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COLLABORATIVE PLANNING, FORECASTING AND REPLENISHMENT: O ESTADO DA ARTE NO BRASIL José Geraldo Vidal Vieira Silas Costa Ferreira Jr. Hugo T. Y. Yoshizaki [email protected] [email protected] [email protected] Universidade de São Paulo – Departamento de Engenharia de Produção Avenida Prof. Almeida Prado, 531, 2º andar CEP: 05508-900 – São Paulo, SP – Brasil 55-11-3091-5363 R.423 RESUMO Este trabalho descreve o estado da arte do CPFR no Brasil e relaciona o processo de colaboração entre indústrias e varejistas, identificando e analisando os benefícios e entraves na sua implantação e possíveis reduções de custo de transação. Foram estudados dois casos em indústrias e respectivos varejistas que transacionam bens de consumo não-duráveis. Por meio das informações obtidas na indústria, e também, no varejo, verificou-se que a indústria apresenta uma iniciativa de colaboração e de inovação tecnológica mais intensa do que a do varejista. E que a freqüência nas transações, decorrente da simetria informacional, e a alta especificidade de ativo humano são fatores importantes para uma colaboração efetiva. Palavras-Chave: tecnologia da informação, colaboração, supply chain, economia dos custos de transação. INTRODUÇÃO O Supply Chain Management (SCM) trata uma multiplicidade de sistemas de informação entre os participantes ao longo da cadeia. Sendo de suma importância a integração dos processos de negócios entre os elos, a colaboração entre os parceiros na cadeia de suprimentos é o primeiro passo para a melhor troca de dados, uso estratégico da informação e homogeneização dos sistemas utilizados para comunicação eficaz. Como parte da integração desses processos, o Collaborative Planning, Forecasting and Replenishment (CPFR) é uma ferramenta de inovação tecnológica útil para auxiliar, a nível estratégico, tático e operacional, a implementação de diversas transações entre os agentes. Este trabalho tem dois objetivos: apresentar o processo de implementação dos casos de CPFR no Brasil como uma inovação tecnológica e relacionar os problemas nas transações entre os parceiros estratégicos, com o intuito de diminuir os custos de transação na cadeia de suprimentos, usando conhecimentos da Nova Economia Institucional (NEI). Iniciativas de colaboração têm sido adotadas entre o varejo e a indústria nacional há cerca de três anos e o CPFR há 18 meses (Banco de Dados da Gazeta mercantil, 2001). Contudo, em 1 função de suas características inovadoras, os estudos ainda estão na fase preliminar e pretendese com este estudo verificar como os seus conceitos são usados na prática. Foi feito um estudo de dois casos em indústrias que fornecem bens de consumo não-duráveis para o mercado varejista. Por meio dos dados obtidos, não só as indústrias, mas também, em todo o canal de distribuição, verificou-se que a colaboração é fundamental para a sobrevivência dos parceiros na cadeia, e que o CPFR é uma importante ferramenta estratégica de tecnologia de informação para efetivar transações entre esses agentes. Além disso, verificou-se que a colaboração na cadeia de suprimentos, por meio do CPFR, ainda é um processo embrionário e pouco desenvolvido no mercado brasileiro (Integration Consultoria Empresarial, 2002), provavelmente devido ao pouco conhecimento do processo CPFR e ao baixo nível de inovação tecnológica por parte do varejo. COLABORAÇÃO E TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO NA SUPPLY CHAIN DO MERCADO VAREJISTA Tendo em vista que as relações modernas de comercialização entre indústria e varejo tiveram início no Brasil na década de 60 (Bignetti, 2001), o histórico mostra que pouco se tem feito nesta relação no tocante às inovações tecnológicas quando comparadas com países desenvolvidos, em que os recursos de tecnologia da informação são utilizados para dinamizar as relações entre fornecedores, clientes e consumidores finais. Na década de 90, a exposição do setor supermercadista à globalização, através da chegada de grandes redes varejistas