FERNANDO GASPAR REMIND 25

Transcrição

FERNANDO GASPAR REMIND 25
2011
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“Origem significa aqui aquilo a partir do qual e através do qual uma coisa é o que é, e como é. Ao que
uma coisa é como é, chamamos a sua essência. A origem de algo é a proveniência da sua essência.
A pergunta pela origem da obra de arte indaga a sua proveniência essencial. Segundo a compreensão
normal, a obra surge a partir e através da atividade do artista. Mas por meio e a partir de quê é que
o artista é o que é? Através da obra; pois é pela obra que se conhece o artista, ou seja: a obra é que
primeiro faz aparecer o artista como um mestre da arte. O artista é a origem da obra. A obra é a origem
do artista. Nenhum é sem o outro. E, todavia, nenhum dos dois se sustenta isoladamente. Artista e obra
são, em si mesmos, e na sua relação recíproca, graças a um terceiro, que é o primeiro, a saber, graças
àquilo a que o artista e obra de arte vão buscar o seu nome, graças à arte. (…)”
Martin Heidegger, A Origem da Obra de Arte, 1935
“Origine signifie ici ce à partir de quoi et ce par où la chose est ce qu’elle est, et comment elle l’est. Ce
qu’une chose est en son être tel, le «quoi» en son «comment», nous l’appelons son «essence». L’origine
d’une chose, c’est la provenance de son essence. La question de l’origine de l’œuvre d’art pose celle
de sa provenance essentielle. D’après l’idée commune, l’œuvre surgit de et par l’activité de l’artiste.
Par quoi cependant et par où l’artiste à son tour est-il ce qu’il est? Par l’œuvre; car si «à l’œuvre on
connaît l’ouvrier», c’est que c’est bien l’œuvre seulement qui fait de l’artiste un maître de l’art. L’origine
de l’œuvre d’art, c’est l’artiste. L’origine de l’artiste, c’est l’œuvre d’art. Aucun des deux n’est sans l’autre.
Néanmoins, aucun des deux ne porte l’autre séparément. L’artiste et l’œuvre ne sont en eux-mêmes et
en leur réciprocité que par un tiers qui pourrait bien être primordial: à savoir ce d’où artiste et œuvre d’art
tiennent leur nom, l’art. (...)”
Martin Heidegger, L’origine de l’œuvre d’art, 1935
“Origin here means that from and by which something is what it is and as it is. What something is, as it is,
we call its essence or nature. The origin of something is the source of its nature. The question concerning
the origin of the work of art asks about the source of its nature. On the usual view, the work arises out of
and by means of the activity of the artist. But by what and whence is the artist what he is? By the work; for
to say that the work does credit to the master means that it is the work that first lets the artist emerge as a
master of his art. The artist is the origin of the work. The work is the origin of the artist. Neither is without
the other. Nevertheless, neither is the sole support of the other. In themselves and in their interrelations
artist and work are each of them by virtue of a third thing which is prior to both, namely that which also
gives artist and work of art their names – art. (…)”
Martin Heidegger, The Origin of the Work of Art, 1935
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Bem-vindos, Amigos!
A este livro, a este momento, à manifestação artística traduzida na Exposição Individual REMIND 25,
de Fernando Gaspar. Esta é uma forma simples, mas sincera e genuína, de introduzir um trabalho
complexo, reflexivo e fracturante.
Como já dizia Kandinsky, em 1910*, “Toda a obra de arte é filha do seu tempo e, muitas vezes, a mãe
dos nossos sentimentos.”. Quiçá também Fernando Gaspar, nas múltiplas e cíclicas abordagens, com
as quais nos vai revelando o seu ser pensante, se posicione bem acima das preocupações comezinhas
de mostrar uma obra consensual. Porque uma obra bonita não é necessariamente uma boa obra, mas
uma boa obra torna-se inequivocamente bela quando, mais do que um equilíbrio cromático indutor de
um certo êxtase sensorial, é capaz de alavancar a alteração de estados de espírito e interrogações.
Mais do que dar respostas, levanta questões. Mais do que transmitir certezas, invoca inquietações.
Nessun Dorma – Que ninguém durma! Ao fim de 25 anos, a arte de Fernando Gaspar está mais viva do
que nunca e interroga-nos!
Em tempos conturbados, marcados pela incerteza e pela mutação, o olhar contemporâneo de Fernando
Gaspar, quando perscruta o seu interior na depuração das influências externas, na beleza e no desafio
de cada revisitação, transposto em obra, nos mostra que quando regressa, sem deixar de o ser, já não
é o mesmo… e nós, com ele, também não. Talvez não seja uma metamorfose, mas revela a inquietude
de quem, não se conformando, progride, com o condão de aglutinar, de potenciar-se.
A arte não tem de ser fácil, mas não tem de ser elitista. A arte não tem de ser dócil, mas não tem de
ser sectária. A arte faz-se para todos, quantos queiram apreciá-la! Seja cada um de nós, à sua medida,
como parceiro, admirador, investidor, coleccionador, ou o que seja, um pequeno accionista de uma
arriscada empreitada chamada Carreira. E a obra de Fernando Gaspar cumprirá mais um desígnio ao
transcender-se e, sem nunca deixar de ser sua, passará também a ser de todos e, simultaneamente,
de cada um!
Bem-vindos, Amigos! É uma honra a vossa presença, é um privilégio a vossa atenção, é uma
responsabilidade o vosso carinho! O percurso cumpre-se integrando valor, bem hajam! Avancem,
Amigos! Deslumbrem-se, inquietem-se ou indignem-se! Talvez alguns passem indiferentes e, mesmo
assim, a obra é para eles! Fernando Gaspar insiste em levar-nos a todos! Ninguém ficará para trás! A
não ser que seja essa a sua, também legítima, vontade!
Paulo Moreira
outubro 2011
* Wassily Kandinsky, Do Espiritual na Arte, 1910.
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Amis, Bienvenue!
À ce livre, à ce moment, à la manifestation artistique qu’est l’Exposition Individuelle REMIND 25, de
Fernando Gaspar. Une façon simple, mais sincère et authentique, d’introduire un travail complexe,
réflexif et fracturant.
Comme le disait déjà Kandinsky en 1910*, «Toute œuvre d’art est l’enfant de son temps et, bien souvent,
la mère de nos sentiments.». Peut-être Fernando Gaspar, par ses multiples et cycliques abordages, par
le biais desquels il nous dévoile peu à peu son être pensant, se place-t-il bien au-dessus des petitesses
du souci de montrer une œuvre consensuelle. Si une œuvre jolie n’est pas nécessairement une bonne
œuvre, une bonne œuvre en revanche devient inéquivocablement belle lorsque, plus que de présenter
un équilibre chromatique inducteur d’une certain extase sensorielle, elle se révèle capable de déclencher
des changements d’état d’esprit et des interrogations. Plus que de donner des réponses, elle pose des
questions. Plus que de transmettre des certitudes, elle invoque des inquiétudes.
Nessun Dorma – Que nul ne dorme! Vingt-cinq ans passés, l’art de Fernando Gaspar demeure plus
vivant que jamais et nous interroge!
En des temps troublés, marqués par l’incertitude et la mutation, le regard contemporain de Fernando
Gaspar, scrutant son intérieur en tamisant les influences extérieures, dans la beauté et le défi de chaque
revisitation, une fois transposé en œuvre, nous montre qu’à son retour, tout en le restant, il n’est plus
tout à fait le même.. et nous, avec lui, non plus. Peut-être n’est-ce point une métamorphose, mais la
révélation de l’inquiétude ce celui qui, ne se conformant pas, progresse, avec cette capacité à agglutiner,
à se potentialiser.
L’art n’a pas à être facile, mais il n’a pas à être élitiste. L’art n’a pas à être docile, mais il n’a pas à être
sectaire. L’art est fait pour tous, pour tous ceux qui veulent l’apprécier! C’est-à-dire pour nous tous,
chacun à sa manière, partenaire, admirateur, chercheur, collectionneur, ou en d’autres termes, petit
actionnaire d’une entreprise risquée nommée Carrière. Et l’œuvre de Fernando Gaspar respectera l’une
de ses promesses en se transcendant et, sans jamais cesser d’être sienne, deviendra aussi nôtre et,
simultanément, de chacun!
Amis, Bienvenue! C’est un honneur que votre présence, un privilège que votre attention, une
responsabilité que votre gentillesse! Le parcours s’accomplit, votre valeur ajoutée incluse ; soyez-en
remerciés! Amis, avancez! Étonnez-vous, inquiétez-vous ou indignez-vous! Quelques-uns peut-être
passeront, indifférents et, cependant, l’œuvre est pour eux! Fernando Gaspar veut tous nous emmener!
Personne ne restera en arrière! À moins que telle ne soit votre expresse, légitime aussi, volonté!
Paulo Moreira
octobre 2011
version française: Patrick Bernaudeau
* Wassily Kandinsky, Du Spirituel dans l’art, et dans la peinture en particulier, 1910.
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Welcome, Friends!
To this book, to this moment, to this artistic expression translated into the Solo Exhibition REMIND 25
by Fernando Gaspar. This is a simple but sincere way of introducing a complex work, which is reflexive
and fractured.
As Kandinsky said, in 1910*, “Every work of art is the child of its age and, in many cases, the mother of
our emotions.”. Perhaps also Fernando Gaspar, whose multiple and cyclical approaches will reveal to us
his thinking, stands well above the trivial concerns of displaying consensual art. Because an attractive
artwork is not necessarily a good artwork, but a good artwork becomes unequivocally beautiful when,
rather than a chromatic balance inducing a certain sensory rapture, it is able to cause a shift in states of
mind and questioning. Instead of providing answers, it raises questions. Instead of conveying certainties,
it invokes concerns.
Nessun Dorma – Let no one sleep! After 25 years, the art of Fernando Gaspar is more alive than ever
and questioning us!
In troubled times, marked by uncertainty and change, the contemporary gaze of Fernando Gaspar, who
looks within filtering all outside influences, in the beauty and challenge of each revisitation, transposed as
art, shows us that when he returns, while still himself, he is no longer the same ... and neither, likewise,
are we. It may not be a metamorphosis, but it reveals the restlessness of one who by not conforming,
progresses, with the power to unite, to empower himself.
Art does not have to be easy, but it need not be elitist. Art does not have to be meek, but it need not
be bigoted. Art is made for everyone, for all those who want to enjoy it! Let each of us, in our own way,
whether as partner, admirer, investor, collector or whatever, be a small shareholder in a risky venture
called Career. And the work of Fernando Gaspar shall fulfil another wish to transcend itself, and without
ever ceasing to be its own, will also end up belonging to all and, at the same time, to each one!
Welcome, Friends! Your presence is an honour, your attention is a privilege and your care is our concern!
Come on, friends! Be dazzled, be disquieted or be outraged! Maybe some will be indifferent, but even
then, this work is for them! Fernando Gaspar insists on taking us all! No one is staying behind! Unless of
their own, equally legitimate, free will!
Paulo Moreira
October 2011
english version: Jonathan Lewis
* Wassily Kandinsky, Concerning the Spiritual In Art, 1910.
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(o corpo na arte ou o corpo como arte)
O corpo como território singular da afirmação do indivíduo na sociedade ou objecto colectivo. cifra, letra
de um tempo. O corpo humano como sujeito, suporte ou linguagem. O tempo através do mais ancestral
território da comunicação.
Lugar reflexivo, sílaba de um discurso ou o corpo como reivindicação do eu. Fonte da singularidade
consciente, erro natural, subversão ou sobreversão. Coisa nova. Afirmação da posse e domínio pela
mutilação com o passado divino. Pela mutilação, tão só! Pela marcação de outros sinais! Tatuagem
simultaneamente apartadora e suturante, resgate da coisa única, singularidade do restrito, gravura de
nascença, marca de passagem, exercício semiótico.
Luta que vem dos fluidos primitivos, força que atravessa o osso e se arremessa contra a pele. Primeiro
estágio da inquietação. Depois o exterior, táctil e visível, o cheiro e os líquidos marcadores matriciais, do
apelo e repulsa. Gestos, impulsos, gritos telúricos ou o silêncio que sai dos olhos e sobe em arco pela
distância ao outro. Contenção ou desarranjo. Afago ou coice tribal.
O corpo, altar sagrado e simultaneamente profano. Falível e finito. Contraponto mundano e sincero da
abordagem que, pela arte, até agora, o resgatava para o domínio do sagrado, como manifestação do
transcendental revelado, representação fantástica, alegórica e ilusória.
Fernando Gaspar
março 2011
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(le corps dans l’art ou le corps en art)
Le corps comme territoire singulier de l’affirmation de l’individu dans la société. Chiffre, lettre d’un temps.
le corps humain comme sujet, support ou langage. Le temps à travers le plus ancestral territoire de la
communication.
Lieu réflexif, syllabe d’un discours ou le corps comme revendication de l’ego. Source de la singularité
consciente, erreur naturelle, subversion ou superversion. Chose neuve. Affirmation de possession et
de domination par la mutilation d’un passé divin. Par la mutilation, tout simplement! Par le marquage
d’autre signes! Tatouage simultanément écartant et suturant, salvateur de la chose unique, singularité
du restreint, gravure de naissance, marque de passage, exercice sémiotique.
Lutte qui vient des fluides primitifs, force qui traverse l’os et se lance contre la peau. Premier stade de
l’inquiétude. Puis l’extérieur, tactile et visible, l’odeur et les liquides marqueurs matriciels, de l’appel et
de la répulsion. Gestes, impulsions, cris telluriques ou ce silence qui part des yeux en arc du fait de la
distance à l’autre. Contention ou désordre. Caresse ou ruade tribale.
Le corps, autel sacré et simultanément profane. Faillible et fini. Contrepoint mondain et sincère de
l’abordage qui, grâce à l’art, jusqu’à présent, le préservait dans le domaine du sacré, comme une
manifestation du transcendantal révélé, représentation fantastique, allégorique et illusoire.
Fernando Gaspar
mars 2011
version française: Patrick Bernaudeau
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(the body in art or the body as art)
The body as a singular territory affirming the individual in society, or collective aim. Cipher, letter of a
time. The human body as subject, medium or language. Time crosses the most ancestral territory of
communication.
Reflexive place, syllable of a speech or the body as vindication of the ego. Source of conscious
singularity, natural error, subversion or supraversion. Something new. Statement of ownership and
dominion by mutilation with the divine past. By mutilation, so alone! By the marking of other signs!
Tattoo simultaneously separating and suturing, redemption of the unique, the singularity of the restricted,
engraving of birth, mark of passage, semiotic exercise.
Fight that comes from primitive fluids, force that runs through the bone and hurls itself against the skin.
