43 CONFLITOS INTERPESSOAIS NO AMBIENTE
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43 CONFLITOS INTERPESSOAIS NO AMBIENTE
FOCO: revista de Administração e Recursos Humanos da Faculdade Novo Milênio. CONFLITOS INTERPESSOAIS NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL Gabriela Paganini de Souza1 Karoliny Zordan dos Santos2 Mayckel Oakes Vasconcellos3 RESUMO O presente artigo analisa e confirma a existência de impactos ocasionados pelos conflitos em um ambiente organizacional, através de pesquisa de campo realizada a partir de um estudo de caso e a comparação com a literatura adotada. A empresa escolhida foi abordada a partir de questionários, que foram respondidos pelos colaboradores e também pelo gestor. Percebeu-se que esses impactos são de complexa mensuração, principalmente os financeiros, os quais normalmente ficam ocultos por muito tempo. Entretanto, não se pode negar sua existência, pois estes tendem à serem piores quando não considerados. Foi observado que a conduta adotada para intermediar os conflitos está diretamente ligada ao sucesso de impedir impactos negativos aos indivíduos e à organização como um todo. Essas condutas, quando bem aplicadas, podem reverter conflitos, levando-os a se transformar em motivadores de mudanças e estímulos para que os colaboradores maximizem suas potencialidades. PALAVRAS-CHAVE: Ambiente Organizacional. Conflitos. Gestão de Pessoas. Indivíduo. Relações Interpessoais. 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS De acordo com estudos realizados e com base em diversos autores da área, como Berg (2011), Pickering (1999), Burbridge e Burbridge (2012), Lederach (2012), Robbins (2002) e outros, percebe-se que os conflitos interpessoais estão presentes nas organizações em geral, e há dificuldade em transformá-los ou eliminá-los. Acredita-se que seja o resultado de uma relação entre ideias divergentes, que podem estar atreladas às atividades meramente profissionais ou aparecerem ligadas a assuntos pessoais. Berg (2011, p. 1) cita que a palavra “conflito vem do latim conflictus, originário do verbo conflictare, que significa choque entre duas coisas, embate de pessoas ou grupos opostos, que lutam entre si. É um embate entre duas 1 Graduada em Administração pela Faculdade Novo Milênio/ES. Graduada em Administração pela Faculdade Novo Milênio/ES. 3 Graduado em Administração pela Faculdade Novo Milênio/ES. 2 V.7, nº1, Jan./Jul. 2014. 43 FOCO: revista de Administração e Recursos Humanos da Faculdade Novo Milênio. forças contrárias”. Pickering (1999, p. 3) complementa mencionando que “o conflito na sociedade moderna é inevitável e evidente. Em todos os lugares, há a existência de opções divergentes ou incompatíveis”. Os conflitos nem sempre são considerados como algo prejudicial, principalmente quando se trata de uma reunião em torno do mesmo objetivo em que são apresentados diferentes métodos de solucioná-lo. Nesse caso, os indivíduos se chocam por defenderem suas ideias, e a organização se beneficia por poder usufruir de um leque de opções que traz maior clareza para a tomada de decisão. Entretanto, torna-se um problema quando os conflitos deixam de ser resolutivos e passam a prejudicar o ambiente, principalmente quando avançam para o âmbito das agressões interpessoais. “O conflito pode ser entendido como o motor da mudança, como aquilo que mantém os relacionamentos e as estruturas sociais honestas, vivas e dinamicamente sensíveis às necessidades, aspirações e ao crescimento do ser humano” (LEDERACH, 2012, p.31). Burbridge e Burbridge (2012) concordam com a ideia de que o conflito além de natural seja um motor propulsor de mudanças. Entretanto complementam afirmando que quando em excesso deixam de ser construtivos e passam a prejudicar a organização como um todo. Já Robbins (2002), observa que o início de um conflito se dá quando um indivíduo se sente ameaçado por outro, que por sua vez apresenta ideia divergente sobre aquilo que considera importante. Lederach (2012) concorda com Robbins quando afirma que, após a ocorrência de um conflito entre indivíduos, a comunicação fica prejudicada, requerendo assim um maior esforço para compreender o outro, a menos que as ideias sejam compatíveis. Aliados a esta ideia, Carvalhal e outros (2006), acreditam que existe a necessidade de reestruturação da percepção de cada indivíduo envolvido, tratando inclusive dos seus sentimentos, havendo necessidade de intermédio de um terceiro. As ideias complementam-se quando os autores mencionados demonstram que os conflitos não necessariamente são prejudiciais à organização, isto atrelado ao conceito de que certos conflitos são motivadores de mudanças, as quais podem contribuir para o desenvolvimento da organização. No entanto, ressaltam esses mesmos autores que os conflitos em excesso afetam diretamente as relações entre os indivíduos, prejudicando sua comunicação, refletindo em custos para a organização. V.7, nº1, Jan./Jul. 2014. 