Métodos de pastejo em pastagens naturais

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Métodos de pastejo em pastagens naturais
Universidade Federal do Ceará
Centro de Ciências Agrárias
Departamento de Zootecnia
Curso de Pós-Graduação em Zootecnia
Disciplina: Manejo de Pastagens Naturais
Métodos de pastejo em pastagens
naturais
Holechek et al., (2001); Vallentine (2001)
Magno José Duarte Cândido
Prof. Dpto. de Zootecnia-UFC
Fortaleza, 10 de dezembro de 2012
Método de pastejo:
Forma como o rebanho será alocado na pastagem
Mesmo em pastagens naturais, métodos de pastejo mais
especializados podem ser importantes, pois constituem uma
das ferramentas de manejo da pastagem
Métodos de pastejo especializados: pouco (10-30%) ou
nenhum aumento na capacidade de suporte
Outras vantagens potenciais dos métodos de pastejo
especializados em pastagens naturais
Melhora a utilização da pastagem
Reduz a seletividade
Facilita o controle do pasto e do rebanho
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CONSIDERAÇÕES NA ESCOLHA DO MÉTODO DE PASTEJO
Clima
regiões com má distribuição da precipitação pluviométrica
Topografia
áreas com terrenos irregulares
Vegetação
pastagens com grande heterogeneidade botânica
Onde há o risco de durante a estação de pastejo haver danos
indesejáveis às árvores
Rebanho
utilização da pastagem por mais de uma espécie de herbívoro doméstico
Animais silvestres
necessidade de preservação da vida selvagem em determinadas épocas
Preservação das fontes de água
onde há má distribuição das aguadas
Manejo da área
necessidade freqüente de exclusão de áreas de pastejo pelo uso de
pesticidas
Mão-de-obra requerida
Benfeitorias requeridas
3
4
PASTEJO SOB LOTAÇÃO CONTÍNUA
Sob TL moderada (dimensionada em função da estação seca)
 muitas vezes é vantajosa
Importante: aguadas  3,2 km
Característica básica: seleção e eleição de áreas
preferenciais de pastejo
Bom: animal “tampona” eventuais mudanças bruscas
na qualidade do pasto
Ruim: superpastejo próximo a aguadas, sombra,
planícies e saleiro
Área superpastejada: exclusão temporária
Áreas mais acidentadas: inclusão temporária
Manejo dos pontos de água   custo cercas e mão-de-obra
Lotação contínua: + válida para áreas PPT < 500 mm/ano e
para áreas com pouca heterogeneidade florística
PASTEJO SOB LOTAÇÃO ROTATIVA
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Períodos de descanso e de pastejo em cada área
Normalmente a produção de forragem é > (+ 7%, podendo
chegar a + 30% em pastagens naturais de áreas mais úmidas)
Em áreas desérticas e semi-áridas parece não ser vantajoso (a
não ser que haja alta heterogeneidade florística ou relevo
muito irregular)
Períodos de descanso:
10 a 20 dias: pastagens de gramíneas perenes até meados da
estação de crescimento
20 a 30 dias: pastagens irrigadas e sem limitação de nutrientes
40 a 60 dias: pastagens áridas e semi-áridas no final da
estação de crescimento
PASTEJO SOB LOTAÇÃO ROTATIVA
Figura - Método de pastejo de curta-duração numa fazenda do Novo México, EUA (Fowler e Gray, 1986,
em Holechek et al., 2000)
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MÉTODO ROTAÇÃO DIFERIDA
Envolve o uso de vários piquetes simultaneamente e vários
rebanhos.
Densidade de lotação é moderada
Período de pastejo > período de descanso
Ex.: Merrill quatro pastos-três rebanhos
Cada unidade de pastejo descansa aproximadamente 4
meses/ano
A mesma unidade de pastejo não é pastejada na mesma
época em todos os anos
O sistema se repete a cada 4 anos
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MÉTODO ROTAÇÃO DIFERIDA
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MÉTODO DESCANSO-ROTAÇÃO
Piquetes são diferidos com os seguintes objetivos:
Restabelecer o vigor das plantas
Permitir a ressemeadura natural
Permitir o pleno estabelecimento das plântulas
O número de animais e/ou o número de piquetes a ser usado
é ajustado conforme o total de forragem presente em cada
piquete
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MÉTODO DESCANSO-ROTAÇÃO
Problema: sobrecarga nos pastos em uso pode anular o
benefício do pasto vedado
Áreas montanhosas com problemas de distribuição do
rebanho: Rotação-descanso melhor que Toda Estação
Desvantagem:
 desempenho individual dos animais
Vantagens:
Melhora as características do solo
Acúmulo de biomassa do pousio minimiza pastejo muito
intenso da forragem nova, principalmente próximo aos
pontos d’água
Recomendação:
Terrenos montanhosos
ano
1
MÉTODO
DESCANSOROTAÇÃO
2
3
4
5
11
12
MÉTODO ALTA INTENSIDADE-BAIXA FREQUÊNCIA
Usa vários piquetes e um rebanho.
