figuras de linguagem - Prof. Dr. Ivo da Costa do Rosário

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figuras de linguagem - Prof. Dr. Ivo da Costa do Rosário
Instituto Superior de Ciências Humanas e Sociais Anísio Teixeira
Docente: Prof. Ivo da Costa do Rosário
Língua Portuguesa VII
FIGURAS DE LINGUAGEM
* Visão geral *
Figuras de linguagem (Brasil) ou figuras de estilo / figuras de retórica (Portugal) são estratégias que o
escritor pode aplicar ao texto para conseguir um efeito determinado na interpretação do leitor. Podem relacionarse com aspectos semânticos, fonológicos ou sintáticos das palavras afetadas. Podem ser divididas em dois grandes
grupos: figuras semânticas e figuras sintáticas.
FIGURAS SEMÂNTICAS
•
Alegoria - mais especificamente de uso retórico, produz a virtualização do significado, ou seja, sua expressão
transmite um ou mais sentidos que o da simples compreensão ao literal. Diz b para significar a. A fábula e a
parábola são exemplos genéricos (isto é, de gêneros textuais) de aplicação da alegoria, às vezes
acompanhados de uma moral que deixa claro a relação entre o sentido literal e o sentido figurado.
•
Ambiguidade ou Anfibologia - duplicidade de sentido em uma construção sintática. Um enunciado é
ambíguo e, portanto, anfibológico quando permite mais de uma interpretação. Exemplo: Venceu o Brasil a
Argentina - Quem foi o vencedor: o Brasil ou a Argentina?
•
Antífrase - facilmente confundida com as figuras da ironia, sarcasmo, eufemismo e sátira, consiste na
utilização de uma palavra com o sentido contrário àquele que tem normalmente. O seu uso pode justificar-se
como forma de atenuação de uma ideia negativa. Pode-se considerar, por vezes, a antífrase como um
eufemismo levado ao extremo - quando o sentido original das palavras é invertido.
•
Antítese - consiste na exposição de ideias opostas. Ocorre quando há uma aproximação de palavras ou
expressões de sentidos opostos. Esse recurso foi especialmente utilizado pelos autores do período Barroco. O
contraste que se estabelece serve, essencialmente, para dar uma ênfase aos conceitos envolvidos que não se
conseguiria com a exposição isolada dos mesmos. É uma figura relacionada e muitas vezes confundida com o
paradoxo. Várias antíteses podem ser feitas através de Amor e Ódio, Sol e Chuva, Paraíso e Inferno, Deus e
Diabo.
•
Antonomásia - substituição de um nome por outro nome ou expressão que lembre uma qualidade,
característica ou fato que de alguma forma identifique-o. Por exemplo, quando se fala "o apóstolo dos
gentios" no lugar de se escrever "São Paulo". É um caso especial de metonímia, ou seja, uma substituição de
um nome por outro que com ele tenha afinidades semânticas. Esta substituição resulta comumente do
patrimônio pessoal ou da profissão do indivíduo em causa, conhecidos que devem ser, ou pelo menos
facilmente deduzíveis, pelo receptor de modo a que uma substituição seja compreendida e provoque o efeito
desejado. Exemplo: Jesus Cristo, o Filho de Deus; O Rei, Roberto Carlos.
•
Apóstrofe - caracterizada pela evocação de determinadas entidades, consoante o objetivo do discurso, que
pode ser poético, sagrado ou profano. Caracteriza-se pelo chamamento do receptor, imaginário ou não, da
mensagem. Nas orações religiosas é muito frequente ("Pai Nosso, que estais no céu", "Avé Maria" ou mesmo
"Ó meu querido Santo Antônio" são exemplos de apóstrofes). Em síntese, é a colocação de um vocativo numa
oração. Ex.:"Ó Leonor, não caias!". É uma característica do discurso direto, pois no discurso indireto toma a
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posição de complemento indireto: "Ele disse a Leonor que não caísse". No discurso político é também muito
utilizado ("Povo de Sucupira!!!"), já que cria a impressão, entre o público, de que o orador está a dirigir-se
diretamente a si, o que aumenta a receptividade.
