NIGÉRIA

Transcrição

NIGÉRIA
CONFISSÕES RELIGIOSAS
● Muçulmanos 92.9%
● Animistas 6.6%
● Cristãos 0.4%
Católicos 0.1% / Protestantes 0.1% / Outros 0.2%
● Outros 0.1%
SUPERFÍCIE
1.267.000 Km²
POPULAÇÃO
15.207.000
DESALOJADOS
302
REFUGIADOS
11.000
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NIGÉRIA
Aspectos institucionais legais
A Constituição nigeriana reconhece a liberdade religiosa, incluindo o direito de cada
pessoa a expressar e promover as suas crenças religiosas e o direito a converter-se a
outras religiões. O Artigo 38, Secção 1, diz: “Cada pessoa tem direito à liberdade de
pensamento, consciência e religião, incluindo a liberdade de alterar a sua religião ou
crença, e a liberdade (seja isoladamente ou em comunidade com outros, em público
ou em privado) de manifestar e propagar a sua religião ou crença através do culto, do
ensino, da prática e da observância.”
O Artigo 10 diz: “O Governo da Federação ou de um estado não adoptará qualquer
religião como Religião Oficial.” Contudo, a Nigéria é membro da Organização da Conferência Islâmica (OCI) e, desde Outubro de 1999, doze dos trinta e seis estados da
federação nigeriana (Bauchi, Borno, Gombe, Jigawa, Kaduna, Kano, Katsina, Kebbi,
Níger, Sokoto, Yobe e Zamfara, todos no Norte) começaram a impor os princípios da
sharia (lei do Corão), não apenas na área da lei da família, como era o caso até então,
mas também na lei criminal. Isto significou a introdução de novas proibições e punições
como a flagelação, a amputação e a execução pelo apedrejamento.
Pelo menos cinco estados (Bauchi, Zamfara, Níger, Kaduna e Kano) criaram uma polícia
religiosa, a hisbah, para impor a sharia na vida diária. Nalguns casos, têm sido acusados
de impor a lei de maneira abusiva (por exemplo, apreendendo bebidas alcoólicas sem
justificação).
Em princípio, a lei civil e criminal da sharia não pode ser imposta a não muçulmanos.
As leis de apostasia islâmicas também não se aplicam a outras religiões. Contudo, a vida
dos não muçulmanos no Norte da Nigéria tem sido afectada pela lei da sharia de muitas
maneiras, sobretudo em termos de restrições ao consumo e distribuição de bebidas
alcoólicas, bem como à segregação e discriminação das mulheres nos transportes
públicos, escolas e clínicas.
Os estados que impõem a sharia de maneira liberal financiam a construção de mesquitas e peregrinações a Meca, mas são menos generosos com os edifícios religiosos
cristãos ou com as peregrinações a Jerusalém. Muitas igrejas cristãs no Norte e alguns
grupos muçulmanos no sul do país têm-se queixado de que as autoridades locais aplicam
as leis de planeamento do território de tal forma que os impedem de construir os seus
próprios locais de culto.
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Diálogo inter-religioso
A Associação Cristã da Nigéria (CAN) é o principal grupo cristão ecuménico da Nigéria.
Funciona como uma organização-mãe para defender os direitos cristãos e promover as
relações inter-religiosas com os muçulmanos.
Nos últimos anos, o Conselho Inter-Religioso Nigeriano (NIREC) emergiu como o fórum
mais importante para a cooperação e paz entre religiões. Tem cinquenta membros, vinte
e cinco muçulmanos e vinte e cinco cristãos, e é co-presidido pelo presidente da CAN
e pela maior autoridade muçulmana do país, o Sultão de Sokoto. Infelizmente, em 2011
só reuniu uma vez, por comparação com os encontros trimestrais dos anos anteriores.
Do lado positivo, os governadores dos estados do norte e do centro incentivaram os
encontros inter-religiosos no seguimento dos incidentes sectários, para impedir que estes
voltassem a acontecer. Em Kano e Kaduna, eminentes líderes muçulmanos visitaram
líderes cristãos ameaçados pela Boko Haram, bem como lugares de culto cristãos, em
solidariedade após estes terem sido atacados por esta organização terrorista islâmica
extremista.
Durante os protestos contra a subida dos preços do combustível, os cristãos protegeram
os muçulmanos durante os seus encontros de oração. Mulheres cristãs e muçulmanas
protestaram em conjunto em Maiduguri, no estado de Bauchi, contra acções por parte
da Boko Haram, que é particularmente activo na zona.