A densidade de lotação é alta a muito alta.
O período de pastejo é curto e o período de descanso é longo.
A mudança de rebanho entre os piquetes é determinada pelo
grau de utilização da forragem.
As unidades de pastejo não são utilizadas na mesma época em
todos os anos.
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MÉTODO ALTA INTENSIDADE-BAIXA FREQUÊNCIA
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MÉTODO ALTA INTENSIDADE-BAIXA FREQUÊNCIA
Vantagem em relação ao contínuo:
Aumento da capacidade de suporte
Desvantagem:
Baixo desempenho dos animais quando forçado a ingerir forragem
muito madura
Tabela 6.2 – Características da produção animal e o retorno financeiro de três
sistemas de pastejo no Welder Wildlife Foundation Refuge, 1977-1981
Merril três rebanhos/quatro
pastagens
Alta intensidade/Baixa
Freqüência
Contínuo
Bezerros (%)
91
89
89
Peso ao desmame (kg)
227
217
232
Produção de carne/ha
(kg)
49
32
49
Produção de carne/vaca
(kg)
204
190
213
Retorno ($/ha)
7,09
3,75
9,01
Característica
Fonte: Drawe (1988).
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PASTEJO ROTAÇÃO DIFERIDA COM ÉPOCA DE EXCLUSÃO
FIXA
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PASTEJO EM TODA A ESTAÇÃO x LOTAÇÃO INTENSIVA
INICIAL
Lotação intensiva inicial (2x TL, mas período de pastejo 154
 75 dias. Apropriado para áreas com “Big bluestem”
Andropogon gerardii)
Tabela 6.1 – Ganho de peso de novilhos mantidos em pastagens com lotação
inicialmente elevada e longa estação de pastejo
Lotação intensiva inicial
2 mai - 15 jul
75 dias
Hectares por novilho
Ganho médio por novilho (kg)
Ganho médio diário por novilho
(kg/dia)
Ganho médio por hectare (kg)
Fonte: Smith & Owensby (1978).
Pastejo em toda a estação
2 mai - 15
jul
75 dias
15 jul - 2
out
79 dias
2 mai – 3
out
154 dias
0,69
1,38
1,38
1,38
64
90
36
95
0,85
0,80
0,45
0,62
93
43
26
70
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PASTEJO ESTACIONAL APROPRIADO
Divisão dos pastos de acordo com o tipo vegetacional
Manejo também via acesso aos pontos d’água
Ex: pastos naturais montanhosos Noroeste dos EUA
Ex.2: Utah/EUA: deserto (inverno), base da montanha
(primavera) e montanha (verão)
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Unidades da pastagem natural (piquetes)
A
Estrato herbáceo
(face sul da
montanha)
B
Floresta
(face norte da
montanha)
C
Gramíneas
(entre as faces norte e
sul)
15 Jun-15 Jul
Pastejo
Descanso
Descanso
16 Jul-15 Set
Descanso
Pastejo
Descanso
16 Set-15 Out
Descanso
Descanso
Pastejo
Período
Figura – Plano de adequação do pastejo a estacionalidade usado nas pastagens
naturais de montanhas no nordeste de Oregon (um rebanho/três piquetes) (Holechek et
al., 2000).
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MÉTODO “MELHOR PASTO”
Útil em áreas sujeitas a chuvas intensas e localizadas (variações
na vegetação em curtas distâncias, < 10 km), como Semideserto
do Novo México/EUA
Ex: Utilizar “Dropseed” (Sporobolus flexuosus) em JUL-AGO
(crescim. ativo)
Se UMID e TEMP favoráveis  usar também na primavera
“Black grama” (Bouteloua eriopoda)  usar no inverno
( vulnerab. no verão)
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PASTEJO DE CURTA DURAÇÃO
Similar ao alta intensidade-baixa frequência.
Diferença: os períodos de pastejo e de descanso são mais curtos.
Densidade de lotação é alta.
O número de unidades de pastejo e a capacidade de suporte
delas determina se o pastejo se repetirá na mesma época na
mesma unidade a cada ano ou não.
