Fábio Castanheira ENSINO-APRENDIZAGEM DE - Calem
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Fábio Castanheira ENSINO-APRENDIZAGEM DE - Calem
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ Centro Acadêmico de Línguas Estrangeiras Modernas Curso de Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas Fábio Castanheira ENSINO-APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: DESAFIOS NA AQUISIÇÃO DE LÍNGUA ESPANHOLA POR ALUNOS BRASILEIROS CURITIBA 2007 FÁBIO CASTANHEIRA ENSINO-APRENDIZAGEM DE L2: DESAFIOS NA AQUISIÇÃO DE LÍNGUA ESPANHOLA POR ALUNOS BRASILEIROS Monografia de conclusão do Curso de Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas da UTFPR. Orientador: Professora MSc. Márcia dos Santos Lopes CURITIBA 2007 TERMO DE APROVAÇÃO Fábio Castanheira Ensino-aprendizagem de L2: Desafios na aquisição de língua espanhola por alunos brasileiros. Monografia aprovada com nota ________ como requisito parcial para obtenção de título de Especialista, pelo curso de Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas, do Centro Acadêmico de Línguas Estrangeiras Modernas – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, pela seguinte banca examinadora: Orientador: Professora MSc. Márcia dos Santos Lopes Universidade Tecnológica federal do Paraná - UTFPR Professor Dr. Egidio Jose Romanelli Universidade Federal do Paraná - UFPR Professora MSc. Thaís Barbosa Marochi Faculdade Educacional de Araucária Coordenador: Professora MSc. Carla Barsotti Universidade tecnológica federal do Paraná - UTFPR CURITIBA 2007 ii Dedicatória A minha Mãe, Leonardo e aos meus Mestres. iii Agradecimentos Em primeiro lugar a Deus, pelo dom da vida e pela oportunidade de chegar aonde cheguei. A minha Mãe, essa mulher guerreira, obrigado pelo carinho, afeto e todo exemplo de luta que sempre me deu. Ao meu Pai, que mesmo não estando mais aqui, esteja onde estiver, tenho a certeza de que se orgulha da minha conquista. Ao meu irmão Fernando, que mesmo estando em terras longínquas, estará sempre em meu coração. A minha tia Rosiane, por todo carinho e compreensão, especialmente por entender e respeitar minhas decisões. A minha Professora Orientadora Márcia dos Santos Lopes pelo carinho e dedicação. Aos meus professores que foram verdadeiros mestres na árdua tarefa de educar. A um grande amigo e irmão: Leonardo Caparroz Cangussu. Muito obrigado pela força incondicional. Aos que se tornaram família e aqueles que nasceram família. A todos os que conhecem o que penso e aqueles que só conhecem o que faço. Enfim, este trabalho é a totalidade de todos vocês! iv Epígrafe "Se não houver frutos, valeu a beleza das flores. Se não houver flores, valeu a sombra das folhas. E, se não houver folhas, valeu a intenção da semente" Henfil v Sumário RESUMO...................................................................................................................vii 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................1 1.1 Objetivos...............................................................................................................1 2 AQUISIÇÃO E APRENDIZAGEM DE SL...............................................................2 3 O ESPANHOL NO CONTEXTO HISTÓRICO.........................................................5 4 A LÍNGUA ESPANHOLA NO BRASIL...................................................................7 5 O ENSINO DA LÍNGUA ESPANHOLA NOS DIAS ATUAIS..................................8 6 A INTERFERÊNCIA LINGÜÍSTICA ENTRE ESPANHOL E PORTUGUÊS.........10 7 ANÁLISE DE ERROS E INTERLÍNGUA..............................................................13 8 ANÁLISE CONTRASTIVA....................................................................................15 9 CONCLUSÃO........................................................................................................17 10 REFERÊNCIAS...................................................................................................18 vi RESUMO A aquisição