promoveu um processo agudo de competição, o que desencadeou um choque de modernização. O mercado de varejo ficou exposto às frentes de inovações tecnológicas que permitiram utilizar técnicas avançadas de Tecnologia da Informação (TI). No ambiente atual a forte competição continua obrigando as empresas a estarem constantemente em busca de inovações tecnológicas que possibilitem a obtenção de vantagens competitivas, cada vez mais dinâmicas. Considerando que novas formas de informatização e de novos processos de alianças têm se intensificado nas organizações para dar uma resposta rápida e precisa aos consumidores, a decisão de se adotar as práticas do Efficient Consumer Response (ECR) foi o primeiro passo para fornecedores, distribuidores e clientes varejistas se organizarem em torno de uma estratégia – a busca de eficiência da cadeia de suprimentos. Segundo Martins e Alt (2000); Takaoka (1997), por meio de TI, os membros das cadeias de varejo poderão ser preparados para maximizarem o desempenho, adaptando-se às mudanças externas. Porém é necessária uma forte integração entre participantes com o objetivo de diminuir os custos ao longo da cadeia. Nesse sentido, a colaboração é de fundamental importância para o sucesso da troca de dados e uso estratégico da informação e de redução dos custos de transação. Com o objetivo de alcançar esse sucesso, foi criado o CPFR que se traduz na capacidade de responder antecipadamente às solicitações dos clientes, por meio da colaboração entre o fornecedor e o cliente, na busca de um entendimento conjunto na relação procura/oferta ao menor custo. 2 CPFR COMO DRIVER DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA O CPFR é um conjunto de normas e procedimentos criado pelo comitê Voluntary Interindustry Commerce Standards (VICS) (WHITE, 2001), formado por representantes de diversas empresas, principalmente aqueles relacionados ao varejo, que buscam maior eficiência na supply chain por meio de estabelecimento de padrões para facilitar o fluxo físico e de informações. As normas permitem que compradores e vendedores colaborem nas previsões da demanda e de ordens de pedido, atualizando seus planos regularmente, com base na troca de informações e conduzindo os estoques do cliente a níveis ótimos e reduzindo os estoque do fornecedor. Ou seja, a colaboração é fortemente alicerçada na confiança entre os parceiros, permitindo ainda o melhor planejamento da produção e da distribuição de forma a otimizar o equilíbrio entre o melhor custo e a melhor taxa de serviço. Além disso, a inovação é um processo de aprendizado contínuo e que nem sempre significa fazer algo novo, mas, também, fazer algo de maneira que seja melhor do que os outros (Tidd e Pavitt, 2001). Nesse sentido, o CPFR pode ser entendido como uma vantagem competitiva considerando a constante necessidade de inovação dos processos organizacionais e investimentos em TI. Em ambientes cuja característica é a mudança tecnológica intensa, a turbulência representa a regra geral, e a estabilidade a exceção. Para sobreviver, os atores criam novas regras competitivas, estabelecem estratégias inovativas para alteração rápida de processos (Arthur, 1996). O mercado varejista, no geral, se comporta como um ambiente de alta incerteza e que exige respostas rápidas para novos hábitos de consumo. Cada vez mais os consumidores estão demandando novos produtos e com alto padrão de qualidade, o que leva as empresas passarem a inovar seus processos e produtos, reduzindo cada vez mais o ciclo de vida dos produtos. Diante disso, pode-se dizer que a inovação não é um evento único e, portanto, para que se tenha melhor resultado, é preciso de gerenciamento. No caso do CPFR o gerenciamento dos processos requer um conhecimento interno e externo da empresa na supply chain, pois o desenvolvimento de padrões de comportamento efetivos influencia no processo de operação de forma cotidiana entre os parceiros na cadeia. O CPFR quando bem aplicado pode até reduzir os custos de transação na supply chain, como será descrito nos