•
Cacofonia, cacófato ou cacófaton - nome que se dá a sons desagradáveis ao ouvido formados muitas vezes
pela combinação de palavras, que ao serem pronunciadas podem dar um sentido pejorativo, obsceno ou
mesmo engraçado, como: por cada, boca dela, vou-me já, ela tinha, como as concebo e essa fada. A cacofonia
pode constituir-se em um dos chamados vícios de linguagem, e devem ser evitados, tanto na linguagem
coloquial quanto na escrita.
•
Catacrese - consiste na utilização de uma palavra ou expressão que não descreve com exatidão o que se quer
expressar, mas é adotada por não haver uma outra palavra apropriada - ou a palavra apropriada não ser de uso
comum; são como gírias do dia-a-dia, expressões usadas para facilitar a comunicação. Estabelecem
comparação às situações em que são atribuídas, qualidades de seres vivos, a seres inanimados. Exemplos
comuns são: "os pés da mesa", "marmelada de laranja", "vinagre de maçã", "embarcar no avião", "cabeça do
alfinete", "braço de rio", "dente de alho" etc. Consiste assim em uma metáfora de uso comum, deixando de ser
considerada como tal.Consiste também em dar à palavra uma significação que ela não tem, por falta de termo
próprio.
•
Comparação - semelhante à metáfora, é usada para demonstrar qualidades ou ações de elementos. A relação
entre esses elementos pode formar uma comparação simples ou uma comparação por símile. É mais
facilmente entendida como a aproximação de dois termos que se assemelham.
o Comparação simples - É a aproximação de dois termos entre os quais não existe alguma relação de
semelhança, como na metáfora. A comparação, porém, é feita por meio de um conectivo (como, parecia, etc)
e busca realçar alguma qualidade. Exemplo: “O mar canta como um canário”. Outro exemplo: “A cidade,
adormecida, parecia um cemitério sem fim”.
o Comparação por símile - É usada para comparar dois elementos que não pertencem à mesma categoria
(dependendo, claro, do contexto). Algumas vezes é chamada simplesmente de símile. Exemplos: É que teu
riso penetra n'alma / como a harmonia de uma orquestra santa - Castro Alves; “A via-láctea se desenrolava /
como um jorro de lágrimas ardentes - Olavo Bilac.
•
Disfemismo ou Cacofemismo - consiste em empregar deliberadamente termos ou expressões depreciativas,
sarcásticas ou chulas para fazer referência a um determinado tema, coisa ou pessoa, opondo-se assim, ao
eufemismo. Expressões disfêmicas são frequentemente usadas para criar situações de humor. Exemplo:
“comer capim pela raiz”, “vestir o paletó de madeira”, “ir para a terra dos pés-juntos”, “bater as botas”
(morrer).
•
Estrangeirismo ou peregrinismo - uso de palavra, expressão ou construção estrangeira que tenha ou não
equivalente vernácula, em vez da correspondente em nossa língua. É apontada nas gramáticas normativas
como um vício de linguagem, o que, há muito, é tido como uma visão simplista por diversos lingüistas.
Exemplos: delivery, fashion, futebol, basquete, capuccino etc.
•
Eufemismo - emprega termos mais agradáveis para suavizar uma expressão. Consiste na visualização de uma
expressão. É necessário ressaltar que em uma série de materiais didáticos há exemplos inadequados de
eufemismo, principalmente no que se refere à morte: "Ir para a terra dos pés juntos", "Comer capim pela raiz"
e "Vestir o paletó de madeira" são comuns nesses livros. Exemplos adequados de eufemismo: “Você faltou
com a verdade” (mentiu); “Ele entregou a alma a Deus” (morreu); “Ela é minha ajudante” (empregada
doméstica).