First stage of restlessness. After the outside, tactile and visible, the smell and the matrical marker liquids,
from appeal and revulsion. Gestures, impulses, telluric screams or the silence that leaves the eyes and
rises in an arch by the distance to the other. Containment or breakdown. Cuddle or tribal recoil.
The body, simultaneously sacred and profane altar. Fallible and finite. Mundane and sincere counterpoint
of the approach that, by art, until now, ransomed it for the domain of the sacred, as manifestation of the
revealed transcendental, fantastic representation, allegorical and illusory.
Fernando Gaspar
March 2011
english version: Jonathan Lewis
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A pintura serve o desenho, está-lhe subjugada.
O traço em grafite ou em carvão é o registo e o gesto firme do pensamento. É a linha que cose a mente
ao coração. O que o pintor sente e pensa e, ainda, o que quer afirmar tem um contorno bem definido.
O corpo. Território “falível e finito”, imaginado e representado de modo “fantástico, alegórico e ilusório”.
... a visão da produção artística de Fernando Gaspar nesta exposição, que tem lugar no Museu da
Cidade de Aveiro é objecto das escolhas e do pensamento do artista.
Pressupõe um entendimento e uma filosofia de pensamento pessoal, assumido como Gaspar25, tal
qual, nesta exposição, ele assina os seus objectos artísticos. O conjunto das obras expostas tem um
fio condutor que as inter-relaciona e que poderíamos interpretar como sendo a constante da gramática
estética – a linguagem figurativa da composição. Esta gramática/linguagem formal e estilística é
representada em três suportes distintos e em escalas e dimensões desiguais.
São representações pictóricas e escultóricas reordenadas em séries de objectos. As sequências são
criadas a partir de três tipologias distintas: a do corpo, como síntese; a da cabeça, como parte de um
todo; e a da expressão facial, como visão táctil do olhar.
Há ainda o especializado trabalhar da matéria. Os objectos são materializados em gesso, em grafite ou
carvão sobre tela e em pigmentos aquosos sobre cartão prensado, impregnados de matéria impermeável
e fixativa. A matéria sela o gesto impetuoso e impulsivo. Imprime in præsentia o grito telúrico. Estampa
“o silêncio que sai dos olhos e sobe em arco pela distância ao outro” (Fernando Gaspar).
Este conjunto de obras é também a síntese de uma época com lastro num tempo. Um tempo com 25
anos de termo, que não retrospectiva a obra do pintor mas que a antevê no seu tempo presente-futuro.
Gaspar projecta nestes objectos o pleno desenvolvimento de um pensamento prospectivo e orientado
pela disciplina do desenho.
O branco denuncia este ciclo temporal. As passagens do tempo são marcadas com uma velatura de
branco titânio. A aguada cristalina do pigmento de zinco é aplicada sobre os traços espessos que dão
forma ao pensamento, aos corpos e aos movimentos. A espessura é a história. O percurso é a linha.
São as linhas e os sulcos a negro que o imaginário do artista desenha com a disciplina do seu gesto. A
história e o tempo são a matéria que se foi desenvolvendo e impregnando na tela, nos volumes repetidos
feitos bustos em gesso esgrafitado e nos registos fugidios deixados pelo pintor nos cartões pintados.
O desenho faz os vestígios do tempo que o branco esvazia e silencia... Tudo deixa rasto. O pintor viaja
no tempo da sua imaginação e anuncia que vai continuar, a desenhar, a inventar, e a seguir rumos de
interior e infinita descoberta.
Obrigada Gaspar. Aveiro reconhece a força da tua inspiração.
Maria da Luz Nolasco
Vereadora do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Aveiro
Aveiro, novembro 2011
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La peinture sert le dessin, elle lui est assujettie.
Le trait au graphite ou au fusain est le registre du geste ferme de la pensée. C’est le fil qui joint l’esprit au
cœur. Ce que le peintre ressent et pense et, aussi, ce qu’il veut affirmer a ici ses contours parfaitement
délimités. Le corps. Territoire «faillible et fini», imaginé et représenté sur le mode du «fantastique,
allégorique et illusoire».
... la vision de la production artistique de Fernando Gaspar pour cette exposition qui se tient au Musée
de la Ville d’Aveiro est l’objet des choix et de la pensée de l’artiste.
Elle présuppose une compréhension et une philosophie de pensée personnelle, assumée comme
Gaspar25, au nom de laquelle il signe, dans cette exposition, ses objets artistiques. L’ensemble des
œuvres exposées a son fil conducteur qui les met en rapport les unes aux autres et que l’on pourrait
interpréter comme étant la constante de la grammaire esthétique - le langage figuratif de la composition.
Cette grammaire/langue formelle et stylistique est représentée sur trois supports distincts et à des
échelles et des dimensions très différentes.
Ce sont des représentations picturales et sculpturales ordonnancées en séries d’objets. Les séquences
y sont créées à partir de trois typologies distinctes: celle du corps, comme synthèse; celle de la tête,
comme partie d’un tout; et celle de l’expression faciale, comme vision tactile du regard.
Il y a aussi le travail spécialisé de la matière. Les objets sont matérialisés à l’aide de plâtre, de graphite
ou de fusain sur toile et de pigments aqueux sur carton pressé, imprégnés de substance imperméable
et fixatrice. La matière scelle le geste impétueux et impulsif. Elle imprime in præsentia le cri tellurique.
Elle estampe «le silence qui part des yeux en arc du fait de la distance à l’autre.» (Fernando Gaspar).
Cet ensemble d’œuvres constitue aussi la synthèse d’une époque ancrée dans un temps. Un temps
délimité à 25 années, qui n’est pas rétrospectif de l’œuvre du peintre mais qui la prévoit dans son temps
présent-avenir. Gaspar projette dans ses objets l’aboutissement d’une pensée prospective et orientée
par la discipline du dessin.
Le blanc dénonce ce cycle temporel. Les passages du temps sont marqués par une velatura de blanc de
titane. Le lavis cristallin au pigment de zinc est appliqué sur les traits épais qui donnent leurs formes à la
pensée, aux corps et aux mouvements. Le parcours est ligne. Ce sont les lignes et les sillons au noir que
l’imaginaire de l’artiste dessine dans la discipline de son geste. L’histoire et le temps sont la matière qui
s’est développée et imprégnée dans la toile, dans les volumes répétés, faits bustes de plâtre «griffé», et
dans les inscriptions fugitives laissées par le peintre sur les cartons peints.
Le dessin fait les vestiges du temps que le blanc vide et tait. Tout laisse une trace. le peintre voyage
dans le temps de son imagination et annonce qu’il va continuer, de travailler, de dessiner, d’inventer, et
de suivre les caps de l’intérieure et infinie découverte.
Merci Gaspar. Aveiro reconnaît la force de ton inspiration.
Maria da Luz Nolasco
Conseillère municipale de la Ville d’Aveiro, Déléguée à la Culture
Aveiro, novembre 2011
version française: Patrick Bernaudeau
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The painting serves the drawing, subjugated by it.
The sketch in graphite or charcoal is the record and strong gesture of thought. It is the line that sews
the mind to the heart. What the artist feels and thinks, and, moreover, what he wants to assert has a
well-defined boundary. The body. “Fallible and finite” territory, imagined and represented in a “fantastic,
allegorical and illusory” way.
... the vision of Fernando Gaspar’s artistic production in this exhibition, held at the Aveiro City Museum
is the sujbect of the artist’s choices and thinking.
It presupposes an understanding and a personal philosophy of thought, assumed as Gaspar25, which
is just how he signs his artistic objects in this exhibition. There is a thread running through all the works
on display that inter-relates them and could be interpreted as the constant of aesthetic grammar - the
figurative language of composition. This formal and stylistic grammar / language is represented in three
distinct media and in unequal scales and dimensions.
They are pictorial and sculptural representations reordered in sets of objects. The sequences created
stem from three distinct typologies: body, as synthesis; head, as part of a whole; and facial expression,
as the tactile vision of the look.
There is also the specialized working of the material. The objects are materialized in plaster, in graphite
or charcoal on canvas and in aqueous pigments on pressboard, impregnated with impermeable and
fixative material. The material seals the impetuous and impulsive gesture. It prints in præsentia the
telluric cry. It stamps “the silence that leaves the eyes and rises in an arch by the distance to the other”
(Fernando Gaspar).
This body of work is also the synthesis of a whole era anchored in one time. A time with a 25-year term,
which does not look back retrospectively on the painter’s work but envisions its present-future time.
Gaspar projects on these objects the full development of forward thinking and guided by the discipline
of drawing.
White denounces this cycle of time. The passages of time are marked with a velatura of white titanium.
A crystalline wash of zinc pigment is applied to the thick lines that give form to thought, to bodies and
movements. The thickness is the story. The route is the line. They are the black lines and grooves to the
artist’s imagination draws with the discipline of his gesture. History and time make up the material that
has been developing and imbuing the canvas, the repeated volumes made grooved plaster busts and
the elusive marks left by the artist on painted paperboards.
The drawing makes the traces of time that the white empties and silences... Everything leaves a trace.
The painter travels in time in his imagination and announces that he will go on drawing, inventing, and
following the tracks from within and infinite discovery.
Thank you Gaspar. Aveiro recognizes the strength of your inspiration
Councillor for Culture,
Maria da Luz Nolasco
Aveiro, November 2011
english version: Jonathan Lewis
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Tenho acompanhado, com justificado empenho, a carreira artística de Fernando Gaspar, não me
havendo enganado na previsão, cujos primeiros trabalhos com que contatei, em 1988, me deixaram
antever um artista de inegável talento e promissor sucesso.
Iniciou-se com o desenho, que sempre considerou o princípio estruturante de todos os ramos das Artes
Plásticas, tendo como suporte a vulgar folha de papel. Veio depois a aguarela, que numa primeira
fase, que se estendeu de 1986 a 1994, teve como temas preferidos os barcos, que via deslizar nos
canais da Ria de Aveiro, os estaleiros que os bordejavam e outros temas locais. Afirma que a aguarela
foi importante na sua carreira, porque lhe domesticou a mão e lhe deu a disciplina, que é um fator
importante, sobretudo, para os artistas que se iniciam.
À medida que os anos foram rodando, cresceu em qualidade, graças a muita persistência, trabalho,
investigação e experimentação, enveredando pela técnica mista, em trabalhos marcados por algum
arrojo, num ciclo de composições, que tiveram como tema preferente as cidades de Lisboa e Porto, com
grandes manchas acrílicas na base das telas e o casario, monumentos e catedrais, surgindo ao cimo,
em esboços aguarelados.
Esta foi uma fase de grande actividade, com algumas exposições realizadas, por essa altura na Galeria
de Arte do Casino Estoril, que ao longo de toda a sua carreira muito se empenhou na divulgação da sua
obra. É, também nesta época que começa o seu percurso fora de Portugal, apresentando individuais
em alguns países da Europa. São desta altura as exposições Lugares de uma viagem, realizada em
Maio de 2001 e Crónicas de um encontro, em 2005 e nas quais o neofigurativismo e o expressionismo,
podemos dizer que lírico, se entrelaçam em composições que acolheram uma grande adesão por parte
dos coleccionadores de Arte, bastantes dos quais o adoptaram como o pintor das suas preferências.
Estas exposições inserem-se na sua, mais distendida, explorada e revisitada série: Cidades Imaginárias.
Em Maio de 2003, Fernando Gaspar apresentou na Galeria do Casino, uma exposição que cortava com
a fase do paisagismo urbano, de sabor algo académico, mas que lhe granjeou vários prémios, quatro
dos quais menções honrosas, na Galeria de Arte do Casino Estoril e o Prémio Nacional de Pintura
António Joaquim, em Vila Nova de Gaia, um prémio lamentavelmente extinto.
Entretanto, Fernando Gaspar surgiu com duas exposições muito interessantes, algo espaçadas,
tendo por tema o Bestiário, uma em 1997, sobre Touros, realizada em Aveiro, outra sobre Insectos,
em 2001, na mesma cidade. Em 2002, inicia uma nova série a que chama Personagens para uma
história, apresentando na Galeria de Arte do Casino Estoril, em 2003, Rebelião no Zoo - Parte I. Nesta
mesma Galeria apresenta a Parte II desta exposição em 2010. Estas exposições sobre Personagens
obedecem, já, ao seu projecto de apresentação de exposições temáticas, no formato de séries, com
um número apreciável de trabalhos sobre cada um dos temas seleccionados, com uma teorização e
formatação prévia, após uma pesquisa de um conjunto de questões de natureza artística e até filosófica,
anotando sempre por escrito o plano de trabalho a realizar.
Aqueles que acompanham o percurso artístico de Fernando Gaspar foram surpreendidos, com uma
exposição realizada em Outubro de 2006, na Galeria de Arte do Casino, a que chamou Ibéria, que
dedicou “(...) a todos quantos têm entendido o meu esforço na procura, e àqueles que não entendendo,
o têm respeitado.”. Com esta exposição celebrou 20 anos de actividade artística, com uma caligrafia
plástica, marcadamente expressionista, de grande qualidade e um cromatismo apenas com duas cores
– o vermelho e o preto.
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No ano seguinte, outra grande exposição se seguiu; O Afecto, o Tempo e o Rio, com linguagem similar à
anterior, mas em cinzentos escuros, tendo iniciado em Cáceres uma itinerância pelas cidades espanholas
de Salamanca, Valladolid, Zamora, Saragoça, Sória e Placência. Registe-se uma característica, que
julgamos ser-lhe exclusiva, de associação da Pintura à Literatura, o que acontece nesta exposição, em
que cada trabalho é ilustrado por curtos, mas excelentes textos*, de certo modo complementares da
obra pictórica.
Em 2011 apresentou, em Paris, nos Salões Eça de Queirós do Consulado-Geral de Portugal, uma outra
mostra, que designou Ad infinitum-Silêncio, uma série de trabalhos, com uma escrita que é de um certo
retorno a outras anteriormente usadas, no tempo do paisagismo urbano, composições em que adivinha
habitar o silêncio, que como ele próprio escreve em texto no catálogo, é “o princípio, o antes, o caminho
inicial para o fim.”.
O projecto, igualmente arrojado, em que actualmente se encontra envolvido, é a exposição
REMIND 25 alusiva ao Corpo Humano, que ocupa os três pisos do Museu da Cidade de Aveiro e
que transitará para Nantes, França, uma das mais, culturalmente, ativas cidades da Europa. Fernando
Gaspar sempre considerou o corpo humano um tema fascinante, e que volta a ser actual no contexto
da Arte Contemporânea, embora pela complexidade que envolve, esta primeira abordagem tenha
que ser parcial, segundo afirma. É uma exposição muito forte, quase agressiva, com uma carga de
interrogações, que vêm do fundo dos séculos, sobre a origem e o destino do Homem.
