implementação de métodos analíticos para quantificação de

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implementação de métodos analíticos para quantificação de
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR
NÚCLEO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA – NCET
DEPARTAMENTO DE QUÍMICA - DQUI
IMPLEMENTAÇÃO DE MÉTODOS ANALÍTICOS PARA QUANTIFICAÇÃO DE
COCAÍNA EM ENTORPECENTES APREENDIDOS EM PORTO VELHO - RO
WALKIMAR ALEIXO DA COSTA JÚNIOR
Porto Velho - RO
2013
ii
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR
NÚCLEO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA – NCET
DEPARTAMENTO DE QUÍMICA - DQUI
IMPLEMENTAÇÃO DE MÉTODOS ANALÍTICOS PARA QUANTIFICAÇÃO DE
COCAÍNA EM ENTORPECENTES APREENDIDOS EM PORTO VELHO - RO
Autor: Walkimar Aleixo da Costa Júnior
Orientadora: Profª Dra. Miyuki Yamashita
Monografia apresentada ao Departamento de
Química
da
Universidade
Federal
de
Rondônia, como parte dos requisitos para a
obtenção do grau de Licenciado em Química.
Porto Velho - RO
2013
iii
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
NÚCLEO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA - NCET
UNIR
DEPARTAMENTO DE QUÍMICA - DQUI
CERTIFICADO DE APROVAÇÃO
Título do Trabalho: Implementação de métodos analíticos para quantificação de cocaína
em entorpecentes apreendidos em Porto Velho – RO.
Autor: Walkimar Aleixo da Costa Júnior
Orientadora: Miyuki Yamashita
Aprovado e corrigido de acordo com as sugestões da Banca Examinadora
_______________________________________________
Prof.ª Dr.ª Miyuki Yamashita – UNIR
(Orientadora)
_______________________________________________
Prof. Dr. Alexandre de Almeida e Silva
(Membro)
_______________________________________________
Prof.ª Dr.ª Adaiane Spinelli
(Membro)
Data de realização:___/___/_____
Aprovado em reunião do Conselho do Departamento em: ___/___/____
iv
Dedico esta monografia à minha
família e aos meus amigos. Sem eles
não tenho nada, não sou nada.
v
AGRADECIMENTOS
Primeiramente e principalmente à Deus por me proteger e guiar os meus passos dia
após dia;
Aos meus pais, Walkimar e Alice por me incentivarem, me aconselharem e apoiarem
nas minhas decisões;
À minha irmã Aline, que mesmo longe sempre torceu e acreditou com todas as forças
de seu amor;
À Profª. Drª. e orientadora Miyuki Yamashita, pela oportunidade, confiança e
paciência dadas;
Ao perito Gustavo de Oliveira Neves pela ajuda nas práticas forenses;
Aos meus amigos que conquistei durante todo esse período acadêmico: Cristiani,
Lury, Denilça, Aline, Viviane, Carla, Adriele e Izaías. Pelos momentos de alegrias, tristezas,
dificuldades e principalmente pelas histórias que compartilhamos. Eles que presenciaram o
meu desespero e constantes dúvidas quanto a este trabalho (o recíproco também é válido);
Aos meus companheiros do Laboratório de Biogeoquímica Ambiental Wolfgang C.
Pfeiffer que também contribuíram para a conclusão deste trabalho.
vi
“Cada um que passa na nossa vida passa sozinho,
pois cada pessoa é única e nenhuma substitui
outra. Cada um que passa na nossa vida passa
sozinho, mas não vai só, nem nos deixa sós. Leva
um pouco de nós mesmos, deixa um pouco de si
mesmo. Há os que levam muito, mas não há os
que não levam nada. Há os que deixam muito,
mas não há os que não deixam nada. Esta é a
maior responsabilidade da nossa vida e a prova
evidente de que duas almas não se encontram
por acaso”.
Antoine de Saint-Exupéry
“Sempre há aquele momento que percebemos o
quão insignificantes somos. O tempo passa e em
seu cursar estamos aprisionados. Tudo passa, seja
algo ruim ou bom. Inevitavelmente passa. Às
vezes tentamos compreender situações que são
incompreensíveis e deixamos de perceber o que é
importante. Deixamos de sentir. Não é porque
somos seres racionais que devemos racionalizar
tudo o que nos envolve, todos que nos cercam,
enfim. Vemos o quanto nossa vida é curta e
preciosa. Mas perdemos a noção do que é
essencial. Mas o que é essencial? Bom, isso não
posso responder por você. Uns aprendem desde
cedo, outros no passar da vida e infelizmente
alguns só no derradeiro fim. Talvez a conquista
do essencial não signifique nada, aliás, acho eu
que isso é impossível. Penso assim que buscar o
essencial é o real sentido dessa vida. E cabe a
cada um de nós, não deixar cessar essa busca que
deveria ser incessante”.
Walkimar Aleixo da Costa Júnior
vii
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E UNIDADES
ºC – Graus Celsius
Al(OH)3 – Hidróxido de alumínio
AlPO4 – Fosfato de alumínio
ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária
BaCl2.2H2O – Cloreto de bário dihidratado
BaSO4 – Sulfato de bário
C2H6O – Éter etílico
CaCO3 – Carbonato de cálcio
CaSO4 – Sulfato de cálcio
CCD – Cromatografia em camada delgada
CG-EM – Cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas
C2H6O – Éter etílico
CH3COOH – Ácido acético
CH3CH2OH - Etanol
CH3OH – Metanol
CoCl2.6H2O – Cloreto de cobalto (II) hexahidratado
CoCO3 – Carbonato de cobalto (II)
CuSO4.5H2O – Sulfato Cúprico pentahidratado
CuO – Óxido de cobre (II)
g mol-1 – gramas por mol
HCl – Ácido clorídrico
HgCl2 – Cloreto de mercúrio (II)
H2O2 – Peróxido de hidrogênio
HNO3 – Ácido Nítrico
Hg4O3CO3 – Carbonato básico de mercúrio (II)
HgO.Hg(NH2)I – Amidoiodeto básico de mercúrio (II)
HPLC – High Performance Liquid Chromatography (Cromatografia Líquida de Alta
Eficiência)
ILC - Instituto Laboratorial Criminal
K2Ca[Fe(CN)6] – Ferrocianoferrato (II) de cálcio e potássio
K2CrO4 - Cromato de potássio
K4[Fe(CN)6] – Ferrocianeto de potássio
K2HPO4 – Fostato de Potássio Dibásico
KI – Iodeto de Potássio
LD - Limite de Detecção
LQ - Limite de Quantificação
mol L-1 – Mol por litro
M●+ - (cátion radicalar)
mg – Miligrama
ml – Mililitro
m/m – massa/massa
m/z – Massa/carga
MgCO3.Mg(OH)2.2H2O – Carbonato básico de magnésio
Mg(OH)2 – Hidróxido de magnésio
MgSO4.7H2O – Sulfato de Magnésio Heptahidratado
Na2CO3 – Carbonato de sódio anidro
NaOH – Hidróxido de sódio
ng mL-1 – nanograma por mililitro
viii
NH4Cl – Cloreto de amônio
NH4OH – Hidróxido de amônio
(NH4)2CO3 – Carbonato de amônio
(NH4)2SO4 – Sulfato de Amônio
PbCl2 – Cloreto de chumbo
Pb(CH3COO) – Acetato de chumbo
PbCrO4 – Cromato de chumbo
Pb2[Fe(CN)6] – Ferrocianoferrato (II) de chumbo
pH – Potencial hidrogeniônico
pKa - Constante de Dissociação do Ácido
pKb - Constante de Dissociação da Base
PI - Padrão Interno
ix
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Propaganda do vinho Vin Tonique Mariani ............................................................ 17
Figura 2 – Imagem (a) e gravura (b) da Erythroxylum coca .................................................... 19
Figura 3 - Estrutura molecular da cocaína, (1R,2R,3S,5S)-3-(benzoiloxi)-8-metil-8azabiciclo[3.2.1]octano-2-carboxilato ...................................................................................... 20
Figura 4 – Reação de transesterificações sucessivas da ecgonina (forma resumida) ............... 21
Figura 5 - Reação de Mannich para síntese de cocaína (forma resumida) ............................... 21
Figura 6 - Modelo esquemático da produção de pasta base por extração básica e ácida ......... 22
Figura 7 - Interconversão entre as formas de apresentação da cocaína .................................... 23
Figura 8 - Aspecto visual do cloridrato de cocaína (a) e crack (b). ......................................... 24
Figura 9 - Teste de Scott realizado com cocaína HCl, 1mg (a); cocaína HCl, 3 mg (b); crack,
(c) com as três etapas do teste................................................................................................... 29
Figura 10 - Esquema da seqüência metodológica para a análise de diluentes ......................... 38
Figura 11 - Cromatógrafo gasoso, Thermo Scientific modelo TRACE GC ULTRA, com
amostrador automático (modelo TriPlus DUO) acoplado a um espectrômetro de massas
quadrupolo (modelo ISQ) ......................................................................................................... 42
Figura 12 - Esquema da seqüência metodológica para a análise no CG-EM ........................... 43
Figura 13 - Cromatograma de uma amostra de entorpecente. Aminopirina (1), Cocaína (2) e
Tetracosano (PI) (3) .................................................................................................................. 47
Figura 14 - Fórmula estrutural da aminopirina ......................................................................... 48
Figura 15 - Cromatograma de uma amostra de entorpecente. Lidocaína (1), Cocaína (2) e
Tetracosano (PI) (3) .................................................................................................................. 49
Figura 16 - Fórmula estrutural da lidocaína ............................................................................. 49
Figura 17 - Curva analítica da cocaína obtida por CG-EM (razão da área do analito/área do
padrão interno versus concentração do analito). ...................................................................... 51
Figura 18 - Boxplots das concentrações de cocaína em amostras apreendidas pelo ILC no
período estudado ....................................................................................................................... 54
x
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Principais características físico-químicas da cocaína .............................................. 20
Tabela 2 - Principais adulterantes reportados pela UNODC .................................................... 26
Tabela 3 - Categorias das técnicas para as análises de entorpecentes ...................................... 28
Tabela 4 - Número de amostras obtidas mensalmente para as análises físico-químicas .......... 37
Tabela 5 - Temperatura do forno no decorrer de cada corrida amostral .................................. 44
Tabela 6 - Porcentagem dos diluentes em relação às 106 amostras de entorpecentes
apreendidas pelo ILC ................................................................................................................ 46
Tabela 7 - Concentração de cocaína (% m/m) das 106 amostras analisadas por CG-EM (em
intervalos de classe) ................................................................................................................. 53
xi
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Aspectos gerais dos ensaios qualitativos................................................................ 39
xii
SUMÁRIO
RESUMO................................................................................................................................ xiv
ABSTRACT ............................................................................................................................ xv
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 16
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................................... 17
2.1 – HISTÓRICO .................................................................................................................... 17
2.2 – ASPECTOS BOTÂNICOS ............................................................................................. 18
2.3 – COCAÍNA: CARACTERÍSTICAS GERAIS, EXTRAÇÃO E VENDA ....................... 19
2.4 – A PRESENÇA DE ADULTERANTES E DILUENTES................................................ 25
2.5 – QUÍMICA: UM INSTRUMENTO PARA OS TRABALHOS DE PERÍCIAS
CRIMINAIS ............................................................................................................................. 26
2.6 – PERFIL QUÍMICO OU CARACTERIZAÇÃO DA DROGA ....................................... 26
2.7 – CROMATOGRAFIA GASOSA ACOPLADA À ESPECTROMETRIA DE MASSAS
(CG-EM)................................................................................................................................... 29
2.8 - VALIDAÇÃO DE MÉTODOS ANALÍTICOS .............................................................. 31
3 - OBJETIVOS ...................................................................................................................... 34
3.1 – OBJETIVO GERAL ........................................................................................................ 34
3.2 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS .......................................................................................... 34
4 – MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................ 35
4.1 - REAGENTES .................................................................................................................. 35
4.1.1 – Solventes para as análises no CG-EM ...................................................................... 35
4.1.2 - Padrões ......................................................................................................................... 36
4.2 - EQUIPAMENTOS ........................................................................................................... 36
4.3 - AMOSTRAGEM ............................................................................................................. 37
4.4 – TRATAMENTO DAS AMOSTRAS .............................................................................. 38