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•
Gradação – por meio dessa figura de linguagem, são expostas determinadas ideias de forma crescente (em
direção a um clímax) ou decrescente (anticlímax).Exemplos: “Tudo começou no meu quarto, onde concebi as
ideias que me levariam a dominar o bairro, a cidade, o país, o mundo... E a desejar o próprio Universo...”
(crescente); “Meu caro, para mim, você é um simples roedor. Que digo? Um verme... Menos que isso! Uma
bactéria! Um vírus!...” (decrescente)
•
Hipálage – caracteriza-se pelo desajustamento entre a função gramatical e a função lógica das palavras,
quanto à semântica, de forma a criar uma transposição de sentidos. Uma das formas mais frequentes consiste
na atribuição, a um substantivo, de uma qualidade (adjetivo) que, em termos lógicos, pertence a outro.
Exemplo: "Fumar um pensativo cigarro."
•
Hipérbole ou auxese - quando há demasia propositada num conceito expresso, de modo a definir de forma
dramática aquilo que se ambiciona vocabular, transmitindo uma ideia aumentada do autêntico. É habitual na
linguagem corrente, como quando se pronuncia: "Já te ressalvei mais de mil ocasiões, para não retrocederes a
proferir-me elevado!".
•
Ironia - instrumento de literatura ou de retórica que consiste em dizer o contrário daquilo que se pensa,
deixando entender uma distância intencional entre aquilo que dizemos e aquilo que realmente pensamos. Ela
pode ser utilizada, entre outras formas, com o objetivo de denunciar, de criticar ou de censurar algo. A ironia
convida o leitor ou o ouvinte, a ser ativo durante a leitura, para refletir sobre o tema e escolher uma
determinada posição. Exemplo: Moça linda, bem tratada, três séculos de família, burra como uma porta: um
amor! (Mário de Andrade)
•
Metáfora - consiste na comparação de dois termos sem o uso de um conectivo. Exemplo: "Amor é fogo que
arde sem se ver" (Luís de Camões)
•
Metalepse - figura de estilo que toma o antecendente pelo consequente, e vice-versa, ou seja, quando
queremos dar a entender uma coisa por outra que a precede no discurso. Trata-se de uma figura quase
dispensável na sua aplicação estilística, pois o efeito desejado é, a rigor, o mesmo que se obtém com um
eufemismo, uma alusão e, sobretudo, uma metonímia, embora esta esteja dependente de uma relação entre
proposições únicas e não entre orações completas como pode acontecer com a metalepse. Se dizemos
“choramos o nosso pai” por “o nosso pai morreu”, estamos utilizando uma forma de metalepse (damos a
entender a causa pela sua consequência). O movimento oposto também pode ocorrer. Por exemplo, o
ensinamento de Abraão é uma antimetalepse ou metalepse por antimetábole: “O sábado foi feito por causa
do homem, e não o homem por causa do sábado.” (Bíblia Sagrada), porque se toma o consequente (“sábado”)
pelo antecedente (“homem”). Em qualquer caso, as propriedades da metalepse são idênticas às do discurso
figurado, aproximando-se ainda da natureza da metáfora por querer significar uma coisa por outra que com ela
se relaciona semanticamente.
•
Metonímia ou Transnominação - consiste no emprego de um termo por outro, dada a relação de semelhança
ou a possibilidade de associação entre eles. Pode denotar diferentes fenômenos:
o
o
o
o
Causa pelo efeito: Sócrates tomou as mortes. (O efeito é a morte, a causa é o veneno). Sou alérgica a
cigarro. (O cigarro é a causa: a fumaça, o efeito. Podemos ser alérgicos a fumaça, mas não ao cigarro).
Marca pelo produto: O meu irmãozinho adora danone.(Danone é a marca de um iogurte; o menino gosta
de iogurte).
Autor pela obra: Lemos Machado de Assis por interesse. (Ninguém, na verdade, lê o autor, mas as obras
dele em geral).
Continente pelo conteúdo: Bebeu o cálice da salvação. (Ninguém engole um cálice, mas sim a bebida que
está nele).
