Proceedings - geoPortal do LNEG

Transcrição

Proceedings - geoPortal do LNEG
Secção portuguesa das Uniões Internacionais Astronómica, Geodésica e Geofísica
Centro de Geofísica de Évora
Departamento de Física da Universidade de Évora
COLABORAM | COLABORAN
Resumos
Resumens
ORGANIZAM | ORGANIZAN
Assembleia Luso Espanhola de
Geodesia e Geofísica
Asamblea Hispano-Portuguesa de
Geodesia y Geofísica
Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA)
Comisión Espanhola de Geodesia y Geofísica
Instituto Geográfico Nacional
Proceedings
Assembleia Luso Espanhola
de Geodesia e Geofísica
Asamblea Hispano-Portuguesa
de Geodesia y Geofísica
ESCOLA
ESCOLA DE CIÊ
CIÊNCIAS E TECNOLOGI
TECNOLOGIA
29-31 DE JANEIRO | ENERO DE 2014, UNIVERSIDADE DE ÉVORA, ÉVORA-PORTUGAL
8ª Assembleia Luso Espanhola de Geodesia e Geofísica
8ª Asamblea Hispano Portuguesa de Geodesia y Geofísica
ASSEMBLEIA LUSO ESPANHOLA DE
GEODESIA E GEOFÍSICA
ASAMBLEA HISPANO PORTUGUESA
DE GEODESIA Y GEOFÍSICA
Évora (Portugal) 29-31 de Janeiro/Enero de 2014
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8ª Assembleia Luso Espanhola de Geodesia e Geofísica
8ª Asamblea Hispano Portuguesa de Geodesia y Geofísica
Capa: Painel de azulejos do Octógono - “Centro do Mundo” no Colégio do Espírito Santo, Universidade de Évora, representando os Quatro Elementos de Empédocles - TERRA, AR, AGOA,
FOGO.
Contracapa: painel de azulejos na sala 120, Sala de Física no Colégio do Espírito Santo,
o edifício principal da Universidade de Évora. Este painel evoca o célebre episódio dos espelhos
de Arquimedes, onde usou os raios de sol para incendiar a armada romana que se preparava para
conquistar a sua cidade, Siracusa, na Sicília.
In. azulejos da Universidade de Évora por J. F. Mendeiros.
Titulo:1SPDFFEJOHT da 8ª Assembleia Luso Espanhola de Geodesia e Geofísica
*4#/
Editores: Bento Caldeira; Joel Barrenho; José F. Borges; José Pombinho; Maria J. Costa;
Maria R. Duque; Mourad Bezzeghoud; Rui Salgado
Janeiro de 2014
© University of Évora
R. Romão Ramalho, 59
7000-671 Évora
Portugal
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8ª Asamblea Hispano Portuguesa de Geodesia y Geofísica
Évora 2014
Descargas de Águas Subterrâneas na região dos Olhos de Água, Algarve – alguns
resultados das campanhas CTD
Submarine Groundwater Discharges at Olhos de Água area, Algarve – some results of
the CTD surveys
Fátima M. Sousa(1, 2), Gabriela Carrara(3), Judite Fernandes(4), Dmitri Boutov(1, 2),
Marisa Loureiro(3), Francisco Leitão(5), Pedro Range(5) e Ana Machado(1)
(1)
Centro de Oceanografia, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), Campo Grande, Lisboa, [email protected],
[email protected] e [email protected]
(2)
Departamento de Engenharia Geográfica, Geofísica e Energia, DEGGE/FCUL, Campo Grande, Lisboa
(3)
Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), Rua C do Aeroporto, Lisboa, [email protected] e
[email protected]
(4)
Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), Estrada da Portela, Bairro do Zambujal, Amadora, [email protected]
(5)
Centro de Ciências do Mar (CCMAR), Universidade do Algarve, Campus de Gambelas, Faro, [email protected] e [email protected]
SUMMARY
In the frame of the R&D Project “FREEZE - Submarine FREshwater dischargEs: characteriZation and Evaluation
study on their impact on the Algarve coastal ecosystem”, two oceanographic surveys were conducted off the Olhos de
Água region. Numerous springs have been observed at the Olhos de Água beach during low tide, and they were also
detected at the sea, just in front of the beach, by local fishermen. SAR imagery was used to identify surface signatures of
potential submarine groundwater discharges (SGDs) over the shelf and the location of those patterns were essential for
the planning of the CTD campaign. In both surveys 101 CTD stations were carried out, covering an area restricted to
the limit of 3 nautical miles (≈ 5.6 km) from the coast, due to the small size of the boat used during the sea work, and
with depths ranging between 2 and 30 m. The individual temperature and salinity profiles show the influence of the
SGDs (mainly through lower salinities values), and the temperature/salinity diagrams show two distinct patterns, one
with influence of the SGDs and the other corresponding to the oceanic coastal waters.
