente o domina) e do princípio de geração e de
inibição (um movimento hiperativo volta-se contra aquele que o gera)
(YAMAMURA, 2004).
32
3.1.2.3 Teoria dos Zang Fu
As concepções da MTC sobre os órgãos internos consideram três
aspectos distintos: o energético, o funcional e o orgânico, denominam-se Zang
Fu o estudo dos Órgãos e das Vísceras sob esses três aspectos. (YAMAMURA
2004).
Os Órgãos (Zang) têm a função de armazenar a essência dos alimentos
e
são
responsáveis
pela
formação,
crescimento,
desenvolvimento
e
manutenção do corpo. Cada órgão, que representa um dos Cinco Movimentos,
tem a função de constituir e de comandar os tecidos e uma parcela da energia
mental (psiquismo). As Vísceras (Fu) recebem, transformam e assimilam os
alimentos, além de promover a eliminação de dejetos, e são englobadas pelo
Triplo Aquecedor (Sanjiao) que tem a finalidade de promover a atividade de
todos os órgãos internos, as Vísceras Curiosas também são responsáveis pela
integridade do corpo. Os Zang Fu em harmonia apresentarão bom
desempenho funcional, mantendo-se dentro do equilíbrio e da saúde.
A relação dos Zang Fu com a mente (Shen) é utilizada como meio de
diagnóstico na MTC e a alteração do estado mental significa um desequilíbrio
energético do Órgão correspondente. À medida que as alterações energéticas
vão se intensificando, surgem manifestações funcionais, quando os exames
complementares laboratoriais passam a detectá-las. O agravamento do
processo altera a estrutura física dos tecidos (células) e passam a ser
demonstráveis no exame anatomopatológico.
Em Questões Simples Su Wen de WANG (2001), diz:
“Os cinco órgãos Yin armazenam a essência sem
eliminar; embora sejam constantemente preenchidos, não
ficam repletos. As funções dos seis órgãos Yang são digerir,
absorver e transportar a comida, por isso, embora estejam
constantemente cheios, no entanto, não podem ficar cheios
como os cinco órgãos Yin. Quando a comida entra pela boca, o
estômago pode ficar repleto, mas o intestino então está vazio,
e quando a comida entra no intestino, este fica cheio, mas o
estômago fica vazio.”
33
Portanto, os órgãos Yin armazenam as substâncias vitais que são a
energia (Qi), o sangue (Xue), a essência (Jing) e os fluídos corpóreos (Jin Ye),
e estocam somente substâncias refinadas e puras adquiridas pelos órgãos
Yang após a transformação dos alimentos (MACIOCIA, 2007).
Sobre os órgãos Yang, Wang (2001) descorreu:
“O Estômago, os Intestinos, Sanjiao e Bexiga são a
residência do Qi Nutritivo, pois eles transformam as
substâncias residuais e transmitem o vai-e-vem dos sabores...”
E as principais funções dos órgãos Yang, segundo Maciocia (2007), eles
transformam e refinam os alimentos e os líquidos a fim de extrair as essências
puras que serão armazenadas pelos órgãos Yin, assim como realizam o
processo de transformação, os órgãos Yang também excretam os produtos
residuais. A essência dos órgãos Yang consiste em receber, mover,
transformar, digerir e excretar.
34
3.1.3 Padrões de Síndromes
Na concepção da Medicina Tradicional Chinesa, o processo de
adoecimento (de evolução lenta e progressiva) fundamenta-se em princípios
que procuram combater as regras da harmonização energética por meio das
interações energéticas dos Cinco Movimentos e um destes princípios segue ao
de Hiperatividade de um Movimento o qual provoca desarmonia energética
ocorrendo a potencialização do princípio de geração e a de inibição contra
aquele que o gera (AUTEROCHE, NAVAILH, 1998; YAMAMURA, 2004).