44 FOCO: revista de Administração e Recursos Humanos da Faculdade Novo Milênio. Com base no tema proposto, este trabalho analisou as relações conflituosas entre os colaboradores da empresa Construtora Lar4, de onde foram diagnosticados os fatores causadores e sua natureza. Também foram observados todos os níveis hierárquicos e as estratégias utilizadas pelos gestores para minimizar ou evitar os impactos na organização. A empresa Construtora Lar5 foi fundada em 1977 e atua no ramo de construção civil, cujo foco está na fabricação, venda e locação de máquinas. Devido à consciência do cenário a qual está inserida, também vivenciado por outras organizações em diversos segmentos, a empresa nos disponibilizou o acesso aos dados para a realização desse estudo. Nesse sentido, o objetivo geral deste trabalho foi avaliar como as relações de conflito entre os colaboradores impactam no dia-a-dia dentro da empresa e no desenvolvimento de seus produtos e serviços. Para tanto, também foram considerados os seguintes objetivos específicos: avaliar os métodos adotados pelo gestor para sua resolução; medir o grau de satisfação da equipe sobre as relações interpessoais; e descrever as principais causas de conflitos no ambiente em questão. A gestão indevida dos conflitos interpessoais no ambiente de trabalho é responsável por grandes impactos que podem influenciar diretamente o colaborador de maneira negativa, que por sua vez afetará proporcionalmente a organização. Por este motivo, nota-se a importância de um acompanhamento constante das relações entre os indivíduos da organização, para que suas consequências sejam minimizadas. O presente artigo está dividido em uma revisão de literatura e um estudo de caso. São abordados, respectivamente, os conflitos interpessoais no ambiente organizacional e a gestão dos conflitos. Apresentamos também o método do estudo, para posteriormente apresentar os dados coletados na pesquisa de campo e as discussões e análises realizadas a partir de tal estudo. 2 4 5 TIPOLOGIA DE CONFLITOS Usaremos no trabalho o nome fictício “Construtora Lar”, a fim de resguardar a empresa pesquisada. A empresa “Construtora Lar” disponibilizou seus dados mediante acordo de sigilo de sua identidade. V.7, nº1, Jan./Jul. 2014. 45 FOCO: revista de Administração e Recursos Humanos da Faculdade Novo Milênio. Alguns autores tipificam os conflitos com intuito de facilitar a compreensão de cada processo, visando otimizar o seu mapeamento e contribuindo para a escolha do método adequado para resolução. Robbins (2002, p.375), evidencia que, A visão interacionista não propõe que todos os conflitos sejam bons. Na verdade, alguns conflitos apóiam os objetivos do grupo e melhoram seu desempenho; estes são os conflitos funcionais, uma forma construtiva. Por outro lado, existem conflitos que atrapalham o desempenho do grupo; são formas destrutivas ou disfuncionais de conflito. [...] O conflito de tarefa está relacionado com o conteúdo e os objetivos do trabalho. O conflito de relacionamento se refere às relações interpessoais. O conflito de processo relaciona-se à maneira como o trabalho é realizado (grifo nosso). Já Burbridge e Burbridge (2012, p.30), tipificam de maneira mais simples dividindo-os em produtivos e contraprodutivos ou disfuncionais. Eles explicam que Os produtivos são aqueles que provocam mudanças, criando um valor líquido positivo para a organização, para o gestor e para as pessoas que lá trabalham. Os contraprodutivos – também, as vezes, chamamos de disfuncionais – são aqueles que destroem valor, impedem colaboração e geram prejuízos significativos (grifo nosso). Ainda podemos encontrar outras definições dos tipos de conflitos, os quais são apontados por Sparks (1992 apud Martinelli; Almeida, 1998) caracterizados pelos seguintes aspectos: i) Conflito terminal: Aquele no qual o indivíduo acredita que sua ideia seja única ou a mais aceitável, demonstrando superioridade ao depreciar a posição adversária como forma de atacá-la ou contra-atacá-la, além agravar os conflitos, gerar mútuas desconfianças e corroer o respeito entre as partes; ii) Conflito paradoxal: São questões discutidas através de uma ordem específica onde ficam temporariamente de lado para serem repensadas na medida em que os ânimos se acalmem; iii) Conflito Litigioso: Trata-se de um conflito onde há compreensão entre as partes em busca de benefício para ambas. Neste processo, uma das partes pode abrir mão de sua ideia ou podem somá-las aliando seus objetivos. Observa-se que vários autores analisam os tipos de conflitos sobre diversos pontos de vista, e atribuem diferentes denominações. Apesar de essas denominações serem distintas, suas ideias complementam-se. V.7, nº1, Jan./Jul. 2014. 