1.
INTRODUÇÃO
Os trabalhos de investigação aqui descritos foram realizados no
âmbito do Projecto de I&D “FREEZE – Submarine FREshwater
dischargEs: characteriZation and Evaluation study on their impact
on the Algarve coastal ecosystem” cujo objectivo principal
consistiu no estudo das descargas de águas subterrâneas (DAS) no
mar, na região dos Olhos de Água, no Algarve.
O nome atribuído a esta região – Olhos de Água – deve-se
exactamente à existência de nascentes de água doce na praia, que
ficam a descoberto durante a maré vazia. Estas nascentes também
já foram detectadas no mar, mesmo frente à praia, pois são visíveis
da costa e facilmente identificadas em dias de mar calmo. Por
vezes, os caudais são tão fortes que causam deriva nos pequenos
barcos dos pescadores locais.
No âmbito do Projecto FREEZE, as nascentes de água doce
existentes na praia dos Olhos de Água foram identificadas,
georreferenciadas e monitorizadas, bem como as nascentes do
infralitoral localizadas a sul daquelas sobre a batimétrica de 4 m.
As características hidrogeológicas e geomorfológicas locais são
favoráveis à existência de DAS, pois as camadas de biocalcarenitos
e calcários do Miocénico, visíveis nos afloramentos da praia onde
se localizam as nascentes, servem de suporte à circulação
subterrânea, prolongando-se para a plataforma continental com
uma leve inclinação na direcção S-SE, e que corresponde também à
direcção do fluxo de águas subterrâneas.
O recuo da linha de costa desde a batimétrica de 60 m até à
posição actual deve-se ao regime transgressivo que sucede ao
Younger dryas, a idade do gelo do Pleistocénico superior. Dias et
al. (2000) detectaram morfologias submersas (plataformas de
abrasão, arribas e istmos) entre as batimétricas de 60 e de 40 m que
corresponderiam a uma paleolinha de costa. Teixeira (1998)
identificou também, frente aos Olhos de Água, um afloramento
denominado “Pedra dos Arrifes” à profundidade de 13 m, que
corresponde a uma escarpa de arriba litoral, de quando o nível
médio da água do mar se situava à profundidade de 20 m, há 8000
anos ou seja no Holocénico.
503
A geologia, hidrografia e hidrogeologia dessa época parecem
não diferir muito da actualidade. O escoamento superficial e
subterrâneo seria também para sul, com canais preferenciais de
circulação de águas até às profundidades de 40 m e, mais
recentemente, de 20 m, onde provavelmente se localizariam
nascentes junto à praia. Esta paleocirculação poderá ainda estar
activa ou ser activada dependendo do nível potencial das águas
subterrâneas em terra e da permeabilidade das formações aquíferas,
cuja expressão será tanto mais visível quanto maior a concentração
do caudal das DAS.
Analisaram-se várias imagens da rugosidade da superfície do
mar obtidas com o SAR (Radar de Abertura Sintética) com o
objectivo de detectar assinaturas à superfície de potenciais
nascentes submarinas na plataforma continental, na região dos
Olhos de Água.
As imagens SAR revelam com frequência, a presença de slicks,
que identificam zonas em que a superfície do mar aparece com um
aspecto alisado, há uma redução da rugosidade da superfície do
mar devido à atenuação das ondas capilares, podendo assim indicar
potenciais locais de DAS com caudais relativamente elevados. Esta
informação foi muito importante no planeamento das campanhas
oceanográficas realizadas em Novembro de 2012 e em Abril de
2013, ao largo da região dos Olhos de Água.