de língua espanhola apresenta-se como um desafio ao aprendiz brasileiro devido a grande influência de sua língua materna. A proximidade entre as duas línguas conduz a uma interferência lingüística, que atualmente vem sendo estudada por meio de modelos lingüísticos, tais como: a análise de erros, interlíngua e análise contrastiva. O que se conhece a respeito ainda é pouco, porém o histórico da língua no Brasil é recente e estamos ainda nos primeiros passos de pesquisas que posteriormente virão para uma compreensão mais elaborada. Neste trabalho será apresentado uma contextualização da língua espanhola focando os aspectos que permeiam a interferência lingüística no aprendizado da língua espanhola no Brasil. Palavras-chave Aquisição, língua espanhola, Interferência lingüística vii 1 1 INTRODUÇÃO Nota-se que o ensino de Língua espanhola no Brasil vem crescendo extraordinariamente nos últimos anos, não somente em níveis mais básicos, mas também no ensino médio e superior. Segundo DURÃO (2000), em 1994 o espanhol era a língua preferencial de 40 por cento dos estudantes na prova do vestibular para o ingresso na universidade. Atualmente, a língua espanhola vem tomando proporções ainda maiores no que concerne ao âmbito educacional. Porém, este panorama de aparência tão favorável para a língua espanhola supõe também dificuldades notáveis no aprendizado. DURÃO (2004) enfatiza que, segundo a Embaixada da Espanha no Brasil faltam professores, faltam instrumentos didáticos adequados e, sobretudo, faltam investigações específicas destinadas a melhorar o ensino-aprendizagem do espanhol por luso-falantes. De fato, há uma carência de trabalhos voltados ao aprendizado de língua espanhola por falantes brasileiros. Neste sentido, são necessários estudos que identifiquem os desafios na aquisição de segunda língua (SL) e que tais estudos proponham mecanismos facilitadores neste processo. 1.1 OBJETIVOS Este trabalho propõe entre outros aspectos, discutir os instrumentos facilitadores no contexto dos desafios na aquisição da língua espanhola. Desta forma, pretendemos Identificar quais são os desafios que se apresentam no processo ensino-aprendizagem de língua espanhola, como também os mecanismos facilitadores que permitem vencer estes desafios. Além disso, pretende-se apresentar de forma clara como as pesquisas mais recentes neste campo mostram o grau de progresso nos estudos que concernem à interferência e a aquisição de línguas próximas como o espanhol e o português (ALVAREZ, 2002 p.18). 2 2 AQUISIÇÃO E APRENDIZAGEM DE SEGUNDA LÍNGUA (SL) O tema aquisição da linguagem apresenta-se como primordial na Teoria Lingüística e no estudo sobre a cognição humana (CORREA, 1999, p. 13). Os termos aquisição e aprendizagem, aplicados às línguas, se referem ao processo de interiorização das regras da nova língua e neste sentido, são sinônimas. A aquisição é um processo inconsciente, idêntico em seus aspectos fundamentais ao processo que utilizam as crianças ao adquirir sua primeira língua, enquanto que aprendizagem é um processo inconsciente que tem como resultado o conhecimento sobre a linguagem. Nota-se que o processo de aquisição de SL é algo complexo constituído com um número significante de variáveis. Alguns modelos de aprendizagem e estudo em aquisição de uma segunda língua buscam explicar alguns dos aspectos que interagem nesse processo, tais como aspectos relativos à metodologia e diferenças individuais do aprendiz (como aptidão e estilo cognitivo, por exemplo), o contexto de aprendizagem, características do professor, desafios relativos à língua a ser adquirida, os processos cognitivos dos educandos e sua produção real. Uma grande parcela do estudo do processo de aquisição da linguagem desenvolve-se, no entanto, de maneira praticamente independente da Teoria Lingüística, mesmo que a inclusão de uma teoria de língua numa teoria da aquisição da linguagem se faça necessária, (CORREA 1999, p. 14) Percebe-se que, ao longo das últimas cinco décadas de