Esta exposição é, incontestavelmente, marcante na sua obra, pela originalidade, pelo dificílimo tema
escolhido e pela coragem da sua apresentação.
Para este artista, que se iniciou na Arte com uma mais que vulgar caixa de aguarelas, o seu caminho é,
hoje, um caminho sem fim à vista. Cada nova etapa é uma revelação e algo de inimaginável para quem
tem acompanhado a sua obra. A quem lhe pergunta o que lhe falta fazer, responde que quase tudo.
Que mais haverá a esperar de Fernando Gaspar? É uma pergunta que muitas vezes formulamos e
para a qual não encontramos resposta, porque em cada esquina da sua carreira, sempre algo de novo
e surpreendente nos espera.
N. Lima de Carvalho
Estoril, novembro 2011
ndt * textos da autoria de Domingos Fernandes e João Pereira da Silva
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J’ai suivi avec une assiduité justifiée la carrière artistique de Fernando Gaspar, qui n’a pas failli à ma
prévision, dont les travaux, que j’ai connus en 1988, m’avaient laissé deviner un artiste de grand talent
et au succès prometteur.
Il a commencé par le dessin, qu’il a toujours considéré comme le principe structurant de tous les
domaines des Arts Plastiques, avec pour tout support une simple feuille de papier. Ensuite est venue
l’aquarelle qui, dans sa première phase, s’est étendue de 1986 à 1994 ; ses thèmes préférés étaient
les bateaux, qu’il voyait glisser sur les canaux de la Ria d’Aveiro, les chantiers navals sur leurs rives et
d’autres thèmes locaux. Il soutient que l’aquarelle a été importante pour sa carrière, en ce qu’elle lui a
domestiqué la main et lui a donné la discipline, facteur important, surtout pour les artistes débutants.
Au fil des années, il a grandi en qualité, grâce à son obstination, son travail, ses recherches et
expériences, se tournant vers la technique mixte, produisant des travaux ambitieux intégrés dans un
cycle de compositions dont le thème principal était les villes de Lisbonne et Porto, aux grands aplats
acryliques comme base des ses toiles, et les maisons, les monuments et les cathédrales qui en
surgissaient, ébauches en aquarelles.
Ce fut une phase d’intense activité, pavée de quelques expositions visibles à l’époque à la Galeria de Arte
du Casino de l’Estoril, qui tout au long de sa carrière a assidument divulgué son œuvre. C’est également
à cette époque qu’a débuté son itinéraire à l’étranger, par le biais d’expositions individuelles dans
quelques pays d’Europe. C’est de là que datent Lugares de uma viagem [Lieux d’un voyage], réalisée
en mai 2001 et Crónicas de um encontro [Chroniques d’une rencontre], en 2005, où le néofigurativisme
et l’expressionisme, que l’on peut qualifier de lyrique, s’entremêlent dans des compositions qui ont séduit
nombre de collectionneurs qui l’élurent rapidement comme leur peintre favori. Ces expositions s’insèrent
dans sa série, allongée, explorée et revisitée dans le temps, Cidades imaginarias [Villes imaginaires].
En mai 2003, Fernando Gaspar présenta à la Galeria do Casino de l’Estoril une exposition qui rompait
avec sa phase du paysagisme urbain, au goût quelque peu académique, mais qui lui avait valu de
nombreux prix, dont quatre mentions honorables, à la galerie d’art du Casino de l’Estoril ainsi que le Prix
National de Peinture António Joaquim, à Vila Nova de Gaia, prix qui n’existe malheureusement plus.
Entre temps, Fernando Gaspar est réapparu pour deux expositions très intéressantes, à quelques temps
près, ayant pour thème le Bestiaire, l’une en 1997, sur les Taureaux, à Aveiro, et l’autre sur les Insectes,
en 2001, dans la même ville. En 2002 , il débute une nouvelle série qu’il appelle Personagens para
uma história [Personnages pour une histoire], en présentant à la Galerie d’Art du Casino Estoril en
2003, Rebelião no Zoo – Parte I [Rébellion au Zoo]. Il présentera dans cette même galerie la Parte II
en 2010. Ces expositions sur des Personnages obéissent, d’ores et déjà, à son projet de présentation
d’expositions thématiques, sous forme de séries, présentant un nombre appréciable de travaux sur
chacun des thèmes sélectionnés, subordonnés à une théorisation et à un formatage préalables, soumis
à un travail de recherche sur un ensemble de questions de nature et même philosophique, le plan du
travail étant systématiquement noté á la main.
Ceux qui accompagnent le parcours artistique de Fernando Gaspar ont eu la surprise d’une exposition
réalisée en octobre 2006, à la Galerie d’Art du Casino [de l’Estoril], qu’il a appelée Ibéria, et qu’il a
dédiée «(…) à toutes celles et tous ceux qui ont compris ma quête, à celles et ceux qui ne la comprenant
pas, l’ont respectée.». Il a célébré à l’occasion de cette exposition, 20 ans d’activités artistiques, à
la calligraphie plastique – résolument expressionniste – de haute qualité et au chromatisme limité à
seulement deux couleurs – le rouge et le noir.
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L’année suivante, une autre grande exposition s’est ensuivie: O Afecto, o Tempo e o Rio [L’Affect,
le temps et le fleuve] optant pour un langage similaire à la précédente, mais en tons de gris foncés,
qui commença à Cáceres, itinérant ensuite vers Salamanque, Valladolid, Zamora, Saragosse, Sória
et Plasencia. Remarquable est la caractéristique, exclusive croyons-nous, qui associe dans cette
exposition Peinture et Littérature, où chaque travail est illustré par de courts mais excellents textes*,
dans une certaine mesure complémentaires de l’œuvre picturale.
En 2011, Il a présenté à Paris, dans les Salons Eça de Queirós du Consulat Général du Portugal,
une autre exposition, Ad Infinitum-Silêncio, une série de travaux dont l’écriture constitue un certain
retour à d’autres précédemment utilisées, au temps du paysagisme urbain, compositions que l’on devine
habitées par le silence qui, comme il le dit lui-même, est «le début, l’avant, le chemin initial vers la fin.».
Le projet, pareillement ambitieux, dans lequel il s’est maintenant lancé, est l’exposition REMIND 25
allusive au Corps Humain, qui occupe les trois étages du Musée de la Ville d’Aveiro et qui transitera par
Nantes, une des villes culturellement les plus actives d’Europe. Fernando Gaspar a toujours considéré
le corps humain comme un thème fascinant et qui est de nouveau d’actualité dans le contexte de
l’Art Contemporain, même si, de part la complexité qui entoure le projet, ce premier abordage doit
être nécessairement partiel, selon lui. Il s’agit d’une exposition très forte, presque agressive, chargée
d’interrogations qui viennent du fond des siècles, sur l’origine et le destin de l’homme.
Cette exposition est incontestablement une étape marquante de son œuvre, de par son originalité et
l’extrême difficulté du thème choisi et par le courage de sa présentation.
Pour cet artiste, qui s’est initié à l’Art avec une plus que simple boîte d’aquarelles, le chemin est
aujourd’hui un chemin sans fin en vue. Chaque étape est une révélation, purement inimaginable pour
qui accompagne son œuvre. À la question de savoir ce qu’il lui reste à faire, il répond presque tout.
Que peut-on attende de plus de Fernando Gaspar? C’est une question que nous nous posons souvent et
à laquelle nous n’avons pas de réponse, car à chaque coin de sa carrière nous attend toujours quelque
chose de nouveau et de surprenant.
N. Lima de Carvalho
Estoril, novembre 2011
version française: Patrick Bernaudeau
ndt * textes de Domingos Fernandes et João Pereira da Silva
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I have been following, with justifiable effort, the artistic career of Fernando Gaspar, and I was not mistaken
in my prediction, when, on viewing his first works, in 1988, I could foresee an artist of undoubted talent
and promising success.
It began with the drawing, always considered the organizing principle of all branches of the Arts, using a
common sheet of paper. Then came the watercolour, which in its first phase, lasting from 1986 to 1994,
whose chosen topics were the boats that glide along the canals of the Ria de Aveiro (Aveiro Lagoon),
the shipyards on its shores and other local themes. Clearly, the watercolour was important in his career,
because it tamed his hand and gave him discipline, which is an important factor, especially for artists
starting out.
As the years went by, he grew in quality, thanks to a great deal of persistent work, research and
experimentation. Engaging in mixed media, his artworks were marked by a certain daring, in a cycle of
compositions about the cities of Lisbon and Porto, with big splashes of paint at the base of the canvases
and watercolour sketches of the houses, cathedrals and monuments emerging at the top.
This was a phase of great activity, with some exhibitions held at that time at the Galeria de Arte at Estoril
Casino, which throughout his career has been very much involved in publicizing his work. It was also
during this period that he began his journey outside of Portugal, presenting some individual works in a
number of European countries. It was during this period that the exhibition Lugares de uma viagem (Places
on a journey) was held, in May 2001, followed by Crónicas de um encontro (Chronicles of a meeting), in
2005, which featured a, shall we say, lyrical intertwining of neo-figurativism and expressionism. These
compositions were very well received by several art collectors, many of whom adopted him as their
painter of choice. These exhibitions form part of his more extensive and more fully explored series of
paintings: Cidades Imaginárias (Imaginary Cities).
In May 2003, Fernando Gaspar presented an exhibition at the Galeria do Casino which was a move
away from the phase of urban landscapes, to something of an academic flavour, winning him several
awards, including four honourable mentions in the Galeria de Arte at Estoril Casino and the António
Joaquim National Prize for Painting in Vila Nova de Gaia, an award which regrettably no longer exists.
Meanwhile, Fernando Gaspar produced two very interesting exhibitions with the theme of the Bestiary,
one about Bulls, held in Aveiro in 1997, and another about Insects, in 2001, in the same city. In 2002,
he began a new series which he called Personagens para uma história (Characters for a story), and
presented Rebelião no Zoo - Parte I (Rebellion in the Zoo - Part I) at the Galeria de Arte at Estoril Casino
in 2003. He presented Part II of this exhibition at the same gallery in 2010. These exhibitions about
Characters are in accordance with his project of presenting themed exhibitions, in serial format, with a
considerable number of artworks on each of the themes selected, following a pre-planned theory and
format, and after searching for a set of artistic and even philosophical questions, continually noting down
in writing the work plan to fulfil.
Those who had been following the artistic path of Fernando Gaspar were surprised by an exhibition held
in October 2006, at the Casino Art Gallery, which he called Iberia, and “(...) dedicated to all who have
understood my effort in the search and those who have not understood, but respected it.”. With this
exhibition he celebrated 20 years of artistic activity, with a distinctly expressionist, plastic calligraphy, of
great quality and a chromaticism using just two colours - red and black.
The following year, there followed another major exhibition; O Afecto, o Tempo e o Rio (Affection, Time
and the River), in a similar language to the previous one, but in dark grays. It toured a number of
Spanish cities, starting in Cáceres and then taking in Salamanca, Valladolid, Zamora, Zaragoza, Sória
and Placência. A feature of this exhibition, which we believe to be unique, involved associating painting
to literature, with the artworks each being illustrated by short but excellent texts*, which in some way
complemented the pictorial work.
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In 2011 he presented another show, this time in Paris at the Portuguese Consulate in its Salões Eça de
Queirós. Called Ad infinitum-Silêncio, it was a series of artworks, which in a way was a return to some
of the themes used previously in his urban landscape phase, compositions where one finds silence
dwelling, which, as he himself writes in the catalogue, is “the beginning, the before, the initial path to the
end.”.
The equally bold project in which he is currently involved is the exhibition REMIND 25, alluding to the
Human Body, which occupies three floors of the Aveiro City Museum and which will be taken on to Nantes,
in France, one of the most culturally active cities in Europe. Fernando Gaspar has always considered
the human body a fascinating subject, and one that is again present in the context of contemporary art,
although he affirms that due to the complexity involved, this first approach to the theme has to be partial.
It is a very strong exhibition, almost aggressive, with a mass of centuries-old questions as to the origin
and destiny of Man.
This exhibition is undeniably striking in its work, for its originality, for the highly complex theme and the
courage of its presentation.
For this artist, who began his career in Art with a more than ordinary box of watercolours, his path is,
today, one with no end in sight. Each new step is a revelation and something unimaginable to those who
have followed his work. When someone asks him what there is left to do, he replies, “almost everything.”
What more is there to expect from Fernando Gaspar? It is a question often asked and for which there is
no answer, because in every corner of his career, something new and surprising always awaits us.
N. Lima de Carvalho
Estoril, November 2011
english version: Jonathan Lewis
translator’s note*: texts by Domingos Fernandes and João Pereira da Silva
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Desde tempos imemoriais, e não só desde que Leonardo da Vinci se imortalizou nesta área com o seu
Homem Vitruviano, que o Corpo Humano, a materialização corpórea da alma de cada ser vivo, exerce
um poderoso fascínio sobre o Homem. Ao longo da História, o Corpo Humano é não só objecto de culto
como também de estudo científico, e de tributo artístico. Esse fascínio tem-se perpetuado no tempo
através de manifestações de variadíssima índole, científicas em muitos casos, artísticas na maioria
deles, e até numa estranha combinação de ambas, a chamada “plastinação”, uma técnica moderna
de mumificação, embalsamamento ou preservação de matéria biológica, desenvolvida por um senhor
chamado Gunther von Hagens, que era precisamente uma combinação de cientista e artista.
Como apaixonado das Belas Artes, que coleccionou ao longo da sua vida uma apreciável colecção de
pintura nos vários países por onde passou, ainda não conheci um artista que não cedesse à tentação
de se expressar e perpetuar através da sua forma particular de ver ou sentir o Corpo Humano. A obra
de Fernando Gaspar não escapa a esta minha percepção. De uma intensidade invulgar, marcante,
profunda, as telas de Fernando Gaspar “entram” no mais íntimo do ser de quem as contempla, como se
a pessoa retratada na obra andasse à procura de escrutinar a nossa alma. Por sua vez, a luz que brilha
em cada olho que vemos nas telas permite-nos entrar dentro da “alma artística” do Fernando Gaspar,
e partilhar com ele esse momento de grande intimidade ao materializar a sua visão muito particular
de Corpo Humano, ou de partes dele. Para mim esta série de obras do Fernando Gaspar constitui um
tributo ao mais profundo do Ser Humano. A minha identificação com o que vi foi tão marcante que não
podia deixar de associar a Liberty Seguros, cujo lema é “Pela protecção dos valores da Vida”, a esta
manifestação do artista, que para mim constitui um hino à Vida.
