Piezocirurgia aplicada à cirurgia ortognática
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Piezocirurgia aplicada à cirurgia ortognática
Full Dent. Sci. 2013; 4(15):395-410. 395 Piezocirurgia aplicada à cirurgia ortognática - estudo retrospectivo com descrição de nova técnica de piezo-osteotomia sagital da mandíbula Piezosurgery applied to orthognathic surgery – retrospective study with description of a new technique mandibular sagittal piezo-osteotomy Éber Luís de Lima Stevão1 Resumo A cirurgia piezoelétrica foi iniciada em 2000 com o clássico artigo do Dr. Tomaso Vercellotti e a aplicação na cirurgia ortognática com publicações somente em 2004 e 2005. Este artigo descreve o uso racional das pontas ultrassônicas na cirurgia ortognática, com especial ênfase à descrição de uma nova piezo-osteotomia sagital de mandíbula. Também relata a experiência de cinco anos do autor com o uso da piezocirurgia nos procedimentos de cirurgia ortognática. No período de maio de 2007 a maio de 2012, foram realizados quarenta e três procedimentos maxilares: 36,5% Le Fort I multi-segmentadas, 26,8% Le Fort I para expansão rápida de maxila assistida cirurgicamente, 19,6% Le Fort I, 14,6% osteotomia subapical anterior de maxila e 2,5% Le Fort II modificada. Dos 36 procedimentos maxilares que envolveram disjunção pterigomaxilar, 100% foram realizados com cinzel após 30,5% de tentativas frustradas para piezo disjunção. Das 61 mandíbulas operadas, 88,3% osteotomia sagital de mandíbula bilateral, 41,6% mentoplastia Tenon e Mortise, 5% expansão rápida de mandíbula assistida cirurgicamente, 5% mentoplastia horizontal reta, 5% osteotomia subapical anterior de mandíbula, 5% osteotomia subapical posterior de mandíbula bilateral, 1,6% osteotomia subapical posterior de mandíbula unilateral e 1,6% osteotomia sagital de mandíbula unilateral. O tempo para a piezo-osteotomia aumentou de 10 a 20% nas osteotomias maxilares e de 20 a 30% nas osteotomias mandibulares (mentoplastias inclusas), quando comparado com as técnicas tradicionais com brocas e serras. As maiores porcentagens do tempo gasto foram para os primeiros pacientes operados em 2007, ano do início da experiência do autor com a piezocirurgia. Nenhuma intercorrência transoperatória ou complicações foram observadas no emprego da técnica. Descritores: Piezocirurgia, energia piezoelétrica, cirurgia ortognática, osteotomia ultrassônica, osteoplastia ultrassônica. Abstract The piezoelectric surgery was initiated in the year 2000 with the classic Dr. Tomaso Vercellotti´s article and, its application in maxillary and mandibular orthognathic surgery publications have occured only in 2004 and 2005. This article reports the rational for ultrasonic inserts application for osteotomy/osteoplasty in orthognathic surgery with special emphasis to a new sagittalpiezo-osteotomy. It also, reports the author´s five-year piezosurgery experience in orthognathic surgical procedures. Forty three maxillary procedures were performed: 36.5% multipieceLe Fort I, 26.8% Le Fort I for rapid maxillaryexpansion, 19.6% Le Fort I, 14.6% subapical anterior maxillary osteotomy, and 2.5% modified Le Fort II. Of the thirty 1 Dr. em Odontologia, Pós-Doutorado em CTBMF - Baylor College of Dentistry, Diretor Clínico do Instituto de Cirurgia Ortognática de Curitiba - ICOC, Curitiba - PR, Cirurgião Consultor independente do Surgystar-Surgystar Plus, Dmetec®, Seoul, Coréia do Sul. Endereço do autor: [email protected] Recebido para publicação: 04/06/2012 Aprovado para publicação: 04/10/2012 Artigo original / Original article Full Dent. Sci. 2013; 4(15):395-410. 396 six procedures involving maxillary pterygomaxillary disjunction, 100% were carried out with chisel after 30.5% ofthe attempts to usepiezo-disjunction failed. Of the sixty one operated mandibles, 88.3% bilateral sagittal split mandibular osteotomy, 41.6% genioplasty with Mortise e Tenon technique, 5% mandibular rapid expansion, 5% genioplasty with straight horizontal technique, 5% subapical anterior mandibular osteotomy, 5% bilateral subapical posterior mandibular osteotomy, 1.6% unilateral subapical posterior mandibular osteotomy, and 1.6% unilateral sagittal split mandibular osteotomy. The time for piezo-osteotomy has increased by about 10 to 20% for maxillary osteotomies, and about 20 to 30% for mandibular osteotomies (genioplasties included) as compared to traditional techniques using drills and reciprocating saws. The largest percentages of time were spent for the first patients operated in 2007, year of the beginning of the author’s experience with piezosurgery. None intraoperative complications were observed with the technique application. Descriptors: Piezosurgery, piezoelectric surgery, piezo-orthognathic surgery, ultrasonic osteotomy, ultrasonic osteoplasty. Artigo original / Original article Introdução Para esclarecimento inicial, é importante ressaltar que o termo piezocirurgia está empregado neste artigo de duas formas: 1) uma a respeito ao sistema piezocirurgia que se traduz no aparelho em si, sendo o piezocirurgia, comumente dito piezo; 2) outra que se refere à técnica de piezocirurgia propriamente dita, que é a piezocirurgia ou piezo-osteotomia. O sistema piezocirurgia é composto de um dispositivo piezoelétrico chamado de unidade central e funciona com uma frequência de até 29 kHz, podendo chegar a 30 Hz, através da modulação digital da unidade central que controla a oscilação, introduzindo pequenos períodos de pausa que evitam o aquecimento da ponta ultrassônica, porém mantendo uma excelente capacidade de corte (Figura 1). A essa unidade é acoplada uma peça de mão que recebe uma ponta ultrassônica, confeccionada especialmente para resistir às micro-oscilações geradas pelas distensões e contrações da cerâmica (Figura 2). A peça de mão pode oferecer uma iluminação auxiliar para o campo operatório, tendo algumas luzes tipo LEDs (light emmiting diode) ou fibra óptica, dependendo do fabricante (Figura 3). Existem várias pontas ultrassônicas que são inseridas à peça de mão através de rosqueamento simples e travamento final com chave torquímetro especial (Figura 4). Essas pontas têm diferentes formatos e são indicadas para usos específicos. A ponta ultrassônica sofre uma intensa vibração linear que varia de 60 a 200 µm e é composta de 3 partes: a) encaixe - porção rosqueável que se acopla à peça de mão; b) haste - que une o encaixe à ponta ativa e c) ponta ativa - porção que efetivamente entra em contato com o tecido ósseo e realiza a piezo-osteotomia. As pontas ultrassônicas que estão disponíveis hoje no mercado são classificadas desta maneira: 1) Serra ou de corte - são revistadas com nitrato de titânio (nitretação) que proporciona endurecimento da superfície, garantido a máxima eficiência para o corte. Empregadas para fazer cortes lineares (Figuras 5A e 5B). 