4.4.1 – Análises qualitativas (spot tests) ................................................................................ 38
4.4.2 – Análises por CG-EM .................................................................................................. 41
4.4.2.1– Condições do cromatógrafo gasoso (TRACE) ....................................................... 43
4.4.2.2 – Condições do espectrômetro de massas (ISQ) ...................................................... 44
4.5 – VALIDAÇÃO DO MÉTODO (CG-EM) ........................................................................ 44
4.5.1 – Especificidade/seletividade ........................................................................................ 44
4.5.2 – Curva Analítica ........................................................................................................... 44
4.5.3 – Precisão ........................................................................................................................ 45
4.5.4 – Exatidão ....................................................................................................................... 45
4.5.5 – Limite de Deteção (LQ) e Limite de Quantificação (LQ) ....................................... 45
4.5.6 – Robustez ...................................................................................................................... 45
5 – RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................................... 46
5.1 – RESULTADOS QUALITATIVOS ................................................................................. 46
5.2 – VALIDAÇÃO DO MÉTODO (CG-EM) ........................................................................ 50
5.2.1 – Especificidade/Seletividade ........................................................................................ 50
5.2.2 – Curva Analítica ........................................................................................................... 51
5.2.3 – Precisão ........................................................................................................................ 51
5.2.4 – Exatidão ....................................................................................................................... 52
xiii
5.2.5 - Limite de Detecção (LD) e Limite de Quantificação (LQ) ...................................... 52
5.2.6 - Robustez ....................................................................................................................... 52
5.3 – ANÁLISES DAS AMOSTRAS POR CG-EM ............................................................... 52
6 - CONCLUSÕES ................................................................................................................. 56
7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 57
xiv
RESUMO
A problemática das drogas é considerada hoje uma das questões sociais mais sérias e de difícil
controle para os governos. O tráfico internacional de entorpecentes movimenta um volume
financeiro bastante expressivo, além de afetar a segurança nacional e internacional. Dentre as
drogas ilícitas, o consumo de cocaína vem crescendo bastante e a sua quantificação assim
como a determinação de seus constituintes em amostras de entorpecentes são de grande
importância para o combate do tráfico de drogas de abuso. A partir da quantidade de cocaína,
dos adulterantes e diluentes ali presentes pode-se estimar a origem da mercadoria, uma vez
que cada laboratório clandestino tem maneiras próprias de preparo e rotas de comercialização.
Os objetivos deste trabalho foram determinar os diluentes através de spot tests, os adulterantes
e o teor da cocaína pela técnica de cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas
(CG-EM) em entorpecentes apreendidos em Porto Velho (RO) durante um período de 12
meses, que se estendeu de Julho de 2011 a Junho de 2012. Os principais diluentes
encontrados nas amostras foram o sódio (97,17%) seguido pelo bicarbonato/carbonato
(59,43%) e pelo sulfato (24,53%). A partir dos resultados obtidos por CG-EM, foi possível
verificar a presença de apenas dois adulterantes: aminopirina (17,92%) e lidocaína (0,94%).
Além disso, foi realizada a avaliação da metodologia de quantificação de cocaína nas
amostras por CG-EM. A faixa de trabalho da curva analítica foi de 60 a 220 μg mL-1 com
coeficiente de correlação (R2) de 0,99943, desvio padrão relativo (DPR) = 2,48%; exatidão de
117,72% (concentração baixa), 100,49% (concentração média) e 100,20% (concentração
alta); LD = 1,96 µg mL-1 e LQ = 5,94 µg mL-1. As 106 amostras de entorpecentes analisadas,
tiveram pureza média de 59,44%, um valor relativamente alto, o que estava dentro do
esperado, uma vez que esta região se localiza próximo a países que são grandes produtores
dessa droga. No entanto, não se pode afirmar que os teores médios mensais de cocaína
variaram no período estudado, uma vez que não houve diferença estatística entre eles.
Palavras-chave: cocaína, diluentes, adulterantes, CG-EM.
xv
ABSTRACT
The problem of drugs is considered today one of the most serious social issues and difficult
for governments to control. The international trafficking of narcotics moves a very significant
trading volume, as well as affecting national and international security. Among the illicit
drugs, cocaine use has grown impressively and their quantification and the determination of
their constituents in samples of drugs are of great importance to combating trafficking in
drugs of abuse. From the amount of cocaine, the present adulterants and diluents there can
estimate the origin of the goods, since each clandestine laboratory have their own ways of
preparation and marketing routes. The objectives of this study were to determine the diluents
by spot tests, the cocaine adulterants and content by gas chromatography coupled to mass
spectrometry (GC-MS) in drugs seized in Porto Velho (RO) for a period of 12 months, which
lasted from July 2011 to June 2012. The main diluents found in the samples were sodium
(97,17%) followed by bicarbonate / carbonate (59,43%) and sulfate (24,53%). From the
results obtained by GC-MS, it was possible to verify the presence of only two adulterants:
aminopyrine (17.92%) and lidocaine (0,94%). Furthermore, evaluation was made of the
method for quantifying cocaine in samples by GC-MS. The working range of the calibration
curve was 60-220 µg mL-1 with correlation coefficient (R2) of 0,99943, relative standard
deviation (RSD) = 2,48%; accuracy of 117,72% (low concentration) , 100,49% (average
concentration) and 100,20% (high concentration), LOD = 1,96 µg mL-1 and LOQ = 5,94 µg
mL-1. The 106 samples of drugs analyzed had average purity of 59,44%, a relatively high
value, which was as expected, since this region is located close to countries that are major
producers of this drug. However, one cannot say that the monthly average levels of cocaine
varied during the study period, since there was no statistical difference between them.
Keywords: cocaine, diluents, adulterants, GC-MS
16
1 - INTRODUÇÃO
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), droga é “qualquer substância que
não é sintetizada por um organismo e que é capaz de interferir sobre um ou mais sistemas
produzindo alterações em seu funcionamento”. A obtenção dessas substâncias pode ser
natural ou sintética. As sintéticas são produzidas em laboratório e as naturais podem ter
origem vegetal, animal ou mineral. Exemplos de drogas de origem natural são a cafeína (do
café), ópio (da papoula) e o THC ou tetrahidrocanabiol (da maconha) (ANTUNES, 2005;
OBID, 2007).
Quanto à sua legalidade, ou seja, se seu comércio é protegido por lei, essas substâncias
podem ser lícitas (liberadas) ou ilícitas (proibidas) (ANTUNES, 2005). A cocaína, maconha,
heroína, etc; são ilícitas enquanto que o álcool e o tabaco são drogas lícitas.
As drogas são hoje em dia um dos problemas sociais mais sérios e de difícil solução
para os governos. Elas acarretam problemas de segurança nacional e internacional, afetando a
estabilidade econômica e social das sociedades em geral (GELBECKE; PADILHA, 2004).
Em nível mundial, o Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (United Nations
Office on Drugs and Crime – UNODC) estima que entre 155 e 250 milhões de pessoas, ou
3,5% a 5,7% da população com idade 15-64 anos, tenham usado substâncias ilícitas pelo
menos uma vez nos últimos anos (UNODC, 2010).
Para a cocaína, o UNODC estima que a incidência do uso mundial em 2008 variou de
0,3% a 0,4% do população adulta, ou entre 15 e 19 milhões de pessoas que usaram cocaína
pelo menos uma vez no ano anterior (UNODC, 2010).
Segundo o Centro Brasileiro de informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), o
uso de cocaína nas 108 maiores cidades do Brasil, em 2005, foi de 2,9% (equivale a 1.459.000
pessoas) e de 0,7% para o crack (CEBRID, 2005).
Dados preliminares mais recentes do INPAD (Instituto Nacional de Políticas Públicas
do Álcool e Outras Drogas) revelam que cerca de 6 milhões de brasileiros (ou 4% da
população adulta) já consumiram alguma forma de cocaína durante a vida. Entre os
adolescentes, o índice foi de 3% ou 442 mil jovens. No último ano, a porcentagem do uso
dessa droga atingiu 2,6 milhões de adultos (2%) e 244 mil adolescentes (2%) (INPAD, 2013).
Baseado nas informações citadas, o estudo do perfil químico de amostras de
entorpecentes pode ser de grande importância para o combate ao narcotráfico, pois o teor de
cocaína e a identificação de outras substâncias presentes podem fornecer subsídios para
estimar a origem da mercadoria e as rotas de tráfico.
17
2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 - HISTÓRICO
O envolvimento do homem com a cocaína vem desde o período pré colombiano,
quando as civilizações dessa época utilizavam as folhas da planta Erythroxylum coca ou coca
boliviana. Sabe-se que a extração da cocaína não se iniciou antes da segunda metade do
século XIX, mas descobertas arqueológicas realizadas no Peru demonstraram que as folhas de
coca eram utilizadas em rituais religiosos, há aproximadamente 2.500 anos. A palavra coca
significa “a árvore” segundo o dialeto aimará, e era de consumo exclusivo da nobreza Inca
(FERREIRA; MARTINI, 2001; BAHLS & BAHLS, 2002).
Um dos primeiros registros da extração do princípio ativo da coca foi descrito em 1855
por Friedrich Gaedeck, que o nomeou de erythroxylone. Posteriormente, o químico alemão
Albert Niemann isolou a cocaína de folhas de coca oriundas da Bolívia e Peru. Ademais,
Niemann ainda observou o efeito anestésico que a cocaína causava em contato com a língua
(DE ARAÚJO, DE PAULA & FRACETO, 2008; FRANÇA, 2010).
Muitos produtos tiveram em sua composição o princípio ativo das folhas de coca. Em
1865, o químico Angelo Mariani comercializou em Paris uma mistura de vinho e folhas de
coca, denominada Vin Tonique Mariani – Coca Du Perou (Figura 1). A bebida se tornou
muito famosa por toda a Europa, e entre as que bebiam estavam pessoas de renome tais como
Thomas Edison, H. G. Wells, Júlio Verne e o papa Leão XVIII (BAHLS e BAHLS, 2002;
FUKUSHIMA, 2010).
Figura 1: Propaganda do vinho Vin Tonique Mariani
Fonte: http://images.mitrasites.com/vin-mariani.html
18
Nos Estados Unidos, nessa mesma época, a cocaína era comercializada livremente sob
as mais diferentes formas, como: pó, pastilhas, cigarros, entre outras. O alcalóide esteve
presente até na fórmula original da Coca-Cola, que continha cerca de 60 mg de cocaína para
cada 240 ml de bebida, isso por volta de 1886. De forma geral, a cocaína sempre foi utilizada
para combater dores, cansaços, substituto alimentar, entre outros. (BAHLS e BAHLS, 2002;
FUKUSHIMA, 2010).
Esse entusiasmo em relação à cocaína incitou a curiosidade de Sigmund Freud em
estudar a substância. Ele foi o principal responsável em analisar e divulgar os efeitos
fisiológicos do alcalóide para a sociedade científica internacional. Inicialmente, Freud
aconselhava a utilização da cocaína para fins terapêuticos e afirmava que a substância não era
“geradora de hábitos” e que poderia ser utilizada para tratar o vício em morfina e álcool
(REIS JÚNIOR, 2009).
A opinião de Freud em relação à cocaína mudou drasticamente quando um amigo
íntimo seu, o médico Ernst Von Fleischl-Marxow entra em um grave estado dependência
devido ao consumo excessivo de cocaína. Fleischl-Marxow tentava se livrar das dores
insuportáveis causadas devido à amputação de um membro, assim como do vício em morfina,
substância esta que foi utilizada como tratamento inicial (REIS JÚNIOR, 2009; FRANÇA,
2010).
A partir de 1884, o médico austríaco Karl Köller passou a aplicar a cocaína em cirurgias
oftalmológicas em humanos e animais, iniciando os estudos em anestesia local (REIS
JÚNIOR, 2009). No entanto, também adquiriu dependência em auto-administrações enquanto
trabalhava com o alcalóide (SILVA et al., 2010).
2.2 – ASPECTOS BOTÂNICOS
A cocaína é um alcalóide tropânico extraído das folhas de espécies do gênero
Erythroxylum (Figura 2), mas somente a Erythroxylum coca Lam. var. coca (coca peruana),
Erythroxylum coca Lam. var. ipadu (coca amazônica), Erythroxylum novogranatense
(Morris) Hieron var. novogranatense (coca colombiana) e Erythroxylum novogranatense
