Brazilian journal 22-B.p65 - Brazilian Journal of Food Technology
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Avaliação da Torração de Amêndoas de Cupuaçu (Theobroma grandiflorum) Evaluation of the Roasting of Cupuasu Beans (Theobroma grandiflorum) AUTORES AUTHORS Marise Bonifácio QUEIROZ Pesquisador Científico II - CEREAL CHOCOTEC/ITAL Caixa Postal 139 - 13073-001 Campinas - SP Fone: 241.5222 ramal 179 - Fax: 241.5222 ramal 222 e-mail: [email protected] Nelson Horácio Pezoa GARCIA Prof. Dr. FEA/UNICAMP - Departamento de Tecnologia de Alimentos - Caixa Postal 6121 - 13081-4000 Campinas - SP Fone: 788.4000 - e-mail: [email protected] RESUMO Considerando-se a evolução no teor de sete compostos pirazínicos (2-metil, etil, 2,3-dimetil, 2,5-dimetil, 2,6-dimetil, 2,3,5-trimetil e 2,3,5,6-tetrametilpirazina) e também utilizando-se a análise sensorial, procurou-se identificar as melhores condições de tempo e temperatura para a torração de amêndoas de cupuaçu. Utilizou-se torração em forno elétrico rotativo com 150ºC na camisa e tempos de 38, 40, 42, 44 e 50 minutos. Extraíram-se os compostos voláteis das amostras torradas por meio do extrator tipo Likens & Nickerson, identificando e quantificando-se as pirazinas por cromatografia gasosa. Realizou-se também Análise Descritiva Quantitativa (ADQ) para as amostras torradas, identificando-se aquelas com melhor desenvolvimento de sabor segundo a equipe treinada. Considerando-se os resultados sensoriais e cromatográficos, sugere-se que nas condições deste estudo, as amêndoas de cupuaçu inteiras torradas por 42 minutos em forno rotativo convencional tiveram maior desenvolvimento de seu potencial aromático. SUMMARY By considering the quantitative evolution of seven pyrazines (2-metil, etil, 2,3-dimetil, 2,5-dimetil, 2,6-diemtil, 2,3,5-trimetil e 2,3,5,6-tetrametilpyrazine) and the sensory analysis, the best time and temperature conditions were identified for the roasting of cupuasu beans. Roasting was carried out in an electric rotating oven with a temperature of 150ºC in the outer jacket and times of 38, 40, 42 and 44 minutes. The volatile components were extracted from the roasted samples using a Likens & Nickerson type extractor, and the pyrazines identified and quantified by gas chromatography. Quantitative Descriptive Analysis (QDA) was used to identify the samples with better flavor development. The results indicated that the cupuasu beans roasted for 42 and 44 minutes in a conventional rotating roaster developed their maximum aromatic potential with respect to the evolution of alkylpyrazines and their sensory attributes. PALAVRAS-CHAVE KEY WORDS Theobroma grandiflorum; Cupuaçu; Torração; Pirazinas / Theobroma grandiflorum; Cupuasu; Roasting; Pyrazines. Braz. J. Food Technol., 2(1,2):167-173, 1999 167 Recebido / Received: 14/05/1999. Aprovado / Approved: 04/11/1999. M. B. QUEIROZ N. H. P. GARCIA 1. INTRODUÇÃO O cupuaçuzeiro é uma árvore frutífera, da família Sterculiaceae, tipicamente amazônica, cultivada em todo o estado do Pará e norte do Maranhão. Plantado inicialmente como cultura de quintal, desponta hoje como uma das melhores e mais promissoras fruteiras amazônicas, sendo crescente o investimento em cultivos racionais, não se limitando somente ao extrativismo. O cupuaçu destaca-se como o principal fruto cultivado na Amazônia e com potencial para a industrialização, sendo que seu valor econômico está baseado atualmente na comercialização e industrialização da polpa. Apesar das sementes constituírem cerca de 20% do peso do fruto e apresentarem altos teores de proteína e gordura, ainda são muitas vezes descartadas durante o beneficiamento ou utilizadas com fins menos nobres como para a obtenção de adubos. Segundo VENTURIERI (1988), as sementes possuem uma gordura muito semelhante à manteiga de cacau e que quando torradas desenvolvem um suave aroma característico similar ao do chocolate. Por isso acredita-se constituir uma excelente