2) Circular de corte - também recebe a nitretação. São resistentes e eficientes no corte sendo empregadas para fazer cavitações (perfurações) ósseas (Figura 6). 3) Diamantadas - são revestidas com cristais de diamante e devem ser usadas em regiões ósseas revestidas por estruturas membranosas (exemplo: maxila - seio maxilar) ou para completar uma osteotomia próxima a uma estrutura anatômica importante (exemplo: forame mentual) ou para aumentar (alargar) uma osteotomia prévia, aumentando o gap ósseo (exemplo: corte vertical do corpo mandibular durante a osteotomia sagital da mandíbula). São menos eficientes no corte e causam mais traumas (histologicamente) do que as de corte, porém são mais seguras (Figuras 7A e 7B). 4) Rasp - superfície tracejada dando uma característica de lima para osso para completar uma osteoplastia (Figura 8). O piezo através das microvibrações e da frequência ultrassônica que ele produz, oferece três aspectos mecânicos que são superiores quando comparados aos instrumentos rotatórios ou oscilatórios. Primeiro, permite um corte micrométrico, oferecendo uma precisão superior no corte sem perda óssea. Segundo, o instrumento seleciona as estruturas mineralizadas, sem causar danos aos tecidos moles adjacentes, que permanecem intactos, mesmo em caso de contato acidental da ponta ultrassônica com essas estruturas delicadas. Terceiro, o fenômeno da cavitação (ostectomia) física que assegura menor sangramento, conforme muito bem demonstrado por Stübinger et al.22 (2005). Baseado nos achados da literatura sobre a piezocirurgia aplicada à cirurgia ortognática, este trabalho avalia criticamente a viabilidade da piezo-osteotomia como método alternativo superior aos instrumentos rotatórios e oscilatórios para a cirurgia da correção das deformidades dentofaciais. As vantagens e desvantagens são apresentadas de forma objetiva e realista, trazendo uma resposta contrária ao que parece ser o consenso no meio da cirurgia bucomaxilofacial de que o Piezo não tem a potência necessária nem o boost cogente para o fim que se destina. Full Dent. Sci. 2013; 4(15):395-410. Figura 1 - Unidade central digital de um sistema Piezo, Surgystar Plus (Dmetec®, Seoul, Coréia do Sul). 397 Figura 2 - Peça de mão com duas pontas: uma metálica para o acoplamento ao soro fisiológico e outra, de intermediário cinza, para conexão à unidade central. Figura 4 - Chave torquímetro usada para aperto final da ponta ultrassônica. Figura 3 - Peça de mão com iluminação tipo LED acoplada. Figura 5B - Ponta ultrassônica com dupla angulação (90 graus) para osteotomia em áreas de difícil acesso. Figura 6 - Ponta ultrassônica para perfuração (cavitação). Convencionalmente usada na implantodontia. Stevão ELL. Figura 5A - Ponta ultrassônica reta para osteotomia. Full Dent. Sci. 2013; 4(15):395-410. 398 Figura 7A - Ponta ultrassônica reta de ponta circular para osteotomia em áreas delicadas ou para iniciar uma perfuração para implante. Figura 7B - Ponta ultrassônica reta para ampliar osteotomias prévias. Figura 8 - Ponta ultrassônica reta para raspagem (osteoplastia) óssea. Artigo original / Original article Revisão da literatura A Odontologia atual está passando por uma transformação radical nas áreas da Cirurgia Bucomaxilofacial, Implantodontia, Ortodontia e Periodontia com o aparecimento da piezocirurgia, apesar de ter vivido seus primórdios em 1952, quando o ultrassom foi direcionado para a Odontologia com aplicação nos preparos cavitários. Nessa mesma época, os instrumentos rotatórios de alta velocidade foram introduzidos e a técnica ficou latente durante algumas décadas, segundo Escola-Francoli et al.4 (2000). Apesar da aplicabilidade em dentes, o uso do ultrassom no tecido ósseo já havia sido defendido por Maintz9 (1950) que publicou o primeiro estudo mostrando os efeitos benéficos do ultrassom sobre essa estrutura. Mas a técnica piezoelétrica só foi retomada em 1988 e, mais tarde, vários artigos mostraram sua aplicabilidade na cirurgia oral menor para expansão da crista óssea alveolar25 e remoção de dentes impactados3,26. Na cirurgia oral maior, o uso foi descrito para a distração osteogênica15, cirurgia ortognática maxilar17, cirurgia ortognática da mandíbula com o estudo piloto de Gruber et al.6 (2005), cirurgia parendodôntica10, cirurgia bucomaxilofacial para lateralização (esqueletização) do nervo alveolar inferior (NAI)11, expansão rápida da maxila assistida cirurgicamente18 e na cirurgia periodontal por Peñarrocha et al.13 (2008). Schlee et al.20 (2006) referiram que a técnica piezocirurgia oferece um corte micrométrico (ação precisa e segura limitando os danos aos tecidos, especialmente aos osteócitos), seletivo (afetando os tecidos mineralizados, mas não os tecidos moles circundantes) e limpo (resultado do efeito cavitário criado pela solução irrigadora/refrigeradora e ponta oscilatória). Alertaram que, pelo fato da ponta do instrumento vibrar em diferentes frequências ultrassônicas, a ação seletiva capacita ao profissional cortar os tecidos duros enquanto preserva as estruturas anatômicas delicadas como a membrana Schneider e os nervos. Como resultado dessa seletividade, os autores asseguraram que as técnicas cirúrgicas da Implantodontia, tais como colheita de osso, divisão da crista óssea e elevação do assoalho do seio maxilar, poderiam ser executadas com maior facilidade e segurança. Preti et al.16 (2007) realizaram um estudo de análise biomolecular e histológica para comparar a osseointegração de implantes dentários instalados através de fresas convencionais e da técnica piezoelétrica. Avaliaram as respostas histomorfológicas e os níveis da proteína morfogenética (BMP-4), fator de crescimento transformador (TGF-b2), fator de necrose alfa, interleucina-1b e interleucina-10. Os resultados