pesquisa na área da aquisição, não se conseguiu chegar a uma conclusão sobre a maneira de como se deve conceber a língua a ser adquirida e o momento de partida do processo de aquisição. No entanto não nos deteremos neste aspecto. Abordaremos especificamente a temática sobre os desafios no campo da aquisição de uma língua estrangeira, especificamente o espanhol. Neste contexto, nota-se que nas 3 últimas décadas ocorreu um crescente número de estudos relativos à aquisição de espanhol como língua estrangeira por falantes brasileiros, sendo muitos deles relatos de experimentos pontuais (DURÃO, 1999, p. 21). No entanto, a questão fundamental da proximidade interlingüística e suas conseqüências permanecem sem um estudo cientifico mais profundo (VILLALBA, 2002, p. 32). É fato que a proximidade entre línguas pode conduzir no âmbito do aprendizado a uma interferência lingüística, objeto de pesquisa deste trabalho. A interferência lingüística pode ser uma das dificuldades apresentadas na aquisição de uma SL, que segundo Kabatek (1997, p. 46) não podem ser consideradas como erro, mas como técnica de identificação inerente ao processo ensino-aprendizagem. No presente estudo, ao se referir à aprendizagem, será usado segundo LYONS (1982, p.22) o termo aquisição, pelo fato de esse termo ser neutro em relação a algumas aplicações que se tornaram associadas ao termo “aprendizado” em psicologia. É notável que para muitas pessoas, ao ouvirem falar em aquisição de línguas estrangeiras, associam a experiência que tiveram na escola, quando estudavam uma ou mais línguas estrangeiras. No entanto vemos que estudar uma língua estrangeira hoje, é bem diferente de como era antes nas escolas. O contexto de aquisição de uma língua avançou as barreiras escolares, de forma que atualmente a aquisição de línguas estrangeiras não se dá somente em contextos escolares formais, mas também no cotidiano. O espanhol, por exemplo, vem alcançando um número considerável de falantes no mundo todo e já é a segunda língua mais falada em muitos países e aos poucos está se transformando em língua internacional dos negócios, da tecnologia e das ciências, no comércio e nas relações internacionais. Neste contexto, nota-se que é freqüente que as segundas línguas sejam tema de debate e discussão em questões de Estado. Vemos, por exemplo, que em sociedades multilíngües tem-se debatido exaustivamente a necessidade da formulação de uma política lingüística nacional ou até mesmo internacional, ou 4 seja, que língua ou línguas se deve ensinar, qual deve ser o veículo de comunicação no contexto escolar e quais se devam ensinar em segundo lugar. Segundo FREEMAN e LONG, (1994 p. 54) existem tantas razões para se estudar a aquisição de uma SL, como lugares no mundo onde as línguas estrangeiras são adquiridas e usadas. Trata-se de um estudo fascinante em si mesmo, pois constitui um verdadeiro quebra-cabeças. Não há como separar o estudo da aquisição de uma segunda língua, de fatores que visam contribuir no aspecto da aprendizagem, ou seja, ambas caminham juntas. São, portanto, vários os fatores que contribuem para o processo de aquisição da SL. Entre eles inclui-se o contexto social do aprendiz, que segundo FERNÁNDEZ (2004 p 32), entre os elementos, podem destacar-se as características que o acompanham o indivíduo tais como: situação econômica, religião, nível de escolaridade, formação, costumes, entre outros. Tais elementos pessoais permitem possíveis interações de diferentes tipos que resultam decisivas para o aprendiz em seu processo de aquisição lingüística. Fatores como estes devem ser estudados para a criação de modelos de ensino adequados ao contexto real dos educandos. Apesar de que as descobertas nessa área possam oferecer várias contribuições positivas para o ensino de SL no Brasil, muito empenho ainda é preciso para que o professor de línguas em geral possa se aprofundar mais sobre o modo como se da à aquisição, o modo como se usa, se compreende e se fala uma língua estrangeira. O conhecimento mais acurado sobre o processo de aquisição poderá dar ao professor melhores condições de avaliar o ensinoaprendizagem e oferecer alternativas para o seu exercício pedagógico (HEBERLE 1997 p. 50). 