35
3.1.4 Processo de Adoecimento na MTC
Na MTC o ser humano é constituído por dois aspectos fundamentais – Qi
(energia) e a Matéria, dentro de uma concepção dualística (Yang e Yin) do
Universo. A energia do homem provém da respiração (do céu) e da
alimentação (da terra), sendo assimiladas e distribuídas para todo o organismo
através de canais de energias que irão nutrir energeticamente as estruturas do
corpo assim como prover sua defesa. Quando algum agente causador de
“doença” desarmoniza o sistema energético humano através de energias
perversas ou um estado de vazio de energia inicia-se um processo dinâmico de
adoecimento que ocorrerá através do desequilíbrio Yin-Yang dos Zang Fu
instalando-se e aprofundando-se de forma cada vez mais abrangente
(AUTEROCHE, NAVAILH, 1998). A teoria do Yin-Yang é usada para explicar
as funções fisiológicas, as leis referentes às causas, a evolução das doenças e
serve como guia no diagnóstico e no tratamento clínico. O processo de
adoecimento obedece às inter-relações dos Zang Fu que são regidas pelo
princípio dos Cinco Movimentos da MTC que a longo prazo acometerá as
partes orgânicas e assim manifestar-se-á como “doença” nos moldes
concebidos pela Medicina Ocidental (YAMAMURA, 2004).
A teoria do Yin-Yang enuncia que a atividade fisiológica do corpo
humano é o resultado da manutenção de uma relação harmoniosa “da unidade
dos contrários” dos dois aspectos fundamentais que constituem o organismo
humano, essa “unidade dos contrários” explica a relação existente entre a
função que pertence ao Yang e a matéria que pertence ao Yin. As atividades
fisiológicas têm como base a matéria, pois sem a essência Yin (Yin Jing) nada
há para produzir a energia Yang (Yang Qi) e essas atividades resultam da ação
da energia Yang produzindo sem parar a essência Yin (AUTEROCHE,
NAVAILH, 1998). Desta forma, se a troca não for equivalente e o Yin-Yang
estiverem em desarmonia a atividade vital do homem será comprometida.
36
Na MTC, o processo dinâmico de adoecimento segundo Yamamura
(2004) tem evolução de longa duração (10 a 20 anos) passando por três
estágios diferentes: energético, funcional e orgânico.
37
3.1.4.1 Estágio Energético do Adoecimento
A Medicina Tradicional Chinesa trata a evolução do processo de
adoecimento de forma mais ampla e sutil se comparado aos diagnósticos da
medicina ocidental. Na MTC a evolução das patologias são estudadas e
tratadas de acordo com o nível energético de comprometimento e sua evolução
diagnóstica é dividida em três estágios distintos (YAMAMURA, 2004).
O primeiro estágio que estabelece o desequilíbrio Yin-Yang no Zang Fu
ou nos Canais de Energia com a diminuição da vitalidade nesses locais e a
perda da potência energética plena. As manifestações clínicas dessa fase não
são acompanhadas de alterações nos exames laboratoriais, pois não atingiram
os estágios de alterações pela medicina alopática (YAMAMURA, 2004).
O segundo estágio do adoecimento é o funcional. Neste estágio, os
Zang Fu e/ou os Canais de Energia estão acometidos por deficiências ou
plenitudes, porém ainda está preservada a integridade das estruturas orgânicas
(a matéria) do corpo, mas já apresentam funções hipoativas ou hiperativas. O
paciente irá apresentar manifestações clínicas relacionadas às disfunções dos
Zang Fu e exames complementares laboratoriais alterados, porém, sem
manifestações nos exames anatomopatológicos (YAMAMURA, 2004).
O terceiro e último estágio do processo de adoecimento na MTC é o
orgânico. Esta fase caracteriza-se por as alterações energéticas e funcionais
que acometem as estruturas orgânicas celulares e tissulares de tal modo que
são detectáveis nos exames anatomopatológicos.
Analisando as três fases do processo de adoecimento (energético,
funcional e orgânico), observamos que a passagem de uma fase para outra
ocorre de maneira lenta e paulatina, havendo uma aceleração desses
processos todas as vezes que o paciente se expõe ao fator causal do
adoecimento. A maior e mais eficaz ação da MTC reside nos dois estágios
iniciais do processo de adoecimento, que são o energético e o funcional
(YAMAMURA, 2004).
38
O aparecimento das doenças e suas evoluções estão ligados a dois
fatores em oposição: o fator de resistência à doença (Zheng Qi) e o fator de
agressividade do patógeno (Xie Qi).
A oposição desses fatores pode acarretar um desequilíbrio no ser
humano e, por conseguinte ocorre ao organismo a invasão da “doença”,
ocasionando um dos seguintes processos patológicos
(AUTEROCHE,
NAVAILH, 1998):
a. A fraqueza constitucional do Yin ou do Yang reforçará o aspecto oposto.
b. A fraqueza simultânea dos dois aspectos (Yin e Yang).
c. A mudança de um aspecto no aspecto oposto.