obtidos demonstraram que uma quantidade maior de células inflamatórias estava presentes nas perfurações realizadas com fresas convencionais. Também, neo-osteogênese era muito mais ativa nos sítios ósseos que haviam sido preparados com a piezocirurgia, além do aumento precoce das proteínas BMP-4 e TGF-b2 e redução das citocinas pró-inflamatórias. Os autores concluíram que a piezocirurgia, quando comparada com fresas convencionais para perfuração óssea, é mais eficiente nas primeiras fases do reparo ósseo, pois induziu ao aumento de BMPs, controlou melhor o processo inflamatório e estimulou Full Dent. Sci. 2013; 4(15):395-410. uma pressão limitada, a margem de segurança é maior do que aquela ao usar instrumentos que são operados com forças maiores (broca) ou de cortar o nervo no contato direto (serra oscilatória ou reciprocante). Concluíram que a piezocirurgia é uma ferramenta promissora na cirurgia maxilofacial quando osteotomias são executadas próximas a um nervo (cirurgia ortognática da mandíbula). Landes et al.8 (2008) descreveram os resultados obtidos após terem operado 50 pacientes usando a osteotomia piezocirúrgica. Foram operadas 22 maxilas em único segmento (44%), 26 maxilas segmentadas (52%), 48 osteotomias sagitais da mandíbula (48%), 6 osteotomias da sínfese mentoniana (12%) e 4 osteotomias do corpo mandibular (4%). Relataram a necessidade de cinzel e martelo para 46% dos casos envolvendo o processo pterigomaxilar (disjunção) devido ao fato da osteotomia não ter sido completada com a piezocirurgia. A sutura pterigomaxilar foi fragilizada inicialmente com a ponta angulada OP1 (Mectron®, Carasco, Itália) e depois com as pontas OT8L e OT8R (Mectron®, Carasco, Itália). A sensibilidade do nervo alveolar inferior (NAI) retornou à normalidade em 95% após 3 meses de controle pós-operatório. Os autores concluíram que a cirurgia piezoelétrica reduz a perda sanguínea e as lesões ao NAI. Material e métodos Numa série retrospectiva de setenta e quatro pacientes, sendo quarenta e sete mulheres (63%) e vinte e sete homens (37%), foram submetidos exclusivamente à técnica de piezo-osteotomia da maxila, mandíbula e do mento, visando tão somente a cirurgia ortognática no período de maio 2007 a maio 2012. Foram também incluídas neste estudo as expansões rápidas de maxila e mandíbula assistidas cirurgicamente, bem como as plastias da espinha nasal anterior. Todos os pacientes assinaram o consentimento informado autorizando a utilização do seu material para pesquisa/publicação. Essa é uma conduta de rotina do Instituto de Cirurgia Ortognática de Curitiba - ICOC, no Paraná, Brasil, onde o autor é o diretor clínico. O projeto de levantamento retrospectivo de dados para a publicação da pesquisa teve a aprovação do Comitê de Ética da mesma Instituição. Aspectos técnicos e procedimentos piezocirúrgicos - piezo-osteotomias Esses aspectos abaixo relacionados são muito importantes e fizeram parte da composição da metodologia deste trabalho de pesquisa. O controle manual exercido pelo cirurgião no emprego da piezocirurgia é maior quando comparado a qualquer manuseio de outro instrumento de corte ósseo. A força exigida para o controle é menor se comparada com um instrumento rotatório ou oscilatório que Stevão ELL. a remodelação óssea precocemente aos 56 dias de pós-operatório. Heiland et al.7 (2007) descreveram um paciente de 7 semanas de vida portador da síndrome de Pierre-Robin que foi tratado com a piezocirurgia. Apesar da idade tão tenra e o baixo nível de ossificação, foi possível realizar as osteotomias mandibulares e a colocação dos distratores transcutâneos. Após o acompanhamento e a remoção dos dispositivos, os autores sugeriram o uso da piezocirurgia para casos da síndrome, mesmo em pacientes com menos de 2 meses de vida, devido ao sucesso obtido com a técnica. Stübinger et al.23 (2007) expuseram que a piezocirurgia definitivamente aumenta o manuseio delicado de estruturas na região bucomaxilofacial. Asseveraram que em relação às osteotomias de ossos finos e frágeis, a aplicação do ultrassom traz resultados superiores quando comparado a outros instrumentos mecânicos porque é de mais fácil manuseio, tem uma eficiente ablação óssea e causa mínimo dano acidental às estruturas de tecido mole adjacentes. Concluíram que uma vez que a cicatrização do osso não é perturbada pela piezocirurgia, e até mesmo parece ser melhorada, esse método terá uma grande influência nas técnicas de cirurgia óssea minimamente invasiva com especial atenção à biomecânica. Estudos da resposta neurossensorial dos nervos envolvidos nas osteotomias da face também foram realizados e positivamente relatados na literatura. Geha et al.5 (2006) realizaram um estudo para acessar a função neurossensorial clínica do nervo alveolar inferior (NAI) após a osteotomia sagital bilateral de mandíbula com a piezocirurgia. Realizaram o procedimento em 20 pacientes (40 lados) com deformidade dentoesquelética. O NAI foi avaliado objetivamente através dos testes de pinçamento, leve toque no lábio e discriminação de dois pontos, tanto no pré-operatório como aos 5, 7, 10 dias e 2 meses de pós-operatório. Relataram a integridade do NAI para todos os casos operados e 80 por cento dos pacientes obtiveram recuperação neurossensorial total no segundo mês. Os autores concluíram que a piezocirurgia quando empregada para a realização da osteotomia sagital de mandíbula permite uma recuperação do NAI dentro de dois meses. Schaeren et al.19 (2008) verificaram que a exposição direta de um nervo periférico à piezocirurgia, mesmo nos piores casos, não dissecou o nervo, mas induziu a alguns danos estruturais e funcionais. O perineuro permaneceu intacto mesmo após o seu contato com a ponta, mantendo um excelente potencial para a recuperação funcional. Ressaltaram que os danos foram significativamente mais elevados com a aplicação de uma força aumentada sobre o nervo, mas não pelo aumento da vibração ultrassônica. Uma vez que o uso apropriado do dispositivo piezocirurgia determina 399 Full Dent. Sci. 2013; 4(15):395-410. Artigo original / Original article 400 também exige maior pressão manual. Toda vez que se necessita de força cirúrgica, a sensibilidade fica reduzida e é um aspecto indicador de que a ponta ultrassônica deve ser trocada. O uso de uma ponta ultrassônica