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Possuidor pelo possuído: Ir ao barbeiro. (O barbeiro trabalha na barbearia, aonde se vai - de fato, ninguém
vai a uma pessoa, mas ao local onde ela está).
Matéria pelo objeto: Quem por ferro fere... (ferro substitui, aqui, espada, por exemplo)
O lugar pela coisa: Uma garrafa de Porto. (Porto é o nome da cidade conotada com a bebida - não é a
cidade que fica na garrafa, mas a bebida).
O abstrato pelo concreto: A juventude é corajosa e nem sempre consequente. (juventude pela palavra
jovens).
A coisa pela sua representação = (sinal pela coisa significada): És a minha âncora. (em substituição de
"segurança").
Parte pelo todo: A mão empurrou o carrinho do bebê. (na verdade, quem empurra o carrinho é a pessoa e
não só a mão).
Instituição pelo que representa: A igreja publicou seu novo livro (quem publica é uma editora ou alguém).
Causa primária pela secundária: O engenheiro construiu mal o edifício (o engenheiro não constrói, só
planeja)
O inventor pelo invento: Ele comprou um Ford (observe que estamos falando do criador, não da marca)
O concreto pelo abstrato (e vice-versa): A velhice deve ser respeitada (não é a velhice, mas os velhos)
Gênero pela espécie: Os mortais são capazes de tudo
O singular pelo plural (vice-versa): O brasileiro é um apaixonado pelo futebol (não é só um brasileiro, mas
todos eles)
A matéria pelo objeto: Tirem os cristais (não estamos nos referindo aos cristais, mas aos copos)
A forma pela matéria: Ele cuida com carinho da redonda
Indivíduo pelas classes: Odiava ser o Judas da sala.
•
Onomatopeia – figura de linguagem na qual se reproduz um som com um fonema ou palavra. Ruídos, gritos,
canto de animais, sons da natureza, barulho de máquinas, o timbre da voz humana fazem parte do universo
das onomatopeias. As onomatopeias, em geral, são de entendimento universal. Geralmente, as onomatopeias
são usadas em histórias em quadrinhos. Exemplos: Ai! Ah! Buáá! Cocoricó!
•
Paradoxo - relacionado com a antítese, o paradoxo é uma figura de pensamento que consiste quando a
conotação extrapola o senso comum, ou seja, a lógica. As expressões assim formuladas tornam-se proposições
falsas, à luz do senso comum, mas que podem encerrar verdades do ponto de vista psicológico/poético. Em
língua portuguesa, o paradoxo mais citado talvez seja o célebre soneto de Luís de Camões: "Amor é fogo que
arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem
doer; É um não querer mais que bem querer; É solitário andar por entre a gente; É nunca contentar-se de
contente; É cuidar que se ganha em se perder; É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o
vencedor; É ter com quem nos mata lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos
amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor?". A diferença existencial entre antítese e paradoxo, é que
antítese toma nota de comparação por contraste ou justaposição de contrários, já o paradoxo reconhece-se
como relação interna de contrários. Vejamos: "Eu sou velho, você é moço." (antítese); "Eu sou um velho
moço." (paradoxo).
•
Perífrase - designa qualquer sintagma ou expressão idiomática mais desenvolvida (e mais ou menos óbvia ou
direta) que substitui outra. O termo é mais utilizado para identificar uma figura de linguagem ou figura de
estilo retórico que também substitui uma expressão curta e direta por outra mais extensa e carregada de maior
ou menor simbolismo, estando, neste caso, intimamente relacionada com a antonomásia. O seu uso pode
justificar-se por diversas razões, como a não repetição da mesma palavra em frases próximas ou na mesma
frase; para engrandecer o assunto tratado (neste caso, ligada à hipérbole) ou, pelo contrário, para lhe não
darmos demasiado importância ("uma pessoa menos favorecida pela beleza" por "pessoa feia" - e, neste caso,
ligada ao eufemismo. Exemplo: “o país do futebol” por Brasil.