46 FOCO: revista de Administração e Recursos Humanos da Faculdade Novo Milênio. 3 CONFLITOS INTERPESSOAIS NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL Diversos são os reflexos nas empresas decorrentes dos conflitos entre indivíduos, sendo seus efeitos positivos ou negativos. Muitas vezes, as partes envolvidas nos conflitos sentem uma série de sensações de dor, antagonismo e hostilidade. Os sentimentos negativos intensos podem trazer conclusões precipitadas e descabidas sobre os motivos, atitudes e intenções do outro, e reduzir o contato entre as pessoas, estendendo o conflito além de seu problema original, levando a ruptura no relacionamento. (MARTINELLI; ALMEIDA, 1998, p. 48). Lederach (2012, p. 38), concorda mencionando que “o conflito atinge o bemestar físico, a autoestima, a estabilidade emocional, a capacidade de percepção clara e a integridade espiritual”. Outra característica negativa também citada por Martinelli e Almeida (1998, p. 48) é que além de desperdiçar energia que deveria ser empregada à dinâmica da empresa, os envolvidos acabam prejudicando a comunicação e o repasse de informações, escolhendo os indivíduos com os quais se relacionam, dando preferencia àqueles que concordam com suas ideias, podendo acarretar más decisões que são sucedidas pela falha de comunicação e das interpretações distorcidas. Pickering (1999, p. 5), lista alguns potenciais negativos do conflito que podem ocorrer dentro da organização, como: diminuição da produtividade; desgaste da confiança; formação de alianças com posturas polarizadas; sigilo e redução no fluxo de informações; problemas morais; consumo de grandes quantidades de tempo; paralisia na tomada de decisões. Burbridge e Burbridge (2012, p. 24), vão mais além demonstrando os efeitos dos conflitos por meio de cálculos que comprovam impactos relacionados à custos reais gerados na organização quando menciona que “conflitos podem custar caro, a ponto de, em alguns casos, levar a empresa à falência. O problema é que a maior parte desse custo é oculta, não contabilizada, dificultando sua gestão”. Para contabilizar os impactos gerados pelos conflitos interpessoais, utilizaram o modelo de cálculo baseado no trabalho de Daniel Dana, psocólogo e fundador do Mediation Training Institute Internacional (MTI), relatado em seu livro Clonflict resolution, que demonstra oito tipos de custos, que podem ser gerados pelos conflitos internos. V.7, nº1, Jan./Jul. 2014. 47 FOCO: revista de Administração e Recursos Humanos da Faculdade Novo Milênio. (BURBRIDGE; BURBRIDGE, 2012). Foi simulado um comitê em uma empresa, com duração de doze semanas. Durante este tempo, ocorreram alguns conflitos entre os participantes que impactaram negativamente a organização. Diante destas informações, calculou-se o custo anual da equipe para então mensurarem os custos gerados pelos conflitos ocorridos no comitê, que foram: Custo de tempo perdido; Custo de oportunidade; Custo de motivação reduzida; Custo de má decisão; Custo de atos contra a empresa; Custo de perda de talentos; Custo de remanejamento desnecessário e outros custos. De acordo com os cálculos fundamentados nos custos apresentados, observou-se um total de R$ 673.103,00 gerados pelos conflitos no comitê. Há dificuldade em mensurar os valores de alguns custos que impactam na produção, entretanto, afirmam que estes valores representam números maiores que zero, o que significa que a existência dos conflitos dentro de uma organização, trazem prejuízos financeiros por menores que sejam, e se considerarmos o fato de que para a empresa o nosso tempo vale mais do que custamos, sabendo que a empresa espera um retorno de 50% a 500% sobre o que gasta com o funcionário, podemos observar com maior clareza estes impactos financeiros. A demonstração dos custos ocasionados pelos conflitos dentro da organização comprova que além de afetarem o grupo emocionalmente e trazerem grandes prejuízos financeiros, podem ficar ocultos durante muito tempo e, portanto jamais serem mensurados. Analisando por outro aspecto, Lederach (2012, p. 31), acredita na possibilidade de transformação do conflito, pois observa a naturalidade de sua existência na dinâmica dos relacionamentos humanos. O autor afirma que, [...] o conflito traz consigo um potecial para mudanças construtivas. É claro que as mudanças nem sempre são construtivas. Sabemos bem que muitas vezes os conflitos resultam em ciclos de sofrimento e destruição que se estendem por longo tempo. Mas a chave para a transformação é manter um viés proativo em visualizar o conflito como um potencial catalisador de crescimento. Em concordância com Lederach (2012), Pickering (1999) afirma que diferente do que é estabelecido pela grande maioria das pessoas, o conflito nem sempre é ruim, desde que resolvido de maneira adequada. Neste caso, os indivíduos podem V.7, nº1, Jan./Jul. 2014. 