deve se exceder 3 a 5 piezo-osteotomias, segundo Dmetec®2 (2009). O corte realizado com a piezocirurgia também permite o domínio em profundidade (mentoplastia), aspecto muito difícil de ser controlado por iniciantes para os instrumentos oscilatórios como a serra reciprocante que vibra mais na mão do operador e, por cuidado, estresse ou medo do profissional, a osteotomia acaba sendo concluída com cinzel. O modo boost (do inglês potência) da unidade central deve ser sempre acionado quando se deseja osteotomia. O contato indesejável com tecidos moles (feixe vásculo-nervoso, mucosa ou periósteo) não significa que eles serão imediatamente cortados ou dilacerados como usualmente ocorre com os instrumentos rotatórios (brocas) ou oscilatórios (serras). Uma vez que esse contato ocorra, o movimento piezocirúrgico deve ser interrompido para evitar o aquecimento desse tecido. A energia piezoelétrica é inativa sobre os tecidos moles no que diz respeito ao aspecto mecânico, porém o calor é dissipado na(s) estrutura(s). Por esse motivo, irrigação a cem por cento é sempre indicada para diminuir o trauma térmico. O fato de um profissional ser um cirurgião experiente no uso das serras oscilatórias não significa muita coisa no que diz respeito à piezo-osteotomia. Pelo contrário, esses operadores normalmente ficam frustrados com a necessidade de maior tempo para que a osteotomia seja realizada com o ultrassom piezoelétrico e acabam abandonando a técnica pela falta de paciência e perseverança para desenvolver uma arte aprimorada e apurada a tal ponto que, verdadeiramente, resulte na diminuição do tempo piezo-operatório a longo prazo. É necessário humildade para reconhecer seus próprios limites e a falta de familiaridade com essa nova tecnologia. Talvez esse obstáculo psicológico seja a maior barreira a ser vencida e o maior motivo para que a cirurgia piezoelétrica, até o presente momento, ainda não tenha assumido a liderança nas condutas cirúrgicas ósseas. Portanto, é necessário que o novo operador do piezocirurgia compreenda que este é um método completamente diferente dos outros de osteotomia e uma curva de aprendizado será necessária para alcançar um nível ótimo de utilização do dispositivo piezoelétrico. A repetição dos movimentos nesse tipo de osteotomia compõe a base da piezo-osteotomia e a paciência torna-se uma virtude. O racional para a realização da piezo-osteotomia é simples e segue um padrão. Por exemplo, diante de uma maior dificuldade para osteotomizar uma cortical mais espessa, a tendência do cirurgião é aumentar a pressão quando do uso de brocas ou serras, mas a racionalização e atitude não podem ser as mesmas para a piezo-osteotomia porque essa pressão inibe os micromovimentos oscilatórios da ponta ultrassônica resultando em superaquecimento do metal ou fadiga da peça, levando à fratura da ponta. Essa fratura normalmente ocorre entre a haste e a ponta ativa. Resultados Neste estudo, as linhas de cortes ósseos foram obtidas de forma limpa, sem acúmulo de esquírolas ósseas e com precisão. Nenhuma intercorrência transoperatória ou complicações foram observadas e todas as fraturas sagitais da mandíbula para separação dos segmentos proximal e distal foram executadas de forma satisfatória, sem nenhuma fratura indesejável. O tempo para a piezo-osteotomia aumentou cerca de 10 a 20% nas osteotomias maxilares e de 20 a 30% nas osteotomias mandibulares (mentoplastias inclusas), quando comparado com as técnicas tradicionais com brocas e serras. As maiores porcentagens de tempo gasto foram para os primeiros pacientes operados no ano de 2007, início da experiência do autor com a piezocirurgia. Foram operadas quarenta e três maxilas: quinze (36,5%) Le Fort I multi-segmentadas, uma Le Fort II modificada (LF II), doze (26,6%) Le Fort I visando a expansão rápida de maxila assistida cirurgicamente (ERMxAC), oito (19,6%) Le Fort I (LF I), seis (14,6%) subapical anterior de maxila (SAMx) e uma (2,5%) para a cirurgia LF II modificadas. Foram executadas trinta e seis osteotomias do processo pterigomaxilar com cinzel e onze tentativas de piezo-disjunção do processo pterigomaxilar (TPD). Dos 36 procedimentos maxilares que envolviam disjunção pterigomaxilar, 100% foram realizados com cinzel e 30,5% de tentativas frustradas para a piezo-disjunção. As sessenta e uma mandíbulas operadas tiveram os seguintes procedimentos: cinquenta e três (88,3%) osteotomias sagital de mandíbula bilateral (SMB), vinte e cinco (41,6%) mentoplastias com técnica Tenon e Mortise (Mento TM), três (5%) osteotomias sinfisária vertical reta (SVR), visando a ERMdAC, três (5%) mentoplastias horizontais retas (Mento HR), três (5%) osteotomias subapical anterior de mandíbula (SAMd), três (5%) osteotomias subapical posterior de mandíbula bilateral (SPMdB), uma (1,6%) osteotomia subapical posterior de mandíbula unilateral (SPMdU) e uma (1,6%) osteotomia sagital de mandíbula unilateral (SMU). Vários desses procedimentos foram realizados simultaneamente no mesmo paciente. Para todas as osteotomias sagitais de mandíbula a serra da basal mandibular foi sempre usada, sendo acoplada à serra reciprocante Aesculap® (Aesculap, Melsungen, Alemanha), conforme técnica descrita por Wolford29 (1990). Alguns procedimentos cirúrgicos coadjuvantes tam- Full Dent. Sci. 2013; 4(15):395-410. bém foram realizados: ostectomias da espinha nasal anterior (ENAplastia), turbinectomias inferiores bilateral (TIB) e septoplastias parciais (SP). Das 43 maxilas operadas, foram realizados vários procedimentos coadjuvantes nas seguintes relações: 29 ENAplastia (67,4%), 24 TIB (55,8%) e 17 SP (39,5%). Independentemente do tamanho variável entre os cornetos nasais inferiores (direito e esquerdo), a turbinectomia nunca foi executada unilateralmente. Da mesma forma, vários desses procedimentos foram realizados concomitantemente para o mesmo paciente e todos esses índices estão representados na Tabela 1. As pontas ultrassônicas BS01 e BS1S (S = small) foram empregadas para realização das osteotomias maxilares e mandibulares com excelente efetividade. (Figuras 9A-D). Devido à inexistência de uma ponta ultrassônica específica que executa a perfuração óssea para colocação de parafusos durante a fase de FOR, em todos os casos incluídos neste estudo retrospectivo, a perfuração óssea para a