Intolerância e discriminação
Os actos de intolerância e discriminação religiosa mais generalizados têm sido os
sofridos pelas várias comunidades cristãs nos estados mais islamizados da Nigéria
(quase invariavelmente os doze estados que impuseram a lei da sharia). Exemplos
deste tratamento incluem: acusações falsas de blasfémia contra o Islão, resultando em
estudantes e professores cristãos a serem forçados a sair de escolas onde estudavam
ou nas quais ensinavam; recusa de autorizações de construção de locais de culto e
cemitérios cristãos, demolição de igrejas consideradas ilegais; rapto e ‘conversão’ forçada
de cristãos adolescentes, sobretudo raparigas, que são depois ‘casadas’ com homens
muçulmanos; discriminação anti-cristã no emprego no sector público e na prestação de
serviços públicos; intimidação e ameaças de morte contra muçulmanos que se convertem
ao Cristianismo; cristãos postos em julgamento perante tribunais de lei islâmica mesmo
que eles não estejam sob a jurisdição destes tribunais; imposição da maneira de vestir
islâmica para estudantes cristãs do sexo feminino nas escolas estatais; e a manipulação
de critérios de admissão para escolas e universidades estatais a favor dos muçulmanos.
Membros da tribo Maguzawa, uma tribo da etnia Hausa, suportaram intensa discriminação porque, ao contrário de outras tribos Hausa, eles não são muçulmanos.
Considerados como “pertencentes” aos estados do Norte sob lei nigeriana, seguem as
religiões tradicionais ou várias formas do Cristianismo. Por esta razão, são excluídos do
emprego no sector público e das escolas estatais, pois não abraçam o Islão.
Actos de violência inspirados na religião
De 1999 até ao fim de 2011, 14.000 nigerianos morreram em confrontos entre
muçulmanos e cristãos. Na semana que se seguiu à eleição de 16 de Abril de 2011,
pelo menos 800 pessoas foram mortas e 65.000 foram forçadas a deixar as suas casas,
muitas das quais foram destruídas devido aos distúrbios que rebentaram nos estados
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O terrorismo da Boko Haram
Os ataques terroristas da Boko Haram cresceram exponencialmente em 2011. Os
seus principais alvos foram as instituições federais e estatais e o seu pessoal, bem como
igrejas cristãs e residentes cristãos nos estados do centro e do norte. O seu objectivo
declarado é eliminar todos os vestígios do Cristianismo no território nigeriano.
Imediatamente após ter realizado ataques contra igrejas em cinco cidades no dia de
Natal, a Boko Haram emitiu uma declaração ordenando que todos os cristãos abandonassem os estados do centro e do norte da Nigéria no prazo de três dias ou que esperassem
a morte. Depois de ter passado o prazo, os ataques foram retomados. Mesmo alguns
líderes muçulmanos tradicionais que criticaram abertamente o grupo estiveram na mira
da organização. Três foram mortos.
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do norte depois de Goodluck Jonathan, um cristão do sul, ter derrotado Muhammadu
Buhari, um muçulmano do norte.
Violência pós-eleição em Abril de 2011
Apesar de a violência que se seguiu às eleições presidenciais de 16 de Abril ter
aparentemente tido motivos políticos, ela também é uma violação grave da liberdade
religiosa, ao ponto de as pessoas que foram atacadas devido à sua religião e lugares
de culto terem sido objecto de ataques destrutivos. A CAN relatou que pelo menos 430
igrejas foram danificadas ou destruídas. No anterior estado tranquilo de Kaduna, muitos
muçulmanos também estiveram entre as vítimas.
A situação nos estados da Cintura Central (Middle Belt)
Ao longo de 2011, a violência sectária em grande escala irrompeu nos estados da
Cintura Central ou Middle Belt, sobretudo na cidade de Jos, capital do estado do Planalto,
onde os cristãos e os muçulmanos ficaram agora totalmente separados e onde o menor
incidente de natureza pessoal entre pessoas de diferentes religiões pode desencadear
violência em grande escala e um ciclo de retaliações.
Nas zonas rurais do estado do Planalto, os pastores muçulmanos da etnia Fula
realizaram repetidos raides contra camponeses cristãos da etnia Berom, chegando até
aos arredores da cidade de Jos. Só na área de Tafewa Belawa, mais de setenta cristãos
foram mortos em vinte e três ataques.