48 FOCO: revista de Administração e Recursos Humanos da Faculdade Novo Milênio. ser beneficiados com o aumento da motivação, com identificação aperfeiçoada de problemas ou soluções, união do grupo, ajuste de realidade, aumento no conhecimento, criatividade aperfeiçoada, contribuição para a realização do objetivo e incentivo para o crescimento. Quando o indivíduo encontra-se em situações conflituosas para alcançar certos objetivos, este tende a explorar seus potenciais, diferentemente de quando está em uma situação de conforto. Por não se sentir ameaçado, o indivíduo permanece estático e não desenvolve suas capacidades (TORRE, 1989). Diante das ideias expostas, percebe-se que o que define se os conflitos serão benéficos ou não, é a maneira como estes serão conduzidos, comprovando a importância da gestão eficiente dos conflitos. 4 GESTÃO DE CONFLITOS ORGANIZACIONAIS Naturalmente os conflitos existem numa organizaçao. Cabe ao gestor encontrar maneiras adequadas para promover mudanças significativas, entretanto, essas mudanças devem ser acompanhadas de diálogos, conhecimento e meios alternativos que contribuam para essas mudanças (BURBRIDGE; BURBRIDGE, 2012). A conduta do gestor influencia no clima existente entre os colaboradores, e para um reflexo positivo é necessário que este construa um ambiente onde exista confiança, sinceridade e divisão de responsabilidades. “A raiva dentro da empresa pode crescer ou destruir sua eficácia.” O sucesso da conduta dependerá de como o gestor controlará a crescente deste sentimento (PICKERING, 1999, p. 53). Pickering (1999, p 53-57) nos ajuda a compreender tais condutas quando cita que o líder precisa motivar a participação de maneira igual, pois quando um gestor atribui responsabilidades ao indivíduo, consequentemente estimula seu compromisso com a organização, e quando ocorre um conflito, ele deixa de lado as questões pessoais e utiliza da imparcialidade para resolvê-los. É importante que o gestor saiba ouvir ativamente, já que “A capacidade de ouvir inadequada é a principal causa do conflito” (PICKERING, 1999, p 53-57), e é inclusive responsável pelo fato das tarefas serem refeitas várias vezes. “[...] O gerente faz uso do tempo como um recurso, definindo intençoes deliberadamente e trabalhando por trás das V.7, nº1, Jan./Jul. 2014. 49 FOCO: revista de Administração e Recursos Humanos da Faculdade Novo Milênio. situações para garantir o melhor resultado possível. [...]” (1999, p 53-57). Para o gestor é cômodo impor sua opinião, afirmando esta ser a correta, porém é necessário diferenciar fato de opinião, focalizando o problema e não pessoa. Ser imparical é essencial para a conduta adequada de resolução dos conflitos, pois “Quando a pessoa e o problema são vistos como uma coisa só, o problema toma uma dimensão completamente nova, geralmente caracterizada pela volatilidade”. Diferenciar a pessoa do problema não é facil, mas o gerente deve praticar esta habilidade. Apesar de o conflito estar presente no dia a dia da organização, e em sua maioria apresentar-se como um fenômeno negativo, os autores estudados demonstram possibilidades de sua transformação. Lederach, (2012), visualiza a transformação de conflitos como uma reação às adversidades vivenciadas. Esta transformação ainda citada em Lederach, (2012), influencia o indivíduo de maneira pessoal, minimizando impactos do conflito e potencializando o seu bem-estar. No seu lado relacional, facilitando a comunicação, entendimento e trabalhando suas limitações. No seu lado estrutural, promovendo mecanismos não violentos e trabalhando seu senso de justiça. E ainda no lado cultural, a fim de fazê-lo compreender as diferenças que contribuem para situações conflituosas, visualizando-as de maneira construtiva. Pickering (1999) demonstra alguns equívocos em relação à resolução dos conflitos como, por exemplo, acreditar que os conflitos podem ser resolvidos sozinhos, uma vez que quanto mais ignorados, mais complexos se tornarão. Acreditar que participar de um confronto entre um problema ou uma pessoa é sempre desagradável, porém é necessário que itens em questão sejam analisados, pois sem esta análise a resolução dos conflitos não será bem sucedida, mas após a identificação dos problemas estes já estarão praticamente solucionados. Acreditar que a presença do conflito em uma empresa é fruto de mau gerenciamento. “A maneira com a qual o gerente lida com o conflito e como ele antecipa os problemas futuros potenciais é a verdadeira medida da força dessa técnica de gerenciamento” (PICKERING, 1999, p. 5 - 7). Acreditar que os conflitos entre os colaboradores representam pouca preocupação com a empresa. Normalmente, as pessoas se envolvem emocionalmente com assuntos que as preocupam. “Assim, o conflito pode ser um sinal de preocupação genuína. O conflito pode ajudar a esclarecer as emoções e serve para identificar os valores fundamentais" (p.7) Acreditar que “[...] A V.7, nº1, Jan./Jul. 2014. 