execução da FOR foi realizada de forma tradicional através de instrumento rotatório e fresa 1.8 mm W. Lorenz® (W.Lorenz Inc., Florida, EUA). Figura 9A - Ponta ultrassônica BS1S usada para realização da osteotomia da maxila, da face interna do ramo ascendente e do corpo mandibular. Figura 9B - Piezo-osteotomia da maxila para expansão óssea, realizada com ponta BS1S e ampliada com ponta EX03, seguindo o desenho em degrau bilateral preconizado por Wolford et al.27 (1975). Figura 9C - Piezo-osteotomia mandibular. A foto mostra o início da osteotomia horizontal conforme desenho descrito por Schuchardt21 (1957), a extensão (modificada) pelo trígono retromolar, conforme desenho descrito por Dal Pont1 (1958). Figura 9D - Piezo-osteotomia mandibular. A foto mostra o degrau curvilíneo realizado ao nível do ápice das raízes do segundo molar, a extensão da osteotomia em 90 graus e o corte vertical ao nível do primeiro molar para completar a piezo-osteotomia, conforme desenho preconizado por Wolford et al.29 (1990). Stevão ELL. 401 Full Dent. Sci. 2013; 4(15):395-410. 402 Tabela 1 - Grupo de estudo retrospectivo de pacientes submetidos à piezocirurgia. Artigo original / Original article No. Pcte. 1 2 3 4 5 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 Diagnóstico MOC II MOC II MOC II MOC II MOC III HCE MOC II MOC II MOC I MOC II MOC I MAA MOC II MOC III HCA MOC II MOC II MOC III HCE MOC III MOC III MOC II MOC I MOC I MOC I MOC I MAA MOC III HCE MOC III MOC II MOC II MAA MOC I MAA MOC III MAP MOC III AMd MOC III MOC III MAA AMd MOC II MOC III MOC III AMd MOC II MOC III MOC II MOC I MAA MOC III MOC III MAP AMx AMd MOC II MOC C II MAA MOC I MOC I MOC II MOC III HCA MOC III MAP AMd MOC II MOC I MOC II MOC II MOC III MOC III AMx AMd MOC II Osteotomia maxilar NI LF I 2 segmentos NI NI LF I 3 segmentos LF I 3 segmentos LF I 3 segmentos ERMxAC LF I SAMx NI LF II modificada LF I 3 segmentos NI LF I 2 segmentos NI NI LF I 3 segmentos ERMxAC ERMxAC ERMxAC SAMx LF I LF I NI SAMx ERMxAC NI NI NI LF I 2 segmentos NI NI LF I NI NI ERMxAC SAMx NI LF I 3 segmentos NI LF I 3 segmentos ERMxAC ERMxAC NI NI LF I 2 segmentos NI ERMxAC NI NI LF I LF I 3 segmentos NI ENA plastia Septoplastia parcial NI E NI NI E E E NI E E NI E E NI E NI NI E NI NI NI E E E NI E NI NI NI NI E NI NI E NI NI NI E NI E NI E NI NI NI NI E NI NI NI NI E E NI NI NI NI NI E E E NI E NI NI E E NI E NI NI E NI NI NI NI E E NI NI NI NI NI NI E NI NI NI NI NI NI NI NI E NI NI NI NI NI NI E NI NI NI NI E E NI Abreviaturas: NI = Não Indicada, NE = Não executada, E = Executada , TPD = Tentativa piezo-disjunção, MOC = Má oclusão Classe, LF = Le Fort. ERMxAC = Expansão rápida de maxila assistida cirurgicamente, HCA = Hiperplasia condílica ativa, HCE = Hiperplasia condìlica estável, SVR = Sinfisária vertical reta. MAA = Mordida aberta anterior, MAP = Mordida aberta posterior, AMx = Assimetria de maxila, bula, SMB / SMU = Sagital de mandíbula bilateral / unilateral. Full Dent. Sci. 2013; 4(15):395-410. Cinzelamento processo pterigomaxilar NI E NI NI E E E E E NI NI E E NI E NI NI E E E E NI E E NI NI E NI NI NI E NI NI E NI NI E NI NI E NI E E E NI NI E NI E NI NI E E NI Piezo-disjunção processo pterigomaxilar NI NE NI NI NE NE NE NE NE NI NI NE NE NI NE NI NI NE NE NE NE NI NE NE NI NI NE NI NI NI NE NI NI NE NI NI TPD NI NI TPD NI TPD NE TPD NI NI TPD NE TPD NI NI TPD TPD NI Procedimento mandibular SMB SMB SMB SMB SMB SMB SMU Mento TM Mento Mento Mento SMB SMB Mento TM NI SMB SMB Mento TM SMB SMB SMB Mento HR Mento HR NI Mento HR SMB Mento TM SMB SMB Mento TM SMB NI SVR ERMdAC SMB Mento TM SMB SMB SMB Mento TM SVR ERMdAC SMB Mento TM SMB Mento TM SMB SAMd SMB SMB SMB SPMdU Mento TM NI SMB SPMdB Mento TM SMB Mento TM SMB SPMdB Mento TM SMB NI NI SMB Mento TM SMB Mento TM SMB SPMdB Mento TM SMB Mento TM NI SMB SMB Mento TM SMB Mento TM SMB Mento TM SAMd SMB ERMdAC = Expansão rápida de mandíbula assistida cirurgicamente, ENA = Espinha nasal anterior. Mento TM = Mentoplastia Tenon e Mortise, Mento HR = Mentoplastia horizontal reta, AMd = Assimetria de mandíbula, SAMx = Subapical anterior de maxila. SPMdB / SPMdU = Subapical posterior de mandíbula bilateral / Unilateral / SAMd = Subapical anterior de mandí- Stevão ELL. Turbinectomia Inferior Bilateral NI E NI NI E E E NI E NE NI E E NI E NI NI E NI NI NI NE E E NI NE NI NI NI NI E NI NI E NI NI NI NI NI E NI E NI NI NI NI E NI NI NI NI E E NI 403 Full Dent. Sci. 2013; 4(15):395-410. Artigo original / Original article 404 Descrição da piezo-osteotomia Obwegeser Wolford Stevão Ao longo do aprimoramento e desenvolvimento da nova técnica piezoelétrica, o autor pode criar uma modificação da osteotomia mandibular sagital tradicional denominando-a osteotomia sagital mandibular modificada ou piezo-osteotomia Obwegeser Wolford Stevão. A piezo-osteotomia mandibular inicia-se com a osteotomia horizontal do ramo ascendente com a ponta ultrassônica BS01, transversal e anguladamente posicionada (aproximadamente 30 graus) à face interna do ramo ascendente, ligeiramente acima da língula mandibular (1 a 2 mm), conforme a técnica tradicional descrita por Schuchardt21 (1957) e modificada por Trauner et al.24 (1957). Porém, não é executada na sua extensão total nem deve ser transfixante. A piezo-osteotomia deve ser estendida 3 a 5 mm além da entrada do canal mandibular (sentido anteroposterior), cuidadosamente, uma vez que não existe medular entre o encontro das duas corticais (externa e interna - lingual). A piezo-osteotomia continua com a mesma ponta ultrassônica agora percorrendo longitudinalmente ao longo eixo do ramo ascendente da mandíbula, deslocada bem próximo à cortical externa, sempre aprofundando a ponta ultrassônica o máximo possível, com direção à cortical. O intuito desse movimento é evitar que qualquer osso medular fique deslocado para o futuro segmento proximal. Foi possível observar que o aprofundamento total da ponta ativa BS01 durante a osteotomia justaposta à cortical externa da mandíbula, na região do trígono retromolar e até o início da curva descendente ao nível do corpo mandibular, ajudou na manutenção de todo o osso medular no segmento distal, mantendo sempre protegido o NAI. Esse procedimento sendo executado de forma correta ao nível de toda a linha oblíqua da mandíbula faz com que essa região de maior