5 3 O ESPANHOL NO CONTEXTO HISTÓRICO O espanhol é uma das línguas mais vivas e vivazes do mundo. É uma das línguas que avançam com maior força, não somente no aspecto geográfico, ou seja, vai muito além disso. Um exemplo é a diversificação de pronúncias que esta língua adota, pronúncias tão diferentes como podem ser as do portenho, do andaluz ou do cubano e o fato de que, desde os tempos medievais, esta língua não deixou de produzir uma literatura extraordinária. A língua espanhola se destaca, sobretudo, por sua capacidade de misturar, incorporar, conviver e aceitar o diverso, o variado, em uma nova e dinâmica unidade aberta por sua vez a mudanças incessantes apesar de parecer as vezes algo conservador. Segundo MALLEDO (2004), dentro da política geral de expansão da língua e cultura espanholas, a ação educativa do Ministério da Educação e Ciência (MEC) no exterior, vem experimentando nos últimos anos, um incremento considerável que trouxe consigo um notável esforço em recursos humanos e financeiros para manter e intensificar tais ações. Em um rápido repasso pelos dados fundamentais a este respeito, precisamos ressaltar que existem na atualidade 20 Conselhos de Educação nas Embaixadas da Espanha, das quais: 18 com caráter bilateral: Alemanha, Andorra, Argentina, Bélgica, Brasil, Bulgária, China, Suíça, Estados Unidos, Filipinas, França, Itália, Marrocos, México, Polônia, Portugal e Reino Unido e duas de caráter multilateral: União Européia (Bruxelas) e UNESCO-OCDE (Paris). Os objetivos gerais de promoção da língua e da cultura espanhola se concretizam em um amplo programa e atividades desenvolvidas pela Administração do MEC no exterior, com o apoio e sob a coordenação dos Serviços Centrais do Ministério. Em atenção a sua relevância, tanto quantitativa como qualitativa, se faz necessário destacar os seguintes objetivos: Introdução do ensino da língua, literatura, geografia e história espanholas no currículo próprio de sistemas educativos de outros países. Este programa tem o apoio do Ministério da Educação da Espanha , através de diversas atividades entre as que se destacam 6 a entrega de materiais didáticos e a organização de cursos de formação para professores, como fazem no Brasil. Para dar um maior impulso a este programa que está rendendo excelentes resultados, em junho de 2003 organizou-se a constituição da Fundação Rede Ibero-Americana de Colégios Espanhóis (RICE) da qual são fundadores o MEC espanhol e as entidades titulares de todos os Centros conveniados. O objetivo principal desta fundação é coordenar todas as atividades e iniciativas surgidas das instituições que a integram: intercâmbio de programas e experiências educativas. Outro objetivo é o apoio ao ensino da língua espanhola nos sistemas educativos de outros países. 7 4 A LÍNGUA ESPANHOLA NO BRASIL A inclusão da língua espanhola no contexto do ensino médio brasileiro, somente se deu a partir do ano de 1942, juntamente com o francês e o inglês que já faziam parte do currículo desde o ano de 1885. Desde sua implantação, nos últimos cinqüenta anos no Brasil, o processo de ensino de língua espanhola passou por situações adversas (FERNÁNDEZ, 2000, p.68). Dentre elas, a principal foi de que a Língua Espanhola figurava como uma língua opcional no ensino fundamental e médio, sem nenhum caráter legal. Assim, poucos estabelecimentos de ensino tinham na grade curricular a língua espanhola. Em 1961, após a reforma educativa no Brasil, as línguas estrangeiras foram constituídas na esfera de matérias complementares ou optativas e as instituições de ensino tinham o direito de escolher a língua estrangeira a ser ensinada. No entanto, ainda não havia nenhuma lei que regulamentasse a situação. Somente em 1996, foi implantada a Lei de Diretrizes de Bases da