Ataques mortíferos
Em 2010, a Boko Haram interrompeu as celebrações da véspera de Natal atacando
locais cristãos em Maiduguri e Jos, respectivamente as capitais dos estados de Borno
e do Planalto. Neste último caso, os ataques desencadearam uma série de retaliações
que, durante o decorrer de Janeiro de 2011, fizeram cerca de 200 mortos cristãos e
muçulmanos.
Perto de Maiduguri, os ataques a 24 de Dezembro, contra a Igreja Baptista Vitória
em Alemderi e a Igreja de Cristo da Nigéria (COCIN) em Sinimari, tiraram a vida de seis
pessoas, incluindo o Reverendo Bulus Marwa, um pastor baptista1.
No mesmo dia, 24 de Dezembro, quatro bombas explodiram em dois bairros cristãos
de Jos, matando vinte e oito pessoas. Em retaliação, oito jovens muçulmanos foram
mortos a 7 de Janeiro na aldeia cristã de Barkin Ladi. No dia seguinte, gangues de
Compass Direct News, 28 de Dezembro de 2010
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jovens muçulmanos atacaram comerciantes cristãos no mercado de Dilimi e ao longo
da estada de Bauchi para Jos.
As vítimas, quarenta e oito de acordo com fontes da comunidade Ibo, foram golpeadas até à morte com catanas e facas ou queimadas vivas. No mesmo dia, pelo menos
catorze muçulmanos foram mortos em Jos e nos arredores. Alguns foram capturados
em postos de controlo improvisados. Autocarros foram obrigados a parar e as vítimas
separadas dos outros passageiros.
A 10 de Janeiro de 2011, homens armados atacaram a aldeia cristã de Wareng, a sul de
Jos, onde queimaram casas e mataram onze residentes, quatro mulheres e sete crianças.
De acordo com líderes muçulmanos e cristãos em Jos, dezenas de pessoas desapareceram em Janeiro de 2011, sobretudo condutores de táxis em motorizadas. De acordo
com esta lista, quarenta e dois deles eram muçulmanos e cinquenta e um eram cristãos2.
Raides nocturnos às aldeias cristãs de Farin Lamba e Fan provocaram oito mortos
na segunda metade de Janeiro. Noutras aldeias locais, treze pessoas foram mortas em
cinco ataques durante as duas semanas anteriores3.
Na noite de 26-27 de Janeiro, homens armados atacaram quatro aldeias cristãs na
zona governamental local de Barkin Ladi, matando catorze pessoas. Forças Especiais do
Exército capturaram vinte e nove atacantes e mataram dois deles. Um polícia da capital
federal de Abuja foi o líder dos atacantes armados.
Entre 28 e 30 de Janeiro, estudantes cristãos e muçulmanos entraram em confrontos
no campus da Universidade de Jos. Quatro pessoas morreram e vinte ficaram feridas,
algumas quando o Exército interveio.
A violência no estado do Planalto também levou a protestos por parte de grupos
cristãos que se queixam da fraca protecção policial ou mesmo de cumplicidade da
polícia com os atacantes. A 31 de Dezembro, milhares de mulheres cristãs realizaram
uma marcha em Jos para protestarem contra membros da Força de Intervenção Especial,
a quem acusam de estar ao lado dos extremistas muçulmanos.
“Deploramos quaisquer instâncias em que soldados muçulmanos ajudaram ou participaram no ataque a aldeias”, dizia o anúncio de jornal publicado a 24 de Janeiro pela Zona
Centro-Norte da Pentecostal Fellowship of Nigeria (PFN), e assinado pelos Reverendos
J. K. Katung e S. Dangana, respectivamente vice-presidente nacional e secretário do
PFN. “Num estado de domínio cristão como é o Planalto, perguntamo-nos porque é que
toda a estrutura de comando da polícia estatal deve ser encabeçada por muçulmanos.”
Numa declaração a 23 de Janeiro, os Reverendos Mwelbish Dafes e Chuwang Davou,
respectivamente presidente e secretário da sucursal da CAN (a Associação Cristã da
Nigéria) no estado do Planalto, disseram: “Parece não haver nenhuma tentativa séria de
lidar adequadamente com a situação, seja prevenindo futuras ocorrências ou processando
devidamente os agressores, de modo a que isso sirva de dissuasão para outros.”
De modo mais geral, os líderes cristãos notaram que a segurança não tinha sido reforçada, embora os ataques da véspera de Natal tivessem sido anunciados antecipadamente4.