resistência óssea seja enfraquecida, auxiliando na separação dos segmentos de forma ideal, sem fraturas indesejáveis. A piezo-osteotomia segue anteriormente pelo trígono retromolar conforme descrito por Dal Pont1 (1958), porém de forma bem curta, não se estendendo até à região de molar nem medianamente às corticais (interna e externa), e sim, direcionando a ponta mais externamente para acompanhar o início da linha oblíqua mandibular. Através de uma análise radiográfica da face em norma anteroposterior (AP), é possível identificar onde se encontra a área de maior resistência óssea ao nível da junção entre corpo mandibular e ramo ascendente (Figuras 10A e 10B). Em seguida, a piezo-osteotomia assume o padrão curvilíneo descrito por Wolford et al.29 (1990), porém com uma modificação bem importante. Por toda essa extensão curvilínea, a ponta ultrassônica não foi inclinada em 90 graus em relação à tábua óssea, mas sim, orientada longitudinalmente seguindo puramente a técnica descrita por Obwegeser12 (1964) para osteotomizar a mandíbula. A piezo-osteotomia foi estendida mais inferiormente do que descrito originalmente por Wolford et al.29 (1990), diminuindo a altura óssea do corte horizontal do corpo mandibular até a basal (1/3 da altura total do corpo mandibular), sendo possível visualizar que foi mantida uma boa estrutura óssea para cobertura das raízes dos molares. A piezo-osteotomia deve mudar de inclinação e a ponta ultrassônica agora percorre em 90 graus o corpo mandibular, conforme a técnica descrita por Wolford et al.29 (1990), na extensão desejada para avanço mandibular (maior extensão) ou recuo (menor extensão). Há que se ressaltar que a extensão da osteotomia no corpo mandibular é determinada somente pelo avanço e não pelo recuo mandibular. A piezo-osteotomia vertical do corpo mandibular é realizada através da ponta BS01S e a sua ampliação deve ser executada com a ponta ultrassônica diamantada EX03 para que o separador de Smith seja adequadamente posicionado (Figuras 11A e 11B). Figura 10A - Radiografia convencional em norma PA. As setas indicam a linha de reforço ósseo (cortical). Figura 10B - Radiografia convencional em norma PA. É possível visualizar (setas) onde foi realizada a piezo-osteotomia, fragilizando a resistência óssea mandibular ao nível da linha oblíqua. Full Dent. Sci. 2013; 4(15):395-410. 405 Figura 11A - Foto esquemática em mandíbula cadavérica para mostrar o corte vertical e o encaixe do separador sagital de Smith. Figura 11B - Foto esquemática em mandíbula cadavérica para mostrar o perfeito acoplamento do separador sagital de Smith, após o alargamento da piezo-osteotomia com a ponta EX03. A nova piezo-osteotomia sagital da mandíbula completa-se com a osteotomia da basal mandibular que, para os casos relatados, foi sempre executada com a serra da basal inferior29, uma vez que ainda não existem pontas ultrassônicas (esquerda e direita) similares à serra da basal inferior (Figuras 12A e 12B). Após a separação dos segmentos proximal e distal, faz-se a osteoplastia da face interna do segmento proximal da mandíbula empregando a ponta HB01. Ela se mostrou propícia e com excelente poder de corte para o procedimento de limpeza do segmento ósseo quando do movimento de raspagem, a fim de evitar a compressão do NAI durante a fase da fixação óssea rígida - FOR (Figura 13). Figura 12A - Design da piezo-osteotomia na nova técnica Obwegeser-Wolford-Stevão. Figura 12B - Design da piezo-osteotomia na nova técnica Obwe- Figura 13 - Ponta ultrassônica HB01 usada para geser-Wolford-Stevão, mostrando o corte longitudinal ao nível da realizar a osteoplastia da face interna do segmento curvatura em direção ao ramo ascendente (setas amarelas) e em 90 proximal mandibular. graus no corpo mandibular (setas brancas). Basicamente existem três tipos de técnicas que são executadas no tecido ósseo, a osteotomia (corte ósseo), a osteoplastia (remodelação cirúrgica do tecido ósseo) e a superimposição das duas primeiras, a ostectomia (remoção do tecido ósseo por osteotomia e osteoplastia). A piezocirurgia enquadra-se perfeitamente nessas três técnicas, ultrapassando os limites impostos pelos instru- mentos rotatórios e oscilatórios utilizados nas técnicas convencionais para corte ósseo. A pesquisa realizada por Preti et al.16 (2007) foi muito importante porque mostrou histomorfologicamente e também através da quantificação de proteínas que a cirurgia piezoelétrica provoca menor reação inflamatória, induz a uma maior quantidade de proteínas BMPs, coli- Stevão ELL. Discussão Full Dent. Sci. 2013; 4(15):395-410. 406 Artigo original / Original article ge ao reparo e a uma remodelação óssea mais precocemente do que os métodos convencionais de perfuração óssea - ostectomia. Foi muito importante o deslocamento da ponta ultrassônica em direção cortical ao nível de todo o ramo ascendente mandibular conjuntamente ao seu aprofundamento total, pois obteve-se uma fratura mais homogênea na tábua óssea lingual do segmento proximal. Os formatos dessas fraturas dos segmentos linguais após a osteotomia sagital da mandíbula foram muito bem descritos por Plooij14 (2009). Sendo assim, ressalta-se que por medida de segurança foi executado o cinzelamento neste nível entre as duas tábuas (externa e interna). As vantagens da nova técnica descrita acima, porém não limitadas a essas, são: maior área no segmento distal para colocação de placas sejam em “L” ou em “C” invertido (Figura 14), manutenção de toda medular no segmento distal, melhora o padrão de fratura ao nível lingual do segmento distal, o NAI fica sempre protegido e nunca exposto, gerando menores distúrbios neurossensoriais no pós-operatório e uma recuperação mais rápida, as raízes dos dentes posteriores ficam mais protegidas quando da colocação dos parafusos para a FOR, retorno precoce da sensibilidade no lábio inferior nas semanas que seguem à cirurgia, menor sangramento transoperatório, menor edema pós-operatório, reparo ósseo mais rápido do que com o uso de instrumentos rotatórios convencionais e o paciente retorna às atividades funcionais do sistema estomatognático mais rapidamente. Em média o ganho foi de um mês. Figura 14 - Aspecto cirúrgico da FOR com placa em “C” (W. Lorenz® - W. Lorenz Surgical, Inc., Florida - EUA) perfeitamente adaptada sobre o design da