educação Brasileira (LDB) lei número 9394/96, que faz referência ao ensino de segunda língua no Brasil, enfatiza que a implantação de uma língua estrangeira se faz obrigatória a partir da quinta série do ensino fundamental, deixando a critério das escolas decidirem qual(is) língua(s) estrangeira(s) ensinarem. Assim, dentre as línguas estrangeiras, havia até então, pouco interesse dos estabelecimentos de ensino pelo espanhol, o que constituiu um obstáculo ao desenvolvimento da língua espanhola, gerando uma carência no número de profissionais capacitados ao ensino e de materiais didáticos adequados ao processo de aprendizagem. 8 5 O ENSINO DA LÍNGUA ESPANHOLA NOS DIAS ATUAIS DOURADO e OBERMARK (2006 p. 11) consideram que os parâmetros curriculares nacionais PCNs surgidos em 1997 e elaborados pelo MEC visam dar uma contribuição na correção de falhas em nosso sistema educacional, procurando aportar uma melhoria na qualidade de ensino. É neste contexto que, a partir do ensino fundamental II, existe a preocupação de que ao menos uma língua estrangeira deva configurar no currículo escolar, permitindo ao aluno um maior acesso ao mundo por meio de múltiplas perspectivas e possibilitando ao mesmo acessar as fontes de pesquisa, poder adentrar ao mundo dos negócios, facilitando assim sua comunicação no mundo cada vez mais globalizado. Nesta conjuntura do mundo globalizado que nos últimos anos, houve uma explosão no ensino de espanhol no Brasil que se deu com a o aparecimento de diferentes centros de idiomas ofertando a língua e também pelo fato de que escolas regulares, especialmente da rede particular, incluíram em seus currículos na última década, o ensino do espanhol como disciplina obrigatória ou opcional (FERNÁNDEZ, 2000, p.27). Além disso, atualmente a realidade do ensino de língua espanhola é bem diferente. Há um grande número de escolas da rede pública e privada que oferece o espanhol como língua estrangeira. A língua passou a ser valorizada, principalmente pelo fato de as relações comerciais do Brasil incluírem países que falam espanhol. Em sete de julho de 2004, houve a aprovação do projeto de Lei nº 3.987/00 pela Câmara dos Deputados. Esta aprovação versa sobre a obrigatoriedade do ensino do espanhol no ensino médio das escolas públicas e privadas do Brasil e confere o caráter facultativo da implantação às escolas do ensino fundamental, conferindo a língua uma maior importância no contexto educacional. Tal realidade faz com que tenhamos um panorama totalmente diferente do descrito até o momento. 9 Há por tanto um momento de grande valorização do idioma ocupando este um lugar destacado no mundo como veículo de comunicação, de negócios e de cultura (LÉON, 2000). Assim, devido à língua espanhola ter se tornado mais forte, houve em paralelo, a ampliação de unidades de formação de profissionais aptos ao ensino de espanhol e o desenvolvimento de numerosas pesquisas que focaram no ensino-aprendizagem desta língua, com criação de modelos de ensino e de materiais didáticos. Esta estrutura base, vem se aprimorando com a pesquisa continuada, com a criação de cursos de especialização e criação de novos métodos de ensino, eficazes e atuais. Porém o número é ainda pequeno comparado com a demanda existente. 10 6 A INTERFERÊNCIA LINGÜÍSTICA ENTRE ESPANHOL E PORTUGUÊS Um dos marcos do aprendizado de espanhol por falantes brasileiros é a similaridade entre as duas línguas. O fato de algumas palavras serem semelhantes ou iguais, seja em pronúncia ou escrita, pode levar o aprendiz a dar significados incorretos. DURÃO (2004 p. 34) aponta segundo a teoria de Chomsky que os seres humanos possuem uma inclinação inata no que diz respeito a inferência das regras da língua. Segundo ela, em função da proximidade tipológica existente entre as duas línguas, considera-se que o ensino do espanhol por falantes do português do Brasil deve se beneficiar das aportações dos modelos da Análise Contrastiva (AC), da Análise de Erros (AE) e da Interlíngua. FREEMAN e