por Ito NMK, Miyaji CI, Okabayashi SM (SPAVE
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Novembro / 2007 por Ito NMK, Miyaji CI, Okabayashi SM (SPAVE - Consultoria em Produção e Saúde Animal Ltda. e-mail: [email protected]). O que quer dizer saúde intestinal? Saúde intestinal quer dizer que no intestino está havendo um equilíbrio dinâmico entre a mucosa intestinal e o conteúdo luminal e que as características estruturais e funcionais da mucosa estão preservadas ou mantidas dentro do padrão esperado para o tipo, espécie e linhagem de ave e para uma determinada fase do seu ciclo vital. Para compreender porque a saúde intestinal é perdida, é importante lembrar que a mucosa e os enterócitos constituem uma barreira dinâmica e metabolicamente ativa que apresenta permeabilidade seletiva. Esta barreira possui função múltipla, que envolve a digestão, a captação seletiva e o transporte de substâncias específicas e de nutrientes e a exclusão de toxinas e de microorganismos através da imunidade inata e adquirida. É importante entender que a barreira da mucosa é capaz de responder rapidamente e extensivamente através de adaptações morfológicas e funcionais em resposta às demandas do desenvolvimento ontogenético e desafios ambientais e nutricionais. No frango de corte, as adaptações na mucosa do intestino que resultam em modificações funcionais e morfológicas são mais intensas do que em poedeiras comerciais. As adaptações geralmente favorecem a absorção mais eficiente de nutrientes na presença de estresses ou desafios e a expulsão de substâncias antinutritivas ou tóxicas ou lesivas e de microorganismos nocivos. A adaptação da barreira da mucosa inclui, também, a regulação de uma capacidade de reserva na função absortiva para otimizar a captação e a assimilação de nutrientes, durante e após os estresses dietéticos, nutricionais e ambientais, o suficiente para a manutenção da vida. Ontogenética e saúde intestinal As aves são seres vertebrados onívoros precoces, que precisam ingerir diariamente carboidratos e proteínas porque apresentam uma taxa metabólica e uma exigência nutricional diária elevada para manter a endotermia e garantir o desenvolvimento neonatal e post-natal. A seleção genética artificial dos frangos de corte vem induzindo ajustes ou adaptações no intestino para melhor digestão, absorção e transporte de nutrientes. Na poedeira, a massa e o peso do intestino é relativamente maior que o peso corporal e a superfície mucosa é suficiente para efetuar a absorção de proteínas, carboidratos, lipídeos e cálcio para atender a demanda da produção de ovos. Por outro lado, o frango de corte que está sendo geneticamente selecionado para crescimento acelerado e elevado, produção de massa muscular, ganho de peso e melhor eficiência alimentar, possui um compartimento pequeno de mucosa intestinal em relação ao seu tamanho, peso corporal e a extensa área de “demanda” de nutrientes (músculos, ossos, penas, pele e gordura). Para atender à elevada demanda de nutrientes em tempo muito curto de vida, o epitélio absortivo do intestino do frango apresenta adaptações quase que diárias para compensar a falta de uma área extensa de mucosa intestinal. A mucosa intestinal do frango é eficiente na digestão, absorção e transporte de nutrientes porque os enterócitos apresentam microvilos desenvolvidos que secretam enzimas digestivas e possuem transportadores específicos de nutrientes. No frango de corte, a exigência metabólica elevada é suprida pela absorção que é feita pela desenvolvida massa de mucosa, e os solutos nutricionalmente essenciais e não essenciais utilizados como fontes calóricas, reprimem ou induzem o seu próprio transporte. A taxa de transporte de nutrientes depende e varia conforme alterações ou adaptações na área superficial da mucosa, razão de células absorptivas e não absortivas, densidade de sítios de transporte e constante de afinidade dos transportadores específicos. Para que haja o máximo proveito do sistema e dos mecanismos absortivos geneticamente desenvolvidos, é imprescindível que o frango