José António de Sousa
Presidente & CEO
Liberty Seguros (Portugal)
outubro 2011
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Depuis les temps immémoriaux, et non pas seulement depuis que Léonard de Vinci s’est illustré dans cet
art avec son Homme de Vitruve, le corps humain, matérialisation corporelle de l’âme de tout être vivant,
exerce une puissante fascination sur l’Homme. Au cours de l’histoire, le Corps Humain a non seulement
été objet de culte, mais aussi d’étude scientifique et de contributions artistiques. Cette fascination s’est
perpétuée dans le temps grâce à des manifestations de diverses natures, souvent scientifiques, la plupart
du temps artistiques, et parfois même d’une étrange combinaisons des deux, la plastination, technique
moderne de momification, d’embaumement ou de préservation de la matière biologique, inventée par
Gunter von Hagens, qui était précisément une combinaison d’artiste et d’homme de science.
Comme amateur des beaux-Arts, qui ai accumulé tout au long de ma vie une appréciable collection de
peintures des différents pays par où je suis passé, je ne connais pas encore d’artiste qui n’ait cédé à la
tentation de s’exprimer et de se perpétuer par sa façon particulière de voir ou ressentir le Corps Humain.
L’œuvre de Fernando Gaspar n’échappe pas à cette perception. D’une intensité rare, marquante,
profonde, les toiles de Fernando Gaspar «pénètrent» au plus profond de l’être de celui qui les contemple,
comme si la personne représentée dans l’œuvre se mettait à scruter notre âme. De son côté, la lumière
qui brille dans chaque œil que nous voyons dans les toiles nous permet d’entrer dans l’ «âme artistique»
de Fernando Gaspar, et de partager avec lui ce moment de grande intimité qu’est la matérialisation de
sa vision si particulière du Corps Humain ou de ses parties. Pour moi, cette série d’œuvres de Fernando
Gaspar constitue une contribution au plus profond de l’Être Humain. Je m’identifie de façon si marquante
avec ce que j’ai vu que je ne puis m’empêcher d’associer la Liberty Seguros, dont la devise est «Pour
la protection des valeurs de la Vie», à cette manifestation de l’artiste qui constitue pour moi un hymne
à la Vie.
José António de Sousa
Président & CEO
Liberty Seguros (Portugal)
octobre 2011
version française: Patrick Bernaudeau
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From time immemorial, and not only since Leonardo da Vinci immortalized it with his Vitruvian Man, the
human body, the corporeal embodiment of the soul of every living being, has exerted a strong fascination
on man. Throughout history, the human body has not only been an object of worship but also of scientific
study, and artistic tribute. This fascination has been perpetuated down the ages through a vast array
of expressions, many of them scientific, the majority artistic, and even a strange combination of both,
so-called “plastination”, a modern technique of mummification, embalming or preservation of biological
matter, developed by Gunther von Hagens, who was himself a precise combination of scientist and artist.
As a lover of the Fine Arts, and having amassed during my life a considerable collection of paintings
from the various countries that I have passed through, I have not yet met an artist who has not yielded
to the temptation of expressing the Human Body and perpetuating it through their particular way of
seeing or feeling. The work of Fernando Gaspar likewise does not escape this perception of mine. In an
uncommon intensity that is striking and profound, Fernando Gaspar’s canvases “enter” the interior being
of whoever contemplates them, as if the person depicted in the work were seeking to scrutinize our soul.
In turn, the light that shines in every eye that we see on the canvases allows us to enter inside Fernando
Gaspar’s “artistic soul”, and share with him this moment of great intimacy in realizing his very particular
vision of the human body, or parts of it. For me this series of works by Fernando Gaspar is a tribute to
the profundity of the human being. My identification with what I saw was so marked that I could but not
associate Liberty Seguros, whose motto is “For the protection of the values of Life”, with the expression
of this artist, who for me is a hymn to Life.
José António de Sousa
President & CEO
Liberty Seguros (Portugal)
October 2011
english version: Jonathan Lewis
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Uma pintura sólida, de conceito, de valores...
A figura humana, e consequentemente o rosto e o corpo, são os pilares em que assentam esta talentosa
série de obras, aqui reunidas com o nome de REMIND 25.
Poderemos designá-los (por que não?) por castelos humanos, qual fortaleza possuidora de uma magia
que reflecte emoções e os mais plurais sentidos construídos com garra e determinação.
Os corpos, essencialmente o feminino, criados por Fernando Gaspar, transmitem acima de tudo grande
sensibilidade, originando ao observador, mesmo ao mais resistente, uma grande vontade em tocar ou
entrar corpo adentro, qual labirinto do desejo que nos inquieta e agita.
De lá – da interioridade da pintura – quase que surgem vozes apelativas e acenos como que a lançar
um desafio, o repto do diálogo certeiro entre a obra e quem a vê e sente; os corpos, aqueles corpos,
prendem-nos, amarram-nos umbilicalmente.
É um trabalho a que não se consegue ser indiferente e que obriga a uma reflexão, retendo na memória
as metamorfoses (é assim que entendo parte desta pintura) do rosto.
Fernando Gaspar enceta uma curiosa viagem pelo retrato, abordando-o nas mais diversas, mas
interessantes perspectivas, que nos proporcionam, como já referi, um questionamento sobre a
origem humana. Quem somos? Para onde vamos? E muitas questões que o pintor, voluntária ou
involuntariamente, nos coloca através das suas telas de grandes dimensões. A qualidade da pintura,
que agora aqui se nos apresenta, é indiscutível, mas, mais que o gesto, a composição é rigorosa e
perfeita, capaz de nos mostrar o outro lado do homem, neste caso, o lado de dentro que, a meu ver
bem, pinta, pintando-se.
No entanto, e como fica provado pelas mais variadas obras que constituem esta exposição, a pintura de
Fernando Gaspar não vive apenas de auto-representações, mas também da representação do outro, do
corpo do outro, concretamente do corpo feminino.
Com grande liberdade de gesto (sente-se essa atitude, significativamente) o pintor faz nascer corpos,
de mulheres, de rara beleza, mas transmitindo grande sensibilidade e sensualidade. A pintura, esta
pintura é, assumidamente, criada com grande rasgo e cumplicidade de quem não é indiferente à beleza
feminina, e muito menos à criação de uma pintura sólida, de conceito, de valores.
A obra de Fernando Gaspar resulta numa feliz ligação, cúmplice, entre o rigor da arte e a liberdade no
gesto, a beleza do modelo e a concepção da forma e da cor.
Agostinho Santos
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Une peinture solide dans ses concepts et ses valeurs...
La figure humaine, et, en conséquence le visage et le corps, sont les piliers de cette talentueuse série
de travaux, ici réunis sous le nom de REMIND25.
Nous pourrions les appeler (pourquoi pas?) châteaux humains, telle forteresse détentrice d’une magie
qui reflète les émotions et la pluralité des sens construits avec énergie et détermination.
Les corps, essentiellement le corps féminin, créés par Fernando Gaspar, transmettent avant tout une
grande sensibilité, provoquant chez l’observateur, le plus résistant qu’il soit, une énorme volonté de
toucher ou de pénétrer à l’intérieur des corps, labyrinthes du désir qui nous inquiète et nous agite.
On dirait presque qu’en surgissent – de l’intérieur de la peinture – des voix qui nous appellent et nous
font signe, nous défient en quelque sorte, à entamer l’exact dialogue entre l’œuvre et celui qui la voit et
la ressent; les corps, ces corps, nous happent, nous attachent ombilicalement.
C’est un travail auquel on ne peut rester indifférent et qui nous pousse à réfléchir et à garder en mémoire
les métamorphoses (c’est ainsi que j’entends une partie de cette peinture) du visage.
Fernando Gaspar s´élance dans un curieux voyage au cœur du portrait, l’abordant dans ses plus diverses
et intéressantes perspectives qui nous engagent, comme je le disais plus haut, à un questionnement
sur l’origine de l’homme. Qui sommes-nous? Où allons-nous? Et bien des questions que le peintre,
volontairement ou non, nous pose par le biais de ses toiles de plus grande dimensions.
La qualité de la peinture qui nous est présentée ici aujourd’hui est indiscutable, mais, plus que le geste,
c’est la composition qui est parfaite et rigoureuse, capable de nous montrer l’autre face de l’homme,
dans ce cas son intérieur qu’il peint, bien il me semble, en se peignant.
La peinture de Fernando Gaspar, comme le prouve la grande variété d’œuvres exposées, ne vit pas que
d’auto-représentations, mais aussi de représentations de l’autre, du corps de l’autre, concrètement du
corps féminin.
Avec une grande liberté de geste (on sent nettement cette posture), le peintre fait naître des corps,
de femme, d’une rare beauté, mais transmettant une grande sensibilité et une grande sensualité. la
peinture, cette peinture, est volontairement créée avec noblesse et la complicité de quelqu’un qui
n’est pas indifférent à la beauté féminine, et moins encore à la création d’une peinture solide dans ses
concepts et ses valeurs.
L’œuvre de Fernando Gaspar est le résultat d’une symbiose heureuse, complice, entre la rigueur de l’art
et la liberté du geste, la beauté du modèle et la conception de la forme et de la couleur.
Agostinho Santos
version française: Patrick Bernaudeau
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Solid body of artwork, in concept and in values…
The human figure, and consequently the face and body, are the pillars of this remarkable series of works,
gathered here under the name of REMIND 25.
We might refer to them (and why not?) as human castles, that fortress which possesses a magic that
reflects emotions and a multiplicity of meanings, constructed with guts and determination.
The bodies, primarily the female, created by Fernando Gaspar convey above all a great sensitivity, giving
even the most resistant of observers a great longing to touch or enter inside the body, that maze of desire
that disquiets and agitates us.
From there – from the core of the painting – voices almost seem to arise, appealing and beckoning as
if throwing down a challenge, daring whoever sees and feels the work to converse with it accurately,
bodies, those bodies, holding us, binding us umbilically.
It is a work of art to which one cannot be indifferent, and that demands reflection, etching onto the
memory the metamorphoses (such is my understanding of part of this painting) of the face.
Fernando Gaspar sets out on a curious journey through the portrait, approaching it from the most varied
but interesting of perspectives, and providing us, as I mentioned, with a question about human origins.
Who are we? Where are we going? And many questions that the painter, voluntarily or involuntarily, puts
to us through his vast canvases. The quality of the painting, now here before us, is indisputable, but more
than the gesture, the composition is perfect and precise, able to show us the other side of man, in this
case, the inner side, who paints (well, in my view), painting himself.
However, as evidenced by the varied works that comprise this exhibition, the painting of Fernando
Gaspar is not only made of self-representations, but also the representation of the other, the other’s
body, specifically the female body.
With great freedom of gesture (feeling that attitude intensely) the painter gives birth to bodies of women, of
rare beauty, yet conveying great sensitivity and sensuality. The painting, this painting is, unapologetically,
created with great flare and understanding of those who are not indifferent to feminine beauty, much less
to the creation of a solid body of artwork, in concept and in values.
The work of Fernando Gaspar results in a positive, reciprocal connection between discipline of art and
the freedom of gesture, the beauty of the model and the conception of form and colour.
Agostinho Santos
english version: Jonathan Lewis
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“Ele não olha: vê;
não narra: vive;
não reproduz: recria;
não encontra: busca...”
Mal conheço o Fernando.
O pouco que sei, e o muito que adivinho, bole comigo, de forma epidérmica, pouco intelectualizada.
A sua reserva romântica, a calma e modesta figura, o tímido sorriso suave, o olhar perfurante, numa
permanente atitude de quem quer acalmar o mundo.
Sinto na sua pintura a mesma austeridade serena que envolve e sossega.
Uma energia tensa e criadora, que interroga e não deixa indiferente.
Sua expressão solta e livre cria uma atmosfera única, densa.
Força e fragilidade alternam ou coabitam, e conduzem subtilmente à consciência do valor do silêncio.
Sugere, sem impor, o seu universo, o seu horizonte, o seu infinito.
Não sei, onde, é tantos.
Rosa Teixeira Ribeiro
Nantes, outubro 2011
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«Pas un regard, plutôt une vision ;
pas un récit, juste la vie ;
pas de copie mais une création ;
pas de recherche, davantage une quête...»
Je connais peu Fernando.
Mais ce peu que je sais, et le tout que je devine, me bouleversent, d’une manière irrationnelle et irréfléchie.
Tout chez lui m’émeut : sa réserve romantique, sa stature à la fois calme et imposante, son doux et
timide sourire, son regard pénétrant , l’assurance tranquille de qui désire apaiser le monde.
Je sens dans sa peinture la même austérité sereine, qui enveloppe et calme.
Une énergie tendue et créatrice qui happe et ne peut laisser indifférent.
Son expression libre et vagabonde crée une atmosphère unique, dense.
Ainsi, force et fragilité se côtoient, saisissantes et menant imperceptiblement à la conscience du sens
du silence.
Il suggère, sans les imposer, son univers, son horizon, l’infini.
Je ne sais comment, mais il est plusieurs.
Rosa Teixeira Ribeiro
Nantes, octobre 2011
version française: Rosa Teixeira Ribeiro
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“He does not look: he sees;
he does not narrate: he lives;
he does not reproduce: he recreates;
he does not find: he searches ... “
I barely know Fernando.
The little I know, and the great deal I guess, moves me, not so much in a highbrow but an epidermal way.
His romantic reserve, the calm and modest figure, the shy soft smile, the piercing gaze, in a permanent
attitude of one who wants to calm the world.
I feel in his painting the same serene austerity that wraps itself round you and soothes you.
A tense and creative energy, which questions and does not leave you indifferent.
His loose and free expression creates a unique, dense atmosphere.
Strength and weakness alternate or cohabit, and subtly make us aware of the value of silence.
Without imposing, he suggests his universe, his horizon, his infinite.
I do not know, where, he is so multiple.
Rosa Teixeira Ribeiro
Nantes, October 2011
english version: Jonathan Lewis
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Dos corpos luminescentes
Pequeno tratado fabuloso de Pintura cíclica
Prólogo
Há primeiro o texto a escrever. Um Prólogo de que tudo depende. Nenhuma receita a seguir, nem
habilidade desafiante. Antes um universo sugerido, o seu Princípio explicitado, a sua hermenêutica autorevelada. A Carta global canaliza a energia do desejo em prol da tarefa: ascese segura para assentar o
propósito. Em suma, preconceber a conceção, diria Fernando Gaspar.
Neste sentido este pintor é clássico. Uma vez em caminho, só vai para onde quer ir. Por decisão muito
pensada. Mas só vai para lá por modernismo assumido, aberto à surpresa da melhor maneira de dizer
o inédito. Neste sentido este pintor é contemporâneo.