nova piezo-osteotomia sagital da mandíbula. Elas apresentam um comprimento exagerado e curvaturas não propícias para o perfeito encaixe por debaixo da basal óssea da mandíbula (Figuras 16A e 16B). Por mais que seja estendida a incisão intrabucal para executar As desvantagens dessa piezo-osteotomia são menor altura óssea do corpo mandibular no sentido vertical do segmento proximal, possibilidade de fratura indesejável se a técnica não for executada corretamente, uso do piezo para executar a técnica o que torna a cirurgia mais cara, cirurgia altamente técnica, necessitando de uma longa curva de aprendizado, aumento do tempo transoperatório, troca frequente das pontas ultrassônicas durante o procedimento, falta de uma ponta ultrassônica capaz de fazer a perfuração óssea para realização da FOR, falta de pontas ultrassônicas similares a serra da basal mandibular para executar a osteotomia da basal inferior e impossibilidade de executar a disjunção do processo pterigomaxilar devido às pontas ultrassônicas serem impróprias. A principal dificuldade encontrada pelo autor para que fosse possível executar a piezo-osteotomia maxilar de forma completa, foi a impossibilidade de executar a piezo-disjunção pterigomaxilar, devido à profundidade da estrutura anatômica e falta de pontas ultrassônicas apropriadas para esse passo da osteotomia Le Fort I. Esse procedimento (disjunção pterigomaxilar) foi, em todos os casos, executado através de cinzel e martelo, assim como foi 100% para a disjunção do septo nasal da maxila. A retirada da espinha nasal anterior foi realizada em 100% onde a maxila foi separada do septo nasal. Quanto à realização da piezo-osteotomia da mandíbula, a principal dificuldade encontrada pelo autor para executá-la de forma completa, foi a impossibilidade de realizar a osteotomia da basal mandibular com as pontas BS2L e BS2R (Figura 15). Figura 15 - Par de ponta ultrassônica BS2L e BS2R. a osteotomia sagital mandibular, não há espaço interno suficiente para retratores, peça de mão e ponta ultrassônica. Assim sendo, a plenitude da osteotomia sagital nos casos relatados foi obtida através da serra da basal, con- Full Dent. Sci. 2013; 4(15):395-410. forme técnica descrita por Wolford et al.29 (1990). O uso da ponta ultrassônica EX03 (Figura 7B) para ampliar o corte vertical ao nível do primeiro molar da mandíbula foi extremamente importante, pois sem ele não seria possível encaixar a ponta do separador sagital de Smith no corte vertical do corpo mandibular (Figuras 11A e 11B). Uma modificação importante realizada pela empresa Dmetec® foi o desenvolvimento de uma ponta ultrassônica, tipo serra, mais alongada (aumento de 5 mm do comprimento da BS01) chamada RS2 e com ângulo de curvatura menor entre a haste e a parte ativa. Também, ao invés da ponta dessa serra ser reta, ficou circular. Com essa serra é possível realizar efetivamente a piezo-osteotomia mentoniana sem nenhum auxílio de outro instrumento qualquer. Foram executadas 28 mentoplastias, sendo que para 11 casos (39,3%) a ponta ultrassônica BS01 se mostrou muito curta e foi necessária a complementação do procedimento com cinzel ou serra reciprocante. Outras 4 mentoplastias (14,3%) foram executados do princípio ao fim com a ponta BS01. Após a modificação necessária da ponta ultrassônica citada acima (Figura 17B), foi possível realizar todas as outras 13 mentoplastias (46,4%) na sua totalidade sem auxílio de outro instrumento cortante ou cinzel (Figuras 17A-D). Figura 16A - Foto esquemática do uso da ponta ultrassônica BS2R para mostrar a impossibilidade de usá-la para substituir a serra da basal. Figura 16B - Foto esquemática do uso da ponta ultrassônica BS2R. Essa ponta é muito comprida para o fim que se destina e possui inapropriadas angulações para que seja possível trabalhar com ela através de uma incisão intrabucal. Figura 17A - Ponta ultrassônica BS01 em forma de serra com tamanho convencional. Figura 17B - Ponta ultrassônica modificada pela Dmetec®. Note a ponta arredondada e o menor ângulo de curvatura entre ponta ativa e haste. Figura 17C - Piezo-osteotomia mentoniana. A foto mostra a linearidade e precisão do corte ósseo, conforme desenho descrito por Wolford et al.28 (1988). Figura 17D - Piezo-osteotomia mentoniana. A foto mostra a extensão e regularidade do corte ósseo realizado, mesmo na profundidade, seguindo a técnica Tenon e Mortise descrita por Wolford et al.28 (1988). Stevão ELL. 407 Full Dent. Sci. 2013; 4(15):395-410. Artigo original / Original article 408 Acredita-se que o maior tempo gasto pelo autor para a realização das piezo-osteotomias nos primeiros 27 pacientes que foram submetidos à nova técnica, foi decorrente de vários fatores, tais como falta de experiência no emprego da técnica, desconhecimento da aplicabilidade das pontas ultrassônicas, uma vez que nos primeiros anos do treinamento na técnica não havia um kit definido de pontas ultrassônicas específicas para cirurgia ortognática, os sistemas piezocirurgia da época eram menos efetivos do que os atuais e menos versáteis e as pontas ultrassônicas não são próprias e geometricamente desenvolvidas para a cirurgia ortognática, com pontas ativas curtas e ângulos de curvatura errados, tendo que ser criada uma adaptação técnica das pontas existentes para a nova metodologia da piezo-osteotomia. Diante do exposto, discorda-se de Landes et al.8 (2008) que afirmam terem obtido 54% de sucesso em- pregando as pontas ultrassônicas OP1 e OT8L OT8R (Mectron®, Carasco, Itália), que são equivalentes às pontas ultrassônicas HB01, BS2L e BS2R (Dmetec®, Seoul, Coréia do Sul) para executar a piezo-disjunção pterigomaxilar. Robiony et al.18 (2007) também relataram o uso das mesmas pontas ultrassônicas curvas para executar a osteotomia pterigomaxilar para um caso de expansão rápida de maxila assistida cirurgicamente, sem qualquer menção a uso de cinzel para completar essa disjunção. Na experiência do autor, não foi possível empregar essas pontas ultrassônicas em nenhum paciente, apesar das várias tentativas, pois a porção ativa delas é curta para efetivamente executar a referida piezo-osteotomia. Seguem abaixo algumas imagens esquemáticas que ilustram a grande dificuldade apresentada pela técnica para sua execução, tanto para um paciente desdentado total (teoricamente teria que ser