receba uma dieta balanceada e adequada para cada período do seu ciclo vital, porque a capacidade de absorção que é conferida pelo aumento da massa de mucosa intestinal aumenta na mesma proporção que a taxa de crescimento e de aumento do peso corporal e não depende muito do comprimento e/ou do peso do intestino. Quando um fator estressor modifica ou interfere com as exigências nutricionais, é importante efetuar uma mudança rápida na formulação da ração, para que não ocorra uma resposta adaptativa funcional da mucosa intestinal para suprir esta necessidade. Existem provas científicas de que o intestino dos frangos de corte conformação são capazes de exibir uma resposta adaptativa que influencia na dinâmica da cripta de Lieberkühn e na taxa de migração do enterócito para o ápice da vilosidade, que resulta em modificações na massa de mucosa, sistema específico de transporte e gradiente de sódio. Patogenia O epitélio da mucosa do intestino constitui uma interface altamente dinâmica com o meio externo, porque além do alimento, são inúmeros os microorganismos que adentram e que colonizam o lúmen intestinal (flora normal) ou que se multiplicam nos enterócitos (microorganismos enteropatogênicos) ou que utilizam o intestino como porta de entrada. As adaptações morfológicas e funcionais geneticamente induzidas para melhorar o ganho de peso e a eficiência alimentar podem ser revertidas ou modificadas pela composição da dieta, disponibilidade de ração ou de nutrientes, manejo, enfermidades e fatores que podem comprometer a ingestão ou o consumo de ração. Como o sistema da barreira de mucosas do frango ganhou eficiência para absorção de carboidratos e de aminoácidos, qualquer injúria no epitélio intestinal pode resultar em refugagem devido a má absorção, trânsito rápido e diarréia osmótica ou secretória. No frango, a absorção de água no intestino varia conforme a taxa de absorção de NaCl que ocorre por difusão passiva ou paracelular e pelo sistema de transportador intracelular SGLT1 dependente de glicose. A diminuição da absorção de água devido a diarréia secretória compromete a absorção de potássio e induz a hipocalemia e aumento de mortalidade. A absorção de eletrólitos e de água ocorre no ápice da vilosidade do jejuno, do íleo e do ceco, enquanto que, na cripta de Lieberkühn, a secreção de cloretos e de potássio é feita por canais específicos, que se abrem, respectivamente, sob a modulação do AMP cíclico (AMPc) e Ca2+ e pelo aumento do AMPc intracelular. A inibição do AMPc e do GMP cíclico no enterócito da cripta de Lieberkühn induz aumento da secreção e diminuição da absorção de água e de eletrólitos, portanto resulta em enterite secretória (acúmulo de grande volume de fluido no lúmen intestinal) e eliminação de fezes com maior conteúdo de água e de eletrólitos. O controle da absorção e da secreção de água e de eletrólitos na mucosa intestinal é feito por um sistema neuroendócrino e imune gastrointestinal muito responsivo nos frangos de corte, que favorece a ocorrência da diarréia secretória e trânsito rápido em resposta a estímulos locais devido à presença de microorganismos, toxinas e substâncias antinutritivas ou de estresses causados por falhas de manejo e comprometimento do conforto térmico. A enterite secretória pode ser causada por vários fatores, por exemplo: •deficiência do sistema de transporte de íons devido ao mau desenvolvimento e/ou diferenciação dos enterócitos; • má absorção de um não eletrólito (nutriente) induzindo o aumento da osmolaridade no lúmen intestinal desencadeando a diarréia osmótica e a secreção de água para o lúmen; •a má absorção de gordura e hiperproliferação de bactérias da flora normal que metabolizam lipídios e liberam ácidos graxos hidroxilados, estimulam a secreção de água e a hipermotilidade do intestino ou trânsito rápido que leva a um fluxo anormalmente rápido do conteúdo do intestino para que ocorra a diluição e expulsão do conteúdo intestinal; •observa-se aumento da secreção de água e de eletrólitos, por exemplo quando aumenta a concentração de GMP devido à