casos. No Brasil, a liderança da implantação do CPFR está no comitê ECR. ECONOMIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO E A COORDENAÇÃO VERTICAL Segundo Williamson (1985), os custos de transação são decorrentes da movimentação do sistema econômico e a sua análise é essencial para o processo decisório da escolha de diferentes formas das firmas se estruturarem, seja na forma mais simples de mercado (livre comércio), seja na hierarquia (integração vertical), passando por formas híbridas que se adequam a variados casos. Porém essas formas de governança se traduzem em decisões estáticas de produção/contratação, sem considerar os aspectos de inovação tecnológica, as incertezas dos contratos de longo prazo e as variações no ambiente interno à firma. Langlois (1992), por sua vez, trata os custos de transação em tempo real e descreve o ambiente da firma como um conjunto de acontecimentos dinâmicos. Embora tenha aspectos divergentes a 3 respeito da análise dos custos de transação, Williamson (1985) coloca que essas estruturas de governança têm a finalidade de regular uma determinada transação, podendo até reduzir os seus custos. Para Hobbs (1996); Stanley (1998), os custos de transação são custos adicionais de alguma troca, representados por custos de informação, negociação e monitoramento. Para uma melhor análise das formas de governança, Williamson (1996); Williamson e Masten (1999) destacam três dimensões das transações que são essenciais na análise e que formam o corpo central da Economia dos Custos de Transação (ECT): o estágio de especificidade de ativos, incerteza e a freqüência com que as transações se realizam. A alta especificidade de ativos contribui para a relação de dependência bilateral entre os agentes econômicos (Williamson, 1993; 1991). Assim cada investimento deve ser feito na direção de diminuir os custos de produção ou aumentar o seu rendimento. O maior conhecimento entre os agentes reduz as incertezas (o que contribui por diminuir a integração vertical) e aumenta a freqüência (em que as transações tendem a se repetirem na ausência de ações oportunistas), fazendo com que haja maior confiança e construam uma reputação (Zylberstajn, 1995). A organização dos contratos, analisada minuciosamente por Demsetz (1972), é importante por definir os incentivos e controles na supply chain. A definição desses controles e formas de monitoramento pode levar o comportamento de colaboração entre os agentes. PERGUNTAS DE PESQUISA Os aspectos aqui expostos, entre outros, conduziram ao estudo dos dois casos que estão na fase preliminar da implantação do CPFR e que serão apresentados no próximo item. Para orientar a pesquisa foram elaboradas as seguintes questões que pretendem ser respondidas. • Considerando as diferenças entre os níveis de inovação tecnológica das empresas entrevistadas, o CPFR tem sido implantado estrategicamente como uma nova tecnologia de informação que atenda aos aspectos colaborativos na supply chain do varejo? • Qual é a implicação da adoção do CPFR em relação à eficiência do sistema logístico? Até que ponto se adapta às condições do varejo e da indústria? • A colaboração exclui o poder de governança por uma das partes na cadeia do varejo? • Diante da tentativa de colaboração entre parceiros na Supply Chain, a arquitetura dos contratos é fidedigna para o proposto? • A freqüência nas transações e a especificidade de ativo humano são fatores-chave no processo de colaboração? ESTUDO DOS CASOS Os dois casos (em andamento), chamados casos piloto, são descritivos, uma vez que procuram apresentar as características do canal entre indústria e varejo e, ao mesmo tempo, o trabalho 4 tem como base um estudo de caso exploratório, onde foram realizadas entrevistas com o intuito de obter informações detalhadas desse relacionamento. A pesquisa se refere, de um lado, as indústrias de classe mundial e, do outro, varejistas de pequeno porte de bandeira nacional com desempenho crescente na utilização de ferramentas de sistemas de informação voltadas para a inovação