(é assim que o figurativo se impõe, sendo que o abstrato o nutre do substrato à polpa. Tal como a física
do visível empurra a invisibilidade vibrátil dos quantas. Vejam o Douro: no sopé das suas monstruosas
encostas, o que se vê é antes de mais o jogo de baloiço entre os largos aplats creme, branco, cinzento,
triturados pelas linhas quebradas dos negros coloridos. Figurativo à força de ser abstrato. Tudo está no
todo. Mas de forma diferente. Questão de prisma, de escala, de enquadramento emocional.)
Acabada pois a génese do texto: “O que está escrito escrito está”. Agora fica a ecoar, por dentro, tal
música das esferas. Um universo quis forçar o interior do crânio. O carvão e as trinchas ficam à espera
de tudo na mesa dos instrumentos. Fernando Gaspar estremece e a sua mão treme até à ponta do lápis
parado.
Alguns partem da semente
E donde veio aquele primeiríssimo traço carvoento? Do pintor e de Fora e do mundo. De tudo o que
nele se incarnou. Remind, a aventura em acto já começou. E embora o pintor ignore em que linha do
seu prólogo vai, a mão dele sabe.
Outros partem da semente para chegarem ao bicho passando pela maçã. Percurso óbvio. Fernando
Gaspar procede ao arrepio.
O carvão veloz busca o germe de osso, coloca-o na camada branca. Daí jorra a curva, o abaulamento
guardado pelo fecho da fontanela. Surge um crânio. As trinchas, uma atrás da outra, acariciam
então o crânio, massajam-no, enaltecem-no enfim no palimpsesto dos fundos coloridos parcialmente
esbranquiçados. O crânio recém-nascido lateja na tela agora enquanto a mão do pintor regressa à
utilitária indolência. Ele senta-se, repentinamente cansado. Fora de tela, as cores voltam às vibrações
das suas frequências objetivas. Já nada do acordo com o pulsar vindo do interior do olho e regulando a
dança dos dedos a pinçarem o pincel.
Parece uma vanitas
O crânio reina. Parece uma vanitas colocada num glacis de mármore froissé. Falando com sinais,
dizendo ao vivo que já não o é por muito tempo. Na verdade, é um pouco isso, da ordem grave das
vanitas. Mas de facto é outra coisa muito diferente. Não é a primeira imagem congelada que diz a verdade
da sequência. Pois para Fernando Gaspar, de pé pousado na pulverulência e de pincel embebido de
infinito, o Ómega é transcendência do Alpha.
58 59
Os dias de fervor chegam. Umas tantas telas recebem, tais outros quantos berços, mais crânios. Mas,
reparem! Evoluem, sempre ao arrepio da ordem da nadificação. Ora ao maxilar superior, cavando o
seu alinhamento de alvéolos onde se alojam os dentes, o carvão ágil opõe agora os seus gémeos,
embutidos no arco ósseo inferior. Como se, partindo do desconjuntar desastroso das mandíbulas, o
pintor voltasse à integridade óssea anterior do crânio ainda inteiro. E os crânios vão-se acumulando.
Não só para serem muitos. Antes como seria mostrar em óctuplo a Lua uma.
Luminescências
Talvez porque uma coisa só é pelo olho no momento em que a olha ser. E, na pintura, pelo olho que em
segredo guia a mão que pinta. Talvez também porque esse olho capta, com a luz em volta de e sobre o
objeto, aquela que brota do íntimo do objeto. Como se pintar não fosse senão sintetizar magicamente
o fluxo das luzes movediças que fazem o objeto para o olho. E, mais ainda, isso tudo, quando o tema
surge da memória imaginativa do pintor. Pois qual crânio pintado dará exatamente a ideia do crânio por
pintar? Daí que são vários. Cada um respondendo a um desafio; cada um testemunha de uma vitória
sempre relativa. A humildade do pintor consiste em satisfazer-se das próprias tentativas. É de pé, contra
o cavalete e o seu escudo de tela, que o pintor melhor combate a tentação de já não tender para a
impossível Pintura.
Fernando Gaspar não multiplica pois, antes adiciona – à falta de melhor, sempre no horizonte da próxima
tela aprontada – os diversos estados luminosos de uma mesma realidade ideal. Onírica até, podia dizerse: o verdadeiro pintor só consegue ver bem, com a memória aberta, de olhos fechados.
Pontes de pele
O atelier é recheado de dias cegos, substrato invisível donde nascem os raros luminosos. Chega esse
dia-luz. A trincha pousa então ao de leve um véu ocre-cor-de-carne na voragem entre as mandíbulas
ósseas. Uma bochecha faz-se ponte. E a onda carnuda vai cobrindo e vem, vem e vai cobrindo, e
enche. O crânio veste-se de um fluxo de pele. Torna-se cabeça. Lisa. Imberbe. Nada menos lívido
porém. A tela não é sudário, antes fralda preparada para o que vem à vida pela vista. E da cabeça ainda
mal provida da sua carnação translúcida – o carvão do osso ainda se vê –, Fernando Gaspar passa
àquela desse vivo ambíguo que é o homem adormecido. Pálpebras seladas, testa para trás, rosto do
apaziguado. Como alguém de tal modo trespassado que os seus nervos relaxados lhe confeririam essa
pele de recém-nascido a sonhar.
Rosto do apaziguado
Cabeça de vivo no entanto. À espera de algo só visível de olhos cerrados, virados para o céu fora de
campo mas inteiramente cá.
E não só a espera de um tal. Mas a do Homem (que também é o pintor porquanto ele é o Homem em
geral por ser homem em particular). O Homem apanhado nas cabeças humanas, elas também mesmas
e cada uma forçosamente diferente. É por isso que elas também, sobretudo elas, são legião. Todas elas
fixadas na mesma atitude que tomaram, sem saber, da cabeça pintada: pálpebras seladas, testa para
trás, rosto do apaziguado. Aspirantes à paz outorgada pelo mistério que as ultrapassa. Vejam! A linha
de flutuação do real, para além do limite da palavra, quase que atinge o do olhar interior. Uma armada
pacífica em busca de indizível.
Noutra manhã na vasta extensão aprontada algo surge. Olhos a abrirem-se. O insert duma face invasora
escorre na tela. Parece fluir como o deslizar das águas amnióticas ao longo das coxas chamadas para o
surgimento central. Passe por eles a olhar! Esses olhos jamais o deixarão. Começa então outra espera.
60 61
Nua como um crânio
E num dia glorioso, no alvo atelier, a mulher surge. Nua como um crânio. Mas ao abrir-se à vida é para
o contrário da morte. Olhem! Mesmo deitada ela ergue-se. Olhem! Aqui leva consigo o pôr-do-sol que
ilumina o seu ventre e flancos. Acolá ganha balanço para um canto do quadro, afastando-o com as suas
mãos a dançarem. Um braço levantado já para o éter habitado do sol, ela levanta voo na voragem de luz
que a aspira. Translúcida sua pele, curvas suas formas. Entre os dois altinhos dos seus seios e a porta
abaulada do seu sexo, fica delineado o grande arco da vida grávida desafiando como que um sol cheio.
Assim se fecha o círculo da viagem ao contrário, este Remind desde o osso inaugural até a promessa
craniana da cria do Homem eterno.
Morte-vida: nada uma sem a outra, tudo estará no hífen?
Homem-mulher, nada para a vida viçosa sem o (sexual) hífen?
Remind! As pinturas de Fernando Gaspar não são apenas para as vermos, uma afastando a outra,
mas antes para as olharmos como insecável sequência. A Pintura cíclica de Fernando Gaspar é para
meditarmos de olhos cerrados.
Jean-Pierre Hanel
Nantes, outubro 2011
versão portuguesa: Patrick Bernaudeau
62 63
Des corps luminescents
Petit traité fabuleux de Peinture cyclique.
Prologue
Il y a d’abord le texte à écrire. Un Prologue dont tout dépend. Pas une recette à suivre, ni un tour de main
à réussir. Plutôt un univers suggéré, son Principe explicité, son herméneutique auto-révélée. La charte
globale canalise l’énergie du désir au service de la tâche: ascèse sûre pour asseoir le propos. Somme
toute, préconcevoir la conception dirait Fernando Gaspar.
En ce sens ce peintre est classique. Une fois en route, il ne va que là où il veut aller. Par décision
mûrement réfléchie. Mais il y va par une modernité assumée, ouverte à la surprise du meilleur moyen
pour dire l’inédit. En cela ce peintre est contemporain.
(Ainsi le figuratif s’impose-t-il en ce que l’abstrait le nourrit du substrat à la pulpe. Comme la physique
du visible pousse sur l’invisibilité vibratile des quantas. Voyez le Douro: au creux de ses pentes
monstrueuses, ce qu’on en voit c’est surtout ce jeu de bascule des grands aplats crème, blanc, gris,
triturés par les lignes brisées des noirs colorés. Figuratif à force d’être abstrait. Tout est dans tout. Mais
autrement. Question de vision, d’échelle, de cadrage émotionnel.)
Finie donc la genèse du texte : «Ce qui est écrit est écrit». Maintenant ça résonne, dedans, comme une
musique des sphères. Un univers s’est mis à vouloir forcer l’intérieur du crâne. Le fusain et les brosses
s’attendent à tout sur la table des instruments. Fernando Gaspar en frémit et sa main tremble jusqu’au
bout du fusain en arrêt.
D’autres partent du pépin
C’est venu d’où ce premier trait charbonneux? Du peintre et d’Ailleurs et du monde. De tout ce qui s’est
incarné en lui. Remind, l’aventure en acte a commencé. Et si le peintre ignore à quelle ligne de son
Prologue il en est, sa main le sait.
D’autres partent du pépin pour aboutir au ver via la pomme. Parcours évident. Fernando Gaspar procède
à rebours.
Son fusain rapide cherche le germe d’os, le pose sur l’enduit blanc. De là jaillit la courbe, le bombement
sur quoi veille la serrure de la fontanelle. Un crâne surgit.
Les brosses alors, une à une, caressent le crâne, le massent, l’exhaussent enfin sur le palimpseste des
fonds colorés partiellement blanchis.
Le crâne nouveau-né palpite sur la toile désormais tandis que la main du peintre retourne à l’indolence
utilitaire. Lui s’assied, soudain las. Hors toile, les couleurs retombent aux vibrations de leurs fréquences
objectives. Plus rien d’un accord avec la pulsation qui vient de l’intérieur de l’œil et règle la danse des
doigts pinçant le pinceau.
On croirait une vanité
Le crâne trône. On croirait une vanité posée sur un marbre froissé. Qui parle en signe et dit au vivant
qu’il ne l’est plus pour longtemps.
Au vrai, c’est un peu ça, de l’ordre grave des vanités. Mais en fait c’est tout autre chose. Ce n’est pas
l’arrêt sur la première image qui dit la vérité de la séquence. Car pour Fernando Gaspar, le pied sur la
pulvérulence et le pinceau abreuvé d’infini, l’Omega est de l’Alpha transcendé.
64 65
Les jours fervents viennent. Des toiles accueillent comme autant de berceaux d’autres crânes. Mais
voyez! ils évoluent – toujours à rebours de l’ordre de la néantisation. Ainsi, au maxillaire d’en haut creusant
sa rangée d’alvéoles où logent les dents, le fusain vif oppose maintenant leurs jumelles enchâssées
dans l’arc osseux d’en bas. Comme si partant du désassemblage désastreux des mâchoires le peintre
renouait avec l’intégrité osseuse antérieure du crâne encore entier. Et les crânes s’accumulent. Pas
simplement pour faire nombre. Plutôt comme on montrerait octuple la seule lune.
Luminescences
Peut-être parce qu’une chose n’existe que par l’œil au moment où il la regarde être. Et en peinture,
par l’œil qui secrètement gouverne la main qui peint. Peut-être aussi parce que cet œil perçoit, avec
la lumière autour de et sur l’objet, celle qui sourd de l’intime de l’objet. Comme si peindre n’était que
magiquement synthétiser le flux des lumières changeantes qui font l’objet pour l’œil. Et plus encore,
tout ça, quand le motif provient de la mémoire imaginative du peintre. Car quel crâne peint donnera
exactement l’idée du crâne à peindre?
De là qu’ils sont nombreux. Chacun répondant à un défi, chacun preuve d’une victoire toujours relative.
L’humilité du peintre consiste à se satisfaire des tentatives. C’est debout, contre le chevalet et son
bouclier de toile, que le peintre combat le mieux sa tentation de ne plus tendre vers l’impossible Peinture.
Fernando Gaspar ne multiplie donc pas, il additionne – faute d’un mieux, toujours à l’horizon de la
dernière toile apprêtée – les divers états lumineux d’une même réalité idéelle. Onirique même, pourraiton dire: le vrai peintre ne voit bien, mémoire ouverte, que les yeux fermés.
Ponts de peau
L’atelier est plein de jours aveugles, terreau invisible d’où lèvent les très rares lumineux. Arrive ce jour-lumière. La brosse alors dépose un voile d’ocre-chair sur l’abîme entre les mâchoires d’os. Une joue
fait pont. Et la vague charnelle recouvre et laisse, laisse et recouvre, et monte. Le crâne se vêt d’un
flux de peau. Il devient tête. Lisse. Imberbe. Rien moins que livide cependant. La toile n’est pas linceul,
plutôt lange préparé pour ce qui vient à la vie par la vue. Et de la tête à peine pourvue de sa carnation
translucide – le charbon de l’os encore se voit – Fernando Gaspar passe à celle de ce vivant ambigu
qu’est l’homme endormi. Paupières soudées, front en arrière, faciès de l’apaisé. Comme un qui aurait si
bien trépassé que ses nerfs relâchés lui accorderaient cette peau de nouveau-né qui rêve.
Faciès de l’apaisé
Tête de vivant pourtant. En attente de quelque chose qui ne se voit que les yeux clos, tournés vers le
ciel hors champ mais tout à fait là.
Et pas seulement l’attente d’un tel. Mais celle de L’Homme (qui est aussi le peintre pour autant qu’il est
l’Homme en général pour être un homme particulier). L’Homme saisi dans les têtes humaines, elles
aussi mêmes et chacune forcément différentes. C’est pourquoi elles aussi, elles surtout, sont légion.
Toutes figées dans la même attitude qu’elles ont prise, sans le savoir, à la tête peinte: les paupières
soudées, le front en arrière, le faciès de l’apaisé. Des aspirants à la paix que procure le mystère qui
les dépasse. Voyez! la ligne de flottaison du réel atteint, par-delà la limite de la parole presque celle du
regard intérieur. Une armée pacifique en quête d’indicible.