50 FOCO: revista de Administração e Recursos Humanos da Faculdade Novo Milênio. raiva em si não é positiva nem negativa” (p.7). Porém a forma como empregamos este sentimento é fundamental para o sucesso na gestão dos conflitos. Para Pickering (1999, p.7) como tendemos a controlar a raiva, o stress acumulado reduz nossa capacidade de solucionar conflitos. Neste mesmo pensamento, é possível encontrar também em Berg (2011), cinco equívocos chamados por ele de visões distorcidas sobre os conflitos, que são: todos os conflitos têm solução; os conflitos se resolvem sozinhos; uma empresa sólida e atuante não tem conflito; depois de um conflito quase sempre haverá animosidade entre partes envolvidas; em um conflito haverá um ganhador e um perdedor. O autor relata ainda que se algo não for feito, possivelmente o cenário conflituoso não mudará para melhor, podendo se agravar caso sua administração não seja adequada. O conflito é passivo de transformação, apesar de muitas vezes apresentar aspectos complexos de resolução. A maneira como o gestor lida com esses conflitos direcionará os resultados, podendo estes agregar valores a organização ou proporcionarem prejuízos emocionais e financeiros. Segundo Berg (2011), o conflito é algo natural e inevitável, basta a presença de duas ou mais pessoas que compartilhem o mesmo espaço, seja ele no trabalho ou na vida pessoal. Teoricamente, os desentendimentos podem contribuir para a criatividade e crescimento dos envolvidos, fortalecendo as relações no ambiente de trabalho. A grande dificuldade é transformar essas diferenças em oportunidades, quando este cenário é mal gerenciado a consequência será o conflito, e este cria distanciamento psicológico e emocional entre as pessoas, gerando antagonismo, competição, alienação e desconsideração. “Um conflito não resolvido enfraquece o relacionamento, diminui a produtividade e interfere no desempenho das pessoas” (BERG, 2011, p.102-103). 5 MÉTODO V.7, nº1, Jan./Jul. 2014. 51 FOCO: revista de Administração e Recursos Humanos da Faculdade Novo Milênio. A presente pesquisa de natureza qualitativa foi realizada a partir de uma abordagem bibliográfica e também se valeu de dados levantados a partir de uma pesquisa de campo realizada na Empresa Construtora Lar. Foi desenvolvido um estudo de caso que contou com a participação de 15 colaboradores e um gestor, que responderam questões envolvendo o seu dia-a-dia e suas relações interpessoais. Os funcionários foram abordados por meio de questionário fechado contendo 18 questões relacionadas aos conflitos entre os próprios colaboradores e sobre seu gestor. Os questionários foram aplicados a cada indivíduo separadamente, não sendo necessária sua identificação, o que, a princípio, pode representar maior liberdade para o colaborador expressar suas percepções a respeito do problema. O gestor respondeu um questionário diferenciando, no qual em 17 questões fechadas ele pode avaliar seu modo de gestão e sua visão a respeito dos conflitos dentro da organização. Os resultados coletados entre os colaboradores e gestor no período de junho de 2014, foram analisados e interpretados a partir do escopo teórico. 6 RESULTADOS 6.1 – Visão dos Colaboradores Em primeiro lugar serão apresentados dados coletados entre os colaboradores, e posteriormente os dados fornecidos pelo gestor. Nesse sentido, observou-se com o questionário elaborado, que um cenário conflituoso é capaz de gerar diversos impactos que afetam os indivíduos de maneiras distintas. E quando os funcionários foram questionados sobre o que acontece com a motivação mediante um cenário conflituoso, a maioria, que representou 60% dos funcionários, afirmou que há alteração na motivação, 33% discordam e 7% acreditam que afete razoavelmente. Outro impacto costuma ser a queda de produção, e quando questionados sobre isso, 27% dos funcionários afirmaram que a produtividade diminui, 40% avaliaram que não e 33% apontaram queda razoável. Além da motivação, as relações também podem ser afetadas em consequência de um conflito, isso se comprova quando 53% dos funcionários, que representa a maior parte deles, V.7, nº1, Jan./Jul. 2014. 