tecnológica. CPFR: UMA ADAPTAÇAO PARA A REALIDADE BRASILEIRA Os casos que serão descritos procuram seguir uma seqüência de passos que estão previstos na cartilha (ECR Brasil 2003). Esta está baseada nas regras e procedimentos, ou seja, nos nove passos elaborados pelo comitê internacional VICS e que foram adaptados conforme a realidade brasileira. O primeiro passo, já implantado pelos dois pilotos, teve como objetivos gerais estabelecer as regras e os princípios do processo colaborativo, bem como acordos de confidencialidade e definir responsabilidades e comprometimento de recursos, competências e sistemas envolvidos no processo do relacionamento colaborativo. Os objetivos específicos procuraram descrever, primeiro, por meio de avaliações (questionários), o estágio de colaboração e entendimento do CPFR por cada parceiro e, em segundo, definir as metas e objetivos estratégicos comuns, as categorias de produtos, o processo padrão de colaboração, os prazos de revisão e os Key Performance Indicator (KPI) do acordo. O acordo de confidencialidade é formalizado por ambas as partes, porém, tem caráter generalizado, de modo a garantir o alinhamento e comprometimento entre os parceiros, sem se ater às peculiaridades de um contrato formal, permitindo, a medida do possível, o avanço das transações de comercialização. Ou seja, cobre em linhas gerais a transação indústria e varejo, sem a necessidade de desenhar a estrutura contratual para cada item promocional, ou para cada fase da transação. Segundo os entrevistados, o alinhamento estratégico carece, sempre, de um realinhamento para não perder o foco da transação. ENTRAVES E BENEFÍCIOS COMUNS AOS PILOTOS COM A IMPLANTAÇÃO DO CPFR • Indústria A implantação do CPFR é estratégica a operacional, pois a cultura não está focada somente na produção e venda, mas, também, na arquitetura da transação com o cliente. Isso reflete os ganhos futuros, fruto de uma colaboração efetiva e do incentivo ao rompimento de paradigmas. Os entraves são representados principalmente pelas mudanças culturais. Cada empresa tem a sua forma de trabalhar e quando os parceiros não investem em tecnologia a dificuldade ainda é pior, pois às vezes falta-lhe conhecimento sobre o que está sendo proposto. O segundo ponto, que representou uma dificuldade incipiente e transitória, foi o alto grau de informalidade nas operações, impossibilitando a troca de informação sem controles adequados com o parceiro, além de pouco investimento em TI no processo de colaboração. A indústria estimula o parceiro a investir em TI e otimizar os processos de troca, mesmo que os ganhos a 5 princípio, decorrentes desse processo de colaboração, não sejam os almejáveis. Nesse sentido, a freqüência das transações tem aumentado, mantendo-se a mesma verba. O terceiro ponto é a inadequação, ou mesmo ausência, de processos de negócio no parceiro varejista, que sustenta e concentra o CPFR em uma única pessoa, colocando em risco todo o aprendizado do processo de colaboração. A indústria tem uma estrutura organizacional composta por times funcionais como as áreas de finanças, logística, marketing, vendas e sistemas, sendo o departamento comercial participativo em todos os grupos. Após a definição do scorecard, a indústria monitora, por meio do canal de vendas, o desempenho das promoções, o que permite mensurar a freqüência das transações e, conseqüentemente, os lucros e perdas. Como benefícios, as iniciativas colaborativas trouxeram: (a) distribuição das entregas ao longo do mês, em vez de concentrá-las na virada do mês; (b) melhor previsão de demanda, etc); (c) redução do tempo de transação na cadeia; (d) melhor troca de informação; (e) padronização dos processos de entrega e de troca de dados e (f) melhoria no relacionamento com o parceiro. • Varejo A implantação do CPFR tem foco mais operacional, voltada para resultados rápidos e mensuráveis, pois a cultura ainda está focada nos preços e quantidades (compra por lote), logo oportunista. Isso reflete a falta de planejamento estratégico. Os entraves são representados