O reforço do Yin ou do Yang acarretará no enfraquecimento do oposto.
Regularizar o Yin e o Yang, restaurar o equilíbrio relativo existente entre eles,
são os princípios de todos os tratamentos na MTC, as regras da teoria dos
cinco movimentos aplicados à atividade fisiológica e às mudanças patológicas
do corpo humano servirão para orientar o exame clínico, o diagnostico e o
tratamento (AUTEROCHE, NAVAILH, 1998).
39
3.2 Inter-Relação SAHOS-HAS na Medicina Ocidental
A SAHOS é um distúrbio respiratório relacionado ao sono com a
presença de roncos, o aumento do esforço respiratório (aumento da resistência
das vias aéreas superiores) devido à obstrução parcial (hipopnéias) ou
completa (apnéias) da passagem do fluxo de ar, por pelo menos 10 segundos,
durante o sono. E as apnéias obstrutivas desencadeiam uma série de
respostas mecânicas, hemodinâmicas, químicas, neurais e inflamatórias com
consequências cardiovasculares significativas.
Há dados suficientes pesquisados por Drager (2006) considerando a
SAHOS como causa secundária de HAS, onde estima-se que entre 35% e 50%
dos pacientes hipertensos tenham SAHOS. Entretanto, isso não significa
necessariamente que a HAS em pacientes com SAHOS seja secundária, pois
pode haver sobreposição da ocorrência da SAHOS em paciente previamente
hipertenso, e em um desses estudos, foram testados 60 pacientes com SAHOS
moderada e grave para receberem a pressão contínua positiva de vias aéreas
(conhecida como CPAP) com pressões efetivas ou o CPAP subterapêutico
(com pressão ineficaz para corrigir a obstrução das vias aéreas durante o sono)
onde foram observados, durante o estudo, que a pressão arterial média
reduziu-se tanto no período diurno quanto no noturno em cerca de 10 mmHg e
sendo assim, correspondendo a uma redução de riscos de eventos
coronarianos em 37% e de acidente vascular cerebral em 56%. Dados
semelhantes foram obtidos em outros estudos que os pacientes receberam
tratamento para a SAHOS.
Uma das doenças cardiovasculares resultantes da SAHOS é a HAS, onde
mais de 50% dos pacientes com apnéia são hipertensos. Por outro lado, cerca
de 40% dos pacientes hipertensos podem ter apnéia do sono não
diagnosticada. A elevação da pressão arterial deve-se à conseqüente
vasoconstrição periférica devido à ativação do Sistema Nervoso Simpático por
alta concentração de CO2 relacionadas à hipoxemia e à hipercapnia devido ao
40
ciclo repetitivo durante o sono. Ocorre também uma diminuição da pressão
negativa intratorácica e conseqüente diminuição da pré e pós-carga cardíaca.
Após a restauração da respiração, aumenta-se o volume circulante (pré-carga)
na vigência da vasoconstrição, provocando elevações repetitivas da PA
durante a noite (CARNEIRO et al, 2007).
Apoiados pelas referências já citadas que evidenciam uma relação
fisiológica entre SAHOS-HAS, iremos descorrer agora sobre estes aspectos na
ótica da Medicina Tradicional Chinesa.
41
3.3. Identificação dos Padrões do Zang Fu para a SAHOS-HAS
A inter-relação entre a SAHOS e a HAS na MTC, baseia-se na
sintomatologia que se origina quando o Qi e o Xue dos sistemas internos se
desequilibram, sendo este equilíbrio uma aplicação dos Oitos Princípios de
Identificação dos padrões utilizados para as condições de interiores e crônicas
e também nas exteriores e agudas.
A arte do diagnóstico na MTC reside em detectar desarmonias a partir de
um mínimo de sinais e sintomas, os padrões dos sistemas não são uns
arquivos de adequação de uma determinada sintomatologia, não havendo
desta forma uma correspondência entre os padrões dos sistemas internos da
MTC e as patologias dos órgãos da Medicina Ocidental, o médico da MTC
deve desenvolver sua capacidade de observação e entendimento dos fatores
etiológicos e patológicos através dos quais os sinais e sintomas se originam e
assim determinam sua desarmonia interna (MACIOCIA, 2007).