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•
Prosopopeia, personificação ou prosopeia- consiste em atribuir a objetos inanimados ou seres irracionais
sentimentos ou ações próprias dos seres humanos. Dizer "está um dia triste" implica a atribuição de um
sentimento a uma entidade que, de fato, nunca poderá estar triste mas cujas características (céu nublado, frio,
etc) poderão conotar tristeza para o ser humano. É uma figura de estilo frequentemente utilizada na literatura
infanto-juvenil. Exemplos: "O Gato disse ao Pássaro que tinha uma asa partida."; "O Vento suspirou e o Sol
também."
•
Sarcasmo - designa um escárnio ou uma zombaria, intimamente ligado à ironia com um intuito mordaz quase
cruel, muitas vezes ferindo a sensibilidade da pessoa que o recebe. É uma figura de estilo muito utilizada nas
artes orais e escritas, designadamente na literatura e na oratória. Quando alguém nos pergunta se queremos
levar um murro, nós respondemos "sim, sim, e depois um pontapé se puder ser". Ocorre sarcasmo quando
algo mau nos acontece e nós exclamamos "que bom!" ou "que espetáculo!" ou "perfeito!". Quando alguém cai
e uma pessoa lhe pergunta se ele caiu e ele responde "Não, me joguei". Quando alguém nos pergunta: "É
você?" e respondemos: "Não, é sua mãe".
•
Sinestesia - relaciona planos sensoriais diferentes. Tal como a metáfora ou a comparação por símile, são
relacionadas entidades de universos distintos. Exemplos de sinestesias: "Os carinhos (tato) de Godofredo não
tinham mais o gosto (paladar) dos primeiros tempos." (Autran Dourado); "O brilho macio do cetim." (visão +
tato); "O doce afago materno." (paladar + tato); "Verde azedo." (visão + paladar); "Aroma gritante." (olfato +
audição); "O delicioso aroma do amor" (Paladar + Olfato); "Beleza áspera" (Visão + tato).
FIGURAS SINTÁTICAS
•
Aliteração - consiste em repetir sons de sons consonantais idênticos ou semelhantes em um verso ou em uma
frase, especialmente as sílabas tônicas. A aliteração é largamente utilizada em poesias mas também pode ser
empregada em prosas, especialmente em frases curtas. Exemplo: Em horas inda louras, lindas / Clorindas e
Belindas, brandas / Brincam nos tempos das Berlindas / As vindas vendo das varandas. (Fernando Pessoa).
Nesse exemplo, há aliteração dos fonemas /l/, /d/, /b/, /v/.
•
Analepse, flash-back, flashback, cutback ou switchback - interrupção de uma sequência cronológica
narrativa pela interpolação de eventos ocorridos anteriormente. É, portanto, uma forma de anacronia ou seja,
uma mudança de plano temporal. No cinema, o flashback é um recurso típico de vários gêneros
cinematográficos, sendo frequente nos filmes policiais e nos clássicos do filme negro norte-americano.
•
Anacoluto ou frase quebrada - consiste numa irregularidade gramatical na estrutura de uma frase, como se
começássemos uma frase e houvesse uma mudança de rumo no pensamento - por exemplo, através do
desrespeito das regras de concordância verbal ou da sintaxe. Muito frequente na oralidade, onde poderá ser
apenas considerado como um erro de construção frásica, num texto escrito dá a sensação de espontaneidade.
Em "a minha roupa, levo-a sempre àquela lavandaria", frase típica do discurso oral, o termo "a minha roupa"
aparece desligada do resto da frase, onde é substituído por um pronome. Muitos autores atuais, contudo, já
não classificam estes exemplos como sendo anacolutos porque consideram que não são resultado de qualquer
inconsistência sintática, mas apenas um recurso de ênfase. Segundo estes mesmos autores, existe anacoluto
quando se forma uma frase incompleta, com parte do enunciado suspenso. Por exemplo: "Não me digas
que..." - frase em que se omite o final, atenuando algo que convém não dizer alto e explicitamente, por
diversas razões, permitindo uma infinidade de significados para a frase, ainda que o seu sentido seja
facilmente apreendido pelo receptor, se estiver devidamente contextualizado.