2
Human Rights Watch, 27 de Janeiro de 2011
3
allafrica.com, 24 de Janeiro de 2011
4
Compass Direct News, 4 de Fevereiro de 2011
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Outros nove cristãos de várias idades foram mortos de noite, entre 10 e 12 de Fevereiro,
perto de uma escola agrícola em Kuru e na aldeia de Shekan, ambas próximo de Jos5.
Entre 27 de Janeiro e 1 de Fevereiro, confrontos nas zonas governamentais locais
de Tafawa Balewa e Bogoro, no estado de Bauchi, fizeram noventa e seis mortos,
sobretudo cristãos. Cinco mil pessoas ficaram sem casa. Uma discussão entre vizinhos
cristãos e muçulmanos levou um grupo de cristãos a atacar cinco mesquitas e as casas
de cinquenta residentes muçulmanos, levando a uma reacção muçulmana em massa.
Foram buscar armas escondidas em depósitos secretos e trouxeram mercenários. Esta
foi a quinta vez desde 1991 que incidentes sectários irromperam em Tafawa Balewa6.
A 10 de Março, mais incidentes foram relatados em Tafawa Balewa, resultando na
destruição de treze igrejas e 450 casas, com mais 5.000 pessoas obrigadas a fugir7.
A 20 de Março, dois ataques contra igrejas falharam em Jos. Dois atacantes perderam
a vida quando explodiu uma bomba que tinham planeado detonar perto da Igreja de
Cristo da Nigéria, na área de Nasarawa Gwom. Outra bomba foi desactivada perto da
Igreja da Montanha em Chamas. No mesmo dia, três cristãos foram esfaqueados até à
morte e seis foram feridos8.
Entre 16 e 20 de Abril, a violência varreu pelo menos dez estados do Norte da Nigéria,
no seguimento da reeleição do Presidente Goodluck Jonathan, um cristão do Sul. Multidões
de jovens muçulmanos simpatizantes do candidato derrotado, o General Muhammadu
Buhari, atacaram casas, lojas e lugares de culto pertencentes aos simpatizantes do
candidato vencedor, sobretudo cristãos, e pegaram-lhes fogo. Pelo menos 200 igrejas
cristãs foram destruídas ou gravemente danificadas.
Duas igrejas protestantes foram incendiadas em Kaduna e Zaria, onde um homem
foi morto quando tentava parar a destruição de uma igreja. Duas outras igrejas foram
incendiadas em Wusasa, cinco em Katsina e um número não especificado em Kano. No
estado de Gombe, estudantes muçulmanos atacaram igrejas e vigararias, bem como
estabelecimentos cristãos. O Bispo Anglicano Henry Ndukuba teve de ser salvo por duas
brigadas de polícia anti-motim9.
Cinco igrejas e a casa de um pastor foram destruídas no estado de Zamfara, incluindo
a Igreja Católica de São Judas. A Igreja de São Vicente Ferrer, em Gusau, foi também
gravemente danificada. As irmãs dominicanas que trabalhavam na igreja tiveram de fugir
e refugiar-se na aldeia vizinha10.
Cerca de 300 cristãos foram alegadamente chacinados só no estado de Kaduna,
com 14.000 forçados a abandonarem as suas casas no seguimento dos ataques. No
estado de Katsina, sessenta e cinco igrejas foram queimadas ou danificadas, incluindo
algumas igrejas católicas como São Gabriel em Daura e Santa Teresa em Funtua, ambas
completamente destruídas. Uma clínica gerida por uma paróquia em Malumfashi foi
também incendiada e as camas da ala principal foram destruídas. Mais de 100 homens,
mulheres e crianças cristãos da cidade fronteiriça de Jiba tiveram de fugir para o país
ICC www.persecution.org, 14 de Fevereiro de 2011
5
Compass Direct News, 15 de Fevereiro de 2011
6
Release International, 22 de Março de 2011
7
The Christian Post, 21 de Março de 2011
8
International Christian Concern, 21 de Abril de 2011
9
The Nigerian Voice, 20 de Abril de 2011
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vizinho, o Níger. Outros fugiram para os estados do Sul, de onde tinham vindo. Sete
cristãos foram mortos e muitos foram feridos.
No estado de Bauchi, vinte e oito cristãos, incluindo o Rev. Isman Dogari da Igreja
Evangélica da África Oriental, foram mortos, enquanto setenta e oito edifícios de igrejas
e outros imóveis foram incendiados entre 16 e 19 de Abril. No estado de Gombe, trinta e
oito cristãos foram assassinados, dezassete igrejas e vinte e sete casas foram incendiadas
e onze carros foram queimados. Dezassete igrejas foram queimadas em Hadeija e sete
em Jahun, ambas no estado de Jigawa.