presença da toxinas Sta da E. coli, ou do AMPc sob estímulo de toxina do tipo cólera, liberação de compostos peptídios nos neurônios entéricos eg, peptídio vasoativo intestinal, acetil colina, serotonina, óxido nítrico, substância P ou de neurotensinas ou quando o cálcio intracelular está elevado; •fatores que comprometem a regulação fisiológica de água e sal (Tabela 1) ou excesso de NaCl. As enterites secretórias causam redução da absorção de vitaminas hidrossolúveis como o ácido ascórbico, o inositol, o ácido pantotênico e a tiamina (B1), que são absorvidas e transportadas ativamente movidas pelo gradiente eletroquímico de Na. As vitaminas hidrossolúveis (biotina, colina, ácido fólico, riboflavina) que são absorvidas por difusão ou através de um transportador, são eliminadas durante a enterite secretória. Quando ocorre a esteatorréia ou a diminuição da absorção de lipídios devido à deficiência de bile, insuficiência pancreática ou atrofia da mucosa intestinal, ocorre a diminuição da absorção de vitaminas lipossolúveis (eg. A, D, E e K). A deficiência de vitamina D é uma das principais causas de redução da absorção intestinal de cálcio e que desencadeia o raquitismo ou falhas de mineralização do osso, tornando-os moles ou flexíveis (osso do tipo borracha) ou favorecendo o arqueamento da pernas. Resumindo, enteropatias que resultam em enterite secretória e/ ou osmótica ou em trânsito rápido são as principais causas de problemas esqueléticos no frango de corte e desuniformidade do desenvolvimento corporal. As enteropatias dos frangos de corte são causadas por inúmeros fatores e suas conseqüências variam de acordo com o período de vida em que elas ocorrem. Do ponto de vista cronológico, as enteropatias que ocorrem no período pré e neonatal e as postnatais prematuras são as que causam prejuízos econômicos mais elevados porque as seqüelas causam diminuição ou perda de função, muitas vezes irreversíveis, que podem comprometer o ganho compensátorio final do frango de corte ou dar origem a síndromes de etiologia múltipla e confusa. Enteropatias pré e neonatais A falta de alimentação do neonato é um dos principais fatores que comprometem o desenvolvimento do compartimento absortivo do intestino e que estimula o acúmulo anormal de mucina ácida e neutra na célula caliciforme do jejuno e do íleo, porque ocorre aumento de sua síntese e uma diminuição de sua secreção. O jejum e atraso na alimentação do neonato interfere com a taxa de migração dos enterócitos absortivos para o ápice do vilo e de diferenciação das células precursoras ou oligomucosas para células caliciformes. No embrião, o peso do intestino aumenta mais que o seu peso corporal, no período de 17 dias para o dia da eclosão, na razão de 1 para 3,5 e está relacionado com a diferenciação das células caliciformes e de enterócitos que secretam enzimas que digerem carboidratos e possuem os principais sistemas de transporte (SGLT1, ATPase), do brotamento de novas vilosidades e do alongamento de todos os vilos. Imediatamente após a eclosão, o intestino imaturo passa a apresentar modificações morfológicas e citológicas dramáticas e mais intensas no período de um a sete dias de idade. A alimentação precoce estimula e acelera a maturação ou a adaptação da mucosa intestinal, porque os enterócitos já possuem um compartimento de transporte específico para nutrientes que podem ser ativados. Os fatores que comprometem o desenvolvimento da mucosa intestinal no neonato causam mau desenvolvimento corporal, baixo ganho de peso, conversão alimentar ineficiente e retardo na maturação do sistema imune inato de defesa. No neonato, a proteção da mucosa intestinal depende da barreira celular (macrófago, célula “natural killer” (NK), heterófilos), química, física e da presença das células Paneth localizadas na cripta que secretam lisosimas, defensina α e β e fosfolipase A2 secretória que lisam bactérias, fungos e vírus envelopados. Os fatores mais estudados e que comprometem a maturação do intestino, são o jejum e a restrição do consumo sucedida de realimentação, porque