(Morris) Hieron var. truxillense (coca-de-trujillo) contém quantidades significativas de
cocaína (SIMÕES et al., 2004).
19
a
b
Figura 2: Imagem (a) e gravura (b) da Erythroxylum coca
Fontes: UNODC (2003); http://www.nhm.ac.uk/nature-online/life/plants-fungi/seeds-oftrade/page.dsml?section=crops&ref=coca
Erythroxylum coca Lam. é a fonte das folhas de coca comercial, de onde toda a
cocaína é derivada. O cultivo ocorre nas zonas montanhosas do leste dos Andes, praticamente
não existindo fora dessa região, em um ambiente tropical favorável, com alto índice
pluviométrico, clima ameno, com solo rico em minerais e muito bem drenado. Os países que
se destacam no cultivo legal e ilegal da coca são Peru, Colômbia, Bolívia e Indonésia
(SIMÕES et al., 2004).
O Brasil possui condições climáticas favoráveis para o plantio das espécies de
Erythroxylum, todavia não aparece como um grande produtor dessa droga. A variedade
denominada de Ipadu, Padu ou Epadu, comumente encontrada na região amazônica, detém
concentrações muito baixas da cocaína, o que inviabiliza a produção em larga escala
(VARGAS, 2001).
2.3 – COCAÍNA: CARACTERÍSTICAS GERAIS, EXTRAÇÃO E VENDA
A nomenclatura sistemática IUPAC para a cocaína é (1R,2R,3S,5S)-3-(benzoiloxi)-8metil-8-azabiciclo[3.2.1] octano-2-carboxilato (MEHTA, 2011). Possui massa molar de 303,
4 g mol-1 e fórmula molecular C17H21NO4 (UNODC, 1986). A fórmula estrutural pode ser
vista a seguir (Figura 3):
20
Figura 3: Estrutura molecular da cocaína, (1R,2R,3S,5S)-3-(benzoiloxi)-8-metil-8-azabiciclo[3.2.1]octano-2carboxilato.
Fonte: DE ARAÚJO, DE PAULA & FRACETO, 2008.
Algumas das propriedades físico-químicas da cocaína base e do cloridrato de cocaína
podem ser verificadas logo abaixo (Tabela 1):
Tabela 1: Principais características físico-químicas da cocaína (DRAGER, 2002; BOTELHO, 2011)
Forma de apresentação
Cocaína
Cloridrato de cocaína
Fórmula molecular
C17H21NO4
C17H21NO4.HCl
Massa Molar (g mol-1)
303,4
339,8
Ponto de fusão (ºC)
96-98
195-197
pK
5,4 (pKb)
8,6 (pKa)
Água
i
s
Metanol
s
s
Éter Etílico
s
i
Clorofórmio
s
s
Solubilidade
pKa - Constante de Dissociação do Ácido; pKb - Constante de Dissociação da Base
s: solúvel; i: insolúvel
A obtenção da cocaína pode ser realizada por duas formas distintas: através de reações
de síntese orgânica ou de um modo mais simples, através da extração das folhas de coca. Pelo
método sintético, se pode citar as reações de transesterificações sucessivas da ecgonina
(Figura 4) e a reação de Mannich (Figura 5) (VARGAS, 2001; FUKUSHIMA, 2010).
21
.
Figura 4: Reação de transesterificações sucessivas da ecgonina (forma resumida).
Fonte: FUKUSHIMA, 2010.
Figura 5: Reação de Mannich para síntese de cocaína (forma resumida).
Fonte: FUKUSHIMA, 2010.
No entanto, a síntese da cocaína pelos métodos citados requer um aparato laboratorial
adequado (vidrarias e solventes específicos), o que a torna no fim, muito custosa para ser
realizada. Desse modo, para a produção ilícita, se torna inviável a sua aplicação (VARGAS,
2001).
Para o tráfico de drogas, a extração da cocaína a partir das folhas de coca é o meio mais
econômico para os traficantes. Vale ressaltar que a extração não segue um método exclusivo,
mas inúmeras variações. No entanto, se pode delinear um padrão de como é extraído o
alcalóide.
De acordo com Jickells e Negrusz (2008) a obtenção da cocaína envolve três etapas: a)
extração da pasta bruta de coca (ou pasta-base) a partir das folhas da coca; b) purificação da
pasta de cocaína e c) conversão da base de cocaína para a forma de sal de cocaína,
tipicamente o sal de cloridrato.
A pasta de coca é obtida a partir da adição de uma solução aquosa ácida ou alcalina, e a
adição de um solvente orgânico (geralmente querosene) com as folhas de coca, com
posteriores macerações da mistura (Figura 6). A partir dessa pasta é que são obtidas as
22
principais formas da cocaína no comércio de drogas: a cocaína base, o cloridrato de cocaína, o
crack, e a merla (BOTELHO, 2011).
Figura 6: Modelo esquemático da produção de pasta base por extração básica e ácida
Fonte: BOTELHO, 2011.
A cocaína base é obtida a partir da pasta base tratada com processos de oxidação com
permanganato de potássio (KMnO4) e lavagens sucessivas. O permanganato de potássio oxida
os alcaloides de importância menor presentes na pasta base, que são separados ao se adicionar
uma solução alcalina, como por exemplo, de hidróxido de amônio (NH4OH) diluído
(FUKUSHIMA, 2010; BOTELHO, 2011).
Ademais, a partir da pasta base, pode-se obter a merla, a cocaína base e o crack (Figura
7):
23
Figura 7: Interconversão entre as formas de apresentação da cocaína
Fonte: VARGAS, 2001.
O cloridrato de cocaína é o resultado da adição de ácido clorídrico na cocaína base, e se
encontra sob a forma de cristais brancos. Como seu ponto de fusão é de aproximadamente 197
°C, as formas mais comuns de administração da droga são através da inalação ou injeção nas
veias
após
a
dissolução
em
água.
Além
disso,
é consumida em
combinação
com opiáceos, uma prática conhecido como “speedball” (TULLER; ROSA; MENEGATTI,
2007; GARCIA, 2009; DEA, 2011).
O crack vendido a um preço relativamente baixo nas ruas é a forma básica da cocaína,
chamada de “base-livre” ou cocaína alcaloidal, podendo ser obtido da pasta base, da cocaína
base ou do cloridrato de cocaína com a adição de uma substância básica, como o bicarbonato
de sódio. Ao aquecer a mistura, obtém-se um resíduo seco que é vendido na forma de
pequenas “pedras”. O nome crack provém do barulho que é produzido pela quebra dessas
“pedras”. É fumado isoladamente ou em associação com a maconha ou tabaco.
(CARVALHO, 2006; GARCIA, 2009; FERRI et al., 1997; DEA, 2011). A diferença nas
formas de apresentação entre o cloridrato de cocaína e o crack é claramente identificável,
conforme ilustrado na Figura 8.
24
Figura 8: Aspecto visual do cloridrato de cocaína (a) e crack (b).
Fonte: DEA, 2011; UNODC, 2003.
A merla é derivada da pasta base ou da cocaína base, possuindo uma ligação das folhas
da coca com produtos químicos (ex: ácido sulfúrico, querosene, cal virgem) que ao ser
misturado se transforma numa pasta para ser fumada onde se concentra de 40 a 70% de
cocaína (NOVO, 2010).
Inicialmente, se aplicou outra forma de classificação para a cocaína, o “oxi”. Assim
como o crack, o princípio ativo do “oxi” seria a pasta base da folha de coca. Mas enquanto o
crack é obtido a partir da mistura e queima da pasta base com bicarbonato de sódio e
amoníaco, na cocaína oxidada seriam utilizados cal virgem e combustíveis, como querosene,
gasolina e até água de bateria, substâncias que barateariam ainda mais o custo da produção do
entorpecente e sua forma de consumo também seria o fumo (SIQUEIRA, 2011).
Os primeiros relatos sobre o aparecimento dessa nova variante de droga surgiram no
ano de 2005, através de trabalhos realizados pela polícia federal brasileira. No entanto, uma
análise detalhada de entorpecentes ditos “oxi” apreendidos no estado do Acre, constataram
que na realidade, não há uma nova variação. As substâncias consideradas características do
“oxi”, que seriam o cálcio (sob a forma de óxido) e solventes orgânicos, tiveram valores
ínfimos referentes aos seus teores. Desse modo, o que se tinha, nada mais era que as já
conhecidas formas da cocaína: cloridrato, crack, cocaína base e merla (SILVA JÚNIOR et al.,
2012).
Antes do conhecimento sobre as potencialidades do uso da cocaína, as folhas de coca
eram muito utilizadas na preparação de chás. Esse costume faz parte da cultura de muitos
países sul-americanos como, por exemplo, Peru e Bolívia, sendo que em ambos os países esse
25
tipo de consumo é legalizado. No entanto sob a forma de chá, uma quantidade mínima de
cocaína é extraída da planta, além disso, a ingestão facilita a metabolização das moléculas de
cocaína pelo fígado, minimizando assim quaisquer efeitos provenientes do alcalóide
(CEBRID, 2003).
Do ponto de vista farmacológico, a cocaína é um composto único, uma vez que, é um
potente anestésico local e uma droga simpatomimética (mimetiza a estimulação do sistema
nervoso simpático) com significante efeito estimulante sobre o sistema nervoso central
(TAKAHASHI, 1989).
Como principais efeitos do uso, observam-se aumento do ânimo, do estado de alerta,
desinibição, diminuição da fome, euforia, loquacidade, hiperatividade motora, ansiedade e
nervosismo, sendo comuns irritabilidade, disforia e insônia (SILVA, 1998).
2.4 – A PRESENÇA DE ADULTERANTES E DILUENTES
Com o intuito de aumentar o lucro com a venda de entorpecentes, os traficantes
adicionam outras substâncias, o que faz com que a droga em si, tenha um percentual muito
baixo de pureza. Tais substâncias podem ser os diluentes e/ou adulterantes. Essa mistura que é
formada se constitui em um produto conhecido como "cocaína de rua" (street cocaine)
(VALINETTI; SIMONETTI, 1992).
A adição dos diluentes tem o propósito de simplesmente aumentar o volume da
mercadoria, não possuem nenhum efeito farmacológico semelhante ao da cocaína e na
maioria dos casos, possuem aparência cristalina e esbranquiçada dando uma aparência de
pureza à droga. Os principais diluentes utilizados são o amido, açúcares, sais inorgânicos,
ácido bórico, pó de vidro, entre outros. Já os adulterantes possuem efeitos farmacológicos
semelhantes ao da droga assim como o seu aspecto (VARGAS, 2001).
Oliveira (2007), cita que entre os adulterantes, os mais encontrados são anestésicos
locais (procaína, benzocaína, lidocaína ou tetracaína), ou estimulantes de baixo custo
(adrenalina), que podem potencializar os efeitos simpatomiméticos da cocaína, aumentando a
toxicidade associada ao uso. UNODC (2005), lista alguns dos adulterantes (Tabela 2) mais
encontrados em todo o mundo.
26
Tabela 2: Principais adulterantes reportados pela UNODC
Adulterantes
Nicotinamida
Efedrina
Allobarbital
Nitrazepam
Fentanil
Anfetamina
Flunitrazepam
Antipirina
Paracetamol (Acetaminofeno)
Fenacetina
Flurazepam
Aspirina
Atropina
Lidocaína
Fenobarbital
Benzocaína
Piracetam
Ácido Benzóico
Procaína
Cafeína
Quinina
Metadona
Diazepam
Metanfetamina
Tetracaína
Dipirona
Teofilina
Metaqualona
MDEAª
MDMAb
ª3,4-Metilenodioxietilanfetamina
b
3,4-Metilenodioximetilanfetamina
2.5 – QUÍMICA: UM INSTRUMENTO PARA OS TRABALHOS DE PERÍCIAS
CRIMINAIS
Segundo Romão et al. (2011, p. 1717), o conceito de química forense pode ser assim
definido:
É o ramo das ciências forenses voltado para a produção de provas materiais para a
justiça, através da análise de substâncias diversas em matrizes, tais como drogas
lícitas e ilícitas, venenos, acelerantes e resíduos de incêndio, explosivos, resíduos de
disparo de armas de fogo, combustíveis, tintas e fibras.
Por isso, é impossível desvincular os conceitos químicos e a utilização de técnicas
analíticas para a elucidação de muitos casos. Para a análise de drogas brutas, por exemplo, as
técnicas mais requisitadas são a colorimetria, cromatografia e espectrometria.
Há também os spot tests, que são reações químicas qualitativas de alta sensibilidade e
seletividade, caracterizados pela manipulação de uma pequena fração da amostra junto com os
reagentes. Os spot tests possuem a vantagem da rapidez, simplicidade e baixo custo de
execução (ZEIRAK et al., 2008).
2.6 - PERFIL QUÍMICO OU CARACTERIZAÇÃO DA DROGA
27
A determinação e quantificação da cocaína em amostras de entorpecentes são de grande
importância para o combate do tráfico de drogas de abuso. A partir da quantidade de cocaína,
dos adulterantes e diluentes ali presentes pode-se estimar a origem da mercadoria, uma vez
que cada laboratório clandestino tem maneiras próprias de preparo e rotas de comercialização,
este processo se constitui em definir o perfil químico da droga ou caracterizá-la.
Segundo a UNODC (2001) e Botelho (2011), as vantagens de se avaliar o perfil
químico dos entorpecentes são as seguintes:
a) Estabelecimento de uma compatibilidade química de duas ou mais amostras: essa
informação é de muita valia para se estabelecer uma ligação entre amostras apreendidas
com indivíduos diferentes. O fato de perfis químicos coincidirem é de valor de prova
elevado, já que possibilita determinar com uma maior facilidade, grupos de distribuidores
locais. Essa informação deve vir associada a outros parâmetros como: pureza da droga,
aparência e tipo de embalagem, por exemplo.
b) Estabelecimento de padrões de distribuição de drogas: é possível traçar rotas de
distribuição através das similaridades químicas de entorpecentes. Se forem apreendidos
grupos de drogas com um mesmo perfil químico em um mesmo intervalo de tempo, junto
com os dados dos locais de onde foram apreendidos, há a possibilidade de se traçar uma
rede de abastecimento dos entorpecentes.
c) Identificação da fonte de medicamentos e reagentes: a caracterização química permite
identificar substâncias que foram utilizadas durante a produção, refino e na adulteração de
amostras de drogas. Muitas adulterantes possuem sérios efeitos tóxicos à saúde humana.
Tendo a informação de tais substâncias, os órgãos responsáveis pelo controle de produtos
químicos, como por exemplo, a polícia federal podem reestruturar as formas de vigilância