LONG (1994 p. 17), afirmam que antes que fosse estabelecido o campo da Aquisição de Segunda Língua (ASL) tal e como a conhecemos hoje, durante as décadas dos anos quarenta e sessenta, os pesquisadores fizeram analises contrastivas comparando as línguas de forma sistemática. Estes se sentiam motivados diante da perspectiva de chegar a identificar diferenças e características em comum entre as línguas nativas e a línguas alvo. De acordo com WEINREICH, (apud FREEMAN e LONG, 1994 p. 19), quanto maior for a diferença entre dois sistemas, isto é, à medida que sejam mais numerosas as formas e padrões mutuamente exclusivos de cada um, maior será o problema da aprendizagem e as partes onde possivelmente se produzam interferências. Neste contexto, há que destacar que a convicção de que as diferenças lingüísticas poderiam ser utilizadas para predizer as dificuldades da aprendizagem deu origem à hipótese da análise contrastiva, ou seja, quando duas línguas são parecidas, se produziria uma transferência positiva; quando fossem diferentes, se daria uma transferência negativa ou interferência. 11 Entretanto, há que ressaltar que a interferência lingüística pode sim gerar determinados problemas na aquisição da SL. Segundo Durão (2004, p.109), podemos citar por exemplo alguns aspectos lingüísticos concretos sobre a interferência do português para um aprendiz do espanhol como SL. A autora destaca entre tantos erros algumas principais interferências como: confusão entre as letras v / b (Tabela 1), n / m (Tabela 2), uso de ss do português e do s do espanhol (Tabela 3). Tabela 1. Letras v / b Produção dos alunos Formas corretas. “ella es governadora” gobernadora “...entre ellos estava su mujer.” estaba “...no deve superar...” Debe Fonte: Durão (2004, p.113) Em espanhol, ocorre com muita freqüência o uso de –n no final de palavras, o que raramente aparece em português. É por isso que o brasileiro, aprendiz de espanhol, deve estar atento. Tabela 2. Letras n / m Produção dos alunos Formas corretas “...de los titulados madrileños que trabajam actualmente...” “...las cadenas de televisión se comprometem...” “... em vários âmbitos...” trabajan comprometen Em Fonte: Durão (2004, p. 113) Tabela 3. Letras s / ss Produção dos alunos Forma correta “La possibilidad de volver...” “...en el dessarrollo social...” “...es necessaria la reforma...” posibilidad nesarrollo necesaria. Fonte: Durão (2004, p.114) 12 Um outro aspecto bastante destacado sobre a questão da interferência, é o problema que se refere a disparidade de gênero dos substantivos (Tabela 4). Tais equivocações são consideradas erros típicos peculiares em brasileiros aprendizes de espanhol como SL. Tabela 4. Gênero dos substantivos Produções dos alunos Formas corretas “...declara una mensaje...” un mensaje “...el leche...” la leche “...la hora de repartir los labores del las labores hogar...” Fonte: Durão (2004, p. 117) Durão (2004, p. 279), afirma que essas observações, ou seja, este estudo parte da verificação das dificuldades que brasileiros aprendizes do espanhol manifestam principalmente na produção escrita e isso serve para determinar com que aspectos é necessário que o professor trabalhe de forma mais intensa para que o aluno alcance uma maior aprendizagem. Devido a proximidade tipológica existente entre os dois idiomas, se considera que o ensino de espanhol aos falantes brasileiros de português, estes devem se beneficiar das aportações da da AE, IL e da AC. 13 7 ANÁLISE DE ERROS E INTERLÍNGUA A mesma formulação do binômio análise de erros e interlíngua, já demonstra uma maneira de conceber o erro e de observar o processo de aprendizagem: erros são índices deste processo e a interlíngua é a competência passageira ou seja, os estágios que o aprendiz atravessa antes de chegar ao resultado final (FERNÁNDEZ,1997, p.14) A preocupação por identificar e tentar remediar os erros dos alunos na aprendizagem de uma determinada língua possivelmente sempre existiu e é uma didática quase sobrenatural