matéria-prima na fabricação de produtos especiais tipo chocolate, coberturas achocolatadas com vantagem sobre as gorduras de substituição existentes por apresentarem características de sabor peculiares as quais poderiam contribuir na obtenção de produtos achocolatados diferenciados e de alta qualidade. Desde 1969, COUTINHO já citava que a manteiga extraída de sementes de cupuaçu torradas apresentava aroma semelhante ao de chocolate, ao contrário da extraída antes da torração que era praticamente inodora. Segundo NAZARÉ et al. (1990), a torração à temperatura de 150ºC em estufa por 180 minutos proporcionou um bom produto final. VENTURIERI (1988) cita que para o aproveitamento das amêndoas de cupuaçu na fabricação de produtos semelhantes ao chocolate, as sementes após fermentadas e secas, foram torradas, sem contudo entrar em detalhes sobre os parâmetros envolvidos no processo. Além de VENTURIERI (1988), LIMA et al. (1995) também relatam em seu trabalho que as sementes utilizadas na obtenção de cupulate em pó (pó de cupuaçu parcialmente desengordurado), após fermentadas e secas, passavam por uma torração, mas também não detalhou como esta foi conduzida. Alguns estudos foram desenvolvidos com o objetivo de obter tecnologias apropriadas para o aproveitamento das sementes do cupuaçu e pela semelhança botânica e composicional, foram baseados nos métodos utilizados para o cacau (ARAGÃO, 1992). Assim como tantos outros sabores, o sabor de chocolate é o resultado de uma mistura complexa de um grande número de compostos, sendo assim impossível caracterizá-lo por um único componente (LOPEZ, 1981). Segundo MERMET et al. (1992), otimizar as condições de torração do cacau significa desenvolver ao máximo o potencial aromático das amêndoas. Braz. J. Food Technol., 2(1,2):167-173, 1999 Avaliação da Torração de Amêndoas de Cupuaçu (Theobroma grandiflorum) Durante a torração do cacau ocorre o desenvolvimento de sabor, principalmente pela reação de Maillard, a partir dos precursores formados durante a fermentação, sendo que as pirazinas são os compostos predominantemente formados, representando cerca de 25% dos produtos já identificados na fração aromática do chocolate (BAREL et al., 1985). As pirazinas são compostos aromáticos que aumentam de concentração gradualmente com o decorrer da torração, sendo que a diminuição do teor de algumas delas nas amêndoas de cacau é coincidente com o início da sobretorração, devido possivelmente a uma volatilização, dado ao aumento de temperatura (PEZOA, 1989, MERMET et al., 1992). REINECCIUS et al. (1972) mostraram que durante a torração de 100g de amêndoas de cacau, cerca de 1g de amino ácidos e açúcares são consumidos via Reação de Maillard, mas somente 142-698µg de pirazinas são formadas, porém o aroma produzido é extremamente intenso. Tendo em vista que a torração é uma etapa importante no desenvolvimento do sabor do chocolate e que os estudos mais detalhados dessa etapa para o cupuaçu praticamente não existem, torna-se necessário um aprofundamento maior acerca dos parâmetros que envolvem o processo para que se possa ter um melhor subsídio científico na busca de novas alternativas para o processamento de chocolates e congêneres. Desta forma, procurou-se identificar as melhores condições de tempo e temperatura para a torração de amêndoas de cupuaçu, levando-se em consideração a evolução no teor de algumas pirazinas identificadas e quantificadas por cromatografia gasosa, bem como por meio de análise sensorial. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Amêndoas de cupuaçu Foram utilizadas amêndoas de cupuaçu fermentadas e secas, fornecidas por produtores de regiões de plantio como Pará e Amazonas, bem como amêndoas fermentadas na Cooperativa Agrícola Mista de Tome-Açu (CAMTA). 2.2 Caraterização da matéria-prima As características físico-químicas foram avaliadas utilizando-se os métodos analíticos propostos pela AOAC (1995) (Assoc. of Official Analytical Chemists), determinando-se os teores de umidade, proteína, lipídeos, cinzas, fibras e carboidratos totais. 