Os líderes cristãos pediram uma investigação federal à violência pós-eleitoral. “A
violência foi política e religiosa, porque os cristãos, as nossas igrejas e edifícios foram os
principais alvos da destruição por parte dos agressores”, disseram Peter Jatau e Saidu
Dogo, respectivamente presidente e secretário da sucursal norte da Associação Cristã
da Nigéria (CAN), num comunicado de imprensa a 30 de Abril.
Presente em dezanove estados do Norte, a CAN sente “que chegou o momento de
o Governo federal dar passos decisivos para pôr um fim na carnificina que persiste no
Norte, sob a aparência de fanatismo religioso, de modo a trazer os agressores perante
a justiça”.
O Bispo Jonas Katung, vice-presidente nacional da zona central norte da Pentecostal
Fellowship of Nigeria, disse, num comunicado emitido a 29 de Abril, que os ataques
pós-eleitorais foram “uma descida à barbárie” na qual os cristãos do Norte foram o alvo
e foram sujeitos a actos horrendos e sem piedade11.
A violência pós-eleitoral foi condenada pelas mais altas autoridades religiosas do
país, incluindo o Presidente Nacional da CAN, Rev. Ayo Oritsejafor, e o Sultão de Sokoto,
Alhaji Sa’ad Abubakar.
Numa declaração conjunta do Conselho Inter-Religioso da Nigéria (NIREC) os dois
disseram: “Recorrer à violência é uma interpretação ridícula dos nossos ensinamentos
religiosos e uma traição da nossa reivindicação de fé […] O NIREC implora a todos os
nigerianos que explorem os significados constitucionais da procura de reparação […]
em vez de tomarem a lei nas suas próprias mãos.” 12
Nalguns casos, os ataques desencadearam represálias por parte de grupos de jovens
cristãos, que causaram a morte entre muçulmanos e danos aos seus bens.
Em Dengi (no estado do Planalto), a 29 de Abril, um gangue muçulmano atacou e
destruiu uma igreja pertencente à Igreja Evangélica Winning All (ECWA), uma loja cristã
de música e as casas de cinco famílias cristãs de diferentes congregações. Os atacantes
tinham-se queixado anteriormente de que a loja de música perturbava as suas orações.
Na noite de 4 de Maio, um gangue de extremistas muçulmanos atacou a aldeia de
Kurum, na província de Bogor (estado de Bauchi). Incendiaram vinte casas cristãs e
mataram dezasseis pessoas com catanas e armas de fogo. Os mortos incluíam um
homem, três mulheres e doze menores, alguns dos quais muito jovens. Várias vítimas eram
membros da família do Rev. James Musa Rike, da Igreja de Cristo da Nigéria (COCIN),
nomeadamente a sua mulher Dune James Rike (35 anos) e dois filhos, Sum James Rike
(13 anos) e Fyali James Rike (1 ano). Ele deu conforto espiritual à sua mulher e filha
Compass Direct News, 3 de Maio de 2011
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Eni News, 20 de Abril de 2011
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Sum enquanto elas jaziam às portas da morte depois de terem sido deliberadamente
esfaqueadas no estômago13.
A 1 de Junho e novamente a 7 de Junho, terroristas atacaram a Igreja Católica de
São Patrício em Maiduguri (no estado de Borno), deitando bombas que mataram dez
pessoas. A 1 de Junho, além da igreja católica, outros locais foram atacados, matando
catorze pessoas. Mais tarde, catorze suspeitos foram detidos.
Também em Maiduguri, terroristas da Boko Haram levaram a cabo um ataque a 7 de
Junho que matou o Rev. David Usman (45 anos) e Hamman Andrew, respectivamente
pastor e secretário da congregação da Igreja de Cristo da Nigéria (COCIN) da zona de
Railways Quarters. O Rev. Usman tinha criticado as acções terroristas da Boko Haram
contra igrejas cristãs no estado de Borno14.
Na tarde de 16 de Junho, militantes da Boko Haram atacaram uma congregação
da Igreja dos Irmãos em Damboa, a 87 km de Maiduguri, causando a morte de quatro
pessoas15.
A 10 de Julho, terroristas da Boko Haram lançaram uma bomba a uma igreja da All
Christian Fellowship Mission em Suleja, no estado do Níger, quando os crentes estavam
a sair de um serviço religioso. Três foram mortos16.