Quando o processo de adoecimento estiver em seu estagio inicial (estagio
energético) os padrões internos apresentaram sinais e sintomas parcos e
suaves, podendo na prática ocorrerem vários padrões de desequilíbrio
simultaneamente (AUTEROCHE, NAVAILH, 1998):
 Dois ou mais padrões do mesmo sistema Yin.
 Dois ou mais padrões de sistemas Yin diferentes.
 Um ou mais padrões de um sistema Yin com um ou mais padrões de
um sistema Yang.
 Um padrão exterior e um interior.
 Um padrão de um sistema interior e um padrão do Meridiano.
O relacionamento entre o Pulmão (Fei) e o Coração (Xin) é essencialmente
o relacionamento entre o Qi e o Sangue (Xue), já que ambos são mutuamente
dependentes – “o Qi empurra o Sangue (Xue) e o Sangue nutri o Qi, ou seja, o
Sangue precisa do poder do Qi para circular nos Xue Mai e o Qi só atingirá o
organismo como um todo através da concentração nos Xue Mai” (ROSS,
1985). Desta forma a hipóxia e a hipercapnia ocasionada pela SAHOS afeta
42
esta inter-relação, pois impede a função do Pulmão de dispersar o Qi pelo
organismo levando a uma estagnação do Qi do Coração que ocasionará por
sua vez a estagnação do Sangue do Coração originando Fogo no Coração em
excesso que poderá secar os Fluídos Corpóreos (Jin Ye) do Pulmão, afetando
por fim a formação do Qi Torácico que se concentra no tórax e está
intimamente relacionado com as funções do Pulmão e Coração e estes com a
sua formulação (MACIOCIA, 2007).
As complicações sobre a HAS ocasionados pela SAHOS refletem sobre
os sistemas internos orgânicos e mostra-se clinicamente através da
sintomatologia
comum
presente
nestas
patologias
(irritação,
cefaléia,
obesidade abdominal, tabagismo, etilismo, sudorese noturna, boca e garganta
secas). Os portadores da SAHOS que são acometidos pela ocorrência da HAS
refletem as desarmonias sofridas nos Zang Fu sendo os mais evidentes
desequilíbrios nos sistemas do Coração, Fígado e Rim (MACIOCIA, 2007).
43
3.3.1 Alterações nos Padrões do Coração
Ao analisarmos os comprometimentos provocados pela SAHOS no
sistema do Coração, notamos padrões patognomônicos iguais ao da HAS, que
se mostram especialmente na Deficiência do Yin do coração, no Excesso de
fogo/calor no coração, na Umidade/Fleuma invadindo a cabeça, na Estagnação
do sangue do coração com deficiência do Qi do pulmão e no Yin do coração
em desarmonia com o Yin do rim (MACIOCIA, 2007).
Nos estados que alteram o sistema do coração, percebemos algumas
manifestações clínicas semelhantes ou iguais na SAHOS e na HAS como
ansiedade, agitação mental, memória debilitada, rubor facial, sudorese noturna,
sensação de calor e impulsividade. Na deficiência do Yin do coração o paciente
acorda várias vezes durante a noite, tendo irritabilidade mental e calor na face,
é um padrão mais comum na meia idade ou em pessoas mais idosas, sendo
este tipo de deficiência mais atrelado à deficiência do sangue, pois o Yin
engloba o sangue e desta forma “o coração se sentirá irritado”. Este processo
provocará uma desarmonia entre o Yin do coração e o Yin do rim, pois é
freqüentemente acompanhado ou provocado pela falha do Yin do rim em nutrir
o Yin do coração tornando-o também deficiente, a água e o fogo devem
auxiliar-se mutuamente, o fogo do coração deve descender para aquecer a
água do rim e esta deve ascender para esfriar o fogo do coração e quando o
Yin do rim e do coração for deficiente a chama do fogo vazio ascende dentro
do coração agitando a mente. O tratamento deve objetivar a nutrição do Yin do
coração e do rim e pacificar a mente eliminando o calor vazio do coração
(AUTEROCHE, NAVAILH, 1998; MACIOCIA, 2007).