eles desencadeiam a diminuição da nutrição entérica no neonato e favorecem a colonização por vírus e bactérias enterotrópicas. Enquanto enteropatias pré natais podem ser desencadeadas por dietas deficientes ou pela má absorção e transferência de nutrientes na reprodutora, falhas de incubação e de eclosão e a contaminação pre´-natal por microorganismos devido à transmissão vertical e horizontal, no neonato podemos considerar os seguintes fatores como principais causas de enterites que causam a má absorção: •jejum ou restrição de alimento nos primeiros três dias de idade compromete o suprimento de nutrientes que suportam e mantêm a proliferação de enterócitos por toda a extensão do vilo, que só ocorre até 10 dias de idade, e o aumento por ramificação da quantidade de criptas por vilosidade, que ocorre até 14 dias de idade na razão de 3 a 4 criptas/vilo. A taxa e a velocidade de migração do enterócito da cripta para o ápice do vilo, o peso, a orientação e a forma do vilo podem estar alterados a despeito de não haver mudança na densidade de enterócitos (200.000 a 280.000 células/cm2). A restrição alimentar sucedida de realimentação aumenta a taxa de absorção por unidade de mucosa ativa ou peso do intestino, mas diminui a sua absorção total. •a composição da dieta em termos de carboidratos, proteínas e ions Na+ e Cl- pode estimular uma resposta adaptativa da mucosa intestinal e resultar no aumento do número de enterócitos e na maturação do sistema de digestão e absorção na microvilosidade. A alimentação “in ovo” e no incubatório pode acelerar o desenvolvimento da mucosa intestinal, em nível equivalente ao visto em pintos de dois dias de idade que recebem dietas convencionais. •o estresse por calor e a hipertermia (febre) reduz a taxa de crescimento e a eficiência alimentar dos frangos de corte porque diminui o consumo e interfere com a modulação neuroendócrina e metabólica da secreção e da peristalse (Tabela 1). Temperaturas ambientais elevadas, além de reduzir o consumo, estimulam a captação e o transporte ativo de hexoses e de aminoácidos pelo enterócito em resposta à diminuição de nutrientes no lúmen, no entanto, induzem a diminuição do tamanho do compartimento de absorção e causam baixo ganho de peso. Quando o estresse por calor persiste por tempo prolongado no período pós-natal, a temperatura >30ºC e 70%UR, ocorre o comprometimento irreversível da maturação do intestino e do ganho compensatório conferido pelo hormônio de crescimento armazenado no fígado. •a concentração luminal de nutrientes específicos é o principal determinante que modifica o microambiente iônico, o pH e a osmolaridade da camada não misturada do digesta que está na microvilosidade dos enterócitos maduros e que possibilita a digestão passiva paracelular e ativa que pode ser modificada em condições normais de ambiência. O estresse por calor promove o aumento da absorção da metionina e da excreção de glicose, de sódio e de potássio e aumenta a osmolaridade e o pH no lúmen do íleo. Como conseqüência, ocorre a enterite osmótica e o desequilíbrio da flora bacteriana sucedida pela enterite secretória que reduz a eficiência dos promotores de crescimento e, devido ao aumento do pH no íleo, o favorecimento da proliferação de enterobactérias (E. coli, Salmonella sp) e de Campylobacter sp. Enteropatias prematuras ou na fase inicial As enteropatias prematuras que ocorrem ao final da primeira semana de idade geralmente são desencadeadas por alterações fisiológicas ocorridas durante o período neonatal. Quando o intestino é lesado por microorganismos patogênicos, os pintinhos piam muito, caminham ao longo dos comedouros, mas não comem porque estão inapetentes e podem apresentar sonolência devido à hipertermia. A inapetência induzida por infecções, pelo estresse calórico e má qualidade da dieta estimulam a alotrofagia (ciscagem e ingestão da cama, de fezes, de penas, de terra, etc). As enterites bacterianas e virais geralmente ocorrem devido à associação de fatores, onde um deles potencializa a ação do outro, principalmente quando se ministra