Un autre matin sur l’immense surface apprêtée quelque chose vient. Des yeux s’ouvrent. L’insert d’une
face envahissante ruisselle sur la toile. Ça semble couler comme font les eaux amniotiques le long des
cuisses appelées au surgissement central. Passez les regardant! ces yeux ne vous quitteront plus.
Commence alors une autre attente.
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Nue comme un crâne
Et un jour glorieux, dans l’atelier blanc, la femme paraît. Nue comme un crâne. Mais si elle s’ouvre à la
vie c’est pour le contraire de la mort. Regardez! même allongée elle s’élève. Regardez! ici elle entraîne
avec elle le couchant qui illumine son ventre et ses flancs. Ailleurs elle s’élance obliquement vers le coin
du tableau qu’elle repousse de ses mains dansantes. Elle a déjà un bras levé vers l’éther que le soleil
habite et s’envole dans la colonne de lumière qui l’aspire. Translucide sa peau, courbes ses formes.
Entre les deux renflements de ses seins et la porte bombée de son sexe est esquissé le grand arc de la
vie gravide qui fait pièce à une sorte de soleil plein.
Ainsi se boucle le voyage à l’envers, ce Remind depuis l’os inaugural jusqu’à la promesse crânienne du
petit de l’Homme éternel.
Mort-vie: rien l’une sans l’autre, tout est dans le trait d’union?
Homme-femme, rien pour la vie vivace sans le (sexuel) trait d’union?
Remind! les peintures de Fernando Gaspar ne sont pas seulement à voir, l’une chassant l’autre, mais à
regarder comme insécable séquence. La Peinture cyclique de Fernando Gaspar est à méditer les yeux
fermés.
Jean-Pierre Hanel
Nantes, octobre 2011
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Luminescent bodies
Short fabulous discourse on cyclical Painting
Prologue
There is first the text to write. A prologue on which everything depends. No guidelines to follow, or
challenging skill. Initially a universe is suggested, its Principle made explicit, its hermeneutic revealed.
The global map channels the energy of desire for the sake of the task: a safe asceticism on which to set
out the purpose. In essence, preconceiving the conception, as Fernando Gaspar would say.
In this sense, this is a classical painter. Once on his way, he only goes where he wants. After a carefully
thought decision. Yet he only gets there by assuming modernism, ready to be surprised at how best to
express the unprecedented. In this sense this is a contemporary painter.
(the figurative thus asserts itself, being nourished by the abstract from the subsoil to the pulp. Just as
the physics of the visible propels the vibrating invisibility of quanta. Observe the Douro: at the foot of its
monstrous slopes, what you see is essentially the see-saw between the wide solid tones of cream, white
and gray, crushed by the broken lines of black colors. Figurative by means of being abstract. Everything
is in the whole. Yet in a different way. A question of prism, of scale, of emotional framework.)
Thus is the genesis of the text completed: “What is written is written.” There remains now, within, the
echo of that music of the spheres. A universe wanted to force its way inside the skull. Charcoal and
brushes await all on the tool table. Fernando Gaspar shudders and his hand trembles to the tip of the
motionless pencil.
Some start from seed
And from where did that very first dash of charcoal come? From the painter and from the world outside.
From all that is incarnate in him. Remind, the adventure in action, has begun. And while the painter is
unaware on which line of his prologue he is going, his hand knows.
Some start from seed to reach the maggot passing through the apple. An obvious route. Fernando
Gaspar proceeds by the reverse route.
The swift charcoal seeks the germ of bone, and places it in the white layer. From there gushes a curve,
the bowed shape retained by the closure of the fontanelle. A skull emerges. The brushes, one after
another, then caress the head, massaging it, and ultimately exalting it in a palimpsest of partially white
colored backgrounds. The newborn skull now throbs on the canvas as the painter’s hand returns to
utilitarian. He sits down, all of a sudden tired. Away from the canvas, the colors return the vibrations of
their objective frequencies. No longer in accordance with the throbbing coming from within the eye and
regulating the dance of the fingers gripping the brush.
It seems to be a vanitas
The skull rules. It seems to be a vanitas placed in a crinkled marble glaze. Speaking in signs, saying that
though alive now, it won’t be for much longer. Indeed, it is Yet in reality it is something else entirely. It is
not the first freeze frame to tell the truth of the sequence. Since for Fernando Gaspar, standing amid the
dust with brush dipped in infinity, Omega transcends Alpha.
70 71
Days of fervor arrive. So many canvases to receive them, and just as many of those other cradles, as
well as skulls. But, look! They evolve, ever contrary to the order of nihilation. Now to the upper jaw,
digging its alignment of alveoli where they lodge their teeth, the agile charcoal now opposing its twins,
embedded in the bony arch below. As if, starting from the disastrous dislocation of the jaws, the painter
were returning to the former bone integrity of the skull still whole. And the skulls keep accumulating. Not
just for the sake of being many. But to show what the one moon would be like eightfold.
Luminescences
Perhaps because something only exists through the eye when one sees that it exists. And in painting,
through the eye secretly guiding the hand that paints. Perhaps also because, with the light around and
on the object, this eye captures that which springs from the object’s core. As if painting were but the
magical synthesis of the flow of shifting lights forming the object for the eye. What’s more, all this when
the subject emerges from the painter’s imaginative memory. For which of the skulls painted will precisely
convey the essential idea of the skull through paint?
Hence there are several. Each responding to a challenge; each witness to a victory, forever relative. The
humility of the painter involves his satisfaction with his own attempts. It is when he is standing before
the easel and his shield of canvas that the painter best fights the temptation to strive no more for the
impossible Painting.
Fernando Gaspar does not multiply then, since first he adds – for want of something better, with the next
prepared canvas constantly on the horizon – the various luminous states of a single ideal reality. Even
dreamlike, one could say: the true painter can only see well with the memory open, eyes closed.
Skin bridges
The studio is filled with blind days, invisible subsoil from which grow the rare bright ones. Then comes
that daylight The brush then lands lightly on a skin coloured ocher veil in the vortex between the bony
jaws. A cheek makes a bridge. And the fleshy wave comes covering and goes, comes and goes covering,
and rises up. The skull wears a flow of skin. It becomes a head. Smooth. Hairless. Yet not even livid.
The canvas is not a shroud, but rather a diaper prepared for what comes to life by sight. And from the
translucent carnation of her not yet fully-formed head – the charcoal bone still visible – Fernando Gaspar
passes to that ambiguous state of life, the sleeping man. Eyelids closed, forehead back, face peaceful.
Like someone so deceased, that his relaxed nerves would allow him the skin of a dreaming new born
baby
Face peaceful
The head is alive though. Waiting for something that can only be seen with eyes closed, turned towards
the sky, off canvas yet entirely here.
And waiting also for something from the man (who is also the painter since by being a Man in particular
he is also Man in general). The man caught in human heads; they too being the same and yet each
one forcibly different. That’s why they, and above all they, are also legion. All of them set in the same
attitude that they have taken, without knowing it, with heads painted: eyelids closed, forehead back, face
peaceful. Aspiring for the peace granted them by the mystery that surpasses them. Look! The borderline
of the real, beyond the limit of the word, almost reaching that of the inner eye. A peaceful army in pursuit
of that which cannot be said.
One morning something emerges on the vast expanse prepared. Eyes opening. The insert of an invading
face seeps onto the canvas. It seems to flow like amniotic waters running along the thighs, called to the
central surge. Pass through these eyes to see! They will never leave you Another wait then begins.
72 73
Naked as a skull
And one glorious day, in the white of the studio, the woman appears. Naked as a skull. But if she opens
to life, it is to the opposite of death. Look! Even laid down she stands up. Look! Here she takes the
sunset with her, which lights up her belly and flanks. She swings over there to a corner of the frame,
withdrawing from it with hands dancing. One arm raised up to the ether where dwells the sun, she soars
into the vortex of light that sucks her in. Her skin translucent, her shape curved. Between the two heights
of her breasts and the arched door of her sex, the great arc of pregnant life is outlined, as if challenging
a brimming sun.
Thus closes the circle of this contrary journey, this Remind, from the inaugural bone until the cranial
promise of the offspring of eternal man.
Death-life: one nothing without the other, will all be in the hyphen?
Man-woman, nothing for the lush life without the (sexual) hyphen?
Remind! Fernando Gaspar’s paintings are not just for us to see, each separate from the other, but rather
for us to view as an indivisible sequence. Fernando Gaspar’s cyclical Painting is for us to meditate on
with eyes closed.
Jean-Pierre Hanel
Nantes, October 2011
english version: Jonathan Lewis
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Retrato
O traço vertical
Desenho gestual
A face ali cingida
O corpo impessoal
Caveira estrutural
O torso sem guarida
Imaginário, real
Retrato essencial
A morte acontecida
Figura principal
A alma essa imortal
O infinito da vida
João Pereira da Silva
Aveiro, agosto 2011
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Portrait
Le trait vertical
Dessin gestuel
Le visage inscrit
Corps impersonnel
Crâne structurel
Torse sans abri
Imaginaire, réel
Portrait essentiel
La mort qui a surgi
Figure principale
L’âme cette immortelle
L’infini de la vie
João Pereira da Silva
Aveiro, août 2011
version française: Patrick Bernaudeau
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Portrait
The vertical line
Gestural design
The face there embedded
The body, impersonal
A skull, structural
Torso there unsheltered
Imaginary, real
Portrait, essential
Death there that’s just happened
Main figure, essential
The soul that immortal
Life there unlimited
João Pereira da Silva
Aveiro, August 2011
english version: Patrick Bernaudeau
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2 olhares sobre o pintor 5 olhares sobre a exposição e o pintor
2 olhares sobre o pintor
tinhas uma tela toda por pintar e impelias os pincéis a descrever o que ficara por dizer. olhavas para a
luz enevoada dos candeeiros lá de fora. inquietavas-te. era o início da madrugada e tanto ainda para
dizer naquele branco. pensavas que insinuar a morte era uma forma de enaltecer a vida. dos montes
ecoavam salmos consolando os que se esgueiravam dos medos por entre as sombras dos muros de
granito dos quintais. tinhas frio e doíam-te as mãos e as costas. tinhas os olhos já muito raiados de
sangue. uma fina e fantasmagórica neblina ia descobrindo a serenidade das águas da ria. povoaras um
deserto pela calada da noite. na solidão dos seus segredos e mistérios. suspiravas de alívio. engolias
devagar as emoções. saboreavas por fim um caminho que aprenderas a trilhar de muito novo. tinhas um
travo na garganta. uma saudade. uma paixão. uma alegria. estavas exausto e feliz. pintar era escrever
um poema. era dizê-lo e vivê-lo intensamente. era dançar eternamente com a vida.
até à última gota de tinta.
até à última gota de sangue.
***
o rigor, a perspetiva, o desenho, a geometria. a lógica da ciência. de uma certa ciência. tudo exato,
científico, certo, previsível. é assim. mas o homem traz um rosto, um pensamento, práticas e experiências.
e o que não é certo. e o que apenas pode ser plausível e útil e credível. e pinta-se a várias vozes. a
diferentes racionalidades. e inventa-se e reinventa-se uma nova escrita. e cria-se e recria-se o que se
leu, o que se escreveu, o que se pintou, o que se esculpiu. andas há anos nesta espécie de baloiço.
cresceste e aprendeste a baloiçar sobre as águas de uma ria recortada de quintais. e foi talvez nesse
baloiçar, nesse estonteante vai e vem, que sonhaste e pintaste pessoas, animais e paisagens em todas
as suas dimensões. um inebriante rodopio que nunca deixou de te encantar. pintar tem sido, afinal, a
permanente reinvenção das coisas. uma sucessão de límpidas madrugadas onde vivem os seres que,
no seu terno e doce embalo, nunca foram capazes de te deixar adormecer.
5 olhares sobre a exposição e o pintor
há ali uma flor de deserto, um cato, uma andorinha. há ali uma ideia de paz, um campo de trigo,
um som de violino. um apito estridente de comboio. uma partida. um abandono. um reencontro. uma
alegria, fugidia. um medo, de imediato. há ali o rosto humano despido, com sentido e animal. tal e qual.
há um caminho, uma aventura, um girassol. uma desventura, uma inquietação, um tapa sol. há ali o
contínuo de uma vida. uma cadência de ondas do mar. um permanente correr de águas. um cantar.
bem lá no alto. ao universo que desagua em cada corpo. em cada rosto que ali está. inquietantemente.
incessantemente. há ali uma crua e inóspita beleza. um pulsar de contidas e esquecidas vidas que se
erguem e se despem para quem passa. um espelho do que somos. assim. sem mais nem menos.
82 83
***
pintas um corpo, uma paisagem, um rosto, um inseto como se os despojasses do que neles encontras
de acessório. deixas apenas o que resta. o que vai ficando na exaustão e secura das memórias. a
destilação de cada coisa, de cada corpo, de cada rosto. o que cada um é lá mais por dentro, lá mais
no fundo. pintas o genuíno, o mais brutal, o que fica depois do amor. as tuas telas refletem os animais
instintos daqueles corpos, as cavernas onde sempre se abrigaram em fuga dos tormentos e ameaças
criadas por si próprios. fazem-nos sentir as nossas esfarrapadas e arrastadas solidões. ontem como
hoje. com ou sem televisões. com mais ou menos inquietações e escravaturas de todas as ordens. os
corpos levitam sobre os seus lugares, sobre a terra. mergulham nos seus rios e nos seus mares. correm
nos seus vales e nas suas planícies. sobem ao mais alto das suas montanhas. gritam e cantam e choram
e riem e dançam olhando os céus. implorando aos deuses. expurgando ameaças. inventando inimigos.
urdindo guerras e massacres. por fim, entrelaçam-se uns nos outros. corpos nus que habitamos e que
nunca deixaram de estar dentro de nós. corpos nus. corpos ossudos. despojos da aventura de existir.
apenas e só corpos.
***
estás agora mais atento e sereno do que nunca. queres partilhar a beleza do definitivo acabar das
coisas. o final dos rostos. o final dos risos. o final de tudo. fica o branco guardando todas as cores. e fica
ainda a imagem emoldurada sobre um dos cantos da cómoda do velho quarto. tapam-lhe o rosto com
um pano branco e grosso de linho bordado. chegam flores de todas as cores. de todos os odores. tocam
os sinos. inclinam-se as cabeças. há um ruído de corpos que se abrigam em apertados sobretudos
de escuras fazendas. há uma humidade no ar e um cheiro a velas de chamas pálidas, cadáveres
que ardem devagar. há odores de muita gente num exíguo espaço. um desconforto, uma agonia, de
murmúrios e suspiros e tosses e incontidos choros e ais. do outro lado do muro, soltam-se as ovelhas
do curral correndo encosta abaixo à frente dos latidos roucos de dois velhos cães pastores. na taberna,
homens baixos e secos, bebem em copos de vidro grosso. na praia, lá mais abaixo, as ondas continuam
a entornar na areia fina o que sobrou dos corpos há muito tragados pelo mar.