com a qual se depara o professor de línguas. Em termos gerais, se considera erro a toda transgressão involuntária da “norma” estabelecida em uma determinada comunidade. A norma tão pouco é um conceito único, mas cabe perguntar-se se essa definição de erro é rigorosamente aplicável as desviações do aprendiz de uma língua. O método de análise e o papel do erro é no entanto, desde o principio, diferente; quanto ao método, na análise de erros não parte da comparação das duas línguas em questão, como ocorre na análise contrastiva e nas produções reais dos aprendizes. Do ponto de vista didático, a valoração do erro como passo obrigatório para a aprendizagem, leva o aprendiz de línguas a perder o medo de errar e a não considerá-lo como infração grave. Neste contexto nota-se que da ascensão dos erros como índices dos estágios pelos quais os aprendizes passam, no caminho da apropriação da língua meta, passa-se ao conceito de interlíngua, como sistema próprio de cada um desses estágios. A análise da interlíngua nasce apoiada na análise de erros, mas rapidamente cresce seu campo de observação, uma vez que neste “sistema aproximado” existem estruturas diferentes às da língua meta – as formas errôneas – mas também se produzem muitas estruturas corretas de acordo com a norma da nova língua. A interlíngua sem dúvida, constitui uma etapa obrigatória na aprendizagem e se definiria como um “sistema lingüístico” interiorizado que evolui, tornando-se cada vez mais complexo. 14 As descrições da interlíngua se iniciam com a análise de erros e se estendem depois às descrições dos erros, pois tudo isso junto, integra a língua do aprendiz; nascem com uma preocupação didática e se abrem posteriormente à investigação da aquisição das línguas, juntando-se a modelos lingüísticos, psicolingüísticos e sociolingüísticos diversos, para incorporar mais recentemente as análises da interação comunicativa e a dimensão pragmática da língua. Em resumo, podemos observar que a análise contrastiva, atribuía às dificuldades e os erros dos aprendizes de uma língua estrangeira à transferência negativa dos hábitos da primeira língua. Porém, estudos posteriores colocam em destaque a construção criativa da língua estrangeira por parte do aprendiz. Neste processo, o recurso ao sistema da língua materna seria uma estratégia a mais, mas não a única, como demonstra o fato de que apenas uma pequena parte dos erros, possam se explicar por interferência da língua materna. Os estudos que investigam a ordem de aquisição de uma determinada língua chegam à conclusão de que existe uma seqüência universal, independentemente de qual língua se parte como primeira. 15 8 ANÁLISE CONTRASTIVA A preocupação didática pelos erros na aprendizagem de línguas estrangeiras, possivelmente sempre existiu. Nota-se que tanto professores como estudiosos de línguas, elaboraram listas dos erros mais comuns dos estudantes, apoiadas normalmente no contraste com a língua materna dos mesmos. Segundo Fernández (1997, p. 14), a primeira causa e talvez a única sobre as dificuldades e os erros na aprendizagem de uma língua estrangeira (LE), é a interferência da língua materna do aprendiz. Essa interferência ou transferência negativa, se dá quando as estruturas em questão são diferentes em ambas línguas, porém existe uma transferência positiva ou facilitação quando ambas línguas, a que se está aprendendo e a materna, são parecidas entre si, o que poderia ser por exemplo, línguas como o espanhol e o português. Lado (1957 apud DURÃO, 2004, p. 25) afirma que o estudante que se depara com um idioma estrangeiro percebe que alguns aspectos do novo idioma são bem fáceis, enquanto que outros oferecem grandes dificuldades. Segundo a Real Academia Espanhola (1931, p.154), a análise contrastiva compara elementos ou sistemas de duas línguas objetivando descrever suas diferenças. Nota-se, por exemplo, que entre línguas, especialmente entre aquelas tipologicamente mais próximas, como é o caso do português e o espanhol, existem muitos vocábulos em comum. No entanto, mesmo quando existam semelhanças no que diz respeito a forma de certos vocábulos, é necessário averiguar si tais formas são semelhantes ou diferentes em todos os ambientes. Esta semelhança entre línguas, a língua materna (LM) e a SL que se está aprendendo, pode levar a determinados erros na aquisição desta SL. Tais erros se classificam segundo alguns critérios como: comunicativo, pedagógico e por transferência. Estes erros são classificados como principais dentro do modelo da análise contrastiva. 