da comercialização desses produtos.
d) Determinação da origem geográfica da droga: essa variável só é possível com drogas
de origem vegetal, como cocaína e maconha, uma vez que a matéria-prima para a
produção dessas drogas possuem particularidades na composição química, esta que varia
de espécie e de lugar onde foram cultivados.
28
As técnicas para a análise de amostras de drogas são classificadas pelo SWGDRUG
(Scientific Working Group For The Analysis Of Seized Drugs) em três categorias (Tabela 3).
Tabela 3: Categorias das técnicas para as análises de entorpecentes (SWGDRUG, 2011)
Categoria A
Categoria B
Categoria C
Espectroscopia de
Eletroforese Capilar
Testes Colorimétricos
Cromatografia Gasosa
Espectroscopia de
Infravermelho
Espectroscopia de Massas
Fluorescência
Espectroscopia de Ressonância
Espectrometria de Mobilidade
Imunoensaios
Magnética Nuclear
Iônica
Espectroscopia Raman
Cromatografia Líquida
Ponto de Fusão
Difratometria de Raios-X
Testes Microcristalinos
Espectroscopia de
Ultravioleta
Cromatografia em Camada
Delgada
Somente para Cannabis:
Exame Macroscópico
Exame Microscópico
Swgdrug (2011) recomenda que quando uma técnica validada de categoria A é
utilizada, só mais uma técnica de outra categoria (A, B ou C) precisará ser requerida. Além
disso, se não for aplicada uma técnica de categoria A, três outras deverão ser utilizadas, sendo
que duas deverão ser da categoria B.
Os testes qualitativos servem para detectar a presença de um analito (ou um grupo de
analitos) em uma determinada amostra. Esses testes geralmente possuem alta sensibilidade,
porém possuem baixa especificidade. Para confirmar a presença de cocaína, os mais aplicados
são o teste com tiocianato de cobalto e o teste com tiocianato de cobalto modificado, este
também denominado por teste de Scott. Há outros menos conhecidos, como o teste de Wagner
e o do benzoato de metila (UNODC, 1994)
Para a realização do teste de Scott são utilizados solução aquosa de tiocianato de cobalto
2% com posterior diluição 1:1 em glicerina, ácido clorídrico concentrado e clorofórmio. As
etapas são as seguintes: a) depois da pesagem, a amostra (pó ou cristais) é transferida para um
tubo de ensaio com a adição de 0,2 mL da solução de tiocianato de cobalto com agitação, um
precipitado azul é formado, b) adiciona-se 0,05 mL de ácido clorídrico concentrado e o
29
precipitado desaparece e c) acrescenta-se 0,1 mL de clorofórmio e novamente o precipitado
azul reaparece, porém agora no fundo do tubo (Figura 9) (TSUMURA, 2005).
Figura 9 – Teste de Scott realizado com cocaína HCl, 1mg (a); cocaína HCl, 3 mg (b); crack (c), com as três
etapas do teste.
Fonte: Tsumura, 2005.
A análise quantitativa de drogas requer a utilização de técnicas extremamente sensíveis
e específicas, uma vez que a natureza das amostras é complexa, devido à presença de
diluentes e adulterantes. A cromatografia é um método que permite a separação, identificação
e determinação dos componentes de uma determinada amostra (SKOOG et al., 2008). Para a
cocaína, esta que se trata de um composto orgânico, a aplicação da cromatografia se mostra
muito adequada.
Nos laboratórios brasileiros de perícia criminal, ainda se utiliza com freqüência a
cromatografia em camada delgada (CCD) na elaboração dos laudos. A CCD, apesar de
apresentar baixo custo e facilidade na execução, não possui uma boa reprodutibilidade de
resultados muito menos para concentrações muito baixas da cocaína (DONINI, 2009). Por
isso, se tem decidido optar por técnicas que fossem mais sensíveis, porém que também fossem
de aplicação relativamente fácil. Dentre tantas existentes, a Cromatografia Gasosa acoplada à
Espectrometria de Massas ocupa uma posição de destaque.
2.7 - CROMATOGRAFIA GASOSA ACOPLADA À ESPECTROMETRIA DE MASSAS
(CG-EM)
A cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (CG-EM) é uma
combinação muito útil para efetuar de análises forenses. Essa técnica possui a grande
30
vantagem de analisar amostras complexas, pois tem a capacidade de separar quase todos os
componentes presentes. Além disso, a grande aplicabilidade do CG-EM se deve à sua
velocidade, simplicidade, custo relativamente baixo e sua alta sensibilidade. No entanto, seu
uso é restrito à substâncias que possuam estabilidade em altas temperaturas e que tenham uma
volatilidade razoável (SKOOG et al., 2008). Entre essas substâncias podem ser incluídas óleos
essenciais, frações de petróleo, inseticidas residuais, gases industriais, gorduras de todas as
espécies, açúcares, formulações de inseticidas, monômeros, produtos petroquímicos, entre
outros. (CIOLA, 2003).
Na técnica de cromatografia gasosa, os componentes da amostra são vaporizados e
separados devido às suas diferentes intensidades de interação com a fase estacionária do
sistema, que fica localizada no interior da coluna. Ao se realizar uma separação por
cromatografia gasosa a amostra é vaporizada e injetada na cabeça da coluna cromatográfica
(SKOOG et al., 2008).
A eluição da amostra é realizada por um gás inerte até o detector. Caso o detector seja o
espectrômetro de massas, as moléculas da amostra entram em contato com uma fonte de
ionização que ionizará todas as substâncias oriundas da coluna. A energia de ionização do
espectrômetro de massas possui intensidade suficiente para romper algumas ligações das
moléculas, formando fragmentos específicos (íons moleculares) para cada substância, todavia
não é capaz de romper todas as ligações existentes a ponto de restarem átomos isolados
(SKOOG et al., 2008).
Há dois métodos fundamentais para se ionizar as moléculas das substâncias que chegam
do cromatógrafo: por ionização química e por impacto de elétrons.
Na ionização química, as moléculas do analito entram em contato com um gás reagente.
Esta mistura é atingida por um feixe de elétrons. Mas como o gás reagente está em excesso
(proporção 1000:1), as moléculas do gás são ionizadas e passam a reagir com as moléculas do
analito, originando íons pseudomoleculares. É um processo de baixa energia, já que
praticamente não ocorrem fragmentações (CHIARADIA et al., 2008).
Na técnica de impacto de elétrons, a mais usada, um espectrômetro de massas incide um
feixe de elétrons de alta energia (geralmente 70 eV) sobre moléculas vaporizadas e o
resultado do impacto dos elétrons é registrado como um espectro de íons separados na base da
razão massa/carga (m/z), em que a maioria dos íons formados tem carga unitária. O evento
mais simples que ocorre é a remoção de um elétron da molécula isolada, com formação do íon
molecular, um cátion radicalar (M●+) (SILVERSTEIN e WEBSTER, 2000).
31
Um espectro de massas é um gráfico que contém as massas dos fragmentos positivos
(incluindo o íon molecular) nas suas concentrações relativas. O pico mais intenso do espectro,
chamado pico base, tem arbitrariamente a intensidade de 100%. As intensidades (altura do
sinal vs. fator de sensibilidade) dos demais picos, incluindo o pico principal, aparecem como
frações do pico base. O pico do íon molecular é usualmente o de massa mais alta, sem contar
os picos de isótopos (SILVERSTEIN e WEBSTER, 2000).
Para a quantificação da cocaína, a CG-EM se mostra uma excelente opção devido à sua
boa acurácia e robustez, aliadas à possibilidade de obtenção de limites de detecção na ordem
de ng mL-1 e sua aplicação em diversas matrizes (OLIVEIRA, 2009).
É imprescindível desse modo, a presença de um profissional capacitado, no caso o
químico analítico, e de uma metodologia que corresponda à dimensão e a demanda de
amostras do laboratório. Ademais, a escolha da metodologia deve ser embasada em critérios
técnicos como a aplicabilidade, sensibilidade, seletividade, precisão e exatidão da técnica,
além da disponibilidade e do custo da análise (COSTA, 2008).
2.8 – VALIDAÇÃO DE MÉTODOS ANALÍTICOS
Para que uma metodologia de química analítica seja posta em utilização em uma rotina
laboratorial é necessário antes de tudo que ela seja passada por um processo denominado
validação. A validação assegura que os resultados obtidos em um determinado método são
interpretáveis e principalmente, confiáveis (RIBANI et al., 2004). Mas para isso, o método
deve obedecer a alguns parâmetros, tais como: especificidade/seletividade, linearidade,
intervalo de aplicação, precisão, sensibilidade, limites de detecção e quantificação, exatidão e
robustez, adequados à análise.
A especificidade/seletividade é a capacidade que o método possui de detectar uma
substância em presença de várias outras. Dependendo da matriz de onde o analito é
proveniente, pode haver substâncias interferentes que dificultam a detecção e a quantificação
planejada. Os interferentes podem aumentar ou reduzir o sinal, efeitos estes que também
dependem da concentração. Em análises cromatográficas, deve-se garantir que os picos
presentes em um cromatograma correspondam realmente ao composto estudado. A utilização
de um detector de arranjo de fotodiodos ou espectrometria de massas auxilia para demonstrar
que o pico cromatográfico é atribuído a um só componente (ANVISA, 2003; INMETRO,
2010).
32
A linearidade é a capacidade de uma metodologia analítica de demonstrar que os
resultados obtidos possuem uma relação proporcional à concentração do analito na amostra,
dentro de um intervalo especificado (ANVISA, 2003.)
O intervalo de aplicação ou de trabalho é definido como a faixa que vai da menor à
maior concentração das soluções-padrão utilizadas na construção da curva de calibração.
Comumente na elaboração de um método, os analistas preferem selecionar o intervalo de
trabalho (através de uma faixa de concentração desejada) e depois verificam a linearidade da
relação sinal versus concentração (AMARANTE JÚNIOR et al., 2001; BRITO et al., 2003).
As sucessivas medidas de uma mesma amostra sob determinadas condições, fornecem
a precisão. A precisão é o parâmetro que avalia o quão próximo esses resultados estão entre
si. A precisão pode ser expressa como desvio padrão relativo (DPR) (1), também conhecido
como coeficiente de variação (CV%), segundo a fórmula, em que, DP é o desvio padrão e
CMD, a concentração média determinada. Normalmente não se aceitam valores acima de 5%
(ANVISA, 2003).
DPR = (DP/CMD) x 100
[1]
A exatidão de um método analítico é a proximidade dos resultados obtidos pelo
método em estudo em relação a um valor tido como verdadeiro. A exatidão é sempre
considerada dentro de certos limites, estes que podem ser estreitos em níveis altos de
concentração e mais amplos em níveis-traços (ANVISA, 2003; RIBANI et al., 2004).
A sensibilidade relaciona as variações de resposta com a concentração do analito.
Pode ser expressa pela inclinação da curva de regressão linear de calibração, e é determinada
simultaneamente aos testes de linearidade. É comum encontrar o emprego indevido do termo
“sensível” como sinônimo de baixo limite de detecção. Na realidade, diz-se que um método é
“sensível” quando uma pequena mudança na concentração do analito estudado é respondida
com uma grande variação no sinal obtido. (SILVA & ALVES, 2006; AMARANTE JÚNIOR
et al. 2001).
O limite de detecção (LD) determina qual a concentração mínima em que uma
substância pode ser detectada, mas não necessariamente quantificada em determinadas
condições experimentais (ANVISA, 2003). O LD pode ser encontrado de três formas:
33
a) Método visual: é utilizado através da análise de soluções com concentrações conhecidas
em modo decrescente, até o ponto em que não é mais possível diferenciar visualmente o
sinal do analito do ruído.
b) Sinal-ruído: Compara a intensidade da resposta de uma amostra com um branco. A
relação sinal-ruído pode ser de 3:1 ou 2:1, proporções aceitáveis para se afirmar qual o
limite de detecção de um dado método. Para a validação de um método analítico, é
necessário apenas que a detecção do analito possa ser distinguida do sinal do
branco/ruído.
c) Parâmetros da curva analítica: O limite de detecção (LD) pode ser expresso como:
LD = 3,3 x (s/S)
[2]
onde s é o desvio padrão da resposta, que pode ser a estimativa do desvio padrão do branco,
da equação da curva analítica ou do coeficiente linear da equação e S é a inclinação (“slope”)
ou coeficiente angular da curva (RIBANI et al., 2004). É preferível que o LD deva ser obtido
experimentalmente, pois o limite de detecção pode variar dependendo do tipo de amostra
(INMETRO, 2010).
Diferente do LD, o limite de quantificação (LQ) é a menor concentração de um
composto em uma amostra que pode ser determinado com precisão e exatidão adequadas sob
as condições experimentais estabelecidas (ANVISA, 2003). O LQ pode ser também
encontrado das mesmas maneiras que o LD, entretanto a relação sinal-ruído é de 10:1 e a
equação a partir dos parâmetros da curva é a seguinte:
LQ = 10 x (s/S)
[3]
A robustez verifica a sensibilidade do método frente a algumas variações comumente
encontradas na rotina laboratorial. Para cromatografia a robustez é avaliada pela variação de
quesitos como a concentração do solvente orgânico, pH e força iônica da fase móvel (em
HPLC), programação da temperatura, natureza do gás de arraste em CG, tempo de
armazenamento da amostra, etc. (RIBANI et al., 2004).
34
3 – OBJETIVOS
3.1 – OBJETIVO GERAL