***
um rosto, de repente, na paisagem. um rosto que traduz todo o mundo à sua volta. o percurso e os
atalhos e os incidentes de uma vida num rosto que nunca alguém verdadeiramente vira e apreciara. um
rosto negro. que não vira. um rosto branco. que já vira. rostos que se entregam ao voo dos flamingos.
ao trote enlouquecido dos gnus. aos céus e às savanas africanas. um rosto vivo e humano e cheio de
poesia. um rosto que sorri e um rosto que chora. um rosto pendurado no universo, no cosmos, no lado
mais infinito de tudo. espera o errático esvoaçar das borboletas. a imensidão das cores e os sons e
ensurdecedores hinos de azuis e tresloucadas primaveras. um rosto na sua beleza, na sua magia, no
seu mistério. um rosto que envelhece e que morre cravado de punhais há muito escondidos na solidão
e no deserto de outros rostos.
84 85
***
naqueles corpos há um amor que ainda poucos viram e sentiram e viveram. há incansáveis cascatas
de água fresca e límpida que escorre de montanhas povoadas de ninguém. naqueles corpos, tenho a
certeza, existe amor da cor da terra com braços e pernas e sexo e dentes e saliva. um amor a sério. um
amor mistério. um amor de rosto. um amor de resto. um amor de rastos. naqueles corpos há amor com
as cores vibrantes dos jardins, os sons mornos das vindimas e os temores dos caminhantes das arribas
alcandoradas sobre o mar. naqueles corpos vivem amores dos que se encontram na longínqua solidão
de uma praça à beira mar. dos que nos fazem renascer com incontidos e prolongados beijos. dos que
matam as saudades no sentir quente de corpos perdidos nos labirintos das cidades. naqueles corpos
estão marcas. as marcas que dão sentido a um amor reinventado no abandono e no silêncio do mais
frio e longínquo dos desertos.
Domingos Fernandes
em São Miguel, Açores, outubro 2011
86 87
2 regards sur le peintre 5 regards sur l’exposition et le peintre
2 regards sur le peintre
tu avais toute une toile à peindre et impulsais tes pinceaux à décrire ce qui restait à dire. tu regardais la
lumière embrumée des lampadaires au-dehors. tu t’inquiétais. c’était au petit matin et tu avais encore
tant à dire sur ce blanc. tu pensais qu’insinuer la mort était une façon d’exalter la vie. des sommets venait
l’écho des psaumes consolant ceux qui s’échappaient des peurs en se glissant entre les ombres des
murs de granit des jardins. tu avais froid et mal au dos et aux mains. tes yeux étaient déjà striés de sang.
un fin brouillard fantasmagorique allait en découvrant la sérénité des eaux de la lagune. tu avais peuplé
un désert à la muette. dans la solitude de ses secrets et de ses mystères. tu étais rassuré. tu avalais
doucement tes émotions. tu savourais enfin un chemin que tu avais appris tout jeune à parcourir. tu avais
la gorge serrée. une saudade. une passion. une joie. tu étais anéanti et heureux. peindre c’était écrire un
poème. c’était le dire et le vivre intensément. c’était danser éternellement avec la vie.
jusqu’à la dernière goutte de peinture.
jusqu’à la dernière goutte de sang.
***
la rigueur, la perspective, le dessin, la géométrie, la logique de la science. d’une certaine science. tout
exact. scientifique, certain, prévisible. c’est comme ça. mais l’homme a un visage, une pensée, des
pratiques et des expériences. et ce qui n’est pas certain. et ce qui ne peut être que plausible et utile
et crédible. et l’on peint à plusieurs voix. à plusieurs rationalités. et l’on invente et l’on réinvente une
nouvelle écriture. et l’on crée et recrée ce qui a été lu, ce qui a été écrit, ce qui a été peint, ce qui a été
sculpté. tu fais depuis des années de cette espèce de balançoire. tu as grandi et appris à te balancer
sur les eaux de cette Ria entrecoupée de jardins. et c’est peut-être dans ce balancement, dans cet
étourdissant va-et-vient, que tu as rêvé et peint les gens, les animaux et les paysages dans toutes leurs
dimensions. un tournoiement grisant qui toujours a su t’enchanter. peindre aura donc été, en fin de
compte, la permanente réinvention des choses. une sucession de petits-matins limpides peuplé d’êtres
qui, pour t’avoir tendrement et doucement bercé, jamais n’ont réussi à t’endormir.
5 regards sur le peintre et son exposition
il y a là une fleur du désert, un cactus, une hirondelle. Il y a là une idée de paix, un champ de blé, un
son de violon, un sifflement strident de train. un départ. un abandon. des retrouvailles. une joie, fugitive.
une peur, immédiate. Il y a là un visage dénudé, à la fois sensé et animal. c’est ça. il y a un chemin, une
aventure, un tournesol, une mésaventure, une inquiétude, un pare-soleil. Il y a là le continuum d’une vie.
une cadence de vagues marines. une eau qui coule en permanence. un chant. tout là haut. à l’univers
qui ase jette dans chaque corps. dans chaque visage qu’il y a là. inquiétamment. incessamment. il y a
là une beauté crue et inhospitalière. la pulsation de vies contenues et oubliées qui se dressent et se
dénudent pour le passant. un miroir de ce que nous sommes. comme ça, sans raison.
88 89
***
tu peins un corps, un paysage, un visage, un insecte, comme si tu les débarrassais de ce qu’en eux tu
trouves accessoire. tu ne laisses que ce qui reste. ce qui demeure dans l’exhaustion et l’assèchement des
mémoires. la distillation de toute chose, de tout corps, de tout visage. ce que chacun est bien au dedans,
au plus profond. tu peins l’authentique, le plus brutal, ce qui reste après l’amour. tes toiles reflètent les
instincts animaux de ces corps, ces cavernes où ils se sont toujours réfugiés, fuyant les tourments et les
menaces qu’eux-mêmes se créent. elles nous font ressentir ces solitudes que nous traînons en haillons.
aujourd’hui comme hier. avec ou sans télévisions. avec plus ou moins d’inquiétudes et d’esclavages
de tous ordres.les corps lévitent au-dessus de leurs lieux, au-dessus de la terre. plongent dans leurs
fleuves et leurs mers. courent par leurs vallées et leurs plaines. gravissent leurs plus hautes montagnes.
crient et chantent et pleurent et rient et dansent les yeux aux cieux. implorant les dieux. expurgeant
leurs menaces. inventant des ennemis. ourdissant guerres et massacres. s’entrelaçant enfin les uns les
autres. corps nus. corps osseux. dépouilles de l’aventure d’exister. rien que des corps.
***
tu es désormais plus attentif que jamais. tu veux partager la beauté du final définitif des choses. le final
des visages. le final des rires. le final de tout. reste le blanc gardien de toutes les couleurs. et reste aussi
l’image encadrée sur l’un des coins de la commode de la vieille chambre. on lui recouvre le visage d’un
tissu de lin blanc épais et brodé. viennent des fleurs de toutes les couleurs. de toutes les senteurs. les
cloches sonnent. les têtes s’inclinent. il y a un bruit de corps qui se couvrent de pardessus serrés aux
tissus foncés. il y a de l’humidité dans l’air et une odeur de bougies aux flammes pâles, cadavres qui
se consument lentement. il y a les odeurs de beaucoup de gens massés dans un espace exigu. un
inconfort, une agonie, de murmures et de soupirs et de toussements et de pleurs sans retenue et de
gémissements. de l’autre côté du mur, on sort les brebis de la bergerie, qui s’élancent dans la pente audevant des aboiements rauques d’une paire de vieux chiens de berger. à la taverne, des hommes, secs
et trapus, boivent dans des verres aux parois épaisses. sur la plage, en contrebas, les vagues continuent
à déverser sur le sable fin ce qui est resté des corps depuis longtemps engloutis par les flots.
***
un visage, soudain, dans le paysage. un visage qui traduit tout du monde alentour. le parcours et les
raccourcis et les incidents d’une vie dans un visage que personne auparavant n’avait vraiment fixé ni
apprécié. un visage noir. jamais fixé. un visage blanc. auparavant fixé. visages qui se rendent au vol des
flamants. au trot affolé des gnous. aux cieux et aux savanes africaines. un visage vivant et humain et
plein de poésie. un visage qui sourit et un visage qui pleure. un visage suspendu à l’univers, au cosmos,
du côté le plus infini de tout. il guette l’envol erratique des papillons. l’immensité des couleurs et les sons
et les hymnes assourdissants d’insensés printemps bleus. un visage dans sa beauté, dans sa magie,
dans son mystère. un visage qui vieillit et qui meurt transpercé de poignards longtemps cachés dans la
solitude et le désert d’autres visages.
90 91
***
il y a dans ces corps un amour que peu encore ont vu et ressenti et vécu. il y a d’infatigables cascades
à l’eau fraîche et limpide qui coule de montagnes peuplées par personne. dans ces corps, j’en suis sûr,
existe un amour de la couleur de la terre avec des bras et des jambes et un sexe et des dents et de
la salive. un vrai amour. un mystère d’amour. un amour en plein visage. un amour sans ambages un
amour ravage. dans ces corps il y a de l’amour aux couleurs vibrantes des jardins, aux sons tièdes des
vendanges et aux craintes du promeneur des chemins de corniche des hautes falaises dressées contre
la mer. dans ces corps vivent les amours de ceux qui sont dans la lointaine solitude d’une place en front
de mer. de ceux qui nous font renaître de leurs longs baisers sans retenue. de ceux qui se consolent
enfin dans la chaude sensation de corps perdus dans les labyrinthes des villes. sur ces corps ils y a des
marques. les marques qui donne leur sens à un amour réinventé dans l’abandon et le silence du plus
froid du plus lointain des déserts.
Domingos Fernandes
à São Miguel, Açores, octobre 2011
version française: Patrick Bernaudeau
92 93
2 views of the painter 5 views of the exhibition and the painter
2
views of the painter
you had a whole canvas to paint and applying the brushes described what had remained unsaid. you
gazed at the misty lamplight outside. you were restless. dawn was breaking and there was still so much
to say on that white. you thought that hinting at death was a way of exalting life. psalms echoed from the
hills and consoled those slipping away from fear among the shadows of the granite garden walls. you felt
cold and your hands and back hurt. your eyes had gone very bloodshot. a fine, ghostly mist was lifting
to reveal the calm waters of the lagoon. you inhabited a desert at the dead of night. in the solitude of its
secrets and mysteries. you sighed with relief. you slowly swallowed your emotions. at long last you were
savouring a path that you had learned to tread anew. you had a lump in your throat. a longing. a passion.
a joy. you were exhausted and happy. painting was writing a poem. it was telling and living it intensely. it
was dancing with life forever.
to the last drop of paint.
to the last drop of blood.
***
precision, perspective, drawing, geometry. the logic of science. of a certain science. everything exact,
scientific, precise, predictable. that is how it is. yet man brings a face, thought, practice and experience.
and that which is not sure. and that which can only be plausible and useful and credible. and he paints
himself in a variety of voices. to different rationalities. and he invents and reinvents a new writing. and
that which he has read, written, painted and sculpted he creates and recreates. for years you have been
riding on this kind of swing. you have grown up and learned to swing over the waters of a lagoon lined
with gardens. and it was perhaps in this swinging, this spectacular coming and going, that you dreamed
and painted people, animals and landscapes in all their dimensions. a heady whirl that never ceased to
charm you. painting has always been, after all, the constant reinvention of things. a succession of clear
dawns wherein dwell those beings whose sweet and tender lullaby was never
able to send you to sleep.
5
views of the exhibition and the painter
there is there a desert flower, a cactus, a swallow. there is there a sense of peace, a wheat field, the
sound of a violin. the shrill whistle of a train. a departure. an abandonment. a reunion. an elusive joy. an
immediate fear. there is there the human face stripped, with sense and animal. just that. there is a path,
an adventure, a sunflower. a misfortune, a restlessness, a sunshade. there is there the continuum of a
life. waves breaking. constant water running. singing. way up there. in the universe that flows in each
body. in every face that is there. disquietingly. incessantly. there is there a raw and inhospitable beauty. a
pulsing of contained and forgotten lives that arise and undress for those passing by. a mirror of who we
are. thus. no more no less.
94 95
***
you paint a body, a landscape, a face, an insect as if you were stripping them of any use you might find
in them. you leave only what remains. what will become of the exhaustion and dryness of memories.
the distillation of every thing, every body, every face. the essence of each further inside, deeper down
there. you paint the genuine, the most brutal, which remains after love. your paintings reflect the animal
instincts of those bodies, the caves where they would always take shelter to escape from the self-inflicted
torments and threats they created. they make us feel our tattered and dragging solitude. yesterday like
today. with or without television. wavering unease and slavery of every sort. bodies levitate above their
places, above the earth. they plunge into their rivers and their seas. they run in their valleys and over
their plains. they climb to the top of their mountains. they scream and sing and cry and laugh and dance,
watching the skies. begging the gods. purging threats. making enemies. plotting wars and massacres.
finally, they intertwine with each other. naked bodies that we inhabit and which we have never left alone
within us. naked bodies. bony bodies. leftovers from the adventure of existence. just bodies only.
***
you are now more aware and serene than ever. you want to share the beauty in the ultimate fate of
things. the end of faces. the end of laughing. the end of everything. white stays on, keeping guard over all
colors. and there still remains the framed picture over one of the corners of the chest of drawers in the old
bedroom. the face is covered with a thick white cloth of embroidered linen. flowers arrive of every color.
of every fragrance. bells ring. heads lean. There is a noise of bodies sheltering in tight overcoats of dark
cloth. there is moisture in the air and a scent of pale-flamed candles, corpses burning slowly. there are
smells of many people in a cramped space. a discomfort, an agony, of murmurs and sighs and coughs
and unrestrained cries and moans. on the other side of the wall, the sheep break free of their pen and
run downhill ahead of the gruff barking of two old sheepdogs. in the tavern, low and dry men drink from
thick glasses. on the beach, down there further below, the waves continue to pour onto the fine sand
what remains of the bodies long ago swallowed by the sea.