pela estrutura organizacional inadequada e pela falta de formalização do CPFR como um processo de negócio. Os benefícios são: redução dos estoques nas lojas e nos CDs, redução drástica do índice de ruptura nas gôndolas, linearidade das entregas ao longo do mês, redução dos custos logísticos, melhoria no relacionamento entre os parceiros e padronização de processos. PILOTO A – PARCEIRO INDÚSTRIA Com base no capital intelectual, a indústria do Piloto A está presente em mais de 80 países, com uma diversidade de aproximadamente 250 produtos em diversos segmentos (como higiene e limpeza, medicamentos e alimentos, etc). No Brasil, sua estrutura de operação está dividida em duas fábricas e um Centro de Distribuição (CD) estratégico que visam atender o mercado nacional, sendo direto o canal de comunicação com o parceiro. Aproximadamente há três anos atrás, a indústria utilizava a colaboração de forma pura (na base da confiança e da negociação), porém já iniciava a implantação do Vendor Managed Inventory (VMI). O parceiro (ou varejista) tinha um plano de forecasting informal e pouco preciso para passar para a indústria. Posteriormente, com a implantação do CPFR há 18 meses, a indústria passou a fazer previsões de demanda conjunta com o parceiro com um mês de antecedência, sendo as promoções marcadas estrategicamente com no mínimo 12 meses de antecedência. As previsões têm com base os períodos históricos e as pesquisas de opinião feitas diretamente aos consumidores finais, seguindo contratação trimestral (para produtos promocionais), com ciclo de programação de referência. Antes, a empresa fazia o atendimento 6 aos clientes com um custo de 50% a mais do valor do frete, um tempo de espera de 8 horas, com concentração de vendas na última semana de 60% do total do mês. Hoje, o volume de reposição na última semana reduziu para 35% e o tempo de espera médio reduziu para 1 hora e trinta minutos. Depois do primeiro passo, sendo o relacionamento pessoal, um dos pilares na colaboração, os parceiros evoluíram diretamente para o quinto passo. Neste ponto (depois de seis meses de reposição dos itens promocionais), com base em processos de colaboração e utilização do VMI, os parceiros passam a trocar realmente os dados via Eletronic Data Interchange (EDI). Assim, a indústria tem acesso ao retail link do varejista, passando a atender a real demanda, o que antes era medido pelas vendas agregadas do centro de distribuição. Tendo em vista que os itens promocionais mudam freqüentemente, a indústria relata que, torna-se necessário a implantação do passo dois para cobrir as situações não previstas pelo VMI. Segundo a indústria, após a aplicação dos dois passos (1 e 5), os demais trazem grandes benefícios para ela, pois melhora a previsão de vendas, o planejamento, a visibilidade de promoção e ajuda a definir com maior precisão o calendário anual de promoções. A empresa tem a filosofia de não empurrar produtos para os consumidores e sim prever as novas necessidades de mercado. Logo as pesquisas diretas ao consumidor são fundamentais e essenciais para que o reabastecimento seja hábil e sem ruptura de prateleira. Segundo a indústria, talvez o melhor benefício tenha sido a implantação do passo cinco, após o primeiro, pois trouxe resultados imediatos para o varejista, o que é importante para o planejamento de curto prazo para o parceiro, além de estimulá-lo a investir no planejamento colaborativo, pois os resultados são visualizados bem antes do previsto. Começar pelo quinto passo talvez seja interessante para a área logística e para dar maior visão aos vendedores de que é possível realizar transações de forma colaborativa, pois os ganhos são reais. Nesse caso, a cultura empresarial teve um caráter estratégico, fazendo com que o parceiro percebesse os benefícios gerados pela colaboração. PILOTO A – PARCEIRO VAREJISTA Com aproximadamente 20 (vinte) lojas e dois CDs no território nacional, o varejista vem intensificando o relacionamento colaborativo com a indústria, sendo o VMI o principal indutor desse