As campanhas CTD foram realizadas na plataforma
continental, distribuíram-se ao longo de uma malha de alta
resolução, que cobriu não só a área ocupada pelo slick como
também as águas na vizinhança com características oceânicas
costeiras. As medições dos parâmetros condutividade (salinidade),
temperatura e profundidade, feitas pela sonda CTD, permitiram
caracterizar as propriedades termohalinas das descargas de águas
subterrâneas em meio oceânico.
2.
DADOS
Analisaram-se os valores das precipitações médias acumuladas
durante os meses de Inverno na estação climatológica de São Brás
de Alportel (localizada a cerca de 30 km dos Olhos de Água)
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durante o período de 2000 a 2011 (dados retirados de
http://snirh.pt). Os invernos cujas precipitações médias acumuladas
excederam 700 mm pareceram ser os mais adequados para originar
DAS com caudais relativamente elevados e, consequentemente
serem mais facilmente identificados como assinaturas à superfície
nas imagens SAR.
Os slicks têm um aspecto mais escuro nas imagens SAR, e
podem representar a presença à superfície de água menos densa,
proveniente de nascentes submarinas. Devido ao aspecto alisado da
superfície do mar, as nascentes submarinas localizadas em Avola,
no SE da Sicília, são localmente conhecidas como “bolhas” (bugli
em Povinec et al., 2006).
Uma imagem SAR obtida a 9 de Fevereiro de 2010 (10:43
TU), durante um Inverno particularmente chuvoso está
representada na Fig. 1. Esta imagem, com uma resolução no solo
de 75 m, mostra um slick, com uma forma aproximadamente
circular, com um diâmetro de cerca de 3.5-4.0 km, localizado
mesmo em frente aos Olhos de Água e está devidamente assinalado
na referida figura.
realizaram-se mais 42 estações CTD (representadas por círculos
mais escuros na Fig. 2), numa região bastante mais próxima da
costa, com profundidades compreendidas entre 2 e 14 m.
A localização das 101 (59+42) estações CTD efectuadas na
região dos Olhos de Água está representada na Fig. 2.
Figura 2 – Localização das 101 estações CTD realizadas na região dos
Olhos de Água.
(Location of the 101 CTD stations carried out in the Olhos de Água area.)
O sistema de posicionamento utilizado na primeira campanha
foi um Garmin GPSMAP® 60 CSX sem correcção diferencial. Na
segunda campanha, utilizou-se um sistema de posicionamento e
sonda incorporada entretanto adquirido (GPSMAP® 421s), que foi
instalado a bordo pela primeira vez e testado com sucesso.
Nestas duas campanhas procedeu-se à recolha de dados de
condutividade, temperatura e pressão, utilizando uma sonda CTD
da marca NXIC (Non-eXternal Inductive Conductivity) da
Falmouth Scientific, Inc (FSI, EUA). A análise destes parâmetros
permitiu identificar os locais na plataforma continental com maior
influência de águas provenientes de nascentes de águas
subterrâneas, pois estas têm características hidrológicas distintas
das águas oceânicas costeiras.
3.
Figura 1 – Imagem SAR obtida ao largo do Algarve no dia 9 de
Fevereiro de 2010, às 10:43 TU, e que mostra um slick em frente aos
Olhos de Água, devidamente assinalado.
(SAR image obtained on 9 February 2010, at 10:43 UT, showing a slick
offshore Olhos de Água.)
A localização geográfica do slick foi essencial no planeamento
da campanha oceanográfica, pois pretendia-se cobrir não só a área
onde as potenciais DAS poderiam ser encontradas como também as
águas circundantes, com propriedades termohalinas características
do oceano costeiro.
A primeira campanha CTD teve lugar no dia 6 de Novembro
de 2012, a bordo da embarcação “ECORECURSUS I” pertencente
ao Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve
(CCMAR/UAlg). As reduzidas dimensões da embarcação
utilizada, levaram a que a área de estudo ficasse restringida à
distância máxima de 3 milhas náuticas da costa (≈ 5.6 km). Face a
este constrangimento e, aproveitando as excepcionais condições
meteorológicas para este trabalho de mar, elaborou-se um novo
plano de estações, desta vez com uma malha muito mais densa do
que o previamente planeado. Contudo, nesse dia não foi possível
cumprir todo o plano estabelecido e, as más condições
meteorológicas e do estado do mar verificadas no dia seguinte
impediram a realização das estações mais próximas da costa.