2.3 Torração A torração foi efetuada utilizando-se forno elétrico rotativo escala piloto marca PROBAT, em lotes de 250g de amêndoas inteiras de cupuaçu. 168 M. B. QUEIROZ N. H. P. GARCIA Em estudo preliminar realizado com o cacau definiu-se que uma torração à temperatura de 150ºC na camisa do torrador por 38 minutos, na forma de nibs, foi considerada ideal para o desenvolvimento ao máximo dos compostos aromáticos (FADINI, 1998). Devido ao cupuaçu ser considerado semelhante ao cacau em termos de composição físico-química, optou-se por torrar as amêndoas utilizando as mesmas condições de temperatura (150ºC) empregada na torração do cacau e variando-se inicialmente o tempo de 5 em 5 minutos numa faixa de 30 a 50 minutos. As amostras obtidas nesta torração preliminar foram avaliadas sensorialmente por um expert em torração de cacau, sendo então, estabelecida uma faixa ideal de trabalho em torno de 38 a 44 minutos, com gradiente de 2 minutos, onde as amostras apresentaram melhor desenvolvimento de sabor. Desta forma, as amostras foram torradas com temperatura de 150ºC na camisa do torrador, em tempos de 38, 40, 42 e 44 minutos (Cp38, Cp40, Cp42, Cp44 respectivamente). Foi acoplado um termopar no interior do torrador, sendo registrado em intervalos de 1 minuto o aumento de temperatura na cavidade interna, onde as amostras foram colocadas para torrar. Foram utilizadas também amostras cruas e torradas por 50 minutos (consideradas sobretorradas) para comparação dos resultados. As amêndoas foram, então, moídas e refinadas em moinho de três cilindros com refrigeração, para a obtenção de um liquor com partículas impalpáveis, o qual foi utilizado posteriormente para realização da análise dos compostos voláteis por cromatografia e para a análise sensorial. 2.4 Extração, separação, identificação e dosagem de alquilpirazinas Para a extração dos compostos voláteis do cupuaçu utilizou-se o microextrator do tipo LIKENS & NICKERSON (ZAMALLOA, 1994) adaptado a um destilador como o utilizado para obtenção do teor de nitrogênio protéico (Figura 1). Avaliação da Torração de Amêndoas de Cupuaçu (Theobroma grandiflorum) Os componentes voláteis foram coletados com quantidades mínimas de solvente (1,5-2ml), sendo que este extrato obtido foi injetado diretamente no cromatógrafo gasoso, após a retirada do excesso de água com sulfato de potássio. Na separação e quantificação dos derivados pirazínicos estudados, utilizou-se um cromatógrafo gasoso VARIAN, modelo 3400, com detector de ionização de chama (FID) acoplado a um integrador VARIAN, modelo 4400, nas seguintes condições: coluna capilar de sílica fundida (30m comprimento x 0,248mm de diâmetro interno x 1µm de espessura de filme), com fase estacionária polietileno glicol; gás de arraste hidrogênio, com vazão de 1ml/min; temperatura do detector 250ºC; temperatura do injetor (Splitless de Grobs 0,40min) 230ºC e programação de temperatura de 50ºC a 210ºC, sendo de 50 a 100ºC com gradiente de 2ºC/min e de 100 a 210ºC com gradiente de 10ºC/min. As metilpirazinas foram identificadas usando-se os respectivos padrões: etil; 2-metil; 2,3-dimetil; 2,5-dimetil; 2,6-dimetil; 2,3,5-trimetil e 2,3,5,6-tetrametil pirazinas, e os cálculos das concentrações das pirazinas foram feitos por meio da adição de 4 etil piridina como padrão interno ao extrato aromático concentrado até 1ml aproximadamente. Os valores médios das concentrações mássicas de pirazinas para as amostras avaliadas foram analisados estatisticamente por análise de variância (ANOVA) e teste de Tukey, para a determinação da diferença significativa (p≤0,05) entre as médias das amostras. 