Quando ocorre a agitação do fogo do coração ocasionando um excesso
de calor-cheio no coração, ocorrem sintomas como sede, rubor facial e
sensação de calor e nesta situação a agitação mental é pronunciada e há
insônia com freqüente despertares durante a noite. A agitação do fogo do
coração é freqüentemente transmitida pelo fogo do fígado, portanto pode ser
indiretamente resultante de causas do fogo do fígado. Esse padrão pode ser
controlado ao se eliminar o calor e pacificar a mente (MACIOCIA 2007).
44
A umidade/fleuma quando invadem a cabeça e afetam o coração, trazem
consigo perturbações como agitação, insônia e irritação, ocasionadas pela
obstrução dos orifícios do coração, sendo também caracterizado pela
deficiência do Qi do baço falhando em transformar e transportar os fluidos
corpóreos, sua resolução passa por aliviar o fogo do coração, remover a fleuma
e acalmar a mente (MACIOCIA, 2007).
Quando ocorre a estagnação do sangue do coração, ele será sempre
derivado de outros padrões de desequilíbrio do coração, sendo a maior parte
das vezes resultado das deficiências de Yang ou sangue do coração e do fogo
do coração, com prevalência para as estagnações em decorrência da
deficiência do Yang do coração. Quando o Yang do coração está deficiente não
há Yang Qi suficiente para mover o sangue do tórax gerando a estagnação do
sangue e obstruindo a circulação do Qi torácico, que por sua vez auxilia na
circulação do Qi do pulmão e irá, por conseguinte, prejudicar a função de
dispersão do pulmão. Devemos tratar esse desequilíbrio regularizando o
sangue, para removermos a estase, tonificar e aquecer o Yang do coração e
pacificar a mente (AUTEROCHE, NAVAILH, 1998; MACIOCIA, 2007).
45
3.3.2 Alterações nos Padrões do Fígado
Alguns padrões do desequilíbrio do meridiano do fígado têm como
manifestação clínica, quadros similares entre a SAHOS e HAS como:
irritabilidade, cefaléia, rubor facial, boca e garganta secas e insônia, sendo
estas características do fogo do fígado em ascendência ou a ascendência do
Yang do fígado. A ascendência do fogo do fígado é um padrão caracterizado
pelo calor-cheio do fígado (o fogo do fígado tem uma tendência de arder em
ascendência) que reflete um aumento do fogo do fígado em direção à cabeça
ocasionando cefaléia intensa e pulsátil nos olhos e têmporas e boca e garganta
secas, sendo esta última, também causada pelo fogo do coração que se
manifesta pela manhã após uma noite mal dormida (despertares noturno
durante o sono – SAHOS). A causa mais comum deste padrão é o estado
emocional prolongado de fúria, ressentimento e ou repressão emocional que
faz o Qi estagnar e implodir, resultando em calor. O consumo excessivo de
álcool também contribui para a formação do calor no fígado (AUTEROCHE,
NAVAILH, 1998; MACIOCIA, 2007). Na ascendência do Yang do fígado temos
um misto dos padrões de deficiência e excesso, já que deriva da deficiência do
Yin do fígado e ou da deficiência do Yin do rim causando um excesso do Yang
do fígado (na teoria dos cinco elementos a água é deficiente e falha ao nutrir a
madeira que se torna muito seca causando a ascendência do Yang do fígado).
Este padrão é um desequilíbrio entre o Yin do fígado (deficiente) e o Yang
do fígado (excesso), sendo que normalmente o aumento do Yang do fígado
está relacionado à deficiência do Yin do fígado e ou a deficiência do Yin do rim,
podendo ocorrer também pela deficiência do Yang do rim, pois o Yin e o Yang
do rim apresentam a mesma raiz e a deficiência de um sempre implica na
deficiência de outro, portanto quando o Yang do rim está deficiente o Yin do rim
também estará e assim ocasionar sintomas de aumento do Yang do fígado. A
principal diferença entre a ascendência do Yang do fígado e o fogo do fígado
em ascendência, é que neste último há um fogo sólido secando os fluidos
corpóreos causando sintomas e sinais de secura sendo um padrão puramente
46
de excesso, já o aumento do Yang do fígado é uma combinação dos padrões
de deficiência/excesso caracterizado pelo desequilíbrio entre o Yin e o Yang
sem a presença de um fogo sólido, tendo na cefaléia um dos sinais mais
comuns e distintivos do aumento do Yang do fígado (têmporas, lateral da
cabeça e acima dos olhos). As alterações emocionais são as causas mais
comuns no aumento do Yang do fígado (MACIOCIA, 2007).