Nesta primeira campanha realizaram-se 59 estações CTD, cujas
localizações estão representadas por círculos mais claros na Fig. 2,
e com profundidades a variar entre 8 e 30 m.
No dia 9 de Abril de 2013 realizou-se uma segunda campanha,
a bordo da embarcação referida anteriormente, com o objectivo de
completar a malha de estações previamente planeada. Desta vez
504
RESULTADOS
As observações realizadas nas duas campanhas referidas
anteriormente constituem o primeiro conjunto de dados CTD
adquirido na plataforma continental do Algarve, numa região muito
próxima da costa, com profundidades máximas de 30 m.
Para cada uma das 101 estações, traçaram-se os perfis de
temperatura, salinidade e sigma-t (densidade), bem como o
respectivo diagrama temperatura/salinidade (T/S).
Os diagramas T/S de todas estações realizadas nas campanhas
de Novembro de 2012 (59) e de Abril de 2013 (42) estão
representados na Fig. 3. Nesta figura e ao longo do texto, as
campanhas referidas anteriormente, passarão a ser identificadas
como 11/2012 e 04/2013, respectivamente.
A análise da Fig. 3 mostra que os valores de salinidade
observados durante as duas campanhas são praticamente os
mesmos, sendo de referir apenas que todas as salinidades na
campanha 11/2012 são superiores em 0.1 às observadas na
campanha 04/2013. Já no que se refere à temperatura, a diferença
entre os valores observados durante as duas campanhas diferem em
cerca de 3.0ºC. As estações realizadas durante a campanha 11/2012
decorreram numa situação de transição Verão-Inverno de um ano
relativamente quente e seco, e as temperaturas da água do mar
observadas estão compreendidas entre 17.5 e 18.5ºC. As estações
realizadas durante a campanha 04/2013, tiveram lugar
imediatamente após o considerado Inverno oceanográfico, e as
temperaturas da água do mar reflectem esse facto, apresentando
valores compreendidos entre 14.5 e 16.0ºC.
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exactamente, a influência de águas menos salgadas provenientes
das DAS.
Para uma melhor percepção do comportamento dos parâmetros
temperatura e salinidade ao longo da coluna de água, encontrados
em estações dos dois grupos referidos anteriormente, apresentamse na Fig. 5 exemplos de perfis obtidos numa estação do grupo A,
com características oceânicas costeiras (representada a cinza e com
uma profundidade de cerca de 30 m - est. 22) e de uma estação do
grupo B, com influência de águas provenientes de descargas de
águas subterrâneas (representada a preto e com uma profundidade
aproximada de 10 m - est. 43).
Figura 3 – Diagrama T/S conjunto das 101 (59+42) estações realizadas
nas campanhas 11/2012 e 04/2013.
(T/S diagram with all the 101 (59+42) stations carried out during both
surveys 11/2012 and 04/2013.)
Como as duas campanhas foram realizadas em situações
oceanográficas distintas, vão ser aqui analisadas separadamente.
3.1. Campanha 11/2012
Na Fig. 4 está representado o diagrama T/S conjunto de todas
as estações realizadas durante a campanha 11/2012.
É interessante verificar que os diagramas T/S das 59 estações
da campanha 11/2012 se agrupam segundo dois padrões bem
distintos. As estações, referenciadas com a letra A na Fig. 4, a que
correspondem os valores mais elevados de salinidade em toda a
coluna de água e cujos valores de sigma-t apresentam um aumento
gradual com a profundidade, estão localizadas essencialmente nas
duas linhas mais ao largo (latitudes 37º 02’ 00’’ e 37º 03’ 00’’ N –
ver Fig. 2), apresentam características típicas de estações oceânicas
costeiras.
Figura 5 - Perfis de temperatura e de salinidade obtidos numa estação
oceânica costeira (a cinza) e numa estação com influência de descargas
de águas subterrâneas (a preto) na campanha 11/2012.
(Temperature and salinity profiles obtained in an oceanic coastal station
(in grey) and in another station influenced by submarine groundwater
discharges (in black) during the 11/2012 survey.)