Na noite de 30 de Julho e na manhã de 31 de Julho, três bombas explodiram perto
de três igrejas num bairro predominantemente muçulmano na cidade de Jos (no estado
do Planalto). Uma bomba atingiu o edifício de uma igreja baptista na área de Angwan
Rimi que já não estava em uso por causa de um ataque prévio. Uma segunda bomba
explodiu perto de uma Igreja de Cristo da Nigéria (COCIN), local de culto na Rua Sarkin
Mangu. Uma terceira bomba atingiu um santuário da Assembleia de Deus na área de
Kwarrarafa17.
Muitas testemunhas afirmaram que os extremistas muçulmanos que causaram a
morte a vinte e quatro cristãos numa série de ataques contra aldeias no estado central
do Planalto a meio de Agosto estavam a agir com o apoio de membros do Exército.
Seis cristãos na aldeia de Ratsa Foron morreram em dois ataques, um a 11 de Agosto
e outro a 15 de Agosto. Também a 15, extremistas muçulmanos mataram nove membros da mesma família cristã juntamente com outro cristão na aldeia de Heipang. Um
sobrevivente da família chacinada testemunhou sob juramento que soldados do Exército
tinham participado no ataque.
A 14 de Agosto, extremistas muçulmanos mataram dois cristãos e feriram uma mulher
na comunidade de Chwelnyap, perto de Jos. Testemunhas oculares confirmaram que
elementos muçulmanos dentro da Força de Intervenção Especial (STF) do Exército, uma
unidade criada para proteger a lei e a ordem, e acabar com a violência sectária, tinham
participado no ataque.
Os soldados foram igualmente acusados de participar aberta ou tacitamente nos
ataques de 20-21 de Agosto, levados a cabo por extremistas muçulmanos nas aldeias
de Kwi, Loton e Jwol, que fizeram mais seis mortos cristãos18.
Compass Direct News, 10 de Maio de 2011
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Compass Direct News 10 de Junho de 2011
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Compass Direct News, 13 de Julho de 2011
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Compass Direct News, 19 de Julho de 2011
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Compass Direct News, 2 de Agosto de 2011
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Compass Direct News, 28 de Agosto de 2011
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Nas primeiras horas de 21 de Agosto, extremistas muçulmanos entraram na aldeia cristã
de Fadiya Bakut na zona governamental local de Zango-Kataf. Uma dúzia de muçulmanos
ou mais do vizinho Níger atacaram casas locais, matando um adulto e uma criança de
10 anos, Fidelis Iskaku, e feriram mais três pessoas, incluindo uma idosa de 70 anos19.
A 27 de Agosto, Mark Ojunta foi morto a tiro na capital do estado de Borno, Maiduguri.
Ele era um pastor evangélico de 36 anos que pertencia aos Calvary Ministries (CAPRO),
uma organização protestante nigeriana especializada na evangelização entre os muçulmanos. Depois de receber ameaças de morte da Boko Haram, todo o pessoal do CAPRO
a trabalhar entre os povos Shuwa Arab, Kotoko e Kanuri, bem como as suas famílias,
foi evacuado. Contudo, Mark Ojunta tinha regressado para ensinar alguns catecúmenos
do povo Kotoko. O seu nome estava numa lista de sacerdotes protestantes que a Boko
Haram tinha condenado à morte20.
A 29 de Agosto, vinte pessoas foram mortas em Jos durante um confronto sectário,
depois de ter irrompido uma luta com facas e catanas após alguns muçulmanos terem
organizado orações públicas para marcar o Ramadão num bairro predominantemente
cristão. Cerca de cinquenta viaturas e 100 motorizadas foram destruídas21.
A 4 de Setembro, extremistas muçulmanos atacaram a aldeia de Tatu perto de Heipang,
matando oito cristãos, todos membros da mesma família (Chollom Gyang, a sua mulher
Hannatu e os seus seis filhos, incluindo um filho de 3 anos). As vítimas foram mortas e
depois esquartejadas com catanas.
Na aldeia de Zakalio, na zona governamental local do Norte de Jos, cerca das 2
horas da manhã de 5 de Setembro, extremistas muçulmanos mataram sete cristãos.
No mesmo dia, outro grupo de atacantes muçulmanos invadiram as comunidades de
Dabwak Kuru e Farin Lamba nas zonas governamentais locais do Sul de Jos e de Riyom,
matando quatro cristãos.
A 8 de Setembro, extremistas muçulmanos atacaram a aldeia de Tsohon Foron, matando
dez cristãos, todos membros da família de Danjuma Gyang Tsok. Os sobreviventes
disseram que os atacantes foram ajudados por membros das forças armadas nigerianas.