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•
Anadiplose - consiste na repetição da última palavra ou expressão de uma oração ou frase no início da
seguinte, com intenção de realce. Exemplo: "Todo pranto é um comentário. Um comentário que amargamente
condena os motivos dados."; "Pede-se aos senhores a aplicação da justiça. Justiça que outra coisa não é senão
a razão do Direito."
•
Anáfora - repetição da mesma palavra ou grupo de palavras no princípio de frases ou versos consecutivos. É
uma figura de linguagem comuníssima nos quadrinhos populares, música e literatura em geral, especialmente
na poesia. Exemplo: Nem tudo que ronca é porco, / Nem tudo que berra é bode, / Nem tudo que reluz é
ouro, / Nem tudo falar se pode.
•
Assíndeto - consiste na omissão das conjunções ou conectivos (em geral, conjunções copulativas), resultando
no uso de orações justapostas ou orações coordenadas assindéticas, separadas por vírgulas. Exemplo: "Tendes
jardins, tendes canteiros,/Tendes pátrias, tendes tetos".
•
Assonância - consiste em repetir sons de vogais em um verso ou em uma frase, especialmente as sílabas
tônicas. A assonância é largamente utilizada em poesias mas também pode ser empregada em prosas,
especialmente em frases curtas. Exemplo: Anule aliterações aliteralmente abusivas (manual de redação
humorístico - assonância em A); Ó Formas alvas, brancas, Formas claras (Cruz e Sousa - assonância em A);
João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento (Carlos Drummond de Andrade - assonância em O).
•
Circunlóquio - consiste em um discurso pouco direto, onde o escritor foge do ponto principal pelo abuso de
expressões, que estende demasiadamente algo que pode ser dito em poucas palavras. Exemplos: "Manter um
alto grau de atividade..." (Em vez de "trabalhar bastante") / "Grupos de idêntica natureza..." (Em vez de
"grupos iguais") / "Estamos trabalhando para que haja consenso entre os estudantes" (Em vez de "Queremos
um consenso").
•
Clímax ou gradação ascendente - consiste na apresentação de uma sequência de ideias em andamento
crescente. Há, contudo, autores que consideram que clímax ou gradação também inclui a gradação
descendente, também designada por alguns autores como anticlímax. Exemplo: "Por mais que me procure,
antes de tudo ser feito, / eu era amor. Só isso encontro: / Caminho, navego, vôo, / sempre amor (Cecília
Meireles)" / "[O Amor] tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta." (São Paulo).
•
Diácope - consiste na repetição da mesma palavra em semelhante com outra de permeio. Exemplo: "Tu só tu,
puro amor..." (Lusíadas) / “Dargo o valente dargo, a quem na guerra ninguém nunca jamais não viu as
costas.” (Garrett)
•
Eco - consiste na terminação de duas ou mais palavras de um texto serem as mesmas. É considerado uma
rima. Exemplo: “aluno repetente, repete alegremente.”, “Faço tudo eficazmente, alegremente e
calmamente.”, “Pedro, pedreiro, penseiro, esperando o trem.”
•
Elipse - supressão de uma palavra facilmente subentendida. Consiste da omissão de um termo facilmente
identificável pelo contexto ou por elementos gramaticais presentes na frase com a intenção de tornar o texto
mais conciso e elegante. Exemplos: “João estava com pressa. Preferiu não entrar. (Ele, João, preferiu não
entrar)” / “Na sala, apenas quatro ou cinco convidados”.
•
Epístrofe - consiste na repetição da mesma palavra ou expressões no final de cada oração ou verso. Exemplo:
“No mundo, as idéias são perigosas. Na vida, as vontades são perigosas.” / “A vida era incerta. A emoção,
incerta. A culpa, incerta. A morte, certa.”