52 FOCO: revista de Administração e Recursos Humanos da Faculdade Novo Milênio. confirmam este relato. Entretanto, há ainda os que afirmam deixar as desavenças e manterem uma boa relação com os indivíduos envolvidos. Estes representam 40% dos colaboradores, já 7% deles, afirmam que as relações podem ser afetadas ou não, pois dependerá da gravidade do ocorrido. A confiança não fica por menos, pois naturalmente alguns envolvidos em conflitos deixam de confiar em seus colegas. Quando questionados, 47% afirmaram que há desgaste na confiança, 40% acreditam que não há, e 13% acreditam que a confiança é afetada razoavelmente. Outro ponto importante que o conflito afeta é a percepção e aceitação das ideias alheias, alguns indivíduos tendem a não compreender pontos de vista contrários aos seus. Em resposta, 40% dos participantes acreditam não possuir dificuldade, enquanto 33% admitem possuir e 27% possuem razoavelmente. De acordo com estudos, não só de impactos negativos é caracterizado o conflito; este costuma proporcionar algumas mudanças positivas para a empresa. E buscando averiguar este fato, foi questionado aos colaboradores, se acreditam em mudanças positivas e construtivas advindas de conflitos, de acordo com a realidade vivenciada por eles. Em resposta, 53% dos funcionários relataram que acreditam nessa possibilidade, 27% discordam e 20% acreditam que podem acontecer de maneira razoável. Essas mudanças, normalmente dependem de indivíduos que demonstrem potenciais e agreguem novas ideias para que haja a transformação do quadro negativo para o positivo. E quando perguntados sobre esses potenciais, 53% confirmaram que possuem, 20% não acreditam possuir e 27% possuem razoavelmente. Sabe-se que existem variados motivos que levam as pessoas a conflitarem entre si, em virtude disso, buscamos dentro da Empresa Construtora Lar os principais deles, permitindo que os colaboradores apontassem mais de um. Em resposta ao questionamento, apenas um colaborador acredita na atuação tardia ou inadequada por parte da gestão, dois mencionam a falta de capacitação de alguns colaboradores, 12 apontam a falha na comunicação, nove afirmaram que lentas respostas aos chamados ou solicitações também é um fator, três dos colaboradores apontaram os boatos, três apontaram os motivos pessoais levados ao trabalho, cinco acreditam que a falta de recursos também gera conflitos, um acredita que o ambiente seja inadequado e por isso se dá o início de alguns conflitos, sete apontam a falta de autonomia, quatro afirmam que a falta de clareza na definição das tarefas V.7, nº1, Jan./Jul. 2014. 53 FOCO: revista de Administração e Recursos Humanos da Faculdade Novo Milênio. também é um fator causador de conflitos e quatro optaram por outros motivos, mas não quiseram especificar. Para que os impactos sejam amenizados, estudos comprovam a importância de um intermediador de conflitos, neste caso, o gestor. Verificamos então, no ambiente da Empresa Construtora Lar se os colaboradores consideram importante a presença do gestor para solucionar algum tipo de conflito entre eles, e 60% dos questionados consideram importante sua presença, 27% disseram que não, e 13% consideram razoável a importância de sua atuação. O sucesso do intermédio feito pelo gestor depende de algumas condutas, então foi solicitado aos colaboradores que avaliassem a presença dessas em seu gestor. Quando perguntados se o gestor pratica a imparcialidade, voltando sua atenção para o problema e não para a pessoa, 60% dos funcionários confirmaram a presença desta conduta, 27% negaram e 13% acham que ele pratica razoavelmente. Além da imparcialidade, o gestor precisa analisar os fatos com cautela e buscar a melhor solução para todos os envolvidos. Sobre esta afirmação, 47% dos colaboradores relataram a presença desta conduta no gestor, 53% afirmaram que ele pratica razoavelmente e nenhum funcionário discordou. Outra prática é o estímulo da participação dos colaboradores de maneira igualitária. Em resposta, 47% confirmaram que o gestor adota esta conduta, 20% acham que não, e 33% afirmaram que ele pratica, mas nem sempre. Além disso, cabe ao gestor motivar e incentivar o conhecimento e crescimento dos funcionários. Em resposta a esta afirmação, 40% dos questionados relataram que o gestor se preocupa com este ponto, 20% relataram que não, e 40% são imparciais. Outra conduta relevante é saber ouvir e estimular a união do grupo. E quando perguntados sobre a capacidade de ouvir, 40% confirmaram a presença desta habilidade no gestor, 13% discordaram, e 47% demonstraram indecisão. Sobre trabalhar a união do grupo, 54% revelaram que o gestor se preocupa com esta questão, 13% não concordaram e 33% demonstram imparcialidade. Além das condutas positivas, existem também as que são recriminadas por alguns autores, como deixar que indivíduos resolvam seus conflitos sozinhos. E quando questionados sobre isso, 14% disseram que o gestor deixa os envolvidos se entenderem por conta própria, 33% relataram que não, e 53% acham que o gestor atua de modo razoável. Essas condutas, certamente fazem diferença no clima entre os colaboradores e consequentemente no ambiente da empresa como um todo. E V.7, nº1, Jan./Jul. 2014. 