Na noite de 9 de Setembro, um grupo misto de soldados e civis muçulmanos atacou
casas cristãs na aldeia de Vwang Kogot, matando catorze pessoas, incluindo uma mulher
grávida. Muitas das vítimas eram provenientes da mesma família: Mallam Danboyi, Zaka
Danboyi, Ngyem Danboyi, Hjan Badung, Naomi Gyang, Rifkatu (15 anos), Patience (9
anos), Ishaku (5 anos), Nerat (4 anos), Dauda Badung (22 anos), Martha Dauda (20 anos),
Mary Dauda (6 anos), Isaac Dauda (4 anos) e Mafeng Bulus (18 anos), que estava grávida.
A 10 de Setembro, extremistas muçulmanos atacaram a aldeia de Vwang Fwil cerca
das 3 horas da manhã, matando treze cristãos. Os mortos incluíram Danjuma Gyang
Tsok, Polohlis Mwanti, Perewat Polohlis (9 anos), Patience Polohlis (3 anos), Blessing
Polohlis (5 anos), Paulina Pam (13 anos), Maimuna Garba, Kale Garba, Hadiza Garba (10
anos) e Aisha Garba (3 anos)22.
Extremistas muçulmanos mataram três cristãos e feriram outros oito durante a noite
a 17 de Setembro na aldeia de Ungwan Rana Bitaro, na província de Jaba (estado de
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Compass Direct News, 31 de Agosto de 2011
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Compass Direct News, 17 de Outubro de 2011
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African Spotlight, 29 de Agosto de 2011
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Compass Direct News, 22 de Setembro de 2011
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Kaduna). Os quinze ou mais atacantes arrastaram as vítimas para fora das suas casas e
depois mataram-nas a tiro antes de as chacinarem com catanas. As vítimas eram Monday
Hassan (55 anos), a sua filha Godiya (13 anos) e o seu sobrinho Istifanus Daniel (35 anos).
Na noite de 22 de Setembro, terroristas da Boko Haram mataram cinco donos cristãos
de lojas na vila de Madala, no estado do Níger. Os atacantes ordenaram às vítimas que
recitassem versos do Corão. Os mortos incluíam Sunday Emmanuel, John Kalu, Uche
Nguweze, Oliver Ezemah e um quinto cristão que não foi imediatamente identificado23.
A 3 e 4 de Novembro, extremistas muçulmanos atacaram duas aldeias perto de
Zonkwa, no estado de Kaduna, matando três pessoas e ferindo doze. Os principais alvos
foram as aldeias de Tabak 1, onde a Igreja Católica de S. José foi atacada, e a aldeia de
Kurmin-Bi. Em ambos os casos, os ataques aconteceram por volta das 10 horas da noite.
No primeiro incidente, foram mortas duas mulheres, Justina Zugwai (28 anos) e Hassana
Luka (39 anos). No segundo incidente, foi morto um homem chamado Hassan Peter24.
Às cinco horas da tarde de 4 de Novembro, um gangue com mais de 200 membros
da Boko Haram irrompeu pela cidade de Damaturu, no estado de Yobe, visando as
esquadras de polícia, uma base do Exército e bancos. Em Nova Jerusalém, a parte
predominantemente cristã da cidade, onde residiam 15.000 cristãos, lançaram bombas
a dez igrejas e levaram a cabo um banho de sangue, matando 130 pessoas. Muitas
das vítimas foram chacinadas depois de os atacantes terem indagado a sua religião,
levando-os a recitar versos do Corão. De acordo com testemunhas oculares, alguns
muçulmanos residentes na cidade juntaram-se aos atacantes25.
Entre 20 e 24 de Novembro, quarenta e cinco cristãos da tribo Berom foram mortos
dentro e à volta da vila de Barkin Ladi, no estado do Planalto. Três cristãos foram mortos
entre 20 e 21 de Novembro, alegadamente por roubarem gado bovino. No decurso de dois
ataques que se seguiram, centenas de pastores do povo Fula, apoiados por soldados,
invadiram primeiro uma congregação da Igreja de Cristo da Nigéria (COCIN) na noite de
23 de Novembro, matando quatro pessoas, incluindo um catequista, e depois, no dia
seguinte, atacaram cristãos em Barkin Kadi e na aldeia de Kwok, matando vinte e seis
pessoas. Ao grito de “Allahu Akbar”, os pastores levaram a cabo o ataque na manhã de
24 de Novembro, depois das orações da manhã na mesquita da seita Izala26.