A Fig. 5 mostra um pequeno decréscimo na temperatura e um
ligeiro aumento da salinidade da superfície para o fundo, na
estação oceânica costeira (representada a cinza) mas, na estação
menos profunda (representada a preto) é de salientar a presença de
um mínimo de salinidade centrado à profundidade de 5 m, que é
também acompanhado por uma diminuição da temperatura, e que
se pode interpretar como uma consequência da mistura com as
águas provenientes das descargas de águas subterrâneas.
A observação de perfis com mínimos de salinidade foi
recorrente em todas as estações cujos diagramas T/S foram
referenciados como grupo B na Fig. 4, embora a profundidade a
que se localizava o mínimo de salinidade não fosse sempre a
mesma. Estes mínimos de salinidade foram detectados em 28
estações.
3.2. Campanha 04/2013
Figura 4 – Diagrama T/S conjunto das 59 estações realizadas na
campanha 11/2012.
(T/S diagram with all the 59 stations carried out during the 11/2012
survey.)
As outras estações, identificadas com a letra B na Fig. 4,
apresentam diagramas T/S com uma forma completamente
diferente do grupo anterior, evidenciam instabilidades na coluna de
água (mostrando inversões no sigma-t), muito provavelmente
associadas a mistura vertical com águas provenientes das nascentes
submarinas. É de salientar que os valores mais baixos de salinidade
foram encontrados nestas estações (ver Fig. 4), o que vem reforçar
505
Na Fig. 6 está representado o diagrama T/S conjunto das 42
estações realizadas durante a campanha 04/2013.
Convém aqui novamente referir que todas as estações
realizadas durante a campanha 04/2013 são pouco profundas,
sendo a profundidade máxima 14 m, e estão localizadas numa
região muito próxima da costa (ver Fig. 2).
Os diagramas T/S da campanha 04/2013 (ver Fig. 6) revelam
uma certa semelhança com os padrões obtidos na campanha
anterior (ver Fig. 4), sendo aqui evidente que são as águas
oceânicas costeiras as que apresentam as temperaturas mais baixas
(14.5-15.0ºC) e, consequentemente os valores mais elevados de
sigma-t.
As estações onde se observam as menores salinidades são
também as que evidenciam instabilidades na coluna de água,
mostrando igualmente inversões no sigma-t (ver Fig. 6).
Na Fig. 7 estão representados os perfis de temperatura e de
salinidade obtidos numa estação com influência de águas
provenientes de descargas de águas subterrâneas (est. 84 a preto) e
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numa estação com características oceânicas costeiras (est. 91 a
cinza).
O facto dos valores da salinidade serem inferiores na estação
oceânica costeira poderá ser devido a processos de mistura que têm
lugar não só na vertical (na coluna de água), como também na
horizontal. As descargas submarinas podem ocorrer em vários
locais da plataforma continental e, como são zonas pouco
profundas, são advectadas na horizontal em forma de pluma, indo
afectar toda a coluna de água de estações localizadas na trajectória
da referida pluma.
Também se verificou que nesta campanha, a existência de
mínimos de salinidade são uma constante nos perfis de salinidade
nas estações com influência das DAS, mas a profundidade a que se
localizam nem sempre é a mesma. Estes mínimos de salinidade
foram detectados em 16 estações.
4.
Figura 6 – Diagrama T/S conjunto das 42 estações realizadas
na campanha 04/2013.
(T/S diagram with all the 42 stations carried out during the
04/2013 survey.)
A estação oceânica costeira, tal como se verificou na campanha
11/2012, apresenta um pequeno decréscimo na temperatura e um
ligeiro aumento na salinidade da superfície para o fundo (perfis a
cinza na Fig. 7). Na estação com influência de águas provenientes
de nascentes submarinas (perfis a preto na Fig. 7) é notória a
presença de um mínimo de salinidade centrado à profundidade de
10 m, acompanhado por uma diminuição da temperatura.
A análise dos perfis representados na Fig. 7 indica que os
valores da temperatura e da salinidade observados na estação
oceânica costeira são inferiores aos valores observados na estação
com influência das DAS, o que parece à partida um pouco
contraditório, especialmente no caso da salinidade.
É de realçar que o conjunto de observações realizadas durante
as campanhas 11/2012 e 04/2013 constitui uma base de dados que
se caracteriza pela sua originalidade, pois para além de ser a
primeira vez que se efectuaram medições CTD numa região da
plataforma continental tão próxima da costa do Algarve, foi
também uma investigação pioneira no domínio das descargas de
águas subterrâneas em meio marinho.