16 Segundo Durão (2004, p.78), no contexto do critério comunicativo dentro da análise contrastiva, o erro pode ser: global, local, por ambigüidade e pragmáticocultural. Já no contexto do critério pedagógico, o erro pode ser: individual, coletivo, oral, escrito, de compreensão e de produção. Por último, no contexto do critério do erro por transferência, este pode se dar devido a: semelhança fonológica ou ortográfica, a falta de habilidade para distinguir aspectos gramaticais da SL com relação aos da LM e pelo emprego de estrangeirismos. Neste contexto, de acordo com o modelo de AC, em qualquer campo em que exista alguma diferença entre a LM e a SL, o aprendiz dessa língua tenderia a equivocar-se, utilizando de modo automático, elementos da LM na produção da SL. 17 9 CONCLUSÃO Uma das motivações fundamentais que originou esta investigação foi a curiosidade e a preocupação, compartilhada com meus companheiros de ensino do espanhol como língua estrangeira, de saber como aprendem nossos alunos, onde estão suas dificuldades, qual o origem dessas e sobretudo, como favorecer esse processo de aprendizagem. O processo ensino-aprendizagem, nos permite verificar como se da a evolução da interlíngua do aluno e como, inclusive, o aumento de erros em números absolutos, em um determinado momento, não é sinal de regressão, mas sim de progresso, pois isso implica que se há iniciado um processo mais criativo, no qual o aluno ensaia e arrisca mais na nova língua que está aprendendo. Isto significa que a avaliação da interlíngua do aprendiz que se apóia unicamente no número de erros é, desde esta perspectiva, inadequada, pois ignora que determinados tipos de erros são marcas de progresso, e que estes devem ser colocados em relação com toda a produção, onde as conquistas também estão presentes. Necessitamos, contudo, novas investigações que aprofundem toda essa temática. No entanto, a atenção que hoje está recebendo a investigação de ação, nos permite ser otimistas. Esperamos que algum dia os programas de formação de professores possam incluir uma parte de preparação do professor como investigador. Finalmente, após perceber de que não há respostas simples a tantas indagações, estamos animados a continuar em nossa resolução de incrementar o conhecimento sobre a aquisição de segunda língua, elaborando uma teoria empiricamente defendível e que nos ajude a avançar na busca de perguntas cada vez mais relevantes. Certamente avançou-se muito nestas últimas décadas, no entanto, ainda existe muito por fazer. 18 10 REFERÊNCIA ALVAREZ, Maria Luisa Ortíz. La transferência, la interferência y la interlengua en la enseñanza de lenguas proximas. Brasilia: Universidade de Brasilia, 2002. CORREA, Letícia Maria Sicuro. Aquisição da linguagem: uma retrospectiva dos últimos trinta anos. Rio de Janeiro, DELTA, 1999, Vol.15, nº especial, p.339-383. DOURADO, Maura R.; OBERMARK, Glória M. Uma reflexão sobre Parâmetros Curriculares Nacionais de línguas estrangeiras e transposição didática. Universidade Federal da Paraíba, 2006. DURÃO, Adja B. de A. B. Análisis de errores e interlengua de brasileños aprendices de español y de españoles aprendices de portugués. Londrina: Ed. UEL, 1ª edição,1999. DURÃO, Adja B. de A. B.; ANDRADE, Otávio G. Problemas de ensino/aprendizagem de brasileiros estudantes de espanhol. Londrina: Universidade Estadual de Londrina, 2000. DURÃO, Adja B. de A. B. 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