Às 2 horas da manhã da noite de 18 de Novembro, um grupo de muçulmanos da aldeia
vizinha fez um raide a Gargari, na província de Bogoro (estado de Bauchi), matando quatro
mulheres cristãs, três das quais crianças: Rifkatu Samaila (48 anos), Laraba Samaila (12
anos), Gloria Zakka (11 anos) e Martha Zakka (7 anos). Seis outros cristãos ficaram feridos.
Ao fim da tarde de 26 de Novembro, terroristas da Boko Haram tomaram de assalto
a cidade de Geidam, no estado de Yobe, num comboio de automóveis. Depois de
atacarem uma esquadra de polícia e o principal banco, com a ajuda de residentes locais
identificaram propriedades, negócios e igrejas pertencentes aos 700 residentes cristãos
da cidade, tendo então procedido a destruí-los sistematicamente. Cinco das oito igrejas
da cidade foram bombardeadas: Igreja Católica de S. Patrício, Igreja Anglicana Emanuel,
Igreja da Fé Viva, Igreja da Bíblia da Vida Mais Profunda e Igreja Querubim e Serafim.
Compass Direct News, 27 de Setembro de 2011
23
Compass Direct News, 8 de Novembro de 2011
24
Compass Direct News, 11 de Novembro de 2011
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Compass Direct News, 28 de Novembro de 2011
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383
NIGÉRIA
384
Todos os edifícios destruídos estavam localizados nas zonas de Kafela, Akodiri Street e
Low-Cost Housing Estate27.
Uma pessoa morreu e dez ficaram feridas (quatro com gravidade) depois de os
extremistas muçulmanos terem lançado três bombas, na noite de 10 de Dezembro, em
três zonas cristãs distintas na cidade de Jos (estado do Planalto), durante a projecção
de um filme e de um jogo de futebol28.
Pastores da etnia Fula e outros muçulmanos atacaram a secção cristã da aldeia de
Kukum Gida, no estado de Kaduna, na noite de 10 de Dezembro, matando uma mulher
e ferindo duas, todas membros da mesma família cristã. A vítima foi Kunam Musa Blak
(50 anos), membro da Igreja Evangélica Winning All (ECWA)29, tal como os outros 425
residentes,
Terroristas da Boko Haram reivindicam a responsabilidade por uma série de ataques
à bomba levados a cabo no dia de Natal contra igrejas cristãs em Madalla (estado do
Níger), Jos (estado do Planalto) e Gadaka e Damaturu (estado de Yobe). O ataque mais
mortal foi em Madalla, onde um carro bomba matou quarenta e cinco pessoas e feriu
setenta e três à saída da Igreja Católica de Santa Teresa, no final da missa, incluindo os
três polícias que estavam de guarda à igreja.
Falando à agência noticiosa Fides, Mons. John Olorunfemi Onaiyekan, Arcebispo
de Abuja (a 60 km de Madalla), disse: “Espero que estas pessoas não tenham morrido
em vão, os nigerianos estão a aperceber-se de que o terrorismo nos ameaça a todos,
cristãos e muçulmanos. [...] No dia a seguir ao Natal, quando fui ao local do ataque
juntamente com o Núncio, na presença do Ministro do Interior, aproveitei a oportunidade
para lançar um forte apelo através da imprensa local à liderança islâmica da Nigéria,
para que faça alguma coisa. Mesmo que os líderes religiosos muçulmanos continuem
a afirmar que os membros da Boko Haram não pertencem ao verdadeiro Islão, devem
contudo reconhecer que estes são muçulmanos, independentemente de serem bons ou
maus, e que eles são quem tem a melhor oportunidade de identificá-los e quem deve
demonstrar que estão a fazê-lo.”
Um polícia perdeu a vida no ataque contra a Igreja da Montanha em Chamas e a
Igreja dos Milagres em Jos. Algumas pessoas foram feridas, mas nenhuma foi morta nos
ataques a Gadaka e Damaturu.
“Os crentes têm razão em ter medo depois de um incidente como este, mas eles são
fortalecidos pelo sangue dos mártires e não deixaram de participar na missa diária”, disse
o Rev. Joseph Akor, director de comunicação da Diocese de Minna, a quem pertence a
Paróquia de Santa Teresa30.
27
Compass Direct News, 2 de Dezembro de 2011
28
Compass Direct News, 15 de Dezembro de 2011
29
Compass Direct News, 20 de Dezembro de 2011
30
Compass Direct News, 29 de Dezembro de 2011

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