processo. Seu sucesso levou o varejista a transacionar sessenta itens (100% de toda a transação) que fazem parte das promoções dentro do processo de CPFR. Segundo o entrevistado, o histórico do relacionamento, a sincronia e a equivalência dos processos de negócio fazem com que a colaboração seja fluente, embora a capacitação em TI e planejamento estratégico seja em menor escala do que o do parceiro, além de não haver uma equipe específica para o projeto. O primeiro passo de implantação do CPFR foi informal. A periodicidade das transações gira em torno de sete dias, com lotes de entrega otimizados conforme a carga (caminhões truck ou carretas). Por enquanto está em teste a troca de dados de previsão de vendas e, portanto, a 7 confidencialidade das informações a mensuração dos indicadores de desempenho estão restritas aos aspectos operacionais. O varejista relata ainda que, embora com preços estáveis (o que facilita a colaboração), os próximos passos do CPFR podem acarretar em elevadas mudanças organizacionais, dificultando a sua implantação. PILOTO B – PARCEIRO INDÚSTRIA A indústria do Piloto B está presente em vários países, com uma diversidade acima de 200 produtos em diversos segmentos (como higiene e limpeza, medicamentos e alimentos, etc). No Brasil, é composta por nove fábricas (sendo quatro terceirizadas), nove CDs e um Hub, localizados em pontos estratégicos. O Hub tem a função de concentrar e repassar os produtos slow moving (para os CDs) e fast moving (para as lojas de varejo) das fábricas, sendo que 10% do faturamento são entregas diretas aos varejistas. São vinte itens que fazem parte do CPFR, correspondendo aproximadamente 3% do total de itens vendidos para o parceiro. Os itens do piloto, não necessariamente fazem parte de itens promocionais (em torno de 20%) e priorizam o volume de vendas e o retorno econômico relativo aos demais. Um dos maiores entraves são o poder de negociação e a falta de um comprometimento do parceiro no tocante ao aprendizado e treinamento do CPFR dentro da sua estrutura interna privilegiando as atividades operacionais. Já os principais benefícios são melhor relacionamento colaborativo com o parceiro, linearidade das entregas ao longo do mês e incremento do volume de vendas. A implantação seguiu os dois primeiros passos simultaneamente, sendo o alinhamento estratégico sempre revisto à medida que intensifica os acordos colaborativos entre as partes. Embora não tenha um planejamento de forecasting definido, pois os recursos de TI para troca de dados se resumem em EDI, a indústria utiliza KPIs que auxiliam no planejamento tático/operacional. No segundo passo, a indústria está definindo com o parceiro, um plano de roteamento, sequenciamento e janela das entregas. Para a indústria o custo de implantação (investimento em TI e recursos humanos) do CPFR é caro, além de ser inviável a sua implantação para todos os itens comercializados, pois trabalha com uma diversidade de produtos, horizontes curtos de atendimento de pedidos, além de exigir uma estrutura organizacional bem definida. PILOTO B – PARCEIRO VAREJISTA Há 20 (vinte) anos o varejista (de tradição familiar), com sete lojas distribuídas estrategicamente no maior centro comercial do país, vem intensificando os acordos comerciais por meio do relacionamento colaborativo com a indústria. O relacionamento colaborativo com o parceiro começou há alguns anos por meio de ações promocionais e gerenciamento por categoria de produtos e apenas há seis meses foi implantado efetivamente o CPFR. 8 Segundo o entrevistado, embora seja de importante a implantação do CPFR, a estrutura da empresa e a baixa freqüência das reuniões com o parceiro (a cada três meses) dificultam o seu bom desenvolvimento. Mesmo assim, o relacionamento o alinhamento estratégico tem sido útil para definir algumas regras de negócio e alguns resultados como diminuição dos estoques e diminuição da ruptura de gôndola são visíveis. ANÁLISE PRELIMINAR DOS CASOS Em relação ao Piloto A, a boa performance na comercialização dos itens promocionais