No padrão combinado da deficiência do Yin do rim e do Yin do fígado a
cefaléia occipital ou vertical, rubor malar, tontura, garganta seca e a sudorese
noturna, são as manifestações clínicas mais comuns nestas deficiências, que
inclui também a deficiência de sangue do fígado. O rim, elemento água, deve
nutrir o fígado (madeira) e desta forma o Yin e o sangue do fígado são
dependentes da nutrição do Yin e da essência do rim (MACIOCIA, 2007).
Um dado importante sobre a cefaléia, a MTC sustenta que em uma
condição de excesso ela ocorre freqüentemente sobre o lado direito, já por
deficiência manifesta-se mais sobre o lado esquerdo.
47
3.3.3 Alterações nos Padrões do Rim
A deficiência do Yin do rim tem como sintomas: sudorese noturna,
memória debilitada, boca seca a noite, pois ocorre neste padrão a deficiência
da essência do rim, uma vez que a essência é parte do Yin do rim ela pode ser
transmitida pelo fígado (fígado e rim dividem a mesma raiz), coração e pulmão
e devemos tratar nutrindo o Yin do rim. Quando não tratada a deficiência do Yin
do rim pode progredir para uma deficiência do Yin do rim e fogo-vazio
resplandecente, caso o fogo ascenda ele pode afetar o coração e desta forma
perturbar a mente. Seu tratamento passa por nutrir o Yin do rim, eliminar o
fogo-vazio e acalmar a mente (AUTEROCHE, NAVAILH, 1998; MACIOCIA,
2007).
48
4. Discussão
Apesar de sua alta ocorrência e de seu envolvimento direto ou indireto
com outras desordens orgânicas como demonstrado em nossa revisão
bibliográfica, apresentamos em nossa monografia a inter-relação energética do
Yin e Yang dentro dos sistemas Zang Fu e dos meridianos nas patologias
SAHOS-HAS.
As propostas terapêuticas estudadas em MTC para esta inter-relação são
praticamente nulas. Nosso estudo sobre este assunto, mostrou-nos que as
terapias em torno da SAHOS utilizando-se os conhecimentos de Medicina
Tradicional Chinesa são raras, de tal forma que foi encontrado apenas um
único trabalho científico na língua portuguesa (FREIRE, 2004) e nenhum outro
em qualquer outro idioma tratando de maneira específica este tema.
Parece-nos que sendo assim, seria de grande interesse científico, novos
e mais estudos sobre este tema no âmbito teórico-prático-clínico, para melhor
se compreender as relações dos Órgãos e Víceras dentro destas patologias e
assim propor novos protocolos terapêuticos para a SAHOS.
Sua notoriedade e importância, dá-se por se tratar de uma patologia de
causa complexa, sequelas severas e de grande epidemiologia na sociedade,
porém, sendo bem descrita e estudada apenas pela medicina ocidental, suas
relações energéticas e sua simbiose são desconhecidas pela MTC, ficando
assim, este pedido urgencial aos estudiosos da Medicina Tradicional Chinesa.
49
5. Conclusão
Parece-nos, que após os nossos estudos e teorizações sobre as
relações energéticas na MTC e no que concerne ao tratamento da SAHOS e
suas interferências fisiopatológicas e energéticas na HAS, a literatura científica
mundial ainda está muito carente de pesquisas que comprovem a eficácia da
Medicina Tradicional Chinesa no tratamento e prevenção da HAS, através do
controle da SAHOS.
Nosso trabalho demonstrou que as inter-relações energéticas entre
distintas patologias que afligem o homem se tornam mais claras dentro dos
conhecimentos já descritos pela Medicina Tradicional Chinesa, assim
demonstramos a importância de se realizarem novos estudos teórico-práticoclínico, com a finalidade de aprofundar e melhor se explicar as ponderações
sobre o relacionamento energético das patologias que tanto acometem os
seres humanos.
A
intensificação
e esforços
pelo
reconhecimento
da
Medicina
Tradicional Chinesa e em particular da Acupuntura na prevenção e no
tratamento das mais variadas patologias, como por exemplo SAHOS e a HAS,
pode contribuir não só para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes,
como também para a redução da morbidade e mortalidade por estas
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