Determinar o teor de cocaína e identificar as principais substâncias presentes em amostras
apreendidas no Estado de Rondônia no período de Julho de 2011 a Junho de 2012.
3.2 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Avaliar parâmetros de quantificação tais como especificidade/seletividade, curva analítica,
precisão, exatidão, limite de detecção, limite de quantificação e robustez;

Identificar quais os principais adulterantes e/ou diluentes presentes nas amostras por
Cromatografia Gasosa acoplada à Espectrometria de Massas.
35
4- MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 – REAGENTES
Todos os reagentes utilizados durante o experimento possuiam pureza analítica:
BaCl2.2H2O – Cloreto de bário dihidratado (SYNTH)
C2H6O – Éter etílico (ECIBRA)
CH3COOH – Ácido acético (CPQ)
CH3CH2OH – Etanol (VETEC)
CH3OH – Metanol (VETEC)
CoCl2.6H2O – Cloreto de Cobalto (II) Hexahidratado (VETEC)
CuSO4.5H2O – Sulfato Cúprico Pentahidratado (VETEC)
H2O2 – Peróxido de hidrogênio (F. MAIA)
HCl – Ácido clorídrico (NUCLEAR)
HNO3 – Ácido Nítrico (F. MAIA)
HgCl2 – Cloreto de mercúrio (II) (SYNTH)
K2CrO4 - Cromato de potássio (CPQ)
K4[Fe(CN)6] – Ferrocianeto de potássio (SYNTH)
Na2CO3 – Carbonato de sódio anidro (NUCLEAR)
NaOH – Hidróxido de Sódio (SYNTH)
NH4Cl – cloreto de amônio (VETEC)
(NH4)2CO3 – Carbonato de amônio (NUCLEAR)
NH4OH – Hidróxido de amônio (F. MAIA)
(NH4)2SO4 – Sulfato de Amônio (VETEC)
K2HPO4 – Fostato de Potássio Dibásico (VETEC)
MgSO4.7H2O – Sulfato de Magnésio Heptahidratado (VETEC)
Pb(CH3COO) – Acetato de chumbo (VETEC)
4.1.1 - Solventes para as análises no CG-EM