revela bons resultados da aplicação das iniciativas de colaboração e uma expectativa na aplicação dos próximos passos do CPFR. Pode-se verificar que embora existam divergências entre os parceiros quanto à estrutura organizacional e no foco de planejamento, há uma forte simetria no relacionamento colaborativo, uma vez que a freqüência nas transações e a confidencialidade das informações entre os parceiros aumenta a reputação, o que conduz à redução dos custos de transação. Por outro lado, a alta especificidade de ativo humano eleva os custos de transação no curto prazo, pois as informações estão concentradas em uma única pessoa (no caso do varejista) e em equipes especializadas (no caso da indústria), fazendo com que tenha freqüentemente um realinhamento estratégico/tático entre as partes, com o objetivo de não perder de foco o processo de colaboração via CPFR. Ao contrário da indústria, o varejo privilegia o foco operacional ao estratégico, talvez devido aos resultados imediatos gerados pelo VMI e à falta de uma estrutura organizacional adequada para desenvolvimento interno do CPFR. Nesse sentido, a prática mostra que os passos da cartilha podem ser aplicados de forma não linear, com exceção do primeiro, além da inexistência de sua formalização entre as demais áreas internas do varejo. Por outro lado, a existência prévia do VMI facilitou, em nível estratégico, iniciativas mais ousadas de colaboração, conduzindo o varejo a investir em TI e na mudança de sua estrutura organizacional, o que propiciou a sua entrada no processo contínuo de inovação tecnológica. Contudo, é evidente a redução dos custos de transação como: melhor previsão de demanda final, redução dos custos de estoque, otimização no transporte, redução das oscilações de demanda, redução do índice de ruptura de gôndola, melhor organização dos processos logísticos, entre outros. Em relação ao Piloto B, o estágio embrionário de implantação do CPFR conduz aos resultados pouco expressivos na troca de dados e no alinhamento estratégico para uma efetiva colaboração. Talvez a pouca interação das partes por meio de reuniões para definir as regras de negócio tem-se dificultado o desenvolvimento do piloto. Ambos os pilotos concordam que implantação do CPFR levou a melhora significativa no relacionamento entre os parceiros, redução dos estoques, reduções das operações logísticas, aumento da freqüência das transações, entre outros. Contudo, o alto custo de investimento em TI e mudança de processos de negócio têm levado os parceiros a um retardo da implantação e reduzir o escopo de produtos do piloto. 9 CONCLUSÕES PRELIMINARES Conclui-se que os resultados da aplicação do CPFR no Brasil ainda são incipientes e que as iniciativas de colaboração têm seu foco no planejamento tático/operacional do sistema logístico, por servir como indutora de mudanças e incentivos, principalmente do mercado varejista, aos demais passos (de longo prazo) do CPFR, trazendo crescentes investimentos em inovação tecnológica. Nesse sentido, o CPFR tem sido implantado estrategicamente pelos parceiros como nova filosofia de colaboração. Acredita-se que, no longo prazo, a colaboração compartilhará o poder de governança dos parceiros na cadeia do varejo, uma vez que estarão à frente das inovações tecnológicas, com crescente aproximação do consumidor final. Os contratos são informais, porém com boa reputação entre as partes. Talvez os recursos (alta especificidade de ativo humano) gastos no alinhamento estratégico tenham sido relevantes para o bom desenvolvimento do processo colaborativo, que no longo prazo pode ser útil para reduzir os custos de transação, com aumento da freqüência, redução de ações oportunistas e menor monitoramento das transações. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARRUNADA, B.; GARICANO, L.; VÁSQUEZ, L.. Contractual Allocations of Decision Rights and Incent ives: The Case of Automobile Distribution. 2001. ARTHUR, W. B. Increasing Returns and the New World of Business. 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