54 FOCO: revista de Administração e Recursos Humanos da Faculdade Novo Milênio. quando perguntados sobre o relacionamento com os demais colaboradores da empresa, nenhum dos funcionários avaliou como ruim, 6% apontaram como razoável, 47% avaliaram como bom, e 47% como ótimo, e sobre o relacionamento com o gestor 7% consideram razoável, 53% avaliam como bom, e 33% como ótimo. A partir da análise das relações interpessoais, consequentemente o ambiente de atuação pode ser avaliado. Os funcionários foram questionados sobre o ambiente da Empresa Construtora Lar, e em resposta, 7% consideram o ambiente ruim, 13% afirmam ser razoável, 67% avaliaram como bom, e 13% como ótimo. 6.2 – Visão do Gestor Além da aplicação do questionário direcionado aos colaboradores, o gestor também foi ouvido, e isso é significativo por proporcionar que todos os principais integrantes de um ambiente interno organizacional sejam considerados em uma avaliação sobre conflitos interpessoais no ambiente organizacional. Mediante uma situação conflituosa envolvendo seus subordinados, o gestor acredita que há alteração razoável na motivação dos envolvidos, bem como média alteração na produtividade. Ainda relata não haver grande comprometimento entre a comunicação dos envolvidos e percebe pouco desgaste da confiança entre eles. Além disso, acredita que os conflitos podem gerar mudanças positivas ou construtivas para a empresa e para os próprios colaboradores, já que nestas situações os indivíduos demonstram potenciais e criatividades, trazendo novas ideias para a empresa. Em relação ao seu método de gerir, o gestor acredita estimular igualmente a participação de todos os colaboradores nas atividades ligadas à organização, além de motivar e incentivar o conhecimento e crescimento de todos eles. Revela sobre sua capacidade de ouvi-los, e ainda relata que trabalha a união do grupo todo. Quando ocorre um conflito no ambiente de trabalho, considera importante sua presença como intermediadora dos conflitos, sendo imparcial, voltando sua atenção para o problema e não para a pessoa envolvida. Dependendo da situação, deixa que os indivíduos se entendam por conta própria. Além disso, analisa os fatos com calma e busca a melhor solução tanto para os envolvidos quanto para a empresa, pois acredita que sua conduta tenha influência significativa no clima existente entre os colaboradores. Em busca de um bom desempenho das tarefas, bom relacionamento entre o V.7, nº1, Jan./Jul. 2014. 55 FOCO: revista de Administração e Recursos Humanos da Faculdade Novo Milênio. grupo e todos os envolvidos, o gestor se preocupa em construir um ambiente onde haja confiança, sinceridade e divisão de responsabilidades. Avalia como ótimo seu relacionamento com todos os colaboradores e como bom o ambiente de sua empresa. De acordo com relatos do gestor, sua conduta dentro da organização é adequada, e sua visão sobre o ambiente da empresa Construtora Lar é positiva, incluindo as relações interpessoais. Isso se confirma através dos relatos obtidos pela maioria dos colaboradores, que ratificaram os relatos do gestor. Entretanto, em sua minoria, existiram opiniões contraditórias e indefinidas. De acordo com a maioria, observou-se que as relações são preservadas e as condutas entre o gestor e demais colaboradoras são adequadas. 7 DISCUSSÃO Como citado por Lederach (2012, p. 38), “O conflito atinge o bem-estar físico, a autoestima, a estabilidade emocional, a capacidade de percepção clara e a integridade espiritual”. Outra característica negativa também citada por Martinelli e Almeida (1998, p. 48) é que além de desperdiçar energia que deveria ser empregada à dinâmica da empresa, os envolvidos acabam prejudicando a comunicação e o repasse de informações, escolhendo os indivíduos com os quais se relacionam, dando preferencia aqueles que concordam com suas ideias. Pickering (1999, p. 5), lista a diminuição da produtividade; o desgaste da confiança e o sigilo e redução no fluxo de informações como alguns exemplos dos potenciais negativos do conflito. Estas citações foram comprovadas no questionário aplicado aos funcionários da Empresa Construtora Lar, no qual a maioria demonstrou alteração na motivação, comprometimento na comunicação e desgaste da confiança. Já o gestor avalia que nem sempre ocorrem essas alterações. Entretanto, sobre a motivação e aceitação de ideias contrárias, a maioria dos questionados relataram não haver alteração mediante uma situação conflituosa, e o gestor considerou razoável alteração na motivação. Analisando o conflito por outro aspecto, Lederach (2012, p. 31), acredita na possibilidade de sua transformação, afirmando que este traz um potecial para V.7, nº1, Jan./Jul. 2014. 