Metanol, grau HPLC/SPECTRO, marca TÉDIA

Metanol, grau UV/HPLC – ESPECTROSCÓPICO, marca VETEC QUÍMICA FINA
36
4.1.2 - Padrões

Padrão analítico de cocaína – 1,0 mg mL-1 em 1,0mL em acetronitrila, marca Cerilliant;

Padrão primário de cloridrato de lidocaína monohidratado em pó, 99% de pureza,
fabricante Sigma;

Padrão primário de tetracosano em pó, 99% de pureza, fabricante Sigma.
4.2- EQUIPAMENTOS

Refrigerador Eletrolux, modelo RDE 30 Super;

Refrigerador Consul Facilite Frost-Free;

Freezer Consul, modelo 310;

Balança Analítica, TECNAL , BEL engineering – Mark 1300, classe II – modelo
A42455GC;CELTAC – FA 2104N;

Balança Marte slim, modelo M200;

Balança Marte, modelo AY220.

Cromatógrafo a gás, Thermo Scientific modelo TRACE GC ULTRA, com amostrador
automático (modelo TriPlus DUO) acoplado a um espectrômetro de massas quadrupolo
modelo ISQ, injetor do tipo split/splitless, coluna capilar 5% fenil 95% Polifenilsiloxano
(TR-5) de 30 m, 0,25mm de diâmetro interno e espessura do filme de 0,25µm, acoplado a
um computador munido de software de aquisição, biblioteca e tratamento de dados
Xcalibur 2.0 e biblioteca NIST 8.0.

Gás hélio especial para cromatografia gasosa (CG) White Martins;

Frascos conta gotas;

Estantes para tubos de ensaio;

Tubos de ensaios de vidro;

Tubos de plástico Eppendorff® de volume de 2 mL;

Bastões de vidro, béqueres, balões de vidro;

Espátulas metálicas;

Pipetas de vidro graduadas e volumétricas;

Pipetas de Pasteur de vidro;