mais fácil), quanto para um paciente com dentição completa (Figuras 18A-H). Figura 18A - Imagem esquemática em osso cadavérico de desdentado total, em uma visão caudo-cefálica, mostrando a inapropriação da porção ativa da ponta BS2R para executar a disjunção pterigomaxilar. Figura 18B - Imagem esquemática em osso cadavérico de desdentado total, em uma visão lateral, mostrando a dificuldade para visualização direta total da sutura pterigomaxilar quando emprega-se a ponta BS2R para executar a disjunção. Figura 18C - Imagem esquemática em osso cadavérico de desdentado total, em uma visão caudo-cefálica, mostrando a inapropriação da porção ativa da ponta HB01 para executar a disjunção pterigomaxilar. Figura 18D - Imagem esquemática em osso cadavérico de desdentado total, em uma visão lateral, mostrando a dificuldade para visualização direta total da sutura pterigomaxilar quando emprega-se a ponta HB01 para executar a disjunção. Full Dent. Sci. 2013; 4(15):395-410. 409 Figura 18E - Imagem esquemática em modelo plástico laboratorial de dentado total, em uma visão caudo-cefálica, mostrando a inapropriação da porção ativa da ponta BS2R para executar a disjunção pterigomaxilar. A dificuldade aumenta ainda mais devido à maior altura da tuberosidade maxilar que se projeta à frente da sutura. Figura 18F - Imagem esquemática em modelo plástico laboratorial de dentado total, em uma visão lateral, mostrando a dificuldade para visualização direta total da sutura pterigomaxilar quando emprega-se a ponta BS2R para executar a disjunção. Figura 18G - Imagem esquemática em modelo plástico laboratorial de dentado total, em uma visão caudo-cefálica, mostrando a inapropriação da porção ativa da ponta HB01 para executar a disjunção pterigomaxilar. A dificuldade aumenta ainda mais devido à maior altura da tuberosidade maxilar que se projeta à frente da sutura. Figura 18H - Imagem esquemática em modelo plástico laboratorial de dentado total, em uma visão lateral, mostrando a dificuldade para visualização direta total da sutura pterigomaxilar quando emprega-se a ponta HB01 para executar a disjunção. Nas tentativas realizadas para o uso dessas pontas, o autor também não conseguiu observar refrigeração adequada das mesmas. Uma vez que as referidas pontas não têm dupla irrigação (irrigação interna e externa), o jato refrigerador de água sempre ficou projetado contra a tuberosidade maxilar, nunca atingindo a parte ativa (serra) da ponta. Pela preocupação de não causar mais malefícios do que benefícios com a nova técnica, optou-se pela disjunção pterigomaxilar tradicional, empregando-se cinzel e martelo para 100% dos casos onde a disjunção estava formalmente indicada. A companhia Dmetec®, orientada pela consultoria do autor, passou a fabricar as pontas ultrassônicas para a Implantodontia com dupla irrigação. No futuro próximo as pontas BS2L e BS2R também terão dupla irrigação. Concorda-se com Geha et al.5 (2006) que, concluiu através do seu estudo, que a piezocirurgia, usada para a osteotomia sagital bilateral da mandíbula, permite uma rápida recuperação da função neurossensorial do NAI dentro de dois meses. Os pacientes operados na série aqui relatada tiveram uma recuperação de 2 a 3 me- ses, sendo que o tempo mais longo foi observado para os pacientes que realizaram a mentoplastia associada à piezo-osteotomia sagital bilateral de mandíbula. A cirurgia piezoelétrica é uma nova técnica cirúrgica capaz de realizar de forma efetiva procedimentos de osteotomia, osteoplastia e ostectomia nos mais variados procedimentos cirúrgicos bucomaxilofaciais, principalmente na cirurgia ortognática. Para que o profissional habitue-se com essa nova tecnologia, um tempo de aprendizado é necessário, mesmo que ele já tenha experiência no uso de instrumentos cortantes, perfurantes ou oscilatórios. É necessário que ele seja persistente para que com a experiência alcançada o tempo piezo-operatório possa ser diminuído significativamente. Com essa nova tecnologia, é possível executar linhas de osteotomias micrometricamente precisas, dando confiança absoluta ao profissional iniciante na cirurgia ortognática, uma vez que os instrumentos cortantes tipo serra, geram Stevão ELL. Considerações Full Dent. Sci. 2013; 4(15):395-410. 410 imprecisões e possibilidade aumentada de lesões aos tecidos moles (mucosa, periósteo e feixe vásculo-nervoso). Este novo método de corte ósseo envolve uma curva de aprendizagem totalmente diferente daquela necessária para o uso de serras reciprocantes. Apesar do pequeno aumento do tempo transoperatório para a execução dos procedimentos ósseos após algum treinamento, a baixa morbidade, devida à seletividade do sistema para os tecidos mineralizados, associada a outras vantagens, tais como menor sangramento, menor edema pós-operatório, precocidade do reparo ósseo, mostram o verdadeiro potencial dessa nova técnica de corte por ultrassom. Dentro dos limites deste estudo retrospectivo, os pacientes tratados com a piezo-cirurgia e posteriormente avaliados tiveram uma recuperação sem complicações, com a grande vantagem de um menor edema pós-operatório e maior rapidez (histológica) do reparo ósseo16, sendo possível evidenciar clínica e radiograficamente aos 3 meses de pós-operatório neste trabalho. A única desvantagem foi o aumento do tempo operatório (uma média de 18% maior) quando comparado à técnica convencional com instrumentos rotatórios e oscilatórios. Os resultados obtidos durante esse período foram animadores, ainda mais porque as empresas fabricantes do aparelho piezocirurgia tem desenvolvido sistemas mais potentes, pontas ultrassônicas melhores com geometrias específicas para os variados tipos de osteotomias, bem como o acoplamento de iluminação nas peças de mão através de fibra óptica ou LEDs (light emmiting diode). É a opinião do autor que esta nova modalidade de corte ósseo através do ultrassom será o método de eleição e a técnica padrão de escolha dos cirurgiões bucomaxilofaciais para os procedimentos ósseos na exigente arte da cirurgia ortognática. A técnica está sendo divulgada rapidamente por vários profissionais ao redor do mundo e a cada dia ganha novos adeptos fiéis. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. Referências bibliográficas 1. 2. 3. 4. 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