É de salientar também que a multidisciplinaridade das equipas
participantes neste Projecto de I&D foi essencial tanto na partilha
de conhecimentos como também na realização das campanhas de
mar.
Para uma melhor compreensão destas descargas de água doce
em meio marinho era essencial proceder a uma monitorização
regular da região dos Olhos de Água, quer ao longo do ano, através
da realização de campanhas CTD nas várias estações do ano, quer
em anos considerados secos ou particularmente chuvosos, pois
estes são condicionantes fundamentais para os diferentes caudais
das DAS.
Finalmente é de referir que a ocupação de uma área da
plataforma continental, tão próxima da costa, é relativamente
acessível, para a realização de um trabalho de investigação como
este que foi aqui descrito, a bordo de uma embarcação de reduzidas
dimensões.
5.
Figura 7 - Perfis de temperatura e de salinidade obtidos numa estação
oceânica costeira (a cinza) e numa estação com influência de descargas
de águas subterrâneas (a preto) na campanha 04/2013.
(Temperature and salinity profiles obtained in an oceanic coastal station
(in grey) and in another station influenced by submarine groundwater
discharges (in black) during the 04/2013 survey.)
A temperatura apresentar um valor superior nas águas com
influência das descargas submarinas parece razoável, pois muitas
vezes estas descargas são caracterizadas por temperaturas mais
elevadas do que as águas oceânicas circundantes, especialmente se
as observações forem conduzidas durante o Inverno, época do ano
em que as temperaturas da água do mar atingem os valores mais
baixos. É importante referir que a temperatura da água medida nas
nascentes da praia apresentou valores praticamente constantes e
próximos de 19.0ºC ao longo do ano hidrológico.
506
CONCLUSÕES
AGRADECIMENTOS
As actividades de investigação descritas neste trabalho foram
efectuadas no âmbito do Projecto de I&D “FREEZE – Submarine
Fresh Water Discharges: Characterization and Evaluation Study on
their
Impact
on
the
Algarve
Coastal
Ecosystems”
(PTDC/MAR/102030/2008), que decorreu de 2010 a 2013 e foi
financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e no
âmbito do Projecto PEst-OE/MAR/UI0199/2011, também
financiado pela FCT.
Francisco Leitão (SFRH/BPD/63935/2009) e Pedro Range
(SFRH/BPD/69959/2010) usufruíram de Bolsas de PósDoutoramento financiadas pela FCT.
Os autores agradecem a José da Silva a cedência das imagens
SAR, disponibilizadas pela ESA, no âmbito de outros projectos de
investigação.
Um agradecimento muito especial a António Massapina e
Isolete Correia, directores das Marinas de Albufeira e de
Vilamoura, respectivamente, que disponibilizaram o espaço para a
embarcação durante a realização das campanhas de mar.
Os autores agradecem também à empresa Algarve Seafaris,
Lda., que disponibilizou as suas instalações na Marina de
Vilamoura, para se proceder à configuração e manutenção da sonda
CTD, no início e no final de cada uma das campanhas de mar.
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6.
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REFERÊNCIAS
Dias J.M.A., T. Boski, A. Rodrigues e F. Magalhães, 2000: “Coast line
evolution in Portugal since the Last Glacial Maximum until present - a
synthesis”, Marine Geology, 170, 177-186.
Povinec P.P., P.K. Aggarwal, A. Aureli, W.C. Burnett, E.A. Kontar, K.M.
Kulkarni, W.S. Moore, R. Rajar, M. Taniguchi, J.-F. Comanducci, G.
Cusimano, H. Dulaiova, L. Gatto, M. Groening, S. Hauser, I. LevyPalomo, B. Oregioni, Y.R. Ozorovich, A.M.G. Privitera e M.A.
Schiavo, 2006: “Characterization of Submarine Groundwater
Discharge Offshore South-Eastern Sicily”, Journal of Environmental
Radioactivity, 89, 81-101 (doi: 10.1016/j.jenvrad.2006.03.008).
Teixeira S.B., 1998: “Identificação e caracterização de arribas Holocénicas
submersas ao largo do Algarve (Portugal)”, Com. In. Geol. Min., 84
(1), 35-38.
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