2.5 Análise sensorial As amostras torradas nos diferentes tempos (Cp38, Cp40, Cp42 e Cp44) foram preparadas suspendendo-se o liquor de cupuaçu em água fervente numa concentração de 5%, sendo então, servidas aos provadores à temperatura de 50ºC. O método sensorial utilizado fundamentou-se na Análise Descritiva Quantitativa (ADQ), no qual utilizou-se inicialmente uma equipe de 15 provadores que passaram por um treinamento e seleção, permanecendo 9 provadores treinados ao final da análise. Aplicando-se o método de Descrição Entrecruzada (Kellys Repertory GRID) (MOSKOWITZ, 1983), pode-se levantar uma lista final de 12 termos que melhor descreviam as amostras de cupuaçu, os quais foram utilizados na elaboração da ficha de avaliação da análise descritiva, com escala não-estruturada de 10cm. Para a seleção da equipe final de provadores, as amostras foram servidas por meio de delineamento de blocos completos casualizados, onde cada provador provou as 4 amostras em 3 repetições, utilizando-se a ficha de avaliação com os extremos de escala para os atributos selecionados. Com isso foi possível selecionar os provadores com maior poder de discriminação, repetibilidade e concordância com a equipe, seguindo metodologia proposta por DAMASIO, COSTELL (1991). FIGURA 1. Microextrator-destilador do tipo Likens & Nickerson acoplado a um destilador por arraste de vapor. Braz. J. Food Technol., 2(1,2):167-173, 1999 Os 9 provadores treinados avaliaram as 4 amostras em 3 repetições e os resultados obtidos foram analisados estatisticamente por meio de Análise de Variância (ANOVA) e teste de Tukey, para a comparação das médias das amostras. Fez-se ainda a análise dos componentes principais (ACP). 169 M. B. QUEIROZ N. H. P. GARCIA 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Caracterização físico-química A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos para os teores de umidade, proteína, lipídeo, cinzas, fibras e carboidratos para as amêndoas de cupuaçu cruas. Avaliação da Torração de Amêndoas de Cupuaçu (Theobroma grandiflorum) 3.3 Composição em alquilpirazinas Como pode-se observar nas Figuras 3 e 4, as condições da análise cromatográfica permitiram uma boa separação dos componentes voláteis estudados. A Figura 3 ilustra o cromatograma obtido para a separação dos padrões de pirazinas, bem como do padrão interno e a Figura 4 apresenta um cromatograma obtido da fração aromática de cupuaçu torrado a 150ºC por 42 minutos. TABELA 1. Composição química das amêndoas de cupuaçu em base úmida. Compostos Porcentagem (%) Umidade 5,30 Proteína 7,81 Lipídeo 61,50 Cinzas 2,30 Carboidratos 23,09 Fibras 5,56 3.2 Torração A temperatura de 150ºC utilizada na camisa do torrador no decorrer do tratamento térmico das diferentes amostras estudadas permaneceu constante durante todo o processo, variando ±0,4ºC. 160 140 120 100 80 60 40 20 0 FIGURA 3. Cromatograma dos padrões de pirazinas e padrão interno. Minutos 38 40 44 40 36 32 28 24 20 16 8 12 42 44 4 0 Temperatura (ºC) O perfil de temperatura da câmara de torração durante o tratamento térmico de todas as amostras de cupuaçu estudadas também foi constante como pode-se observar na Figura 2, que mostra a coincidência das curvas de temperatura que se iniciaram a 64,9 ± 1,5ºC no momento de colocar as amostras para torrar e com máxima temperatura atingida no final do processo de 142,9ºC ± 1,1ºC. Durante a operação de torração, observou-se um acréscimo de temperatura mais acentuada até aproximadamente 120ºC e posterior atenuação da curva com gradientes menores até o final do tempo de torração para cada uma das amostras. FIGURA 4. Cromatograma obtido da fração aromática de cupuaçu torrado a 150ºC por 42 minutos. Tem po (m in) FIGURA 2. Médias de temperatura na cavidade interna do forno elétrico rotativo durante a torração. Braz. J. Food Technol., 2(1,2):167-173, 1999 A Tabela 2 mostra os valores médios obtidos das concentrações mássicas de pirazinas nas amostras de cupuaçu torradas nos tempos de 38, 40, 42 , 44 e 50 minutos, bem como na amostra crua. 170 M. B. QUEIROZ N. H. P. GARCIA TABELA 2. Valores médios das concentrações mássicas de pirazinas para as amostras torradas. Alquilpirazinas (µg/kg de liquor) Amostras