uma ração de baixa qualidade nutricional. Aminoácidos limitantes, como a treonina tem um efeito importante na secreção de mucina e, em ambientes com elevada contaminação ambiental, observa-se um aumento da sua exigência. O triptofano, que é o precursor da serotonina e da melatonina, interfere e causa um distúrbio da peristalse e, ainda, por fazer parte do metabolismo da niacina, causa irritação. A principal razão para que seja evitado qualquer tipo de falha de manejo que resulte em diminuição do consumo e de subconsumo dos nutrientes, deve-se ao fato de que, até 21 dias de idade, o sistema imune do intestino ou GALT está imaturo, e toda a proteção local é feita pela imunidade inata e pelos anticorpos maternos que podem impedir ou controlar a translocação ou a disseminação extraintestinal de bactérias e de vírus. A imunidade humoral no intestino (secreção de IgA no lúmen e o aporte de IgY e IgM na lâmina própria e na muscular mucosa) é esclarecida somente após 21 dias de idade, mesmo quando a vacinação é feita no neonato ou na primeira semana de idade. Por esta razão, Salmonella sp, Campylobacter sp e E. coli, que são de importância na saúde alimentar, persistem no lúmen intestinal por um período tão longo quanto 8 a 9 semanas de idade. A deficiência de alguns aminoácidos limitantes, como a arginina, a isoleucina e a valina, influencia na implantação da imunidade intestinal. A redução da liberação de mucina e de lisosimas, defensinas e de fosfolipase pelas células de Paneth, pelos heterófilos e pelos macrófagos, é um fator que agrava a enterite bacteriana e a diarréia induzida por vírus não envelopados como Reovírus, Rotavírus, Entero-like-vírus, Parvovírus e Astrovírus. A síndrome do refugamento e mal desenvolvimento é clinicamente observada no período de 9 a 21 dias de idade pela manifestação de passagem de alimento não digerido e eliminação de fezes alaranjadas ou esteatorréicas e de apresentação de alterações concomitantes no pâncreas, fígado e no disco epifisário (raquitismo). Goodwin et al (1993) demonstraram que as infecções intestinais por vírus são mistas, com combinações aleatórias de diferentes vírus em associação com Astrovírus, Entero-like-vírus e Reovírus, que sempre estão presentes em aves doentes e normais, com bactérias e protozoários e programas nutricionais e práticas inadequadas de manejo. A remontagem de cama, tempo curto de vazio entre alojamentos, calor excessivo ou temperaturas inadequadas no pinteiro, aumentam a ocorrência da síndrome da má absorção (Zavalla & Sellers, 2005). Enteropatias no período de engorda Não há dúvidas que os fatores mais prevalentes e que causam prejuízo significativo econômico na fase final da criação de frangos de corte são a coccidiose, a presença de compostos tóxicos e erros no processamento da ração e a expressão dos efeitos nocivos da flora bacteriana. Os efeitos nocivos da flora bacteriana podem ser controlados pelos promotores de crescimento e anticoccidianos adicionados na dieta (Ito, 2006a), no entanto, na fase final da criação, quando por prudência são retirados da dieta, é favorecida a ocorrência de enterite necrótica pelo Clostridium perfringens, cama molhada, disbacteriose (Ito, 2006a) e a condenação de fígados no abatedouro devido à endotoxemia e/ou translocação bacteriana (Ito, 2006b). Sabe-se que quando não se utiliza promotores de crescimento, ocorre um aumento da incidência da enterococose, da estreptococose e da estafilococose. As enteropatias que comprometem o ganho de peso e a eficiência alimentar compensatória e que causam trânsito rápido e/ou passagem de ração induzem problemas de pernas, pododermatite e ruptura do intestino durante o abate e de frangos sujos que, na Europa, são rejeitados para abate. Como fatores predisponentes temos, além das enterites causadas pela ingestão de ração de qualidade duvidosa e mau manejo, o estímulo exacerbado do sistema imune e as tiflites. •Estímulo do sistema imune: O trato gastrointestinal é a porta de entrada para inúmeros patógenos sistêmicos virais e bacterianos (eg. Newcastle, Influenza, Pasteurella multocida, Salmonella Pullorum/Gallinarum) e é sítio de replicação de Adenovírus do grupo I, vírus doença de Gumboro, da bronquite infecciosa das galinhas, do Hepevírus ou Calicivírus que causa a síndrome do fígado e baço grande, etc. O TGE também capta (via célula M ou “Microfold”) antígenos alimentares, toxinas e microorganismos pouco patogênicos eg. Reovírus, Campylobacter sp, Salmonelas paratifóides e exclui inúmeros antígenos através da imunidade inata e adquirida. Ao recontato com o mesmo antígeno, os plasmócitos dos centros germinativos localizados na tonsila cecal, na placa de Peyer e na muscular mucosa proliferam e secretam IgA. Durante o estímulo antigênico ocorre a liberação de linfocinas que induzem redução do consumo, hipersecreção, má absorção, diarréia osmótica e diminuição da maturação e da proliferação dos enterócitos. O intestino alberga aproximadamente 25% do total de linfócitos que estão em todo o organismo e apresenta inflamação constante para excluir os inúmeros antígenos que adentram o TGE. No duodeno e no jejuno, a defesa local é efetuada principalmente pelas células caliciformes secretoras de muco, pelos linfócitos que migram para as junções oclusivas entre os enterócitos e os plasmócitos, macrófagos e linfócitos T que estão na lâmina própria. No íleo, predomina a célula M que captura e apresenta o antígeno para os linfócitos, macrófagos e as células dendríticas que propagam a informação através do sangue e da linfa. •Tiflites: No ceco ocorre a digestão da fibra e a proliferação das bactérias que compõem a flora normal, e ainda é onde se observa colonização pela Salmonella sp, Campylobacter sp, Brachyspira sp, Cryptosporidium sp.e Eimeria sp. O desequilíbrio da flora bacteriana, bom como a colonização por bactérias e protozoários patogênicos, promovem o esvaziamento do ceco ou a tiflite osmótico-secretória que causa a aderência de fezes cecais na região pericloacal. As tiflites potencializam a diurese, a desidratação e o desequilíbrio do balanço hídrico e eletrolítico induzida pela diarréia secretória ou pela nefropatia, porque o ceco é responsável pela reabsorção da água e dos eletrólitos que estão na urina que chega através do fluxo reverso. •Proventriculopatias: micotoxinas sintetizadas por fungos da espécie Fusarium sp, injuriam a mucosa do proventrículo, enquanto que Reovírus, Coronavírus (bronquite infecciosa das galinhas), Birnavírus (doença de Gumboro), Adenovírus do Grupo I, vírus de 60 a 70nm parecidos com Adenovírus, Hepevírus e o Herpesvírus da doença de Marek, lesam o epitélio glandular, estimulam a hiperplasia de linfócitos e induzem a atrofia glandular. A proventriculite é causa de má digestão, passagem de ração, aumento da friabilidade e ruptura durante o abate da parede do proventrículo e de aparecimento de úlceras na moela. A erosão na junção proventrículo - moela também é induzida por fatores que interferem com função do proventrículo, por exemplo, a secreção da histamina e da serotonina e a ingestão de aminas biogênicas estimulam a secreção de ácido clorídrico, micotoxinas que impedem a regurgitação da bile que neutraliza o ácido clorídrico, a deficiência de vitamina E que favorece a peroxidação dos ácidos graxos polinsaturados (Scott, 1985) e inúmeros outros fatores que comprometem a peristalse reversa gastro-duodenal. Uma ração pode alterar a função do intestino e a peristalse reversa gastro-duodenal, devido a: ▪presença de antinutrientes, como aminas biogênicas, fitotoxinas, micotoxinas, medicamentos, gordura oxidada, sulfato de cobre, inseticidas, ácidos orgânicos, etc, que lesam a mucosa ou interferem com a peristalse ou mimetizam a ação da histamina. ▪problemas relacionados com erros de formulação, por exemplo, inclusão de ingredientes de baixa digestibilidade ou de substratos que favorecem a hiperproliferação bacteriana e a síntese de aminas biogênicas, ácidos graxos, compostos nitrogenados, etc pelas bactérias. ▪erros no processamento alteram a micro e macroestrutura e/ou causam modificações químicas. A mudança da