•
Epizêuxis - figura de linguagem na qual a mesma palavra é repetida duas ou mais vezes seguidas sem outra
de permeio. Relaciona-se, portanto, com a diácope. Exemplo: "Marília, Marília, és a estrela da manhã." /
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"Amigo, amigo, por favor não vá embora." / "Eu queria conhecer a minha mãe, mãe, mãe. Não a minha
madrasta!"
•
Hiato - consiste no encontro entre dois fonemas iguais. O hiato, como figura de linguagem, é o encontro entre
dois (ou mais) fonemas iguais; o hiato comum é o encontro entre duas vogais. Exemplos de hiato (figura de
linguagem): "Um ou outro." / "Camélia amou a Augusto." / "A alma de teu ente querido está no céu." /
"Precisamos de Jabuticaba, babá e água".
•
Hipérbato ou inversão - consiste na troca da ordem direta dos termos da oração (sujeito, verbo,
complementos, adjuntos) ou de nomes e seus determinantes. Exemplos: "Aquela triste e leda madrugada"
(Luís Vaz de Camões) / "Do que a terra mais garrida / Teus risonhos, lindos campos têm mais flores" (Osório
Duque Estrada, em Hino Nacional Brasileiro) / “Aves, desisti de as ter!” / “Das minhas coisas cuido eu!”
•
Idiotismo - vício ou figura de linguagem que consiste em traduzir, literalmente, expressão ou termo que, em
português, não faz sentido ou se demonstra, gramatical e sintaticamente, errada. É um tipo de estrangeirismo
e, da mesma forma que o barbarismo, pode definir-se pela origem do termo. Assim, um idiotismo advindo de
termo ou expressão inglês é um anglicismo; de termo ou expressão francês, um galicismo; de um termo ou
expressão alemão, um germanismo e assim por diante. Exemplos:
o Anglicismos
Até à vista – Until the eye (em vez de, por exemplo, "See you").
Entre (imperativo do verbo entrar) – between (em vez de, por exemplo, "Come' in")
Filho-da-mãe – Son of the mother (em vez de, por exemplo, "Son of a bitch")
o Galicismos
Poser un lapin – Colocar um coelho (em vez de "Não comparecer a um compromisso")
Ça va? - Aquilo vai? (em vez de, por exemplo "Tu estás bem?/Você está bem?)
•
Paranomásia ou paronomásia - consiste no emprego de palavras parônimas (com sonoridade semelhante)
numa mesma frase, fenômeno que é popularmente conhecido como trocadilho. Os trocadilhos constituem um
dos recursos retóricos mais utilizados em discursos humorísticos e publicitários. Resulta sempre da
semelhança fonética ou sintática de dois enunciados cuja conjunção, comparação ou subentendido (enunciado
elíptico, não referido diretamente) cria um efeito inesperado, intencional ou não, aproveitando a sonoridade
similar e o efeito de surpresa sobre o ouvinte ou o leitor da junção de significados díspares num mesmo
contexto. Os trocadilhos mais frequentes são cacofonias em que uma determinada palavra é pronunciada de
forma a parecer outra, geralmente com intenção humorística, maliciosa, obscena e/ou grosseira. Exemplos:
"Com tais premissas ele sem dúvida leva-nos às primícias" (Padre Antônio Vieira) / "Exportar é o que
importa"' (Delfim Netto)
•
Pleonasmo – pode ser tanto uma figura de linguagem quanto um vício de linguagem. O pleonasmo é uma
redundância (proposital ou não) em uma expressão, enfatizando-a. O pleonasmo literário também é
denominado pleonasmo de reforço, estilístico ou semântico. Trata-se do uso do pleonasmo como figura de
linguagem para enfatizar algo em um texto. Grandes autores usam muito deste recurso. Nos seus textos os
pleonasmos não são considerados vícios de linguagem, e sim pleonasmos literários. Exemplos: "Iam vinte
anos desde aquele dia / Quando com os olhos eu quis ver de perto / Quanto em visão com os da saudade via."
(Alberto de Oliveira). "Morrerás morte vil na mão de um forte." (Gonçalves Dias).