Cru Metil a 50,18 38 min 126,42 b 40 min 156,09 b 151,36 b 42 min 2,5- 2,6- dimetil dimetil a 377,69 90,31 411,56 b 573,35 208,53 243,90 c 342,90 275,31 b 273,56 234,70 50 min 123,78 a b c 44 min etil a ND 136,46 b 214,50 689,63 bc 738,75 c 583,71 2,3,5- 2,3,5,6- trimetil tetrametil a 599,89 75,74 a b 2,3dimetil b 608,39 cd 646,59 cd 192,34 c 220,45 b 176,51 a b 1411,53 b 1811,78 c 981,00 c 493,13 d 419,48 a 21686,28 b 30940,50 c 33324,28 d 27981,67 c c 27392,42 c bc 21964,89 2293,25 b 1823,13 b 1591,23 b b a ND = não detectado. Obs.: Todos os valores com a mesma letra, numa mesma coluna, não diferem significativamente entre si (Tukey - p ≤ 0,05). A Figura 5 mostra a evolução da concentração das pirazinas de acordo com o tempo de torração para as amostras de cupuaçu. Avaliação da Torração de Amêndoas de Cupuaçu (Theobroma grandiflorum) por volatilização destas dado o aumento de temperatura, reforçando resultados obtidos por PEZOA (1989) e MERMET et al. (1992). A 2-metil e a etilpirazina foram as que apresentaram menor concentração comparadas às demais, tendo ambas picos máximos em 44 minutos de torração. Para a 2metilpirazina a concentração máxima obtida em 44 minutos diferiu significativamente dos outros tempos avaliados. Já a etilpirazina não diferiu das amostras torradas por 40 e 42 minutos. Dentre as dimetilpirazinas (2,5, 2,6 e 2,3), a 2,5 foi aquela identificada em menor concentração em todos os tempos de torração, com exceção à amostra crua onde este valor foi menor para a 2,3-dimentilpirazina. Sua concentração máxima foi observada na amostra torrada por 42 minutos, a qual não diferiu significativamente dos tempos 44 e 50 minutos. Para a 2,6-dimetilpirazina observou-se uma concentração alta no início (amostra crua) comparada às demais dimetilpirazinas, com aumento progressivo até alcançar seu máximo em 44 minutos, sendo que esta concentração foi considerada estatisticamente diferente das demais para os diferentes tempos de torração. Com relação à 2,3-dimetilpirazina, observou-se uma concentração inicial inferior às demais, porém o aumento no decorrer da torração foi mais acentuado, registrando seu pico máximo em 42 minutos com concentração superior comparada aos picos máximos da 2,5 e 2,6-dimetilpirazinas e diferindo significativamente das demais amostras. As concentrações da 2,3,5-trimetilpirazina e da 2,3,5,6-tetrametilpirazina foram superiores comparadas às demais pirazinas, sendo a da tetra muitas vezes maior, como pode-se observar na Tabela 2. A 2,3,5-trimetilpirazina atingiu máxima concentração em 42 minutos, diferindo de todas as outras amostras e a 2,3,5,6-tetrametilpirazina registrou maior concentração em 40 minutos, porém foi considerada estatisticamente semelhante à amostra torrada por 38 minutos. Analisando-se estes resultados verifica-se que as amêndoas de cupuaçu inteiras torradas por 42 e 44 minutos tiveram, no geral, maior desenvolvimento dos compostos pirazínicos estudados. 3.4 Avaliação sensorial FIGURA 5. Evolução na concentração do compostos aromáticos estudados com o tempo de torração. De maneira geral, observou-se que com o aumento no tempo de torração, ocorria um aumento na concentração de todas as pirazinas identificadas até que atingissem um pico máximo a partir do qual a concentração começava a diminuir. Isto devido provavelmente à formação das pirazinas por reação de Maillard com o aumento da temperatura e posterior perda Braz. J. Food Technol., 2(1,2):167-173, 1999 Utilizando-se o método GRID, o painel sensorial definiu 12 atributos que caracterizavam as amostras analisadas, sendo eles: cor marrom, aparência gordurosa, aparência encorpada, aroma chocolate, aroma ácido, aroma doce, aroma torrado, sabor torrado, sabor chocolate, sabor ácido, sabor amargo e adstringência. A Tabela 3 resume as médias obtidas para 6 dos 12 atributos que melhor caracterizaram o cupuaçu torrado nos quatro diferentes tempos, segundo a análise dos componentes principais (ACP). 