macroestrutura ou da granulometria interfere com o consumo e a motilidade gastro-intestinal e modifica a composição da flora bacteriana. A granulometria fina estimula a hiperfagia, diminui a secreção de bile e de enzimas pancreáticas e o tamanho da moela e modifica a composição da flora bacteriana porque o pH fica mais básico. A mudança química de alguns componentes da ração é induzida pela exposição ao calor: a peletização (85 a 90ºC) não influencia tanto quanto a temperatura de extrusão(110ºC), mas falhas no resfriamento do pellet favorecem a decomposição e a proliferação de fungos toxigênicos. A temperatura elevada destrói as vitaminas e aumenta a concentração de fibra solúvel e a viscosidade e, por isto, diminui a digestão e a absorção de nutrientes, compromete o desenvolvimento do intestino, modifica a motilidade e a liquefação do quimo, reduz a atividade enzimática, aumenta a proliferação das bactérias e induz a eliminação de fezes aderentes ou pastosas. Tabela 1: Fatores ou compostos endógenos que interferem com a regulação fisiológica da absorção intestinal de água e de eletrólitos. Local de LIberação Estimula a secreção na cripta Promove a absorção no ápice do vilo Fatores desencadeantes Neurônio entérico (plexo submucoso e mioentérico) da parede intestinal Acetil colina, óxido nítrico, serotonina, peptídio vasoativo intestinal, substância P Norepinefrina, neuropeptídio Y e opióides Distensão do intestino, estímulo mecânico na mucosa, glicose luminal, pH ácido, sais biliares, etanol, reexposição a antígeno, toxina do tipo cólera e estímulo do SNA simpático e parassimpático. Células neuroendócrinas dos imunócitos (MALT-GALT) na mucosa. Histamina, calcitonina guanilina, bradicinina, fator ativador de plaqueta, espécies reativas ao oxigênio Somatostatina Injúria no enterócito ou estímulo dos neurônios entéricos Presente no lúmen. Sais biliares e ácidos graxos de cadeia longa Prolactina, hormônio do crescimento e ácidos graxos de cadeia curta Estresses pré e neonatais causados por erros dietéticos e de manejo, comprometimento do consumo. Hormônios liberados à distância. Prostaglandina, leucotrienes, calcitonina, ácido aracdônico, adenosina, peptídio atrial natriurético, gastrina, motilina, bombesina, peptídio vasoativo intestinal. Epinefrina, encefalina, aldosterona, glicocorticóides, angiotensina II, peptídeo YY Estresses relacionados com consumo, disponibilidade de alimento, distúrbios renais e da cortex adrenal. Literatura Consultada Berne RM, Levy MN, Koeppen BM, Stanton BA. Fisiologia – Tradução da 5ª Edição, Elsevier Editora Ltda, 2004. Goodwin MA, Davis JF, McNulty MS, Brown J, Player EC. Enteritis (So-called Runting Stunting Syndrome) in Georgia Broiler chicks. Avian Diseases, 37: 451-458, 1993. Ito, NMK, Miyaji CI, Lima EA, Okabayashi S. Saúde Gastrointestinal, manejo e medidas para controlar as enfermidades gastrointestinais. Capítulo 13, In Produção de frangos de corte editado por Mendes AA, Nääs IA, Macari M. Facta, 2004a, p. 206-260. Ito, NMK, Miyaji CI, Okabayashi S. Recentes Avanços na fisiopatologia do trato gastrointestinal nos frangos de corte. Jaboticabal, 2004b, pp-1-20, atualizado 2007. Ito, NMK. Flora Bacteriana – Interacción, concepto de control de bacterias Gram positivas y Gram negativas. VII Seminario de Monogastricos. Enteritis Necrotica: una condición emergente, 21-24 agosto de 2007, Santo Domingo, Republica Dominicana. Ito, NMK. Enfermidades Entéricas y su Relacion com lesiones hepaticas. VII Seminario de Monogastricos. Enteritis Necrotica: una condición emergente, 21-24 agosto de 2007, Santo Domingo, Republica Dominicana. Junqueira LC & Carneiro J. Histologia básica, Editora Guanabara Koogan SA, 10ª Edição, Guanabara Koogan. Pantin-Jackwood MJ, Brown TP, Kim Y, Huff GR. Proventriculitis in broiler chickens: effects of immunosuppression. Avian Diseases, 48: 300-316, 2004. Pery GC. Avian Gut in Health and Disease, Poultry Science Series, Volume 28, Carfax Publishing Company, 2006, Chapter 3, 4, 6, 12. Scott ML. 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