Seringas de injeção para cromatografia gasosa;
37
4.3 – AMOSTRAGEM
As amostras utilizadas neste trabalho foram fornecidas pelo Instituto Laboratorial
Criminal (ILC) da Polícia Civil do Estado de Rondônia e obtiveram resultados positivos para
cocaína através de testes colorimétricos (cromatografia em camada delgada e teste de
tiocianato de cobalto). Todas foram apreendidas em Porto Velho (RO) no período de 12
meses (Julho de 2011 a Junho de 2012) e tiveram a autorização do juiz responsável pela Vara
de Tóxicos de Rondônia. Para o estudo, selecionaram-se 106 amostras de forma aleatória
simples (Tabela 4).
Tabela 4: Número de amostras obtidas mensalmente para as análises físico-químicas
Mês
Ano
Número de Amostras
Julho
2011
8
Agosto
2011
10
Setembro
2011
10
Outubro
2011
8
Novembro
2011
11
Dezembro
2011
8
Janeiro
2012
8
Fevereiro
2012
9
Março
2012
9
Abril
2012
10
Maio
2012
9
Junho
2012
6
Σ
106
As amostras possuíam massa individual que correspondiam a cerca de 1 g e se
encontravam sob as mais diferentes formas como, por exemplo, cloridrato de cocaína, cocaína
base, crack e merla. Quanto às características organolépticas, possuíam colorações que se
estendem do branco ao marrom, variavam do seco ao úmido e do inodoro aos com presença
de odores.
O material analisado na pesquisa foi acondicionado em microtubos para centrífuga
(eppendorff’s) com o mesmo número de identificação dos laudos emitidos pelo ILC e mantido
sob refrigeração e ausência de luz, para evitar possível degradação.
38
As análises qualitativas foram realizadas no laboratório Central Analítica localizado no
campus da Universidade Federal de Rondônia, enquanto que as quantitativas realizaram-se no
ILC, sob supervisão do perito criminal Gustavo de Oliveira Neves.
4.4 – TRATAMENTO DAS AMOSTRAS
4.4.1 – Análises qualitativas (spot tests)
Para as análises qualitativas foram utilizados 300 mg de cada uma das 106 amostras,
com posterior extração com solventes (éter etílico e metanol) no intuito de separar demais
compostos orgânicos dos analitos de interesse (VOGEL, 1981) (Figura 10).
Figura 10: Esquema da seqüência metodológica para a análise de diluentes
39
Os testes qualitativos tinham o objetivo de detectar a presença dos seguintes analitos:
açúcares, amido, bicarbonato, borato, carbonato e sulfato. Outros testes também foram feitos
para alumínio, cálcio, chumbo, sódio e magnésio. A escolha dessas substâncias foi baseada
em resultados obtidos em referenciais teóricos de outros estados e países. Como quase toda
cocaína comercializada no Brasil é proveniente dos países andinos (Bolívia, Colômbia, Peru,
Equador, Venezuela e Chile) e os combustíveis desses países possuem um alto teor de
chumbo, o referido metal também foi selecionado para os testes.
A maioria das análises qualitativas foi baseada em reações químicas descritas por Vogel
(1981), enquanto que as análises de açúcares foram realizadas de acordo com García, Rubio e
Aliaga (1998). No entanto, em alguns casos foram realizados adaptações quanto à
metodologia, pois além do laboratório Central Analítica e o ILC não disporem de todos os
reagentes, buscou-se melhorar o desempenho de algumas detecções. Testes com padrões
foram feitos para fins de comparação com os resultados das amostras.
Para cada analito foram designados dois testes, mas na presença de resultados
conflitantes, um terceiro foi realizado para confirmação. No caso dos açúcares redutores
(glicose e lactose), sacarose, amido, sódio e borato, um só teste foi realizado, pois seus
resultados são específicos. As amostras que apresentaram turbidez ou pequenas sujeiras após
a adição dos 7 mL de água deionizada, foram previamente filtradas para poderem ser
analisadas.
Na execução de cada ensaio foi utilizado o volume de três gotas da amostra aquosa
assim com duas gotas de cada solução. Essa padronização foi estabelecida para minimizar os
erros, assim como para evitar o gasto desnecessário da amostra. Ressalta-se que volumes
diferentes desses foram adicionados quando os procedimentos originais assim descreviam.
Assegurou-se uma boa limpeza das vidrarias e armazenamento das soluções para evitar
resultados falso-positivos ou falso-negativos. O quadro 1 a seguir apresenta os aspectos gerais
das análises qualitativas realizadas durante o trabalho.
Quadro 1: Aspectos gerais dos ensaios qualitativos
Analito
Solução
Sinal de detecção
Açúcares
Solução cupri-tartárica
Precipitado vermelho de CuO
(glicose e
(solução de Fehling) sob
lactose)
aquecimento
40
Analito
Solução
Sinal de detecção
2 gotas de CoCl2. 6H2O 0,5
Formação de uma coloração violeta
Açúcares
mol L-1 + 4 gotas de NaOH
escura permanente mesmo sob
(sacarose)
2 mol L-1
aquecimento
Precipitado branco gelatinoso de
NH4OH 2 mol L-1 + NH4Cl
Al(OH)3, insolúvel em NH4Cl
0,5 mol L-1
0,5 mol L-1
Precipitado branco gelatinoso de AlPO4
K2HPO4 0,5 mol L-1
insolúvel em CH3COOH 2 mol L-1
Alumínio
Precipitado branco gelatinoso de
NaOH 2 mol L-1
Al(OH)3, solúvel em excesso de reagente
Formação de uma coloração azul intensa
Amido
Solução de iodo (triiodeto de
(com a amostra aquecida antes)
potássio)
Precipitado vermelho de Hg4O3CO3
Bicarbonato
HgCl2 0,5 mol L-1 sob
aquecimento
CoCl2. 6H2O 0,5 mol L-1 sob
Precipitado rosa de CoCO3
aquecimento
HCl 2 mol L-1
Borato
Efervescência
Teste de chama
Coloração verde na chama
-1
Cálcio
K4[Fe(CN)6] 0,5 mol L
Precipitado branco de K2Ca[Fe(CN)6]
(NH4)2CO3 0,5 mol L-1
Precipitado branco amorfo de CaCO3
H2SO4 2 mol L-1 +
Precipitado branco de CaSO4
CH3CH2OH
HgCl2 0,5 mol L-1 sem
Precipitado vermelho de Hg4O3CO3
aquecimento
Carbonato
CoCl2. 6H2O 0,5 mol L-1 sem
Precipitado rosa de CoCO3
aquecimento
HCl 2 mol L-1
Efervescência
41
Analito
Chumbo
Solução
Sinal de detecção
K4[Fe(CN)6] 0,5 mol L-1
Precipitado branco de Pb2[Fe(CN)6]
K2CrO4 0,5 mol L-1
Precipitado amarelo de PbCrO4
HCl 2 mol L-1
Precipitado branco de PbCl2
Precipitado branco gelatinoso de
NH4OH 2 mol L-1 + NH4Cl
Mg(OH)2, solúvel em NH4Cl 0,5 mol L-1
0,5 mol L-1
Precipitado branco gelatinoso de
Mg(OH)2, solúvel em NH4Cl 0,5 mol L-1
Magnésio
NaOH 2 mol L-1
e insolúvel em excesso de reagente
Precipitado branco de
Na2CO3 0,5 mol L-1
MgCO3.Mg(OH)2.2H2O insolúvel em
NaOH 2 mol L-1
Sódio
Teste de chama
Coloração laranja na chama
Precipitado branco de BaSO4, insolúvel
BaCl2. 2H2O 0,5 mol L-1
em HNO3 2 mol L-1
Precipitado branco de PbSO4 solúvel em
Sulfato
-1
Pb(CH3COO)2 0,5 mol L
NaOH 2 mol L-1
KMnO4 0,02 mol L-1 (2
gotas) + BaCl2. 2H2O 0,5
Precipitado marrom turvo
mol L-1 (1 gota)+ H2O2 3% (2
gotas)
4.4.2 – Análises por CG-EM
Nas análises por CG-EM (Figura 11) as amostras foram preparadas a uma
concentração teórica de 180 µg mL-1 e o padrão interno (PI) de tetracosano a uma
concentração final de 100 µg mL-1.
42
Figura 11: Cromatógrafo gasoso, Thermo Scientific modelo TRACE GC ULTRA, com amostrador automático
(modelo TriPlus DUO) acoplado a um espectrômetro de massas quadrupolo (modelo ISQ)
Fonte: Do Autor
Optou-se em se utilizar a padronização interna, pois como afirmam Skoog et al.
(2008), há uma maior precisão dos resultados utilizando a padronização interna quando
comparada à padronização externa. Esse método evita excessos de incertezas oriundas da
injeção da amostra (principalmente se for manual), vazão e variações nas condições da
coluna. Porém, pede-se que o padrão interno obedeça ao maior número dos seguintes
requisitos: possua propriedades físico-químicas análogas às do analito; o seu pico deve ficar
próximo do pico do analito, mas distante dos picos de outros componentes da amostra e deve
ser ausente da amostra analisada.
O tetracosano (alcano alifático com fórmula C24H50) possui uma estrutura química
muito diferente quando comparado à cocaína, mas atende a dois critérios importantes: seu
pico cromatográfico se localiza próximo ao pico da cocaína e é um composto inexistente nas
amostras. Além disso, é bastante citado na literatura forense (CLARK, 1978; UNODC, 2005;
GARZÓN M., et al. 2009).
Para os experimentos, o PI foi inicialmente preparado em clorofórmio, na
concentração de 2000 µg mL-1, com posterior diluição de 5 mL desta solução em metanol
grau HPLC em um balão de 10 mL, resultando na concentração de 1000 µg mL-1. O processo
de preparação das amostras pode ser verificado a seguir (Figura 12).
43
Figura 12: Esquema da seqüência metodológica para a análise no CG-EM
4.4.2.1- Condições do cromatógrafo gasoso (TRACE):
A temperatura selecionada para o injetor do TRACE foi de 260ºC com injeção de 1,0
µL de amostra na razão de Split de 25:1. Em relação ao gás na coluna, o fluxo foi de 1,0 mL
min-1, com modo de fluxo constante e compensação de vácuo.
As condições da rampa de aquecimento utilizada no método se encontram na Tabela 5:
44
Tabela 5: Temperatura do forno no decorrer de cada corrida amostral
Velocidade do aumento da temperatura
Temperatura (ºC)
Tempo (min)
Temperatura inicial
60
0.00
35.0
180
0.00
40.0
206
0.00
0.5
208
0.00
4.0
270
2.00
50.0
300
2.00
(ºC min-1)
4.4.2.2 - Condições do espectrômetro de massas (ISQ):
As condições estabelecidas para o espectrômetro de massas foram as seguintes:
temperatura da linha de transferência, 230°C; temperatura da fonte de ionização, 200ºC; modo
de ionização por impacto de elétrons. O tempo de início da análise foi aos 3,00 minutos; o
intervalo espectrométrico da análise, de 50 a 400 m/z e tempo da leitura espectral de 0,2
segundos.
4.5– VALIDAÇÃO DO MÉTODO (CG-EM)
4.5.1 - Especificidade/Seletividade
A especificidade/seletividade foi determinada pela comparação dos resultados das
amostras de cocaína analisadas com o do padrão analítico da droga, de um adulterante
(lidocaína) e do PI (ANVISA, 2003). Verificou-se a presença ou não de coeluições.
4.5.2 - Curva Analítica
Para a montagem da curva analítica foram escolhidas as concentrações de 60, 100, 140,
180 e 220 µg mL-1 (todas com PI a 100 µg mL-1), todas em triplicata.
Todas as soluções para a elaboração da curva foram preparadas diretamente do padrão
de cocaína de 1000 µg mL-1 em vials com inserts, devido à preocupação em economizar na
quantidade gasta do padrão. O solvente utilizado foi o metanol grau HPLC.
45
Utilizou-se o software Xcalibur 2.0 para o cálculo do coeficiente de correlação (R2) e da
equação da curva de calibração.
4.5.3 - Precisão
A precisão foi encontrada através da leitura de seis amostras de concentração de 140
µg mL-1 preparadas separadamente, e foi expressa como desvio padrão relativo (DPR). A
ANVISA recomenda valores abaixo de 5%.
4.5.4- Exatidão
Foram preparadas três soluções de concentrações diferentes: 60, 140 e 220 µg mL-1,
com três réplicas cada, o que seriam as concentrações baixa, média e alta (RIBANI et al.,
2004; ANVISA, 2003). A exatidão de tais amostras foi determinada através da seguinte
fórmula:
Exatidão = (concentração média experimental/concentração teórica) x 100
[4]
4.5.5- Limite de detecção (LD) e Limite de quantificação (LQ)
O LD foi encontrado por meio da seguinte fórmula: LD = 3,3 x (s/S) e para o limite de
quantificação utilizou-se fórmula LQ = 10 x (s/S).
4.5.6 – Robustez
Duas condições cromatográficas foram modificadas para avaliar a robustez do
método: a mudança dos valores do fluxo do gás de arraste e a temperatura do injetor e
observou-se a variação dos resultados (ANVISA, 2003).
46
5 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 – RESULTADOS QUALITATIVOS
Os resultados obtidos a partir dos spot tests (tabela 6) deram indício que as amostras
analisadas estavam muito diluídas com sais inorgânicos. Por apresentarem comportamentos
semelhantes aos testes, o bicarbonato e carbonato tiveram seus resultados calculados como
um só diluente, feita a consideração de que a presença dos dois analitos ou de somente um,
tornaria o resultado positivo. Através dessa técnica, não foram detectados nas amostras o
cálcio, chumbo e sacarose.
É importante levar em consideração que como as amostras em quase a sua totalidade,
apresentavam mais de um diluente em sua composição, portanto a soma das porcentagens dos
diluentes (Tabela 6) teria um resultado acima de 100%.
Tabela 6: Porcentagem dos diluentes em relação às 106 amostras de entorpecentes apreendidas pelo ILC
Analitos
(%)
Açúcares redutores
4,72
Alumínio
2,83
Amido
2,83
Bicarbonato/Carbonato
59,43
Borato
4,72
Cálcio
0,00
Chumbo
0,00
Magnésio
7,55
Sacarose
0,00
Sódio
97,17
Sulfato
24,53
Os diluentes mais encontrados foram o sódio (97,17%), bicarbonato/carbonato
(59,43%) e o sulfato (24,53%), o que dá fortes indícios que nos entorpecentes são
frequentemente adicionados tanto o bicarbonato de sódio e o carbonato de sódio, que são
utilizados como fermento químico e para o tratamento de água, respectivamente.
Um ponto que é importante frisar é que no processo de separação dos componentes
orgânicos dos inorgânicos, foi percebido que ao acrescentar os solventes (éter etílico e
47
metanol) a maioria das amostras tendia a uma dissolução quase completa. A partir disso, se
pode inferir que apesar de haver a adição de tais substâncias nas amostras analisadas, a
quantidade de diluentes era muito baixa em relação à massa total.
Quanto aos adulterantes, em grande parte das amostras não se verificou a presença
dessas substâncias. Nos cromatogramas obtidos foram encontrados apenas dois adulterantes
nas amostras: a aminopirina (Figura 13) em 19 amostras ou 17,92% e a lidocaína em 1
amostra, ou seja, 0,94%.
Os cromatogramas e espectros referentes à aminopirina apontaram probabilidade de
98,47% segundo a biblioteca do software Xcalibur 2.0 e de 96,8% segundo dados da NIST
8.0. Os tempos de retenção foram 9,38, 15,79 e 18,81 minutos para a aminopirina, cocaína e
tetracosano, respectivamente.
3
1
2
Figura 13: Cromatograma de uma amostra de entorpecente. Aminopirina (1), Cocaína (2) e Tetracosano (PI) (3).
A aminopirina (ou aminofenazona) é um fármaco que foi introduzido nas práticas
medicinais nos fins do século XIX como antipirético, analgésico e antiinflamatório, a
estrutura desse fármaco está ilustrado na Figura 14. No entanto, seu uso foi diminuído devido
aos seus efeitos tóxicos sobre a medula óssea, a agranulocitose (GOODMAN GILMAN,
1991).
48
Figura 14: Fórmula estrutural da aminopirina
Fonte: NIST 8.0
Não há relatos da presença de aminopirina em entorpecentes apreendidos em território
brasileiro. Mas vale ressaltar que a aminopirina é também um adulterante relativamente
recente tanto na Colômbia quanto no Chile (ISP, 2009; LA FÓRMULA, 2013; ODC, 2013;
RINCÓN, 2013). Dessa maneira, são fortes os indícios de que grande parte das amostras
estudadas neste trabalho tenha origem colombiana ou chilena, uma vez que não se tem
registros da presença dessa substância em nenhum medicamento comercializado no Brasil,
segundo o Bulário Eletrônico da ANVISA (2008).
Pode-se verificar que diferente de inúmeros trabalhos publicados na literatura, onde a
aminopirina não é um adulterante comum encontrado em amostras de cocaína, nesta pesquisa
ela pode ser classificada como majoritária, onde aparece com uma porcentagem expressiva.
Já o cromatograma da amostra com lidocaína (Figura 15) foi comparada com o
cromatograma do padrão analítico desse adulterante. Os tempos de retenção verificados foram
8,47 (lidocaína), 15,77 (cocaína) e 18,79 minutos (tetracosano).
49
3
2
1
Figura 15: Cromatograma de uma amostra de entorpecente. Lidocaína (1), Cocaína (2) e Tetracosano (PI) (3).
A lidocaína (xilocaína) (Figura 16) é amplamente utilizada como anestésico local. Seu
uso inicial foi como antiarrítmico para o tratamento de arritmias ventriculares que surgem
após a cirurgia cardíaca ou infarto agudo do miocárdio. Suas manifestações tóxicas são
caracterizadas por atingirem o sistema nervoso central (SNC) e quando atingem a
concentração de 5 μg mL-1 no plasma. Os principais sintomas são: tontura, sonolência euforia
e desorientação para níveis mais baixos e convulsões para níveis mais elevados (GOODMAN
GILMAN, 1991; CORBETT, 1982).
Figura 16: Fórmula estrutural da lidocaína
Fonte: Moraes et al., 2007.
50
Carvalho e Mídio (2003) analisaram o total de 389 amostras de pó branco apreendidas
na cidade de São Paulo, no ano de 1997. Entre os adulterantes a lista deles ficou composta
pela lidocaína, procaína (as duas juntas com 4,9%) e cafeína (0,5%). Os diluentes encontrados
foram: carbonatos e bicarbonatos (19,3%), silicatos (13,9%), açúcares (9,6%), amido (5,6%),
borato (3,1%) e sulfato (2,8%).
Botelho (2011) ao fazer um estudo com 160 amostras de cocaína apreendidas entre
2009 e 2011 em várias regiões do Brasil, detectou a presença da fenacetina (35%), levamisol
(11%) e cafeína (8%) como principais adulterantes. Vale ressaltar que dentre essas 160
amostras, 51 pertenciam à região Norte, com 27% das amostras indicando a presença de
fenacetina.
Goulart Júnior (2012) identificou como adulterantes majoritários em um total de 304
amostras escolhidas em todo o Brasil, a fenacetina (33%), o levamisol (26%) e a lidocaína
(24%). Desse número de 304, 10 amostras eram provenientes do estado de Rondônia, cujo
único adulterante detectado foi o levamisol, em apenas uma amostra. Nesse mesmo trabalho,
de 54 amostras do Acre, 34 não revelaram a presença de nenhum adulterante, todavia 15
confirmaram a presença de fenacetina e 5 de cafeína.
Em mais um estudo feito no Brasil por Bernardo et al. (2003) realizado em duas cidades
do interior do estado de Minas Gerais em 2001, 209 amostras tiveram os seguintes resultados:
entre os adulterantes, foram detectadas a cafeína (50,2% das amostras, em concentrações na
faixa de 2,8 a 63,3% do pó), lidocaína (65% das amostras, concentrações variando de 0,5 a
92%), e prilocaína (11% das amostras, concentrações variando 1,4 a 20,7%). Para os
diluentes, o carbonato/bicarbonato tiveram resultado positivo de 41,2%, amido com 51,2% e
açúcares com 9,6%.
Ao contrário do que afirmam Coura et al. (2002) e Botelho (2001) sobre a cocaína
comercializada na região norte do Brasil, não se detectou a presença de fenacetina e/ou
cafeína nas amostras analisadas pelo presente trabalho. Coura et al. (2002) relatam que a
cocaína do norte geralmente é adulterada com fenacetina e cafeína, enquanto que os
adulterantes comumente encontrados na região sul são o cloridrato de lidocaína e benzocaína.
5.2 – VALIDAÇÃO DO MÉTODO (CG-EM)
5.2.1 - Especificidade/Seletividade
51
Os resultados para especificidade/seletividade foram satisfatórios, uma vez que não
houve a presença de coeluições em nenhum dos cromatogramas obtidos, tanto no que se
refere aos picos da cocaína, do PI e de outras substâncias presentes.
5.2.2 – Curva Analítica
A curva analítica (Figura 17) foi construída com cinco concentrações diferentes de
cocaína (60, 100, 140, 180 e 220 µg mL-1), sendo que cada concentração foi preparada em
triplicata. O coeficiente de correlação (R2) apresentou um valor satisfatório de 0,99943 e a
equação da reta foi Acocaína/API = -0,41403 + 0,00934Ccocaína, sendo Acocaína a área do pico da
cocaína e API a área do pico do padrão interno obtidos a partir do cromatograma e C cocaína é a
concentração da cocaína.
Figura 17 – Curva analítica da cocaína obtida por CG-EM (razão da área do analito/área do padrão interno
versus concentração do analito).
5.2.3 – Precisão
A análise de seis réplicas de soluções de 140 µg mL-1 para a determinação da precisão
forneceu a média de 134,21 µg mL-1 (+ 3,33 µg mL-1) e um DPR de 2,48%. Como o DPR está
abaixo de 5%, a precisão do método é satisfatória (ANVISA, 2003).
52
5.2.4 - Exatidão
Os valores de exatidão para as três concentrações estudadas (alta, média e alta) com três
réplicas cada, foram as seguintes: concentração baixa: 117,72%, concentração média:
100,49% e concentração alta: 100,20%.
5.2.5 – Limites de detecção (LD) e quantificação (LQ)
O LD foi calculado a partir da equação LD = 3,3 x (s/S), e o valor obtido foi de 1,96
µg mL-1. Já o LQ, este que foi calculado a partir da equação LQ = 10 x (s/S) teve como valor
5,94 µg mL-1.
5.2.6 – Robustez
Os testes de robustez avaliaram a estabilidade do método estudado frente às
mudanças na velocidade do fluxo do gás e na temperatura do injetor do equipamento. Com o
fluxo do gás de arraste (hélio) programado no valor de 1,5 mL min-1, o tempo de retenção da
cocaína era de 14,7 minutos e o do tetracosano, cerca de 17,39 minutos.
Modificando a vazão para 0,5 mL min-1 o tempo de retenção da cocaína alterou para
aproximadamente 18,44 minutos e do tetracosano, cerca de 21,28 minutos. Quanto à variação
da temperatura do injetor (de 240 para 280 ºC), não foram observadas alterações nos tempos
de retenção.
5.3 – ANÁLISES DAS AMOSTRAS DE COCAÍNA POR CG-EM
Para o total das 106 amostras de entorpecentes avaliadas, o teor de pureza em % (m/m)
compreendeu o intervalo de 34,17 a 91,97%, e concentração média 59,44%. A variação de
concentração pode ser verificada na Tabela 7:
53
Tabela 7: Concentração de cocaína (% m/m) das 106 amostras analisadas por CG-EM (em intervalos de classe):
% (m/m)
frequência (f)
fr (%)
34,17 |— 42,43
12
11,32
42,43 |— 50,69
21
19,81
50,69 |— 58,95
20
18,87
58,95 |— 67,21
23
21,70
67,21 |— 75,47
17
16,04
75,47 |— 83,73
9
8,49
83,73 |— 91,99
4
3,77
Σ
106
100
Nota-se que as amostras de cocaína apreendidas na cidade de Porto Velho (RO)
possuem uma pureza relativamente alta, isso devido por ser uma região próxima de países que
são grandes produtores dessa droga. É possível verificar que 21,70% dos entorpecentes
estudados possuem cerca de 63,08% de pureza (quarto intervalo de classe), e 19,81% com
pureza de aproximadamente 46,56% (segundo intervalo de classe). Amostras com altos teores
de cocaína tiveram uma participação muito baixa nos resultados (3,77%). Os teores de
cocaína encontrados vão ao encontro do que declaram Coura et al. (2002), que alegam que as
drogas oriundas da região norte, possuem purezas elevadas quando comparadas com outras
regiões do Brasil e também no que divulga OBID (2007) quando diz que as drogas,
principalmente as produzidas na Bolívia e Colômbia, entram no Brasil com pureza de
aproximadamente 75%.
Botelho (2011) constatou que de 160 amostras de entorpecentes colhidas em diferentes
pontos do Brasil (Acre, Amazonas, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, São
Paulo e Distrito Federal), os teores médios de cocaína variaram de 62,4% a 73,3%. No
entanto, foi o estado do Paraná que apresentou os maiores valores, com cerca de metade
(46,2%) das amostras provenientes desse estado demonstrando entre 80% e 90% de pureza.
Esses valores elevados de pureza para as drogas do Paraná são plausíveis, uma vez que esse
autor esclarece que cerca de 85 % de toda cocaína encontrada nesse estado é oriunda da
Bolívia via Paraguai, ou seja, com poucas chances de serem adulteradas e/ou diluídas. Para as
20 amostras analisadas de Rondônia, o teor médio de cocaína foi de 68,89%.
Goulart Júnior (2012) verificou que de 304 amostras, 10 oriundas do estado de
Rondônia e 54 do Acre apresentaram valores médios de pureza de 63,39% e 63,38%,
respectivamente. Segundo esse autor, esse valor considerável é justificado por esses dois
54
estados não serem pontos finais de comercialização da droga, mas por serem apenas uma
parte da rota do narcotráfico.
Das 389 amostras que obtidas na cidade de São Paulo, Carvalho e Mídio (2003)
constataram que desse total, 70% das amostras apresentaram pureza entre 20,1% a 55% e
valor médio de 37,9%. Nesse caso, os dados obtidos reforçam a ideia de que quanto mais as
cidades se encontram distante das fronteiras do país, ou seja, quanto mais se caracterizam por
serem pontos finais do narcotráfico, valores mais baixos de pureza nos entorpecentes são
encontrados.
Para este trabalho, fez-se ainda uma comparação entre as concentrações médias
mensais (período de Julho de 2011 a Junho de 2012), no intuito de verificar se haveria
variações estatisticamente significativas nas concentrações (Figura 18).
Figura 18: Boxplots das concentrações de cocaína em amostras apreendidas pelo ILC no período estudado
Aplicou-se o teste de Shapiro-Wilk (teste W) (software XLSTAT 7.5) para verificar a
distribuição dos dados com nível de significância de 5%. Como o valor de p (0,233)
encontrado foi maior que o nível de significância, pode-se inferir que os valores de pureza
seguem uma distribuição normal.
55
Após isso, utilizou-se o teste unilateral de análise de variância (ANOVA) (software
XLSTAT 7.5). A análise dos dados demonstrou que não há uma diferença estatisticamente
significativa entre as médias, uma vez que o valor de F calculado (1,19) foi menor do que o
valor de F crítico (1,90) no nível de 5% de significância. Dessa maneira, não se pode afirmar
que os valores médios mensais de pureza dos entorpecentes variaram no decorrer dos 12
meses.
56
6 - CONCLUSÕES
De acordo com os resultados encontrados, conclui-se que:

Os parâmetros analisados assim como os valores obtidos são os seguintes: coeficiente de
correlação (R2) = 0,99943; desvio padrão relativo (DPR) = 2,48%; exatidão de 117,72%
(concentração baixa), 100,49% (concentração média) e 100,20% (concentração alta); LD
= 1,96 µg mL-1 e LQ = 5,94 µg mL-1 e se apresentaram de acordo segundo a resolução RE
nº 899, de 29 de maio de 2003 da ANVISA;

Como todos os parâmetros obtidos para a validação do método foram satisfatórios, o
referido método pode ser aplicado na rotina laboratorial;

Os spot tests realizados nesse trabalho obtiveram bom sucesso na detecção de diluentes
nas amostras. O sódio (97,17%) foi o mais encontrado seguido pelo bicarbonato/carbonato
(59,43%) e pelo sulfato (24,53%). Como adulterantes, foram detectados apenas a
aminopirina e lidocaína, com 17,92 e 0,94% respectivamente;

Para as 106 amostras de entorpecentes analisadas, a teor de pureza compreendeu o
intervalo de 34,17 a 91,97%, e concentração média de 59,44%;

Após testes estatísticos adequados (Shapiro-Wilk e ANOVA) não se pode afirmar que os
teores médios mensais de cocaína se modificaram nos meses avaliados;

Este trabalho é uma importante ferramenta que poderá auxiliar a compreensão do
funcionamento das rotas de tráfico de cocaína no Brasil, a partir dos valores de pureza da
cocaína assim como a identificação dos diluentes e adulterantes presentes.
57
7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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