56 FOCO: revista de Administração e Recursos Humanos da Faculdade Novo Milênio. mudanças construtivas. Para que esta transformação ocorra, é importante que os indivíduos demonstrem seus potenciais e criatividade, trazendo novas ideias para a organização. Sobre este relato, tanto o gestor quanto a maioria dos funcionários concordam com essa ideia. Utilizar condutas adequadas para resolver ou evitar situações conflituosas, é indispensável. Pickering (1999, p 53-57) nos ajuda a compreender tais condutas, quando cita que o líder precisa motivar a participação de maneira igual. O gestor da empresa Construtora Lar, afirmou adotar este procedimento, e 40% dos funcionários estão de acordo com esta afirmação, outros 40% foram imparciais e apenas 20% foram contra. Uma das condutas de resolução de um conflito por parte de um gestor é focalizar o problema e não a pessoa. Pickering (1999, p 53-57), relata que “Quando a pessoa e o problema são vistos como uma coisa só, o problema toma uma dimensão completamente nova [...]”, normalmente acarretando impactos negativos. Diante deste fato, o gestor confirmou a prática desta conduta, que foi comprovada por mais da metade dos questionados. Também é importante que o gestor pratique a capacidade de ouvir ativamente, pois quando não realizada adequadamente, torna-se a principal causa do conflito. O gestor afirmou possuir esta capacidade, diferentemente da maioria dos funcionários, que apontou razoabilidade nesta aptidão do gestor. As condutas adotadas por este, influenciam o clima existente entre os colaboradores, e para um reflexo positivo é necessário que este construa um ambiente favorável às relações (PICKERING, 1999), deste modo os funcionários e gestor, avaliaram os relacionamentos e o ambiente da empresa Construtora Lar. Sobre os relacionamentos entre os colaboradores e gestor, apenas 7% dos funcionários relataram um relacionamento ruim, já o gestor mostrou-se otimista quanto às relações, assim como os demais. No final do questionário, após as análises realizadas por todos os integrantes da Empresa Construtora Lar, foi percebido através das respostas obtidas, que o ambiente em questão, foi considerado “bom” pela maioria, incluindo o gestor. 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS Conflitos são presenciados na vida pessoal, no trabalho, nas escolas ou em qualquer outro local, e dificilmente são eliminados por completo. Ainda que o intermediador use excelentes técnicas, sempre existirão contradições de ideias que levarão indivíduos a se desentenderem, e quando isso ocorre em uma organização, V.7, nº1, Jan./Jul. 2014. 57 FOCO: revista de Administração e Recursos Humanos da Faculdade Novo Milênio. os prejuízos podem ser ainda maiores, contudo, a conduta adotada para evitar ou impedir que os conflitos aconteçam, definirá as proporções dos possíveis impactos. Através dos estudos realizados em busca de comprovações referentes ao tema escolhido, foi possível observar na prática os relatos dos autores mencionados neste artigo e apesar de algumas contradições, observou-se que a maioria dos funcionários da Empresa Construtora Lar, bem como o gestor, possuem uma ótica positiva em relação à organização. Sabe-se que existe uma margem de erro quanto aos dados coletados por conta das possíveis inibições de alguns funcionários, entretanto, de modo geral acreditamos na veracidade de grande parte das informações obtidas, em função do método adotado para desempenho da pesquisa. REFERÊNCIAS BERG, E. A. Administração de Conflitos: abordagens práticas para o dia a dia. Curitiba: Juruá, 2011. BURBRIDGE, R. M.; BURBRIDGE, A. Gestão de conflitos: Desafio do mundo corporativo. São Paulo: Saraiva, 2012. CARVALHAL, E.; NETO, A. A.; ANDRADE, G. M.; ARAÚJO, J. V. Negociação e administração de conflitos. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. LEDERACH, J. P. Transformação de conflitos. São Paulo: Palas Athena, 2012. MARTINELLI, D. P.; ALMEIDA, A. P. Negociação e solução de conflitos: Do impasse ao ganha-ganha através do melhor estilo. São Paulo: Atlas, 1998. PICKERING, P. Como Administrar Conflitos Profissionais: Técnicas para transformar os conflitos em resultados. São Paulo: Market Books, 1999. ROBBINS, S. P. Comportamento Organizacional. 9ª ed. São Paulo: Pentice Hall, 2002. TORRE, D. M. B. L. O homem e a Sociedade: Uma introdução À Sociologia. 15ª ed. São Paulo: Editora Nacional, 1989. V.7, nº1, Jan./Jul. 2014. 58