***
a face, suddenly, in the landscape. a face expressing all the world surrounding it. the route and the shortcuts and incidents of a life in a face that no one had ever truly seen and appreciated. a black face. which
had gone unseen. a white face. which had been seen. faces that surrendered to the flight of flamingos.
to the frenzied galloping of gnus. to the skies and savannahs of Africa. a living and human face full of
poetry. a face that smiles and a face that cries. a face hanging in the universe, in the cosmos, on the most
infinite side of everything. awaiting the fitful fluttering of butterflies. the multitude of colors and sounds
and deafening songs of mad blue springs. a face in its beauty, in its magic, in its mystery. a face that ages
and dies riddled with knives long hidden in the solitude and desert of other faces.
96 97
***
there is in those bodies a love that few have yet seen and felt and lived. there are relentless cascades
of clear fresh water running down mountains populated by no one. there is in those bodies, I am sure,
a love colored as the earth with arms and legs and genitals and teeth and saliva. a serious love. a love
of mystery. a love of faces. a love of what is left. a love down on its knees. there is in those bodies a
love with the vibrant colors of gardens, the warm sounds of harvest and the fears of walkers on the cliffs
looming over the sea. there dwells in those bodies love for them who are found in the distant solitude of
a seaside square. for them whose continuous and unfettered kissing makes us reborn. for them who find
solace in the warm feeling of bodies lost in the labyrinths of the city. those bodies bear the marks. the
marks that give meaning to a love reinvented in the abandonment and silence of the coldest and most
distant of deserts.
Domingos Fernandes
at São Miguel, Azores, October 2011
english version: Jonathan Lewis
REMIND 25 Video | 2011
Duração: 03’ 00’’
Formato: WIDESCREEN 16:9 PAL HD 25fps 1920x1080px
Produção e Edição: Ivo Tavares e Luís Melo - ITS
98 99
HEAD’S STUDY | 2011
Técnica mista sobre cartão
Technique mixte sur carton
Mix media on paperboard
25 x 21,5 cm
ref.R25_001 a R25_048
SKULL’S STUDY | 2011
Técnica mista sobre cartão
Technique mixte sur carton
Mix media on paperboard
25 x 21,5 cm
www.fernandogaspar.com/remind25/video
ref.R25_049 a R25_061
HE Series | 2011
Esculturas pigmentadas em compósito à base de gesso
Sculptures pigmentées en plâtre composite
Pigmented plaster composite sculptures
ref.R25_062 a R25_076
SHE Series | 2011
Esculturas pigmentadas em compósito à base de gesso
Sculptures pigmentées en plâtre composite
Pigmented plaster composite sculptures
ref.R25_077 a R25_091
104 105
HE Series | 2011
Esculturas pigmentadas em compósito à base de gesso
Sculptures pigmentées en plâtre composite
Pigmented plaster composite sculptures
ref.R25_062 a R25_076
106 107
HE Series | 2011
Esculturas pigmentadas em compósito à base de gesso
Sculptures pigmentées en plâtre composite
Pigmented plaster composite sculptures
ref.R25_062 a R25_076
108 109
HEAD #1 | 2011
Carvão e acrílico sobre tela
Fusain et acrylique sur toile
Charcoal and acrylic on canvas
120 x 100 cm
ref.R25_092
110 111
HEAD #2 | 2011
Carvão e acrílico sobre tela
Fusain et acrylique sur toile
Charcoal and acrylic on canvas
120 x 100 cm
ref.R25_093
112 113
HAED #3 | 2011
Carvão e acrílico sobre tela
Fusain et acrylique sur toile
Charcoal and acrylic on canvas
120 x 100 cm
ref.R25_094
114 115
HEAD #4 | 2011
Carvão e acrílico sobre tela
Fusain et acrylique sur toile
Charcoal and acrylic on canvas
120 x 100 cm
ref.R25_095
116 117
HEAD #5 | 2011
Carvão e acrílico sobre tela
Fusain et acrylique sur toile
Charcoal and acrylic on canvas
120 x 100 cm
ref.R25_096
118 119
HEAD #6 | 2011
Carvão e acrílico sobre tela
Fusain et acrylique sur toile
Charcoal and acrylic on canvas
120 x 100 cm
ref.R25_097
120 121
HEAD #7 | 2011
Carvão e acrílico sobre tela
Fusain et acrylique sur toile
Charcoal and acrylic on canvas
120 x 100 cm
ref.R25_098
122 123
REST #1 | 2011
Carvão e acrílico sobre tela
Fusain et acrylique sur toile
Charcoal and acrylic on canvas
120 x 100 cm
ref.R25_099
124 125
REST #2 | 2011
Carvão e acrílico sobre tela
Fusain et acrylique sur toile
Charcoal and acrylic on canvas
120 x 100 cm
ref.R25_100
126 127
STARE #1 | 2011
Carvão e acrílico sobre tela
Fusain et acrylique sur toile
Charcoal and acrylic on canvas
200 x 160 cm
ref.R25_102
128 129
STARE #2 | 2011
Carvão e acrílico sobre tela
Fusain et acrylique sur toile
Charcoal and acrylic on canvas
200 x 160 cm
ref.R25_103
130 131
STARE #3 | 2011
Carvão e acrílico sobre tela
Fusain et acrylique sur toile
Charcoal and acrylic on canvas
200 x 160 cm
ref.R25_104
132 133
REM | 2011
Carvão e acrílico sobre tela
Fusain et acrylique sur toile
Charcoal and acrylic on canvas
100 x 100 cm
ref.R25_105
134 135
RISING BODY #1 | 2011
Carvão, acrílico e colagem sobre tela
Fusain, acrylique et collage sur toile
Charcoal, acrylic and collage on canvas
162 x 114 cm
ref.R25_106
136 137
RISING BODY #2 | 2011
Carvão, acrílico e colagem sobre tela
Fusain, acrylique et collage sur toile
Charcoal, acrylic and collage on canvas
162 x 114 cm
ref.R25_107
138 139
EARTHED BODY #1 | 2011
Carvão e acrílico sobre tela
Fusain et acrylique sur toile
Charcoal and acrylic on canvas
162 x 114 cm
ref.R25_108
140 141
EARTHED BODY #2 | 2011
Carvão e acrílico sobre tela
Fusain et acrylique sur toile
Charcoal and acrylic on canvas
162 x 114 cm
ref.R25_109
142 143
AWAKENING | 2011
Carvão e acrílico sobre tela
Fusain et acrylique sur toile
Charcoal and acrylic on canvas
100 x 100 cm
ref.R25_110
144 145
146 147
148 149
FERNANDO GASPAR
n. 1966, portugal
exposições individuais 1986 | 2011
expositions individuelles 1986 | 2011
solo exhibitions 1986 | 2011
galeria de arte a grade | aveiro.
galeria municipal de aveiro | aveiro.
espaço 2 – casino estoril | estoril.
à passagem de um rio – ateneu comercial do porto | porto.
museu regional de sintra | sintra.
galeria vértice | lisboa.
dez aguarelas – galeria forma | braga.
galeria inter-atrium | porto.
colecções particulares I – maison des artistes – anderlecht | bruxelas.
colecções particulares II – staff centre - nato | bruxelas.
sud – royal anderlecht golf club | bruxelas.
aguarela ainda – museu regional de sintra | sintra.
centro unesco | porto.
estudos para um improviso – casino estoril | estoril.
bestiário / touros – enquadrar | aveiro.
sítios da memória – galeria dos coimbras | braga.
parcours imaginaire – staff centre – nato | bruxelas.
parcours imaginaire – convent des récollets | cognac.
lugares de uma viagem – casino estoril | estoril.
no limite da água – galeria arte&oficina | setúbal.
personagens para uma história – artemporio | lisboa.
bestiário / insectos – enquadrar | aveiro.
rebelião no zoo – parte I – casino estoril | estoril.
crónicas de um encontro – casino estoril | estoril.
momentos de luz – micro-arte | lisboa.
atlânticas – galeria vera cruz | aveiro.
ibéria – casino estoril | estoril.
o afecto o tempo e o rio – fundación duero | cáceres, salamanca, valladolid, zamora,
saragoça, soria, placencia.
invisible shapes – alphart gallery | lisboa.
rebelião no zoo – parte II – casino estoril | estoril.
in itinere – perlimpimpim | vagos.
ad infinitum / silêncio – consulado-geral | paris.
três momentos – galeria 57 | leiria.
150 151
exposições colectivas 1986 | 2011
expositions collectives 1986 | 2011
collective exhibitions 1986 | 2011
artistas da beira – museu grão vasco | viseu.
4º salão de primavera – casino estoril | estoril.
a vinha e o vinho na pintura – sociedade nacional de belas artes | lisboa.
o norte na pintura – exponor | porto.
5º salão de primavera – casino estoril | estoril.
a festa da primavera – sociedade de geografia de lisboa / cml | lisboa.
6ºsalão de primavera – casino estoril | estoril.
lisboa - séc. xx nas artes plásticas – palácio das galveias | lisboa.
12º salão de outono – casino estoril | estoril.
salão de aguarela – casino estoril | estoril.
prémio almada negreiros – mapfre vida | porto.
muestra de arte portugués contemporáneo | barcelona.
modos de ver lisboa – galeria barata | lisboa.
dez anos, dois homens e um laço | vagos.
printemps culturel | avignon.
casa de portugal | paris.
salão de aguarela – casino estoril | estoril.
paisagem portuguesa – casino estoril | estoril.
colectiva d’estiu – galeria marbelló | barcelona.
1º prémio nacional de pintura antónio joaquim / artistas de gaia | gaia.
2º prémio nacional de pintura antónio joaquim / artistas de gaia | gaia.
convento do beato | lisboa.
fac – parque das nações | lisboa.
artesevilla – feria de arte contemporaneo | sevilha.
500 anos da descoberta do brasil | curitiba.
arte contemporânea portuguesa – reservatório da patriarcal | lisboa.
marcamadeira – feira de arte contemporânea | madeira.
cultura aberta – galeria da restauração / porto 2001 | porto.
5º prémio nacional de pintura antónio joaquim / artistas de gaia | gaia.
arte estoril, 1ª feira de arte contemporânea do estoril | estoril.
galeria artin | lisboa.
galeria magna | coimbra.
20º salão de outono – casino estoril | estoril.
artein, art madrid – salón de arte moderno y contemporáneo | madrid.
os bichos também são gente – casino estoril | estoril.
VII exposição colectiva de dezembro – galeria vera cruz | aveiro.
fozarte 2011 – ap’arte |porto
152 153
prémios
prix
prizes
1987 cerâmica artística e decorativa II | aveiro
(menção honrosa / mention honorable / honourable mention)
1989 4º salão de primavera - casino estoril | estoril
(menção honrosa / mention honorable / honourable mention)
1997 10º salão de primavera – casino estoril | estoril
(menção honrosa / mention honorable / honourable mention)
paisagem portuguesa – casino estoril | estoril
(menção honrosa / mention honorable / honourable mention)
1º prémio nacional de pintura antónio joaquim
(menção honrosa / mention honorable / honourable mention)
1998 2º prémio nacional de pintura antónio joaquim
(prémio nacional de pintura / prix national de peinture / national painting prize)
2000 4º prémio nacional de pintura antónio joaquim
(menção honrosa / mention honorable / honourable mention)
2001 cultura aberta - galeria da restauração / porto 2001 | porto
(prémio pintura / prix de peinture / painting prize)
2009 vaga de ouro
(prémio cultura / prix culture / culture prize)
obras em coleções públicas e privadas
œuvres dans collections publiques et privées
artworks in public and private collections
no estrangeiro | à l’étranger | abroad
áustria autriche austria, alemanha allemagne germany, bélgica belgique belgium (commune d’anderlecht
e nato otan nato), brasil brésil brazil, canadá canada canada, dinamarca danemark denmark, eslovénia
slovénie slovenia, espanha espagne spain, eua usa usa, japão japon japan, frança france france, países
baixos pays-bas netherlands e et and reino unido royaume-uni united kingdom.
em portugal | au portugal | at portugal
banco de portugal, caixa de crédito agrícola mútuo de vagos, câmara municipal de aveiro, câmara
municipal de gaia, câmara municipal de lisboa, câmara municipal de santa maria da feira, câmara
municipal de vagos, casino lisboa, caves aliança, companhia de seguros açoreana, consulado-geral de
portugal em paris, embaixada de portugal em dacar, estoril sol, fundação dionísio pinheiro, giro concept,
liberty seguros, link consultadoria, museu regional de sintra, museu joão mário, museu da cidade de
lisboa, oni, pt inovação, pricewaterhouse coopers, ramos catarino sa, região de turismo do algarve, real
companhia velha, etc.
154 155
REMIND 25 - Fernando Gaspar
26 nov 2011 a 06 jan 2012
Museu da Cidade de Aveiro, Aveiro, Portugal
23 fev 2012 a 08 mar 2012
Cosmopolis - Espace International, Nantes, France
156 157
O dia começa junto à água. Trago o papel a embrulhar o peito, para dar.
Passo a passo, mão quente, caminho com frente, ao lado.
Doce boca, passo contigo, mão afago.
Leva-me onde eu for. Vou
Aos amigos o meu abraço mais demorado.
La journée commence à fleur d’eau. Je porte le papier autour de ma poitrine, pour donner.
Pas à pas, main réchauffée, marche en avant, à l’amble.
Bouche douce, je passe avec toi, main câline.
Emmène-moi là où je serai. J’y vais
À mes amis ma plus longue étreinte.
The day begins with the water. I bring the paper to wrap the breast, to give.
Step by step, warm hand, I walk forwards, alongside.
Sweet mouth, I stay with you, hand caressing.
Take me wherever I’m going. I go
A belated hug to my friends
Fernando Gaspar
nov 2011
version française: Patrick Bernaudeau
english version: Jonathan Lewis
Textos | Textes | Texts
Paulo Moreira
Fernando Gaspar
Maria da Luz Nolasco
N. Lima de Carvalho
José António de Sousa
Agostinho Santos
Rosa Teixeira Ribeiro
Jean-Pierre Hanel
João Pereira da Silva
Domingos Fernandes
Tradução | Traduction | Translation
Patrick Bernaudeau (fr)
Jonathan Lewis (en)
Revisão | Révision | Proofreading
Patrick Bernaudeau
Produção e Curadoria | Production et Curateurs| Production and Curators
Banister Consulting
Fernando Gaspar - Arte Contemporânea
Fotografia e Vídeo | Photographie et Vidéo | Photography and Video
ITS - Ivo Tavares e Luís Melo
Concepção Gráfica | Conception Graphique | Graphic Design
ITS - Luís Melo
Impressão | Impression | Printing
Procer
Tiragem | Tirage | Impression
750 exemplares | exemplaires | copies
ISBN: 978-989-97616-0-5
Depósito Legal: 336243/11
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© BANISTER, novembro 2011