Período de pastejo = 5 dias
Período de descanso = 4 ou mais semanas (variável com a época
do ano)
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PASTEJO DE CURTA DURAÇÃO
Objetivos da alta densidade de lotação no pastejo de curta
duração
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1. aumentar a infiltração de água no solo como resultado da ação do casco
(questionável, pois alta densidade de lotação pode causar compactação do
solo, pelo repetido pisoteio dos animais numa área restrita da pastagem);
2. Aumentar a reciclagem de nutrientes;
3. Reduzir a seletividade das plantas durante o pastejo;
4. Aumentar o índice de área foliar;
5. Permitir uso uniforme da pastagem natural;
6. Aumentar o período de disponibilidade de forragem verde para os animais;
7. Reduzir a percentagem de plantas invasoras.
ADOÇÃO DO PASTEJO DE CURTA DURAÇÃO:
Útil em áreas planas, úmidas e que tenham um longo período de crescimento
das plantas
Não é recomendável para regiões áridas
Grande sucesso: por uma melhor distribuição do rebanho mais que por
melhoria na condição da pastagem
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Pastejo de curta duração na Caatinga cearense (Silva et al., 1999)
Adubação orgânica (5 t/ha de esterco caprino) no início do período chuvoso
O período de ocupação: 7 dias; período de descanso: 21 dias; período anual
de pastejo: 80 dias. 2 taxas de lotação: 0,3 ha/animal ou 0,1 ha/animal
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Pastejo de curta duração na Caatinga cearense (Silva et al., 1999)
O pastejo de ovinos promove, a curto prazo, o desaparecimento das
gramíneas do estrato herbáceo da caatinga raleada.
O acabamento de ovinos, em pastagem nativa raleada, durante o período
chuvoso, em sistema de pastoreio de curta duração apresenta melhor
rendimento (70,0 kg/ha) com uma carga animal pesada (10 anim/ha).
Apesar da elevada produção animal, o pastejo de curta duração somente
com ovinos, não é recomendado no Ceará, por desestabilizar a composição
florística do estrato herbáceo, principal componente da dieta desses
ruminantes.
PASTEJO ALTERNADO OVINO-CAPRINO NA CAATINGA
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Pereira Filho et al. (2007)
taxas de lotação: 2,5 animal/ha, 1,67 animal/ha e 1,25 animal/ha.
método de pastejo: alternado ovino-caprino
pastejo exclusivo por ovinos: janeiro de 1988 a dezembro de 1991
pastejo exclusivo por caprinos: fevereiro de 1992 a dezembro de 1994.
PASTEJO ALTERNADO OVINO-CAPRINO NA CAATINGA
Mês/Ano
Jan./1988
Mar./1988
Jun./1988
Mar./1989
Nov./1989
Jan./1991
Jun./1991
Set./1991
(adaptado de Pereira
Filho et al., 1997)
Mar./1992
Jun./1993
Nov./1993
Mar./1994
Jun./1994
Nov./1994
Gramíneas
Dicotil. Herbáceas
0,4 ha/ovino
27,8 ab
72,1 c
40,5 b
59,6 bc
53,1 bc
46,9 bc
66,1 bc
33,9 b
26,7 ab
73,3 c
5,1 a
94,9 c
12,5 ab
87,5 c
0,4 a
99,6 c
0,4 ha/caprino
9,9 a
90,1 c
83,7 c
16,2 ab
99,9 c
0,1 a
74,8 c
25,1 ab
72,6 c
27,3 ab
78,8 c
21,2 ab
26
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QUESTÕES ECONÔMICAS LIGADAS A MÉTODOS DE
PASTEJO ESPECIALIZADOS
Custos: cercas, aguadas, saleiros e mão-de-obra
Áreas áridas com produção de forragem < 500 kg/ha x ano 
melhor resposta econômica com controle dos pontos de
água e uso mínimo de subdivisões
Benefício adicional difícil de ser quantificado: maior
facilidade de manejo do rebanho com subdivisões
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em regiões com tendência à aridez, métodos de pastejo
rotativos trazem pouco benefício adicional, podendo,
inclusive trazer problemas para a pastagem. Nessas áreas, o
controle do acesso a fontes de água associado à lotação
contínua pode ser suficiente;
Os métodos rotativos de pastejo são mais proveitosos em
terrenos acidentados, áreas úmidas e com elevada
heterogeneidade botânica;
Métodos rotativos com mais de oito divisões não trazem
vantagens em termos de produtividade do pasto e/ou do
rebanho;
A intensidade de pastejo é mais crucial que o método de
pastejo em determinar o sucesso no longo prazo da
exploração de pastagens naturais.
Muito Obrigado!
Visite o site do Núcleo de Ensino
e Estudos em Forragicultura:
www.neef.ufc.br
Magno José Duarte Cândido
[email protected]
TEL: (85) 3366-9711
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