•
Polissíndeto - é o emprego repetitivo da conjunção entre as orações de um período ou entre os termos de
oração. Exemplo: "E sob as ondas ritmadas / e sob as nuvens e os ventos / e sob as pontes e sob o sarcasmo / e
sob a gosma e sob o vômito" (Carlos Drummond de Andrade)
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•
Prolepse ou antecipação - figura de sintaxe em que ocorre o deslocamento de um termo de uma oração para
outra que a precede, com o que adquire excepcional valor. Ao contrário de analepse, a prolepse é um recurso
narrativo através do qual se pode descrever o futuro; um ato futuro; prever o futuro, etc. Exemplo: Os
pastores parece que vivem no fim do mundo.(Ferreira de Castro) / O próprio ministro dizem não gostou do
ato.(Machado de Assis).
•
Silepse - figura de construção que trata da concordância que acontece não com o que está explícito na frase,
mas com o que está mentalmente subentendido, com o que está oculto. É, portanto, uma concordância
ideológica, que ocorre com a ideia que o falante quer transmitir. É também chamada de concordância
irregular. Pode ser de três tipos:
o Silepse de pessoa – Exemplo: Todos nesta sala somos gaúchos. Nesta frase, o verbo somos não concorda com o
sujeito claro Todos, que é da 3ª pessoa, portanto, a concordância "normal" seria Todos nesta sala são gaúchos.
O verbo concorda com a idéia nele implícita. O falante se inclui entre os gaúchos.
o Silepse de número – Exemplo: O gaúcho é bravo e forte. Não fogem da luta. O verbo fugir – fogem – não
concorda com o sujeito o gaúcho, e sim com o que ele representa: os gaúchos.
o Silepse de gênero – Exemplo: Porto Alegre é linda. Vista daqui parece um jardim. Nesse caso, os adjetivos linda
e vista não concordam com o substantivo Porto Alegre, mas com a palavra cidade.
•
Sínquise - figura de linguagem em que os termos da oração são transpostos de forma violenta, produzindo
confusão artística das palavras. Geralmente esse efeito é conseguido usando-se simultaneamente hipérbatos,
anacolutos, e outras figuras de repetição ou omissão, dificultando o entendimento do enunciado em uma
primeira leitura. Exemplo: A grita se levanta ao céu, da gente (Camões). A forma mais direta seria “A grita da
gente se levanta ao céu”.
•
Solecismo - inadequação na estrutura sintática da frase com relação à gramática normativa do idioma.
Exemplos: Eles é brasileiro. (Eles são brasileiros) / Aqueles dia eu fui ao restaurante. (Aqueles dias eu fui ao
restaurante) / Vou no banheiro. (Vou ao banheiro) / Eles são neurótico. (Eles são neuróticos) / Haviam seis
meses que não via a minha mãe. (Faz seis meses que não vejo a minha mãe)
•
Zeugma - consiste na omissão de um ou mais elementos de uma oração, já expressos anteriormente. O
zeugma é uma forma de elipse. Contudo, no zeugma, o termo omitido já foi mencionado anteriormente. Na
elipse, o termo ainda não foi mencionado. Esta distinção corresponde a uma interpretação tradicional destes
conceitos. Em termos modernos, elipse é o fenômeno linguístico geral que compreende como caso particular o
zeugma.
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Zoomorfização ou animalização - figura de linguagem que aproxima e descreve o comportamento humano
como de um animal, o homem é tratado como um animal. Vejamos esse exemplo de O cortiço, de Aluísio
Azevedo: "(...) via-se-lhes [das mulheres] a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam
suspendendo o cabelo todo para o alto do casco [couro cabeludo]; os homens, esses não se preocupavam em
não molhar o pêlo, ao contrário, metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas
[narizes ou focinhos] e as barbas, fossando [revolver com o focinho] e fungando contra as palmas da mão."
Fontes de pesquisa:
http://www.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/M/metalepse.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Figura_de_linguagem
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ISAT – Instituto Superior Anísio Teixeira
Língua Portuguesa VII
Material elaborado pelo Prof. Ivo da Costa do Rosário
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