171 M. B. QUEIROZ N. H. P. GARCIA TABELA 3. Médias das amostras por atributo avaliado. Atributo Aroma Chocolate Aroma Ácido Aroma Torrado Cp38 Cp40 Cp42 Cp44 b a a 3,35b b 2,61b b 4,65a a 3,51a 3,18 a 3,65 c 3,14 a 4,37 b 2,69 bc 3,52 a 4,34 2,81 4,15 Sabor Torrado 4,32 3,80 4,49 Sabor Chocolate 3,15a 3,54a 3,77a 3,40a Sabor Ácido 4,00a 3,26b 2,06c 2,35c Obs. Valores com as mesmas letras, numa mesma linha não diferem significativamente entre si. A Figura 6 ilustra bem a predominância de cada atributo para as 4 amostras. aroma chocolate 5 CP 38 CP 40 sabor ácido 3 aroma ácido 1 Avaliação da Torração de Amêndoas de Cupuaçu (Theobroma grandiflorum) Segundo BAUERMEISTER (1981), a 2,3,5,6-tetrametil e a 2,5-dimetilpirzina poderiam ser consideradas boas indicadoras do grau de torração e uma diminuição em suas concentrações poderia ser um sinal de que a torração estaria atingindo seu final. De acordo com FADINI (1998), a 2,3,5,6-tetrametil indicaria o ponto final da torração não exatamente no pico de máxima concentração, mas após o início de seu declínio. Observa-se que os resultados deste estudo indicaram uma diminuição na concentração da 2,5-dimetil a partir de 42 minutos de torração, enquanto para a 2,3,5,6-tetrametil isto ocorreu a partir de 40 minutos. Comparando-se esses resultados da concentração das pirazinas com os resultados sensoriais, sugere-se que um tempo de 42 minutos seria indicado para a torração das amêndoas de cupuaçu, nas condições do estudo, pois teríamos o pico de máxima concentração da 2,5-dimetil, o início do decréscimo da 2,3,5,6-tetrametil e também um sabor e aroma de chocolate e sabor torrado levemente superior para essa amostra, comparada aos demais tempos de torração. CP 42 CP 44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS -1 sabor chocolate aroma torrado sabor torrado FIGURA 6. Gráfico aranha representando as médias dos atributos para as amostras de cupuaçu torradas. Observa-se que a amostra torrada por 38 minutos (Cp38) caracterizou-se por maior sabor e aroma ácido e menor aroma torrado. A amostra 40 destacou-se um pouco mais com relação a aroma chocolate, baixo sabor e aroma de torrado. Para a amostra 42 os resultados foram similares à amostra 40 destacando-se menor intensidade de sabor ácido e maior intensidade de sabor e aroma torrados. A amostra de cupuaçu torrada por 44 minutos apresentou maior intensidade de aroma torrado e menor intensidade de aroma ácido. No caso de sabor chocolate, as amostras apresentaramse similares, porém a amostra torrada por 42 minutos foi a que obteve maior média segundo os provadores. Comparando-se sensorialmente somente as amostras 42 e 44, as quais apresentaram maior desenvolvimento das alquilpirazinas durante a torração, obser va-se que elas diferiram significativamente nos atributos aroma chocolate e aroma tor rado, sendo que a 42 apresentou maior intensidade do primeiro atributo e menor para aroma torrado. Apesar de não haver diferença significativa entre estas amostras para os demais atributos, nota-se pelas médias uma intensidade de sabor torrado e sabor chocolate levemente maior para a amostra 42, sendo menor a intensidade de sabor ácido. Braz. J. Food Technol., 2(1,2):167-173, 1999 AOAC. Official Methods of Analysis of the Association of Official Analytical Chemists (AOAC), 1995. ARAGÃO, C.G. Mudanças físicas e químicas da semente de cupuaçu (Theobroma grandiflorum Schum) durante o processo fermentativo. Manaus, 1992.115p. Tese (Mestr.) INPA. Universidade do Amazonas. BAREL, M., LEON, D., VICENT, J.C. lnfluence du temps de fermentation du cacao sur Ia production des pyrazines du chocolat. Café, Cacao, Thé. 29:277-286, 1985. BAUERMEISTER, P. Cocoa liquor roasting. The Manufac. Confect. 10:43-45,1981. COUTINHO, R. B. S. Industrialização das sementes de cupuaçu. Revista de Farmácia e Bioquímica da Amazônia, Belém, 2(4):7-10, 1969. DAMÁSIO, M.H., COSTELL, E. 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